[Anais] Campo Lacaniano - Os Tempos Do Sujeito Do Inconsciente

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    ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCLInternacional dos Fruns-Escola de Psicanlise dos Fruns do Campo Lacaniano

    05 e 06 de julho de 2008 So Paulo (Brasil)

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    V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCL

    OS TEMPOS DO SUJEITO DO INCONSCIENTEA psicanlise no seu tempo e o tempo na psicanlise

    05 e 06 de julho de 200805 e 06 de julho de 200805 e 06 de julho de 200805 e 06 de julho de 2008So Paulo Brasil

    ANAIS DO ENCONTRO

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    NDICE

    APRESENTAO

    AtualidadeColette Soler .................................................................. 06

    PRELIMINARES

    1. Os tempos do sujeito do inconscienteDominique Fingermann ................................................. 092. Do tempoDaniela Scheinkman Chatelard ..................................... 103. Agora nosso tempoRamon Miralpeix .......................................................... 124. Em preldio

    Bernard Nomine ............................................................ 145. Perante o sintoma todo relgio moleAntonio Quinet............................................................. 156. A transferncia a intruso do tempo desaber do inconscienteLydia Gmez Musso ..................................................... 177. O manejo do tempoGabriel Lombardi .......................................................... 19

    8. O evasivo do inconsciente e a certeza doparltreMarc Strauss ................................................................. 219. A psicanlise em seu tempoChristian Dunker. .................................................... p. 2310. O inconsciente e o tempoSidi Askofar............................................................ p. 25

    11. Tempo: Lgica e SentimentoSol Aparcio.............................................................. p. 2712. O tempo do AnalistaAna Martinez........................................................... p. 2913. Aprs-coupGuy Clastres ............................................................. p. 31

    PLENRIAS

    1. O TEMPO NA ANLISEO tempo de uma anliseDominique Fingermann ................................................. 33Le tempo dune analyseDominique Fingermann ................................................. 36La prisa y la salidaLuis Izcovich ................................................................. 40La cita y el encuentroGabriel Lombardi .......................................................... 46

    2. O TEMPO DO ATORepetir, rememorar e decidir: a anlise entre oinstante da fantasia e o momento do atoAna Laura Prates ......................................................... 51Repetir, recordar y decidir: el anlisis entre elinstante del fantasma y el momento del actoAna Laura Prates ......................................................... 56Le temps du dsir, ls temps de linterprtation, letemps de lacteMarc Strauss ................................................................. 61

    3. O TEMPO QUE FALTA (Il faut letemps)

    O tempo de LaiusarAntonio Quinet ............................................................. 65Le temps, pas logiqueColette Soler ................................................................... 69

    4. EFEITOS DO TEMPOLe temps: um objet logiqueBernard Nomin ............................................................ 73Tempo e entropiaSonia Alberti ................................................................. 77

    5. O TEMPO E O SUJEITOLetoffe du zero - La topologie et le temps

    Franoise Josselin ........................................................... 84Tu/er le tempsMartine Mens .............................................................. 87

    6. TEMPO ATUALIZADOEl sin tiempo de la histeria hipermodernaCarmen Gallano ............................................................ 91La libert ou le temps

    Mario Binasco ............................................................... 95

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    7. OS TEMPOS DO INCONSCIENTELinconscient: travailleur idalMaria Vitria Bittencourt ............................................. 101Modulao pulsional do tempoAnglia Teixeira ............................................................ 105El aburrimiento, uma forma del tiempoSilvia Migdalek ............................................................. 109

    8. TEMPORALIDADES PLURAISImmortalityLeonardo Rodriguez ....................................................... 113

    Temps logique et temps arrt, incidencescliniques

    Jean-Jacques Gorog ........................................................ 117

    9. O TEMPO DA NEUROSEUm tempo de espera para o obsessivo

    Andra Brunetto ............................................................ 121O tempo da histeria e o fora do tempo da notoda

    Elizabeth Rocha Miranda ............................................... 124

    MESAS SIMULTNEAS

    O tempo na direo do tratamento

    O uso diagnstico do tempo em PsicanliseChristian Dunker ........................................................ 128O futuro anterior na experincia psicanalticaSonia Magalhes ......................................................... 132O tempo da entradaGonalo Galvo ........................................................... 136Os tempos de uma prxisRonaldo Torres .............................................................140Los tiempos verbales del sujetoPerla Wasserman ..........................................................143

    A pesar del tiempoTrinidad Sanchez-Biezma de Lander ............................146Subjetivar la muerte: una apuesta a la vidaFlorencia Farias .......................................................... 150O inessencial do sujeito suposto saberSilvia Fontes Franco .................................................... 153O tempo na direo do tratamentoAlba Abreu ................................................................ 157O tempo lgico e a durao da sesso analticaDelma Gonalves ......................................................... 161

    Tempo e estrutura

    Espao e tempo na experincia do sujeito doinconscienteClarice Gatto ............................................................... 165Um novo tempo para o sujeito que se d a partirdo enfrentamento do real existente no intervalosignificanteRobson Mello ............................................................... 170Tempo e sintomaAndra Fernandes ....................................................... 173Le ptir et le btir du tempsDiego Mautino ............................................................ 176

    "Smut" freudiano e a-temporalidade no chisteMaria Teresa Lemos .................................................... 179

    Freud e Lacan Caminhos na rede designificantesGlucia Nagem ........................................................... 182Do significante que faz tempoPaulo Rona ................................................................. 185Se hter de l'acte ou dresser constat?Matilde Hurlin-Uribe .................................................. 188A lgica temporal de Charles Peirce: A(des)continuidade na clnica psicanalticaElisabeth Saporiti ........................................................ 192

    Modalidades subjetivas do tempo

    El tiempo, la discontinuidad y el corteGabriela Haldemann ................................................. 196O tempo de constituio da inibioGloria Justo Martins .................................................. 199

    O tempo do sujeito na psicanlise:consideraes sobre o objeto e a nominaoDaniela Scheinkman Chatelard ................................... 202

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    Consideraciones sobre el instanteCristina Toro ............................................................... 205Da filiao nobre bastardia: linhagem real dodesejoBrbara Guatimosim ................................................... 208Tempo, repetio no final de anlisengela Diniz Costa .................................................... 214Le temps du deuil de lobjet a

    Bernard Lapinalie ....................................................... 217Luto e angstia no fim de anliseSandra Berta ............................................................... 222Acerca de la clnica del fin de anlisisEnrique Katz .............................................................. 226O tempo real na experincia analticaEliane Schermann ....................................................... 229

    O tempo e estruturas clnicas

    Tempo para fazer se homemIda Freitas ................................................................... 232Acerca de la anticipacin en la clnicapsicoanaltica lacaniana con niosPablo Peusner .............................................................. 235El tiempo del sujeto nio del inconscienteSusy Roizin e Ana Guelman ....................................... 238

    A repetio e o tempo de saberMaria Luisa Rodriguez SantAna .............................. 241Tempos do sujeito e o desejo do analista naclnicaLenita P. Lemos Duarte .............................................. 244O tempo de construo da metfora deliranteGeorgina Cerquise ....................................................... 247

    El tiempo cclico de las psicosisGladys Mattalia .......................................................... 250Temporalidad del arrepentimientoPatrcia Muoz ........................................................... 255A perverso e o tempoVera Pollo ................................................................... 258O seppuku de Mishima: a derradeira erotizao

    da morteMaria Helena Martinho .............................................. 261Como se analisa hoje a perverso?Maria Lucia Araujo ................................................... 265

    A psicanlise no seu tempo

    Formao do psicanalista e transmisso da

    psicanlise: qual articulao possvel?Beatriz Oliveira ........................................................... 269Instituciones Psicoanaliticas(?) en la era de laglobalizacinViviana Gmez ........................................................... 272pintura renascentistaLuis Guilherme Mola .................................................. 276A eternidade do espao, ou o que podemosaprender com a pintura de Francis Bacon?Sonia Xavier de Almeida Borges ................................. 279Inland Empire - El cine de David Lynch comoacontecimiento para el psicoanlisisLaura Salinas .............................................................282

    Tempo e poltica na clnica psicanaltica

    Marcelo Amorim Checchia ........................................... 287A causa final na psicanlise e na arteSilvana Pessoa ............................................................. 290La sucesion de instantes de tiron en el tiempode las compulsionesAlicia Ines Donghi ...................................................... 293Corpo e histeria na contemporaneidade:consideraesMichele Cukiert Csillag ............................................... 296Que tempo para o sexo?Luciana Piza ............................................................... 299

    A psicanlise e o discurso capitalistaA posio do sujeito no lao totalitrio docapitalismo contemporneoRaul Albino Pacheco ................................................... 303Capitalismo, Imperio y Subjetividad: elderecho, la guerra y el tiempoMario Uribe ................................................................ 307Temporalidade contempornea e depressoMaria Rita Kehl .......................................................... 311

    O n do tempo nos tempos atuais, vicissitudesda memriangela Mucida ............................................................ 315El psicoanlisis aplicado en la enseanzaoriginaria de LacanAnbal Dreyzin ........................................................... 319A brevidade como princpio da eficincia: aspsicoterapias e a clnica do ensurdecimento

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    Conrado Ramos ........................................................... 323Le couple psychiatrie/psychanalyse: du tempsdes amours au temps du divorce ?Jean-Pierre Drapier ...................................................... 326Maana el campo lacanianoEduardo Fernndez Snchez ....................................... 332

    H, ainda, tempo para a Psicanlise?Sergio Marinho de Carvalho ........................................ 336

    Amor y pressura capitalistaJorge Zanghellini .......................................................... 340

    TRANSVERSAL DO CAMPO LACANIANOO tempo da matria, do ser vivo, do sujeito

    Tempo e ser segundo a Ontologia de MartinHeideggerJos Eduardo Costa e Silva .......................................... 344

    O Conceito de Tempo, do Misticismo aos diasModernosElcio Abdalla .............................................................. 350

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    Atualidade

    Colette SolerTraduo: Silmia Sobreira

    oje a questo dotempo prprio dapsicanlise nos vem defora. O tema nos trazido pela atualidadedo discurso capitalista,que faz do tempo umvalor comercial como

    qualquer outro, ligado evidentemente aoregime dos gozos contemporneos.

    Grande diferena tanto em relao a

    Freud como a Lacan. No comeo dapsicanlise, foi no seio da comunidade dosanalistas que a durao da anlise esteve emquesto e foi objeto de debate. Quando, meiosculo depois, Lacan quis fazer do tempo, nomais um dado inerte do quadro analtico, masum dado inerente relao de transferncia emanejvel em virtude disso na sesso, foi naortodoxia ipesta que ele esbarrou. O objetode debate se tornara objeto de litgio, mas nomundo restrito dos analistas.

    Para ns, a interpelao duplicadapor outra, muito mais poderosa, a do discursocorrente. Os meios de comunicao seapoderaram do tema, que divulgam para ogrande pblico, e informam at mesmo asdemandas. Ser escutado durante um longotempo a cada sesso, e sarar depressa, bempoderia ser a nova exigncia de nossa poca.Lgico: uma vez que hoje o tempo se comprae se vende, como o consumidor no iriaquerer comprar o gozo garantido de umtempo de sesso, e pedir ao analista vender-lhe uma anlise curta?

    E como analistas que se inscrevemsob o significante do Campo Lacaniano,campo de regulao dos gozos, poderiam sersurdos a isso e continuar indefinidamentedeixando dizer? Tanto mais que o debateinterno entre a corrente lacaniana e a ipestano est encerrado. E verifica-se todos os dias

    o quanto esta ltima, pelo menos na Frana,para bajular o esprito da poca, no recua emfazer valer como pseudogarantia sua sessolonga e com durao fixa e sem maisargumentao. Do outro lado, vimos atmesmo aparecer no Campo Freudiano otema, no menos demaggico, da psicanliseaplicada produzindo enfim, aps um sculode vos esforos, a anlise curta! V-secomo grande a tentao para as polticas deparvoce de jogar-se nos braos do discurso

    contrrio, e por medo de que a psicanlisedesaparea do mercado, acaba-se porcontribuir ativamente para sua diluio nocampo chamado psi, cuja cotao est em alta.

    Nossa questo diferente. Ela sesitua entre dois escolhos, seja por noreconhecer que mudamos de mundo emalguns decnios e por ignorar soberbamentea subjetividade de nossa poca, seja porceder em relao oferta propriamenteanaltica em nome da adaptao realista,

    quando se trataria, antes, de precisar o que dotempo na psicanlise no pode oscilar aosabor do esprito da poca.

    A anlise, por exemplo, poderia noser sempre longa, uma vez que sua extensose mede em relao a uma espera? Desde apoca das primeiras anlises, muito curtas narealidade, alguns meses ou algumas semanas,j se lamentava sua durao, a comear porFreud, sem dvida porque o modelo dereferncia era a consulta mdica.Outra constatao engraada: os psicanalistasde diversas obedincias, eles que noconcordam em nada, concordam, entretanto,em relao a uma durao incompressvel daanlise e poderiam subscrever, quanto aoessencial, a frase de Lacan preciso tempo.Foroso lhes , com efeito, constatar quetodas as tentativas para economizar tempo e

    H

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    os houve na histria da psicanlise fracassaram1.

    Quanto durao da sesso, emcontrapartida, desde que Lacan tocou nessetabu, a luta permanece acirrada. J no seria osinal de que o analista no se consideraverdadeiramente como responsvel peladurao da anlise, enquanto, no que dizrespeito ao tempo da sesso, ele sabe que aentra em jogo uma opo, e que ela deve serjustificada...

    O inconsciente seria o recurso? Masprimeiro seria necessrio responder pergunta, lancinante, ao longo de todo oensino de Lacan e sempre retomada at o fim:o inconsciente, o que isso? Na realidade, emseus debates histricos sobre o tempo, os

    analistas o usaram como argumento, mas semque concluso alguma se impusesse, pois delepode-se dizer uma coisa e seu contrrio: que oinconsciente no conhece o tempo, insistnciaindestrutvel, que ele se manifesta, contudo,em uma pulsao temporal que lhe prpria(o tema freudiano), que, entretanto, ele quertempo para se manifestar na sesso (temaps-freudiano) ou que, ao contrrio,trabalhador jamais em greve, ele tem todo otempo, pois no conhece os muros da sesso

    (tema lacaniano). que a concepo que sefaz do inconsciente solidria com a dotempo analtico.

    A questo aberta por esse tema no simplesmente clnica.Uma clnica do tempo possvel, sem dvida,mas, para dizer a verdade, ela no est maispor ser feita, pois j se encontra bem balizadapelo ensino de Lacan. Tempo do sujeito quese hystorizaNT puxado entre antecipao eretroao: tempo prprio de cada estrutura

    clnica, que marca com seu selo atemporalidade universal do sujeito e cujatipicidade j o ndice de um real, conformeelas se hystorizam ou no; tempo lgico deproduo de uma concluso a partir do nosabido, produo cuja durao, incalculvel, prpria de cada analisante, o que leva apensar que, por mais lgico que seja essetempo, ele algo no s lgico, participando

    antes de um real que se manifesta natextura do tempo.

    O ponto crucial de nosso tema hojeest, porm, noutro lugar, mais tico queclnico; o que uma anlise sempre longa podeprometer ao homem apressado pelacivilizao? Efeitos teraputicos s vezes emesmo freqentemente rpidos, sem dvidaalguma, contrariamente ao que se cr. Mas,alm disso, o tempo necessrio, conforme aexpresso de Lacan, permitiria produzir umnovo sujeito?

    Freud j se fazia essa pergunta,questionando em Anlise finita, anliseinfinita, para alm do teraputico, apossibilidade de um estado do sujeito que sse alcanaria pela anlise. Mas ele se detm

    nesse limiar. No que ele no reconhea que aanlise produz surpresas, mas, para ele,paradoxalmente, elas no so o signo donovo, mas, ao contrrio, so o signo doreencontro, do retorno de um passadoinfantil. Em conseqncia, o que uma anlisepode prometer de melhor a reconciliao dosujeito com o que ele rejeitara inicialmente norecalque, ou a admisso do que nem sequerhavia sido simbolizado e que insistiria narepetio. Da a extraordinria frmula

    freudiana, em sua ironia: reduzir o infortnioneurtico ao infortnio banal.Na opo de Lacan, ao contrrio, o

    tempo um possvel vetor de novidade. que ele no pode ser pensado unicamentecomo estruturado pela dimenso simblico-imaginria que assegura a imanncia dopassado no presente. A questo do que eleimplica de real deve ser colocada, quer issoagrade, quer no a Emmanuel Kant, pois,antes de toda promessa analtica, preciso

    responder questo de saber como o temporeal de uma anlise alcana o real do falasser

    NOTAS:1 Pensemos, sobretudo, em Rank, Ferenczi.NT Jogo de palavra entre histeria (gr. hysteros) ehistria.

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    PRELIMINARES

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    Os tempos do sujeito do inconsciente

    Dominique Fingermann

    A psicanlise s dar fundamentos cientficos sua teoria, e sua tcnica, ao formalizar adequadamente as dimenses essenciais de

    sua experincia que so juntamente com a teoria histrica do smbolo: a lgica intersubjetiva e a temporalidade do sujeito.Jacques Lacan

    om Lacan, orientamos apsicanlise que sustentamosna atualidade, segundo umalgica temporal coerentecom a temporalidade dosujeito do inconsciente.O V EncontroInternacional da IF-

    EPFCL prope um tema de trabalhodesdobrado em trs eixos inter-dependentes. Com efeito, o tempo napsicanlise decorre dos tempos do sujeitodo inconsciente e, de seu manejo depende aefetividade da psicanlise no seu tempo.Os tempos do sujeito do inconsciente:H o tempo que passa:O tempo passa, claro, irreversvel,segundo a sucesso do antes ao depois, davida morte.

    Para o sujeito do inconsciente, todavia,desde sua constituio pelo significante, opresente se passa na antecipao de umfuturo marcado por aquilo que do passadono mais: um pode ser delineia-se apartir de um poderia ter sido. Wo es warsoll Ich werden. Este tempo escandido pormomentos cruciais de bscula, marcando ocorpo na hora da castrao.E h um tempo que no passa: a a-temporalidade, que justifica a

    indestrutibilidade do desejo, como diziaFreud. Neste tempo, pode ocorrer umaoutra lgica que no aquela do Cronos: ado momento oportuno, o Kairos.A fita de Moebius que ostenta nosso cartaz em dois tempos, trs movimentos -

    mostra esta dupla temporalidade do sujeitodo inconsciente. Com efeito:Em qualquerponto em que se esteja dessa suposta

    viagem, a estrutura, isto , a relao comum certo saber, a estrutura no larga disso.E este desejo estritamente, durante a vidainteira, sempre o mesmo... esse famosodesejo indestrutvel que passeia sobre alinha da viagem .O tempo na psicanlise:

    A escanso das sesses, sua freqncia, adurao das anlises se referem no tcnica, mas tica que comanda aoperao da transferncia: relaoessencialmente ligada ao tempo e ao seumanejo . Em busca do tempo perdido, aanlise pode proporcionar fazer-se ao sersendo que por isso precisa tempo (ltant, faut le temps de se faire ltre ),

    isto , o tempo de achar por ali seu sintoma(sinthome), pois somente depois de umlongo desvio que pode advir para o sujeitoo saber de sua rejeio original .

    A psicanlise no seu tempo:Esses longos desvios no esto em alta nacotao do mercado de nosso tempo que secompraz em denegrir a psicanlise ( Time ismoney). Todavia, esta resiste - ainda,sempre - ao avesso do plano capitalista.Isso no uma razo para que os

    psicanalistas, mesmo tomando-a nacontracorrente, no se envolvam com essaatualidade e seus excessos para, a partir docampo lacaniano, fazer subir na cotao ohumano e sua letra.

    C

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    Do tempo

    Daniela Scheinkman Chatelard

    empo: preciso. precisotempo para fazer-se ser[1].Se preciso tempo, porqueuma psicanlise acontece poruma suposio. Ela conseguedesfazer pela palavra o quese fez pela palavra: atransmisso de Jacques Lacan

    em seu seminrio O momento de concluir.O tempo interroga a psicanlise, o tempo interrogado pelos psicanalisandos, o tempofaz questo para o ser falante, para o ser do

    tempo, para o ser-para-morte (Heidegger).Em As Confisses[2], Santo Agostinho serefere experincia vivida, manifestando-seno entrelaamento da temporalidade entre opassado, o presente e o futuro. Ao interrogarsobre o ser, no tempo que Heidegger vaibuscar repostas sobre o Dasein, o ser-a. Oser-a situado numa trama temporal: nopassado sob a forma do ser-sido, isto , amaneira como o Dasein volta ao passado; opor vir ou devir, isto , uma antecipao no

    presente num tempo ainda a advir; e, enfim,o estar em situao, refere-se ao presente.Tempo preciso para que a elaborao dotraumtico se constitua numa psicanlise.Tempo que marca uma ruptura no sertemporal e histrico no a-temporal do sujeitodo inconsciente. Marca uma ferida e funda otempo do traumtico na falcia do ser. Odasein, como o ser-a, se faz presente em si.O trabalho do tempo do traumtico vividona experincia, est presente no tempo

    analtico e atualizado na transferncia.Em termos temporais, sabemos oquanto precioso para a psicanlise areferncia ao futuro anterior, no s-depois daelaborao simblica. O tempo paracompreender implica o tempo para apassagem ao simblico. Assim sendo, essaassuno falada de sua histria lhe permitereordenar as contingncias passadas dando-

    lhes o sentido das necessidades por vir[3]. preciso tempo! Lacan j nos dizia: precisotempo para se chegar ao momento deconcluir! preciso tempo para fazer-seser[4], para habituar-se ao ser, a transmissode Jacques Lacan em Radiofonia. Essetrabalho de a-pario do ser, de parir o ser, todo um processo de Durchabeitung perlaborao de uma psicanlise. Os diversosdesvios e os contornos sucessivos nos quais aexperincia da talking cure vivida pelosujeito permitem que ele progrida rumo ao

    registro simblico, realizando pela fala osdiversos remanejamentos que chegaro aoregistro do real em conseqncia desseprocesso de Durchabeitung. Lacan j nosdizia: preciso tempo para se chegar aomomento de concluir! Estamos falando dosurgimento de uma subjetividade que vaiacontecendo segundo os tempos futuroanterior e a posteriori.

    Jacques Lacan intitulou o seuantepenltimo seminrio Momento de

    Concluir e, depois, seu ltimo seminrio, Atopologia e o tempo. Ora, so doisseminrios que no apenas tocam na questodo tempo, mas, sobretudo demonstra aosseus ouvintes e leitores o tempo daquele queelabora e profere estes seminrios: o sujeitoda enunciao que habita o homem Lacancom seu estilo nico. Jacques Lacan inaugurao seu Momento de Concluir dizendo aos seusouvintes: A psicanlise uma prtica. "Umaprtica que durar o que ela durar, uma

    prtica de palavrrio" e mais adiante,prossegue: "Isto no impede que a anlisetenha conseqncias: ela diz alguma coisa". Oque quer dizer: 'dizer'? 'Dizer' tem algo havercom o tempo. Este tempo que nodula-se aodizer o tempo necessrio para parir o ser;para que algo do ser aceda fala, ao fala-ser. preciso tempo para que o "inconsciente

    T

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    articula-se daquilo que do ser vem ao dizer"[5].

    Podemos assim nos remeter clnica,ao desejo do analista. O desejo do analistaimplica escutar o que o tempo a-posteriorivivido no presente traz como efeitoretroativo da antecipao que traou odestino do sujeito a partir da escrita deixadaem seu ser de objeto do desejo do Outro.Desejo do analista a partir do qual ele operasua escuta, possibilitando que a escrita de seuanalisante torne-se, enfim, sua prpria escrita,tornando o tempo do futuro anterior queantecipara seu destino num momento deconcluir e transformando, assim, essa escrita

    num trao do sujeito. A locuo futuroanterior significa que, num a-posteriori, umsentido dado ao anterior.--------------------------------------------------------NOTAS[1] Lacan. in Radiophonie (1970). In: Scilicet

    2/3.Paris:Seuil, (1970, p.78).[2] Santo Agostinho. As confisses. Livro 11, cap.XIV.Traduo de Frederico Ozanam Pessoa deBarros. Rio de Janeiro: Ed. De Ouro, 1970.[3] Lacan. Funo e campo da palavra e dalinguagem, in: Escritos, p. 257.[4] Lacan, J. in Radiophonie, p. 78 in Scilicet 2/3,Seuil, Paris, 1970.[5] LACAN J. Radiophonie en Scilicet 2, p. 79, Seuil,Paris.

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    Agora, nosso tempo.Ramon Miralpeix

    Traduo: Slmia Sobreira

    om este ttulo quero colocar

    em destaque algo de comumdeste tempo entre ns numcrculo mais amplo ospsicanalistas, e mais estreito osdo campo lacaniano. Poroutro lado, penso que asperguntas que podem servir

    de ponto de partida so uma boa preliminarpara o debate. A vo algumas:

    Temos escutado em muitas ocasiesque houve um tempo em que a psicanlise

    pde nascer: Freud esteve ali para faz-lo, edeu-lhe um lugar de entrada entre as terapiasdestinadas a curar alguns sintomas eenfermidades com os quais os demais saberes(psiquitricos) haviam topado. Isto , houveum momento propcio da histria, e duranteum tempo a psicanlise teve oreconhecimento dos saberes entre os quais sehavia colocado, os da medicina (seria muitoousado dizer que talvez Lacan no se tivesseinteressado pela psicanlise como o fez e,

    portanto, sequer falaramos de campolacaniano se no tivesse sido psiquiatra?). Seainda h um vnculo entre a psiquiatria, apsicologia e a psicanlise, este bastantedistinto do que era h cinqenta anos? Ondeesto aquelas psiquiatria e psicologia quebebiam da psicanlise? Demos por feito quens, os psicanalistas, estamos empenhadosem sustentar a psicanlise, em suaparticularidade, como um saber a mais entreos saberes que se desenvolvem atualmente,pois sabemos que, com exceo de algunscampos da matemtica, cada saber necessitados outros para poder constituir uma rede naqual possa se sustentar e se desenvolver.Ento, a pergunta pelo tempo da psicanliseno v, pois no est assegurada, e no sno o est pelo prprio fazer dospsicanalistas: tampouco o est pelos demaisdiscursos em que se tenha sustentado. Ento,

    uma pergunta pertinente por quais saberes

    queremos ser reconhecidos para fazer comeles essa rede, ou seja, de quais podemosesperar, desejando-a, uma crtica que nos d amedida do lugar da psicanlise no mundo?Podemos esper-la da clnica. Mas,geralmente, que classe de saber queremos queseja a da psicanlise? Esperamos que oencontro de So Paulo nos d uma monestas reflexes.

    Quando, na assemblia de 2006, sedecidiu que a de 2008 teria como eixo

    principal um exame em profundidade sobre aadequao de nossas estruturas associativas eorganizativas com o objeto com a qual foramcriadas, se abriu um tempo crnicolimitado, concreto, o final do qual devercoincidir com o do outro tempo, o tempolgico do momento de concluir. Ser ummomento de concluir coletivo forado seme permitem a expresso -, com todos osperigos de gelificao e/ou excluso quesupe no terreno de onde se julga

    identificao ao trao (einziger Zug)comum[1] -, mas, sobretudo, com asdificuldades estruturais de uma conclusocoletiva[2].

    Entretanto, agora que ainda estamosno tempo de compreender, podemos olharao nosso redor para tentar localizar quais soos riscos imediatos de algumas das escolhaspossveis: em ltimo caso, podemos concluirque ficamos como estamos, dissolver para

    voltar a comear de um modo distinto (aindaque este ltimoacho ainda vlido deprosseguirmos). Acredito, sem dvida, que aaposta mais geral se encontra num lugarintermedirio.

    As opes pelas quais nos decidimosem nossos primeiros tempos incio dosfruns e da Escola estiveram marcadas,entre outras coisas, por dois preconceitos :um sobre a hierarquia e sobre a associao

    C

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    que envenenou a dialtica sobre os pareshierarquia/gradus e associao/escola; eoutro que, na falta de outro nome melhor,chamarei o preconceito democrtico oude igualao, que pesou sobre as estruturasinstitucionais e sobre a Escola[3].

    Contudo, graas ela e apesar dela,agora temos um campo, o Campo Lacanianoe temos uma Escola, com seus membros eseus colegiados com suas funes bemdefinidas. Tambm estamos em outromomento: creio que, no geral, corrigimos ospreconceitos citados, de forma que novemos os elementos dos binmiosmencionados como opostos e em luta, ouseja, no nos arrepiamos por pensar quenossa Escola possa ser uma associao, ou

    uma hierarquia associativa melhorestabelecida; do mesmo modo, podemospensar num Um de orientao ainda queseja um Conselho no igual em sua funoao demais uns. A pergunta, neste caso : com

    que preconceito vamos abordar agora opasso outra etapa em nosso percurso?Esperamos poder estar avisados um poucoantes do momento de concluir.--------------------------------------------------------NOTAS

    [1] Ver em Freud, S. Psicologa de las masas y anlisisdel yo. (1921) Outras apreciaes da vida anmicacoletiva. Ammorrortu. Vol XVIII; em Lacan, J.Seminario VIII La transferencia. Clase 28. El analista ysu duelo. 28 de Junio de 1961.[2] Pero la objetivacin temporal es ms difcil deconcebir a medida que la colectividad crece, y pareceobstaculizar una lgica colectiva con la que puedacompletarse la lgica clsica. Lacan, J. Escritos (I)El tiempo lgico y el aserto de certidumbreanticipada. Un nuevo sofisma (p 202).[3] PREJUICIO: Opinin previa y tenaz, por logeneral desfavorable, acerca de algo que se conoce

    mal. (Diccionario de la RAEL). En ambos casos estaopinin y mal conocimiento estuvieron determinadospor la confusin entre jerarqua y una jerarquaconcreta, y entre direccin asociativa y orientacin.

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    Em preldio...

    Bernard NominTraduo: Slmia Sobreira

    ara responder ao pedido deDominique Fingermann eRamon Miralpeix, tomo debom grado a pena e lhesofereo alguns elementos dareflexo que em mim suscita otema de nossas prximasJornadas Internacionais. Em

    primeiro lugar, essas jornadas se realizaroem So Paulo, e devo dizer que me encanta aidia de me ver l de novo. Essa cidade no

    tem uma vocao turstica, isso quer dizertambm que quando l se est no se tem osentimento de ser um turista, mas o de poderincorporar-se multiplicidade das culturasque ali se freqentam e sentir-se participandodessa comunidade que palpita de vida. Acomunidade dos psicanalistas no desmereceessa ambincia geral, e tenho em minhamemria lembranas inesquecveis demomentos de convivncia com nossoscolegas e amigos paulistas.

    Ento nossas Jornadas Internacionaissero paulistas. E no tenho dvida quenossos colegas sabero prepar-las comcuidado. Mas cabe a cada membro de nossaEscola preparar-se para elas, tanto mais queesse encontro de So Paulo ser tambm aoportunidade de refletir sobre a experinciade nossa Escola.

    Se o lugar de nosso prximoencontro me atraente, o tema igualmente o. O tempo um real com o qual apsicanlise tem particularmente de se haver.A tal ponto que, parece-me, se deveria, comoLacan nos sugeriu no fim de seu ensino,encarar o tempo como uma das presenas doobjeto a.

    Poder-se-ia facilmente evocar suaverso objeto perdido: o tempo que nosfalta, alis o nico tempo que apreciado.Quando se cr ter todo o tempo, ele no medido, antes se est na miragem intemporalda repetio. O inconsciente participaamplamente dessa iluso, ele que no mede otempo que passa. Entretanto, essa medida oque o condiciona, pois como definir de outraforma esse inconsciente, seno como o queest em busca do tempo perdido?

    Poder-se-ia considerar esse tempocomo um objeto da alienao. O tempo sempre o do Outro que me espera, que meapressa para responder a sua demanda. Existea toda uma clnica a ser desdobrada entreaqueles que se empenham em fazer como seignorassem que se possa esper-los, mas cujodesejo lhes impe recorrer ao estratagema deinventar-se um Outro para atorment-los ato ltimo minuto. E h tambm aqueles que,ao contrrio, antes estariam sempre prontos

    para no ter de confrontar-se com o Outro esua falta.Porm o mais novo e sem dvida o

    mais proveitoso seria o esforo paraconsiderar esse objeto em sua verso real elgica. Poder ser observado ento que almde sua verso objeto faltante ou objeto doOutro, esse objeto tempo jamais percebido,ainda que esteja sempre ali operando eespecialmente na experincia do analisantecomo na do ato do analista. Para mim umpouco cedo para dizer mais a respeito porenquanto, mas ser provavelmente nessapista que terei de me apressar quando chegara hora.

    P

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    Perante o sintoma todo relgio mole

    Antonio Quinet

    odas as tentativas de Freudde fixar o tempo de umaanlise fracassaram quandono causaram dano maiorao paciente, como no caso,segundo Lacan, do Homemdos Lobos. Tampouco hcomo prever o tempo de

    durao de entrevista prvia e necessria aessa entrada. E, uma vez estabelecida atransferncia analtica duas vertentestemporais estaro em jogo: a vertente sem

    fim, prpria cadeia significante do sujeitoe a vertente disruptiva e atemporal do serem sua modalidade de gozo. A primeira avertente interminvel que inclui atemporalidade da sucesso prpria associao livre com o passado-presente-futuro, a retroao caracterstica daexperincia de significao narememorao e a prospeco que o futuroinfinito do desejo imprime noInconsciente. A segunda a vertente

    terminvel conceitualizada como oencontro com o rochedo da castrao e porLacan como "a soluo do enigma dodesejo do analista que lhe entrega seu sercujo valor se escreve () ou (a)". (Cf.Proposio).

    A teoria dos ns e do sinthoma naltima parte do ensino de Lacan nomodificam essas duas vertentes nemeliminam as dimenses do simblico doinconsciente e do real do gozo. pergunta

    sobre qual ser a durao do tratamentoanaltico a nica resposta verdadeiracontinua sendo a pronunciada por Freud:Ande!.

    O tema do nosso Encontroreafirma a posio do analista quanto aotempo, quando escolas de psicanlise quese reivindicam do ensino de Lacanpropem uma "psicanlise aplicada" aos

    pobres por quatro meses (podendo serprorrogado para at oito meses)diferenciando-a da "psicanlise pura" paraos ricos e os psicanalistas. Um tal desvio dapsicanlise incompatvel com seusprincpios. Chamar essa terapia depsicanlise desconsiderar que o sujeito doInconsciente est tambm presente comseus desejos e sintomas nas classes maisdesfavorecidas, oferecendo para eles essetipo de tratamento que um engodo. Opreconceito classificar os inconscientes

    segundo a classe social em nome de umacaridade. O psicanalista pode e deve atuarna urgncia e propor o tratamentopsicanaltico para todos que o quiseremsem precisar contrabandear seusfundamentos. o que diversas Sociedadese Escolas de Psicanlise inclusive a EPFCLe as FCCL, e at mesmo ambulatrios emUniversidades, j fazem h muito tempo noBrasil. O analista a partir de seu ato com aoferta cria a demanda de uma anlise

    independente do bolso do sujeito.Padronizar uma psicanlise a curto prazo ir contra toda a luta de Lacan contra ospadres estabelecidos e burocratizados queimpedem a psicanlise de se exercer na suacriatividade e singularidade de cada atoanaltico.

    Estipular um prazo para otratamento um empuxo ao furor curandipara fazer desaparecer o sintoma. Essaprtica leva ao pior, na medida em que o

    sintoma uma manifestao do sujeito queo analista deve antes de tudo acolh-lo efaz-lo falar ao invs de tentar liquid-lopara engrossar as estatsticas dos xitos dapesquisa cientifca. Diante do sintoma todorelgio mole, como o do quadro de Dali.Impor um tempo ao sintoma umaingenuidade se no for uma impostura. Ealm do mais, prometer a reabilitao

    T

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    rpida do doente para que ele volte logo aomercado de trabalho e ao consumo noseria estar ao servio do discursocapitalista? No se pode pagar o alto preodo assassinato do sujeito com vistas a nose perder o trem-bala dacontemporaneidade. Isto no estar altura da subjetividade de sua poca e simsubmeter a psicanlise aos discursos dosmestres.

    O capitalismo e a tecno-cincia soas torres gmeas que sustentam o mal-estarna civilizao contempornea levando-a ao

    desastre e ao terror. A psicanlise no devese adaptar ao discurso capitalista com oempuxo--fama de seu marketing nem securvar ao discurso da cincia que rejeita averdade do sujeito. Ao ceder a elas no hmais lugar para o Inconsciente nem o realdo sinthoma. A Escola de Lacan o lugardo refgio e crtica ao mal-estar nacivilizao.

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    A transferncia a intromisso do tempo de saberno inconsciente

    Lydia Gmez MussoTraduo: Luis Guilherme Mola

    omei o ttulo destas linhas deuma nota de p de pgina,datada de 1966, do escrito deLacan Variantes doTratamento Padro, cito:Em 1966, no h quem siganosso ensino sem ver nele quea transferncia a imiso do

    tempo de saber.[1] Nota que se enlaa a um

    pargrafo, que tambm vou citar, de Posiodo Inconsciente no qual aborda a questoda transferncia e do tempo: A espera doadvento desse ser em sua relao com o quedesignamos desejo do analista, no que eletem de despercebido...por sua prpriaposio, essa a ltima e verdadeira mola doque constitui a transferncia. Eis porque atranferncia uma relao essencialmenteligada ao tempo e ao seu manejo.[2]. Entolemos: transferncia, saber, tempo, ser, desejodo analista. A questo sua articulao, suasrelaes.Pontuaes:1. O sujeito se constitui no curso dessetempo lgico que elaborou Lacan e, desdeento no h sujeito prvio a esse tempo,seno um sujeito em vias de realizao.2. O tempo efeito do significante. E osujeito deve passar necessariamente porenunciados para que sejam desmentidos. Ouseja, por uma sucesso de posies, de teses.3. Se h sucesso, o tempo tem uma direo.

    Pois bem, existe uma direo retroativa doefeito de significao. J a encontramos noexemplo de Freud em seu Projeto.... Eleinaugura a tese de que o inconsciente ignorao tempo. Em sua Metapsicologia isso claro,essa tese se obtm por deduo a partir de: afalsa orientao do sonhos, a ausncia dosefeitos da passagem do tempo para o

    neurtico, o excessivo apego aos objetos, atendncia a ficar fixado; por isso na cura afinalidade levantar a amnsia que afeta ospensamentos inconscientes recalcados que,por causa do recalque obrigam o sujeito auma repetio das fixaes infantis de gozo.4. Para Freud o inconsciente no conhece otempo, por que se trata do inconscientereferido a questo da origem, do recalque

    originrio. Entretanto, esse inconscienteatemporal nos diz que quer circular e issoimplica o tempo, uma vez que olevantamento do recalque introduz o sujeitoem sua histria. Para Lacan o recalcado nomeado como no realizado, que demandaser consciente.5. Por ltimo, em relao a cura analtica, estainsere o inconsciente no deciframento, ouseja ao saber inconsciente determinado paraisolar os pontos singulares do sujeito e faz-los advirem como verdade. Ou ainda, queproduza um saber dos efeitos da verdade.

    O SsS implica que o efeito de sentidotransferencial o que ocupa o lugar doreferente ainda latente. O sentido ocupa olugar da satisfao da incidncia libidinal queterminar por revelar-se: o objeto a. Essatrajetria implica, comporta e necessita dofator tempo. Este querer ser do inconsciente,o no realizdo que quer se realizar nosdesvela a possibilidade de captar seu estatutotico, relativo ao desejo do analista.

    Na cura psicanaltica, o que lhe inerente fazer com que os efeitos de sujeitodo inconsciente abertura e fechamento ao mesmo tempo se acumulem sob a formade saber. Trata-se da realizao doinconsciente sustentado por um desejo naprocura de um momento de concluir, que

    T

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    no automtico e para o qual se necessitade tempo.

    Em seu artigo O objeto a de Lacan,seu usos, quando faz referncia incidnciado objeto no tempo da anlise e da sesso,Colette Soler sublinha que o objeto a quemcomanda o tempo. Cito: Este impredicvel uma causa que estimula..., que opera naeconomia do sujeito, hic et nunc. Passadotudo que se pode dizer, esse resto inomeveldo elaborvel se faz valer no ato de corte

    pontual onde a presena do analista ficacomo nica a representar ou a apresentar, oirrepresentvel.[3]--------------------------------------------------------NOTAS[1] Lacan, J. Variantes do tratamento-padro. Escritos.

    Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.330.[2] Lacan, J. Posio do inconsciente. Escritos. Rio deJaneiro, Jorge Zahar, 1998, p.858.[3] Soler, C. Revue de Psychanalyse Champ Lacanien.N 5/Juin, 2007.

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    O manejo do tempo

    Gabriel LombardiTraduo: Ana Laura Prates Pacheco

    que o tempo? Naverdade, no sabemos, eledesliza entre os dedos denossa apreensoconceitual. Existe? Quemj no sonhou com aeternidade, compermanecer sempre igual,

    a margem da mudana? Que analisante nosente freqentemente que sempre omesmo, que o tempo no passa? A

    ausncia de tempo um sonho, se chamaeternidade. Passamos o tempo sonhando eno sonhamos apenas quando dormimos.O inconsciente exatamente essa hiptese:que no sonhamos somente quandodormimos diz Lacan em seu seminriointitulado, entretanto, O momento deconcluir.

    Nas neuroses, encontramosdiversas formas de encobrir o tempo, deperd-lo fazendo como se no existisse: a

    distrao matar o tempo , aprogramao, o aborrecimento, aantecipao morosa do obsessivo, o muitorpido histrico, o muito tarde melanclico,o desencontro, a urgncia subjetivadesorientada o tomar a angstia comomotivo de fuga-.

    Ainda que a finitude do tempo sejaum tempo instalado, inclusive meditico, oneurtico fala de si de um modo impessoal,que se ope igualmente surpresa e determinao. A morte chega, com certeza,diz; mas no por enquanto. Com estemas..., escreve Heidegger, tira-se damorte toda a certeza. Todos os homens somortais; sim, mas eu no estou certo denada. A essa forma de se corresponde ainatividade, o passatempo, o desinteresse,inclusive o inativo pensar na morte. uma lstima, diz Heidegger, porque h na

    morte um irreferente, um absoluto, umprecursar que singulariza. A morte no selimita a pertencer indiferentemente aoser a particular, seno que reivindica aeste no que tem de singular (Heidegger,Sein und Zeit, 53).

    A lio do filsofo no comove aoneurtico em seu sonho de eternidade.Pode faz-lo um psicanalista? Se o faz, seconsegue promover no analisante umapassagem da eternidade finitude, antes

    que termine sua vida, no pelo caminhodo filsofo. A psicanlise no ummemento mori, no repetimos no ouvidodo paciente: lembra que vai morrer,como se dizia ao general romano em seumomento de glria.

    Como se introduz, na clnica e naprtica psicanaltica, o que o tempo tem dereal? Pela renovao da experincia jvivida da descontinuidade temporal, quemarca um antes e um depois, revelando o

    aspecto mais real do tempo: aimpossibilidade de retroceder. As fantasiasde alguns tericos da fsica e as leiturasrelativistas de muitos psicanalistas nodeveriam enganar-nos sobre este ponto:para ns, enquanto seres capazes deescolhas, o real do tempo seu irreversvel.H palavras, h atos, h escolhas queestabelecem um antes e um depois. Osresultados de Alan Turing so, neste ponto,conclusivas: uma mquina automtica podeser teletransportada, e seu tempo mudado,rebobinado por uma deciso exterior; masno um ser capaz de escolha.

    Para o parltre o tempo tem umacoordenada real, a descontinuidadetemporal, irreversvel, e sua aproximaotraz consigo um pressentimento, um afetoprprio que se chama angstia. A angstiaanuncia e prepara a renovao desse

    O

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    momento; sua certeza, seu carter de pr-ato assinalado por Freud (Erganzung zurAngst, em Hemmung, Symptom undAngst), fazem dela um indicador temporalfundamental, do que o neurtico,lamentavelmente, ignora o emprego.

    A experincia da descontinuidadetemporal irreversvel abarca vriosconceitos em psicanlise: o trauma, acastrao, a separao, o ato. De cada umdeles podemos dizer diferentemente quenos afetam enquanto sujeito, o que nelesnosso ser joga sua partida, sua realizao,seu destino. Essa descontinuidadeirreversvel, podemos padec-la (sob aforma as repetio como sintoma), mastambm podemos intervir na sua produo,

    em ato, sem mais atraso. Entre o sujeito aodestempo da neurose, e o ser no tempo oser no ato a psicanlise se coloca como

    um convite e uma espera ativa do adventodesse ser, permite indicar o recursoverdadeiro e ltimo da transferncia em suarelao com o desejo do psicanalista,como uma relao essencialmente ligada aotempo e a seu manejo (Lacan, crits, p.844).

    Manejar o tempo soapretensioso. E, no entanto, enquanto htempo, seu manejo depende de ns. Pormais reduzida que seja a margem deescolha que nos resta, ali est nosso desejo,nesse lapso limitado pelo ato comorenovao do trauma original que marca ocorpo, e a morte que apaga corpo, marca egozo. Por isso em psicanlise no tratamostanto o neurtico somente como ser

    relativamente morte, mas como serrelativamente ao ato.

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    O evasivo do inconsciente e a certeza doparltre

    Marc StraussTraduo: Elisa Fingermann

    ara Dominique,

    O tempo realmente o queme falta, o que faz com queseja difcil lhe escrever,como voc me pediu, umapreliminar sobre o assunto.No que eu tenha a

    pretenso de achar que sou mais ocupadodo que outros, do que voc, por exemplo,que est encarregada da preparao desse

    Encontro to importante para o futuro denossos Fruns e Escola. Mas quando eudigo que me falta tempo, que ele meescapa e que eu no consigo peg-lo devolta. Portanto, como, a fortiori, escreveralgo sobre ele?

    Ser que eu o perdi? Talvez eu otenha tido por algum tempo e o tenhadeixado escapar, para o meu horror, semme dar conta, ou sem medir o seu valor,seno eu teria prestado bem mais ateno...

    Ah, juventude louca, cantava FranoisVillon! Mas feliz juventude tambm, emque a urgncia no era a mesma. Na poca,eu tinha pressa de acumular o mximo deexperincias, ao passo que hoje, pouco otempo que resta e que me apressa; e todo otempo, que eu j no tenho, que meoprime...

    Mas, francamente, ser que algumdia eu tive esse tempo? Quando eu erajovem, no me parecia sensato deter-mesobre o fato do qual eu j tinha perdido obonde uma primeira vez. Tanto que essebonde podia ressurgir a qualquer instante epor nada no mundo eu queria perd-lo denovo. Mesmo que fosse somente por contadessa terrvel primeira vez, da qual eu tinhamuita dificuldade para me lembrar, mas quesabia que no queria, sobretudo, vi v-laoutra vez.

    Ainda assim, o que fiz eu para queas coisas tenham acontecido dessa maneira?Falhei ou no? Mesmo se hoje evidente,que eu no consegui agarrar esse instanteque passava, no foi por falta de vontade,mas por ignorncia, o que teria levado outra falha imperdovel. Sobre isso Freud,que percorria incansavelmente os sutismeandros dos romances familiares que seofereciam a sua escuta.

    Lacan: Tudo isso no nos leva

    muito longe. No mais longe do quealimentar mais e mais o tema da falta comseu simulacro de processo no qual seagitam juzes e advogados s ordens de umdiretor de cena (metteur en scne) que seatribui o papel do ru, ento dito inocente,e de para seu maior conforto, poracrscimo, mantido fora do jogo, esperade um veredicto sempre prorrogado. Seexiste uma tese que vale, a da falta. Umafalta de estrutura, portanto, de gramtica

    primeiro. que a questo do "O que eufao? s pode ser questionada de fato apartir de "O que eu fiz?, na qual o eu quequestiona j no mais aquele que fez,seno na lembrana. E aquele que meresponde no mais aquele que fez, masaquele que se lembra mais ou menos, eainda por cima, sabe o que quer obter ouevitar - daquele que o interroga. Ondeestava eu, ento, quando eu fazia ? E ondeestou agora ?

    Notemos, sem nos demorarmosmuito, que tudo isso vale tambm para o"O que eu disse?", j que dizer tambmfazer alguma coisa.

    Assim, o tempo me divide, oumelhor, o tempo e a minha diviso so umanica e mesma coisa. Podemos dizer comLacan que estou dividido entre uma

    C

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    ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCLInternacional dos Fruns-Escola de Psicanlise dos Fruns do Campo Lacaniano

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    ausncia pura e uma sensibilidade pura eque o nome dessa diviso o tempo. Oque sou ento? Alm, claro, do que ooutro me diz que eu fui, e que no isso...

    Lacan formulou uma resposta apartir de sua reflexo sobre o tempo, doqual ele mostrou a estruturao lgica. Masaqui no se trata da de 1945, desenvolvidaem seu bem conhecido texto "O tempolgico e a assero da certeza antecipada",onde o sujeito encontra sua resposta aindano outro, ainda que com a carga da pressa,e das suspenses que ela impe. Trata-sedaquela que ele reformula no dia 29 dejaneiro de 1964, na terceira lio de seuseminrio Os quatro conceitosfundamentais da Psicanlise, no qual ele

    chega : "cingir uma estrutura temporal, daqual podemos dizer que ela nunca foi, atagora, articulada como tal..

    Mais ou menos vinte anos depois,ele retoma, ento a questo, de umamaneira que, no por acaso, ele assinalaindita. Lemos: "A apario desvanecentese d entre dois pontos, o inicial e oterminal, desse tempo lgico entre esseinstante de ver, no qual alguma coisa sempre elidida, at mesmo perdida, da

    prpria intuio e esse momento elusivo noqual, precisamente, a apreenso doinconsciente no conclui, no qual semprediz respeito a uma recuperao enganosa."E ele conclui: "Onticamente, ento, oinconsciente, o evasivo."

    Do instante de ver a corsimplesmente preta ou branca do disco dosoutros dois prisioneiros ao instante de vero que elidido, algo sempre j perdido; dotempo para compreender a apariodesvanecente; da pressa de concluir aomomento elusivo que no conclui: adiferena grande, convenhamos, minhacara Dominique.

    E quais so as conseqncias sobrea concepo do sujeito, do sintoma, daconduo da cura, at a sua concluso,voc provavelmente me perguntar. Mas,como se trata aqui apenas de umapreliminar, eu te lembro, eu me contentareide lembrar que o nfase colocada sobre oevasivo do inconsciente por Lacan, o levou

    bem longe, novas elaboraes sobre oreal do objeto em jogo na psicanlise, jque lhe era necessrio, ento, fundamentara certeza do sujeito sobre outra coisa almda cadeia da mensagem do Outro. O queme permite te propor um ttulo para essebilhetinho, se voc quiser um: "O evasivodo inconsciente e a certeza do parltre."

    Se essas poucas observaes confortamsua vontade de ir mais longe sobre essa

    questo to singular do tempo napsicanlise, ns poderemos faz-lo daqui apouco juntos, em So Paulo. E na espera,eu nos desejo ainda interessantes trabalhospreliminares

    Marc

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    A psicanlise em seu tempo

    Christian Ingo Lenz Dunker

    m grego temos trsexpresses que podemigualmente ser traduzidaspor palavra: mithos, logose epos. Cada uma destasexpresses comporta umatemporalidade diferente. Omithos a palavra sem

    autoria, a palavra das origens imemoriais quepor ser de todos no de ningum. Mithos algo que se diz alm do dizente, de formacircular de tal forma que o que vem antes pode

    ser posterior ao que vem depois. o a parle(Isso fala). Logos outro tipo de palavra.Palavra universal, palavra que supera o tempode sua prpria enunciao. Palavra que possuiuma lgica que aspira a verdade, em meiodizer.Epos, origem de termos como poca, pico eepocal, refere-se ao relato e narrativa. Arecitao do epos pode ser feita atravs de umdiscurso antigo e mesmo em uma lnguaarcaica ou estrangeira. Mas um discurso

    indireto, entre aspas, que se apresenta noapenas para o coro, mas tambm para osespectadores. Tradicionalmente o epos refere-se origem de uma pessoa, comunidade ougrupo[1], mas segundo aquele que conta. Lacancritica a degradao destas duas formas depalavra na modernidade. Mithos, deixa de seruma palavra coletiva e passa ao mito individualdo neurtico. Logos deixa de ser ambio deverdade e passa a ser saber universal. Mithos elogos parasitam epos de tal maneira que no

    podemos mais reconhecer o valor deste tipo depalavra. De certa maneira tudo virou epos. Porisso pensar a psicanlise em seu tempotornou-se uma tarefa to simples quantoinexeqvel.Pensar o prprio tempo em que se est , emprincpio, uma tarefa inexeqvel quando seimagina tomar o epos como uma evidncia. Osnicos que so capazes de engendrar um

    resqucio de epos so aqueles que se sabemexilados. So os velhos, as crianas, osestrangeiros. So aqueles que praticam o queValry chamou de profisses delirantes:aqueles que tm coragem de quererclaramente algo absurdo. Sabe-se que se estenvelhecendo quando de repente comeam asair de nossa boca expresses terrveis como:na minha poca ... ou no meu tempo....Ou seja, uma poca se apreendeexcentricamente. Como dizia S. Agostinho:quando me perguntam o que o tempo eu no

    sei, mas quando no me perguntam eu sei. Osvelhos largaram esta estranha obsesso depertencer ao prprio tempo, experimentam otempo distncia. Assim como para ascrianas o tempo, o seu tempo, funciona comoum horizonte. A frase de Lacan diz Que antesrenuncie a isto, portanto, quem no alcanarem seu horizonte a subjetividade de suapoca., ou seja, alcanar em seu horizonte,no simplesmente pertencer sua prpriapoca. Esta prudncia com relao ao

    asenhoramento de seu prprio tempo parecedepender do reconhecimento da opacidade dotempo.Portanto, a psicanlise em seu tempo, no deveresumir-se a saber se ela filha damodernidade ou da ps modernidade, se elasobrevive ao fim das grandes narrativas ou seinclui na sociedade do espetculo. Se ela herdeira das prticas de confisso edisciplinarizao dos corpos ou se inclui comouma forma de familiarismo repressivo,

    falocntrico ou universalista. Se ela umaforma laica de religio ou uma tcnicateraputica ineficaz. Se ela fornece as basesbiolgicas para uma possvel neurocincia ouos fundamentos lgicos de uma teoria dacognio e da linguagem. Se ela progressistaou conservadora. Tais debates so importantese caracterizam a posio da psicanlise em umapoca. Espera-se que deles se extraia um

    E

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    diagnstico: ser que a psicanlise cabe nestetempo? No estaramos ns fora deste tempo,como casulos ou fsseis sociais de umexperimento cientfico datado.Tais debates presumem uma certa noo doque vem a ser uma poca e com isso umaeconomia prpria do que o tempo. O tempoem que se est ou do qual se est excludo. Aopressentir que a psicanlise vtima de umaobsolescncia no programada estamos nosfazendo pertencer nossa poca. poca naqual se vive em atraso e fora do tempo, o novoacontecendo em outro lugar. Mas ao pertencera esta poca, ao pertencer demais a esta poca,deixamos de nos situar partir de epos. Anarrativa hegemnica desta questo identificanosso tempo ao que realmente est

    acontecendo, ou seja, a tudo aquilo que capazde gerar ou de se apresentar como novo. Mas aobsesso pelo novo, como j se observou,tornou-se uma velha obsesso. Entra em cenaaqui o que chamo de o novo conservadorismopsicanaltico, ou seja, o argumento aqui deque preciso cautela com relao s descriesmais ou menos miditicas de nossa poca,prudncia diante dos grandes diagnsticosmassivos sobre a cultura, sobre a arte e sobre acincia e sobre a sociedade. Isso verdade, em

    uma poca marcada pela sensao de que hum grande evento em curso, em algum lugarocorre uma grande festa, da qual estamossempre em atraso ou excluso. H duasestratgias mais simples, eu diria reativas diantedeste mal estar:

    (a) Dizer que o que h de mais radical napsicanlise que ela contenta-se empermanecer como : como uma VelhaSenhora. Ela afirma o valor da experincia

    contra a vivncia, a importncia do desejocontra a depresso, a importncia da lei contrao gozo, a fora da tica contra o mundo datcnica, do tempo longo de uma anlise contraa rapidez da cura dos homens feitos s pressas.A prova disso que ela sobreviveu apesar deseu anacronismo.

    (b) Dizer que o que h de mais radical napsicanlise que ela atualizvel. Ela apareceaqui como uma Infant Terrible, o molequetravesso das cincias humanas, a nica prtica aaltura da ao comunicativa (Habermas), oreduto de uma estilstica da existncia(Foucault). Ela atualizvel justamente porqueestava na frente na aurora da modernidade. Elasempre foi proftica: a papel da sexualidade, acrtica do funcionamento das massas, asegregao inerente expanso dos mercadoscomuns, o recuo diante das utopias eplanejamentos sociais.Digo que estas duas posies representam onovo conservadorismo psicanalitico tanto porironia ao fato de que j fazem cem anos que

    ambas as solues abundam a histria dapsicanlise, quanto pelo fato de que ambasaceitam tacitamente a tese de que nossa poca tangvel, imediatamente tangvel: basta abriros jornais. Nisso ela est perfeitamente emacordo com nossa poca, que se imaginatransparente a si mesma, que as coisasrealmente se conservam apesar de plenas demudanas. Ou seja, tanto uma quanto outraconfiam no retrato que recebemdesconhecendo uma das regras elementares do

    funcionamento narcsico: entre o retrato eaquele que pretende nele se enxergar hsempre um lugar terceiro. Lugar para o qualconcorremos para produzir em soberanodesconhecimento e ignorncia. Enquanto nosmedimos no retrato, procurando o melhorperfil e ajustando nossa posio esquecemosque nossa poca foi produzida, como fatosimblico e discursivo, tambm pelapsicanlise. Portanto a psicanlise estperfeitamente em acordo com esta poca,

    simplesmente porque ela contribuiu paraproduzi-la. A questo saber se ela poder sairde sua prpria poca para poder reencontr-la.----------------------------------------------------------NOTAS:[1] Lacan, J. Funo e Campo da Fala e da Linguagemem Psicanlise.

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    O inconsciente e() o tempo

    Sidi AskofarTraduo: Paulo Marcos Rona

    tempo falta, repete-se porfia. Ora, necessriotempo, muito tempo parapensar a psicanlise em seutempo e o tempo napsicanlise.

    Do tempo napsicanlise, h, parece,

    pouco a dizer hoje em dia, de tanto que otema foi medido e balizado. Estamos longe,com efeito, do tempo no qual nos sentamos

    encerrados no paradoxo aparente que nosfazia dizer, de uma parte, com Freud, que oinconsciente no conhece o tempo e, deoutra parte, com Lacan, que ele se manifestasegundo uma pulsao temporal. Aoposio , de sada, fecunda, j que ela fazaparecer que Freud trata das propriedades deum inconsciente-sistema, l onde Lacanconvoca principalmente, senoexclusivamente, o inconsciente tal como elese desdobra no processo da cura analtica. Do

    mesmo modo, mesmo retomando a tesefreudiana, evidente que a ignorncia dotempo pelo inconsciente no implica que otempo no seja assunto da psicanlise.

    Ora, o tempo concerne a psicanlise atrs ttulos.

    No plano clnico, em primeiro lugar.Com efeito, no foi o menor mrito de Freudter concebido, para capturar o intemporaldo inconsciente-linguagem, esse engenhosodispositivo fundado no somente na palavra desenrolar e colocao em funo temporalda linguagem como tambm o manejo dotempo como varivel na transferncia. Nosem excesso, alm do mais, s vezes, comoLacan o notava a justo ttulo a propsito dacura do Homem dos Lobos: Bem mais comuma ousadia que toca a desenvoltura, eledeclara considerar legtimo elidir na anlisedos processos os intervalos de tempo nos

    quais o evento permanece latente no sujeito.Quer dizer que ele anula os tempos decompreender em prol dos momentos deconcluir, que precipitam a meditao dosujeito em direo ao sentido a ser decididodo evento original (Escritos, p. 258).

    Passemos sobre o fato de que aoente, necessrio o tempo de se fazer a ser,e o fato de que necessrio de tempo paraque Wo es war, soll ich werden.

    A psicanlise concernida pelo

    tempo tambm enquanto tempo histrico, aomenos porque os discursos que ela entra naroda fundamentais ou no, os discursos dacincia e do capitalismo tendo seus preos e, sobretudo os sujeitos em sofrimento que aela se endeream trazem deles a marca. Seriapossvel esquecer que no momento mesmono qual Lacan enlaa pela primeira vez o fimda anlise didtica ao engajamento dosujeito em sua prtica que ele adverte, apropsito da funo do analista: Que antes

    renuncie a isto, portanto, quem no alcanarem seu horizonte a subjetividade de suapoca?

    No plano tico, em seguida.A psicanlise, sabemos, deve muito,

    seno tudo cincia, que , ao mesmo tempoa provedora do sujeito sobre o qual ela opera,sua condio epistmica e, por suasconseqncias Kant -, sua condio tica.Resta que ela no poderia, sem se dissolvercomo prtica e como discurso, seguir acincia em seu rebaixamento da vida humana pura vida biolgica. Que uma vida tenhasua qualificao de humana de sua apreensoe de seu desenrolar na linguagem est deacordo muito bem com a mxima deScrates: Uma vida no examinada no digna de ser vivida. O exame socrtico no o exame analtico; todos os dois requerem,no entanto, a linguagem e o tempo, a

    O

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    colocao em discurso e mesmo a colocaoem narrativa. Para a psicanlise, esse tempooscilou entre durao e fulgurao. Ele podetomar a figura das curas curtas com sesseslongas, porque orientadas pela pesquisa dosentido e a busca da verdade; ele podetambm tomar aquelas das curas longas comsesses curtas porque visando o ato eorientadas ao real.

    Permanece, nos dois casos, que nose trata jamais de viver para contar,segundo o belo ttulo das Memrias deGabriel Garcia Marques, mas dehystoricizar[1] sua vida ordenando-a noconforme o tempo do universo da preciso tempo da cincia e igualmente do capitalismo-, mas segundo a palavra que dura, e que d

    razo da operao propriamentehystoricizante[2] que somente umapsicanlise torna efetiva; O que se realiza emminha histria no o passado simplesdaquilo que foi, uma vez que ele j no ,nem tampouco o perfeito composto do quetem sido naquilo que sou, mas o futuroanterior do que terei sido para aquilo em queme estou transformando (Escritos, p.301)[3].

    No plano da estrutura, enfim, se ns

    a desestruturalizamos para no guardardela seno sua pura: a linguagem. oprincpio da soluo lacaniana questo dotempo, e sabe-se que ela o ponto de partida.Ela se efetua finalmente, esta soluo, naoposio finalmente muito simples entre oinconsciente como lugar do Outro sincronia e o inconsciente como discurso

    do Outro (diacronia), o inconsciente comohistria. De sorte que a a-temporalidadefreudiana do inconsciente no poderia quererdizer seno uma nica coisa: o carter noaltervel de seus contedos, se estamos deacordo com Heidegger em dizer que otempo se encontra primeiro no ente que semodifica. A alterao est no tempo. O que,aplicado ao inconsciente, Lacan traduzir ereduzir a um sbrio indestrutibilidade decertos desejos (Escritos, p. 581).

    E por uma razo evidente: se aafinidade e a congruncia desta tese com oinconsciente freudiano parecem evidentes, elase torna ao menos problemtica desde que oinconsciente se torna lacaniano, quer dizer,real: do inconsciente (que s o que se cr

    digo: o inconsciente, seja, o real caso seacredite em mim) (Outros escritos, p. 567).

    Com efeito, como excluir o tempo doconceito de inconsciente quando esse ltimo,inclusive em Freud, alm do mais, indissoluvelmente memria, programa eprincpio de repetio? No seria necessrio,ao contrrio, chegar a dizer que oinconsciente obra do tempo, ou mesmo queo inconsciente o tempo?--------------------------------------------------------

    NOTAS:[1] (N.T.) Jogo de palavra entre histeria (gr. hysteros) ehistria.[2] Idem 1.[3] (N. T.) A citao no original no texto, incompleta, Ce qui se ralise dans mon histoire, nest pas lepass dfini de ce qui a t dans ce que je suis, mais lefutur antrieur de ce (que) jaurai t pour ce que jesuis en train de devenir (crits, p. 300)

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    Tempo: lgica e sentimento

    Sol AparcioTraduo: Paulo Marcos Rona

    Tenho muita tristeza desde queminha av morreu.

    Preocupada quanto asituar o evento no tempo,perguntei quando essa mortehavia ocorrido, para no mesmoinstante ouvir responder:recentemente h muito tempo.

    Essa breve troca, tendo sido vriasvezes repetida no curso das entrevistas que seseguiram, adquiriu para mim o valor de uma

    verdadeira pequena comdia cujo efeitocmico parecia-me responder inadequaoda pergunta colocada.

    Sem dvida no havia para mim nadaa ouvir ali seno esse dizer fazendo evento damorte da av para essa mulher.

    A liberdade que ela parecia seconceder frente aos imperativos de ordemlgica, aos quais a alfabestizao[1]submete os seres falantes desde sua tenraidade, havia me deixado perplexa. Somente

    mais tarde esse recentemente h muitotempo figura de estilo singular,simultaneamente elipse e anttese, comotambm holfrase -, acabou enfim porressoar como uma frase no estilo deNovarina[2]: recentemente (diz a tristezaque experimento) h muito tempo (diz voc,voc que mora no tempo).

    Ora, o que era essa interveno senoum chamado ou lembrana[3] do tempo,quer dizer, do discurso?

    Morar no tempo, no isso prpriode todo sujeito falante desde que o tempo,como queria Kant, antes de ser um dado daexperincia, uma forma a priori de nossacompreenso? Anterioridade da lgica emrelao ao vivido. Universalidade da categoria qual ningum escapa.

    No haveria, portanto, falandopropriamente, o fora do tempo possvel

    para os corpos falantes. E, no entanto, aexperincia analtica bem aquela dainsistncia sempre presente daquilo quepermanece, no modificado, desabitado dotempo, que o tempo no poderia prender.

    Percebe-se ento a pertinncia dessecomentrio de Lacan a propsito darepetio: a funo-tempo aqui de ordemlgica, e ligada a uma colocao em formasignificante do real. Habitar o tempo seprestar a essa colocao em forma. o caso

    na anlise. Qualquer que seja o real com oqual o sujeito tenha a ver, a regra analtica osubmete tarefa de sua colocao em formasignificante, de sua submisso ao tempo dodiscurso.

    Da os bruscos surgimentos, no cursoda anlise, no tanto de um sentimento dotempo, quanto de uma conscincia sbita desua existncia.

    O sentimento do tempo do qual falao poeta aquele do tempo que passa.

    Sentimento frequentemente melanclico,marcado de remorsos e recriminaes.Algumas vezes, antes, tingido de angstia. Elesempre supe a antecipao, a retroao, arememorao, ou, dito de outra maneira, aestrutura da memria freudiana.

    necessrio portanto distinguir essesentimento que torna, por certo, o tempopresente, das ocasies de realizao do temponos quais o efeito de desejo evidente.Pensemos nesses momentos nos quais surgiua idia de um termo, freqentemente sob afigura da morte.

    Se devo morrer, melhor que medesperte, diz um analisante perdido em seustemores hipocondracos. Vem-lhe entocomo num relmpago: Que perda de tempo,a neurose!

    Para um outro, sado de uma doenagrave, depois de longos anos de anlise, isso

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    se formula em um voto urgente de passar aOutra coisa. Pressa de passar ao ato,diramos, de abreviar o gozo do sintoma.Presena sbita do desejo, para o qual, comodizia Blanchot, o fazer tem primazia sobre oser.

    O discurso analtico que, aos olhos doprofano, parece desdenhar o tempo, introduzde fato o sujeito sua tomada em conta.Tomada em conta que constitui, alm domais, a condio de possibilidade de um viverem seu tempo.

    Como consegue isso? Pelo desvio desua submisso ao tempo do sujeito, tempoque em si s determina a duraoincompressvel de seu percurso. Que essadurao no possa ser antecipada no quer

    dizer que o analista a ignore. Ao contrrio

    mesmo, se ele estiver altura de apreendernela a estrutura lgica na qual ele mesmo seencontra tomado. Quer dizer, de localizar osinstantes de ver, de respeitar os tempos decompreender e de reconhecer os momentosde concluir que no advem sem ele.--------------------------------------------------------NOTAS:[1] (N.T.) alphabtization, no original, apresentandouma corruptela da palavra alphabtization(alfabetizao) pela incluso da sonoridade de bte(bobo).[2] (N.T.) Valre Novarina, autor dramticocontemporneo francs, autor, dentre outras peas deVous qui habitez le temps.[3] (N.T) (r)appel, no original. No encontrando umanica palavra que pudesse expressar o duplo sentidoque a incluso de uma letra provoca no francs, optou-se por incluir os dois atravs de duas palavras.

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    O tempo do analista

    Ana Martnez WesterhausenTraduo: Luis Guilherme Mola

    os tempos atuais, topouco inclinados aoreconhecimento econsiderao pelo sujeitodo inconsciente, meparece necessrio cuidarda funo do analista,para que dure, para que

    no definhe, para que no se transformeem algo indesejvel ou insuportvel. Pois,se bem certo que Lacan manifestou,

    explicitamente e com razesfundamentadas, que podia prescindir dospsicanalistas, mas no da psicanlise, no menos certo que no pode haver discursopsicanaltico sem analistas atravessadospelo desejo do psicanalista. por isso queuma reflexo sobre o tempo do analistaparece oportuna.

    A que nos referimos com osintagma tempo do analista?

    Em primeira instncia

    administrao do tempo real de que dispeo analista. Entre colegas freqentemente seescuta dizer estou esgotado...no paro.nome resta nem um minuto para os meusassuntos etc., o que evoca o analista hiper-ocupado, que consome quase todo seutempo em atividades psicanalticas:atendimento de pacientes, docncia, tarefasinstitucionais etc., e que no entanto resistea recusar novas demandas e ofertas que lheexigem ainda mais tempo. Analista viciadoem psicanlise? Analista que, tomado pelodiscurso capitalista, no pode deixar deproduzir? Analista onipotente?

    Estamos acostumados a responderque a causa analtica que determina o usoque damos ao tempo de que dispomos,como se isso desse uma garantia maior existncia do desejo do analista. Mas nadaimplica que a dedicao exclusiva

    psicanlise seja o que mais convenha aodiscurso analtico.

    Ella Sharpe, citada por Lacan em Adireo do tratamento, escreve em Oanalista.Requisitos essenciais para aaquisio da tcnica, o seguinte: Otrabalho do analista ver o inconscienteem ao. Por essa razo, o analista necessitas vezes afastar-se de sua tarefa eabandonar o tema do inconsciente em suavida diria e na de seus prximos, onde

    vale a totalidade de sua personalidade. Opensamento, a arte, a literatura, as relaesde amizade, o psicanalista necessita ver eviver a vida como uma totalidade, comoum corretivo do ngulo especial que exigeseu trabalho.

    Em uma segunda instncia, otempo do analista pode ser tomado desdea perspectiva do uso ou manejo do tempoque cada analista faz na direo de umacura analtica.

    Dentro dessa concepo meinteressa destacar o contraste que sedescobre no ensino de Lacan entre, de umlado, a teorizao e promoo das sessescurtas, baseando-se em que a anulao dostempos de compreender em favor dosmomentos de concluir, ...precipita ameditao do sujeito em direo ao sentidoque h de decidir-se do acontecimentooriginal (1954, Funo e campo da palavrae da linguagem). E, por outro lado, acapacidade de espera, necessria ao analistapara sustentar a dimenso de objeto. Pois,como sabido, h ocasies em que necessrio um longo silncio para queemerja a presena do analista,acompanhada muitas vezes do afeto deangstia.

    Se a sesso curta remete ao corte dasesso, e portanto a um recorte de tempo

    N

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    decidido pelo analista, favorecer aemergncia da angstia implica, muitasvezes, capacidade de espera e de nointerveno, dar tempo ao sujeito para quese manifeste a presena efetiva do desejoem sua face mais real.

    Parafraseando a expresso de LacanA arte de escutar quase equivale a do bemdizer (Seminrio XI cap.X A presena doanalista),, poderamos formular que a artede esperar equivale quase a do bem fazer,de onde se conclui que um ato podeocorrer paradoxalmente sem ao, assimcomo um discurso pode s-lo sem palavras.

    Por outro lado, se o tempo lgicosurge do tempo da rememorao, e porisso dentro do marco do simblico, otempo de espera surge da experincia daangstia, isto da incurso dentro doregistro do real.

    Assim pois, se pode concluir que aoanalista convm ter ritmo e saber danartanto lenta quanto rapidamente, enlaando-se com seu parceiro-analisante, para emalguns momentos conduzi-lo no baile e emoutros deixar-se levar por ele.

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    Aprs-Coup

    Guy ClastresTraduo de Sylvana Clastres

    preciso dar a Cesar o que de Cesar, e Deus o que de Deus.

    Faamos nossas aspalavras do Evangelho esaibamos dar a Lacan, oque ns lhe devemos.Saibamos reconhecer o seu

    imenso mrito em ter sabido extrair dostextos de Freud o nachtraglich , tersabido tirar deles as conseqncias

    doutrinais referentes ao sujeito e a suatopologia.Porm, no esqueceremos a

    interpretao magistral de Freud sobre aneurose infantil do Homem dos Lobos ,interpretao esta que diz respeito,sobretudo, ao lugar e funo do famososonho.

    Todos se lembram do desenho feitopelo Homem dos lobos , j que suareproduo continua a ser vendida na casa

    em que Freud terminou seus dias emLondres.Lembremos o ps Freud, que o

    sonho que exerce uma funo traumticaneste caso, j que ele oculta na cadeia desua formao significante o trao/a marcado encontro originrio com o gozo - ogozo da famosa cena primitiva, que no seno uma reconstruo do real supostopor Freud a partir de sua interpretao dossonhos.

    Este sonho encerra, portanto, umreal, e este real que Lacan, no aprs-coupda leitura de Freud, vai situar dando-lhe suaverdadeira interpretao, interpretao estaque Freud, por uma questo de tempo, nopodia produzir, mas que estava ao alcancede Lacan que, de certa forma, tinha sabidofazer emergir e, em alguma medida, extrairo olhar como objeto pequeno a.

    Desta forma, o sonho do Homemdos Lobos o prprio olhar do homemdos lobos que fica para sempre fascinadopelo real sobre o qual ele se fixa: o seumais de gozo.

    Lacan soube ler Freud no aprs-coup e soube dar ao nachtraglich freudiano sua importncia topolgica, talcomo ela foi posta em ato na escrita dovetor retroativo da representao grfica dotexto: Subverso do sujeito e dialtica do

    desejo . a partir desse momento queLacan vai materializar na banda de Mbiuso corte do sujeito em si. preciso umtempo para que se faa no aprs-coup, ocorte/a separao subjetiva da banda. Ecada psicanalista pode reencontrar neste aprs-coup o encadeamento significanteno qual o avesso e o direito da bandainscrevem o saber e a verdade segundouma estrutura onde em que o no-todo (le

    pas-tout) tem o controle.

    E

  • 5/26/2018 [Anais] Campo Lacaniano - Os Tempos Do Sujeito Do Inconsciente

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    ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCLInternacional dos Fruns-Escola de Psicanlise dos Fruns do Campo Lacaniano

    05 e 06 de julho de 2008 So Paulo (Brasil)

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    PLENRIAS

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    ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCLInternacional dos Fruns-Escola de Psicanlise dos Fruns do Campo Lacaniano

    05 e 06 de julho de 2008 So Paulo (Brasil)

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    O tempo de uma anlise.

    Dominique Fingermann

    O Tempo em msica omovimento caractersticocom o qual se executa umaobra musical, o seu ritmo,o seu andamento. Osmovimentos [adgio,andante, moderato.] sodefinidos pela durao deuma nota batida certo

    nmero de vezes por minuto. essadistribuio de uma durao em umaseqncia de intervalos regulares, tornados

    sensveis pelo retorno peridico de algummarco que produz o ritmo de uma seqnciamusical.Por extenso o Tempo o ritmo dodesenrolamento de uma ao (filme, obraliterria) do comeo ao fim. Com seqnciasmeldicas, pausas, arranjos harmnicos[simultneos], disposio regular de temposfortes, contratempos e contrapontos,repartio dos acentos, e cesuras, o ritmo faza obra. O tempo, o andamento faz a obra

    ao explorar e atravessar as suas possveismodulaes via repartio dedescontinuidade, num fluxo contnuo. Essacadncia, repartio da descontinuidade nofluxo contnuo (de sons, imagens,significantes) recorta instantes, distribuindosilncios e evidenciando seqncias, pareceproduzir a efetivao, progressiva eirremedivel, do ponto de concluso. Passadodesse ponto, qualquer musica seria litaniafastidiosa.

    Da mesma forma o andamento de umaanlise do comeo at o fim resulta do seutempo, recortando instantes que isolamseqncias, que produzem conseqncias. OTempo, conduzido pela batuta do desejo doanalista, produz o tempo de uma anlise, amedida de sua durao.A cadncia da entrada do analista nos ditosdo sujeito - condiciona uma descontinuidade

    que produz, em ato, no final das contas, olimite, a concluso, fazendo da srieinfinita dos ditos uma seqncia finita (C.S.). Por isso Il faut le temps um tempo necessrio, para extrair do tempo que passa otempo que falta e o transformar no tempoque resta.

    A temporalidade peculiar e necessria de umaanlise permite passar de um tempo perdidoat o tempo encontrado. No o tempo re-encontrado, isto , o tempo que se encontranuma anlise no o tempo da busca do

    tempo perdido, o tempo encontradoenquanto encontro com o Real, o tempoac