Ana Filipa Fernandes Desenvolvimento de solenóides para … · 2019-04-24 · Universidade de...
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Universidade de Aveiro
2015
Departamento de Física
Ana Filipa Fernandes Rodrigues
Desenvolvimento de solenóides para eletroválvulas hidráulicas
Universidade de Aveiro
2015
Departamento de Física
Ana Filipa Fernandes Rodrigues
Desenvolvimento de solenóides para eletroválvulas hidráulicas
Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Física, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor Manuel Pedro Fernandes Graça, Investigador Auxiliar do Departamento de Física da Universidade de Aveiro e, sob a co-orientação científica do Prof. Doutor Luís Cadillon Costa, Professor Associado com Agregação do Departamento de Física da Universidade de Aveiro.
À Memória de Nuno Miguel Fernandes.
O júri
Presidente Prof. Doutor João Filipe Calapez de Albuquerque Veloso Professor Auxiliar, Departamento de Física da Universidade de Aveiro.
Orientador
Prof. Doutor Manuel Pedro Fernandes Graça Investigador Auxiliar, Departamento de Física da Universidade de Aveiro.
Co-orientador
Prof. Doutor Luís Manuel Cadillon Costa Professor Associado c/ Agregação, Departamento de Física da Universidade de Aveiro.
Arguente Doutor Hugo Manuel Gonçalves da Silva Investigador Auxiliar, Cátedra de Energias Renováveis da Universidade de Évora.
Agradecimentos
Quero expressar o meu sincero agradecimento ao meu orientador, Prof. Doutor Manuel Pedro Fernandes Graça e ao meu co-orientador, Prof. Doutor Luís Cadillon Costa, pela disponibilidade e acompanhamento na realização deste trabalho, bem como pela boa disposição e bom ambiente de trabalho. Agradeço também à empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda., especialmente aos sócios gerentes, Sr. João Batista Prior e Doutor Carlos Neves, pela oportunidade de desenvolver este trabalho integrado no grupo de investigação e desenvolvimento da mesma. Ao Engenheiro Pinho e ao Engenheiro Seabra, um muito obrigada, pelos conhecimentos que me transmitiram, pela disponibilidade e paciência e, acima de tudo, pela boa disposição. Obrigada também aos restantes membros da gerência e a todos os colaboradores da empresa pela disponibilidade e pela incansável simpatia. A todos os membros do Laboratório Associado Novel Materials and Biosystems da Universidade de Aveiro, nomeadamente, ao J. Suresh Kumar, obrigada. À responsável pelo Laboratório Central de Análises da Universidade de Aveiro, Dra. Rosário Soares, deixo também o meu sincero agradecimento. Aos amigos que me acompanharam durante todo o meu percurso académico e me ajudaram a atingir esta grande meta, MUITO OBRIGADA! À Mariana Pires, presente desde o início deste percurso e que, longe ou perto, sempre me incentivou a terminar esta caminha com boa disposição e ambição. Um agradecimento especial aos meus pais, Valdir e Sofia Rodrigues, por me proporcionarem esta oportunidade, pelo amor e pelo apoio incondicional, mesmo quando a vontade de “baixar os braços” falava mais alto.
Palavras-chave
Solenóides, eletroválvulas, campo magnético, propriedades magnéticas, ferromagnetismo, temperatura de funcionamento, consumo de corrente elétrica, estabilidade eletromecânica.
Resumo
Os solenóides para eletroválvulas, em conjunto com outros produtos e equipamentos, permitem a automação dos sistemas de distribuição de águas não potáveis, como, por exemplo, em sistemas de rega. Deste modo é possível controlar diversos parâmetros, como o caudal e a pressão da água que passa na válvula, podendo estes ser fiscalizados à distância. Neste trabalho, foram desenvolvidos solenóides para acoplar a válvulas que se destinam à rega agrícola, comercializadas pela empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda. Para o efeito, foram definidos vários processos necessários para a criação de uma linha piloto de pré industrialização destes dispositivos. Etapas como a conceção do dispositivo, prototipagem, testes de temperatura, consumo de corrente, estabilidade eletromecânica e testes de desempenho associados a diferentes valores de pressão e de caudal de funcionamento, foram essenciais para este desenvolvimento, assim como, análises estruturais e morfológicas do material que constitui o núcleo dos solenóides. Além disso, procurou-se responder às necessidades do mercado numa perspetiva mais completa do que a existente. Para isso, foram produzidos dois tipos de solenóides de 24 V AC, com pressões máximas de funcionamento de 4 bar e de 12 bar.
Keywords
Solenoids, solenoid valves, magnetic field, magnetic properties, ferromagnetism, operating temperature, current consumption, electromechanical stability.
Abstract
The solenoids valves when combined with some other products and equipment, allow the automation of non-potable water distribution processes, like for instance, the automation of irrigation systems. This permits the control of parameters such as the flow and pressure of the water that passes the valve, which can also be monitored remotely. In the present work were studied and developed solenoids designed for solenoids valves production in the company JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda, which have as primary application crop irrigation. For this purpose was necessary to define along this work, several processes which are required for the establishment of a pilot assembly line of these devices. Steps like the product design, prototyping, temperature tests, current consumption, electromechanical stability and performance tests with different pressure and operating flow values, were essential to this development. Additionally, structural and morphological analysis of the material which constitutes the solenoid’s core were performed. Besides the referred analysis and work, it was also intended that the developed product could provide a more complete and extensive response to the market needs. Therefore, two types of 24 V AC solenoids valves were produced, with maximum operating pressure of 4 bar and 12 bar.
ÍNDICE Lista de Figuras ............................................................................................................................... i
Lista de Tabelas ............................................................................................................................. iii
Capítulo 1 | Introdução ................................................................................................................. 1
1.1.Motivação ............................................................................................................................ 1
1.2.Objetivos .............................................................................................................................. 1
1.3. Estrutura da Tese ................................................................................................................ 1
Capítulo 2 | Estado da arte ............................................................................................................ 3
2.1.Magnetismo e Campo Magnético ....................................................................................... 3
2.2. Solenóides em Eletroválvulas ............................................................................................. 7
2.3 Mercado Atual ................................................................................................................... 10
Capítulo 3 | Conceção ................................................................................................................. 13
3.1. Projetos............................................................................................................................. 13
3.2. Produção de Peças Plásticas ............................................................................................. 18
3.3. Caracterização do Núcleo do Solenóide ........................................................................... 21
Capítulo 4 | Prototipagem ........................................................................................................... 25
4.1. Componentes Físicos ........................................................................................................ 25
4.2. Etapas de Montagem ........................................................................................................ 26
4.3. Estudo Do Campo no Solenóide ....................................................................................... 29
4.4. Caracterização de Funcionamento Do Solenóide ............................................................. 30
Capítulo 5 | Pré Industrialização .................................................................................................. 39
Capítulo 6 | Conclusões ............................................................................................................... 45
Bibliografia ............................................................................................................................... 46
i
LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Linhas de campo magnético evidenciadas pela deposição de limalha de ferro na superfície de um íman………………………………………………………………………………………………………….
3
Figura 2 - “Regra da mão direita”: O dedo polegar indica o sentido da corrente e os restantes definem o sentido do campo magnético………………………………………………………………
4
Figura 3 - a) Linhas de campo magnético num íman; b) Linhas de campo magnético num solenóide percorrido por ima corrente elétrica……………………………………………………………………
4
Figura 4 - Geometria utilizada para determinar o valor do campo magnético num solenóide finito num ponto P do eixo central do solenóide (vista transversal) …………………………………….
5
Figura 5 - Curva de histerese característica de um material ferromagnético………………………. 6 Figura 6 - Curvas de histerese de materiais ferromagnéticos: a) material ferromagnético macio; b) material ferromagnético duro……………………………………………………………………………….
6
Figura 7 - Solenóide com um núcleo dividido em duas partes de comprimento L1 e L2. 7 Figura 8 - Vista em corte de uma válvula de membrana: a) válvula aberta; b) válvula fechada…………………………………………………………………………………………………………………………………
7
Figura 9 - Esquema representativo, em corte, de um solenóide: a) núcleos desmagnetizados; b) núcleos magnetizados…………………………………………………………………………
8
Figura 10 - Vista em corte do solenóide acoplado à eletroválvula: a) núcleo móvel desmagnetizado; b) núcleo móvel magnetizado; 1 – solenóide; 2 – câmara de entrada; 3 – câmara de saída; 4 – câmara de pressão……………………………………………………………………………….
8
Figura 11 - Representação da força do peso: a) plano vertical; b) plano inclinado………………. 9 Figura 12 - Desenho da base do solenóide: a) vista de frente; b) base do solenóide………….. 13 Figura 13 - Desenho do núcleo fixo: a) pormenor da base da bobine; b) desenho técnico do núcleo fixo…………………………………………………………………………………………………………………………….
13
Figura 14 - a) núcleo móvel; b) vedante……………………………………………………………………………… 14 Figura 15 - a) anel de cobre; b) desenho técnico do anel de cobre……………………………………. 14 Figura 16 - a) Desenho técnico da mola; b) mola………………………………………………………………… 15 Figura 17 - Gráfico da temperatura de funcionamento de solenóides com diferentes diâmetros do fio de enrolamento…………………………………………………………………………………………
16
Figura 18 - Armadura metálica……………………………………………………………………………………………. 16 Figura 19 - Desenho técnico da cápsula do solenóide: a) vista de cima; b) vista em corte…. 17
Figura 20 - Desenho técnico da tampa: a) vista de cima; b) vista em corte………………………… 17 Figura 21 - Desenho técnico do solenóide: a) vista em corte com todos os componentes; b) vista de frente……………………………………………………………………………………………………………………...
17
Figura 22 - Operações do processo de moldagem por injeção (sequência) …………………………. 18
Figura 23 - Máquina de injeção por moldagem com pormenor do molde de injeção (aberto)………………………………………………………………………………………………………………………………..
19
Figura 24 - Difratograma de Raios-x obtido para o material constituinte do núcleo do solenóide……………………………………………………………………………………………………………………………...
21
Figura 25 - Imagens óticas da superfície do aço…………………………………………………………………… 22
Figura 26 - Micrografias de SEM da superfície do aço: a) aço base; b) aço atacado quimicamente.……………………………………………………………………………………………………………………..
23
Figura 27 - Curva de Histerese obtida para o material constituinte do núcleo do solenóide.. 23 Figura 28 - Cravação: a) prensa mecânica; b) núcleo móvel e anel de cobre; c) conjunto base da bobine + anel de cobre + núcleo fixo………………………………………………………………………
27
Figura 29 - Bobinagem: a) máquina de bobinar; b) enrolamento à volta da base da bobine.. 27 Figura 30 - Solenóide com cabos e armaduras……………………………………………………………………... 28
ii
Figura 31 - a) Dispensador de misturas; b) Solenóide encapsulado……………………………………… 28 Figura 32 - Estufa…………………………………………………………………………………………………………………. 29
Figura 33 - Impressora para rotulagem dos solenóides………………………………………………………… 29 Figura 34 - Campo magnético no interior do solenóide………………………………………………………… 30
Figura 35 - Dispositivo de Ensaio de Solenóides……………………………………………………………………. 30 Figura 36 - Gráfico da temperatura em função do tempo…………………………………………………….. 31 Figura 37 - Gráfico da corrente em função do tempo…………………………………………………………… 32 Figura 38 - Gráfico da estabilidade eletromecânica do núcleo móvel em função do tempo… 32 Figura 39 - Temperatura de funcionamento dos solenóides………………………………………………… 34
Figura 40 - Corrente de consumo dos solenóides………………………………………………………………... 34 Figura 41 - Estabilidade eletromecânica dos solenóides……………………………………………………… 35 Figura 42 - Temperatura de funcionamento dos solenóides………………………………………………... 35 Figura 43 - Corrente de consumo dos solenóides………………………………………………………………… 36 Figura 44 - Estabilidade eletromecânica dos solenóides……………………………………………………… 36 Figura 45 - Tempo de fecho do solenóide para um caudal constante de 30m3/h………………… 37 Figura 46 - Tempo de fecho do solenóide para uma pressão constante……………………………… 38
Figura 47 - Visão geral da linha piloto de pré industrialização: a) Desenho do projeto; b) Imagem real…………………………………………………………………………………………………………………………
40
Figura 48 - B1: Bancada de prensagem……………………………………………………………………………….. 40
Figura 49 - B2: Bancada de bobinagem……………………………………………………………………………….. 41 Figura 50 - B3: Bancada de solda…………………………………………………………………………………………. 41 Figura 51 - B4: Bancada de pré teste…………………………………………………………………………………… 41 Figura 52 - Dispositivo para teste rápido de solenóides………………………………………………………. 42 Figura 53 - a) Desenho do porta-solenóides; b) Imagem real do porta-solenóides; c) Dispositivo de ligação ao TRS; d) Porta-solenóides, Dispositivo de ligação e TRS…………………
42
Figura 54 - B5: Bancada de enchimento………………………………………………………………………………. 43
Figura 55 - B6: Bancada de pré teste……………………………………………………………………………………. 43 Figura 56 - B7: Bancada de rotulagem………………………………………………………………………………….. 44 Figura 57 - B8: Bancada de montagem final e embalagem…………………………………………………… 44
iii
LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Especificações técnicas de solenóides…………………………………………………………………. 11 Tabela 2 - Características do perfil de injeção……………………………………………………………………… 20 Tabela 3 - Percentagens de componentes constituintes da liga…………………………………………... 24 Tabela 4 - Componentes do solenóide e respetivas funções………………………………………………… 25 Tabela 5 - Comprimento do núcleo móvel e respetivas pressões máximas de funcionamento……………………………………………………………………………………………………………………..
33
1
CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO
1.1.MOTIVAÇÃO O mercado global atual, cada vez mais competitivo e exigente, tem requerido que as
empresas apostem na melhoria dos seus processos produtivos com o objetivo de aperfeiçoar e
renovar os seus produtos e metodologias de produção, criação de novos produtos e métodos
de produção, gestão, distribuição, etc., de forma a responderem mais rápida e eficazmente às
necessidades do mercado, mantendo assim a possibilidade de competir com os concorrentes
diretos.
Um caso particular que tem revelado uma elevada necessidade de tecnologias mais
avançadas são produtos, equipamentos e sistemas associados à distribuição de água em setores
como a agricultura em campo aberto, agricultura “em abrigo”, espaços verdes, indústria e obras
públicas que estão em constante desenvolvimento e renovação. Este trabalho de mestrado,
enquadra-se nesta conformidade. Assim, é motivado pelo interesse da marca MARLUX,
pertencente à empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda., em produzir solenóides que possam
ser acoplados às válvulas de distribuição que já possuem em mercado. A produção deste
elemento eletromagnético irá, aliando-se às válvulas, completar o produto “electroválvula”,
como um produto fabricado na sua totalidade por esta empresa. De referir que atualmente este
tipo de elementos eletromagnéticos são adquiridos a um fornecedor externo.
1.2.OBJETIVOS Este trabalho possui dois grandes objetivos. O primeiro relaciona-se com a conceção,
prototipagem e caracterização de solenóides de 24 Vac para eletroválvulas para controlo de
distribuição de águas não potáveis, com características de funcionamento, no mínimo,
semelhantes aos atualmente existentes no mercado. O segundo objetivo reside em projetar e
implementar uma linha piloto de pré-industrialização para a produção destes solenóides.
1.3. ESTRUTURA DA TESE A tese encontra-se estruturada em seis capítulos. No primeiro capítulo são apresentadas a motivação deste trabalho, os objetivos e a
estrutura da tese. O segundo capítulo destina-se ao estado da arte, onde são explicitados os conceitos físicos
da base deste trabalho, assim como alguns dos desenvolvimentos que ocorreram ao longo dos
tempos relativamente ao estudo e à produção de solenóides, como também a sua aplicação em
electroválvulas. Neste capítulo são ainda apresentados alguns solenóides do tipo 24 Vac de
marcas presentes no mercado, atualmente.
O terceiro capítulo reserva-se à conceção dos solenóides de 24 Vac, onde são mostrados os
projetos efetuados para a sua construção. É também apresentada a técnica de moldagem por
injeção para a produção de peças plásticas, bem como a caracterização estrutural e morfológica
do núcleo dos solenóides desenvolvidos.
A prototipagem dos componentes que constituem os solenóides é incluída no capítulo
quatro: são apresentadas todas as peças e as respetivas funções, as etapas de montagem e os
2
testes de temperatura, pressão e estabilidade eletromecânica em função do número de espiras
e das dimensões do núcleo móvel.
No capítulo cinco é apresentada uma linha piloto de pré industrialização dos solenóides,
introduzida na empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda., delineada com o auxílio de um
software de modelação em 3D.
As conclusões do trabalho são discutidas no capítulo seis. Por fim são apresentadas
propostas de trabalhos futuros para estes solenóides de 24 Vac e também para outro tipo de
solenóides.
3
CAPÍTULO 2 | ESTADO DA ARTE
2.1.MAGNETISMO E CAMPO MAGNÉTICO O magnetismo é um excelente exemplo de como as ciências exatas se têm desenvolvido ao
longo do tempo. É conhecido desde o século VII a.C., através de textos gregos que fazem
referência à observação de propriedades magnéticas em determinados corpos constituídos por
um material, a magnetite (Fe3O4), proveniente da Magnésia, de onde veio o nome de
magnetismo. No entanto, só no século VII d.C. voltaram a aparecer registos sobre o
magnetismo, vindos de relatos dos chineses sobre o uso da bússola utilizada em caminhos
marítimos. Somente quando estes trouxeram a bússola para a Europa, na época do
Renascimento, houve um maior interesse pelo magnetismo, uma vez que a bússola teve um
papel muito importante nas grandes viagens e nos descobrimentos que se realizaram nesta
época [1].
Cientificamente, o estudo do magnetismo só teve início no século XVI com as publicações
de William Gilbert acerca do seu estudo de observação deste fenómeno. Gilbert foi o primeiro a
aplicar métodos científicos no seu estudo e foi ele quem descobriu que a Terra é um íman
gigante. Separou a diferença entre as cargas elétricas e enunciou os fundamentos para as
ciências da eletricidade e do magnetismo. Observou, também, a trajetória das linhas de campo
magnético, do polo norte para o polo sul, através da deposição de limalha de ferro sobre um
íman, Figura 1 [1,2].
FIGURA 1 – LINHAS DE CAMPO MAGNÉTICO EVIDENCIADAS PELA DEPOSIÇÃO DE LIMALHA DE FERRO NA
SUPERFÍCIE DE UM ÍMAN [3].
No ano de 1820, o dinamarquês Hans Christian Oersted mostrou que os efeitos
magnéticos podiam ser produzidos por uma corrente elétrica que flui num circuito elétrico. Foi
o primeiro cientista a observar a deflexão sofrida pela agulha da bússola magnética quando esta
é colocada na proximidade de um fio percorrido por uma corrente elétrica. Notou, assim, que
as linhas de campo magnético em torno de um fio percorrido por uma corrente formam círculos
concêntricos que obedecem à simples convenção da “Regra da mão direita” que permite saber
qual a direção do campo magnético em torno de um fio percorrido por uma corrente elétrica,
Figura 2 [2].
4
FIGURA 2 – “REGRA DA MÃO DIREITA”: O DEDO POLEGAR INDICA O SENTIDO DA CORRENTE E OS RESTANTES
DEFINEM O SENTIDO DO CAMPO MAGNÉTICO [4].
Posteriormente, a natureza dos campos magnéticos gerados pela corrente elétrica foi
explorada por André-Marie Ampère, entre 1821 e 1825, que constatou que os polos
magnéticos, norte e sul, ocorrem aos pares e, portanto, se uma partícula magnética existe na
escala atómica, pode concluir-se que esta deve assumir a forma de um dipolo magnético. À
escala macroscópica, o efeito de um dipolo magnético é, precisamente, o mesmo que o de um
pequeno circuito de corrente com dimensões atómicas. Ampère conclui que os efeitos
magnéticos de corpos magnetizados podem resultar de correntes que circulam numa malha.
Assim, a hipótese de que todos os efeitos magnéticos no espaço livre podem ser descritos tanto
em termos de distribuição de dipolos como em termos de distribuições de corrente, sejam eles
resultantes de corpos magnetizados ou de circuitos de transporte de corrente elétrica [5,2,].
Com isto, Ampére mostrou, experimentalmente, que um íman pode ser substituído por um
solenóide, sendo este formado por um enrolamento de um fio condutor, por exemplo cobre,
feito em forma de espiral, ao qual chamamos de bobine. Se o comprimento do solenóide for
pelo menos dez vezes maior do que o seu diâmetro, o campo magnético produzido no seu
centro é, praticamente, uniforme quando este é percorrido por uma corrente, Figura 3 [1].
FIGURA 3 – A) LINHAS DE CAMPO MAGNÉTICO NUM ÍMAN; B) LINHAS DE CAMPO MAGNÉTICO NUM SOLENÓIDE
PERCORRIDO POR ÍMAN CORRENTE ELÉTRICA [6].
Se o solenóide tiver comprimento finito, o campo magnético num ponto localizado no
eixo do solenóide, pode ser calculado a partir da Lei de Ampère, traduzida pela equação [1]:
𝐵 =𝜇0𝑁𝐼
2𝐿(sin ∅2 − 𝑠𝑖𝑛∅1)
(1)
Onde 𝐵 é o valor do campo magnético, 𝜇0 é a permeabilidade magnética do vácuo (4𝜋 ×
10−7 𝑇 · 𝑚/𝐴 , 𝑁 é o número de espiras do enrolamento do fio, 𝐼 é o valor da corrente que
percorre o fio, 𝐿 é o comprimento do solenóide e os ângulos ∅1 e ∅2 são os definidos na Figura
4.
5
A equação 1 pode reduzir-se ao caso de um solenóide de comprimento infinito quando
os ângulos ∅1 e ∅2 tendem para 90°. Assim, o campo magnético num solenóide percorrido por
uma corrente elétrica é dado por [2]:
𝐵 =𝜇0𝑁𝐼
𝐿
(2)
Quando se considera um solenóide infinito, o valor do campo magnético no interior
deste não é uniforme. É mais intenso no centro e decresce com uma dependência dos
ângulos∅1 e ∅2 nas extremidades, tendendo, rapidamente, para zero à medida que nos
afastamos do centro [2].
Pela equação (2), consegue obter-se o valor do campo magnético para um solenóide
sem núcleo, isto é, quando dentro do enrolamento do fio existe apenas ar. Para alcançar o
objetivo deste trabalho, foi estudado, em pormenor, o solenóide cujo núcleo é constituído por
um material magnético, em particular, um material ferromagnético. Ao introduzir-se um
material magnético no interior do solenóide no qual se faz passar uma determinada corrente
que magnetiza o núcleo, verifica-se que o campo magnético se torna mais intenso no interior
do solenóide. Assim, o valor do campo magnético é obtido por:
𝐵 =𝜇𝑁𝐼
𝐿
(3)
A diferença entre esta e a equação (2) reside no valor da permeabilidade magnética do
vácuo, 𝜇0, que é substituído pelo valor da permeabilidade magnética do material magnético em
questão, 𝜇.
No caso dum material ferromagnético, a permeabilidade magnética não é constante,
variando com o aumento da magnetização, 𝑀, do material. Os materiais que apresentam
elevados valores de permeabilidade magnética dizem-se facilmente magnetizáveis.
Entre os materiais magnéticos, os metais como o ferro, o níquel e o cobalto, que
apresentam comportamento ferromagnético, são considerados os mais importantes do ponto
de vista industrial devido às inúmeras aplicações em que podem ser usados. Este tipo de
materiais é caracterizado pela criação de uma forte magnetização quando lhes é aplicado um
campo magnético. Se considerarmos o efeito de um campo aplicado, 𝐻, ao campo magnético,
𝐵, de um metal ferromagnético durante a sua magnetização e desmagnetização, verifica-se que
o campo aplicado aumenta a partir do zero até atingir o ponto de saturação, magnetização de
saturação, 𝑀𝑠. Depois, se o campo aplicado for anulado, a curva de magnetização inicial reduz
para um valor de magnetização chamada magnetização remanescente, 𝑀𝑟. Deste modo, para
FIGURA 4 – GEOMETRIA UTILIZADA PARA
DETERMINAR O VALOR DO CAMPO
MAGNÉTICO NUM SOLENÓIDE FINITO
NUM PONTO P DO EIXO CENTRAL DO
SOLENÓIDE (VISTA TRANSVERSAL) [2].
6
que o campo magnético se reduza até zero é necessário aplicar um campo inverso ao valor do
campo aplicado inicialmente que se designa por campo coercivo, 𝐻𝑐 . A Figura 5 esquematiza
este comportamento.
FIGURA 5 – CURVA DE HISTERESE CARACTERÍSTICA DE UM MATERIAL FERROMAGNÉTICO [3].
Os materiais ferromagnéticos podem ser divididos em dois grandes grupos, o dos
materiais ferromagnéticos macios e o dos materiais ferromagnéticos duros. Um material
ferromagnético macio é magnetizado e desmagnetizado facilmente, o valor do campo coercivo,
𝐻𝑐 , varia entre 0,004x10-6 e 0,88x10-6 kA/m, ao contrário de um material ferromagnético duro
[3]. Para que um material ferromagnético seja macio, é necessário que a sua curva de histerese
apresente um campo coercivo o mais pequeno possível, ou seja, a curva de histerese deve ser
estreita e, assim, o material magnetiza-se facilmente e apresenta uma elevada permeabilidade
magnética. Além disso, deve também apresentar uma magnetização de saturação elevada.
Portanto, a curva de histerese estreita e longa é característica dos materiais ferromagnéticos
macios. Por outro lado, os materiais ferromagnéticos duros são caracterizados por
apresentarem um campo coercivo elevado, entre 37 a 1200 kA/m, assim como uma
magnetização remanescente também elevada. Uma vez magnetizados, estes materiais são
difíceis de desmagnetizar, uma vez que o campo magnetização aplicado é intenso o suficiente
para orientar os respetivos domínios magnéticos na direção do campo aplicado, sendo que,
parte da energia do campo aplicado é convertida em energia potencial que fica armazenada no
íman, Figura 6.
FIGURA 6 – CURVAS DE HISTERESE DE MATERIAIS FERROMAGNÉTICOS: A) MATERIAL FERROMAGNÉTICO MACIO;
B) MATERIAL FERROMAGNÉTICO DURO [3].
Os materiais macios, como os vidros metálicos, são utilizados no desenvolvimento de
núcleos de transformadores de potência em multicamada. As ligas de ferro e níquel aplicam-se
7
em comunicações de alta sensibilidade para deteção e transmissão de sinais fracos. No caso dos
materiais ferromagnéticos duros, como as ligas de alumínio, níquel e cobalto, têm, atualmente,
maior importância comercial, sendo responsáveis por 35 % do mercado de materiais
magnéticos duros [3]. Além destes, os materiais magnéticos compostos por ligas de terras raras,
constituem também uma elevada percentagem de procura no mercado. São utilizados em
dispositivos médicos, como por exemplo, em pequenos motores de bombas e válvulas e no
movimento assistido das pálpebras. Aplicam-se, também, em relógios de pulso eletrónicos,
tubos de ondas, motores de corrente contínua, etc, [3].
2.2. SOLENÓIDES EM ELETROVÁLVULAS Existem diversas aplicações que requerem o controlo da passagem de algum tipo de
fluído podendo este ser efetuado por válvulas acionadas eletricamente por intermédio de
solenóides [5]. Como foi referido, um solenóide que tenha um núcleo constituído por um
material ferromagnético, sendo este magnetizado pela passagem de uma corrente elétrica,
apresenta um campo magnético elevado no seu interior. Consideremos que o núcleo do
solenóide é dividido em duas partes, 𝐿1 e 𝐿2, Figura 7.
FIGURA 7 – SOLENÓIDE COM UM NÚCLEO DIVIDIDO EM DUAS PARTES DE COMPRIMENTO L1 E L2 [7].
Tomando esta configuração como base, estamos agora em condições de percecionar de
que forma é que um solenóide pode permitir a abertura e o fecho de uma electroválvula. Na
Figura 8 é apresentado um esquema muito simples de uma válvula de membrana vista em
corte, onde é reproduzido o seu funcionamento.
1) Mola compressora 2) Membrana
FIGURA 8 – VISTA EM CORTE DE UMA VÁLVULA DE MEMBRANA: A) VÁLVULA ABERTA; B) VÁLVULA FECHADA [8].
Quando a válvula está aberta, Figura 8 A), não existe qualquer força a atuar na mola
compressora e, por isso, a membrana da válvula sobe, permitindo que o fluído passe através da
8
válvula. Quando a válvula está fechada, Figura 8 B), a mola é comprimida e a membrana forma
uma barreira física à passagem do fluído e, assim, este fica retido na câmara da válvula.
Considerando o comportamento acima descrito, é possível substituir a mola compressora
por um solenóide que permite que a válvula abra e feche consoante o fluxo de corrente
elétrica. Ou seja, quando existe uma corrente que flui através do solenóide, esta vai magnetizar
o núcleo do solenóide e este permite a abertura da válvula. Caso contrário, quando o núcleo é
desmagnetizado, pela ausência de fluxo de corrente, a válvula é fechada. O facto da
configuração do núcleo do solenóide ser divido em dois é devido à necessidade de haver uma
parte do núcleo que esteja fixa, que denominamos de núcleo fixo, e outra que possa efetuar o
movimento de abrir e fechar a válvula, a que denominamos núcleo móvel, Figura 9.
FIGURA 9 - ESQUEMA REPRESENTATIVO, EM CORTE, DE UM SOLENÓIDE: A) NÚCLEOS DESMAGNETIZADOS; B) NÚCLEOS
MAGNETIZADOS.
Às válvulas que são acionadas por solenóides dá-se o nome de eletroválvulas. Deste
modo é exequível verificar a abertura e o fecho das válvulas automaticamente, isto é,
controladamente e à distância.
Na figura seguinte é representado o conjunto eletroválvula e solenóide. Primeiramente, a
electroválvula está fechada, ou seja, não há passagem de fluído da câmara de entrada para a
câmara de saída, uma vez que não existe passagem de fluxo de corrente no solenóide e, por
conseguinte, o núcleo móvel está desmagnetizado. Em seguida, o núcleo móvel é atraído para o
núcleo fixo, isto é, existe fluxo de corrente no solenóide, o que permite a abertura da
electroválvula, permitindo a passagem do fluído da câmara de entrada para a câmara de saída.
Enrolamento
do fio
Núcleo Fixo
Núcleo Móvel
Mola
Armadura
metálica
Cápsula
Base da
bobine
o-Ring
9
FIGURA 10 - VISTA EM CORTE DO SOLENÓIDE ACOPLADO À ELETROVÁLVULA: A) NÚCLEO MÓVEL
DESMAGNETIZADO; B) NÚCLEO MÓVEL MAGNETIZADO; 1 – SOLENÓIDE; 2 – CÂMARA DE ENTRADA; 3 – CÂMARA
DE SAÍDA; 4 – CÂMARA DE PRESSÃO [9].
Assim, para que o solenóide passe da sua posição de fechado para aberto, é necessário,
para além do fluxo de corrente, contornar a força do peso do núcleo móvel, comprimir a mola e
a força de pressão que é exercida pelo fluido em passagem.
Sabemos que a força de uma mola, ou força elástica, é dada por:
�⃗�𝑒𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎 = −𝑘�⃗� (4)
Onde 𝑘 é a constante de elasticidade da mola e �⃗� é a deformação sofrida pela mola, segundo a
direção 𝑥.
Como se pode visualizar na Figura 10 A), mesmo quando a eletroválvula está fechada, o
fluído em questão já se encontra dentro do solenóide, pelo que a força de pressão exercida no
núcleo móvel depende da área do mesmo e do valor de pressão do fluido, (5) que se pretende
fazer passar pela eletroválvula.
𝐹 = 𝑃𝐴 (5)
Onde 𝑃 é a pressão do fluido e 𝐴 é a área da secção do núcleo móvel, que é circular e
então é obtida pela equação:
𝐴 = 𝜋𝑟2 (6)
O peso do núcleo móvel tem sempre direção vertical, dado que é provocado pela
aceleração da gravidade que tem origem no centro da Terra, seja qual for a posição do
solenóide ou do conjunto solenóide e electroválvula. Por outro lado, sabemos que a força
normal é a força de reação que tem origem na superfície onde ocorre o movimento. Portanto
tem um ângulo igual ao do plano do movimento, Figura 11. Ou seja, segundo o peso e força
normal, garante-se que, seja qual for a posição da electroválvula e, consequentemente, do
solenóide, o núcleo móvel vai desempenhar a sua função normalmente.
10
FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO DA FORÇA DO PESO: A) PLANO VERTICAL; B) PLANO INCLINADO.
Pela Figura 11, temos que, para o plano vertical, a força do peso é traduzida por:
�⃗⃗� = 𝑚𝑛ú𝑐𝑙𝑒𝑜 𝑚ó𝑣𝑒𝑙 �⃗� (8)
Onde |�⃗�| = 9,8 𝑚. 𝑠−2 representa a aceleração a gravidade.
Para o plano inclinado, podemos definir o plano cartesiano com inclinação igual ao plano
inclinado, ou seja, o eixo x forma um ângulo igual ao do plano, e o eixo é perpendicular ao eixo
x. A força normal será igual à decomposição da força do peso no eixo y e a decomposição da
força do peso no eixo x será a responsável pelo movimento do núcleo móvel. O ângulo formado
entre a força do peso e a sua decomposição no eixo y é igual ao ângulo formado entre o plano
inclinado e a direção horizontal.
{𝑃𝑥⃗⃗ ⃗⃗ = �⃗⃗� sin 𝜃 = 𝑚𝑛ú𝑐𝑙𝑒𝑜 𝑚ó𝑣𝑒𝑙�⃗� sin 𝜃
𝑃𝑦⃗⃗ ⃗⃗ = �⃗⃗� cos 𝜃 = 𝑚𝑛ú𝑐𝑙𝑒𝑜 𝑚ó𝑣𝑒𝑙�⃗� cos 𝜃
(9)
Portanto, o movimento que núcleo móvel do solenóide executa quando é atraído para o
núcleo fixo, isto é, para que o orifício da eletroválvula seja aberto, é traduzido pela seguinte
equação:
�⃗�𝑚𝑎𝑔𝑛é𝑡𝑖𝑐𝑎 > �⃗�𝑒𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑎 + �⃗� + �⃗⃗� (10)
Ou seja, a força magnética que permite a atração dos núcleos tem de ser superior ao
somatório de todas as forças que estão aplicadas no núcleo móvel, a força elástica, exercida
pela mola, a força de pressão exercida pelo fluido na secção do núcleo e a força do peso do
núcleo.
2.3 MERCADO ATUAL Existem, atualmente, diversas marcas que fabricam produtos para a distribuição de águas
não potáveis.
11
Os solenóides para eletroválvulas são um dos produtos entre muitos outros destinados à
automação industrial e agrícola para a distribuição de água que estas marcas disponibilizam no
mercado.
Para a realização deste trabalho, foram consideradas, como referência, duas destas
marcas, Baccara e Orbit, sendo a primeira líder do mercado mundial.
Com o intuito de desenvolver solenóides para eletroválvulas, foi consultada a informação
disponível relativa a este produto, para que, durante o processo de conceção do produto,
pudéssemos ter parâmetros de comparação. Esta informação é apresentada na tabela seguinte.
TABELA 1 – ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS DE SOLENÓIDES.
Marca Voltagem (Vac)
Corrente de influxo (A)
Corrente de funcionamento (A)
Pressão (bar)
Baccara 24 0,3 0,19 12 Orbit 24 - - 12
12
13
CAPÍTULO 3 | CONCEÇÃO
3.1. PROJETOS Os solenóides destinam-se a serem acoplados a válvulas implementadas em sistemas de
rega. Considerando os princípios físicos enunciados no capítulo anterior, o processo de
conceção destes dispositivos passou por várias etapas. Primeiramente, foi necessário esboçar,
de grosso modo, todos os componentes que viriam a ser necessários para o seu
desenvolvimento de modo a que, na fase seguinte, se pudessem realizar desenhos técnicos,
dimensionais, de cada peça que permitam obter o solenóide idealizado. Para este projeto fixou-
se a tensão de funcionamento dos solenóides em 24 Vac. O desenvolvimento de todos os
componentes teve como base a estrutura e funcionamento da válvula MARLUX, que funciona
de forma satisfatória usando solenóides produzidos pela Baccara e Orbit.
Em primeira instância, começou por se projetar a base do enrolamento do fio que
constitui o solenóide. Havia necessidade de ter um suporte físico para realizar esse
enrolamento e ao mesmo tempo, era essencial que nesse suporte fosse incorporado o núcleo
do solenóide. Além disso, existia também a necessidade de que esta base realizasse a ligação
entre o solenóide e a válvula, isto é, era preciso que a base do solenóide tivesse uma
extremidade “macho” coincidente com a rosca da válvula, Figura 12. O material constituinte
desta base é a poliamida, uma matéria-prima utilizada, industrialmente, para a produção de
peças plásticas para a água.
A)
B)
FIGURA 12 – DESENHO DA BASE DO SOLENÓIDE: A)VISTA DE FRENTE; B) BASE DO
SOLENÓIDE.
Paralelamente à concetualização da base do solenóide, adveio o dimensionamento do
núcleo do solenóide, uma vez que este teria de ficar incluído na base. Como foi referido
anteriormente, este núcleo terá de ser dividido em dois, um núcleo que ficará fixo na base do
solenóide e um núcleo móvel que realizará um movimento que permite abrir e fechar a válvula.
Posto isto, o núcleo fixo foi pensado de forma a ficar encaixado na base da bobine, garantindo
que enquanto o solenóide estiver a funcionar, este ficará completamente fixo. Portanto, no
14
interior da base da bobine foi criada uma secção circular que permite envolver o núcleo e, para
o núcleo fixo, foi criada uma saliência para que este fique rigidamente colocado, Figura 13.
A)
B)
FIGURA 13 – DESENHO DO NÚCLEO FIXO: A) PORMENOR DA BASE DA
BOBINE; B) DESENHO TÉCNICO DO NÚCLEO FIXO.
Posto isto, em seguida foi projetado o núcleo móvel do solenóide. A soma do seu
comprimento com o comprimento do núcleo fixo terá de ser igual ao comprimento do orifício
circular criado na base do solenóide. Como este vai ter uma das extremidades que vai ficar em
contacto direto com o orifício de abertura ou fecho da válvula, terá de ser criada uma
reentrância nessa extremidade com o objetivo de incluir um vedante para garantir que não
haverá fugas, Figura 14.
Considerando ainda a etapa de conceção do núcleo do solenóide, e tendo em conta que
o objetivo que se pretende é que o núcleo fixo atraia o núcleo móvel quando estes são
magnetizados por ação de um fluxo de corrente alternada, surgiu a necessidade de incluir, no
núcleo fixo, um anel de um material condutor e neste caso foi utilizado cobre. Isto porque se
trata de uma corrente elétrica cujo sentido é variável, ou seja, os polos magnéticos dos núcleos
invertem-se, simultaneamente, a cada ciclo de corrente, mantendo a atração entre eles. No
entanto, a constante inversão dos polos pode provocar a vibração do núcleo móvel e, para
contrariar este efeito é incluído um pequeno anel de cobre no núcleo fixo do solenóide. Assim,
é gerada uma força eletromotriz induzida no anel, proporcional à derivada da corrente que flui
A)
B)
FIGURA 14 – A) NÚCLEO MÓVEL; B) VEDANTE.
15
no enrolamento, criando um campo magnético suficiente para manter os núcleos atracados
quando os polos se invertem, Figura 15, [5].
A)
B)
FIGURA 15 – A) ANEL DE COBRE; B) DESENHO TÉCNICO DO ANEL DE COBRE.
Pela Lei de Faraday sabemos que o fluxo do campo magnético que passa pelo anel de
cobre pode ser calculado através de:
∅𝐵 = 𝐵𝐴𝑐𝑜𝑠𝜃 (11)
Onde 𝐵 é o valor do campo magnético, 𝐴 é a área do circuito definido pelo anel de cobre
e cos 𝜃 é o ângulo entre o campo magnético e o plano do anel. Por conseguinte, é possível
calcular o valor da força eletromotriz induzida:
𝜀 = −𝑑∅
𝑑𝑡
(12)
Conclui-se então que a força eletromotriz produzida é tanto maior quanto mais elevada
for a variação do fluxo magnético por intervalo de tempo. Pela equação 11, sabemos que o
fluxo magnético está diretamente relacionado com o número de espiras, N. Por isso, quanto
maior for o número de espiras, maior será o valor do fluxo magnético e, consequentemente,
maior será o valor do campo magnético. Este campo magnético, como referido anteriormente,
é o responsável pela magnetização dos núcleos do solenóide e pela sua atração e, por
conseguinte, pela abertura do orifício da válvula. Logo, quanto maior for o valor do campo
magnético, melhor e mais rápida se dá a atração entre o núcleo móvel e o núcleo fixo,
permitindo assim valores mais elevados de pressão do fluído que passa na válvula [10,11].
Para além do anel de cobre, foi também necessária a inclusão de uma mola de aço
inoxidável no núcleo móvel, com o objetivo de ajudar este núcleo a manter-se afastado do
núcleo fixo, quando o solenóide é desligado. Figura 16.
A)
B)
FIGURA 16 – A) DESENHO TÉCNICO DA MOLA; B) MOLA.
O material que compõe a mola é um material resistente à oxidação, uma vez que esta
estará, permanentemente, em contacto com a água.
16
Para o enrolamento, foi escolhido um fio de cobre com um diâmetro de 0,22 mm. O
mercado oferece fios de cobre com múltiplas características diferentes: vários diâmetros,
diferentes isolamentos, etc. O diâmetro do fio escolhido foi de 0,22 mm, uma vez que, para
diâmetros menores, a resistência mecânica do fio é reduzida, podendo este partir-se durante o
processo de bobinagem. Além disso, um fio mais grosso vai provocar um aumento da
temperatura de funcionamento do solenóide, uma vez que o consumo de corrente vai ser
superior. Fios de cobre com diâmetros maiores que 0,22 mm, nomeadamente com um
diâmetro de 0,25 mm, foi testado para um solenóide com 1600 espiras, Figura 17.
FIGURA 17 – GRÁFICO DA TEMPERATURA DE FUNCIONAMENTO DE SOLENÓIDES COM DIFERENTES DIÂMETROS DO
FIO DE ENROLAMENTO.
Apenas foi realizado um teste de temperatura de funcionamento durante duas horas,
mas é possível concluir que o solenóide com o enrolamento de fio de 0,25 mm de diâmetro,
atinge uma temperatura de funcionamento mais elevada do que o solenóide com o
enrolamento de fio de 0,22 mm.
Aparentemente, poderia considerar-se finalizado o processo de conceção dos
constituintes fundamentais do solenóide. No entanto, dada a configuração do conjunto base do
solenóide, enrolamento e núcleos, surge a necessidade de concentrar as linhas de campo
magnético produzidas pelo solenóide quando neste circula um fluxo de corrente e evitar que
estas se dispersem, o que provocaria uma diminuição da força de atração sobre o núcleo móvel.
Esta função é desempenhada por um componente ao qual se deu o nome de armadura. Uma
vez que os solenóides produzidos têm uma configuração cilíndrica, é necessária a introdução de
duas armaduras, de forma a “revestir” toda a superfície do enrolamento, Figura 18.
17
FIGURA 18 – ARMADURA METÁLICA.
Depois disto, estão em falta os componentes exteriores do solenóide, uma vez que é
necessário resguardar toda a estrutura que foi apresentada anteriormente. Para isso, foi
projetada uma cápsula cilíndrica que encaixa na extremidade da base da bobine que contêm o
encaixe para a rosca da válvula. Na superfície exterior da cápsula existem três frisos espaçados
de 120°, de forma a facilitar ao utilizador a colocação do solenóide na válvula, Figura 19.
A) B) FIGURA 19 – DESENHO TÉCNICO DA CÁPSULA DO SOLENÓIDE: A) VISTA DE CIMA; B) VISTA EM CORTE.
Em seguida foi projetada uma tampa para garantir que, no transporte do solenóide,
nenhum dos componentes é perdido, nomeadamente, o núcleo móvel e a mola, Figura 20.
A)
B)
FIGURA 20 – DESENHO TÉCNICO DA TAMPA: A) VISTA DE CIMA; B) VISTA EM CORTE.
Assim, considera-se o processo de concetualização terminado. Acoplando todas as
peças projetadas tem-se, assim, uma estrutura física capaz de ser implementada como um
solenóide de 24 Vac, Figura 21.
18
A) B)
FIGURA 21 – DESENHO TÉCNICO DO SOLENÓIDE: A) VISTA EM CORTE COM TODOS OS
COMPONENTES; B) VISTA DE FRENTE.
3.2. PRODUÇÃO DE PEÇAS PLÁSTICAS Atualmente, são utilizados variados processos para a transformação de granulados e
pelletes de plástico em produtos de múltiplas formas. O processo utilizado depende, em grande
parte, do tipo de plástico que se pretende transformar. Existem duas classes de plásticos: os
termoplásticos e os termoendurecíveis. No caso dos termoplásticos, estes são normalmente
aquecidos até amolecerem e, seguidamente, são reenformados antes de arrefecerem
totalmente. Os termoendurecíveis são um tipo de plásticos que não polimerizam
completamente antes do seu processamento na forma final, por isso é usado um processo em
que ocorre uma reação química que conduz à formação das ligações cruzadas entre as cadeias
poliméricas, dando origem a um material polimérico reticulado. Portanto, a polimerização final
ocorre por aplicação de calor e de pressão ou por ação de um catalisador, à temperatura
ambiente ou a temperaturas mais elevadas.
O suporte físico do solenóide é feito através de componentes plásticos produzidos pelo
processo de moldagem por injeção. Esta técnica é uma das mais importantes para dar forma a
materiais termoplásticos. Os equipamentos atuais de moldagem por injeção utilizam o
mecanismo do parafuso móvel para fundir o plástico e proceder à sua injeção num molde. Este
mecanismo apresenta diversas vantagens em relação ao mecanismo utilizado nos
equipamentos mais antigos, que utilizavam um êmbolo para injetar o plástico, em que a mais
importante reside na obtenção de um fundido mais homogéneo.
No processo de moldagem por injeção com parafuso móvel, o granulado de plástico é
descarregado para o alimentador da máquina de moldagem de plásticos sobre um parafuso
rotativo. Este granulado é fundido à medida que se desloca no parafuso rotativo e, quando a
quantidade de fundido é suficiente, o parafuso para de rodar. Posteriormente, move-se,
bruscamente, para a frente e injeta o plástico fundido no sistema de alimentação, através de
uma abertura e, em seguida, na cavidade do molde fechado. Depois, o parafuso é recolhido e
peça plástica acabada é ejetada, Figura 22.
19
O elemento fundamental da máquina de moldagem por injeção, Figura 23, é o molde.
Este é, normalmente, constituído por duas partes (duas metades) que se combinam para
formar uma cavidade 3D que forma as superfícies exteriores do objeto moldado (ciclo de
produção de unidade única). É também possível criar moldes com várias cavidades, com o
objetivo de produzir mais do que uma unidade no mesmo ciclo. Uma das partes do molde é
montada sobre uma placa fixa, enquanto que a outra é móvel, permitindo assim que as duas
metades possam ser acopladas (molde fechado) ou desacopladas (molde aberto). A unidade de
fixação mantém o molde fechado durante a injeção, sendo que é necessário uma força que
exceda a pressão de injeção de modo a evitar que o molde se abra enquanto o fundido está a
ser injetado e para que a pressão na cavidade se conserve. A temperatura do molde é
controlada por um sistema de arrefecimento que, normalmente, utiliza água como fluído
circulante [12].
Após a injeção, o material fundido arrefece ou solidifica no molde e, quando está
suficientemente endurecido, é ejetado através dos pinos localizados na parte móvel do molde.
No entanto, a peça moldada pode requer um tratamento de cura, a fim de adquirir as suas
características mecânicas finais. Esta cura é conhecida como encolhimento e pode ocorrer
dentro do molde ou após a ejeção, sendo que esta deformação pode consistir numa flexão ou
numa torção do objeto, resultando assim em alterações de forma bidimensional, podendo ser
considerado como um encolhimento não uniforme [13,14].
FIGURA 22 – OPERAÇÕES DO PROCESSO DE MOLDAGEM POR INJEÇÃO (SEQUÊNCIA) [15].
Alimentador
Parafuso
móvel
Sistema de
alimentação
Molde
20
As peças plásticas, base da bobine, corpo do solenóide e tampa, usadas na conceção do
solenóide de 24 Vac foram produzidas pelo processo de injeção por moldagem. O perfil de
injeção de cada peça é apresentado na tabela seguinte, bem como o molde correspondente a
cada uma delas.
TABELA 2 – CARACTERÍSTICAS DO PERFIL DE INJEÇÃO.
Componente
Molde
Matéria-prima
Temperatura do bico (Tmáx)
(°C)
Velocidade de injeção
(mm/s)
Pressão de injeção
(bar)
Tempo de ciclo
(s)
Tempo de arrefecimento
(s)
PA6*
250
140
120
18
9
FIGURA 23 – MÁQUINA DE INJEÇÃO POR MOLDAGEM COM PORMENOR DO MOLDE DE INJEÇÃO (ABERTO)
21
PA66 + 30% FV**
320
120
150
19
10
PEBD***
--
--
--
--
--
* PA6 – Poliamida.
**PA66 + 30% FV – Poliamida reforçada com 30% de fibra de vidro.
***PEBD – Polietileno de baixa densidade.
3.3. CARACTERIZAÇÃO DO NÚCLEO DO SOLENÓIDE Como foi referido no Capítulo 1, dentro dos materiais ferromagnéticos que podem
constituir o núcleo de um solenóide, existem os ferromagnéticos macios e os duros. Tendo em
conta o objetivo deste trabalho, a escolha do material que constitui os núcleos do solenóide de
24 Vac foi minuciosa e foram estudados diversos tipos de materiais magnéticos, particularmente
ligas de ferro (aços), para que o material ideal respondesse às necessidades da aplicação. Uma
vez que o foco de aplicação destes solenóides é o controlo de fluxo de água em electroválvulas,
os seus núcleos terão de apresentar, principalmente, facilidade no processo de magnetização e
desmagnetização, para que a electroválvula possa ser aberta ou fechada num curto espaço de
tempo (na ordem dos milissegundos). Assim, com os equipamentos disponíveis na Universidade
de Aveiro para caracterização morfológica e estrutural de materiais e considerando a
informação que existe acerca de materiais mais utilizados na indústria e para projetos de
engenharia, foi possível, entre vários, escolher um material ferromagnético macio para a
construção dos núcleos dos solenóides de 24 Vac.
A primeira das técnicas de caracterização utilizada foi a difração de raios-X, Figura 24.
Esta é uma técnica de análise microestrutural e foi realizada com recurso ao difratómetro
Empyrean, que opera a uma corrente de 45 mA e a uma tensão de 40 kV, com incidência
monocromática da linha 𝐾𝛼, 𝜆𝐾𝛼 = 1,54060 Å. O registo do difratograma foi efetuado à
temperatura ambiente com um varrimento contínuo de 2θ entre 35° e 100° com um passo de
0,03°.
22
FIGURA 24 – DIFRATOGRAMA DE RAIOS-X OBTIDO PARA O MATERIAL CONSTITUINTE DO NÚCLEO DO SOLENÓIDE.
Através dos dados reportados na literatura [14] em conjunto com a análise do
difratograma foi possível concluir, que os picos de difração são característicos de um aço
inoxidável ferrítico pela presença da fase Cr0,26Fe1,74, podendo assim ser considerado uma liga
binária de ferro-crómio.
Após esta análise, foi relevante estudar a resistência deste material à corrosão/
oxidação, uma vez que os solenóides produzidos serão, principalmente, aplicados em sistemas
de rega, o que implica que o núcleo do solenóide vai estar em permanente contacto com a água
muitas vezes contendo produtos químicos associados à fertilização agrícola, o que poderá ser
um dos principais agentes envelhecedores do material que constitui o núcleo. Para o efeito,
amostras do aço foram condicionadas a um ambiente ácido, usando uma solução aquosa com
20% 𝐻𝑁𝑂3 + 1% 𝐻𝐹, por um período de tempo até 80 horas, à temperatura ambiente.
A análise deste ataque químico foi realizada através de microscopia ótica e eletrónica. A
Figura 25 apresenta os resultados obtidos por microscopia ótica da amostra base e da atacada
quimicamente e a Figura 26 as micrografias dessas amostras, utilizando o microscópio
eletrónico de varrimento TESCAN-Vega III.
Aço base Aço atacado quimicamente
23
FIGURA 25 - IMAGENS ÓTICAS DA SUPERFÍCIE DO AÇO.
Pelas imagens de microscopia ótica, pode observar-se que a superfície do material sofre
oxidação quando este é atacado quimicamente. Na primeira imagem obtida para o aço base,
são visíveis riscos na superfície da amostra, resultantes do processo de polimento da mesma.
Na segunda imagem, para além desses riscos, observa-se que a superfície do aço contém alguns
buracos, o que mostra indícios de corrosão mesmo estando o material apenas em contacto com
o ar. Para a amostra de aço atacada quimicamente, é visível que a sua superfície sofre oxidação
e que os buracos existentes na superfície da amostra base, aumentam de tamanho,
comprovando, assim, a corrosão deste material quando exposto a um ambiente ácido.
A)
B)
FIGURA 26 – MICROGRAFIAS DE SEM DA SUPERFÍCIE DO AÇO: A) AÇO BASE; B) AÇO ATACADO QUIMICAMENTE.
Pelas micrografias realizadas à superfície das amostras, comprova-se o que foi observado
através da microscopia ótica. Existem, de facto, buracos na superfície da amostra base e estes
aumentam o seu tamanho quando a amostra é atacada quimicamente. No entanto, este
aumento poderia ser maior se não se tratasse de um aço inoxidável ferrítico, em que a presença
de crómio na sua composição promove a formação de um óxido superficial que protege a
corrosão da liga.
Através da análise de EDX foi possível obter a percentagem dos constituintes do aço,
Tabela 3.
10 mm
24
TABELA 3 – PERCENTAGENS DE COMPONENTES CONSTITUINTES DA LIGA.
Fe Cr C Si
Obtidas pelo EDX 80,5 % 16,0 % 2,80 % 0,70 % Informação do fabricante - 16 % - 18 % 0,8 % (máx) -
Comparando os resultados obtidos com os reportados na literatura [2], conclui-se que a
percentagem de crómio presente nesta liga é característica de um aço inoxidável ferrítico, como
era esperado, teoricamente e pela informação fornecida pelo fabricante.
Posteriormente, foi realizada uma análise das propriedades magnéticas do aço com
recurso ao magnetómetro de amostra vibrante, VSM. O princípio de funcionamento deste
equipamento consiste num vibrador, responsável pela vibração da amostra, que se encontra
junto de bobines que funcionam como sensores na presença de um campo magnético externo.
A tensão induzida nessas bobines é proporcional ao momento magnético da amostra que
depende do valor do campo magnético externo aplicado. O VSM opera segundo o princípio de
indução da lei de Faraday. A medição do momento magnético é obtida através da deteção da
força eletromotriz induzida produzida pela vibração da amostra magnetizada nas bobines. Estas
bobines estão colocadas em sentidos opostos (oposição de fase) e no centro está colocada a
amostra a vibrar. A força eletromotriz induzida é medida através de um amplificador lock-in
utilizando o sinal vibrador como sinal de referência. Através da medição desta tensão em
função do campo magnético aplicado, a uma temperatura fixa, obtém-se uma curva de
histerese, Figura 27.
A Figura 27 representa a curva de histerese característica do aço que constitui o núcleo
do solenóide. Observa-se que esta é estreita e longa, isto é, o valor do campo coercivo é baixo,
a ordem de 14,23 kOe, o que permite caracterizar este aço como um material ferromagnético
macio.
FIGURA 27 – CURVA DE HISTERESE OBTIDA PARA O MATERIAL CONSTITUINTE DO
NÚCLEO DO SOLENÓIDE.
25
CAPÍTULO 4 | PROTOTIPAGEM
4.1. COMPONENTES FÍSICOS Após a etapa de conceção, descrita no capítulo anterior, todos os elementos
constituintes do solenóide de 24 Vac foram prototipados e produzidos de forma a cumprirem as
características e necessidades definidas.
Na tabela seguinte são apresentados todos os componentes, assim como a função que
cada um desempenha.
TABELA 4 – COMPONENTES DO SOLENÓIDE E RESPETIVAS FUNÇÕES.
Componente Função
Núcleo Fixo
Concentrar as linhas de campo magnético gerado pela bobine, permitindo uma melhor atração do núcleo móvel. Limitar o curso do núcleo móvel.
Núcleo Móvel
Abertura do orifício de controlo da válvula mediante o seu deslocamento para o interior do solenóide. Este deslocamento é provocado pela atração do campo magnético gerado pela bobine.
Mola
Assegurar o movimento de desatracação do núcleo móvel quando não existe fluxo de corrente.
Vedante
Assegurar o fecho do orifício de controlo de abertura da válvula.
o-Ring
Vedar a rosca do solenóide quando este é acoplado à electroválvula.
Anel de Cobre
Armazenar uma pequena quantidade de corrente elétrica induzida pela variação de fluxo magnético de modo a produzir um pequeno campo magnético que irá atenuar a vibração inerente provocada pela inversão da onda de corrente AC
26
Armadura
Otimizar o fluxo magnético no interior do solenóide.
Cápsula
Encapsular o solenóide. Funciona como suporte exterior de todos os componentes que constituem o solenóide.
Base da Bobine
Suportar e/ou guiar os restantes componentes que constituem o solenóide. Esta peça é o “esqueleto” do solenóide
Tampa
Fechar a extremidade superior do solenóide, permitindo o seu transporte sem perda do núcleo móvel.
Cabos elétricos
Permitir a ligação do solenóide à corrente elétrica.
4.2. ETAPAS DE MONTAGEM Para o desenvolvimento do solenóide de 24 Vac foram definidas várias etapas de
montagem, entre as quais, seis são fundamentais. Todas as etapas foram realizadas com auxílio
de equipamentos existentes nas instalações da empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda.
1. Cravação
A primeira etapa consiste na cravação do anel de cobre no núcleo fixo e, em seguida,
na cravação deste conjunto na base da bobine, Figura 28. Esta cravação é feita com o
auxílio de uma prensa mecânica, EMG X3 – 4HR.
27
A)
B)
C)
FIGURA 28 – CRAVAÇÃO: A) PRENSA MECÂNICA; B) NÚCLEO MÓVEL E ANEL DE
COBRE; C) CONJUNTO BASE DA BOBINE + ANEL DE COBRE + NÚCLEO FIXO.
2. Bobinagem
A bobinagem consiste no enrolamento do fio de cobre em torno da base da bobine.
O enrolamento é feito utilizando um equipamento eletrónico, EL GROUPE X3 100 –
33, onde é possível definir o número de voltas pretendido (número de espiras, N) e a
velocidade de enrolamento, Figura 29.
A)
B)
FIGURA 29 – BOBINAGEM: A) MÁQUINA DE BOBINAR; B) ENROLAMENTO À
VOLTA DA BASE DA BOBINE.
3. Soldagem
Esta etapa consiste em soldar os cabos elétricos às pontas do solenóide provenientes
da bobinagem, Figura 30. Salienta-se que nesta etapa poderá ser necessário, de
acordo com o tipo de fio, retirar o verniz isolante que este tem. Neste caso, uma pré-
etapa de decapagem das extremidades do fio de enrolamento terá de ser efetuada
por via mecânica, térmica ou química.
28
FIGURA 30 – SOLENÓIDE COM CABOS E ARMADURAS.
4. Enchimento
Após a colocação das armaduras e da cápsula do solenóide, a etapa seguinte tem o
objetivo de isolar e incapsular todos os componente do solenóide. Este processo é
feito com o auxílio de um equipamento dispensador de misturas, GRACO PR70v, que
através de um misturador estático permite o encapsulamento preciso dos solenóides,
Figura 31. O equipamento contém dois tanques, num deles é colocada a resina
(poliuretano) e no outro é colocado o secante (isocianato) que, posteriormente, são
misturados na proporção de 3:1 e injetados no corpo do solenóide.
A)
B)
FIGURA 31 – A) DISPENSADOR DE MISTURAS; B) SOLENÓIDE ENCAPSULADO.
5. Cura
O processo de cura da resina usada para encapsulamento é divido em dois estágios: o
primeiro, cura, é realizado à temperatura ambiente num período mínimo de 24
horas, garantindo que a resina solidifica completamente; o segundo é a pós-cura, em
que os solenóides são submetidos a uma temperatura de 60° C durante 15 horas.
Este último estágio é realizado numa estufa com circulação forçada, ESCO ISOTHERM,
Forced Convection Laboratory Oven, Figura 32, e tem como objetivo garantir que a
polimerização da resina de enchimento é concluída, sendo por isso utilizada um
temperatura superior à temperatura ambiente.
29
FIGURA 32 – ESTUFA.
6. Rotulagem/ Marcação
O processo de rotulagem ou marcação consiste em imprimir a informação acerca do
solenóide na sua superfície exterior. Esta informação pode conter a marca, o número
do lote a que pertence o solenóide e características técnicas, como a voltagem de
funcionamento, a pressão máxima de funcionamento, entre outras. Para o efeito é
utilizada uma impressora de codificação e marcação industrial, HITACHI PXR 460 W,
Figura 33.
FIGURA 33 – IMPRESSORA PARA ROTULAGEM DOS SOLENÓIDES.
4.3. ESTUDO DO CAMPO NO SOLENÓIDE Com o objetivo de confirmar que o campo magnético no interior do solenóide é
uniforme e que aumenta com a introdução do núcleo, neste caso o núcleo fixo, e das
armaduras metálicas, foram realizadas medidas do campo magnético em função do
deslocamento, espaço percorrido pelo gaussímetro no interior do solenóide, que não é mais
que uma sonda de Hall. Sabendo que, pelo efeito de Hall, num fio condutor, percorrido por uma
corrente elétrica e sujeito a um campo magnético perpendicular a essa corrente, os portadores
de carga sofrem um desvio por ação da força magnética, então, se o valor do fluxo magnético
for aumentado por ação de agentes externos, a densidade desses portadores de carga será
30
mais elevado [15]. Para verificar esse efeito foi utilizado um gaussímetro MAGSYS
HANDGAUSSMETER, com a função de sonda de Hall e foram realizadas quatro medidas distintas
ao solenóide: com armaduras e com núcleo, com armaduras e sem núcleo, com núcleo e sem
armaduras e sem núcleo e sem armaduras, Figura 34.
FIGURA 34 - CAMPO MAGNÉTICO NO INTERIOR DO SOLENÓIDE.
Com base nos resultados obtidos, observa-se que o valor do campo no interior do
solenóide é máximo quando a sonda de Hall se encontra exatamente na posição central do
solenóide. Também se verifica que este valor aumenta com a introdução do núcleo fixo e que é
ainda mais elevado quando se colocam as armaduras metálicas. Assim, mostra-se que, de facto,
as armaduras metálicas têm a função de concentrar o fluxo magnético dentro do solenóide.
4.4. CARACTERIZAÇÃO DE FUNCIONAMENTO DO SOLENÓIDE No seguimento da conceção, da produção e aquisição de componentes físicos e do
planeamento das etapas de construção dos solenóides de 24 Vac, foi necessário realizar um
estudo de modo a aprimorar pormenores para a obtenção do melhor solenóide. Parâmetros
como a temperatura, pressão e consumo energético do solenóide em funcionamento,
determinam a geometria de alguns componentes físicos que o constituem. Este estudo foi
realizado com o auxílio de um dispositivo de ensaio para solenóides, DES, desenvolvido na
empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda., Figura 35.
31
FIGURA 35 – DISPOSITIVO DE ENSAIO DE SOLENÓIDES.
Assim, o primeiro parâmetro que foi estudado foi a temperatura máxima de
funcionamento que o solenóide atinge, utilizando bobines com diferentes números de espiras.
Foram realizados ensaios com a duração de duas horas onde o número de espiras, N, variou
entre 1600 e 2000, Figura 36. Também foram, igualmente, testados solenóides “concorrentes”
das marcas Baccara e Orbit.
FIGURA 36 – GRÁFICO DA TEMPERATURA EM FUNÇÃO DO TEMPO.
Através da análise da Figura 36, conclui-se que os enrolamentos de 1900 e 2000 são
aqueles que apresentam uma temperatura de funcionamento mais próxima dos solenóides
concorrentes, sendo que, o mais próximo é o de 2000 espiras. Os restantes, atingem
temperaturas mais elevadas, entre os 65° e os 73° C, o que não é apreciável nestes solenóides,
uma vez que a variação de temperatura pode ser causada por uma menor estabilidade
eletromecânica (maior vibração do núcleo móvel quando o solenóide está ligado) e, além disso,
uma temperatura mais alta indica um consumo de corrente mais elevado.
O segundo parâmetro estudado foi o consumo de energia elétrica. Os ensaios foram
realizados, novamente, durante duas horas também em função do número de espiras tal como
no teste anterior, Figura 37.
32
FIGURA 37 – GRÁFICO DA CORRENTE EM FUNÇÃO DO TEMPO.
Analisando o gráfico apresentado pela Figura 37, podemos ver que dos seis solenóides
testados, os que apresentam um consumo de corrente elétrica mais aproximado dos solenóides
das marcas comercializadas é o de 1900 espiras. No entanto, o solenóide de 2000 espiras
apresenta um consumo inferior a qualquer um dos outros.
Por fim, testou-se o parâmetro estabilidade eletromecânica do solenóide, isto é, a
vibração do núcleo móvel quando o solenóide está ligado, Figura 38. O ensaio foi realizado nas
mesmas condições que os ensaios anteriores.
FIGURA 38 – GRÁFICO DA ESTABILIDADE ELETROMECÂNICA DO NÚCLEO MÓVEL EM FUNÇÃO DO TEMPO.
33
No caso do teste que verifica a estabilidade mecânica do núcleo móvel, os solenóides
de 1750 e 1800 espiras são aqueles que apresentam valores mais próximos dos solenóides das
marcas Baccara e Orbit. O solenóide de 2000 espiras apresenta valores de vibração inferiores a
todos os outros.
Por inspeção direta dos gráficos anteriormente apresentados, poderíamos dizer que o
solenóide ideal seria o que tem um enrolamento de 2000 espiras, pois é aquele que apresenta
menor temperatura de funcionamento, menor consumo de corrente e maior estabilidade
eletromecânica comparado com os solenóides de 24 Vac das marcas concorrentes. No entanto,
neste contexto empresarial é também avaliado o custo de produção de cada solenóide, sendo
que produzir um solenóide com 2000 espiras é mais dispendioso do que produzir um solenóide
com 1900, que também é capaz de responder às necessidades do mercado. Além disso, o
solenóide com um enrolamento de 2000 espiras tem mais volume do que qualquer outro
enrolamento, o que leva, após o processo de cura da resina de encapsulamento, a uma
ovalização da cápsula exterior do solenóide. Esta situação poderia ser contornada através do
aumento do diâmetro da cápsula do solenóide, mas assim as suas dimensões seriam diferentes
às estipuladas industrialmente para este tipo de solenóides e para a aplicação em distribuição
de águas, uma vez que o seu acoplamento às válvulas seria, desta forma, dificultado. Portanto,
assumiu-se que o solenóide que cumpre os requisitos de eficiência de produção é aquele que
tem um enrolamento de 1900 espiras.
Estando fixo o número de espiras para a produção dos solenóides, podem agora variar-
se outros parâmetros de forma a tornar este produto mais versátil, como por exemplo,
responder a diferentes pressões máximas de funcionamento. Um deles é o tamanho dos
núcleos. Mantendo o núcleo fixo inalterável se aumentar o móvel, diminui-se o percurso que
este tem de realizar quando é atraído para o núcleo fixo, sendo assim capaz de vencer uma
maior força de pressão exercida pelo fluido. Com isto, foram definidas duas pressões de
funcionamento: 4 bar, que é a pressão normal para a maior parte dos sistemas de rega; e 12
bar, uma vez que as válvulas às quais serão acoplados os solenóides, são normalizadas a uma
pressão nominal de 10 bar e, por isso, é necessário que os solenóides garantam o bom
funcionamento das válvulas para esse valor de pressão.
TABELA 5 – COMPRIMENTO DO NÚCLEO MÓVEL E RESPETIVAS PRESSÕES MÁXIMAS DE FUNCIONAMENTO.
De forma a garantir o bom funcionamento do solenóide após a introdução desta nova
variante, foram realizados, novamente, testes com recurso ao DES, Figuras 39 a 44, e os
solenóides também foram testados em electroválvulas no laboratório hidráulico existente na
empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda.
Nº de Espiras (N) Núcleo Móvel (mm) Pressão Máxima (bar)
1900 A 28,0 4 B 29,2 12
34
𝑷𝒎á𝒙 = 𝟒 𝒃𝒂𝒓
FIGURA 39 – TEMPERATURA DE FUNCIONAMENTO DOS SOLENÓIDES.
FIGURA 40 – CORRENTE DE CONSUMO DOS SOLENÓIDES.
35
FIGURA 41 – ESTABILIDADE ELETROMECÂNICA DOS SOLENÓIDES.
Pela análise dos gráficos apresentados pode observar-se que, quando se compara um
solenóide com pressão máxima de funcionamento de 4 bar com os solenóides das marcas
concorrentes, a temperatura de funcionamento é mais elevada durante todo o período de
ensaio. Em relação à corrente consumida verifica-se que esta, no início do ensaio, apresenta
valores semelhantes ao consumo dos solenóides concorrentes, mas com o decorrer do tempo,
esta tende a diminuir, sendo que no fim do ensaio os valores obtidos para o solenóide de 4 bar
são mais baixos. Relativamente à estabilidade eletromecânica, o solenóide produzido apresenta
valores menos lineares e mais elevados do que os solenóides concorrentes, ou seja, a vibração
do núcleo móvel para uma pressão máxima de 4 bar é maior. Através dos resultados obtidos
podemos concluir que, quanto menor for a estabilidade eletromecânica do solenóide, maior
será a sua temperatura de funcionamento.
𝑷𝒎á𝒙 = 𝟏𝟐 𝒃𝒂𝒓
FIGURA 42 - TEMPERATURA DE FUNCIONAMENTO DOS SOLENÓIDES.
36
FIGURA 43 – CORRENTE DE CONSUMO DOS SOLENÓIDES.
FIGURA 44 – ESTABILIDADE ELETROMECÂNICA DOS SOLENÓIDES.
Para o solenóide com pressão máxima de funcionamento de 12 bar, por inspeção dos
gráficos apresentados, pode concluir-se que os parâmetros de temperatura de funcionamento,
corrente de consumo e vibração do núcleo móvel apresentam valores mais baixos do que os
solenóides concorrentes. Posto isto, podemos concluir que para uma estabilidade
37
eletromecânica maior, a temperatura máxima de funcionamento é menor, bem como a
corrente de consumo.
Para os testes em electroválvula, com o objetivo de saber qual o tempo de fecho dos
solenóides, isto é, quanto tempo demora o núcleo fixo a ser atraído para o núcleo móvel, foram
fixados dois parâmetros. Em primeiro, testaram-se os solenóides para um caudal constante de
30 m3/h e, que é o caudal máximo de funcionamento para a válvula e, em seguida, manteve-se
a pressão constante de 4 bar e de 12 bar, para os solenóides de pressões máximas de
funcionamento de 4 bar e de 12 bar, respetivamente, Figuras 45 e 46.
FIGURA 45 – TEMPO DE FECHO DO SOLENÓIDE PARA UM CAUDAL CONSTANTE DE 30M3/H.
Para um caudal constante de 30 m3/h variou-se a pressão da água entre 0 e 16 bar. Pelo
gráfico podemos ver que o tempo de fecho do solenóide com pressão máxima de
funcionamento de 4 bar está compreendido entre os 8 e os 9 s. Este foi testado até a uma
pressão de 9,8 bar, e verificou-se que para pressões mais elevadas o núcleo móvel não atraca
com o núcleo fixo. Uma vez que o comprimento do núcleo móvel deste solenóide é menor do
que o comprimento do núcleo móvel para o solenóide de 12 bar, o curso que este tem de
realizar no interior do solenóide para permitir a abertura da eletroválvula é maior. Portanto,
este não consegue vencer pressões acima dos 10 bar. Para o solenóide com pressão máxima de
funcionamento de 12 bar, foram efetuados dois ensaios, uma vez que o primeiro, 12 bar
(núcleo 1), apresentava tempos de fecho muitos elevados e pouco estáveis relativamente ao
que era esperado. Verificou-se, no fim do ensaio, que o vedante que é incorporado no núcleo
móvel do solenóide estava fora da sua posição de encaixe normal. Este problema reside,
provavelmente, numa deficiência de maquinação do núcleo móvel, em que a ranhura que se
destina ao encaixe do vedante não apresenta as dimensões corretas para que este se mantenha
fixo. Consequentemente, o solenóide não permitia a normal abertura e fecho da eletroválvula.
Posto isto, realizou-se um segundo ensaio, 12 bar (núcleo 2) que permitiu verificar que o tempo
de fecho para o solenóide de 12 bar está incluído no intervalo de 9,00 a 10,87 s. Comparando os
resultados com os tempos de fecho medidos para o solenóide da concorrência, compreendidos
38
entre os 9,83 e 11,87 s, pode dizer-se que os solenóides produzidos apresentam tempos de
fecho aceitáveis. Além disso, conclui-se também que, tanto para o solenóide de 4 bar como
para o de 12 bar, os tempos de fecho medidos para pressões superiores às pressões máximas
de funcionamento a que estes se destinam, têm também um comportamento linear. Isto
permite garantir ao mercado que os solenóides funcionam, certamente, às pressões máximas
que são indicadas pelo fabricante.
FIGURA 46 – TEMPO DE FECHO DO SOLENÓIDE PARA UMA PRESSÃO CONSTANTE.
Para uma pressão constante de 4 bar, foi testado o solenóide com pressão máxima de
funcionamento de 4 bar e podemos concluir que os tempos de fecho para um caudal entre os 5
e os 15 m3/h, estão compreendidos entre 1 e 4 s. Para caudais entre os 20 e os 55 m3/h, os
tempos de fecho para este solenóide variam entre os 7,00 e os 9,75s. Fixando a pressão nos 12
bar, foram, novamente, realizados dois ensaios, pela mesma razão acima apresentada. Conclui-
se que o solenóide com pressão máxima de funcionamento de 12 bar apresenta tempos de
fecho entre 1,00 e 2,75 s para um caudal inferior a 20 m3/h. Acima desse valor e até aos 55
m3/h, os tempos de fecho variam entre 7,60 e 11,7 s. Comparando estes resultados com os
tempos de fecho da concorrência, conclui-se que os tempos de fecho são semelhantes.
39
CAPÍTULO 5 | PRÉ INDUSTRIALIZAÇÃO Para a produção dos solenóides foi criada uma linha piloto de pré industrialização. Esta
foi pensada de forma a respeitar as etapas de montagem apresentadas no Capítulo 3, onde
foram incluídas mais duas etapas, em diferentes pontos da linha piloto, para a realização de um
teste rápido para os solenóides, com o objetivo de garantir que estes, após a produção, estão
em boas condições de funcionamento.
A linha de pré industrialização é constituída por oito etapas, associadas a oito bancadas,
onde é desempenhada uma função diferente em cada uma delas. Em seguida serão
apresentados os desenhos efetuados com recurso a um software de modelação de imagens em
3D.
A Figura 47 A) ilustra o projeto de toda a linha de pré industrialização e na figura 47 B) é
mostrada uma imagem real da mesma.
A)
40
A primeira bancada é a da prensagem, onde é cravado o anel de cobre no núcleo fixo e,
em seguida, este conjunto é cravado na base da bobine. O bloco apresentado a vermelho,
representa a prensa mecânica utilizada neste estágio Figura 48.
FIGURA 48 – B1: BANCADA DE PRENSAGEM.
Na segunda bancada, a etapa desempenhada é a de bobinagem. Nesta bancada é feito
o enrolamento do fio de cobre em torno da base da bobine proveniente da primeira bancada,
Figura 49. Os blocos coloridos representam os equipamentos e os materiais utilizados nesta
etapa. Os blocos amarelos correspondem aos rolos de fio de cobre, os blocos azuis e verdes
representam a máquina de bobinagem e a cinzento representa-se o esticador de fio da
máquina.
B)
FIGURA 47 - VISÃO GERAL DA LINHA PILOTO DE PRÉ INDUSTRIALIZAÇÃO: A) DESENHO DO PROJETO; B) IMAGEM REAL.
41
FIGURA 49 – B2: BANCADA DE BOBINAGEM.
A terceira bancada destina-se à etapa de soldagem. Os cabos elétricos são soldados às
extremidades do fio de cobre resultante do enrolamento, Figura 50. Estes cabos serão cortados
e decapados, previamente, e estarão à disposição do operador na prateleira da bancada.
FIGURA 50 – B3: BANCADA DE SOLDA.
Na bancada quatro são colocadas as armaduras no solenóide e a cápsula. Em seguida,
os solenóides são colocados no porta-solenóides e é efetuado o primeiro pré teste, em que é
medida a resistência elétrica dos solenóides. Se todos estiverem OK, passam para a etapa
seguinte, Figura 51.
FIGURA 51 – B4: BANCADA DE PRÉ TESTE.
42
Para a realização do pré-teste, foi desenvolvido o equipamento de teste rápido para
solenóides, TRS, na empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda., Figura 52.
FIGURA 52 - DISPOSITIVO PARA TESTE RÁPIDO DE SOLENÓIDES.
Surgiu assim a necessidade de criar um porta-solenóides que permitisse o transporte
destes durante o processo de produção. Consequentemente, foi necessário criar um dispositivo
que admitisse a ligação entre o TRS e o porta-solenóides, para que os solenóides sejam testados
e possam passar, imediatamente, para a etapa seguinte. Além disso, este dispositivo tem a
funcionalidade de ejeção rápida dos solenóides, caso seja necessário retirá-los do porta-
solenóides, Figura 53.
A)
B)
C)
D)
FIGURA 53 – A) DESENHO DO PORTA-SOLENÓIDES; B) IMAGEM REAL DO PORTA-SOLENÓIDES; C) DISPOSITIVO DE LIGAÇÃO AO TRS; D) PORTA-SOLENÓIDES, DISPOSITIVO DE LIGAÇÃO E TRS.
43
Na bancada cinco, está instalado o equipamento dispensador de misturas e é onde os
solenóides são encapsulados através do misturador estático, Figura 54.
FIGURA 54- B5: BANCADA DE ENCHIMENTO.
Após o enchimento, os solenóides são submetidos ao processo de cura, à temperatura
ambiente, e de pós cura, na estufa. É de notar que tanto o processo de enchimento como os
processos de cura e pós cura, são efetuados num compartimento fechado com atmosfera
controlada.
Em seguida, estes são submetidos ao segundo pré teste em que é, novamente, medido
o seu valor de resistência elétrica, Figura 55.
FIGURA 55– B6: BANCADA DE PRÉ TESTE.
Se os solenóides estiverem OK no pré teste, são retirados, individualmente, do porta-
solenóides e são colocados na bancada seguinte, onde é feita a rotulagem dos solenóides,
Figura 56. O bloco a verde representa a impressora de marcação e codificação industrial.
44
FIGURA 56 - B7: BANCADA DE ROTULAGEM.
Depois de rotulados, os solenóides são colocados na caixa acoplada à bancada sete e
seguem para a última etapa de produção realizada na bancada oito. Aqui são inseridos nos
solenóides o núcleo móvel e o vedante, montados previamente, a mola e a tampa. Em seguida,
estes são embalados, Figura 57.
FIGURA 57 - B8: BANCADA DE MONTAGEM FINAL E EMBALAGEM.
45
CAPÍTULO 6 | CONCLUSÕES
Um dos objetivos deste trabalho era o desenvolvimento de solenóides para
electroválvulas que, após os processos de conceção, prototipagem e testes de desempenho,
permite concluir que os solenóides produzidos podem operar a duas pressões máximas, 4 bar e
12 bar. Estes valores são condicionados pelas dimensões do núcleo móvel do solenóide, isto é,
quanto maior for o comprimento deste núcleo, maior será a pressão máxima de
funcionamento. Isto porque, o aumento do comprimento do núcleo fixo reduz a distância entre
este e o núcleo fixo e, portanto, quando o solenóide é percorrido por uma corrente elétrica e,
consequentemente, os núcleos são magnetizados, o percurso que o núcleo móvel realiza para
ser atracado ao núcleo fixo é menor e, por isso, consegue vencer valores de pressão do fluído
circulante na válvula.
Através da análise estrutural e morfológica e do estudo das propriedades magnéticas,
concluiu-se que o material que constitui o núcleo do solenóide é um material ferromagnético
macio, mais concretamente, uma liga binária de ferro-crómio. Este material apresenta um ciclo
de histerese estreito e comprido, característico de matérias ferromagnéticos macios. Além
disso, pelas técnicas de microscopia ótica e eletrónica de varrimento, podemos concluir que a
superfície deste material é oxidada quando exposta a um ambiente ácido. Este comportamento
deteriora o núcleo do solenóide, o que poderá por em causa o seu funcionamento.
Quando comparados com os solenóides concorrentes, conclui-se que os solenóides
desenvolvidos são capazes de competir no mercado, uma vez que os tempos de fecho para
diferentes valores de pressão e de caudal são similares aos tempos de fecho medidos para os
solenóides de fornecedores externos. Além disso, para o solenóide com pressão máxima de
funcionamento de 12 bar, os valores de temperatura, de corrente de consumo e de vibração
são inferiores aos parâmetros apresentados pelas marcas Baccara e Orbit. No entanto, para o
solenóide com pressão máxima de 4 bar, estes valores não são tão satisfatórios, mas se
considerarmos a relação vibração – temperatura, concluímos que para um solenóide com
menor estabilidade mecânica, a temperatura de funcionamento tende a aumentar. Assim, estes
parâmetros poderão ser afinados através do número de espiras do enrolamento do solenóide
ou através das dimensões do núcleo.
Relativamente à criação da linha piloto de pré industrialização para os solenóides de 24
Vac, esta foi implementada com êxito na empresa JPrior, Fábrica de Plásticos, Lda.
Trabalhos Futuros: O estudo do desempenho dos solenóides após diferentes períodos de tempo em
funcionamento em contexto real, implementados num sistema de rega agrícola, permitirá saber
qual a influência da oxidação da superfície do núcleo móvel no desempenho destes dispositivos.
A adaptação destes dispositivos para aplicações pneumáticas permite abranger uma
maior amplitude de mercado, assim como o desenvolvimento de solenóides de três vias 24 Vac e
de 9 Vdc.
46
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