Ana Catarina
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Transcript of Ana Catarina
Voar
-Hoje vou voar a sério! – anunciou um dia o Gouveia, à saída da escola.
Acompanhámo-lo, para ver como era. Pelo caminho ele ia armando o seu mistério. Curiosidade
danada, a nossa! Mas nós ajudávamos a criar fantasia.
-Fabricaste umas asas?
-Frio! Frio! – respondia ele, rindo.
-Vais mas é voar num cabo de vassoura!
-Isso querias tu! – continuava, perdido de riso até às lágrimas.
As perguntas dos amigos continuavam, mas ele ia deixando cada vez mais mistério.
-Chegámos!
-Oquê?! Uma sucata? Não me digas que vais tentar construir um helicóptero com isto?!
-Não – disse ele, mandando uma longa gargalhada – eu vou construir três ventoinhas com tanta
potência que me vão fazer voar. Depois é só colocar uma ventoinha em cada sapatilha e uma no meu
boné! Em breve poderei sentir a sensação de voar, de ser livre como uma águia!
-Tu és maluco! – troçavam-no.
-Se for para me gozarem, podem ir já embora!
-‘Tá bem, desculpa…
-Primeiro, vou precisar que me ajudem a encontrar peças, como por exemplo… E foi dizendo tudo
o que queria que lhe trouxessem até eles ficarem com os ouvidos cheios.
-Bem, agora que já tenho tudo o que preciso podem ir embora, não quero que descubram como
se faz!
-Mas… nós queremos ver-te voar!
-Sim, sim e irão ver, eu chamo-vos assim que estiver terminado.
Foram embora amuados…
-Venham ver! Olhem aqui para cima!
-Uau! Ele está mesmo a voar! Não subas tanto, depois não consegues descer!
-Des-des-descer?! Eu esqueci-me de programar as ventoinhas para me fazerem descer! Socorro!
Ajudem-me!
-Como vamos ajudá-lo? Nem sabemos fazer ventoinhas…
E lembraram-se das suas palavras: «(…) de ser livre como uma águia!»
-Já sei! Vamos a casa buscar a sua águia treinada. Ela levar-nos-á até ele e poderemos puxá-lo!
-Sim! Sim! Viva!
-Rápido, temos de nos despachar!
De novo na sucata…
-Não podemos subir todos, vai só tu!
-OK, irei salvá-lo, mas se eu não voltar a minha colecção de «tasos» fica para vocês! – disse ele
numa de brincadeira.
Nunca se soube como, mas a verdade é que nunca mais ninguém os viu, até ao dia de aniversário
do nosso «criador de ventoinhas».
Lá estavam eles, todos no céu, a flutuar e em breve na terra, sentindo as suas próprias sensações,
com os pés bem assentes na Terra, de poderem andar!
FIM