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Amigo e Amiga
Reconstrução de identidade e cultura éo tema desta cartilha. Os Tremembé doCeará nos ajudarão nessa refle-xão. A nossa cartilha é apenasum pequeno recorte do tema. OsTremembé são muito mais do que pudemosretratar. Por isso, para pesquisa e aprofunda-mento, remetemos ao quadro “para saber mais”.Do farto material colocado à disposição – principalmente por Mar-ly Schiavini de Castro, Thomas Kemper e Babi Fonteles, aos quaisagradecemos muito – destacamos as muitas falas dos própriosTremembé. O trabalho redacional procurou conservar a linguagemcoloquial regional.
Às professoras e aos professores recomendamos como leiturapreparatória o capítulo “para compreender melhor”.
Desejamos um proveitoso uso do caderno.Equipe de Redação
Preservação da natureza................12
Cultura Indígena.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
Os Tremembé na dança das culturas... .14
E nós nes sa dança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Mocororó. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18
Para compreender melhor. . . . . . . . . . . . 1 9
“Para saber mais”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23
SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS 2004
Coordenação: Conselho de Missãoentre Índios – COMIN.In formações: Professores/as e Alunos/as Tremembé - Praia, Varjota, MangueAlto, Tapera, Ação Metodista junto aoPovo Tremembé, Silas Moraes, Solange P.da Silva, João Pacheco de Oliveira, SylviaPorto Alegre, Gérson A. de Oliveira Jr.,Francisco J. Pinheiro, Babi Fonteles.Elaboração: Marta Nörnberg da Silva,Cláudio Becker, Arteno Spellmeier,Ricardo Fiegenbaum, Edson Ponick,Valdemar Schultz, Hans A. Trein, EdlaBrinckmann, Maria Dirlane Witt.
SumárioApresentação...................................2
Sempre presentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3
Riquezas do povo Tremembé..............4
Uma histór ia de res is tência. . . . . . . . . . .5
A famíl ia Tremembé. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
A festa da v ida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
A escola Tremembé.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10
I lustrações e prog.visual: Ivan Vieira.Capa: Ivo Sousa.Fotograf ias: Thomas Kemper e BabiFonteles.Impressão: Con-Texto Gráfica e Editora.Realização: COMIN em parceria comDepartamento de Catequese e Departa-mento Nacional para Assuntos da Juven-tude da Igreja Evangélica de ConfissãoLuterana no Brasil.Apoio Financeiro: Igreja EvangélicaLuterana da Baviera (ELKB) eConfirmandos da Igreja da Élbia do Norte.T i ragem: 30 mil exemplares.
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Sempre presentes
Até há pouco tempo, dizia-se que não existiam mais índios noestado do Ceará. Na realidade, os índios sempre estiveram lá,mas não eram reconhecidos como tais.
Os colonizadores acharam que poderiam fazer as populaçõesindígenas desaparecerem, proibindo o uso de sua língua e negan-do o direito sobre as suas terras. Assim, por muito tempo, muitospovos tiveram que esconder sua identidade indígena para poderconviver com a sociedade invasora. Essa situação somente co-meçou a mudar recentemente, quando alguns povos indígenasprocuraram o governo para exigir a posse de suas terras.
Um dos povos indígenas do Ceará que lutou pelo seu reconhe-cimento foi o povo _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ .
Os _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _vivem atualmente no litoralnoroeste do Ceará, no município de Itarema, a 210 quilômetros deFortaleza. Suas comunidades estão distribuídas em três regiões domunicípio: Praia de Almofala, Região da Mata e Córrego JoãoPereira.
Resposta: Tremembé
Para formar a palav ra que completaas frases abaixo, siga a linha pintandoas letras em branco.
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Riquezas do povo T r emembé
Dos 12.701 índios, distribuídos em 2.504 famílias, vivendo em59 comunidades no Ceará, 3.500 são do povo Tremembé (CensoFUNAI 2002). Os Tremembé estão organizados em comunidades.F rancisca Vera Jacinto, liderança Tremembé, fala da forma comoseu povo gosta de vive r :
A comunidade é muito importante para nós porque todos se jun-tam para conversar, planejar e debater os problemas que têm nacomunidade. Ou quando vão fazer qualquer coisa todos se juntampara fazer as coisas.
– Que palav ras encontramos na palav ra COMUNIDADE?Use duas dessas palav ras para escrever uma frase sobre a sua
comunidade.
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________Pouco se sabe a respeito da língua dos Tremembé. At ravés das
suas canções e das suas danças, encontramos palav ras que nosdão a noção de como essa língua é bela.
Nem sempre os Tremembé foram reconhecidos como índios.Apesar de parte de suas terras estarem demarcadas, 70% aindaé dominada por invasores, e os Tremembé continuam sendo cha-mados de “caboclos”. Essa é uma das formas de desprezo e deviolência que os povos indígenas sofrem.
Após anos de colonização, o povoTremembé ganhou muitas feiçõesdiferentes. Também assumiucostumes e crenças de ou-tros povos, renovandosua cultura. Por muitotempo, os Tremembése disfarçaram, dei-xando os brancospensar que não erammais índios. Hoje, po-rém, eles levantam suavoz e, unidos, lutam pelosdireitos garantidos por lei.
COMUNIDADE
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Uma história de resistência
Antes da chegada dos colonizadores,os Tremembé ocupavam todo o lito-ral, desde o Rio Grande do Norteaté o Maranhão. Há, pelo me-nos, 11 mil anos, diferentes po-vos viviam nessas terras, se-guindo seus costumes etradições.
E m 1500, quandoos europeus chega-ram ao Brasil, havia22 povos diferentesno Ceará. Primeiro,vieram os portugue-ses, depois os holan-deses. Muitos índiosforam obrigados a vi-ver em aldeamentosorganizados pelos pa-dres jesuítas. Outros pas-saram a viver na região damata, para preservar a sua li-berdade. Nos aldeamentos e namata, conviveram com outrospovos indígenas, com quem apren-deram outros costumes que não eram originalmente de seu povo.
A partir de 1679, os conflitos aumentaram, pois a coroa por-tuguesa doou lotes de terra (sesmarias) a brancos que quises-sem disputá-los com os índios. Essa ação provocou uma guerraque durou mais de 50 anos. Os índios queriam garantir os seusterritórios, e os colonizadores queriam as terras para criar gado.
Em torno de 1750, os índios foram obrigados a se misturarcom brancos e negros e foram proibidos de falar suas línguas.Também tiveram suas terras incorporadas aos bens públicos pelalei. Em 1863, o Governo Provincial tentou extinguir os índios pordecreto.
Os Tremembé reagiram, protestando com uma carta ao Impe-rador e registrando suas terras no cartório de Acaraú.
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Um fenômeno natural marcou a his-tória dos Tremembé. Em 1897, as du-
nas cobri ram o povoado deAlmofala. A igreja ficou comple-tamente coberta. Com o desapa-recimento do povoado, algumasfamílias foram morar na regiãoda Lagoa Seca.
Nas noites de lua cheia, as ro-das de Torém aconteciam sobre a
Igreja soterrada, e a festa durava anoite inteira, enquanto a areia era retira-
da em cabaças. Em 1941, outras correntes de vento removeram asdunas, e a igreja e algumas casas reapareceram. O povoado passoua ser ocupado novamente. Porém, algumas pessoas de fora se apos-saram das terras, argumentando que não existiam mais índios emAlmofala.
A situação dos Tremembé começou a mudar a partir dos anos 60,quando iniciou-se um movimento para reconquistar o direito sobresuas antigas terras. Nesse movimento de reunificação, a dança doTorém foi fundamental para os Tremembé. No início dos anos 70,eles integraram o Movimento Indígena com outros povos indígenasdo Brasil. A partir dos anos 80, ini-ciou-se um debate sobre o “ressur-gimento” dos povos indígenas doCeará. Motivados pela ConstituiçãoFederal de 1988, sentiram-se for-talecidos para reafirmar publica-mente sua identidade como povoindígena. A área do Córrego JoãoPereira já foi demarcada. O proces-so de demarcação da outra área,onde está a Praia de Almofala e aregião da mata, aguarda decisãodo Supremo Tribunal de Justiça, emB rasília. Enquanto aguardam a de-cisão final, os Tremembé resistem,afirmando a sua existência e re-construindo a sua identidade comopovo indígena.
Encontre a palavra TORÉMcinco vezes na mesma se-qüência do quadro ao lado.
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A família T r emembé
Uma das maneiras do povo Tremembé manter e recuperar suast radições é viver em família e seguir celebrando a vida com suaprincipal dança.
As famílias do povo Tremembé formam-se, normalmente, pelocasamento entre primos(as), tios e sobrinhas, e também há ca-samentos com pessoas não-indígenas.
Pais e filhos, adultos e crianças participam juntos das diferen-tes atividades do grupo. Zequinha, agente de saúde Tremembé,escreve sobre a importância dessa convivência em família:
Detalhe dedesenho
Tremembé
Aqui na nossa comunidade,quando a pessoa leva uma cri-ança para um roçado ou parauma casa de farinha, signifi-ca que o pai está dando umaaula para seu fi lho, porqueestá ensinando para a vida.Uma criança precisa aprenderas coisas de sobreviver ainda
quando é pequena. Ela nãopode aprender depois de gran-de. Ela precisa ajudar o paiporque, se ela for trabalhar sódepois de grande, de repenteo pai falta e ela não sabequem vai ensinar a ela sobre-viver... Por isso, eu acho quelevar a criança para qualquertrabalho é uma aprendizagem.
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Preencha os quadrados e descubra a palavra-chave.
Ascrianças
pequenassão
sementes.
Os
Índi
os v
elho
s sã
o o
tron
co
Osmais
jovenssão ramos
e galhos
Os ante-passados
são asraízes
Meu bisavô é raiz
Meu avô já é o pau
Meu pai por ser os brolhos
Eu por ser seu f i lho sou galhos
Meu f i lhinho é semente
Que nasceu nesse broquel*
Nós todos somos índios
Como existe Deus no céu.....
(D. Nenê Marciano estudante
Tremembé, de 63 anos)
* broquel significa: Lugar seguro, lugar de aconchego.
Desenho de Luziane - 4a série
Os Tremembé estão organizados em torno
de 330 grupos familiares. Eles são muito unidos
e comparam a família com uma árvore:
Resposta: Família
S E M E N T E
R A I Z
DANÇA
ALMOFALA
INDÍGENA
GALH
OS
CAJU
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A festa da vida
A árvore está presente no mais importante rito dos Tremembé:a dança do Torém. Essa dança envolve toda a tribo indígena e é,na verdade, uma grande festa que faz parte da tradição e dahistória dos Tremembé.
Três professoras Tremembé descrevem assim o Torém:
Os nossos antepassadoscostumavam dançar debaixode uma árvore que eles cha-mavam de Torém, e por essemotivo começaram a chamara dança de Torém.
O Torém é um ritual sagra-do para os Tremembé, e é demuita importância, pois é umsímbolo que nós valorizamosmuito, porque é raiz da nossahistória e identificação emoutros lugares. (Rita, Jacinta,Conceição)
Faz parte do ritual da dança, uma bebida especial chamadamocororó. Maria Afonso Rodrigues descreve a bebida típica doTorém da seguinte forma:
O mocororó é um vinho de caju. O mocororó se faz assim: espre-me o caju, tira o vinho e côa e bota nos litros ou numa cabaça parase beber.
O mocororó com três
dias já é bebida, porque
ele é alcoólico, mas serve
também de vitamina. A
gente pega um pouco de
açúcar, bota dentro dele
e bebe. Toda a família
participa da dança do
Torém. Adultos e crianças
celebram esse momento
com muita alegria.
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A escola T r emembé
Uma das conquistas bonitas da união dopovo Tremembé é a escola diferenciada.Ela é chamada assim porque, além deaprenderem e compartilharem osconteúdos de qualquer escola, osalunos e as alunas estudam a histó-ria e a cultura do seu povo e apren-dem sobre o valor da família e dacomunidade.
Os professores e as professorassão pessoas da própria comunidade,conhecedores e conhecedoras da rea-lidade e das necessidades dos Tremembé.Veja, nos depoimentos abaixo, algumas vitóriasalcançadas pela comunidade indígena.
Minha escolaTem muita aprendizagem
Eu vou para a escolaPara fazer amizade.
(...) Para falar a verdadeTenho um pouco de razão
Na nossa escola indígenaAprendemos a tradição
Todos juntos estudandoCom muita educação.
E as estudantes Verinha, Ritae Alexandrina complementam,escrevendo:
(...) Com a professora GraçaTo me saindo muito bemContinue sempre assimVai ficar de parabéns.
A ESCOLA QUE TEMOSA nossa escola está ligada à luta pela nossa terra. As decisões sobre
a escola são tomadas por toda a comunidade. Na escola não há puni-ção, há diálogo. T emos uma escola com o nosso próprio calendário,respeitando o nosso período de trabalho coletivo: pesca e agricultura.T udo o que nós trabalhamos na escola envolve o nosso dia-a-dia, re-força e desenvolve a nossa cultura.
Lucirene, Genice eZé Alcir – E s t u -
dantes da escolaT remembé
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A escola diferenciada é o resultado do trabalho coletivo do povoTremembé. Porém, o trabalho não pára por aí. A comunidadecontinua sonhando e se engajando na construção de uma escolamelhor e mais próxima das necessidades do seu povo.
Para descobrir a escola sonhada pelos Tremembé, re-solva as palavras enigmáticas nas frases abaixo.
A ESCOLA QUE QUEREMOS
1. Uma escola onde o professor entenda a importância do
– M A T E + – GUA + – ALA = T O R É M
2. Que tenha – CO + – OURA indígenas.
3. Que estude os – LÓGIO + – INGA +
– FÁ + S naturais para que se possa aproveitá-los melhor.
4. Com cara de Í N + - REMÉ
5. Que seja mais – CA + – BO + - S I + ZA
+ – DO.
6. Uma escola que fortaleça a importância da – LHA +
R + – TO para os Tremembé.
Agora que você descobriu as palavras enigmáticas, procure-asno caça-palavras.
H W
W W
W Z
H ZY Z X Z N W
Q KX K X G Q
GQ K Y X
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P reservação da nat u reza
Sabemos que índios tomam banho de rio e de cachoeira. Mashá também povos indígenas vivendo no litoral brasileiro, à beira-mar. É o caso do povo Tremembé. O povo Tremembé vivia emliberdade entre a praia e a mata. Nos períodos em que haviapeixes, eles viviam da pesca à beira do mar. Quando os peixesdiminuíam, eles entravam na mata e colhiam frutas. Viveram as-sim durante milhares de anos.
Com a chegada das pessoas não indígenas, a vida dosTremembé mudou muito. Hoje, eles estão reafirmando sua his-tória e sua tradição, continuam vivendo entre a mata e a praia ereclamam da destruição da natureza e da demora da justiça bra-si leira. Observe o que diz o Tremembé Raimundo Grande:
Aqui não tinha cercado, era tudo no aberto. Era só caminho elagoas. Caminho que todo o povo andava e gente vinha lá de Almofa-la livremente. Era uma maravilha! Daqui da praia até a entrada deAlmofala, tinha umas quatro moitinhas de mangue de botão e duascasinhas. A nossa área era muito linda, tinha umapaisagem maravilhosa, dunas belíssi-mas. Nós vivíamos muito bem, a gen-te não tinha ambição por nada, viviatudo comoDeus fez.
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Você refletiu sobre o assunto?!
A propósito, onde a cultura indíge-
na se encontra com a sua cultura?
Mas o que é cultura mesmo?
Que tal uma olhadinha nos significa-
dos da palavra cultura?
Formas de vida
(1 e 3) Todos os animais têm(2 e 6) formas de vida diferentes,(4 e 5) vivendo cada etapa,( T ) igual à vida da gente.
(6) Guaxinim, bicho peludo,(2) Vive da fauna marinha(4) Se alimenta de socó(1) Mas também come galinha(5) E tem como tira gosto(3) Siri e Maria-Farinha
(1, 3, 5) A lagosta é decápode(2 e 4) crustáceo do alto mar(1 e 5) põe duzentos mil ovos emmédia(3 e 6) só dez mil conseguem esca-par.( T ) Devido à depredação(2, 4, 6) não consegue prosperar.
(1 a 4) O mangue é muito impor-tante(6) não podemos desprezar.(5) Nele existe a vida( T ) para todos nós zelar,(1) não colocando em risco(2 a 6) os animais que habitam lá.
Professores: Ana Cristina, Manoel Xavier,Evandro, Aurineide e Ana Lúcia
A poesia a seguir fala do res-peito que o povo Tremembé tempela vida. Tr ansforme-a emjogral, para apresentar aos co-legas. Divida as falas pela nu-meração. T significa todos.
Cultura Indígena
Cultura também é conhecimento. Teste o seu.
Faça uma lista de nomes indígenas em sua região: rios e ria-chos, morros e serras, grutas, vilas e cidades, comidas típicas,frutas e raízes, animais, danças, pinturas, artesanato, música. Emais:
Você sabe de que língua indígena provêm esses nomes?
Cultura é o conjunto deelementos com que umdeterminado gr upo ou povoo rganiza a sua vida.
R E S P O N DA RÁPIDO
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Os T r emembé na dança das cultura s
Imagine outras pessoas definindoquem você é sem lhe perguntar.Imagine que essas pessoas têmbem outras idéias sobre o mundoe sua gente. Elas falam outra lín-gua, têm outros costumes, valo-res e religião. Imagine ainda queessas pessoas pensam ser maisque você e ter mais direitos quevocê.
Com esta mesma idéia, a cul-tura colonizadora menosprezoua cultura indígena no Brasil. Foiisso que os Tremembé vivenciaram quando ocolonizador português tomou a sua terra.
Os Tremembé camuflaram-se como “caboclos”,durante mais de 100 anos, para terem espaço nasociedade não indígena. Assim, puderam preser-var parte da identidade étnica e cultural de seu povo.
Observe, agora, onde é que você se enquadra com suas res-postas às perguntas “Responda rápido”.
Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Socioambiental aoIbope revelou que:
88% dos brasileirosconcordam que osíndios conservammelhor a natureza
91% consideram queeles devem ter espaçopara viver conformea sua cultura
81% acham que os índiosnão são preguiçosos
Você sabia que... antes da Constituição de 1988, eramnão-índios que decidiam quem era e quem não era índio?
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No processo de coloniza-ção, os índios foram aos pou-cos expulsos de suas terraspelos não indígenas que que-riam criar gado. Uma estraté-gia foi usar os conflitos en-tre os nativos para colo-car uns contra os outrose enfraquecer aresistência indí-gena. Também osaldeamentos, or-ganizados por mis-sionários da Igreja,foram instrumen-tos de dominaçãosobre os indígenas. OsT remembé do aldea-mento foram forçados aabandonar a própria lín-gua.
Em 1696, o cape-lão do exército pau-lista, padre João Lei-te de Aguiar, escre-ve ao Rei de Portu-gal, dizendo que osindígenas aldeadospelos mis s ionár iosapresentavam menos re-sistência, o que facilitaria ocombate aos índios do RioGrande do Norte e Ceará, en-tre eles os Tremembé.
Conforme Francisco José Pi-nheiro, em 1757, a classe luso-brasileira pretendia integrar osindígenas à sociedade circun-dante, para com isso fazer de-
saparecer a comunidade indíge-na.
O Rei de Portugal, em 1708,em carta ao Governador Geral
do Brasil, ordena que todosos indígenas que resistis-
sem fossem mortos, eos que se entregassemfossem escravizados
e vendidos empraça pública. Par-te da renda era re-
vertida aos cabos, ofi-ciais e soldados paraque se empenhassem
no processo deextermínio e/oucaptura.
“( . . . ) Eu E l
Rei vos envio
muito saudar.
( . . . ) Fu i serv i -
do resolver
que se faça
guerra geral
a todas as
nações de
índios (...).”
Negar a existênciatambém é uma forma
de extermínio.
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Em 1985,começou o reco-
nhecimento jurídico pelo EstadoB rasileiro das terras pertencentes aos grupos indí-
genas do Ceará. Num curto espaço de tempo, passaram de des-conhecidos/extintos para uma população de, aproximadamen-te, 1 2 mil índios. Desde que o império os deu por extintos até oseu ressurgimento, passaram-se mais de 100 anos. Atualmen-te, a conquista de direito à terra está reforçando a reconstru-ção de sua cultura.
Características são a ocupação coletiva da terra, a localiza-ção das roças, a utilização dos recursos naturais, os mutirõesde ajuda mútua e as diversas atividades em que a família apare-ce como unidade de produção e consumo. Muitas festas se-guem o calendário das colheitas. Os remédios feitos de plantasda região são potenciados com práticas rituais. Histórias e es-tórias estão repletas de seres que habitam matas e lagos. Aterra representa um elo de ligação com os antepassados e de-termina a ocupação espacial, seus limites e marcos físicos e suavariação no tempo.
É no plano da auto-estima que está a razão fundamentaldas mudanças ocorridas nos Tremem-bé. Os acontecimentosdos quais partici-pam têm obri-gado os Tr e -membé a efe-tuar novas for-mulações domundo e de si mes-mos. Quando buscam seusdireitos, também provocam a refle-xão sobre quem são e sobre o lugar que de-sejam ocupar no Ceará. Suas ações mostram a aber-tura de novas perspectivas na consciência étnica, nem semprefáceis de acompanhar e perceber.
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E nós nessa dança
Vamos voltar à nossa conversa sobre cultu-ra. Podemos falar de uma cultura jovem comofalamos de cultura indígena? Os jovens ves-tem-se de modo diferente, gostam de ou-tros tipos de música, falam gírias, têm códi-gos próprios de grupo. Nas cidades, a internete o telefone celular modificaram substancial-mente a sua forma de viver. Nem por isso,deixam de ser jovens ou estão se distanciando desua cultura original. A cultura é que vai se trans-formando. Por isso, também os índios não deixamde ser índios quando transformam a sua culturaoriginal, pois isso é inerente a todas as culturas :elas sempre estão em processo de transformação.
Hoje, fala-se até em tribosj uvenis, tal é o grau de iden-tificação entre membros deum mesmo grupo e de di-ferenciação deste grupoem relação a outros.
Quais são os elementosde identificação do seugrupo?
Faça uma l is ta do que iden-ti f ica você e seu grupo e o quedi ferencia você e seu grupode out ros jovens .
T r ibo?!
T r i b o – nas sociedades ditas primitivas, grupo social queocupa um mesmo território e se avoca origem comum; com-põe-se de unidades autônomas menores, fundadas sobre o pa-rentesco, e organiza-se em torno de uma autoridade política;etnia ... Grupo de pessoas com ocupações ou interesses co-muns ou ligadas por laços de amizade (a tribo de surfistas ou atribo urbana) – Houaiss, 2001.
Tr ibo?!
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Mocororó
É a bebida sagrada dos Tremembé,que traz forças para dançar o Torém.Revigora o ânimo e a disposição parao “ser Tremembé”. Conforme o PajéLuiz Caboclo, pega-se os cajus (cajuazedo, o doce não serve), espreme-se comas mãos todo o caldo numa vasilha. Após, pe-neira-se o caldo para deixá-lo sem nenhum resí-duo. Depois de coado, coloca-se numa garrafa e tampa-se bem.Poderá ser con-sumido depois dealguns d ias dedescanso.
O mocororó ébebida fermenta-da e, por isso, al-coólica.
Na safra docaju, que na re-gião é nativo, faz-se mocororó emtodas as casas.Ele é servido àsvisitas como ges-to de boas vindas.É se rv ido tam-bém nas rodasd o Torém, queduram enquantohouver mocororópara se beber.Dele, todos be-bem.
Jogo dos 7 erros - Dança do Torém
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Para compreendermelhor
O número de pessoas que seidentificam como indígenas noB rasil aumentou nos últimos anos.Também a taxa de natalidade en-tre os índios é maior. O primeiroestado em população indígena éo Amazonas, com 119 mil; o se-gundo é São Paulo, com 62 milíndios, dos quais 3 mil vivem emaldeias.
A Constituição do Brasil, de1988, diz que a palavra decisi-va sobre ser índio ou não édada pelos próprios índios. Maisda metade dos índios brasilei-ros vive nas periferias urbanas.Por longo tempo, habituaram-se a ser vis-tos como mestiços, caboclos ou mamelucos. Atualmente,reconstróem a sua identidade, estimulados por conquistas re-centes, como uma legislação mais favorável e a demarcaçãodas terras.
Muitos indíge-nas passaram ase tornar visíveisnovamente.
Desde aConstituição de1988, os índ iostambém não sãomais considera-dos menores de
idade. Antes, a FUNAI assumia a tutela sobre eles. Agora, osíndios são considerados brasileiros com direitos e deveresiguais a qualquer pessoa, podendo, por exemplo, administrarseus bens, votar e ser votados.
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Com essa mudança, os povos indígenas começam a interagircom a sociedade não-índia, trocando conhecimento, filosofia devida, lide com a natureza, religião, usos e costumes, festas, for-mas de enxergar o mundo e as pessoas. Essa interação, antesgerenciada pela FUNAI, agora é direta.
Precisamos acordar para a diferençacultural dos povos indígenas, superara discriminação e o preconceito e de-senvolver a sensibilidade para perce-ber a contribuição que os povos indíge-
nas podem dar.A Constituição promove a interaçãocultural entre índios e não-índios.
I magine-se como os índios se sen-tem ao dizermos quem é ou não é ín-
dio. Será que alguém deixa de ser índio, porque fala português, fazcontas, conhece seus direitos e usa celular?
Suyane Moreira, de 19 anos é uma das top models mais requisitadasda atualidade. Vive nas passarelas de Milão, Tóquio e Nova York. Aos 14anos, aprendeu a comer com talheres; aos 16, a se equilibrar sobre sal-tos; aos 17, viajou, pela primeira vez, de avião. Ela é de origem cariri. Atribo não vive mais em aldeia, mas remanescentes dela se espalham porcidades do sertão cearense. Na sua opinião, Suyane é ou não é indígena?
Somos brasileiros, mas absorvemos bens culturais distintos;isso se manifesta na comida, na organização da
vida, nos costumes, nas festas. Essa di-versidade é uma riqueza!
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Culturas estão emconstante transformação.
O confronto entre europeuscolonizadores e povos indígenasmexeu fundo nas respectivas cul-turas. Os povos indígenas do nor-deste brasileiro são os que, pormais tempo, sentiram esse con-fronto. Frente ao rolo compres-sor europeu, os povos indígenasfizeram concessões, assumindotraços culturais dos não-índios econservando traços culturais pró-prios, bem presentes nas festas.O conteúdo religioso dessas fes-tas, muitas vezes, passa desa-percebido, pois nelas só enxer-gamos folclore exótico.
A imagem que temos dos índi-os foi construída em nós. Apren-demos que os índios vivem nomato, em ocas, são caçadores ecoletores de frutas e raízes, pra-ticam pouca agricultura, desen-volvem pouca tecnologia, nãotêm escrita. Também ouvimosque índios são sujos, maltrapi-lhos, não trabalham, bebem ca-chaça.
As culturas indígenas têm dife-renças profundas entre si e emrelação à nossa cultura. Não po-demos julgar os direitos e deveres indígenas com os critérios denossa cultura.
Pré-conceito é formar opinião sem conhecer.Ele acaba quando conhecemos bem.
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A terra das reservas indígenas per-tence à União, e ela não pode servendida, nem tirada dos índios. A ter-ra é destinada ao uso de um coletivo enão aos índios individualmente. Dividir o nú-mero de hectares de uma reserva indígenapelo número de índios que nela vivem é como que-rer usar os ouvidos para distinguir cores.
A recuperação de terras indígenas, hoje, é dolorosa porque:1. Os índios não receberão de volta toda a terra necessária para
o seu desenvolvimento;2. A terra está ocupada por agricultores/as. Estes/as construí-
ram a sua vida nessa terra por várias gerações. Desenvolveramafeição ao seu pedaço de chão.
Agricultores/as têm de sair, pois o di-reito indígena é originário, vem antes dosoutros direitos. Cabe garantir que o di-reito indígena à terra e o direito à inde-nização ou reassentamento dos/as
agricultores/as sejam garantidos. Paraisso, é necessário tanto a ação do go-
verno, como também a nossa aju-da, evitando o preconceito e adiscriminação e ajudando a cri-ar um clima de justiça que pro-mova a paz.
Respeitar o direitooriginário dos povosindígenas é o mínimoque podemos fazer.
Pergunta-se: Por que índios precisam tanta terra, se não pro-duzem?
Os índios produzem sim, para viver, nãopara acumular; aí está uma diferen-ça fundamental. Além disso, se pre-ocupam em não esgotar os so los .
Pesquisa na internet
Conselho de Missão entre Índiosdisponibiliza o material de pesquisadeste caderno: fotos, textos para asala de aula. www.comin.ong.org
Instituto Socioambientaldisponibiliza informações atualizadassobre quase todos os povos indígenasdo Brasil. www.socioambiental.org
Conselho Indigenista Missionáriodisponibiliza informações atualizadas eposicionamentos frente à políticaindigenista do governo. www.cimi.org.br
Universidade Federal da Bahiadisponibiliza informações sobre povosindígenas do nordeste. www.ufba.br
Pesquisando na web “IndígenasTremembé” há pelo menos 450referências ao povo Tremembé.
Ação Metodista junto ao PovoTremembé :[email protected]
Babi Fonteles : [email protected]
Associação Missão Tremembé :rua José Cândido, 53 – Fortaleza,Ceará - 60325-490. Tel.: (85) 283 1975.
COMIN : Conselho de Missão entre Índios, Caixa Postal 14 - CEP 93001-970São Leopoldo /RS - Tel: (51) 590 1440 - e-mail: [email protected] - www.comin.ong.orgDepartamento de Catequese: Caixa Postal 14 - CEP 93001-970 São Leopoldo/RSTel: (51) 592 4491 - e-mail: [email protected] Nacional p/ Assuntos da Juventude: Caixa Postal 191 - CEP 93001-970São Leopoldo/RS - Tel: (51)591 4295 - e-mail: [email protected] - www.juventude.ieclb.org.br
VídeosBrincando nos Campos do
Senhor , de Hector Babenco, EUA,1991,187 min. – Condor Vídeo
A Missão , de Roland Joffé – ING,1986, 121 min – Distr. Flashstar.
Dança com Lobos , de KevinKostner – EUA, 1990, 128 min. – AbrilVídeo/Hollywood.
Torém , produzido por Nosso ChãoVídeo e Toa (Canal Imaginário, IBASE,fone: (21) 266.4451), 23 min. Disponívelpara empréstimo no COMIN.
L i v r o sEsta terra tinha dono – B. Prezia e
E. Hoornaert – CEHILA POPULAR –CIMI – FTD – S.Paulo/SP, 3ª ed., 1992.
A temática indígena na escola –Novos Subsídios para professores de 1º
e 2º Graus – A. Lopes da Silva e LuísD.B. Grupioni – MEC, MARI eUNESCO, Brasília/DF, 1995.
A Terra dos Mil Povos – HistóriaIndígena do Brasil contada por um índioJecupé, Kaká Werá – Fund. Petrópolis,S.Paulo/SP, 1998.
Papel da Religião no SistemaSocial dos Povos Indígenas –Eduardo V. de Castro, GTME, Cuiabá/MT, 1999.
“... para saber mais...”(confira nas locadoras)