Amendola- A Intertextualidade Possível Entre Slogans e Haikais

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Intertextualidade possível entre slogans e haikais 25 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 1, n. 1, p. 25-32, jan./jun. 2010 A INTERTEXTUALIDADE POSSÍVEL ENTRE SLOGANS E HAIKAIS Mariângela Barbosa Fazano Amendola Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente Universidade do Oeste Paulista Resumo A publicidade ocupa lugar de destaque na sociedade de consumo, pois apresenta uma linguagem elaborada que pretende influenciar as pessoas na compra de produtos e/ou ideias, bem como pode proporcionar mudança de comportamento. Pretende-se neste artigo, traçar uma breve discussão sobre como a arte literária influenciou e influencia de forma direta as produções publicitárias impressas. Partindo-se de uma abordagem interdiscursiva entre slogans e haikais. A linguagem publicitária, no caso, o slogan publicitário de natureza verbal, evidencia a força persuasiva do enunciado, no sentido de proporcionar para a sociedade de consumo, através de elementos linguísticos, mensagens aderentes e pitorescas. Palavras-chave: publicidade, literatura, slogan, haikai. Abstract The advertising occupies place of prominence in the consumption society, therefore it presents an elaborated language that it intends to influence the people in the purchase of products and/or ideas, as well as it can provide behavior change. It is intended in this article, to trace one brief discussion on as the literary art influenced and influences of direct form the printed advertising productions. Breaking of an inter discursive boarding between slogans and haikais. The advertising language, in the case, the slogan advertising executive of verbal nature, evidences the persuasive force of the statement, in the direction to provide for the consumption society, through artistic linguistic elements, colourful and adherent message. Key-words: advertising, literature, slogan, haikai. Introdução Não é nova a discussão sobre o estatuto artístico das produções publicitárias. Entretanto, o tema não tem sido suficientemente abordado a ponto de dispensar novas reflexões e/ou propor outras leituras acerca do fazer artístico publicitário. Não é raro encontrarmos formas poéticas em textos assumidamente publicitários, o que não nos impede fruí-lo tal como se frui uma obra de arte plástica ou tecnológica. Esses pequenos textos não apenas fazem explodir leituras para além da peça; eles nos propõe uma

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Proporciona um bom conhecimento do slogan

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    Identidade Cientfica, Presidente Prudente-SP, v. 1, n. 1, p. 25-32, jan./jun. 2010

    A INTERTEXTUALIDADE POSSVEL ENTRE

    SLOGANS E HAIKAIS

    Maringela Barbosa Fazano Amendola Faculdade de Comunicao Social Jornalista Roberto Marinho de Presidente Prudente

    Universidade do Oeste Paulista

    Resumo A publicidade ocupa lugar de destaque na sociedade de consumo, pois apresenta uma

    linguagem elaborada que pretende influenciar as pessoas na compra de produtos e/ou

    ideias, bem como pode proporcionar mudana de comportamento. Pretende-se neste

    artigo, traar uma breve discusso sobre como a arte literria influenciou e influencia de

    forma direta as produes publicitrias impressas. Partindo-se de uma abordagem

    interdiscursiva entre slogans e haikais. A linguagem publicitria, no caso, o slogan

    publicitrio de natureza verbal, evidencia a fora persuasiva do enunciado, no sentido de

    proporcionar para a sociedade de consumo, atravs de elementos lingusticos,

    mensagens aderentes e pitorescas.

    Palavras-chave: publicidade, literatura, slogan, haikai.

    Abstract

    The advertising occupies place of prominence in the consumption society, therefore it

    presents an elaborated language that it intends to influence the people in the purchase of

    products and/or ideas, as well as it can provide behavior change. It is intended in this

    article, to trace one brief discussion on as the literary art influenced and influences of

    direct form the printed advertising productions. Breaking of an inter discursive boarding

    between slogans and haikais. The advertising language, in the case, the slogan

    advertising executive of verbal nature, evidences the persuasive force of the statement,

    in the direction to provide for the consumption society, through artistic linguistic

    elements, colourful and adherent message.

    Key-words: advertising, literature, slogan, haikai.

    Introduo

    No nova a discusso sobre o estatuto artstico das produes publicitrias. Entretanto,

    o tema no tem sido suficientemente abordado a ponto de dispensar novas reflexes

    e/ou propor outras leituras acerca do fazer artstico publicitrio. No raro

    encontrarmos formas poticas em textos assumidamente publicitrios, o que no nos

    impede fru-lo tal como se frui uma obra de arte plstica ou tecnolgica. Esses pequenos

    textos no apenas fazem explodir leituras para alm da pea; eles nos prope uma

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    adeso ao objeto que anunciam, na medida em que transferem para eles o prestgio que

    a concepo artstica lhes transmite.

    Assim, percebe-se que o poder de persuaso da pea publicitria aumenta

    exponencialmente com a insero de textos cujo carter transcende a bvia funo de

    anunciar ou propagar. E no se trata de mera transposio de textos poticos

    recontextualizados, mas de textos inditos, de puro carter imaginativo/criativo,

    pensados para preencher uma funo de convencimento e seduo. Afora a presena de

    textos verbais, o apelo publicitrio pelas obras plsticas na ilustrao de peas de

    campanha, ainda que no demonstrem inteno de fazer arte ou de levar o receptor a

    estados de xtase, produz efeitos muito prximos daqueles que nos acometem as obras

    de arte. E isso foi conferido junto a consumidores, leitores e telespectadores de anncios

    publicitrios. Verifica-se, ento, que tais produes parecem pretender, to-somente,

    chamar ateno e injetar prestgio ao produto/servio ou ideia anunciados.

    Pretende-se neste artigo, traar uma breve discusso sobre como a arte literria

    influenciou e influencia de forma direta as produes publicitrias impressas. Partindo-

    se de uma abordagem interdiscursiva entre slogans e haikais, como por exemplo,

    percebe-se, conforme Andrade & Medeiros (1997, p.89), que tanto o poeta quanto o

    publicitrio que se utiliza de um cdigo potico procuram estabelecer uma relao

    motivada do signo com a realidade, pelo uso da funo potica da linguagem em sua

    tentativa de compensar, ainda que ilusoriamente, a arbitrariedade do signo: Assim, no

    estudo da linguagem da propaganda, como ela se vale de criaes artsticas, herdadas da

    literatura, o prprio significante funciona como transmissor de ideias.

    A Intertextualidade entre os Gneros

    Por um lado temos o poema como supra-sumo da lngua, em que o poeta explora o que

    h de mais rico, dinmico e expressivo, atravs de construes poticas inusitadas, no

    s no campo do verbal, por outro lado na publicidade que se realiza o mximo da

    comunicao e da persuaso atravs tambm de recursos lingusticos e intersemiticos

    os mais complexos, aprofundando as possibilidades do uso do signo em sua

    integralidade.

    E, no campo neutro das possibilidades sgnicas, ambos, no que os

    estruturalistas chamam de princpio da imanncia (conceito metafsico contrastante

    transcendncia; que defende a existncia de uma coisa suprema ou divina, dentro do

    mundo fsico), poemas e anncios exploram idnticos recursos, idnticos

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    procedimentos, embora para chegar a resultados e intenes opostas ideologicamente.

    Vamos discutir a relao existente entre dois gneros to diferentes: a literatura e a

    publicidade, atravs dos respectivos subgneros como os haikais e os slogans.

    Enquanto o haikai desenvolve-se na emoo ou na percepo momentnea de

    algo ou de circunstncias gerais, o slogan se apia na razo. tomo da filosofia, ainda

    que mundana (CARRASCOZA, p. 45), o slogan no possui por isso a curta vida til da

    mensagem publicitria geral. Instala-se na mente como um poema; um sonho; uma

    recordao que a qualquer hora pode ressuscitar. Os slogans variam do escrito ao visual,

    do falado ao cantado; quase sempre sua natureza simples e retrica deixa pouco espao

    para detalhes, e como tal servem talvez, mais a uma expresso social de propsito

    unificado, do que uma projeo para uma pretendida audincia. De uma maneira mais

    objetiva o slogan passa o posicionamento do produto, servio ou marca, de maneira que

    resuma toda a comunicao da empresa.

    Porm podemos nos aprofundar ainda mais e entender o slogan como arte,

    quando comparado aos Haikais, uma arte secular oriental que consiste em um pequeno

    poema de 17 slabas distribudas em 3 versos com seu contedo sempre potico emotivo

    e sensorial.

    No slogan, o costume utilizar frases curtas, no ultrapassando 8 palavras

    ,com contedo racional e discurso deliberativo. Vejamos alguns Haikais brasileiros que

    podem ser considerados poemas-slogans, considerando a presente discusso:

    amar um elo

    entre o azul

    e o amarelo

    Paulo Leminski

    Inverno

    tudo que sinto

    Viver

    sucinto

    Paulo Leminski

    Silncio no se l

    Arnaldo Antunes

    Exemplos de slogans-poemas:

    a) Clssicos:

    Se Bayer bom.

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    La Fonte. A fechadura que fecha e dura.

    Continental . Preferncia nacional.

    b) Contemporneos:

    Tomou Doril, a dor sumiu.

    Pense forte, pense Ford.

    Nescau. Energia que d gosto.

    Danoninho vale por um bifinho.

    c) Slogans atuais:

    O valor das ideias. (Santander)

    O Banco do planeta. (Bradesco)

    2000 INOVE. (Bradesco)

    Feito pra voc. (Ita)

    Nem parece banco. (Unibanco)

    Fazendo mais que o possvel. (Banco Real)

    Pega leve. (Nova schin)

    Liberdade voar. (Gol)

    Carro mesmo. (Volkswagen)

    Conte comigo. (Chevrolet)

    Viva o novo. (Ford)

    No discurso publicitrio h uma articulao de recursos visuais, sonoros e

    tcnicas que construiro uma rede de aes, cujo efeito na recepo poder ser de

    carter consumista ou ideolgico. O que conta, no texto publicitrio, o que est

    subjacente, implcito, conotado.

    Assim, a fora persuasiva no est apenas nas palavras que fazem referncia

    ao produto, ou suas qualidades, mas tambm nos signos dirigidos diretamente ao

    consumidor virtual, do qual se espera determinado comportamento (REBOUL, 1977).

    Qualquer anncio, quando realizado, funciona como discurso porque destinado a

    comunicar e divulgar informaes que so seu contedo significativo por meio de uma

    estrutura codificada que o autor cria e organiza, operando, ento, como informativo e

    persuasivo.

    A mensagem publicitria no apenas demonstrao de imaginao criadora

    de ideias, mas, tambm, arte e tcnica aplicadas na soluo de problemas. Suas

    finalidades so informar algum sobre algum produto ou servio, persuadir as pessoas a

    tomarem decises e fazer agir para conseguir novas atitudes. Tais caractersticas podem

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    ser observadas na linguagem do slogan publicitrio, que consiste numa frmula curta,

    resumida e incisiva, que exerce, atravs do impacto que causa, uma presso no

    enunciatrio, ou seja, no consumidor, para que compre o produto. um tipo de

    comunicao unilateral, estabelecida por um enunciador (empresa) para um enunciatrio

    (pblico consumidor), porm, sem reciprocidade, pois no h troca de papis. A

    comunicao s se realizar, efetivamente, se a recepo da mensagem tiver uma

    incidncia observvel sobre o comportamento do pblico, isto , se for constatada a

    venda do produto em questo.

    O slogan

    O termo slogan vem do galico, lngua do povo celta, e significa grito de guerra,

    slugh-ghairm. Por volta do sculo XIV, os ingleses adotaram o termo para

    transform-lo, no sculo XIX, em divisa de partido e, a seguir, em palavra de ordem

    eleitoral. Os americanos deram ao termo o sentido de divisa comercial, e com esse

    sentido publicitrio que a palavra chegou Frana, por volta de l927, adquirindo, em

    seguida, um sentido poltico. Assim, foi usada por pregoeiros ambulantes, nas legendas

    e nas insgnias, at se identificar com anncios de jornais, revistas e outdoors.

    Com o desenvolvimento dos meios de comunicao de massa, o slogan tornou-

    se um instrumento de propaganda, uma arma cujo alcance ultrapassou os limites de um

    grupo restrito. Seu significado varia de autor para autor; entretanto, sempre um ato

    verbal construdo linguisticamente por uma frase ou um grupo de frases: Frase concisa,

    de fcil percepo e memorizao, que resume as caractersticas de um produto ou

    servio, ou uma de suas qualidades ou ponto de venda, usada e repetida

    inalternadamente nos anncios de uma firma (MICHAELIS, 1998: 1954).

    Para definir o slogan, convm determinar o seu estatuto gramatical.

    aparentemente, trata-se de uma frase, ou de um grupo de frases, pois do ponto de vista

    semntico, acredita-se que o slogan se baste a si mesmo e que pode ser verdadeiro ou

    falso. Enfim, podemos chamar de slogan uma frmula concisa e marcante, facilmente

    repetvel, polmica e frequentemente annima, destinada a fazer agir as massas tanto

    pelo seu estilo, quanto pelo elemento de autojustificao, passional ou racional, que ele

    comporta (REBOUL, 1977).

    Buscando pontos comuns nas conceituaes apresentadas, fica evidente,

    primeira vista, que o slogan uma frase ou grupo de frases de natureza breve. uma

    espcie de frmula polmica endereada ao pblico, e sua fora reside tanto em sua

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    forma quanto em seu sentido. Atravs dessa brevidade, o slogan chama a ateno no

    sobre si mesmo, mas sobre o que diz ou d a entender, conseguindo o seu objetivo:

    persuadir o sujeito compra do produto ou mudana de comportamento.

    Costuma-se atribuir ao slogan algumas funes bsicas, como fazer aderir,

    prender a ateno e resumir. A funo primordial sempre a de fazer vender um

    produto, no comportando apenas uma indicao, um conselho, mas certa presso; as

    palavras no desempenham s a funo de informar ou prescrever, mas, sobretudo, de

    convencer, mandar fazer. Seja qual for sua funo aparente, a real no est no seu

    sentido, mas no impacto; no est no que ele quer dizer, mas no que ele quer fazer.

    Especificamente em publicidade, a grande parte dos slogans tenta agradar,

    como uma maneira de persuadir, provocando uma necessidade ou uma preferncia.

    Partindo do princpio aristotlico de que o objetivo de toda comunicao a persuaso,

    constata-se que o slogan publicitrio usa esse procedimento muitas vezes at

    dissimulando seu poder persuasivo, com o uso de alguns procedimentos lingusticos

    responsveis pela intencionalidade do enunciado.

    De acordo com Joo Anzanello Carrascozza o slogan o minimalismo da

    propaganda, que se baseia em explicar em poucas e precisas palavras, sensaes ou

    conceitos profundos captando a essncia da marca.

    Uma obra prima que como na arte deve ser original e passar a essncia da

    marca. Ainda segundo Carrascoza (2003); o haikai louva o homem e a natureza; o

    slogan fundamenta a civilizao e a cultura. O haikai o esprito; o slogan, a matria. O

    haikai religioso, o slogan profano. O haikai uma obra de arte sutil; o slogan, um

    artifcio para seduzir. Ambos so construdos com poucas palavras.

    O slogan busca aquilo que sempre foi peculiar ao haikai: atingir e explicar, ela

    simplicidade algo complexo. A palavra e o signo nesse contexto so as partculas

    elementares desse amplo universo discrepante.

    HAIKAI um instante de poesia, vislumbre epifnico (momento privilegiado

    de revelao); SLOGAN um instante prosaico (de duplo sentido, mas comum), luz

    para o consumo. AMBOS, poderosos aliados de uma comunicao que se prope ser

    duradoura. Uma vez lidos, difcil esquec-los.

    Concluso

    O que justifica a relao da poesia brasileira com a publicidade impressa que esta

    parece ter sempre buscado na poesia a fora retrica de sua expresso persuasiva, pelo

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    que o signo e suas representao podem oferecer de mais funcional para manuteno de

    uma ideologia capitalista de consumo inteiramente inversa as propostas do fazer

    potico. De fato, se por um lado temos o poema como supra-sumo da lngua, em que o

    poeta explora o que h de mais rico, dinmico e expressivo, atravs de construes

    poticas inusitadas, no s no campo do verbal, na publicidade que se realiza o

    mximo da comunicao e da persuaso atravs tambm de recursos lingusticos e

    intersemiticos os mais complexos, aprofundando as possibilidades do uso do signo em

    sua integralidade. E, no campo neutro das possibilidades sgnicas, ambos, no que os

    estruturalistas chamam de princpio da imanncia, poemas e anncios exploram

    idnticos recursos, idnticos procedimentos, embora para chegar a resultados e

    intenes opostas ideologicamente.

    Desse modo, acabam por contribuir, de forma eficaz e mltipla, para a

    construo de linguagens miditicas cada vez mais poderosas, no sentido em que

    destituem barreiras e fronteiras de compreenso e significao de mensagens, num

    mbito cultural que hoje se amplia de forma globalizada, e que veio se constituindo

    desde o surgimento da modernidade, enquanto processo histrico.

    De acordo com Castro (1973, p. 48), a ideia de modernidade admissvel em

    termos de comunicao, a comunicao complexa, mltipla e eficaz dos meios ao

    alcance dos homens. Para esse autor, nessa relao instvel entre o homem e a

    comunicao h o fator negativo do consumo e da tecnocracia, mas tambm h seu lado

    positivo: o desenvolvimento tecnolgico permitiu ao artista situaes e possibilidades

    de ao criativa, nunca antes sequer imaginadas.

    A mdia compe esse vasto campo de atuao humana no qual as linguagens

    alcanam um nvel de compreenso mundial, graas s possibilidades de explorao do

    signo em seus aspectos analgicos e digitais, transformando-se no que j se

    convencionou como hipertexto1 - o texto de carter virtual, que se adequa s

    necessidades e aos interesses de diferentes leitores. Dentro desse processo, hoje, a

    palavra e a imagem, em qualquer lngua, passam a ser entendidas a partir das

    possibilidades mutveis do signo, esse instrumento genrico que se apresenta como um

    fator crucial de desenvolvimento da humanidade em toda a sua trajetria de civilizao.

    1 Cf. Lvy, Pierre. As tecnologias da inteligncia, 1993. De acordo com as concepes de Lvy, o

    hipertexto formado pela interligao em rede dos microtextos que ocupam o ciberespao, atravs dos

    quais se pode acessar novos textos e informaes em sucessivos links de forma dinmica.

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    No pretenso deste artigo, esgotar um assunto to vasto e complexo, mas

    sim, a partir da, procurar respostas e explicaes para as possibilidades de

    desdobramento dos signos verbais em linguagens miditicas cada vez mais globalizadas

    que se realizam hoje. Nesse sentido, preciso verificar como esses recursos foram

    construdos pela fora de uma linguagem potica que, de forma peculiar, mesmo que

    controversa, conseguiu ir s entranhas dos signos e revolveu seus construtos mais

    elementares. Atravs dos seus desgnios, talvez possamos vislumbrar a tenso que

    permitiu a transposio entre os gneros poema e slogan.

    Referncias

    BIGAL, S. O que criao publicitria ou (o esttico na publicidade). So Paulo:

    Nobel, 1999.

    CARRASCOZA, J.A. A evoluo do texto publicitrio: associao de idias e

    palavras como elemento de seduo na publicidade. So Paulo: Futura, 1999.

    _________________. Estudos sobre a retrica do consumo. So Paulo: Futura, 2003.

    CASTRO, E. M. de M. e. O prprio potico: ensaio de reviso da poesia portuguesa

    atual. So Paulo: Quron, 1973.

    FIGUEIREDO, Celso. Redao Publicitria: Seduo pela palavra. So Paulo:

    Pioneira Thomson Learning, 2005.

    LVY, P. As novas tecnologias da inteligncia: o futuro do pensamento na era da

    informtica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

    MICHAELIS. Moderno Dicionrio de Lngua Portuguesa. So Paulo:

    Melhoramentos, 1998.

    REBOUL, Olivier. O slogan. So Paulo: Cultrix, 1977.

    VEESTERGARD & SCHORODER. A linguagem da propaganda. Traduo de Joo

    Alves dos Santos. 3. ed. So Paulo: Martins Fontes, 2000.