ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO VENTILATÓRIA NA BLASTOMICOSE … · ramente, desvio do mediastino, retra...
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ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO VENTILATÓRIA NA BLASTOMICOSEPULMONAR
Correlação radiológica e espirográfica (*)
Antônio Tufik Simão (**), Walter Tavares (***), Marita Cutrim da Cunha Tomassini (***), Dawid Krakowski (****), J. Rodrigues da Silva (****♦)
Os au tores es tu dam 10 casos de blastom icose pulm onar, sendo fe ita a correlação radiológica e espirográfica . E ncon traram em todos os casos as alterações radiológicas clássicas do b lastom icose (nodulacões, in filtrados, fibrose e enfise- ma>. Em 4 casos en con traram alterações da função ven tila tó r ia caracterizadas por insuficiência ven tila tó r ia d b stru tiva . C om en tam que em 2 casos a radio- tugia pu lm on ar m ostrou a presen ça ãe en fisem a em bora a espirografia não m ostrasse anorm alidades.
C ham am a a tenção para a im portân cia do estudo da função respiratória na b lastom icose pulm onar, acen tuan do a n ecessidade do estu do funcional em m aior núm ero de pacien tes a f im de se estabelecerem conclusões m ais sign ifica tivas sôbre o tip o de a lteração ven tila tó r ia que ocorre nesses pacien tes.
INTRODUÇÃO
A localização pulmonar da Blastomicose Sul Americana (B.S.A.) é um fato que tem merecido a atenção de diversos pesquisadores devido a sua alta incidência e gravidade. Vários trabalhos têm sido publicados sôbre o estudo clínico e radiológico da blastomicose pulmonar, onde são focalizadas a sintomatologia escassa da doença e as extensas alterações radiológicas (7, 8, 11, 13, 14, 15). Esta ausência de paralelismo entre sintomas respiratórios e alterações radiológicas, bem como a cronicidade da doença, constituem uma das características da
blastomicose pulmonar, como comprova a observação de Rollier & cols. (16), na França, em paciente com blastomicose pulmonar que tinha estado no Brasil cêrca de 30 anos antes, sem apresentar manifestações clínicas até então.
A incidência da forma pulmonar da B.S.A. é variável com a casuística dos diversos autores, mas geralmente acima de 50%. Assim, Lacaz (7), em São Paulo, encontrou comprometimento pulmonar em 57.4% dos casos de blastomicose estudados; Campos (2), no Rio Grande do Sul, assinala a freqüência de 96,1%; Furtado (6), em Minas Gerais, de 90%; Machado
(*) T r a b a l h o d o S e r v i ç o d a Cjuleira de C l ín ic a de D í v i ç a . s T r o p i c a i s <* I n f e c t u o s a s da F a c u l d a d e d eM e d i c in a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R io d e J a n e ir o e d o S eto r de P n e u m o l o g i a do S erv iço deC l ín ic a M é d ica d o H o s p i t a l d o s S e r v i d o r e s Ho F ^ M o , a p r e s e n t a d o 110 III C o n g r es so d a S o c ie d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c in a T r o p ic a l , B a h ia , 1!)67.
( * * ) P n e u m o l o g i s t a d o S e r v i ç o do C l ín ic a M é d ica e C o o r d e n a d o r d o Centro de T r a t a m e n t o I n t e n s iv o d o H o s p i t a l d o s S e r v i d o r e s d o E s t a d o .
(***> B o l s i s t a s d a C .A.P .E .S .(****) R a d i o l o g i s t a d o S e r v i ç o d a C a d e ira de C l ín ic a do D o e n ç a s T r o p i c a i s e I n f e c t u o s a s da F a c u l d a d e
d e M e d ic in a d a U n i v e r s i d a d e d o R io d e J a n e ir > .(* '***) P r o f e s s o r C a ted rá t ico .
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Filho e Miranda (8), na Guanabara de 82%; Rodolfo Teixeira (18), na Bahia, de 71,4%. Deve-se, ainda, levar em consideração o fato de que a ausência de alterações radiológicas não significa ausência de lesão pulmonar, pois, como refere Aloysio de Paula (15), muitas vêzes as lesões pulmonares não atingiram, ainda, tamanho e densidade suficientes para se traduzirem sob a forma de imagem anormal ao exame radiológico.
As lesões blastomicóticas pulmonares apresentam-se radiològicamente, em 3 tipos principais: nodulares, in- filtrativas e fibróticas (7, 8, 13, 14) e caracterizam-se por serem, na maioria dos casos, bilaterais, simétricas e localizadas nas porções para-hilar e basal dos pulmões. Deve-se acrescentar a possibilidade de derrame pleu- ral, presença de cavidades, pneumotórax, calcificações, enfisema e, mais raramente, desvio do mediastino, retrações traqueais e outras alterações to- rácicas (4, 10).
As lesões pulmonares da B.S.A. muitas vêzes simulam as alterações produzidas pela tuberculose, tomando-se difícil a diferenciação das duas entidadôs. Vários doentes de nossa casuística, antes de serem diagnosticados como blastomicóticos, submeteram-se à terapêutica anti-tuberculosa, pois o aspecto radiológico das lesões era muito semelhante ao da tuberculose. Por outro lado, a associação de B.S.A. com tuberculose é uma contingência possível e até certo ponto freqüente em nosso meio (8).
Com a terapêutica adequada (Sulfas e Anfotericin B) e instituída por tempo suficiente, as lesões pulmonares ativas (nodulações e infiltrados) evoluem para a “limpeza radiológica” ou cicatrizam, sendo substituídas por traves finas e grossas, cicatrizes estreladas ou nódulos calcificados. Nos pacientes sem tratamento é comum observar-se a presença de traves fibrosas ao lado de lesões de caráter ativo da doença.
Sendo uma doença fibrosante, a blas- tomicose pulmonar pode levar os pacientes a quadros de cor pulmonale crônico e insuficiência respiratória
(9, 15, 21). Yépez & cols. (21) relatam 5 casos de cor pulmonale devido à B.S.A. com sinais de insuficiência cardíaca e respiratória. Em um dos pacientes, cuja radiografia torácica mostrava alterações tubérculo-nodu- lares, em parte confluentes, bilaterais, foram realizadas provas espirográficas que revelaram insuficiência ventilató- ria obstrutiva e restritiva.
A literatura sôbre o estudo funcional do aparelho respiratório na B. S. A. é muito pobre, seja pela raridade da doença em países fora da América do Sul e Central, seja pela dificuldade na realização das provas funcionais nas regiões de maior inei- aência.
Achamos, no entanto, que a exploração funcional do aparelho respiratório em pacientes com blastomicose pulmonar deveria ser realizada quase rotineiramente, uma vez que êsses pacientes podem vir a apresentar insuficiência respiratória de graus variados, necessitando um acompanhamento médico freqüente ou nova orientação ocupacional, visto que em grande parte são homens, geralmente lavradores, que realizam trabalhos que exigem maior esfôrço físico. A fibrose e o enfisema que podem acometer êsses pacientes, mesmo após a cura, muitas vêzes tornam-os invalidados para certos tipos de atividade, sendo necessária, portanto, uma mudança em seus hábitos de vida.
As alterações da função respiratória em moléstias bronco-espásticas e enfisematosas já são conhecidas em vários trabalhos (1, 5, 12, 20). Tendo em vista as lesões produzidas pela blastomicose sôbre o parênquina pulmonar, é de se esperar que' as alterações ventilatórias sejam do tipo obs- trutivo ou do tipo restritivo ou, mesmo, do tipo misto.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado o estudo da função ventilatória em 10 pacientes sendo 9 do sexo masculino e 1 do sexo feminino, portadores de blastomicose pulmonar, sendo feita a correlação com
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o quadro radiológico. Os pacientes foram acompanhados no Serviço da Cadeira de Clínica de Doenças Tropicais e Infectuosas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (7 casos) e no Hospital dos Servidores do Estado (3 casos).
O diagnóstico de Blastomicose Sul Americana foi confirmado na quase totalidade dos casos pelo achado do Paracoccidioides brasiliensis nas lesões (biópsias, raspado das lesões, lavado brônquico, exame do “pus” das lesões) . Nos casos em que o parasita não foi encontrado, o diagnóstico foi firmado pelo aspecto das lesõps tegu- mentares e linfáticas, pelo quadro radiológico e pela evolução favorável com a terapêutica. Todos os pacientes já haviam sido submetidos à terapêutica nos hospitais de origem ou em outros centros de tratamento.
O estudo radiológico de 7 casos foi realizado no Serviço da Cadeira de Clínica de Doenças Tropicais e Infectuo- sas, sendo realizadas radiografias seriadas em P.A. inspiradas, a fim de se acompanhar a evolução dos casos.
O estudo da função ventilatória foi realizado no setor de Pneumologia do Serviço de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado, sendo utilizado um espirógrafo não ventilado de Cara, tendo sido excluído do circuito o depósito de oxigênio, previsto para ser empregado nas provas de esfôrço. Como valores teóricos es- pirográficos foram levados em conta ■os previstos por P. Sadoul (17), sendo as provas realizadas nas condições ■alveolares convencionais, isto é, à 37° C e à pressão de 760 mm Hg.
Na interpretação das provas considerou-se como normal as diminuições de até 10%. As diminuições de 10 a 20% foram consideradas de grau discreto; de — 20 a — 30% de grau moderado; de — 30 a — 50% de grau Importante, e diminuições acima de 50% (— 50%) de grau severo.
Foram determinados os valores estáticos (capacidade vital, capacidade inspiratória, volume de reserva expi- ratória, e inspiratória, volume corren
te) e os valores dinâmicos (volume ex- piratório máximo segundo, relação V. E. M. S . /C . V. x 100 e ventilação máxima voluntária) (3, 19). Os pacientes 1 e 3 após a realização da espi- rografia global foram submetidos a um aerosol com isoproterenol a 1/1000, após o que foi repetido o estudo espirográrico (19).
RESULTADOS
Os resultados das provas espirográ- ficas e da radiologia estão reunidos no quadro I. Procuramos repetir a radiografia torácica dos pacientes na mesma época da realização das provas ventilatórias a fim de comparar os resultados.
Quase todos os pacientes eram fumantes de número variável de cigarros; entretanto, acreditamos que as alterações espirográficas encontradas não se devem essencialmente ao tabagismo, uma vez que pacientes não fumantes (caso 1) apresentam perturbações ventilatórias, enquanto outros, fumantes moderados e inveterados (casos 2, 4 e 9) não apresentam distúrbios ventilatórios. Por outro lado, não podemos afastar a possibilidade de que o uso do fumo seja agravante para as alterações espirográficas dos casos 3, 6 e 10.
Dos 10 pacientes com blastomicose pulmonar, 4 apresentam alterações espirográficas caracterizadas por insuficiência ventilatória obstrutiva. O caso 3 parecia ter também componente restritivo, mas o uso do bron- codilatador fez quase normalizar a capacidade vital, mostrando que a alteração é predominantemente obstrutiva.
DISCUSSÃO
Todos os pacientes apresentaram as alterações radiológicas já demonstradas por outros autores, no que tange ao tipo e à distribuição: micronodu- lações, infiltrados e estrias fibrosas, distribuídas bilateral e simètricamen- te com predomínio nos terços médios
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Q U A D R O I
ALTERAÇÕES DA FUNÇAO VENTILATÓRIA NA BLASTOMICOSE PULMONAR
IDENTIFICAÇÃO RADIOLOGIA PROVAS ESPIROGRÁFICAS
Caso 1 L. S .50 anosLavradorNega tabagism o.
20/10/64 — Lesões m icronodula- res, bilaterais, sim étricas, arbo- rescentes dos hilos, atingindo os terços m édio e in ferior. En- fisem a bilateral d ifuso.
19/11/64 — A centuação das lesões m icronodulares.
07/01/65 — Surgiram algum as le- sõés in filtrativas no 1/3 superior de am bos p u lm ões.. :
05/06/65 — D issem inação total das lesões m icronodulares.
28/06/65 — Reabsorçâo acentu ada das condensações. N otàm - se lesões m icronodulares b ilaterais restritas no 1/3 m édio de ambos pulm ões.
30/09/66 — Lesões m icronodulares m enos in tensas que n as radiografias anteriores. N otam -se fin as traves fibrosas esparsas. Enfisem a b ilateral d ifuso.
30/09/66Vol. corrente — 0,576 1
” m inuto — 13,26 l/m in Capac. V ital — 4,93 1 (aum en
tado de 40,9%) VEMS — 2,77 1 (aum entado de
10,5%)
VEMS--------- x 100 — 56,1% (dim inuído
CV de 25,2%)
V .M .V . I freq. 44 — 59,1 1 | ” 52 — 67,7 1 | ” 60 — 71,8 1
Capac. in sp irat. — 2,34 1 Vol. reserva expirat. — 2,59 1
APÓS NEBULIZAÇAO
C.V. — 5,08 1 (aum entado de- 45,1%)
VEMS — 2,87 1 (aum entado de 10,7%)
VEMS--------- x 100 — 56,4% (diminuído-
CV de 24,8%)V .M.V. | freq. 40 — 64,6
| ” 44 — 66,4 | ” 56 — 92,8.
CONCLUSÃO
In sufic iên cia ventilatória obstru- tiva de grau m oderado.
Caso 2 M. A .F .45 anos MarítimoFum ante m oderado
(15/dia)
17/05/66 — Traves fibrosas d issem inadas .
27/07/66— N ota-se dim inuição n as lesões tipo fibroso.
05/09/66Vol. corrente — 0,86 1
” m inuto — 11,18. l/m in C.V. — 3,5 1 (aum entado de
0,03%)-VEMS — 2,78 1 (aum entado de
0,07%)VEMS--------- x 100 — 79,5% (au m en ta-
CV do de 0,3%)
V .M .V . 1 freq. 24 — 64,8 1 | 72 — 137,2 1
Capac. inspirat. — 2,21 1 Vol. reserva expirat. — '1,29 I
CONCLUSÃO
Provas ventilatórias n orm ais.
Maio - Junho, 1967 Rev. Soc. Bros. Med. Trop. 83
IDENTIFICAÇÃO RADIOLOGIA PROVAS ESPIROGRÁFICAS
Caso 3 C.O.F.52 anos Funcionário Tabagista regular
(20/dia)
31/01/63 — Processo fibroso no 1/2 superior de am bos pulmões. V elam ento no ápice e região in fraclavicijlar esquerda. Enfisem a bilateral difuso.
24/08/66 — Traves fibrosas in a lteradas. E nfisem a d ifuso.
07/09/66Vol. corrente — 0,62 1
” m inuto — 14,9 l/m in C.V. — 2,41 1 (dim inuído
27%)VEMS — 0,93 1 (dim inuído
61,9%)
VEMS--------- x 100 — 38,6% (dim inuído
CV 47,8%)
V .M .V . í freq. 30 — 24,9 1 | ” 52 — 32,9 1 ! ” 64 — 33,8 1
Capac. inspirat. — 1,1 1 Vol. reserva expirat. — 1,31 1
APÓS NEBULIZAÇÀO
C.V. — 2.84 1 (dim inuído 14%)
VEMS — 1,23 1 (dim inuído 49,6%)
VEMSx 100 — 43,3% (dim inuído
CV 42,5%)
CONCLUSÃO
Insuficiêcia ventilatória obstru- tiva de grau im portante.
Caso 4 J . G .S .42 anos MotoristaTabagista invetera
do ( + 30/dia)
19/8/66 — Condensações estria- das sim étricas, arborescentes dos h ilos.
9 /9 /66Vol. corrente — 0,73 1
” m inuto — 10,37 l/m in C.V. — 4 32 1 aum entado
18,3%)VEMS — 2,98 1 (aum entado
6,3% )
VEMS- - - - - - - - - - x 100 — 73,6% (dim inuído
CV 4,3%)
V .M.V. ! freq. 20 — 52,5 1 1 ” 28 — 63,9 1
1 ” 44 — 75,1 1
CONCLUSÃO
Provas ventilatórias norm ais.Caso 5 J . P .F .55 anos MecânicoA n t i g o tabagis
ta, tendo abandonado o fum o há alguns anos.
22/9/66 — Condensações lineares no 1/3 superior do pulm ão direito. E nfisem a bilateral d iscreto .
14/9/66Vol. corrente — 1,09 1
” m inuto — 10,9 l/m in C.V. — 4.12 1 (aum entado
47,2%)
VEMS — 2 88 I (aum entado 39,1%)
84 Re v. Soc. Bros. M ed. Trop. Vol. I — N» 3
IDENTIFICAÇAO RADIOLOGIA PROVAS ESPIROGRÁFICAS
VEMS--------- x 100 — 69,8% (dim inuído
CV 5,6%)
Capac. in sp irat. — 2,07 1 Vol. reserva exp irat. — 2,05 1
CONCLUSÃO
Não apresenta insuficiência ventilatória .
Caso 6 J . T .C.45 anosFum ante invetera
do ( + de 40/dia)
22/2/54 — Condensações de contornos pouco n ítidos em ambos pulm ões, ao nível das bases e 1/3 m édio.
25/3/66 — Lesões residuais nos terços superiores de am bos pulm ões.
30/9/64 — Lesões fibrosas na m etade sup . am bos pulm ões de perm eio com m odificações en- fisem atosas.
17/3/66Vol. m inuto — 19,8 l/m in C.V. — 4,35 1 (aum entado
8,7%)VEMS — 2,241 (dim inuído
26,8%)VEMS---------x 100 — 56.2% (dim inuidoCV 26,5%)
V .M .V . 1 freq. 22 — 63,6 l/m in ! ” 32 — 77,9 l/m in | ” 44 — 89,9 l/m in
CONCLUSÃO
Insuficiência ventilatória obstra- tiva m oderada.
Caso 7 D.M.43 anosNão h á referência
ao tabagism o.
23/10/64 — Condensações nodula- res esparsas ocupando praticam ente tôda extensão de am bos os pulm ões.
/
13/11/64Vol. m inuto — 7.68 l/m in C . v . _ 3.41 1 (dim inuído 6.6%) VEMS — 2,58 1 (dim inuído 8,1%)
VEMS--------- x 100 — 75.7% (dim inuído
CV 1,7%)
CONCLUSÃO
Provas ventilatórias n orm ais.
Caso 8 Q .S.V.71 anos Doméstica Nega tabagism o.
14/6/60 — A centuação do retí- culo pulm onar, irradiando dos h ilos com franca predom inância das bases, sugestivo de blastom icose .
26/9/66 — Aspecto radiológico norm al
29/9/66 — Lesões fibrosas no áp ice direito.
26/9/66Vol. m inuto — 10 1 C.V. — 1,84 1 (aum entado
8,2%)VEMS — 1.39 1 (aum entado
19%)
VEMS--------- x 100 — 70% (aum entado
CV 2,1%)
V.M .V . 1 freq 20 — 26,9 1 1 ” 30 — 39,6 1 | ” 56 — 58,1 1
CONCLUSÃO
Maio - Junho, 1967 Rev. Soc. Bros. Med. Trop. 85
IDENTIFICAÇÃO RADIOLOGIA PROVAS ESPIROGRÁFICAS
Não apresenta insuficiência ventilatória .
Caso 9 O.G.S.49 anos LavradorTabagista moderado
(15/dia)
13/12/65 — Condensações nodula- res e lineares d issem inadas em ambos pulm ões, predom inando no 1/3 m édio.
28/03/66 — Regressão das lesões an teriores.
24/8/66— M elhora acentuada das lesões nodulares. N otam -se ainda algum as traves e nódulos no 1/3 m édio. E nfisem a bilateral d iscreto .
2/9/66Vol. corrente — 1,38 1 }
” m inuto — 20,7 l/m in C.V. — 4,25 1 (aum entado
4,9%)VEMS — 2,98 1 (dim inuído
2,5%)VEMS--------- x 100 — 70,1% (dm inuído
CV 7,2%)
Canac . in so ira t. — 2.461 1 Vol. reserv. expirat. — 1,78 1
CONCLUSÃO
Não apresenta insuficiência ventilatória .
Caso 10 M.A.C.30 anos Ferroviário Tabagista invetera
do (4- de 30/d ia)
6 /9/63 — Lesões predom inantem ente nodulares, in filtrativas e estriadas dissem inadas, predom inando no pulm ão esquerdo.
8 /6/64 — D esaparecim ento das lesões in filtra tivas. A centuação das lesões estriadas. E n fisem a difuso.
15/9/66 — D im inuição das lesões nodulares. Traves fibrosas d issem inadas. E nfisem a.
16/9/66Vol. corrente — 0,72 1
” m inuto — 12,24 1 C.V. — 4,06 1 (norm al)VEMS — 2.72 1 (dim inuído
15,5%)VEMS
x 100 67% (dim inuído CV 15%)
V.M .V . I freq. 20 — 52,5%I ” 24 — 51,7% j ” 40 — 77,7%
Capac. inspirat. — 2 1 Vol. reserva expirat. — 2,05 1
CONCLUSÃOInsuficiência ventilatória obstru-
tiva de grau discreto.
8G Rcv. Soc. Brcs. M ed. Trop. Vcl. I — N? 3
Coso 1. Radiogrofio em 7-1-65, Lesões m icronodulares, brtoteroh, sim étricas, o rborescentes dos hilos, a ting indo os terços médio e inferior. Lesões in filtra tivas no têrço
superior de am bos pulmões.
Caso 3. R adiografia em 31-1-63. Processo f& roso na m etade superior de am bos pulm ões. V elam ento no ápice e região in frad av ic u la r esquerda. Enfisema b ila te ra l
difuso.
Caso 1. R adiografia em 30-9-66. Lesões nodulares m enos in tensas que nas rad iografias an teriores. N ^tam -se finas traves fibrosas esparsas. Enfisem a b ila te ra l difuso.
Caso 3. R adiografia em 24-8-66. T raves fibrosas in a lte radas. Enfisema difuso.
Maio - Junho, 1967 Rev. Soc. Bras. M ed. Trop. 87
Caro 10. R c d o ^ n f ia em 6-9~63. Lesões p redom inan temente rodu-ores, tr.fJ tra tivos e e s tr a d a s dissem inadas,
p .cdonvnando no pulm ão E.
e inferiores dos campos pulmonares. Observa-se que com a terapêutica as lesões infiltrativas e nodulares foram progressivamente reabsorvidas e, em quase todos os casos, surgiram traves fibrosas. Em 6 casos nota-se o aparecimento de enfisema.
Os casos 2, 4, 5, 7, 8 e 9 apresentam provas ventilatórias normais, embora os doentes 5 e 9 evidenciassem sinais radiológicos de enfisema bilateral. Tal fato não nos surpreendeu, pois um de nós vem tendo sua atenção despertada para casos em que a radiologia é tida como representativa de enfisema pulmonar sem que haja, paralelamente, provas espirográfi- cas tradutoras de tal anarquia pulmonar . Isto vem evidenciar, mais uma vez, a necessidade de serem estabelecidos critérios mais precisos para que seja feito o diagnóstico de enfisema. Por isso, solicitamos a presença dêsses 2 pacientes, a fim de ser complementado o estudo radiológico com incidência em P.A. inspirado e expirado e radiografia de perfil, entretanto os pacientes não compareceram para a complementação.
Caso 10. R adiografia em 15-9-66. Diminuição dcs lesões nodulares. Traves fibroses d issem inadas Enfisema.
As alterações funcionais são mais evidentes nos casos 1 e 3, e discretas nos casos 6 e 10. No caso 1 a nebuliza- ção com broncodilatador não modificou o perfil espirográfico, traduzindo a existência de enfisema pulmonar orgânico, se ajustando à descrição radiológica .
No caso 3 foi observada discreta melhora dos valores dinâmicos e quase normalização da capacidade vital com a nebulização. Entretanto permaneceu a insuficiência obstrutiva, mostrando um comprometimento funcional importante. Também nesse caso existiam sinais radiológicos de enfisema difuso. Apesar da presença de fi- brose nos terços superiores dos hemi- tóraces, a anormalidade registrada é de enfisema orgânico com componente broncoespático parcialmente reduzido com o emprego do isoproterenol.
Os casos 6 e 10 também apresentam insuficiência ventilatória obstrutiva mas em grau discreto, com aspecto radiológico de fibrose e enfisema difusos .
Em suma, as modificações funcionais são predominantemente do tipo
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obstrutivo, com evidências de enfise-, ma pulmonar orgânico, sendo que em alguns casos verificaram-se provas espirográficas normais com radiografias anormais.
Devido às alterações radiológicas acentuadas, com componente fibroso quase constante, era de se esperar maiores modificações espirográficas. Contudo, só o estudo de maior número de casos e a realização de outras
provas funcionais nos permitirão tirar ilações mais fiéis dos danos produzidos pelo Paracoccidioides brasi- liensis sôbre o complexo aparelho respiratório .
As observações registradas são, no entanto, úteis para um estudo mais amplo e conclusivo no futuro e representam uma contribuição à apreciação da B.S.A. sob um prisma muito pouco explorado.
S U M M A R Y
Ten cases of pu lm on ary form of L utz d isease (Sou th A m erican b la stom y- cosis) w ere stu d ieã in correla tion of ch est X -ra y an d sp iro m etry . A li of th em show eã th e classic raãiologic signs of n oãu lar lesions, p a tc h y in filtra tion s, fibrosis anã em p h ysem a . Four cases show eã in su ffic ien cy of ve n tila to ry fun ction , probably deriveã from obstru c tive lesions; how ever, tw o o th er cases w ith X -ray signs of em ph ysem a ã iã n o t show sp irom etric abn orm ality .
The au thors em phasize th e n ecessity o f m ore in vestiga tion on lung funcV on te s ts in a larger n um ber of cases of pu lm on ary b lastom ycosis to es tab lish d efin ite conclusions in th is u nexploreã fie lâ .
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OBITUÁRIO
DR. RAMON AFFONSO ANHEL
A notícia da m orte prem atura de Ram on Anhel ecoou como um dos acontecim entos m ais tristes do primeiro sem estre de 1967, principalm ente entre os sanitaristas brasileiros que com êle conviveram m ais in tim am ente.
A sua vida, in teiram ente dedicada à carreira da Saúde Pública, foi pautada pelos m ais nobres e ed ificantes exem plos de cum prim ento do dever, nas num erosas m issões que lhe foram confiadas. N atural da cidade do Rio de Janeiro, diplom ou-se pela então Faculdade Nacional de M edicina da Universidade do Brasil. Colaborador ativo e dos m ais com petentes dos quadros do Ministério da Saúde, exerceu m arcante papel como técnico da cam panha de erradicação do A. gambiae, no Nordeste do P a ís. Pertenceu aos quadros do antigo Serviço N acional de M alária. Foi chefe da Circunscri- ção do DNERu nos estados do M aranhão e Paraná. Exerceu nos últim os anos as fu n ções de chefe da Seção de E statística e Controle da Divisão de Profilaxia do D epartam ento Nacional de Endem ias Rurais, vindo a morte surpreendê-lo logo depois de a ssumir o espinhoso cargo de diretor da Divisão de Profilaxia do DNERu. Sua m orte deixou um claro difícil de ser substituído nos quadros daquele im portante órgão do M inistério da Saúde.
DR. LOUIS L. WILLIAM JR. EDR. DGNALD B . MC. MULLEN
Infausta notícia a trazida em o número de junho de 1967, do “Tropical N ews”, sô bre a morte de dois em inentes hom ens cuja inteira vida foi dedicada a problem as de saúde pública não som ente da sua pátria, m as tam bém de um a grande parcela da hum anidade.
O Dr. Louis L. Wi l l iam J r ■, cuja morte ocorreu a 6 de m aio do corrente, após arrastada doença, distinguiu-se pela sua atuação no Serviço de Saúde Pública dos EUA, onde galgou a alta posição de chefe
da D ivisão de Saúde Internacional. Notável pesquisador no cam po da Malariologia, exerceu atividades fora de seu país em várias oportunidades. Foi um dos membros honorários da Divisão de M alária dos VII Congressos In ternacionais de M edicina Tropical e Malária, realizados em 1963 no Rio de Janeiro, aos quais en tretanto não pôde com parecer. D epois de aposentado, exerceu até há bem pouco tem po funções de consultoria da O rganização M undial de Saúde, onde prestou relevantes serviços. Foi tam bém Presidente da “Am erican Sc- ciety of Tropical M edicine”, membro de num erosas sociedades cien tíficas, tendo recebido as m ais a ltas condecorações cien tificas que um cien tista pode alm ejar.
O Dr. Donald B . Mc Mullen, cuja inesperada m orte ocorreu a 27 de m aio do corrente ano nos Estados Unidos, foi outro notável e incansável nom e da Tropicologia M édica. O in fausto acontecim ento teve lugar quando o em inente pesquisador participava de uma discussão cien tífica sôbre o tem a de sua predileção — esquistossomose, em um sim pósio.
Sua brilhante carreira de cien tista í& m arcada por num erosos sucessos, tendo exercido, entre outras posições, a de chefe de equipe consultiva sôbre esquistossom ose da O rganização M undial de Saúde, e chefe do D epartam ento de Zoologia Médica do W alter Reed Army In stitu te for Research. Ao falecer, ocupava ainda a função de Presidente da American Society of Parasitolo- gists.
O Dr. Mc M ullen publicou num erosos trabalhos sôbre a sua especialidade, tendo sido autor de notáveis trabalhos sôbre o controle da esquistossom ose. Estêve no Brasil em duas oportunidades, a primeira delas como participante dos VII Congressos In ternacionais de M edicina Tropical e M alária e a últim a h á cêrca de 2 anos, como consultor da R ockfeller Foundation, junto ao In stitu to N acional de Endemias Rurais, por ocasião da elaboração do Projeto Pilôto para o Controle da Esquistossom ose a que deu valiosa colaboração, baseado em sua vasta experiência na m atéria.
J. RO DR IG UE S DA SILVA