Altamina No Contexto Urbano-regional

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artigo que trata da expansão urbano-regional do municipio de Altamira, localizado na Amazônia brasileira.

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  • http://6cieta.org So Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

    ALTAMIRA NO CONTEXTO URBANO-REGIONAL:AGENTES E PROCESSOS NA FORMATAO DE

    UMA CERTA CENTRALIDADE NO RECORTETEMPORAL (1970-2010)

    Jos Antnio Herrera

    Faculdade de Geografia, Campus Universitrio de Altamira

    [email protected]

    Rodolfo Pragana Moreira

    Faculdade de Geografia, Campus Universitrio de Altamira

    [email protected]

    Jos Queiroz de Miranda Neto

    Faculdade de Geografia, Campus Universitrio de Altamira

    [email protected]

    INTRODUO

    Neste texto, discute-se como o municpio de Altamira, no Estado do Par,

    desempenha uma certa centralidade no contexto urbano regional da Regio de Integrao

    do Xingu1 (RI-Xingu). Para isso, utiliza-se dados secundrios e observaes empricas sobre

    os agentes e processos na tentativa de explicitar a importncia que Altamira tem com

    relao rede urbana que compe a RI-Xingu.

    Segundo Souza (2003) a cidade um centro de gesto do territrio. A gesto,

    nesse caso, configura-se a partir da concentrao de empresas, servios, mercados e a

    possibilidade de influenciar culturalmente o campo e as cidades circunvizinhas de menor

    importncia, a partir dos valores da moda, da televiso e dos modos de vida urbano tpicos

    da mundializao capitalista.

    Em uma estrutura macro, o Brasil formado por grande diversidade regional e

    territorial, uma vez que a produo capitalista diferenciou em vrios aspectos as macro

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    regies brasileiras. Vrios estudos tem procurado caracterizar as regies de acordo com

    elementos dspares, no intento de explorar acerca da diversidade e da construo histrico

    social e espacial da populao.

    O processo de urbanizao na Amaznia ganha relevncia, sobretudo, aps a

    dcada de 1970, no qual as cidades comeam a (re)significar suas dinmicas internas e

    externas de acordo com interesses privados e com o avano da fronteira capitalista na

    Amaznia.

    Para subsdio no artigo, sintetizam-se elementos que possibilitam apontar como

    Altamira tem suas dinmicas influenciadas pelas polticas do governo Federal aps 1970,

    que se estruturam sob a gide de polticas de Estado, configuradas pelos sucessivos

    governos militares, alm de caracterizar/diferenciar a dinmica socioeconmica do

    municpio em relao a sua Regio de Integrao.

    O contexto de construo da Rodovia Federal Transamaznica (BR-230) um

    processo vinculado dinmica de desconcentrao industrial que o pas passa na segunda

    metade do sculo XX, sobre o qual Santos e Silveira (2001) tratam quando sistematizam

    reflexes sobre o avano tecnolgico e a nova diviso territorial do trabalho. Nesse sentido,

    importante salientar que o crescimento econmico e a urbanizao fizeram parte de um

    projeto de expanso do capital globalizado e desmistificar que a integrao da Amaznia

    seja constituinte de projetos democrticos ou vinculados a cidadania para essa poro do

    pas.

    Nesse caso, analisar a funo de Altamira no contexto urbano-regional, com a

    centralidade que exerce sob os municpios polarizados, bem como a complexificao

    recente dos agentes e processos na constituio de uma rede urbana, faz parte de um

    importante construto acadmico e social no cerne da compreenso das dinmicas que

    envolvem essa poro da Amaznia Oriental.

    CARACTERSTICAS DA REGIO DE INTEGRAO DO XINGU

    Na tentativa de compreender o aspecto funcional de Altamira em um contexto

    urbano-regional, pondera-se a necessidade de compreender a respeito dos municpios da

    RI-Xingu e das suas principais caractersticas. A RI-Xingu est consorciada a um total de 10

    municpios (Figura 1), com uma populao de aproximadamente 331.770 habitantes em

    2010, o que corresponde a 4,4% da populao do Estado do Par, caracterizando a segunda

    menos populosa (IBGE/IDESP, 2010).

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    Figura 1: Municpios pertencentes Regio de Integrao Xingu.

    Fonte: Instituto de Desenvolvimento Econmico, Social e Ambiental do Par, 2011. Elaborao: Ncleo de PesquisaCientfica, Tecnolgica e Inovao.

    Nestes municpios, h um predomnio da populao urbana sobre a rural, com

    um ndice de 54% em relao populao total da regio, diferente de 2008 em que a rural

    era superior com 55,90% (IDESP, 2011) do total. Entretanto, no interior da RI- Xingu se

    percebe variaes sobre a concentrao da populao no meio urbano ou no meio rural,

    enquanto Altamira (a partir de 2008) apresentou uma populao urbana com ndice de 85%,

    no sentido inverso, Placas tem 80% da sua populao residente no meio rural, no mesmo

    perodo (IDESP, 2011).

    O mote dos dados a respeito da discrepncia da populao por situao de

    domiclio, representa a convergncia de fluxos para a cidade, para os modos de vida urbano,

    especialmente no municpio de Altamira, que polariza os demais. Neste contexto, formata-se

    um papel de centralidade pela concentrao de fluxos, contedos e demandas dos

    municpios circunvizinhos.

    A centralizao aqui tratada um processo espacial que est intricado em

    algumas cidades, e que outras literaturas j trataram. Corra (1997) aborda que a

    centralizao pode ser percebida quando existe a convergncia de fluxos para um

    determinado ponto, por este se dar com externalidades positivas, economias de

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    aglomerao, reas de maior acessibilidade, terminais de transporte e com a diversificao

    de servios em geral. O autor supracitado trata da metrpole, mas isto no quer dizer que as

    caractersticas elencadas no podem ou devem sem encaixar em cidades mdias ou

    intermedirias.

    A rea territorial da RI-Xingu corresponde a 20,10% em relao ao Estado, o que

    configura a regio de integrao com a segunda maior rea e com a menor densidade

    demogrfica de 1,32 hab/Km. Apenas trs (Brasil Novo, Vitria do Xingu e Senador Jos

    Porfrio), dos 10 municpios, so de pequeno porte, pois possuem populao menor que 20

    mil habitantes (13 a 15 mil). Todavia, Altamira, segundo a ltima estimativa (IBGE, 2013),

    ultrapassa a faixa dos 100 mil habitantes, contabilizando 104.000 habitantes, equivalente a

    30% da populao da regio, constituindo uma certa centralidade regional. Na tabela 1

    apresenta-se os nmeros em que aponta para os 30% da populao do Estado na RI Xingu.

    Para alm do nmero da populao o argumento quanto centralidade se d por

    concentrar em Altamira os servios, o mercado, as indstrias, as influncias polticas e a

    reordenao do territrio encontra sua base material no urbano em Altamira. Intensificando

    a funo central exercida junto s demandas das municipalidades circunvizinhas.

    Tabela 1 Populao da RI-Xingu entre 1970 e 2010rea 1970 1980 1991 2000 2010

    Amaznia Legal Urbano 3.063.598 4.964.235 9.380.105 14.366.161 18.294.459

    Rural 5.129.768 6.069.833 7.607.935 6.690.371 7.179.906

    Par Urbano 1.021.195 1.666.993 2.596.388 4.120.693 5.191.559

    Rural 1.145.803 1.736.505 2.353.672 2.071.614 2.389.492

    (RI) Xingu Urbano 7.252 29.504 68.247 114.964 173.359

    Rural 18.209 34.380 142.227 143.014 151.941

    Altamira Urbano 5.905 26.905 50.145 62.285 84.092

    Rural 9.440 19.591 22.263 15.154 14.983

    Fonte: IDESP (2011)

    Em termos de exportao, a RI Xingu dissipa sobremaneira matria prima

    pautada na madeira. No ano de 2010 contabilizou US$ 17,3 milhes, registrando um

    acrscimo de 61,8% em relao ao ano anterior, apesar da crise global de 2009 que

    ocasionou uma reduo substancial na demanda mundial (IDESP, 2011).

    Com relao s estatsticas disponveis sobre as exportaes realizadas em 2011,

    no perodo entre janeiro e agosto, o valor exportado foi da ordem de US$ 7,7 milhes tendo

    registrado um decrscimo de 29% em relao igual perodo de 2010, ou seja, US$ 3,1

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    milhes a menos entre os dois perodos analisados, seja em funo da valorizao cambial

    entre os perodos, seja pela atuao dos rgos de fiscalizao ambiental (IDESP, 2011).

    Com relao ao Indicador de Desenvolvimento Humano, esta regio apresentou

    um ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de 0,68, em 2000, menor que o

    ndice apresentado pelo estado do Par de 0,72, devido principalmente ao baixo

    IDHM/Renda, de apenas 0,60 (PAR, 2010). A baixa renda, principalmente nas cidades de

    menor porte, so evidncias que podem causar um redirecionamento no fluxo populacional

    para Altamira, especialmente pelo avano da urbanizao e das ideias sobre o progresso e a

    centralidade que envolvem aquele municpio.

    Isto posto, tem-se a diferenciao socioespacial como o processo mais geral, que

    caracteriza as cidades desde seus primrdios, que para se concretizar foi preciso que

    houvesse uma diviso social e territorial do trabalho, primeiro em relao ao campo e

    depois no interior delas mesmas e entre elas, o que foi resultando em diferenciaes cada

    vez mais complexas, como afirma (SPOSITO apud MAGRINI, 2012).

    A hiptese gerada com relao ao baixo ndice de renda, sobretudo das

    pequenas cidades, da RI-Xingu, vinculado a sutil dinmica capitalista existente, pois as

    municipalidades ainda mantm tempos de vida lento, vinculados a dinmica do campo e/ou

    do rio, e ainda mantm uma elite sub regional de agropecuaristas que concentram parte da

    riqueza produzida pelos municpios.

    Na tabela 2 exemplifica-se a populao residente censitria nos municpios da RI-

    Xingu (1970-2010), com o intento de qualificar os dados a partir da realidade materializada

    nessa poro do espao amaznico.

    Tabela 2: Evoluo da Populao Residente Censitria (1.000 Hab) segundo Municpio - 1970-2010Municpios rea Territorial km Populao

    1970 1980 1991 2000 2010

    Altamira 159.533 15.345 46.496 72.408 77.439 99.075

    Anap 11.895 0 0 0 9.407 20.543

    Brasil Novo 6.363 0 0 0 17.193 15.690

    Medicilndia 8.273 0 0 29.728 21.379 27.328

    Pacaj 11.832 0 0 30.777 28.888 39.979

    Placas 7.173 0 0 0 13.394 23.934

    Porto de Moz 17.423 7.435 11.807 15.407 23.545 33.956

    Sen. Jos Porfrio 14.374 2.971 6.391 39.010 15.721 13.045

    Uruar 10.791 0 0 25.339 45.201 44.789

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    Vitria do Xingu 3.135 0 0 0 11.142 13.431

    Fonte: IBGE(2010).

    discrepante o crescimento populacional no municpio de Altamira aps 1970,

    mormente pelo fato de congregar parte do fluxo de imigrantes que se deslocavam para essa

    regio do pas por ocasio da construo da Rodovia Federal Transamaznica (BR-230). O

    crescimento populacional sublinha o crescimento do uso dos recursos, dos servios, da

    demanda por indstrias e da intensificao dos fluxos informacionais que precariamente

    envolviam aquela poro do pas.

    A dinmica demogrfica institui-se como dinmica de mercado, provocada e

    provocadora da expanso do capital e da diviso territorial do trabalho. O aumento e a

    diversificao dos agentes gera o aumento e a diversificao da fora poltica e de uma

    complexa rede de relaes sociais. Na cidade, tal dinmica condiciona, reflete, media,

    produz e reproduz modos urbanos arraigados a tcnica e a expanso das desigualdades

    socioespaciais. Nesse caso, possvel concordar com Ferrari (2012, p.48) quando afirma que

    o caos dos tempos e espaos urbanos no um caos qualquer, uma desordem qualquer;

    a prpria ordem do capital.

    Na tabela 3, aborda-se a evoluo percentual na urbanizao dos municpios da

    RI-Xingu no intento de relacion-la a centralidade que Altamira tem em relao aos outros

    ncleos urbanos.

    Tabela 3: Evoluo da Taxa de Urbanizao (em %) segundo Municpio - 1980-2010Municpio 1970 1980 1991 2000 2010

    Altamira 38,48 57,87 69,25 80,43 84,88

    Anapu - - - 32,77 47,87

    Brasil Novo - - - 25,42 43,97

    Medicilndia - - 10,46 31,62 34,98

    Pacaj - - 13,52 26,32 34,39

    Placas - - - 26,38 20,28

    Porto de Moz 17,91 22,02 32,88 43,45 42,95

    Senador Jos Porfrio 12,72 12,64 5,63 33,91 49,6

    Uruar - - 22,76 29,13 54,54

    Vitria do Xingu - - - 35,29 39,92

    Taxa do Estado 47,12 48,98 52,45 66,55 68,48

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    Fonte: IBGE, IDESP (2010)

    Cabe aqui retomar a reflexo feita por Lefebvre (2001) cita, na qual a populao

    tende inevitavelmente a se formatar em uma sociedade urbana, pois, durante longos

    sculos a Terra foi o grande laboratrio do homem, ou seja, a geografia como cincia que

    estudava as dinmicas de ocupao e uso da superfcie da Terra, apenas a pouco tempo

    que a cidade assumiu esse papel. O fenmeno urbano manifesta sua enormidade,

    desconcertante para a reflexo terica, para a ao prtica e mesmo para a imaginao.

    Neste sentido, utiliza-se dos dados exposto na tabela 3, para ratificar o explicitado por

    Lefebvre e que no concreto, constata-se na RI-Xingu, de modo que cidade/urbano torna-se,

    paulatinamente, o centro concentrador das dinmicas regionais.

    Exemplo da relao com o processo de urbanizao que se caracteriza na regio

    est no estudo do PIB que notadamente se observa nas cidades que se assumem o papel de

    centralizadora a concentrao do PIB. Pinheiro et al, 2011, destaca a participao do PIB nos

    municpios de Altamira e Itaituba.

    Na mesorregio sudoeste do estado do Par, os municpios de Itaituba e

    Altamira so os mais representativos em relao ao PIB num intervalo

    intermedirio. A dinmica de atratividade desses polos em sua regio se deve a

    um grande peso de participao do setor de servios na composio do PIB dos

    municpios, particularmente associado prestao de servios ligados

    agricultura, pecuria, explorao florestal, aquicultura e tambm aos

    servios relacionados, como administrao pblica, entre outros, que

    caracterizam o dinamismo dessa regio. (PINHEIRO et al, 2011 p.25).

    Com uma sociedade cada vez mais urbana, observa-se uma certa centralidade

    sub regional, mensurar a desigualdade da evoluo em termos percentuais e absolutos do

    Produto Interno Bruto dos municpios da (RI) Xingu, ratificar o papel de polo regional que

    Altamira tem com os outros nove (9) municpios da regio. Sobre isso, observar o grfico 1

    anexo.

    Entre os municpios que fazem parte da regio de estudo, Senador Jos Porfrio e

    Placas caracterizaram-se como os de menor participao na economia da regio, pois

    representaram 2,53% (R$ 59.772) e 4,03% (R$ 91.480) do PIB, respectivamente, municpios

    caracterizados tambm pela baixa concentrao demogrfica e substancial dependncia do

    setor de servios, agropecuria e administrao pblica. Em contrapartida, Altamira o

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    municpio com maior participao no PIB da Ri-Xingu, em 2011, com aproximadamente

    42,18% (R$ 890.626), dinmica concentrada principalmente no setor de servios.

    De modo geral, o PIB de Altamira ultrapassou trs vezes mais o segundo

    colocado Uruar, justificando a condio de cidade polo. A funo polarizadora de um

    espao sub-regional ocorre concomitantemente a intensificao do processo de

    centralizao e da intensificao da funo dos agentes, a saber: agentes

    privados/empresas, agentes legais, agentes hegemnicos e a construo de agentes

    difusores ou receptores e agentes articulados e desarticulados, noes abordadas por

    Vasconcelos (2011).

    Os dados supracitados possibilitaro, junto a vivncia plural permitida pelo

    crculo acadmico e a prpria literatura, discorrer a respeito da mutao/diferenciao dos

    agentes e processos no interior da RI-Xingu, bem como as variveis constroem uma rede

    urbana complexa nessa poro da Amaznia oriental.

    AGENTES E PROCESSOS NA FORMATAO DE UMA CERTACENTRALIDADE

    Na Amaznia, nos ltimos anos, tem-se percebido a chegada de novos agentes

    que mantm relao com processos de expanso capitalista. Desde a dcada de 1970,

    observa-se transformaes substanciais tanto no campo quanto na cidade, estruturadas

    pelas tcnicas informacionais do capitalismo globalizado.

    Em sntese, busca-se compreender a respeito das desigualdades intricadas na RI-

    Xingu, e como essas foram operacionalizadas pela ao de diferentes agentes e pelo

    (no)favorecimento de diferentes processos poltico-econmicos e sociais na formatao de

    uma rede urbana complexa.

    Souza (2003, p.53) expe a respeito do conceito de rede urbana, no qual mostra

    a proposta de centros de difuso, que quando as cidades se apresentam como suportes

    para a disseminao de bens e ideias ao longo da rede urbana, das cidades maiores para as

    cidades menores, at chegar ao campo. Desse modo, tal estrutura ratifica a desigualdade na

    distribuio dos fluxos e na formatao da centralidade de uma cidade na rede.

    A importncia de entender sobre a influncia que umas cidades exercem sobre

    outras, no sentido de desvelar a relao de gesto, de produo e de consumo nas

    diferentes funes da(s) cidade(s) na rede urbana. Para tanto, a totalidade dessas funes

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    relacionam-se, mesmo que parcialmente, aos agentes e processos desenvolvidos por todas

    as esferas da vida social em cada contexto, principalmente no meio urbano.

    Neste ensaio, observou-se a centralidade referida a Altamira, seja pelo processo

    de urbanizao ou dos convergentes fluxos econmicos que se direcionam para o

    municpio, junto ao aumento populacional e as dinmicas vinculadas e perpetuadas pela

    construo da (BR-230). Para tanto, importante compreender que:

    A noo de centralidade aqui tratada busca ultrapassar a dimenso econmica

    dos fluxos que definem a importncia das cidades mdias. Nessa perspectiva,

    alcana tambm a noo de centralidade poltica, que, na presente discusso,

    sugere-se estar presente na caracterizao dessas mesmas cidades, quando

    estas assumem a condio de centros urbanos sub-regionais face

    reestruturao da rede urbana amaznica (TRINDADE JR, 2011, p.3)

    No fragmento anterior, ao abordar sobre cidades-mdia na Amaznia, o autor

    faz referncia funo poltica da centralidade. No caso de Altamira, assevera-se que

    necessrio aprofundar as anlises para identifica-la como cidade mdia, mesmo essa j

    apresentando traos similares a esse marco terico-conceitual.

    Independente da identificao ou no do tamanho das cidades, os processos

    econmicos/produtivos caracterizam alguns dos agentes existentes no meio urbano, como

    os mencionados: agentes privados/empresas, agentes legais, agentes hegemnicos e a

    construo de agentes difusores ou receptores e agentes articulados e desarticulados.

    Um dos agentes hegemnicos histricos da RI- do Xingu, diz respeito elite

    agropecuria, que na Amaznia bastante representativa, no entanto, a funo dos agentes

    da indstria tem crescido nos ltimos anos. Ambos os agentes, so resguardados por

    agentes legais, ou seja, o Estado e suas subdivises. O setor de servios pode at ser o que

    agrega mais populao economicamente ativa e o maior nmero arrecadao, no entanto,

    este, composto por uma quantidade/qualidade enorme de agentes no processo decisrio,

    que pode, relativamente, subdividir seu poder econmico e poltico.

    No grfico 2 (anexo) mostra-se o valor adicionado bruto a preos correntes da

    indstria (Mil Reais) referentes aos municpios da RI-Xingu. No qual se objetiva mostrar a

    concentrao histrica desses agentes (da indstria) no municpio de Altamira.

    Percebe-se, no perodo marcado, que o setor industrial de Altamira arrecada

    mais riqueza que o mesmo setor em relao a todos os outros municpios da RI-Xingu. No

    ano de 20111, em relao aos dois antecessores, ocorre o aumento de 120,92% do setor na

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    cidade polo. Essas afirmativas possibilitam, de acordo com a literatura, a ampliao do papel

    de Altamira como centro difusor de agentes hegemnicos e privados, mormente baseado na

    indstria, entendida como smbolo da modernizao pelos discursos oficiais.

    A convergncia de fluxos possibilita a notabilidade/agrupamento de agentes

    articulados e difusores, para Altamira, em detrimento dos agentes desarticulados e

    receptores para os demais municpios, de forma descontinua, caracterizando,

    paulatinamente, desigualdades urbano-regionais notveis intricadas na RI-Xingu.

    Ao tratar da de certa centralidade exercida por Altamira no contexto das cidades

    circunvizinhas, estrutura-se o imaginrio de atraso designado a RI-Xingu e ao Sudoeste do

    Estado do Par, por no ser composto, substancialmente, por um relevante polo industrial

    e/ou de explorao mineral no Estado.

    Com este estudo, foi possvel mostrar, brevemente, que a rede urbana contida

    na RI-Xingu tem carter complexo. No qual, Corrobora-se com Corra (1989), para quem a

    rede urbana complexa apresenta diferentes padres de localizao dos centros urbanos,

    diversificao e complexificao das funes urbanas desempenhadas pelas cidades, grau

    de desigualdade relativamente acentuado e um padro de localizao baseado por

    processos histrico-econmicos diferenciados.

    Os agentes e processos se tornam progressivamente mais complexos e

    desigualmente distribudos na cidade polo, o que permite inferir sobre a desigualdade

    urbano-regional como um forte desafio para se planejar/executar polticas pblicas para o

    desenvolvimento urbano-regional.

    ALGUMAS CONSIDERAES

    Refletir sobre a (des)organizao causada pelos processos urbanos num

    determinado contexto sub regional requer, sobretudo, cautela. A tentativa de analisar

    mltiplas municipalidades com construes histrico-econmicas diferenciadas,

    estruturadas em espaos dspares e descontnuos, desafiador. Percebeu-se que os agentes

    urbanos caracterizam uma complexa teia poltico-econmica na formatao das

    desigualdades urbano-regionais. Dessa maneira, a concordncia com Trindade Jr. (2011)

    quando ratifica que a Amaznia pode ser compreendida a partir de uma urbanodiversidade,

    como relatara:

    De maneira geral, entretanto, recorrente a leitura da realidade regional como

    se as cidades no assumissem tanta importncia, ou ainda, como se diferentes

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    tipos e nveis de cidades no compusessem a urbanodiversidade regional, termo

    aqui utilizado para identificar as diferentes e plurais realidades urbanas da

    regio. De forma diferenciada, busca-se aqui trilhar um caminho em que seja

    possvel falar de uma Amaznia urbana e, mais do que isso, de uma Amaznia

    onde a diversidade de pequenas e mdias cidades desperte ateno na

    compreenso do atual quadro regional (TRINDADE JR, 2011, p.3).

    na complexidade do quadro regional da RI-Xingu que identificou que os

    agentes hegemnicos, privados, difusores e articuladores concentram-se, especialmente, na

    cidade polo, ou seja, Altamira, e que os demais municpios tem menor importncia no

    quadro de deciso regional, pois, a importncia dos fluxos econmicos e da essncia poltica

    menos densa nas outras municipalidades.

    A distribuio desigual de agentes e servios por entre a RI-Xingu faz parte do

    planejamento de outro agente macro estrutural, os agentes legais, ou seja, o Estado e suas

    subdivises. So essas instituies que favorecem ou no umas cidades em detrimento de

    outras, construindo um contexto desigual de modernizao e desenvolvimento regional.

    Como exposto, este ensaio estabelece um marco na interpretao da dinmica

    urbana-regional vivenciada na RI-Xingu, em especifico como Altamira assume o papel de

    centralidade na rede de cidades configurada a partir dos projetos de colonizao dirigidos

    pelo Governo Federal na dcada de 1970. Neste sentido evidenciou-se que ao passo em que

    a rede de cidades torna-se mais complexa, agentes hegemnicos estabelecem e intensificam

    suas aes na cidade de Altamira de modo a proporcionar o controle, principalmente sobre

    os servios bsicos populao. Logo a os agentes e processos ao condicionarem a

    centralidade proporcionam cada vez mais as mltiplas desigualdades tanto na cidade de

    Altamira quanto entre as municipalidades que compem a RI-Xingu. Fica como ao da

    pesquisa entender como os muncipes de Altamira compreendem a rede de cidades

    estabelecida na RI-Xingu e como esses percebem a centralidade que exerce Altamira em

    relao aos demais municpios que formam a rede.

    REFERNCIAS

    CORRA, Roberto Lobato. A Rede Urbana. SoPaulo: Editora tica, 1989.

    ______. O espao Urbano. So Paulo, tica. 1997.

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    IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia eEstatstica. Srie Censos. Disponvel em:HTTP://www.ibge.gov.br/. Acessado em:10/08/2011.

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    SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: territrio esociedade no incio do sculo XXI. EditoraRecord, So Paulo. 2001, 471p.

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    ANEXOS

    Grfico 1: Produto Interno Bruto dos municpios da RI-Xingu.

    Fonte: IDESP (2011).

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    Grfico 2: Valor Adicionado Broduto dos municpios da RI-Xingu.

    Fonte: IDESP (2011).

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    ALTAMIRA NO CONTEXTO URBANO-REGIONAL: AGENTES E PROCESSOS NA FORMATAO DE UMA CERTA CENTRALIDADE NO RECORTE TEMPORAL (1970-2010)

    EIXO 3 Desigualdades urbano-regionais: agentes, polticas e perspectivas

    RESUMO

    Este ensaio marca o exerccio do Grupo de Estudo GEDTAM em compreender as

    transformaes ocorridas na Regio de Integrao do Xingu (RI-Xingu), sobremaneira a partir das

    influencias dos grandes projetos pensados externamente para Amaznia. Em especifico, no

    escopo deste texto, discute-se como o municpio de Altamira, no Estado do Par, desempenha

    uma certa centralidade no contexto urbano-regional da Regio de Integrao. Para isso, utilizou-se

    nesta primeira reflexo dos dados secundrios, disponveis em fontes oficiais para caracterizar a

    RI-Xingu. Com intuito de explicitar a importncia que Altamira tem com relao rede de cidades,

    rede urbana, que compe a RI-Xingu, buscou-se discutir a partir da leitura sobre a cidade como

    um centro de gesto do territrio, de concentrao de empresas, de servios, de mercados e

    como difusora de um espao polarizado, dividido junto as cidades circunvizinhas de menor

    importncia. Alguns estudiosos tem procurado caracterizar a regio a partir dos elementos

    dspares, explicitando a diversidade na construo histrico social e espacial da populao. O

    processo de urbanizao na Amaznia, ganha relevncia, sobretudo aps a dcada de 1970, no

    qual as cidades comeam a resignificar suas dinmicas (processos) interno-externas de acordo

    com interesses privados e do avano da fronteira capitalista. Neste sentido, sintetiza-se elementos

    que possibilitam apontar como Altamira tem suas dinmicas alteradas aps 1970, considerando a

    influencia exercida pelas polticas Federais. Assim se faz, por acreditar que ao analisar a

    funcionalidade de Altamira no contexto urbano-regional, a partir da centralidade exercida, pode

    ser funcional na ora planejar novas polticas pblicas para regio. A iniciativa provocar

    interpretaes crticas a respeito das transformaes nas dinmicas locais e proporcionar

    elementos que subsidiem reflexes sobre os agentes, processos e dinmicas que envolvem o

    espao urbano-regional na Amaznia. O ensaio tem sua organizao vinculado as pesquisas e

    reflexes possibilitadas com os trabalhos do Grupo de Estudo Desenvolvimento e Dinmicas

    Territoriais na Amaznia (GEDTAM), o qual busca reafirmar o compromisso social da Universidade

    (UFPA) como forma de insero nas aes de promoo e garantia dos valores democrticos, de

    igualdade e desenvolvimento social. Para execuo da pesquisa o grupo possui auxlio financeiro

    do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolgico - CNPq e Fundao Amaznia

    Paraense de Amparo Pesquisa FAPESPA.

    Palavras-chave: Amaznia; rede urbana; rio Xingu.

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    ALTAMIRA NO CONTEXTO URBANO-REGIONAL: AGENTES E PROCESSOS NA FORMATAO DE UMA CERTA CENTRALIDADE NO RECORTE TEMPORAL (1970-2010)IntroduoCaractersticas da Regio de Integrao do XinguAgentes e processos na formatao de uma certa centralidadeAlgumas ConsideraesRefernciasAnexosRESUMO