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INCÊNDIOS
Logo a seguir à tragédia
de Pedrógão Grande, o
primeiro-ministro pediu ao
professor Domingos Xavier
Viegas, do Centro de Estudos
sobre Incêndios Florestais
da Universidade de Coimbra, um
estudo sobre o comportamento
do fogo. A equipa de 14 pessoas
foi mais longe e mostrou o que
falhou na segurança das pessoas.
Em conversa com o PÚBLICO na
véspera do Conselho de Ministros
que vai decidir que reformas vão
ser feitas, o perito em incêndios
alerta para soluções “oportunistas”
e que parecem “salvadoras”, mas
não o são. E entra em choque com
algumas das recomendações da
Comissão Técnica Independente.
Pode explicar às pessoas o
Entrevista Liliana Valente
Algumas propostas dos técnicos são “um absurdo”Domingos Xavier Viegas Especialista em incêndios diz que em 2003 teve pesadelos com o mapa de Portugal a arder. “Foi isso que aconteceu a 15 de Outubro”. O perito discorda de algumas soluções que podem ser hoje aprovadas pelo Governo
porquê de este fogo ter sido
excepcional?
Neste incêndio houve coisas
que foram fora do comum, pelo
menos para nós, que estudamos
o comportamento extremo do
fogo. Por exemplo, a interferência,
a interacção entre uma trovoada
e um grande incêndio. Este
incêndio teve uma particularidade
dramática, relativamente grave,
que foi a aproximação da trovoada.
O que fez? Fez incidir sobre o
incêndio correntes descendentes, o
tal downburst.
Esse fenómeno não era
previsível?
Eram previsíveis as condições
meteorológicas, não o efeito.
Que havia trovoada, sabia-se, que
se estava a deslocar, também.
Penso que não há ainda dentro
da estrutura a percepção da
gravidade de uma situação destas.
Pesquisámos literatura e não
encontrámos muitos trabalhos. São
muito poucos os casos.
O que aconteceu este fi m-de-
semana é de natureza diferente?
Penso que sim. Se o episódio de
Pedrógão já nos tinha causado um
grande choque, este agora é de uma
dimensão que ainda não recuperei
dele. Vamos analisá-lo. Aquilo que
se me afi gura é que havia uma
situação de vento muito forte.
Por causa do furacão Ofélia?
Admito que sim. Vento quente,
seco e forte. Em Pedrógão, quando
o incêndio começou, não havia
praticamente vento, manifestou-
se com a entrada da trovoada e
o vento que o próprio incêndio
gerou. Fazendo o paralelo com
o 15 de Outubro, esse vento forte
fez com que focos de incêndio se
propagassem rapidamente e com
projecções que se espalharam
por territórios imensos. Fiquei
impressionado ao ver as imagens
comportamento do fogo que ainda
estamos a investigar.
Quais?
Uma coisa que não é muito
conhecida, mas que é um
fenómeno que temos vindo a
identifi car ao longo dos anos, que é
o encontro de frentes de incêndio.
E aqui neste incêndio houve dois,
o de Escalos Fundeiros e o de
Regadas, que se desenvolveram
independentemente e, a certa
altura, encontraram-se. Quando
dois fogos se encontram, geram
entrecorrentes de convecção
muito violentas e muito fortes,
dão origem a tornados de fogo
e de vento. Localizámos onde
se deu esse encontro e onde se
desenvolveram esses tornados.
A existência desse segundo fogo
foi uma novidade. Acredita que
se tivesse sido dada importância
a esta ocorrência, teria
acontecido o que aconteceu?
das áreas ardidas.
Tivemos duas catástrofes
de natureza diferente. Há a
possibilidade de se repetirem,
com outras características?
Diria que sim. Há um elemento
que é comum a Pedrógão e a
15 de Outubro, que é a seca. Os
combustíveis estão extremamente
secos. Monitorizámos a humidade
dos combustíveis e na quinta ou
sexta-feira, na Lousã, a humidade
era de 4%, que é um valor
baixíssimo. Correspondem a
condições catastrófi cas.
Acabou por alargar o seu
relatório. Achávamos que seria
apenas sobre o comportamento
do fogo...
O comportamento do fogo é, por
assim dizer, a nossa especialidade,
mas trabalhamos também as
áreas da segurança pessoal e
a prevenção, protecção das
comunidades. Há aspectos do
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Admito que as coisas poderiam ter
sido diferentes. Se for reconhecida
uma nova ocorrência, o comando,
de acordo com os procedimentos,
precisa de outro ataque inicial.
Mas esse alerta não existiu?
Foi detectada pelos bombeiros.
Foi lá um bombeiro para
reconhecimento e que disse que
estava fora de controlo. Mas não
tinham meios para colocar. Se
tivesse sido reconhecido como
uma nova ocorrência, poderiam
ter vindo meios aéreos que
estavam a actuar no incêndio ao
lado, em Góis, e poderiam ter sido
divergidos para lá.
Durante duas horas não houve
ataque aéreo, entre as 16h e as
18h. Isso fez toda a diferença?
Naturalmente. No incêndio
de Escalos, houve dois meios
aéreos no início e retiraram-se.
Infelizmente esse tempo foi crucial.
Nesse período de tempo o incêndio
poderia ter sido controlado. Mas
também devo reconhecer que estes
dois meios não eram sufi cientes.
Seriam necessários mais meios
aéreos e terrestres.
Foi uma questão de
incompetência do comando, de
desconhecimento?
Falamos bastante no relatório que
temos de ter mais qualifi cação
e uma maior uniformidade na
preparação dos quadros de
comando. Na fase inicial do
incêndio, não houve a percepção
da gravidade, embora ela tenha
sido reconhecida nas primeiras
abordagens. Mas o que não houve
foi a capacidade de traduzir isso
com veemência para o comando
nacional no sentido de serem
alocados meios. No incêndio do
lado foram pedidos esses meios
mais ou menos a essa hora.
E são dois comandos diferentes,
um é de Leiria e outro de
Coimbra...
E foram alocados dois Canadair
para esse incêndio. Ironicamente,
esses Canadair quando iam
abastecer à Barragem do Cabril
passavam por cima do incêndio de
Escalos. Confrontámos o comando
nacional com essa realidade. Se
havia ali um incêndio grave, por
que não agiam lá.
O que lhe respondeu?
Dizia que não podem andar a
saltitar com meios de um lado para
o outro. Por outro lado, a doutrina é
também que se há um incêndio que
se está a atacar, tem de se resolver
esse, porque senão temos dois
grandes incêndios. (...) É preciso
dizer que os bombeiros lutaram
com uma valentia... Tenho um
grande respeito por estes homens.
Diz que tem muitas reservas
sobre as opções de evacuações
compulsivas. Mas não foi isso
que salvou muitas pessoas nos
fogos do Verão?
A evacuação resolve o problema
da salvaguarda da segurança das
pessoas, desde que seja feita com
tempo, porque também houve
evacuações feitas tardiamente que
acabaram por pôr em perigo não só
as forças que estão a fazê-lo como
as pessoas. A nossa realidade é
que as casas são de algum modo
resistentes e se há pessoas que têm
capacidade psicológica e física para
fi car e resistir, essas pessoas devem
permanecer.
A nossa Protecção Civil, apesar de todo o descalabro que houve, deu provas ao longo destes anos. Tem de ser mais bem estruturado, mais bem qualificado, mas não é coisa para deitar fora
Tem de se ter muito cuidado e discernimento em distinguir o trigo do joio e não ir atrás de ideias oportunistas, de coisas que podem parecer salvadoras
RUI GAUDÊNCIOAs reformas para evitar estas
tragédias não foram feitas?
Não podemos só pensar nas
entidades e nas instituições.
Claro que têm um papel e são
responsáveis e têm de olhar para
o problema de maneira diferente.
Temos de olhar para as pessoas.
Se olharmos para a paisagem aqui
à volta, as condições estão lá para
acontecer exactamente a mesma
coisa. E o que estamos a fazer?
Aqueles armazéns que há nas casas
cheios de lenha, com vegetação à
volta. As pessoas viram isto arder
em Pedrógão. O que fi zeram de
Junho até Outubro? Muito pouco.
Houve queimadas...
Por exemplo. Temos de repensar,
temos de reestruturar os
espaços rurais de uma forma
completamente diferente. Como
pode haver uma zona industrial
que está rodeada de pinheiros, que
não tem qualquer defesa?
O Conselho de Ministros vai
decidir sobre que caminho
tomar...
Tem de se ter muito cuidado e
discernimento em distinguir o
trigo do joio e não ir atrás de ideias
oportunistas, de coisas que podem
parecer salvadoras.
Está a falar da ideia de dar mais
dinheiro a bombeiros?
Isso é fácil e se calhar é preciso
fazer-se, mas não pode ser
exclusivamente isso. Qualquer
reforma que seja feita não pode
excluir as coisas boas que o sistema
tem. Neste momento, a nossa
Protecção Civil, apesar de todo
o descalabro que houve, é um
serviço válido, deu provas ao longo
destes anos. Tem de ser mais bem
estruturado, mais bem dotado,
mais bem qualifi cado, mas não é
coisa para deitar fora.
Concorda com as
recomendações da comissão
técnica?
A comissão técnica propõe a
criação de uma agência para gerir
prevenção e combate, inclusive
vai ao ponto de recomendar que
seja gerida por técnicos fl orestais.
Que haja essa junção e articulação
das duas tarefas, parece-me bem.
No nosso relatório falamos de
um plano de gestão de incêndios
fl orestais que olhe para isto no seu
conjunto. Tem de haver alguma
estrutura que esteja por cima.
Parece-lhe que aquelas
recomendações vão longe de
mais?
Participei num processo em 2006
e houve uma recomendação de
criar-se os bombeiros fl orestais.
Confesso que critiquei muito essa
medida e se é isso que está a propor
agora, tenho sérias reservas.
Bombeiros na prevenção e
depois no combate?
Proponho que aquilo que já
existe seja melhorado. Temos
bombeiros que têm experiência
no combate a incêndios fl orestais
e que sabem combater incêndios
em casas. Temos sapadores
fl orestais que trabalham todo o
ano na fl oresta e podem fazer
trabalho de prevenção. O Instituto
de Conservação da Natureza e
da Floresta (ICNF) devia cuidar
mais dessa força, que existe,
que é numerosa, mas que não
está devidamente treinada
e enquadrada. Claro que os
bombeiros têm de trabalhar em
conjunto com eles, mas não vamos
estar a pôr os bombeiros a fazer
limpeza da fl oresta quando já
temos uma força que faz isso.
Há mais alguma proposta que
lhe mereça atenção?
Há uma situação que é um absurdo,
que é a de ter num incêndio
bombeiros que vão combater o
fogo na fl oresta e bombeiros que
vão defender as casas. Porquê?
Na nossa fl oresta, há casas por
todo o lado. Se um incêndio está a
defl agrar e chegar ao pé das casas,
vamos fazer o quê? Vamos esperar
que cheguem os bombeiros para
proteger aquela casa? É absurdo.
A comissão técnica propõe a
separação entre a protecção das
pessoas e o combate ao fogo...
Se é essa a ideia, que já foi
apresentada há uns anos, estou
completamente em desacordo.
Veja-se o caso do dia 15 de Outubro.
Alguém podia estar no meio da
fl oresta a atacar o fogo? Da mesma
forma que os bombeiros se retiram
para proteger as casas, porque
têm mais prioridade, também é
uma segurança para eles. Vou mais
longe: aquilo que temos assistido
nos últimos anos da parte do
sector fl orestal, do ICNF é que se
tem alheado completamente deste
problema. Tem-se afastado deste
problema.
Ler entrevista na íntegra emwww.publico.pt
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INCÊNDIOS
“Verificámos, com tristeza, que faltou socorro”
Xavier Viegas conta casos
de pessoas que poderiam
ter sido salvas ou, pelo
menos, ter visto o seu
sofrimento apaziguado. O
perito varreu o território
com a Polícia Judiciária logo no
dia a seguir ao incêndio e concluiu
que, além das falhas de combate,
houve várias falhas no socorro
prestado às populações.
No relatório, diz que não foi
feita uma busca e salvamento
em larga escala e que, se
tivessem existido, poderiam ter
sido evitadas algumas mortes.
O que quer dizer com isto?
Relatámos cada um dos acidentes
das vítimas e casos de pessoas que
sobreviveram, que passaram pelas
mesmas circunstâncias daquelas
que morreram. Parece-nos
importante conhecer as decisões
correctas ou menos correctas,
e às vezes ditadas até por factos
completamente fortuitos.
Diz que o socorro não foi
planeado e que se poderiam ter
evitado vítimas. Quer precisar?
Nós verifi cámos, com tristeza, que
faltou socorro.
O socorro falhou?
Faltou algum socorro. E depois
houve algum socorro que foi feito,
por vezes, até de moto próprio.
No nosso relatório referimos três
casos de pessoas que, no nosso
entender, foram heróis. São
pessoas que salvaram feridos,
que levaram queimados, que os
retiraram do fogo e os levaram
para um sítio seguro. Tanto quanto
sei, todas essas pessoas estão fora
de perigo.
São heróis desconhecidos?
Um deles é o adjunto Sérgio
Lourenço, dos bombeiros de
Pedrógão, outro é o comandante
Pedro Nunes e outro é um civil,
médico, Nuno Moisés. Haverá
mais. O Sérgio [Lourenço] meteu-
se num carro e salvou três pessoas
que tinham tido um acidente.
Meteu-as no carro e levou-as para
o hospital, no meio de várias
peripécias. Depois, voltou à
procura de mais e salvou mais
duas ou três pessoas. É importante
que o país saiba, porque no meio
desta tragédia toda houve muitas
situações de grande altruísmo e de
heroísmo. Tristemente, sabemos
de outros casos em que as pessoas
estariam feridas, não estavam
queimadas, nem carbonizadas,
mas estavam vivas, e que não
foram socorridas a tempo.
Porquê?
O caso mais dramático, de uma
morte que se poderia ter evitado, é
o de uma senhora cega que estava
em casa. Teve difi culdade em
perceber o que se passava à volta
dela. A casa dela arde, não no dia
17, mas no dia 18 de madrugada.
A casa desaba e ela morre. Um
outro casal morreu dentro de
casa. Morreram intoxicados.
A casa ardeu uma parte, mas
ADRIANO MIRANDA
onde eles estavam não estava
queimado. O fi lho desse casal foi
lá às 9h30 e encontrou os pais
mortos. Se houvesse socorro, uma
comunidade que reconhecesse
que estavam ali aquelas pessoas,
possivelmente poderiam ter ido lá
resgatá-los.
Por que acha que não
aconteceu essa operação de
socorro de larga escala, depois
das 22h? O comando não estava
preparado? Houve mais mortes
que poderiam ter sido evitadas?
Há o caso do bombeiro que
morreu mais tarde. Nesse caso,
se tivesse socorro antes, admito
que poderia ter-se salvado ou
minimizado sofrimento. Tive
oportunidade de falar com os
sobreviventes e disseram-me
que estavam com um grande
sofrimento, com dores horríveis e
não havia morfi na em Castanheira
de Pêra para atenuar as dores.
Tiveram o acidente às 20h, 20h15,
só receberam uma injecção de
morfi na às 4h da manhã.
Houve, aliás, um caso de um
bombeiro que andou várias
horas sem chegar ao hospital...
Não conseguimos apurar isso
em detalhe. Fizemos perguntas
ao hospital de Coimbra, ao
INEM. É de referir que o INEM
nunca nos respondeu sobre as
perguntas no geral que fi zemos.
Tentámos perceber como tinha
sido o socorro, como tinha sido
a distribuição dos feridos, como
as pessoas tinham sido levadas
daqui para ali. Para o caso dos
bombeiros, quisemos apurar mais
em detalhe, porque soubemos
que houve algum desconcerto no
transporte das pessoas.
O INEM não colaborou consigo?
Não. Tínhamos recebido um
ofício a dizer que estavam a
analisar as circunstâncias em
que nos poderiam responder.
Curiosamente, só no dia a seguir
à divulgação do relatório recebi
outro ofício a dizer que estavam
disponíveis.
Já morreram mais de 100
pessoas em quatro meses. Por
que morreram tantas pessoas?
Estamos a falar de negligência?
É difícil perceber, mas, por outro
lado, também temos de perceber
que um incêndio pode fazer isto
quando se propaga — e estamos
a falar de dois episódios com
condições catastrófi cas. O dia
15 ultrapassou tudo aquilo que
podemos imaginar. Acompanhei
os incêndios de 2003 e publiquei
um livro sobre os incêndios e
lembro-me de escrever que, às
vezes, tinha pesadelos e pensava
ver o país todo a arder. Imagine
o mapa do país e uma frente a
varrer o mapa. Foi essa a sensação
que tive em 2003, e isso foi o que
aconteceu no dia 15 de Outubro.
Mas não aceita a inevitabilidade
dessas mortes?
Não aceito. Não aceito. O que
eu acho é que, apesar de estes
incêndios serem graves, fala-se
de aprender lições. Mas onde está
essa aprendizagem?...
O que eu acho é que, apesar de estes incêndios serem graves, fala-se de aprender lições. Mas onde está essa aprendizagem?...
Entrevista Liliana Valente
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José Artur Neves à frente da Protecção Civil no Governo
José Artur Tavares Neves é o
novo secretário de Estado
da Protecção Civil, pasta
que volta a ter esta deno-
minação, no Ministério da
Administração Interna, ago-
ra ocupado por Eduardo Cabrita, em
substituição de Constança Urbano
de Sousa, que se demitiu na quarta-
feira. O novo governante substitui
Jorge Gomes, o anterior secretário de
Estado da Administração Interna, que
caiu com a demissão da ministra.
José Artur Tavares Neves foi pre-
sidente da Câmara de Arouca entre
2005 e 2017, saindo por limitação
de um mandato durante o qual en-
frentou violentos incêndios, espe-
cilmente no ano passado.
Na Secretaria de Estado Adjunta
e da Administração Interna perma-
nece Isabel Oneto, que manterá, as-
sim, a tutela das forças de segurança,
da segurança interna e da gestão de
património e orçamental. Não se ve-
rifi ca assim a separação desta pasta
em duas secretarias, o que chegou
a ser pensado, tal como o PÚBLICO
ontem noticiou.
Igualdade na PresidênciaA outra nova secretária de Estado é
Rosa Monteiro, que substitui Cata-
rina Marcelino como secretária de
Estado para a Cidadania e a Igualda-
de. A novidade neste domínio é que
esta secretaria de Estado passa para
a tutela da ministra da Presidência
e da Modernização Administrativa,
Maria Manuel Leitão Marques, e sai
da esfera do ministro adjunto, onde
estava com Cabrita.
O novo ministro adjunto do pri-
meiro-ministro, Pedro Siza Vieira,
passará a ter só um secretário de
Estado na sua dependência, o das
Autarquias Locais, lugar que conti-
nua a ser ocupado por Carlos Miguel.
Esta permanência indicia que a des-
centralização continuará a ser um
pelouro do ministro adjunto. Ou seja,
a reforma da descentralização será
agora negociada por Siza Vieira com
os partidos parlamentares e com a
Associação Nacional de Municípios
Portugueses.
Os nomes dos novos secretários de
Estado foram ontem, ao fi m da tarde,
aceites pelo Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, depois de
lhe serem enviados pelo primeiro-
ministro, António Costa, quando es-
te aterrou vindo de Bruxelas, onde
participou na reunião do Conselho
Europeu. Depois de serem empossa-
dos pelo Presidente (hoje, às 9h), no
Palácio de Belém, os dois ministros,
Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira,
seguirão para a residência ofi cial do
primeiro-ministro, onde decorrerá,
a partir das 10h30, o Conselho de
Ministros extraordinário destinado
a aprovar diversas resoluções estru-
turadoras que verterão as orienta-
São José Almeida
STEPHANIE LECOCQ/EPA
Costa só enviou nomes a Marcelo após regressar do Conselho Europeu
ções sobre a reforma da política de
protecção civil, de prevenção e de
combate aos incêndios.
Estas resoluções serão o ponto de
partida para a aprovação de legisla-
ção que leve à prática a reformulação
das estruturas e das lógicas que têm
presidido ao sector nos últimos anos
e que foi imposta pelas tragédias de
Pedrógão Grande e de Góis em Julho,
e a do passado fi m-de-semana, das
quais resultaram já mais de uma cen-
tena de vítimas. Uma imposição que
foi ampliada pessoalmente pelo Pre-
sidente da República, Marcelo Rebe-
lo de Sousa, na comunicação ao país,
ao pedir prioridade e urgência para
esta reestruturação de políticas.
As leis que estruturarão esta refor-
ma — ou, pelo menos, a sua grande
maioria — não serão aprovadas ho-
je e sê-lo-ão nos próximos tempos.
Do Conselho de Ministros sairão as
linhas-base de orientação adopta-
das do relatório da Comissão Téc-
nica Independente em áreas como
comunicações, meios aéreos, qua-
lifi cação de agentes e mecanismos
de prevenção.
Isabel Oneto continua como secretária Adjunta e da Administração Interna e Carlos Miguel mantém as Autarquias Locais. Rosa Monteiro na Igualdade
44é o número actualizado ontem de vítimas mortais dos incêndios de domingo. Vêm somar-se aos 64 mortos provocados pelos incêndios da zona de Pedrógão Grande, em meados de Junho.
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INCÊNDIOS
É preciso acabar com nomeações políticas nos cargos intermédios da Protecção Civil
Portugal não conseguirá dar
resposta a tragédias como as
de Pedrógão Grande e dos
incêndios do passado fi m-
de-semana se não alterar
radicalmente a estrutura
operacional da Autoridade Nacional
de Protecção Civil (ANPC). Acabar
com as nomeações políticas para os
cargos de nível regional, assegurando
que são ocupados “por profi ssionais
recrutados por concurso público,
em função de um perfil técnico
previamente defi nido”, é um dos
caminhos apontados no relatório
em que o Centro de Estudos e
Intervenção em Protecção Civil
(CEIPC) analisa o (tanto) que correu
mal no combate aos incêndios de
Pedrógão.
À medida que o fogo avançava,
alastravam também no sistema de
Protecção Civil montado para com-
batê-lo “situações de total descontro-
lo, motivadas pela insufi ciência ou
mesmo a inexistência de planeamen-
to”, lê-se no relatório, que aponta o
dedo às “inúmeras fragilidades” da
estrutura da ANPC, associadas “ao
défi ce de capacitação dos elementos
da ANPC responsáveis pelo comando
e controlo das operações”.
Esta impreparação dos profi ssio-
nais deve-se, segundo o presidente
do CEIPC e coordenador deste estu-
do, Duarte Caldeira, ao facto de os
cargos viverem “numa constante
alteração de pessoas desde há mais
de 20 anos, o que retira estabilidade
à estrutura”. Por isso, são lugares a
fazer ocupar por concursos públicos,
com a excepção do presidente e dos
directores nacionais da ANPC, que
devem continuar a ser de nomeação
política.
Natália Faria
ADRIANO MIRANDA
Relatório diz que é preciso alterar radicalmente a estrutura operacional da Protecção Civil para evitar os grandes incêndios deste ano
23 sub-regiões operacionais, equiva-
lentes às NUT III, com uma afectação
de recursos proporcional à avaliação
do risco de cada região”, explicita o
também ex-presidente da Liga dos
Bombeiros Portugueses, para quem
urge pôr o sistema de protecção ci-
vil “a salvo do ciclo de experiências
laboratoriais de que tem sido vítima
nas últimas duas décadas”.
A substituição dos actuais CDOS
(centros distritais de operações de
socorro) por centros regionais de
operações de socorro, tendo tam-
bém por referência as NUT II, do-
tando-os de um director regional e
quadros de pessoal, salas de ope-
rações e comunicações próprias, é
outra sugestão a extrair do vasto rol
de conclusões contidas neste relató-
rio (que, como frisa Duarte Caldeira,
é um autoproposto instrumento de
sustentação da decisão política que
vier a ser tomada nestas matérias).
O relatório propõe ainda o reforço
das competências da Direcção Nacio-
nal de Bombeiros, “transferindo para
esta a competência para avocar o co-
mando operacional” nas operações
de socorro, em determinados cená-
rios. A par disso, sugere-se a criação
do cargo de inspector regional de
bombeiros e adjuntos, que actuaria
na dependência do director nacional
de bombeiros. A Direcção Nacional
de Meios Aéreos seria eliminada e as
suas competências transferidas para
uma unidade especializada a criar
com a missão de gestão dos meios
aéreos do Estado.
E quanto aos bombeiros? “Não é
mais possível disfarçar que, face à
severidade do comportamento dos
incêndios, a prioridade dada à defesa
das pessoas e bens não é compatí-
vel com a defesa da fl oresta contra
incêndios”. Logo, é preciso separar
águas e recentrar a função dos bom-
beiros “na salvaguarda de pessoas e
bens”. Por outro lado, e dado que
“a primeira intervenção de socorro
é determinante para a efi cácia do
socorro e para a contenção e limi-
tação do fogo”, a primeira resposta
tem de ser assegurada por bombei-
Ao analisar o que falhou em Pedrógão, o CEIPC encontrou impreparação técnica nos responsáveis pelo controlo das operações
ros profi ssionais. “Não defendemos a
municipalização dos bombeiros nem
a extinção das associações humani-
tárias, que continuam a ser um re-
curso fundamental para o país, mas
é preciso profi ssionalizar a primeira
intervenção no socorro. A primeira
linha de resposta não poderá estar
dependente da disponibilidade de
voluntários para acorrer à chama-
da de socorro, mas terá de assentar
na disponibilidade permanente dos
bombeiros nos quartéis e na sua qua-
lifi cação através de uma formação
permanente e especializada”, expli-
cita o presidente do CEIPC.
Plataforma para voluntáriosSobre o voluntariado, não só das
corporações de bombeiros, mas
de outras estruturas voluntárias
na área da protecção civil, deverão
recair outras responsabilidades. “A
legislação já prevê as associações
de voluntários da protecção civil,
mas falta dar-lhes consequência
prática. Por outro lado, os exem-
plos interessantes de voluntariado
na protecção civil precisam de uma
plataforma agregadora que lhe dê
uma doutrina, uma organização e
uma articulação comuns”, aponta
Caldeira, elogiando o papel da As-
sociação de Vítimas do Incêndio
de Pedrógão Grande, sob cuja égi-
de cada aldeia da região foi dotada
da fi gura de um líder responsável
por pôr em práticas as medidas de
autoprotecção das populações em
caso de tragédia.
A necessidade urgente de ensinar
os cidadãos a protegerem-se em ce-
nários de catástrofe é outra das su-
gestões contidas neste relatório. A
ideia já estava, de resto, nos outros
relatórios sobre a mesma matéria,
com a diferença de aqui se propor
a criação de um Programa Nacional
de Autoprotecção e Resiliência dos
Cidadãos. “Para ser efi caz, tem de
ter uma lógica centralizada e uma
aplicação descentralizada”, esmiú-
ça Caldeira.
Outras medidas
• Criar uma rede de sapadores florestais e garantir a sustentabilidade das equipas existentes
• Criar um Centro de Investigação Aplicada do Risco, tendo como missão a produção de doutrina, estudos, investigação e relatórios de análise de ocorrências para promoção de boas práticas e identificação de vulnerabilidades sistémicas
• Formar técnicos especializados em meteorologia aplicada a incêndios
• Promover acções
descentralizadas, no primeiro semestre de 2018, de formação dirigida aos presidentes das autarquias sobre as competências e responsabilidades que lhes cabem no domínio da Protecção Civil
• Inventariar, operacionalizar e reforçar os kits de primeira intervenção nas juntas de freguesia, promovendo a constituição de Grupos de Intervenção Local
• Reformatar os Postos de Comando Operacional e definir regras-padrão para a sua localização
A eliminação do “nível distrital” da
ANPC e a sua substituição por uma
estrutura que tenha por referência as
NUT II (Norte, Centro, Área Metropo-
litana de Lisboa, Alentejo e Algarve)
é outra das sugestões contidas no re-
latório. “Em vez dos 18 distritos terí-
amos cinco regiões e, abaixo destas,
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O Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa,
disse ontem confi ar que,
no Conselho de Ministros
de hoje, será encontrada,
“como o primeiro-ministro
tinha dito (...), uma solução expedita
que corresponda aos anseios” dos
familiares das vítimas dos incêndios.
À saída de uma visita ao hospi-
tal de Viseu, o Presidente foi ques-
tionado pelos jornalistas se con-
siderava estar a ser “o eucalipto
do Governo”, que “está a secar”.
Marcelo confia em “solução expedita” para familiares das vítimas
Marcelo lembrou que está “refor-
mado do comentário político” e
que se dedica “a uma tarefa mais
importante”. “O Presidente da Re-
pública (...) é uma espécie de último
fusível de segurança do sistema.”
Marcelo Rebelo de Sousa obser-
vou que o chefe de Estado tem de
estar “próximo do povo, das popu-
lações” e de instituições, como o
hospital que visitou, recordou que
membros do Governo também já
passaram pelo território afectado
pelos últimos incêndios e que houve
reuniões entre o primeiro-ministro
e autarcas.
Em Nelas, que visitou depois, o
Presidente da República agradeceu
“em nome de todos os portugueses”
o trabalho dos bombeiros e lembrou
que estas pessoas, na sua maioria
voluntários, desempenham missões
ao longo de todo o ano. “Mesmo a
ideia de que há um período de in-
cêndios já deixou de ter razão de
ser, como acabámos de verifi car nes-
te fi m-de-semana”, alertou.
O líder do PSD, Pedro Passos Co-
elho, também visitou ontem zonas
afectadas pelos fogos. Em Tonde-
la, defendeu que os dirigentes da
Autoridade Nacional de Protec-
ção Civil (ANPC) passem a ser re-
crutados por concurso público. E
disse não discordar da proposta
da Comissão Técnica Indepen-
dente de criação de uma agência
de combate aos incêndios, desde
que não se sobreponha à ANPC.
O PSD não desiste da criação de
um mecanismo rápido de indemni-
zação do Estado às vítimas dos fogos
deste Verão: depois de a esquerda,
por proposta do PS, ter reduzido a
possibilidade de indemnização das
vítimas dos incêndios de Pedrógão
Grande e concelhos limítrofes ao
apuramento de responsabilidades
públicas, os sociais-democratas
entregaram um projecto de lei que
volta a propor a criação daquele me-
canismo urgente. A refl orestação da
Mata Nacional de Leiria e atribuição
de apoios aos agricultores são tam-
bém objecto de propostas de resolu-
ção do PSD. PÚBLICO/Lusa
A ideia de que há um período de incêndios já deixou de ter razão de ser, como acabámos de verificar neste fim-de-semanaMarcelo Rebelo de SousaPresidente da República
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INCÊNDIOS
Mira esteve em chamas e não houve reforços nem comunicaçõesCerca de 70% do concelho foi varrido pelo fogo e duas casas arderam a menos de 50 metros da câmara. SIRESP voltou a falhar
Em Mira, o levantamento
ainda está a ser feito. Para
já, a autarquia indica que
cerca de 70% da área deste
município do litoral de
Coimbra terá ardido no
incêndio que varreu o concelho
entre domingo e segunda-
feira. Durante esse período, no
combate às chamas esteve apenas
a corporação de Bombeiros
Voluntários de Mira. O Sistema
Integrado de Redes de Emergência
e Segurança de Portugal (SIRESP)
falhou mais uma vez.
No meio foram apanhadas
casas, campos, fábricas e muita
fl oresta, mas não houve vítimas
mortais. O fogo começou perto
de Quiaios, Figueira da Foz, ao
início da tarde de domingo, e foi
progredindo para Norte com a
ajuda do vento. Antes de Mira,
queimou uma larga faixa de pinhal
junto da costa, destruindo parte
da Mata Nacional das Dunas de
Quiaios, passando também pela
Tocha, Cantanhede.
Ao PÚBLICO, o presidente da
Câmara de Mira, Raul Almeida, diz
que 14 casas de primeira habitação
fi caram destruídas, afectando
um total de 34 pessoas em várias
ReportagemCamilo Soldado
localidades do município. Sobre
as casas devolutas e de segunda
habitação, ainda não foi possível
fazer a contabilidade.
O fogo chegou a Mira ao fi nal
da tarde. “À meia-noite tinha tudo
ardido”, relata o autarca. Durante
essas horas, “só mesmo os
bombeiros de Mira e a população”
combateram as chamas. O
comandante dos Bombeiros
Voluntários de Mira, Nuno
Pimenta, refere que, na fase mais
crítica, apenas os 48 operacionais
da sua corporação estiveram no
terreno, para cobrir uma área
de 124 quilómetros quadrados.
A escassos 50 metros do edifício
da câmara, no centro da vila,
arderam duas casas.
Quando recebeu o alerta de
incêndio, o comandante estava
na Lousã, a mais de uma hora de
distância, a combater as chamas.
“Quando vim da Lousã já vinha
mentalizado que difi cilmente
haveria reforço. Também lá já não
se estava a conseguir mobilizar”.
Raul Almeida lamenta a
gestão dos meios. “Admito que
nas primeiras horas não fosse
possível chegar aqui”, concede.
Mas lembra as promessas de
reforços do secretário de Estado
da Administração Interna, Jorge
Gomes, que ao início da noite lhe
terá dito que “vinham dois grupos
Quando o fogo chegou a Mira,
no quartel havia três veículos: um
ligeiro, um pesado e um tanque.
Não houve tempo avisar
Enquanto houve tempo, foram
evacuadas duas urbanizações
na Praia de Mira, dois parques
de campismo e uma unidade
hoteleira. “Não tivemos tempo
de mandar as pessoas sair das
outras aldeias”, sendo que a GNR
“só conseguiu avisar algumas
localidades”, recorda o autarca.
Por volta das 20h, quando o
fogo chegou ao Casal de S. Tomé,
uma aldeia perto de Mira, pouco
havia para fazer. “Vi fumo e ouvi
estoiros”, conta Alberto Santos, de
55 anos. Como já não havia água
da rede, teve de sair. Convida a
entrar no que resta da casa, para
mostrar os estragos causados
pelas chamas. Era constituída por
uma parte em tijolo e cimento
e por outra em madeira. O
fogo começou pela madeira e
estendeu-se ao resto da habitação,
destruindo-a por completo. “A
casa era pré-fabricada à frente.
Pegou primeiro e foi por aí fora”.
“Arca, televisões, fornos, grelhas,
ouro, dinheiro, roupas, mobílias”,
enumera, enquanto vai apontando
para os escombros carbonizados,
“foi tudo embora”.
Por enquanto, ele e a mulher
estão em casa do fi lho e por lá
vão fi car “até ver o andamento”.
Agora? O que resta da casa “é para
pôr tudo abaixo”, não é possível
recuperar a estrutura. “Se a gente
tiver possibilidades e ajuda de
alguém”, é reconstruir, “para
poder fazer uma vida”.
A casa ao lado não só ardeu
como desabou e há vestígios
que ajudam a contar o que ali
se passou: uma garrafa de gás
aberta e deformada e uma peça
do fogão do outro lado da estrada.
Ali só um fragmento de parede se
mantém em pé.
O vizinho teve mais sorte. “O
poço é que nos safou. Ligaram
a bomba e, enquanto houve
de bombeiros do Norte do país.
Nunca chegou cá ninguém”.
As comunicações com o exterior
falharam. “O SIRESP funcionou
internamente, mas a comunicação
para o posto de comando, que
seria em Quiaios, bem como para
o Comando Distrital de Operações
não era possível”, relata Nuno
Pimenta. Algumas das redes de
telecomunicações também foram
abaixo. O comandante diz mesmo
que “tinha que ir a Calvão, Vagos
(para onde depois passaria o
fogo), para conseguir telefonar”
ao comandante distrital.
“Pedrogão Grande já nos deveria
ter dados lições”, lamenta.
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Fonte: ICNF PÚBLICO
Gerês
Dunas de S. Jacinto
Dunas de Vagos
Dunas de Quiaios
Prazo de Sta. MarinhaDunas da Costa de Lavos
Dunas da LeirosaFoja
ChoupalV. Canas
UrsoPedrógão
LeiriaCasal Lebre
Ravasco
Sete MontesMestrasVimeiro
Valado dos Frades
Ribeiro do Freixo
Serra deS. Mamede
Cabeção
Virtudes
Quinta da Serra
Escaroupim
MachadaDunas da Trafariae Costa da Caparica
Medos
Dunas de Albufeira Arrábida
Ameal de Agualva de Baixo
Valverde
Herdade daNogueira Grande
Área Florestalde Sines
Herdade da ParraTerras da Ordem
Dunas de Vila Realde Sto. António
Dunas da GafanhaReserva Natural
da Malcata
Covilhã Qta. daNogueira
Camarido
Gelfa
30km
As matas nacionaissob administraçãodo ICNF
O ministro da Agricultura,
d a s F l o r e s t a s e d o
Desenvolvimento Rural,
Capoulas Santos, exclui
“qualquer hipótese de pri-
vatização da fl oresta públi-
ca ou a sua atribuição a entidades
privadas”, mas admite “a criação de
uma ou mais empresas públicas ou
parcerias com novas entidades, de-
signadamente autarquias”.
As recentes declarações de Capou-
las Santos sobre o futuro da proprie-
dade fl orestal do Estado, depois do
incêndio que consumiu 80 por cento
dos 11.600 hectares do pinhal de Lei-
ria, suscitaram receios sobre o mo-
delo a adoptar. O ministro defende,
em declarações ao PÚBLICO, que es-
tá “a avaliar os resultados do actual
modelo de gestão da fl oresta públi-
ca para tomar decisões sobre a sua
manutenção ou aperfeiçoamento ou
sobre a adopção de novos modelos
que se possam revelar mais efi cazes”.
Entre as hipóteses avançadas estão
a criação de empresas públicas ou
parcerias com autarquias.
Para já, incumbiu o Instituto de
Conservação da Natureza e das Flo-
restas (ICNF) de defi nir, no prazo de
quatro meses, uma reforma da gestão
das matas do Estado que arderam e o
respectivo plano de fi nanciamento,
o qual será suportado pelas receitas
obtidas na gestão das referidas pro-
priedades e por fundos comunitá-
rios. O Estado detém dois por cento
da propriedade fl orestal.
São pedidas ao ICNF, administra-
dor das matas nacionais, medidas de
estabilização e de recuperação para
o grupo de matas do litoral centro
Governo exclui privatização da floresta pública
Fogo destruiu 14 casas de primeira habitação e 20 fábricas e explorações agrícolas. Comandante dos 48 bombeiros disponíveis tinha de ir ao concelho vizinho para telefonar para o comando distrital
afectadas pelos violentos incêndios,
especialmente Leiria, mas também
Pedrógão, Urso, Dunas de Quiaios e
Dunas de Vagos, Maragaça e ainda
Covilhã. É o que estabelece o despa-
cho do ministério da tutela, assinado
pelo secretário de Estado das Flores-
invasoras, e no “longo prazo”, uma
avaliação “dos modelos de silvicul-
tura e de organização territorial, re-
visão dos planos de gestão fl orestal
em vigor, um programa de rearbori-
zação e um plano de defesa contra
incêndios.
Para quem conhece bem a forma
como a maior mata pública do país
tem sido gerida, garante que o seu
principal problema tem residido na
falta de meios humanos, fortemente
reduzidos desde as reformas dos ser-
viços fl orestais. Confrontado com as
consequências dessa opção, o minis-
tro remete para o próprio Ministério
da Agricultura: “Quando eu próprio
exerci funções, nos governos do eng.
António Guterres, o Ministério da
Agricultura dispunha de mais de 15
mil funcionários. Neste momento,
dispõe de cerca de 5 mil. É evidente
essa redução.”
No caso concreto do pinhal de
Leiria, no fi nal dos anos de 70 ha-
via na circunscrição fl orestal da
Marinha Grande (que se dedicava
quase em exclusivo ao pinhal e ti-
nha orçamento próprio) cinco téc-
nicos, 200 trabalhadores rurais e
40 guardas-fl orestais. Hoje não há
circunscrições e na Marinha Grande
trabalham dois técnicos e dez traba-
lhadores rurais — não há, como se
sabe, guardas-fl orestais. Após duas
grandes reformas nos serviços em
1993 e 1998, os serviços fl orestais
locais e circunscrições fl orestais re-
gionais (três no Centro) passaram a
estar centralizados no ICNF, em Lis-
boa. Hoje, conta fonte conhecedora
do processo, “os técnicos reportam
a um chefe de divisão, que reporta
ao director regional de Agricultura,
que reporta ao ICNF, até para ques-
tões básicas como o investimento na
limpeza de matas.”
Faltou também a gestão da regene-
ração natural do pinhal. Em 2003, ar-
deram 2500 hectares e só 500 foram
mais tarde intervencionados.
electricidade, combateram as
chamas, diz Policarpo Prina,
duas casas ao lado. Na noite
de domingo para segunda não
foi à cama, lembra o homem
de 65 anos que vive ali há mais
de vinte. “Isto foi um inferno”,
descreve, rodeado de vizinhos que
repetem “um inferno”, como que
atestando que a descrição não é
exagerada.
No que toca às empresas, Raul
Almeida diz que arderam vinte
fábricas e unidades agrícolas.
O pólo mais antigo da zona
industrial de Mira foi dizimado.
Fábricas de adubos e fertilizantes,
de madeiras ou de reciclagem de
plásticos fi caram integralmente
destruídas. Outras sofreram
danos consideráveis. Ontem à
tarde ainda circulava um carro
de bombeiros, com máquinas e
trabalhadores a fazer intervenções
de rescaldo. O ar é pesado,
com o intenso cheiro a plástico
queimado que ainda sai dos
escombros fumegantes.
Só na terça-feira às 7h, os
Bombeiros Voluntários de Mira
conseguiram mobilizar meios para
a zona industrial. Com os poucos
meios que tínhamos, “até aí, a
prioridade era defender casas”,
explica Nuno Pimenta.
Lurdes Ferreirae Manuel Carvalho
Ministério dá quatro meses ao ICNF para definir reforma da gestão das matas nacionais que arderam no litoral centro
[email protected]@[email protected]
Nos governos do eng. Guterres,o ministério dispunha de mais de 15.000 funcionários. Neste momento, dispõede 5000. É evidente essa reduçãoCapoulas SantosMinistro da Agricultura, das Florestas e Desenvolvimento Rural
tas e do Desenvolvimento Rural, Mi-
guel Freitas, publicado ontem.
O Governo quer, “no curto e mé-
dio prazo”, para as áreas ardidas,
medidas de prevenção da erosão,
conservação de espécies protegidas,
controlo e erradicação de espécies
FOTOS: ADRIANO MIRANDA
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INCÊNDIOS
A região de Leiria está
de luto. Perdemos
o primeiro e maior
monumento de Portugal.
Nunca vamos esquecer o
teu tom verdejante, o teu
cheiro, o som do vento a passar
nas copas das tuas árvores ou o
teu sabor, que nos proporcionavas
com os teus medronhos e
camarinhas. Esperamos voltar a
ver-te em breve.
O que perdemos: diz-se que
perdemos a mata nacional de
Leiria, mas na verdade foi muito
pior, perdemos não uma, mas três
matas: o Pinhal de el Rey (Pinhal
de Leiria após a implantação da
República, em 1910), localizado
a sul do rio Lis; a Mata Nacional
do Pedrógão, entre o rio Lis e
a Ervedeira; e a Mata Nacional
do Urso (outrora pertencente
à Universidade de Coimbra),
entre a Ervedeira e Leirosa.
Estas três matas nacionais estão
plantadas sobre uma extensa e
imponente área dunar que se
estende até 13km para o interior
(Zona da Ervedeira), sendo
muito relevantes para a sua
estabilização.
Apesar de o Pinhal de el Rey
ser associado a D. Dinis (1279-
1325), devido à atenção que este
rei lhe prestou, pensa-se que
a sementeira terá começado
anteriormente. De qualquer
forma, o pinhal de el Rey é a mais
antiga ação de refl orestação em
larga escala realizada pelo homem.
Esta região não foi sempre
igual. As dunas movem-se e o
rio também. O rio Lis atravessou
de uma forma muito mais
acentuada esta região, tendo
inclusive atravessado a zona
correspondente às três matas.
Existem indícios de a foz do rio
Lis se ter localizado perto
da atual praia do Osso da Baleia,
a cerca de 15km a norte da sua
posição atual.
Prevenção de incêndios: há
vários séculos que uma série
de cuidados têm sido tomados
relativamente à prevenção de
incêndios no Pinhal de Leiria. D.
Maria I (1777-1816) instituiu a caixa
de fumo, feita em folha de ferro
e um palmo de areia de modo a
que os trabalhadores pudessem
apagar os cigarros de forma
segura. Criou os aceiros e arrifes
com o objetivo de facilitar o acesso
à mata e também a atuação como
corta-fogo e proibiu o fabrico de
carvão e alcatrão dentro da mata
e interditou o uso de armas de
fogo durante as montarias, por
exemplo, aos lobos. No reinado de
D. João VI (1816-1826) foi ordenado
untar os rodados dos carros de
bois de modo a evitar ignições
causadas pela fricção. Proibiu
ainda o lançamento de foguetes e
balões às povoações próximas da
mata.
Já no século XIX foram criados
pontos de vigia, que guardavam a
mata de noite e dia, comunicando
entre si inicialmente através de
bandeiras durante o dia, e focos
de luzes durante a noite. As
comunicações eram, no entanto,
difi cultadas devido à formação de
nevoeiro tão comum nesta região,
como todos os conterrâneos
bem sabem. Tendo em conta
esta característica da região e a
difi culdade na identifi cação do
talhão onde ocorria o incêndio, foi
posteriormente criada uma ligação
telefónica entre os diferentes
postos de vigia, facilitando as
comunicações e permitindo uma
triangulação/localização mais
exata do talhão com foco de
incêndio.
As consequências do
desmazelamento: infelizmente, o
cuidado com esta zona tem sido
cada vez menor. Apesar de estas
três matas, entre 2001 e 2009,
terem gerado lucros na ordem
dos 26,2 milhões de euros, o valor
Opinião Micael P. Jorge
Uma homenagem ao Pinhal de el Rey
investido fi cou-se na casa dos 2,7
milhões de euros (dados do ICNF).
Os guias fl orestais passaram a
ser uma “espécie extinta” nestas
matas nacionais, tornando-se
mais tardia a identifi cação de
focos de incêndio. Não existindo
policiamento desta zona, o
pisoteamento dunar também tem
sido cada vez maior, agravado por
jipes e motos.
O “abandono” destas matas
nacionais pelo Instituto de
Conservação da Natureza e
Florestas (ICNF), entidade
governamental responsável pela
proteção desta área, teve agora
as suas consequências, por sinal
catastrófi cas: o desaparecimento
quase total de mais de 700 anos de
história em dois dias. Fala-se em
percentagens de fl oresta perdida
superiores a 80%, pelo menos
do que diz respeito ao Pinhal de
Leiria.
Contudo, o fi m do fogo não é
o fi m dos problemas. Demorará
tempo até a refl orestação ter
início e o tempo de recuperação
é na casa das dezenas de anos.
Enquanto isso, a desestabilização
deste ecossistema dunar poderá
provocar a migração de areias para
o interior, que poderá prejudicar,
por exemplo, zonas atuais de
cultura. Estaremos também mais
suscetíveis aos ventos marítimos
que também poderão prejudicar
a agricultura. No que diz respeito
à lagoa da Ervedeira, um dos ex
libris desta região, também pode
sofrer com este incêndio. As cinzas
poderão aumentar a eutrofi zação
da lagoa e a ausência de vegetação
pode potenciar o movimento de
areias por ação eólica, o que pode
agravar os problemas já existentes
de assoreamento (acumulação
de sedimentos e diminuição
da profundidade) desta lagoa.
Mas talvez a lagoa não interesse
muito, nem à população de
Leiria, que não apoiou a proposta
do orçamento participativo da
câmara municipal que previa um
investimento de 30 mil euros, nem
ao ICNF, que no Plano de Gestão
Florestal, um documento com 175
páginas, conseguiu, nas 36 das
37 menções à lagoa da Ervedeira,
mencioná-la incorretamente como
“Ervideira”.
Recorde-se, para terminar,
uma última perda, de potencial e
riqueza: o turismo. Estamos numa
altura de franco crescimento do
turismo em Portugal, e se antes
os estrangeiros apenas visitavam
Lisboa e Porto, procuram agora
conhecer outras regiões do país
e o crescimento do turismo na
zona centro tem-se feito sentir.
Esta zona fl orestal, devido
às suas características tão
específi cas, estava a atrair cada
mais praticantes de orientação,
tendo-se inclusive estabelecido
nesta região a federação nacional
desta modalidade. Será que vai
continuar a ser um local de eleição
para a prática da modalidade? E o
que será dos que procuravam as
praias da nossa região? Gostarão
eles da mesma forma desta região
agora despida, devorada pelo
fogo? Todos nós duvidamos.
Arderam na Europa cerca de
903,7 mil hectares de fl oresta em
2017 (dados EFFIS). Só Portugal
é responsável por 520,5 mil
hectares, ou seja, cerca de 58% de
toda a área ardida! Se é verdade
que podemos culpar desta vez
o ICNF/Estado português por
durante os últimos dez anos se
ter desmazelado na proteção
destas matas nacionais, a culpa
do mesmo não se aplica, por
exemplo, aos incêndios de
Pedrógão Grande ocorridos em
mata privada. Mais importante do
que apontar o dedo aos culpados é
encontrar as soluções.
ADRIANO MIRANDA
Geólogo
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52468a16-6218-4d88-baf9-efc702714606
João Pinto Coelho é o novo vencedor de um dos mais importantes prémios da língua portuguesa p30
Primeira etapa da prestigiada regata à volta do mundo parte amanhã de Alicante para Lisboa p56/57
Governo espanhol reúne--se para aplicar artigo que suspende autonomia. Resta saber até onde irá p24/25
José Conde Rodrigues e Germano Marques da Silva terão feito contratos fi ctícios com o Grupo Lena p14/15
Ex-governante e penalista implicados no caso Sócrates
Catalunha: hoje é o dia em que Madrid activa a ‘bomba atómica’
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DANIEL ROCHA
Governo vai apertar fi scalização à fraude nas baixas por doençaFiscalização passará a ter em conta, além do tempo, o recurso sucessivo às baixas ou a concentração “excessiva” em determinadas actividades ou zonas do território. O objectivo é travar abusos Economia, 20
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