Alan Watts Fala Sobre Zen

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5/24/2018 AlanWattsFalaSobreZen-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/alan-watts-fala-sobre-zen 1/4  Alan Watts Fala Sobre Zen Uma preleção sobre Zen é sempre algo de natureza fraudulenta, porque ela realmente lida com um domínio de eperi!ncia do qual não se consegue falar a respeito" #as de$emos nos lembrar, ao mesmo tempo, que na $erdade não eiste coisa alguma da qual se possa falar a respeito adequadamente, e que toda a arte da poesia é dizer o que não pode ser dito" %ntão, todo poeta, todo artista, sente, ao c&egar no final do seu trabal&o, que &' algo absolutamente essencial que ficou de fora" %ntão, o Zen sempre se descre$eu como um dedo apontando para a lua, no ditado s(nscrito )tat t$am asi*, +aquilo é $oc!+, o Zen est' interessado com )aquilo*, )aquilo*, é claro, é a pala$ra usada para ra&man, a -ealidade Absoluta na filosofia &indu, e $oc! é isso, s. que disfarçado, e tão bem disfarçado que $oc! se esqueceu" #as, infelizmente, ideias como o /ltimo terreno do ser, do %u 0Self1, o ra&man, a 2ltima -ealidade, o grande $azio, todas essas são con$ersas muito abstratas, e o Zen est' interessado com uma maneira muito mais direta de se c&egar a um entendimento )daquilo*, ou na )da natureza daquilo* como é c&amado, )tatata*, em s(nscrito" %ntão, o Zen foi resumido em quatro afirmaç3es4 uma transmissão direta, li$re de escrituras e separada da tradição5 nen&uma depend!ncia em pala$ras e letras5 apontamento direto para a mente &umana5 e $er a natureza pr.pria de si para tornar6se buda, isso é tornar6se iluminado, desperto da &ipnose normal sob a qual quase todos n.s $agamos como son(mbulos" 7 etraordin'rio quanto interesse no Zen &ou$e nos %stados Unidos, especialmente nos anos desde a guerra com o 8apão, e naturalmente eu frequentemente meditei nas raz3es deste interesse" %u creio que, em primeiro lugar, o atrati$o do Zen est' na sua not'$el qualidade de &umor, as religi3es não são, como regra, &umorosas

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Alan Watts Fala Sobre Zen

Uma preleo sobre Zen sempre algo de natureza fraudulenta,porque ela realmente lida com um domnio de experincia do qual nose consegue falar a respeito.Mas devemos nos lembrar, ao mesmo tempo,que na verdade no existe coisa algumada qual se possa falar a respeito adequadamente,e que toda a arte da poesia dizer o que no pode ser dito.Ento, todo poeta, todo artista, sente,ao chegar no final do seu trabalho,que h algo absolutamenteessencial que ficou de fora.Ento, o Zen sempre se descreveu comoum dedo apontando para a lua,no ditado snscrito tat tvam asi, "aquilo voc", o Zen est interessado com aquilo,aquilo, claro, a palavra usada paraBrahman, a Realidade Absoluta na filosofia hindu,e voc isso, s que disfarado, e to bemdisfarado que voc se esqueceu.Mas, infelizmente, ideias como o ltimoterreno do ser, do Eu (Self),o Brahman, a ltima Realidade, o grande vazio,todas essas so conversas muito abstratas,e o Zen est interessado com umamaneira muito mais direta de se chegara um entendimento daquilo,ou na da natureza daquilo como chamado, tatata, em snscrito.Ento, o Zen foi resumido em quatro afirmaes:uma transmisso direta, livre de escriturase separada da tradio; nenhuma dependncia em palavras e letras;apontamento direto para a mente humana;e ver a natureza prpria de si para tornar-se buda,isso tornar-se iluminado, desperto dahipnose normal sob a qual quase todosns vagamos como sonmbulos. extraordinrio quanto interesse noZen houve nos Estados Unidos,especialmente nos anos desdea guerra com o Japo,e naturalmente eu frequentemente mediteinas razes deste interesse.Eu creio que, em primeiro lugar, o atrativo doZen est na sua notvel qualidade de humor,as religies no so, como regra, humorosasde maneira alguma, religies so srias,e quando algum olha para a arte Zen, e l estrias Zen, bem aparente que algo est acontecendoque no srio no sentido comumpor mais sincero que seja.A prxima coisa que eu creio que tenhaatrativo para ocidentais, que o Zenno tem doutrinas,no h nada em que se tenha que acreditar,ele no te julga muito com moralidades,ele no est particularmente preocupadocom moral alguma, um campo de indagao, muito como a fsica,e voc no espera que um fsico discutaautorizadamente sobre morais,mesmo que como ser humano ele tenhaum interesse moral em problemas,mas como fsico ele no umaautoridade em morais,ou se voc for num oculista, ou oftalmologista,para ter seus olhos ajustados,isso para que voc enxergue bem,e o Zen oftalmologia espiritual.E agora a coisa que atrai muito osestudantes ocidentais do Zen, que eles leram o seu Zen de Suzuki, e dealguns dos meus trabalhos, e de R. H. Blyth,e essas pessoas apresentam um tipoum tanto diferente de Zen do quevoc encontrar hoje no Japo,elas apresentam o que essencialmenteZen primitivo chins,das velhas escrituras, variando deaproximadamente um pouco antesde 700 A.D. at 1000 A.D.,e este Zen tem um sabor muito diferentedo Zen japons moderno.Ento, claro, muitas das pessoasque vo estudar Zen no Japodesaprovam essas doutrinas, e tambm,naturalmente, a minha exposio do Zen,porque ns no criamos um grande fetichede se estudar o Zen sentando.Hoje no Japo, eles sentam,e sentam e sentam.R. H. Blyth perguntou a um mestre Zen,"o que voc faria se tivesse apenasmais meia hora de vida?",e ele respondeu que faria zazen,o que quer dizer que ele sentariaem posio de buda e meditaria,e Blyth tinha lhe dado vrias opes,"voc gostaria de ouvir sua msicafavorita, voc teria um jantar,voc se embebedaria, voc gostariada companhia de uma linda mulher,voc daria uma caminhada, o que voc faria?Ou voc simplesmente seguiria sua rotinadiria, como se nada fosse acontecer?Em outras palavras, voc dariacorda no seu relgio?"Ento, ele ficou muito desapontadocom sua resposta,ele disse que, sabe, sentar apenasuma maneira de se praticar o Zen,o budismo fala das quatrodignidades do homem:andar, sentar, ficar de p e ficar deitado.Ento, zazen simplesmente a palavrajaponesa para Zen sentado,ento deve haver tambm Zen andando,Zen de p e Zen deitado.Voc deve saber, por exemplo,como dormir de forma Zenisso significa dormir inteiramente.O Zen j foi descrito como, "quando comfome, coma, quando com sono, durma."E quando o aluno recebeu esta descrio eledisse, bem, todo mundo no faz isso?e o mestre respondeu, "no, elas no fazem.Quando com fome elas no apenas comem,mas pensam em mil coisas.Quando com sono elas no apenas dormem,mas sonham inmeros sonhos."Ento, de um certo modo, isso soacomo o velho trusmo ocidental,"tudo o que vossas mos acharem parafazer, faa-o com toda sua fora."Mas isso no o mesmo que o Zen,muitas pessoas gostam de tentarresumir o Zen desta maneira,no lema latim da escola queeu estudava na Inglaterra,age quod agis, aja bem quandoagir, ou enquanto age.H uma famosa estria que ilustragraciosamente as relaes atuaisentre o oriente e o ocidente.Paul Reps, que escreveu, alias, desenhou umlivro encantador chamado Zen Telegramas,pediu uma vez a um mestre Zen queresumisse o budismo em uma frase,ele disse, no aja, mas aja.Reps ficou encantado, porque ele pensou queo mestre havia dito no aja, mas aja,e este seria o princpio Taoista do wu wei, deao no esprito de no se separar do mundo,percebendo to plenamente quevoc tambm o Universoque sua ao nele no seja uma interferncia,mas sim uma expresso da totalidade.Mas o ingls do mestre era muito ruim defato, e Paul Reps o havia mal entendido,ele tinha dito, no aja maus atos.E voc sabe, esse o tipo de atitude que todoclero desenvolve atravs dos sculos.Voc sabe como quando vaipara a igreja, se for seu caso,to frequentemente o sermo termina em,minha boa gente, vocs devem ser bons,e todo mundo sabe disso, masquase ningum sabe como,ou at mesmo o que o bem.