AJES INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO...
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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E EDUCACIONAL
9,0
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Flávia Liranço da Silva
ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
COLIDER/2012
AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E EDUCACIONAL
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Flávia Liranço da Silva
ORIENTADOR: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do Título de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Educacional.”
COLIDER/2012
A todos que acreditaram e sonharam junto comigo.
Agradecemos primeiramente a Deus, pela força e persistência que nos concedeu nos momentos difíceis e pela oportunidade de trilharmos caminhos inimagináveis. Ao nosso orientador Ilso Fernandes do Carmo, pelo seu profissionalismo e incentivo numa busca constante ao nos depararmos com as dificuldades. Às nossas famílias pela compreensão e apoio prestado. E aos amigos que nos ajudaram em oração para conclusão desse trabalho.
“É pelo trampolim do riso e não pela lição de moral que se chega ao coração das crianças.” José Paulo Paes.
RESUMO
A proposta dessa monografia concentra–se no estudo da presença do lúdico
no cotidiano escolar da educação infantil. Visa analisar a importância do lúdico como
meio de desenvolver a criatividade, os conhecimentos e o raciocínio de uma criança
através de jogos, músicas e brincadeiras. O estudo de jogos e brincadeiras se
manifesta como uma estratégia presente nas ações educacionais das turmas de
educação infantil, pois a brincadeira é uma ação intrínseca a vida infantil, por isso,
pode ser um instrumento eficiente para ser utilizado no processo educacional da
criança.
O lúdico na educação infantil desenvolve a criatividade, o raciocínio, o
pensamento lógico, a comunicação e aprendizado de forma prazerosa. Portanto,
consiste no resgate da infância sem perder de vista o processo educativo. Através
de uma pesquisa alicerçada nos fundamentos de alguns autores como Vygotsky e
Piaget, e seguindo a realidade escolar estudada busca–se, identificar que a
utilização do lúdico aliado a atividades pedagógicas pode transformar o aprender
numa ação que produz resultados positivos. Este estudo também abordou sobre a
necessidade das atividades lúdicas estarem presentes nas fases do
desenvolvimento e da aprendizagem dos seres humanos, tornando–se especial à
sua existência de modo que o lúdico se faça presente e acrescente um instrumento
indispensável no relacionamento entre as pessoas, possibilitando assim, que a
criatividade se aflore, para tanto, a fundamentação teórica buscou analisar a
constituição e a emergência da brincadeira e do jogo no contexto educativo.
Palavras-chave: Educação infantil, Lúdico, Aprendizado, Infância, Criança.
SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................07
Capítulo I
1. Falando sobre o lúdico..................................................................................10
1.1 O lúdico no decorrer da história...................................................................10
1.2 O Brincar e a Infância..................................................................................13
Capítulo II
2. A contribuição do lúdico para a aprendizagem..............................................17
2.1 O lúdico e a criança.....................................................................................17
2.2 A construção do conhecimento e o lúdico...................................................20
2.3 O papel do professor no contexto da ludicidade.........................................21
Capítulo III
3. A necessidade que a criança tem de brincar.................................................25
3.1 Atividades lúdicas no espaço escolar: Brincadeiras, Jogos e Músicas como
recursos pedagógicos........................................................................................26
3.2 Tipos de brincadeiras e suas contribuições para a construção de um propósito de
educação transformadora na Educação Infantil.........................................................35
Considerações Finais........................................................................................ .........38
Referências bibliográficas..........................................................................................39
INTRODUÇÃO
A visão do lúdico como estratégia capaz de colaborar no processo de ensino
aprendizagem da educação infantil tem sido muito discutida e trazida aos poucos
para os ambientes escolares por ser a brincadeira um dos universos da criança.
Mesmo com todos os estudos que tratam da eficácia do uso de jogos nos
ambientes escolares, ainda existe resistência por parte de alguns educadores
descrentes na possibilidade de unir a brincadeira ao conteúdo pedagógico. Para
estes profissionais, brincar e aprender são duas instâncias distintas que não devem
ser utilizadas simultaneamente.
Atualmente nos deparamos com um número elevado de alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem e sem motivação para estudar. Para
mudar tal visão, faz-se necessário uma prática pedagógica dinâmica e provocadora,
no sentido de instigar os alunos a aprender de maneira significativa e prazerosa.
O docente, por meio da metodologia pode apropriar-se de inovações,
sendo um estimulador no processo de desenvolvimento cognitivo, ensinando o aluno
a respeitar limites, explorar a criatividade e aprender a pensar sem perder a magia e
a fantasia do brincar.
A função do educador é considerável nesse processo, pois é ele o mediador
das atividades que estimulam os alunos em sala de aula. As sociedades de modo
em geral reconhecem o brincar como parte da infância, além de estimular a
autoconfiança, curiosidade e autonomia, proporciona também o desenvolvimento do
pensamento, da atenção, concentração e linguagem.
O lúdico é muito importante para saúde física e mental do ser humano, é um
espaço que merece atenção dos pais e educadores, pois as crianças fazem das
brincadeiras uma ponte para o imaginário, a partir disto, muito pode ser trabalhado.
Partindo de concepções teóricas de que a criança tem sua curiosidade
despertada por jogos e brincadeiras, é por meio deles que se relacionam com um
meio físico e social de modo a ampliar seus conhecimentos e desenvolver suas
habilidades motoras, cognitivas e lingüísticas.
O lúdico na educação infantil desperta sonhos e fantasias refletidos na
realidade desenvolvem habilidades cognitivas e contribui com instrumento condutor
da aprendizagem, auxiliando o professor na prática pedagógica. Portanto, as
atividades lúdicas são definidas como alegres e descontraídas. Isso dá à criança a
possibilidade de agir e interagir no seu mundo.
Quando as atividades são orientadas pelo professor visando estimular a
aprendizagem, ela oportuniza compreender, transformar e desenvolver relações
sociais com outras crianças e com os adultos. A escola deve considerar o lúdico
como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar no desenvolvimento dos alunos.
Desenhar, contar e ouvir histórias entre outras atividades constituem meios
prazerosos de atividades.
O uso de jogos e da ludicidade como um todo, está presente na vida
humana desde os seus primórdios. Este trabalho traz uma ampla visão da
importância dos jogos e brincadeiras no processo ensino-aprendizagem e na
formação da personalidade humana.
A conscientização desta importância cabe ao educador que se torna
responsável pela aprendizagem e deve trabalhar a criança em sua múltipla formação
nos aspectos afetivo-emocionais, biológicos, cognitivos e sociais.
A criança precisa brincar inventar e criar para crescer e manter seu equilíbrio
com o mundo. Deve ser vista sob três dimensões: a corporal, a afetiva e a cognitiva,
pois é importante conhecer as características do aprendiz para sabermos quais são
as potencialidades que estão sendo desenvolvidas e quais as esquecidas, quais os
transtornos que esse desequilíbrio pode causar no desenvolvimento do indivíduo e
como podemos estimular a criança no processo ensino-aprendizagem.
Tão fundamentais ao ser humano como o alimento que o faz crescer são os
brinquedos e os jogos, vão muito além do divertimento e servem como suportes para
que a criança atinja níveis cada vez mais complexos no desenvolvimento sócio
emocional e cognitivo.
O lúdico é sem dúvida uma das melhores formas de se lecionar, passando
uma aprendizagem dinâmica, alegre, e o mais importante, interativa. Quebrando o
misticismo de que apenas o professor é responsável pelo aprendizado do aluno,
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criando assim um mecanismo de autodidática e usando os costumes que adquirem
ao longo da vida.
Portanto, o motivo deste estudo vê-se no desejo de verificar a importância
do lúdico como um meio propiciador e facilitador do bem estar, do desenvolvimento
da criatividade, do raciocínio e do aprendizado da criança na educação infantil.
Os capítulos a seguir falarão sobre como a ludicidade pode auxiliar a criança
a obter melhor seu desempenho na sua aprendizagem, pois aprender de forma
lúdica pode proporcionar muitos benefícios às crianças, além de dar ao professor a
oportunidade de compreender os significados e a importância das brincadeiras para
a educação.
Também será abordado como o professor deve valorizar o lúdico na
educação infantil, visto que, o brincar facilita a aprendizagem e fornece a criança um
desenvolvimento sadio e harmonioso.
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1. FALANDO SOBRE O LÚDICO
1.1 O LÚDICO NO DECORRER DA HISTÓRIA
Diversas linhas de estudo em psicologia como VIGOTSKY (1984), trouxeram
essa vertente do brincar como algo inerente à natureza humana e que também
colabora para o aprendizado de modo que a definição deixou de ser o simples
sinônimo de jogo. Para o autor acima citado, a brincadeira e suas implicações
ultrapassam o universo do brincar espontâneo, possuindo também interferências nos
âmbitos pedagógicos e sociais, além da brincadeira como um ato de simples prazer.
Segundo esse autor o lúdico faz–se presente em diversos períodos
históricos, desde a Grécia clássica, Roma antiga, passando pela Idade Média e pelo
Renascimento, possuindo em cada período características e interpretações distintas
sobre sua função. Os jogos tornaram-se prática no século XVI e os primeiros
estudos foram realizados na Roma e Grécia, destinados ao aprendizado das letras.
A socialização que se busca as instituições específicas para crianças da pré-
escola, contribuem no desenvolvimento prático educativo e coletivo. A creche
inevitavelmente transmite e interage como alternativa para a socialização e a
educação extra-lar da criança.
Os jogos são resultados de suas próprias decisões e motivações,
permitindo a expressão aos atos das crianças.
FRIEDMAN (1976), é o reformador pedagógico que fez mais que todos os
restantes juntos, por dar valor à educação, ao que os alemães chamam “método de
desenvolvimento pela atividade espontânea”, que permite plena expressão porque
os atos da criança que joga são resultado de suas próprias decisões e motivações e
não obediência ao sinal ou mando do mestre.
No início do século XIX com o fim da revolução francesa e o surgimento de
novos olhares pedagógicos, as escolas começam a trabalhar em seu dia a dia
alguns princípios práticos. Entretanto, FROEBEL 1925, apud HUGHES (1992), é
quem inicia os estudos para a evolução da criança através do lúdico e contribui para
a importância das brincadeiras livres e também trouxe o jogo como parte essencial
do trabalho pedagógico.
Segundo ele, é que o jogo compreendido com a ação de brincar passa a
fazer parte da educação infantil, partindo do pressuposto de que a criança ao
manipular materiais como bolas, cubos, brincando de montar e desmontar
aprenderia as noções matemáticas como forma, tamanho e encaixe. Sua proposta
curricular para a educação infantil apresentava grande relevância para o brinquedo e
para o ato de brincar.
Para ZACARIAS 2005), a criança participa ativamente do seu
desenvolvimento, pois é depois do desenvolvimento que surge a aprendizagem.
Inicialmente, se faz necessário que a criança amadureça.
A autora citada acima,afirma que a maturação surge no indivíduo para que
posteriormente ele possa aprender através do contato com o meio social, pois como
toda aprendizagem inicia-se a partir do desenvolvimento mental, foi criada uma
classificação de acordo com a evolução das estruturas mentais humanas e de como
o lúdico se manifesta em cada estágio do desenvolvimento.
KISHIMOTO (2009), concebeu o brincar como atividade livre e espontânea
da criança, ao mesmo tempo referendou a necessidade de supervisão do professor
para os jogos dirigidos apontando questões sempre no contexto atual.
O autor citado vê a criança como ser social e a aprendizagem acontecem
espontaneamente com a atuação da mesma no jogo sem que seja necessário
induzí-las para tal, ele vê o jogo como forma de apreensão das vivências do
cotidiano. Dessa forma DEWEY, apud AMARAL, afirma:
Aprender é uma necessidade orgânica e social para criança, porque tanto seus poderes devem ser trazidos em seus equivalentes sociais, como o objetivo deve permitir através de sua conotação fortemente socializadora a manifestação orgânica potencial da criança (2008 p.103).
Para esse autor, o valor das brincadeiras se torna notório a partir do
momento em que ensinam a criança a respeitar o mundo em que vivem e as suas
regras.
No século XX abre-se espaço para o crescimento da psicologia infantil com
a produção de pesquisas que estudam e discutem o ato de brincar e sua importância
para a construção de representações na vida da criança, pesquisas essas realizadas
por VYGOTSKY (1984), que trouxe novos pressupostos para as representações
sobre o lúdico e aprendizagem infantil.
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Segundo esse autor, o homem é um ser social em sua essência, e toda a
sua aprendizagem vem de uma atividade interpsicológica (social externa), para que
posteriormente possa se transformar em intrapsicológica (individual e interna), ou
seja, o aprendizado se dá inicialmente no meio social para depois atingir a esfera do
indivíduo. O desenvolvimento da criança acontece inicialmente com a interação
entre ela e as pessoas mais próximas.
[...] A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY. 1998, p. 112).
Segundo esse autor, o nível de desenvolvimento denominado de real
representa tudo àquilo que a criança já consegue realizar sozinha, ações já estão
consolidadas pelo seu desenvolvimento, e a ZDP é caracterizada por alguns
processos que estão em construção, que ainda não atingiram a maturação, más que
após serem realizadas com o auxílio de alguém mais experiente poderá ser
realizada de forma independente. Por favorecer a criação desta zona, o lúdico pode
ser considerado um recurso para ser utilizado em meio às propostas pedagógicas, já
que faz parte da natureza infantil podendo contribuir para o amadurecimento dos
processos que estão em formação.
É no momento em que a criança brinca e entra no mundo de faz-de-conta
que essas aprendizagens se dão de maneira mais intensa. Quando as crianças
brincam com situações imaginárias existem também situações reais, como a
sujeição de regras e comportamentos que fazem parte da cultura cotidiana da
criança que acabam sendo trazidas para o jogo ainda que inconscientemente.
Para VYGOTSKY (1984), todas as situações vivenciadas pela criança
servem de elementos para sua imaginação, a criança observa,vive e depois
combina, cria e recria as situações de sua brincadeira, fato que faz com que ela
aprenda de acordo com o que conhece em seu meio. A aprendizagem presente no
jogo relacionada a questões sociais e da vida, também estão presentes nesses
estudos em que ele compreende o jogo e a brincadeira como ações que estão
intimamente ligados à aprendizagem, não fazendo referência apenas à educação
dita formal, que trata de conteúdos, más também a social, já que nela a criança
acaba por reproduzir situações já vivenciadas e observadas em situações anteriores.
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O autor acima citado, relata que no período em que a criança apresenta a
idade entre 0 a 2 anos (período sensório-motor) faz parte de seu contexto lúdico os
jogos de exercício, que são característicos da fase pré-verbal. Tais jogos têm como
objetivo o divertimento, caracteriza-se pela reprodução de movimentos realizados
com o próprio corpo, baseado na formação de ações espontâneas. Este tipo de jogo
não possui relevância para a aprendizagem, pois a criança ainda encontra-se numa
fase de preparação para a eclosão cognitiva.
Após o aparecimento da linguagem, a criança inicia os jogos simbólicos
entre 2 aos 6/7 anos (pré-operatório), nesse período, a criança pode atuar com jogos
de imitação ou até mesmo de ficção. A partir dessa brincadeira a criança se
aproxima da sua realidade e acaba por assimilar situações nela presentes como
afirma (Friedman 1976, p. 29): “(...) No jogo simbólico a criança se interessa pelas
realidades simbolizadas, e o símbolo serve somente para evocá-las.”
O autor acima afirma que a cultura lúdica é fruto de uma interação social e
está ligada a cultura geral de onde e de quem se brinca. Todo jogo e toda
brincadeira pressupõe uma cultura específica que pode ser denominada cultura
lúdica um conjunto de procedimentos que tornam a ação do jogo e a atuação dos
que brincam possíveis.
1.2 O BRINCAR E A INFÂNCIA.
KISHIMOTO (2008), afirma que dispor de uma cultura lúdica é dispor de um
número de referências que permitem interpretar como jogo, atividades que poderiam
não ser vistas como tal para outras pessoas. O jogo também pode ser visto como
uma expressão de comunicação, para os seres humanos que já possuem suas
estruturas cognitivas completamente formadas, o meio mais comum de comunicação
é a linguagem verbal, pois é através dos jogos e brincadeiras que elas acabam por
se comunicar, manifestar seus pensamentos e sentimentos.
Para o autor citado acima, o significado e a noção de criança e infância é
algo historicamente construído, ele possui perspectivas diferentes de acordo com a
sociedade e também com cada período histórico tomado como base para a
pesquisa. O seu significado vai depender do contexto onde surge e como se dão as
relações sociais, históricas, políticas e culturais dentro do contexto estudado.
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Segundo o autor acima, quando a criança inicia a construção do faz-de-
conta ela passa a utilizar e definir para os objetos outras funções além daquelas que
se percebe, esse processo de construção da brincadeira e da imaginação traz para
criança conseqüências importante para o seu desenvolvimento, ao entrar no mundo
do faz-de-conta ela faz uma separação dos campos de percepção e da motivação, já
que há muitas vezes simulações de ações em que materiais são utilizados para
significar outro. Pois para ele, no momento em que a criança brinca pode-se
considerar que ali existe o lúdico em ação, pois quando brinca a criança pode fazê-lo
de diversas formas como já foi visto com os jogos de exercício, faz-de-conta,
simbólico e até mesmo jogos de regras.
Durante as brincadeiras de faz-de-conta a criança acaba por utilizar em
alguns momentos elementos presente em suas vivências cotidianas, ela utiliza como
matéria prima de sua imaginação o que foi observado vivenciado durante diversos
momentos e sua vida como CERISANA afirma:
Quando a criança brinca, ela cria situação imaginária, sendo esta uma característica definidora do brinquedo em geral. Nesta situação imaginária, ao assumir um papel a criança inicialmente imita o comportamento do adulto tal como ele observar em seu contexto. (2008, p.130).
Estudando o lúdico e suas implicações se tornam possível perceber algumas
definições distintas para as diversas formas de brincar e conseqüentemente os
elementos que o compõem.
Segundo KISHIMOTO (2008), a atividade lúdica pode apresentar-se de três
formas: o jogo, brinquedos e brincadeiras. Cada atividade desta possui
características distintas, entretanto se assemelham quanto ao desenvolvimento
cognitivo e ao prazer proporcionado por eles, assim, para um a melhor compreensão
torna-se importante destingi-las e identificá-las de forma mais detalhada.
De acordo com esse autor, a brincadeira pode ser vista como uma forma de
interpretação que a criança faz sobre o brinquedo, ele não condiciona as ações da
criança, más oferece um suporte que poderá ganhar inúmeros significados a partir
do imaginário e de acordo com o decorrer da brincadeira. Pois no momento que se
vive a infância e que se brinca, existe no brinquedo e na brincadeira um pouco do
mundo real, dos valores da sociedade, más existem também elementos do
imaginário.
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Outra modalidade de brincadeira presente na vida da criança é o jogo de
regras, que começa a tornar-se participante do cotidiano das mesmas em torno dos
seis anos de idade, em que se estabelecem parâmetros para que a brincadeira
possa ocorrer.
De acordo com FRIEDMAN (1976), as regras podem ser de dois tipos, as
transmitidas, aquelas que se tornam “institucionais”, em que a ação dos mais velhos
acaba determinando a ação dos outros mais jovens e dessa forma vão sendo
passadas e legitimadas, pois são os mais velhos que trazem as regras para a
brincadeira; e as regras espontâneas, que possuem natureza momentânea, que são
criadas de acordo com a necessidade dos seres brincantes.
Quanto à forma de jogar e a prática das regras existem também alguns
estágios que são definidos pela autora citada acima.
O primeiro definido como motor e individual, em que fazem parte as
crianças de 0 a 2 anos, em que as regras não estão presentes. O segundo estágio
que compreende as crianças de 2 a 5 anos, chamado de estágio egocêntrico, em
que a criança brinca sozinha e quando brinca juntamente com outras não existe a
preocupação para estabelecer nem para obedecer às regras. O terceiro estágio
denominado de cooperação, em que estão presentes as crianças de 7 a 10 anos,
em que há a necessidade de vencer o seu parceiro, assim surge uma necessidade
de controle das ações dentro das brincadeiras do que deve e o que não deve ser
feito. O quarto estágio é o de codificação das regras que compreende crianças entre
11 e 12 anos, nesta fase as brincadeiras são todas regulamentadas e as regras são
seguidas e levadas a sério.
Segundo essa autora, tratar das definições dos elementos que por um
primeiro olhar compõem o universo lúdico não é uma tarefa fácil. Essas definições
se confundem e se entrelaçam a cada momento e cada autor que se tenta buscar e
estudar.
De acordo com KISHIMOTO (2009), o jogo pode ser visto de três formas
distintas: “Como resultado de um sistema lingüístico que ocorre dentro de um
contexto social, como um sistema de regras e ainda como um objeto”.
Na primeira forma de interpretar o jogo, o seu sentido depende do contexto
social onde ele é vivenciado e o jogo não está sujeito a uma língua particular de uma
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ciência, e sim de um cotidiano o autor citado acima diz que, o jogo não segue uma
lógica da ciência, más sim a lógica de um contexto social, de uma linguagem do
cotidiano, podendo então sofrer alterações e interpretações de acordo com o
contexto social em que ele é praticado e analisado.
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CAPÍTULO 2: – A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO PARA APRENDIZAGEM
2 – 1 O LÚDICO E A CRIANÇA
Segundo KISHIMOTO (2009), Independente de épocas, culturas e classes
sociais, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida das crianças. Elas vivem em
um mundo de fantasias, encantamento, alegria e sonhos, onde a realidade e o faz
de conta se confundem, pois o jogo está na gênese do pensamento, da descoberta
de si, da personalidade de experimentar, criar e transformar o mundo.
Para o autor citado acima, a ludicidade é uma necessidade do ser humano
em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão, pois o
desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento
cultural e social. É através do brincar que a criança se encontra com o mundo e sua
totalidade, percebendo este mundo e recebendo elementos importantes para sua
vida, desde os mais insignificantes atos até os fatores determinantes da cultura da
sua época. A palavra jogo, brinquedo e brincadeira podem ser sinônimos de
divertimento, no entanto, marcam uma diferença na sua própria história de vida.
O brincar é algo tão espontâneo, tão próprio da criança, que não havia como
entender sua vida sem brinquedo. É preciso ressaltar que não é apenas uma
atividade cultural e social, desde o começo o brinquedo é uma forma de relacionar-
se, de encontrar o mundo físico e social.
O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o
desenvolvimento social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara
para um estado interior fértil, facilita os processos de expressão e construção do
conhecimento.
A formação do sujeito não é um quebra-cabeça com recortes definidos,
depende da concepção que cada profissional tem sobre a criança, homem,
sociedade, educação, escola, conteúdo e currículo. Neste contexto, as peças do
quebra-cabeça se diferenciam, possibilitando diversos encaixes.
NEGRINI (1994), sugere três pilares que sustentariam uma boa formação
profissional, com a qual concordamos: a formação teórica, a prática e a pessoal, que
no nosso entendimento, preferimos chamá-la de formação lúdica interdisciplinar.
Esse tipo de formação é pouco existente ou muitas vezes inexistente nos currículos
oficiais dos cursos de formação do educador, entretanto, algumas experiências tem
nos mostrado sua validade. Não é por acaso que a ludicidade está se tornando a
alavanca da educação para o terceiro milênio.
É através do brincar que a criança se encontra com o mundo e sua
totalidade, percebendo este mundo e recebendo elementos importantes para sua
vida, desde os mais insignificantes atos, até os fatores determinantes da cultura da
sua época. Pois brincar é algo tão espontâneo, tão próprio da criança, que não havia
como entender sua vida sem brinquedo.
É preciso ressaltar que não é apenas uma atividade social e cultural, desde
o começo o brinquedo é uma forma de relacionar-se, de encontrar o mundo físico e
social.
Brincar é a fase mais importante da infância, do desenvolvimento humano, neste período por ser a auto ativa representação do interno a representação de necessidades e impulsos internos. (...) Como sempre, indicamos o brincar em qualquer tempo não é trivial e altamente sério de profunda significação.” (FROEBEL, apud HUGHES, 1992, p. 54-55).
Segundo o autor citado acima, o jogo traz oportunidades para o
preenchimento de necessidades irrealizáveis e também de possibilidade para
exercitar-se no domínio do simbolismo, pois quando a criança é pequena, o jogo é o
objeto que determina sua ação, do seu ponto de vista, o desenvolvimento da
criança, a brincadeira traz vantagens sociais, cognitivas e afetivas a brincadeira
apresenta três características: imaginação, imitação e regra. Pois estas estão
presentes em todas as brincadeiras infantis, tanto nas tradicionais (o faz de conta),
como nas que exigem regras, pode aparecer também no desenho como nas
atividades lúdicas.
Percebemos também que VYGOTSK (1998), atribui ao brinquedo um papel
importante de preencher uma atividade básica da criança, ou seja, ele é um motivo
para a ação, pois a criança pequena tem uma necessidade muito grande de
satisfazer imediatamente seus desejos. Na educação infantil existe uma grande
quantidade de tendências e desejos não possíveis de serem realizados
imediatamente, nesse momento os brinquedos são inventados, justamente para que
a criança possa experimentar tendências irrealizáveis, a impossibilidade de
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realização imediata dos desejos cria atenção, e a criança se envolve com ilusórios e
o imaginário, onde seus desejos podem ser realizados.
Segundo o mesmo autor citado acima, através das brincadeiras que o
indivíduo constrói conhecimento e aprende a agir numa esfera construtiva de
aprendizagem que ocorre nas atividades e experiências, as quais facilitam
manifestações corporais presentes em seu mundo social e imaginário. Salientamos
que brincando a criança experimenta, descobre e inventa novas brincadeiras, neste
meio o brinquedo que é o objeto da brincadeira, surge com a intenção de causar
curiosidade estimulando o desejo de descobrir o novo e refazer novas ações.
Nesta esfera de ações lúdicas a autoconfiança e o desenvolvimento de
habilidades surgem naturalmente na ação do brincar, que por excelência é
indispensável para a construção do saber. A partir disso consideramos que as
atividades lúdicas, ou mesmo os jogos, oportunizam condições indispensáveis para
o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor da criança, pois através dessas
atividades a criança tem a possibilidade de despertar sua criatividade, autoestima,
imaginação, a confiança, a cooperação, o senso crítico, o companheirismo e o
aprender fazendo.
Partindo do princípio que toda aprendizagem ocorre através de um saber
acumulado e transmitido historicamente, que não depende somente de informações,
más também de vivências onde o aluno seja capaz de fazer suas próprias análises e
reflexões, elaborando e desenvolvendo um espírito de curiosidade educacional,
entendemos que o ensino é comunicação e além de tudo traz em si a cognição e
afetividade.
VYGOTSK (1998), afirma que, quando a criança brinca, estimula sua
capacidade de imaginar, criar, construir, pois os desafios encontrados nesse
universo mágico são muitos e não se distanciam da realidade, haja vista que neste
mundo encantado são formados conhecimentos que ajudarão a conhecer as leis e
características da vida “exterior”.
O autor acima afirma que os jogos e as brincadeiras têm grandes influências
na formação da personalidade, do caráter, da desenvoltura e do equilíbrio geral da
criança. A criança que não tem respeitado o seu direito de brincar, realizando-o de
modo abafado, poderá apresentar conseqüências negativas na formação do “eu”. A
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excessiva liberdade ou repressão e, principalmente a falta de brincadeiras pode
desencadear várias patologias, muitas vezes características do adulto, e também á
falsidade, á agressividade, á falta de iniciativa, aos vícios, á lentidão mental, á falta
de criatividade e de espontaneidade.
Segundo esse autor, a brincadeira permite lidar com sentimentos confusos e
opressivos que a realidade desperta, e com isso ir acumulando experiência
enriquecida pela convivência com os mais velhos, que vai culminar no aprendizado
dos limites do corpo e da amplidão do espaço circundante.
2 – 2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E O LÚDICO
O brincar é considerado ação que induz ao prazer, para TELES (1999),
brincar acima de tudo é exercer o poder criativo do imaginário humano construindo
um universo do qual o criador ocupa o lugar central, através de simbologias originais
inspiradas no universo de quem brinca e, é nesta ação que a criança se desenvolve
como ser criativo, pois a relação onírica com as situações do mundo em sua volta
permite-a criar sua cultura ao mesmo tempo em que se identifica com a sociedade
em que faz parte.
Segundo o autor citado acima, a criança ao fazer o que gosta (brincar),
despertando um desejo de desvendar o desconhecido, são sujeitos ativos que
quando interagem com o outro, com o meio, com o objeto ou consigo mesma,
adquirem de certa foram conhecimentos. Quando os adultos insistem em afirmar
que brincar não é um ato sério, estão erroneamente enganados. Brincadeira é tão
séria que não deve ser interrompida abruptamente. Para esse autor a brincadeira
também deve ser terminada com alegria, ao invés de choro. O adulto poderá
explicar ao filho, ou ao aluno que a brincadeira poderá continuar logo mais, do ponto
que parou. E é imprescindível que se cumpra a promessa.
As inter-relações acontecem na ação do brincar, onde a criança interage
com outros seres a fim de se manifestar enquanto sujeito que sente, pensa e age.
Ao agir a criança se manifesta subjetivamente, pensa e incorpora situações próprias
de sua formação, interpreta o mundo em seu redor conforme sua maneira de ver e
perceber sua realidade.
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As inter-relações acontecem na ação do brincar, onde a criança interage
com outros seres a fim de se manifestar enquanto sujeito que sente, pensa e age.
Segundo TELES (1999), é muito raro que os professores se percebam
incompetentes, e por isso, sempre atribuem o insucesso do seu trabalho a fatores
externos. Não percebem as deficiências de sua formação, como é resistente às
mudanças, o seu autoritarismo, a falta de diálogo e de clareza nas relações
interpessoais da instituição, o debate disfarçado de perspectivas diferentes, o
desinteresse e a falta de criatividade.
Segundo o autor citado acima, nas ações e vivências que permitem a
construção do saber e aprendizagem significativa, o brincar exercerá um importante
papel, pois é através das ações lúdicas, das vivencias e das experiências
diferenciadas que haverá a aprendizagem, e na ação do brincar os educando terão a
possibilidade de tomar consciência e decisões, formulando conceitos e respeito de
sua realidade, levando-o a ser críticos quanto a sua forma de pensar.
De acordo com o autor acima, educar é mais que passar informações ou
apontar o caminho que o professor considera mais correto, é ajudar a criança a
tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade, mostrar os caminhos
existentes e oferecer condições de escolhas bem como ajudá-lo onde encontrar
recursos para se chegar a caminhos que sejam compatíveis com seus valores, sua
visão de mundo e poder resolver problemas que cada um irá encontrar.
2 – 3 O PAPEL DO PROFESSOR NO CONTEXTO DA LUDICIDADE
Segundo CRAIDY (1998), a educação da criança necessita de dois
processos indissociáveis: educar e cuidar. Cuidar no sentido de fornecer segurança
e realizar atividades de cuidados primários como higiene e alimentação, isso incluem
algumas preocupações. Quanto ao educar, esse processo tem variado bastante em
cada creche e pré-escola. Quando se trata de classes populares, costuma-se educar
para a submissão, disciplinamento, obediência e silêncio. No outro caso, costuma-se
voltar-se à escolarização precoce, também disciplinadora, más no pior sentido
aplicam-se atividades como no ensino fundamental: papel, lápis, jogos de mesa –
tarefas rotineiras.
21
Dessa forma, na prática, a dimensão educativa desconhece um modo atual
de ver as crianças: como sujeitos que vivem um momento em que predomina o
sonho, a fantasia, a afetividade, a brincadeira e as manifestações individuais. A
infância passa a ser uma passagem corrida na vida como todas as outras de nossas
vidas, tendo conseqüências afetivas, emocionais, físicas e até mesmo psicológicas.
Por isso, é necessário que os professores estejam cientes do
desenvolvimento infantil, conhecendo as perspectivas que possam auxiliar nesse
processo. O professor somente terá sua autonomia consolidada à medida que
adquirir domínio intelectual, a qual se alcança por meio de pesquisas e de
conhecimento.
O educador deve providenciar materiais para que seus educandos venham a
confeccionar seus próprios instrumentos, a fim de experimentar na prática aquilo que
antes foi passado em um aparelho de som ou em áudio visual, porém nunca tiveram
contato direto com o instrumento. Assim, o professor mais uma vez, incentivará a
criatividade. KISHIMOTO (2008), defende a idéia de que o talento pode ter
correlatos neurológicos, e pode ser estudado como algo que foi “dado” à pessoa.
De acordo com esse autor, um indivíduo pode ter talento, quer faça uso dele
ou não; pode ser a medida da pessoa, mas a criatividade só existe no ato quando se
tem uma ideia e ela é expressa, é como se tirasse um peso dos ombros, manifesta-
se a sensação de alívio, leveza e prazer no indivíduo. Segundo ele:
Este é um dos pontos básicos da minha tese – o sine qua non da criatividade é a possibilidade do artista de liberar todos os seus elementos interiores, de permitir a entrada daquilo que Block chamava de vontade criativa. (KISHIMOTO,2008, p. 76).
Acredito que seja a sensação do “este é o modo que as coisas devem
acontecer”. Por um momento participamos do mito da criação. A ordem nasce da
desordem, a forma do caos, como na criação do universo, a sensação de alegria
vem da participação, embora pequena, neste ato criativo.
Segundo o autor citado, o papel do adulto frente ao desenvolvimento infantil
é proporcionar experiências diversificadas e enriquecedoras, a fim de que as
crianças possam fortalecer sua autoestima e desenvolver suas capacidades. No
entanto, a educação infantil é vista por alguns educadores como uma etapa que não
necessita de planejamento ou de uma proposta coerente com objetivo de educar
para a cidadania. Porém, é fundamental a conscientização dos professores para
22
uma reflexão sobre sua prática de ensino e que ele aprenda a explorar a diversidade
de habilidades e conhecimentos da criança despertados nas simples brincadeiras. O
professor deve criar possibilidades onde as crianças possam entregar-se aos jogos
e atividades orientadas para fins visados pela educação. Na instituição de Educação
Infantil, podem-se oferecer as crianças condições para as aprendizagens que
ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais
ou aprendizagens orientadas pelos adultos.
Segundo (FRIEDMAN, 1976, p.74):
O instrumento proposto não pretende ser uma receita para os professores. Ele contém sugestões para análise e compreensão dos jogos, e cada educador devem adaptar a sua utilização em função das necessidades e da realidade de cada grupo de crianças.
Para o autor citado acima, é importante ressaltar, porém, que essas
aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de
desenvolvimento infantil. O lúdico está inserido nos projetos pedagógicos da
educação e para se ter dentro da educação infantil o desenvolvimento dessas
atividades educativas o professor deve ser incentivador e orientador, deve se
preocupar em fazer a criança pensar, tomar consciência de si e do mundo e for
capaz de junto a ela construir uma história.
Segundo ele, reconhecer a importância da figura do professor como
mediador, é de fundamental importância, pois garante sua formação e estruturação,
facilitando condições de atuação para a estrutura e instrumento dos jogos e
brincadeiras junto às crianças.
A este respeito, o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil,
BRASIL (1998), orienta:
É o adulto, na figura do professor, portanto, que na instituição infantil ajuda a estruturar o campo das brincadeiras na vida das crianças. Conseqüentemente é ele que organiza sua base estrutural, por meio da oferta de determinados objetos, fantasias, brinquedos ou jogos, na delimitação e arranjo dos espaços e do tempo para brincar. (p.28).
É importante analisar junto com o aluno as situações de aprendizagem e as
situações de erro, para que estas se construam em situações de aprendizagem
reafirmando o que vem dizer o Referencial, Curricular Nacional de Educação Infantil,
BRASIL (1998, p. 29):
23
É preciso que o professor tenha consciência que na brincadeira as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esferas do conhecimento, em uma atividade espontânea e imaginativa. Nessa perspectiva não se deve confundir situações nas quais se objetivas determinadas aprendizagens relativas a conceitos, procedimentos ou atitudes explicitas com aquelas nas quais os conhecimentos são experimentados de uma maneira espontânea e destituídos de objetivos imediatos pelas crianças.
Pode-se, entretanto, utilizar os jogos, especialmente àqueles que possuem
regras, como atividades didáticas. É preciso, porém que o professor tenha
consciência que as crianças não estarão buscando livremente nestas situações, pois
há objetivos didáticos em questão. Com isso podemos definir a partir de uma
escolha criteriosa das ações lúdicas mais adequadas para cada criança que é
necessária propor desafios a partir da escolha de jogos, brinquedos e brincadeiras
determinadas por adulto responsável. Essas atividades têm propósitos claros de
promover o acesso à aprendizagem e ajudar no conhecimento cognitivo, afetivo e
social.
É capaz através do brinquedo, do sonho e da fantasia de viver num mundo
que é apenas seu. Elas apresentam muitas diferenças e isso não deve ser
desprezado nem tratá-las como desiguais. Por isso, a educação infantil deve ser
muito qualificada, proporcionando um lugar de prazer, seguro, que supra as
necessidades da criança, bem como prepará-la para vida.
24
CAPÍTULO 3: A NECESSIDADE QUE A CRIANÇA TEM DE BRINCAR
A criança aprende a brincar brincando e brinca aprendendo, pois o brincar
está presente em todas as dimensões do ser humano e, de modo especial na vida
das crianças.
Segundo CHATEAU (1987), de uma criança que não sabe brincar, uma
miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar. Para manter-se em
harmonia consigo mesma, com seus semelhantes e com o mundo que acerca, a
criança precisa brincar, precisa inventar e reinventar o mundo, pois, brincar não é
perda de tempo. A criança que não brinca é como um pássaro sem ninho, pois os
brinquedos possibilitam o desenvolvimento integral da criança porque ela se envolve
efetivamente e socialmente, tudo isso acontece de maneira envolvente, onde a
criança cria e recria normas e constrói alternativas para resolver alguns
contratempos que surgem no ato do brincar.
O autor citado acima, afirma que o ato de brincar é muito mais um processo
do que um produto. O brinquedo facilita a apreensão da realidade, brincar é uma
atividade e uma experiência, pois exige movimentação física e requer da criança
participação completa. Para a criança, brincar é viver. A história da humanidade tem
nos mostrado que as crianças sempre brincaram e, certamente, continuarão
brincando, pois, brincar faz parte da essência da criança e quando isso não
acontece algo pode não estar bem. A essência da infância é o brinquedo, ele é o
transporte para o crescimento, é também um meio muito natural que permite à
criança explorar o mundo, possibilitando-lhes descobrir-se, conhecer seus
sentimentos e sua forma de agir e reagir.
Segundo NEGRINE (1994), o brinquedo é essencialmente dinâmico e
possibilita o surgimento de comportamentos espontâneos, padrões e normas podem
ser criados havendo a liberdade para se tomar decisões. Pois, é por meio das
atividades lúdicas que a criança forma conceitos, seleciona idéias, estabelecem
relações lógicas e, assim, segue se socializando. As atividades lúdicas devem estar
presentes no cotidiano da educação infantil, pois os brinquedos desempenham
papéis relevantes para o desenvolvimento das crianças bem como para a
transmissão da cultura de uma geração para outra.
De acordo com o autor citado, o brinquedo é influenciado pela idade, sexo e
presença de companheiros e surpresas, portanto, cabe ao professor valorizar o
brinquedo para encorajar os educando, sem achar que está perdendo tempo, pois, é
através das brincadeiras que as crianças desenvolvem a expressão corporal, gestos
e postura e a relação que se estabelece entre o corpo, a mente da criança e o seu
ambiente tem uma enorme importância para o seu desenvolvimento.
3.1 ATIVIDADES LÚDICAS NO ESPAÇO ESCOLAR: BRINCADEIRAS, JOGOS
E MÚSICAS COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS.
Observa-se que o ato de brincar tem suma importância no desenvolvimento
do indivíduo, tanto do ponto de vista psicológico, quanto cognitivo e sociocultural.
Segundo BROUGERÉ (1995, p. 75): “A essência do brincar não é um fazer
“como se”, más um “fazer sempre de novo”, transformação de experiências mais
comovente em hábito.”
Dessa forma, entende-se que o brincar é a linguagem natural da criança,
faz parte de si. Por ele a criança pode construir sua própria identidade as
brincadeiras são meios pelos quais as crianças mostram como elas interpretam e
enxergam o mundo.
É uma atividade de grande importância, pois a torna ativa, criativa e lhe dá
oportunidade de relacionar-se com os outros. Quando crianças de idades variadas
estão brincando, pode-se observar que nem sempre foi um brinquedo que
desencadeou o ato de brincar, mas sim outro objeto qualquer. Muitas brincadeiras,
às vezes, dispensam um suporte material e exigem apenas o próprio corpo.
Segundo VYGOTSKY (1984, p. 32):
É na brincadeira que a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, e além de seu comportamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinquedo como se ela fosse maior do que é na realidade. Para este pesquisador, o brinquedo fornece estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência da criança. A ação infantil na esfera imaginativa, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos de vida real e motivações volitivas aparecem no brinquedo, que se constitui no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.
O brinquedo tem uma contribuição ímpar na vida da criança, pois toda
experiência que ela vive vem do hábito de observar a atuação dos adultos com os
26
objetos. Assim, quando a criança está em contato com um determinado brinquedo,
intencionada de brincar, ela cria suas brincadeiras com base nas referências
adquiridas e recria conforme suas necessidades, adquirindo a consciência da
realidade. Isto se confirma com o que FRIEDMAN, diz:
O brinquedo é visto como um objeto que dá suporte a brincadeira. Através do brinquedo, a criança vê sua brincadeira se rechear de novos conteúdos, de novas representações que ela vai manipular transformar ou respeitar, apropriar-se do seu modo. (1976, p. 177).
Sendo assim, o brinquedo propicia o bem estar, o desenvolvimento da
criatividade da criança, tornando-se num resgate de momentos que possibilitam a
predominância dos sonhos, das fantasias e da afetividade, levando a criança a
superar suas dificuldades.
O lúdico auxilia no processo de aprendizagem, desenvolvendo mais rápido e
com mais intensidade as habilidades que a criança deve adquirir desde a infância.
Além de um estado de liberdade e diversão para ela, o brincar exige esforço físico
e/ou mental, o pensar, imaginação, levando ao raciocínio lógico, sistemático e novas
capacidades.
Essas exigências são cumpridas sem a sensação de obrigação na
realização de tal atividade. Por isso, ela se entrega à brincadeira por prazer, sem
medo ou culpa, errando, tentando novamente e aprendendo. Ela dedica-se ao
máximo, explorando todas as suas habilidades para executar a brincadeira
corretamente. Deste modo, o aprendizado acontece de forma prazerosa, e os novos
conhecimentos adquiridos se tornam compreensíveis e importantes para a criança.
Nas brincadeiras existem regras, e quando o sujeito participante tem a
consciência das mesmas, entende que devem ser cumpridas. Na infância, isto
promove limites e treina a criança em respeitá-los.
Segundo SANTOS:
É importante que nas aulas da educação infantil, o professor utilize a brincadeira como instrumento essencial para sair da rotina diária, pois é nesse momento que os alunos aprendem de forma descontraída, como por exemplo, a massa de modelar que com ela inventa e reinventa, ou seja, coloca pra fora às imagens de objetos que se encontram em seu pensamento, fortalecendo a arte de criar. É necessário que sejam motivadas, elogiadas, e jamais ao contrário. (2001, p. 125).
Para a autora citada acima, a criança, expressa por meio da brincadeira sua
vida social, seja aquela vivida em casa, na rua com colegas, ou até mesmo na
27
escola, neste sentido, pode-se observar seu comportamento, diagnosticar como
esse menino ou menina é tratado (a) e orientar não só ele (a), mas toda família para
que sua vida se torne cada vez mais produtiva. A brincadeira é um mundo
empregado pelas crianças para conhecer o mundo que a rodeia. Muitas vezes, os
temas escolhidos nas brincadeiras são aqueles que a criança precisa aprofundar.
Brincando a criança constrói significados, objetivando a assimilação dos papéis
sociais, o entendimento das relações afetivas é a construção do conhecimento.
DEWEY, apud AMARAL (2008), afirma que a criança também tem a
possibilidade de assimilar, e recriar as experiências vividas pelos adultos,
construindo assim hipóteses sobre o funcionamento da sociedade. Brincando, a
criança busca compreender o mundo é as ações humanas com as quais convive em
seu cotidiano. Sendo assim, torna-se necessário que se diversifique os brinquedos
para que as crianças explorem novos objetos, desenvolvam a percepção e
aprendam novos conceitos.
Segundo o autor citado acima, como a forma de diversão infantil se modifica
a cada geração, é preciso que o educador conheça os novos brinquedos, jogos e
brincadeiras, a fim de conhecer o mundo da criança hoje, saber como lidar com
esses objetos e diversões, bem como saber excluir os que não oferecem nenhuma
vantagem à criança no seu processo de formação social, afetiva, cognitiva, motora,
enfim, humana. Todavia, isto não significa que se devam desprezar brincadeiras,
brinquedos e jogos antigos, pois muitos deles podem, além de oferecer noções
culturais, transmitir diversos conhecimentos e ajudar no desenvolvimento das
capacidades e habilidades da criança, o que pode ser confirmado com o pensamento
de KISHIMOTO (2009), quando diz que: “Enquanto manifestação livre e espontânea
da cultura popular, a brincadeira tradicional tem a função de perpetuar a cultura
infantil, desenvolver formas de convivência social e permitir o prazer de brincar.” (p.
38).
Segundo esse autor, o brincar permite que haja a troca de pontos de vista
diferentes, ajudando a perceber como os outros vêm, auxilia a criar de interesses
comuns uma razão para que se possa interagir com o outro. Ele tem uma função,
um significado diferente e especial para a criança em cada momento da vida. Aos
poucos, os jogos e brincadeiras vão possibilitando às crianças a experiência de
buscar coerência e lógica nas suas ações governando a si e ao outro. Elas passam
28
a pensar sobre suas ações nas brincadeiras, sobre o que falam, sentem, não só
para que os outros possam compreendê-las, mas também para que continuem
participando das brincadeiras. Segundo KISHIMOTO (2009):
O jogo que no passado era visto como recreação aparece nos dias de hoje como relaxamento necessário às atividades que exigem esforço físico, intelectual escolar. [...] é importante respeitar as vontades da criança para que haja uma interação aluno-professor de modo a construir o conhecimento juntos e desenvolver o aprendizado com prazer (p.79).
De acordo com esse autor, embora o jogo ocorra sob a supervisão do
professor, permite-se a escolha do mesmo para que seja respeitada a vontade da
criança e se manifesta o prazer na ação desenvolvida. Os autores entendem a
recreação como um espaço para a criança expressar, criar e desenvolver. A
proposta é de uma recriação. KISHIMOTO (2008) ressalta a importância dos jogos, e
em especial, o jogo simbólico, também chamado de “faz-de-conta”. Por meio dele, a
criança expressa a sua capacidade de representar dramaticamente. O faz-de-conta
tem uma natureza imitativa onde a criança através da brincadeira reproduz
comportamentos, procura soluções para os problemas e a sua maneira transforma a
realidade. É através da brincadeira que a criança se comunica e na convivência com
o outro ela percebe as limitações, aprendendo a socializar-se com o mundo
desenvolvendo a sua personalidade.
Através do faz-de-conta a criança tem possibilidade de experimentar
diferentes papéis sociais na vida. Quando ela pega uma vassoura e, colocando-a
entre as pernas, sai andando e correndo dizendo que é seu cavalo, significa que ela
é capaz de simbolizar, pois a vassoura representa uma realidade ausente, ajudando
acriança a separar objeto de significado. Tal capacidade é um passo importante para
o desenvolvimento do pensamento, pois faz com que a criança se desvincule das
situações concretas e imediatas sendo capaz de separar.
Segundo CHATEAU:
Toda criança, ao brincar de “ser grande”, coloca em ato esse tempo singular o futuro anterior – “eu terei sido” – que indica uma ação a executar-se no futuro que depende, por sua vez, de uma ação no presente: o que terei sido no que estou chegando a ser. Na criança seria “o que desejei no estou chegando a ser no próprio jogo” onde se delimita a anterioridade em relação com outro momento futuro [...]. É no brincar que a criança pode realizar, e “realiza”, este futuro anterior em relação ao presente do instante. (1987, p. 174).
Assinalemos que, para que uma criança possa ir armando seu destino (num
futuro anterior), os pais (ou aqueles que cumprem sua função) tiveram que pôr em
29
ato em seus próprios filhos o futuro, como um tempo onde inclusive antes do
nascimento um sujeito onde ainda (anterioridade) não o havia. O que certamente
permitirá à criança, em outro tempo (futuro), constituir seu próprio destino subjetivo,
(os jogos e as demais brincadeiras, inclusive o faz-de-conta, muitas vezes, incluem
situações de regras e normas que devem ser seguidas para que a criança
permaneça na brincadeira/jogo. As regras assumidas no brincar fazem com que as
crianças se comportem de forma mais avançada daquilo que na sua idade seria
peculiar.
O autor acima, relata que através das brincadeiras regradas na interação
com objetos e outras crianças ela desenvolve suas potencialidades, e descobre
várias habilidades e exercita a disciplina. O professor pode usar uma estratégia de
ensino excelente na sua visão, mas se não estiver adequada ao modo de aprender
da criança, de nada servirá. No momento em que se aplica o jogo a atitude do
professor deverá ser a de mediador deixando livre a imaginação das crianças para
que possibilite o melhor aproveitamento possível da atividade, construindo assim
junto ao aluno seu cognitivo criando um despertar do faz-de-conta.
O professor intervirá o mínimo possível atuando apenas como direcionador
da atividade, garantindo a livre manifestação das suas habilidades, estimulando o
raciocínio e a civilidade, descobrindo os anseios das crianças, participando agora,
efetivamente na vida do aluno. Muitas vezes, as atividades lúdicas são interpretadas
de forma inequívoca, tendo à falsa idéia de bagunça em que o professor apenas
quer alguns minutos de descanso, no entanto essas atividades são altamente
educativas e proporciona uma maior interação entre o professor e o aluno.
Também é importante falar sobre os espaços. Na escola, devem-se
organizar espaços para cada atividade específica, de modo que a realização das
tarefas aconteça de forma correta e então o ambiente e os materiais estejam aptos
para proporcionar o aprendizado, como brinquedoteca, cantinho da leitura, sala de
vídeo, parquinho, entre outros.
Entretanto, nem sempre as escolas dispõem de espaços adequados para a
criança brincar, o que pode dificultar o processo de ensino. Todavia, não é isto
apenas que vai impedir de a aprendizagem acontecer. Pois, quando o professor se
empenha, usando o que a escola lhe fornece, com sua criatividade e a busca de
30
outros recursos poderá tornar suas aulas as melhores possíveis e, então, dinamizá-
las.
Segundo NEGRINI (1994), há fartura da atividade lúdica no cotidiano
escolar da educação infantil, porém, uma rotina deve ser seguida. Neste caso, é
preciso diversificar canções para que as crianças conheçam novas palavras, novos
ritmos, melodia, tempos, sons, entre outros. A música distrai, relaxa, a calma e/ou
dependendo da música, também agita, desenvolvendo a sensibilidade e a
concentração. Basta saber usá-las, cada tipo nos momentos adequados.
Para o autor citado acima, a música carrega em si mensagens que são
levadas a aqueles que a ouvem. Percebe-se que, muitas vezes, se vê músicas tão
incoerentes que não fazem sentido cantá-las. Por isso, é fundamental que o
professor estude as letras das músicas antes de serem levadas à turma, pois muitas
vezes, encontram-se mensagens subliminares, indesejáveis, outras vezes
incompreensíveis à criança ou fora de sua realidade de vida, podendo até mesmo
criar reflexos inconscientes que mais tarde se tornem em preconceitos.
Segundo esse autor, pode-se destacar que: Brincar não constitui perda de
tempo, nem é simplesmente uma forma de preencher o tempo. A criança que não
tem oportunidades de brincar está como um peixe fora da água. O lúdico auxilia no
processo de aprendizagem, desenvolvendo mais rápido e com mais intensidade as
habilidades que a criança deve adquirir desde a infância. Além de um estado de
liberdade e diversão para ela, o brincar exige esforço físico e/ou mental, o pensar,
imaginação, levando ao raciocínio lógico e sistemático e novas capacidades.
Essas exigências são cumpridas sem a sensação de obrigação na
realização de tal atividade. Por isso, ela se entrega à brincadeira por prazer, sem
medo ou culpa, errando, tentando novamente e aprendendo. Ela dedica-se ao
máximo, explorando todas as suas habilidades para executar a brincadeira
corretamente.
Deste modo, o aprendizado acontece de forma prazerosa, e os novos
conhecimentos adquiridos se tornam compreensíveis e importantes para a criança.
Nas brincadeiras existem regras, e quando o sujeito participante tem a consciência
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das mesmas, entende que devem ser cumpridas. Na infância, isto promove limites e
treina a criança em respeitá-los.
De acordo com VYGOTSKY (1998), a criança, expressa por meio da
brincadeira sua vida social, seja aquela vivida em casa, na rua com colegas, ou até
mesmo na escola, neste sentido, pode-se observar seu comportamento, diagnosticar
como esse menino ou menina é tratado (a) e orientar não só ele (a), mas toda
família para que sua vida se torne cada vez mais produtiva.
De acordo com o autor acima, a brincadeira é um mundo empregado pelas
crianças para conhecer o mundo que a rodeia. Muitas vezes, os temas escolhidos
nas brincadeiras são aqueles que a criança precisa aprofundar. Brincando a criança
constrói significados, objetivando a assimilação dos papéis sociais, o entendimento
das relações afetivas é a construção do conhecimento.
Neste sentido, o lúdico tem lugar de destaque no aprendizado. Pois, a
brincadeira estimula a capacidade mental do aluno. Por meio dela os alunos
interagem uns com os outros e com o professor, criando formas de se comunicar e
propiciando condições para o crescimento e a construção da aprendizagem e da sua
atuação no meio social.
CRAIDY diz que:
As brincadeiras de água e areia possibilitam à criança identificar, diferenciar, generalizar, classificar, agrupar, ordenar, seriar, simbolizar, combinar e estimar. E juntamente com estas operações, a atenção está sendo desenvolvido, o mesmo ocorrendo com respeito às relações espaciais e temporais [...]. Além da água e areia, há uma infinidade de brinquedos e brincadeiras que seduzem a criança e a envolvem integralmente. Quanto mais o brinquedo possibilitar a exploração livre da criança, melhor. Quanto menos isto ocorrer, mais a criança estará na condição de mera espectadora. (1998, p. 79).
Sendo assim, torna-se necessário que se diversifique os brinquedos para
que as crianças explorem novos objetos, desenvolvam a percepção e aprendam
novos conceitos.
Como a forma de diversão infantil se modifica a cada geração, é preciso que
o educador conheça os novos brinquedos, jogos e brincadeiras, a fim de conhecer o
mundo da criança hoje, saber como lidar com esses objetos e diversões, bem como
saber excluir os que não oferecem nenhuma vantagem à criança no seu processo
de formação social, afetiva, cognitiva, motora, enfim, humana.
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Como afirma o autor acima, isto não significa que se devam desprezar
brincadeiras, brinquedos e jogos antigos, pois muitos deles podem, além de oferecer
noções culturais, transmitir diversos conhecimentos e ajudar no desenvolvimento
das capacidades e habilidades da criança. Aos poucos, os jogos e brincadeiras vão
possibilitando às crianças a experiência de buscar coerência e lógica nas suas
ações governando a si e ao outro. Elas passam a pensar sobre suas ações nas
brincadeiras, sobre o que falam, sentem, não só para que os outros possam
compreendê-las, mas também para que continuem participando das brincadeiras.
Quanto aos jogos, segundo KISHIMOTO (2009), o jogo que no passado era
visto como recreação aparece nos dias de hoje como relaxamento necessário às
atividades que exigem esforço físico, intelectual escolar.
Segundo o autor acima:
É importante respeitar as vontades da criança para que haja uma interação aluno-professor de modo a construir o conhecimento juntos e desenvolver o aprendizado com prazer. Embora o jogo ocorra sob a supervisão do professor, permite-se a escolha do mesmo para que seja respeitada a vontade da criança e se manifesta o prazer na ação desenvolvida. Os autores entendem a recreação como um espaço para a criança expressar,
criar e desenvolver. A proposta é de uma recriação (KISHIMOTO, 2009, p.67).
O faz-de-conta tem uma natureza imitativa onde a criança através da
brincadeira reproduz comportamentos, procura soluções para os problemas e a sua
maneira transforma a realidade. E através da brincadeira que a criança se comunica
e na convivência com o outro ela percebe as limitações, aprendendo a socializar-se
com o mundo desenvolvendo a sua personalidade.
De acordo com o autor citado, é no brincar que a criança pode realizar, e
“realiza”, este futuro anterior em relação ao presente do instante. Assinalemos que,
para que uma criança possa ir armando seu destino (num futuro anterior), os pais
(ou aqueles que cumprem sua função) tiveram que pôr em ato em seus próprios
filhos o futuro, como um tempo onde inclusive antes do nascimento imaginaram um
sujeito onde ainda (anterioridade) não o havia. Os jogos e as demais brincadeiras,
inclusive o faz-de-conta, muitas vezes, incluem situações de regras e normas que
devem ser seguidas para que a criança permaneça na brincadeira/jogo.
As regras assumidas no brincar fazem com que as crianças se comportem
de forma mais avançada daquilo que na sua idade seria peculiar. Através das
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brincadeiras regradas na interação com objetos e outras crianças ela desenvolve
suas potencialidades, e descobre várias habilidades e exercita a disciplina. O
professor pode usar uma estratégia de ensino excelente na sua visão, mas se não
estiver adequada ao modo de aprender da criança, de nada servirá.
SANTOS (2001), no momento em que se aplica o jogo, a atitude do
professor deverá ser a de mediador deixando livre a imaginação das crianças para
que possibilite o melhor aproveitamento possível da atividade, construindo assim
junto ao aluno seu cognitivo criando um despertar do faz-de-conta.
Muitas vezes, as atividades lúdicas são interpretadas de forma inequívoca,
tendo a falsa idéia de bagunça em que o professor apenas quer alguns minutos de
descanso, no entanto essas atividades são altamente educativas e proporciona uma
maior interação entre o professor e o aluno.
Segundo a autora citado acima, é na construção e reconstrução, que as
crianças formulam seus conceitos e estabelecem a sua lógica no decorrer do
período, sistematizando o conhecimento.
PIAGET (1975), destaca o conhecimento da criança quanto aos níveis:
Estágio Intuitivo – 4/5 a 7/8 anos:
Nível de Linguagem – Informação Adaptada, a criança adapta sua resposta
à frase do companheiro, mas não segue este assunto, podendo mudar de tema a
partir de uma palavra que desperte seu interesse.
Nível de Organização e Socialização – Pares fixos, é o início da construção
dos grupos, surgem também os primeiros amigos, podem dissolver facilmente, os
conflitos diminuem razoavelmente, podendo brincar por longas horas.
Nível de Representação Gráfica – Realismo Intelectual organiza os
elementos na totalidade. Acrescenta detalhes em seus desenhos, assim pode
desenhar de perfil, um homem com os dois olhos aparecendo, onde chamamos de
transparência.
Nível de Representação do Corpo – Jogo simbólico tem a capacidade de
reproduzir situações vividas, a criança transforma através da fantasia e do faz de
conta, o mundo para realizar os seus desejos.
34
3. 2 - TIPOS DE BRINCADEIRAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
CONSTRUÇÃO DE UM PROPÓSITO DE EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Antes de falarmos dos tipos de jogos e brincadeiras devemos pensar sobre a
sua relação com a escola. Desenvolve-se a sociabilidade, aprende-se a conviver
com o próximo, aprende-se a trabalhar em equipe, e a aceitar diferenças. AMARAL
(2008), afirma que ao possuir motivação intrínseca, exercitam-se as potencialidades
com plenitude e os desafios tornam-se parte natural da vida e vontade em vencê-los
um exercício. É por meio dos jogos e brincadeiras que o professor nutre a sua vida
interior descobrindo elementos a sua volta, do mundo e com sentido a sua vida.
Segundo o autor citado acima, o que a criança realmente precisa é o
reconhecimento do seu tempo livre, de espaço, recursos adequados para que seus
interesses possam ser desenvolvidos, não ser livremente explorada pelos meios de
comunicação de massa. Desta maneira, através do brincar que é um direito seu, ela
pode se nutrir, e no brincar, casam-se a espontaneidade e a criatividade com a
progressiva aceitação das regras sociais e morais. Em outras palavras, é brincando
que a criança se humaniza, aprendendo a conciliar de forma efetiva a afirmação de
si mesma à criação de vínculos afetivos duradouros. O papel do brincar na
educação da criança é fundamental. A vivência instantânea provocada pelo brincar
dá a chance da criança exteriorizar seus sentimentos, exercitar sua iniciativa,
assumir a responsabilidade por seus atos, através da brincadeira, a criança aprende
a viver e trabalhar sua autoestima.
Para o autor citado, Cabe à escola criar condições de expressão e de
comunicação para que a criança através do brincar, tenha uma visão consciente do
seu mundo. Tem também o papel de auxiliar pais e mães na compreensão dos reais
benefícios do brincar. A parceria entre escola e paternidade comprometidas é uma
grande garantia de crescimento e desenvolvimento integral e pleno da criança.
O ser humano passa por diferentes etapas nesta construção, desde o
chupar o polegar até elaborar pensamentos com diferentes estruturas. É no seio
deste processo que a criança irá construindo com a possibilidade de transformar o
objeto, de acordo com a experiência de cada um. Sem a brincadeira (lúdico) fica
tedioso o processo de aprendizagem. É necessário que a construção se faça a partir
do jogo, da imaginação, do conhecimento do corpo.
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Brincar é vital, primordial e essencial, pois, esta é a maneira que o sujeito humano,
na saúde, utiliza para se estruturar como sujeito da emoção, da razão e da relação.
CHATEAU (1987), afirma que para atuar na Educação Infantil e necessário
conhecer as crianças, suas características e seus direitos, conhecer a metodologia
própria para atuar com mediador, bem como a legislação que possibilite a formação
de um cidadão na atualidade e que respalde um verdadeiro trabalho pedagógico na
Educação Infantil.
Segundo o autor acima, é preciso enfatizar igualmente a multiplicidade de
fatores que estão presentes nessas relações exigindo um olhar multidisciplinar que
se expresse nas suas ações pedagógicas, que se diferenciam da escola básica, que
envolve, sobretudo, além da dimensão cognitiva, as dimensões lúdica, criativa e
afetiva, numa perspectiva da autonomia e da liberdade. Cabe sempre ressaltar a
importância de perceber, na escola de Educação Infantil, não apenas caráter
preliminar, assistencialista ou compensatório, mas sua finalidade própria de cuidar e
educar, de formar a base para a construção da cidadania.
Portanto, a formulação de uma proposta pedagógica para a educação infantil
pressupõe uma ampla reflexão teórica tendo como preocupação básica a própria
criança e o seu processo de constituição como ser humano em diferentes contextos
sociais, a sua cultura e as capacidades intelectuais, criativas, estéticas e
emocionais.
KISHIMOTO (2008), afirma que o jogo, em seu sentido integral é o mais
eficiente meio estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança
(e até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o
indivíduo é quem quer ser, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições.
Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio
em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das
regras, mas sem que se aliene a elas, posto que sejam as mesmas estabelecidas
pelos que jogam e não impostas por qualquer estrutura alienante.
Segundo o autor citado acima, brincando com sua especialidade, a criança
se envolve na fantasia e constrói um atalho entre o mundo inconsciente, onde
desejaria viver, e o mundo real, onde precisa conviver. O jogo não é uma tarefa
imposta, não se liga a interesses materiais imediatos, mas absorve a criança,
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estabelece limites próprios de tempo e de espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com
harmonia.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na singeleza de cada ação do profissional da Educação Infantil há uma
resposta e equilibração da criança, não somente pelo que se diz, mas, sim pelo
exemplo que se dá a cada dia de nossa ação.
Antes de se iniciar qualquer trabalho deve-se ter em mente os propósitos,
aonde se querem chegar e como se vai fazer para alcançá-los. Uma problemática
tão densa, como a desta monografia remete-nos a intencionalidade de cada fator
intrínseco a serem desenvolvidos com o grupo na Educação Infantil, as brincadeiras
e jogos são próprios de sua natureza, mas nem por isto deve ser menosprezado ao
longo de uma caminhada.
Conhecer a sua realidade, os alunos, saber intervir, participar durante estes
momentos dá ao professor credibilidade, afetividade e uma infinita bagagem cultural
para a realização de novos trabalhos, pois se há sintonia entre todos do grupo, o
trabalho torna-se valioso sendo reconhecido às crianças como seus próprios da sua
identidade e necessidade.
O trabalho com educação infantil é muito delicado por se tratar do início da
vida escolar e também o início da formação de crianças. Na educação infantil se
busca muito mais do que apenas aplicação de conteúdos, já que as crianças
precisam se preparar para inúmeras situações da vida e a escola é uma dos
ambientes que deve proporcionar a entrada desses pequenos seres na jornada da
vida.
A brincadeira deve ser um elemento constante na rotina das escolas que
atuam com a educação de crianças, entretanto a brincadeira precisa ser encarada
como um instrumento que colabora para a aprendizagem, deixando de ser utilizada
apenas nos intervalos das ações pedagógicas ou como forma de preencher o
planejamento diário e completar a carga horária.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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