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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA CURSO: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL DAS PRINCIPAIS NARRATIVAS QUE POVOAM O IMAGINÁRIO INFANTIL: O QUE PENSAM OS PROFESSORES E O QUE NOS DIZEM AS CRIANÇAS? ANGELA MARIA DE MORAIS BLASKIEVICZ Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo ALTA FLORESTA / 2011

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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL

DAS PRINCIPAIS NARRATIVAS QUE POVOAM O IMAGINÁRIO INFANTIL: O

QUE PENSAM OS PROFESSORES E O QUE NOS DIZEM AS CRIANÇAS?

ANGELA MARIA DE MORAIS BLASKIEVICZ

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

ALTA FLORESTA / 2011

AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA

CURSO: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL

DAS PRINCIPAIS NARRATIVAS QUE POVOAM O IMAGINÁRIO INFANTIL: O

QUE PENSAM OS PROFESSORES E O QUE NOS DIZEM AS CRIANÇAS?

ANGELA MARIA DE MORAIS BLASKIEVICZ

Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo

“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Psicopedagogia com ênfase em Educação.”

ALTA FLORESTA / 2010

RESUMO

Esta é uma investigação que teve como objetivo verificar o que pensam os

professores da Educação Infantil e o que dizem as crianças a respeito das

narrativas. Este trabalho analisou dois aspectos importantes: se os profissionais da

Educação Infantil contam histórias para seus alunos e se estes gostam de ouvir. A

pesquisa foi desenvolvida através de leituras de teorias referentes ao assunto

abordado nos objetivos, houve coletas de informações através de dados coletados

de crianças e profissionais que atuam na Educação Infantil, os quais foram

levantados e transformados em gráficos que possibilitaram chegar-se a conclusão

dos resultados apresentados na análise de dados. Resultou-se que as narrativas

fazem parte da rotina semanal dos profissionais que atuam na Educação Infantil

porque acreditam que o contar histórias é uma atividade pedagógica que ensina,

desenvolve a imaginação, a criatividade, o gosto pela leitura e escrita e por meio das

narrativas é possível trabalhar os valores, sentimentos e conflitos comuns e naturais

das crianças. E os pequenos por sua vez correspondem a este ato de contar

histórias demonstrando emoção, satisfação, recebendo essa atividade também

como uma brincadeira onde ela entra no mundo do faz-de-conta e solta sua

imaginação por meio das representações sociais que fazem quando imitam os

personagens com os quais mais se identificam. Conclui-se que os profissionais da

Educação Infantil de instituições públicas e particulares do município de Alta Floresta

consideram as narrativas um instrumento fundamental na construção do

conhecimento e desenvolvimento da criança. E as crianças respondem a isso com o

envolvimento e interação por essa atividade.

Palavras- chave: contos de fadas; criança; educação.

SUMÁRIO

INTRODUÇAO 04

1.

1.1

CAPITULO I – O PAPEL DOS CONTOS DE FADAS NO DIA-A-

DIA DAS CRIANÇAS 06

- A FUNÇAO DA LINGUAGEM NA TRANSMISSÃO DAS

NARRATIVAS 10

2- CAPITULO II - NARRATIVAS: O QUE PENSAM OS

PROFESSORES E O QUE NOS DIZEM AS CRIANÇAS 14

CONSIDERAÇÕESFINAIS 26

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 28

INTRODUÇÃO

Os contos de fadas, em sua tradição oral, surgiram há milhares de anos,

como obras de uma sociedade pré-literata. Sua valorização deu-se há alguns

séculos atrás, quando passaram a ser narrados às crianças. Suas mais recentes

contribuições estão diretamente ligadas aos estudos e conteúdos implícitos nos

contos de fadas e sua importância na vida da criança. Como proposta para a

Educação, visa um novo olhar sobre a infância, considerando-se a criança como um

todo, seu lado afetivo e cognitivo em igual medida, oferecendo-se um estudo

introdutório da psique do ser humano, as intervenções do meio e a idéia que criança

tem de si e do outro. Dirigindo-se aos principais instrumentalizadores e

colaboradores (educando e professores) de uma consciência civilizatória na criança,

este trabalho propõe uma busca de si próprio e de um significado à vida.

As narrativas são instrumentos pedagógicos imprescindíveis na rotina

semanal de quem trabalha com a Educação Infantil, pois através delas é possível

trabalhar com a socialização, a coletividade, é com a imaginação da criança. Pode-

se dizer que as histórias são canais de informações que estão expressas numa

linguagem própria para crianças visto que elas se identificam com as fantasias do

“Era uma vez...”.

Neste sentido, o principal objetivo desta pesquisa é saber se os profissionais

da Educação Infantil contam histórias para seus alunos e se as crianças gostam de

ouvi-las.

Outro aspecto analisado foi se os professores consideram contar histórias

uma prática pedagógica e em que essa prática contribui na formação do sujeito para

sua formação sócio cognitiva.

Diante do quadro atual da Educação Infantil de Alta Floresta pode-se

considerar que os professores já têm noção de que as narrativas precisam e devem

fazer parte do planejamento diário, visto que através das histórias é possível retratar

vários aspectos que envolvem as crianças (culturais, sociais, psicológicos, motores).

Sem contar que esta prática desperta o gosto pela arte, leitura e escrita. E as

crianças sentem-se satisfeitas, cativadas e encantadas com a beleza dessas

narrativas.

A contação de histórias é mais um recurso para ajudar a quebrar o mito

cristalizado de que crianças de 0 a 6 anos precisam apenas de cuidado sendo que

através da contação de histórias é possível trabalhar o cognitivo da criança

envolvendo-a no jogo da linguagem como os sons, os ritmos, os sentidos, os

recursos onomatopaicos, e outros conteúdos que por meio das histórias podem ser

trabalhados no sentido de não só cuidar mas também de educar.

Uma condição necessária para que o professor consiga fazer da narrativa

um instrumento educativo é que ele conheça a história e de preferência faça uma

leitura antes de contá-la.

Nem sempre é necessário que o professor após contar uma história faça

cobrança de atividades, porque história quando bem contadas trazem beleza

encantamento que por si bastam.

No primeiro capítulo desta pesquisa apresentamos a colaboração dos

autores (Xavier, Wallon, Freud, Moscovic, Guareschi, Jodelet, Silva Lane, Maricato,

Hall, Kramer, Charlot) para a importância das narrativas na Educação Infantil bem

como a importância da preparação do professor no momento da contação da história

para crianças de 0 a 6 anos, logo a necessidade dos professores se capacitarem

teoricamente e serem criativos.

No segundo capítulo analisamos os dados levantados através da pesquisa

feita com crianças de 0 a 6 anos e com profissionais da Educação Infantil.

Finalmente na conclusão apresentamos reflexões acerca dos objetivos

levantados inicialmente bem como procuramos responder a problemática inicial do

trabalho.

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1.0 CAPÍTULO I - O PAPEL DOS CONTOS DE FADA NO DIA-A-DIA DAS

CRIANÇAS.

Os contos de fadas têm a sua origem, segundo BETTELHEIM, (1980, p. 14),

na cultura Celta, um povo que vivia na Europa ocidental em meados dos séculos IV

e V. Esse povo enfatizava a supremacia feminina, ou seja, consideravam que a

mulher era um ser superior, e também praticavam magia. Baseado no folclore

ocidental, segundo BETTELHEM (1980), fadas são personagens do bem ou do mal,

geralmente representadas por mulheres de grande beleza, imortais e dotadas de

poderes sobrenaturais, capazes de interferir na vida dos mortais em situações

limites. Relacionado a essa cultura surgem os contos de fadas que são variações

dos contos populares ou das fábulas, sendo narrativas curtas onde o herói ou a

heroína precisa enfrentar grandes dificuldades por isso precisam ter muita

disposição e astúcia para contornar os obstáculos que surgem no decorrer da

história e contam com algum tipo de magia, encantamento que lhes ajudarão na

solução do problema levando o bem a triunfar contra o mal. Através dos contos de

fadas ou contos maravilhosos é possível levar a criança a lidar com conflitos internos

que elas enfrentam em seu processo de desenvolvimento humano, usando a

fantasia trazida nos contos de fadas é possível trabalhar os setes pecados capitais

que já começam a surgir na infância (vaidade, gula, inveja, luxuria hipocrisia,

avareza e preguiça) sendo que as estórias trabalham as conseqüências de tais

sentimentos. A vida intelectual uma criança, através dos contos de fadas, alimenta a

imaginação e estimula a fantasia, como um importante agente socializador. A partir

dos conteúdos dos contos de fadas, as crianças formam os conceitos de origem e

desígnios do mundo e de seus padrões sociais. Os contos de fadas, apesar de

apresentarem fatos do cotidiano às vezes de forma bem realista, não se referem

claramente ao mundo exterior, e seu conteúdo poucas vezes se assemelha com a

vida de seus ouvintes. Sua natureza realista fala aos processos interiores do

indivíduo. Ainda afirma (BETTELHEIM, 1980), só nos contos de fadas a criança se

confronta com as características essenciais do ser humano. Há nos contos de fadas

um dilema existencial tratado de maneira breve e decisiva, permitindo à criança

compreender sua essência. Há poucos detalhes, de trama simplificada, figuras

claras, mais típicas do que únicas. Elas são ambivalentes, como o ser humano é na

vida real. Essapolarização que domina os contos de fadas, também domina a mente

da criança. Independente da idade e sexo do herói da estória, de acordo com

BETTELHEIM (1980), os contos de fadas tem grande significado psicológico para

crianças de ambos os sexos e todas as idades. Sua importância pessoal é facilitada

pelas mudanças na identificação de criança com os personagens, principalmente

pelo fato da mesma lidar, com diferentes problemas, um de cada vez. Um

personagem é bom e o outro é mau, esperto e tolo, lindo e feio, e por assim vai. Esta

união de personagens opostos facilita o desenvolvimento da personalidade da

criança. As ambigüidades presentes nas figuras reais, e todas as complexidades

que as caracterizam, possibilitam que a criança estabeleça uma personalidade

relativamente estável na base das identificações positivas. Depois disso, ela terá

capacidade de compreender as diferenças entre as pessoas, e a fazer escolhas

sobre quem quer ser (BETTELHEIM, 1980).

As escolhas de seus personagens não são tanto influenciadas pelo certo er

rado, mas sim se despertam nela simpatia ou não. Ela escolhe o herói ou heroína

por querer se parecer com ele (a) e pelo apelo positivo que tem.O mesmo acontece

com a presença do bem e do mal. Ao contrário de muitas estórias modernas, ambos

estão presentes. Recebem forma em figuras e ações, enão podem ficar de fora, já

que tendem a aparecer em todos os homens. Através dessa dualidade, os

problemas de ordem moral são colocados e intimados a uma resolução. Como fala

XAVIER (1977, p.10), “Essa magia é combinada como uma consciência firme de

realidade cotidiana, na qual os problemas existem, mas devem ser encarados

criticamente e enfrentados”.

Esta é a saga do herói de cada um de nós, que ao final deveria ser

culminada pelas possibilidades de vencer todas as dificuldades. Nesse sentido cada

uma dessas histórias, segundo XAVIER (1977), é um estímulo encorajador na luta

da vida em que se valorizam os princípios éticos na relação com o outro: o mal é

denunciado e personagem mau é castigado; o bem é valorizado e o personagem

bom é premiado. A proposta e a realização básica são sempre de plena vitória final

do bom e do bem. As histórias nos conduzem a uma transformação interior, “... um

reino muito distante...” significa uma situação nova, diferente, o encontro com o

feiticeiro seria o desconhecido, a vitória sobre a bruxa seria a superação da

situação-problema e a celebração é a adaptação à nova etapa de desenvolvimento,

quando a criança se envolve com a história ela entra no mundo do faz-de-conta e

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sua imaginação se transporta para dentro da história e isso ajuda no

desenvolvimento da criança. E o mesmo acontece com as relações reais de uns

com os outros: elas não são vistas como realmente são, mas sim pela imagem que

se tem delas. Esta imagem é constituída através de experiências pessoais com o

outro e também através da imagem do arquétipo de relação ou de posição projetada

no outro. Na relação com alguém de maior autoridade, o comportamento é marcado

ou alterado pelos arquétipos de autoridade inconsciente que a pessoa traz, podendo

ser negativo ou positivo. Portanto, o mundo age sobre as pessoas conforme ele é

percebido. Só aquilo que tem ressonância com os conteúdos da psique é que é

percebido. Cada um entende o que o circunda e a si mesmo a partir dos

apontamentos arquetípicos do seu inconsciente Isso é confirmado pelos autores

Wallon e Freud.

WALLON (1978, p. 262).), coloca que “capacidade imitativa pressupõe o

inicio do pensamento simbólico e das representações e solidifica-se com o

aparecimento da imitação deferida que se caracteriza pela ausência do modelo.”

Quando WALLON (1978), coloca sobre a capacidade imitativa está se

referindo se referindo também a brincadeira do faz-de-conta, pois essa brincadeira

possibilita a criança imitar o adulto e através da imitação ela aprende algo e sempre

que se supera um estágio de desenvolvimento um novo se inicia. FREUD (1925,

p.355), explica que os contos de fada ajudam no desenvolvimento intelectual e

emocional isso quer dizer que essas histórias permitem que as crianças entre no

mundo do faz-de-conta e comecem a sonhar, imaginar e associar fatos da história

com a sua vivência cultural.

FREUD (1925, p.355), explica a importância dos contos de fadas no

desenvolvimento intelectual e emocional das crianças. Todas as pessoas que

trabalham com educação e saúde engrenam esforços para proporcionar condições

que favoreçam a integração psicológica. Se os contos se apresentam como

possibilidades de favorecer essa integração não há como desconsiderá-los. Se a

criança pode aprender por meio dele, a identificar e a reconhecer nos outros e em si

mesma, pensamentos e sentimentos que ajudam ou atrapalham sua relação consigo

mesma e com os outros, se aprende a conviver com naturalidade com fortes

elementos do inconsciente da humanidade e do seu próprio inconsciente, estaremos

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oferecendo melhores condições para crescer e amadurecer por meio da narrativa e

da reflexão dos contos de fadas.

VYGOTSKY (1991), diz que as narrativas manifestam-se em histórias

contadas por autores formais ou pessoas comuns. As narrativas desenvolvidas não

são simples acontecimentos, carregam implicitamente a capacidade humana de

elaborar os significados encontrados ao longo da vida.

Os contos maravilhosos e as narrativas populares, VYGOTSKY (1991),

estão relacionados com as representações sociais que são teorias de saberes

populares que levam os indivíduos a produzirem comportamentos e interações com

o meio de maneira reflexiva, porque são elementos da realidade social.

O papel das narrativas como representações sociais é mostrar através de

seus enredos que existe o senso comum, são regras que existem para garantir a

ordem na sociedade. É importante usar as narrativas para trabalhar as trabalhar as

representações sociais porque a linguagem é de fácil compreensão para crianças e

as histórias por si só transmitem mensagens de cunho moral que a criança

internaliza e assim vai construindo a sua subjetividade. Neste abordaremos o

conceito de representações sociais para os autores: MOSCOVICI, JODELET e

GUARESCHI.

MOSCOVICI (1978, p.14), diz:

Que por representações sociais entendemos um conjunto de conceitos, proposições e explicações originadas na vida cotidiana, no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade, os mitos e sistema de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.

Para JODELET (1989, p. 36-37),

Representação social é conceituada como, uma forma de conhecimento social elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para construção de uma realidade comum a um conjunto social.

Segundo GUARESCHI (1996, p. 22):

São muitos os elementos que costumam estar presente na noção de representação social. Nelas há elementos dinâmicos e explicativos, tanto na realidade, física, social ou cultural; elas possuem uma dimensão histórica e transformadora; nelas estão presentes aspectos culturais, cognitivos e valorativos, isto é ideológicos. Esses elementos das representações sociais estão sempre presentes nos objetos e nos sujeitos; por isso as representações sociais são sempre relacionais, e, portanto sócias.

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Percebe-se que três autores conceituam representações sociais como

elementos comuns entre a sociedade e servem para reger os conjuntos sociais(

Igreja, escola, família...). Cada individuo tem sua subjetividade, no entanto age de

acordo o meio que as representações sociais é também um processo cultural que

pode alterar no decorrer da história dos grupos sociais.

As narrativas são importantes em todas as fases da vida, mesmo os adultos

continuam o habito de ouvir e contar história e é através das representações sociais

que se explica e constroem as culturas.

1.1 - A FUNÇAO DA LINGUAGEM NA TRANSMISSÃO DAS NARRATIVAS

A transmissão de saberes culturais, VYGOTSKY (1989, p. 86), se dá através

da linguagem que está na raiz do pensamento humano, ao longo dos séculos,

pensamento e linguagem permitiram ao homem ir atribuindo significado ao mundo.

Pela linguagem o homem compartilha esse significado com os outros homens. A

linguagem permite a comunicação, sendo ao mesmo tempo individual e social:

através da linguagem cada um pode expressar sua linguagem individual e ter

acesso ao patrimônio cultural da sociedade.

A transmissão de significados através da linguagem, segundo VYGOTSKY

(1989), não ocorre de forma única em todas as comunidades e em todos os

segmentos sociais, varia conforme as características dos falantes: Seu lugar e grupo

de origem, idade, sexo, classe social e ocupação, crenças e concepção de mundo. E

depende, ainda, do contexto em que se da à comunicação, da forma que esta

assume (oral, escrita, corporal, artística etc.), assim como depende dos papeis que

as pessoas assumem em diferentes situações.

Todas essas variações, segundo VYGOTSKY (1989), devem ser apreciadas

no momento da comunicação, pois expressam a identidade os valores culturais e a

competência lingüística de quem esta se comunicando. Na verdade, a linguagem

adquire existência e significado nas situações reais.

A linguagem, segundo VYGOSTSKY (1989), é o elemento fundamental no

processo de narração e por isso é importante o profissional da Educação Infantil ter

o conhecimento do efeito que as narrativas proporcionam no desenvolvimento

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humano. O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte de satisfação,

de necessidades básicas das crianças. Se elas as escutam desde pequeninas,

provavelmente gostarão de livros, vindo a descobrir neles historias como aquelas

que lhe eram contadas. Ao contar uma historia para as crianças é imprescindível

que o profissional da Educação Infantil use uma linguagem correta, de bom gosto,

simples, sem ser vulgar e nem rebuscada. Para que a narrativa torne-se mais

interessante é bom usar recursos onomatopaicos e repetir algumas partes se

necessário, esses recursos dão mais força as expressões e mais vida as narrativas.

A linguagem na contação de histórias é um ponto chave para garantir que as

crianças sintam-se motivadas e atraídas por aquilo que estão ouvindo, podemos

constatar a importância da linguagem pelas citações a seguir.

Para LANE (1981, p.78-80),

Neste processo de comunicação a criança vai estruturando seu mundo que, inicialmente se encontra em um estado nebuloso através de um sistema de significantes proporcionados pelos que as rodeiam, e também vai encontrando formas de auto definir.

MARICATO (2005, p.18), noz diz:

As crianças colocadas em condições favoráveis adoram ler. Leitura é um desafio para os menores, vencer o código escrito é uma tarefa gigantesca. A criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização , folheando, olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Elas aprendem observando o gesto de leitura dos outros professores, pais ou outras crianças.

Narrativa é comunicação porque informa, emite conhecimento e transmite

valores. Então quanto mais a família e a escola proporcionar para as crianças livros

para que elas possam manuseá-los e construir sua maneira de ler e de contar

historias, mais ativas e envolvidas com o mundo social e literário elas estarão. Só de

as crianças abrirem um livro bem ilustrado e colorido já possibilita que sua

imaginação comece a trabalhar e leve-as a sonhar, imaginar, associar o faz-de-

conta com as coisas reais. O professor, segundo MARICATO (2005), tem um papel

muito importante na vida literária, por isso precisa ser criativo variando o quanto

puder as maneiras de contar histórias, essa variação não é utopia e pode se dar de

diversas maneiras: o professor pode levar as crianças em ambientes diferentes para

contar histórias (na sombra de uma árvore, na biblioteca, num campo gramado,

numa barraca), pode usar fantoches, caixas cênicas, o professor pode se

caracterizar de personagens, através de dramatização e muitas outras maneiras a

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seu critério. Quanto mais criativa for as maneira de contar histórias, mais marcante

para a vida da criança será e com isso ela vai construindo seu processo cognitivo e

cultural. Uma das histórias mais importante de ser trabalhada na escola é a história

da própria criança, porque se trata do meio social em que ela vive e tem um

significado importante para entender do que a criança gosta, o que faz, o que fala, o

motivo de ser introvertida ou extrovertida, porque toda ação que a criança demonstra

no social é proveniente da sua cultura. Essas informações são confirmadas pelo o

que nos dizem os autores relacionados abaixo.

HALL (1997, p. 180), nos diz: “Toda a ação social é cultural e todas as

práticas sociais comunicam um significado e, neste sentido, são praticas de

significação”.

E como fala FOUCAULT (1989, p. 25) “Nesse jogo dos discursos estão

implicadas as relações saber-poder, o que nos permite entender a cultura como uma

arena onde se travam as lutas pela significação.”

Os profissionais da Educação Infantil devem considerar o meio cultural do

aluno conforme afirma KRAMER ( 2004, p. 123):

Quanto mais os professores trabalharem essa produção cultural inter-relacionada com as outras demissões de culturas, mais fortemente estarão contribuindo para abrir caminho rumo à inclusão social. A gente tem de se re-apropriar da nossa própria historia e entender que criança eu fui e a partir daí, saber que tipo de criança eu gostaria de formar.

CHARLOT (1983, p. 107), explicita que,

A pedagogia não considera a educação a partir da criança, mas a criança a partir da educação concebida como cultura; a imagem da criança traduz a concepção da natureza humana, de seu desdobramento e de sua cultura.

Profissionais da Educação Infantil precisam entender como as crianças

brincam, do que falam, qual a visão da infância, da família em relação a elas, o que

elas fazem no seu dia-a-dia, que tipo de música gostam, quais os grupos sociais que

pertence, qual a crença religiosa de seus familiares, entre outros aspectos que se o

profissional da Educação Infantil entender vai ajudá-lo na sua prática pedagógica.

A aprendizagem torna-se mais significativa quando a criança consegue

estabelecer relações com o seu cotidiano, com suas experiência anterior e com sua

própria organização do conhecimento. A aprendizagem é mais fácil e duradoura,

quando o que está sendo aprendido é vivenciado.

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Vivenciar uma situação de aprendizagem é mobilizar a ação e comunicação,

pensamento e linguagem; é assim que a criança vai atribuindo significado aquilo que

aprende. O profissional da Educação Infantil ao solicitar um trabalho ou propor uma

atividade para seus alunos, precisa ter o cuidado de lhe proporcionar algo que vá de

encontro a sua faixa-etária para garantir o envolvimento e o interesse da criança

para que haja a construção do conhecimento.

WALLON (1978, p. 153), afirma:

Para os pré-escolares, as histórias devem ter enredo simples, vivo, e atraente, contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança, de sua vivencia afetiva e doméstica, de seu meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam, humanizados. Assim, ela pode integrar-se com os personagens, consegue “VIVER” os enredos e sentir-se no “LUGAR” em que os episódios narrados acontecem. Até os três anos, as crianças se encontram na fase pré-mágica, as histórias devem conter de preferência, muito ritmo e repetição. Aos quatro anos a criança atinge a fase mágica e sua imaginação torna-se criadora. Isso é facilmente observável quando ela brinca, conversa com os brinquedos, inventa falas ao telefone, conversa sozinha com amiguinhos invisíveis, para quem até inventa nomes.

Evidentemente, não há uma rigidez nessa classificação, pois cada criança

cresce com seu ritmo próprio. Embora os contos de enredo sejam mais apreciados

por crianças maiores, isso não significa que as crianças menores não possam

acompanhar historias em que as fantasias são realçadas, há personagens

maravilhosos e a metamorfose funciona com foco narrativo. Lendas e fábulas são

mais apropriadas aos alunos adiantados capazes de sentir sua beleza e interpretar

seu significado, porém isso não quer dizer que não se devem apresentar essas

narrativas para as crianças menores, até porque são narrativas tipicamente culturais.

O profissional da Educação Infantil deve ser um exímio contador de

historias, porque elas trazem através da fantasia uma aproximação da realidade

para as crianças, as histórias, segundo WALLON (1978), devem ser escolhidas

entre os materiais encontrados na biblioteca da escola onde se ensina na biblioteca

de sua cidade, em livros ou revistas que se dispõe, e também pode contar as

historias que guarda na memória. Cada profissional da Educação Infantil precisa

formar o seu próprio repertório de historias, porque as narrativas são instrumentos

que não pode faltar no dia-a-dia, na proposta de ensino do profissional que trabalha

com crianças, narrativa é como se fosse um alicerce na introdução de conteúdos

que precisam ser trabalhados na Educação Infantil.

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2. CAPÍTULO II - NARRATIVAS: O QUE PENSAM OS PROFESSORES E O QUE

DIZEM AS CRIANÇAS.

Os dados abaixo foram levantados através de questionários distribuídos aos

professores de Educação Infantil e alunos das Escolas Públicas e Particulares do

município de Alta Floresta.

Sobre a faixa etária dos profissionais de Educação Infantil constamos que

64% têm de 30 a 40 anos, 18% de 41 a 50 anos e 18% acima de 50 anos.

A idade da maioria das professoras da Educação Infantil é de 30 a 40 anos,

isto devido ao fato de que as professoras mais velhas já estavam atuando em outras

séries quando se inseriu obrigatoriamente a educação infantil segundo informações

obtidas destas profissionais entrevistadas.

Quanto ao tempo de atuação profissional na educação 75% dos

profissionais trabalha de 11 a 20 anos, 17% até 10 anos, 8% de 21 a 30. Na

Educação Infantil 91% até 10 anos, 9% acima de 10 anos.

De 30 a 40 anos; 64% Acima de 50 anos;18%

De 41 a 50 anos;18%

De 11 a 20; 75%

Até 10 anos; 17%

De 21 a 30; 8%

A questão do maior percentual de atuação na Educação infantil ser até dez

anos de se deve ao fato de a Educação Infantil ter entrado em vigor recentemente.

Ao questionar os profissionais, se a história faz parte de sua rotina semanal

de seu trabalho pedagógico, de acordo com os dados que obtivemos segundo o

gráfico abaixo é que todos a utilizam, observe:

Este percentual (100%) demonstra que os profissionais da Educação Infantil

acreditam no valor e na verdade que se revelam através das histórias.

Quanto ao número de vezes por semana que os profissionais contam

histórias 62% contam até 5 histórias por semana, 21% 3 histórias, 13% 1 história e

4% até 15 histórias.

Acima de 10 anos; 9%

Até 10 anos; 91%

Sim; 100%

Não; 0%

1 histórias; 13%

3 histórias; 21%

5 histórias; 62%

15 histórias; 4%

15

A narrativa é um instrumento de organização da experiência social. Contar

histórias implica estados intencionais que aliviam, ou mesmo tornam familiares

acontecimentos que confrontam a vida cotidiana normal. A linguagem mais acessível

para a criança é a história. É por isso que grande parte dos profissionais da

Educação Infantil conta histórias todos os dias.

A tabela a seguir apresenta os tipos de história que os professores contam e

o percentual de preferência:

Contos de fada 7,5%

Fábulas 6,9%

Lendas 5,5%

Histórias curtas e engraçadas 1,5%

Religiosas

2,4%

Histórias repetitivas e com movimentos 4,14%

Diversas 3,22%

As narrativas mais contadas pelos professores da Educação Infantil são

contos de fadas. Os contos de fada são narrativas simples, primitivas e trazem

consigo a magia que encanta as crianças e ensina pelos exemplos que trazem

consigo.

Ao questionar os profissionais se estes gostam de histórias 100%

responderam que sim.

Segundo os profissionais entrevistados, as histórias são realmente mágicas

porque não encantam somente as crianças, mais os adultos também. São narrativas

Sim; 100%

Não; 0%

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que vem pra ficar na mente do ser humano, elas não envelhecem no tempo e fazem

ligação da vida adulta com a infância e influenciando na construção do sujeito, pois

através de histórias é possível retratar os setes pecados e fazer uma reflexão sobre

as virtudes.

Para 91% dos profissionais entrevistados, contar histórias é uma atividade

pedagógica, 9% acham que não.

Os que responderam que sim, consideram que contar histórias é uma

atividade pedagógica porque insere o aluno no universo literário, está relacionado

com o ato de aprender e ensinar, visto que da fantasia e magia das histórias é

possível extrair conceitos e conteúdos que precisam ser trabalhados pela instituição

educativa.

Quanto a estabelecer relação entre história e realidade 64% dos

profissionais entrevistados responderam que sim, 36% responderam que não.

Os profissionais da Educação Infantil que estabelecem relação da história

com a realidade, consideram que as histórias despertam valores que são

estabelecidos pelo senso moral. A magia das narrativas pode ser combinada com a

consciência da realidade cotidiana, na qual os problemas existem, mas devem ser

encarados criticamente enfrentados.

Quanto a classificar as histórias de acordo com a faixa etária 91% dos

profissionais acham necessário, 9% acham que não.

Sim; 91%

Não; 9%

Sim; 64%

Não; 36%

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A maioria dos professores pensam que é preciso haver uma seleção das

histórias de acordo com a faixa etária porque histórias extensas não prendem a

atenção dês crianças de 0 a 6 anos e também acham que as histórias precisam ter

vocabulário simples para que a criança possa compreender. Os quesitos apontados

por elas são pertinentes porque as crianças precisam de um enredo simples, vivo e

atraente, contendo situações que as envolvam.

Sobre a faixa etária das crianças entrevistadas, 50% 6 anos, 43% 5 anos e

7% 4 anos.

As crianças entrevistadas que constam as idades representadas acima, são

alunos da pré-escola e da alfabetização.

Quanto à questão do gosto pelas histórias 100% das crianças responderam

que gostam de ouvi-las

Sim; 91%

Não ; 9%

5 anos; 43%

6 anos; 50%

4 anos; 7%

Sim; 100%

Não ; 0%

18

Todas as crianças gostam de ouvir histórias, isto se dá porque através das

histórias a crianças se transportam para o mundo mágico que a mesmas tem o

poder de proporcionar, pois as narrativas infantis são cativantes e encantadoras.

A tabela abaixo mostra as histórias preferidas dos alunos.

A formiguinha na neve 4%

A Bela adormecida 18%

O Patinho Feio 4%

Chapeuzinho Vermelho 15%

Rapunzel 12%

A Pequena Sereia 4%

A Princesa e o sapo 12%

Branca de Neve 9%

Os Três Porquinhos 10%

Cinderela 12%

As escolhas dos clássicos infantis foi unânime, por conterem personagens

malvados como o lobo e a bruxa, por se encantarem com a beleza das princesas,

porque acham legal a transformação esperteza de alguns personagens e porque

sempre tem um final feliz. Isso demonstra que os clássicos povoam o imaginário

infantil.

As crianças, quando interrogadas sobre quem conta histórias para elas, 64%

responderam que é a professora, 36% que é a família.

Professora; 64%

Familia; 36%

19

Através das respostas observou-se que o professor é o maior responsável

pela contação de histórias na vida das crianças, e em segundo lugar a família. Esse

resultado é satisfatório porque as crianças estão em contato com as histórias, tanto

na comunidade escolar como na família.

Ao perguntar as crianças sobre quem conta histórias para elas na escola,

93% responderam: a professora, 7%; os amigos.

A maioria das crianças respondeu que a professora conta história, e elas

gostam de ouvir porque acham legal, divertidos, ensinam e gostam do contato com

os livros. Esse resultado é interessante porque a contação de história na unidade

educativa é um trabalho pedagógico que é agradável à criança.

Referente a questão da imitação dos personagens, os professores

responderam que 72% das crianças imitam os personagens sempre, 21% não, 7%

as vezes

A resposta predominante foi sim, e isso é muito legal, porque quando a

criança brinca de imitar personagens ela entra no mundo do faz-de-conta,

desenvolve a imaginação, expõe sua idéias com liberdade, porque nesse momento

ela imita o personagem com que mais se identifica.

Professora; 93%

Amigos ; 7%

Não; 21%

As vezes; 7%

Sim; 72%

20

Observem a seguir os que as crianças dizem sobre os personagens que elas

gostariam de ser:

“Eu gostaria de ser o corcunda porque ele salva a Esmeralda”

“ Eu quero ser a Bruxa pra assustar os outros”

“A princesa Ana porque queria ter os olhos azuis e os cabelos iguais aos

dela”

“A Bela Adormecida porque é bonita”

“A Pequena Sereia porque é bonita"

“O Patinho Feio porque depois vou ficar bonito”.

“A Chapeuzinho porque é bonita”

“A Rapunzel porque eu queria ter os cabelos igual ao dela.”

“O lobo ou o caçador porque sempre brinco de caçar”

A maioria dos personagens que as crianças gostariam de ser são

personagens dos clássicos. Por essa resposta é possível perceber o interesse e o

encantamento que os contos de fadas proporcionam para as crianças. Pode-se

notar isso pela fala das mesmas.

As crianças ao ser questionadas, se sentem medo de algum personagem,

79% responderam que sim, 21% que não.

Elas nos confirmam os dados acima dizendo:

“O Macaco Simão porque é ladrão de banana”

“Tenho medo do Barbazul por que ele mata suas mulheres”

Sim; 79%

Não; 21%

21

“Tenho medo do barulho que o sapo faz quando aparece para a princesa”

“Tenho medo da bruxa”

“... da boca grande e da voz grossa do lobo mal”

“Medo do lobo mal comer os três porquinhos”;

“Medo da bruxa que foi malvada com a Rapunzel”

A maioria das crianças disse ter “medo” de algum personagem dos contos

de fadas. O “medo” que dizem ter, é a emoção que sentem quando aparece o

conflito entre o bem o mal. As crianças citaram personagens dos quais tem “medo’ e

todas as situações mostram personagens malvados, como fala XAVIER (1977,

p.10): “Essa magia é combinada como uma consciência firme de realidade

cotidiana, na qual os problemas existem, mas devem ser encarados criticamente e

enfrentados”.

Constatou-se que a maioria dos profissionais da Educação infantil é do sexo

feminino, faixa etária de 30 a 40 anos e todas já trabalhavam na Educação antes de

atuar na Educação Infantil.

Todas as profissionais da Educação Infantil entrevistadas contam histórias

para seus alunos, sendo que a maioria delas conta uma história por dia, geralmente

lêem contos de fadas e estes são os mais contemplados pelas crianças.

As histórias fazem parte da rotina semanal dessas profissionais, pois elas já

reconhecem que contar histórias é uma prática pedagógica importante e que

contribui para o desenvolvimento da criança em vários aspectos, na leitura, na

escrita, na expressão e ajuda a construir conceitos e valores. Nem todas as

professoras costumam dramatizar as historias visto que é uma atividade que requer

tempo e maior preparo do professor.

WALLON (1978, p. 153), afirma:

Para os pré-escolares, as histórias devem ter enredo simples, vivo, e atraente, contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança, de sua vivencia afetiva e doméstica, de seu meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam, humanizados. Assim, ela pode integrar-se com os personagens, consegue “VIVER” os enredos e sentir-se no “LUGAR” em que os episódios narrados acontecem.

Através de suas respostas os professores demonstraram que as histórias

são realmente mágicas porque não encantam somente as crianças, mas também

22

adultos, eles curtem histórias e nos revelam que as histórias têm ligações com suas

infâncias e mexem com suas imaginações. Consideram que as histórias fazem parte

da sabedoria universal.

Conforme afirma KRAMER ( 2004, p. 123):

Quanto mais os professores trabalharem essa produção cultural inter-relacionada com as outras demissões de culturas, mais fortemente estarão contribuindo para abrir caminho rumo à inclusão social. A gente tem de se re-apropriar da nossa própria historia e entender que criança eu fui e a partir daí, saber que tipo de criança eu gostaria de formar.

Geralmente as professoras se utilizam da prática de contar histórias para

trabalhar a realidade social, sendo um contexto que a criança está inserida e precisa

ser trabalhado. Conforme os registros dos gráficos apresentados no 2º capítulo As

histórias, como fábulas, contos de fadas, lendas, permitem essa abertura porque

despertam valores que são estabelecidos na sociedade, isso é possível porque elas

contêm mensagem e vocabulário acessível para as crianças.

A maioria dos professores valorizam a prática de contar histórias e tem o

cuidado de classificá-las para as crianças de 0 a 6 anos, as narrativa curtas e com

vocabulário menos rebuscado afim de que garantam a atenção e a concentração do

ouvinte.

Segundo WALLON (1978, p. 153),

Até os três anos, as crianças se encontram na fase pré-mágica, as histórias devem conter de preferência, muito ritmo e repetição. Aos quatro anos a criança atinge a fase mágica e sua imaginação torna-se criadora. Isso é facilmente observável quando ela brinca, conversa com os brinquedos, inventa falas ao telefone, conversa sozinha com amiguinhos invisíveis, para quem até inventa nomes.

As crianças também foram entrevistadas e deram seu parecer a respeito

das narrativas sendo as mesmas entre 5 a 6 anos de idade. Todas elas gostam de

ouvir histórias e as preferidas são os contos de fada por conterem personagens

malvados como o lobo e a bruxa, personagens que encantam com sua beleza como

as princesas, pela magia das fadas, personagens espertos como o Gato de botas e

porque sempre tem um final feliz.

CHARLOT (1983, p. 107), explicita que,

A pedagogia não considera a educação a partir da criança, mas a criança a partir da educação concebida como cultura; a imagem da criança traduz a concepção da natureza humana, de seu desdobramento e de sua cultura

23

Em relação aos responsáveis por contar histórias para as crianças, os

resultados obtidos no questionário respondido pelas crianças foram: a professora, a

mãe, a irmã, avó, o pai , o tio, os amigos e a própria criança lê, sendo que quem

está em evidencia é o professor. Isso é satisfatório porque as crianças estão em

contato com as narrativas em casa e na escola. As crianças gostam de ouvir

histórias, “acham legal” o momento da leitura, porque “acham divertido”, gostam do

contato com os livros e consideram as histórias “bonitas e boas de ouvir”.

MARICATO (2005, p.18), noz diz:

As crianças colocadas em condições favoráveis adoram ler. Leitura é um desafio para os menores, vencer o código escrito é uma tarefa gigantesca. A criança lê do seu jeito muito antes da alfabetização , folheando, olhando figuras, ainda que não decodifique palavras e frases escritas. Elas aprendem observando o gesto de leitura dos outros professores, pais ou outras crianças.

Em se tratando da brincadeira de imitar personagens a resposta

predominante foi sim e isso é muito interessante porque quando a criança brinca de

imitar personagens, ela entra no mundo do faz de conta, desenvolve a imaginação,

expõe suas idéias com liberdade e nesse momento imita o personagem com os

quais mais se identificam. Segundo a pesquisa os personagens com as quais as

crianças mais se identificam e até gostariam de ser são os personagens dos contos

de fada de clássicos.

Para LANE (1981, p.78-80),

Neste processo de comunicação a criança vai estruturando seu mundo que, inicialmente se encontra em um estado nebuloso através de um sistema de significantes proporcionados pelos que as rodeiam, e também vai encontrando formas de auto definir.

E para finalizar perguntou-se às crianças se elas têm medo de alguma

história ou personagem, uns responderam que não porque sabem que as histórias

são apenas fantasias e imaginação, outros responderam que sim, mas esse “medo”

está relacionado à emoção forte que as crianças sentem ao ver o conflito entre o

bem e o mal que acontecem em todos os contos de fadas. Através dos contos de

fadas ou contos maravilhosos é possível levar a criança a lidar com conflitos internos

que elas enfrentam em seu processo de desenvolvimento humano, usando a

fantasia trazida nos contos de fadas é possível trabalhar os setes pecados capitais

que já começam a surgir na infância (vaidade, gula, inveja, luxuria hipocrisia,

avareza e preguiça) sendo que as estórias trabalham as conseqüências de tais

24

sentimentos. Como fala XAVIER (1977, p.10), “Essa magia é combinada como uma

consciência firme de realidade cotidiana, na qual os problemas existem, mas devem

ser encarados criticamente e enfrentados”.

25

CONSIDERAÇOES FINAIS

Faz apenas 11 anos que a Educação Infantil teve seu reconhecimento pela

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº. 9394/96. Apesar do pouco

tempo que esta lei está em vigor, observamos que nos depoimentos dos professores

que já consideram as narrativas uma atividade pedagógica que faz parte de sua

rotina semanal, e nós acreditamos que estes profissionais estão no caminho certo, e

o que temos como sugestão para quem trabalha nesta área é buscar enriquecer a

proposta pedagógica se auto capacitando por meio de leituras, pesquisas, troca de

experiências entre colegas, formação continuada e outros recursos que auxiliam no

desenvolvimento e enriquecimento das aulas.

Somos profissionais que atuamos na Educação Infantil do município de Alta

Floresta e em nossos contatos com colegas da categoria observamos que as

considerações acima citadas, já estão acontecendo, talvez este fato seja

decorrentes do s cursos de contação de histórias oferecidos pela Secretaria

Municipal de Educação de nosso município, onde profissionais da Educação Infantil

se empenham num só objetivo: inserir as narrativas na proposta pedagógica do

ensino, levar o faz-de-conta para dentro da sala de aula permitindo que as crianças

viajem para um mundo mágico em sua imaginação.

Como vimos nas teorias trazidas pelos fascículos e demais materiais

explorados no período preparatório da realização desta pesquisa, é fundamental que

o professor valorize as narrativas, que as crianças tenham contato com os livros e

leiam até mesmo de maneira não convencional. Igualmente, foi de essencial

importância, a implicação dos contos de fadas no funcionamento da psique humana,

seu consciente e inconsciente coletivo. Este como referência principal ao que se

tentou demonstrar como fonte comum, a temática de todos os contos. Como

expoente desse estudo, apresentou-se o arquétipo, ou seja, as imagens primordiais

que temos do homem e do mundo da interação com o mesmo e o outro, como base

estruturadora da idéia que fazemos de nós mesmos e dos outros. Em segundo, pela

escola ser palco das diversas interações cognitivas e afetivas e por serem hoje,

aspecto relevante entre a ruptura cada vez mais precoce entre a criança e sua

família, tendo não só o educador como transmissor dos saberes historicamente

acumulados, mas também como ser constituído de psique, e suas relações

humanas estritamente necessárias à criança. As mudanças, portanto, devem ser

iniciadas neste cotidiano, incluindo na discussão e neste processo os sujeitos da

prática educativa. A verdadeira educação pode respeitar e aproveitar a natureza

infantil. Se a fantasia e as emoções infantis puderem estar integradas no processo

de desenvolvimento e conhecimento, a criança irá sentir-se respeitada e terá

condições satisfatórias de ingressar em um mundo social e cultural

É imprescindível o momento da contação numa classe de Educação Infantil,

pois as próprias crianças em suas falas demonstraram o quanto gostam de ouvir

histórias porque acham legal, bonitas, interessantes, sentem-se cativadas, se

emocionam e conseguem se imaginar dentro da história. Conclui-se então que os

professores estão caminhando na direção certa, pois estão unindo o útil ao

agradável.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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