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8/12/2019 Aguiar e Silva excerto.doc http://slidepdf.com/reader/full/aguiar-e-silva-excertodoc 1/21 AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 197. 1! ed. "rasileira. I. #on$eito de Literatura. A %eoria da Literatura Link evolução semântica: (p. 24-25) & ' Eis a evolução semântica do vocábulo lite!atu!a" at# ao limia! do !omantismo. $al evolução% po!#m% não se &uedou a'% mas p!osseuiu ao lono dos s#culos * e . +e,amos% em !ápido esboço% as mais !elevantes acepçes ad&ui!idas pela palav!a neste  pe!'odo de tempo: a)on,unto da p!odução lite!á!ia de uma #poca / literatura do século XVIII, literatura victoriana -% ou de uma !eião / pense-se na 0amosa distinção de 1me. de ta3l ent!e lite!atu!a do no!te" e lite!atu!a do sul"% etc. $!ata-se de uma pa!ticula!iação do sentido &ue a palav!a ap!esenta na ob!a de Lessin acima mencionada (  Briefe die Literatur betreffend ).  b)on,unto de ob!as &ue se pa!ticula!iam e anam 0eição especial &ue! pela sua o!iem% &ue! pela sua temática ou pela sua intenção: literatura feminina, literatura de terror, literatura revolucionária, literatura de evasão, etc. c)6iblio!a0ia e7istente ace!ca de um dete!minado assunto. E7: ob!e o ba!!oco e7iste uma literatura abundante...". Este sentido # p!8p!io da l'nua alemã% donde t!ansitou  pa!a out!as l'nuas. d) 9et8!ica% e7p!essão a!ti0icial. +e!laine% no seu poema  Art poétique% esc!eveu: Et tout le !este est litt#!atu!e"% identi0icando pe,o!ativamente lite!atu!a" e 0alsidade !et8!ica. Este sini0icado dep!eciativo do vocábulo data do 0inal do s#culo * e # de o!iem 0!ancesa. om 0undamento nesta acepção de lite!atu!a"% o!iinou-se e tem-se di0undido a antinomia poesia-lite!atu!a"% assim 0o!mulada po! um !ande poeta espanol contempo!âneo: ...; ao dem<nio da Lite!atu!a% &ue # somente o !ebelde e su,o an,o ca'do da =oesia." > e)=o! elipse% emp!ea-se simplesmente lite!atu!a" em ve de história da literatura 0) =o! meton'mia% lite!atu!a" sini0ica tamb#m manual de história da literatura. )Lite!atu!a" pode sini0ica! ainda conecimento o!aniado do 0en<meno lite!á!io. $!ata-se de um sentido ca!acte!isticamente unive!sitá!io da palav!a e mani0esta-se em e7p!esses como literatura comparada, literatura !eral, etc. ( ' ? ist8!ia da evolução semântica da palav!a imediatamente nos !evela a di0iculdade de estabelece! um conceito incont!ove!so de lite!atu!a. omo # 8bvio% dos m@ltiplos sentidos mencionados apenas nos inte!essa o de lite!atu!a como atividade est#tica% e% conse&Aentemente% como os p!odutos% as ob!as da' !esultantes. Bão cedamos% >  Ce!a!do Dieo% "oes#a $spa%ola &ontemporánea% 1ad!id% $au!us% >5% p. FGH.

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http://slidepdf.com/reader/full/aguiar-e-silva-excertodoc 1/21

AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes,

197. 1! ed. "rasileira.

I. #on$eito de Literatura. A %eoria da Literatura

Link evolução semântica: (p. 24-25)

& ' Eis a evolução semântica do vocábulo lite!atu!a" at# ao limia! do !omantismo.$al evolução% po!#m% não se &uedou a'% mas p!osseuiu ao lono dos s#culos * e .+e,amos% em !ápido esboço% as mais !elevantes acepçes ad&ui!idas pela palav!a neste pe!'odo de tempo:

a)on,unto da p!odução lite!á!ia de uma #poca / literatura do século XVIII,

literatura victoriana -% ou de uma !eião / pense-se na 0amosa distinção de 1me. de ta3lent!e lite!atu!a do no!te" e lite!atu!a do sul"% etc. $!ata-se de uma pa!ticula!iação do

sentido &ue a palav!a ap!esenta na ob!a de Lessin acima mencionada ( Briefe die Literaturbetreffend ).

 b)on,unto de ob!as &ue se pa!ticula!iam e anam 0eição especial &ue! pela suao!iem% &ue! pela sua temática ou pela sua intenção: literatura feminina, literatura deterror, literatura revolucionária, literatura de evasão, etc.

c)6iblio!a0ia e7istente ace!ca de um dete!minado assunto. E7: ob!e o ba!!ocoe7iste uma literatura abundante...". Este sentido # p!8p!io da l'nua alemã% donde t!ansitou pa!a out!as l'nuas.

d) 9et8!ica% e7p!essão a!ti0icial. +e!laine% no seu poema  Art poétique% esc!eveu:Et tout le !este est litt#!atu!e"% identi0icando pe,o!ativamente lite!atu!a" e 0alsidade!et8!ica. Este sini0icado dep!eciativo do vocábulo data do 0inal do s#culo * e # deo!iem 0!ancesa. om 0undamento nesta acepção de lite!atu!a"% o!iinou-se e tem-sedi0undido a antinomia poesia-lite!atu!a"% assim 0o!mulada po! um !ande poeta espanolcontempo!âneo: ...; ao dem<nio da Lite!atu!a% &ue # somente o !ebelde e su,o an,o ca'doda =oesia.">

e)=o! elipse% emp!ea-se simplesmente lite!atu!a" em ve de história da

literatura

0) =o! meton'mia% lite!atu!a" sini0ica tamb#m manual de história da literatura.

)Lite!atu!a" pode sini0ica! ainda conecimento o!aniado do 0en<menolite!á!io. $!ata-se de um sentido ca!acte!isticamente unive!sitá!io da palav!a e mani0esta-seem e7p!esses como literatura comparada, literatura !eral, etc.

( '  ? ist8!ia da evolução semântica da palav!a imediatamente nos !evela adi0iculdade de estabelece! um conceito incont!ove!so de lite!atu!a. omo # 8bvio% dosm@ltiplos sentidos mencionados apenas nos inte!essa o de lite!atu!a como atividadeest#tica% e% conse&Aentemente% como os p!odutos% as ob!as da' !esultantes. Bão cedamos%

> Ce!a!do Dieo% "oes#a $spa%ola &ontemporánea% 1ad!id% $au!us% >5% p. FGH.

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 po!#m% I ilusão de tenta! de0ini! po! meio de uma b!eve 08!mula a natu!ea e o âmbito dalite!atu!a% pois tais 08!mulas% muitas vees ine7atas% são semp!e insu0icientes.

II ) Fun*+es da Literatura

Link a!te po#tica: (p. G2-GF)

&. (...)

Js conecidos ve!sos de Ko!ácio &ue assinalam com 0inalidade da poesia aut prodesse aut delectare% não implicam um conceito de poesia aut<noma% de uma poesiae7clusivamente 0iel a valo!es po#ticos% ao lado de uma poesia peda8ica. J p!ae!% odulce !e0e!ido po! Ko!ácio e mencionado po! uma lona t!adição lite!á!ia eu!op#ia de !aio!aciana% condu antes a uma concepção edonista da poesia% o &ue constitui ainda um

meio de to!na! dependente% e &uantas vees de subalte!nia! lastimavelmente% a ob!a po#tica.

De 0eito% at# meados do s#culo +***% con0e!e-se I lite!atu!a% &uase sem e7ceção% ouuma 0inalidade edonista ou uma 0inalidade peda8ico-mo!alista. E diemos &uase seme7ceção% po!&ue aluns casos se podem menciona! nos &uais se patenteia com maio! oumeno! acuidade a conscincia da autonomia da lite!atu!a. al'maco% po! e7emplo%ca!acte!'stico !ep!esentante da cultu!a elen'stica% p!ocu!a e cultiva uma poesia o!iinal%!ica de belos e0eitos sono!os% de !itmos novos e !áceis% aleia a motivaçes mo!ais.#culos mais ta!de% aluns t!ovado!es p!ovençais t!ans0o!ma!am a sua atividade po#ticanuma autntica !eliião da a!te% consa!ando-se de modo total I c!iação do poema e ao seuape!0eiçoamento 0o!mal% e7cluindo dos seus p!op8sitos &ual&ue! intenção utilitá!ia. Mm

0ino conecedo! da lite!atu!a medieval% o =!o0. ?ntonio +isca!di% esc!eve a este !espeito:J &ue conta # a 0# nova da a!te% em &ue todos obse!vam e p!aticam com devoção since!a".Desta 0# nasce o sentido t!ovado!esco da a!te &ue # o 0im de si mesma.  A arte pela arte #descobe!ta dos t!ovado!es".

Link evasão: (p. >NN->NH)

. Oá at!ás nos !e0e!imos% ace!ca das dout!inas da a!te pela a!te% a uma impo!tante0inalidade 0!e&Aentemente assinalada I lite!atu!a: a evasão. Em te!mos en#!icos% a evasão

sini0ica semp!e a 0ua do eu a dete!minadas condiçes da vida e do mundo% de um mundoimainá!io% dive!so da&uele de &ue se 0oe% e &ue 0unciona como sedativo% como idealcompensação% como ob,etivação de sonos e de aspi!açes.

? evasão% como 0en<meno lite!á!io% # ve!i0icável &ue! no esc!ito! &ue! no leito!.Dei7ando pa!a ulte!io! e b!eve análise o caso deste @ltimo% e7aminemos p!imei!amente os p!incipais aspectos da evasão no plano do c!iado! lite!á!io.

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 Ba o!iem da necessidade &ue o esc!ito! e7pe!imenta de se evadi!% podem atua!dive!sos motivos. Ent!e os mais !elevantes% contam-se os seuintes:

a) on0lito com a sociedade: o esc!ito! sente a medioc!idade% a vilea e a in,ustiçada sociedade &ue o !odeia e% numa atitude de ama!u!a e de desp!eo% 0oe aessa sociedade e !e0uia-se na lite!atu!a. Este p!oblema da incomp!eensão e do

con0lito ent!e o esc!ito! e a sociedade a!avou-se sinula!mente a pa!ti! do p!#-!omantismo% em vi!tude sob!etudo das dout!inas de 9ousseau ace!ca daco!!upção imposta ao omem pela sociedade% e atiniu com o !omantismo umatensão e7aspe!ada. Besta oposição em &ue se de0!ontam o esc!ito! e a sociedade%desempena p!imacial papel o sentimento de unicidade &ue e7iste em todoa!tista autntico.

 b) =!oblemas e so0!imentos 'ntimos &ue to!tu!am a alma do esc!ito! e aos &uais este0oe pelo camino da evasão. ? in&uietação e o desespe!o dos !omânticos / omal du si'cle / estão na o!iem da 0ua ao ci!cunstante e do an#lito po! uma!ealidade desconecida. (...) J t#dio% o sentimento de abandono e de solidão% aan@stia de um destino 0!ust!ado constituem out!os tantos motivos &ue ab!em

apo!ta da evasão.c) 9ecusa de um unive!so 0inito% absu!do e !adicalmente impe!0eito. Ce!almente%

esta !ecusa envolve um sentido meta0'sico% pois implica uma tomada de posição pe!ante os p!oblemas da e7istncia de Deus% da 0inalidade do mundo% dosini0icado do destino umano% etc. Lemb!emos a !evolta dos !omânticos ante omundo 0inito% ou a 0ua dos su!!ealistas de um mundo 0alsi0icado pela !aão.

? evasão do esc!ito! pode !ealia!-se% no plano da c!iação lite!á!ia% de di0e!entesmodos:

>. $!ans0o!mando a lite!atu!a numa autntica !eliião% numa atividade ti!anicamenteabso!vente no seio da &ual o a!tista% empolado pelas to!tu!as e pelos 7tases da sua

c!iação% es&uece o mundo e a vida. Plaube!t e Ken!Q Oames são dois alt'ssimose7emplos desta evasão at!av#s do culto 0anático da a!te.

2. Evasão no tempo% buscando em #pocas !emotas a belea% a !andiosidade e o encanto&ue o p!esente # incapa de o0e!ece!. ?ssim os !omânticos cultiva!am 0!e&Aentemente% pelo me!o osto da evasão% os temas medievais% tal como os poetas da a!te pela a!te%como vimos% se deleita!am com a antiAidade !eco-latina. (...)

F. Evasão no espaço% mani0estando-se pelo osto de paisaens% de 0iu!as e de costumese78ticos. J J!iente constituiu em todos os tempos copiosa 0onte de e7otismo% mas nãodevemos es&uece! out!as !eies iualmente impo!tantes sob este aspecto% como aEspana e a *tália pa!a os !omânticos (Cautie!% 1#!im#e% tendal) e as vastas !eiesame!icanas pa!a aluns auto!es p!#-!omânticos e !omânticos (=!#vost% aint-=ie!!e%ateub!iand% esc!ito!es indianistas do !omantismo b!asilei!o% etc.)

(...)

4. ? in0ância constitui um dom'nio p!ivileiado da evasão lite!á!ia. =e!ante os to!mentos%as desiluses e as de!!ocadas da idade adulta% o esc!ito! evoca sonado!amente o tempo pe!dido da in0ância% pa!a'so distante onde vivem a pu!ea% a inocncia% a p!omessa e osmitos 0ascinantes. (...)

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5. ? c!iação de pe!sonaens constitui out!o p!ocesso 0!e&Aentemente utiliado peloesc!ito!% pa!ticula!mente pelo !omancista% pa!a se evadi!. ? pe!sonaem% plasmadaseundo os mais sec!etos dese,os e des'nios do a!tista% ap!esenta as &ualidades e viveas aventu!as &ue o esc!ito! pa!a si baldadamente apetece!a. (...)

R. J sono% os pa!a'sos a!ti0iciais p!ovocados pelas d!oas e pelas bebidas% a o!ia% etc.%

!ep!esentam out!os p!ocessos de evasão com la!a p!o,eção na lite!atu!a. ? lite!atu!a!omântica e simbolista o0e!ece muitos e7emplos destas 0o!mas de evasão.

(...)

Link conecimento2: (p. >NH->>2)

-.  Ba est#tica plat<nica apa!ece ,á o p!oblema da lite!atu!a como conhecimento%embo!a o 0il8so0o conclua pela impossibilidade de a ob!a po#tica pode! se! um ade&uado

ve'culo de conecimento. eundo =latão% a imitação po#tica não constitui um p!ocesso!evelado! da ve!dade% assim se opondo I 0iloso0ia &ue% pa!tindo das coisas e dos se!es%ascende I conside!ação das *d#ias% !ealidade @ltima e 0undamentalS a poesia% com e0eito%limita-se a 0o!nece! uma c8pia% uma imitação das coisas e dos se!es &ue% po! sua ve% sãouma me!a imaem ( phantasma) das *d#ias. Tue! die!% po! conseuinte% &ue a poesia # umaimitação de imitaçes e c!iado!as de vãs apa!ncias2.

Este mesmo p!oblema assume e7cepcional !elevo em ?!ist8teles% pois na  "oéticacla!amente se a0i!ma &ue a =oesia # mais 0ilos80ica e mais elevada do &ue a Kist8!ia% poisa =oesia conta de p!e0e!ncia o e!al e% a Kist8!ia% o pa!ticula!" F. =o! conseuinte% en&uanto=latão condena a mimese po#tica como meio inade&uado de alcança! a ve!dade% ?!ist8telesconside!a-a como inst!umento válido sob o ponto de vista nosiol8ico: o poeta%

di0e!entemente do isto!iado!% não !ep!esenta 0atos ou situaçes pa!ticula!esS o poeta c!iaum mundo coe!ente em &ue os acontecimentos são !ep!esentados na sua unive!salidade%seundo a lei da p!obabilidade ou da necessidade% assim escla!ecendo a natu!ea p!o0ana daação umana e dos seus m8beis. J conecimento assim p!oposto pela ob!a lite!á!ia atuadepois no !eal% pois se a ob!a po#tica # uma const!ução 0o!mal baseada em elementos domundo !eal"% o conecimento p!opo!cionado po! essa ob!a tem de ilumina! aspectos da!ealidade &ue a pe!mite4.

?penas com o !omantismo e a #poca contempo!ânea voltou a se! debatido% com p!o0undidade e amplidão% o p!oblema da lite!atu!a como conecimento. Ba est#tica!omântica% a poesia # concebida como a @nica via de conecimento da !ealidade p!o0undado se!% pois o unive!so apa!ece povoado de coisas e de 0o!mas &ue% apa!entemente ine!tes e

desp!ovidas de sini0icado% constituem a p!esença simb8lica de uma !ealidade miste!iosa einvis'vel. J mundo # um iantesco poema% uma vasta !ede de ie!8li0os% e o poeta deci0!aeste enima% penet!a na !ealidade invis'vel e% at!av#s da palav!a simb8lica% !evela a 0aceoculta das coisas. cellin a0i!ma &ue a natu!ea # um poema de sinais sec!etos emiste!iosos" e von ?!nim !e0e!e-se I poesia como a 0o!ma de conecimento da !ealidade

2 =latão% (ep)blica% 5H d-e.F ?!ist8teles% po#tica.4 0. David Daices% &ritical approaches to literature% London% Lonmans% >5R% p.FH.

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'ntima do unive!so: o poeta # o vidente &ue alcança e inte!p!eta o desconecido%!eencont!ando a unidade p!imo!dial &ue se !e0lete analoicamente nas coisas. ?s ob!as po#ticas% acentua von ?!nim% não são ve!dadei!as da&uela ve!dade &ue espe!amos daist8!ia e &ue e7iimos dos nossos semelantes% nas nossas !elaçes umanasS elas nãose!iam o &ue p!ocu!amos% o que nos procura% se pudessem pe!tence! intei!amente I te!!a.

=o!&ue toda a ob!a po#tica !econdu ao seio da comunidade ete!na o mundo &ue% ao to!na!-se te!!est!e% da' se e7ilou. amamos videntes aos poetas sa!adosS camamos vidncia deuma esp#cie supe!io! I c!iação po#tica..."5.

 Bestes p!inc'pios da est#tica !omântica encont!a-se ,á e7plicitamente 0o!mulado otema do poeta vidente de 9imbaud% o poeta da aventu!a luci0e!iana !umo ao desconecido:Dio &ue # necessá!io se! vidente% 0ae!-se vidente. / J =oeta to!na-se vidente at!av#s deum lono% imenso e !acional des!e!amento de todos os sentidos. ...; *ne0ável to!tu!a em&ue tem necessidade de toda a 0#% de toda a 0o!ça sob!e-umana% em &ue se to!na% ent!etodos% o !ande doente% o !ande c!iminoso% o !ande maldito% - e o sup!emo ábioU /=o!&ue cea ao desconhecidoU"R ?ssim a poesia se identi0ica com a e7pe!incia máica ea linuaem po#tica se t!ans0o!ma em ve'culo do conecimento absoluto% ou se volve

mesmo% po! 0o!ça encantat8!ia% em c!iado!a de !ealidade.?t!av#s sob!etudo de 9imbaud e de Laut!#amont% a e!ança !omântica da poesia

como vidncia # !etomada pelo su!!ealismo% &ue concebe o poema como revela*ão  das p!o0undeas ve!tiinosas do eu e dos se!edos da sup!a-!ealidade% como inst!umento de pe!&uisição psicol8ica e c8smica. ? esc!ita automática !ep!esenta a mensaem at!av#s da&ual o mist#!io c8smico / o acaso ob,etivo" ( le hasard ob+ectif )% na te!minoloia domovimento su!!ealista / se desnuda ao omemS e a intuição po#tica% seundo 6!eton%0o!nece o 0io &ue ensina o camino da nose% isto #% o conecimento da !ealidade sup!a-sens'vel% invisivelmente vis'vel num ete!no mist#!io"H.

ontempo!aneamente% a &uestão da lite!atu!a como conecimento tem p!eocupado pa!ticula!mente a camada est#tica simb8lica ou semântica / !ep!esentada sob!etudo po!E!nest assi!e! e usanne Lane! - G% pa!a a &ual a lite!atu!a% lone de constitui! umadive!são ou atividade l@dica% !ep!esenta a !evelação% at!av#s das 0o!mas simb8licas dalinuaem% das in0initas potencialidades obscu!amente p!essentidas na alma do omem.assi!e! a0i!ma &ue a poesia # a !evelação da nossa vida pessoal" e &ue toda a a!te p!opo!ciona um conecimento da vida inte!io!% cont!aposto ao conecimento da vidae7te!io! o0e!ecido pela cincia% e usanne Lane! iualmente conside!a a lite!atu!a como!evelação do ca!áte! da sub,etividade"% opondo o modo discursivo% p!8p!io doconecimento cient'0ico% ao modo apresentativo% p!8p!io do conecimento p!opo!cionado pela a!te.

5 $e7to !ep!oduido em Oac&ues a!pie! V =ie!!e ee!s% Lart poétique% =a!is% ee!s% >5R% pp 2R>-2R2.R 9imbaud% -euvres% =a!is% Ca!nie!% >RN% p.F4R.H ?nd!# 6!eton% .anifestes du surréalisme% =a!is% Callima!d% >RF% p. >GG.G  De E!nest assi!e!% v.  An essa/ on man% BeW Kaven% >44 (t!ad. =o!tuuesa%  $nsaio sobre o homem%Lisboa% Cuima!ães Edito!es% >RN)S e de usanne Lane!% v.  "hilosoph/ in a ne0 1e/% amb!ide% 1ass.%>42S  2eelin! and form% BeW Xo!k% c!ibne!Ys% >5F% e  "roblems of art3 4em philosophical lectures,

 BeWXo!k% c!ibne!Ys% >5H. assi!e!% 5a essa/ on man% p. >R% e usanne Lane!% 2eelin! and form% p. FH4. Leia-se o &ue ace!ca deste

 ponto esc!eveu Oo!e de Lima: =!imei!amente (e isso não # invenção de 1a!itain% nem de 1au!ice de o!te%1au!ice Deuval e out!os &ue tm se p!eocupado com os p!oblemas da ontoloia da poesia)% po!&ue a poesia #o,e no consenso unânime de todos os @ltimos !andes poetas da umanidade% e de todas as l'nuas e !aças%

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=a!a aluns estetas e c!'ticos% po!#m% a lite!atu!a constitui um dom'nio pe!0eitamentealeio ao conecimento% pois en&uanto este depende!ia do !acioc'nio e da mente% a&uelavincula!-se-ia ao sentimento e ao co!ação% limitando-se a comunica! emoçes>N. ?lite!atu!a% com e0eito% não # uma 0iloso0ia dis0a!çada% nem o conecimento &ue t!ansmite seidenti0ica com conceitos abst!atos ou p!inc'pios cient'0icos. $odavia% a !uptu!a total ent!e

lite!atu!a e atividade conoscitiva !ep!esenta uma inaceitável mutilação do 0en<menolite!á!io% pois toda a ob!a lite!á!ia autntica t!adu uma e7pe!incia umana e di aloace!ca do omem e do mundo. Jb,etivação% de ca!áte! &ualitativo% do esp'!ito doomem">>% a lite!atu!a e7p!ime semp!e dete!minados valo!es% dá 0o!ma a uma cosmovisão%!evela almas / em suma% constitui um conecimento. 1esmo &uando se t!ans0o!ma em ,ooe se de!ada em 0ato! de ent!etenimento% a lite!atu!a conse!va ainda a sua capacidadeconoscitiva% pois !e0lete a est!utu!a do unive!so em &ue se situam os &ue assim a cultivam.Lone de se! um dive!timento de diletantes% a lite!atu!a a0i!ma-se como meio p!ivileiadode e7plo!ação e de conecimento da !ealidade inte!io!% do eu p!o0undo &ue as convençessociais% os ábitos e as e7incias p!amáticas masca!am continuamente: ? a!te dinadeste nome / esc!eve 1a!cel =!oust / deve e7p!imi! a nossa essncia sub,etiva eincomunicável. ...; J &ue não tivemos &ue deci0!a!% escla!ece! at!av#s do nosso es0o!ço pessoal% o &ue e!a cla!o antes de n8s% não nos pe!tence. Bão vem de n8s p!8p!ios senão o&ue a!!ancamos da obscu!idade &ue está em n8s e &ue os out!os não conecem" >2.

?t!av#s dos tempos% a lite!atu!a tem sido o mais 0ecundo inst!umento de análise e decomp!eensão do omem e das suas !elaçes com o mundo. 80ocles% akespea!e%e!vantes% 9ousseau% Dostoievski% Za0ka% etc.% !ep!esentam novos modos de comp!eende! oomem e a vida e !evelam ve!dades umanas &ue antes delas se desconeciam ou apenase!am p!essentidas. ?ntes de 9ousseau% nunca o omem analisa!a com tanto impudo! e tantavol@pia a sua intimidade% nem descob!i!a as del'cias e a impo!tância psicol8ica e mo!aldos estados de r6verieS antes de Za0ka% ino!avam-se muitos aspectos do unive!sotentacula!% labi!'ntico e absu!do em &ue vive o omem mode!no. =ense-se% po! e7emplo%

&ue apenas os esc!ito!es p!#-!omânticos e !omânticos e7p!imi!am a t!istea das coisas em simesmas: constitui o,e um deslavado lua!-comum da t!istea do lua!% mas 0oi Coete&uem p!imei!o !evelou essa t!istea% tal como ateaub!iand !evelou a melancolia dos sinose La0o!ue a solidão e abandono dos dominos:

 2uir7 -8 aller, par ce printemps7

 9ehors, dimance, rien : faire;<

um modo de conecimentoS se bem um conecimento &ue não se,a o!denado ao discu!so ou ao !acioc'nio masI simples 0!uição po#tica. Eis uma ve!dade &ue ninu#m pode!ia nea!% a menos &ue p!etendesse tapa! o solcom penei!a e es&uece! a mensaem po#tica p!o0unda de um 6audelai!e% 9imbaud e tantos out!os.

...; a poesia # o,e um modo de conecimento% a0etivo embo!a% conatu!al embo!a% ainda &ueimpe!0eito e 0aendo mesmo dessa impe!0eição a sua !andea% e po! mais pa!ado7al &ue pa!eça% a sua

 pe!0eição mesma" (-bra completa% 9io de Oanei!o% ?uila!% >5G% vol. *% p. RH).>N +.% po! e7emplo% Lino C!anie!i% $stética pura% 6a!i% Ediioni Be!io% >R2% p.22R.>> [ilbu! 1a!sall M!ban% Len!ua!e / realidad % 1#7ico% Pondo de ultu!a Econ<mica% >52% pp. F4-F5.>2 1a!cel =!oust% A la recherche du temps perdu% =a!is% Callima!d% (6ibliot\&ue de la =l#iade)% >5R% t. ***% p.GG5. ob!e a 0inalidade conitiva at!ibu'da po! 1a!cel =!oust I a!te% v. Ken!i 6onnet%  Leudémonisme

esthétique de "roust % =a!is% +!in% >4% e Oac&ues O. ]#pi!% La personalité humaine dans loeuvre de .arcel "roust % =a!is% 1ina!d% >5% pp. 24N ss.>F Oules La0o!ue% "oésis% =a!is% olin% >5% p.2F4.

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Link cata!se: (p. >>F->>4)

.  Data de ?!ist8teles o p!oblema da catarse  como 0inalidade da lite!atu!a. Ba "oética% a0i!ma e7plicitamente o Estai!ita &ue a 0unção p!8p!ia da poesia # o p!ae!(edone)% não um p!ae! !ossei!o e co!!upto!% mas pu!o e elevado. Este p!ae! o0e!ecido pela poesia não deve po! conseuinte se! conside!ado como simples mani0estação l@dica%devendo antes se! entendido seundo uma pe!spectiva #tica% como se conclui da 0amosade0inição de t!a#dia estabelecida po! ?!ist8teles: ? t!a#dia # uma imitação da ação%elevada e completa% dotada de e7tensão% numa linuaem tempe!ada% com 0o!mas di0e!entesem cada pa!te% &ue se se!ve da ação e não da na!!ação% e &ue% po! meio da comise!ação e dotemo!% p!ovoca a pu!i0icação de tais pai7es".

 Bão # 0ácil inte!p!eta! com intei!a seu!ança este passo dessa ob!a tão obscu!a &ue #a  "oética. Oá no enta!dece! do s#culo +*% um comenta!ista de ?!ist8teles% =aolo 6eni%

coliia doe inte!p!etaçes di0e!entes a seu !espeitoS e nos s#culos subse&Aentes% out!as seles ,unta!iam... ?!ist8teles tomou o vocábulo cata!se" da linuaem m#dica% ondedesinava um p!ocesso pu!i0icado! &ue limpa o co!po de elementos nocivos. J 0il8so0o%todavia% ao ca!acte!ia! o e0eito catá!tico da t!a#dia% não tem em mente um p!ocesso dedepu!ação te!aputica ou m'stica% mas um p!ocesso pu!i0icado! de natu!ea psicol8ico-intelectual: no mundo to!vo e in0o!me das pai7es e das 0o!ças instintivas% a poesia t!áica%concebida como uma esp#cie de mediado!a ent!e a sensibilidade e o lo!os% instau!a umadisciplina iluminante% impedindo a desmesu!a da aitação passional. ?!ist8teles% come0eito% não advoa a e7ti!pação dos impulsos i!!acionais% mas sim a sua cla!i0icação!acional% a sua pu!ação dos elementos e7cessivos e viciosos. ?ssisti! a uma do! 0ict'cia deout!em leva a um desa0oo in8cuo de pai7es como o temo! e a piedade" e desta iiene

omeopática da alma !esulta um p!ae! supe!io! e ben0ae,o.? &uestão dos e0eitos catá!ticos da lite!atu!a s8 voltou a inte!essa! os esp'!itos

muitos s#culos ap8s ?!ist8teles% &uando% no s#culo +*% depois da d#cada de t!inta /na&uele pe!'odo em &ue 0indava il pieno (inascimento e se iniciava il tardo (inascimento%seundo a te!minoloia de !oce -% a "oética começou a solicita! a atenção dos estudiosos ea da! o!iem a um pode!oso movimento de teo!iação lite!á!ia. Beste movimento% o p!oblema da cata!se e das suas implicaçes mo!ais apa!ece como ponto 0undamental de!e0le7ão e o te7to da "oética &ue t!ata da t!a#dia e dos seus e0eitos catá!ticos # ob,eto dem@ltiplas e dive!entes inte!p!etaçes.

(...)

Link lite!atu!a comp!ometida: (p. >>->2)

Pala-se muito% no nosso tempo% de literatura comprometida  e de compromissoliterário. $ais 08!mulas% e as dout!inas &ue elas !ecob!em% de0inem as 0eiçes de uma #pocada cultu!a eu!op#ia: o pe!'odo da @ltima con0la!ação mundial e sob!etudo dos anossubse&Aentes% &uando as co!!entes neo-!ealistas e e7istencialistas se di0undi!am e

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t!iun0a!am po! toda uma Eu!opa ocidental deso!aniada% cobe!ta de !u'nas san!entas edominada pela an@stia.

J tema do compromisso # 0undamental% pelas suas implicaçes e conse&Ancias% nas0iloso0ias e7istencialistas. J omem% no die! de Keidee!% não # um !eceptáculo% isto #%uma passividade !ecolendo dados no mundo% mas um estar=no=mundo% não no sentido

espacial e 0'sico de estar em% mas no sentido de p!esença ativa% de esta! em !elação0undado!a% constitutiva com o mundo.

(...)

Tuando Oean-=aul a!t!e lança omb!os I ta!e0a de e7po! a sua concepção delite!atu!a% num ensaio mundialmente c#leb!e (>uest=ce que la littérature7)% estes t8picosda 0iloso0ia de Keidee! in0luenciam vis'vel e natu!almente o teo! e o encadeamento dassuas id#ias. ? aliança destes elementos com dete!minados p!inc'pios do ma!7ismo de0ine ao!ientação do !e0e!ido ensaio% o documento mais !elevante das teo!ias ace!ca docomp!omisso da lite!atu!a.

...;

. $o!na-se necessá!io e0etua! uma distinção n'tida ent!e literatura comprometida

ou% pa!a usa! um vocábulo 0!ancs muito em moda% literatura ?en!a!ée@% e literatura

 planificada  ou diri!ida. Ba literatura comprometida% a de0esa de dete!minados valo!esmo!ais% pol'ticos e sociais nasce de uma decisão liv!e do esc!ito!S na literatura planificada%os valo!es a de0ende! e a e7alta! e os ob,etivos a atini! são impostos coativamente po! um pode! aleio ao esc!ito!% &uase semp!e um pode! pol'tico% com o conse&Aente ce!ceamento%ou at# ani&uilação% da libe!dade do a!tista.

...;

Link ne!os lite!á!ios: (p. 2N5-2N)

IV. G/neros Liter0rios

1. J conceito de ne!o lite!á!io tem so0!ido m@ltiplas va!iaçes ist8!icas desde aantiAidade elnica at# aos nossos dias e pe!manece como um dos mais á!duos da est#ticalite!á!ia. ?liás% o p!oblema dos ne!os lite!á!ios cone7iona-se intimamente com out!os p!oblemas de 0undamental manitude% como as !elaçes do individual e do unive!sal% as

!elaçes ent!e visão do mundo e 0o!ma a!t'stica% a e7istncia ou ine7istncia de !e!as% etc.%e estas implicaçes a!avam a comple7idade do assunto. E7istem ou não e7istem osne!os lite!á!ios^ e e7istem% como deve se! concebida a sua e7istncia^ E &ual a sua0unção% o seu valo! 

onside!ando a &uestão numa pe!spectiva diac!<nica% encont!amos pa!a estas pe!untas muitas e disco!dantes !espostas. E como os valo!es lite!á!ios se a0i!mam e atuamna ist8!ia% o modo mais ade&uado de abo!da! o p!oblema dos ne!os lite!á!ios se!á adota!

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a pe!spectiva diac!<nica e analisa! as mais sini0icativas soluçes concedidas a tal p!oblema no t!anscu!so da ist8!ia.

&. =latão% no liv!o *** da (ep)blica% distinue t!s !andes divises dent!o da poesia:a poesia mimética ou dramática% a poesia não mimética ou l'!ica e a poesia mista ou #pica.$!ata-se da p!imei!a !e0e!ncia teo!#tica ao p!oblema dos ne!os lite!á!ios. *mpo!ta

obse!va!% po!#m% &ue a&uela distinção # abolida no liv!o do mencionado diáloo% passando a' o 0il8so0o a conside!a! toda a poesia como mim#tica. ?s !aes desta alte!açãonão são bem conecidas% supondo-se% todavia% &ue ent!e a !edação do liv!o *** e do liv!o tena mediado um ce!to pe!'odo de tempo% du!ante o &ual =latão te!ia modi0icado os seus pontos de vista. ? est#tica plat<nica o!ienta-se loicamente pa!a a abolição dos ne!oslite!á!ios% pois p!ocu!a capta! a unive!salidade e a unicidade da a!te% desp!eando a a!tecomo poi1ilia% isto #% como multiplicidade e dive!sidade.

? "oética de ?!ist8teles constitui a p!imei!a !e0le7ão p!o0unda ace!ca da e7istnciae da ca!acte!iação dos ne!os lite!á!ios e ainda o,e pe!manece como um dos te7tos0undamentais sob!e esta mat#!ia. Loo no in'cio da "oética se l o seuinte: Pala!emos da?!te =o#tica em si e das suas modalidades% do e0eito de cada uma delas% do p!ocesso de

composição a adota!% se se &uise! p!odui! uma ob!a bela% e ainda do n@me!o e &ualidadedas suas pa!tes. (...) E assim o Estai!ita estabelece as modalidades% ou ne!os% de poesia:

a) e!undo os meios diversos com que se realia a mimese. omo ,á sabemos% pa!a?!ist8teles a mimese # o 0undamento de todas as a!tes% dive!si0icando-se estas consoante omeio com &ue cada uma se !ealia a mimese. (...)

 b) e!undo os ob+etos diversos da mimese. *ncidindo a mimese sob!e pessoas &ueatuam% e podendo se! as pessoas nob!es ou in8beis% vi!tuosas ou não vi!tuosas% melo!esou pio!es do &ue a m#dia umana% # 8bvio &ue as composiçes po#ticas dive!si0ica!-se-ãocon0o!me os ob,etos imitados. (...)

c) e!undo os diversos modos da mimese. Duas 0o!mas po#ticas% utiliando os

mesmos meios de mimese e imitando o mesmo ob,eto% podem ainda distinui!-se consoanteos modos dive!sos como se !ealia a mimese. ?!ist8teles conside!a dois modos0undamentais da mimese po#tica: um modo na!!ativo e um modo d!amático. Bo p!imei!ocaso% o poeta na!!a em seu p!8p!io nome ou na!!a assumindo pe!sonalidades dive!sasS noseundo caso% os ato!es !ep!esentam di!etamente a ação% como se 0ossem eles p!8p!ios as pe!sonaens vivas e ope!antes".

...;

(. Ko!ácio% com aluns p!eceitos da sua $pistula ad pisones% ocupa um lua! de!elevo na evolução do conceito de ne!o lite!á!io% sob!etudo pela in0luncia e7e!cida na

 po#tica e na !et8!ica dos s#culos +*% +** e +***.Ko!ácio concebe o ne!o lite!á!io como co!!espondendo a uma ce!ta tradi*ão

 formal   e sendo simultaneamente ca!acte!iado po! um dete!minado tom. Tue! die!% one!o de0ine-se mediante um dete!minado met!o% po! e7emplo% e mediante um conte@doespec'0ico.

(...) J poeta deve po!tanto escole!% con0o!me os assuntos t!atados% as convenientesmodalidades m#t!icas ou estil'sticas% de manei!a a não e7p!imi! um tema c<mico nummet!o p!8p!io da t!a#dia ou% pelo cont!á!io% um tema t!áico num estilo pe!tencente I

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com#dia. (...) Ko!ácio 0oi deste modo conduido a concebe! os ne!os como entidades pe!0eitamente distintas% co!!espondendo a distintos movimentos psicol8icos% pelo &ue o poeta deve mant-los !io!osamente sepa!ados% de modo a evita!% po! e7emplo% &ual&ue!ib!idismo ent!e o ne!o c<mico e o ne!o t!áico. (...) ?ssim se 0i7ava a 0amosa !e!a daunidade de tom% de tão la!a aceitação no classicismo 0!ancs e na est#tica neoclássica% &ue

 p!esc!eve a sepa!ação absoluta dos dive!sos ne!os.

Link concepçes !omânticas: (p.2>5-2>R)

? dout!ina !omântica ace!ca dos ne!os lite!á!ios # multi0o!me e% po! vees%cont!adit8!ia. Bão encont!amos uma solução unitá!ia% embo!a se possa aponta! como p!inc'pio comum a todos !omânticos a condenação da teo!ia clássica dos ne!os lite!á!ios%em nome da libe!dade e da espontaneidade c!iado!as% da unicidade da ob!a lite!á!ia% etc.$odavia% a atitude !adicalmente neativa do turm und dran!  não 0oi em e!al aceita pelos

!omânticos% &ue% se a0i!mavam po! um lado o ca!áte! absoluto da a!te% não dei7avam de!econece!% po! out!o% a multiplicidade e a dive!sidade das ob!as a!t'sticas e7istentes. Eve!i0ica-se% na ve!dade% &ue aluns !omânticos busca!am estabelece! novas teo!ias dosne!os lite!á!ios% 0undamentando-se não em elementos e7te!nos e 0o!malistas% mas emelementos int!'nsecos e 0ilos80icos.

(...)

Mm aspecto muito impo!tante da teo!ia !omântica dos ne!os lite!á!ios di !espeitoI de0esa do ib!idismo dos ne!os. J te7to mais 0amoso sob!e esta mat#!ia% te7to &ue!ep!esentou um pendão de !evolta% # sem d@vida o p!e0ácio de &rom0el  (>G2H) de +icto!Kuo. Bessas páinas a!essivas e tumultuosas% Kuo condena a !e!a da unidade de tom ea pu!ea dos ne!os lite!á!ios em nome da p!8p!ia vida% de &ue a a!te deve se! a e7p!essão.

...;

Link concepçes cienti0istas: (p. 2>H-G)

. Bas @ltimas d#cadas do s#culo *% novamente 0oi de0inida a substancialidadedos ne!os lite!á!ios% especialmente po! 6!uneti\!e (>G4->NR)% c!'tico e p!o0esso!unive!sitá!io 0!ancs. 6!uneti\!e% in0luenciado pelo domatismo da dout!ina clássica%concebe os ne!os como entidades substancialmente e7istentes% como essncias lite!á!ias

 p!ovidas de um sini0icado e de um dinamismo p!8p!ios% não como simples palav!as oucateo!ias a!bit!á!ias% e% seduido pelas teo!ias evolucionistas aplicadas po! Da!Win aodom'nio biol8ico% p!ocu!a ap!o7ima! o ne!o lite!á!io da esp#cie biol8ica. Deste modo%6!uneti\!e ap!esenta o ne!o lite!á!io como um o!anismo &ue nasce% se desenvolve%envelece e mo!!e% ou se t!ans0o!ma. ? t!a#dia 0!ancesa% po! e7emplo% te!ia nascido comOodelle% atini!ia a matu!idade com o!neille% ent!a!ia em decl'nio com +oltai!e e mo!!e!iaantes de +icto! Kuo. $al como alumas esp#cies biol8icas desapa!ecem% vencidas po!

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out!as mais 0o!tes% e mais bem apet!ecadas% assim aluns ne!os lite!á!ios mo!!e!iam%dominados po! out!os mais vio!osos. (...)

Link c!oce: (p. 2>-22N)

J p!oblema dos ne!os lite!á!ios ad&ui!iu nova acuidade p!ecisamente na !e0le7ãoest#tica de 6enedetto !oce% sendo bem vis'vel no pensamento do !ande esteta italiano ointuito polmico de combate! e invalida! as coneminaçes domatistas de 6!unti\!e.

!oce identi0ica a poesia / e a a!te em e!al / com a 0o!ma da atividade teo!#tica&ue # a intui*ão% conecimento do individual% das coisas sinula!es% p!oduto!a de imaens /em suma% 0o!ma de conecimento oposta ao conecimento l8ico. ? intuição #concomitantemente eCpressão% pois a intuição distinue-se da sensação% do 0lu7o senso!ial%en&uanto 0o!ma% e esta 0o!ma constitui a e7p!essão. Intuir é eCprimir . ? poesia% como todaa a!te% !evela-se po!tanto como intui*ão=eCpressão: conecimento e !ep!esentação do

individual% elabo!ação al8ica% e po! conseuinte i!!epet'vel% de dete!minados conte@dos. ?ob!a po#tica% conse&uentemente% # una  e indivis#vel % po!&ue cada e7p!essão # umae7p!essão @nica".

Link concepçes do s#culo : (p. 225-22H)

? mode!na po#tica% desenanada de &uais&ue! tentaçes domáticas e absolutistas% p!ocu!ando na ist8!ia a sua 0undamentação% !eabilitou o conceito de ne!o lite!á!io.

1enciona!emos apenas dois !andes nomes da po#tica e da c!'tica lite!á!iacontempo!âneas% dois auto!es p!o0undamente distintos na 0o!mação% na ideoloia e nosm#todos de investiação% &ue !epensa!am com delona e !io! o conceito de ne!olite!á!io% concedendo-le na sua ob!a um lua! p!eponde!ante.

Emil taie!% ao publica! em >52 a sua ob!a Drundbe!riffe der "oeti1  &onceitos

 fundamentais de poética;% most!ou &ual o camino seu!o no estudo dos ne!os lite!á!ios.ondenando uma po#tica ap!io!'stica e anti-ist8!ica% taie! acentua a necessidade de a po#tica se apoia! 0i!memente na ist8!ia% na t!adição 0o!mal conc!eta e ist8!ica dalite!atu!a% ,á &ue a essncia do omem # a tempo!alidade. 9etomando a t!adicionalt!ipa!tição de l'!ica% #pica e d!ama% !e0o!mulou-a p!o0undamente% substituindo estas 0o!massubstantivas pelos conceitos estil'sticos de l'!ico% #pico e d!amático. J &ue pe!mite

0undamenta! a e7istncia destes conceitos básicos da po#tica^ ? p!8p!ia !ealidade do se!umano% pois os conceitos do l'!ico% do #pico e do d!amático são te!mos da cincialite!á!ia pa!a !ep!esenta! possibilidades 0undamentais da e7istncia umana em e!alS ee7iste uma l'!ica% uma #pica e uma d!amática po!&ue as es0e!as do emocional% do intuitivo edo l8ico constituem 0inalmente a p!8p!ia essncia do omem% tanto na sua unidade comona sua sucessão% tal como apa!ecem !e0letidas na in0ância% na ,uventude e na matu!idade".

(...)

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Lukács !evelou semp!e ao lono da sua ob!a um p!o0undo inte!esse pelo p!oblemados ne!os lite!á!ios. Oá na sua ,uvenil 4eoria do romance% !ediida ent!e >>4->>5%abundam as obse!vaçes ace!ca dos elementos &ue pe!mitem distinui! a na!!ativa e al'!ica% a na!!ativa e o d!ama% o !omance e a epop#ia. Estas !e0le7es ,uvenis% inspi!adas naest#tica eeliana% ana!am co!po e densidade na ob!a intitulada - romance histórico%

onde se encont!a uma po!meno!iada di0e!enciação ent!e o !omance e o d!ama. J &ue pe!mite% seundo Lukács% distinui! estes dois ne!os lite!á!ios^ Pundamentalmente% essadi0e!enciação !epousa no 0ato de o !omance e o d!ama co!!esponde!em a vises di0e!entesda !ealidade% o &ue implica necessa!iamente dive!sidade de conte@do e de 0o!ma. =o! out!olado% impe-se toma! em conta 0ato!es de o!dem sociol8ica ou sociocultu!al: a natu!ea do p@blico a &ue se destina o !omance e o d!ama% bem como a est!utu!a da sociedade em &ueos ne!os lite!á!ios são c!iados e_ou cultivados. E0etivamente% como acentua Lukács nas páinas &ue na sua  $stética consa!ou ao p!oblema da continuidade e da descontinuidadeda es0e!a est#tica% a dete!minação ist8!ico-social # tão intensa &ue pode leva! a e7tinçãode dete!minados ne!os (a #pica clássica) ou ao nascimento de out!os novos (o !omance)".

J est!utu!alismo% desenvolvendo alumas tentativas !ealiadas pelo 0o!malismo

!usso% tem p!ocu!ado de0ini! os ne!os a pa!ti! dos elementos constitutivos das !espectivasest!utu!as linA'sticas% embo!a os !esultados obtidos nem semp!e se,am muito 0ecundos.9oman Oakobson% num impo!tante estudo publicado á pouco% !elacionou as pa!ticula!idades dos ne!os lite!á!ios com a pa!ticipação% ao lado da 0unção po#tica / &ue# a dominante -% das out!as 0unçes da linuaem. ?ssim% a #pica% cent!ada sob!e a te!cei!a pessoa% envolve a 0unção !e0e!encial da linuaemS a l'!ica% o!ientada pa!a a p!imei!a pessoa% p!ende-se est!eitamente com a 0unção emotivaS a d!amática implica a seunda pessoa com 0unção apelativa.

Link tempo>: (p.2F-FNR)

IV. Ro2an$e

...;

J tempo da dieese está delimitado e ca!acte!iado po! indicaçes est!itamentec!onol8icas !elativas ao calendá!io do ano civil / anos% meses% dias% o!as -% po!in0o!maçes liadas ainda a este calendá!io% mas ap!esentando sob!etudo um sini0icadoc8smico / !itmo das estaçes% !itmo dos dias e das noites -% po! dados conce!nentes a umadete!minada #poca ist8!ica% etc.

J tempo die#tico pode se! muito e7tenso / como n-s Buddenbroo1  de $omas

1ann / ou !elativamente cu!to como em  Luto no "ara#so de Ouan CoQtisolo. Tue! se,ae7tenso% &ue! se,a cu!to% # poss'vel% em e!al% medi! com su0iciente !io! o tempo die#tico.

=elo cont!á!io% o tempo da na!!ativa% ou do discu!so% # de di0'cil medição. =ode!-se-á medi! este tempo po! meio da painação^ 1as a páina # uma unidade va!iável% em0unção da manca tipo!á0ica e em 0unção do tipo de let!aS a páina pode esta!compactamente ocupada com 0!ases ou pode ap!esenta! nume!osos espaços em b!anco.=ode!-se-á 0ae! coincidi! o tempo da na!!ativa com o tempo &ue # necessá!io dispende! pa!a a sua leitu!a^ J tempo e7iido pela leitu!a de um te7to% po!#m% # iualmente um

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c!it#!io va!iável e aleat8!io. ? velocidade da leitu!a modi0ica-se de leito! pa!a leito!% e nemse&ue! # constante no mesmo leito!% de modo &ue # imposs'vel estabelece! um pad!ão idealsuscet'vel de no!malia!% diamos assim% essa velocidade de leitu!a.

?s !elaçes ent!e o tempo die#tico e o tempo na!!ativo assumem uma impo!tânciacapital na o!aniação do !omance.

? coincidncia pe!0eita ent!e o desenvolvimento c!onol8ico da dieese e asucessão% no discu!so% dos acontecimentos die#ticos% não se encont!a possivelmente emnenum !omance. ?os desencont!os ent!e a o!dem dos acontecimentos no plano da dieesee a o!dem po! &ue apa!ecem na!!ados no discu!so% da!emos a desinação de anacronias.

? t!adição #pica !eco-latina o0e!ece um e7emplo 0amoso de anac!onia% ao p!eceitua! &ue o poema #pico deve se! iniciado in media res. Deste modo% o começo dodiscu!so co!!esponde a um momento ,á adiantado da dieese% ob!iando tal t#cnica% como #8bvio% a na!!a! depois no discu!so o &ue acontece!a antes na dieese.

J começo da na!!ativa in media res # 0!e&Aente no !omance. =ode mesmo acontece!&ue o !omancista p!incipie o discu!so in ultimas res% diamos assim% de manei!a &ue as

 páinas iniciais na!!am% eventualmente com liei!as modulaçes% a situação com &ue seence!!a a sintamática die#tica. (...) J !omance policial adota% nas suas linas0undamentais% este tipo de abe!tu!a na!!ativa -% mas &ue tamb#m% e um pouco pa!ado7almente% in0o!ma loo ab initio o leito! do destino 0inal da pe!sonaem.

$anto o in'cio da na!!ativa in media res como in ultimas res ob!ia o !omancista ana!!a! poste!io!mente os antecedentes die#ticos dos epis8dios e das situaçes &ue 0iu!amna abe!tu!a do !omance. Tue! die!% em !elação I tempo!alidade do semento die#tico p!imei!amente na!!ado% o !omancista institui uma tempo!alidade seunda% dando assimlua! a um anac!onia. Bo caso de in'cio in media res% a anac!onia depois de ocupa! umae7tensão maio! ou meno! da sintamática do discu!so% # !eabso!vida pela p!imei!ana!!ativa% &ue continua a desenvolve!-se ap8s a&uela inte!!upçãoS no caso do in'cio in

ultimas res% a anac!onia ap!esenta-se como a na!!ativa de base% ocupando a &uase totalidadedo discu!so.

? esta esp#cie de anac!onias% constitu'das po! !ecuos no tempo% dá-se em e!al adesinação de  flash=bac1  e da!emos n8s% seuindo a mencionada te!minoloia de C#!a!dCenette% a denominação de analepse.

? analepse # um !ecu!so de &ue os !omancistas se se!vem com 0!e&Ancia% po!&ue pe!mite comodamente escla!ece! o na!!at8!io sob!e os antecedentes de uma dete!minadasituação / sob!etudo &uando essa situação se encont!a no in'cio da na!!ativa / e sob!e uma pe!sonaem int!oduida pela p!imei!a ve no discu!so ou neste !eint!oduida% ap8sdispa!ição mais ou menos p!olonada. ? na!!ativa anal#ptica desempena uma 0unçãomuito !elevante no !omance natu!alista% em est!eita inte!dependncia com a concepção positivista do mundo &ue !ee este !omance. ?p8s a ap!esentação das pe!sonaens p!incipais% o !omancista natu!alista !eco!!e loicamente a analepses mais ou menose7tensas pa!a analisa!% seundo a 8tica positivista% as 0o!ças dete!minantes /e!edita!iedade% in0luncia do meio% constituição 0isiol8ica e tempe!amental / &uemodelam a&uelas pe!sonaens.

? analepse constitui uma t#cnica utiliada pelo !omance de todas as #pocas / nos#culo +***% te!ne esc!eveu essa ob!a-p!ima da na!!ativa anal#ptica &ue # 4ristam

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hand/ -% não podendo de modo nenum se! conside!ada uma descobe!ta do !omance dos#culo % 0undado em especial na capacidade !et!ospectiva da mem8!ia.

(...)

? anac!onia pode consisti!% po!#m% numa antecipação% no plano do discu!so% de um0ato ou de uma situação &ue% em obedincia I c!onoloia die#tica% s8 deviam se! na!!ados

mais ta!de. ? esta esp#cie de anac!onia da!emos a denominação de  prolepse.? p!olepse # menos 0!e&Aente do &ue a analepse% sendo mesmo bastante !a!a a sua

oco!!ncia no !omance do s#culo *. J !omance &ue mais 0ácil e loicamente acole p!olepses # o !omance de na!!ado! autodie#tico% pois este na!!ado!% &ue o!ania ana!!ativa seundo um modelo e7plicitamente !et!ospectivo% não tem di0iculdade de% a!espeito de um acontecimento die#tico% evoca! um out!o &ue le # c!onoloicamente poste!io!. Bo !omance contempo!âneo% po!#m% as p!olepses podem abunda! mesmo sem ae7istncia de um na!!ado! autodie#tico% como comp!ova% po! e7emplo% $nseada amena de?uusto ?belai!a.

  ?l#m das anac!onias% out!a esp#cie de tenses e desencont!os se institui ent!e o

tempo die#tico e o tempo na!!ativo% diendo !espeito I du!ação dos acontecimentos nasucessão die#tica e I du!ação da sintamática na!!ativa em &ue tais acontecimentos são!elatados.

? coincidncia pe!0eita ent!e du!ação da dieese e do discu!so se!á poss'vel^ $alisoc!onia s8 se!á de admiti! num caso: &uando o discu!so !ep!odui! 0ielmente% sem&ual&ue! inte!venção do na!!ado!% um diáloo da dieese. Bo cap'tulo +** de  A!ulha no

 palheiro de amilo% ap8s um diáloo ent!e =aulina e Euenia% o na!!ado! comenta: Estediáloo% &ue pa!ece esti!ado% co!!eu em menos de &uat!o minutos". Tual&ue! leito! &ue leiaem vo alta% sem p!essas nem demo!as% o citado diáloo e !eist!e o tempo de sua leitu!a%ve!i0ica!á &ue esta du!a um pouco mais de t!s minutos% coincidindo po!tanto esta du!açãocom a tempo!alidade die#tica indicada pelo na!!ado!.

$odavia% nem em tal caso se pode !io!osamente 0ala! de absoluta iualdade ent!e osemento die#tico e o semento na!!ativo% pois &ue% como obse!va pe!tinentemente C#!a!dCenette% o discu!so não !ep!odu a velocidade com a &ual a&uelas palav!as 0o!am p!onunciadas% nem os eventuais tempos mo!tos da conve!sação". De &ual&ue! modo% # nossementos do discu!so constitu'dos e7clusiva% ou p!edominantemente% po! diáloos /sementos &ue a c!'tica anlo-ame!icana% na estei!a de Ken!Q Oames e =e!cQ Lubbock%cama cenas ( scenes) / &ue se ve!i0ica uma isoc!onia !elativa / uma tendncia pa!a ela /ent!e o tempo die#tico e o tempo na!!ativo. =ondo de lado estes casos% o &ue o !omanceap!esenta são anisocronias% di0e!enças de du!ação% ent!e esses dois tempos.

J na!!ado! pode !elata! velomente% at!av#s de 0!amentos do discu!so &uedenomina!emos resumos  (na c!'tica de l'nua inlesa%  summaires)% acontecimentosdie#ticos oco!!idos em lonos pe!'odos de tempo. Pe!nando Bamo!a condensa nesta meiad@ia de linas sucessos &ue se desen!ola!am du!ante !ande pa!te da noite: $inam pe!dido a noite na cei0a dos to,os e a seu!a! a bu!!a sob!e as laba!edas da 0ouei!a. ?&uiloacaba!a numa !ita!ia dos diabos% &uando ?lice% p!esa I a!upa do animal% viu &ue o pai e ocompad!e não escoliam os meios de mante! a besta ama!!ada ao sac!i0'cio. 6e!!ando unscom os out!os% lambidos pelo 0oo% como danados% pa!eciam dem<nios 0uidos do

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in0e!no">4. J !esumo pode se! mais condensado ainda% bastando escassas palav!as pa!a!e0e!i! uma tempo!alidade die#tica muito dilatada: E nesse ano passou. Cente nasceu%ente mo!!eu. ea!as amadu!ece!am% a!vo!edos mu!ca!am. Jut!os anos passa!am.">5

$ais !esumos e7t!emamente condensados aviinam-se das elipses% anisoc!onias!esultantes do 0ato de o na!!ado! e7clui! do discu!so dete!minados acontecimentos

die#ticos% dando assim o!iem a mais ou menos e7tensos vaios na!!ativos. ? elipse # um p!ocesso 0undamental da t#cnica na!!ativa% pois nenum na!!ado! pode !elata! com est!ita0idelidade todos os po!meno!es da dieese. Mmas vees% o na!!ado! in0o!ma e7plicitamenteo leito! de &ue eliminou da na!!ativa um ce!to n@me!o de 0atos% po! i!!elevantes%mon8tonos% maçado!es% escab!osos% etc.S out!as vees% po!#m% a elipse não # assinaladaespeci0icamente no te7to% devendo o leito! identi0icá-la pela análise das sintamáticasdie#tica e na!!ativa. Estas elipses impl'citas desempenam uma 0unção muito impo!tanteno !omance contempo!âneo: ,á não se t!ata de alivia! o te7to de po!meno!es die#ticosdestitu'dos de inte!esse ou cocantes pa!a o leito!% mas de elidi! intencionalmente dodiscu!so elementos die#ticos 0undamentais% &ue o leito! te!á de !econstitui!% baseando-senas in0o!maçes 0!amentá!ias &ue o te7to le o0e!ece.

?s anisoc!onias podem !esulta!% po!#m% do 0ato de uma tempo!alidade na!!ativalona. ?s desc!içes e as análises minuciosas de um 0ato% de uma ação% de um esto% de umestado de alma% podem e!a! um tempo do discu!so supe!io! ao tempo da dieese%dete!minando% com as suas pausas% um !itmo vaa!oso da na!!ativa. *ual conse&Anciadimana das di!ressEes  &ue o na!!ado! pode inse!i! no discu!so e &ue suspendem a p!o!essão da dieese. ? p!incipal causa% po!#m% de alonamento da tempo!alidadena!!ativa em !elação I tempo!alidade die#tica consiste na possibilidade &ue o na!!ado!det#m de instau!a! uma esp#cie de na!!ativa seunda &ue se vem en7e!ta! na dieese p!imá!ia / ou% talve melo!% &ue nasce desta dieese p!imá!ia e &ue se desenvolve% po!vees% dent!o dela como uma esp#cie de metástase die#tica -% e7plo!ando as vi!tualidadesda mem8!ia e da !et!ospecção e devassando o en!edado mundo inte!io! das pe!sonaens. ?

utiliação de tais t#cnicas na!!ativas pe!mitiu a laude 1au!iac esc!eve! um !omance deduas centenas de páinas% LA!randissement % cu,a dieese p!imá!ia% diamos assim% temcomo limites c!onol8icos os b!eves minutos em &ue pe!du!a uma lu ve!mela dos sinaisde t!ânsito. ? um tempo ob,etivo tão escasso co!!esponde po!tanto um tempo psicol8ico%e7istencial% bastante dilatado. ? e7tensão do tempo do discu!so # e!ada pela dimensãodeste tempo psicol8ico.

J monólo!o interior  constitui uma das t#cnicas mais utiliadas pelos !omancistascontempo!âneos a 0im de !ep!esenta!em os meand!os e as complicaçes da corrente de

consci6ncia de uma pe!sonaem e assim pode!em analisa! a u!didu!a do tempo inte!io!.

? t#cnica do mon8loo inte!io! 0oi inventada po! `doua!d Du,a!din (>GR>->4)%

obscu!o esc!ito! 0!ancs &ue publicou% em >GGH% um !omance em &ue o mon8loo inte!io!e!a abundantemente utiliado /  Les lauriers sont coupés. Oames OoQce !econeceu emDu,a!din o inspi!ado! da t#cnica dos mon8loos inte!io!es de Flisses% a!!ancando assim doolvido o !omancista auls.

 Bum liv!ino com o t'tulo de  Le monolo!ue intéieur % publicado em >F>% Du,a!dinca!acte!iou assim o mon8loo inte!io!: o mon8loo inte!io!% como &ual&ue! mon8loo% #

>4 Pe!nando Bamo!a% - tri!o e o +oio% G ed.% Lisboa. =ublicaçes Eu!opa-?m#!ica% >H2% p. F>H.>5 Eça de Tuei!8% -s maias% p.RG.

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um discu!so da pe!sonaem posta em cena e tem como ob,etivos int!odui!-nos di!etamentena vida inte!io! dessa pe!sonaem sem &ue o auto! inte!vena com e7plicaçes oucomentá!ios% e% como &ual&ue! mon8loo% # um discu!so sem audito! e um discu!so não p!onunciadoS mas di0e!encia-se do mon8loo t!adicional pelo seuinte: &uanto I suamat#!ia% # uma e7p!essão do pensamento mais 'ntimo% mais p!87imo do inconscienteS

&uanto ao seu esp'!ito% # um discu!so ante!io! a &ual&ue! o!aniação l8ica% !ep!oduindoesse pensamento no seu estado nascente e com aspecto de !ec#m-vindoS &uanto I sua0o!ma% !ealia-se em 0!ases di!etas !eduidas ao m'nimo de sinta7e". Esta de0inição deDu,a!din pode se! com !aão c!iticada naluns pontos% mas o0e!ece uma noção aceitáveldos ca!acte!es 0undamentais do mon8loo inte!io!: # um mon8loo não p!onunciado% &ue sedesen!ola na inte!io!idade da pe!sonaem / e á dete!minados estados psico0isiol8icos pa!ticula!mente 0avo!áveis I eclosão do mon8loo inte!io!: r6verie% ins<nias% cansaço% etc.-%&ue não tem out!o audito! &ue não se,a a p!8p!ia pe!sonaem e &ue se ap!esenta sob uma0o!ma deso!denada e at# ca8tica / sinta7e e7t!emamente 0!ou7a% pontuação escassa ou nula%!ande libe!dade% sob todos os pontos de vista% no uso do l#7ico% etc. -% sem &ual&ue!inte!venção do na!!ado! e 0luindo I medida &ue as id#ias e as imaens% o!a ins8litas o!at!iviais% o!a incon!uentes o!a ve!oss'meis% vão apa!ecendo% se vão at!aindo ou !epelindo naconscincia da pe!sonaem. J mon8loo inte!io! #% pois% uma t#cnica ade&uada I!ep!esentação dos conte@dos e p!ocessos da conscincia / e não apenas dos conte@dos mais p!87imos do inconsciente% como a0i!ma Du,a!din -% di0e!enciando-se do mon8loot!adicional% di!eto ou indi!eto% pelo 0ato de capta! os conte@dos ps'&uicos no seu estadoincoativo% na con0usão e na deso!dem &ue ca!acte!iam o 0lu7o da conscincia% sem ainte!venção disciplinado!a e escla!ecedo!a do na!!ado!.

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AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. #oi23ra: Li4raria

Al2edina, 19(. -! ed. Vol. 1.

5o 6ue est0 e2 $ina não est0 no site8

. G/neros Liter0rios

Link concepçes clássicas: (p. F4N-F4H)

.&. s /neros liter0rios nas o;ti$as de Platão e de Arist<teles

=latão% no liv!o *** de ?  (ep)blica, estabeleceu uma 0undamentação e umaclassi0icação dos ne!os lite!á!ios &ue% tanto pela sua !elevância int!'nseca como pela suain0luncia ulte!io!% devem se! conside!adas como um dos ma!cos 0undamentais da !enolo!ia, isto #% da teo!ia dos ne!os lite!á!ios.

eundo =latão% todos os te7tos lite!á!ios (tudo &uanto diem os p!osado!es e poetas") são uma na!!ativa de acontecimentos passados% p!esentes e 0utu!os". Ba cateo!ialobal da die!ese% distinue =latão t!s modalidades: a simples narrativa% a imita*ão  oum#mese  e uma modalidade mista% con0o!mada pela associação das duas ante!io!esmodalidades. ? simples narrativa, ou narrativa estreme, oco!!e &uando # o p!8p!io poeta&ue 0ala e não tenta volta! o nosso pensamento pa!a out!o lado% como se 0osse out!a pessoa&ue dissesse% e não eleS a imita*ão% ou m#mese% ve!i0ica-se &uando o poeta como &ue seoculta e 0ala como se 0osse out!a pessoa% p!ocu!ando assemela! o mais poss'vel o seuestilo ao da pessoa cu,a 0ala anunciou% sem int!omissão de um discu!so e7pl'cita e

0o!malmente sustentado pelo p!8p!io poeta (...; # &uando se ti!am as palav!as do poeta nomeio das 0alas% e 0ica s8 o diáloo")S a modalidade mista da na!!ativa compo!ta sementosde simples na!!ativa e sementos de imitação. Estas t!s modalidades do discu!soconsubstanciam-se em t!s mac!o-est!utu!as lite!á!ias% em cada uma das &uais sãodisc!imináveis dive!sos ne!os: em poesia e em p!osa á uma esp#cie &ue # toda deimitação% como tu dies &ue # a t!a#dia e a com#diaS out!a% de na!!ação pelo p!8p!io poeta / # nos diti!ambos &ue pode encont!a!-se de p!e0e!nciaS e out!a ainda constitu'da po!ambas% &ue se usa na composição da epop#ia e de muitos out!os ne!os ...;".

?ssim% =latão lança os 0undamentos de uma divisão tripartida dos ne!os lite!á!ios%distinuindo e identi0icando o ne!o imitativo ou mimético% em &ue se incluem a t!a#diae a com#dia% o ne!o narrativo puro% p!evalentemente !ep!esentado pelo diti!ambo% e o

ne!o misto% no &ual avulta a epop#ia. Besta t!ipa!tição% não # cla!o% nem a n'velconceptual nem a n'vel te!minol8ico% o estatuto da poesia l'!ica (...).

eundo ?!ist8teles% a mat!i e o 0undamento da poesia consistem na imitação:=a!ece ave!% em e!al% duas causas% e duas causas natu!ais% na nese da =oesia. Mma #&ue imita! # uma &ualidade connita nos omens% desde a in0ância (e nisso di0e!em dosout!os animais% em se!em os mais dados I imitação e em ad&ui!i!em% po! meio dela% os seus p!imei!os conecimentos)S a out!a% &ue todos ap!eciam as imitaçes. ? m'mese po#tica%

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&ue não # uma lite!al e passiva c8pia da !ealidade% uma ve &ue ap!eende o  !eral  p!esentenos se!es e nos eventos pa!ticula!es / e% po! isso mesmo% a poesia se apa!enta com a0iloso0ia /% incide sob!e os omens em ação% sob!e os seus ca!acte!es (ethe)% as suas pai7es ( pathe) e as suas açes ( praCeis). ? imitação constitui% po! conseuinte% o p!inc'piouni0icado! sub,acente a todos os te7tos po#ticos% mas !ep!esenta tamb#m o p!inc'pio

di0e!enciado! destes mesmos te7tos% visto &ue se consubstancia com meios dive!sos% seocupa de ob+etos dive!sos e se !ealia seundo modos dive!sos.

onsoante os meios dive!sos com &ue se consubstancia a m'mese% to!na-se poss'veldistinui!% po! e7emplo% a poesia diti!âmbica e os nomos% po! um lado% pois &ue são ne!osem &ue o poeta utilia simultaneamente o !itmo% o canto e o ve!so% e a com#dia e a t!a#dia% po! out!o% pois &ue são ne!os em &ue o poeta usa a&ueles mesmos elementos s8 pa!cialmente (assim% na t!a#dia e na com#dia o canto # apenas utiliado nas pa!tes l'!icas).

e se toma! em conside!ação a va!iedade dos ob+etos da m'mese po#tica% isto #% dosomens em ação% os ne!os lite!á!ios dive!si0ica!-se-ão con0o!me esses omens% sob o ponto de vista mo!al% 0o!em supe!io!es% in0e!io!es ou semelantes I m#dia umana. Js poemas #picos de Kome!o !ep!esentam os omens melo!es% as ob!as de leo0onte0iu!am-nos semelantes e as pa!8dias de Keemão de $aso imitam-nos pio!es. ? t!a#diatende a imita! os omens melo!es do &ue os omens !eais e a com#dia tende a imitá-los pio!esS a epop#ia assemela-se I t!a#dia po! se! uma imitação de omens supe!io!es.

Pinalmente% da dive!sidade dos modos  po! &ue se p!ocessa a imitação p!ocedemimpo!tantes di0e!enciaçes% ,á &ue o poeta pode imita! os mesmos ob,etos e utilia!idnticos meios% mas adota! modos distintos de m'mese. ?!ist8teles cont!ape o modo

imitativo, a imita*ão narrativa% ao modo dramático, em &ue o poeta ap!esenta todos osimitados como ope!antes e atuantes. Bo modo na!!ativo% # necessá!io disc!imina! doissubmodos: o poeta na!!ado! pode conve!te!-se at# ce!to ponto em out!o% como acontececom Kome!o% na!!ando at!av#s de uma pe!sonaem% ou pode na!!a! di!etamente% po! si

mesmo e sem muda!. (...) J modo na!!ativo pe!mite &ue o poema #pico tena uma e7tensãosupe!io! I da t!a#dia: nesta @ltima% não # poss'vel imita! vá!ias pa!tes da ação comodesenvolvendo-se ao mesmo tempo% mas apenas a pa!te &ue os ato!es !ep!esentam nacena% ao passo &ue% na epop#ia% p!ecisamente po! se t!ata! de uma na!!ação% o poeta podeap!esenta! muitas pa!tes !ealiando-se simultaneamente% !aças Is &uais%  se sãoap!op!iadas% aumenta a amplitude do poema. Esta va!iedade de epis8dios da epop#iacont!ibui pa!a da! esplendo! ao poema e pa!a !ec!ea! o seu ouvinte.

(...)

.(. A doutrina =ora$iana so3re os /neros liter0rios

?  $p#stola ad "isones, ou  Ars poetica, de Ko!ácio me!ula as suas !a'esdout!iná!ias na t!adição da po#tica a!istot#lica% não dece!to pelo conecimento di!eto daob!a do Estai!ita% mas pela mediação de vá!ias in0luncias assimiladas pelo poeta latino%em pa!ticula! a in0luncia de Beopt8lemo de =á!io% um teo!iado! da #poca elen'sticavinculado ao maist#!io de ?!ist8teles e da escola pe!ipat#tica sob!e mat#!ias de est#ticalite!á!ia. em possui! a sistematicidade e a p!o0undea anal'tica da  "oética de ?!ist8teles% a

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 $p#stola ad "isones dedica todavia impo!tantes. !e0le7es e ,u'os I p!oblemática dosne!os lite!á!ios% tendo desempenado% ao lono da *dade 1#dia e sob!etudo desde o9enascimento at# ao neoclassicismo setecentista% uma 0unção isto!icamente muito p!odutiva na constituição de teo!ias e no estabelecimento de p!eceitos atinentes I&uela p!oblemática.

 Bão se encont!am e7plicitamente 0o!muladas em Ko!ácio% ao cont!á!io do &ue seve!i0ica em =latão e ?!ist8teles% uma ca!acte!iação e uma classi0icação dos ne!oslite!á!ios em !andes cateo!ias / e.% a distinção ent!e o modo d!amático e o modona!!ativo /% embo!a es&uemas conceptuais de teo! simila! este,am sub,acentes a muitos dos p!eceitos da $p#stola ad "isones

Ko!ácio concebe o ne!o lite!á!io como con0o!mado po! uma dete!minada tradi*ão formal % na &ual avulta o met!o% po! uma dete!minada temática e po! uma dete!minada!elação &ue% em 0unção de 0ato!es 0o!mais e temáticos% se estabelece com os !ecepto!es. (...)

J poeta deve adota!% em con0o!midade com os temas t!atados% as convenientesmodalidades m#t!icas e estil'sticas. ? in0!ação desta no!ma% &ue em te!mos de !amática do

te7to pode!'amos conside!a! como !eulado!a da coe!ncia te7tual% des&uali0ica!adicalmente o poeta.

(...) Ko!ácio concebia po!tanto os ne!os lite!á!ios como entidades pe!0eitamentedi0e!enciadas ent!e si% con0iu!adas po! distintos ca!acte!es temáticos e 0o!mais% devendo o poeta mant-los cuidadosamente sepa!ados% de modo a evita!% po! e7emplo% &ual&ue!ib!idismo ent!e o ne!o c<mico e o ne!o t!áico (...).

Embo!a Ko!ácio 0aça !e0e!ncia a dive!sos tipos de composiçes l'!icas - hinos,

encGmios e epin#cios, poemas eróticos e escólios H, a l'!ica% como cateo!ia en#!ica% nãoapa!ece ade&uadamente ca!acte!iada e delimitada na $p#stola ad "isones

.9 ) Re>or2ula*+es do $on$eito de en;ri$o na teoria da literatura $onte2or?nea

Link 0o!malismo 9usso: (p. FHN-FHF)

(...)

J 0o!malismo !usso% cu,a 0undamentação anti-idealista e cu,o novo  pathos  de positivismo cient'0ico" 0o!am !ealçados po! Eikenbaum% at!ibuiu loicamente ao ne!o%&ue! na  praCis da lite!atu!a% &ue! na metalinuaem da teo!ia% da c!'tica e da ist8!ia

lite!á!ias% uma impo!tância de p!imei!o plano. om e0eito% um p!inc'pio teo!#tico essencialdo 0o!malismo !usso consiste na a0i!mação de &ue a soledade" e a sinula!idade" de cadaob!a lite!á!ia não e7istem% po!&ue todo o te7to 0a pa!te do sistema da lite!atu!a% ent!a emco!!elação com este mediante o ne!o ...;". omo esc!eve $omacevski num doscap'tulos da sua ob!a intitulada 4eoria da literatura% o ne!o de0ine-se como um con,untosistmico de p!ocessos const!utivos% &ue! a n'vel t#cnico-0o!mal% mani0estando-se taisca!acte!es do ne!o como os p!ocessos dominantes na c!iação da ob!a lite!á!ia.(...)

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9e,eitando &ual&ue! domatismo !educionista &ue o!iina!ia uma classi0icação!'ida e estática% os 0o!malistas !ussos concebe!am o ne!o lite!á!io como um aentidadeevolutiva% cu,as t!ans0o!maçes ad&ui!em sentido no &uad!o e!al do sistema lite!á!io e naco!!elação deste sistema com as mudanças ope!adas no sistema social% e po! issoadvoa!am uma classi0icação isto!icamente desc!itiva dos ne!os. (...)

(...)om a e!ança te8!ica e metodol8ica do 0o!malismo !usso se !elaciona ainda a

ca!acte!iação dos ne!os lite!á!ios p!oposta po! Oakobson% baseada na 0unção dalinuaem &ue e7e!ce o papel de  subdominante  em cada ne!o (o papel de 0unçãodominante% de aco!do com a concepção ,akobsoniana da lite!a!iedade% # e7e!cido pela0unção po#tica): o  !6nero épico% concent!ado sob!e a te!cei!a pessoa% pe em desta&ue a fun*ão referencial S o  !6nero l#rico% o!ientado pa!a a p!imei!a pessoa% está vinculadoest!eitamente I fun*ão emotivaS o !6nero dramático% poesia da seunda pessoa"% ap!esentacomo subdominante a fun*ão conativa e ca!acte!ia-se como suplicat8!io ou e7o!tativocon0o!me a p!imei!a pessoa este,a nele subo!dinado I seunda ou a seunda I p!imei!a".

Link P!Qe: (p. FH5-FH)

Mma das mais ambiciosas e o!iinais s'nteses da p!oblemática teo!#tica dos ne!oslite!á!ios 0oi elabo!ada po! Bo!t!op P!Qe% na sua ob!a  Anatomia da cr#tica (>5H). Loo na*nt!odução polmica" deste liv!o b!ilante e% Is vees% pa!ado7al% Bo!t!op P!Qe enume!aent!e os p!oblemas mais impo!tantes da po#tica a delimitação e a ca!acte!iação dascateo!ias p!imá!ias da lite!atu!a"% sublinando en0aticamente: Descob!imos &ue a teo!iac!'tica dos ne!os pa!ou p!ecisamente onde ?!ist8teles dei7ou-a". omo out!osinvestiado!es contempo!âneos% P!Qe admi!a na  "oética  de ?!ist8teles o modelo

epistemol8ico e metodol8ico &ue a teo!ia da lite!atu!a do nosso tempo% o!ientada po!ideais de !acionalidade cient'0ica% pode e deve utilia! na análise dos 0atos e dos p!oblemassu!idos poste!io!mente a ?!ist8teles. (...)

Em p!imei!o lua!% P!Qe estabelece uma teo!ia dos modos ficcionais% inspi!ando-sena ca!acte!iação a!istot#lica dos ca!acte!es das 0icçes po#ticas% os &uais podem se!melo!es% iuais ou pio!es do &ue n8s somos". $al classi0icação dos modos 0iccionais% &uenão ap!esenta &uais&ue! implicaçes mo!al'sticas% # ideada em 0unção da capacidade deação do herói das ob!as de 0icção e da sua !elação com os out!os omens e com o meio. (...)

=o! out!o lado% Bo!t!op P!Qe estabelece a e7istncia de &uat!o cate!oriasnarrativas mais amplas do &ue os ne!os lite!á!ios e!almente admitidos e loicamenteante!io!es a eles. Estas cateo!ias% &ue P!Qe m/thoi% 0undam-se na oposição e na inte!ação

do ideal com o atual% do mundo da inocncia com o mundo da e7pe!incia: o romance" # om/thos do mundo da inocncia e do dese,oS a ironia ou a  sátira en!a'am-se no mundode0ectivo do !eal e da e7pe!inciaS a tra!édia !ep!esenta o movimento da inocncia% at!av#sda hamartia ou 0alta% at# I catást!o0eS a comédia ca!acte!ia-se pelo movimento ascensionaldo mundo da e7pe!incia% at!av#s de complicaçes ameaçado!as. (...)

Pinalmente% Bo!t!op P!Qe const!8i uma teo!ia dos ne!os% pa!tindo do p!inc'pio de&ue as distinçes en#!icas em lite!atu!a tm como 0undamento o radical de apresenta*ão:as palav!as podem se! !ep!esentadas% como se em ação% pe!ante o espectado!S podem se!

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!ecitadas ante um ouvinteS podem se! cantadas ou entoadasS podem% en0im% se! esc!itas pa!aum leito!. (...)

J epos constitui a&uele ne!o lite!á!io em &ue o auto! ou um !ecitado! na!!amo!almente% diem os te7tos% pe!anteum audit8!io postado I sua 0!ente. (...)

J  !6nero l#rico  ca!acte!ia-se pelo ocultamento% pela sepa!ação do audit8!io em

!elação ao poeta. J poeta l'!ico p!etende em e!al 0ala! consio mesmo ou com um pa!ticula! inte!locuto!. (...)

J  !6nero dramático ca!acte!ia-se pelo ocultamento% pela sepa!ação do auto! em!elação ao seu audit8!io% cabendo aos ca!acte!es inte!nos da ist8!ia !ep!esentada di!ii!em-se di!etamente a este mesmo audit8!io.

?o ne!o lite!á!io cu,o !adical de ap!esentação # a palav!a imp!essa ou esc!ita"%tal como acontece nos !omances e nos ensaios% concede P!Qe a desinação de  fic*ão%embo!a !econecendo &ue se t!ata de uma escola a!bit!á!ia. Ba 0icção% ao cont!á!io do &ueacontece no epos% tende a domina! a p!osa% po!&ue o !itmo cont'nuo desta ade&ua-se melo!I 0o!ma cont'nua do liv!o".

 

Link Emil taie!: (p. FG>-FG2)

(...)

 Bume!osos e impo!tantes estudos sob!e os ne!os lite!á!ios se tm 0icado a deve!%nas @ltimas d#cadas% a investiado!es &ue se inse!em na !ande t!adição do idealismo e doisto!icismo e!mânico. Ent!e esses estudos% avulta a ob!a de Emil taie! intituladaDrundbe!riffe der "oeti1   &onceitos fundamentais da "oética;. ondenando uma po#ticaap!io!'stica e anti-ist8!ica% taie! acentua a necessidade de a po#tica se apoia! 0i!mementena ist8!ia% na t!adição 0o!mal conc!eta e ist8!ica da lite!atu!a% ,á &ue a essncia do omem!eside na sua tempo!alidade. 9etomando a t!adicional t!ipa!tição de l'!ica% #pica e d!ama%!e0o!mulou-a p!o0undamente% substituindo estas 0o!mas substantivas e substancialistas pelasdesinaçes ad,etivais e pelos conceitos estil'sticos de l'!ico% #pico e d!amático. J &ue pe!mite 0undamenta! a e7istncia destes conceitos básicos da po#tica^ ? p!8p!ia !ealidadedo se! umano% pois os conceitos do l'!ico% do #pico e do d!amático são te!mos da cincialite!á!ia pa!a !ep!esenta! possibilidades 0undamentais da e7istncia umana em e!alS ee7iste uma l'!ica% uma #pica e uma d!amática% po!&ue as es0e!as do emocional% do intuitivoe do l8ico constituem em @ltima instância a p!8p!ia essncia do omem% tanto na suaunidade como na sua sucessão% tal como apa!ecem !e0letidas na in0ância% na ,uventude e namatu!idade". taie! ca!acte!ia o l'!ico como recorda*ão% o #pico como observa*ão e o

d!amático como eCpectativa $ais ca!acte!es distintivos cone7ionam/se obviamente como at!idimencionalidade do tempo e7istencial: a !eco!dação implica o passado% a obse!vaçãositua-se no p!esente% a e7pectativa no 0utu!o. Deste modo% a po#tica alia-se intimamente Iontoloia e I ant!opoloia e a análise dos ne!os lite!á!ios volve-se em !e0le7ão sob!e a p!oblemática e7istencial do omem% sob!e a p!oblemática do se! e do tempo".