Afonso Arinos de Melo Franco - Rodrigues Alves Volume 2.pdf

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  Rodrigues Al ves. Óleo de João Batista. Coleção Afonso Arinos de Melo Franco . Rio de Janeiro

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  • Rodrigues Alves. leo de Joo Batista. Coleo Afonso Arinos de Melo Franco. Rio de Janeiro

    Sem ttulo-1 18/05/2001, 08:541

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    RODRIGUES ALVES

    VOLUME II

  • Mesa Di re to raBi nio 1999/2000

    Se na dor Anto nio Car los Ma ga lhes

    Pre si den te

    Se na dor Ge ral do Melo

    1 Vi ce-Presidente

    Se na dor Ade mir Andra de

    2 Vi ce-Presidente

    Se na dor Ro nal do Cu nha Lima

    1 Se cre t rio

    Se na dor Na bor J ni or

    3 Se cre t rio

    Se na dor Car los Pa tro c nio

    2 Se cre t rio

    Se na dor Ca sil do Mal da ner

    4 Se cre t rio

    Su plen tes de Se cre t rio

    Se na dor Edu ar do Su plicy Se na dor L dio Co e lho

    Se na dor Jo nas Pi nhe i ro Se na do ra Mar lu ce Pin to

    Con se lho Edi to ri al

    Se na dor L cio Alcn ta ra

    Pre si den te

    Jo a quim Cam pe lo Mar ques

    Vi ce-Presidente

    Con se lhe i ros

    Car los Hen ri que Car dim Carl yle Cou ti nho Ma dru ga

    Ra i mun do Pon tes Cu nha Neto

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    Co le o Bi bli o te ca B si ca Bra si le i ra

    RODRIGUES ALVESAPOGEU E DECLNIO DO PRESIDENCIALISMO

    Vo lu me II

    Afon so Ari nos de Melo Fran co

    Bra s lia 2001

  • BIBLIOTECA BSICA BRASILEIRAO Conse lho Edi to ri al do Se na do Fe de ral, cri a do pela Mesa Di re to ra em 31 de ja ne i ro de 1997, bus ca redi tar, sem pre, obras de va lor his t ri co e cul tu ral e de im por tn cia re le van te para a com pre en so dahis tria po l ti ca, eco n mi ca e so ci al do Bra sil e re fle xo so bre os des ti nos do pas.

    COLEO BIBLIOTECA BSICA BRASILEIRA

    A Qu e re la do Esta tis mo, de Ant nio PaimMi nha For ma o, de Jo a quim Na bu coA Po l ti ca Exte ri or do Imp rio (3 vols.), de J. Pan di Ca l ge rasO Bra sil So ci al, de Sl vio Ro me roOs Ser tes, de Eu cli des da Cu nhaCa p tu los de His t ria Co lo ni al, de Ca pis tra no de AbreuInsti tu i es Po l ti cas Bra si le i ras, de Oli ve i ra Vi a naA Cul tu ra Bra si le i ra, de Fer nan do Aze ve doA Orga ni za o Na ci o nal, de Alber to Tor resDe o do ro: Sub s di os para a His t ria, de Ernes to SenaRo dri gues Alves, de Afon so Ari nos de Melo Fran co (2 vo lu mes)Pre si den ci a lis mo ou Par la men ta ris mo?, de Afon so Ari nos de Melo Fran co e Raul PilaRui o Esta dis ta da Re p bli ca, de Joo Man ga be i raEle i o e Re pre sen ta o, de Gil ber to Ama doDici o n rio Bi o bi bli o gr fi co de Au to res Bra si le i ros, or ga ni za do pelo Cen tro de Do cu men ta o do Pensamen to Bra si le i roFran que za da Inds tria, de Vis con de de Ca i ruA re nn cia de J nio, de Car los Cas tel lo Bran coJo a quim Na bu co: re vo lu ci o n rio con ser va dor, de Va mi reh Chacon

    Pro je to gr fi co: Achil les Mi lan Neto Se na do Fe de ral, 2001Con gres so Na ci o nalPra a dos Trs Po de res s/n CEP 70168-970 Bra s lia DFCEDIT@ce graf.se na do.gov.br http://www.se na do.gov.br/web/con se lho/con se lho.htm

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    Fran co, Afon so Ari nos de Melo. Ro dri gues Alves : apo geu e de cl nio do presi den ci a lis mo/ Afon so Ari nos de Melo Fran co. Bra s lia: Se na do Fe de ral, Con se lho Edi to ri al, 2001. 2v.: il., retrs. - (Co le o Bi bli o te ca B si ca Bra si le i ra) 1. Pre si den te, Bra sil. 2. Po l ti ca e Go ver no, Bra sil. I. Alves, Ro dri gues. II. T tu lo. III. S rie. CDD 923.181

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    Su m rio

    VOLUME II

    LIVRO VCAPTULO PRIMEIRO

    Leopol do de Bu lhes e a ges to eco n mi co-financeira, pg. 19 Refor ma do Te sou ro e ou tras me di das, pg. 26 Re for ma do Ban co

    do Bra sil, pg. 26

    CAPTULO SEGUNDO

    O Con v nio de Ta u ba t, pg. 33

    CAPTULO TERCEIRO

    A Ca i xa de Con ver so, pg. 51

    CAPTULO QUARTO

    A si tu a o no fim do qua tri nio, pg. 67

    CAPTULO QUINTO

    Gu er ra e Ma ri nha, pg. 69

    LIVRO VICAPTULO PRIMEIRO

    Se a bra e a po l ti ca in ter na, pg. 81

  • CAPTULO SEGUNDO

    A re for ma ele i to ral, pg. 87

    CAPTULO TERCEIRO

    Inter ven o em Go is, pg. 91 Inter ven o em Mato Gros so, pg. 93 Dra ma em Ser gi pe, pg. 105 A de mis so de Se a bra, pg. 110

    LIVRO VIICAPTULO PRIMEIRO

    A su ces so pre si den ci al, pg. 115

    CAPTULO SEGUNDO

    Ele i o de Afon so Pena, pg. 149

    CAPTULO TERCEIRO

    Fim do go ver no de Ro dri gues Alves, pg. 153

    LIVRO VIIICAPTULO PRIMEIRO

    Vi a gem Eu ro pa. Re tor no a Gu a ra tin gue t, pg. 177

    CAPTULO SEGUNDO

    Afas ta men to po l ti co. Re si dn cia em Gu a ra tin gue t, pg. 191

    CAPTULO TERCEIRO

    Cri se po l ti ca. Mor te de Afon so Pena. Can di da tu ras pre si den ci a is, pg. 195

  • LIVRO IXCAPTULO PRIMEIRO

    Go ver no Her mes da Fon se ca, pg. 207 Can di da to pre si dn cia de So Pa u lo, pg. 221

    CAPTULO SEGUNDO

    Pre si den te de So Pa u lo, pg. 237 So Pa u lo e o Go ver no Fe de ral, pg.243 A ati tu de de Gli c rio. Mo de ra o de Ro dri gues Alves, pg. 247

    CAPTULO TERCEIRO

    Ro dri gues Alves e a C ma ra, pg. 255 Ten ta ti va fi nal do PRC, pg. 261

    LIVRO XCAPTULO PRIMEIRO

    Aspec tos da ad mi nis tra o. A de fe sa do caf, pg. 265 De mis sodo se cre t rio da Fa zen da, pg. 287

    CAPTULO SEGUNDO

    A Pre fe i tu ra de So Pa u lo, pg. 289

    LIVRO XICAPTULO PRIMEIRO

    A can di da tu ra de Ven ces lau Brs. Ao de Ro dri gues Alves, pg. 291

    CAPTULO SEGUNDO

    Enfer mi da de de Ro dri gues Alves. Seu afas ta men to do Go ver no.Sua in flun cia po l ti ca, pg. 309

  • CAPTULO TERCEIRO

    A guer ra eu ro pia. Acu sa es con tra Ro dri gues Alves, pg. 313

    LIVRO XII

    CAPTULO PRIMEIRO

    O Gover no Ven ces lau Brs, pg. 317 Po l ti ca do ms ti ca,pg. 326

    CAPTULO SEGUNDO

    Ro dri gues Alves re as su me o Go ver no, pg. 331 A ba ta lha do re co nhe ci men to, pg. 333

    CAPTULO TERCEIRO

    Po l ti ca, sem pre po l ti ca, pg. 349

    LIVRO XIIICAPTULO PRIMEIRO

    Mor te de Pi nhe i ro Ma cha do, pg. 355

    CAPTULO SEGUNDO

    Re for ma cons ti tu ci o nal, pg. 363

    CAPTULO TERCEIRO

    Apo io na ci o nal a Ven ces lau Brs, pg. 379

  • LIVRO XIVCAPTULO PRIMEIRO

    O caf e a guer ra, pg. 385

    CAPTULO SEGUNDO

    Ele i o de Alti no Aran tes. For ma o de seu go ver no, pg. 397

    CAPTULO TERCEIRO

    Sn te se da ter ce i ra pre si dn cia de Ro dri gues Alves, pg. 403

    LIVRO XVCAPTULO PRIMEIRO

    Vol ta a Gu a ra tin gue t, pg. 413 Ati vi da de po l ti ca, pg. 417

    CAPTULO SEGUNDO

    Can di da to Pre si dn cia da Re p bli ca, pg. 423 A con ven o, pg. 447

    LIVRO XVICAPTULO PRIMEIRO

    De cl nio da sa de de Ro dri gues Alves. Sua ele i o, pg. 461

    CAPTULO SEGUNDO

    A cons ti tu i o do mi nis t rio. Alter na ti vas na sa de do pre si den te, pg. 471

  • CAPTULO TERCEIRO

    O l ti mo en con tro e o l ti mo de sen con tro, pg. 485

    LIVRO XVII

    As duas mor tes, pg. 493

    BIBLIOGRAFIApg. 505

    NDICE ONOMSTICOpg. 519

  • NDICE DE ILUSTRAES

    Ro dri gues Alvespg. 17

    Ses so em que a Lei u rea foi apro va dapg. 18

    Casa de Gu a ra tin gue tpg. 32

    Le o pol do de Bu lhes, Mi nis tro da Fa zen da pg. 53

    Rio Bran co e a re for ma das For as Ar ma daspg. 68

    O povo ca ri o ca e a ca ts tro fe do Aqui da b pg. 80

    Se a bra, sus ten t cu lo do Go ver no (car.)pg. 86

    Ro dri gues Alves, Pre si den te da Re p bli capg. 117

    O en ter ro da can di da tu ra Ber nar di no de Cam pospg. 136

    Fa m lia Ro dri gues Alvespg. 159

    Casa da Rua Se na dor Ver gue i ropg. 175

    Casa do Con se lheiro em Gu a ra tin gue tpg. 194

    Qu in ti no Bo ca i va e Pi nhe i ro Ma cha dopg. 215

    Pi nhe i ro Ma cha do, com a es po sa e so bri nhapg. 230

  • Pos se de R. A. no seu 3 go ver no pa u lis ta pg. 238

    Ofi ci a li da de da for a p bli ca de So Pa u lopg. 241

    Fran cis co Gli c rio (caricatura de Raul)pg. 249

    Eli hu Root pg. 274

    La u ro Ml lerpg. 283

    R. A. com trs ne tas pg. 312

    R. A. em vi si ta ao Pre si den te Ven ces lau Brspg. 323

    Foto de ban que te ofe re ci do a R. A.pg. 334

    Enter ro de Pi nhe i ro Ma cha dopg. 362

    Rui Bar bo sa na sua bi bli o te capg. 374

    La u ro So dr, Rui Bar bo sa e R. A. (caricatura de O Ma lho)pg. 383

    Alti no Aran tes e Ru bio Juniorpg. 399

    Pos se de Alti no Aran tes no Go ver no de So Pa u lopg. 404

    Nilo Pe a nha, Rui Bar bo sa, Ven ces lau Brs, R. A., Urba no San tos emen con tro no Ca te te

    pg. 418

    Ses so do Se na do em que fa lou Rui pg. 424

  • Rui Bar bo sa em ou tra fo to gra fiapg. 450

    Ban que te do Clube dos Di ri os: R. A. l a pla ta for mapg. 456

    Mor te de Ro dri gues Alves: o cor te jo f ne bre ao sair da casa daRua Senador Ver gue i ro

    pg. 503

    Ro dri gues Alves vol ta ci da de na talpg. 504

  • Enten di men to cla ro, es p ri to equi li bra do, n do le reta, cons cin cia s, alma pa tri ti ca.

    RUI BARBOSA

    (Brin de ao Pre si den te Ro dri gues Alves.

    22 de abril de 1903)

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    Li vro V

    Ca p tu lo Pri me i ro

    Le o pol do de Bu lhes e a ges to eco n mico-financeira Re for ma do Te sou ro eou tras me di das Re for ma do Ban co do Bra sil.

    LEOPOLDO DE BULHES E A GESTOECONMICO-FINANCEIRA

    Q uan do se tra tou do con vi te fe i to pelo pre si den te a

    Le o pol do de Bu lhes, para que vi es se ocu par a pas ta da Fa zen da, ficoumen ci onada a he si ta o do con vi da do e os seus re ce i os de no po derdiri gir, com o sa ber re que ri do, a vida fi nan ce i ra do pas.

    Ro drigues Alves ti nha, po rm, mo ti vos para in sis tir na escolha.Se guia a ori en ta o de Cam pos Sa les, que, ao co lo car na pas ta omato-grossense Jo a quim Mur ti nho, obe de cia ao pro p si to de re a li zaruma po l ti ca fi nan ce i ra fun da da em prin c pi os e des li ga da dos in te res sesimedia tos de So Pa u lo. Pru den te de Mo ra is ti ve ra dois po l ti cos pa u listascomo ges to res das fi nan as: o pr prio Ro dri gues Alves e Ber nar di no deCam pos. Ro dri gues Alves pre fe ria se guir as pe ga das do seu an te cessor,pre en chen do a pas ta com um ho mem que no ti ves se a vi so li mi ta da aosin te res ses do caf; um ho mem que dis pu ses se de uma con cep o me nos

  • re gi o nal dos pro ble mas eco n mi co-financeiros do pas, con cep o con di -ciona da, embo ra, s idi as do mi nan tes na cin cia e na pr ti ca da poca.

    Cam pos Sa les, ao con sul tar Ro dri gues Alves so bre a sua es co -lha para can di da to, de i xa ra cla ro que con tava com sua fi de li da de slinhas mes tras da ges to fi nan ce i ra em apli ca o. A ao de Ro dri guesAlves, quan do mi nis tro da Fa zen da de Flo ri a no e de Pru den te, j se de -fi ni ra como par ti d ria da ori en ta o cls si ca, ex pres sa no or a men toequi li bra do, na mo e da es t vel e ten den te para a con ver si bi li da de, nocm bio man ti do em taxa na tu ral. Sua luta con tra os ban cos emis so res eem defesa do cm bio fi cou re la ta da em lo cal pr prio. O pre si den te no sacri ficara em nada es tas con vic es ao ace i tar, como can di da to pres sen tido, a ori en ta o de Cam pos Sa les.

    Se as re la es do seu go ver no no foram sa cri fi ca das pelargi da con du ta res tri ti va a que se obri gou Cam pos Sa les, pre so a com -pro mis sos in ter na ci o na is que sou be hon rar, isso se de veu pre ci sa men te fol ga e es ta bi li da de que o pre de ces sor lhe le ga ra.

    Den tro das no vas e mais fa vo r ve is con di es, as idi as e aao de Ro dri gues Alves no se afas ta vam dos prin c pi os da de fe sa damo e da, do cm bio, do cr di to ex ter no e do equi l brio or a men t rio, que eram con si de ra dos os me lho res no seu tem po.

    Essas eram, igual men te, as idi as de Bu lhes. Logo de po is defor ma do em Di re i to pela Fa cul da de de So Pa u lo (onde foi co le ga doga cho Cas si a no do Nas ci men to, l der de Ro dri gues Alves na C ma ra),Leopol do de Bu lhes ma ni fes tou seus pen do res pe los es tu dos de fi nanas,es cre ven do em um jor nal de sua pro vn cia na tal, Go is, tra ba lhos emque con si de ra va a po l ti ca fi nan ce i ra do Imp rio to ru i no sa quan to aes cra vi do.1 J en to ple i te a va o fim do pa pel-mo e da in con ver s vel,seguin do a tri lha de es ta dis tas como Ita bo ra e Sou sa Fran co. De pu ta doge ral de 1882 a 1885, pro fe riu lon gos dis cur sos so bre o or a men to daFa zen da, nos qua is exi bia le i tu ras ama du re ci das e am plas como fon tedas suas opi nies de eco no mis ta li be ral e spen ce ri a no. De pu ta do Cons ti tu in te de 1890, Bu lhes cri ti cou do cu men ta da men te a po l ti ca deRui Bar bo sa, que re pre sen ta va o con tr rio das suas opi nies. Che gou acon si de rar as finan as re pu bli ca nas pi o res que as im pe ri a is, que tan toata ca ra na Cadeia Ve lha.

    20 Afon so Arinos

    1 Desde moo, Bulhes, filiado ao Partido Liberal, foi financista, federalista eabolicionista. Com Nabuco, Patrocnio, Gusmo Lobo e Jos Mariano, tomouparte ativa na luta pela libertao dos escravos.

  • Em ja ne i ro de 1892, Bu lhes foi ele i to para in te grar a co bi a daComis so de Ora men to da C ma ra dos De pu ta dos, ven do re co nhe ci dos os seus m ri tos de fi nan cis ta. Por me no res que me re cem re gis tro: Bu lhes vi nha su ceder, na Co mis so, ao De pu ta do Ro dri gues Alves, que ha viasido no me a do mi nis tro da Fa zen da, e, quan do este se re ti rou da pas ta,Flo ri a no man dou con vi dar Bu lhes para ocu p-la, sen do Aris ti des Lobo por ta dor do con vi te. O jo vem de pu ta do re cu sou, no en tan to, a hon ro saopor tu ni da de. Pre fe riu con ti nu ar na C ma ra. O su ce di do com Ro dri -gues Alves no era de mol de a ins pi rar-lhe con fi an a.

    Na C ma ra, Bu lhes sus ten tou os mes mos pon tos de vis tade Ro dri gues Alves, con tr ri os plu ra li da de de ban cos emis so res e en cam pa o do di re i to de emi tir pa pel-moeda pelo Te sou ro Na ci o nal.Com ba tia ele um pro je to, fir ma do por Gli c rio e ou tros de pu ta dos,que vi sa va as se gu rar a for ma o de um ban co pri va do emis sor, nosmol des dos que ha vi am de i xa do to tris te me m ria no tem po do go -ver no de De o do ro.

    Seu dis cur so so bre a re for ma fi nan ce i ra dos mais no t ve isque se po dem en con trar nos Ana is da pri me i ra le gis la tu ra. Sem per derde vis ta seu pro p si to, que era o de com ba ter a nova ten ta ti va de res ta u -ra o do emis si o nis mo pri va do, ori gem dos es cn da los do Enci lha mento, d um ver da de i ro es pe t cu lo de eru di o es pe ci a li za da e ge ral e dedom nio da tri bu na. Sem che gar gros se ria, nem mes mo im per ti nncia,ar ra sa o Con se lhe i ro May rink, tam bm de pu ta do e par ti ci pan te noesfor o de res ta u ra o da li cen a de es pe cu la o e jogo, de que fora umdos be ne fi ci ri os ma i o res, ha via pou cos anos.

    Na re no va o do Congres so, em 1894, Bu lhes teve seusmri tos re co nhe ci dos, sen do ele i to se na dor por Go is. Ti nha trin ta esete anos e era o mais moo dos mem bros do Se na do.

    Tal como fi ze ra com Flo ri a no, Bu lhes no ace i tou a son dagem de Pru den te para en trar no mi nis t rio. Nem era ra zo vel que o fi zes se,uma vez que con quis ta ra, to jo vem, um man da to de nove anos naCmara Alta.

    No dis s dio en tre Gli c rio e Pru den te, fi cou com este, sen doele i to para o di re t rio do novo Par ti do Re pu bli ca no, em com pa nhia depo l ti cos con sa gra dos, como Afon so Pena, Por ci n cu la e Rosa e Sil va.

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 21

  • No Se na do, en tre 1894 e 1902, con so li dou seu pres t gio noEs ta do e no pas. Assim, quan do Ro dri gues Alves veio con vo c-lo em1902, sa bia que cha ma va um po l ti co ex pe ri men ta do e um fi nan cis tapro vec to, que po de ria om bre ar en tre os me lho res por ele es co lhi dospara ou tras pas tas.

    Ren de ra-se Le o pol do de Bu lhes, ex pli ca seu fi lho e bigrafo, reconhecendo que po de ria con so li dar e co lher os fru tos de uma sa diapo l ti ca fi nan ce i ra, ini ci a da pelo pr prio Ro dri gues Alves, mi nis tro daFa zen da, exe cu ta da com bri lho e te na ci da de por Jo a quim Mur ti nho eque, no Par la men to e pela im pren sa, com ar dor de fen de ra.

    Embo ra as idi as do pre si den te e do seu mi nis tro fos semcon cor des e se man ti ves sem tal como as ti nha apli ca do o pri me i ro, noexer c cio da pas ta, e de fen di do o se gun do, ao lon go dos seus man da tospar la men ta res, no se po dia ago ra es que cer que as con di es em queiam atu ar eram mu i to di ver sas da que las sob cujo im p rio ti nham atu a do an te ri or men te.

    O go ver no Cam pos Sa les ha via con se gui do pr as fi nan asem si tu a o mu i to me lhor do que es ta vam no tem po em que Ro dri guesAlves era mi nis tro e Bu lhes de pu ta do. Afo ra isso, e em vir tu de mes mo da que la me lho ria, o novo go ver no vi nha dis pos to a um am plo pro gra ma de re for mas e re a li za es, que no po de ri am se quer ser co gi ta das nosqua tri ni os an te ri o res. Por tan to, as mes mas opi nies de an ti ga men te de -ve ri am nor te ar uma po l ti ca di ver sa. Em re su mo, com pe tia a Bu lhesas se gu rar a Ro dri gues Alves os re cur sos ne ces s ri os, fis ca is e cre di t ci os, exe cu o do seu pro gra ma, mas sem defi cit or a men t rio, sem que dado cm bio, sem in fla o.

    No se pode negar que, malgrado os imprevistos e os fatorescontrrios, ele o conseguiu. Conseguiu-o apesar das despesas, noremunerativas de imediato, da incorporao do Acre; apesar dos gastos e prejuzos decorrentes de cri ses estaduais, como as de Sergipe e MatoGrosso; apesar do tremendo abalo da revoluo de 14 de novembro.Por ser menos acessvel e menos espetacular, a gesto financeira deBulhes pouco conhecida, embora situe-se no mesmo nvel de importnciahistrica que as de Rio Branco, Lauro Mller, Passos, Frontin e Osvaldo Cruz, frente dos respectivos servios.

    22 Afon so Arinos

  • Ou tro as pec to, que no pode ser es que ci do, o en tro sa men to ine vi t vel en tre as fi nan as p bli cas e a eco no mia do pas, em ge ral. Isto que ex pli ca a fri e za de Ro dri gues Alves e de Bu lhes di an te do pla node va lo ri za o do caf, obs ti na da men te le va do a efe i to pelo pre si den tede So Paulo, Jor ge Ti bi ri , atra vs das me di das cons tan tes do cha ma doConvnio de Ta u ba t e a hos ti li da de de am bos Ca i xa de Con ver so.A va lo ri za o im pli ca ria, ine vi ta vel men te, uma po l ti ca fi nan ce i ra deemis ses de pa pel e de ba i xa de cm bio. A Ca i xa se ria o ins tru men to detal po l ti ca. Ora, isto re pre sen ta va o opos to das opi nies do pre si den te e do seu mi nis tro, que no po de ri am con cor dar com uma ori en ta o eco -n mi ca des tru ti va da po l ti ca fi nan ceira in dis pen s vel exe cu o dasvigo ro sas re a li za es da Unio. Cm bio ba i xo e in fla o sig ni fi ca vampesa dos sa cri f ci os no pa ga men to de em prs timos ex ter nos, fe i tos parafinan ci a men to das gran des obras, alm do en ca re ci men to ge ral dos sa l rios, equi pa men tos e ser vi os in ter nos, s mes mas des ti na dos. O ver da de i rodio que a re sis tn cia de Ro dri gues Alves po l ti ca de Ti bi ri des per -tou em So Pa u lo, a pon to de des pres ti gi-lo mu i to no Es ta do na tal, nofim do seu vi to ri o so go ver no, era uma con se qn cia de po si es ir re tra -t ve is. O de cl nio po l ti co de Ro dri gues Alves, ao ter mo do man da to,pro ve io, em gran de par te, da opo si o dos seus pr pri os pa tr ci os,habil men te ex plo ra da por ad ver s ri os pes so a is, como Pi nhe i ro Ma cha do e Edmun do Bit ten court.

    Mas o pre si den te, em bo ra te nha pro cu ra do se en qua drar nacan di da tu ra Ber nar di no de Cam pos, em 1905, e te nha se sub me ti do, atcer to pon to, po l ti ca de va lo ri za o do caf, em 1906, o que fez, nosdois ca sos, sem con vic o e com re ser vas, no tran si giu na es fe ra da sua com pe tn cia consti tu ci o nal pri va ti va. Nem o po de ria fa zer, por quedestru i ria o seu pr prio go ver no.

    Rodrigues Alves, que subira ao ministrio de Floriano pararepresentar ess es interesses estaduais, mas logo se afastara, imprimiudesde aquele tempo sua gesto um sentido que, em linha geral, nuncavariou. claro que seus atos tinham de corresponder s mutveis condiesda evoluo econmica do pas. Mas a orientao bsica foi sempre amesma, no plano fed eral, como ministro de Floriano e Prudente, oucomo pres i dente da Repblica. Na resistncia e nos sacrifcios impostospela sua orientao financeira, revelou-se ele o estadista de mentalidade

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 23

  • nacional, portador de diretrizes tericas determinadas e capazes desuperar o esprito de regionalismo.

    Sua ori en ta o era a do fi nan cis ta pr ti co, cren te no xi to das ex -pe rin ci as con sa gra das, sem in te res ses pes so a is nem pre con ce i tos de es co la.

    Ro dri gues Alves no era um ms ti co do de sen vol vi men to in -fla ci o n rio, como Rui Bar bo sa, hr cu les in te lec tu al ar ras ta do no tur bi -lho de le i tu ras sem a vi vn cia dos pro ble mas fi nan ce i ros; no era um li -vre-cambista ou tran ce, como Ber nar di no de Cam pos, cujo li be ra lis moeco n mi co che gou ao im pas se do re vi si o nis mo cons ti tu ci o nal e le va riao Bra sil, pro va vel men te, a de ter seu pro gres so; no era um ine xo r velde fla ci o nis ta tri bu t rio, ma ne i ra de Cam pos Sa les, que re u niu as idi asde cr di to ex ter no e hon ra na ci o nal de for ma a fa zer do go ver no federal,du ran te qua tro anos, o po der in ter ven tor por ex ce ln cia, mas em pe nhadoem so bre por a hon ra ao pro gres so na ci o nal.

    Ro dri gues Alves teve a fe li ci da de de, no seu go ver no, po derlevar a efe i to uma po l ti ca fi nan ce i ra que ser via aos pro p si tos dos seusplanos de ad mi nis tra o ex pan si o nis ta, mas que no com pro me tia as suasidi as de fi nan cis ta pr ti co, mo de ra do, con ven ci do da efi c cia dos m to dos isen tos de ra di ca lis mo. Como go ver nan te na ci o nal, e no re gi o nal, eleaceitava a ne ces si da de de im pul si o nar o de sen vol vi men to para alm da rique za ex clu si va men te agr co la do caf. Os me lho ra men tos ma te ri a is e a cam pa -nha sa ni t ria ti nham, para ele, esse fim, se gun do de cla rou mais de uma vez. Mas no se ati rou aos ex ces sos de um Alves Bran co, no Imp rio, ou de um Rui Bar bo sa, na Re p bli ca.

    Por ou tro lado, como pa u lis ta e la vra dor de caf, co nhe cia aim por tn cia da agri cul tu ra ca fe e i ra, bem como da imi gra o e dos trans -por tes a ela li ga dos. Da os as pec tos li be ra is e mes mo li vre-cambistas desua atu a o, no s na qua li da de de pre si den te da Re p bli ca, como tam -bm de po is, no exer c cio da pre si dn cia de So Pa u lo, pela ter ce i ra vez.Sua men sa gem de 1903 con tm lar go tre cho re fe ren te a es sas po si es.Mas ele nun ca ace i tou os exa ge ros de Ber nar di no de Cam pos e do seuli be ra lis mo eco n mi co, que era, de fato, uma po si o de en fra que ci -men to do po der p bli co.

    Finalmente, partidrio que sempre foi da poltica de equilbrio e, mesmo, de saldos oramentrios, do cmbio firme, da moeda forte,

    24 Afon so Arinos

  • Rodrigues Alves no se aproximou da inflexibilidade de JoaquimMurtinho e Cam pos Sales, que to grandes aflies trouxe s forasprodutoras e tantos sacrifcios infligiu ao povo.

    A prop si to de to das es sas ob ser va es, po de-se ci tar oseguin te trecho do re su mo que, com tan ta pre ci so, re la ta a aogoverna men tal de 1902 a 1906:

    Obser va-se na his t ria das fi nan as que, por via de re gra, a um go ver no que en te sou ra su ce de uma ad mi nis tra o quedes pen de: o pri me i ro ad mi nis tra dor da Re ce i ta, o se gun dogover no da Des pe sa [....]. Ao go ver no do qua tri nio que vaifin dar azou-se a for tu na de po der ser cu mu la ti va men te deReceita e de Des pe sa: aca u te lar, pro mo ver os in te res ses fi nan ceiros, que de i xa as se gu ra dos e prs pe ros, e, pa ra le la men te, ar qui te tar em mo nu men tos a es tru tu ra da vida eco n mi ca na ci o nal [....].

    Contan do com um co la borador e ami go da es ta tu ra deLeopol do de Bu lhes, o pre si den te pde, no fim do seu qua tri nio,apre sen tar com des va ne ci men to o qua dro da po l ti ca eco n mi -co-financeira, cu jos as pec tos mar can tes pas sa re mos a exa mi nar.

    A si tu a o her da da de Cam pos Sa les per mi tia a Ro dri gues Alves co lher os fru tos da que la dura fase de res tri es, atra vs de obras e re a li zaes que re vi ta li zas sem a eco no mia, de pa u pe ra da pelo ar ro cho fi nan ce i ro,conser van do-se, en tre tan to, as li nhas mes tras do qua tri nio an te ri or.

    Tra ta va-se de man ter, de for ma hu ma ni za da e re pro du ti va, oequi l brio or a men t rio, o cr di to ex ter no e in ter no, a fir me za da moeda,sen do que esta, de acor do com as cren as da po ca, de via ter a suacircu la o sem pre ten den te con ver si bi li da de me t li ca.

    Pas de eco no mia re fle xa, o Bra sil ti nha as suas fi nan as sem -pre con di ci o na das pres so dos in te res ses ex ter nos, s ve zes de puraes pe cu la o, como no caso dos pre os-ouro do caf, ou no da competi -o mais for te, como se deu com as plan ta es in gle sas de borra cha no Ori en te. No era, as sim, pos s vel a Ro dri gues Alves, im por o xi to dosseus pla nos fi nan ce i ros, que es bar ra ram mu i ta vez em for as ma i o resque as do Bra sil. Mas, a ver da de que ele tudo fez para de fen der asposi es que con si de ra va de in te res se na ci o nal.

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 25

  • REFORMA DO TESOURO E OUTRAS MEDIDAS

    A m qui na ad mi nistrati va da fa zen da era em per ra da e ob so leta. Por ini ci a ti va do go ver no, o Con gres so vo tou as Leis nos 1.117 e 1.118,de 16 de ja ne i ro de 1904, que mo der ni za ram com ple ta men te o fun ci o na -men to do Te sou ro e da Casa da Mo e da. Essas leis, re gu la men ta das peloExe cu ti vo, de ram os mais aus pi ci o sos re sul ta dos. Os ba lan os do Te sou ro,atra sa dos des de 1895, fo ram pos tos em dia. Mi lha res de pro ces sos, quedor mi am nas v ri as di re to ri as, fo ram li qui da dos ou pos tos em an da men to.Fra u des cr ni cas, que ocor ri am nas fo lhas de pa ga men to dos ser vi do res,fo ram eli mi na das. O do m nio da Unio so bre os ter re nos de Ma ri nha, con -tes ta do por al guns Es ta dos, foi con fir ma do. A com pe tn cia tri bu t ria daUnio so bre lu cros das com pa nhi as (que era o ger me do fu tu ro im pos to de ren da) foi re co nhe ci da. A ju ris di o fis cal das al fn de gas fe de ra is so bre ana ve ga o em toda a cos ta foi de cla ra da.

    REFORMA DO BANCO DO BRASIL

    Esta re for ma, pela sua im por tn cia no con tex to da po l ti cage ral, me re ce ex pli ca o.

    Cam pos Sa les, com im pla c vel ener gia e obs ti na da con vico,in ter vi e ra com toda a for a do po der p bli co para res ta be le cer, pa ra do -xal men te, a li ber da de spen ce ri a na da eco no mia. O fun ding-loan de 1898vi sa va li qui dar a po l ti ca de ex pe di en tes, fe i ta de em prs ti mos e emis -ses, her da da do Imp rio e le va da ao auge no Enci lha men to, para fa zero pas en trar na li nha do equi l brio. Seu me ca nis mo era o se guin te: osttu los do novo em prs ti mo se ri am emi ti dos du ran te trs anos, a par tirde ju lho de 1898 e, para co ber tu ra dos mes mos, o go ver no emi ti riasomas igua is de pa pel-moeda ao cm bio de 18, sen do este di nhe i rodepo si ta do pelo go ver no nos trs ban cos es tran ge i ros, o Ri ver Pla te, oLon don e o De utschland. Por meio de im pos tos e eco no mi as, o go ver noapu ra ria, em cada exer c cio, sal dos cor res pon den tes ao va lor dos t tu losemi ti dos du ran te o ano. Esses sal dos or a men t ri os se ri am in ci ne ra dos(de fla o) ou, caso o cm bio per mi tis se, con ver ti dos em letras-ouro em

    26 Afon so Arinos

  • fa vor da Casa Rothschild, para se rem apli ca dos no pa ga men to dosemprs ti mos. Como se v, os ban cos es tran ge i ros, que tan to aju da ram a queda do cm bio e as emis ses, du ran te os go ver nos de Flo ri a no ePrudente, apa re ci am ago ra como ver da de i ras en ti da des p bli cas, con trolan do a vida fi nan ce i ra do pas. Isto, que es ta va na men ta li da de do tem po,seria hoje im pos s vel no Bra sil.

    Cam pos Sa les, para hon rar os com pro mis sos, tor nou-sedetes ta do. Ele pr prio, na sua fala de re cu sa ao co mr cio, que de se ja vaabran da men to das me di das de eco no mia ver da de i ra men te as fi xi an tes,ex cla mou: E os em pre ga dos p bli cos, que vi ram re ba i xa dos os seusven ci men tos? E os ope r ri os, que de um dia para ou tro se vi ram semempre go e sem po? Esse qua dro, su cin ta men te pin ta do pelo pre si dente,mos tra a di fi cul da de que o go ver no en fren tou de modo im pla c vel.

    Tal po l ti ca le vou a que bras nu me ro sas, pa ra li sia dos ne g ci os, mi s ria po pu lar. Entre os es ta be le ci men tos atin gi dos pela tor men ta es ta va o Ban co da Re p bli ca, cuja pre si dn cia Afon so Pena de i xa ra em no vembrode 1898, pas san do-a ao Co men da dor Lus Mar tins do Ama ral, in di ca dopelo go ver no.

    Ape sar da li ga o en tre o go ver no e o ban co, no pde estere sis tir cri se de s bi ta de fla o pro mo vi da por aque le. Em se tem brode 1899, qua tro ban cos brasi le i ros sus pen de ram as ope ra es: o daRep bli ca, o Ru ral e Hi po te c rio, o da La vou ra e Co mr cio e o Co mercial.Inu til men te ha via o gover no no me a do para a di re o do Ban co daRep bli ca um di re tor do Ban co Ale mo, na es pe ran a de que isto res ta -be le ces se a con fi an a p bli ca. De ci diu, en to, Cam pos Sa les, cor rer emau x lio do Ban co da Re p bli ca, o que fez por decreto de 21 de se tem bro, que con fe ria ao es ta be le ci men to v ri os favores, mas que con di ci o na va aapli ca o des tes con cor dn cia dos aci o nis tas em en tre gar a di re o doBan co ao go ver no.

    Trs anos mais tar de, em se tembro de 1902, o di re tor ale moPeter sen de mi tiu-se, sen do no me a do em seu lu gar Ra i mun do de Cas tro Maya.

    Foi este o ban co que Cam pos Sa les le gou ao seu su ces sor.Ro dri gues Alves e Bu lhes logo con cor da ram em fa zer do ins ti tu tobanc rio ofi ci al um novo ins tru men to de ao. Na men sa gem de 1904,ele ha via ad ver ti do que os me i os de que dis pu nha o Ban co da Re p bli ca

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 27

  • eram evi den te men te in su fi ci en tes para im pri mir ao mo vi men toeco nmico do pas o im pul so que fora para de se jar.

    Para em pre en der a re for ma do Ban co da Re p bli ca, de acordocom as no vas con di es fi nan ce i ras do pas, Bu lhes fez re u nir aassemblia ge ral dos aci o nis tas a 29 de ju lho de 1905, uti li zan do per missoque lhe fora dada pela lei de 30 de dezem bro de 1904. No seu dis cur so,disse o mi nis tro da Fa zen da que se im pu nha a re or ga ni za o do ban co,como co ro a men to da me lho ria eco n mi ca que se ob ser va va. Se gun doele, o es ta be le ci men to po de ria exer cer as fun es de um ban co cen tral, dis pon do de ca pi tal abun dan te para re des con to do pa pel dos ou trosban cos, para adi an tar aos ou tros ban cos, e, fi nal men te, para am pa r-losnos mo men tos de cri se.

    Como se v, fi ca va de li ne a da a fun o que o Ban co do Bra silteve no fu tu ro.

    Em 28 de agos to, os aci o nis tas apro va ram as mo di fi ca espro pos tas, com al gu mas al te ra es em be ne f cio de les.

    A 21 de se tem bro, Ro dri gues Alves en vi ou men sa gem aoCon gres so, re me ten do an te pro je to de re for ma dos es ta tu tos do ban co,que da por di an te se cha ma ria do Bra sil.

    A Co mis so de Fi nan as da C ma ra, ten do como re la tor Davi Cam pis ta, apre sen tou pro je to nas li nhas do que en vi a ra o pre si den te. Aopo si o, li de ra da por Bar bo sa Lima e Br cio Fi lho, pro cu rou inu til -men te en tra var a mar cha do pro je to, in clu si ve por meio da ten ta ti va decriao de uma co mis so de in qu ri to, para in ves ti gar a ges to do go vernono ex tin to Ban co da Re p bli ca.

    Em de zembro, ter mi nou a lei sua tra mi ta o no Se na do,sendo san ci o na da a 30 da que le ms, acom pa nha da pe los es ta tu tos donovo Ban co do Bra sil.

    O ca pi tal foi fi xa do em 70.000 con tos. Para que se te nha idia do seu va lor, bas ta re cor dar que o oramen to da re ce i ta, em pa pel,naque le mes mo ano, era de 263.343 con tos. Des se ca pi tal, um ter oficava per ten cen do aos aci o nis tas do an ti go Ban co da Re p bli ca, ou trotero era aber to subs cri o p bli ca, e o ter o res tan te fi ca va comopar ticipao do go ver no.

    28 Afon so Arinos

  • As atribu i es do novo Ban co do Bra sil eram da ma i orimpor tn cia. Re ce bia sal dos do Te sou ro e fa zia-lhe adi an ta men tos poran te ci pa o da re ce i ta; con tra ta va com a Unio e os Esta dos, ser vin -do-lhes de in ter me di rio fi nan ce i ro para os mo vi men tos de fun dos nos mer ca dos na ci o na is ou es tran ge i ros; com pra va e ven dia t tu los da d vi -da p bli ca; fa zia ope ra es de cm bio alm das ope ra es co mer ci a isnor ma is. O pre si den te e o di re tor de cm bio se ri am de no me a o dogo ver no.

    Des de sua se gun da pas sa gem pela pas ta da fa zen da, em es tre i ta com bi na o com Afon so Pena, Ro dri gues Alves pen sa va em fa zer doban co do gover no o ins trumento ca paz de au xi li ar a ad mi nis tra opblica, na po l ti ca eco n mi co-financeira. Ago ra, como pre si den te, atingiao seu ob je ti vo.

    A in ter ven o ine vi t vel do Esta do no cam po eco n mi co,que acom pa nha va a for ma o, por lei, do ban co ofi ci al, en con trou re sis -tn ci as nos ele men tos ape ga dos s te o ri as li be ra is. Te o ri as, por que, napr ti ca, des de o Imp rio, o Po der P bli co in ter vi nha fran ca men te navida eco n mi ca e fi nan ce i ra.

    No re la t rio fi nal do go ver no de Ro dri gues Alves, a ma t riafoi tra ta da nos se guin tes t pi cos:

    As ob je es me ti cu lo sas, ins pi ra das na li ber da de decomr cio e que jan das, no so de re ce ber; uma ne ces si da dede de fe sa co le ti va, ate nu a o te ra pu ti ca do for mi d vel malef cioeco n mi co, fi nan ce i ro e po l ti co do re gi me de cir cu la o quenos fla ge la e um ele men to pre ci o so ao sa ne a men to dela, isto, a sua subs ti tu i o pelo re gi me me t li co.

    Assim, o re conheci men to do prin c pio in ter ven ci o nis ta erasegui do pelo seu ide al no cam po mo ne t rio, que eram a con ver si bi li da deme t li ca da mo e da e a de fe sa do cr di to ex ter no. Ro dri gues Alves e Bulhes no po di am des pren der-se das ar ra i ga das con vic es do seu tem po.

    O re sul ta do da po l ti ca cam bi al cor res pon deu ple na men te sintenes do go ver no:

    A pe dra an gu lar do ban co re for ma do [diz o mes modocu men to] ti nha de ser a fran ca, pos san te, ofi ci al ins ti tu i ode um apa re lho re gu la dor das ta xas cam bi a is, para evi tar asos ci la es bruscas.

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 29

  • Gra as ao do novo Ban co do Bra sil, o cm bio na ci o nalno fi ca ria mais en tre gue ao jogo es po li a ti vo de ban cos es tran ge i ros,como no tem po em que Ro dri gues Alves fora mi nis tro da Fa zen da.

    Por isso mes mo, a sn te se da ad mi nis tra o po de ria con sig nar:

    No se duvi da mais que a in ter fe rn cia or ga ni za da dacar te i ra cambial con se gue re gu lar a fre qn cia e de ma sia dasosci la es das ta xas em be ne f cio de toda vida so ci al; con se guemes mo equi li brar os cm bi os em alta re la ti va.

    E ago ra vi nha a in for ma o im por tan te, dada no ter mo dogo ver no:

    Eles [os cm bi os], que gi ra ram em tor no de 12 portan to tem po, fo ram su bin do, qua se sem des fa le ci men to, ataci ma de 17.

    Po de-se dis cu tir e isto foi fe i to mes mo na que la po ca, aprop si to do Con v nio de Ta u ba t o acer to eco n mi co da que las pro vi -dn ci as fi nan ce i ras des ti na das a sa ne ar a mo e da, hon rar o cr di to, fir maro cm bio em alta. Mas no se po dem ne gar duas co i sas: pri me i ro, queesta era a po l ti ca fi nan ce i ra in dis pen s vel ao xi to do pro gra ma do gover no,fun da do em gran des me lho ra men tos ma te ri a is fi nan ci a dos, em par tesubs tan ci al, por cr di tos e ser vi os es tran ge i ros; se gun do, que esta po l ti ca foi ho nes ta, cons ci en te men te exe cu ta da e le va da a ple no su ces so.

    Fa lan do na C ma ra dos De pu ta dos, em 2 de agos to de 1915,o De pu ta do ma ra nhen se Duns hee de Abran ches pro fe riu va li o so estudoso bre a obra fi nan ce i ra de Ro dri gues Alves como mi nis tro da Fa zen da e pre si den te da Re p bli ca.

    Mais adi an te ve re mos, em ci fras e da dos con cre tos, o re sul ta dodes sa ad mi nis tra o fi nan ce i ra, na qual, acen tu ou Duns hee de Abran ches,to dos os pa ga men tos se fi ze ram sem emis so de t tu los, sem le tras doTesou ro, in clu in do-se ne les os dois mi lhes de es ter li nos pa gos Bo l viaem con se qn cia do Tra ta do de Pe tr po lis e as pri me i ras gran des pres taesna Ingla ter ra pela cons tru o dos no vos cou ra a dos da Ma ri nha.

    As ci fras ofi ci a is, cons tan tes da sn te se ge ral da ad mi nis tra o, ofe re cem ou tros da dos re le van tes quan to aos l ti mos dias do go ver no.V-los-emos opor tu na men te.

    30 Afon so Arinos

  • A ver da de que se en cer rou bri lhan te men te a ad mi nis tra ofi nan ce i ra do qua tri nio, to bri lhan te men te como nas de ma is pas tas.Bu lhes om bre a ra-se com os ou tros mem bros do go ver no, no exer c cio da sua funo. Com o seu au x lio ho nes to e com pe ten te, pu de ra Ro drigues Alves con clu ir o im pe tu o so pro gra ma de re a li za es, sem pre ce den tesna his t ria bra si le i ra.

    Ao lado, con tu do, des se su ces so in con tes t vel no pla nofinan ce i ro, a se gun da me ta de do qua tri nio as sis ti ra ao de sen vol vi men to da de li ca da cri se eco n mi ca, li ga da mais im por tan te ati vi da de na ci o nal nes se ter re no, que era a pro du o do caf. A cri se da va lo ri za o docaf, que co lo cou em di ver gn cia os go ver nos da Re p bli ca e de SoPa u lo, aba lou pro fun da men te o pres t gio po l ti co de Ro dri gues Alves,de ter mi nou a can di da tu ra Afon so Pena e abriu as por tas da mu ta oque foi so fren do a Re p bli ca, a par tir da mor te pre ma tu ra do pri me i ropre si den te mi ne i ro.

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 31

  • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Captulo Segundo

    O CONVNIO DE TAUBAT

    O princpio do sculo encontrou o Estado de So Paulo navanguarda da produo, no somente nacional, mas mundial do caf,sendo de notar-se que esse produto era ento (como ainda agora) umdos maiores fatores do comrcio internacional.

    O deslocamento das lavouras paulistas do Vale do Paraba parao oeste e o noroeste do Estado era um episdio histrico a que RodriguesAlves assistira du rante a mocidade e de que participara pessoalmente, noapenas como lavrador mas, tambm, como poltico e governante. Eleconhecera, na juventude, os cafezais de Guaratinguet, grimpando pelosmorros ngremes, trabalhados pela escravaria africana e o seu produtotransportado em tropas de mulas e carros de bois. Como deputado pro vin cial,defendera, ento, a implantao das estradas de ferro e a abertura decorrentes imigratrias de trabalhadores europeus.

    Depois, juntamente com o irmo Virglio, auxiliados ambospelos recursos da tia e sogra, abriram no oeste as grandes fazendas de So Manoel, Santa Ana, Santa Maria, no paraso cafeeiro da terra roxa, en treJa e Bauru. Nessa poca, como ministro da Fazenda, senador ou pres i dente do Estado, acompanhou as vi cis si tudes da lavoura cafeeira, aplicando aao do estadista a um assunto que conhecia bem, como par tic u lar.

    Ago ra, na pre si dn cia da Re p bli ca, iria de fron tar-se comnovos as pec tos po l ti cos e eco n mi cos des se pro ble ma, a que es ti ve raligado de per to, du ran te toda a sua vida pri va da e p bli ca.

  • Des de o go ver no de Pru den te de Mo ra is, pre nun ci a va-se acri se do caf, atra vs dos pri me i ros sin to mas do que vi ria a ser a suamo ls tia cr ni ca, ou seja, a su per pro du o. Co me a vam, en to, a pro du -zir os no vos ca fe za is pa u lis tas vin dos do fim do Imp rio e prin c pio daRe p bli ca (as fa zen das de Ro dri gues Alves, no oes te, vi nham do fim doImp rio) e, com as gran des co lhe i tas, os pre os de ram si na is de afrou xa -men to e os es to ques no mais se es go ta vam.1

    Nos pri me i ros anos [lem bra Caio Pra do J ni or] a si tu a -o ain da se dis si mu la r, em par te, com a des va lo ri za o damo e da bra si le i ra; em pa pel, o pre o do caf no os ci la r mu i to. com a es ta bi li za o e re va lo ri za o da mo e da, de po is dares ta u ra o fi nan ce i ra de 1898, que se sen ti r todo o efe i toda de pre ci a o. Esta ser em 1905, em ouro, de mais de50%. E, pa ra le la men te, se acu mu la ro es to ques cada vezma i o res de mer ca do ria in ven d vel. Eles se ro, em 1905, de11 mi lhes de sa cas de 60 qui los, que re pre sen ta vam 70%do con su mo mun di al de um ano.

    Por meio des sa sn te se fe liz po de mos com pre en der as ra zesda cri se eco n mi ca e po l ti ca, que aba lou a se gun da me ta de do man da to de Ro dri gues Alves, e in flu iu de cisi va men te no de sen vol vi men to pos te -ri or da his t ria re pu bli ca na.

    A cri se po l ti ca foi con se qn cia da eco n mi ca e ex pri miu-sena di ver gn cia en tre os go ver nos pa u lis ta e fe de ral, no to can te ini ci a ti -va da va lo ri za o do caf.

    Acom pa nha re mos su cin ta men te al guns an te ce den tes.

    Em 1895, o De pu ta do flu mi nen se ri co Co e lho apre sen toupro je to ins ti tu in do, em fa vor da Unio, o mo no p lio da ex por ta o docaf. Esta me di da ra di cal, que s veio a se con cre ti zar mu i tos anos mais tar -de, no teve an da men to. No en con tra va, na po ca, con di es fa vo r ve is.

    Em 1897, ou tras ten ta ti vas fra cas sa ram no Con gres so. ODeputa do mi ne i ro Ilde fon so Alvim ten tou inu til men te cri ar uma co misso

    34 Afon so Ari nos

    1 Segundo informa Rodrigo Soares Jnior, na sua biografia de Jorge Tibiri, SoPaulo tinha, no princpio do sculo, 600 milhes de cafeeiros.

  • mista de de pu ta dos e se na do res, que pre pa ras se lei de au x lio la vou raca fe e i ra, e a C ma ra, ace i tan do pa re cer de Ca l ge ras, re cu sou cr di topara a cri a o da pro pa gan da do caf no ex te ri or, com vis ta a au men -tar-lhe o con su mo. Ca l ge ras apre sen tou o pon to de vis ta da eco no miali beral; para ele com pe ti am ini ci a ti va pri va da as des pe sas im pres cind ve is con quis ta de no vos mer ca dos, ca ben do ape nas aos po de res p bli cos,in di re ta men te, au xi li ar tais ten ta ti vas.

    Em 1898, Alfre do Ellis, en to de pu ta do por So Pa u lo,props que o go ver no fe de ral no me as se agen tes es pe ci a li za dos queestudas sem, nos mer ca dos de con su mo, as ra zes da cri se e os pro ces sosde de bel-la.

    Em 1899, o eco no mis ta Jo a quim Fran co de La cer da apre sen touim por tan te estudo so bre o pro ble ma.2 De po is de re fe rir-se que da dospre os do caf, que se acen tu a va ha via trs anos, ob ser va va:

    Dois ca mi nhos te mos a se guir [....]: ou re du zir o to tal do que im por ta mos [....] ou en to va lo ri zar os pre os do caf.

    O cor te nas im por ta es se ria ru i no so, se gun do Fran co deLa cer da, por que os im pos tos al fan de g ri os (en to os mais im por tan tes)de cli na ri am, tra zen do o de fi cit or a men t rio, as emis ses e a mi s ria in -ter na. A alta do cm bio, sem o au men to do va lor-ouro do caf (base daex por ta o) era tam bm ru i no sa, por que o va lor-ouro da mo e da su -bin do, des cia em cor res pon dn cia o va lor-papel que o im por ta dores tran geiro pa ga va ao fa zen de i ro, pelo caf que com pra va. De po is dear gu men tar lon ga men te com da dos tc ni cos so bre cm bio, emis ses etro cas co mer ci a is, ape lan do para v ri os exem plos de pa ses es tran ge i ros, con clua Fran co de La cer da:

    Cum pre, pois, ao Go ver no da Unio e aos dos Es ta dos ca fe e i ros es tu dar se ri a men te a si tu a o em que se acham assuas fi nan as e pro cu rar, na va lo ri za o do caf nos mer ca dos con su mi do res, o re m dio para so lu o da cri se que ame a atudo des mo ro nar no nos so pas. Po de mos as se gu rar que avalo ri za o dos pre os do caf pos s vel des de que se es ta belea

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 35

    2 Publicado nos Anais da Cmara por iniciativa do Deputado Cassiano do Nascimento;sesso de 14 de junho daquele ano.

  • uma or ga ni za o co mer ci al que me to di ze as en tre gas para ocon su mo e sus ten te os es to ques dis po n ve is, to man do, tam -bm, ou tras medi das conjun ta men te. Com a va lo ri za o dospre os do caf, en tra re mos fir me men te em uma nova fase de pros pe ri da de ge ral.

    As ci ta es de Fran co de La cer da, nome hoje es que ci do, sone ces s ri as, por que suas idi as pi o ne i ras cor res pon dem com pre ci so ao gran de mo vi men to que en vol veu pla nos, in te res ses e es pe cu la es eque, sob a gi de do Con v nio de Ta u ba t, tan to sig ni fi cou na vida bra si -le i ra, at a Pri me i ra Gu er ra Mun di al.

    Ou tro nome que deve ser men ci o na do, como pre cur sor dacam pa nha de va lo ri za o, o do po l ti co pa u lis ta Alfre do Ellis, o qual,sen tin do as di fi cul da des que atra ves sa va a la vou ra do seu Esta do, de i -xou-se vi si vel men te con quis tar pe las dou tri nas de Fran co de La cer da.Fi nal men te, o pre si den te de So Pa u lo, Jor ge Ti bi ri , a cujo ar ro jo etenaci da de se de veu a exe cu o da po l ti ca va lo ri za do ra, era ou tro adeptofer vo ro so das dou tri nas da que le eco no mis ta.

    Alfre do Ellis, des de an tes de 1900, ocu pa va-se obs ti na da men tecom os as sun tos do caf. Vi a ja ra pela Eu ro pa e pe los Esta dos Uni dos, es tu -dan do os mer ca dos con su mi do res. Sua ex pe rin cia lhe en si na ra a ver da deque mu i tos ig no ra vam, ou fin gi am ig no rar, ou seja, que a que da dos pre osno pro vi nha s do ex ces so de pro du o, mas da es pe cu la o dos in ter me -di ri os. Dada a fal ta de or ga ni za o ban c ria in ter na, e a ine xis tn cia de umver da de i ro cr di to agr co la, as ca sas ex por ta do ras de San tos, li ga das a ban coses tran ge i ros, com pra vam o caf na fase da co lhe i ta, for an do ao m xi mo aba i xa de pre os (o que era f cil nos anos de boa sa fra), es to ca vam o pro du toe de i xa vam-no flu ir len ta men te, sem al te rar os pre os do con su mi dor. Assim, quan do a co lhe i ta era pe que na, a pres so al tis ta no se fa zia, por ca u sa doses to ques re ma nes cen tes. E a si tu a o che gou ao pon to de, no go ver no Ro -dri gues Alves, o pre o da pro du o ser ma i or do que o da ven da nos mer ca -dos de con su mo, de vi do alta do cm bio.

    Alfre do Ellis des cre ve a des di ta dos fa zen de i ros es tran gu la dos pe los trus tes, em pre gan do esta mes ma pa la vra. Re fe re-se a uma cir cu larque ha via lido, dis tri bu da por uma for te fir ma de Nova Ior que, a qualinfor ma va que con ti nu a ria a for ar a ba i xa do caf no mer ca do produtor.Cul mi nan do a s rie de dis cur sos que vi nha fa zen do, des de o pe ro do de

    36 Afon so Ari nos

  • Cam pos Sa les, em de fe sa da la vou ra pa u lis ta do caf. Alfre do Ellis, a 1de ju lho de 1903, apre sen tou ao Se na do pro je to de um s ar ti go, quedis pu nha: Fica o go ver no au to ri za do a pro mo ver os me i os de de fen der e va lo ri zar o caf.

    Pou co an tes das ne go ci a es do con v nio, um homem denegci os de So Pa u lo, Con de Si ci li a no, ofe re ceu um pla no para me lhoriada si tu a o do caf. O pla no ba se a va-se es sen ci al men te no mo no p lioda ex por ta o por um sin di ca to, a ser for ma do como uma es p cie deem pre sa p bli ca, e pela va lo ri za o do pro du to por meio da com pra dees to ques, atra vs de uma ta xa-ouro. Essas idi as, mu i to de ba ti das, docha ma do pro je to Si ci li a no, in flu ram no con v nio.

    A ni ca so lu o na tu ral, o cr di to ao pro du tor em con di -es van ta jo sas, no era vi vel pela des ca pi ta li za o in ter na. A so lu -o pre fe ri da foi o ar ti f cio da va lo ri za o, me di an te cr di to ex ter no.E foi nes se rumo, pre pa ra do, alm de ou tros, por Fran co de La cer da, Alfre do Ellis e Si ci li a no, que veio se ati rar im pe tu o sa men te o pre si -den te de So Pa u lo, Jor ge Ti bi ri .

    Des sa for ma ins ta la va-se no go ver no de So Pa u lo uma te o ria fi -nan ce i ra e eco n mi ca opos ta que la que nor te a ra a ao do go ver no Cam -pos Sa les e cuja conti nu a o o pre si den te cam pi ne i ro con si de rouelemen to es sen ci al, como vi mos, para a in di ca o do seu su ces sor. Re le vano tar, tam bm, que Ro dri gues Alves, ao ace i tar a in di ca o de seu nome,ha via se ma ni fes ta do de acor do com a ori en ta o do seu an te ces sor. Assim, a po si o ofi ci al men te de cla ra da do seu Esta do na tal cho ca va-se com assuas con vic es e com os seus com pro mis sos de can di da to.

    O pro je to de Alfre do Ellis teve pa re cer con tr rio da Co mis sode Fi nan as, re la ta do pelo Se na dor gacho Ra mi ro Bar ce los. Em cer tomomen to da dis cus so que se tra vou en tre o au tor e o re la tor apre en de-sebem as in ten es e o es ta do de es p ri to dos con ten do res. Ellis de cla rou que se de via va lo ri zar o caf, me di an te com pra, fe i ta pelo go ver no fe de ral, de4 ou 5 mi lhes de sa cas, fi nan ci an do-se a ope ra o com um em prs ti mo. De onde ti r-lo?, per gun tou Ra mi ro. De onde ti rou os 8 mi lhes dees ter li nas para as obras do por to e para a Ave ni da, re tru cou Ellis.

    Nesse pon to que es ta va a di fi cul da de. Os Rothschild,banque i ros do Bra sil, es ta vam em pe nha dos na po l ti ca de res ta u ra o cam bial

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 37

  • e mo ne t ria vin da do go ver no Cam pos Sa les, mas no ti nham in te res ses no co mr cio do caf, ar ti go de pou ca sa da na Ingla ter ra.

    A mu dan a da po l ti ca vi gen te im pli ca ria di fi cul da des cam bi a is e de pa ga men to dos em prs ti mos, que eles ti nham ne go ci a do para asobras do go ver no. Por isso mes mo os Rothschild se opo ri am a qual querme ca nis mo de va lo ri za o do caf. S de po is de as si na do o con v nioen tra ram no ne g cio.

    A ini ci a ti va do Se na dor Ellis no teve an da men to no Se na do,mas, a 28 de agos to, ela se re no vou na C ma ra, com mais vi gor, pormeio de pro je to apre sen ta do pelo pa u lis ta Cn di do Ro dri gues (que forase cre t rio de Ro dri gues Alves no go ver no pa u lis ta) e as si na do por 34co le gas, na qua se to ta li da de re pre sen tan tes das zo nas ca fe e i ras de SoPa u lo e Mi nas Ge ra is.

    Vi sa va o pro je to, es pe ci al men te, fi xar pre o m ni mo para opro du to, fa zer pro pa gan da dele a fim de au men tar-lhe o con su mo, con -ce der cr di to aos pro du to res, li mi tar a pro du o e re cor rer ao cr di toex ter no, para mo bi li zar o pla no. A 21 de de zem bro, a Co mis so deOra men to, em lon go e bem es tu da do re la t rio re la ta do pelo pi a u i en seAn sio de Abreu, deu pa re cer con tr rio ao pro je to. Assi na le-se que Davi Cam pis ta, fu tu ro minis tro da Fa zen da de Afon so Pena, as si nou estepare cer, que se cho ca va com a ori en ta o que de po is as su miu. O parecernega ti vo foi ob je to de lon go voto di ver gen te do pa u lis ta Ga leo Car valhal,no qual se ali nham to dos os ar gu men tos en to pre do mi nan tes em fa vorda valo ri za o do caf e da in ter ven o do Esta do no do m nioeconmico.

    Fi cou o as sun to es que ci do na C ma ra, at me a dos de 1904,quan do, em 10 de agos to, vol tou a de ba te, com um es tu do da Co mis so de Agri cul tu ra. O es tu do era ba se a do no pro je to Cn di do Ro dri gues,em v ri as emen das a ele apre sen ta das, e em ou tras ini ci a ti vas cor re la tas.Nada, po rm, pro gre dia na es fe ra fe de ral. So men te o im pul so vin do daprinci pal re gio pro du to ra, que era So Pa u lo, po de ria ven cer a re sis tnciapas si va da Unio.

    O pre si den te do Estado, Jor ge Ti bi ri , en con tra va apo iofirme e am pla men te ma jo ri t rio em to dos os se to res in flu en tes da opiniopa u lista. Cum pria-lhe pro cu rar apo io fora de So Pa u lo, com ou tros Esta dos,

    38 Afon so Ari nos

  • des de que se tor na ra pa ten te que a Unio no se dis pu nha a isso. E foi o que se ve ri fi cou no cor rer do ano de 1905.

    Ro dri go So a res J ni or, que com pul sou o ar qui vo par ti cu lar de Jor ge Ti bi ri , for ne ce ele men tos es cla re ce do res das tra ta ti vas que le va -ram ao Con v nio de Ta u ba t.

    Os ele men tos que mais au xi li a ram o pre si den te pa u lis ta fo ram o De pu ta do Cn di do Ro dri gues e o Se na dor Gli c rio, en car re ga dos depres si o nar Rodri gues Alves; Car los Pe i xo to, in cum bi do de tra zer oapo io de Fran cis co Sa les, pre si den te de Mi nas; en quan to o De pu ta doflu mi nen se Bar ros Fran co J ni or e Cn di do Re sen de tra ba lha vam jun toa Nilo Pe a nha, pre si den te do Esta do do Rio. Aos ve lhos ad ver s ri ospo l ti cos de Ro dri gues Alves com pe tia a ta re fa de or ga ni zar a mas sa dema no bra no Con gres so, con tra o Ca te te.

    A es tra t gia pro je ta da en vol via me di das po l ti cas, que iammu i to alm dos pro p si tos eco n mi cos co gi ta dos a prin c pio.

    Insen si vel men te, mas ine vi ta vel men te, a cam pa nha pela va lo -ri za o do caf veio de sa guar no pro ble ma da su ces so pre si den ci al.

    Mi nas era o Es ta do de ma i or po pu la o, ma i or ele i to ra do,ma i or re pre sen ta o no Con gres so. So Pa u lo, ber o da Re p bli ca ci vil,ti nha con se gui do con ser var o con tro le do po der fe de ral por trs pe ro -dos pre si den ci a is su ces si vos. A re sis tn cia con tra a re no va o pa u lis ta,por mais um qua tri nio, era na tu ral, e s po de ria ser ven ci da por umaunio sem frin chas, en tre os go ver nos do Esta do e da Unio. A con tra -di o de in te res ses fi nan ce i ros en tre os dois go ver nos era, po rm, ir re -du t vel, e isto os le va ria a uma se pa ra o po l ti ca, que im pos si bi li tou um quar to pre si den te pa u lis ta.

    Ti bi ri , a prin c pio, no se deu con ta da si tu a o. Pen souque po dia pres si o nar o go ver no fe de ral nos dois sen ti dos, obri gan do-o a ace i tar a va lo ri za o do caf e o can di da to pa u lis ta de sua pre fe rn cia,no caso Ber nar di no de Cam pos. Mas, des de cedo, a con quis ta do du ploob je ti vo re ve lou-se in vi vel.

    Assim, as co i sas se fo ram or ga ni zan do na di re o das for aspo l ti cas. So Pa u lo con se guiu ven cer a ba ta lha eco n mi ca, for an do

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 39

  • Ro dri gues Alves a ace i tar, ain da que no com ple ta men te, o pla no da va -lo ri za o. Mas So Pa u lo foi for a do a ce der na ba ta lha po l ti ca, e aconcor dar, tam bm de m von ta de, com a cha pa pre si den ci al Afon soPena/Nilo Pe a nha, so lu o que pre mi ou os dois Es ta dos par ti ci pan tesda ma no bra.3

    A uni da de de ao en tre os Es ta dos ca fe e i ros foi se es tre i tan -do, me di da que os seus go ver nan tes se con ven ci am da fal ta de in te res -se do go ver no fe de ral.

    Em ou tu bro de 1905, Ti bi ri con vi dou Sa les e Nilo para umen con tro na ci da de de Ta u ba t, do qual de ve ria re sul tar a so le ni za odo acor do en tre os trs go ver nos. O Pre si den te Fran cis co Sa les, bemmi ne i ro, deu res pos ta sa bi a men te con di ci o na da. Obser vou que umareunio sem re sul ta dos po si ti vos se ria um de sas tre e que, por isso,con vi nha que os pla nos do acor do fos sem as sen ta dos pre vi a men te. Emse gui da pon de rou que, sem acor do da Unio, qual quer pla no es ta du alseria in vi vel e que, por tan to, o en con tro dos trs pre si den tes de Estado,sem au din cia pr via do pre si den te da Re p bli ca, fi ca ria como sim plesen ce na o.

    Ant nio Pra do, ami go de Ro dri gues Alves e no mu i to deJor ge Ti bi ri , con ce deu, em se tem bro, en tre vis ta ao Jor nal do Co mr cio,opon do-se va lo ri za o. Pre si den te da Estrada de Fer ro Pa u lis ta eindus tri al, Pra do, em bo ra ti ves se tam bm ne g ci os de caf, por meio da for te casa ex por ta do ra Pra do Cha ves, sen tia seus in te res ses pre do mi -nan tes ao lado da po l ti ca fi nan ce i ra do go ver no fe de ral e re ce a va ascon se qn ci as cam bi a is e mo ne t ri as da po l ti ca va lo ri za do ra. pro v -vel que essa en tre vis ta, que foi mu i to co men ta da, te nha sido pre ce di dade con ver sa en tre Ant nio Pra do e Ro dri gues Alves, pois este pa re cerefe rir-se a ela, na men sa gem de 1906.

    Mas, aos pou cos, o tra ba lho po l ti co de ar re gi men ta oprosse guia no Con gres so. Qu an do da vo ta o da lei de or a men to, foiapro va da a emen da apre sen ta da por Cndi do Ro dri gues, na qual seautori za va o pre si den te da Re p bli ca a en trar em acor do com os Estados

    40 Afon so Ari nos

    3 A sucesso presidencial ser estudada mais adiante, quando for tratada a polticado quatrinio Rodrigues Alves.

  • ca fe e i ros, a fim de re gu lar o co mr cio do caf e, di zia-se ex pres sa men te, pro mo ver a sua va lo ri za o, dan do ga ran ti as s ope ra es de cr di tore a li za das para tal fim.

    Com o caminho facilitado por esta colaborao do Congresso Fed eral, os trs presidentes reuniram-se em Taubat, no dia 25 defevereiro, sendo o convnio assinado por eles na madrugada de 26, noedifcio do Pao Mu nic i pal.

    O convnio desdobrava-se em 15 artigos e as suas disposiesmais importantes eram as seguintes: foram fixados preos mnimos, emouro, para os diferentes tipos de caf exportvel (art. 1); criava-se umasobretaxa no valor de 3 francos-ouro (valor que poderia ser alterado)para cada saca de caf exportado, e impediam-se, mediante impostosproibitivos, no vas plantaes (art. 6); o Estado de So Paulo ficavaautorizado a negociar, no ex te rior, um emprstimo de 15 milhes delibras, destinado a financiar o plano, sendo o pagamento desseemprstimo4 feito com o produto da sobretaxa acima referida, qualseria arrecadada pela Unio (arts. 7 e 8); o emprstimo, pelo qual seresponsabilizavam solidariamente os trs Estados, serviria tambm delastro a um instrumento oficial, que o convnio previa no mbito fed eral, a Caixa de Converso, cuja finalidade era a fixao do valor-moeda(art. 8); o convnio seria aprovado pelo pres i dente da Repblica (art. 15).

    Pela Cons ti tu i o Fe de ral, o con v nio era du vi do so, emalguns pon tos. A Unio no era obri ga da a ar re ca dar a ta xa-ouro cri a dape los Esta dos, nem a apli c-la no pa ga men to de em prs ti mo ex ter nopara eles ne go ci a do. Igual men te, a re co men da o ao Con gres so Fe de ralpara cri ar um r go como a Ca i xa de Con ver so era ino pe ran te. Deoutro lado, a apro va o do con v nio pelo pre si den te da Re p bli ca noera im po si ti va.

    Ao en vi ar o tex to do con v nio a Ro dri gues Alves, Ti bi ri f-lo acom pa nha do de um of cio, datado de 12 de mar o, no qualcomu ni ca va a de li be ra o to ma da so bre a Ca i xa de Con ver so (idiaadotada pe los pre si den tes dos trs Esta dos para so lu o da ques to mo ne tria

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 41

    4 Emprstimo enorme, em comparao com os outros, feitos no Imprio e naRepblica.

  • en tre ns), in for ma va que esta cri a o ha via sido jul ga da da ma i orurgn cia e re cla ma va do pre si den te da Re p bli ca a con vo ca o ex tra -or di n ria do Con gres so para vo ta o das leis ne ces s ri as.

    Tudo isso era de pa ten te in cons ti tu ci o na li da de.Como po de ri am os che fes dos exe cu ti vos es ta du a is for ar o

    pre si den te con vo ca o ex tra or di n ria do Con gres so, ma t ria de suacom pe tn cia pri va ti va? Alm do mais, es ta va-se em fim de fe ve re i ro, e o Le gis la ti vo de via es tar re u ni do, nor mal men te, a 3 de maio.

    Ro dri gues Alves re ce beu a do cu men ta o em Pe tr po lis, dasmos do se cre t rio da Fa zen da de So Pa u lo, Albu quer que Lins. O pre -si den te ex pli cou ao se cre t rio que a ques to mo ne t ria tor na va sua po si -o em ba ra o sa, pois ele era con tr rio que bra do pa dro, que se ria acon se qn cia fa tal das me di das a se rem to ma das.

    Se me ti ves sem con sul ta do de Ta u ba t [ajun ta o re la to deRo dri gues Alves], pos s vel que as di fi cul da des ti ves sem de sa pa re ci do.

    Albu quer que Lins ale gou que par ti ra de Nilo Pe a nha a idiada fi xa o da mo e da em cm bio ba i xo e que os go ver na do res ti ve ramre ce io de sair sem essa so lu o, fi can do mal nos Es ta dos. O pre si den te ob ser vou en to que des car ta vam a di fi cul da de para ele. E re ma tou seusapon ta men tos com es tas pa la vras: O Dr. Lins con tes ta va-me sem pre eno me pa re cia mu i to sa tis fe i to.

    qua se pe tu lan te co mu ni ca o de Ti bi ri , Ro dri gues Alvesres pon deu com mo de ra o, mas com fir me za, em of cio de 12 de mar o. 5

    De po is de com pro me ter-se a sub me ter opor tu na men te o con v nio apro -va o do Congres so (ni co po der com pe ten te, pela Cons ti tu i o, pararesol ver so bre al guns as sun tos ali con ti dos), o pre si den te re cu sou-se atomar a ini ci a ti va da con vo ca o ex tra or di n ria do mes mo Con gres so, porno con si de r-la ace i t vel. Qu an to sua apro va o ao con v nio, pre vis tano ar ti go 15, o pre si den te no se ma ni fes tou di re ta men te. Pela ao sub se -qen te mos trou, po rm, que no se con si de ra va com pe ten te para pro ceder

    42 Afon so Ari nos

    5 Nota de Rodrigues Alves, escrita em Petrpolis, no mesmo dia: Ontem e anteontem estiveram aqui Glicrio e Rubio. Aquele no pareceu ficar contente com as minhasidias sobre a valorizao do caf. Hoje meu filho desceu para levar ao Dr.Albuquerque Lins um ofcio, em resposta ao do Dr. Tibiri, mandando o convnio.

  • que la apro va o, pois, jun ta men te com a men sa gem ha bi tu al deabertu ra do Con gres so, a 3 de maio, e nes sa mes ma data, en vi ou outramen sa gem, de pou cas li nhas, que era acom pa nhada pelo tex to doCon v nio de Ta u ba t. Assim, o pre si dente en ten deu acer ta da men te quepar te da exe cu o do con v nio era da com pe tn cia dos Esta dos sig na t -ri os, no lhe ca ben do in ter vir, e par te ne ces si ta va de lei fe de ral, sen do,pois, o Con gres so o po der com pe ten te. Ele no se en vol ve ria.

    O pen sa men to de Ro dri gues Alves so bre todo o con jun to dama t ria se ex pri me, com lar gue za e lu ci dez, no tex to da men sa gem deaber tu ra do Con gres so.6

    O do cu men to , nes ta par te, in du bi ta vel men te, da pr priare da o de Ro dri gues Alves, pois ex pri me to das as idi as que sus ten -ta va des de os seus tem pos de mi nis tro da Fa zen da, e, tam bm, ex pli -ca com cu i da do a con tra di o que exis tia en tre os ob je ti vos do con -v nio e o pro gra ma, em fim de exe cu o, do go ver no que ter mi na va.E con tes ta fran ca men te as opi nies de fen so ras do con v nio. Para opre si den te, a de fe sa dos pre os no se fa ria com a va lo ri za o ar ti fi -ci al, mas com a boa co mer ci a li za o do caf, fun da da no cr di to dopro du tor. S com o cr di to, o ar ma ze na men to e a emis so de t tu losne go ci ve is (war rants) po de ri am o fa zen de i ro e o co mis s rio de fen de -rem-se con tra a pres so ba i xis ta dos ven de do res no es tran ge i ro, queau fe ri am lu cros in cr ve is, na di fe ren a de pre os. Con tes ta a te o ria de que o cm bio ba i xo va lo ri za va o caf, mos tran do que, pe las ra zesaci ma, os pre os in de pen di am do cm bio. A esse pro p si to, de po isde de cla rar-se ele pr prio la vra dor, afir ma:

    um de sa cer to pen sar que a la vou ra do pas no podepros pe rar sem cm bio ba i xo, e uma cor ren te se tem for ma doem fa vor da idia de uma taxa que a be ne fi cie. As es ta ts ti casde mons tram, ao con tr rio, que, com taxas me lho res do que as

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 43

    6 Sobre ela h esta nota curiosa do presidente: Desci para a abertura do Congresso. Amensagem foi levada pelo Dr. Valdetaro. O Senado, pela primeira vez, no selevantou para receber o mensageiro do presidente. J o ano passado quiseram fazer amesma coisa a meu filho, que era o secretrio, mas o Pinheiro Machado, que fingia de distrado, levantou-se (Rodrigues Alves Filho tinha sido eleito deputado federal porSo Paulo).

  • atu a is, os pre os do caf tm tido al ter na ti vas de alta e ba i xa,mas a la vou ra tem vi vi do e pros pe ra do.

    Adver te para os ris cos do pa pel-moeda in con ver s vel e re pe lea que bra do pa dro mo ne t rio, com a fi xa o le gal do cm bio e umataxa ar ti fi ci al men te ba i xa. De fen de, por fim, a po l ti ca mo ne t ria de seugo ver no, que per mi ti ra o gran de pro gra ma de obras e sa ne a men to, in -dis pen s vel ao pro gres so eco n mi co. Ter mi na com este pe ro do:

    Se ria um erro re cu ar, como ser obra de pa tri o tis moafas tar de vossas de li be ra es a idia de que bra do pa dromone t rio e a de fi xa o do cm bio, que con tra ri am pro fun da -men te aque les pla nos, com tan to xi to ex pe ri men ta dos.

    Assim se ex pres sa va, em de fe sa de sua obra de es ta dis ta, oho mem que, na vida par ti cu lar, era gran de la vra dor de caf.

    Rodri gues Alves com por ta va-se no epi s dio com suas ha bi tu a isqua li da des de fir me za e mo de ra o. Como pre si den te, no se sub me tia a pres ses que con tra ri as sem suas idi as e pro gra ma, ain da que pro vi es semdo seu pr prio Esta do. No con vo cou o Con gres so, no to mouqualquer ini ci a ti va so bre a pro je ta da Ca i xa de Con ver so e ma ni fes tou-secla ra men te con tra as te ses do con v nio. Mas no po dia as su mir arespon sa bili da de de frus tr-lo nos pon tos que no co li di am com a suacom pe tn cia. Por isso re me teu-o ao Con gres so, e, mais tar de, de po is deapro va do, che gou a de fen d-lo.

    O Con gres so, r go po l ti co, de ci diu a ma t ria po li ti ca mente. Opre si den te es ta va em fim de man da to. Afon so Pena fora ele i to pre si dente a1 de mar o e todo o fun ci o na men to da m qui na po l ti ca e par la men -tar j se fa zia ten do em vis ta o fu tu ro go ver no. No Con gres so, a an ti gaco li ga o trans for ma va-se no cha ma do Blo co (a de no mi na o veio deuma fra se de Gli c rio, dis cur san do em ho me na gem a Pi nhe i ro Ma -chado) e a for te per so na li da de do ca u di lho ga cho emer gia para alide ran a in con tes ta da da po l ti ca fe de ral. Jor ge Ti bi ri tor na ra-o, emnome de So Pa u lo, o r bi tro da si tu a o.7 Pi nhe i ro trans for ma ra-se em

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    7 Rodrigo Soares Jnior publica cartas trocadas entre ambos. Essas cartas marcam a chefia de Pinheiro Machado.

  • uma es p cie de pre si den te no-eleito, mais se gui do e te mi do do que ole g ti mo. Em bre ve coman da ria suas hos tes para a can di da tu ra deHermes da Fon se ca, du ran te cuja pre si dn cia re i nou sem ri val. S Minas,mais fir me com Ven ces lau do que com Afon so Pena, iria der ru b-lo,pou co an tes de sua mor te, para a qual tan to con cor reu a vi o len ta cam -pa nha par la men tar e de im pren sa. O pr prio Ro dri gues Alves, nas no tas n ti mas, a par tir de 1905, re ve la a cada pas so o re co nhe ci men to t ci to da li de ran a na ci o nal de Pi nhe i ro, em bo ra ele, pes so al men te, no se sub -me tes se mes ma, e s en con tras se pro vas de si mu la do res pe i to noscon ta tos pes so a is com o ga cho.

    Pi nhe i ro j era for te, mas sua po si o sem con tras te no lheveio do Rio Gran de nem de Bor ges de Me de i ros, po rm da luta in ter nados pa u lis tas em 1906.

    Assim, com a apro va o do Con v nio de Ta u ba t, os pa u lis -tas lar ga vam o real pela mi ra gem: per di am pos si vel men te a pre si dn ciacom Ber nar di no (que se in cli na va pela po l ti ca fi nan ce i ra re cla ma da emSo Pa u lo) e ob ti nham uma vi t ria que no fun ci o nou.

    Fato que cho cou e entris te ceu Ro dri gues Alves foi a ade sopbli ca de Cam pos Sa les ao Con v nio de Ta u ba t an tes da sua re mes sa aoCon gres so. No dia 26 de mar o, Cam pos Sa les, em So Pa u lo, res pon deuao con vi te para de fen der a apro va o do ajus te com as se guin tes pa la vras:

    Estou dis po si o do Es ta do de So Pa u lo e do pasin te i ro, nos pos tos que me fo rem in di ca dos. Fa am o con v -nio e con tem co mi go, caso o con v nio no con tra rie os meus prin c pi os po l ti cos.

    A res tri o fi nal, ano ta Ro dri gues Alves, era fe i ta para ame ni -zar de cla ra o an te ri or em fa vor da va lo ri za o e da fi xa o le gal docm bio que fez es cn da lo en tre os ami gos do Dr. Cam pos Sa les. JosCar los Ro dri gues, que che fi a va no Jor nal do Co mr cio o com ba te aoconv nio, es cre veu a Cam pos Sa les uma car ta de que i xa e avi so. Oex-presidente de via es tar ma go a do com o su ces sor, pois lhe atri bu a ares pon sa bi li da de, por omis so, no in su ces so de uma can di da tu ra pre si -dn cia, no lu gar de Afon so Pena, can di da tu ra fal sa men te sus ten ta da por Pi nhe i ro Ma cha do. Ago ra, com Afon so Pena j ele i to, co me tia o ges to

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 45

  • pou co ge ne ro so de acom pa nhar os ad ver s ri os de Ro dri gues Alves, queno fa zia mais do que sus ten tar a po l ti ca fi nan ce i ra que dele her da ra.

    A men sa gem de Ro dri gues Alves ao Con gres so, opon do-seao Con v nio de Ta u ba t, pro vo cou sur pre sa e in dig na o.

    A vi o ln cia dos ata ques ao pre si den te, ori un dos dos pa u lis tas, cho can te. Um dos co ri fe us do con v nio, Au gus to Ra mos, que Ti bi ri en -vi a ra Eu ro pa para es tu dar a co mer ci a li za o do caf, che gou a es cre ver ose guin te na Ga ze ta de No t ci as: No h ma ne jos, por mais hu mi lhan tes etor pes, dos qua is, por in ter m dio de um mi nis tro e ou tros agen tes, no sete nha ser vi do o Sr. Pre si den te da Re p bli ca para fe rir, pe ran te o es tran ge i -ro, o cr di to dos Esta dos ca fe e i ros, des ses mes mos Esta dos que ho de pa -gar a or gia de d vi das com que S. Ex nos cu mu lou. Isto por que o go ver -no fe de ral re cu sa ra-se a ava li zar o em prs ti mo ex ter no.

    A re sis tn cia do go ver no fe de ral em co la bo rar com a par te que,im pli ci ta men te, lhe ca bia na exe cu o do Con v nio, seja as su min do aco-responsabilidade no em prs ti mo ex ter no, seja pro mo ven do a lei da Ca i -xa de Con ver so, le vou os trs pre si den tes es ta du a is a mo di fi car o tex to doCon v nio de Ta u ba t. Para isso, re u ni ram-se eles em Belo Ho ri zon te, onde as si na ram, a 4 de ju lho, do cu men to de mo di fi ca es e adi ta men to aoCon v nio de Ta u ba t. As al te ra es fo ram es tas: o pre o do caf, em vezde ser fi xa do em fran cos-ouro, pas sou a s-lo em mil-ris; dada a re cu sa daUnio em en dos sar o em prs ti mo ex ter no, a so bre ta xa de ex por ta o pas -sou a ser ar re ca da da pe los Esta dos pro du to res; o em prs ti mo se ria apli ca do di re ta men te na va lo ri za o do caf, no se tra tan do mais da fi xa o le gal do cm bio, vis to que no se po dia as se gu rar a cri a o da Ca i xa de Con ver so.

    No in ter va lo trans cor ri do en tre a as si na tu ra em Ta u ba t e amo di fi ca o em Belo Ho ri zon te, o as sun to foi co pi o sa e s ve zes vi o -len ta men te de ba ti do na impren sa. Fi nal men te, en trou o con v nio emdis cus so na C ma ra dos De pu ta dos no dia 19 de ju lho. J vi nha compa re cer da Co mis so de Fi nan as, fa vo r vel apro va o. Seu re la tor era Davi Cam pis ta, in di ca do para mi nis tro da Fa zen da de Afon so Pena, oqual cum pria os com pro mis sos as su mi dos quan do da for ma o des sacan di da tu ra, em bo ra j ti ves se vo ta do con tra pro je to se me lhan te.

    O pa re cer de Cam pis ta, su cin to e es cri to com ele gan te cla reza,d n fa se de fe sa da in ter ven o do Esta do no do m nio da eco no mia.

    46 Afon so Ari nos

  • Nesse pon to, as idi as do bri lhan te de pu ta do por Mi nas Ge ra is merecematen o, por se rem pi o ne i ras no Bra sil. Cam pis ta jus ti fi ca va a con ve -nin cia da va lo ri za o do pro du to por ato do po der p bli co, ao quefa ria sor rir a eco no mia cls si ca, pelo fato do Bra sil de ter um virtualmono p lio da pro du o. Esse foi, alis, o erro cons tan te dos va lo ri zado resentre ns, erro por que no le va vam eles em con ta o au men to das plan taes nos pa ses con cor ren tes. O caso da bor ra cha, de que tam bm t nha mosmo no p lio, em bre ve ma ni fes ta ria ou tro as pec to des se mes mo erro.8

    O pa re cer de Cam pis ta con tm tre chos que de vem ser ins critosna his t ria das idi as eco n mi cas do Bra sil. Tre chos como este:

    No po dem ser vir de em ba ra o mor men te em pa sesno vos como o nos so pre o cu pa es dou tri n ri as, in ca pa zesalis de so lu es ir re du t ve is, so bre in ter ven es ofi ci a is nomun do eco n mi co. Seja o Es ta do uma sim ples ins ti tu i o po l tica e de boa or dem, seja, efe ti va men te, uma m qui na de pro gresso,no se pode sen sa ta men te re du zi-lo, en tre ns, ao in va ri velpa pel de de mi tir-se so le ne men te di an te de cada di fi cul da deque apa re ce, e que joga com os mais ele va dos in te res ses dana o.

    Ao pa re cer, Ser ze de lo Cor re ia jun tou voto de apo io, pro li xo e he si tan te. Era fa vo r vel ao con v nio, mas re ce a va um de sas tre na suaexe cu o, caso os mer cados con su mi do res dis pu ses sem de es to quescapa zes de re sis tir ofer ta al tis ta.

    Jun ta men te com o pa re cer, vi nha uma lon ga re pre sen ta o do Senado pa u lis ta, exal ta da men te fa vo r vel ao con v nio. Nes sa re pre sentao,a po l ti ca fi nan ce i ra de Cam pos Sa les e Rodri gues Alves era cri ti ca da,dire ta mente, como tri bu t ria do pen sa men to me ta lis ta dos es cri to resfrance ses,9 en quan to o cm bio ba i xo e o emis si o nis mo eram aber ta men te

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 47

    8 O Deputado Cincinato Braga, em discurso proferido em 1910, fez impressionante relato de como as plantaes inglesas da Malsia estavam sendo preparadas paraliquidar a produo brasileira da borracha. Nesse esquecido discurso vem umaadvertncia proftica do desastre prximo.

    9 Em certo momento, o documento diz que no deseja alterar a poltica CamposSales-Rodrigues Alves, mas trata-se de declarao incua. Todo ele tende paracritic-la e derrub-la.

  • de fendi dos. Ter mi na com afir ma es gra tu i tas e in con sis ten tes, queservi am para dou rar a p lu la (esta a ex pres so, pois fa la vam em cir cu la omonet ria do ouro) do em prs ti mo, que vi es se aten der aos in te res sesda la vou ra ca fe e ira.

    Ini ci a da a dis cus so de ple n rio, Davi Cam pis ta, em cur todis cur so, opi nou pela apro va o. Sen te-se um cer to cons tran gi men tonas pa lavras do re la tor. Os mi ne i ros cum pri am le al men te o com pro mis so as su mi do quan do da can di da tu ra Pena, mas es ta vam mu i to lon ge do en -tu si as mo dos pa u lis tas.

    O jo vem De pu ta do ba i a no Mi guel Cal mon, que se ria tam bm mi nis tro no fu tu ro go ver no, leu um dis cur so ines pe ra do.

    Opu nha-se fir me men te ao con v nio, no por mo ti vos po l ti -cos, mas por con si de ra es eco n mi cas, que lar ga men te de sen vol veu,apo i a do em da dos te ri cos e es ta ts ti cos. um tra ba lho me di ta do, cons -tru do com es for o, pes qui sa e in te li gn cia, um dos me lho res dis cur sosso bre ma t ria eco n mi ca que se pode en con trar nos Ana is da C ma ra.Os va ti c ni os fi na is de Cal mon eram som bri os, mas no in fun da doscomo o fu tu ro de mons tra ria. Pede que no se ar ro jem a ope ra escomer ci a is ale a t ri as, cu jos pre ju zos so bre car re gam as ge ra es futuras.Adver te que a v mi ra gem nos far per der a su pre ma cia do nos socaf, so bre seus va ri a dos com pe ti do res.

    Ou tros ora do res ocu pa ram a tri bu na no de cor rer da dis cusso.Bar bo sa Lima com ba teu o con v nio com ve e mn cia e Davi Cam pis tavol tou a de fen d-lo, sem pre frou xa men te.

    O flu mi nen se Pa u li no de Sou sa, de bri lhan te tra di o con ser -va do ra e ca fe e i ra, com ba teu o pro je to. Um dos seus ar gu men tos foiimpor tan te: lem brou que o fun ding-loan, des ti nado a con so li dar toda advida fe de ral, era de 10 mi lhes de li bras, en quan to que o em prs ti moes ta du al de se ja do se ria de 15 mi lhes.

    Tra ta do como ques to po l ti ca, o con v nio no se ria re cu sa do pela mai o ria. Foi apro va do na C ma ra, em dis cus so fi nal, por 107 vo toscon tra 15. O De pu ta do Ro dri gues Alves Fi lho, fiel ori en ta o do PRP, vo tou a fa vor. Seu pai no fora fron tal men te con tr rio. Entre os quevo ta ram con tra es ta vam ho mens do Nor te, como Est cio Co im bra,Mi guel Cal mon e Artur Orlan do. Tam bm fo ram con tr ri os o flu mi -

    48 Afon so Ari nos

  • nen se Pa u li no, o ca ri o ca Iri neu Ma cha do e o ga cho fe de ra lis ta Pe droMo a cir, que no obe de cia li de ran a de Pi nhe i ro Ma cha do.

    A dis cus so no Se na do se fez a 31 de ju lho. Foi r pi da. Poucosorado res e dis cur sos re su mi dos. Gli c rio de fen deu o con v nio.Houve 31 vo tos a fa vor e 6 con tra. Tal como se dera com Bar bo saLima, na C ma ra, os Se na do res Go mes de Cas tro e Ba ra ta Ri be i ro, queha vi am lu ta do con tra Ro dri gues Alves em 1904, ago ra es ta vam de acor do com o pre sidente e vo ta vam con tra o con v nio.

    Apro va da le gal men te a po l ti ca de va lo ri za o, res ta va a par temais im por tan te, que era a ob ten o, no es tran ge i ro, dos re cur sos ne -ces s ri os sua im ple men ta o. Caio Pra do J ni or for ne ce uma sn te sedes sas ne go ci a es.

    O sis te ma fi nan ce i ro che fi a do pe los Rothschild, que, des de aInde pen dn cia, par ti ci pa va, com ma i or ou me nor usu ra, do aten di men to ao cr di to p bli co bra si le i ro, opu nha-se de ci di da men te ao Con v nio deTa u ba t, e nem po de ria fa zer ou tra co i sa, pois es ta va li ga do aos em prs -ti mos que, des de Pru den te, am pa ra vam a po l ti ca mo ne t ria dos pre si -den tes pa u lis tas. Os al tis tas de So Pa u lo ti ve ram de re cor rer a ou trasfon tes. Fo ram elas dois ban cos ale mes, um fran cs e ou tro ame ri ca no,alm de Hen ri Schr der, de Lon dres (que des de en to ini cia ne g ci oscom o Bra sil), e da fir ma ale m The o dor Wil le, gran des ex por ta do res no Bra sil, a qual foi ati va co or de na do ra do ar ran jo. Os Rothschild vi ram-seafi nal obri ga dos a en trar na ope ra o para no per de rem con ta to com omer ca do bra si le i ro. E, ape sar da cam pa nha fe i ta con tra a alta pe los re -pre sen tan tes do co mr cio es ta be le ci do do caf nos Esta dos Uni dos e na Eu ro pa, a ope ra o foi mon ta da, e o enor me cr di to de 15 mi lhes deli bras as se gu ra do e apli ca do, du ran te al guns anos, nas com pras de cafdes ti na do re ten o. Entre 1906 e 1910 (sem pre se gun do Caio Pra do)ha vi am sido re ti ra das do mer ca do 8.500.000 sa cas.

    Os su ces sos li ga dos po l ti ca de va lo ri za o no in te res samao pre sen te es tu do, pois trans cor re ram de po is do go ver no Ro dri guesAlves.10 Bas ta consig nar que os re sul ta dos da gran de ope ra o no

    Ro dri gues Alves: apo geu e de cl nio do presidencialismo 49

    10 Cumpre notar que, mais tarde, quando Presidente de So Paulo (1912-1916),Rodrigues Alves teve de defrontar-se com os remanescentes daquela poltica, emfuno da Primeira Guerra Mundial.

  • foram be n fi cos aos pro du to res, como de se ja va sin ce ra men te o honradomas pou co com pe ten te Jor ge Ti bi ri .

    Os gran des be ne fi ci ri os fo ram os agen tes fi nan ce i ros, quepromo ve ram o le van ta men to dos re cur sos. Eles do mi na vam, na pro poro de qua tro vo tos con tra um, a co mis so in cum bi da de ad mi nis trar osestoques pro ve ni en tes da re ten o. E, uma vez fir ma dos os pre os, ficaram com as mos li vres para ne go ci ar o caf re ti do du ran te qua tro anos, oque fi ze ram com gran des lu cros.

    Convm acres cen tar ao re la to que os pre os al tos au men tavamo in te res se da concor rn cia em cen tros de pro du o a cus tos maisbaixos que no Bra sil. Da vm to das as con se qn ci as pre ju di ci a is nos -sa eco no mia ca fe e i ra.

    Nun ca o Bra sil po de r con tar nem se ria ra zo vel quecon tas se com o de sin te resse es tran ge i ro em re la o ao nos so caf.Os pa ses, cos tu ma va di zer Gil ber to Ama do, no tm sen ti men tos, stm in te res ses.

    Se no t nha mos con di es in ter nas de re sis tn cia, cum priacri-las e no se en tre gar pro te o in ter na ci o nal, como fi ze ram osin ven to res da po l ti ca de va lo ri za o.

    Ro dri gues Alves, la vra dor de caf, in te res sa do na alta, fi coucon tra ela. Seu pro gra ma era o da re du o dos custos, me lho ria deprodu o e cr di to ade qua do ao pro du tor. Ele es ta va cer to, a lon goprazo, e os ou tros, a lon go pra zo, mos tra ram-se er ra dos. Ve re mos como o pre si den te, in sul ta do e com ba ti do pe los seus pa tr ci os, sou be de fen der a pro du o ca fe e i ra de So Pa u lo, al guns anos de po is, com tal ener gia exi to, que ho mens que com ba te ram sua ori en ta o em 1906, como oen to De pu ta do Alti no Aran tes, o le va ram no va men te pre si dn cia daRe p bli ca, em 1918.

    50 Afon so Ari nos

  • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Captulo Ter ce i ro

    A CAIXA DE CONVERSO

    Os Do cu men tos par la men ta res contam com dois vo lu mes refe ren tes Ca i xa de Con ver so. O pri me i ro com pre en de a com ple xa e abun dan tema t ria re la ci o na da com a lei que, em 1906, cri ou o r go. O se gun do, a par te que diz res pe ito sua mo di fi ca o, em 1910.

    in te res san te ob ser var que Nilo Pe a nha, em 1906, pre si -den te do Esta do do Rio e prin ci pal im pul si o na dor da idia no Con v nio de Ta u ba t, foi o pre si den te da Re p bli ca que, qua tro anos mais tar de,de nun ci ou suas in su fi cin ci as e pro ps sua mo di fi ca o; en quan toLeopol do de Bu lhes, mi nis tro da Fa zen da de Ro dri gues Alves, e que aeste acom pa nha va na opo si o Ca i xa de Con ver so, era o mi nis tro da Fazen da de Nilo, quan do se so li ci tou a al te ra o do ins ti tu to.

    O ma te ri al con ti do nos dois vo lu mes re vi ve um dos pe ro dosmais bri lhan tes da C ma ra dos De pu ta dos em toda a vida re pu bli ca na.

    No se tra ta, cer to, de ne nhu ma des sas fa ses tem pes tuosas,nas qua is a elo qn cia parla men tar re ben ta da tri bu na com o eco daspaixes e con fli tos que se es pra i am no ple n rio e nas ruas. Fa ses queconhe ce mos, al gu mas ve zes, no Imp rio e na Re p bli ca, e que, em po cas

  • re cen tes, gra as aos no vos me i os de co mu ni ca o, che ga ram a tra zerdeze nas de milhes de bra si le i ros sus pen sos nos re cep to res de r dio, emtoda a vas ti do do pas.

    Os de ba tes so bre a Ca i xa de Con ver so, es pe ci al men te os de1906, ex pri mi am ou tro tipo de gran de za da ins ti tu i o par la men tar: acon tro vr sia so bre te mas ri dos e tc ni cos, mas sus ten ta da em tal n velde eru di o, ra ci o c nio e li ber da de, que o evo ca dor da que les dias mor tos no pde de i xar de se sen tir con for ta do com o es pe t cu lo ofe re ci dopelas eli tes po l ti cas di ri gen tes.

    De res to, tra di o bem sus ten ta da no Bra sil a alta qua li dadedos de ba tes so bre as sun tos fi nan ce i ros. No Imp rio, o pri me i ro Mar tim Fran cis co, Alves Bran co, Sil va Fer raz, Sa les Tor res Ho mem e ou trosdis cu ti ram e ex pu se ram com gran de bri lhan tis mo ques tes de mo e da,cmbio, ban co, im pos tos e or a men tos. Nos pri me i ros anos da Re p blica,a de fe sa que Rui Bar bo sa fez da sua ges to no Mi nis t rio da Fa zen da um mo nu men to de sa ber, ener gia e lin gua gem.

    Os dis cur sos e pa re ce res de 1906 co lo cam-se per fe i ta men te al tu ra desses an te ce den tes ilus tres, sen do de jus ti a res sal tar-se os no mesde Davi Cam pis ta, que do mi nou in con tes ta vel men te toda a lon ga e in -trin ca da mar cha do epi s dio, na pri me i ra fase, de Ca l ge ras, que teve ames ma po si o na se gun da, opon do-se di a me tral men te ori en ta oante ri or. Cam pis ta, bri lhan te de pu ta do por Mi nas Ge ra is, saiu da batalhada Ca i xa de Con verso com duas si tu a es na ci o na is ga lhar da men teas se gu ra das: a do po ltico e a do es ta dis ta.

    Sua pas sa gem da con du o da C ma ra, na que le mo men to, pasta das Fi nan as de Afon so Pena tor nou-se im pe ra ti va, e, ou tras fos -sem as con di es de fun ci o na men to do nos so pre si den ci a lis mo, sua as -cen so do mi nis t rio presi dn cia se ria na tu ral.

    A de ci fra o do mi nis t rio que a vida de Cam pis ta, es tre laque ful ge inten sa e ra pi da men te para de cli nar an tes de mor te pre ma tura,de cer to modo se ope ra com a le i tu ra dos seus dis cur sos e pa re ce res de1906. Che ga-se con clu so me lan c li ca de que nin gum, no Bra sil,estava mais em con di es de go ver n-lo do que aque le jo vem ho memde Esta do, des tru do pela conspi ra o con tra a in te li gn cia,1 cujo

    52 Afon so Arinos

    1 A expresso de Antnio Gontijo de Carvalho.

  • Le o pol do de Bu lhes, mi nis tro da Fa zenda.O Ta ga re la. Co le o Pl nio Doy le

  • xito ge rou o des vio da can di da tu ra Her mes. O mes mo se pode di zerde Calgeras, ad ver s rio de cla ra do das idi as de Cam pis ta. O fato deCalge ras nun ca ter sido in di ca do, no tem po de pre do m nio mi ne i ro,para a pre si dn cia da Re p bli ca uma tris te za para Mi nas.

    O pro p si to de cla ra do da Ca i xa de Con ver so era o de fi xarlegal men te a taxa do cm bio, de for ma a evi tar as os ci la es brus cas, que insta bi li za vam os pre os de ex por ta o de pro du o agr co la, prin ci pal men te a ma i or de las que era o caf. Tal ins ta bi li da de era ru i no sa para o ex por ta dor.

    O sis te ma ban c rio se en con tra va, em par te subs tan ci al, sobcon tro le es tran ge i ro. O novo Ban co do Bra sil vi nha de ser ins ti tu do em 1905; sua Car te i ra de Cm bio, en tre gue ao Di re tor Cus t dio Co e lho, ain da no po dia domi nar ver da de i ra men te o mer ca do, como se ve ri fi ca pe losre ce i os que con fi den ci a va a Ro dri gues Alves, e que este ia re gis tran doem seus apon ta men tos.

    Os ban cos es tran ge i ros, in te res sa dos no co mr cio de ex por -tao do caf, apro ve i ta vam na me di da do pos s vel a in flun cia que ti nhamno cm bio, para o jogo es pe cu la ti vo das ta xas, for an do a alta, quan do lhes con vi nha, a fim de que as com pras in ter nas se li qui das sem com me nosmil-ris, o que lhes au men ta va o lu cro, vis to que os pre os no ex te ri orno va ri a vam. So me-se a isso a ba i xa ge ral dos pr pri os pre os do caf,j re cor da da, e po de-se fa zer idia do quan to a fi xa o da taxa de cmbiopo de ria pa re cer a sal va o do sis te ma eco n mi co na ci o nal(incluindo-se nele os te sou ros es ta du a is) li ga dos ao pro du to.

    Ro dri gues Alves e Afon so Pena co nhe ci am per fe i ta men teesse me ca nis mo de pres so so bre o cm bio, des de o tem po em que, nogo ver no de Pru den te, um ocu pa va a pas ta da Fa zen da e ou tro a pre si -dn cia do Ban co da Re p bli ca. As co i sas no ha vi am mu da do, comode mons tra este tre cho de car ta do pre si den te ao seu fu tu ro su ces sor,escri ta em 6 de ou tu bro de 1905:

    Achei tam bm mu i to