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“Se olhares de novo para alguns muros manchados ou para pedras de várias mesclas, poderdes ai

ver imagens semelhantes a diversas paisagens, diferentes batalhas, movimentos de figuras, rostos de

aspectos estranhos, e roupagens, e infinitamente outras coisas; porque nas coisas confusas a ima-

ginação desperta para novas invenções.” Leonardo da Vinci

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fragamento de “fernando Pessoa sobre PortugaL

introdução ao ProbLema nacionaL” organizado Por JoeL serrão,

editora Ática, 1979

ficha técnica do catálogo

coordenação geraL: HeLena garret & mÁrio beLém

grafismo & Pós-Produção: tHestudio

fotografia: rui bernardes (Pag 254) José fabião (Pags: 54, 62, 70) diogo santos (Pag 81) [email protected]

imPressão: diVisão de imPrensa municiPaL

isbn:

dePósito LegaL:

agradecimentos

À HeLena garrett e ao mÁrio beLém sem os quais este catÁLogo e a Produção da exPosição não teriam sido PossíVeis.

aos meus mestres Jorge marceL, aLmada negreiros, JúLio Pomar, Luís dourdiL, Lima de freitas, regina aLexandre, rui fiLiPe, João d’ÁViLa, rocHa de sousa, a quem tanto deVo.

aos meus inúmeros amigos que, como coLaboradores ou Personagens, me aJudaram em diVersos trabaLHos que fiz ao Longo de cinquenta anos de carreira: rui mesquita, carLos barroco, manueL aLmeida e sousa, HeLena LoPes, José fabião, acÁcio carreira e tantos outros.

À graça garcia, sem a quaL não teria sido PossiVeL eLaborar o texto das Primeiras três décadas; À catarina Lareiro, com o seu aPoio e trabaLHo fotogrÁfico; ao ernâni oLiVeira, que coLaborou na Produção finaL de aLguns materiais e À mariana PardaL monteiro, PeLas inúmeras sugestões e reVsão dos textos.

ao PessoaL do tHestudio PeLo seu aPoio ProfissionaL

e, Por fim, aos Prefaciadores dos meus catÁLogos: ruis mÁrio gonçaLVes, José Luís Porfírio, cruzeiro seixas , eduardo xaVier, José Jorge Letria, aLberto Pimenta, dórdio guimarães, ernesto de sousa, madaLena brÁs teixeira, rodrigues Vaz, PauLo cardoso, maria João fernandes, e Luisa abreu nunes, sem os quais as minHas obras não teriam sido tão diVuLgadas Junto do PúbLico.

ficha técnica da exposição

câmara municiPaL de Lisboa

PeLouro da cuLtura

Vereadora da cuLtura: rosÁLia Vargas

director municiPaL da cuLtura: rui mateus Pereira

director do dePtartamento de Património cuLturaL: Jorge ramos de carVaLHo

cHefe de diVisão de gaLerias e ateLiers: rita rodrigues

exPosição coordenação e Produção

dePartamento de Património cuLturaL: Jorge ramos de carVaLHo

diVisão de gaLerias e ateLiers: rita rodrigues aLexandre cresPo José brito

secretariado: anabeLa nascimento maria da Luz martins

montagem: antónio Vieira antónio Puga

iLuminação: dePartamento de construção e conserVação de instaLações eLéctricas e mecânicas

diVuLgação: João gerardo susana serra LoPes

serViço educatiVo: teresa gouVeia José narciso anabeLa caetano

A nossa ruína cultural, a nossa não lusitanidade íntima, esse

é o mal que nos mina; todos os outros, por graves que sejam, podem

passar, podem ter solução. Mas para aquilo que, continuado,

é a morte mesma, não há solução.

Do esforço instintivo da sociedade portuguesa, da operação

obscura das leis desconhecidas, pelas quais as sociedades se regem,

e que são o comentário frequentemente irónico à vontade inútil

dos homens, ao esforço estéril das vontades individuais

e conscientes, não podemos esperar nada, embora o possamos

esperar. É que não podemos ter confiança no que desconhecemos,

nem trabalhar em prol ou contra o que é inevitável e seguro.

Do estado nada podemos esperar também, mas, aqui, por

uma outra razão. O estado não é português, o estado não é decente,

o estado está, desde 1820, na posse de homens cuja obra

é a essência da traição e da falência. Procurar o auxílio

do estado é tão absurdo como procurar influenciar os homens

que o possuem. Não há neles uma centelha de boa vontade

patriótica, nem de lucidez portuguesa. Vivem daquilo, e nem vivem

daquilo elegantemente. O esforço revolucionário para os deitar abaixo

é um gasto espúrio de energia. Quem é que se lhes vai seguir?

Não há em Portugal nenhum grupo ou partido, nenhuma reunião

de homens duradoura ou ocasional capaz de gerir o país. O que

há é péssimo, mas é o que há. [...]

fernando Pessoa

ficha técnica

4 5

esPectÁcuLo dia 2 de outubro: João d’ÁViLa

esPectÁcuLo dia 9 de outubro: banco de sons

som ambiente: acÁcio carreira tó neto

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Dizem-me que as palavras são contadas, assim o determinaram

as bandeiras antigas. Em nome dos restos da pátria e segundo

os princípios da comunicação escrita. Em nome da inteligibilidade

ou de acordo com a vasta paisagem de dogmas que povoam

o mundo, tornando a civilização redutora. E tanto se caminha

nesta falsa ideia de desenvolvimento, entre as formas enviesadas

oferecidas pela própria indústria cultural, que nos remetem,

abreviados, para domínios cada vez mais destituídos de

afirmação ideológica, de novo obscuros e liminarmente demolidores.

Sobram garatujas no papel, bonecos de plástico, enigmas virtuais,

próteses da expectativa biónica ou instalações da estética

rudimentar, talvez na evocação dos arranjos lacustres cuja sábia

territorialidade dava ao homem o trato do chão e os efeitos da vida

fluvial. Perdida a memória das coisas elementares mas nobres,

deixámo-nos assim cercar pelas falsas urgências, produzindo em

excesso muitos bens de consumo, objectos híbridos, inúteis ou de

curta duração, cuja emergência esgota cada vez mais depressa o

habitat, primaveras, cadências da Natureza, a pureza das águas.

vTudo isso acaba por nos converter à banalização das preferências,

cosmopolitas até ao ridículo ou ao odioso, agrilhoados como

Prometeu, repetitivos no trajecto e na dor como Sísifo.

Essas são algumas das razões que assistem às rupturas de

Victor Belém, artista sem diploma nem selo de bronze, protagonista

de si mesmo, homem de uma nova prestação do sarcasmo, da idade

que venceu, capaz de breves delírios expressionistas e abstractos,

a par de artesanatos onde toda a evocação representativa condena

a estreiteza sem horizonte de um mundo globalizado. Quando lhe

apontam a ordem que proíbe fumar, ele sabe que ninguém está

apostando na saúde pública, antes ensaiam modos de retomar a

velha norma cuja reza proíbe pensar. Mas esse é um direito do qual

não abdica, o de pensar, vasculhando as arcas da inquisição

e da ditadura em busca de adereços que pode usar na denúncia

do lixo organizado que o rodeia lá fora, fachadas ignóbeis, detritos

das cheias e do lixo mal drenado, cartazes da pátria prisioneira ou

cortada a meio, os meninos pobres de sua mãe. E, à medida que

o tempo passa, cinquenta anos de revolta na criação já ele pode

contabilizar, juntando a catarse matérica, porventura salpicada de

sangue, à pintura que podemos perceber como velha parede dos

bairros velhos, gente velha soletrando as letras da política ou o

encontro de cartas pela bisca ou pela sueca. Esse apaziguamento

paradoxal, entre muros arruinados e gente que arrasta as pernas,

trata do cúmulo dos anos vividos, espírito da terra, ou deixa-nos

perceber o rumor surdo do barco de ferro, porão B, bem fundo, onde

os emigrantes se deixam afundar, dormindo ao lado da lanterna, da

fotografia querida, da senhora de Fátima, em miniatura, ou do retrato

e das bandeiras do futebol enquanto pátria, colorindo aqui e além a

parede de ferro oxidado, mordida de sal, rachada pelo tempo.

Victor Belém nunca praticou uma arte intrinsecamente presa

ao dogma ou ao mito da obediência salvadora. A desordem pode

pertencer ao domínio da coerência, um dedo trémulo apontando

instalações de parede, móveis antiquados onde apodrece a

comida que vai faltando, venenos instalados no terrível silêncio

dos chamamentos. Velhas fotografias, memória das navegações,

projectos da bandeira nacional, hinos herdados do império perdido, a

estátua absurda, enfim, de quem nos tolheu os caminhos (monstro

autofágico) exibindo as mãos tintas de sangue, com o peito

desvendado, feito de grades no lugar dos pulmões, uma vela em vez

de coração, uma santa de plástico em vez da mãe. Sentado,

suspenso, o ser aprisionante do nosso longo descontentamento

guarda as centenas e centenas de nomes que pertenceram a

criaturas por ele torturadas ou mortas – os que pensaram, os que

exprimiram pensamentos e acções, os que sucumbiram no segredo,

os que, enfim, se deixaram sacrificar, durante mais de uma década,

na humidade tórrida das florestas da Pátria, além-mar. Junto destes

testemunhos abrasivos, terríveis e risíveis, a vanguarda parece ter

caído no cesto dos papéis, talvez sirva, com as suas cinzas, para

reciclar os devaneios da cultura contemporânea, dispersando-se em

pó pelas areias do nosso imaginário. No fundo, este artista que fica

na margem dos sucessos mediáticos reúne as condições de uma

avidez antiga, cuspida, e o sorriso com que graceja modernamente,

sibilino, nostálgico, ainda arrebatado, retirando do fundo de uma arca

sem fundo toda a arqueologia dos seus próprios heterónimos, talvez

senhor da solidez própria para evocar a proibição de proibir seja

o que for e nos defina enquanto pessoas.

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é proibido pensartexto de rocHa de sousa, 2008in foLHeto “50 anos de arte - é Proibido Pensar”

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miLnoVecentose sessenta

e noVe

miLnoVecentose cinquentae oito

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Embora o primeiro contacto, aos vinte anos, com Da Vinci, seja um bom início de história para um

pintor que, em 1938, nascera em Cascais, não será de estranhar que, recuando um pouco, deparemos

com uma realidade a que dificilmente poderia fugir - o Mar, água primordial sempre presente.

Desde a infância, a proximidade do mar e dos homens que partem e dos homens que,

na praia, parecem esperar sempre qualquer coisa que apenas justifica a espera, será mais tarde indelével

marca de registos antigos, primeiro na fase neo-expressionista, depois na necessidade quase permanente

de marcar linhas de água e planos em profundidade através de perspectivas provocadas ou tensões

cromáticas.

Menos indeléveis mas igualmente marcantes são os registos da adolescência: assim,

a influência da narrativa cinematográfica neo-realista (ligando-se no início dos anos 60

ao cinema francês e italiano) e do envolvimento cénico-operático do ritual católico, a que assistia na

escola, surge como referência obrigatória.

Em 1955, com dezassete anos, é convidado a frequentar um atelier livre que então funcionava em

Cascais, animado pelo pintor Jorge Marcel, de que faziam parte Camargo Prata, Carlos Teixeira e Michael

Barrett: a tomada de consciência como pintor movimenta-se então

na área dos expressionistas, dos muralistas mexicanos, de Portinari, começando a interessar-se pela

pintura de Goya.

Em 58 participa pela primeira vez em exposições, numa colectiva, na Galeria Molder,

em Lisboa, juntamente com Camargo Prata e Michael Barrett. A segunda exposição

em que participa, «Jardim 59», organizada pelo grupo que frequentava, realizada no Jardim Visconde da

Luz, em Cascais, e reunindo artistas originários da zona ou que nela habitavam (Jorge Vieira, Sara Afonso,

entre outros), proporciona-Ihe conhecer e relacionar-se com Almada Negreiros, com quem convive vários

anos e de quem pinta o retrato «Almada até onde

eu o alcanço».

Parecendo à distância que nada acontece por acaso, tendo no ano anterior «encontrado»

as múmias peruanas no Museu do Carmo, há seis mil anos testemunhando «O Grito» de Edvard Munch,

é a partir deste ano que descobre o seu interesse pelo ocultismo e pelas colecções

de fósseis e objectos naturais.v

Em 1960 visita todas as grutas pré-historicas do Norte de Espanha e do Sul de França,

numa viagem de alguns milhares de anos. Inicia neste ano a abordagem literária

do existencialismo, sobretudo através da obra de Albert Camus.

Em 1963 obtém uma bolsa da Fundação Gulbenkian sob orientação do pintor Júlio Pomar e, durante

dois anos, pinta intensamente. Nesta época matricula-se na Escola de Arte António Arroio, que frequenta

durante dois anos.

No mesmo ano, a influência do filme o «Último Ano em Marienbad», de A. Resnais,

e do teatro do absurdo de Becket é traduzida por um certo desencanto violento. A espátula desmembra e

faz explodir as figuras que o «dripping» acaba por pulverizar.

Dá-se inicio à primeira fase dos plásticos. O ritual de morte e re-nascimento

faz-se naturalmente, recorrendo a texturas viscerais e a resíduos fossilizados, de onde as figuras

humanas são banidas. Re-início solitário como o começo do mundo ou o nascimento de qualquer homem.

E nem mesmo a violência dos primitivos magmas estará ausente, no uso do fogo como instrumento de

trabalho, acto simultaneamente de alquimia purificadora.

Campo de revolta e força primordial, a superfície plana dos quadros vê crescer formas

a três dimensões, pela utilização de relevos em plástico, a partir da utilização de objectos usados e

fragmentos deste material que davam à costa – é o ciclo de eterno retorno.

Em 1964, faz a primeira exposição individual de pintura, na Galeria Divulgação (Porto)

e na SNBA (Lisboa), onde expõe trabalhos do ciclo já terminado: balanço e interrogação.

Este será o seu método de trabalho e de confronto. A hesitação entre a pintura e a escultura faz-se

sentir, prenunciando futuras expressões. Em 1969, apresenta «Os meninos do Porto»

na Cooperativa Árvore e na Sociedade Nacional de Belas Artes e parte para a Alemanha onde vive cerca

de um ano. Visita museus e estabelece contactos com diversos pintores.

É neste período que começam a surgir os primeiros trabalhos com influência da banda desenhada,

sobretudo através da organização do espaço.

Surgem também projectos em diferentes fases de decomposição e desagregação, que se inserem

em espaços fechados de perspectiva acentuada. As «caixas-objecto» iam nascer.

anos 60Percurso de Victor beLémbaseado num texto de graça garcia, maio 1988in catÁLogo “Victor beLém, 1958-1988”

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5858 medalha frente e verso para a comemoração

do centenário da fundação calouste gulbenkiangesso e estrutura aramada s/ madeira, 1958

coLecção do autor

4 estudos de tapeçaria para a sala de reuniões da gulbenkianacríLico s/ madeira, 1958coLecção do autor

14 15

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58o michael estava em parisóLeo s/ madeira, 1958coLecção misericórdia de cascais

família de pescador (frente)óLeo s/ madeira, 1958 coLecção misericórdia de cascais

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59o almada até onde eu o alcanço

óLeo s/ madeira, 1959coLecção mÁrio beLém

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59o peregrinoóLeo s/ madeira, 1959coLecção mÁrio beLém

o meu Pai aos oitentaóLeo s/ madeira, 1959coLecção mÁrio beLém 60rochas M

óLeo s/ madeira, 1960coLecção misericórdia de cascais

maternidade 2 NóLeo s/ madeira, 1960

coLecção misericórdia de cascais

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62discussão na lota i

óLeo s/ madeira, 1962coLecção misericórdia de cascais

20 21

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65maternidade (verso)óLeo s/ madeira, 1965coLecção misericórdia de cascais 63discussão na praça N

óLeo s/ madeira, 1963coLecção misericórdia de cascais

três figuras no jardim MóLeo s/ madeira, 1963

coLecção misericórdia de cascais

22 23

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63M desenhos de pescadorestinta da cHina s/ PaPeL, 1963executadas durante a boLsa da guLbenkian

63

24 25

N 6 pinturas de pescadores óLeo s/ madeira, 1963executadas durante a boLsa da guLbenkian

2 pinturas de pescadores óLeo s/ madeira, 1963

executadas durante a boLsa da guLbenkian

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63M varina velhaóLeo s/ madeira, 1963

N grupo na praiaóLeo s/ madeira, 1963 64victor belém

in JornaL de Letras, 1964

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64M casalóLeo s/ madeira, 1964 64grupo na praia N

tintas acríLicas s/ madeira, 1964

28 29

bancada na lota M óLeo s/ madeira, 1964

N discussão na lota ii óLeo s/ madeira, 1964

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64figuras

tintas acríLicas s/ madeira, 1964coLecção misericórdia de cascais

30 31

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64M casalóLeo s/ madeira, 1964coLecção do autor 69N figuras

fragmentos de PLÁstico e materiais diVersos aPLicados s/ madeira, 1964coLecção misericórdia de cascais

32 33

retrato de cláudioóLeo s/ madeira, 1969

coLecção cLÁudio correia

retrato de inês óLeo s/ madeira, 1972

coLecção inês de orneLas e castro

os desenHos executadas na Parte de trÁs do retrato foram feitos PeLa

inês na éPoca

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65M figuras à esperaóLeo s/ madeira, 1965 67menino de sua mãe

reLeVo acríLico trabaLHado a fogo s/ madeira, 1967

N 4 figuras na areiaóLeo s/ coLagem s/madeira, 1967coLecção misericórdia de cascais

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67desenhos projectos de caixastinta s/ PaPeL, 1967 69projecto de voador

acríLico s/ cartão, 1969

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69 69adeus amigo!texto de maria Judite de carVaLHo, 1969in diÁrio de Lisboa

foto do artista com 29 anos a Pintar a série

“os meninos do Porto”

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miLnoVecentos

e setenta e noVe

miLnoVecentose setenta

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anos 70(cont.) Percurso de Victor beLém texto de graça garcia, maio 1988in catÁLogo “Victor beLém, 1958-1988”

Regressa a Portugal nos princípios de 74: após a Revolução, participa activamente, como

independente, nas reuniões de artistas plásticos pertencentes a diversos movimentos políticos, tendentes

a clarificação de projectos culturais. Interessa-se pelos círculos da Antroposofia e outras religiões

orientais, que começa a frequentar.

De 74 a 76, desenrola-se uma nova fase em que o interesse pela «instalação» e pelos objectos de

intervenção é saliente. Assim, em 74, expõe individualmente na Galeria Diferença uma «instalação» e,

no ano seguinte, participa na exposição da SNBA, «A Figuração Hoje?», também com uma «instalação»;

numa exposição na Galeria Gordillo (Lisboa) - «A nova imagem realista» - expõe uma «instalação», e,

individualmente, expõe objectos na Galeria Quadrante (Lisboa).

Durante este período desenvolve paralelamente uma pintura de narrativa irónica e surrealizante,

em que as figuras surgem da «assemblage» (aqui puramente pictórica) de resíduos, fragmentos e

objectos ou de outras pequenas figuras, por vezes reconhecíveis – «A barca das memórias», a «Carlota

Joaquina» e «Jerónimo De Bosch» – e participa na exposição organizada pelo Museu Nacional de Arte

Antiga. O pintor Arcimboldo seria mais tarde uma descoberta particularmente surpreendente...

Em 1975 duas vias de expressão se vão separar, caminhando a partir daí em percursos paralelos:

a pesquisa estética considerada em si mesma, e os trabalhos de intervenção de cariz conceptual

(«instalações», «caixas» e objectos). Como tal, é a partir daqui que as vamos considerar.

De 76 a 78 desenvolve uma pintura de planos em profundidade através de pesquisas em cores lisas

e com intervenção de uma «janela» em arco-perfeito, em primeiro plano. Aparece a linha de água em

último plano, no qual se introduzem elementos com conotação directa com o binómio caos-geometria.

Surgem igualmente neste período experiências de escrita semi-automática e em sentido totalmente

inverso ao da grafia convencional, tendo por vezes uma intervenção marcante na composição. Por outro

lado, começa a trabalhar em diaporama, que vai desenvolver numa expressão muito peculiar: a tentação

da linguagem cinematográfica afastada recorrendo a sobreposições fantasmáticas e narrativas de

discurso mágico. Serão trabalhos predominantemente ligados a figuras literárias.

Em 76 expõe pintura na Galeria Elefante Circular (Lisboa), «Homenagem a Voltaire», e participa com

uma «instalação» na colectiva organizada pela SNBA, «Pena de morte e prisão política».

Em 77, com Carlos Barroco, realiza uma «instalação» na SNBA, «Liquidação total da existência»;

participa na colectiva «Mitologias locais» na SNBA (objectos); realiza uma «instalação» individual,

A «caixa» é já uma «arqueologia» (expressão que vai aparecer quase vinte anos mais tarde), baliza

de interiorizações. Assim a «caixa-objecto», caminho de reencontro através do retorno à gruta uterina,

local do sagrado e do novo olhar sobre as coisas, irá acompanhar o Pintor paralela e fielmente: «caixa-

carne-viva», «caixa-do-eterno-retorno», «caixa-dos-vários-risos», «caixa-flor», «caixa-dos-meus-

irmãos-poetas», sempre «caixa-das-memórias»...

As «caixas» surgem nesta fase, preenchidas com quase-esculturas de plástico, enquadradas

e deformadas por espelhos côncavos numa recuperação do processo de anamorfose, agora tornado

explícito; depois com fundos de paisagens cósmicas, em que elementos de pura geometria se

contrapõem ao caos orgânico do plástico.

Em 1970, viaja cerca de um ano pela Europa como repórter de um jornal, percorrendo a Espanha,

França, Alemanha, Áustria e Itália, países onde visita museus e galerias. No ano seguinte efectua outra

viagem para o mesmo jornal, a Angola e Moçambique. No mesmo ano expõe pela primeira vez as

«caixas-objecto» numa colectiva organizada pela Mobil.

Em 72, expõe individualmente pintura com aplicação de plástico na Galeria Bucholz (Lisboa) e realiza

uma «performance» multi-média complementar da exposição, «Kelahiran», no Teatro do 1º Acto, em

Algés. Neste ano, e após 12 anos de insistência, é pela primeira vez aceite numa exposição colectiva

organizada pela SNBA, onde participa com uma «instalação».

Verifica-se neste período um nítido interesse pela «instalação» e pelos objectos de intervenção

(de que mais tarde fará também parte certo tipo de «caixas»), numa fase que, iniciada em 69, se

prolongara até 74. Será oportuno olharmos aqui atentamente os trabalhos de intervenção, considerados

na globalidade e relativamente às suas linhas de força: na «instalação», nas «caixas-objecto» e nos

objectos - de intervenção político-social ou poético-surrealista, em que os mais variados e heteroclitos

objectos são utilizados, bem como a recorrência a colagens, fotomontagens e até materiais orgânicos

por vezes em decomposição - a influência «Dada» é referência obrigatória, sobretudo relativamente a

Duchamp e Picabia.

Em 1973 expõe individualmente na Galeria Dois (Porto) e, com Carlos Barroco, organiza a «Feira

de Arte do Camões», que se realizaria todos os sábados, permanecendo ligado ao projecto apenas dois

meses. Neste ano inicia com Carlos Barroco uma viagem pela Europa até ao norte da Turquia, durante dez

meses, a qual é relatada no jornal «República».

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72circunflexo NP

Peças de PLÁstico trabaLHadas a fogo, 1972

45

«O sonho da Mãe-Pátria prenha na lixeira», na Galeria Opinião (Lisboa), da qual faz parte um leilão

de objectos de conotação política e um diaporama; participa na «Alternativa Zero», organizada por

Ernesto de Sousa («instalação», «O anfíbio-sonhador»); também, com Carlos Barroco, realiza uma

«instalação», «O verde», na galeria Audimagem (Lisboa).

Em 1978, expõe pintura e uma «instalação» no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, «Caos e

Geometria», e ainda no Teatro Municipal do Funchal.

De 1978 a 1980, a «linha do corpo como paisagem» vem juntar-se à pesquisa na pintura,

aparecendo num plano mais distanciado relativamente a linha de água, em composições onde as cores

lisas se tornam mais violentas.

Em 1979, expõe individualmente na Galeria Audimagem (Lisboa), «O corpo é a paisagem da viagem»,

fotografia e objectos; pintura e «instalação» na Junta de Turismo da Costa do Sol, («Memo-lema-jogo»,

e trabalha num projecto inacabado, «Alexandre vivo ou morto», sobre a obra literária de Alexandre

Herculano, numa abordagem de «nonsense», essencialmente plástica e influenciada pelos trabalhos

desenvolvidos no campo da «instalação».

Também neste ano termina uma peça de teatro, «Frankenstein em Lisboa», trabalho com profusas

anotações cénicas e de caracterização visual de personagens, em que através da troca de identidades

entre o médico e o monstro, no mundo de solidão dos monstros, nasce o Homem-Novo, resgate possível

na procura de identidade através do encontro com o Outro.

destruições iii NN

modeLos de PLÁsticos destruídos s/ madeira, 1972

destruições ii NO modeLos de PLÁsticos

destruídos s/ madeira, 1972

destruições i MmodeLos de PLÁsticos

destruídos s/ madeira, 1972

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72objecto feridoProJecto trabaLHado a fogo s/ madeira, 1972 72voador

ProJecto trabaLHado a fogo s/ teLa, 1972

coLecção mÁrio beLém

46 47

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73fato do ser do espaço N

ProJecto exPerimentaL “keLaHiran” LeVado À cena no 1º acto, em aLgés, 1973

48 49

Recusa do conforto intelectual,

inquietação fértil.

A transfiguração;

a matriz e a síntese.

Não é pelas motivações reconhecíveis que Victor Belém procura

a comunicação. Há reacções suas perante os incidentes do mundo

em que vivemos, flagrantes em que está ainda informulado o horror

e o maravilhoso, o mal e o bem. Não há código prévio que Ihes

resista; e é uma indignação mais magoada do que vingativa a que

manifesta na sua revolta contra os códigos insensiveis-impotentes.

Não é por uma mensagem já intelectualmente predefinida que

expõe as suas obras. Não há orgulho. Apela para uma participação,

um convívio tanto mais profundo quanto mais afastado da ordem

rígida.

A vivência implícita nas suas obras espera aprofundar-se

e esclarecer-se na convivência. Isto é dizer que não há mitologias

validas se não as que se dissolvam ou renasçam nos rituais.

Sinceridade.

Pode falar-se hoje assim, quando a ironia se tornou o chavão

da intelectualidade dominante? Pode e deve, quanto a mim.

Precisamente porque a ironia se tornou um chavão.

Victor Belém, creio, não conhece o significado da sua acção.

Conhece, sim, o sentido, porque o vive. Logo, responsabiliza-se por

esse sentido através da caução singela, única: a sua própria vida.

A convivência não é portanto a mera tradução de um mesmo

significado em modos diferentes de comunicação, de espectáculo

visual ou audível, espacial ou temporal. Antes de ser conceitual tem

de ser sensível, e é preferível que permaneça no domínio do sensível

do que no conceitual traduzível-traível. (Seja-me permitido lembrar o

drama de solidão que Ingmar Bergman tratou na personagem duma

tradutora).

Contágio e assepsia; o ontológico.

Victor Belém atravessa o espaço invadido de objectos

e parece-lhe fixo o tempo físico que corre indiferente. Mas as

lembranças alteram a visão, e assim se conhece interiormente o

fazer e o desfazer do mundo. Somos todos responsáveis, um por

um. Obediente a um sentido-sentimento-sensação, recolhe objectos,

procura-lhes a elementaridade, e é nesta elementaridade que os

faz reagir entre si, fundindo-os ou contrastando-os, desfazendo-os

e reinventando-os, isolando-os e reintegrando-os, num paroxismo

alquímico cuja prática é o próprio homem a evadir-se e a regressar

renovado, a renovar-se para partirmos todos e regressarmos todos,

transportando connosco o que amamos.

A lucidez e o desejo.

Estar no mundo é transformá-lo.

Tudo será o que connosco será.

a lucideZ e o desejo

PÁtria adormecida MmoLde de gesso em tamanHo

naturaL c/ obJectos VÁrios, 1973

texto de rui mÁrio gonçaLVes, 1972in foLHeto “obJectos e Pintura” gaLeria bucHHoLz Lisboa

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73M caixa aZul obJecto trabaLHado a fogo, aPLicado em cx madeira, 1973 73caixa iniciação N

obJectos VÁrios, 1973coLecção do autor

50 51

caixa Zaack MobJecto trabaLHado a fogo,

aPLicado em cx madeira, 1973

N caixa ufoobJecto trabaLHado a fogo, aPLicado em cx madeira, 1973

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73metamorfosemoLde de corPo Humano exPosto PeLa 1ª Vez na feira de arte do camões, 1973

73viagem memulaiProJecto-Viagem Lisboa-indonésia,

Victor beLém e carLos barroco. terminou no norte da turquia, 1973

52 53

TEU CORPO NU, HIBERNANDO, EM CARNE VIVA MOSTRA BEM

A CHAGA HUMANA EM QUE TE TRANSFORMASTE.

O MAU CHEIRO QUE PODES SENTIR É DA TUA IMAGINAÇÃO

APODRECIDA.

AS VÍSCERAS DAS TUAS EMOÇÕES SÃO CONSERVADAS EM FRASCOS DE

FORMOL.

O CÁLICE DA TUA DECADÊNCIA TRANSBORDA.

O TEU SEXO ULCERADO VEGETA NA GAIOLA ONDE CRESCEU.

NAS TUAS MÃOS, A MÁSCARA DA MORTE QUE TU ÉS.

O TEU ROSTO, O ÓVULO DE PUREZA QUE TU FOSTE.

RESTOS DE TI ESCORREM PELOS MÓVEIS.

NA PAREDE, OS TEUS MITOS OLHAM-TE.

HOMEM-NOVO-MENINO QUE FOSTE, NÃO CORTASTE O CORDÃO.

SÓ NAS GAVETAS FECHADAS DO TEU SOTÃO RESTA A ESPERANÇA.

A LOUCURA QUE ÉS.

QUE TE LEVARÁ

ÀS ESTRELAS.

AO INFINITO.

A TI.

AGORA OU NUNCA.

INSULTA-TE. AGRIDE-TE.

A REVOLUÇÃO ÉS TU CONTIGO.

META-MEFORSEIA-TE.

burguês

insulto ao burguêstexto de Victor beLém, 1973in foLHeto feira de arte do camões

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74

54 55

16. Porta cHaVes de JoVem

tecnocrata cioso de Poder

17. a Vera esfinge de marceLo caetano

18. botão de PunHo do mesmo

(coLecção Veríssimo ferrão)

19. taxa futura

20. foto de antePassados (coLecção cds)

21. couto de VeLa (recuerdo 11 de

noVembro)

22. míssiL Para cHaruto (oferta

madame tHatcHer)

23. estoJo e medaLHa comemoratiVa

do eVento (coLecção PHiLae)

24. mÁquina de Ver o Pato donaLd

(coLecção arquitecto taVeira)

32. Porca Portuguesa

33. nÁniLHa

34. Vaca VotiVa do temPo das

mesmas gordas

35. baLa

36. suPosição da mesma

37. dado da sorte

38. PintaroLa-futura moeda

nacionaL

39. aLfinete de damas

40. o caVaLo do Poder (Versão

maLHada)

41. retro-refLector (oferta frank

carLucci)

25. cabeça de aLHo-cHocHo

(coLecção museu nacionaL dos

trouxas)

26. Peúgas de soLdado (oferta da

cruz VermeLHa)

27. esPiga de trigo americano

(coLecção da caP)

28. argoLa de oreLHa (oferta maria

da fé)

29. fantasma da guerra

30. baton de cena (oferta beatriz

costa)

31. caixa de cHocoLateLaxante

(oferta da rainHa de ingLaterra

ao ministro dos negócios

estrangeiros)

9. monócuLo de treino de sPínoLa

(emPréstimo Luís cabraL)

10. embaLagem de asPirinas do

úLtimo conseLHo da reVoLução

11. amostragem (350.000

Portugueses mortos na noite de

24 de abriL no beco das trinas)

12. castanHa de estaLar na boca

13. zero À esquerda

14. miniatura do naVio sagres

(coLecção ramaLHo eanes)

15. caderneta de senHas a

Lançar breVemente atrÁs,

anJos e arcanJos de PortugaL

1. esPírito do Vinte cinco d’abriL

engarrafado em casa (raro)

2. desenHo infantiL do eVento

3. Ponta do fiLme a cores sobre

4. PaPeL de embruLHo de carameLo

da éPoca

5. craVo de manJerico sem quadra

6. maço de cigarros de cHocoLate

7. interPretação artística do facto

(no PLano inferior instantâneo

do satéLite esPião da cee)

8. extracto da graVação teLefónica

entre marceLo caetano e nª sª de

fÁtima (coLecção santa sé)

42. iVa (oferta ernani LoPes)

43. modeLo nacionaL de Porta

moedas

44. retrato de infância do futuro

Presidente da rePúbLica

(coLecção anónima)

45. carta da irmã Lúcia ao PaPa

46. botão da farda de sÁ carneiro

47. foto de Português médio

48. cHaPéu de tirar coeLHos

49. botão do coLarinHo de mÁrio

soares

50. botão de cerouLa de ÀLVaro

cunHaL

caixa 25 de abril caixa c/ VÁrios obJectos simbóLicos, 1974

coLecção do autor

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74M o peixe a pregar aos santo antónios acríLico s/ madeira, 1974coLecção José fabião

74o que resta do artistatexto de rui mesquita, 1977

in foLHeto ”Liq. da existência...”snba, Lisboa

56 57

O saco cheio de tempo repetido, o esgar da esperança, o sublinhado, a renda da casa, a renda de

bilros, o fantasma da existência. Limpar o pó das velhas prateleiras da memória, máquina fotográfica

imperdoável (sim porque aquilo que se vive não se pode negar) para preparar o novo artista inquebrável e

de talento firme que não debota, à nova era do espaço que se abre.

Ser-se apenas o que se é.

NO carlota joaquinaacríLico s/ madeira, 1974coLecção graça garcia

NP a barca das memóriasacríLico s/ madeira, 1974coLecção João rainHo

o que resta do artista

projecto instalaçãogaLeria temPo, 1974

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74revolta surdaVictor beLém, 1974 74era uma veZ um país

PLÁstico trabaLHado a fogo s/ teLa, 1974coLecção Luís cíLia

58 59

Dilacerados, nus, desmembrados, des-

feitos.

O dentro das coisas.

Povo predestinado

heróis, mártires, santos.

Náusea, vómito perpétuo.

Amontoado, vertigem.

Presença invisível

dissecação

pintura-cirurgia, carne-alma

o avesso

percepção-sabedoria

o que esta aqui esta em toda a parte.

A passagem (proposta para a verdade).

Formas volúveis-tateis-quentes

A ternura

calor-carne-amor

a alquimia do sexo

caos = geometria oposta

A perfeição, Altar-corpo

Organização

lucidez dinâmica

renascer

do caos ao casulo

dor de ser

loucura

Conhecimento AMANHÃ.

revolta surda

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74encontro no espaço... N

Primeira Versão da Pintura

60 61

encontro no espaço entre fernão mendes pinto e jerónimo bosch M

acríLico s/ madeira, 1974coLecção LiLa Lacerda

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74M natureZa vivaPintura s/ coLagem s/ madeira, 1974 75anacometa

acríLico s/ madeira, 1975coLecção do autor

62 63

N deus pan não morreuacríLico s/ madeira, 1974

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75balão solar

acríLico s/ madeira, 1975coLecção graça garcia

64 65

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75M cósmicaacríLico s/ madeira, 1975 76

66 67

N paisagem com sombraacríLico s/ madeira, 1975

a princesa levantou vootinta da cHina e sPray s/ PaPeL, 1976

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75

68

o elfo rasgou a cortina do quotidiano para que a música do espaço penetrasse

acríLico s/ teLa, 1975coLecção mariana PardaL monteiro

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76M pré-retrato do meu filhosPray s/ madeira, 1976coLecção mÁrio beLém 76

70 71

NO orgasmo natureZa sPray s/ madeira, 1976coLecção mÁrio beLém

NN arcadas sPray s/ madeira, 1976coLecção mÁrio beLém

NP hosmose sPray s/ madeira, 1976coLecção mÁrio beLém

homenagem a isaac newtontinta da cHina e sPray s/ madeira, 1976

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75M túnel do tempo iacríLico s/ madeira, 1975coLecção graça garcia 76homenagem a voltaire ii N

acríLico s/ madeira, 1976

72 73

N túnel do tempo iiacríLico s/ madeira, 1975coLecção do autor

homenagem a voltaire i MacríLico s/ madeira, 1976

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77MO terra mãeacríLico s/ madeira, 1977 76o raio verde

acríLico s/ madeira, 1976coLecção do autor

74 75

MP o joelho da astarteacríLico s/ madeira, 1977

N no dia em que vendi a alma ao diaboacríLico s/ madeira, 1977

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77MO cartaZ da exposição liquida-ção da existênciaVictor beLém e carLos barroco, 1977 77um grãoZinho de

loucura na mãe patria 1977

in JornaL sete

MP cenas da vida lisboetatexto de francisco beLard, 1977in JornaL diÁrio de notícias

N a grande pedradatexto de J.a., 1977in JornaL diÁrio de Lisboa

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78MO amor na praiacaixa c/ materiaL diVerso, 1978 78tenho pregos na cabeça

caixa c/ materiaL diVerso, 1978coLecção do autor

MP espelho falsocaixa c/ materiaL diVerso, 1979

N retrato do artista caixa c/ materiaL diVerso, 1976

78 79

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79pena de mortemanequim trabaLHado a fogo, 1979texto Victor beLém, 1979 79tortura

manequim trabaLHado a fogo, 1979

80 81

Penduram-te pelas unhas,

tiram-te as entranhas,

sugam-te o sangue,

abrem-te a cabeça,

encerram um relógio,

fazem-te um duplo,

metem-te na pele,

põem-te a gravata,

engraixam-te os sapatos,

dão-te corda

ESTÁS PRONTO!

RENDE-TE!

armário manifesto aberto.a todas as pessoas magnificamente vivas e sem desconfiaremtexto de Victor beLém, 1979in foLHeto “Pena de morte”

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76o príncipe e o mágicobanda desenHadatexto de JoHn fowLes e iLustrações de Victor beLém, 1976

82

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77restos leilão nacional, galeria opiniãocx c/ materiais diVersos, 1977 77pátria prenha N

obJecto em terracota, 1977

84 85

cartaZ “os sonhos da mãe-pátria-prenha na lixeira” M

1977

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sinoPse da acção:

As deambulações da mãe-pátria-prenha-

na-lixeira é o resultado de uma montagem

encontrada a boiar no mar da palha na

campanha de 38.

A obra foi descomposta tal como o provável

autor a vomitou, graças ao subsidio

generoso do GRUPO NACIONAL DOS AMIGOS

DO LIXO.

a caixa das memóriasENTREOITO aViso: qualquer semelhança existente entre os personagens desta estória e as pessoas ditas normais é intencional

A teia da estória é clara. Graças ao pó da

brancura presente no meio do entulho da

imprensa, o chefe , a igreja, a opulência, o

cão-tecnocrata e a miséria, são afogados

pelo lixo que eles próprios criaram. Só o

androgenita filho da poluição, que entretanto

aprendeu a comer papel, escapa com a

verdade, a CAIXA DAS MEMÓRIAS.

Nada de preocupante como se vê.

77

86 87

77os sonhos da mãe-pátria- prenha na lixeira9 fotogramas do desenVoLVimento Video-sonorizado, 1977

N estudos do projectotinta s/ PaPeL, 1977

os sonhos da mãe-pátria- prenha na lixeira

texto Victor beLém e rui mesquita, 1977fragmento do guião

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77projecto “anfíbio sonhador”exposição alternativa Zerotinta s/ PaPeL, 1977 77anfíbio na banheira N

PLÁstico trabaLHado a fogo, 1977

88 89

um ceLenterado Pois que não é um animaL mas um conJunto.

foi Pescado ao Lado dos açores no inVerno de 1975.

cuidado, este animaL é Perigoso. emite gases tóxicos.

a praxis sexual dos anfíbios estudo científico M

foto-montagem, 1977caPa do foLHeto de 4 PÁginas

dois aspectos da jaula onde o anfíbio foi exposto

na alternativa Zero O 1977

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77

90 91

a praxis sexual dos anfíbios - estudo científicoexposição alternativa Zero

foto-montagem, 1977foLHeto

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77M caixas da exposição verde a 5.120 angstromescxs c/ materiais diVersos, 1977 77caixas da exposição

verde a 5.120 angstromescxs c/ materiais diVersos, 1977

92 93

exPosição, instaLação e Performance que abordaVa o Verde como tema, reLatiVo aos sentidos.

interVieram nesta exPosição Victor beLém, carLos barroco, romuaLdo, fredie king, e outros.

N poster da exposição

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77o exército simbióticoLiVro de artista inacabado 77o exército simbiótico

PÁgina de abertura e dedicatória, 1977coLecção do autor

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78

96 97

projecto diaporama alexandre vivo ou mortofotos e estudos, 1978

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78o nascimento da pátria acríLico s/ madeira, 1978coLecção catarina Lareiro 78na palma da minha mão

acríLico s/ teLa, 1978coLecção do autor

98 99

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79o corpo como paisagem fotografia Pintada, 1979 79o corpo como paisagem

fotografia Pintada, 1979

100 101

Sei por experiência que não preciso procurar,

as coisas acontecem por si sem a minha interferência,

mas é como se a minha intuição não aceitasse essa Iógica,

realmente tenho de reaprender tudo,

eu estou sempre dentro e fora,

no fundo aquilo que sinto é que me transformei num coleccionador,

colecciono ideias, situações que recriam uma imagem em que eu

participo, tento reconstruir um puzzle que tem que ver comigo

as pistas... os sinais... são vagos para me darem segurança mas são

a única coisa que eu posso agarrar,

é uma questão de metodologia de estar vivo,

que é independente da minha tomada de consciência,

estou vivo porque estou livre a tentar intervir para perceber o

mistério da morte,

entre a maravilha e o terror de ser um homem,

sou um guerrilheiro que pratica a arte da solidão no meio dos outros.

O CORPO É A PAISAGEM DA VIAGEM

A LUZ O ORGASMO DAS CORES

texto de Victor beLém, 1979

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79“o deus impassível”

texto de cLifford simak

102 103

«Pergunto muitas vezes a mim próprio qual foi a razão por que

fomos esquecidos. Se os outros foram levados, porque foi a gente

desta casa esquecida por aquilo que os levou?

....................................................................................

Nos últimos séculos tenho sentido uma certa deterioração física e,

agora, há dias (como o de hoje) em que sinto o peso dos anos sobre

mim. Uma fadiga que não pode ser explicada pelo esforço usual,

porque nunca me esforcei demasiado. Nos últimos anos quase nada

tenho feito. Os meus passos reduzem-se a arrastar os pés, e a

minha mão, em tempos firme, perdeu muito da sua coordenação. A

escrita neste diário tornou-se em rabiscos trémulos. Há vezes em

que escrevo palavras que não são exactamente as que desejava,

mas são parecidas.

Sou como um velho cão a dormir ao sol, com a diferença de que os

cães velhos não esperam nada.»

corpo recortadoacríLico s/ madeira, 1979

coLecção do autor

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miLnoVecentos

e oitenta e noVe

miLnoVecentose oitenta

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De 1980 a 1982, desenvolve em pintura uma pesquisa em cores puras, relacionada com o fenómeno

óptico e a vibração cromática, realizando trabalhos de abstracção geométrica com predominância das

horizontais. Desta pintura nem sempre está ausente a linha de água e a composição em vários planos,

predominantemente provocados por justaposições cromáticas e, no final da fase, por pequenas barras

verticais apresentando por vezes impossíveis sombras.

Em 1981, estes trabalhos são expostos no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra («Ex-passos

imaginários») e na Galeria Dois do Porto («Meta-paisagens»). Realiza também a cenografia para a

peça de Jaime Salazar Sampaio, «O desconcerto», levada à cena pelo Teatro à Beira da Estrada, com

encenação de Glicínia Quartim.

Em 82, inicia uma série que expõe no ano seguinte na Galeria Diário de Noticias («Sacrários»), em

que à pesquisa anterior se vem juntar elementos hiper-realistas com inserção surrealista na composição:

são elementos predominantemente de um imaginário lírico ou irónico. De 82 datam também várias

pesquisas de captação de imagem em papel fotográfico, sem câmara. Os elementos hiper-realistas

passam a ser, em 83, objectos reconhecíveis em decomposição, elementos puramente gestuais, vestígios,

acumulação de formas e texturas. Neste ano trabalha igualmente em diaporama, e em fotografia

faz trabalhos com utilização de fotomontagem. Desta Fase, que se prolongará até 86, virá a expor

individualmente, em 84, trabalhos na Junta de Turismo da Costa do Sol, «Metamorfoses».

Entretanto, em 83, realiza uma exposição individual no Espaço-TEC em Cascais: «Percurso», 25 anos

de pintura e objectos, onde dá a conhecer o diaporama «Eu sou irmã de mim mesma», realizado a partir

de um auto-epitáfio do séc. XVIII.

Em 84, para além da exposição na Junta de Turismo Costa do Sol, participa com uma «instalação»

na colectiva «Anti-herói, maldito, marginal, etc. e tal», organizada pela Cooperativa Mandrágora, no

Espaço-TEC. Nesta colectiva projecta o diaporama dedicado a Mário de Sá-Carneiro, «Sótão».

Em 85, trabalha intensamente no diaporama «Pessoa versus Crowley» e participa com uma pintura

e o diaporama «Sótão» (transferido para vídeo), na exposição colectiva «Um rosto para Fernando

Pessoa» organizada pelo Centro de Arte Moderna. Entretanto prepara uma grande exposição de

intervenção que abrirá ao público num espaço do Centro Comercial das Amoreiras, com organização da

Galeria Olharte (Lisboa): «Projectos e objectos da cena nacional».

Durante o ano seguinte surge uma curta fase em que revisita a sua pintura expressionista, com uma

evolução rápida para urna expressão gestual de discurso lírico-narrativo. Expõe estes trabalhos em finais

de 86, na Galeria Olharte (Lisboa), numa homenagem a Fernão Mendes Pinto, da qual faz parte uma

«instalação», «Peregrina nação».

Em 86 participa ainda na III Exposição da Fundação Gulbenkian, no sector da Fotografia, com um

trabalho de «módulos» fotográficos, com variações sobre composições de detritos, isolados nos seus

valores de manchas plasticamente significantes (duas pinturas e dois objectos de «intervenção», «A

Pátria embrulhada em cadeira de rodas» e «O filho da Pátria-cortado-ao-meio», foram recusados).

Neste ano passa a trabalhar também em vídeo.

Em 87 inicia o ciclo «Escavações», com a «série negra»: numa pintura em que utiliza apenas os

valores de negros, cinzentos e alguns brancos, reúne pesquisas anteriores da fase dos plásticos - a

organização do espaço aparece claramente conotada com as «caixas-objecto», utilizando como ponto

de referência as “valas” abertas nas escavações arqueológicas, estando no entanto a composição central

mais próxima das texturas e do gesto da pintura com relevos em plástico.

A segunda série deste ciclo, que se desenvolve recorrendo à utilização da cor, «Arqueologias»,

apresenta a conjugação dos vários elementos numa clara continuidade de pesquisa, destacados sobre

«corte» arqueológico, em que o solo, de cores texturadas, recupera a composição em faixas horizontais:

a «janela» de arco-perfeito, limiar de viagens iniciáticas a ilhas muito distantes, é substituída por

«moldura» rectangular invertida, a qual, sob a linha da terra (terra-mãe ou água), delimita e distancia

do espectador vestígios de leitura polivalente.

Em 87/88, provavelmente terminado o ciclo «Escavações», expõe individualmente com o titulo

«Arqueologicamente», na Galeria Tempo (Lisboa), na Cooperativa Árvore (Porto) e no Círculo de Artes

Plásticas de Coimbra.

«Sempre fui um pintor realista ao longo do meu percurso; apenas o meu ângulo de visão se

modificou: da realidade em espelhagem imediata dos primeiros trabalhos, à realidade mágica por detrás

do espelho dos trabalhos actuais.

A minha pesquisa consistiu em tentar tornar o espelho tão transparente como o vidro de uma janela

sobre o desconhecido. É voando em espiral sobre o labirinto, com as asas que Ícaro me empresta ou

seguindo o fio que Ariane me dá, que tento reencontrar o Minotauro que me foi destinado.» (Catálogo de

«Per-cursos», TEC, 1983.)

anos 80(cont.) Percurso de Victor beLémtexto de graça garcia, maio 1988in catÁLogo “Victor beLém, 1958-1988”

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??naufrágioacríLico s/ cartão, 1981coLecção mariana PardaL monteiro 81

108 109

COMO QUASI NOS PERDEMOS NA ILHA DOS LADRÕES

depois que nos partimos desse reino, aos desasseios

de um qualquer mês, nos chegámos ao reino dos cafres.

aí nos pusemos nus, para os gentios compreenderem melhor a

missão que aí nos levava.

um deles, nem por sombra o de melhor aparência, pareceu-nos

o chefe, por seus modos decididos, e a ele nos dirigimos, connosco

levando dos nossos apenas os de melhor experiência, de que o pobre

de mim fazia parte.

o chefe tinha uma pluma vermelha que lhe envolvia

a cabeça média, saindo da base do nariz e passando entre

os olhos e as barbas diligentemente entrançadas e adornadas por

falangetas nas pontas e o corpo envolvido em deliciosos panos

estampados e no peito uns bentinhos que davam sinais de recentes

colonizações.

por diversos sinais fizemos-lhe compreender nossas intenções

pacíficas e desinteressadas, que o cafre pareceu entender mas não

dar provimento.

antes reuniu de um gesto de mão, e a seu lado outros tantos a

ele iguais, e por Santiago dele parecendo cópias

que nos apontavam suas frechas.

a este golpe de estranha mágica ficaram alguns dos nossos com

os cabelos eriçados temendo pela nossa soltura.

e isto foi sinal de imenso regozijo para todos eles.

dirigiu-se então um de nós em brandas e maviosas falas

a toda a gente, explicando com o auxílio de esquissos,

as coisas que a nossa ciência nos ditava, e as lacunas que

as marítimas cartas ainda possuíam, dizendo-lhes de que parte

demandávamos e do interesse científico que um encontro como este

poderia para todos levantar.

com grande surpresa nossa, respondeu um dos cafres, numa

língua desembaraçada em todo à nossa semelhante.

que ali onde nos encontrávamos só eram bem acolhidos aqueles

que em tudo aos cafres são iguais.

e que não entendiam as motivações que nos obrigavam àquele

lugar em especial termos arribado, nós gentes também humanas,

porém em hábitos e pensamentos tão diversos.

razões totais que levavam o conselho dos cafres a logo

à partida nos banir para sempre.

diário da borda

diário da bordatexto dede Victor beLém e rui mesquita, 1986in “Peregrinacão”

como chegámos à cidade de pequim, na prisão em que nos meteram e do que nela passámos.

acríLico s/ teLa, 1975/81coLecção fernando marques da costa

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83exposições de artetexto de J. d’e., 1983in JornaL costa do soL – cascais 85projecto caixa de plástico para

banda desenhada em 3dPasteL sobre cartoiLina, 1985

110

a influência da bd

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80

112 113

anamorfosefotos do ProJecto anamorfose, 1980

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80M poster franken stein em lisboa1979/80coLecção do autor 80franken stein na cee

fotografia, 1980

114 115

N capa e contracapa da peça franken stein em lisboatrama a Preto e branco, 1979/80coLecção do autor

NP poster franken stein em lisboa Pesquis ar(te), 1979/80coLecção do autor

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80astarte

texto de Victor beLém

116 117

a ti

astarte

senhora das minhas horas

a ti

oh: mãe terra-humus gaea-hera

força estrume de nós

a ti

oh! cálice

morte afrodisíaca da minha humildade

a ti

oh! desconhecida década do infinito

eu brindo a minha gratidão.

paisagens do planeta astartefotografia e coLagem, 1980

coLecção do autor

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81pablo – homenagem a picassofotografia e coLagem s/ madeira, 1979/80coLecção HeLena garrett

118

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80estudo cromático progressivoacríLico s/ PaPeL, 1976/80 80

120

o Jogo das cores é a Humanização

entre o reaL e o imaginÁrio entre a coisa e a anti entre o que é e o que é

Por isso cada Leituraé tão VÁLida como a minHano Jogo de Pensar

que é a Pinturasou quando muito

o que Lança os dadosque Podem ProVocar ou inVocar o que cada um Lêentre aquiLo que eu quero dizer e o resuLtado

estÁ o outro e o mistério

o jogo das corestexto de Victor beLém, 1981

estudo cromático c/ correspondência musicalacríLico s/ PaPeL, 1980

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80MO picos da atlântidaacríLico s/ teLa, 1980 80verão

acríLico s/ teLa, 1980coLecção do autor

122 123

MP o espírito da lagoaacríLico s/ teLa, 1980

NO sol tetraédricoacríLico s/ teLa, 1980

NP sol dodecaedroacríLico s/ teLa, 1980coLecção ana PaLmeiro

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80M lucidamenteacríLico s/ teLa, 1980 81smog P

acríLico s/ teLa, 1981coLecção mÁrio beLém

124 125

N amanhã seracríLico s/ teLa, 1980

aZul, aZul OacríLico s/ teLa, 1981

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81MO salinasacríLico s/ teLa, 1981 81o postigo N

acríLico s/ teLa, 1981

126 127

MP shangriláacríLico s/ teLa, 1981

N amanhe seracríLico s/ teLa, 1980

o veneno do vicente MP

acríLico s/ teLa, 1981antes da palavra ii MO

acríLico s/ teLa, 1981

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81auto retratoProVa de contacto, 1981 81janela

acríLico s/ teLa, 1981coLecção mariana PardaL monteiro

128 129

O meu percurso foi feito

na prática do jogo da pintura.

Os meus mestres foram todos

os que tinham alguma coisa

para me dar.

Na permuta com o Outro, vou

encontrando o meu rasto

no caminho.

Um pintor é um achador

das charadas escondidas

no per-curso do tempo.

Sou um apaixonado achador de

charadas há vinte-e-cinco anos.

Desde então o que mudou

foi a minha abordagem

da charada.

A charada é comum a todos

nós.

Na decifração dela, a minha

leitura é tão válida como

a do Outro.

Esta exposição é uma

amostragem dos caminhos

percorridos no labirinto

da pintura.

Alguns dos trabalhos expostos

são apenas registos de

passagens entre eles.

Sempre fui um pintor realista ao

longo do meu percurso; apenas

o meu ângulo

de visão se modificou;

da realidade em espelhagem

imediata dos primeiros

trabalhos, à realidade mágica

por detrás do espelho

dos trabalhos actuais.

A minha pesquisa consistiu

em tentar tornar o espelho tão

transparente como

o vidro de uma janela sobre

o desconhecido.

É voando em espiral sobre

o labirinto, com as asas

que Ícaro me empresta

Ou seguindo o fio que Ariane

me dá,

Que tento reencontrar o

Minotauro que me foi destinado.

a charadatexto de Victor beLém, 1983

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83per-curso de belémtexto de manueLa de azeVedo, 1983in JornaL diÁrio notícias 82cavaleiro ibérico

acríLico s/ madeira, 1982

130 131

per-curso de belém

mala de porãomateriaL diVerso, 1983

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81O poster para a peça de teatro “o desconcerto” de Jaime saLazar samPaio, 1981 81N epitáfio do séc. xviii

bibLioteca nacionaL

132 133

foi encontrado na bibLioteca nacionaL um auto-ePitÁfio que PeLo insóLito dos seus dizeres nos remeteu imediatamente Para fernando Pessoa.

este foi o Ponto de Partido Para um Pequeno diaPorama que efectuado sobre o tema “eu sou irmã de mim mesma”.

P estudos para figurino e cenário da peça “o desconcerto” de Jaime saLazar samPaio, 1981

M eu sou irmã de mim mesma diaPorama, 1981

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81sequência de ondasfotografias, 1981 81extractos geológicos

acríLico s/ madeira, 1981

134 135

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85M convites da exposição “projectos da cena nacional”PaPeL seLado, 1985 85

136 137

a lucia na presidênchiaNO carta aos paistinta s/ PaPeL, 1985

NN bandeira grávidacartão aramado, 1985

NP poster da exposição “máscaras”foto-montagem, 1985

lançamento da candidatura da irmã lúciaPoster, frente e Verso, 1985

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84M poster anti-herói maldito marginalexPosição esPaço tec-cascais, 1984 84sotão

fotogramas da ProJecção de sLides, 1984

138 139

N poster a anunciar projecção de slides “sótão” suicídio de mÁrio de sÁ-carneiro, 1984

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84estudos a tv dos pobrestinta s/PaPeL, 1984 84

140 141

a tv dos pobres

a tv dos pobressombras a Partir de re-organização

de um mesmo Lixo, 1984

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86M o filho da pátria cortado ao meiomanequim e Lixo, 1986ProJecto recusado

86PÁtria Prisioneira em cadeira de rodas Nmanequim e Lixo, 1986

ProJecto recusado

142 143

terceira exPosição da fundação guLbenkian, 1986

foi aceite o trabaLHo do Lixo no sector da fotografia e foram recusados os dois obJectos de interVenção “PÁtria embruLHada em cadeira de rodas” e “o fiLHo da PÁtria cortado ao meio”

N o filho da pátria c ortado ao meiomanequim, 1986coLecção do autor

PÁtria Prisioneira em cadeira de rodas M

manequim e bandeira, 1986coLecção do autor

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85escavações vii

acríLico s/ madeira, 1985

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85escavações viacríLico s/ madeira, 1985 85escavações iii N

acríLico s/ madeira, 1985

146 147

ilha aZul MacríLico s/ madeira, 1985

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85M colunas de hércules iacríLico s/ suPerfície PLÁstica. 1985 85colunas de hércules iii N

acríLico s/ suPerfície PLÁstica. 1985

148 149

N colunas de hércules iiacríLico s/ suPerfície PLÁstica. 1985

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87MO hidraacríLico s/ madeira, 1987 87o guarda do limiar

acríLico s/ madeira, 1987

150

A expressão plástica pode e é frequentemente meio confessional

dos percursos vitais de muitos artistas. Estas arqueologias são

por analogia referenciáveis às escavações que Victor Belém vem

desenterrando da sua memória, buscando sentido, sentidos,

perguntas e respostas interpretativas para o ser que vai buscando

e construindo. Tendo partido do caos para uma viagem pessoal e

iniciática e do lixo, como primeiro momento da cultura material

humana, procurou reunir pedaços de coisas que não são coisa

nenhuma. Victor Belém tomou como pretextos estes fragmentos

e organizou formas de exploração plástica, em cinzentos

e negros despojos assombrados.

Pelas agonias dos espaços, pintura em trevas entre camadas

sucessivas de detritos irreais, onde se adivinhava a lógica e a

afirmação de uma arte pobre. Perdidos e achados, sugestões de

objectos ou elementos dos mesmos representavam um voluntário

holocausto, campo de concentração interior, Hiroxima e The Day

After.

Na ressaca da turbulência surgem-nos agora novas escavações

no inconsciente. Mais organizadas contêm-se em rectângulos de

ouro, em que a linha de terra divide o quadrado cénico. Emoldurados

e reemoldurados por uma barra, num vigor fundamentalmente

monocromático e denso de texturas, comprazem-se nalgum silêncio,

amálgamas e entendimentos do acaso que o gesto impõe.

Onírico e também não, subtil e figurativo, Victor Belém

concentra-se em conjecturas provenientes do desbaste das diversas

camadas de terra, anunciadas pelas riscas horizontais onde pulsa a

vida dos estratos geológicos. A expressividade dramática da presença

subterrânea dos elementos retirados tem o seu paralelo nalguns

títulos sugestivos das obras expostas e equilibra-se com o lirismo

que noutras tantas se patenteia.

O tratamento cromático da superfície da madeira exprime-

se em gamas de cores, terra e nalgumas complementares de

fraca tonalidade de luz. O espaço aéreo é todavia um elemento

preponderante e dialogante. Fundo sobre a forma e forma sobre

um fundo, os planos sucedem-se numa clara articulação do espaço

tridimensional.

Cada arqueologia é um caminho, campo do imaginário donde

Victor Belém parte para a luz, para a cor, enfim para a vida.

MM os despojos dos deusesacríLico s/ madeira, 1987

MP goyaacríLico s/ madeira, 1987

arqueologiastexto de madaLena braz teixeira, 1987in catÁLogo “arqueoLogias”

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83MO estudo geométricocoLagem s/ cartão, 1983 82aparição geométrica

acríLico s/ madeira, 1982coLecção mÁrio beLém

152 153

MP madrugadas de insóniaacríLico s/ madeira, 1983

N o espião de deuscoLagem s/ madeira, 1983coLecção mÁrio beLém

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85anotações s/ o princípio vesica piscis

madeira e LÁPis de cera, 1982

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82projecto grandes amorososLimão e cenoura, 1982 82grandes amorosos

amantes ii N

acríLico s/ madeira, 1982coLecção HeLena garrett

156 157

grandes amorosos amantes i MP

acríLico s/ madeira, 1982

grandes amorosos amantes iii MO

acríLico s/ madeira, 1982coLecção graça queiroz

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82estudo para projecto da série grandes amorosos tinta s/ PaPeL, 1982 82maqueta de instalação

da série grandes amorosos acríLico s/ cartão, 1982

158 159

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82analogiascaixa c/ obJectos diVersos, 1982 82a criação do mundo

caixa c/ obJectos diVersos, 1982coLecção do autor

160 161

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82o ataque à culturacoLagens, 1982

162

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84M lixo na praia iacríLico s/ madeira, 1984 84lixo na praia iv N

acríLico s/ madeira, 1984

164 165

N lixo na praia iiacríLico s/ madeira, 1984

lixo na praia iii MacríLico s/ madeira, 1984

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84auto de mofina mendes

fotogramas, 1984

166

Partindo do interesse PeLa banda desenHada HouVe uma intenção de criar, atraVés das foto-ficções, determinadas Peças de teatro de giL Vicente, de forma a serem comPreendidas mais faciLmente.

este ProJecto foi iniciado com o “auto de mofina mendes”, que não cHegou a ser concLuído.

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82o papel como suporte

tinta da cHina s/ PaPeL, 1982

168 169

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88improvisação s/ a morte

de osíris e o poderfotogramas, 1988

170 171

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89o ocaso do escudo

acríLico s/ cartão e coLagem, 1989

172

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miLnoVecentos

e noVenta e noVe

miLnoVecentose noVenta

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Nos anos 90, Victor Belém retoma a pintura figurativa com uma série de alegorias a deuses e mitos,

com realce para a figura principal representada na tela, coberta de adereços míticos, como é o caso da

Afrodite com cabeça de pérola.

Neste seu trabalho, a pintura revela algumas diferenças, notando-se uma pincelada larga, e as

figuras surgem cristalizadas remetendo à mãe natureza o esplendor fossilizado desses elementos

ancestrais.

Podemos também referir o seu quadro “Homenagem ao pintor Luís Dourdil”, em que Victor Belém

estabelece um primeiro plano de cristais e elementos aquáticos em contraponto com a simbólica

utilizada na parte superior da tela, que representa o espírito dos pintores mortos regressando ao mundo

dos deuses

Em 1994 mergulha na série “Ilhas e outros Achados” e, evocando José Jorge Letria, estamos perante

“um diário de bordo onde os objectos que dão à costa são instantes de muitas viagens que afinal

pertencem a uma só viagem”.

É na continuação desta viagem solitária à procura das suas ilhas distantes e muitas vezes perdidas,

atravessando as “brumas” em direcção ao oculto, que surge uma série de pinturas monocromáticas

reveladoras desse horizonte sem fim.

É esta busca, que gera rupturas interiores para um caminho iniciático, que o leva à execução de um

altar a que chama “um altar para os nossos filhos”, feito com objectos que dão à costa.

Em 1995, retoma o trabalho já iniciado dez anos antes com os diaporamas a que chama foto-ficções,

estabelecendo uma série de diálogos com os nossos poetas.

Com Camilo Pessanha, o poeta do simbolismo por excelência, Victor Belém faz uma releitura dos

valores plásticos. Este seu trabalho abriu um outro campo de intervenção, originando um ciclo de

“conversas” sobre o poeta, e lançou um novo olhar sobre um vasto universo estético.

Em 1996, expõe esta série na Fundação Oriente em Macau e na Caixa Geral de Depósitos em Lisboa

e, em 1999, na Galeria D. Luís em Cascais.

Este enriquecimento plástico leva Victor Belém a desenvolver um outro trabalho de pesquisa,

propondo uma nova leitura do Labirinto e os seus personagens, como se de uma Via Sacra se tratasse.

Teseu quando tenta liquidar o Minotauro percebe que ele faz parte da sua própria identidade.

Em 1996, termina o seu longo trabalho de pesquisa com uma colecção de 52 fotografias a que

chama “Pessoa versus Crowley”, confrontando o poeta e os seus heterónimos com os personagens

criados por Aleister Crowley no seu caminho mágico.

Para o aprofundamento desta foto-ficção muito contribuíram as várias montagens de exposições

oficiais sobre Fernando Pessoa, efectuadas em Portugal e no estrangeiro, e a realização do vídeo “O

Teatro do Ser” da autoria da Prof.ª. Teresa Rita Lopes, em que Victor Belém colabora a nível do guião e

realização. Este vídeo foi encomendado no âmbito da Lisboa 94.

Ainda em 1996, “Pessoa versus Crowley” seguiu um percurso de várias exposições, da Casa Fernando

Pessoa à Quinta da Regaleira, e serviu como pano de fundo para um encontro internacional com vários

especialistas de Fernando Pessoa e A. Crowley, organizado no Museu Conde Castro Guimarães, em

Cascais.

anos 90texto de HeLena garrett, setembro 2008

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90afrodite

acríLico s/ teLa, 88/90coLecção museu santos rocHa

figueira da foz

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90O regresso dos deuses iacríLico s/ teLa, 1990 90regresso dos deuses iv P

acríLico s/ teLa, 1990

180 181

«A zoina silva sobre mim despedaçadamente».

(De uma das últimas cartas de Mário de Sa-Carneiro)

A sua primeira exposição foi no ano já tão distante de 1958 -

trinta e dois anos à velocidade a que o mundo se agita, equivalem

realmente a quantos séculos?

Este Victor Belém parece uma caverna plena de estalactites

e estalagmites, e tantas são e tão diversificadas, que não me é

possível a visão, a compreensão clara, que me é solicitada. Perco-

me no labirinto, confesso-o desde já.

Mas o que me parece inegável é que nasceu um pintor no ano de

1938, apesar de que, naturalmente, nunca mais se devia ter pintado

depois dos «ready-made» de Duchamp, ou mesmo depois das

manchas de tinta de café de Victor Hugo. Ou depois dos terramotos

de Monsú Desiderio. Ou, por certo, depois de Hieronymus Bosch

ter perturbado com os seus mascarados a clara luz matemática,

emanada por Leonard da Vinci.

Felizes são os que se libertam com uma simples revolução. É

preciso não esquecer que há também prisioneiros da sua própria

liberdade.

Os olhos (e a inteligência) dos pintores são ávidos como

a boca das feras, esses tão dóceis instrumentos da respiração do

mundo. De resto, é talvez na enormidade do fracasso, que está a

enormidade do criador. Nenhum criador jamais disse ou mostrou a

realidade, ou o seu oposto; o que disseram ou mostraram foi a sua

(e a nossa) grandeza, foi apenas a impossibilidade de o homem

ter acesso à realidade ou ao seu oposto. Evidentemente que sei

(sabemos) que não há definições eternas, e o que aqui fica não tem

nada a ver com definições.

Abreviando, e porque o Victor Belém fala de surrealismo, cabe

perguntar de novo se ser surrealista é ter lido aplicadamente todo o

Breton; ou se é surrealista aquele que quer ser surrealista. De outra

maneira se poderá ainda perguntar, por exemplo, porque se é neo-

realista, quando parece evidente que a grande culpa não advém de

nenhuma ordem social, mas da inteligência ou não inteligência

da humanidade ou do indivíduo. «Toute conviction est une maladie»,

diz-nos Picabia. E é cada vez mais indiscutível, infelizmente, que

tudo o que vamos fazendo é reflexo imediato da obra de Picasso, de

Chirico, de Pollock, etc., e muito raramente é reflexão.

A grande dúvida instalou-se ao nosso lado, dia e noite, desde

que o romantismo coroou as nossas cabeças. Disso dá notícia esta

pintura que passou próximo do ex-voto e parece a todo o momento

P regresso dos deuses iiacríLico s/ teLa, 1990

regresso dos deuses iii OacríLico s/ teLa, 1990

s/ títulotexto de cruzeiro seixas, 1990in catÁLogo “anamnésia”

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90O regresso dos deuses vacríLico s/ teLa, 1990 90 anamnésia iii NP

acríLico s/ teLa, 1990

182 183

que a ele vai voltar. É certo que por algum tempo viveu entre

arcadas, lembrando-se talvez do «Chorai arcadas convulsionadas»

de Camilo Pessanha. E há também marcas de densas florestas

secretas, e vulcões representados como triângulos pousados sobre a

linha do horizonte, onde só velejando se poderá chegar.

Naturalmente que esta espécie de naufrágio «non stop»,

naufrágio em lágrimas ou no mar («Ó mar salgado, quanto do teu

sal/são lagrimas de Portugal!), diz Fernando Pessoa na Mensagem),

advém não tanto da intriga que se tece à volta da falta de espaço,

mas de se estar sempre tão longe do mundo. Trata-se aqui, ao que

julgo, ainda e sempre, de uma tentativa de reconhecimento do que

somos. Soma-se a altura pela largura dos olhos, e dá isto. Estamos

a alinhar símbolos nas prateleiras do infinito. A referência que temos

é este relógio, que em vez de números tem o abecedário no

mostrador. Quanto mais dados arquivamos menos sabemos, e isso

parece ser, estranhamente, toda a nossa riqueza ...

Julgo que o que fica dito tem algo a ver com o Victor Belém.

Estas telas, que agora aqui se expõem, lembram-me gares

do caminho-de-ferro, a sua luz baça, o ranger dos rodados, o metal

no metal, toda a dissonância desses locais de desencontros. Depois

do túnel avista-se Sagres, com as falésias procurando abrigo,

milhares de seres. Alguns vão partir, tendo na ideia a descoberta da

Índia ou do Brasil. E são perturbadores no seu movimento incessante

e, tanto que, contagiado, parto também para uma outra gare do

caminho-de-ferro, onde está a necessária e urgente retrospectiva da

obra de Victor Belem.

Sei que há uma grande distância entre aquilo que o público vê

numa tela e aquilo que o pintor lá pôs - ou quis pôr. Mas também

sei que Duchamp diz que «ce sont les regardeurs qui font les

tableaux» . E eu sou, apenas, um «regardeur».

P regresso dos deuses viacríLico s/ teLa, 1990

anamnésia ii NO

acríLico s/ teLa, 1990anamnésia i M

acríLico s/ teLa, 1990

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94tríptico labirinto

acríLico s/ teLa, 1994 coLecção misericórdia de cascais

184 185

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92O anamnésia ivacríLico s/ teLa, 1992coLecção aida sousa dias 92anamnésia vi

acríLico s/ teLa, 1992coLecção antunes ribeiro

186

achados do mar, achados da alma

Para Victor Belém, a viagem é uma vocação, um destino, uma

paixão. Isso reflecte-se na sua maneira de pintar, sobretudo na sua

forma de entender a pintura, estando consciente de que ela é uma

ficção que teima em tornar-se realidade quando a alma de quem

pinta é tão grande como o próprio sonho da pintura. Se não estou em

erro, foi Picasso quem disse, algures, que a arte é uma mentira que

permite ver a verdade.

A viagem de Victor Belém já se cumpre há mais de três

décadas, representando a corajosa assunção de duas componentes

fundamentais: por um lado a expressão poética e intimista e, por

outro lado, o compromisso cívico que o leva a intervir e a querer

transformar a realidade. Na harmonização dessas duas vertentes

há, por vezes, uma certa teatralidade, a que não será alheia a sua

experiência com o palco, iniciada em meados da década de sessenta

e entretanto aprofundada com várias “instalações”, de há vinte anos

a esta parte.

A viagem de Victor Belém é o périplo de quem nasceu gémeo do

mar e de quem nunca quis libertar-se desse destino. Ser cativo do

rumor das ondas e da fúria das mares é uma sina inescapável, que

marca todo o percurso criador de quem quer transformar a memória

em arte e emoção em vida.

P anamnésia vacríLico s/ teLa, 1992

achados do mar, achados da almatexto de José Jorge Letria, 1994in catÁLogo “iLHas e outros acHados”

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90aos pintores mortoshomenagem a luís dourdil díPtico, acríLico s/ teLa, 1990coLecção câmara municiPaL de cascais

94anamnésia viiacríLico s/ teLa, 1994

188 189

“Ilhas e Outros Achados” é o feliz “diário de bordo “ de um

marinheiro da alma, e os marinheiros da alma são sempre ilhas de

afecto, de lembrança e de reencontro, na grande rota que é a mão

do homem sobre a tela, ou a iluminação da palavra sobre a página.

Neste “diário de bordo” de Victor Belém cabem conchas, limos,

fragmentos de mar, pequenas pedras que a maré devolveu à praia.

São instantes de muitas viagens que, afinal, pertencem a uma só

viagem: aquela que o artista faz até

ao âmago do seu instinto criador.

Os seus deuses, reais ou inventados, os seus altares,

os seus rituais, os seus tronos de bruma ou de espuma

são apenas fragmentos de um teatro da alma que elege

a tela como palco para se cumprir.

Aplica-se à arte de Victor Belém aquilo que Oscar Wilde escreveu

em “O retrato de Dorian Gray”: “Qualquer retrato que se pinta com a

alma, é um retrato, não de modelo,

mas do artista”. De facto, é o retrato do artista que está

presente nestes trabalhos. O retrato do homem, da viagem que

incessantemente o fascina e desafia, do mar, que é matriz, destino e

rota de retorno, da ilha que é, afinal a eterna solidão de quem cria, e

ainda do próprio acto de criar, que é,

ele próprio, a viagem absoluta: aquela que leva o criador

até ao fundo de si mesmo.

Os “Achados” de Victor Belém, são verdadeiros achados

da alma. São achados de um marinheiro da alma que sabe que a

viagem só termina quando o homem sente que está próximo de se

encontrar. No mar ou na memória dele.

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99MO brumas iacríLico s/ teLa, 1999 99paisagem cinZenta

acríLico s/ teLa, 1999

190

MP brumas iiacríLico s/ teLa, 1999

NO brumas iiiacríLico s/ teLa, 1999

NP brumas ivacríLico s/ teLa, 1999

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98

192 193

um altar para os nossos filhosaLtar-obJecto, desPerdícios PLÁsticos

trabaLHados a fogo e tinta acríLica, 1995/98

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94caça

caixa com areia e materiais diVersos, 1994

194 195

maré vaZiacaixa com areia

e materiais diVersos, 1994

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96hiram i, ii, iii

acríLico s/ teLa, 1996coLecção grémio Lusitano

196 197

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o percurso de victor belémtexto de dórdio guimarães, 1996in catÁLogo “conVersas com camiLo PessanHa”

96

198 199

Percurso singular o de Victor Belém. Objectal, abjectal, acasional. Lírico,

metafísico, iniciático? Perguntador lunático, utopista do rigor. Sempre o foi e

assim continua. Mercê da imaginação surpreendente que o dota.

Nesta exposição, marcada pela personalidade e obra fascinantes de

Camilo Pessanha, avulta a captação de uma mística delicada de memórias de

seda, de fumos e de botânicas. Assim, as flores orientais que ornamentam a

atmosfera da lírica onde decorre a vivência do poeta convertido ao aceno de uma

religiosidade diferente. Assim, as idílicas figurações das mulheres do seu estro,

as silhuetas dos perfis do amor (Ana de Castro Osório, a mãe, outros). Assim, a

finura insinuante dessa distante e intemporal Macau, redentor purgatório

da terra mater.

camilo pessanhafoto-ficções c/ sombra cHinesa, 1996

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As atmosferas conseguidas, muito originais e subtis que envolvem a

“Clepsidra”, estão transpostas para o universo visual de Victor Belém com urna

densidade críptica e filigranada (nimbadas com um tempero de Arte Nova e de

Klimt, até) que rescende a opiários e seus transportes e elevações.

Victor Belém, na sua ânsia de encontrar novas substâncias plásticas e

poéticas, entra num inspirado frenesi de sobreposições e sínteses de matérias,

para delas obter alternâncias de sensações sensuais e ascéticas.

96

200 201

camilo pessanhafoto-ficções c/ sombra cHinesa, 1996

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97via-sacra labirintica

texto de Victor beLém, 1997in foLHeto “Via-sacra...”

202 203

via-sacra labirinticaCada um tem a Via-Sacra que merece. A minha é labríntica.

Sempre foi. Desde a primeira vez que acordei no escuro e perguntei

de onde vinha e para onde ia. Há sempre uma Ariane que me

Espera, reclinada no meio dos meus sonhos aflitos, e que me ajuda

a cumprir a minha sentença de estar vivo. Através do fio da vida

que ela me empresta de cada vez que me perco, vou tacteando as

entradas mais recônditas da minha alma.

Quarenta anos já cumpridos desde a primeira vez que defrontei o

Minotauro, reconheci, no meio do sufoco do sangue em golfadas, que

ele era eu. Encontrei o caminho para o covil da Besta que acabei por

domar, encapsular e alimentar através da teia urdida. Os ex-votos

marcam o caminho da minha identidade na parte da gruta explorada.

Sei que a Verdade chegará na hora da minha morte e irá cobrir a

minha tumba.

labirintofoto-ficção, 1997

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97labirinto

foto-ficção, 1997

204 205

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No dia 2 de Setembro de 1930 chega a Lisboa, no navio

Alcântara, o “Mago Negro” Aleister Crowley, acompanhado

da sua mulher “escarlate”, Hanni Jaeger.

Vinha a Lisboa a convite do poeta Fernando Pessoa que

o foi esperar ao cais.

Segundo dados conhecidos, F.P. e A.C. encontraram-se pelo

menos cinco vezes durante a estadia do Mago até à simulação de

suicídio deste, na Boca do Inferno.

Este trabalho pretende ser a reconstituição do encontro

imaginário entre os dois personagens: Fernando Pessoa (Mago

Branco) que, na sua via alquímica tinha vencido o Mundo

e o Corpo, teria ainda que vencer o Demónio.

Terá sido este, provavelmente, o motivo do encontro que foi

provocado pelo poeta, de dois homens que seguiam vias

de ocultismo opostas.

É óbvio que o “Mago Branco” ganhou. Daí a morte alquímica do

“Mago Negro” na Boca do Inferno.

Sobre este encontro F. Pessoa não guardou nada no seu

espólio mas há, pelo menos, a prova da sua tentação pela mulher

“escarlate” no poema escrito dois dias depois

de um encontro com o Mago e a sua companheira.

mago negro contra o mago brancotexto de Victor beLém, 1998in LiVro “Pessoa Versus crowLey”ed. casa fernando Pessoa

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98pessoa versus crowley

foto-ficção, 1998

208 209

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98pessoa versus crowley

foto-ficção, 1998

210 211

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doismiL

e oito

doismiL

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Nos anos 2000, à semelhança dos trabalhos efectuados no início dos anos 90, faz nascer toda uma

série de pinturas – Fadas e Elfos, Barcos e Piratas, Aparições e Mutantes – que acabam por conduzir a

uma espécie de paraíso perdido.

A materialização dos seres que protegem a natureza é recriada como um conto de fadas, num mundo

de inocência em que se acredita na capacidade de mudança do novo Homem, na nova Terra, no novo

milénio.

É nesta procura de um mundo puro e inocente que, em 2004, Victor Belém executa a mais longa

série de pinturas de carácter gestual, aproximando-se da natureza como um acto de purificação,

devolvendo à terra o seu estado inicial. Esta série de pinturas foi exposta na Galeria Fonseca Macedo, em

Ponta Delgada, e, no ano seguinte, na Galeria Artela em Lisboa.

Esta nova atitude conduz a dois processos criativos distintos: um primeiro tem a ver com a paragem

do gesto pictórico e o regresso à pintura semelhante ao «dripping» dos anos 60, o outro com o

desenvolvimento de objectos de intervenção política, sempre tão constantes ao longo da sua obra, como

denúncia imediata dos falsos dogmas sociais e culturais, como bem faz notar Rocha de Sousa no seu

artigo de abertura deste catálogo.

Esta necessidade de “gritar”, a fórmula utilizada – “É proibido pensar” – ilustram claramente o “lixo”

de um mundo globalizado. As suas peças de intervenção – “O Porão B Paquete Europa”, “O Monstro

Autofágico”, “ Ministra robótica enquanto jovem” –reflectem bem as “amarras” que nos prendem

enquanto sobreviventes, num mundo em que tudo se faz em nome do desenvolvimento global.

Os seus objectos de intervenção fizeram parte de várias exposições: 2006 “Projectos e Objectos da

Cena Nacional”, Galeria Josephus, Lisboa, 2007 “Esta é a ditosa Pátria Minha Amada”, Centro Cultural da

Malaposta, Odivelas, e Lavandaria do Hospital Termal, Caldas da Rainha.

E, citando Victor Belém, “Cada ser coordena o seu equilíbrio e é capaz de decidir o caminho que leva à

verdade de si, logo ao equilíbrio do planeta”, e só com esta atitude se poderá transformar a “casa” que é

de todos nós.

anos 2000(cont.) texto de HeLena garrett, setembro 2008

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00fadas e elfos i

acríLico s/ teLa, 2000

216 217

estórias para os meus amigos

Quando eu era criança, as estórias que me contavam eram reais e verdadeiras. E quanto mais fantásticas e maravilhosas, mais naturais

me pareciam. Era no tempo em que os animais falavam, as fadas e os génios viviam em toda a parte e tinham o poder mágico de tudo tornar

possível, e, poder não menos importante, feliz. Não é que não houvesse bruxas e génios maus, mas parecia que existiam apenas para pôr à

prova a lindíssima chuva de estrelas que a fada desenhava no ar com a sua inseparável varinha.

E o mundo todo, animado por tão extraordinários seres, transformava-se segundo os meus desejos, de maravilha em maravilha,

eu próprio já mago, duende e génio.

Desnecessário será perguntar a uma criança se gosta de estar viva...

Entretanto, muitos séculos se passaram. Os homens levaram muito tempo a tomar consciência de que o caminho de cada um é pessoal

e intransmissível, e, qual estória fantástica, não lhe conhecem o fim.

Suponho que seja a criança que teima, misteriosamente em não nos abandonar que me faz continuar a amar a vida.

E, se a escutar bem (tarefa essa difícil), talvez também passe a amar a morte.

fadas & elfoshomenagem a fátima coimbratexto de Victor beLém, 2002in catÁLogo “fadas & eLfos”

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00M fadas e elfos iiacríLico s/ teLa, 2000coLecção mariana PardaL monteiro 00fadas e elfos v N

acríLico s/ teLa, 2000

218 219

N fadas e elfos iiiacríLico s/ teLa, 2000coLecção mariana PardaL monteiro

fadas e elfos iv MacríLico s/ teLa, 2000

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01tríptico cerimónia amorosa

acríLico s/ teLa, 2001

220 221

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01fragmentos...

texto de PauLo cardoso, 2008in foLHeto “50 anos de arte

é Proibido Pensar”

Neste Mapa Astral a Carreira (representada pelo chamado Meio do Céu)

é governada por Vénus. Mas ela, a deusa da arte, do belo, do amável e da

harmonia, está, tal como a Proserpina, “presa” e subjugada por Plutão, o deus

dos Infernos. Está acorrentada na Casa XII do horóscopo – sector da criação, da

inspiração e da procura da Transcendência.

Quando conheci o Victor Belém, por volta de 1972/1973 fiquei deslumbrado

pelos objectos que ele criava: umas estranhas/entranhas figuras em cor de

carne dentro de umas caixas negras. Mas essas peças eram simultaneamente

sedutoras e atemorizadoras: a cor de carne e a textura da pele que pareciam

ter estavam vedadas ao toque, apenas se podiam observar; pelo menos era

assim que eu, na altura, entendia e estabelecia a relação com essas figuras

do seu engenho. Anos mais tarde, a vida fez com que nos reencontrássemos

e foi pela mão da Astrologia: fiz o seu horóscopo em 4 de Fevereiro de 1986.

Aí, descobri o porquê daquela sensação de dicotomia que os seus objectos

de arte me haviam causado no fim da minha adolescência. Entendi, então,

que era a presença da dupla Vénus-Plutão do seu horóscopo. Mas ele, e a

sua verve criativa, já estavam longe dali… Assisti, ao longo dessa década e

da seguinte, a metamorfoses de pintura plasticamente doces e melódicas, a

composições que causavam surpresa, a colecções de objectos, a instalações

que nos faziam parar, ver e pensar. Sobretudo algumas das peças tinham um

impacto inquietante, irreverente, perturbador – lá estava de novo o Plutão. Se

nas pinturas amáveis e em algumas fotografias se sentia a presença de Vénus,

do sonho amoroso, da afabilidade e do lirismo que cabia à deusa do Amor

(ver, por exemplo, “Amor – eterno / Homenagem a Camilo Pessanha”, aquelas

sedutoras figuras como a de uma mulher com toucado ou a sua Ariadne), em

outras criações sentia-se, implacável, a presença da assinatura de Plutão (estou

a lembrar-me de Alberto Pimenta em Aleistar Crowley, da irónica e esfíngica

República Portuguesa deitada no seu leito de fumo e de sedução, do “filho da

pátria cortado-ao-meio”, ou, ainda, das evocações das terríveis lutas entre

o Homem e o Minotauro, recordando a fatalidade que determina o curso da

vida humana). Mas, a meu ver, também um terceiro elemento do horóscopo

de Victor Belém dava acordo de si, entrava em acção e fazia das suas: falo de

Mercúrio, senhor da razão e da inteligência, e dono da Literatura. Comunicador,

insatisfeito, talvez inconstante, mas também versátil e curioso, o “seu Mercúrio”

– é um Mercúrio em Gémeos (o Signo de Castor e Pollux) e está colocado

na inovadora e criativa Casa XI. Foi este planeta, provavelmente, o mentor

das diversas incursões do Victor Belém pelo complexo e hipnótico Universo

Pessoano, sendo ele, o poeta, também, um ser Mercuriano. Este seu Mercúrio é

poderoso, carregado de energia. A acção deste planeta no seu horóscopo leva-o

a espraiar-se em campos tão diversos como a política, as associações ou o

trabalho em prol dos grupos ou da comunidade em geral. Este seu Mercúrio dá-

lhe uma intensa sensibilidade pelos valores colectivos e uma reacção convulsiva

aos males que afectam a sociedade.

Eu diria que ele é o Elemento disciplinador do seu Mapa do Céu, aquele que

consegue gerir os impulsos de Plutão e conciliá-los com a amabilidade de

Vénus.

Ele, Mercúrio, é, em boa verdade, o Terceiro Elemento, o elemento alquímico por

natureza, o factor-sublimação, aquele que faz com que o artista não sucumba

aos espasmos do Inferno plutónico do seu próprio Mapa Astral, e nos brinde,

periodicamente, com objectos inovadores, pintura irreverente, afirmativa,

instalações inquietantes mas que celebram a vida e a existência humana.

É esse Mercúrio, imbuído de Castor e Pollux, que faz com que o Victor Belém

nos presenteie, cíclica e generosamente, com o seu talento, com a sua ARTE.

(Lisboa, 5h51m de 13 de Março de 2008)

PAULO CARDOSO

fragmentos do horóscopo de victor belém

cosmografiaacríLico s/ teLa, 2001

coLecção mÁrio beLém

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06M histórias de barcos e piratas iacríLico s/ teLa, 2006 06aparições iii N

acríLico s/ madeira, 2006

224 225

N histórias de barcos e piratas iiacríLico s/ teLa, 2006

aparições ii MP

acríLico s/ madeira, 2006aparições i MO

acríLico s/ madeira, 2006

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05M o rei sem caraacríLico s/ madeira, 2005 05o menino índigo N

acríLico s/ madeira, 2005

226 227

N poeta aluado acríLico s/ madeira, 2005

o fantomas contra a lambisgóia M

acríLico s/ madeira, 2005

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05a lavadeira de brechtacríLico s/ madeira, 2005 05a revolta dos mutantes

acríLico s/ madeira, 2005

228 229

“Horizonte Perdido”: o Olhar do Pintor

Estão de acordo todos os filósofos em que a felicidade está na

sua procura, não no seu alcance, por isso é que

a passagem do Homem sobre a Terra é uma continuidade

de lutas e de obstáculos a ultrapassar, circunstância inerente

à condição humana, a qual, se provoca as nossas misérias,

é igualmente a causa das nossas grandezas, porque tudo

o que é humano a elas está igualmente sujeito.

Por saber tudo isto é que Victor Belém continua à procura do

seu Horizonte Perdido, onde reina a Natureza, a Paz e a Harmonia

e os Homens são todos iguais, porque todos diferentes. Ele sabe

que é uma Utopia, mas continua a procurá-lo, representando-o

plasticamente, que é uma das melhores maneiras de poder vir a

encontrá-lo… pelo menos algures na imensidão do Espaço, do qual

somos uma infinitésima parcela.

Iniciada no ano passado com uma belíssima exposição

na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada, a que se seguiu

outra na Galeria Artela, em Lisboa, a série “Horizonte Perdido”

finaliza agora na capital madeirense com novos elementos –

máscaras, mutantes, levadas – e desenvolvendo

o tema dos círculos/sóis como intervenções externas,

de origem tão misteriosa como desconhecida, personificando as

dúvidas sobre a existência.

Jogando com elementos que têm tanto de esotéricos como de

ligados à ficção científica, não admira que o artista tenha optado

nesta exposição por caminhos expressionistas, onde as sugestões

aparecem como eixo do conteúdo que sintetiza eficazmente para

depois fazerem derivações para áreas abstractas com vocação

figurativa.

Trabalhando a pintura a partir da linha, às vezes mais real do que

imaginária, Victor Belém elabora os planos

a partir duma categoria quase monocromática, de tons verdes, de

acordo com o seu combate pela ecologia, convertendo

a mancha em direcção, trabalhando essa direcção com

a propriedade do significado que reserva para cada parte

da composição. A luz, então, aparece presa da matéria, dispondo

horizontes enquanto os planos se sucedem até

ao espectador com veemência e gestualidade, com raiz

no próprio desenvolvimento da situação criada.

De vários modos, trata-se, portanto, de uma pintura

em que há um sério compromisso pessoal, amalgamando

os elementos da linguagem pictórica para ir mais além

da arte e da estética, como pretexto de criação e sugestão

de fundamento – a luta pela conservação da Natureza - e não como

simples objecto simultâneo de representação.

É por isso que a obra de Victor Belém acaba por apresentar-se

como um fluxo contínuo de argumentos

em permanente transfiguração, onde a paisagem

é a protagonista, como uma das formas de pintura mais imediatas

ao homem, quer pela busca de volumes através simplesmente de

traços de cor ou de linhas mestras direccionais, quer através da

aparente falta de detalhe, também em busca de uma forma de

pintar concreta, complemento perfeito da sua complexa composição,

de formas expansivas. A paisagem se converte não só em cenário

de recordações mas em experimentação pictórica, em desculpa

plástica para lá do mundo da cor e da composição. Relendo assim

a paisagem para lhe dar as devidas significações, sem necessidade

de que conheçamos o seu nome, o lugar torna-se único para nós

e detém-se para sempre nesse maravilhoso lugar que é o olhar do

pintor.

horiZonte perdidoo olhar do pintortexto de rodrigues Vaz, 2004

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03atlântida, fragmento ixacríLico s/ teLa, 2003 04atlântida, fragmento vii

acríLico s/ teLa, 2004

230 231

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03M atlântida, fragmento ivacríLico s/ teLa, 2003 04atlântida, fragmento iv NP

acríLico s/ teLa, 2004

232 233

N atlântida, fragmento vacríLico s/ teLa, 2003

atlântida, fragmento x NO

acríLico s/ teLa, 2004atlântida, fragmento ii MP

acríLico s/ teLa, 2003atlântida, fragmento iii MO

acríLico s/ teLa, 2004

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memórias de atlântidatexto de maria João fernandes, 2004in catÁLogo “memórias do futuro” 04atlântida, fragmento xi

acríLico s/ teLa, 2004

234

Memórias de Atlântida: A Pintura de Victor Belém

“Se te pudesse dizer o som vivo

da mais pura claridade

e oferecer o azul raro que mora

no centro da onda que o mar não dissipou”.

gonçaLo saLVado, “onda”

Victor Belém tem vindo a afirmar no contexto da arte portuguesa

contemporânea uma personalidade muito original, entre a pintura, a

escultura, a cerâmica, a fotografia,

o diaporama, a instalação e a performance, diversidade

de expressões reveladoras da modernidade do seu estilo

e manifestando, ao mesmo tempo, a unidade da sua estética

sensível ao diálogo entre a realidade e um imaginário inspirado pelos

grandes arquétipos e mitos fundadores. Atlântida, referida num dos

diálogos platónicos, é o mito condutor

da sua actual exposição, tecido de imagens de um inconsciente

progressivamente enriquecido.[...]

[...] Verde luxuoso e luxuriante das imagens, maré cheia de

caules e de cintilações prodigiosas, dédalo guardando a memória

húmida dos nossos passos, floresta de sonhos virgens e impalpáveis

delícias. Fronteira e limiar que podemos transpor mergulhando

na facilidade pura do ar e da água, líquido primeiro das nossas

fantasias. Espelho de pensamentos que se movimentam com a

agilidade de peixes, amantes

da frescura e do âmago livre das formas.

Caudal de uma pura dança da origem quando tudo

se confunde e aspira à gestação da vida. Amoroso baraço

da terra e do ar, das árvores adormecidas no coração dos rios

bebendo o doce licor da terra. Terra mãe de aparições lentas onde

lentamente se vai esculpindo o rosto do homem.

Corpo da terra no dealbar tímido de um universo pleno

e tão novo quanto uma aurora despontando na virgindade boreal do

mundo. Entre brumas verdes o corpo ascende

ao altar do universo, corpo da terra e corpo do homem em feliz

uníssono. Assumpção de uma pureza que é a imagem

do humano encontrado, do seu princípio, desenhando no fim

de tudo, o todo.

Corpo estirado da terra, voluptuoso, cristalizado na rocha, cristal

transparente onde se reflectem os verdes paraísos infantis. Céu de

claros instantes felizes, navio

da terra singrando no fundo do oceano. Liberdade mais livre, cimo

abissal, azul supremo, além estelar rompendo todas

as barreiras conhecidas, firmamento onde se escrevem todos os

nomes de uma civilização que achou a sua memória

no profundo mar dos sonhos. A identidade também, círculo que a

imagem repercute. Círculo vivo de palavras e de imagens instaurando

a voz da poesia, “esse som vivo da mais pura claridade” de que fala

o poeta Gonçalo Salvado. Apelo intemporal ao outro e ao outro de

nós mesmos, imagem perdida “no azul raro que mora no centro da

onda que o mar não dissipou”, amoroso eco de uma completude.

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06o porão do rapaZ

texto de o Patriota do norte, aLberto Pimenta, 2006

in catÁLogo ”ProJectos...”

NÃO! NÃO DEIXEIS TODA A ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS NO

PAQUETE DO VICTOR! AÍ ENCONTRAIS TUDO O QUE VOS ANIMA, DESDE

O RAPAZ DO PORÃO AO PORÃO DO RAPAZ

claro, o ideal era poder dizer: Todas no porão Portugal! mas

pelo menos uma, Víctor falta aqui pelo menos uma! e não possa

deixar de fazer este reparo! se calhar estou a ser muito severo,

mas os colegas da crítica de arte também colocam sempre

acima de tudo a verdade artística (como ensinaram os da verdade

desportiva). falta aqui pelo menos uma... uma... (ai, estou com ela

na ponta da língua) ... uu... uma não, não é isso! uma... guitarra

«g»«u»«i»«t»«a»«rr»«a»! é isso, Santa Severa!

Sendo mer’triz era santa,

Santa sim, que se venera

Ainda que morta, impera

No lar do rico, do triste:

Em Portugal não existe

Fadista como a Severa!

porque quem diz guitarra diz fado e, nobre é levar a campanha

para o porão, mas «só o Fado pode fazer felizes os infelizes»,

segundo José Alves. Por isso: seja no porão do paquete europeu, seja

com a pedrinha no sapatinho, esteja a pátria prisioneira, prenha na

lixeira, desmembrada, desmemorada, ou memorada, comemorada

quer dizer lixada:

Todo o que for português

De coração bem formado

Nas horas de desalento

Deve modular o Fado!

mas para isso era preciso ter aqui pelo menos uma! pelo menos

uma, Victor! é só o que falta, de resto parece que está tudo, e as

cores (nem se diria) até combinam bem (em mão de Mestre é

assim), e estão muito bem dadas (pura verdade artística) estão

muito bem dadas ... dadas, ou fiadas (técnica dos velhos Mestres

lusitanos), mas isso já não sei (não é da minha grande área), boa-

viagem, Victor!

porão b - paquete europa instaLação, 2006

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08M a ausência de gravidade iacríLico s/ teLa, 2008 08a ausência de gravidade iv N

acríLico s/ teLa, 2008

238 239

N a ausência de gravidade iiacríLico s/ teLa, 2008

a ausência de gravidade iii MacríLico s/ teLa, 2008

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00projecto dos deuses celtas baseado nas lendas de mabinogionestudos acríLico s/ cartão, 2000 00

240 241

Era o dia quatorze de Junho quando Victor Belém, pintor e

aniversariante, jubilou por fim a sua arte. Entre o numérico

cinquenta há uma paleta e pincéis, e sob ele, uma advertência ou

simples constatação: «É proibido pensar ». Entre uma e outra,

a manuscrita e tímida assinatura, assente nesta frase por vários

contextos sociais que o pintor viveu, cuja característica comum

parece ter sido o exílio do pensamento , mas também, prenúncio da

própria natureza humana no seu aspecto redutor face ao tempo, que

apenas extrai de cada um o que importa .

Exposição emblemática, estamos desde o início à porta de uma

antecâmara da morte, começando por isso com a caveira ancestral

de um ser quase inexistente, uma descrarnação que irá orientar-nos

para carnações não muito mais vivas, simultaneamente fantásticas,

híbridas, transfiguradas. Uma metamorfose de ciclope para um deus

de barro que encaixamos nas jaulas das ilusões litúrgicas, ora de

manto, ora em calções, ora em bandeiras, tomando mesmo forma

hermafrodita na Hécata marinha que estranhamente denuncia

o assassínio dos mares . Aparentemente risível, como todos os

elementos da tragédia, os indícios de denúncia ao tecido social

evidenciam de forma clara as lágrimas letais do seu criador, que

dirige esta orquestra de sombras com a graciosidade de um fauno

que toca a sua flauta para amainar as feras.

Apresentar, levantar e estruturar esta mortalha é um trabalho

de Hércules, não pela dificuldade do processo mecânico, mas pelo

que pressupõe de força organizada, de indignação de décadas, de

resistência à dor, de sensibilidade antagónica ao processo onde

mergulha, porque todo o artista sabe que o belo é um convite

ao terrível . Começam por denunciar a fealdade do mundo, a sua

acefalia, mais tarde esmagam as cinzas de um processo fantástico

e recriam de olhos abertos os horrores que outros nem sabem que

povoam . Mas, se o olhar carregado de imagens sem pensamento

não chegar, nesta exposição podem recorrer ao tacto como um olhar

mais firme e rondá-la de olhos fechados. Acharão a surpresa das

formas conhecidas, impensadas por isso. Se nada aqui desencadear

nenhum processo, o figurado e o desfigurado da sua intenção, deste

pintor não alinhado e atento, será banido como elemento inquietante

por aqueles cuja quietude apenas se move com o simulacro do

movimento.

O Jubileu é uma data maior. É o tempo da libertação dos

escravos, numa fé irredutível de que o destino humano é ser livre e

de que somos todos, sem excepção, provisoriamente autores e donos

do que fazemos ou adquirimos . Ao toque do Shofar, cada um iniciava

outrora uma tarefa libertária, cabendo-nos a nós agora reclamar o

que temos subjacente nesta obra por direito. Mesmo que nos custe.

Os bens retornam à origem. Um bem maior que pensar e criar não

há. Devolver as pessoas a si mesmas é o trabalho que aqui nos deixa

Victor Belém.

este texto é uma anÁLise sucinta À exPosição do dia quatorze de JunHo de 2008 .um oLHar de instante , atento ,e JÁ conHecedor da comPLexidade requintada e fantÁstica da sua obra .um oLHar transVersaL mas nem Por isso menos incisiVo desta dramÁtica e Lúdica rePresentação . o texto cHamar-se-Á contudo ,Victor beLÈm .

projecto dos deuses celtas baseado nas lendas de mabinogion

estudo, acríLico s/ cartão e Peça finaL, 2000

50 anos de artetexto de améLia Vieira, 2008

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01projecto fernão mendes pintofotografias P/ montagem, 2001 01

242

montagem final fernão mendes pinto escrevendo a peregrinação

“crónica a d. afonso Henriques” de duarte gaLVão sec xVi, 2001

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06victor belém, pátrias antigastexto de rocHa de sousa, 2006in JornaL de Letras 07lilith – o ovo cósmico

manequim trabaLHado c/ materiais diVerso, 2007

245

os pescadores e o lixoinstaLação, 2007

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08M super novaacríLico s/ teLa, 2008 08inverno N

acríLico s/ teLa, 2008

246 247

N eclipse da luaacríLico s/ teLa, 2008coLecção mariana PardaL monteiro

eclipse do sol MacríLico s/ teLa, 2008

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08M imagens do circo iacríLico s/ teLa, 2008 08primavera

acríLico s/ teLa, 2008

248 249

M imagens do circo iiacríLico s/ teLa, 2008

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08

250 251

ministra robótica enquanto jovem, com projecção no futuro imediatohomenagem a maria de lurdes rodrigues

instaLação em “PaPier mâcHé” e materiais diVersos, 2008

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08o monstro autofágicohomenagem aos assassinados pela pide instaLação, escuLtura em gesso, biombo de madeira, 2007

252

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254 255

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

2008 50 ANOS DE ARTE, É PROIBIDO PENSAR, GALERIA HIBISCUS, LISBOA

2007 ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA, TEATRO DA RAINHA, CALDAS DA RAINHA

2007 ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA, CENTRO CULTURAL MALAPOSTA, ODIVELAS

2007 AMOR ETERNO – HOMENAGEM A CAMILO PESSANHA, BIBLIOTECA D. DINIS, ODIVELAS

2006 PROJECTOS E OBJECTOS DA CENA NACIONAL, GALERIA JOSEPHUS LISBOA

2005 HORIZONTE PERDIDO, EXPOSIÇÃO DE PINTURA, GALERIA ARTELA, LISBOA

MEMÓRIAS DO FUTURO, EXPOSIÇÃO DE PINTURA, GAL. FONSECA MACEDO, AÇORES

2002 FADAS E ELFOS - EXPOSIÇÃO DE PINTURA, GAL.MUNICIPAL DE VILA FRANCA

2001 FADAS E ELFOS - EXPOSIÇÃO DE PINTURA, GAL. MUNICIPAL DE LOURES

FADAS E ELFOS - EXPOSIÇÃO DE PINTURA, MUSEU REGIONAL DE SINTRA

ILHAS - EXPOSIÇÃO DE PINTURA, GALERIA IOSEPHUS - LISBOA

1999 HOMENAGEM A CAMILO PESSANHA, FOTO-FICÇÕES E PINTURA, GALERIA D. LUÍS, CASCAIS

1998 META-MORFOSES, OBJECTOS, GALERIA NOVO SÉCULO, LISBOA

1997 VIA-SACRA LABIRINTICA, PINTURAS, FOTO-FICÇÕES E OBJECTOS, CONVENTO DA ORADA, MONSARAZ

O POETA É UM FINGIDOR, FOTO- COLAGENS, UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA - PORTO

1996 CONVERSAS COM CAMILO PESSANHA, FOTO-FICÇÕES E PINTURAS, C.G.D, LISBOA

CONVERSAS COM CAMILO PESSANHA, FOTO-FICÇÕES, FUNDAÇÃO ORIENTE, MACAU

FERNANDO PESSOA VERSUS ALEISTER CROWLEy, FOTO-FICÇÕES, COLAGENS E OBJECTOS CASA FERNANDO PESSOA, LISBOA. QUINTA DA REGALEIRA, SINTRA. MUSEU CONDE DE CASTRO GUIMARÃES, CASCAIS

1994 ILHAS E OUTROS ACHADOS, PINTURA E OBJECTOS, FORTE DA LUZ, CASCAIS

1992 ANAMNÉSIA, PINTURA, GALERIA S. MAMEDE, LISBOA

1988 ARQUEOLOGICAMENTE, PINTURA COOPERATIVA ÁRVORE, PORTO

ARQUEOLOGICAMENTE, PINTURA CÍRCULO DE ARTES PLÁSTICAS, COIMBRA

30 ANOS DE ARTES PLÁSTICAS 1958/1988, PINTURA E OBJECTOS, GALERIA ESPIRAL, OEIRAS

1987 ARQUEOLOGICAMENTE, PINTURA GALERIA TEMPO, LISBOA

1986 PEREGRINANAÇÃO, PINTURA E INSTALAÇÃO, GALERIA OLHARTE, LISBOA

1985 PROJECTOS DA CENA NACIONAL, OBJECTOS E INSTALAÇÃO, C. C. AMOREIRAS, LISBOA

1984 METAMORFOSES, PINTURA E INSTALAÇÃO, JUNTA DE TURISMO DO ESTORIL

1983 SACRÁRIOS, PINTURA, GALERIA DIÁRIO DE NOTÍCIAS, LISBOA

PER-CURSO, PINTURA E OBJECTOS, ESPAÇO TEC, CASCAIS

1981 EX-PASSOS IMAGINÁRIOS, PINTURA, CÍRCULO DE ARTES PLÁSTICAS, COIMBRA

META-PAISAGENS, PINTURA, GALERIA DOIS - PORTO

1980 SETE VIAGENS D’ASTARTE, PINTURA, GALERIA TEMPO, LISBOA, GALERIA DOIS PORTO

1979 O CORPO É A PAISAGEM DA VIAGEM, FOTOGRAFIAS, GALERIA AUDIO, IMAGEM LX

MEMO-LEMA, JOGO, INSTALAÇÃO, JUNTA TURISMO ESTORIL, CASCAIS

1978 CAOS E GEOMETRIA, INSTALAÇÃO E PINTURA, C. A .P. C., COIMBRA E FUNCHAL

OS SONHOS DA PÁTRIA PRENHA NA LIXEIRA, OBJECTOS, GALERIA OPINIÃO, LISBOA

O VERDE, OBJECTOS, GALERIA AUDIO-IMAGEM, LISBOA

1977 LIQUIDAÇÃO TOTAL DA EXISTÊNCIA, INSTALAÇÃO, SNBA, LISBOA

1976 HOMENAGEM A VOLTAIRE, PINTURA, GALERIA ELEFANTE CIRCULAR, LISBOA

1975 OBJECTOS, GALERIA QUADRANTE, LISBOA

1974 OBJECTOS, GALERIA NOSSA TERRA, CASCAIS

INSTALAÇÃO, GALERIA DIFERENÇA, LISBOA

1973 OBJECTOS, GALERIA DOIS, PORTO

1972 OBJECTOS E PINTURA, GALERIA BUCHHOLZ, LISBOA

1969 OS MENINOS DO PORTO, PINTURA, SNBA, LISBOA

1968 PINTURA, SNBA, LISBOA

OS MENINOS DO PORTO, DESENHO, COOPERATIVA ÁRVORE, PORTO

1964 PINTURA, GALERIA DIVULGAÇÃO, PORTO

PINTURA, SNBA, LISBOA

1958 PINTURA, GALERIA MOLDER, LX

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS

2006 ENCONTRO DE CULTURAS, LUSOFONIA, BIENAL 2007, MALAPOSTA

2002 CEM ANOS CEM ARTISTAS, SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES, LISBOA

2002 COLECTIVA DE VERÃO, GALERIA IOSEPHUS, LISBOA

2000 COLECTIVA DE VERÃO, GALERIA IOSEPHUS, LISBOA

1998 25 ANOS DO 25 DE ABRIL, HOTEL VICTÓRIA

1998 25 ANOS DO 25 DE ABRIL, ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL

1996 A PÁTRIA PRISIONEIRA, I BIENAL DO FANTÁSTICO, CASCAIS

1995 COLECTIVA DO III ANIVERSÁRIO, GALERIA ESCADA 4, CASCAIS

VII BIENAL DE VILA NOVA DE CERVEIRA

BIENAL DO AVANTE, SEIXAL

1994 QUANDO O MUNDO NOS CAI EM CIMA, CENTRO CULTURAL BELÉM

1993 HOMENAGEM A NATÁLIA CORREIA, TEATRO MARIA MATOS

1989 OITO PINTORES PORTUGUESES, PRAGA, CHECOSLOVÁQUIA

1988 ARTEJO, MOSTEIRO DOS JERÓNIMOS, LISBOA

1987 III BIENAL DE DESENHO, COOPERATIVA ÁRVORE, PORTO

1986 MÁSCARAS, GALERIA OLHARTE, LISBOA

FERNANDO PESSOA VERSUS ALEISTER CROWLEy

III EXPOSIÇÃO DE ARTE MODERNA, FUNDAÇÃO C. GULBENKIAN, LISBOA

V BIENAL DE VILA NOVA DE CERVEIRA

1985 HOMENAGEM A ALMADA NEGREIROS, SEC - LISBOA

UM ROSTO PARA FERNANDO PESSOA, CAM, LISBOA

1984 ANTI-HERÓI, MALDITO, MARGINAL, ETC. E TAL, ESPAÇO TEC, CASCAIS

1982 III BIENAL DE VILA NOVA DE CERVEIRA

O PAPEL COMO SUPORTE, SNBA, LISBOA

EXPOSIÇÃO DE ARTE MODERNA, SNBA, LISBOA

1981 HOMENAGEM A PICASSO, SNBA, LISBOA

1980 II BIENAL DE VILA NOVA DE CERVEIRA

1979 SALÃO DE AGOSTO, SNBA, LISBOA

1978 I BIENAL DE VILA NOVA DE CERVEIRA

1977 ALTERNATIVA ZERO, GALERIA NACIONAL DE ARTE MODERNA

MITOLOGIAS LOCAIS, SNBA, LX

1976 PENA DE MORTE E PRISÃO POLÍTICA, SNBA, LISBOA

1975 HOMENAGEM A J. BOSCH, MUSEU DE ARTE ANTIGA

FIGURAÇÃO HOJE?, SNBA, LISBOA

A NOVA IMAGEM REALISTA, GALERIA GORDILHO

1973 FEIRA DE ARTE DO CAMÕES, LX

SALÃO DE OUTONO, SNBA, LX

EXPOSIÇÃO 73, SNBA, LISBOA

1972 EXPOSIÇÃO 72, SNBA, LISBOA

1970 EXPOSIÇÃO MOBIL, LISBOA

1965 PRESENÇA DA ARTE, CARRIS, LX

1959 JARDIM 59, CASCAIS

REALIZAÇÃO DE VÍDEOS

O CONVENTO DE CRISTO EM TOMAR

SIMPÓSIO DE ESCULTURA EM PEDRA

PEÇA DE TEATRO “A GRANDE PAZ” NA CORNUCÓPIA

TRÊS ESCULTORES “RUI SANCHES, ANTÓNIO E PEDRO CAMPOS ROSADO”

BONECOS DE SANTO ALEIXO

EXPOSIÇÃO ARQUIPÉLAGO

9º ENCONTROS DE FOTOGRAFIA DE COIMBRA

PEÇA DE TEATRO “COMUNIDADE” POR CâNDIDO FERREIRA NA CORNUCÓPIA

MANOBRAS DE MAIO 88

ESCULTURAS DE CATARINA BALEIRAS

ANTÓNIO GEDEÃO - VIDEOBIOGRAFIA

EXPOSIÇÃO DE PEDRO MORAIS

ARTES E IDEIAS

ERNESTO DE SOUSA - ITINERÁRIOS

EIAM -EXPOSIÇÃO IBÉRICA DE CAMPO MAIOR

JOSÉ SARAMAGO NO MARTINHO DA ARCADA

PEÇA DE TEATRO “ODE MARÍTIMA”POR JOÃO GROSSO NO T. D. MARIA

PEÇA DE TEATRO “JUNTO AO POÇO” NO TAS

CASA DE SERRALVES

5 ANOS DE ARQUEOLOGIA

EXPOSIÇÃO DE FERNANDA FRAGATEIRO, MUSEU DE CIENCIAS NATURAIS, LISBOA

VÍDEOS PESSOAIS

1994 FERNANDO PESSOA, O TEATRO DO SER, GUIÃO DE TERESA RITA LOPES

CAMILO PESSANHA, O POETA MAL DITO, GUIÃO DE DANIEL PIRES, INACABADO

FOTO-FICÇÕES

embora tenHa, ao Longo da sua carreira, utiLizado semPre a fotografia como registo das suas interVenções, a Partir de 1975 Passa a construir situações sequenciais com modeLos Para serem fotografadas e aPresentadas como taL (foto-ficções).

1996 CONVERSAS COM CAMILLO PESSANHA, MACAU, LISBOA, AÇORES E VILA DA FEIRA

1995 LABIRINTO, VILA NOVA DE CERVEIRA

1987 SÓ-TÃO, DIAPORAMA SOBRE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO, FUNDAÇÃO GULBENKIAN

1986 FERNANDO PESSOA VERSUS ALEISTER CROWLEy, DIAPORAMA, FACULDADE DE LETRAS DE LISBOA E CASA FERNANDO PESSOA

1977 ALEXANDRE VIVO OU MORTO (O BOBO E A DAMA PÉ-DE- CABRA), DIAPORAMA, TEATRO EXP. CASCAIS, SOCIEDADE NACIONAL DE BELAS ARTES

1976 OS SONHOS DA PÁTRIA PRENHA NA LIXEIRA, DIAPORAMA, GALERIA OPINIÃO

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o eterno candidatofotografia encenada, 1995

foto: rui bernardes

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Acredito que o planeta Terra se altera fisicamente a si mesmo,

em resposta ao que o homem realiza física e espiritualmente.

A primeira obrigação que cada ser humano tem, é a de ser

consciente de tudo o que lhe está a acontecer enquanto viver.

Não há predestinação.

Cada ser coordena o seu equilíbrio e é capaz de decidir o

caminho que o leva à verdade de si, logo, ao equilíbrio do planeta.

Esta é a permuta que o homem tem que fazer com a Terra-Mãe

pelo facto de ter nascido, pó do mesmo pó.

Porque acredito na capacidade de mudança do novo Homem,

acredito que uma Nova Terra irá existir independente da vontade dos

Senhores da Guerra ou dos interesses mesquinhos e imediatos que

governam o Mundo.

São as memórias do meu crer que eu retrato aqui.

Victor beLém, agosto 2008

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