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Cidadania Empresarial no Brasilanlise da atuao dos ncleos da Rede Ace

Rede de Articulao Nacional pela Cidadania Empresarial

maro de 2007 a novembro de 2008

Apoio

Cidadania Empresarial no Brasilanlise da atuao dos ncleos da Rede Ace

Realizao Rede ACE Sistematizao e Organizao Instituto Ao Empresarial pela Cidadania Apoio Fundao Avina Coordenao Geral Susana Simes Leal Equipe Ao Empresarial Anielma Rodrigues (Pesquisa) Andra Moreira (Superviso) Janana Assuno (Superviso) Camilla Chidid (Sistematizao de dados) Maria Cmara (Sistematizao de dados) Josias Saraiva Monteiro Neto (Reviso) * Os dados sobre os ncleos so de responsabilidade dos seus gestores. Apoio Antonio Luiz de Paula e Silva (Instituto Fonte) Aponte Comunicao Kennedy Michiles (Coordenao) Patrcia Amorim (Projeto Grfico) Danilo Almeida Kssia Souza (Diagramao) Paula Ponzi (Compilao) Andra Neves (Compilao) Andreane Carvalho (Compilao) Reviso e Consultoria Textual Larcio Lutibergue e Solange Lutibergue

Cidadania Empresarial no Brasilanlise da atuao dos ncleos da Rede Ace

sumrio

introduo [ 12 ]

amazonas [ 32 ]Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam / Fieam

bahia [ 54 ]Conselo de Responsabilidade Social Empresarial Cores/ Fieb

esprito santo [ 74 ]Conselho Superior de Responsabilidade Cores / Findes

gois [ 92 ]Conselho Temtico de Responsabilidade Social Cores / Fieg

maranho [110 ]Instituto de Cidadania Empresarial do Maranho Ice / MA

minas gerais [ 134 ]Conselho de Cidadania Empresarial Fiemg Minas Gerais

paran [ 162 ]Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial CPCE / Fiep

pernambuco [ 186 ] rio de janeiro [ 212 ]Instituto Ao Empresarial pela Cidadania Pernambuco Conselho Empresarial de Responsabilidade Social Firjan

rio grande do sul [236 ]Fundao Semear Rio Grande do Sul

so paulo [ 256 ]Instituto de Cidadania Empresarial de So Paulo

A vida no se apossa do globo pelo combate e sim pela formao de redes. Lynn Margulis

Prefcio

Um caminho com muitas formas de caminhar

So Paulo, e um novo ncleo no Rio de Janeiro, na Federao das Indstrias do Rio de Janeiro (Firjan), nos moldes daquele implantado em Minas, que recebeu o nome de Conselho de Responsabilidade Social Corporativa. O ncleo do Rio de Janeiro recebeu apoio da Fundao Avina na sua criao. Com a consolidao desses dois novos ncleos, fizemos uma proposta Fundao Avina, que foi aceita, para criarmos o Ncleo de Articulao Nacional (NAN) do Programa Ao Empresarial pela Cidadania, que teria como objetivos principais promover a articulao entre os seis ncleos j existentes e criar mais quatro novos ncleos envolvendo outros Estados da Federao. Neste caso especfico, a proposta era implantar os novos ncleos nas Federaes das Indstrias. A Fundao Avina disponibilizou recursos para a implantao do NAN. A idia era aproveitarmos a grande estrutura e capilaridade das Federaes das Indstrias. Acreditvamos que se consegussemos plantar ali uma semente, fazer com que os dirigentes das federaes assumissem o tema da responsabilidade social, conseguiramos fortalecer este movimento de maneira mais rpida e eficiente. Consideramos as seguintes vantagens: grande estrutura, uma vez que cada federao possui escritrios regionais em seus respectivos Estados, o que naturalmente lhe d uma enorme capilaridade; poder de convocatria perante o mundo empresarial; disponibilidade de instalaes, recursos humanos e financeiros, capacidade de construir parcerias. Rapidamente a meta foi superada e, em vez de quatro, foram criados mais sete ncleos: nos Estados do Amazonas, Bahia, Cear, Esprito Santo, Gois, Paran e no Distrito Federal. Cada federao, a seu modo e respeitando sua estrutura interna, criou seu conselho de responsabilidade social. Alguns eram constitudos por vrios representantes da sociedade civil, alm de empresrios, e tinham um papel mais consultivo, um espao de debate, de capacitao, de troca de experincias; outros tinham um carter mais operativo. Alguns criaram vrios ncleos envolvendo todas as regies do Estado, como o caso do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em geral, todos promoviam encontros e seminrios sobre

temas ligados responsabilidade social. Em muitos casos, esses ncleos passaram a fazer parceiras com o Ethos e Gife para difuso de conceitos e prticas de RSE e investimento social privado. O avano no foi homogneo, como era de se esperar. Alguns ncleos criaram uma boa estrutura de recursos humanos. Outros passaram a utilizar o Sesi como o brao operador de suas aes e projetos. Enfim, todos tiveram grandes avanos. O Ncleo de Articulao Nacional (NAN) teve um papel preponderante na criao dos novos ncleos, porm, no que diz respeito articulao dos ncleos, seu papel foi fundamental nos dois primeiros anos, mas depois no conseguiu encontrar uma forma vivel e sustentvel de funcionamento. Assim, cada ncleo passou a interagir com os demais informalmente. Com esse grande crescimento dos ncleos regionais e com a fragilidade do NAN, procuramos a CNI com a proposta de criao de um Conselho Nacional de RSE. Essa idia j existia tambm naquela organizao. Em 2006 foi ento criado o Conselho de Responsabilidade Social (Cores) da Confederao Nacional das Indstrias (CNI), com a participao de vrios representantes dos ncleos estaduais criados pelo Programa Ao Empresarial pela Cidadania e representantes do NAN. O Programa Ao Empresarial pela Cidadania trilhou um longo caminho e cumpriu seu papel de disseminar conceitos e prticas de responsabilidade social em 13 Estados brasileiros. Hoje, cada ncleo tem vida prpria e segue seu prprio caminho. Em alguns, os resultados so surpreendentes, em outros gostaramos que tivessem avanado um pouco mais. Para mim foi um grande privilgio ter participado desta caminhada, pois tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e comprometidas e de juntos construirmos uma grande rede que luta pela construo de um mundo que seja economicamente forte e, acima de tudo, socialmente justo.

O Ao Empresarial pela Cidadania (AEC) nasceu no final dos anos 90, da percepo de que era necessrio ampliar o debate da responsabilidade social no Brasil, uma vez que esse tema se restringia aos grandes centros urbanos da Regio Sudeste. Alm do mais, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social e o Grupo de Institutos, Fundaes e Empresas (Gife) estavam sediados em So Paulo e no pretendiam regionalizar-se. O (AEC) foi resultado do Programa de Lideranas em Filantropia nas Amricas, desenvolvido pela Fundao Kellogg, e comeou com quatro iniciativas, que inicialmente tiveram recursos dessa fundao: em So Paulo com a criao do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), no Rio Grande do Sul com a organizao Gro Social, em Pernambuco com o Ao Empresarial pela Cidadania (AEC Pernambuco) e em Minas Gerais com a criao do Conselho de Cidadania Empresarial na Federao das Indstrias de Minas Gerais (Fiemg). A idia inicial era que crissemos ncleos regionais com o nome do programa, acrescentando apenas o nome de cada Estado, porm um nico Estado manteve o nome original, AEC Pernambuco. Os demais, por uma srie de motivos, acharam melhor que os parceiros locais definissem o nome do ncleo. Concludos o programa da Kellogg e a implantao dos quatro ncleos, foi criado o ICE Maranho, inspirado na experincia de

Francisco de Assis Azevedo

ApresentaoA Fundao Avina iniciou suas atividades no Brasil em 1999, quando o movimento de responsabilidade social empresarial (RSE) encerrava seu primeiro captulo, ganhando espao e se consolidando. At o ano anterior, responsabilidade social empresarial, hoje entendida como uma nova maneira de gerir as empresas e corporaes, ainda era confundida com investimento social privado. Com a aproximao de organismos internacionais que lideravam o movimento no mundo e a criao de vrias organizaes promotoras do tema no Brasil e nos demais pases da Amrica Latina, foi possvel a redao do segundo captulo desse movimento, no qual os aspectos de gesto empresarial foram dissociados da filantropia. Assim iniciou-se a compreenso da responsabilidade social empresarial como estratgia de negcio. Neste contexto, a Avina, que tem como um dos seus principais objetivos estabelecer pontes entre os setores privados e a sociedade civil, passou a contribuir fortemente na construo, financiamento e articulao de projetos que contriburam para o desenvolvimento do tema, sobretudo junto s grandes empresas que atuam na regio. O terceiro captulo vem sendo escrito atualmente. Pequenas empresas, por meio de promotores de RSE ou contaminadas pelas aes na cadeia de valor em que participam ou at mesmo pelas mudanas nos modelos de consumo, passam a adotar prticas excelentes de gesto responsvel e agem na construo de um modelo de gesto sustentvel para todo o planeta. Um dos projetos aos quais a Fundao Avina buscou se associar foi a rede de organizaes promotoras de RSE no contexto das Federaes das Indstrias, denominada atualmente de Articulao pela Cidadania Empresarial Rede ACE. Isso se deu por meio de trs projetos, o primeiro em 1999, para criao de um ncleo de RSE na Federao das Indstrias do Rio de Janeiro; o segundo, em 2003, para a criao do Ncleo de Articulao Nacional (NAN), projeto que visava articular as operaes da rede; e agora este de animao do processo de articulao psNAN e de levantamento e sistematizao dos aprendizados feitos no caminho. O que se segue nesta publicao o retrato fiel deste estrato importante do Movimento de Responsabilidade Social Empresarial no Brasil. Nele so apresentadas as organizaes responsveis por interiorizar o conceito e as melhores prticas de gesto sustentvel no pas e que atuam pensando em reduzir as desigualdades sociais em nosso pas. A Avina orgulha-se de fazer parte deste trabalho, orgulha-se de sua aliana com Francisco Azevedo, Isabella Nunes e Susana Leal, lderes conscientes de que possvel e necessrio fazer mais do que os cidados comuns. Orgulho para a Avina tambm poder se associar nesta caminhada s federaes de indstrias dos Estados do Paran, Esprito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Cear, Gois e Distrito Federal, ao Centro das Indstrias de Manaus, ao Instituto de Cidadania Empresarial do Maranho e de So Paulo, ao Instituto Ao Empresarial pela Cidadania de Pernambuco e, finalmente, Fundao Semear no Rio Grande do Sul. Para cumprir sua misso de contribuir para o desenvolvimento sustentvel da Amrica Latina, a Avina fomenta a construo de vnculos de confiana e alianas frutferas entre lderes sociais e empresariais e articula agendas de ao coletivas. A associao com a Rede ACE est em linha com essa perspectiva - focada em resultados, na participao de diversas organizaes empresariais e sociais e no avano do tema a partir de um olhar continental - e acredita na possibilidade de maior incidncia para a gerao de condies para a sustentabilidade. Esses projetos foram considerados pela Avina como estratgicos e foram destacados pela organizao em seus relatrios e sistemas de avaliao de investimentos. Continuemos! Marcus FuchsRepresentante da Avina para o Sudeste, o Distrito Federal e o Estado de Gois.

Fotos: Stock.XCHNG

Introduo

INTRODUO

Um olhar sobre a cidadania empresarial no BrasilPerodo: maro de 2007 a novembro de 2008

delas foi a Ao da Cidadania contra a Fome, a Misria e pela Vida, que mobilizou todos os segmentos da sociedade brasileira na busca de solues de combate fome e misria e para a conquista efetiva do direito cidadania, estimulando a participao e a luta por polticas pblicas que resolvessem a grande carncia da maioria excluda. Naquela poca, j comeava a se evidenciar o Brasil como um dos pases mais desiguais do mundo. A desigualdade passou a ser uma questo que merecia total e completa ateno de todos aqueles que se diziam cidados brasileiros. Era preciso, entretanto, entender a sua origem e passado histrico - que se reportava escravido alforriada, mas no emancipada - e compreender o processo de excluso pelo qual passou e tem passado uma grande massa de brasileiros e que se prolonga por sculos. Um povo sem remunerao digna do seu trabalho, sem educao, sem sade e sem oportunidades, filhos de um Estado omisso e responsvel pelo grande fosso social que se instalara no pas.

No existia mais a iluso daquele milagre brasileiro to propagado, pois se percebia que os diversos projetos e programas empreendidos por diferentes governos visando atenuar as desigualdades sociais e regionais no haviam logrado resultado significativo. Essas iniciativas no tinham sido suficientes para resolver as grandes carncias desse povo. A experincia mostrava que crescimento econmico sem distribuio eqitativa de riquezas no produziria o esperado desenvolvimento. O povo brasileiro comeava a no se conformar com o status de ser um pas do futuro e alguns deixaram at de afirmar que Deus era brasileiro. para no lev-lo condio de um Deus injusto. A conquista de um Estado democrtico comeou a revelar o imenso desafio da participao cidad e o impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto, depois da ditadura, anunciava umFotos: Stock.XCHNG

CONTEXTO HISTRICO Conhecer a histria nos permite compreender melhor o presente para projetar um futuro possvel. Pensando assim, antes mesmo de comear a contar o que eu vi e ouvi na minha jornada nos 11 Estados onde se localizam os ncleos da Rede de Articulao Nacional Pela Cidadania Empresarial, acho importante historiar em que contexto surgiu esse movimento de cidadania e de responsabilidade social empresarial, do qual nasce esta rede. Era fim dos anos 70 quando se iniciavam no Brasil inmeras presses pela abertura poltica. A ditadura militar, apesar das tentativas, no havia conseguido colocar o pas na rota do desenvolvimento e a sociedade, em meio a uma crise econmica e social, comeava a buscar os caminhos de volta democracia. Esse foi um momento em que todos os setores da sociedade comearam a se mobilizar por mudanas. Em 1979, retorna do exlio Herbert Jos de Souza, o Betinho, com a idia de que, para nascer um novo Brasil, humano, solidrio, democrtico, era fundamental que uma nova cultura se estabelecesse, que uma nova economia se implantasse e que um novo poder expressasse a sociedade democrtica e a democracia no Estado. Foi com esse iderio que, no incio da dcada de 80, ele fundou o Ibase e protagonizou diversas campanhas pela justia e pela incluso social. A mais conhecida

INTRODUO

A conquista de um Estado democrtico comeou a revelar o imenso desafio da participao cidad e o impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto, depois da ditadura, anunciava um novo tempo em que a necessidade de participao social passava a ser imperativa.

Fotos: Stock.XCHNG

novo tempo em que a necessidade de participao social parecia ser imperativa. nesse ambiente que, com apoio do Jornal Gazeta Mercantil, o Ibase lana uma campanha convocando o empresariado a se engajar no campo social, atravs da adoo da publicao dos balanos sociais de suas empresas. A partir da, comeam a se destacar lideranas empresariais mais comprometidas com o campo social. Inicia-se um processo de conscientizao do cidado brasileiro, que dava sinais visveis de sua insatisfao com o desenvolvimento social do pas. Assim, em meados dos anos 80 e incio dos anos 90, comeam a surgir diversos movimentos de participao cidad no setor privado. Em 1986 surge a Fundao Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (Fides), visando humanizao das empresas, sua integrao com a sociedade e tica nas relaes empresariais. Em 1989, nasce o Pensamento Nacional das Bases 92940152Empresariais (PNBE), formado por empresrios de todos os ramos da atividade econmica, de todas as regies do pas e de todos os portes de empresa, para lutar pelo aprofundamento da democracia nas instncias governamentais e da sociedade civil organizada com o intuito do exerccio amplo dos direitos de cidadania. Em 1990, surge a Fundao Abrinq, com o objetivo de mobilizar a sociedade para questes relacionadas aos direitos da infncia e da adolescncia. Em 1992 acontece um grande evento internacional no Brasil que viria impulsionar ainda mais todo esse movimento no campo empresarial neste pas e no mundo. A II Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano (ECO 92), que aconteceu

no Rio de Janeiro, para discutir o desenvolvimento sustentvel e o processo de degradao ambiental que o planeta vinha sofrendo. A ECO 92 trouxe em sua bagagem, entre muitas personalidades internacionais, entre elas o empresrio suo Stephan Schmidheiny, que no final da dcada de 80 teve iniciou um novo paradigma empresarial ao diversificar e mudar processos de produo de todos os negcios do seu grupo empresarial que porventura provocassem impactos ambientais. Ele havia tomado uma difcil deciso para os padres e prticas do ambiente empresarial da poca, mas a atitude correta para o enfrentamento dos impactos sociais e ambientais que suas empresas vinham causando. Schmidheiny foi muito bem-sucedido em seus empreendimentos e comeou a ser convidado pela ONU para compartilhar sua experincia em vrios espaos empresariais. Assim, na Cpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, levou com ele mais de 50 lderes de grandes corporaes multinacionais articulados em torno do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) para debaterem junto com lderes sociais de todo o mundo o compromisso de suas empresas em relao sustentabilidade do planeta. Stephan Schmidheiny revela como conseguiu reunir esses lderes viajando pelo mundo inteiro: Antes de entrar em contato com um membro potencial, eu no analisava o comportamento social nem a poltica em relao ao meio ambiente de sua empresa, mas o compromisso pessoal com essas questes e a disposio para trat-las como prioridade na agenda da companhia. Esse movimento empresarial se espalhou por todo o mundo e hoje so mais de 200 empresas em 35 pases. Essa iniciativa se instalou no Brasil em 1997 com o Conselho Empresarial Brasileiro para o

Desenvolvimento Sustentvel (CEBDS), cuja misso integrar os princpios e prticas do desenvolvimento sustentvel no contexto de negcio, conciliando as dimenses econmica, social e ambiental. O mundo todo se mobilizava por mudanas e no Brasil no era diferente. A cidadania empresarial se expandia no pas em meio ao debate internacional sobre a crescente incapacidade do Estado de cumprir sozinho obrigaes de promoo do bem-estar social. Ao mesmo tempo, acontecia no pas um grande desgaste de entidades filantrpicas perante a opinio pblica com escndalo de corrupo envolvendo uma tradicional instituio filantrpica. Em meio a esses acontecimentos, alguns empresrios fundaram, em 1995, o Grupo de Institutos, Fundaes e Empresas (Gife). Seu objetivo era contribuir para a promoo do desenvolvimento sustentvel do pas por meio do fortalecimento poltico-institucional e do apoio atuao estratgica de institutos e fundaes de origem empresarial, bem como de outras entidades privadas que realizassem investimento social voluntrio e sistemtico voltado para o interesse pblico. No se falava mais em filantropia, mas em investimento social planejado e monitorado.

O pas borbulhava com iniciativas cidads das empresas e essas iniciativas comeavam a se desdobrar em diferentes vias de ao. Neste processo, surge o entendimento de que as empresas precisavam ir alm da assistncia social e que tambm deveriam se preocupar com uma gesto responsvel de seus negcios: tratar de maneira tica e responsvel todos os pblicos afetados pela sua atividade. Essa viso ganhou impulso em 1998 com a criao do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Empresarial, iniciativa de um grupo de empresrios liderados por Oded Grajew, um dos protagonistas do movimento empresarial pela tica, cidadania e responsabilidade social. O Instituto Ethos, dizia Oded, foi criado para promover a responsabilidade social como cultura de gesto que afeta todos os pblicos que so impactados pelas atividades da empresa. Antes ele havia se envolvido na fundao de outras entidades j citadas, como PNBE (1989), Fundao Abrinq (1990), alm da Cives Associao Brasileira de Empresrios pela Cidadania (1998).

INTRODUO

Fotos: Stock.XCHNG

em seu Estado. Foram realizados encontros, aes de capacitao e campanhas nacionais no sentido de fortalecer e promover a integrao daqueles ncleos que iam aderindo ao movimento. Ao fim desses trs anos, em 2006, se reuniram em Braslia 13 ncleos de fomento cidadania empresarial no Brasil. Naquela rede estavam contempladas todas as regies do pas e existiam aes nos Estados do Amazonas, Bahia, Cear, Distrito Federal, Esprito Santo, Gois, Maranho, Minas Gerais, Paran, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e So Paulo. Concludo o projeto do NAN, era o momento para fazer balano e avaliao, pensar o futuro. Existia uma rede, no havia dvidas, a cidadania empresarial agora estava presente em todas as regies do Brasil e diversas eram as formas de atuao desses ncleos, que se desenvolviam diferentemente e na proporo das possibilidades e limitaes da cultura empresarial local. A questo que tomou fora ento foi a necessidade de se integrar melhor essas aes. Precisava-se descobrir o real significado dessa rede, fazer emergir a sua identidade, revelar o rosto de seus lderes, o seu pensar, seu sentir e seu agir. Em que contexto econmico e social se inserem? Como desenvolvem as suas aes? Que atores esto envolvidos? Que viso tm dos conceitos trabalhados? O que pensam sobre o possvel futuro dessa rede que, naquele momento, passou a ser chamada de Articulao Nacional pela Cidadania Empresarial ou, simplesmente, Rede ACE? TRABALHO DE CAMPO A partir dessas questes, surgiu a proposta de sair por este Brasil afora visitando cada um dos ncleos da Rede ACE, nos 13 Estados, conversar com as pessoas que esto frente localmente desse movimento e conhecer suas iniciativas, na perspectiva de interligar todos esses pontos e tentar obter uma viso geral da cidadania empresarial no Brasil. Ns do Instituto Ao Empresarial pela Cidadania, ncleo da rede em Pernambuco, assumimos essa tarefa, iniciando a maratona em maro de 2007. No foi fcil: percorremos aproximadamente 14.233km do Rio Grande do Sul ao Amazonas, conversamos com cerca de 50 lderes, entre empresrios e executivos dos ncleos, que esto frente desses movimentos localmente. Gravamos e transcrevemos cerca de 80 horas de entrevistas, recolhemos, organizamos e revisamos informaes de todos os

ncleos, junto com cada um deles. Havia o desejo de chegar o mais perto possvel da essncia dessa rede, captar seus pensamentos, suas motivaes, ir alm das instituies, entender a dimenso das pessoas, daqueles que acreditam que o mundo pode mudar a partir de sua atuao no lugar onde vivem. Atravs deles, queramos vislumbrar o potencial desse movimento e, se que isso possvel, tentar traduzir em palavras a riqueza, a diversidade e o poder de suas experincias e iniciativas para concretizao das mudanas que esperam. Seria um grande aprendizado para o AEC, como parte integrante desse movimento, poder refletir entre pares sobre nossas prprias prticas, dilemas, contradies e tentar vislumbrar caminhos futuros. Nesse caminho, ficaram dois ncleos que no se sentiram prontos a participar desta publicao. Prosseguimos, entretanto, com a visita a 11 ncleos, onde encontramos, acima de tudo, homens e mulheres com histrias, vidas, famlias, crenas e valores que os movem na direo da construo de outro Brasil possvel. Isso se expressa nas palavras de um pequeno empresrio do Maranho que afirma: Eu no teria nenhuma necessidade de participar do ICE se no fosse pela minha essncia de querer melhorar minha cidade, meu pas. No contato com essas pessoas, reafirmamos a viso de que a responsabilidade permeia a vida do indivduo em todos os momentos e que o pano de fundo desse movimento o ser humano, no a empresa, como ente descolado deste ser. Seja esse um movimento global, continental, nacional ou local, ele passa necessariamente pelo que cada um tem de valor em si, algo que transmitido na forma como se relaciona com o outro. Conheci lderes empresariais em todos os nveis, frente de grandes, mdias e tambm de pequenas e microempresas, que so a grande maioria (98%) dos empreendedores registrados na indstria, no comrcio e nos servios deste pas. Logo compreendi que a Rede ACE no era composta apenas pelos seus ncleos, com suas equipes executivas; mais que isso, essa rede entrelaa os fios de centenas e milhares de empresrios e suas empresas nesses Estados. Percebemos a grande capacidade de articulao e influncia local desse movimento, porque faz parte desses ncleos uma grande diversidade de setores empresariais, de norte a sul deste pas, a exemplo de redes de televiso, jornais, empresas do setor industrial, do comrcio e de servios, como ser observado na presente publicao vetores potenciais de influncia e mudana da sociedade.

Para o bem da verdade, porm, importante dizer que esse movimento no havia sido ainda disseminado por todo o pas, se restringindo apenas s regies Sul e Sudeste. As empresas das demais regies permaneciam alheias a esses acontecimentos. J estvamos em 1999 e os conceitos de investimento social privado, responsabilidade social e cidadania empresarial ainda no eram conhecidos pela grande maioria do empresariado brasileiro e nem se cogitava ver nas demais regies desse pas, empresrios discutirem temas sociais ou se comprometerem com prticas de gesto socialmente responsveis. Menos ainda, se ouvia falar em investimentos que no estivessem relacionados com o negcio. Por essa razo, atravs do incentivo do Programa Liderana em Filantropia nas Amricas (LIP), financiado pela Fundao Kellogg, e pela iniciativa de cinco bolsistas brasileiros (Mrcia Pregnolatto, Francisco Azevedo, Renata Nascimento, Roberto Amaral e Leo Voight), iniciou-se o Projeto Ao Empresarial pela Cidadania no Brasil em 1999. A inteno era disseminar por todo o Brasil aes fomentadoras da cidadania no meio empresarial. Para tal, foram fundados quatro ncleos de ao nos Estados de Pernambuco, Minas Gerais, So Paulo e Rio Grande do Sul. Esses ncleos prosperaram no envolvimento de atores locais com esses temas e tambm se

articularam com outros Estados, de forma que em 2002 j existiam mais dois ncleos indutores da cidadania empresarial, no Maranho e no Rio de Janeiro. Ao trmino desse projeto, em 2003, Francisco Azevedo buscou o apoio da Fundao Avina para dar continuidade ao desenvolvimento dessa rede criando o Ncleo de Articulao Nacional (NAN). Em uma conferncia realizada em novembro de 2004, foi apresentado o projeto do NAN, que se propunha a fomentar e coordenar aes de ncleos de cidadania e responsabilidade social empresarial espalhados por todo o pas. Essa rede deveria somar esforos aos outros movimentos de cidadania e responsabilidade social empresarial que j se desenvolviam e espalhar essa idia pelo Brasil. Para isso, era necessrio que esse movimento no se limitasse aos grandes centros, mas que chegasse a todas as regies do pas, dizia Francisco Azevedo. A proposta era, a partir do conhecimento da cultura e da realidade local, que se encontrassem formas de envolver as empresas com prticas cidads e socialmente responsveis e de disseminar por todos os Estados os temas j citados. O projeto do NAN caminhou por trs anos realizando uma srie de aes de sensibilizao e articulao para identificar potenciais lideranas que pudessem colocar em andamento um ncleo de ao

INTRODUO

Notamos, entretanto, que todo esse potencial nem sempre tem sido explorado em toda a sua extenso, embora muita coisa interessante venha sendo feita em alguns ncleos, e isso pode ser comprovado mais adiante quando apresentarmos as aes de cada um. A sensao que fica que muito mais poderia ser feito com a ampliao das articulaes entre os atores desses ncleos locais com os demais setores da sociedade. Esta viso reforada pelo comentrio de um empresrio: Ns subestimamos a capacidade que temos de modificar a realidade. V-se que ainda h um grande potencial poltico-estratgico a ser desenvolvido. Ficamos com a pergunta: o que mantm esse empresariado tmido e desarticulado em suas aes sociais? Talvez haja uma inrcia a ser vencida, barreiras e preconceitos a serem superados, ou, quem sabe, a forte dominncia de uma cultura competitiva que no favorece processos cooperativos. Nas visitas sempre inicivamos as conversas com esses lderes, estimulando-os numa discusso sobre as razes do seu envolvimento com os temas relacionados cidadania e responsabilidade social no sentido de perceber seu entendimento acerca destes conceitos e, principalmente, identificar o que os movia para agir no campo social. Numa das conversas, ouvi de um empresrio uma frase que retrata muito bem o quanto a histria do indivduo est relacionada com os valores e compromissos assumidos ante a sociedade: No existe uma nica razo para o compromisso que a pessoa tem com o campo social, so diversas as razes. Mas certamente pessoas comearam nesse caminho rduo porque no se esqueceram da sua origem quando chegaram l. Parece que as escolhas que fazemos, os compromissos que assumimos, esto sempre relacionados com nossa histria, nossa vida. Nas discusses que tivemos, percebemos que os conceitos com os quais trabalhvamos eram conhecidos pela grande maioria; porm, em alguns casos, no eram compreendidos em toda a extenso do seu significado. Por vezes escutamos coisas do tipo uma empresa que no tem a responsabilidade social como estratgia do negcio no vai conseguir vislumbrar um futuro promissor e, por outras, a cidadania empresarial algo s de interesse pblico e a responsabilidade social boa para os negcios da empresa? isso? Na verdade, a impresso que d em muitas conversas

que h um impulso que faz esses empresrios agirem no contexto social ou ambiental que bem anterior real compreenso desses conceitos, que est no pano de fundo de tudo, e que, na realidade, o conceito em si era o que menos importava para essas pessoas - a atitude prevalecia. Eles tinham interesse de evoluir em sua atuao, estavam atentos melhoria de seus processos, dos resultados que alcanavam, e comemoravam cada pequena mudana que conseguiam produzir no ambiente social. Havia entusiasmo nesse desenvolvimento. No setor empresarial alguns me vem hoje como meio esquisito e outros dizem que querem ser como eu; na famlia, sinto a necessidade de trazer a minha esposa para esta caminhada. Ela precisa avanar junto comigo. Sei que ela torce por mim, mas vejo que avancei demais, comenta um empresrio ao relatar a sua trajetria nesse campo. Outros depoimentos trazem consigo o processo de conscientizao que muitos esto vivendo, como: Eu tinha uma viso de assistncia social h anos. Faz tempo que aderi aos conceitos de vanguarda sobre a viso de responsabilidade social. Aqueles que dominam e compreendem bem os conceitos tm um discurso estruturado e uma convico racional sobre a importncia desses temas para a sustentabilidade de sua empresa, da sociedade e do meio ambiente e buscam atuar mais conscientemente. Alguns ampliam sua ao no sentido de serem multiplicadores. Porque no s ter responsabilidade social na nossa empresa, precisamos assumir o papel de ser exemplo, de induzir outras empresas e as pessoas a terem prticas socialmente responsveis tambm, argumenta uma empresria. Entretanto, no precisaramos percorrer meio Brasil para descobrir que, se olharmos pela dimenso humana, os processos de conscientizao e mudana no so simples, ao contrrio, existe muita complexidade por trs do ser humano que no pode ser generalizada. Vivemos dilemas e somos contraditrios e talvez seja isso que nos torna nicos e, por isso mesmo, complexos. Nem sempre esses processos so lineares, nem sempre nossas aes acompanham nossas intenes e nossos discursos. Dilemas aparecem, por diversas perspectivas. Aos poucos, pudemos ir compreendendo as dificuldades daqueles empresrios que tm o genuno desejo de contribuir para a mudana de sua realidade e se vem diante de limites. O meu maior dilema, que eu diria monumental, conciliar o tempo entre aquilo que assegura a minha sobrevivncia com a falta que eu sei que fao ao meu projeto... Se eu pudesse dedicar todo o tempo necessrio l na frente seria diferente... O meu maior dilema no ter tempo para aquilo que acho relevante... Um problema que a gente tambm enfrenta que essas coisas a gente s faz com recursos e h coisa

Percorremos aproximadamente 14.233km do Rio Grande do Sul ao Amazonas, conversamos com cerca de 50 lderes, entre empresrios e executivos dos ncleos, que esto frente desses movimentos localmente. Gravamos e transcrevemos cerca de oitenta horas de entrevistas, recolhemos, organizamos e revisamos informaes de todos os ncleos, junto com cada um deles.que a gente est deixando de fazer porque no tem pernas para isso, confessa um empresrio. Outro dilema revelado por alguns diz respeito legislao e ao sistema tributrio do nosso pas. Sem dvida existem aspectos da legislao trabalhista e tributria que atrapalham muitos processos de alinhamento das pequenas empresas. Se andar em conformidade com tudo isso, a empresa acaba perdendo a motivao para a prtica da responsabilidade social, observa um pequeno empresrio. Entre todos eles, se impe um dilema tico que simbolizado neste depoimento: Constru a sede de minha empresa preservando os princpios da responsabilidade social e ambiental e, por isso, tive um custo maior do que se fosse um outro projeto qualquer. Mas o meu cliente no enxerga isso, o cliente consegue enxergar o menor preo. Enquanto isso, a concorrncia que no tem compromisso tico consegue oferecer o menor preo. A gente procura fazer as coisas corretamente, recolhe os impostos e v a concorrncia que sonega e corrompe prosperar. difcil romper esse crculo vicioso. O mais freqente dilema relatado est relacionado com o sentimento de insatisfao e desconfiana em relao ao governo: A obrigao do governo direcionar todos esses tributos que a gente paga para educao, sade, saneamento, essas necessidades bsicas do ser humano. Porque tenho que pagar por tudo isso e ainda preciso investir recursos em educao atravs de projetos sociais da minha empresa? Encontrei muitas contradies no meio desse caminho e a existncia delas no est relacionada com a falta de unanimidade quanto aos conceitos de investimento social privado, cidadania ou responsabilidade social empresarial. A questo mais profunda e se relaciona com as incoerncias de um ambiente de negcio em processo de mudana, onde valores novos se misturam com valores antigos. As contradies que alguns empresrios deixam refletir na prtica de suas empresas - e fao questo de registrar aqui que no so todos - no diferem em nada do que encontramos em pesquisas e estudos recentes sobre as prticas do investimento social e da responsabilidade social empresarial que so publicados na mdia brasileira. H algo em 28 anos de movimento pela cidadania e pela responsabilidade social empresarial que nos coloca em xeque. Se imaginarmos, por exemplo, que todo esse movimento nasce para melhoria do contexto socioambiental do Brasil, pas cuja marca social a desigualdade, e que no contexto ambiental tem a responsabilidade de zelar por um dos maiores tesouros ecolgicos do planeta, poderamos esperar que nesses anos todos de movimento pudssemos ter caminhado mais fortemente na direo desses temas e produzido mudanas e resultados relevantes. Porm a desigualdade social persiste e o pouco avano nessa rea vem de programas assistenciais do governo, que conseguem apenas reduzir, de forma paliativa, esse fosso social que tanto nos envergonha. A desigualdade neste pas no se limita renda,

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ela se desdobra em outros Campos, como gnero, etnia e tambm em termos regionais. Na Regio Nordeste, por exemplo, se localiza o maior percentual de pobreza desse territrio (51,6% da populao total): suas crianas e jovens (de 0 a 17 anos de idade) que se mantm muito pobres (68,1%) no apenas por falta de comida, mas tambm por falta de oportunidades (Pnad 2007). Que futuro vemos para nosso pas sem que encaremos questes como essa? Assim, quando observamos o amadurecimento da democracia e o indiscutvel crescimento do movimento da cidadania e da responsabilidade social empresarial neste pas, cabe-nos perguntar: o que tem impedido o avano em questes como essa? O que isso pode revelar sobre esse movimento? No plano ambiental, como comenta a nossa ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, intolervel a continuidade do desmatamento ilegal na Amaznia... Somos o quarto maior emissor de carbono no mundo devido, principalmente, ao desmatamento... Como bem demonstram estudos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia, a evaporao emanada dos cinco milhes de quilmetros quadrados da floresta

amaznica vital para fornecer umidade a parte do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul do Brasil e da Amrica Latina. S para pontuar um nico aspecto da magnitude que a dimenso ambiental brasileira tem para o prprio pas e diante do mundo. O relatrio O Estado de Competitividade Responsvel 2007 - fazendo a sustentabilidade ser levada em conta no mercado global, lanado em julho de 2007 pela AccontAbility e pela Fundao Dom Cabral, mostra que as empresas brasileiras ocupam o 56 lugar entre as empresas de 108 pases. Esse ndice avalia: 1. o quanto as estratgias e prticas dos negcios levam explicitamente em conta seus impactos sociais, econmicos e ambientais; 2. o quanto o macroambiente do pas norteia essas estratgias e prticas;

3. o quanto fatores como liberdade de imprensa e a intolerncia corrupo influenciam negativamente a competitividade responsvel. Esse estudo comprova alguns dos dilemas que percebemos no empresariado e nos leva a concluir que h um longo caminho a ser trilhado para tornar o Brasil um pas sustentvel. Ento o que precisa ser feito para que se avance em questes como essas? E o que vai significar para o pas o fato de no se avanar? AUTOCRTICA De fato temos muitas contradies e desafios a serem enfrentados nesse movimento. E como parte integrante dele podemos e devemos fazer uma autocrtica. Quando ampliamos o foco da cidadania e da responsabilidade social empresarial no Brasil, no temos dvidas de que avanamos na participao cidad, na tica, na transparncia, na responsabilidade e no compromisso das empresas com o contexto onde esto inseridas. visvel a busca das empresas por valores, hoje considerados indispensveis para o seu posicionamento frente sociedade. Assim como visvel que no s a sociedade, mas tambm o mercado, atravs de consumidores, investidores e acionistas, passam a esperar muito mais das lideranas empresariais no desempenho de seu papel no contexto poltico-social em que inserem seus negcios. Ao mesmo tempo, evidente que as razes desse movimento precisam se aprofundar para no corrermos o risco de tombar diante dos ventos fortes, como rvores cujas razes ficam na superfcie. Em ltima anlise, nada acontece nas empresas se no for atravs de seus lderes, se eles no estiverem efetivamente engajados na proposta de mudana. Eles so como razes profundas, que sustentam uma rvore. Deles vem o impulso de vida ou de morte de uma empresa. Alguns dos lderes da Rede ACE tm pensado sobre o seu papel na conduo desses temas: Empresa sem legitimidade no se sustenta e, se no gera riqueza, no distribui riqueza. Isso um crculo que pode ser vicioso ou virtuoso. Como lderes empresariais precisamos estar atentos porque no podemos tomar o lugar do Estado.

o mais importante nesse campo da RsE formar cidados cientes dos seus deveres e direitos... Bastaria ter um nico programa o de engajamento de cidados. Eu acredito no exemplo. o lder de hoje precisa estar bem embasado nas suas prprias crenas, nos seus valores, ter conscincia da sua responsabilidade, no somente como um provedor de receitas, de empregos, mas sim com alimentador de uma sociedade. Ver a questo social e ambiental, ver o retorno de suas iniciativas, tanto quanto o retorno financeiro. o lder de hoje precisa ter a conscincia desse trip, que o trip da sustentabilidade. se h algo que emerge, e se afirma, fortemente em meio a tudo que vimos e ouvimos nessa caminhada a dimenso e a relevncia da participao e do engajamento da liderana empresarial no desenvolvimento desse movimento no Brasil. olhar apenas para a empresa, porm, pode no ser suficiente para chegar raiz que fundamenta suas escolhas e a sua prtica nesse campo. Vejamos o estudo que a organizao Comunitas realizou em 2008, chamado Benchmarking em Investimento social Corporativo (Bisc), que observa diferentes aspectos das contradies vividas pelas empresas brasileiras. Por um lado, o estudo mostra que as empresas vm buscando aprimorar a gesto, a qualidade e o impacto de seus investimentos sociais, mas, por outro, enfatiza que para se acelerar esses processos fundamental que se criem novos padres de colaborao, que se superem desconfianas e que se estabeleam parcerias com os demais setores da sociedade. o desenvolvimento pode ser impactado pelo monitoramento, avaliao, sistematizao, disseminao e, principalmente, troca de conhecimentos sobre a prtica. Essa anlise mostra que h uma tendncia nas grandes empresas de considerar importante operar e gerir seus investimentos sociais via seus institutos e fundaes. Dizem que importante a busca por transparncia e eficincia na tomada de deciso em relao a seus investimentos em projetos sociais e que muitas vm adotando seleo de projetos mediante concursos pblicos. Nota-se, entretanto que, a despeito desse discurso, as empresas ainda enfrentam fragilidades no planejamento e na gesto de seus investimentos, tendo em vista que no avaliam nem monitoram

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adequadamente suas aes sociais, como costumam fazer na sua atuao empresarial. Em nossas conversas com empresrios sobre o monitoramento dos resultados de suas aes, percebemos que so raras as empresas da rede que sabem relatar os resultados concretos de suas aes sociais e poucas investem recursos nessa direo. H, porm, exemplos de empresas que se renem em torno de organizaes que as assessoram nesta relao com a comunidade. No sabemos lidar com aes sociais. A Fundao semear entra com seu know-how, tecnologia e conhecimentos. o empresrio remete os recursos para que ela faa a ponte com a organizao para verificar se aqueles recursos esto sendo bem aplicados, onde esto sendo aplicados e se do o resultado esperado, confessa uma empresria, dando idia das suas dificuldades nesse campo. o estudo Bisc mostra ainda que os grandes temas eleitos pela empresas so educao (32%) e desenvolvimento comunitrio (26%), perfazendo mais da metade dos seus investimentos. Alis, a rea de educao foco de interesse da grande maioria das empresas que investem no campo social, grandes ou pequenas, o que reflete uma prioridade da sociedade brasileira. Apesar disso, as articulaes existentes em torno desse tema no mbito nacional parecem ser fragmentadas, nenhuma conseguiu mobilizar o pas como todo, reunir os interesses e foras existentes nos trs setores da sociedade de forma a operar as mudanas necessrias na educao deste pas. Na seqncia desse foco de investimentos vem a cultura (20%), que recebe estmulo de incentivos ficais. Entretanto, h outro tema que tambm recebe incentivos fiscais e que, embora seja considerado de extrema prioridade para futuro deste pas, no tem o mesmo nvel de investimentos: trata-se da infncia e da adolescncia. No se sabe se por desinteresse ou pelas dificuldades encontradas no processo, o fato que as empresas pouco investem no Fundo da Infncia e Adolescncia (FIA). Essa tendncia de investimentos se confirma no mbito da Rede ACE, junto com aes filantrpicas mais pontuais. Em relao ao FIA, por exemplo, tambm encontramos dificuldades: chegamos a realizar uma campanha, articulando todos os ncleos, sobre esse tema, mas apenas alguns Estados apresentaram resultados relevantes, justamente aqueles cujos conselhos tutelares so mais eficientes. Em geral, as empresas reclamam que os processos de enquadramento lei que norteia esse fundo so dificultadores.

outros temas so pouco privilegiados pelas empresas, embora apaream como emergenciais em todas as pesquisas de opinio relativas s grandes questes sociais enfrentadas no pas. Mesmo sendo uma importante agenda para a sociedade brasileira, a violncia e a corrupo parecem ser ainda muito pouco consideradas na pauta dos investimentos sociais privados da grande maioria das empresas brasileiras. se relacionarmos o no-enfrentamento dessas questes com o no-enfrentamento das questes da desigualdade neste pas, no podemos deixar de apontar a necessidade de se refletir sobre o que norteia a eleio dos temas escolhidos pelas empresas para a sua atuao social. Esse estudo indica que h, no Brasil, uma tendncia, assim como na maioria das sociedades democrticas do mundo, de aumento da influncia do setor privado e da sociedade civil no mbito do interesse pblico. Cremos que, num futuro prximo, a atuao articulada entre o Estado e esses setores, no sentido de potencializar recursos e competncias existentes, se concretizar em aes voltadas para o bem comum. A disseminao dos movimentos de observatrios sociais por Cidades Justas e sustentveis exemplo disso. Eles comeam a se formar em vrias cidades brasileiras e alguns so protagonizados por ncleos dessa rede. Uma revelao do estudo Bisc, do Comunitas, que cerca de 60% dos investimentos sociais das grandes empresas so aplicados na Regio sudeste, onde se encontram os mais altos ndices de desenvolvimento humano e o maior mercado consumidor do pas. Em detrimento, inclusive, de regies como Norte, Centro-oeste e Nordeste, onde existem as maiores demandas de investimento social. Essa uma caracterstica controversa que se configura na maioria das aes sociais das empresas. Em geral, elas costumam investir no seu entorno e/ou em cidade onde se localizam seus mercados consumidores. No caso brasileiro, essa viso refora o desequilbrio regional e a concentrao de riquezas. Contradies e dilemas existem porque refletem um certo nvel de conscincia. evidente que segue evoluindo a conscincia do empresariado frente s temticas da responsabilidade social, do investimento social e da cidadania empresarial. Compreendemos que existe um processo estabelecido, e irreversvel, em andamento e que preciso continuar se investindo nele. Muitas so as

empresas que encaram com seriedade o compromisso com prticas socioambientalmente responsveis e o seu desafio se diferenciar de outras tantas que se valem do marketing social apenas para divulgar suas aes pontuais. o prprio empresariado reconhece desafios na sua adeso aos novos paradigmas da cidadania, responsabilidade social e da sustentabilidade. Para eles no fcil manter uma atitude tica num pas onde prevalece a cultura da vantagem a qualquer custo, onde vigora um sistema econmico no qual predomina a concentrao de riquezas, onde os conceitos e princpios aprendidos nas escolas de administrao so regidos pela competitividade. Essa questo consegue ser superada mais facilmente pelas grandes empresas, mas para as pequenas se transforma num tormento. Em tese, esses procedimentos quando implantados tornam a empresa mais forte, mais sustentvel. Vejo isso na prtica, na minha empresa, que se nivela entre mdia e grande. Porm alguns, para se tornarem mais

competitivos, cedem tentao de sonegar imposto e infringir as leis trabalhistas. muito difcil conseguir conciliar responsabilidade social com competitividade quando voc uma pequena empresa, comenta uma empresria da Rede ACE. todos concordam em afirmar que a razo da existncia da empresa o lucro e que o papel dela, na perspectiva econmica, dar sustentao ao prprio negcio. Ningum em s conscincia pode afirmar que uma empresa sobrevive sem lucro, mas a questo no essa. A pergunta que se impe na atualidade se pases como o Brasil podem ser sustentveis com o atual modelo concentrador de riquezas que vigora nas relaes de mercado. A recente crise financeira internacional, por exemplo, expe a face de um planeta injusto e insustentvel que h tempos d sinais de uma incontestvel desordem social e degradao ambiental. Urgem mudanas no sistema econmico mundial, nas relaes de produo, de comrcio e de consumo.

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Nada acontece nas empresas se no for atravs de seus lderes, se eles no estiverem efetivamente engajados na proposta de mudana. Eles so como razes profundas, que sustentam uma rvore. Deles vem o impulso de vida ou de morte de uma empresa.Nessa perspectiva, Muhammad Yunus, atravs de suas bemsucedidas experincias em microfinanas, tem a premissa de que para se produzir impacto social necessrio combinar a atividade econmica com lucro compartilhado e ampliado. Yunus carrega consigo a noo de que o lucro a recompensa, no a finalidade do negcio. sua proposta estimular as empresas a gerar negcios que atendam e incluam uma enorme parcela da populao mundial. o capitalismo desafiado a ser mais criativo e as empresas so instadas a trabalhar de forma mais cooperativa, junto com governos e organizaes sem fins lucrativos, para ampliar o mercado de forma a promover a incluso e minimizar desigualdades. As empresas sociais rompem todos os paradigmas dos atuais modelos de negcio. Essas novas empresas tm como prioridade gerar benefcio sociais, e no dividendos para poucos, e seus investidores e acionistas esperam que os resultados sejam utilizados para ampliar o alcance, melhorar a qualidade dos produtos, o atendimento das necessidades de pblico e a gerao de riquezas no mbito local. os empreendedores atuam pela causa e o lucro a recompensa e no a finalidade. Essas empresas no atuam para os pobres, mas com os pobres. No se trata de uma estratgia filantrpica, mas de um modelo com fins lucrativos comprometido com resultados sociais. Muitas j so as empresas, no mundo inteiro, que esto aderindo a essa viso de negcio. sabemos que no esgotamos aqui todas as questes e desafios que englobam a cidadania empresarial, e todos os temas correlatos, no Brasil. A nossa tentativa provocar algumas reflexes que possam contribuir para o avano desse movimento e tambm chamar ateno para as possibilidades que se encerram nessas questes. Uma delas est relacionada com o desenvolvimento da dimenso social das lideranas empresariais, do crescimento da participao cidad e dos processos cooperativos. Quando falamos desses processos, nos referimos a pessoas e organizaes que se articulam em torno de interesses mtuos e comuns. Nessa perspectiva, lembramos que as redes so grandes linhas condutoras de interesses, atuaes, conhecimentos e outros recursos que entrelaam indivduos e organizaes, formando ns, conexes, pontos de encontro e de troca, que se desdobram em novos pontos e conexes. Nesse processo, formam-se as teias de relaes conectadas. A rede a metfora de uma estrutura de relacionamentos encadeados, uma nova concepo de desenvolvimento que se fundamenta na construo de capital social. Quando falamos de redes, falamos de relaes e cooperao. Assim como nos processos de evoluo biolgica, as redes so um complexo e dinmico sistema vivo. Assim a rede: viva e poderosa, como diria Lynn Margulis no seu livro Microcosmos(1998), a vida no se apossa do globo pelo combate e sim pela formao de redes. Pensando no que representaro no futuro os sistemas cooperativos, sua fora e poder, vislumbramos o grande potencial da Rede ACE no desdobramento de aes, no s porque opera com temas fundamentais para o Brasil, mas porque congrega e movimenta milhares de lderes e suas empresas, localizados estrategicamente por esse imenso territrio. Alm disso, como se ver nas pginas seguintes desta publicao, somos um sistema vivo, diverso e criativo que movimenta um sem-nmero de iniciativas em 11 Estados e que se desdobra em mltiplas conexes numa teia de influncia de longo alcance. todos estamos conscientes da riqueza produzida nesse ambiente e de que ela jamais se perder; ao contrrio, ela se alimentar e se far prosperar na permanente relao de troca.Uma rede, impulsionadora e apoiadora do empresariado brasileiro na evoluo da conscincia, de prticas e de relaes cidads, social e ambientalmente responsveis.

todo esse potencial tambm se transforma em desafios, como o de vencer a distncia geogrfica, encontrar e alimentar na diversidade os pontos de convergncia, de reconhecer-se com uma identidade multifacetada e buscar iniciativas que produzam relevncia social e ambiental para este pas. ou seja, promover o encontro de intenes e aes das lideranas empresariais comprometidas com a possibilidade de um outro Brasil. Quando escolhemos a ilustrao central desta publicao tivemos a inteno de reproduzir a imagem que desejvamos vislumbrar para a rede ACE neste pas. Pontos iluminados espalhados por todo o territrio brasileiro, tal qual um campo de girassis que retiram da terra o seu sustento e do sol uma energia transformadora. Uma rede impulsionadora e apoiadora do empresariado brasileiro, da evoluo de uma nova conscincia, de prticas e de relaes cidads, social e ambientalmente responsveis. Uma rede

conectora de pontos de convergncias, de lderes capazes de atuar localmente e de juntos, impactarem nacionalmente. Uma rede que tece ns, fortalece relaes, capaz de fomentar novos paradigmas e relaes no mundo dos negcios. esse o futuro que buscamos ver acontecer. Poesia, excesso de idealizao? talvez, se nos detivermos apenas nas contradies que observamos nesse processo pelo Brasil afora. sabemos que almejamos no apenas uma evoluo, mas uma revoluo de princpios e valores na nossa sociedade brasileira. seria possvel? se voltssemos ao fim dos anos 70 e olhssemos para o Brasil naquele momento, diramos que no. Mas o que hoje estamos vendo acontecer no ambiente empresarial e na sociedade brasileira como todo, sinal de que no haver retrocessos. Portanto, nos perdoem os cticos, mas queremos trazer memria o que pode nos dar esperana... Susana Simes Leal

Diretora de relaes institucionais do Instituto Ao Empresarial pela Cidadania e membro da Rede de Articulao Nacional pela Cidadania Empresarial

Foto: Arquivo / Rede ACE

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Comisso de Cidadania Empresarial do Centro da Indstria do Estado do Amazonas e Federao das Indstrias do Estado do Amazonas Cieam / Fieam

Vista area da Floresta Amaznica, a maior floresta tropical do mundo

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Foto: Arquivo / Rede ACE

Contexto O Amazonas o mais extenso dos 26 Estados brasileiros, ocupando uma rea de 1.570.745km, que equivale rea da Regio Nordeste com seus nove Estados. Est no Norte do pas e faz fronteira com pases como a Venezuela, o Peru e a Colmbia. Em 2005, o Amazonas se posicionava como o 11 Estado mais rico do pas, com um Produto Interno Bruto (PIB) de 33,3 bilhes de reais. Embora seja um dos poucos Estados brasileiros que no possuem litoral, a ele pertencem a maior bacia hidrogrfica e o maior rio do mundo, a Bacia Amaznica e o Rio Amazonas. O Amazonas tem 98% da sua rea florestal conservada, diferentemente dos outros nove Estados da Amaznia Legal, cujas florestas j tiveram impactos ambientais em 17% do territrio. O direcionamento da sua vocao econmica para outras atividades a partir da organizao da Zona Franca de Manaus, em 1967, foi determinante. O esforo consciente para manter os projetos agropecurios dentro dos limites da preservao ambiental e a valorizao do manejo da floresta como fonte de renda contriburam para que o Estado enfrentasse o desafio de reduzir o desmatamento em 21% em 2003, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

De acordo com o relatrio do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, em 2001, a Regio Norte foi a nica regio brasileira onde a pobreza aumentou, passando de 36% em 1990 para 44% em 2001.Alm de toda sua riqueza financeira, o Amazonas mantm um capital natural nico no mundo. Alm da floresta, da biodiversidade e de sua bacia hidrogrfica, ainda possui uma vasta fauna e milhares de espcies de peixe, componente da cesta bsica na regio. Os solos amazonenses so relativamente pobres e a economia baseia-se na indstria, no extrativismo, inclusive de petrleo, gs natural, minerao e pesca. Alis, essa uma tradio que perdura desde a colonizao: o extrativismo teve incio com a explorao do ltex, durante o ciclo da borracha, e at hoje faz parte da economia. Com mais de 3.221.939 habitantes, conforme projees feitas em 2007, o Amazonas o segundo Estado mais populoso da Regio Norte do Brasil. Sua capital, Manaus, a cidade com o 4 maior PIB per capita do Brasil, segundo o IBGE. A cidade cresce desordenadamente e j considerada a maior cidade da Regio Norte, com cerca de 2.000.000 habitantes. Dos 62 municpios do Estado, apenas trs deles tm um ndice de Desenvolvimento Humano considerado mdio (entre 0,774 e 0,711), 33 ficam abaixo desse ndice (indo at 0,611) e 24 chegam a alcanar ndices muito baixos, chegando a 0,486. Entre 1991 e 2000, o Amazonas foi o segundo Estado brasileiro que mais caiu de posio no ranking nacional de IDH, passando da 14 posio para a 17. De acordo com o relatrio do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, em 2001, a Regio Norte foi a nica regio brasileira onde a pobreza aumentou, passando de 36% em 1990 para 44% em 2001. A culpada no a escassez de recursos, mas uma persistente e alta desigualdade, ressalta o relatrio, segundo o qual tambm houve um retrocesso do ndice de desenvolvimento humano dessa regio.

Gara-branca-grande vive em grupos de vrios animais beira de rios, lagos e banhados

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Pr-do-sol no Rio Amazonas

A poltica tributria vigente na Zona Franca de Manaus diferenciada da que vigora no restante do pas, oferecendo benefcios fiscais como forma de compensao a custos de fretes, transportes e outros. Os incentivos fiscais so concedidos pelos governos federal e estadual e h tambm o reforo de polticas tributrias estaduais e municipais. Em contrapartida, essas empresas parecem ser muito cobradas pela legislao local vigente tanto em relao aos aspectos de preservao do meio ambiente quanto em relao ao investimento social. Para alguns empresrios o modelo do PIM foi montado pensando de forma que as empresas gerassem renda sem prejudicar a floresta e ao mesmo tempo mantivessem projetos do governo, como, por exemplo, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Achamos importante trazer todos os aspectos contextuais que envolvem o Amazonas porque entendemos que esse Estado guarda caractersticas prprias, especialmente no que toca s questes ambientais, pelo importante papel que as empresas vm assumindo no desenvolvimento socioambiental, que, aparentemente, tende a aumentar. Alis, essa preocupao revelada na fala do presidente do Centro da Indstria do Estado do Amazonas (Cieam), Maurcio Loureiro, quando menciona que o Estado carece de um planejamento estratgico que vise ao desenvolvimento sustentvel com nfase na potencializao dos seus recursos

O Amazonas no s importante para o Brasil, mas tambm para todo o planeta devido a sua condio ambiental nica. O mundo todo observa essas riquezas naturais com ateno.

Foto: Stock.XCHNG

Alm dessas informaes, o Ministrio do Desenvolvimento Social (MDS) apresenta o ndice de Desenvolvimento Familiar (IDF), que descreve um novo mapa da pobreza no pas. A combinao de diversos fatores considerados nesse ndice, como um assistencialismo equivalente a pouco mais do que uma esmola social e o trabalho assalariado praticamente inexistente, alm da baixssima escolaridade, faz do Amazonas o Estado com a pior situao de misria, seguido do Par e do Maranho. Nove dos dez municpios com os muito pobres do Brasil so da Regio Norte, revela o relatrio do MDS. No plano ambiental, o Relatrio da Anlise Ambiental e de Sustentabilidade (AAS) do Estado do Amazonas, realizado pela36

Comisso Econmica para Amrica Latina (Cepal/ONU) e pelo governo do Estado, publicado em julho de 2007, afirma que o desempenho econmico do Estado do Amazonas se sustenta nos fortes incentivos fiscais e de localizao que so concedidos em virtude da sua condio de zona franca. Recentemente prorrogou-se o prazo de vigncia da Zona Franca de Manaus em dez anos, at 2023. Tambm se ajustaram os incentivos a fim de promover ainda mais o modelo de cadeias produtivas, impulsionando o aproveitamento dos recursos naturais do Estado com vista a criar um modelo sustentvel. A estratgia de aproveitar o patrimnio natural e incrementar os investimentos em cincia, tecnologia e inovao difere da que geralmente seguida em outras regies tropicais ricas em floresta.

No contexto econmico, destaca-se a criao da Zona Franca de Manaus (ZFM) em 1957, com o intuito de ser um porto livre, que teve forte influncia sobre a economia do Amazonas. A ZFM ganhou os contornos atuais dez anos aps sua criao, quando se estabeleceram incentivos fiscais por 30 anos em um plo industrial, comercial e agropecurio no Estado. Entre esses se destaca o Plo Industrial de Manaus (PIM), que possui mais de 500 indstrias de alta tecnologia, gerando mais de meio milho de empregos diretos e indiretos. O PIM um dos mais modernos plos de tecnologia da Amrica Latina. Em 2007a Superintendncia da Zona Franca de Manaus (Suframa) contabilizou um faturamento superior a US$ 25 bilhes, caminhando em 2008 para US$ 30 bilhes, gerando mais de 120 mil empregos diretos e cerca de 420 mil indiretos, somente na cidade de Manaus.

naturais. Ele chama a ateno para a questo da gesto do uso da gua, cada vez mais preciosa para os seres humanos, alertando para a importncia de se manter a soberania brasileira sobre a abundncia desse recurso existente na Amaznia, sem que se permita a interferncia de outros pases. O presidente menciona tambm o aumento da iniciativa empresarial estrangeira na aquisio de terras na Amaznia, o que pode ser indcio de uma ocupao silenciosa. Segundo ele, necessrio um projeto de longo prazo estrategicamente elaborado para que se ocupem racionalmente os espaos existentes. Se isso no acontecer, no nos sustentaremos, pois as foras externas sero maiores do que a nossa capacidade de resistncia, alerta Loureiro. O Amazonas no s importante para o Brasil, mas tambm para todo o planeta devido a sua condio ambiental nica. O mundo todo observa essas riquezas naturais com ateno. No h dvidas das amplas oportunidades que as

empresas brasileiras encontram nesse territrio; entretanto, os seus desafios e responsabilidades parecem guardar as mesmas, ou talvez ainda maiores, propores.

Sobre o Ncleo A Comisso de Cidadania Empresarial foi criada em abril de 2004 com a misso de promover o engajamento das empresas instaladas no Plo Industrial de Manaus na construo de uma sociedade economicamente prspera e socialmente justa, contribuindo para a preservao do meio ambiente, a melhoria da qualidade de vida, o crescimento e o desenvolvimento econmico do Estado do Amazonas. Coordenada pelo empresrio tila Denys a partir de 2007, a comisso congrega 176 empresas associadas ao Cieam. O Cieam, fundado em agosto de 1979, desenvolve projetos visando apoiar e representar institucionalmente as empresas em diversos rgos da37

amazonas Foto: Stock.XCHNG Foto: Stock.XCHNG

Teatro Amazonas, em Manaus, principal patrimnio artstico e cultural do Estado e detalhe de uma pea usada nas danas populares

esfera governamental envolvidos nos processos de concesso e administrao dos incentivos fiscais em vigor na Zona Franca de Manaus. Para tal, est estruturado para assistir as empresas associadas que esto iniciando atividades ou as que se encontram em fase de expanso e diversificao de seus mercados. Sua misso congregar as indstrias do Estado do Amazonas, representando, defendendo e preservando os interesses das instituies associadas, na busca de solues e alternativas que visem ao contnuo fortalecimento e desenvolvimento do PIM. Seu principal objetivo levar o setor industrial do Amazonas a conquistar posio de destaque nos cenrios nacional e38

internacional. E sua viso estratgica contempla o desenvolver de aes ticas, tecnicamente consistentes e politicamente estruturadas, tendo em vista a modernizao do Estado e das instituies econmicas. Buscando propiciar a excelncia entre seus associados, o Cieam presta servios especializados em reas como legislao tributria, logstica, gesto ambiental, comrcio exterior e recursos humanos, no sentido de elevar o grau de eficincia e eficcia do setor industrial. Os responsveis pelo centro tambm buscam oferecer espaos de articulao, debate e atuao em temas relevantes ao desenvolvimento tcnico-cientfico

dos envolvidos e sobre a prtica da responsabilidade social empresarial, atravs das aes da Comisso de Cidadania Empresarial (CCE). Nessa mesma perspectiva, a CCE visa investir estrategicamente no setor social, ser referncia em prticas sociais, influenciar polticas pblicas, conscientizar e engajar empresrios e empresas por meio de sua participao direta em aes concretas e incentivar o debate acadmico sobre responsabilidade social empresarial e sustentabilidade. Sua atuao acontece no sentido de mobilizar o maior nmero possvel de empresas promovendo fruns, seminrios e cursos a fim de incentivar a formao e capacitao dos gestores. E sua articulao se d com o objetivo de firmar parceria com empresas, entidades de classes, governos e ONGs para capitalizar investimentos sociais que garantam retorno direto sociedade e contribuam para alcanar a eqidade social. A Comisso de Cidadania Empresarial composta por duas instncias: o Conselho Consultivo, um foro especial constitudo por empresrios, especialistas em responsabilidade corporativa e sustentabilidade e representantes da sociedade, que visam orientar estrategicamente, sugerir linhas de ao, aprovar o planejamento estratgico e avaliar os resultados e relatrios anuais; e o Comit Executivo, formado por diretores executivos das empresas associadas ao Cieam, que participam ativamente dos eventos e realizaes da CCE e contribuem com a construo de parcerias para a implementao do Programa de Responsabilidade Social Empresarial atravs de aes e projetos. As principais aes da CCE so: Voluntariado Empresarial visa organizar a disposio para o trabalho voluntrio dentro da empresa, envolvendo seus colaboradores e gerando aes em benefcio da comunidade nas reas de educao,

formao profissional, preservao do meio ambiente, cultura, lazer, esportes, sade e defesa de direitos. Balano Social das Empresas do PIM Objetiva ser um instrumento de demonstrao das atividades das empresas, que tem por finalidade conferir maior transparncia e visibilidade s suas informaes sociais. Apoio ao Fundo de Investimento de Apoio a Crianas e Adolescentes (FIA) Frum de Responsabilidade Social Empresarial Um espao permanente para apresentao de palestras, cases, troca de experincias, debates, oficinas e cursos de capacitao para enriquecer o processo de gesto responsvel para a sustentabilidade.39

amazonas

Campanha de estimulo s empresas do Plo Industrial de Manaus (PIM) a doarem para o Fundo da Infncia e Adolescncia e apoiarem as entidades responsveis pela formulao de polticas locais de atendimento populao infanto-juvenil. Dia V Realizado, anualmente, no Dia Internacional do Voluntariado pela Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam, rene empresas associadas, colaboradores, parceiros e fornecedores para um dia inteiro de aes sociais. Natal da Esperana Ao para viabilizar a ceia natalina e doaes de brinquedos, promovida pela Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam. So realizadas campanhas internas para motivar os colaboradores a fazer doaes, que so encaminhadas a entidades de assistncia a crianas, adolescentes e idosos. Todas essas aes so realizadas em parceria com instituies de todos os setores. A conscincia de atuar em parcerias est muito presente na fala das empresas amazonenses. A articulao empresarial de empresas e sociedade civil parece ser um dos pontos fortes do Cieam. Essa capacidade de atuao e de articulao no desenvolvimento de aes socioambientais do Estado do Amazonas se reflete na fala do empresariado local. Para eles, foram institudos atravs dos anos movimentos sociais que acabaram40

Foto: Stock.XCHNG

mesclando com a viso do lucro e da responsabilidade social. As empresas comearam fazendo filantropia para depois passarem ao de investir de forma mais sistemtica no campo social, de acordo com a sua viso e filosofia de negcios. Se o negcio de uma empresa impacta o meio ambiente, ento ela deve investir parte lucro em projetos que apiam a comunidade a trabalhar com reutilizao e reciclagem do resduo do produzido, explica Amauri Branco, diretor da Microservice e membro do Conselho Superior do Cieam. Segundo Branco, algumas empresas da regio atuam de forma mais pontual com voluntariado, filantropia e em alguns projetos estratgicos. A maior demanda, no entanto, ainda por aes imediatas. Muitas vezes instituies procuram as empresas para que elas disponibilizem verba para consertar um telhado, comprar equipamentos, etc. Essa prtica estimula o assistencialismo. Nesse sentido, o presidente do Cieam, Maurcio Loureiro, ressalta que na sua viso o lucro deve continuar sendo a meta do empresrio, mas com um diferencial, pois sem o lucro nada pode ser viabilizado, mas a busca por ele deve ser feita com tica e responsabilidade, contribuindo para minimizar as carncias das classes menos favorecidas. Loureiro enfatiza a necessidade do Cieam de atender aos anseios de seus associados. Para ele, estar associado ao centro no significa uma obrigatoriedade e sim uma questo de credibilidade,

O presidente do Cieam, Maurcio Loureiro, ressalta que na sua viso o lucro deve continuar sendo a meta do empresrio, mas com um diferencial, pois sem o lucro nada pode ser viabilizado, mas a busca por ele deve ser feita com tica e responsabilidade, contribuindo para minimizar as carncias das classes menos favorecidas.confiabilidade, profissionalismo, um diferencial competitivo. Segundo Nbia Lentz, assessora de comunicao e responsabilidade social do Cieam, preciso lembrar que a gesto responsvel tem como critrios de relao com os stakeholders a eqidade, a transparncia e a prestao de contas, considerando e incluindo o fornecimento e a acessibilidade s informaes, alm de cobrar da prpria empresa que atue como consumidora consciente, se comprometendo na mobilizao de toda a sua cadeia produtiva, exercendo seu poder de influncia. Podemos destacar os principais impactos nas funes exercidas nas empresas nas reas de recursos humanos, compras e suprimento, marketing e venda, gesto de fbricas e unidades e na comunicao empresarial. Essa tem sido a minha abordagem com as empresas: responsabilidade social empresarial estratgia de negcio, de mercado, viso de futuro. Se a empresa quer que o seu produto tenha mercado, tem que ser responsvel pelo meio ambiente e pelos consumidores, oferecendo um produto adequado ao consumo, garantindo que todas as tcnicas de produo utilizadas sejam social e ambientalmente responsveis. Precisamos falar a linguagem do empresariado, explica Nbia. Por outro lado, ela destaca a importncia que tem a liderana empresarial no caminho do desenvolvimento da responsabilidade social das empresas. Quando os empresrios tm acesso a informaes reais, eles no ficam alheios. Coloc-los em contato com a realidade muda tudo, embora levlos a esse contato seja a misso mais difcil. O voluntariado a porta de entrada. Grande parte das empresas associadas ao Cieam de mbito global41

Vitria-rgia, planta aqutica tpica da regio amaznica, pode chegar a 2,5 de diamtro e suportar 40 quilos

por arrastar outros atores para a interpretao de papis que antes no eram vistos na sociedade. Pode-se citar, como exemplo, o Natal da Esperana. No tocante ao desenvolvimento do tema da responsabilidade social empresarial, que o Cieam se prope a disseminar, Maurcio Loureiro comenta: Temos tentado incutir na cabea dos demais colegas empresrios que responsabilidade social um tema que virou moda, mas nem por isso deve ser tratado como coisa comum. Na opinio de Loureiro, a classe empresarial local j tem este conceito incorporado s suas empresas por causa da legislao vigente. O assunto s no havia tido a devida nfase nem sido divulgado adequadamente ao longo dos anos. Da a deciso de se criar a diretoria de responsabilidade social do Cieam. Hoje, 20 das 45 empresas envolvidas diretamente com as aes da Comisso de Cidadania Empresarial publicaram um balano social. Na atuao das empresas entrevistadas vemos o voluntariado e a filantropia se

amazonas

e alguns desses lderes so executivos que enfrentam dilemas diante dos valores de sua empresa. Entretanto alguns j conseguiram influenciar a sua empresa matriz, que estava fora do pas, esclarece. Como exemplo Lentz cita a Procter & Gamble, que conseguiu influenciar a matriz norte-americana, que j implantou um programa de voluntariado l inspirado no trabalho amazonense. A Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam tem feito boas parcerias, tendo o Sesi local como um dos seus maiores parceiros. Segundo Simnica Sidrim, Gerente de Responsabilidade Social do Sesi o Centro da Indstria uma instituio bastante articulada,dentro do segmento industrial e com uma rede social local, ento isso tem dado um suporte muito bom para o Ncleo e para a Federao tambm. No tem sentido inventar a roda, porque no aproveitar a roda j pronta? H essa experincia j adquirida, ver de que forma isso acontece e contribuir com a melhoria desses projetos. Se vai ser realizado um evento, a federao entra com estrutura, apoio financeiro para que o evento acontea, alm de atuar na articulao, e no envolvimento, antes, durante e depois. Ento as experincias que a gente tem l podemos trazer para c e vise-versa. Diferente da viso de alguns Estados, aqui no somos concorrentes, pelo contrrio, fizemos a opo de diferenciar os nossos produtos e perfil de atendimento s empresas. Em tudo isso, chama ateno a pouca meno do Cieam em relao ao setor42

Parece-me que ainda muito cedo para traar ou querer alar vos mais altos. Porm, se trabalharmos com afinco e construirmos boas parcerias, poderemos ir mais longe, diz Maurcio Loureiro

Foto: Arquivo / Rede ACE

comercial, que nos pareceu estar bem distante da viso e do movimento que se criou em torno da responsabilidade social empresarial no Amazonas. Talvez esteja a um grande desafio para o futuro: a integrao de todos os setores pelo desenvolvimento sustentvel do Amazonas.

parcerias e contribuir cada vez mais para o desenvolvimento local. Precisamos influenciar mais lderes empresariais, diz Lentz. Na opinio de Maurcio Loureiro, no pode ser descartada a possibilidade de estender as aes de responsabilidade social para o interior do Estado futuramente. Parece-me que ainda muito cedo para traar ou querer alar vos mais altos. Porm, se trabalharmos com afinco e construirmos boas parcerias, podemos ir mais longe; mas somente o tempo dir, avalia.

Entrega dos mantimentos recolhidos para o Natal da Esperana

Sobre o futuro O atual momento da instituio, de acordo com Nbia Lentz, de reflexo. Estamos convencidos cada vez mais de que devemos nos unir em busca de uma soluo para o pas, e isso s ser possvel com o fortalecimento das nossas parcerias nacionais, conta. O Cieam norteado pelo que acontece no Brasil e no mundo e essa a razo de estar ligado a uma rede maior. Para trabalhar de uma forma mais eficaz, o Cieam est avaliando os resultados alcanados at agora e ouvindo as principais lideranas do setor para planejar o trabalho dos prximos anos. Trabalhamos duro para construir as

Sobre a Rede ACE O Cieam faz parte do Ncleo Amazonas da Rede de Articulao Nacional para a Cidadania Empresarial (Rede ACE) como um importante valor agregado sua atuao. Fazer parte de uma rede de cidadania empresarial que est presente em 11 Estados estar conectada com todas as regies brasileiras em torno de uma agenda comum que busca a transformao social do Brasil atravs de

aes concretas, e precisamos fortalecer essas conexes, declara Lentz. Porm a assessora reconhece que ainda h vrios pontos frgeis na Rede ACE, pois seus ncleos participam tambm de outras redes, portanto recebem demandas de todas elas. Lentz percebe que at o momento que as conexes

precisam ser fortalecidas. Na hora em que voc aciona um ponto encontra um profissional supercomprometido com o resultado do trabalho, mas com uma agenda sobrecarregada, sem poder dedicar o tempo que gostaria para cada uma dessas redes. Temos que saber gerir o tempo e, s vezes, falta talento para isso, analisa.

Para Lentz a complementaridade e a mutualidade entre os ncleos de uma rede vital. O que faz uma organizao se ligar mais a uma rede a eficcia dos resultados do trabalho e a certeza de que seu trabalho tambm importante para essa rede, afirma. Segundo o Ncleo Amazonas, preciso que a rede descubra o que a une ou talvez o que propicie mais essa unio, quem sabe atravs de um projeto que seja nico, uma identidade brasileira, nacional, que reconhea as diferenas sociais, culturais e econmicas, fortalecendo os interesses regionais existentes. Sem isso, os ncleos da rede correm o risco de se perderem dentro de suas prprias histrias.43

Amazonas

ComIsso dE CIdAdAnIA EmprEsArIAl do CEntro dA IndstrIA do EstAdo do AmAzonAs E FEdErAo dAs IndstrIAs do EstAdo do AmAzonAs CIEAm / FIEAm

Samsung, Semp Toshiba, Siemens, Sinaees, Sony, Sweda, Technos, Termotcnica, Thomson, Tyco, Visteon, Xerox e Yamaha. Em Dezembro de 2003 Resultado 3.500 voluntrios 170 toneladas de alimentos 25.000 peas de roupas 70.000 brinquedos 462 instituies beneficiadas HISTRICO Em Dezembro de 2001 O Cieam e a ABRH realizaram uma campanha de arrecadao de alimentos, brinquedos e roupas em algumas empresas associadas. Resultado 14 voluntrios 7 empresas participantes 8 instituies beneficiadas 1.400kg de alimentos 800 peas de roupas 300 brinquedos Em Dezembro de 2002 O Cieam convocou as empresas associadas para participar do Natal sem Fome, em parceria com ABRH, Isae, Sebrae e Ao da Cidadania de Betinho. Resultado 300 voluntrios 47 toneladas de alimentos 5.000 peas de roupas 2.000 brinquedos 84 instituies beneficiadas Empresas Participantes em 2002 Amaznia Celular, Aliana Navegao e Logstica, Cokson Electronics, Brastemp, Coimpa, Cosmoplast, Fujifilm, Genius, Gillette, Gradiente, Hdl, Isae, Kodak, Multibrs, Nokia, Panasonic, Petrobras, Philips da Amaznia, Philips Eletrnica, Recofarma, Rio Claro Trust, Empresas Participantes em 2003 Aliana Navegao, Amaznia Celular, Caloi Norte, Cieam, CCE, Cisper, Coimpa, Coop. Golfinho Rdio Txi, Cootedam, Cosmosplast, El Paso, Electrolux da Amaznia, Essilor, Flextronics, Fujifilm, Genius, Gillette do Brasil, Hdl, Honda, Itautec Philco, Isae/FGV, Kodak, Jabil Circuit, Microservice, Minolta, Multibrs, Natura, Nokia, Oriente, Panasonic, Petrobras Reman, Philips da Amaznia, Philips Mds, Puras Refeies, Recofarma, Savcor, Samsung Eletrnica, Sesi, Semp, Toshiba, Sebrae, Siemens, Sony da Amaznia, Sony Music, Springer, Targo, Technos, Texaco, Termotcnica, Thomson, Videolar, Visteon Vdeo, Xerox e Yamaha.

VISO Ser referncia em prticas sociais. Influenciar polticas pblicas.

ESTRATGIA Mobilizar o maior nmero de empresas promovendo fruns, seminrios e cursos a fim de promover a formao e capacitao dos gestores. Firmar parceria com Empresas, Entidades de Classes, Governos e ONGs para capitalizar investimentos sociais que garantam retorno direto para a sociedade e contribuam para alcanar a eqidade social.

PRINCINPAIS LINHAS DE ATUAO Programa de Cidadania Empresarial

MISSO Promover o engajamento das empresas amazonenses na construo de uma sociedade economicamente prspera, socialmente justa e ambientalmente correta.

PRINCIPAIS PROJETOS/PROGRAMAS/AES Voluntariado Empresarial Visa organizar a disposio para o trabalho voluntrio dentro da empresa, envolvendo colaboradores, gerentes, diretores, fornecedores, clientes e parceiros, gerando aes em benefcio da comunidade nas reas de educao, formao profissional, preservao do meio ambiente, cultura, lazer, esportes, sade e defesa de direitos. Balano Social das Empresas do PIM Objetiva ser um instrumento de demonstrao das atividades das empresas que tem por finalidade conferir maior transparncia e visibilidade s informaes que interessam no apenas aos scios e acionistas das companhias (shareholders), mas tambm a um nmero maior de atores: empregados, fornecedores, investidores, parceiros, consumidores e comunidade (stakeholders). Desde 2003 aumentou o nmero de empresas do Plo Industrial de Manaus (PIM). Hoje so aproximadamente 46, que apresentam de forma estratgica as informaes econmicas, ambientais e sociais, revelando45 17

ENDEREO Rua Acre, 26 Ed. Manaus First Tower 4 andar - Vieiralves, CEP 69053-130 DATA DE INSTITUIO | FUNDAO DA ORGANIZAO Abril de 200444

OBJETIVO Investir estrategicamente no setor social. Ser referncia em prticas sociais. Influenciar polticas pblicas. Conscientizar e engajar empresrios e empresas por meio da participao direta em aes concretas. Incentivar o debate acadmico sobre responsabilidade social empresarial e sustentabilidade.

amazonas

a sustentabilidade da empresa, evidenciada nos indicadores mostrados nos seus balanos sociais ou relatrios de sustentabilidade. Frum de Responsabilidade Social Empresarial Um espao permanente para apresentao de palestras, cases, troca de experincias, debates, oficinas e cursos de capacitao para enriquecer o processo de gesto responsvel para a sustentabilidade. Apoio ao Fundo para a Infncia e Adolescncia (FIA) CCampanha de arrecadao ao Fundo para a Infncia e Adolescncia (FIA), cuja conta bancria administrada pelos Conselhos de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente. Seus recursos so destinados implementao de programas de atendimento e aes voltadas para a defesa dos direitos de crianas e adolescentes nos municpios do Amazonas. A CCE estimula as empresas do Plo Industrial de Manaus (PIM) a doar para o fundo e apoiar as entidades responsveis pela formulao de polticas locais de atendimento da populao infanto-juvenil, em especial aquela parcela que se encontra em situao de risco, ajudando a transformar a realidade das crianas e jovens que merecem oportunidade de crescer e se desenvolver. O Fundo Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente (FMDCA) atingiu, em 2007, o montante de R$ 1.364.242,41, sendo R$ 1.117.738,83 provenientes de transferncias do municpio; R$ 33.391,20 relativos receita patrimonial aplicaes financeiras; e R$ 213.119,38 classificados como outras receitas. As destinaes do Imposto de Renda devido somaram R$ 180.079,38. Desse total, R$ 39.579,38 foram arrecadados por doaes de pessoas fsicas. As doaes das pessoas jurdicas somaram R$ 140.500,00. Esses recursos beneficiaram 15 organizaes da sociedade civil. Dia V Realizado, anualmente, no Dia Internacional do Voluntariado pela Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam, rene empresas associadas, colaboradores, parceiros e fornecedores para um dia inteiro de aes sociais. A comunidade recebe atividades nas

reas de educao, sade, cultura, esporte, lazer, entretenimento, oficinas de capacitao profissional, palestras e cidadania. Natal da Esperana O Natal da Esperana nasceu em 2001 da unio de vrias campanhas que arrecadavam alimentos e brinquedos para garantir que famlias menos favorecidas tivessem uma refeio digna para comer no dia de Natal e brinquedos para presentear suas crianas. Promovido pela Comisso de Cidadania Empresarial do Cieam, conta com a participao do Voluntariado Empresarial, grupo de voluntrios das empresas do Plo Industrial de Manaus. Tem como parceiros o Sistema S, as entidades de classe da indstria, as entidades de classe do comrcio e os Sindicatos das Empresas de Radiodifuso, dos Supermercados do Amazonas, das Empresas Jornalsticas e do Conselho de Desenvolvimento Humano (CDH). So promovidas campanhas internas para motivar os colaboradores a fazer doaes de alimentos no perecveis, roupas e brinquedos, que so encaminhados s entidades de assistncia criana, adolescentes e idosos. Em 2006 foram arrecadados cerca de 500 toneladas de alimentos e mais de 1 milho de brinquedos.

O frum tem a seguinte estrutura organizativa: Plenria Geral (PG): formada pelos signatrios da carta, que atualmente so 83. Tem funo deliberativa e se rene anualmente. Colegiado (CG): composto por GTA, CNS, Foirn, Coiab, Ethos, Imazon, PSA, Amaznia para Sempre, ARQMO, ISA, IOS, OAB-Par, AAICO, Avina, WWF, UFMA, Vale, Grupo Orsa, Banco da Amaznia, Petrobras, IFC, Alcoa, Queiroz Galvo, Grupo Maggi, Grupo Eco, Sindiferpa e ICC. Atua nos impasses da CE. Comisso Executiva (CE): responsvel por planejar/ coordenar a atuao do frum e acompanhar as discusses nos GTs. formada por GTA, Foirn, Vale, Imazon, Ethos, Avina, PSA, Grupo Orsa, ISA, CNS, IFC e Cieam. Secretaria Executiva (SE): responsvel pela execuo das aes definidas pela CE, promove interao entre instncias. Coordena eventos e administra recursos. Est a cargo do Imazon. Grupos de Trabalho (GT): em nmero de oito, so responsveis pelo contedo e pelas propostas do frum.

PARCERIA COM A FEDERAO DA INDSTRIA LOCAL A parceria com a Federao das Indstrias do Estado do Amazonas (Fieam) teve incio em 2006, quando foi institudo o Conselho Temtico de Responsabilidade Social, por determinao da CNI. Desde ento as duas entidades de classe passaram a atuar conjuntamente para o fortalecimento da cidadania empresarial nas empresas associadas e parceiras.

RELAO COM OUTRAS ENTIDADES EMPRESARIAIS LOCAIS Sesi Senai Sesc ACA CDL Fecomrcio Federao da Agricultura do Estado do Amazonas

AES INDICADAS PARA INTEGRAR O BANCO DE PRTICAS DA REDE ACE Frum Amaznia Sustentvel O Frum Amaznia Sustentvel foi lanado em Belm, em novembro de 2007, com a misso de mobilizar lideranas de diversos segmentos sociais para promover dilogo, cooperao e articulao visando a uma Amaznia justa e sustentvel. A Carta de Compromissos objetiva firmar uma linha de orientao, de princpios e de valores bsicos para viabilizar a proposio conjunta de novas prticas em prol da Amaznia. Como espao democrtico e intersetorial, o frum admite a participao dos segmentos privado, pblico e social, bastando que o interessado assine o termo de adeso e concorde com a carta. O Cieam faz parte da secretaria executiva do frum.

Cada GT tem um moderador, um representante da CE e discute um tema especfico: Controle social de mercado e polticas pblicas. Incentivo a produtos e servios sustentveis. Construo de compromissos de boas prticas produtivas; Valorizao do conhecimento tradicional. Estmulo ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico para a sustentabilidade. Demanda de aes do Estado para ordenamento e proteo de direitos. Proposio de polticas pblicas de apoio ao desenvolvimento sustentvel. Fomento ao dilogo entre as organizaes dos pases amaznicos.

PRINCIPAIS PARCEIROS Fundao Avina A misso da Avina contribuir para o desenvolvimento sustentvel da Amrica Latina, incentivando a construo de laos de confiana e parcerias frutferas entre lderes sociais e empresariais, e articulando agendas de ao compartilhadas. O Cieam parceiro da Avina desde 2003 Organizaes da Rede ACE BA: Comisso da Responsabilidade Social da Fieb (Fieb) CE: Instituto Fiec de Responsabilidade Social (Fiec) DF: Ncleo de Responsabilidade Social do Distrito Federal (Fibra) ES: Conselho de Cidadania Empresarial da Findes (Findes) GO: Conselho Temtico de Responsabilidade Social da Fieg (Fieg) MA: Instituto de Cidadania Empresarial (ICE-MA) MG: Conselho de Cidadania Empresarial da Fiemg (Fiemg) PE: Instituto Ao Empresarial pela Cidadania (Instituto AEC) PR: Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial da Fiep (Fiep) RJ: Conselho e Assessoria de Responsabilidade Social da Firjan

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(Firjan) RS: Fundao Semear (Fundao Semear) SP: Instituto de Cidadania Empresarial (ICE-SP) Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial O Cieam articulador do Ethos desde 2004. A misso do Instituto Ethos disseminar a prtica da responsabilidade social empresarial, ajudando as instituies a: 1. Compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento empresarial socialmente responsvel; 2. Implementar polticas e prticas que atendam a elevados critrios ticos, contribuindo para o alcance do sucesso econmico sustentvel em longo prazo; ;3. Assumir suas responsabilidades com todos aqueles que so atingidos por suas atividades; 4. Demonstrar a seus acionistas a relevncia de um comportamento socialmente responsvel para o retorno em longo prazo sobre seus investimentos; 5. Identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na construo do bem-estar comum; 6. Prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econmica e ambientalmente sustentvel. Fundao Abrinq A misso da Abrinq promover a defesa dos direitos e o exerccio da cidadania de crianas e adolescentes. O Cieam parceiro institucional da fundao desde 2005. Frum Amaznia Sustentvel O Frum Amaznia Sustentvel foi lanado em Belm, em novembro de 2007, com a misso de mobilizar lideranas de diversos segmentos sociais para promover dilogo, cooperao e articulao visando a uma Amaznia justa e sustentvel.

EMPRESAS ASSOCIADAS 1. 3M Manaus Ind. de Produtos Qumicos Ltda. 2. Aos da Amaznia Ltda.

3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40.

Aduana Despachos e Assessoria de Comrcio Exterior Ltda. Agio Image Produtos Fotogrficos da Amaznia Ltda. Aliana Navegao e Logstica Ltda. & Cia. Alva da Amaznia Indstria Qumica Ltda. Amapoly Indstria e Comrcio Ltda. Amazon Refrigerantes Ltda. Amazon Transporte Ltda. Amcor Embalagens da Amaznia S.A. Atob da Amaznia Ltda. Arosuco Aromas e Sucos Ltda. Associao dos Consultores do Estado do Amazonas (Ascom) Athletic