Ação do tratamento homeopático na sintomatologia da ... · bucal em duas fases: ... O sintoma...
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INS FUGITARO OTOBE CHEBEL
Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia
bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto
So Paulo
2012
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INS FUGITARO OTOBE CHEBEL
Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia
bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto
Verso Corrigida
Tese apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, para obter o ttulo de Doutor e, pelo Programa de Ps-Graduao em Odontologia. rea de Concentrao: Diagnstico bucal Orientador: Prof. Dr. Fernando Ricardo Xavier da Silveira.
So Paulo
2012
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Chebel OFI. Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto. Tese apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Odontologia. Aprovado em: / /2013
Banca Examinadora
Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________
Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________
Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________
Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________
Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________
Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________
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DEDICATRIA
Primeiramente a Deus, a Luz que emana no Universo e nos mantm vivos,
repletos de energia Vital. A energia que mantm tudo em equilbrio. A luz que
ilumina todas as formas de conhecimento, de amor e solidariedade. A luz da cura e
da graa. Gratido profunda por minha vida.
Aos meus pais (in memoriam), Benedictus e Anita, pelo amor incondicional
devotado famlia. Pelas palavras de conforto e fora, quando estava triste. Por me
ensinarem a nunca desistir de um sonho e de sempre buscar a felicidade,
respeitando o livre arbtrio do prximo. Ser livre, com responsabilidade, esse foi o
maior presente que eles me proporcionaram. Gratido por tudo.
Aos meus queridos irmos, Sueli e Reinaldo. Meus eternos cmplices na arte
de viver. Ao meu amado sobrinho Reinaldo Junior, filho do corao. Aos meus
cunhados Aldo e Aidamar, meus irmos por escolha.
Ao meu querido e amado esposo, Sergio C. Chebel, pelo companheirismo,
compreenso, pacincia e incentivo constantes. Minha alma gmea. Eu te amo.
Aos meus filhos do corao, Ramiro, Renato e Fabiana que preencheram a
minha vida com muitas bnos; e principalmente, replicaram essas graas com os
netos: Ana Clara, Amanda e Pedro. Beijos.
A todos os meus familiares que sempre estiveram presentes nos momentos
difceis e felizes de minha vida.
Aos meus queridos pacientes, que acreditaram em mim incondicionalmente.
Gratido a Todos.
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AGRADECIMENTOS
Ao prof. Dr. Fernando Ricardo Xavier da Silveira, meu orientador da Tese e
da Vida, meu amigo. Pelo respeito e considerao minha pessoa, por estar
sempre presente quando precisei de ajuda.
Ao prof. Dr. Dante Antonio Migliari, pelo incentivo busca de novos
conhecimentos, pela oportunidade que me concedeu de desenvolver novos
conceitos de tratamento, sem preconceitos. Grata pela amizade e considerao.
Aos professores da Disciplina de Estomatologia Clnica da Faculdade de
Odontologia da Universidade de So Paulo, FOUSP Dr. Norberto Nobuo Sugaya,
Dr.Fabio de Abreu Alves, Profa. Dra. Andra Lusvarghi Witzel e. Dr. Celso Augusto
Lemos jnior, que muito contriburam para a minha formao.
Aos funcionrios da FOUSP por toda ateno, carinho e auxilio nas
atividades, especialmente Laerte, Ceclia.
Em especial e com muito carinho, Iracema Mascarenhas Pires (Nina), pela
ateno, amizade e carinho que sempre demonstrou sempre pronta a me ajudar.
Dra. Anali Gerevini Marques, farmacutica responsvel pela randomizao
e manipulao dos medicamentos homeopticos e farmcia Lofficine.
Ao Prof. Alessandro De Ana do IPEN pela realizao da anlise estatstica
A todos os meus colegas do Programa de ps- graduao, sucesso a todos!
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Tocando Em Frente
Ando devagar porque j tive pressa,
E levo esse sorriso, porque j chorei demais,
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,
S levo a certeza de que muito pouco eu sei,
ou nada sei. Conhecer as manhas e as manhs,
O sabor das massas e das mas.
preciso amor pra poder pulsar, preciso paz
Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.
Penso que cumprir a vida, seja simplesmente
Compreender a marcha, ir tocando em frente,
Como um velho boiadeiro, levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou,
Estrada eu sou. Conhecer as manhas e as manhs,
O sabor das massas e das mas,
preciso amor pra poder pulsar, preciso paz
Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora.
Cada um de ns compe a sua histria, cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.
Conhecer as manhas e as manhs,
O sabor das massas e das mas,
preciso amor pra poder pulsar, preciso paz
Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.
Ando devagar porque j tive pressa,
E levo esse sorriso, porque j chorei de mais,
Cada um de ns compe a sua histria, cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.
Almir Sater
http://letras.mus.br/almir-sater/
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Interrupo, incoerncia, surpresa so as condies comuns de
nossa vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais para
muitas pessoas, cujas mentes deixaram de ser alimentadas.....
por outra coisa que no mudanas repentinas e estmulos
constantemente renovados.... No podemos mais tolerar o que
dura. No sabemos mais fazer com que o tdio d frutos.
Assim toda a questo se reduz a isto: pode a mente humana
dominar o que a mente humana criou?
Paul Valry
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RESUMO
Chebel OFI. Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto [tese]. So Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. Verso Corrigida.
A sndrome da ardncia bucal (SAB) definida como uma sensao de queimao
principalmente na lngua, palato e ou gengiva ou em outra regio da mucosa oral, na
ausncia de leso oral especfica. Caracterizada por uma contnua, espontnea, e
intensa sensao de queimao como se a boca ou a lngua tivessem sido
escaldadas. A etiologia pobremente compreendida embora nova evidncias como
neurolgicas, emocionais e alteraes hormonais estejam relacionadas com a SAB.
mais comum entre as mulheres na ps-menopausa e causa intenso desconforto e
sofrimento. Antidepressivos tricclicos, benzodiazepnicos e drogas antipsicticas
so as opes mais indicadas no tratamento e mostraram resultados variveis. O
objetivo desse estudo foi investigar a ao do tratamento homeoptico na
sintomatologia da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo-cego placebo-
controlado e estudo aberto. Associados SAB, nveis de ansiedade e depresso
tambm foram considerados. Esse estudo foi composto por 31 pacientes
diagnosticados com SAB na Clinica do Departamento de Estomatologia da FOUSP,
entre julho de 2011 a setembro de 2012. Estes (25 mulheres, e 6 homens mdia de
idade de 58,93 anos, variao 34-85 anos), foram randomizados em dois grupos
G1(Arsenicum album) e G2 (Placebo), durante 90 dias, com washout de 30 dias
(FASE1). O sintoma ardor bucal e a resposta teraputica foram avaliadas utilizando
uma escala visual de sintomatologia (EVS) a cada visita. Para se avaliar o Efeito
global percebido (EGP), utilizou-se uma escala de 5 pontos ao trmino da FASE 1.
O nvel de reduo sobre o sintoma ardor avaliado pela EVS e o efeito Global
percebido (EGP) foram estatisticamente significantes para o grupo G1(Arsenicum
album) com reduo de sintoma de 44,50% em relao ao placebo (12,65%). Na
FASE 2 (estud0 aberto), 28 pacientes que participaram da FASE 1, receberam
medicamento homeoptico individualizado durante 7 meses, com visitas mensais e
Washout de 60 dias. O sintoma ardor e resposta teraputica foram avaliados
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utilizando (EVS) inicial obtido ao final da FASE 1, e no final da FASE 2. Houve
reduo de sintomas no final do tratamento de 64,60%. A anlise dos dados nos
permitiu concluir que ambos os tratamentos FASE 1 e FASE 2 tiveram efeito
teraputico com significncia estatstica. Houve efetividade do tratamento
homeoptico sobre o placebo na sintomatologia da ardncia bucal. A FASE 2
apresentou melhores resultados quando comparados aos resultados obtidos na
FASE 1. O Grupo Medicamento da FASE 2 foi mais eficaz quando comparado aos
Grupos, Medicamento e Placebo da FASE 1, com significncia estatstica no
intervalo de confiana estabelecido. Os melhores resultados foram observados nos
pacientes com sintomas entre 6 - 36 meses.
Palavras-chave: sndrome da ardncia bucal, tratamento, Homeopatia.
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ABSTRACT
Chebel OFI. Action of homeopathic treatment in the Symptoms of burning mouth syndrome in two phases: double-blind placebo controlled study and open trial study [thesis]. So Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. Verso Corrigida. Burning mouth syndrome (BMS) is defined as a burning sensation mainly on the
tongue, palate and/or gingival or in any other region of the oral mucosa, in the
absence of specific oral lesions. BMS is typically characterized by a continuous,
spontaneous, and often intense burning sensation as if the mouth or tongue were
scaled or on fire. The etiology of this disorder is poorly understood even though new
evidence of involvement of neurological, emotional and hormonal alterations. The
correct diagnosis of BMS and the exclusion of possible local or systemic factors that
can be associated with the symptoms are fundamental. It is most common among
postmenopausal women and causes intense discomfort and suffering. This condition
often affects the health related quality of life in patients. Tricyclic antidepressants,
benzodiazepines and antipsychotic drugs are the most accepted options in treatment
and show variable results. The aims of this study were to investigate the action of
homeopathy treatment in the symptomatological burning mouth syndrome in two
phases: double-blind placebo controlled study and open trial study. Association of
BMS with level of anxiety and depression had been considered. This study
comprised data from 31 patients diagnosed with BMS in the outpatients Clinic of the
Department of Stomatology, FOUSP, between July, 2011 and September, 2012.
Thirty-one patients (25 women, 6 men median age 58.93 years, range 34-85), were
randomized in two groups G1 (Arsenicum album) and G2 (Placebo) during 90 days,
with washout for 30 days (PHASE 1).The oral symptoms and the treatment response
were assessed using visual analogue scale (VAS) before and after the treatment and
the global perceived effect (GPE) score using 5 point scale at the end of the PHASE
1. The level of burning reduction assessed by VAS was significant (44.50% with
Arsenicum album and 12.65% with Placebo). In the PHASE 2, twenty-eight patients
that participate of the PHASE 1, received individualized homeopathic medication
during 7 months, with monthly visits and washout for 60 days. The symptoms and
therapeutic response were assessed using VAS before and after treatment and the
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global perceived effect (GPE) at the end of PHASE 2. The level of burning reduction
assessed by VAS was 64.60%. We concluded that both treatment PHASE1 and
PHASE 2 had therapeutic effectiveness with statistical significance. The use of
arsenicum album was better than Placebo to control the BMS symptoms. PHASE 2
showed the best results when compared to PHASE 1. The medication Group in
PHASE 2 was more effective when compared to the groups, arsenicum album and
Placebo of the PHASE 1, with statistical significance. The best results were observed
in the patients between 6-36 months under treatment.
Keywords: Burning mouth syndrome. Therapeutic. Homeopathy.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 - Distribuio dos pacientes segundo idade, gnero, etnia e hbitos ...... 57 Tabela 5.2 - Fatores clnicos sistmicos associados SAB (n=31) .......................... 58 Tabela 5.3 Caractersticas clnicas da sintomatologia da SAB N=31 ........................ 60 Tabela 5.4 - Fatores clnicos locais associados SAB............................................ 61 Tabela 5.5 - Fatores psicognicos associados SAB ............................................. 62 Tabela 5.6 - Dados biodemogrficos dos pacientes com SAB na FASE 1(N=31) .... 63 Tabela 5.7 - Variao da Escala Visual de Sintoma (EVS) N=31 FASE 1 ............... 65 Tabela 5.8 - Efeito Global Percebido na FASE 1 ...................................................... 65 Tabela 5.9- Caracterstica dos pacientes em tratamento na FASE 2 ...................... 67 Tabela 5.10- Medicamentos homeopticos mais prescritos na FASE 2 (n=28) ........ 68 Tabela 5.11- Tabela Variantes reativas na FASE 2 (n=28) ...................................... 68 Tabela 5.12- Estado geral dos pacientes com SAB pr e ps-tratamento
homeoptico ......................................................................................... 70 Tabela 5.13- Efeito Global Percebido nas FASES 1 X FASE 2................................. 71
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SAB sndrome da ardncia bucal
cH centesimal Hahnemanniana
IDATE Inventrio Trao-Estado
CES-D Escala de Rastreamento Populacional para Depresso
EGP Efeito Global percebido
Ars Arsenicum album
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SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................. 14
2 REVISO DA LITERATURA ........................................................................ 20
2.1 Epidemiologia ........................................................................................... 21
2.2 Classificao e subgrupos ...................................................................... 22
2.3 Etiopatogenia ............................................................................................ 23
2.4 Critrios de diagnstico .......................................................................... 30
2.5 Revises dos Tratamentos propostos na SAB ...................................... 32
2.6 O medicamento homeoptico ................................................................. 35
2.6.1 Preparo do medicamento homeoptico ................................................... 37
2.6.2 Efeitos adversos no tratamento homeoptico ......................................... 40
2.6.3 Homeopatia e a pesquisa clnica ............................................................. 40
2.6.4 A utilizao do arsenicum album ............................................................. 41
2.6.5 Filosofas de tratamento homeoptico...................................................... 42
2.6.6 A importncia do efeito placebo na pesquisa clnica ............................... 43
3 PROPOSIO .............................................................................................. 46
4 CASUSTICA-MATERIAL E MTODOS ..................................................... 47
4.1 Critrios de excluso ............................................................................... 47
4.2 Coleta de dados ........................................................................................ 47
4.3 Mtodos ..................................................................................................... 48
4.4 Avaliao da resposta teraputica ......................................................... 50
4.5 Seguimento dos pacientes ...................................................................... 51
4.6 Exames complementares ........................................................................ 52
4.7 Anlise dos dados .................................................................................... 53
4.7.1 Anlise descritiva .................................................................................... 53
4.7.2 Anlise inferencial ................................................................................... 53
4.7.2.1 Fase 1 Intra grupos: Medicamento e Placebo estudo da EVS ............. 54
4.7.2.2 Fase 2 Intra grupos: Medicamento e Placebo estudo da EVS ............. 54
4.7.3 Anlise intergrupos e Avaliao EGP ...................................................... 54
5 RESULTADOS ............................................ ...................................................55
6 DISCUSSO ................................................................................................. 72
CONCLUSES ................................................................................................ 82
REFERNCIAS ................................................................................................ 83
APNDICES .................................................................................................... 97
ANEXOS ........................................................................................................ 113
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1 INTRODUO
1.1 Sndrome da ardncia bucal
A sndrome da ardncia bucal (SAB) caracterizada por uma contnua,
espontnea, frequente e intensa sensao de queimao em mucosa oral
clinicamente normal, como se a boca, a lngua, os lbios, gengivas e as mucosas
tivessem sido escaldadas ou queimadas, (Tseikhin et al., 2007). A SAB pode
tambm esta associada vulvodinia, um desconforto vulvar associado a uma dor
queimante, ocorrendo na ausncia de relevantes achados clnicos (Petruzzi et al.,
2007). A etiologia permanece desconhecida embora existam evidncias para a
possibilidade de uma patognese neuroptica idioptica na SAB (Granot; Nagler, al,
2005).
A sndrome recebeu varias denominaes como estomatodinia,
estomatopirose, e diestesia. Os sintomas incluem alm da dor queimante bucal,
sede, boca seca, disgeusia, persistente alterao do paladar, irritabilidade,
mudanas nos hbitos alimentares, depresso, e diminuio do desejo de
socializao (Grushka, 1987; Gorsky et al ., 1991; Grushka et al., 2003;). A dor
descrita como constante, no desaparecendo naturalmente. Vrios locais podem ser
afetados, incluindo lbios, palato, gengivas e lngua. No entanto, a lngua o local
mais afetado da cavidade oral (Gorsky et al., 1991; Lamey; Lamb, 1988; Vidas,
1988). A SAB no apresenta padro histolgico caracterstico, seu diagnstico
limita-se na aparente normalidade da mucosa oral do paciente (Locker; Gruska,
1987). Caracteriza-se, no entanto, como uma doena idioptica distinta com
sintomas de ardncia na mucosa oral que pode potencialmente piorar por fatores
locais ou sistmicos, como nas deficincias nutricionais, alteraes hormonais na
menopausa, infeces locais, leses relacionadas a prteses, xerostomia, reaes
de hipersensibilidade, medicamentos, e doenas sistmicas como a diabetes
mellitus (Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005; Buchanan; Zakrewska, 2002;
Brown et al., 1999). importante ressaltar que o diagnstico do SAB dever ser
estabelecido somente depois que todas as outras possveis causas tenham sido
avaliadas (Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005).
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A prevalncia da SAB na populao geral est entre 0,7% a 4,6% (Lamey;
Lamb, 1988). Aproximadamente 1,3 milhes de americanos adultos, principalmente
as mulheres no perodo ps-menopausa, sofrem com a SAB. As mulheres so 7
vezes mais afetadas do que os homens (Lamey; Lamb, 1988). A idade mdia dos
pacientes com SAB est entre 55 e 60 anos, ocorrendo raramente na faixa dos 30
anos no existindo relatos de casos em crianas (Drage; Rogers, 1999; Drage;
Rogers, 2003; Danhauer et al, 2002). A mdia de durao da SAB de 2 a 3 anos
(Drage; Rogers, 1999; Drage; Rogers, 2003). A permanncia dos sintomas por mais
de 18 anos foram citados em casos raros.
A SAB afeta pessoas de todas as etnias e condies socioeconmicas
(Tseikhin et al ., 2007). No perodo de 1998 a 2006 foram realizadas revises de
artigos publicados na literatura descrevendo diferentes opes farmacolgicas para
seu tratamento. Embora, resultados satisfatrios tenham sido relatados, um
tratamento eficaz para a maioria dos casos ainda precisa ser estabelecido (Serra et
al ., 2007).
1.2 Homeopatia
1.2.1 As origens da Homeopatia
Hipcrates talvez tenha sido o primeiro a afirmar que tambm possvel curar
atravs dos semelhantes, apesar de ter formulado igualmente o principio dos
contrrios, que fundamenta a assim chamada Enantiopatia (Teixeira; 1998; Vannier;
1994). Em decorrncia, um dos princpios diretivos da teraputica hipocrtica que
os semelhantes curam-se pelos semelhantes . doena produ ida pelos
semelhantes, e pela administrao do semelhante, o paciente retorna da doena
sade (Teixeira, 1998; Dudgeon, 1994).
Em Paracelsus tamb m reencontramos este principio hipocrtico: o
semelhante pertence ao semelhante . firma-se que toda sua prtica mdica tenha
sido fundamentada na doutrina dos similares, na idia de que a substncia que
causa a doena tambm ir cur-la (Coulter, 1981; Teixeira, 1988; Vannier, 1994).
Christian Friedrich Samuel Hahneman (1755-1843), mdico alemo de
formao tradicional encontrava-se descontente com a forma de atuao da
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medicina de seu tempo, onde os tratamentos utilizados tinham uma conotao um
tanto radical com o uso de sangrias, custicos e laxantes. Em determinado momento
de sua vida, decidiu desistir daquela medicina que no o convencia e se dedicou
traduo de livros, mas ainda na rea mdica, como profisso para seu sustento. A
ideia inicial que despertou Hahnemann para a nova e particular tendncia mdica foi
a traduo de um artigo de William Cullen (1710-1790), mdico escocs, sobre a
influncia da casca de quinino, erva utilizada, naqueles tempos, no tratamento da
malria. Curioso, isto o levou a experimentar ele prprio os efeitos de tal medicao.
O que percebeu ento foi que, ao ingerir tal substncia, em determinada quantidade
e frequencia, passava a apresentar as manifestaes da febre intermitente, to
conhecida na poca, e quando suspendia o uso da droga, aps alguns dias, voltava
sua condio normal de sade (Eizayaga, 1992). Concluiu que a quina era
empregada no tratamento da malria porque produzia sintomas semelhantes em
pessoas saudveis (Corra, 1995).
Animado por esse primeiro resultado, utilizou tambm beladona, digitalis,
mercrio e outros compostos, obtendo resultados similares. Apoiado em suas
evidncias experimentais e no pensamento hipocrtico similia similibus curentur
(Dudgeon; 1994; Vannier, 1994; Corra, 1995), Hahnemann concebeu uma nova
forma de tratamento, pautada na cura pelos semelhantes.
A partir desse momento, comeou a investigar a lei dos semelhantes . Em
1796, publicou o ensaio sobre um novo princpio para averiguar os poderes curativos
das substncias medicinais, no qual fazia um apanhado a respeito de seus
experimentos e descrevia alguns aspectos observados antes por outros autores.
No mesmo ano, voltou atividade mdica, passou a tratar seus clientes pela
aplicao de suas novas ideias. Assim, 1796 passou a ser considerado como marco
do incio da homeopatia. Retomou as ideias de seus antecessores e estabeleceu um
m todo teraputico fundamentado na Lei dos Semelhantes . Nunca afirmou ter
descoberto esta lei, mas sim ter sido o primeiro a ensin-la e aplic-la de forma
consistente (Coulter, 1981).
Hahnemann buscava como o mais alto ideal da cura, o restabelecimento
rpido, suave e duradouro da sade, ou a remoo e destruio integral da doena
pelo caminho mais curto, mais seguro e menos prejudicial, seguindo fundamentos
nitidamente compreensveis (Luz, 1996).
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Hahnemann considerava que medicamentos preparados a partir de
substncias que poderiam causar algum sintoma quando administradas em grandes
doses a um individuo saudvel, poderiam curar os mesmos sintomas quando
prescritas em doses muito pequenas para outro individuo doente, com os mesmos
sintomas. Para diminuir a toxidade que algumas substncias apresentavam, e que
dificultava sua utilizao, comeou a dilu-las. A histria no conseguiu dados para
explicar esses fatos, mas, possivelmente de forma intuitiva, conforme ele dilua,
passou tambm a agitar suas diluies. Esse mtodo, constitudo por diluio e
agitao foi sendo por ele aperfeioado, durante o desenvolvimento de seu trabalho,
e recebeu o nome de dinami ao . Portanto, os medicamentos utili ados com
critrio homeoptico so geralmente dinamizados (Teixeira, 1998).
A palavra dinamizao vem do grego "dynamis" e est relacionada ideia de
fora. Este conceito de que uma substncia diluda - a dinamizao sempre inclui
uma diluio - pode apresentar uma "fora", bastante difcil de ser aceito pela
farmacologia, com suas clssicas curvas de doses e respostas.
As diluies homeopticas facilmente ultrapassam o nmero de Avogadro, e,
portanto torna-se estatisticamente improvvel encontrar uma nica molcula da
substncia inicial nos medicamentos.
1.2.2 Leis da homeopatia
A Homeopatia Clssica, estabelecida por Hahnemann, fundamenta-se em
quatro princpios: lei da Semelhana, experimentao no homem so, administrao
do medicamento em doses mnimas e indicao de medicamento nico. Na prtica
afastando-nos dos princpios ideais, percebemos que a Homeopatia um fenmeno
natural, que pode ocorrer tambm com o uso de substncias no experimentadas,
com o uso de doses ponderais de medicamentos e ainda quando mais de uma
substncia medicamentosa utilizada. O princpio da Semelhana resta sempre
como o preceito essencial da Homeopatia (Adler et al.,1996; Teixeira,1998).
Outro aspecto importante a ser notado nos princpios estabelecidos por Hahnemann,
para melhor utilizar o fenmeno homeoptico, foi o da experimentao das
substncias a serem utilizadas como medicamentos.
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Administrou substncias a indivduos saudveis, em pequenas quantidades,
diariamente, at que estes manifestassem uma srie de sinais e sintomas
especficos para aquela substncia. Estes sintomas, obtidos para cada substncia, a
partir de uma ordem destinada a facilitar a consulta, foram listados desde a poca de
Hahnemann em compndios denominados Matrias Mdicas. At sua morte,
realizou a experimentao de 99 substncias, trabalho continuado por seus
seguidores at nossos dias (Luz, 1996; Nicholls, 1988).
Para facilitar a escolha do medicamento indicado para cada paciente, os
mesmos sintomas foram agrupados em captulos (por exemplo, sintomas
relacionados ao quadro mental, iluses, vertigem, cabea, olho, viso, etc.) e em
rubricas e sub-rubricas, que modalizam os sintomas classificados nos diversos
captulos. Estes livros so chamados de Repertrios. Estas duas obras, mas o livro
Organon, a arte de curar, onde Hahnemann fundamenta os conceitos homeopticos,
formam a base da literatura mdica homeoptica.
Em vista disso, Hahnemann valorizou as particularidades da individualidade
enferma, traduzidas na totalidade dos sintomas caractersticos, para escolher o
medicamento homeoptico mais adequado, instituindo uma ampla semiologia, com
anamnese e exame clnico minucioso, a fim de evidenciar as peculiaridades que
permitissem selecionar o medicamento individualizado perante as diversas opes
teraputicas.
Inerente ao modelo homeoptico de tratamento das doenas provm
dificuldade em se encontrar um medicamento eficaz no despertar da reao
homeosttica do organismo num curto espao de tempo, necessitando-se um
perodo mdio--longo de acompanhamento dos pacientes para atingir o
medicamento corretamente individualizado, tanto no tratamento cotidiano quanto nos
modelos de pesquisa clnica homeoptica (Teixeira, 2008).
Desenhos de estudos clnicos que desprezam estas premissas no
conseguiram demonstrar a eficcia e a efetividade do tratamento homeoptico
perante o efeito placebo (Teixeira, 2008).
A proposta desse trabalho a abordagem teraputica homeoptica nos
pacientes com SAB. Uma vez que, vrios fatores etiolgicos so citados na SAB,
incluindo alteraes de fluxo salivar, desordens sistmicas, e alteraes
psicopatolgicas, a homeopatia parece ser uma proposta de tratamento abrangente
para as diferentes etiologias do SAB. Como na patogenesia de vrios medicamentos
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homeopticos aparece como um dos sintomas a ardncia bucal, isso faz crer que a
SAB possa ser tratada com medicamentos homeopticos que tenham similitude.
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2 REVISO DA LITERATURA
A Associao Internacional do Estudo da Dor define a Sndrome da ardncia
bucal (SAB) como uma dor de pelo menos 4-6 meses de durao localizada na
lngua ou outra mucosa na ausncia de achados clnicos e laboratoriais.
De acordo com o sistema de classificao da Associao Internacional do
Estudo da Dor, com apoio da Sociedade Internacional da Enxaqueca e da Academia
Americana da Dor Orofacial, o termo sndrome da ardncia bucal (SAB) uma
categoria de dor orofacial localizada, que ocorre na ausncia de leses na mucosa
oral e de fatores orgnicos (Bell, 1989; Okeson, 1996; Pedersen et al., 2004;
Merskey; Bogduk, 2004;. Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005)
A SAB caracterizada por uma contnua, espontnea, frequente e intensa
sensao de queimao como se a boca, a lngua, os lbios, gengivas e as
mucosas tivessem sido escaldadas ou queimadas, em mucosa oral clinicamente
normal, (Tseikhin et al., 2007 Klasser et al., 2008) e essa condio interfere muito
na qualidade de vida dos pacientes.(Brufau-Redondo et al., 2008; Souza et al.,
2011). A SAB pode tambm estar associada vulvodinia, um desconforto vulvar
associado a uma dor queimante, ocorrendo na ausncia de relevantes achados
clnicos (Petruzzi et al., 2007).
A lngua o stio, mais acometido especialmente nos dois teros anteriores
(71-78%), dorso e laterais, seguida pela regio alveolar superior, poro anterior do
palato, semimucosa labial, lbios e regio alveolar inferior. Podem ocorrer em outros
stios como: mucosa jugal, assoalho de boca, palato mole e orofaringe em menos
frequncia (Gorsky et al.,1987; Grushka, 1987; Van Der Ploeg ey al., 1987;
Svensson et al.,1993). A maioria dos pacientes com SAB relata mais do que um
local afetado e, em todos os casos, a sensao de ardncia referida bilateralmente
(Lamey; Lamb, 1988).
Grande parte dos pacientes com SAB descreve seus sintomas na mucosa
oral utilizando os termos: dor, ardncia, queimao, ardor, formigamento, calor,
escaldante, irritante, entre outros (Suarez; Clark; 2006).
Com relao durao dos sintomas, a ardncia bucal ocorre continuamente
durante meses ou anos, sem perodos de interrupo ou remisso; alguns relatos
sugerem uma durao de 2 a 3 anos (Browing et al.,1987), outros estudos
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21
mostraram perodos de durao mdia de sintoma de 9,3 anos, com variao de 6
meses a 20 anos (Cavalcanti et al., 2007).
A ocorrncia de remisso parcial ou total espontnea da sintomatologia da
SAB controversa na literatura. Houve relatos de remisso parcial ou completa (com
ou sem interveno) em aproximadamente 50% dos pacientes e a remisso
completa e espontnea em aproximadamente 20% dos pacientes dentro de 6 a 7
anos do inicio do sintoma. Em outros estudos, pesquisadores encontraram
resultados divergentes. (Sardella et al., 2006).
Muitos pacientes apresentam queixas em outras partes do corpo, sugerindo
que a SAB pertencia a outros grupos de desordens dolorosas tais como artromialgia
facial, dor facial atpica, e odontalgia atpica (Feinmann; Harris, 1984).
O termo sndrome especialmente pertinente uma ve que, os pacientes se
queixam, alm da ardncia, de outros sintomas como a xerostomia e as alteraes
de paladar, do olfato ou da sensibilidade (parestesia) e intolerncia ao uso de
prteses (Zakrzewska, 1995; Zakrzewska et al., 2003).
2.1 Epidemiologia
A prevalncia da SAB difcil de ser estabelecida devido aos critrios
rigorosos de diagnstico e em muitas publicaes no se consegue distinguir entre o
sintoma da queimao bucal e o da sndrome propriamente dita, incluindo a SAB to
somente como um sintoma de outras doenas.
Embora apresente uma prevalncia variando entre 0,7 a 4,5% (Bergdahl;
Bergdahl, 1999), aproximadamente 1,3 milhes de americanos adultos, a maioria
mulheres ps-menopausa, so afetadas pela SAB (Jaaskelainen et al., 1997; Scala
et al., 2003; Pedersen et al., 2004; Barker; Savage, 2005). Atinge pessoas de todas
as raas e condies socioeconmicas. Estudos reportam que a etnia mais
prevalente nos indivduos com SAB a caucasiana (Cherubini et al., 2005;
Cavalcanti et al., 2007).
No Brasil, embora no existam dados concretos quanto prevalncia da SAB
na populao geral, estimativas epidemiolgicas foram reportadas em alguns
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22
estudos encontrando taxas de aproximadamente 4,5% na populao estudada
(Nasri et al., 2007).
Em geral a SAB afeta mais as mulheres com uma relao de
aproximadamente 7:1 a 13:1. Essa diferena entre gneros pode talvez ser
explicada pelos aspectos biolgicos, psicolgicos e fatores scio culturais, entretanto
tais fatores ainda no foram bem definidos (Lamey, 1996 ; Lamey et al., 2001;
Femiano et al., 2006).
A mdia de idade mais prevalente encontrada na literatura variou de 55 a 65
anos, podendo acometer alguns adultos jovens entre 30 a 40 anos; raramente
encontrada em pacientes abaixo dos 30 anos, nunca foi descrito nenhum caso em
crianas ou adolescentes (Ferguson et al.,1981; Main; Basker, 1983; Lamey;
Lamb,1988; Drage ; Rogers,1999; Danhauer et al.,2002; Cavalcanti et al., 2007;
Nasri et al., 2007).
Nenhum estudo demonstrou uma relao com o tipo de ocupao do
paciente, nvel educacional ou social.
2.2 Classificao e subgrupos
Vrias classificaes foram propostas baseadas nas flutuaes dos sintomas
dirios observados na SAB (Lamey; Lamb, 1988; Lamey et al., 1994; Lamey, 1996;
Klasser et al., 2008).
a) Tipo 1: caracterizada por uma progressiva dor, o paciente acorda sem
dor, e os sintomas progridem com o passar do dia, atingindo no final da
tarde a sintomatologia mxima; afeta aproximadamente 35% dos
pacientes. Esse tipo pode estar associado com doenas sistmicas, tais
como deficincias nutricionais.
b) Tipo 2: os sintomas so constantes durante todo o dia e os pacientes
relatam dificuldade em dormir 55% dos pacientes. Esses pacientes
normalmente apresentam distrbios psicolgicos associados, sendo mais
resistentes ao tratamento.
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c) Tipo 3: os sintomas so intermitentes, com localizao e dor atpicas.
Constitui 10% dos pacientes sendo estes considerados psicologicamente
equilibrados e apresentam alergias a alimentos ou corantes (Lamey;
Lamb, 1988; Lamb et al.,1994).
Scala et al. (2003), propuseram dividir a SAB em duas formas clinicas: SAB
primaria ou essencial idioptica, na qual no se consegue identificar as causas e
SAB secundria, originria de doenas sistmicas ou de fatores locais. Esses
critrios idiopticos e secundrios acabam fazendo parte de dois diferentes
subgrupos da mesma patologia. Danhauer et al., (2002), em suas investigaes
examinando 69 pacientes (83% mulheres) com media de idade de 62 anos, no
encontraram diferenas entre os pacientes com SAB primria ou secundria com
relao idade, durao, intensidade da dor ou perfil psicolgico. As diferenas
encontradas foram com relao ao tratamento. Pacientes com SAB secundria
responderam melhor ao tratamento enquanto nos pacientes com SAB primria a
resposta foi negativa. No caso da SAB secundria, a abordagem do paciente inicia-
se com um diagnstico diferencial baseado na excluso de outras condies
dolorosas crnicas orofaciais, como, de outras doenas orais dolorosas que exibem
leses nas mucosas. Entretanto, a sobreposio de doenas da mucosa oral tais
como as infecciosas, pode causar dificuldades no diagnstico. Valendo-se dessa
classificao, Maltsman-Tseikhin et al., (2007), afirmaram que o tipo secundrio da
SAB compreende as sensaes de ardncia bucal associadas a alteraes
orgnicas e/ ou teraputicas estabelecidas tais como, desordens na cavidade oral
incluindo neuropatia oral local, desordens sistmica, deficincias nutricionais,
desordens induzidas por medicamentos e anormalidades neurolgicas e
psiquitricas. Nestes casos, as sensaes de ardncia bucal so consideradas
sintomas decorrentes dessas alteraes e, portanto, no representariam um tipo
distinto de SAB
2.3 Etiopatogenia
O envolvimento neurolgico, emocional e as alteraes hormonais so as
principais proposies para a etiologia da SAB. Entretanto, os mecanismos de como
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se desenvolve so complexos e ainda completamente desconhecidos (Spanemberg
et al.,2012). Os pacientes apresentam interaes entre sintomas locais, sistmicos e
psicolgicos. Os diversos fatores coincidem, aumentando a sensibilidade dolorosa
na mucosa, perceptvel ou no ao observador (Rojo et al.,1993; Scala et al., 2003;
Klasser et al., 2008). O aspecto mais debatido e controverso refere se a SAB deveria
ser considerada definitivamente como uma entidade nosolgica distinta ou como
uma perturbao sintomtica que tem sua origem em diversas patologias
(Grinspan et al.,1995 ; Zakrzewask, 1995).
Associaes importantes tm sido reportadas entre a SAB e desordens
neuropticas como dano ao nervo perifrico ou distrbios do sistema dopaminrgico
(Grinspan et al.,1995; Bergdahl; Bergdahl, 1999; Scala et al., 2003). Autores afirmam
que as alteraes perifricas podem estar relacionadas com a densidade dos
receptores de membrana presentes na mucosa oral, ou as alteraes na sua
capacidade reativa, amplamente influenciadas por fatores de risco para SAB tais
como estresse, ansiedade, senescncia e climatrio (Woda; Pionchon, 1999).
Possivelmente, uma neuropatia idioptica em pequenas fibras pode levar
sensao da SAB. Alternativamente, uma disfuno salivar primria pode causar
uma alterao sensorial nos receptores modificando o equilbrio do meio bucal
(Granot; Nagler, 2005; Nagler; Hershkovich, 2005).
Bipsia de tecidos acometidos pela ardncia mostrou diminuio na
densidade de fibras nervosas epiteliais e subpapilares, sugerindo uma degenerao
axonal e caracterizando neuropatia sensorial nas ramificaes menores do nervo
trigmeo (Lauria et al., 2005).
O envolvimento de mecanismos neuropticos centrais tambm tem sido
demonstrado em pacientes com SAB atravs do mapeamento de reas de ativao
cerebral por meio de exames de imagem de ressonncia magntica funcional, aps
estimulao trmica do nervo trigmeo. Os autores observaram que pacientes com
SAB apresentam atividade cerebral semelhantes s encontradas em outras
desordens de dor neuroptica, e que o estimulo trmico doloroso do nervo trigmeo
foi processado de forma qualitativa e quantitativamente diferente comparado a
indivduos normais, sugerindo que a hipoatividade cerebral pode ser um fator
importante na patognese da SAB. Uma hipoatividade no lbulo parietal e tlamo
poderiam ser includos entre os potenciais fatores da SAB, justificando as alteraes
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25
psquicas observadas nesses pacientes com ansiedade, depresso, transtorno
obsessivo compulsivo (Albuquerque et al., 2006).
Outra hiptese sugere que os sintomas da SAB seriam representados por
uma dor fantasma causados por dano ao sistema sensorial gustatrio e perda da
percepo do morno em pacientes suscetveis. possvel que exista uma
malformao na deteco do morno que leva a sensao de dor e, quando essa
sensao se torna crnica, induz a sensaes somticas sensoriais como distrbios
gustativos e olfatrios atravs de mecanismos centrais, incluindo neuroplasticidade
de reas corticais responsveis pelas interaes sensoriais. Anormalidade no
paladar tem sido descrita como uma consequncia da perda da percepo do
morno. Nesse sentido, a SAB pode ser descrita como uma sensao fantasma de
queimao na lngua. (Siviero et al.,2011).
Associao de fatores clnicos na SAB
Com relao aos fatores locais, consideramos aqueles que comumente agem
diretamente na mucosa oral causando um efeito irritante, que podem ser fsicos,
qumicos ou biolgicos (bactrias ou fungos), e so capazes de desencadear os
sintomas de ardncia (Klasser et al., 2008; Lpez Jornet et al., 2010) Entre os
fatores locais mais citados, a xerostomia, que a sensao subjetiva de boca seca,
a queixa frequente em aproximadamente 25 % dos pacientes com SAB (Main;
Basker, 1983; Lamey; Lamb, 1988; Drage; Rogers, 1999). A Hiposalivao denota
objetivamente reduo do fluxo salivar mensurada atravs da sialometria (Lamey;
Lamb, 1988; Gorsky et al., 1991; Grushka; Sessle, 1991). Klasser et al., (2008),
relatam em seus estudos uma prevalncia de xerostomia na SAB, entre 34 a 39%,
enquanto Grushka et al., (2003) encontraram 60%, em seu grupo de estudo.
Outros fatores incluem distrbios do paladar (Grushka, 1987; Formaker;
Frank, 2000). Alteraes na percepo do paladar e a tolerncia dor so possveis
causas para a sensao de queimao. O paladar apresenta receptores localizados
fundamentalmente nas papilas fungiformes, sendo estas, encontradas em nmero
mais elevado em certos pacientes com SAB, principalmente em mulheres, que so,
por isso, denominados indivduos com super-paladar ou paladar aguado. Essa
teoria pressupe que certas pessoas, apresentam um paladar apurado devido
presena de alta densidade de papilas fungiformes na parte anterior da lngua,
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Siviero%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=21552682
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26
portanto, mais susceptveis a desenvolver dor ardente (Scala; et al., 2003;
Camacho-Alonso et al., 2012).
A observao clinica em mucosa, de glossite migratria benigna (lngua
geogrfica), lngua festonada e lngua fissurada tem sido considerada como fator
etiolgico local da SAB (Gorsky et al., 1987; Powell, 1987; Drage; Rogers, 1999).
Outro fator como a queixa oral secundaria de lbios ressecados foi relatada em 26
(83,8%) dos 31 pacientes avaliados nos estudos de Cavalcanti et al.(2007).
Dentre as diversas reaes alrgicas locais citadas na literatura que esto
relacionadas com a SAB, a mais relatada devida a altos nveis de monmeros
residuais polimetacrilato de resinas acrlicas, usadas na confeco das prteses
dentrias. Outras substncias so referidas como nylon, cido ascrbico, perxido
benzico, dietanolamina 4-tolil, toluidina N-dimetil, sulfato de nquel, entre outros,
alm de determinados aditivos ou corantes alimentares (Lamey; Lamb, 1988;
Lamey et al,. 1994; Svensson; Kaaber, 1995).
Infeco por Candida albicans pode ser considerada um dos mais frequentes
fatores na produo da SAB, embora alguns autores questionem essa importncia.
Outras infeces orais causada por bactrias tais como Enterobacter, Klebsiella e S.
Aureus foram encontradas em pacientes com SAB. No entanto, o tratamento dos
portadores de candidase com terapia antifngica no beneficiou os pacientes com
SAB. Apenas um estudo demonstrou que 5% dos pacientes perceberam uma
melhora da ardncia bucal com o uso de antifngicos e erradicao de Candida
(Lamey; Lamb, 1988; Cavalcanti et al., 2007).
Helicobacter pilori tambm j foi isolado da cavidade oral atravs de biopsia e
tcnicas de biologia molecular em 86% dos pacientes que apresentavam sensao
de queimao e hiperplasia na lngua e halitose, enquanto apenas 2% dos pacientes
no apresentaram sintomas orais (Adler et al., 2005; Lpez-Jornet et al., 2010).
Braio et al. (2006), evidenciaram a presenca de infeco por Helicobacter pilori em
19 (12,7%) dos 150 pacientes com sintomas de ardncia envolvidos no estudo.
Diversos fatores sistmicos tm sido associados com fatores etiolgicos da
SAB. Algumas dessas desordens so as autoimunes, gastrointestinais e endcrinas
tais como, doenas do tecido conjuntivo, doena gastro-esofgica diabete e
distrbios da tireoide (Brody et al., 1971; Basker et al.,1978; Grushka; Sessle,1991).
Entretanto, o significado e a relevncia destas associaes ainda no esto claros.
Para Grushka (1987), pacientes com SAB no apresentam maior prevalncia de
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condies sistmicas como diabete, artrite, ou distrbios cardiovasculares e
gastrointestinais, quando comparados com indivduos controles saudveis.
Associao entre diabetes mellitus e queixa oral foi relatada (Sheppard,
1942). Quando estudada essa relao entre SAB e diabetes mellitus, foi encontrada
em 2% a 10% dos pacientes (Basker et al., 1978; Zegarelli, 1984; Lamey; Lamb,
1988; Lamey , 1996). Os mecanismos envolvidos entre os pacientes com SAB e
diabetes mellitus esto relacionados a alteraes metablicas na mucosa oral,
neuropatia diabtica, e angiopatia. Controle da diabetes mellitus pode levar a uma
melhora ou cura da SAB.
As deficincias nutricionais e algumas doenas carncias tambm so
consideradas fatores associados SAB principalmente as do complexo B (B6, B12,
acido flico), vitamina C e anemias. Alm disso, alguns estudos sugerem que a SAB
est associada a baixos nveis sricos de ferro e zinco (Lamey et al., 1996;
Hugoson; Thorstensson, 1991).
Vrias comorbidades so relacionadas SAB, entre as quais: hipertenso
arterial sistmica, cardiopatia, alteraes hormonais, hipercolesteremia, doenas
neurolgicas, entre outras. Nasri et al., (2007), evidenciaram em seus estudos
diversas comorbidades; 6 (20%) hipertensos, 6 (11%) cardiopatas, 4 (7%)
fibromialgia, hipotireoidismo e artrite reumatide em 3 (5%). Doena de Parkinson e
acidente vascular enceflico foram evidenciados em somente 5 (3,3%) dos 150
pacientes com SAB nos estudos avaliados (Brailo et al., 2006).
Braga (2010) dentre a amostra de 95 pacientes investigados quanto a historia
mdica atual e pregressa, uma prevalncia significativa representada por 73
(76,84%) indivduos que apresentavam algum fator sistmico associado SAB,
representados por comorbidades ou alteraes sistmicas.
O uso crnico de muitos medicamentos est intimamente relacionado com a
SAB, entre os quais os anti-histamnicos, neurolpticos, alguns anti-hipertensivos,
antiarrtmicos e benzodiazepnicos. Os anti-hipertensivos esto entre os
medicamentos, mas envolvidos na SAB, principalmente aqueles que atuam no
sistema renina-angiotensina (captopril, enalapril e lisinopril) (Scala et al., 2003).
A associao entre os distrbios do sono e o padro de sintomas de ardncia
bucal dirios, frequente, com aproximadamente um tero dos pacientes sentindo o
sintoma tanto de dia como de noite. A maioria relata sintomas mnimos ao acordar, e
que aumentam gradativamente ao longo do dia para culminar noite (Grushka,
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28
1987; Grinspan et al., 1995). Cerca de um tero dos pacientes tem dificuldades no
inicio do sono e alguns podem acordar durante a noite devido dor e a queimao
(Van Der Ploeg et al., 1987, Grushka et al., 2002).O distrbio de sono e a presena
de dor contnua podem explicar a maior incidncia de alteraes e irritabilidade entre
os pacientes com SAB (Grushka et al.,1987; Grinspan et al., 1995).
Distrbio do sono durante a menopausa a queixa mais comum entre as
mulheres. Muitos so os fatores envolvidos nesses problemas, como sintomas
vasomotores e mudanas de nveis hormonais, anormalidades no ritmo circadiano,
exacerbao da insnia primria, alteraes de humor associados coexistncia de
sintomas clnicos bem como fatores associados ao estilo de vida dessas mulheres
(Ameratunga et al., 2012).
Dores de cabea, pescoo e costas, tonturas, doenas dermatolgicas,
sndrome do intestino irritvel, so relatados com mais frequncia nos pacientes com
SAB embora, no esteja esclarecido se esses sintomas so fatores de risco para a
SAB ou uma consequncia da sndrome (Feinmaann et al., 1984; Van Der Ploeg et
al., 1987; Jerlang, 1997). Aproximadamente 17% a 33% dos pacientes com SAB
atriburam o incio dos sintomas a uma doena prvia como, por exemplo, infeco
do trato respiratrio superior, procedimento dentrio prvio ou o uso de
medicamento, incluindo antibioticoterapia (Hammarn; Hugoson, 1989; Tammiala-
Salonen et al.,1993). Autores sugerem a possibilidade de alteraes neurolgicas
precederem o incio da ardncia em alguns pacientes (Sandstedt, Sorensen, 1995;
Formaker et al.,1998). Para outros autores, muitos pacientes com a sndrome
afirmam que o aparecimento dos sintomas refere-se a estressores traumticos (Van
Der Ploeg et al.,1987; Grushka ;Sessle,1991).
Fatores psicognicos
Fatores psicopatolgicos esto associados SAB, suportando a etiologia
multifatorial, nas quais as mudanas fsicas podem interagir como fatores
psicolgicos (Rojo et al.,1993; Grushka et al., 2006; Klasser et al., 2008).
Muitos desses pacientes apresentam sintomas de ansiedade, depresso e
desordens de personalidade e ainda grande tendncia somatizao e outros
sintomas psiquitricos. Segundo Drage e Rogers (1999), o diagnstico de algum
sintoma psiquitrico de base pode incidir em pelo menos um tero dos pacientes.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Ameratunga%20D%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22288870http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Hickey%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22288870
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Depresso e insnia so significativamente mais prevalentes em mulheres do que
em homens (Kornstein, 2001).
Cancerofobia pode estar presente em 20 a 30% dos pacientes e est
relacionada com a manifestao de repetidos autoexames pelos pacientes (Lamey,
1996). Apresentam baixos nveis de socializao e altos nveis de ansiedade, bem
como, tenso muscular, alta tendncia a se aborrecer e grande tristeza. Kenchadze
et al. (2011) identificaram mudanas psicolgicas ou psiquitricas entre 39
pacientes estudados com SAB, que resultaram: depresso, insnia, cancerofobia,
desordens neurolgicas severas e sndromes fbicas. Os pesquisadores concluiram
que os pacientes com SAB apresentam mais problemas psicossomticos do que
desordens psiquitricas.
Pekiner et al (2008), em um estudo controlado com 30 portadores de SAB
com ansiedade e depresso, mensuraram os nveis sricos de citocinas. Estas esto
intimamente associadas com os neurotransmissores centrais e a citocina reguladora
afetada diretamente pelo stress. Demonstraram existir uma possvel relao entre
os nveis de citocinas aos problemas psiquitricos e a uma relao no
desenvolvimento da SAB (Grushka et al.,1987, Sardela et al., 2006, Simcic et al.,
2006).
Castro e Daltro (2009) observaram que no distrbio do sono os sintomas de
ansiedade e depresso esto relacionados perpetuao da dor crnica. Os
autores avaliaram quatrocentos pacientes com dor miofascial seguida de dor
neuroptica. A prevalncia de sintomas de ansiedade foi de 72,8%, de depresso foi
de 61,5% e de alterao do sono 93%. A prevalncia de mulheres na amostra
confirma outros relatos na literatura (Turner et al., 2006).
Schiavone et al. (2012) estudaram a relao entre dor, depresso, e
ansiedade nos pacientes com SAB comparados com um grupo saudvel e
concluram que a ansiedade pode determinar secundariamente perda de auto estima
nos pacientes com SAB e, sintomas depressivos podem contribuir para a dor.
Portanto a dor pode ser uma caracterstica somtica da depresso.
Um fator relevante que muitos dos medicamentos usados para tratar estas
condies psicolgicas podem tambm causar efeitos adversos como xerostomia,
hipossalivao e alteraes do paladar, que por sua vez, podem exacerbar ou at
mesmo induzir os sintomas da SAB (Grushka et al., 1987).
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Inmeras razes foram relacionadas pelos pacientes com SAB, como
responsveis pelo isolamento social, aumento da ansiedade e depresso dentro de
casa: cuidados especiais com parentes invlidos e deficientes e circunstncias
sociais extremamente adversas. Em alguns casos, sintomas de depresso surgiram
de maneira reativa, geralmente devido a um recente luto familiar e em outros. No
houve motivo aparente para a depresso, o que poderia ser considerado endgeno
(Lamey, 1988).
Com relao qualidade de vida dos pacientes com SAB Souza et al. (2011)
em seus estudos, concluram que os pacientes com SAB apresentaram impacto
negativo na qualidade de vida, que pode ser demonstrado atravs de instrumentos
tais como (The Short Form-36 Health Survey) e (oral health impact profile-49). A
condio da qualidade de vida dos pacientes pode ser mais uma informao
importante para avaliar a natureza e a severidade da SAB.
2.4 Critrios de diagnstico
Diversos critrios diagnsticos para SAB tm sido propostos na literatura,
porm, nenhum deles ainda foi validado ou aceito integralmente entre a maioria dos
profissionais que lidam com essa sndrome (HM, NB, 1994; Woda; Pionchon, 1999;
Olesen; Steiner, 2004)
A excluso de fatores locais ou sistmicos que possam estar associados aos
sintomas, de fundamental importncia, bem como avaliar a qualidade de vida
desses pacientes e reconhecer o potencial de impacto da SAB em suas vidas
(Paterson et al.,1995; Spanemberg et al., 2012) .
Segundo Patton et al. (2007) a abordagem inicial ao diagnostico da SAB
identificar, gerenciar e tratar os possveis fatores desencadeante.
Especial ateno deve ser dada s condies do aparecimento da SAB. A
reviso das queixas do paciente deve focar o incio, a durao, a localizao
anatmica, associao com tipos de alimentos, interferncias com as atividades
dirias tais como o trabalho, sono, e alimentao. importante arguir a respeito dos
hbitos para-funcionais tais como, sugar a lngua ou morder as bochechas (Tseikhin
et al., 2007).
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Exame fsico criterioso, buscando qualquer leso na mucosa oral, ferimentos
ou sinais de irritao. A observao da funo salivatria e adaptao das prteses,
com relao super extenso, restrio do espao para a lngua, bem como perdas
do espao livre, tambm pontuada (Tseikhin et al., 2007).
Em alguns pacientes importante a mensurao do fluxo salivar da partida
estimulada por cido ctrico. Fluxo menor que 0,7mL/min justifica o uso de um
substituto para a saliva. A xerostomia pode causar sensao de ardncia bucal.
Algumas medicaes podem levar xerostomia como efeito colateral e nesses
casos, existe a possibilidade da substituio da medicao por outra similar que os
diminua (Bergdahl et al., 1999).
Recentemente Mignogna et al. (2011) observaram uma alta prevalncia de
inexplicveis sintomas extra orais em 124 pacientes com SAB comparando-os com
um grupo de 112 pacientes com Lquen e outro grupo com 102 pacientes saudveis.
Todos os pacientes foram submetidos a exames de laboratrio (hemograma
completo, glicemia, nveis sricos de ferro, ferritina, folatos, vitamina B12 e testes
imunolgicos). Pacientes com doenas orgnicas que pudessem ser relacionadas
como fator causal tais como diabetes, anemias, alergias, doenas psiquitricas
tratadas com medicamentos antidepressivos, anticonvulsivantes ou drogas
antipsicticas foram excludos. Uma alta porcentagem dos pacientes com SAB
(96,1%) apresentou uma ou mltiplas comorbidades associadas quando comparado
com os outros grupos. Entre os sintomas encontrados no grupo SAB, 87,9% foi de
queixas otorrinolaringolgicas, 86,3% gastrointestinais, sintomas neurolgicos 79%,
urogenitais 64,5%, sintomas oftalmolgicos 50,8% e cardiopulmonares 25,8% %. A
maioria (96,1%) dos pacientes relatou dor em vrias regies do corpo e apenas 3,9%
relatou somente sintomas de ardncia bucal. Os portadores de SAB apresentaram
severos sintomas gerais sem que houvesse comprovao clinica e laboratorial que
justificasse tais queixas, demonstrando a necessidade de um atendimento
multidisciplinar no processo de diagnstico. Resultados sugeriram que a SAB pode
ser classificada como sendo uma complexa desordem somtica mais do que uma
dor neuroptica.
Femiano et al. (2008) em seus estudos com 123 pacientes inicialmente
diagnosticados com SAB, seguindo um protocolo preliminar verificou que pacientes
que apresentam alteraes da tireoide so frequentemente considerados pacientes
com SAB uma vez que no hipotireoidismo pode haver queixa de sensao de
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Femiano%20F%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=18155597
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queimao oral ou disgeusia. Portanto, o estudo da funo da tireoide deve ser
inserido no processo de diagnstico diferencial nos pacientes suspeitos de serem
portadores de SAB.
2.5 Revises dos Tratamentos propostos na SAB
Nos ltimos 20 anos, foram realizados revises na literatura descrevendo
diferentes opes farmacolgicas para o tratamento da SAB. O tratamento ainda
emprico pode ser sistmico ou tpico, utilizado nas condies neurolgicas
crnicas. At o momento, no existe um tratamento efetivo aplicvel para a maioria
dos pacientes com SAB (Serra et al., 2007).
Problemas como a depresso e a ansiedade apresentam um importante fator
na modulao da percepo da dor, e so capazes de aumentar ou diminuir a
transmisso nervosa originada de receptores perifricos e ento modificar a
percepo individual da dor. Consequentemente, tratamentos com antidepressivos
foram propostos aos portadores de SAB (Low; Dotson, 1998; Vida et al., 2004).
Por outro lado, a identificao de alteraes sensoriais nos pacientes com
SAB tambm sugere a existncia de bases biolgicas envolvidas nas alteraes no
sistema nervoso perifrico e central (Jaaskelainen et al., 1997). As alteraes no
sistema nervoso perifrico podem estar relacionadas densidade dos receptores de
membrana presentes na mucosa oral, ou a alterao nas suas capacidades reativas,
largamente influenciadas pelos fatores de risco encontrados nos pacientes com SAB
tais como, estresse, ansiedade, sexo feminino, climatrio e a idade avanada
(Woda; Pionchon, 1999). Essa teoria est reforada pela aparente ao tpica do
clonazepan no tratamento da SAB (Woda et al., 1999, Heckmann et al., 2012).
A disfuno do sistema dopaminrgico poderia justificar a administrao
sistmica dos tratamentos com antidepressivos como a gabapentina e clonazepan,
os quais agem no sistema gabargico melhorando a atividade para tentar conter a
disfuno do sistema dopaminrgico; ou ainda um antagonista seletivo de dopamina
como o amisulprida, um antipsictico atpico que apresenta baixos efeitos
extrapiramidais (Cerdeira; Blanco, 2012; Abbas et al., 2009).
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Por outro lado, observou-se que paciente com SAB se assemelha, em uma
serie de caractersticas, aos portadores de outras sndromes de dor crnica. Esse
conceito levou aplicao de drogas como a capsaicina (Petruzzi et al., 2004;
Spica; Hagen, 2004; Fro, 2008) e benzidamina (Sardella et al., 1999), que se
mostraram teis nas sndromes de dor crnica.
Em um estudo duplo cego placebo controlado, tratando pacientes com injurias
em inervao perifrica, os autores concluram que a irradiao com laser de baixa
intensidade pode notadamente regenerar esta inervao, o que leva a uma
significativa recuperao destes pacientes (Rochkind et al.,2007).
Santos et al. (2011), Observaram os efeitos da terapia com laser de baixa
potencia (LLLT) em 10 pacientes com SAB. Todos os pacientes foram submetidos a
sesses semanais durante 10 semanas. Os pacientes relataram melhora na
sintomatologia em todas as sesses, e houve uma significativa reduo dos escores
de EVS. Os autores concluram que o Laser pode ser uma alternativa de tratamento.
Pellegrini (2010) estudou a eficcia do laser de baixa intensidade em 21
pacientes com SAB que foram divididos em dois grupos experimentais que
receberam quatro irradiaes, duas por semana de laser de baixa intensidade-grupo
laser e grupo placebo com falsa irradiao. Os pacientes foram avaliados no incio
do tratamento e em cada quatro tempos de irradiao aos, 7, 14, 30,60 e 90 dias. A
pesquisadora concluiu que a terapia com laser de baixa intensidade, segundo o
protocolo utilizado neste estudo, produziu benefcios aos pacientes com SAB, sem
apresentar qualquer efeito colateral indesejvel, sugerindo um aprofundamento da
pesquisa nesse campo.
Braga (2010) estudou a eficcia da acupuntura como modalidade teraputica
na reduo da sintomatologia da SAB em 54 pacientes, de acordo com as respostas
mensuradas atravs da escala visual analgicas (EVA), intensidade, natureza e
efeito global percebido. Evidencias quanto eficcia da acupuntura no tratamento
da SAB foi observada atravs da constatao que houve diminuio
estatisticamente significativa (p
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usados individualmente e em conjunto. O acido alfa-lipico um componente
produzido no organismo em pequenas quantidades, estando presente em muitos
alimentos como no espinafre, brcolis e carnes. Essa substncia age como uma
coenzima em varias reaes, agindo na gliclise, responsvel em parte pela
converso do acar no sangue em energia e na regenerao de danos nos tecidos
hepticos. Exerce tambm uma ao neuro regenerativa nas barreiras
hematoenceflicas com uma ao protetora do crebro e do tecido nervoso
(Lauritano, et al.,1998, Femiano et al., 2000). Vrios estudos demonstraram que o
uso de ALA no produziu grandes benefcios no tratamento da SAB quando
comparados com o placebo (Steele et al., 2008, Cavalcanti; Silveira, 2009).
A gabapentina um anticonvulsivante que age como inibidor do
neurotransmissor GABA de atividade central e esse facilmente transferido para o
sistema nervoso central por possuir alta solubilidade lipdica. O mecanismo de ao
do medicamento ainda desconhecido (White et al., 2004).
As melhores respostas obtidas nesse estudo foram a terapia conjugada, ALA
e GABA, com 70% dos casos com reduo da SAB; 13,2 vezes maior quando
comparados ao grupo controle. A combinao das medicaes age em diferentes
nveis do sistema nociceptivo e pode ser til no tratamento da SAB (Lpez
D lessandro; Escovich, 2010).
Yamasaki et al.(2009), avaliaram 71 pacientes, medicando-os com cloridrato
de paroxetina. Nesse estudo prospectivo, sem grupo controle, aps 12 semanas de
tratamento 70,4% dos pacientes tiveram remisso completa da sintomatologia.
Uma possvel relao entre as instabilidades dos hormnios principalmente o
estrgeno, observados nas mulheres menopausadas, e as alteraes sensoriais
caracterizando a SAB foram postuladas, levando a um debate generalizado devido
s divergncias nos resultados obtidos em diferentes estudos realizados com a
terapia de reposio hormonal (Hakerberg et al., 1997, Vittek et al., 1982).
Spanemberg et al. (2012), em um estudo randomizado,duplo cego placebo
controlado, avaliou os efeitos de um composto de ervas (Catuama, 2 capsulas ao dia
por 12 semanas) no tratamento dos sintomas da SAB. Embora ambos os grupos
demonstrassem reduo dos sintomas, o grupo teste apresentou uma reduo
significativa que foi mantida aps 12 semanas de tratamento. Os autores concluram
que a Catuama reduz os sintomas da SAB e pode ser uma opo teraputica.
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Forssell et al (2012), avaliaram a dor relatada em 52 pacientes com SAB
primria em termos de intensidade, interferncia, e estresse causado pela dor, bem
como os fatores que a influenciaram no perodo de duas semanas, com base em
dados dirios. Concluram que a maioria dos pacientes experimentou dor
intermitente. A intensidade aumenta da manh para o entardecer. Intercorrncias
entre a intensidade da dor, estresse e alterao do humor obtiveram altos ndices.
Alimentos condimentados e quentes, estresse e tristeza foram os mais citados pelos
pacientes e responsabilizados pela amplificao da dor. Existem considerveis
diferenas na dor, nos fatores que influenciam a dor, e no comportamento frente
dor entre os pacientes com SAB. Isso indica que as informaes bem como o
tratamento da SAB devem ser individualizados.
De acordo com alguns autores a psicoterapia tem se mostrado igualmente
eficaz no tratamento da dor crnica tanto em sesses de terapias individuais quanto
em grupo, quando comparado ao placebo, sugerindo que sesses de psicoterapia
ou terapia cognitiva de 1 hora por semana durante 12 a 15 semanas reduziram a
intensidade dolorosa da SAB por at 6 meses (Turner-Stokes et al., 2003).
2.6 O medicamento homeoptico
A utilizao de substncias em doses infinitesimais (medicamentos
dinamizados) surgiu para evitar as agravaes e as intoxicaes observadas no
emprego de doses ponderais dos medicamentos segundo o principio da cura pela
semelhana (Teixeira, 1995; Teixeira, 2008 a).
Hahnemann embasado no estudo das propriedades farmacolgicas de sua
poca observou uma reao secundria (efeito indireto) do organismo aps a ao
primaria (efeito direto) de drogas das mais diversas classes, enunciou um aforismo
para a ao dos medicamentos na constituio humana:
Toda fora que atua sobre a vida, todo medicamento afeta, em maior ou menor escala a fora vital, causando certa alterao no estado de sade do homem por um perodo de tempo maior ou menor. A isso se chama ao primria (.....) a essa ao, nossa fora vital se esfora para opor sua prpria energia. Tal ao oposta faz parte de nossa fora de conservao, constituindo uma atividade automtica da mesma, chamada ao secundria ou reao (Hahnemann, 2001).
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O principio da similitude teraputica tem como objetivo estimular uma reao
homeosttica curativa contra a enfermidade, induzindo o organismo a reagir contra
os seus prprios distrbios.
O termo homeostase foi descrito em 1929 pelo fisiologista de Harvard,
Walter Brafford Cannon, onde descreve a tendncia ou habilidade dos organismos
vivos em manter a constncia do seu meio interno, atravs de auto ajustes nos
processos fisiolgicos.
Ao longo da histria da medicina, o principio da similitude (reao vital ou
homeosttica) encontra fundamentao cientifica no efeito rebote das drogas ou
reao paradoxal do organismo, sendo descrito aps a suspenso ou a alterao
das doses de inmeras classes de frmacos modernos que atuam de forma
contraria (antagonista, antiptica, oposta, paliativa ou enantioptica) aos sintomas
das doenas, confirmando a farmacologia experimental (Teixeira, 1999).
Podemos citar como exemplo, medicamentos utilizados classicamente para o
tratamento da angina pectoris (beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de
clcio, nitratos, entre outros que promovem a melhora da angina como efeito
primrio, mas, podem despertar exacerbaes na frequncia e intensidade da dor
torcica como efeito secundrio do organismo aps a suspenso ou a
descontinuidade das doses, em alguns casos no responsivos a qualquer
teraputica.
No emprego de drogas psiquitricas como os ansiolticos (barbitricos,
benzodiazepnicos, carbonatos), sedativo-hipnticos (barbitricos, morfina,
prometazina, zopiclone, entre outros, estimulantes do SNC (anfetaminas, cafena,
cocana, metilfenidato), antidepressivos (tricclicos, inibidores da MAO, Inibidores da
recaptao de serotonina) ou antipsicticos (clozapina, fenotiazinicos, haloperidol,
pimozida) pode-se observar uma reao paradoxal do organismo no sentido de
manter a homeostase orgnica, promovendo sintomas contrrios aos esperados na
sua utilizao teraputica primaria, agravando ainda mais o quadro inicial.
Apesar do carter idiossincrsico do efeito rebote, que se manifesta em uma
pequena poro dos indivduos, evidncias cientficas atuais alertam para a
ocorrncia de eventos iatrognicos graves e fatais em decorrncia dessa reao
paradoxal do organismo, aps a administrao de algumas classes de drogas
modernas (Teixeira, 2006).
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Entendendo-se que o tratamento homeoptico tem como prerrogativa
essencial a utilizao de substncias que causem sintomas semelhantes aos da
doena que se deseja tratar, ele pode ser aplicado com qualquer substncia, natural
ou sinttica, em doses ponderais ou infinitesimais, desde que o princpio da
semelhana seja observado. ssim sendo, as drogas alopticas podem ser
empregadas segundo o princpio da similitude teraputica, desde que causem
efeitos de ao primria (efeitos teraputicos, adversos e colaterais) semelhantes
aos do indivduo doente. Dessa forma, estaramos utilizando o efeito rebote das
drogas modernas no sentido curativo (Teixeira, 2006).
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2.6.1- Preparo do medicamento Homeoptico
Para o preparo de medicamentos homeopticos so elaboradas tinturas de
partes especficas de plantas, minerais e venenos animais, que so diludas e
agitadas, gerando as dinamizaes. Por este motivo, na Homeopatia as tinturas
recebem o nome de "Tinturas-Me". As Tinturas so preparaes hidroalcolicas
que tm como resultado a extrao dos princpios ativos de vegetais ou animais.
Glbulos so tradicionalmente utilizados para disperso de medicamentos
homeopticos. Trata-se de uma forma farmacutica preparada a partir de sacarose,
por drageamento. As farmcias adquirem estes glbulos na forma inerte, e sobre
eles adicionam solues medicamentosas dinamizadas.
O mtodo farmacotcnico de dinamizao (centesimal Hahnemanniana ou
cH) consiste em diluies centesimais e sucessivas da substncia matriz, ou tintura-
me acompanhadas de 100 agitaes vigorosas (sucusses) por passagem. Na
clnica homeoptica estas preparaes infinitesimais so administradas
frequentemente, em potencias 6cH, 30 cH, 200 cH e 1000cH em doses mnimas de
1-5 glbulos (impregnados nos glbulos) ou em gotas da soluo sub-linguais para
uma rpida absoro.
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Mecanismo de ao do medicamento homeoptico
Principal alvo das crticas do pensamento cartesiano ao modelo homeoptico,
o emprego de substncias ultra-diludas, em concentraes inferiores ao nmero de
Avogadro (10-24M), contraria o modelo farmacolgico bioqumico e dose-dependente,
despertando ceticismo no meio cientfico a hiptese de que estas doses
infinitesimais possam causar efeitos em sistemas biolgicos ou seres vivos.
Hahnemann props um mtodo farmacotcnico para a preparao dos
medicamentos homeopticos denominados dinamizao, no qual as substncias
eram diludas e agitadas sucessivamente (medicamento dinamizado).
A informao contida nessa substncia ultra-diluda em promover alteraes
nos sistemas orgnicos, de forma anloga s doses ponderais, tem sido evidenciada
em modelos fsico-qumicos ou biolgicos de pesquisa experimental.
Algumas hipteses fundamentadas em modelos experimentais fsico-qumicos
buscam uma explicao cientfica para o fenmeno de transmisso da informao
dos efeitos primrios das substncias atravs destas doses infinitesimais.
Dentre elas, citamos as pesquisas que estudam as modificaes de natureza
eletromagntica da gua segundo a eletrodinmica quntica, na qual a matria no
representaria um aglomerado inerte de molculas e sim um meio dinmico, capaz de
selecionar e catalisar as reaes moleculares de acordo com os diversos campos
eletromagnticos que ocorrem em seu interior. Atravs de modelos matemticos e
experimentais, especula-se que o campo eletromagntico de um soluto pode gerar
certos domnios de coerncia estvel no solvente (com estruturas e vibraes
especficas), produzindo aglomerados ou clusters de molculas de gua (com
tamanhos e geometrias prprios), como uma assinatura eletromagntica da
substncia na gua. Desta forma, a organizao da gua seria um processo
coerente, reprodutvel e associado a interaes eletromagnticas de longo alcance e
baixssima intensidade, transmitindo a informao do soluto inicialmente diludo e
agitado pelo processo da dinamizao (Del Giudice.et al., 1988; Milgrom, 2007).
Numa outra linha de pesquisa, as ultradiluies so testadas em modelos
biolgicos (cultura de clulas, animais, vegetais etc.), constatando-se que as
substncias dinamizadas despertam efeitos semelhantes aos das substncias
ponderais em diversos sistemas fisiolgicos (Youbicier-Simo et al., 1993; Belon et
al.,2004; Teixeira, 2008 b).
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Doenas Locais e tratamentos Locais
As diversas partes do corpo esto intimamente entrelaadas umas com as
outras formando um todo indivisvel quanto a sua forma de sentir e reagir. No
possvel sobrevir uma erupo nos lbios ou um panarcio, sem que anteriormente
haja algum desarranjo no interior do organismo (Hahnemann, 2001).
O verdadeiro tratamento de uma doena, que surgiu nas partes externas do
corpo deve ter como objetivo a extino e a cura da doena geral que atinge o
organismo inteiro se quiserem usar um tratamento racional, seguro, eficaz e radical.
evidente que a fora vital, atacada por uma doena crnica da qual no pode
livrar-se por sua prpria energia instintiva, desenvolve uma afeco local em alguma
parte externa. Objetiva com isso manter essa parte (no indispensvel vida)
doente, silenciando a doena interna, que ameaa atacar rgos vitais (ameaando
a vida do doente).
A existncia de uma afeco local silencia, assim, por algum tempo, a doena
interna, ainda que sem poder cur-la ou diminu-la materialmente. A afeco local,
no obstante, nada mais que uma parte da doena geral, totalmente direcionada
pela energia vital, para o local menos perigoso do organismo (externo), a fim de
aliviar o sofrimento interno. Porm, por meio desse sintoma local que silencia a
doena interna, a fora vital no pode diminuir ou curar toda a doena. Esta ao
contrrio, prossegue aumentando gradativamente, sendo a Natureza obrigada a
agravar cada vez mais o sintoma local, para que possa prosseguir como substituto
suficiente da doena interna aumentada, e assim, mant-la sob controle
(Hahnemann, 2001).
2.6.2 Variantes reativas no tratamento homeoptico
Podemos observar como variantes reativas do tratamento homeoptico a
piora inicial dos sintomas da enfermidade (agravao primria ou homeoptica
propriamente dita), o surgimento posterior de sintomas acessrios nos rgos ou
sistemas afetados (agravao secundria ou cura), o retorno de sintomas antigos e
o surgimento de sintomas novos.
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Todos essas reaes devero ser anotados pelos pacientes num dirio e
relatados a cada visita mensal, pois orienta o pesquisador na conduta teraputica
segundo o prognstico homeoptico (Teixeira, 2008 a).
Como principal variante reativa, a agravao homeoptica fruto da
administrao inadequada das doses ou das potncias homeopticas, produzindo
um efeito primrio muito forte, indicar uma reavaliao da conduta frente
posologia empregada. Tanto o retorno a sintomas antigos quando a agravao de
cura indicar um bom prognstico, trazendo ao investigador o indcio de que o
medicamento esta sendo efetivo e que uma melhora evidente ocorrer. No caso de
sintomas novos que evidencia uma evoluo indesejvel, o medicamento dever ser
suspenso e antidotado e outro melhor selecionado ( Teixeira, 2008 a).
2.6.3 Homeopatia e a pesquisa clnica
Kleijnen et al. (1991) analisaram a qualidade metodolgica de 107 ensaios
clnicos homeopticos placebos-controlados, concluindo que apenas 22 trabalhos
(20%) foram considerados de qualidade metodolgica satisfatria . Dentre estes 22
trabalhos, 15 (68%) mostraram eficcia do tratamento homeoptico frente ao
placebo. Em vista desses resultados, concluram haver evidncia positiva, mas no
suficiente para se tirarem concluses definitivas.
Linde, Melchart. (1998) realizaram uma reviso sistemtica de 89 ensaios
clnicos homeopticos placebos-controlados, concluindo que os resultados
observados no tratamento homeoptico no eram efeitos- placebo (resultado 2,45
vezes superior da homeopatia frente ao placebo). Devido quantidade insuficiente
de ensaios clnicos de uma mesma entidade nosolgica para que metanlises
especficas fossem realizadas, os autores agruparam todos os tipos de trabalhos
homeopticos em sua reviso, sendo criticados por terem adotado esta metodologia.
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2.6.4 A utilizao do Arsenicum album ou Anidro arsenioso. cido arsnico ou
Arsnico branco (As2O3)
Poucas substncias possuem uma historia mdica to rica quanto o arsnico
(Ars). Seu uso teraputico data de 400 a.C. Foi utilizado por Hipcrates, Aristteles,
Plnio. Os romanos tinham conhecimento do arsnico, assim como as civilizaes
Chinesa e Indiana. Popularizou-se na Idade mdia como veneno em parte por suas
caractersticas qumicas: aspecto inofensivo, insipidez ou sabor levemente doce
podendo ser facilmente misturados a alimentos e fcil obteno. Na medicina esteve
presente por um longo tempo, no tratamento de diversas doenas como sfilis,
doena do sono, psorase, dentre outras. O arsnico em doses pequenas no
produz sintomas e no afeta a sade. O elemento qumico est presente em vrias
guas minerais nas quais so reputadas como possuindo efeitos tnicos.
O Arsnico classificado como carcinognico qumico e comumente sabido
que aqueles que trabalham em indstrias e esto expostos a esse elemento correm
o risco de desenvolver essa doena. Curiosamente, existem estudos que
demonstraram que em algumas partes do mundo (Dinamarca), indivduos expostos
baixos nveis de arsnico no estavam associados com o desenvolvimento de
malignidade, pelo contrrio, observaram a diminuio da incidncia de cncer de
pele. (Baastrup et al., 2008).
O Arsenicum album foi recentemente aprovado nos Estados Unidos, para uso
no tratamento de leucemia promieloctica. Esse composto age estimulando a
produo de clulas sanguneas normais. Em experimentos relatados em 1996, uma
dose de 10mg por dia durante 45 dias provocou a remisso da doena
(Cuperschmid; Silva, 2007).
Na homeopatia utilizado de forma diluda infinitesimal. Obtm-se as trs
primeiras dinamizaes por triturao e as restantes por diluio em soluo
hidroalcolica (e solvel em 82 partes de gua fria, 140 partes de lcool a 95 e em
5 partes de glicerina). Agente teraputico de grande potncia e difuso, sua esfera
de ao grande e engloba todas as partes do organismo.
O paciente que apresenta a indicao de uso do Arsenicum album
homeoptico apresenta certas caractersticas, como ansiedade vaga, indeterminada,
ou sensao de que intil tomar remdios, por que padece de algo incurvel e vai
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morrer. Tem verdadeiras crises de ansiedade que o tiram da cama; mesmo sem dor
tem necessidade de mudar de lugar. A nica razo dessa agitao o fato dele no
poder ficar tranquilo. O que caracteriza o temperamento dos indivduos que
precisam do Arsenicum album a alternncia entre a excitao e a depresso.
Melancolia, tristeza, medo do escuro, da solido. Piora a noite, principalmente aps
meia noite a partir da 1 ou 2 horas da manh. As dores apresentadas por esse tipo
de paciente so queimantes e podem ser observadas em vrias partes do corpo. As
secrees mucosas so cidas e escoriantes. Apresenta a boca seca como
pergaminho, dores nevrlgicas, lngua seca com papilas elevadas e dores
queimantes. A faringe est seca assim como a boca (Lathoud, 2004).
2.6.5 Filosofias de tratamento homeoptico
Tradicionalmente as escolas mdicas homeopticas so classificadas em
Unicistas, quando seus seguidores prescrevem apenas um medicamento, em dose
nica ou repetida; atravs de uma nica substncia, procuram curar a doena do
seu paciente.
Pluralista, quando prescrevem vrios medicamentos, administrados juntos em
uma formulao (complexo), ou de forma alternada, geralmente em potncias mais
baixas.
Complexistas, quando prescrevem vrios medicamentos preparados em uma
s formulao ou ainda Alternistas, quando alternam estes diversos medicamentos.
Podemos considerar ainda a diviso entre os mdicos que prescrevem baixas
potncias e altas potncias, estes ltimos influenciados principalmente por Kent
(1979).
Alm da fundamentao terica das diferentes escolas variarem em relao
ideia bsica de Hahnemann, temos uma consequncia direta na prescrio do
medicamento, que pode ser nico (nica substncia, em dose nica ou repetida),
diversos alternados, ou diversas substncias preparadas em conjunto (Coulter;
1981). As divergncias entre unicistas e pluralistas/alternistas/complexistas tm
levado a separaes entre os homeopatas.
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2.6.6 A importncia do efeito Placebo na pesquisa clinica
Etimologicamente o termo placebo se origina do latim placeo, placere, que
significa agradar, enquanto o termo nocebo se origina do latim nocere, que significa
infligir dano. Como um dos precursores dos estudos cientficos na rea, Shapiro
(1964) define placebo como qualquer procedimento teraputico que desperta um
efeito em um paciente, sintoma, sndrome ou doena, mas que objetivamente
isento de atividade especifica para a condio que esta sendo tratada
Apesar dos termos; reposta placebo e efeito placebo serem usadas
indistintamente, alguns autores insistem na diferenciao existente entre eles
enquanto o efeito placebo atribudo a qualquer melhoria significativa na condio
de um grupo de sujeitos que recebeu determinado tratamento placebo
(comparativamente a ausncia de tratamento), a resposta placebo relaciona-se a
mudana individual causada pela interveno placebo (Hoffmann et al.,2005).
De forma generalizada, entende-se o efeito placebo ou resposta placebo
como a melhoria dos sintomas e ou funes fisiolgicas do organismo em resposta a
fatores supostamente inespecficos e aparentemente inertes (sugesto verbal ou
visual, comprimidos de lactose, injeo de soro fisiolgico, etc), sendo atribudo ao
significado simblico que o tratamento exerce na expectativa positiva do paciente
(Brody, 2000).
Efeito ou resposta nocebo um fenmeno oposto ao placebo, em que a
antecipao e a expectativa por um resultado negativo podem conduzir a agravao
de um sintoma ou doena.
Alguns estudos evidenciam que a magnitude da resposta relaciona-se ao tipo
de interveno placebo, por afetar a expectativa do paciente. Em virtude da
magnitude dos efeitos colaterais que apresentam placebos ativos (drogas clssicas
sem atuao no sistema fisiolgico em estudo) so mais efica es que os inertes
(plulas de acar), enquanto a resposta placebo proporcional a conhecida eficcia
do frmaco com a qual esta sendo comparado (KIirsch; Sapirstein, 1998). Pacientes
submetidos a cirurgias placebo, que acreditavam estar recebendo intervenes
ativas, apresentaram melhoras semelhantes aos submetidos a cirurgias reais
(McRae et al ., 2004). Deste fato, poderamos inferir que a terapia pluralista
(polifarmcia) estimularia efeito placebo mais poderoso do que a monoterapia, assim
como o um tratamento no convencional, considerado popularmente como fraco e
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de longo pra o , deveria estimular um efeito placebo menos intenso do que um
tratamento aloptico forte e rpido .
Empregando grupos controlados, diversos estudos encontraram que a
magnitude mdia do efeito placebo analgsica para indivduos est em torno de 2/10
unidades na escala analgica de sintomas (EVS), ou seja, 20% de variao de
melhora do placebo (Gracely et al.,1983; Amanzio et al., 2001, Price, 2001).
A sensao de estar colaborando em um projeto de importncia coletiva
parece ter efeito positivo sobre as reaes do paciente. A reao do paciente a um
dado tratamento est relacionada ao fato de estar recebendo algo que
considerado por ele como necessrio para sua melhora ou cura (Nina, 1996).
Um fato interessante que alguns pacientes apresentam reaes adversas
observadas por Wolf (1945) em pacientes tratados por drogas e placebo incluram
anorexia, sonolncia, nusea, fraqueza e eritema cutneo.
Segundo De Craen et al. (1999), desde a