Ação do tratamento homeopático na sintomatologia da ... · bucal em duas fases: ... O sintoma...

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INÊS FUGITARO OTOBE CHEBEL Ação do tratamento homeopático na sintomatologia da síndrome da ardência bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto São Paulo 2012

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  • INS FUGITARO OTOBE CHEBEL

    Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia

    bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto

    So Paulo

    2012

  • INS FUGITARO OTOBE CHEBEL

    Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia

    bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto

    Verso Corrigida

    Tese apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, para obter o ttulo de Doutor e, pelo Programa de Ps-Graduao em Odontologia. rea de Concentrao: Diagnstico bucal Orientador: Prof. Dr. Fernando Ricardo Xavier da Silveira.

    So Paulo

    2012

  • Chebel OFI. Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto. Tese apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Odontologia. Aprovado em: / /2013

    Banca Examinadora

    Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________

    Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

    Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________

    Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

    Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________

    Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

    Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________

    Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

    Prof(a). Dr(a)._____________________Instituio: ________________________

    Julgamento: ______________________Assinatura: ________________________

  • DEDICATRIA

    Primeiramente a Deus, a Luz que emana no Universo e nos mantm vivos,

    repletos de energia Vital. A energia que mantm tudo em equilbrio. A luz que

    ilumina todas as formas de conhecimento, de amor e solidariedade. A luz da cura e

    da graa. Gratido profunda por minha vida.

    Aos meus pais (in memoriam), Benedictus e Anita, pelo amor incondicional

    devotado famlia. Pelas palavras de conforto e fora, quando estava triste. Por me

    ensinarem a nunca desistir de um sonho e de sempre buscar a felicidade,

    respeitando o livre arbtrio do prximo. Ser livre, com responsabilidade, esse foi o

    maior presente que eles me proporcionaram. Gratido por tudo.

    Aos meus queridos irmos, Sueli e Reinaldo. Meus eternos cmplices na arte

    de viver. Ao meu amado sobrinho Reinaldo Junior, filho do corao. Aos meus

    cunhados Aldo e Aidamar, meus irmos por escolha.

    Ao meu querido e amado esposo, Sergio C. Chebel, pelo companheirismo,

    compreenso, pacincia e incentivo constantes. Minha alma gmea. Eu te amo.

    Aos meus filhos do corao, Ramiro, Renato e Fabiana que preencheram a

    minha vida com muitas bnos; e principalmente, replicaram essas graas com os

    netos: Ana Clara, Amanda e Pedro. Beijos.

    A todos os meus familiares que sempre estiveram presentes nos momentos

    difceis e felizes de minha vida.

    Aos meus queridos pacientes, que acreditaram em mim incondicionalmente.

    Gratido a Todos.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao prof. Dr. Fernando Ricardo Xavier da Silveira, meu orientador da Tese e

    da Vida, meu amigo. Pelo respeito e considerao minha pessoa, por estar

    sempre presente quando precisei de ajuda.

    Ao prof. Dr. Dante Antonio Migliari, pelo incentivo busca de novos

    conhecimentos, pela oportunidade que me concedeu de desenvolver novos

    conceitos de tratamento, sem preconceitos. Grata pela amizade e considerao.

    Aos professores da Disciplina de Estomatologia Clnica da Faculdade de

    Odontologia da Universidade de So Paulo, FOUSP Dr. Norberto Nobuo Sugaya,

    Dr.Fabio de Abreu Alves, Profa. Dra. Andra Lusvarghi Witzel e. Dr. Celso Augusto

    Lemos jnior, que muito contriburam para a minha formao.

    Aos funcionrios da FOUSP por toda ateno, carinho e auxilio nas

    atividades, especialmente Laerte, Ceclia.

    Em especial e com muito carinho, Iracema Mascarenhas Pires (Nina), pela

    ateno, amizade e carinho que sempre demonstrou sempre pronta a me ajudar.

    Dra. Anali Gerevini Marques, farmacutica responsvel pela randomizao

    e manipulao dos medicamentos homeopticos e farmcia Lofficine.

    Ao Prof. Alessandro De Ana do IPEN pela realizao da anlise estatstica

    A todos os meus colegas do Programa de ps- graduao, sucesso a todos!

  • Tocando Em Frente

    Ando devagar porque j tive pressa,

    E levo esse sorriso, porque j chorei demais,

    Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe,

    S levo a certeza de que muito pouco eu sei,

    ou nada sei. Conhecer as manhas e as manhs,

    O sabor das massas e das mas.

    preciso amor pra poder pulsar, preciso paz

    Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.

    Penso que cumprir a vida, seja simplesmente

    Compreender a marcha, ir tocando em frente,

    Como um velho boiadeiro, levando a boiada

    Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou,

    Estrada eu sou. Conhecer as manhas e as manhs,

    O sabor das massas e das mas,

    preciso amor pra poder pulsar, preciso paz

    Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.

    Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,

    Um dia a gente chega, no outro vai embora.

    Cada um de ns compe a sua histria, cada ser em si

    Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.

    Conhecer as manhas e as manhs,

    O sabor das massas e das mas,

    preciso amor pra poder pulsar, preciso paz

    Pra poder sorrir, preciso a chuva para florir.

    Ando devagar porque j tive pressa,

    E levo esse sorriso, porque j chorei de mais,

    Cada um de ns compe a sua histria, cada ser em si

    Carrega o dom de ser capaz, e ser feliz.

    Almir Sater

    http://letras.mus.br/almir-sater/

  • Interrupo, incoerncia, surpresa so as condies comuns de

    nossa vida. Elas se tornaram mesmo necessidades reais para

    muitas pessoas, cujas mentes deixaram de ser alimentadas.....

    por outra coisa que no mudanas repentinas e estmulos

    constantemente renovados.... No podemos mais tolerar o que

    dura. No sabemos mais fazer com que o tdio d frutos.

    Assim toda a questo se reduz a isto: pode a mente humana

    dominar o que a mente humana criou?

    Paul Valry

  • RESUMO

    Chebel OFI. Ao do tratamento homeoptico na sintomatologia da sndrome da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo cego placebo controlado e estudo aberto [tese]. So Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. Verso Corrigida.

    A sndrome da ardncia bucal (SAB) definida como uma sensao de queimao

    principalmente na lngua, palato e ou gengiva ou em outra regio da mucosa oral, na

    ausncia de leso oral especfica. Caracterizada por uma contnua, espontnea, e

    intensa sensao de queimao como se a boca ou a lngua tivessem sido

    escaldadas. A etiologia pobremente compreendida embora nova evidncias como

    neurolgicas, emocionais e alteraes hormonais estejam relacionadas com a SAB.

    mais comum entre as mulheres na ps-menopausa e causa intenso desconforto e

    sofrimento. Antidepressivos tricclicos, benzodiazepnicos e drogas antipsicticas

    so as opes mais indicadas no tratamento e mostraram resultados variveis. O

    objetivo desse estudo foi investigar a ao do tratamento homeoptico na

    sintomatologia da ardncia bucal em duas fases: estudo duplo-cego placebo-

    controlado e estudo aberto. Associados SAB, nveis de ansiedade e depresso

    tambm foram considerados. Esse estudo foi composto por 31 pacientes

    diagnosticados com SAB na Clinica do Departamento de Estomatologia da FOUSP,

    entre julho de 2011 a setembro de 2012. Estes (25 mulheres, e 6 homens mdia de

    idade de 58,93 anos, variao 34-85 anos), foram randomizados em dois grupos

    G1(Arsenicum album) e G2 (Placebo), durante 90 dias, com washout de 30 dias

    (FASE1). O sintoma ardor bucal e a resposta teraputica foram avaliadas utilizando

    uma escala visual de sintomatologia (EVS) a cada visita. Para se avaliar o Efeito

    global percebido (EGP), utilizou-se uma escala de 5 pontos ao trmino da FASE 1.

    O nvel de reduo sobre o sintoma ardor avaliado pela EVS e o efeito Global

    percebido (EGP) foram estatisticamente significantes para o grupo G1(Arsenicum

    album) com reduo de sintoma de 44,50% em relao ao placebo (12,65%). Na

    FASE 2 (estud0 aberto), 28 pacientes que participaram da FASE 1, receberam

    medicamento homeoptico individualizado durante 7 meses, com visitas mensais e

    Washout de 60 dias. O sintoma ardor e resposta teraputica foram avaliados

  • utilizando (EVS) inicial obtido ao final da FASE 1, e no final da FASE 2. Houve

    reduo de sintomas no final do tratamento de 64,60%. A anlise dos dados nos

    permitiu concluir que ambos os tratamentos FASE 1 e FASE 2 tiveram efeito

    teraputico com significncia estatstica. Houve efetividade do tratamento

    homeoptico sobre o placebo na sintomatologia da ardncia bucal. A FASE 2

    apresentou melhores resultados quando comparados aos resultados obtidos na

    FASE 1. O Grupo Medicamento da FASE 2 foi mais eficaz quando comparado aos

    Grupos, Medicamento e Placebo da FASE 1, com significncia estatstica no

    intervalo de confiana estabelecido. Os melhores resultados foram observados nos

    pacientes com sintomas entre 6 - 36 meses.

    Palavras-chave: sndrome da ardncia bucal, tratamento, Homeopatia.

  • ABSTRACT

    Chebel OFI. Action of homeopathic treatment in the Symptoms of burning mouth syndrome in two phases: double-blind placebo controlled study and open trial study [thesis]. So Paulo: Universidade de So Paulo, Faculdade de Odontologia; 2012. Verso Corrigida. Burning mouth syndrome (BMS) is defined as a burning sensation mainly on the

    tongue, palate and/or gingival or in any other region of the oral mucosa, in the

    absence of specific oral lesions. BMS is typically characterized by a continuous,

    spontaneous, and often intense burning sensation as if the mouth or tongue were

    scaled or on fire. The etiology of this disorder is poorly understood even though new

    evidence of involvement of neurological, emotional and hormonal alterations. The

    correct diagnosis of BMS and the exclusion of possible local or systemic factors that

    can be associated with the symptoms are fundamental. It is most common among

    postmenopausal women and causes intense discomfort and suffering. This condition

    often affects the health related quality of life in patients. Tricyclic antidepressants,

    benzodiazepines and antipsychotic drugs are the most accepted options in treatment

    and show variable results. The aims of this study were to investigate the action of

    homeopathy treatment in the symptomatological burning mouth syndrome in two

    phases: double-blind placebo controlled study and open trial study. Association of

    BMS with level of anxiety and depression had been considered. This study

    comprised data from 31 patients diagnosed with BMS in the outpatients Clinic of the

    Department of Stomatology, FOUSP, between July, 2011 and September, 2012.

    Thirty-one patients (25 women, 6 men median age 58.93 years, range 34-85), were

    randomized in two groups G1 (Arsenicum album) and G2 (Placebo) during 90 days,

    with washout for 30 days (PHASE 1).The oral symptoms and the treatment response

    were assessed using visual analogue scale (VAS) before and after the treatment and

    the global perceived effect (GPE) score using 5 point scale at the end of the PHASE

    1. The level of burning reduction assessed by VAS was significant (44.50% with

    Arsenicum album and 12.65% with Placebo). In the PHASE 2, twenty-eight patients

    that participate of the PHASE 1, received individualized homeopathic medication

    during 7 months, with monthly visits and washout for 60 days. The symptoms and

    therapeutic response were assessed using VAS before and after treatment and the

  • global perceived effect (GPE) at the end of PHASE 2. The level of burning reduction

    assessed by VAS was 64.60%. We concluded that both treatment PHASE1 and

    PHASE 2 had therapeutic effectiveness with statistical significance. The use of

    arsenicum album was better than Placebo to control the BMS symptoms. PHASE 2

    showed the best results when compared to PHASE 1. The medication Group in

    PHASE 2 was more effective when compared to the groups, arsenicum album and

    Placebo of the PHASE 1, with statistical significance. The best results were observed

    in the patients between 6-36 months under treatment.

    Keywords: Burning mouth syndrome. Therapeutic. Homeopathy.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 5.1 - Distribuio dos pacientes segundo idade, gnero, etnia e hbitos ...... 57 Tabela 5.2 - Fatores clnicos sistmicos associados SAB (n=31) .......................... 58 Tabela 5.3 Caractersticas clnicas da sintomatologia da SAB N=31 ........................ 60 Tabela 5.4 - Fatores clnicos locais associados SAB............................................ 61 Tabela 5.5 - Fatores psicognicos associados SAB ............................................. 62 Tabela 5.6 - Dados biodemogrficos dos pacientes com SAB na FASE 1(N=31) .... 63 Tabela 5.7 - Variao da Escala Visual de Sintoma (EVS) N=31 FASE 1 ............... 65 Tabela 5.8 - Efeito Global Percebido na FASE 1 ...................................................... 65 Tabela 5.9- Caracterstica dos pacientes em tratamento na FASE 2 ...................... 67 Tabela 5.10- Medicamentos homeopticos mais prescritos na FASE 2 (n=28) ........ 68 Tabela 5.11- Tabela Variantes reativas na FASE 2 (n=28) ...................................... 68 Tabela 5.12- Estado geral dos pacientes com SAB pr e ps-tratamento

    homeoptico ......................................................................................... 70 Tabela 5.13- Efeito Global Percebido nas FASES 1 X FASE 2................................. 71

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    SAB sndrome da ardncia bucal

    cH centesimal Hahnemanniana

    IDATE Inventrio Trao-Estado

    CES-D Escala de Rastreamento Populacional para Depresso

    EGP Efeito Global percebido

    Ars Arsenicum album

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .............................................................................................. 14

    2 REVISO DA LITERATURA ........................................................................ 20

    2.1 Epidemiologia ........................................................................................... 21

    2.2 Classificao e subgrupos ...................................................................... 22

    2.3 Etiopatogenia ............................................................................................ 23

    2.4 Critrios de diagnstico .......................................................................... 30

    2.5 Revises dos Tratamentos propostos na SAB ...................................... 32

    2.6 O medicamento homeoptico ................................................................. 35

    2.6.1 Preparo do medicamento homeoptico ................................................... 37

    2.6.2 Efeitos adversos no tratamento homeoptico ......................................... 40

    2.6.3 Homeopatia e a pesquisa clnica ............................................................. 40

    2.6.4 A utilizao do arsenicum album ............................................................. 41

    2.6.5 Filosofas de tratamento homeoptico...................................................... 42

    2.6.6 A importncia do efeito placebo na pesquisa clnica ............................... 43

    3 PROPOSIO .............................................................................................. 46

    4 CASUSTICA-MATERIAL E MTODOS ..................................................... 47

    4.1 Critrios de excluso ............................................................................... 47

    4.2 Coleta de dados ........................................................................................ 47

    4.3 Mtodos ..................................................................................................... 48

    4.4 Avaliao da resposta teraputica ......................................................... 50

    4.5 Seguimento dos pacientes ...................................................................... 51

    4.6 Exames complementares ........................................................................ 52

    4.7 Anlise dos dados .................................................................................... 53

    4.7.1 Anlise descritiva .................................................................................... 53

    4.7.2 Anlise inferencial ................................................................................... 53

    4.7.2.1 Fase 1 Intra grupos: Medicamento e Placebo estudo da EVS ............. 54

    4.7.2.2 Fase 2 Intra grupos: Medicamento e Placebo estudo da EVS ............. 54

    4.7.3 Anlise intergrupos e Avaliao EGP ...................................................... 54

    5 RESULTADOS ............................................ ...................................................55

    6 DISCUSSO ................................................................................................. 72

    CONCLUSES ................................................................................................ 82

    REFERNCIAS ................................................................................................ 83

    APNDICES .................................................................................................... 97

    ANEXOS ........................................................................................................ 113

  • 14

    1 INTRODUO

    1.1 Sndrome da ardncia bucal

    A sndrome da ardncia bucal (SAB) caracterizada por uma contnua,

    espontnea, frequente e intensa sensao de queimao em mucosa oral

    clinicamente normal, como se a boca, a lngua, os lbios, gengivas e as mucosas

    tivessem sido escaldadas ou queimadas, (Tseikhin et al., 2007). A SAB pode

    tambm esta associada vulvodinia, um desconforto vulvar associado a uma dor

    queimante, ocorrendo na ausncia de relevantes achados clnicos (Petruzzi et al.,

    2007). A etiologia permanece desconhecida embora existam evidncias para a

    possibilidade de uma patognese neuroptica idioptica na SAB (Granot; Nagler, al,

    2005).

    A sndrome recebeu varias denominaes como estomatodinia,

    estomatopirose, e diestesia. Os sintomas incluem alm da dor queimante bucal,

    sede, boca seca, disgeusia, persistente alterao do paladar, irritabilidade,

    mudanas nos hbitos alimentares, depresso, e diminuio do desejo de

    socializao (Grushka, 1987; Gorsky et al ., 1991; Grushka et al., 2003;). A dor

    descrita como constante, no desaparecendo naturalmente. Vrios locais podem ser

    afetados, incluindo lbios, palato, gengivas e lngua. No entanto, a lngua o local

    mais afetado da cavidade oral (Gorsky et al., 1991; Lamey; Lamb, 1988; Vidas,

    1988). A SAB no apresenta padro histolgico caracterstico, seu diagnstico

    limita-se na aparente normalidade da mucosa oral do paciente (Locker; Gruska,

    1987). Caracteriza-se, no entanto, como uma doena idioptica distinta com

    sintomas de ardncia na mucosa oral que pode potencialmente piorar por fatores

    locais ou sistmicos, como nas deficincias nutricionais, alteraes hormonais na

    menopausa, infeces locais, leses relacionadas a prteses, xerostomia, reaes

    de hipersensibilidade, medicamentos, e doenas sistmicas como a diabetes

    mellitus (Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005; Buchanan; Zakrewska, 2002;

    Brown et al., 1999). importante ressaltar que o diagnstico do SAB dever ser

    estabelecido somente depois que todas as outras possveis causas tenham sido

    avaliadas (Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005).

  • 15

    A prevalncia da SAB na populao geral est entre 0,7% a 4,6% (Lamey;

    Lamb, 1988). Aproximadamente 1,3 milhes de americanos adultos, principalmente

    as mulheres no perodo ps-menopausa, sofrem com a SAB. As mulheres so 7

    vezes mais afetadas do que os homens (Lamey; Lamb, 1988). A idade mdia dos

    pacientes com SAB est entre 55 e 60 anos, ocorrendo raramente na faixa dos 30

    anos no existindo relatos de casos em crianas (Drage; Rogers, 1999; Drage;

    Rogers, 2003; Danhauer et al, 2002). A mdia de durao da SAB de 2 a 3 anos

    (Drage; Rogers, 1999; Drage; Rogers, 2003). A permanncia dos sintomas por mais

    de 18 anos foram citados em casos raros.

    A SAB afeta pessoas de todas as etnias e condies socioeconmicas

    (Tseikhin et al ., 2007). No perodo de 1998 a 2006 foram realizadas revises de

    artigos publicados na literatura descrevendo diferentes opes farmacolgicas para

    seu tratamento. Embora, resultados satisfatrios tenham sido relatados, um

    tratamento eficaz para a maioria dos casos ainda precisa ser estabelecido (Serra et

    al ., 2007).

    1.2 Homeopatia

    1.2.1 As origens da Homeopatia

    Hipcrates talvez tenha sido o primeiro a afirmar que tambm possvel curar

    atravs dos semelhantes, apesar de ter formulado igualmente o principio dos

    contrrios, que fundamenta a assim chamada Enantiopatia (Teixeira; 1998; Vannier;

    1994). Em decorrncia, um dos princpios diretivos da teraputica hipocrtica que

    os semelhantes curam-se pelos semelhantes . doena produ ida pelos

    semelhantes, e pela administrao do semelhante, o paciente retorna da doena

    sade (Teixeira, 1998; Dudgeon, 1994).

    Em Paracelsus tamb m reencontramos este principio hipocrtico: o

    semelhante pertence ao semelhante . firma-se que toda sua prtica mdica tenha

    sido fundamentada na doutrina dos similares, na idia de que a substncia que

    causa a doena tambm ir cur-la (Coulter, 1981; Teixeira, 1988; Vannier, 1994).

    Christian Friedrich Samuel Hahneman (1755-1843), mdico alemo de

    formao tradicional encontrava-se descontente com a forma de atuao da

  • 16

    medicina de seu tempo, onde os tratamentos utilizados tinham uma conotao um

    tanto radical com o uso de sangrias, custicos e laxantes. Em determinado momento

    de sua vida, decidiu desistir daquela medicina que no o convencia e se dedicou

    traduo de livros, mas ainda na rea mdica, como profisso para seu sustento. A

    ideia inicial que despertou Hahnemann para a nova e particular tendncia mdica foi

    a traduo de um artigo de William Cullen (1710-1790), mdico escocs, sobre a

    influncia da casca de quinino, erva utilizada, naqueles tempos, no tratamento da

    malria. Curioso, isto o levou a experimentar ele prprio os efeitos de tal medicao.

    O que percebeu ento foi que, ao ingerir tal substncia, em determinada quantidade

    e frequencia, passava a apresentar as manifestaes da febre intermitente, to

    conhecida na poca, e quando suspendia o uso da droga, aps alguns dias, voltava

    sua condio normal de sade (Eizayaga, 1992). Concluiu que a quina era

    empregada no tratamento da malria porque produzia sintomas semelhantes em

    pessoas saudveis (Corra, 1995).

    Animado por esse primeiro resultado, utilizou tambm beladona, digitalis,

    mercrio e outros compostos, obtendo resultados similares. Apoiado em suas

    evidncias experimentais e no pensamento hipocrtico similia similibus curentur

    (Dudgeon; 1994; Vannier, 1994; Corra, 1995), Hahnemann concebeu uma nova

    forma de tratamento, pautada na cura pelos semelhantes.

    A partir desse momento, comeou a investigar a lei dos semelhantes . Em

    1796, publicou o ensaio sobre um novo princpio para averiguar os poderes curativos

    das substncias medicinais, no qual fazia um apanhado a respeito de seus

    experimentos e descrevia alguns aspectos observados antes por outros autores.

    No mesmo ano, voltou atividade mdica, passou a tratar seus clientes pela

    aplicao de suas novas ideias. Assim, 1796 passou a ser considerado como marco

    do incio da homeopatia. Retomou as ideias de seus antecessores e estabeleceu um

    m todo teraputico fundamentado na Lei dos Semelhantes . Nunca afirmou ter

    descoberto esta lei, mas sim ter sido o primeiro a ensin-la e aplic-la de forma

    consistente (Coulter, 1981).

    Hahnemann buscava como o mais alto ideal da cura, o restabelecimento

    rpido, suave e duradouro da sade, ou a remoo e destruio integral da doena

    pelo caminho mais curto, mais seguro e menos prejudicial, seguindo fundamentos

    nitidamente compreensveis (Luz, 1996).

  • 17

    Hahnemann considerava que medicamentos preparados a partir de

    substncias que poderiam causar algum sintoma quando administradas em grandes

    doses a um individuo saudvel, poderiam curar os mesmos sintomas quando

    prescritas em doses muito pequenas para outro individuo doente, com os mesmos

    sintomas. Para diminuir a toxidade que algumas substncias apresentavam, e que

    dificultava sua utilizao, comeou a dilu-las. A histria no conseguiu dados para

    explicar esses fatos, mas, possivelmente de forma intuitiva, conforme ele dilua,

    passou tambm a agitar suas diluies. Esse mtodo, constitudo por diluio e

    agitao foi sendo por ele aperfeioado, durante o desenvolvimento de seu trabalho,

    e recebeu o nome de dinami ao . Portanto, os medicamentos utili ados com

    critrio homeoptico so geralmente dinamizados (Teixeira, 1998).

    A palavra dinamizao vem do grego "dynamis" e est relacionada ideia de

    fora. Este conceito de que uma substncia diluda - a dinamizao sempre inclui

    uma diluio - pode apresentar uma "fora", bastante difcil de ser aceito pela

    farmacologia, com suas clssicas curvas de doses e respostas.

    As diluies homeopticas facilmente ultrapassam o nmero de Avogadro, e,

    portanto torna-se estatisticamente improvvel encontrar uma nica molcula da

    substncia inicial nos medicamentos.

    1.2.2 Leis da homeopatia

    A Homeopatia Clssica, estabelecida por Hahnemann, fundamenta-se em

    quatro princpios: lei da Semelhana, experimentao no homem so, administrao

    do medicamento em doses mnimas e indicao de medicamento nico. Na prtica

    afastando-nos dos princpios ideais, percebemos que a Homeopatia um fenmeno

    natural, que pode ocorrer tambm com o uso de substncias no experimentadas,

    com o uso de doses ponderais de medicamentos e ainda quando mais de uma

    substncia medicamentosa utilizada. O princpio da Semelhana resta sempre

    como o preceito essencial da Homeopatia (Adler et al.,1996; Teixeira,1998).

    Outro aspecto importante a ser notado nos princpios estabelecidos por Hahnemann,

    para melhor utilizar o fenmeno homeoptico, foi o da experimentao das

    substncias a serem utilizadas como medicamentos.

  • 18

    Administrou substncias a indivduos saudveis, em pequenas quantidades,

    diariamente, at que estes manifestassem uma srie de sinais e sintomas

    especficos para aquela substncia. Estes sintomas, obtidos para cada substncia, a

    partir de uma ordem destinada a facilitar a consulta, foram listados desde a poca de

    Hahnemann em compndios denominados Matrias Mdicas. At sua morte,

    realizou a experimentao de 99 substncias, trabalho continuado por seus

    seguidores at nossos dias (Luz, 1996; Nicholls, 1988).

    Para facilitar a escolha do medicamento indicado para cada paciente, os

    mesmos sintomas foram agrupados em captulos (por exemplo, sintomas

    relacionados ao quadro mental, iluses, vertigem, cabea, olho, viso, etc.) e em

    rubricas e sub-rubricas, que modalizam os sintomas classificados nos diversos

    captulos. Estes livros so chamados de Repertrios. Estas duas obras, mas o livro

    Organon, a arte de curar, onde Hahnemann fundamenta os conceitos homeopticos,

    formam a base da literatura mdica homeoptica.

    Em vista disso, Hahnemann valorizou as particularidades da individualidade

    enferma, traduzidas na totalidade dos sintomas caractersticos, para escolher o

    medicamento homeoptico mais adequado, instituindo uma ampla semiologia, com

    anamnese e exame clnico minucioso, a fim de evidenciar as peculiaridades que

    permitissem selecionar o medicamento individualizado perante as diversas opes

    teraputicas.

    Inerente ao modelo homeoptico de tratamento das doenas provm

    dificuldade em se encontrar um medicamento eficaz no despertar da reao

    homeosttica do organismo num curto espao de tempo, necessitando-se um

    perodo mdio--longo de acompanhamento dos pacientes para atingir o

    medicamento corretamente individualizado, tanto no tratamento cotidiano quanto nos

    modelos de pesquisa clnica homeoptica (Teixeira, 2008).

    Desenhos de estudos clnicos que desprezam estas premissas no

    conseguiram demonstrar a eficcia e a efetividade do tratamento homeoptico

    perante o efeito placebo (Teixeira, 2008).

    A proposta desse trabalho a abordagem teraputica homeoptica nos

    pacientes com SAB. Uma vez que, vrios fatores etiolgicos so citados na SAB,

    incluindo alteraes de fluxo salivar, desordens sistmicas, e alteraes

    psicopatolgicas, a homeopatia parece ser uma proposta de tratamento abrangente

    para as diferentes etiologias do SAB. Como na patogenesia de vrios medicamentos

  • 19

    homeopticos aparece como um dos sintomas a ardncia bucal, isso faz crer que a

    SAB possa ser tratada com medicamentos homeopticos que tenham similitude.

  • 20

    2 REVISO DA LITERATURA

    A Associao Internacional do Estudo da Dor define a Sndrome da ardncia

    bucal (SAB) como uma dor de pelo menos 4-6 meses de durao localizada na

    lngua ou outra mucosa na ausncia de achados clnicos e laboratoriais.

    De acordo com o sistema de classificao da Associao Internacional do

    Estudo da Dor, com apoio da Sociedade Internacional da Enxaqueca e da Academia

    Americana da Dor Orofacial, o termo sndrome da ardncia bucal (SAB) uma

    categoria de dor orofacial localizada, que ocorre na ausncia de leses na mucosa

    oral e de fatores orgnicos (Bell, 1989; Okeson, 1996; Pedersen et al., 2004;

    Merskey; Bogduk, 2004;. Benzon et al., 2005; Barker; Savage, 2005)

    A SAB caracterizada por uma contnua, espontnea, frequente e intensa

    sensao de queimao como se a boca, a lngua, os lbios, gengivas e as

    mucosas tivessem sido escaldadas ou queimadas, em mucosa oral clinicamente

    normal, (Tseikhin et al., 2007 Klasser et al., 2008) e essa condio interfere muito

    na qualidade de vida dos pacientes.(Brufau-Redondo et al., 2008; Souza et al.,

    2011). A SAB pode tambm estar associada vulvodinia, um desconforto vulvar

    associado a uma dor queimante, ocorrendo na ausncia de relevantes achados

    clnicos (Petruzzi et al., 2007).

    A lngua o stio, mais acometido especialmente nos dois teros anteriores

    (71-78%), dorso e laterais, seguida pela regio alveolar superior, poro anterior do

    palato, semimucosa labial, lbios e regio alveolar inferior. Podem ocorrer em outros

    stios como: mucosa jugal, assoalho de boca, palato mole e orofaringe em menos

    frequncia (Gorsky et al.,1987; Grushka, 1987; Van Der Ploeg ey al., 1987;

    Svensson et al.,1993). A maioria dos pacientes com SAB relata mais do que um

    local afetado e, em todos os casos, a sensao de ardncia referida bilateralmente

    (Lamey; Lamb, 1988).

    Grande parte dos pacientes com SAB descreve seus sintomas na mucosa

    oral utilizando os termos: dor, ardncia, queimao, ardor, formigamento, calor,

    escaldante, irritante, entre outros (Suarez; Clark; 2006).

    Com relao durao dos sintomas, a ardncia bucal ocorre continuamente

    durante meses ou anos, sem perodos de interrupo ou remisso; alguns relatos

    sugerem uma durao de 2 a 3 anos (Browing et al.,1987), outros estudos

  • 21

    mostraram perodos de durao mdia de sintoma de 9,3 anos, com variao de 6

    meses a 20 anos (Cavalcanti et al., 2007).

    A ocorrncia de remisso parcial ou total espontnea da sintomatologia da

    SAB controversa na literatura. Houve relatos de remisso parcial ou completa (com

    ou sem interveno) em aproximadamente 50% dos pacientes e a remisso

    completa e espontnea em aproximadamente 20% dos pacientes dentro de 6 a 7

    anos do inicio do sintoma. Em outros estudos, pesquisadores encontraram

    resultados divergentes. (Sardella et al., 2006).

    Muitos pacientes apresentam queixas em outras partes do corpo, sugerindo

    que a SAB pertencia a outros grupos de desordens dolorosas tais como artromialgia

    facial, dor facial atpica, e odontalgia atpica (Feinmann; Harris, 1984).

    O termo sndrome especialmente pertinente uma ve que, os pacientes se

    queixam, alm da ardncia, de outros sintomas como a xerostomia e as alteraes

    de paladar, do olfato ou da sensibilidade (parestesia) e intolerncia ao uso de

    prteses (Zakrzewska, 1995; Zakrzewska et al., 2003).

    2.1 Epidemiologia

    A prevalncia da SAB difcil de ser estabelecida devido aos critrios

    rigorosos de diagnstico e em muitas publicaes no se consegue distinguir entre o

    sintoma da queimao bucal e o da sndrome propriamente dita, incluindo a SAB to

    somente como um sintoma de outras doenas.

    Embora apresente uma prevalncia variando entre 0,7 a 4,5% (Bergdahl;

    Bergdahl, 1999), aproximadamente 1,3 milhes de americanos adultos, a maioria

    mulheres ps-menopausa, so afetadas pela SAB (Jaaskelainen et al., 1997; Scala

    et al., 2003; Pedersen et al., 2004; Barker; Savage, 2005). Atinge pessoas de todas

    as raas e condies socioeconmicas. Estudos reportam que a etnia mais

    prevalente nos indivduos com SAB a caucasiana (Cherubini et al., 2005;

    Cavalcanti et al., 2007).

    No Brasil, embora no existam dados concretos quanto prevalncia da SAB

    na populao geral, estimativas epidemiolgicas foram reportadas em alguns

  • 22

    estudos encontrando taxas de aproximadamente 4,5% na populao estudada

    (Nasri et al., 2007).

    Em geral a SAB afeta mais as mulheres com uma relao de

    aproximadamente 7:1 a 13:1. Essa diferena entre gneros pode talvez ser

    explicada pelos aspectos biolgicos, psicolgicos e fatores scio culturais, entretanto

    tais fatores ainda no foram bem definidos (Lamey, 1996 ; Lamey et al., 2001;

    Femiano et al., 2006).

    A mdia de idade mais prevalente encontrada na literatura variou de 55 a 65

    anos, podendo acometer alguns adultos jovens entre 30 a 40 anos; raramente

    encontrada em pacientes abaixo dos 30 anos, nunca foi descrito nenhum caso em

    crianas ou adolescentes (Ferguson et al.,1981; Main; Basker, 1983; Lamey;

    Lamb,1988; Drage ; Rogers,1999; Danhauer et al.,2002; Cavalcanti et al., 2007;

    Nasri et al., 2007).

    Nenhum estudo demonstrou uma relao com o tipo de ocupao do

    paciente, nvel educacional ou social.

    2.2 Classificao e subgrupos

    Vrias classificaes foram propostas baseadas nas flutuaes dos sintomas

    dirios observados na SAB (Lamey; Lamb, 1988; Lamey et al., 1994; Lamey, 1996;

    Klasser et al., 2008).

    a) Tipo 1: caracterizada por uma progressiva dor, o paciente acorda sem

    dor, e os sintomas progridem com o passar do dia, atingindo no final da

    tarde a sintomatologia mxima; afeta aproximadamente 35% dos

    pacientes. Esse tipo pode estar associado com doenas sistmicas, tais

    como deficincias nutricionais.

    b) Tipo 2: os sintomas so constantes durante todo o dia e os pacientes

    relatam dificuldade em dormir 55% dos pacientes. Esses pacientes

    normalmente apresentam distrbios psicolgicos associados, sendo mais

    resistentes ao tratamento.

  • 23

    c) Tipo 3: os sintomas so intermitentes, com localizao e dor atpicas.

    Constitui 10% dos pacientes sendo estes considerados psicologicamente

    equilibrados e apresentam alergias a alimentos ou corantes (Lamey;

    Lamb, 1988; Lamb et al.,1994).

    Scala et al. (2003), propuseram dividir a SAB em duas formas clinicas: SAB

    primaria ou essencial idioptica, na qual no se consegue identificar as causas e

    SAB secundria, originria de doenas sistmicas ou de fatores locais. Esses

    critrios idiopticos e secundrios acabam fazendo parte de dois diferentes

    subgrupos da mesma patologia. Danhauer et al., (2002), em suas investigaes

    examinando 69 pacientes (83% mulheres) com media de idade de 62 anos, no

    encontraram diferenas entre os pacientes com SAB primria ou secundria com

    relao idade, durao, intensidade da dor ou perfil psicolgico. As diferenas

    encontradas foram com relao ao tratamento. Pacientes com SAB secundria

    responderam melhor ao tratamento enquanto nos pacientes com SAB primria a

    resposta foi negativa. No caso da SAB secundria, a abordagem do paciente inicia-

    se com um diagnstico diferencial baseado na excluso de outras condies

    dolorosas crnicas orofaciais, como, de outras doenas orais dolorosas que exibem

    leses nas mucosas. Entretanto, a sobreposio de doenas da mucosa oral tais

    como as infecciosas, pode causar dificuldades no diagnstico. Valendo-se dessa

    classificao, Maltsman-Tseikhin et al., (2007), afirmaram que o tipo secundrio da

    SAB compreende as sensaes de ardncia bucal associadas a alteraes

    orgnicas e/ ou teraputicas estabelecidas tais como, desordens na cavidade oral

    incluindo neuropatia oral local, desordens sistmica, deficincias nutricionais,

    desordens induzidas por medicamentos e anormalidades neurolgicas e

    psiquitricas. Nestes casos, as sensaes de ardncia bucal so consideradas

    sintomas decorrentes dessas alteraes e, portanto, no representariam um tipo

    distinto de SAB

    2.3 Etiopatogenia

    O envolvimento neurolgico, emocional e as alteraes hormonais so as

    principais proposies para a etiologia da SAB. Entretanto, os mecanismos de como

  • 24

    se desenvolve so complexos e ainda completamente desconhecidos (Spanemberg

    et al.,2012). Os pacientes apresentam interaes entre sintomas locais, sistmicos e

    psicolgicos. Os diversos fatores coincidem, aumentando a sensibilidade dolorosa

    na mucosa, perceptvel ou no ao observador (Rojo et al.,1993; Scala et al., 2003;

    Klasser et al., 2008). O aspecto mais debatido e controverso refere se a SAB deveria

    ser considerada definitivamente como uma entidade nosolgica distinta ou como

    uma perturbao sintomtica que tem sua origem em diversas patologias

    (Grinspan et al.,1995 ; Zakrzewask, 1995).

    Associaes importantes tm sido reportadas entre a SAB e desordens

    neuropticas como dano ao nervo perifrico ou distrbios do sistema dopaminrgico

    (Grinspan et al.,1995; Bergdahl; Bergdahl, 1999; Scala et al., 2003). Autores afirmam

    que as alteraes perifricas podem estar relacionadas com a densidade dos

    receptores de membrana presentes na mucosa oral, ou as alteraes na sua

    capacidade reativa, amplamente influenciadas por fatores de risco para SAB tais

    como estresse, ansiedade, senescncia e climatrio (Woda; Pionchon, 1999).

    Possivelmente, uma neuropatia idioptica em pequenas fibras pode levar

    sensao da SAB. Alternativamente, uma disfuno salivar primria pode causar

    uma alterao sensorial nos receptores modificando o equilbrio do meio bucal

    (Granot; Nagler, 2005; Nagler; Hershkovich, 2005).

    Bipsia de tecidos acometidos pela ardncia mostrou diminuio na

    densidade de fibras nervosas epiteliais e subpapilares, sugerindo uma degenerao

    axonal e caracterizando neuropatia sensorial nas ramificaes menores do nervo

    trigmeo (Lauria et al., 2005).

    O envolvimento de mecanismos neuropticos centrais tambm tem sido

    demonstrado em pacientes com SAB atravs do mapeamento de reas de ativao

    cerebral por meio de exames de imagem de ressonncia magntica funcional, aps

    estimulao trmica do nervo trigmeo. Os autores observaram que pacientes com

    SAB apresentam atividade cerebral semelhantes s encontradas em outras

    desordens de dor neuroptica, e que o estimulo trmico doloroso do nervo trigmeo

    foi processado de forma qualitativa e quantitativamente diferente comparado a

    indivduos normais, sugerindo que a hipoatividade cerebral pode ser um fator

    importante na patognese da SAB. Uma hipoatividade no lbulo parietal e tlamo

    poderiam ser includos entre os potenciais fatores da SAB, justificando as alteraes

  • 25

    psquicas observadas nesses pacientes com ansiedade, depresso, transtorno

    obsessivo compulsivo (Albuquerque et al., 2006).

    Outra hiptese sugere que os sintomas da SAB seriam representados por

    uma dor fantasma causados por dano ao sistema sensorial gustatrio e perda da

    percepo do morno em pacientes suscetveis. possvel que exista uma

    malformao na deteco do morno que leva a sensao de dor e, quando essa

    sensao se torna crnica, induz a sensaes somticas sensoriais como distrbios

    gustativos e olfatrios atravs de mecanismos centrais, incluindo neuroplasticidade

    de reas corticais responsveis pelas interaes sensoriais. Anormalidade no

    paladar tem sido descrita como uma consequncia da perda da percepo do

    morno. Nesse sentido, a SAB pode ser descrita como uma sensao fantasma de

    queimao na lngua. (Siviero et al.,2011).

    Associao de fatores clnicos na SAB

    Com relao aos fatores locais, consideramos aqueles que comumente agem

    diretamente na mucosa oral causando um efeito irritante, que podem ser fsicos,

    qumicos ou biolgicos (bactrias ou fungos), e so capazes de desencadear os

    sintomas de ardncia (Klasser et al., 2008; Lpez Jornet et al., 2010) Entre os

    fatores locais mais citados, a xerostomia, que a sensao subjetiva de boca seca,

    a queixa frequente em aproximadamente 25 % dos pacientes com SAB (Main;

    Basker, 1983; Lamey; Lamb, 1988; Drage; Rogers, 1999). A Hiposalivao denota

    objetivamente reduo do fluxo salivar mensurada atravs da sialometria (Lamey;

    Lamb, 1988; Gorsky et al., 1991; Grushka; Sessle, 1991). Klasser et al., (2008),

    relatam em seus estudos uma prevalncia de xerostomia na SAB, entre 34 a 39%,

    enquanto Grushka et al., (2003) encontraram 60%, em seu grupo de estudo.

    Outros fatores incluem distrbios do paladar (Grushka, 1987; Formaker;

    Frank, 2000). Alteraes na percepo do paladar e a tolerncia dor so possveis

    causas para a sensao de queimao. O paladar apresenta receptores localizados

    fundamentalmente nas papilas fungiformes, sendo estas, encontradas em nmero

    mais elevado em certos pacientes com SAB, principalmente em mulheres, que so,

    por isso, denominados indivduos com super-paladar ou paladar aguado. Essa

    teoria pressupe que certas pessoas, apresentam um paladar apurado devido

    presena de alta densidade de papilas fungiformes na parte anterior da lngua,

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Siviero%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=21552682

  • 26

    portanto, mais susceptveis a desenvolver dor ardente (Scala; et al., 2003;

    Camacho-Alonso et al., 2012).

    A observao clinica em mucosa, de glossite migratria benigna (lngua

    geogrfica), lngua festonada e lngua fissurada tem sido considerada como fator

    etiolgico local da SAB (Gorsky et al., 1987; Powell, 1987; Drage; Rogers, 1999).

    Outro fator como a queixa oral secundaria de lbios ressecados foi relatada em 26

    (83,8%) dos 31 pacientes avaliados nos estudos de Cavalcanti et al.(2007).

    Dentre as diversas reaes alrgicas locais citadas na literatura que esto

    relacionadas com a SAB, a mais relatada devida a altos nveis de monmeros

    residuais polimetacrilato de resinas acrlicas, usadas na confeco das prteses

    dentrias. Outras substncias so referidas como nylon, cido ascrbico, perxido

    benzico, dietanolamina 4-tolil, toluidina N-dimetil, sulfato de nquel, entre outros,

    alm de determinados aditivos ou corantes alimentares (Lamey; Lamb, 1988;

    Lamey et al,. 1994; Svensson; Kaaber, 1995).

    Infeco por Candida albicans pode ser considerada um dos mais frequentes

    fatores na produo da SAB, embora alguns autores questionem essa importncia.

    Outras infeces orais causada por bactrias tais como Enterobacter, Klebsiella e S.

    Aureus foram encontradas em pacientes com SAB. No entanto, o tratamento dos

    portadores de candidase com terapia antifngica no beneficiou os pacientes com

    SAB. Apenas um estudo demonstrou que 5% dos pacientes perceberam uma

    melhora da ardncia bucal com o uso de antifngicos e erradicao de Candida

    (Lamey; Lamb, 1988; Cavalcanti et al., 2007).

    Helicobacter pilori tambm j foi isolado da cavidade oral atravs de biopsia e

    tcnicas de biologia molecular em 86% dos pacientes que apresentavam sensao

    de queimao e hiperplasia na lngua e halitose, enquanto apenas 2% dos pacientes

    no apresentaram sintomas orais (Adler et al., 2005; Lpez-Jornet et al., 2010).

    Braio et al. (2006), evidenciaram a presenca de infeco por Helicobacter pilori em

    19 (12,7%) dos 150 pacientes com sintomas de ardncia envolvidos no estudo.

    Diversos fatores sistmicos tm sido associados com fatores etiolgicos da

    SAB. Algumas dessas desordens so as autoimunes, gastrointestinais e endcrinas

    tais como, doenas do tecido conjuntivo, doena gastro-esofgica diabete e

    distrbios da tireoide (Brody et al., 1971; Basker et al.,1978; Grushka; Sessle,1991).

    Entretanto, o significado e a relevncia destas associaes ainda no esto claros.

    Para Grushka (1987), pacientes com SAB no apresentam maior prevalncia de

  • 27

    condies sistmicas como diabete, artrite, ou distrbios cardiovasculares e

    gastrointestinais, quando comparados com indivduos controles saudveis.

    Associao entre diabetes mellitus e queixa oral foi relatada (Sheppard,

    1942). Quando estudada essa relao entre SAB e diabetes mellitus, foi encontrada

    em 2% a 10% dos pacientes (Basker et al., 1978; Zegarelli, 1984; Lamey; Lamb,

    1988; Lamey , 1996). Os mecanismos envolvidos entre os pacientes com SAB e

    diabetes mellitus esto relacionados a alteraes metablicas na mucosa oral,

    neuropatia diabtica, e angiopatia. Controle da diabetes mellitus pode levar a uma

    melhora ou cura da SAB.

    As deficincias nutricionais e algumas doenas carncias tambm so

    consideradas fatores associados SAB principalmente as do complexo B (B6, B12,

    acido flico), vitamina C e anemias. Alm disso, alguns estudos sugerem que a SAB

    est associada a baixos nveis sricos de ferro e zinco (Lamey et al., 1996;

    Hugoson; Thorstensson, 1991).

    Vrias comorbidades so relacionadas SAB, entre as quais: hipertenso

    arterial sistmica, cardiopatia, alteraes hormonais, hipercolesteremia, doenas

    neurolgicas, entre outras. Nasri et al., (2007), evidenciaram em seus estudos

    diversas comorbidades; 6 (20%) hipertensos, 6 (11%) cardiopatas, 4 (7%)

    fibromialgia, hipotireoidismo e artrite reumatide em 3 (5%). Doena de Parkinson e

    acidente vascular enceflico foram evidenciados em somente 5 (3,3%) dos 150

    pacientes com SAB nos estudos avaliados (Brailo et al., 2006).

    Braga (2010) dentre a amostra de 95 pacientes investigados quanto a historia

    mdica atual e pregressa, uma prevalncia significativa representada por 73

    (76,84%) indivduos que apresentavam algum fator sistmico associado SAB,

    representados por comorbidades ou alteraes sistmicas.

    O uso crnico de muitos medicamentos est intimamente relacionado com a

    SAB, entre os quais os anti-histamnicos, neurolpticos, alguns anti-hipertensivos,

    antiarrtmicos e benzodiazepnicos. Os anti-hipertensivos esto entre os

    medicamentos, mas envolvidos na SAB, principalmente aqueles que atuam no

    sistema renina-angiotensina (captopril, enalapril e lisinopril) (Scala et al., 2003).

    A associao entre os distrbios do sono e o padro de sintomas de ardncia

    bucal dirios, frequente, com aproximadamente um tero dos pacientes sentindo o

    sintoma tanto de dia como de noite. A maioria relata sintomas mnimos ao acordar, e

    que aumentam gradativamente ao longo do dia para culminar noite (Grushka,

  • 28

    1987; Grinspan et al., 1995). Cerca de um tero dos pacientes tem dificuldades no

    inicio do sono e alguns podem acordar durante a noite devido dor e a queimao

    (Van Der Ploeg et al., 1987, Grushka et al., 2002).O distrbio de sono e a presena

    de dor contnua podem explicar a maior incidncia de alteraes e irritabilidade entre

    os pacientes com SAB (Grushka et al.,1987; Grinspan et al., 1995).

    Distrbio do sono durante a menopausa a queixa mais comum entre as

    mulheres. Muitos so os fatores envolvidos nesses problemas, como sintomas

    vasomotores e mudanas de nveis hormonais, anormalidades no ritmo circadiano,

    exacerbao da insnia primria, alteraes de humor associados coexistncia de

    sintomas clnicos bem como fatores associados ao estilo de vida dessas mulheres

    (Ameratunga et al., 2012).

    Dores de cabea, pescoo e costas, tonturas, doenas dermatolgicas,

    sndrome do intestino irritvel, so relatados com mais frequncia nos pacientes com

    SAB embora, no esteja esclarecido se esses sintomas so fatores de risco para a

    SAB ou uma consequncia da sndrome (Feinmaann et al., 1984; Van Der Ploeg et

    al., 1987; Jerlang, 1997). Aproximadamente 17% a 33% dos pacientes com SAB

    atriburam o incio dos sintomas a uma doena prvia como, por exemplo, infeco

    do trato respiratrio superior, procedimento dentrio prvio ou o uso de

    medicamento, incluindo antibioticoterapia (Hammarn; Hugoson, 1989; Tammiala-

    Salonen et al.,1993). Autores sugerem a possibilidade de alteraes neurolgicas

    precederem o incio da ardncia em alguns pacientes (Sandstedt, Sorensen, 1995;

    Formaker et al.,1998). Para outros autores, muitos pacientes com a sndrome

    afirmam que o aparecimento dos sintomas refere-se a estressores traumticos (Van

    Der Ploeg et al.,1987; Grushka ;Sessle,1991).

    Fatores psicognicos

    Fatores psicopatolgicos esto associados SAB, suportando a etiologia

    multifatorial, nas quais as mudanas fsicas podem interagir como fatores

    psicolgicos (Rojo et al.,1993; Grushka et al., 2006; Klasser et al., 2008).

    Muitos desses pacientes apresentam sintomas de ansiedade, depresso e

    desordens de personalidade e ainda grande tendncia somatizao e outros

    sintomas psiquitricos. Segundo Drage e Rogers (1999), o diagnstico de algum

    sintoma psiquitrico de base pode incidir em pelo menos um tero dos pacientes.

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Ameratunga%20D%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22288870http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Hickey%20M%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22288870

  • 29

    Depresso e insnia so significativamente mais prevalentes em mulheres do que

    em homens (Kornstein, 2001).

    Cancerofobia pode estar presente em 20 a 30% dos pacientes e est

    relacionada com a manifestao de repetidos autoexames pelos pacientes (Lamey,

    1996). Apresentam baixos nveis de socializao e altos nveis de ansiedade, bem

    como, tenso muscular, alta tendncia a se aborrecer e grande tristeza. Kenchadze

    et al. (2011) identificaram mudanas psicolgicas ou psiquitricas entre 39

    pacientes estudados com SAB, que resultaram: depresso, insnia, cancerofobia,

    desordens neurolgicas severas e sndromes fbicas. Os pesquisadores concluiram

    que os pacientes com SAB apresentam mais problemas psicossomticos do que

    desordens psiquitricas.

    Pekiner et al (2008), em um estudo controlado com 30 portadores de SAB

    com ansiedade e depresso, mensuraram os nveis sricos de citocinas. Estas esto

    intimamente associadas com os neurotransmissores centrais e a citocina reguladora

    afetada diretamente pelo stress. Demonstraram existir uma possvel relao entre

    os nveis de citocinas aos problemas psiquitricos e a uma relao no

    desenvolvimento da SAB (Grushka et al.,1987, Sardela et al., 2006, Simcic et al.,

    2006).

    Castro e Daltro (2009) observaram que no distrbio do sono os sintomas de

    ansiedade e depresso esto relacionados perpetuao da dor crnica. Os

    autores avaliaram quatrocentos pacientes com dor miofascial seguida de dor

    neuroptica. A prevalncia de sintomas de ansiedade foi de 72,8%, de depresso foi

    de 61,5% e de alterao do sono 93%. A prevalncia de mulheres na amostra

    confirma outros relatos na literatura (Turner et al., 2006).

    Schiavone et al. (2012) estudaram a relao entre dor, depresso, e

    ansiedade nos pacientes com SAB comparados com um grupo saudvel e

    concluram que a ansiedade pode determinar secundariamente perda de auto estima

    nos pacientes com SAB e, sintomas depressivos podem contribuir para a dor.

    Portanto a dor pode ser uma caracterstica somtica da depresso.

    Um fator relevante que muitos dos medicamentos usados para tratar estas

    condies psicolgicas podem tambm causar efeitos adversos como xerostomia,

    hipossalivao e alteraes do paladar, que por sua vez, podem exacerbar ou at

    mesmo induzir os sintomas da SAB (Grushka et al., 1987).

  • 30

    Inmeras razes foram relacionadas pelos pacientes com SAB, como

    responsveis pelo isolamento social, aumento da ansiedade e depresso dentro de

    casa: cuidados especiais com parentes invlidos e deficientes e circunstncias

    sociais extremamente adversas. Em alguns casos, sintomas de depresso surgiram

    de maneira reativa, geralmente devido a um recente luto familiar e em outros. No

    houve motivo aparente para a depresso, o que poderia ser considerado endgeno

    (Lamey, 1988).

    Com relao qualidade de vida dos pacientes com SAB Souza et al. (2011)

    em seus estudos, concluram que os pacientes com SAB apresentaram impacto

    negativo na qualidade de vida, que pode ser demonstrado atravs de instrumentos

    tais como (The Short Form-36 Health Survey) e (oral health impact profile-49). A

    condio da qualidade de vida dos pacientes pode ser mais uma informao

    importante para avaliar a natureza e a severidade da SAB.

    2.4 Critrios de diagnstico

    Diversos critrios diagnsticos para SAB tm sido propostos na literatura,

    porm, nenhum deles ainda foi validado ou aceito integralmente entre a maioria dos

    profissionais que lidam com essa sndrome (HM, NB, 1994; Woda; Pionchon, 1999;

    Olesen; Steiner, 2004)

    A excluso de fatores locais ou sistmicos que possam estar associados aos

    sintomas, de fundamental importncia, bem como avaliar a qualidade de vida

    desses pacientes e reconhecer o potencial de impacto da SAB em suas vidas

    (Paterson et al.,1995; Spanemberg et al., 2012) .

    Segundo Patton et al. (2007) a abordagem inicial ao diagnostico da SAB

    identificar, gerenciar e tratar os possveis fatores desencadeante.

    Especial ateno deve ser dada s condies do aparecimento da SAB. A

    reviso das queixas do paciente deve focar o incio, a durao, a localizao

    anatmica, associao com tipos de alimentos, interferncias com as atividades

    dirias tais como o trabalho, sono, e alimentao. importante arguir a respeito dos

    hbitos para-funcionais tais como, sugar a lngua ou morder as bochechas (Tseikhin

    et al., 2007).

  • 31

    Exame fsico criterioso, buscando qualquer leso na mucosa oral, ferimentos

    ou sinais de irritao. A observao da funo salivatria e adaptao das prteses,

    com relao super extenso, restrio do espao para a lngua, bem como perdas

    do espao livre, tambm pontuada (Tseikhin et al., 2007).

    Em alguns pacientes importante a mensurao do fluxo salivar da partida

    estimulada por cido ctrico. Fluxo menor que 0,7mL/min justifica o uso de um

    substituto para a saliva. A xerostomia pode causar sensao de ardncia bucal.

    Algumas medicaes podem levar xerostomia como efeito colateral e nesses

    casos, existe a possibilidade da substituio da medicao por outra similar que os

    diminua (Bergdahl et al., 1999).

    Recentemente Mignogna et al. (2011) observaram uma alta prevalncia de

    inexplicveis sintomas extra orais em 124 pacientes com SAB comparando-os com

    um grupo de 112 pacientes com Lquen e outro grupo com 102 pacientes saudveis.

    Todos os pacientes foram submetidos a exames de laboratrio (hemograma

    completo, glicemia, nveis sricos de ferro, ferritina, folatos, vitamina B12 e testes

    imunolgicos). Pacientes com doenas orgnicas que pudessem ser relacionadas

    como fator causal tais como diabetes, anemias, alergias, doenas psiquitricas

    tratadas com medicamentos antidepressivos, anticonvulsivantes ou drogas

    antipsicticas foram excludos. Uma alta porcentagem dos pacientes com SAB

    (96,1%) apresentou uma ou mltiplas comorbidades associadas quando comparado

    com os outros grupos. Entre os sintomas encontrados no grupo SAB, 87,9% foi de

    queixas otorrinolaringolgicas, 86,3% gastrointestinais, sintomas neurolgicos 79%,

    urogenitais 64,5%, sintomas oftalmolgicos 50,8% e cardiopulmonares 25,8% %. A

    maioria (96,1%) dos pacientes relatou dor em vrias regies do corpo e apenas 3,9%

    relatou somente sintomas de ardncia bucal. Os portadores de SAB apresentaram

    severos sintomas gerais sem que houvesse comprovao clinica e laboratorial que

    justificasse tais queixas, demonstrando a necessidade de um atendimento

    multidisciplinar no processo de diagnstico. Resultados sugeriram que a SAB pode

    ser classificada como sendo uma complexa desordem somtica mais do que uma

    dor neuroptica.

    Femiano et al. (2008) em seus estudos com 123 pacientes inicialmente

    diagnosticados com SAB, seguindo um protocolo preliminar verificou que pacientes

    que apresentam alteraes da tireoide so frequentemente considerados pacientes

    com SAB uma vez que no hipotireoidismo pode haver queixa de sensao de

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Femiano%20F%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=18155597

  • 32

    queimao oral ou disgeusia. Portanto, o estudo da funo da tireoide deve ser

    inserido no processo de diagnstico diferencial nos pacientes suspeitos de serem

    portadores de SAB.

    2.5 Revises dos Tratamentos propostos na SAB

    Nos ltimos 20 anos, foram realizados revises na literatura descrevendo

    diferentes opes farmacolgicas para o tratamento da SAB. O tratamento ainda

    emprico pode ser sistmico ou tpico, utilizado nas condies neurolgicas

    crnicas. At o momento, no existe um tratamento efetivo aplicvel para a maioria

    dos pacientes com SAB (Serra et al., 2007).

    Problemas como a depresso e a ansiedade apresentam um importante fator

    na modulao da percepo da dor, e so capazes de aumentar ou diminuir a

    transmisso nervosa originada de receptores perifricos e ento modificar a

    percepo individual da dor. Consequentemente, tratamentos com antidepressivos

    foram propostos aos portadores de SAB (Low; Dotson, 1998; Vida et al., 2004).

    Por outro lado, a identificao de alteraes sensoriais nos pacientes com

    SAB tambm sugere a existncia de bases biolgicas envolvidas nas alteraes no

    sistema nervoso perifrico e central (Jaaskelainen et al., 1997). As alteraes no

    sistema nervoso perifrico podem estar relacionadas densidade dos receptores de

    membrana presentes na mucosa oral, ou a alterao nas suas capacidades reativas,

    largamente influenciadas pelos fatores de risco encontrados nos pacientes com SAB

    tais como, estresse, ansiedade, sexo feminino, climatrio e a idade avanada

    (Woda; Pionchon, 1999). Essa teoria est reforada pela aparente ao tpica do

    clonazepan no tratamento da SAB (Woda et al., 1999, Heckmann et al., 2012).

    A disfuno do sistema dopaminrgico poderia justificar a administrao

    sistmica dos tratamentos com antidepressivos como a gabapentina e clonazepan,

    os quais agem no sistema gabargico melhorando a atividade para tentar conter a

    disfuno do sistema dopaminrgico; ou ainda um antagonista seletivo de dopamina

    como o amisulprida, um antipsictico atpico que apresenta baixos efeitos

    extrapiramidais (Cerdeira; Blanco, 2012; Abbas et al., 2009).

  • 33

    Por outro lado, observou-se que paciente com SAB se assemelha, em uma

    serie de caractersticas, aos portadores de outras sndromes de dor crnica. Esse

    conceito levou aplicao de drogas como a capsaicina (Petruzzi et al., 2004;

    Spica; Hagen, 2004; Fro, 2008) e benzidamina (Sardella et al., 1999), que se

    mostraram teis nas sndromes de dor crnica.

    Em um estudo duplo cego placebo controlado, tratando pacientes com injurias

    em inervao perifrica, os autores concluram que a irradiao com laser de baixa

    intensidade pode notadamente regenerar esta inervao, o que leva a uma

    significativa recuperao destes pacientes (Rochkind et al.,2007).

    Santos et al. (2011), Observaram os efeitos da terapia com laser de baixa

    potencia (LLLT) em 10 pacientes com SAB. Todos os pacientes foram submetidos a

    sesses semanais durante 10 semanas. Os pacientes relataram melhora na

    sintomatologia em todas as sesses, e houve uma significativa reduo dos escores

    de EVS. Os autores concluram que o Laser pode ser uma alternativa de tratamento.

    Pellegrini (2010) estudou a eficcia do laser de baixa intensidade em 21

    pacientes com SAB que foram divididos em dois grupos experimentais que

    receberam quatro irradiaes, duas por semana de laser de baixa intensidade-grupo

    laser e grupo placebo com falsa irradiao. Os pacientes foram avaliados no incio

    do tratamento e em cada quatro tempos de irradiao aos, 7, 14, 30,60 e 90 dias. A

    pesquisadora concluiu que a terapia com laser de baixa intensidade, segundo o

    protocolo utilizado neste estudo, produziu benefcios aos pacientes com SAB, sem

    apresentar qualquer efeito colateral indesejvel, sugerindo um aprofundamento da

    pesquisa nesse campo.

    Braga (2010) estudou a eficcia da acupuntura como modalidade teraputica

    na reduo da sintomatologia da SAB em 54 pacientes, de acordo com as respostas

    mensuradas atravs da escala visual analgicas (EVA), intensidade, natureza e

    efeito global percebido. Evidencias quanto eficcia da acupuntura no tratamento

    da SAB foi observada atravs da constatao que houve diminuio

    estatisticamente significativa (p

  • 34

    usados individualmente e em conjunto. O acido alfa-lipico um componente

    produzido no organismo em pequenas quantidades, estando presente em muitos

    alimentos como no espinafre, brcolis e carnes. Essa substncia age como uma

    coenzima em varias reaes, agindo na gliclise, responsvel em parte pela

    converso do acar no sangue em energia e na regenerao de danos nos tecidos

    hepticos. Exerce tambm uma ao neuro regenerativa nas barreiras

    hematoenceflicas com uma ao protetora do crebro e do tecido nervoso

    (Lauritano, et al.,1998, Femiano et al., 2000). Vrios estudos demonstraram que o

    uso de ALA no produziu grandes benefcios no tratamento da SAB quando

    comparados com o placebo (Steele et al., 2008, Cavalcanti; Silveira, 2009).

    A gabapentina um anticonvulsivante que age como inibidor do

    neurotransmissor GABA de atividade central e esse facilmente transferido para o

    sistema nervoso central por possuir alta solubilidade lipdica. O mecanismo de ao

    do medicamento ainda desconhecido (White et al., 2004).

    As melhores respostas obtidas nesse estudo foram a terapia conjugada, ALA

    e GABA, com 70% dos casos com reduo da SAB; 13,2 vezes maior quando

    comparados ao grupo controle. A combinao das medicaes age em diferentes

    nveis do sistema nociceptivo e pode ser til no tratamento da SAB (Lpez

    D lessandro; Escovich, 2010).

    Yamasaki et al.(2009), avaliaram 71 pacientes, medicando-os com cloridrato

    de paroxetina. Nesse estudo prospectivo, sem grupo controle, aps 12 semanas de

    tratamento 70,4% dos pacientes tiveram remisso completa da sintomatologia.

    Uma possvel relao entre as instabilidades dos hormnios principalmente o

    estrgeno, observados nas mulheres menopausadas, e as alteraes sensoriais

    caracterizando a SAB foram postuladas, levando a um debate generalizado devido

    s divergncias nos resultados obtidos em diferentes estudos realizados com a

    terapia de reposio hormonal (Hakerberg et al., 1997, Vittek et al., 1982).

    Spanemberg et al. (2012), em um estudo randomizado,duplo cego placebo

    controlado, avaliou os efeitos de um composto de ervas (Catuama, 2 capsulas ao dia

    por 12 semanas) no tratamento dos sintomas da SAB. Embora ambos os grupos

    demonstrassem reduo dos sintomas, o grupo teste apresentou uma reduo

    significativa que foi mantida aps 12 semanas de tratamento. Os autores concluram

    que a Catuama reduz os sintomas da SAB e pode ser uma opo teraputica.

  • 35

    Forssell et al (2012), avaliaram a dor relatada em 52 pacientes com SAB

    primria em termos de intensidade, interferncia, e estresse causado pela dor, bem

    como os fatores que a influenciaram no perodo de duas semanas, com base em

    dados dirios. Concluram que a maioria dos pacientes experimentou dor

    intermitente. A intensidade aumenta da manh para o entardecer. Intercorrncias

    entre a intensidade da dor, estresse e alterao do humor obtiveram altos ndices.

    Alimentos condimentados e quentes, estresse e tristeza foram os mais citados pelos

    pacientes e responsabilizados pela amplificao da dor. Existem considerveis

    diferenas na dor, nos fatores que influenciam a dor, e no comportamento frente

    dor entre os pacientes com SAB. Isso indica que as informaes bem como o

    tratamento da SAB devem ser individualizados.

    De acordo com alguns autores a psicoterapia tem se mostrado igualmente

    eficaz no tratamento da dor crnica tanto em sesses de terapias individuais quanto

    em grupo, quando comparado ao placebo, sugerindo que sesses de psicoterapia

    ou terapia cognitiva de 1 hora por semana durante 12 a 15 semanas reduziram a

    intensidade dolorosa da SAB por at 6 meses (Turner-Stokes et al., 2003).

    2.6 O medicamento homeoptico

    A utilizao de substncias em doses infinitesimais (medicamentos

    dinamizados) surgiu para evitar as agravaes e as intoxicaes observadas no

    emprego de doses ponderais dos medicamentos segundo o principio da cura pela

    semelhana (Teixeira, 1995; Teixeira, 2008 a).

    Hahnemann embasado no estudo das propriedades farmacolgicas de sua

    poca observou uma reao secundria (efeito indireto) do organismo aps a ao

    primaria (efeito direto) de drogas das mais diversas classes, enunciou um aforismo

    para a ao dos medicamentos na constituio humana:

    Toda fora que atua sobre a vida, todo medicamento afeta, em maior ou menor escala a fora vital, causando certa alterao no estado de sade do homem por um perodo de tempo maior ou menor. A isso se chama ao primria (.....) a essa ao, nossa fora vital se esfora para opor sua prpria energia. Tal ao oposta faz parte de nossa fora de conservao, constituindo uma atividade automtica da mesma, chamada ao secundria ou reao (Hahnemann, 2001).

  • 36

    O principio da similitude teraputica tem como objetivo estimular uma reao

    homeosttica curativa contra a enfermidade, induzindo o organismo a reagir contra

    os seus prprios distrbios.

    O termo homeostase foi descrito em 1929 pelo fisiologista de Harvard,

    Walter Brafford Cannon, onde descreve a tendncia ou habilidade dos organismos

    vivos em manter a constncia do seu meio interno, atravs de auto ajustes nos

    processos fisiolgicos.

    Ao longo da histria da medicina, o principio da similitude (reao vital ou

    homeosttica) encontra fundamentao cientifica no efeito rebote das drogas ou

    reao paradoxal do organismo, sendo descrito aps a suspenso ou a alterao

    das doses de inmeras classes de frmacos modernos que atuam de forma

    contraria (antagonista, antiptica, oposta, paliativa ou enantioptica) aos sintomas

    das doenas, confirmando a farmacologia experimental (Teixeira, 1999).

    Podemos citar como exemplo, medicamentos utilizados classicamente para o

    tratamento da angina pectoris (beta-bloqueadores, bloqueadores dos canais de

    clcio, nitratos, entre outros que promovem a melhora da angina como efeito

    primrio, mas, podem despertar exacerbaes na frequncia e intensidade da dor

    torcica como efeito secundrio do organismo aps a suspenso ou a

    descontinuidade das doses, em alguns casos no responsivos a qualquer

    teraputica.

    No emprego de drogas psiquitricas como os ansiolticos (barbitricos,

    benzodiazepnicos, carbonatos), sedativo-hipnticos (barbitricos, morfina,

    prometazina, zopiclone, entre outros, estimulantes do SNC (anfetaminas, cafena,

    cocana, metilfenidato), antidepressivos (tricclicos, inibidores da MAO, Inibidores da

    recaptao de serotonina) ou antipsicticos (clozapina, fenotiazinicos, haloperidol,

    pimozida) pode-se observar uma reao paradoxal do organismo no sentido de

    manter a homeostase orgnica, promovendo sintomas contrrios aos esperados na

    sua utilizao teraputica primaria, agravando ainda mais o quadro inicial.

    Apesar do carter idiossincrsico do efeito rebote, que se manifesta em uma

    pequena poro dos indivduos, evidncias cientficas atuais alertam para a

    ocorrncia de eventos iatrognicos graves e fatais em decorrncia dessa reao

    paradoxal do organismo, aps a administrao de algumas classes de drogas

    modernas (Teixeira, 2006).

  • 37

    Entendendo-se que o tratamento homeoptico tem como prerrogativa

    essencial a utilizao de substncias que causem sintomas semelhantes aos da

    doena que se deseja tratar, ele pode ser aplicado com qualquer substncia, natural

    ou sinttica, em doses ponderais ou infinitesimais, desde que o princpio da

    semelhana seja observado. ssim sendo, as drogas alopticas podem ser

    empregadas segundo o princpio da similitude teraputica, desde que causem

    efeitos de ao primria (efeitos teraputicos, adversos e colaterais) semelhantes

    aos do indivduo doente. Dessa forma, estaramos utilizando o efeito rebote das

    drogas modernas no sentido curativo (Teixeira, 2006).

    .

    2.6.1- Preparo do medicamento Homeoptico

    Para o preparo de medicamentos homeopticos so elaboradas tinturas de

    partes especficas de plantas, minerais e venenos animais, que so diludas e

    agitadas, gerando as dinamizaes. Por este motivo, na Homeopatia as tinturas

    recebem o nome de "Tinturas-Me". As Tinturas so preparaes hidroalcolicas

    que tm como resultado a extrao dos princpios ativos de vegetais ou animais.

    Glbulos so tradicionalmente utilizados para disperso de medicamentos

    homeopticos. Trata-se de uma forma farmacutica preparada a partir de sacarose,

    por drageamento. As farmcias adquirem estes glbulos na forma inerte, e sobre

    eles adicionam solues medicamentosas dinamizadas.

    O mtodo farmacotcnico de dinamizao (centesimal Hahnemanniana ou

    cH) consiste em diluies centesimais e sucessivas da substncia matriz, ou tintura-

    me acompanhadas de 100 agitaes vigorosas (sucusses) por passagem. Na

    clnica homeoptica estas preparaes infinitesimais so administradas

    frequentemente, em potencias 6cH, 30 cH, 200 cH e 1000cH em doses mnimas de

    1-5 glbulos (impregnados nos glbulos) ou em gotas da soluo sub-linguais para

    uma rpida absoro.

  • 38

    Mecanismo de ao do medicamento homeoptico

    Principal alvo das crticas do pensamento cartesiano ao modelo homeoptico,

    o emprego de substncias ultra-diludas, em concentraes inferiores ao nmero de

    Avogadro (10-24M), contraria o modelo farmacolgico bioqumico e dose-dependente,

    despertando ceticismo no meio cientfico a hiptese de que estas doses

    infinitesimais possam causar efeitos em sistemas biolgicos ou seres vivos.

    Hahnemann props um mtodo farmacotcnico para a preparao dos

    medicamentos homeopticos denominados dinamizao, no qual as substncias

    eram diludas e agitadas sucessivamente (medicamento dinamizado).

    A informao contida nessa substncia ultra-diluda em promover alteraes

    nos sistemas orgnicos, de forma anloga s doses ponderais, tem sido evidenciada

    em modelos fsico-qumicos ou biolgicos de pesquisa experimental.

    Algumas hipteses fundamentadas em modelos experimentais fsico-qumicos

    buscam uma explicao cientfica para o fenmeno de transmisso da informao

    dos efeitos primrios das substncias atravs destas doses infinitesimais.

    Dentre elas, citamos as pesquisas que estudam as modificaes de natureza

    eletromagntica da gua segundo a eletrodinmica quntica, na qual a matria no

    representaria um aglomerado inerte de molculas e sim um meio dinmico, capaz de

    selecionar e catalisar as reaes moleculares de acordo com os diversos campos

    eletromagnticos que ocorrem em seu interior. Atravs de modelos matemticos e

    experimentais, especula-se que o campo eletromagntico de um soluto pode gerar

    certos domnios de coerncia estvel no solvente (com estruturas e vibraes

    especficas), produzindo aglomerados ou clusters de molculas de gua (com

    tamanhos e geometrias prprios), como uma assinatura eletromagntica da

    substncia na gua. Desta forma, a organizao da gua seria um processo

    coerente, reprodutvel e associado a interaes eletromagnticas de longo alcance e

    baixssima intensidade, transmitindo a informao do soluto inicialmente diludo e

    agitado pelo processo da dinamizao (Del Giudice.et al., 1988; Milgrom, 2007).

    Numa outra linha de pesquisa, as ultradiluies so testadas em modelos

    biolgicos (cultura de clulas, animais, vegetais etc.), constatando-se que as

    substncias dinamizadas despertam efeitos semelhantes aos das substncias

    ponderais em diversos sistemas fisiolgicos (Youbicier-Simo et al., 1993; Belon et

    al.,2004; Teixeira, 2008 b).

  • 39

    Doenas Locais e tratamentos Locais

    As diversas partes do corpo esto intimamente entrelaadas umas com as

    outras formando um todo indivisvel quanto a sua forma de sentir e reagir. No

    possvel sobrevir uma erupo nos lbios ou um panarcio, sem que anteriormente

    haja algum desarranjo no interior do organismo (Hahnemann, 2001).

    O verdadeiro tratamento de uma doena, que surgiu nas partes externas do

    corpo deve ter como objetivo a extino e a cura da doena geral que atinge o

    organismo inteiro se quiserem usar um tratamento racional, seguro, eficaz e radical.

    evidente que a fora vital, atacada por uma doena crnica da qual no pode

    livrar-se por sua prpria energia instintiva, desenvolve uma afeco local em alguma

    parte externa. Objetiva com isso manter essa parte (no indispensvel vida)

    doente, silenciando a doena interna, que ameaa atacar rgos vitais (ameaando

    a vida do doente).

    A existncia de uma afeco local silencia, assim, por algum tempo, a doena

    interna, ainda que sem poder cur-la ou diminu-la materialmente. A afeco local,

    no obstante, nada mais que uma parte da doena geral, totalmente direcionada

    pela energia vital, para o local menos perigoso do organismo (externo), a fim de

    aliviar o sofrimento interno. Porm, por meio desse sintoma local que silencia a

    doena interna, a fora vital no pode diminuir ou curar toda a doena. Esta ao

    contrrio, prossegue aumentando gradativamente, sendo a Natureza obrigada a

    agravar cada vez mais o sintoma local, para que possa prosseguir como substituto

    suficiente da doena interna aumentada, e assim, mant-la sob controle

    (Hahnemann, 2001).

    2.6.2 Variantes reativas no tratamento homeoptico

    Podemos observar como variantes reativas do tratamento homeoptico a

    piora inicial dos sintomas da enfermidade (agravao primria ou homeoptica

    propriamente dita), o surgimento posterior de sintomas acessrios nos rgos ou

    sistemas afetados (agravao secundria ou cura), o retorno de sintomas antigos e

    o surgimento de sintomas novos.

  • 40

    Todos essas reaes devero ser anotados pelos pacientes num dirio e

    relatados a cada visita mensal, pois orienta o pesquisador na conduta teraputica

    segundo o prognstico homeoptico (Teixeira, 2008 a).

    Como principal variante reativa, a agravao homeoptica fruto da

    administrao inadequada das doses ou das potncias homeopticas, produzindo

    um efeito primrio muito forte, indicar uma reavaliao da conduta frente

    posologia empregada. Tanto o retorno a sintomas antigos quando a agravao de

    cura indicar um bom prognstico, trazendo ao investigador o indcio de que o

    medicamento esta sendo efetivo e que uma melhora evidente ocorrer. No caso de

    sintomas novos que evidencia uma evoluo indesejvel, o medicamento dever ser

    suspenso e antidotado e outro melhor selecionado ( Teixeira, 2008 a).

    2.6.3 Homeopatia e a pesquisa clnica

    Kleijnen et al. (1991) analisaram a qualidade metodolgica de 107 ensaios

    clnicos homeopticos placebos-controlados, concluindo que apenas 22 trabalhos

    (20%) foram considerados de qualidade metodolgica satisfatria . Dentre estes 22

    trabalhos, 15 (68%) mostraram eficcia do tratamento homeoptico frente ao

    placebo. Em vista desses resultados, concluram haver evidncia positiva, mas no

    suficiente para se tirarem concluses definitivas.

    Linde, Melchart. (1998) realizaram uma reviso sistemtica de 89 ensaios

    clnicos homeopticos placebos-controlados, concluindo que os resultados

    observados no tratamento homeoptico no eram efeitos- placebo (resultado 2,45

    vezes superior da homeopatia frente ao placebo). Devido quantidade insuficiente

    de ensaios clnicos de uma mesma entidade nosolgica para que metanlises

    especficas fossem realizadas, os autores agruparam todos os tipos de trabalhos

    homeopticos em sua reviso, sendo criticados por terem adotado esta metodologia.

  • 41

    2.6.4 A utilizao do Arsenicum album ou Anidro arsenioso. cido arsnico ou

    Arsnico branco (As2O3)

    Poucas substncias possuem uma historia mdica to rica quanto o arsnico

    (Ars). Seu uso teraputico data de 400 a.C. Foi utilizado por Hipcrates, Aristteles,

    Plnio. Os romanos tinham conhecimento do arsnico, assim como as civilizaes

    Chinesa e Indiana. Popularizou-se na Idade mdia como veneno em parte por suas

    caractersticas qumicas: aspecto inofensivo, insipidez ou sabor levemente doce

    podendo ser facilmente misturados a alimentos e fcil obteno. Na medicina esteve

    presente por um longo tempo, no tratamento de diversas doenas como sfilis,

    doena do sono, psorase, dentre outras. O arsnico em doses pequenas no

    produz sintomas e no afeta a sade. O elemento qumico est presente em vrias

    guas minerais nas quais so reputadas como possuindo efeitos tnicos.

    O Arsnico classificado como carcinognico qumico e comumente sabido

    que aqueles que trabalham em indstrias e esto expostos a esse elemento correm

    o risco de desenvolver essa doena. Curiosamente, existem estudos que

    demonstraram que em algumas partes do mundo (Dinamarca), indivduos expostos

    baixos nveis de arsnico no estavam associados com o desenvolvimento de

    malignidade, pelo contrrio, observaram a diminuio da incidncia de cncer de

    pele. (Baastrup et al., 2008).

    O Arsenicum album foi recentemente aprovado nos Estados Unidos, para uso

    no tratamento de leucemia promieloctica. Esse composto age estimulando a

    produo de clulas sanguneas normais. Em experimentos relatados em 1996, uma

    dose de 10mg por dia durante 45 dias provocou a remisso da doena

    (Cuperschmid; Silva, 2007).

    Na homeopatia utilizado de forma diluda infinitesimal. Obtm-se as trs

    primeiras dinamizaes por triturao e as restantes por diluio em soluo

    hidroalcolica (e solvel em 82 partes de gua fria, 140 partes de lcool a 95 e em

    5 partes de glicerina). Agente teraputico de grande potncia e difuso, sua esfera

    de ao grande e engloba todas as partes do organismo.

    O paciente que apresenta a indicao de uso do Arsenicum album

    homeoptico apresenta certas caractersticas, como ansiedade vaga, indeterminada,

    ou sensao de que intil tomar remdios, por que padece de algo incurvel e vai

  • 42

    morrer. Tem verdadeiras crises de ansiedade que o tiram da cama; mesmo sem dor

    tem necessidade de mudar de lugar. A nica razo dessa agitao o fato dele no

    poder ficar tranquilo. O que caracteriza o temperamento dos indivduos que

    precisam do Arsenicum album a alternncia entre a excitao e a depresso.

    Melancolia, tristeza, medo do escuro, da solido. Piora a noite, principalmente aps

    meia noite a partir da 1 ou 2 horas da manh. As dores apresentadas por esse tipo

    de paciente so queimantes e podem ser observadas em vrias partes do corpo. As

    secrees mucosas so cidas e escoriantes. Apresenta a boca seca como

    pergaminho, dores nevrlgicas, lngua seca com papilas elevadas e dores

    queimantes. A faringe est seca assim como a boca (Lathoud, 2004).

    2.6.5 Filosofias de tratamento homeoptico

    Tradicionalmente as escolas mdicas homeopticas so classificadas em

    Unicistas, quando seus seguidores prescrevem apenas um medicamento, em dose

    nica ou repetida; atravs de uma nica substncia, procuram curar a doena do

    seu paciente.

    Pluralista, quando prescrevem vrios medicamentos, administrados juntos em

    uma formulao (complexo), ou de forma alternada, geralmente em potncias mais

    baixas.

    Complexistas, quando prescrevem vrios medicamentos preparados em uma

    s formulao ou ainda Alternistas, quando alternam estes diversos medicamentos.

    Podemos considerar ainda a diviso entre os mdicos que prescrevem baixas

    potncias e altas potncias, estes ltimos influenciados principalmente por Kent

    (1979).

    Alm da fundamentao terica das diferentes escolas variarem em relao

    ideia bsica de Hahnemann, temos uma consequncia direta na prescrio do

    medicamento, que pode ser nico (nica substncia, em dose nica ou repetida),

    diversos alternados, ou diversas substncias preparadas em conjunto (Coulter;

    1981). As divergncias entre unicistas e pluralistas/alternistas/complexistas tm

    levado a separaes entre os homeopatas.

  • 43

    2.6.6 A importncia do efeito Placebo na pesquisa clinica

    Etimologicamente o termo placebo se origina do latim placeo, placere, que

    significa agradar, enquanto o termo nocebo se origina do latim nocere, que significa

    infligir dano. Como um dos precursores dos estudos cientficos na rea, Shapiro

    (1964) define placebo como qualquer procedimento teraputico que desperta um

    efeito em um paciente, sintoma, sndrome ou doena, mas que objetivamente

    isento de atividade especifica para a condio que esta sendo tratada

    Apesar dos termos; reposta placebo e efeito placebo serem usadas

    indistintamente, alguns autores insistem na diferenciao existente entre eles

    enquanto o efeito placebo atribudo a qualquer melhoria significativa na condio

    de um grupo de sujeitos que recebeu determinado tratamento placebo

    (comparativamente a ausncia de tratamento), a resposta placebo relaciona-se a

    mudana individual causada pela interveno placebo (Hoffmann et al.,2005).

    De forma generalizada, entende-se o efeito placebo ou resposta placebo

    como a melhoria dos sintomas e ou funes fisiolgicas do organismo em resposta a

    fatores supostamente inespecficos e aparentemente inertes (sugesto verbal ou

    visual, comprimidos de lactose, injeo de soro fisiolgico, etc), sendo atribudo ao

    significado simblico que o tratamento exerce na expectativa positiva do paciente

    (Brody, 2000).

    Efeito ou resposta nocebo um fenmeno oposto ao placebo, em que a

    antecipao e a expectativa por um resultado negativo podem conduzir a agravao

    de um sintoma ou doena.

    Alguns estudos evidenciam que a magnitude da resposta relaciona-se ao tipo

    de interveno placebo, por afetar a expectativa do paciente. Em virtude da

    magnitude dos efeitos colaterais que apresentam placebos ativos (drogas clssicas

    sem atuao no sistema fisiolgico em estudo) so mais efica es que os inertes

    (plulas de acar), enquanto a resposta placebo proporcional a conhecida eficcia

    do frmaco com a qual esta sendo comparado (KIirsch; Sapirstein, 1998). Pacientes

    submetidos a cirurgias placebo, que acreditavam estar recebendo intervenes

    ativas, apresentaram melhoras semelhantes aos submetidos a cirurgias reais

    (McRae et al ., 2004). Deste fato, poderamos inferir que a terapia pluralista

    (polifarmcia) estimularia efeito placebo mais poderoso do que a monoterapia, assim

    como o um tratamento no convencional, considerado popularmente como fraco e

  • 44

    de longo pra o , deveria estimular um efeito placebo menos intenso do que um

    tratamento aloptico forte e rpido .

    Empregando grupos controlados, diversos estudos encontraram que a

    magnitude mdia do efeito placebo analgsica para indivduos est em torno de 2/10

    unidades na escala analgica de sintomas (EVS), ou seja, 20% de variao de

    melhora do placebo (Gracely et al.,1983; Amanzio et al., 2001, Price, 2001).

    A sensao de estar colaborando em um projeto de importncia coletiva

    parece ter efeito positivo sobre as reaes do paciente. A reao do paciente a um

    dado tratamento est relacionada ao fato de estar recebendo algo que

    considerado por ele como necessrio para sua melhora ou cura (Nina, 1996).

    Um fato interessante que alguns pacientes apresentam reaes adversas

    observadas por Wolf (1945) em pacientes tratados por drogas e placebo incluram

    anorexia, sonolncia, nusea, fraqueza e eritema cutneo.

    Segundo De Craen et al. (1999), desde a