Absorcao, Dispersao e Emissao

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    ABSORO, EMISSO E DISPERSO

    DE RADIAO

    (apontamentos para a disciplina de Espectroscopia)

    Mrio N. M. S. Berberan e Santos

    Centro de Qumica-Fsica Molecular

    Instituto Superior Tcnico

    Abril de 2011

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    1. RADIAO

    1.1 Ondas Electromagnticas

    As micro-ondas, os infravermelhos, a luz (visvel), os raios X e os raios soformas de radiao electromagntica. Esta constituda por campos elctricos e

    magnticos oscilantes, perpendiculares entre si e tambm perpendiculares

    direco de propagao, Fig. 1.1,

    Fig. 1.1 Uma onda electromagntica consiste num campo elctrico E e numcampo magntico B oscilantes, perpendiculares entre si e perpendiculares direco de propagao.

    O caso mais simples de onda electromagntica a onda plana monocromtica.

    Esta infinita, e os campos elctrico e magntico variam de forma sinusoidal,quer de ponto para ponto, num certo instante, Figs. 1.1 e 1.2, quer em funo do

    tempo, para um ponto fixo do espao, Fig. 1.2. A distncia entre dois mximos

    (ou mnimos, etc.) consecutivos da curva E = E(x) (Fig. 1.2a) corresponde ao

    comprimento de onda,. O intervalo de tempo entre dois mximos (ou mnimos,

    etc.) consecutivos da curva E = E(t) (Fig. 1.2b) corresponde ao perodo de

    oscilao, T.

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    Fig. 1.2 (a) Mdulo do vector campo elctrico, segundo a direco depropagao, para um instante fixo; (b) Mdulo do vector campo elctrico,num certo ponto, em funo do tempo.

    Pode demonstrar-se que o campo elctrico de uma onda plana monocromtica

    dado por

    t

    v

    x2sinE)t,x(E 0 (1.1)

    sendo E0 o valor mximo (ou amplitude), a frequncia da onda (nmero de

    oscilaes ou ciclos por unidade de tempo, num certo ponto do espao), e v a

    velocidade de propagao. O perodo relaciona-se com a frequncia por

    1T (1.2)

    e com o comprimento de onda por

    = vT = v/ (1.3)

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    Define-se tambm o nmero de ondas (ou nmero de onda) ,

    1

    v(1.4)

    que indica o nmero de ondas (ou ciclos) por unidade de comprimento.

    A quantidade de energia associada a uma onda electromagntica determinada

    pelo valor de E0 (ou de B0=E0 /c). A energia que atravessa uma superfcie

    perpendicular direco de propagao, por unidade de rea e de tempo, dita

    intensidade ou densidade de fluxo de energia, dada por

    20Ev21I (1.5)

    sendo a permitividade elctrica do meio em que a onda se est a propagar. A

    intensidade tem por unidades no SI o W m -2.

    Para definir completamente uma onda plana monocromtica deve ainda

    especificar-se a sua polarizao, isto , a forma como o vector campo elctrico

    evolui no plano perpendicular direco de propagao. Com efeito, a uma

    variao sinusoidal do mdulo podem corresponder vrias evolues do vector,

    nomeadamente oscilao segundo uma nica direco (polarizao linear) ou

    por rotao completa (num de dois sentidos possveis, polarizaes circulares

    levgira e dextrgira).

    A velocidade de propagao da radiao electromagntica no vcuo de 299

    792 458 m/s (valor exacto), e representa-se por c. Em meios materiais (slidos,

    lquidos, gases), a velocidade efectiva menor, sendo dada por

    n

    cv (1.6)

    em que n o ndice de refraco do meio (para a frequncia da onda em

    questo). Para frequncias na regio visvel do espectro electromagntico, tm-

    -se os seguintes valores de n: ar, 1,0003; gua, 1,33; vidro, 1,52; diamante, 2,43.

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    1.2 Espectro Electromagntico

    A frequncia (ou o comprimento de onda, relacionados pela eq. 1.3) uma

    propriedade essencial da radiao electromagntica, pois ela que dita o tipo e

    importncia da sua interaco com a matria. Define-se assim o espectro

    electromagntico, com sete regies principais: radiofrequncias, micro-ondas,infravermelho, visvel, ultravioleta, radiao X, e radiao gama, Quadro 1.1.

    Quadro 1.1 Demarcao das regies convencionais do espectro electromagntico,com indicao dos comprimentos de onda extremos.

    regio do espectroelectromagntico

    intervalo(em comp. de onda)

    intervalo(em energias*)

    radiofrequncias > 1 m < 300 MHz

    micro-ondas** 1m 1 mm 300 MHz 300 GHz; 0,01 cm-1 10 cm-1infravermelho 1 mm 770 nm 10 cm-1 13000 cm-1

    visvel 770 nm 390 nm 1,6 eV 3,2 eVultravioleta 390 nm 10 nm 3,2 eV 124 eV

    raios X 10 nm 0,1 nm 124 eV 12400 eVraios < 0,1 nm > 12400 eV

    *ou em unidades proporcionais energia (nmero de ondas, frequncia)**consideram-se por vezes as micro-ondas como uma subdiviso das radiofrequncias.

    A regio das radiofrequncias, que se estende indefinidamente para as baixas

    energias, corresponde pois aos maiores comprimentos de onda ( > 1 m; o valor

    mximo medido at hoje foi de 1010 m). A regio das micro-ondas corresponde a

    comprimentos de onda j menores. Segue-se a regio do infravermelho. A regio

    visvel, que ocupa uma estreita faixa do espectro electromagntico (770 nm < >kT), esse nmero decrescer com o tempo segundo uma lei

    exponencial,

    t

    0 eNN (2.12)

    sendo o tempo de vida ou tempo de relaxao do estado excitado, dado por

    'AA1

    (2.13)

    em que A a constante de emisso espontnea (coeficiente de Einstein para a

    emisso espontnea) e A a constante de decaimento no radiativo.

    O processo de emisso estimulada depende da interaco com um foto em

    ressonncia, e pois proporcional intensidade de radiao, s sendo eficaz

    quando esta elevada. Normalmente desprezvel, mas desempenha um papel

    fundamental nos laseres.

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    hT h

    Fig. 2.5 Idealizao de um corpo negro. As paredes da cavidade so mantidas auma temperatura T. A radiao detectada atravs de uma pequena abertura.

    Consideremos agora um slido oco, mantido a uma certa temperatura T, e cujas

    paredes tenham um contnuo de nveis de energia (Fig. 2.5). Numa situao de

    equilbrio trmico, ter-se- necessariamente uma certa quantidade de fotes no

    interior da cavidade. Para perceber porqu, imaginemos o seguinte:

    Suponhamos que as paredes estavam inicialmente a 0 K. Nessa situao no

    haver fotes na cavidade. Aquecemos ento rapidamente o sistema at uma

    temperatura T0, isolando a partir de agora as paredes do exterior. Atendendo

    distribuio de Boltzmann, teremos alguns estados excitados das paredes da

    cavidade com populao aprecivel. Esses estados excitados das paredes, por

    efeito da emisso espontnea, tero tendncia a passar para o estado

    fundamental, emitindo fotes para a cavidade. Estes fotes, por sua vez, podero

    estimular novos processos de desexcitao (emisso estimulada), ou podero ser

    absorvidos, gerando novos estados excitados. Ao fim de algum tempo, ter-se-

    atingido uma situao de equilbrio dinmico para uma certa temperatura T das

    paredes (com T < T0, pois parte da energia inicialmente concentrada nas paredes

    passou a ser radiao), a que corresponde um certo nmero total de fotes e

    uma certa distribuio espectral da radiao da cavidade. Chama-se a essa

    distribuio lei de Planck, e cavidade corpo negro. Considerando a forma da

    distribuio de Boltzmann, fcil concluir que medida que a temperatura das

    paredes aumenta, aumenta o nmero total de fotes por unidade de volume, eaumenta tambm a importncia dos fotes com energias elevadas. Assim, a

    distribuio espectral desvia-se para as maiores energias com um aumento da

    temperatura, havendo ao mesmo tempo um grande aumento da densidade de

    radiao. A distribuio de Planck normalizada (i.e., tal que o seu integral entre

    zero e infinito igual a 1) dada por

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    1Tk

    chexp

    Tk

    ch15)(f

    54

    4

    (2.14)

    sendo f() a fraco de energia emitida entre e +d. O mximo destadistribuio dado por

    Tk96,4

    chmax (2.15)

    a que se d o nome de lei de Wien. A emisso desloca-se assim para menores

    comprimentos de onda com um aumento de temperatura (Fig. 2.6). A energiatotal emitida por um corpo negro, por unidade de tempo e de rea do corpo, ou

    densidade de fluxo de energia radiante, U, dada pela lei de Stefan,

    4TU (2.16)

    sendo a constante de Stefan-Boltzmann,

    5 4-8 -2 -4

    3 2

    2 k= = 5,6710 W m K

    15h c. (2.17)

    Decorre destas leis que um corpo temperatura ambiente emite pouco e

    essencialmente no infravermelho. Aumentando-se a sua temperatura at algumas

    centenas de kelvin, ele passa a emitir bastante mais, e com uma fraco

    significativa no visvel, Fig. 2.6 e Quadro 2.1.

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    Fig. 2.6 Emisso do corpo negro, em funo da temperatura.

    Torna-se pois brilhante (incandescente), de cor rubra ou mesmo branca-azulada, consoante a temperatura. Tambm a cor das estrelas reflecte a sua

    temperatura superficial, sendo as vermelhas (e.g. Betelgeuse) as menos quentes

    e as azuladas (e.g. Sirius) as mais quentes. O Sol (branco-amarelado) ocupa uma

    posio intermdia. Note-se que mesmo a temperaturas de alguns milhares de

    kelvin, a emisso do corpo negro essencialmente devida emisso

    espontnea.

    Quadro 2.1. Exemplos de corpos (aproximadamente) negros

    Fonte de radiao temperatura/K max ou maxUniverso (radiao de fundo) 2,7 6 cm-1 (micro-ondas)

    corpo humano 310 1100 cm-1 (IV mdio)

    lmpada de tungstnio 2600 1100 nm (IV prximo)

    lmpada de tungstnio-halogneo 3000 970 nm (IV prximo)

    Sol (superfcie) 5800 500 nm (Vis.)

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    O nome corpo negro provm de se admitir que este objecto ideal absorve

    radiao a todos os comprimentos de onda. A baixa temperatura, as paredes

    devero assim ser negras. Contudo, como tambm emitem radiao a todos os

    comprimentos de onda, a temperaturas elevadas adquirem cor por emisso deradiao trmica. o que sucede com um pedao de carvo, negro

    temperatura ambiente e rubro quando em brasa.

    A emisso de radiao nem sempre se d com a substncia emissora em

    equilbrio trmico, caso do corpo negro. Suponhamos um corpo (slido, lquido ou

    gasoso) constitudo por molculas e temperatura ambiente. A sua emisso

    trmica no visvel desprezvel. Contudo, possvel popular estados excitados

    desse corpo a que correspondam frequncias visveis, fazendo-o absorverradiao ressonante (relao de Bohr). Cria-se assim uma distribuio de no

    equilbrio, com algumas molculas grandemente excitadas, mas permanecendo a

    maioria no estado fundamental. O retorno das molculas excitadas ao estado

    fundamental pode fazer-se por processos radiativos e por processos no

    radiativos. Havendo emisso de radiao, tem-se um espectro prprio de cada

    molcula, e distinto do espectro universal do corpo negro. emisso de radiao

    nestas circunstncias d-se o nome de luminescncia. A luminescncia pode

    ser produzida de diversas formas: fotoluminescncia (excitao por absoro de

    luz), electroluminescncia (excitao por passagem de corrente elctrica),

    triboluminescncia (excitao por atrito), quimioluminescncia (gerao de

    molculas excitadas por reaco qumica), etc. A luminescncia divide-se em dois

    tipos, consoante a natureza quntica dos estados excitado e fundamental

    envolvidos: fluorescncia, a que corresponde um tempo de vida (eq. 2.13) curto

    (ps a ns); e fosforescncia, a que corresponde um tempo de vida (eq. 2.13)

    longo (s a min).

    2.3 Laseres

    Seja uma molcula com apenas dois nveis de energia no degenerados,

    fundamental e excitado. A qualquer temperatura, o nvel fundamental tem a maior

    populao. Assim, a passagem de radiao monocromtica ressonante com a

    transio, ter sempre como consequncia a absoro de fotes. A temperaturas

    elevadas, quando a populao do nvel superior for significativa, haver

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    simultneamente emisso estimulada, compensando-se em parte a absoro.

    Pode demonstrar-se que por essa razo, a absorvncia do meio ser

    proporcional diferena de populaes entre os estados fundamental e excitado.

    A muito altas temperaturas (admitindo que a molcula no se decomps), a

    absorvncia tender para zero (porqu?), chamando-se a este fenmenosaturao.

    Quando as molculas tm maior populao no estado excitado do que no estado

    fundamental (inverso de populao), a absorvncia resultante negativa, isto

    , o meio transmite mais radiao do que a inicial! precisamente o que sucede

    num laser, acrnimo de light amplification by stimulated emission of radiation

    (amplificao de luz por emisso estimulada). A inverso de populao no pode

    ser atingida por aquecimento, como se disse, sendo necessrios outrosprocessos (sistemas de trs e quatro nveis, etc.).

    Um laser (Fig. 2.7) consiste numa cavidade, onde se encontra o meio activo ou

    amplificador (um gs, uma soluo lquida ou um slido), cuja populao est

    invertida, e em pelo menos dois espelhos, um totalmente reflector e outro

    parcialmente reflector (com uma reflectncia de 95%, por exemplo), sendo

    atravs deste ltimo que emitida para o exterior a radiao laser. Para criar (e

    manter) a inverso de populao, h uma fonte de excitao exterior, quebombeia molculas (ou tomos) para o estado excitado.

    cavidade

    Fig. 2.7 Representao esquemtica de um laser.

    Os laseres so fontes de radiao excelentes, muito mais versteis do que as

    fontes convencionais (lmpadas, etc.). A radiao de um laser, pelo facto de

    fonte de excitao

    meio activo

    espelhoreflector

    espelho parcialmentetransmissor

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    resultar de emisso estimulada produzida numa cavidade, tem caractersticas que

    a distinguem da radiao usual, proveniente de processos de emisso

    espontnea. So estas: elevada potncia por unidade de rea (intensidade ou

    irradincia), grande monocromaticidade, grande colimao (pequena divergncia

    do feixe) e elevada coerncia espacial e temporal. esta ltima propriedade aque mais distingue a radiao laser da radiao usual. So contudo as trs outras

    propriedades, muito mais difceis de obter em conjunto com fontes convencionais,

    que justificam a grande importncia dos laseres.

    Os laseres podem ser contnuos ou descontnuos. Neste ltimo caso, podem

    gerar-se impulsos com duraes extremamente curtas (inferiores a 10 fs), o que

    permite estudar fenmenos moleculares ultra-rpidos e produzir efeitos

    especficos. Actualmente cobrem toda a regio ptica do espectroelectromagntico. No Quadro 2.2 indicam-se alguns laseres comuns.

    Quadro 2.2. Alguns laseres vulgares

    nome comprimento de onda meio activodurao dos

    impulsosexcmero

    ArFKrFXeF

    193 nm248 nm351 nm

    mistura de gs raro eF2

    1-30 ns

    corante 300-1000 nm(seleccionvel)

    soluo de coranteorgnico

    fluorescente

    contnuoou pulsado(1-10 ps)

    io gasosoAr+

    Kr+488 nm e 515 nm*

    647 nm*

    Ar ou Kr em tuboselado

    contnuo e pulsado(100 ps)

    He-Ne 633 nm He e Ne em tuboseladocontnuo ou pulsado

    (600 ps)

    Ti-safira 790-910 nm* Ti3+ em Al2O3contnuo ou pulsado

    (50 fs)semicondutor

    GaAlAs

    750-905 nm

    (seleccionvel)

    juno p-n

    GaAlAs slidocontnuo

    CO210,6 m

    (908-993 cm-1)CO2 e N2 gasosos

    contnuoou pulsado (20 ns)

    * Os comprimentos de onda indicados podem ser reduzidos a metade (duplicao de frequncia)ou a um tero (triplicao de frequncia) por passagem do feixe laser atravs de um cristalapropriado.

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    melhores dispersores de radiao do que o ar, tendo por essa razo uma

    aparncia azulada ou esbranquiada, enquanto que este parece ser

    absolutamente transparente. Na verdade, assim no . O azul do cu, e o

    vermelho do crepsculo e da aurora so ambos devidos disperso da radiao

    solar pelas molculas atmosfricas, pelo que o ar, mesmo quando totalmentedesprovido de partculas em suspenso, no completamente transparente

    radiao visvel.

    A disperso de radiao conduz a uma atenuao da intensidade de um feixe,

    dada para meios diludos homogneos por uma relao anloga lei de Lambert,

    0I=I exp(-bl) (3.1)

    em que l o percurso ptico e bo coeficiente de disperso do meio. Ao produto

    bl, adimensional, que se representa por , d-se de novo o nome de espessura

    ptica do meio.

    Segundo a teoria electromagntica clssica, a seco eficaz de disperso de uma

    esfera de raio r

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    em que agora o ndice de refraco se refere ao gs. A dependncia com o

    comprimento de onda j notada anteriormente permite compreender, em linhas

    gerais, a cor azul do cu e a cor vermelha do poente: sendo a radiao solar

    policromtica, so os comprimentos de onda curtos (violetas e azuis) os que

    sofrem maior disperso, e os longos (vermelho) os que sofrem menor disperso.Por exemplo, a radiao azul de 450 nm, sofre 4.4 vezes mais disperso do que a

    vermelha de 650 nm, pois 4(650/450) = 4.4 . Assim, a radiao solar difusa que

    atinge o solo apercebida como azul (o violeta solar menos intenso, sendo

    tambm o olho humano menos sensvel nessa zona espectral). Pela mesma

    razo, as montanhas e serras, quando no esto cobertas de neve, tm uma cor

    azulada se vistas a grande distncia. Por outro lado, a radiao solar transmitida

    atravs da atmosfera, quando o percurso da radiao mximo, avermelhada.O ndice de refraco do ar no visvel, em condies de presso e temperatura

    ambientes, 1.00028. Nessas mesmas condies, N=31025 molculas/m3, pelo

    que, usando a eq. (3.4), vem, para 500 nm, b=210-5 m-1 (sendo a concentrao

    das molculas de ar de 0.05 M, este coeficiente corresponde a um coeficiente de

    absoro molar =210-6 M-1 cm-1, o que d bem ideia da pequenez relativa do

    efeito). Como a atenuao s significativa para percursos pticos iguais ou

    superiores a 1/b, tem-se que s para percursos de 50 km, ou superiores, essaatenuao sensvel. Quando o Sol est prximo do znite, o percurso ptico

    equivalente para uma densidade homognea e igual de altitude zero de

    aproximadamente 8 km, isto , =0.16, pelo que a atenuao a 500 nm de 14%,

    enquanto que a 700 nm de 5% (em mdia, 13% da radiao solar dispersa

    pelo ar; desta, aproximadamente metade acaba por atingir a superfcie como

    radiao difusa, sendo a outra metade reenviada para o espao). Contudo,

    prximo do despontar ou do ocaso solares, o percurso rasante atravs da baixaatmosfera muito maior, da ordem de algumas centenas de km, e a radiao de

    comprimentos de onda curtos efectivamente suprimida.

    O limite de visibilidade horizontal na atmosfera dado pela equao emprica de

    Koschmieder,

    v

    3.9x =

    b(3.5)

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    em que xv o alcance visual e b o coeficiente de extino efectivo a 520 nm.

    Para a atmosfera mais lmpida possvel, isto , sem partculas e gotas em

    suspenso, nem gases absorventes (NO2), o coeficiente de extino o do ar

    seco calculado atrs, pelo que o alcance visual de aproximadamente 200 km.Na prtica, este com frequncia muito inferior, devido aos aerossis slidos e

    lquidos presentes na atmosfera. Em regies costeiras, por exemplo, raramente

    ultrapassa os 50 km, e em zonas urbanas pode ser de apenas alguns

    quilmetros, isto para no falar em situaes de nevoeiro cerrado ou em

    tempestades de areia.

    O coeficiente de disperso de partculas de dimenses iguais ou superiores ao

    comprimento de onda da radiao dado por expresses mais complexas do quea de Rayleigh. A soluo geral para esferas de qualquer raio, devida a Mie, tem

    a forma de uma srie infinita, dando-se dois exemplos grficos na Fig. 3.1.

    Fig. 3.1 Coeficiente de disperso adimensional Q = /r2 em funo do parmetro x = 2 r/ . Parar

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    28

    2

    2

    2 22 r 1- sin y + 1- cos y

    y y(3.6)

    em que py = 4 r(n -1)/ . A eq. (3.6) no vlida para o regime de Rayleigh, cuja

    soluo j foi apresentada, mas adequada para partculas com dimenses pelo

    menos da ordem do comprimento de onda, sempre que a estrutura fina da

    soluo exacta possa ser ignorada, como o caso das partculas atmosfricas,

    que tm sempre uma distribuio de tamanhos e at de formas. Da eq. (3.6) (e

    da soluo geral) resulta que para partculas de raio muito maior do que (y>20)

    se tem 2 , 2r isto , o dobro da seco recta geomtrica. Nesta situao, a

    eficincia da disperso pois independente do comprimento de onda da

    radiao, e a radiao solar dispersa agora branca. Para gotas de gua

    (n=1.33), e =500 nm, este limite atingido para um raio de aproximadamente 3

    m, isto , inferior ao da maioria das gotculas presentes nas nuvens.

    A distribuio angular da radiao dispersa por partculas grandes, Fig. 3.2,

    permite compreender a razo de a seco eficaz poder ser dupla da geomtrica.

    Com efeito, ela pode ser decomposta em duas parcelas iguais. Uma, calculvel

    pela ptica geomtrica, segundo as leis da reflexo e da refraco; e outra,

    fortemente anisotrpica, concentrando-se na direco e sentido da incidncia, e

    devida ao fenmeno da difraco. Esta ltima componente pode contudo estar de

    tal modo concentrada num cone muito estreito cujo eixo a direco do feixe

    incidente, que essa radiao difractada seja para todos os efeitos radiao no

    dispersa. Nessas condies, a seco recta de disperso efectiva ser . 2r

    o que sucede quando se observa o Sol atravs de uma nuvem ou nvoa. H uma

    aurola em torno da sua imagem que corresponde difraco pelas gotculas de

    gua. Essa radiao, sendo pouco desviada pela disperso, continua a ser

    observada.

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    Fig. 3.2 Distribuio angular da radiao dispersa em funo do parmetro x = 2 r/ . Note-se aescala logartmica das intensidades. Para x1, aradiao menos dispersa angularmente, e concentra-se em grande parte em torno da direco e

    sentido de propagao do feixe inicial. Note-se a distribuio angular da radiao retrodispersapara x>>1: a disperso d-se sobretudo para certos ngulos discretos. Com gotas de guagrandes (chuva), a retrodisperso concentra-se no ngulo de 42 (em relao direco depropagao), e corresponde ao familiar arco-ris. As cores deste devem-se variao do ndice derefraco da gua com o comprimento de onda, pelo que o ngulo de retrodisperso varialigeiramente com o comprimento de onda. O arco-ris (primrio) tem assim uma amplitude angularde 1.8, sendo a ordem das cores, de cima para baixo (isto , de fora para dentro) vermelho,laranja, amarelo, verde, azul, indigo, violeta.

    Uma questo interessante e importante a seguinte: suponhamos um certo

    nmero fixo de molculas de gua por unidade de volume na atmosfera. Como

    varia o coeficiente de disperso bcom o estado de agregao das molculas?

    Isto : como varia b com o raio r das gotculas, sendo os casos extremos as

    molculas isoladas no estado gasoso, por um lado, e por outro uma nica gota

    enorme?

    Desde que as partculas de gua sejam menores do que , aplica-se a disperso

    de Rayleigh, eqs. 3.2 e 3.3. Para um nmero fixo de molculas de gua por

    unidade de volume V, o volume total de gua (suponhamos que lquida) V0, com

  • 8/2/2019 Absorcao, Dispersao e Emissao

    30/31

    30

    V0

  • 8/2/2019 Absorcao, Dispersao e Emissao

    31/31

    Quando o percurso ptico de um feixe elevado, ou o nmero de partculas por

    unidade de volume muito grande, a probabilidade de um foto sofrer mais do que

    um processo elementar de disperso elevada. Fala-se nesse caso de

    disperso mltipla, que consiste numa sucesso de processos de disperso

    simples. Quando a disperso mltipla significativa, a atenuao no dadapela eq. (3.1). O clculo da transmisso e reflexo da luz solar pelas nuvens, por

    exemplo, implica a considerao da disperso mltipla. A disperso mltipla

    reduz ainda em geral o aspecto cromtico dos fenmenos individuais de

    disperso. As gotculas de gordura do leite, por exemplo, dispersam mais a

    radiao azul do que a vermelha, como se pode constatar deitando algumas

    gotas de leite num copo com gua, e observando o lquido em transmisso (cor

    avermelhada) e a 90 (cor azulada) em relao a uma fonte de luz visvel. Noentanto, o leite puro branco, devido disperso mltipla. Se a atmosfera

    terrestre tivesse uma densidade gasosa semelhante de Vnus, por exemplo, a

    cor do cu deixaria de ser azul (passaria a ter que cor ?) pela mesma razo.