Abordagem à criança com febre e síndromes febris
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PEDIATRIA
Slides: Ana [email protected]
WWW.ACADEMIADAESPECIALIDADE.COM VERSÃO 2020
Abordagem à criança com febre esíndromes febris
Relevância A
1
LEGENDA
SÍMBOLO SIGNIFICADO
INTEGRAÇÃO DE
CONHECIMENTO
ESTRATÉGIA
PEDAGÓGICA
MUITO IMPORTANTE
CONHECIMENTO
ESSENCIAL
MENOS perguntável
INCOERÊNCIA
SÍMBOLO COMPETÊNCIA
MECANISMOS
de DOENÇA
Estabelecer um
DIAGNÓSTICO
Medidas de saúde e
PREVENÇÃO
Elaborar um plano
TERAPÊUTICO
Elaborar plano de GESTÃO DO
DOENTE
SÍMBOLO SIGNIFICADO
REFERÊNCIA a outros capítulos ou livros
MD
D
T
GD
CHECK
2
P
INCLUI:ABREVIATURAS E SIGLAS
AAS – ácido acetilsalícilico
AB – Antibioticoterapia
AIJ – Artrite idiopática juvenil
BEG – Bom estado geral
DPN – Diagnóstico pré-natal
Dx – Diagnóstico
FC – Frequência cardíaca
FR – Frequência respiratória
G-CSF – Granulocyte-colony stimulating factor
GEA – Gastroenterite aguda
GI – Gastrointestinal
Hib – H. influenzae tipo b
HSV – Herpes simplex vírus
IBI – Infeção bacteriana invasiva
IBPG – Infeção bacteriana potencialmente grave
IDP – Imunodeficiência primária
IFN – Interferão
IL – Interleucina
ITU – Infeção do trato urinário
IVRS – Infeção das vias respiratórias superiores
LES – Lúpus Eritematoso Sistémico
MCD – Meio complementar de diagnóstico
OMA – Otite média aguda
PAC – Pneumonia aguda da comunidade
PCR – Polymerase Chain Reaction
pCr – proteína C reativa
PCT - procalcitonina
PET – Tomografia com emissão de positrões
PGE2 – Prostaglandina E2
PNV – Programa Nacional de Vacinação
RX – Radiografia
T – Temperatura
TA – Tensão arterial
TB – Tuberculose
TNF – Tumor Necrosis Factor
TRC – Tempo de repreenchimento capilar
TSA – Teste de sensibilidade a antimicrobianos
Tx – Terapêutica/ tratamento
UCI – Unidade Cuidados Intensivos
VPN – Valor Preditivo Negativo
VS – Velocidade de sedimentação
3
INCLUI:FONTES/ BIBLIOGRAFIA
Manual de Diagnóstico y Terapéutica en Pediatría (Libro Verde LA PAZ) 6ª ed. – La Paz
Nelson Essential’s of Pediatrics 8.ª ed – NEP
Nelson Pediatric Symptom-Based Diagnosis 2018 - NPS
Nelson Textbook of Pediatrics 20.ª ed – NTP
Protocolos de urgência em pediatria, Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria 4.ª ed – PUP
Lições de Pediatria, Universidade de Coimbra 2017 – LP
Norma da DGS 014/2018 - Processo Assistencial Integrado da Febre de Curta Duração em Idade Pediátrica – NOC
Norma da DGS 004/2018 - Febre na Criança e no Adolescente - Definição, Medição e Ensino aos Familiares/Cuidadores –NOC cuidadores
* Todos os slides sem referência a bibliografia diferente, são baseados no La Paz *
4
Cap. 18
Febre
5
As crianças têm T corporal mais alta devido a maior razão superfície: peso corporal e maior atividade metabólica
Definições MD
NPS, LP e NOC
Febre
T corporal normal: 36.6-37.9ºC (rectal)
com variação circadiana
Pico à tarde – 17-19h“Febre da criança que chega da escola”
Mínimo na madrugada – 02-06hNão subvalorizar T ligeiramente elevadas a esta hora!
Definição formal: elevação da T corporal ≥ 1.ºC acima da média basal diária individual,dependendo do local e da hora de avaliação
Não existe consenso nos valores acima dos quais se pode definir febre em idade pediátrica
A temperatura corporal normal é mantida por um sistema de regulação complexo no hipotálamo anterior
6
Elevação anormal e autorregulada da T corporal
T rectal ≥38ºC (T axilar pode ser 0,5-1ºC inferior à rectal)
Definições MD
Completado com NPS, LP e NOC
Febre
Na ausência de conhecimento das T individuais, admite-se como definição
ATENÇÃO
É aceitável considerar febre qualquer destes valores da temperatura:
− Retal ≥ 38ºC;
− Axilar ≥ 37,6ºC;
− Timpânica ≥ 37,8ºC;
− Oral ≥ 37,6ºC.
Febre ≠ Hipertermia
Aumento não regulado da T corporal, sem relação com o centro regulador (hipotálamo)
Resulta do aquecimento corporal por aquisição de calor proveniente de fontes externas, produção
excessiva (exercício físico, hipertiroidismo) ou perda inadequada de calor (excesso de roupa)
Na hipertermia apenas está indicado fazer arrefecimento físico (sem uso de antipiréticos)
(ver slide 8: medição correta da T corporal)
7
•Método mais usado e prático, apesar de não ser tão preciso como o retal
•A T na axila demora cerca de 5 min a estabilizar; para uma avaliação correta, colocar o termómetro
digital (desligado) na axila, manter o braço firmemente encostado ao tronco durante 5 min após os
quais se deve ligar o termómetro e esperar pelo toque; com o termómetro de galinstan a leitura deve
ser também aos 5 min
•Método mais rigoroso e o que melhor corresponde à T central
• Introduzir o termómetro digital de ponta flexível ou o de galinstan no ânus (3 cm ou +) e esperar pelo
1.º toque (demora média de 37 + 14 s) esperar 3 min com galinstan
•Deve ser preferido sempre que seja necessária uma T exata
Definições DMedição correta da temperatura
Rec
tal
Axi
lar
•Medição em poucos segundos e de forma higiénica pelo uso de pontas descartáveis (vantagem em
serviços de triagem pediátrica) mas com elevada imprecisão
•A deteção da radiação infravermelha deve ser a da membrana timpânica, irrigada por arteríolas das
artérias timpânicas, traduzindo uma T central; se a radiação for proveniente do canal auditivo
externo são obtidas T periféricas (auriculares)
•Elevada % de medições imprecisas (orientação incorreta do termómetro, canal auditivo estreito,
cerúmen, …) pelo que é desaconselhada a sua utilização em crianças com menos de 3 A
Tim
pâni
ca
•Pouco usada em Portugal, é viável apenas a partir dos 5 A porque implica colaboração a manter a
boca fechada com a ponta do termómetro debaixo da língua durante pelo menos 3 min
•As chupetas com termómetro digital não cumprem estas exigências e têm muitos falsos negativos
Ora
l
NOC cuidadores
8
Definições MD
9
Infeção bacteriana
potencialmente grave(IBPG)
Sépsis, meningite, ITU, pneumonia, infeção articular
GEA bacteriana em < 3 meses
Infeção bacteriana invasiva(IBI)
Cultura de LCR e/ou hemocultura positivos
Febre sem foco(FSF)
Em até 20% dos casos não encontramos uma etiologia que justifique a febre
O capítulo do La Paz refere-se a crianças imunocompetentes com FSF com <1 semana de evolução
Etiologia MD
Inibição do crescimento de algumas bactérias e vírus
Aumento da atividade imunitária que ocorre em temperaturas mais elevadas
Nas infeções graves verifica-se maior sobrevida para T corporal 38,5-40,5ºC
Desconforto associado ao aumento da atividade metabólica, consumo de
O2, produção de CO2 e aumento da atividade cardiovascular e respiratória
A febre é parte da resposta inflamatória e tem um papel no combate à infeção
LP
10
A febre é um sinal encontrado nas reações de fase aguda,
não é uma doença
Etiologia MD
Libertação de pirogénios
endógenos (IL-1, IL-6, TNF, IFNs)
Pirogénios atingem o hipotálamo
anterior
Libertação de ácido araquidónico que é convertido
em PGE2
Interação
complemento -
PGE2
Elevação do
termostato
hipotalâmico
Infeção
Inflamação
Neoplasia
Micróbios e toxinas microbianas atuam como pirogénios exógenos ao
estimular a libertação de pirogénios endógenos
Os antipiréticos inibem a cicloxigenase hipotalâmica
e reduzem a produção de PGE2
NEP, NOC cuidadores
11
Etiologia MD
Elevação do
termostato
hipotalâmico
= mecanismos de conservação e produção de calorcom o objetivo de elevar a T corporal 3-4ºC acima da T basal média individual
- Nunca >5ºC acima da T basal média individual
- Nunca acima de 42.2ºC de T corporal
NOC cuidadores
12
Etiologia MD
NOC cuidadores
Esquema da reação de fase aguda, com as outras manifestações clínicas e biológicas que ocorrem além da febre13
Etiologia MD
NOC
Vírus
“Viroses” – são possíveis 581 infeções virais febris diferentes (conhecidas)
Pelo menos 11 das 20 espécies de vírus comuns não conferem imunidade definitiva
Bactérias
Cerca de 30 bactérias (intra ou extracelulares) são responsáveis por mais de 98% das infeções bacterianas pediátricas
adquiridas na comunidade
Bactérias predominantemente extracelulares: S. pneumoniae (≈90 serotipos), S. pyogenes (≈130 serotipos), S. aureus, H.
influenzae (do tipo B ou não tipável), M. catarrhalis, N. meningitidis (dos grupos A, B, C, W135, Y), E. coli, P. mirabilis, K.
pneumoniae, E. faecalis, P. aeruginosa, C. jejuni, S. agalactiae, K. kingae, Shigella spp. Muitas destas bactérias coabitam
silenciosamente, durante semanas ou meses no estado de portador assintomático, na pele ou nas diversas mucosas; algumas
aproveitam-se das infeções virais e do consequente processo inflamatório local, para se multiplicarem e invadirem ou não a
corrente sanguínea
Bactérias intracelulares: Brucella spp, Salmonella spp, M. pneumoniae, C. trachomatis, C. pneumoniae, C. burnetti, L.
pneumoniae, L. monocytogenes, R. conorii, M. tuberculosis, B. henselae, B. burgdorferi, tendem a manifestar-se com doença
insidiosa e prolongada, frequentemente com hepatomegália e/ou esplenomegália e/ou linfoadenopatias
Parasitas
Leishmania spp, Plasmodium spp, Toxoplasma gondii e Toxocara spp) são intracelulares obrigatórios
Pouco frequentes como causa de febre em Portugal.
Infeciosa
14
Epidemiologia D
A febre é o motivo mais frequente de procura de cuidados de saúdeem idade pediátrica
Em Portugal, a fácil acessibilidade aos serviços de urgência tem contribuído para que os pais recorram
frequentemente a estes numa fase muito precoce da doença febril:
≥20% dos motivos de ida às urgências hospitalares
≈50% das urgências realizadas em consultórios pediátricos
Fobia da febre - assenta nos falsos pressupostos de que a temperatura não controlada continuará
a aumentar e poderá causar dano neurológico e/ou morte, e no receio de uma infeção grave subjacente
e respetivas consequências
NOC
Na maioria dos casos associa-se a doença infeciosa benigna autolimitada de etiologia viral ou bacteriana
ATENÇÃO
Mesmo que a febre não seja medicada a T não ultrapassa os limites fisiológicos, desde que sejam
permitidos os comportamentos individuais e espontâneos de adaptação às fases da curva térmica
15
Epidemiologia D
A febre é o motivo mais frequente de procura de cuidados de saúdeem idade pediátrica
Dos episódios infeciosos febris agudos em idade pediátrica:
≈95% são devidos a infeções benignas, virais ou bacterianas, na sua maioria autolimitadas
− Nasofaringites, OMA, amigdalites, laringotraqueítes, bronquiolites, GEA, etc. - a maioria contraídas em creches e
infantários (as "daycaritis“, pelo que é importante conhecer o contexto epidemiológico)
≈5% resultam de doenças potencialmente graves (IBPG)
− Pneumonia, pielonefrite, gastroenterite por microrganismo invasor, artrite sética, osteomielite, discite, otomastoidite,
meningite, sépsis, celulite / abcessos vários, apendicite, endocardite bacteriana, doença de Kawasaki, bacteriemia oculta,
etc.) - habitualmente com recurso aos cuidados de saúde em tempo útil
0,04% correspondem a doenças febris muito graves (IBI), com possível risco de vida (ex.: sépsis e meningite)
Apenas 1,5% dos episódios febris agudos ocorrem antes dos 3 meses, mas:
• Dos 0-3 meses, 10% dos episódios febris correspondem a doença grave
• Em RN até 20% correspondem a doença grave
NOC
Nesta faixa etária a febre
tem importância especial
16
Manifestações clínicas D
Padrão da febre
Idade
Natureza da doença
Recém-nascidos podem não ter resposta febril e apresentar-se hipotérmicos ou com
instabilidade térmica na presença de infeções graves
Lactentes mais velhos e crianças até aos 5 A podem ter resposta febril exagerada com T
até 40.6ºC em resposta quer a infeções bacterianas graves, quer a infeções virais benignas
Em crianças mais velhas e adolescentes febre alta é incomum e sugere processos
infeciosos graves
O padrão da febre não permite distinguir de forma fiável causas infeciosas, autoimunes,
neoplásicas ou farmacológicas
Infeções virais associam-se a diminuição lenta da febre ao longo de 1 semana; infeções
bacterianas associam-se a resolução rápida da febre após início de antibiótico adequado
A resposta aos antipiréticos não permite distinguir doença bacteriana de viral
NEP, NOC, PUP
ATENÇÃO
Mesmo que a febre não seja medicada a T não ultrapassa os limites fisiológicos, desde que sejam
permitidos os comportamentos individuais e espontâneos de adaptação às fases da curva térmica 17
• Mais preciso que o axilar, mas implica colaboração da criança
• T mais aproximada da T central, mais uniforme nos resultados quando a medição é repetida
• Desagradável e pouco cómodo
Manifestações clínicas D
NOC cuidadores
Na primeira semana de vida avaliar T na axila
A partir da 2ª ou 3ª semana T pode ser medida no reto ou na axila
A partir dos 3 A de vida pode ser medida também T timpânica
A partir dos 5 anos de idade pode ser medida também T oral
Rectal
• Mais usado - é possível obter a mesma fiabilidade da medição rectal desde que realizadas duas
medições com intervalo de 60min, com colocação correta do termómetro
Medição correta da temperatura
Axilar
Para evitar falsos negativos 18
• Mais rápida e higiénica, útil serviços de triagem pediátrica mas tem muitos falsos negativos, ++ <3 ATimpânica
Oral
• Sensibilidade (sim/ não) de ≈85%» superior à sensibilidade da T axilar ao primeiro toque do termómetro digital!
• As mães têm conhecimento empírico da T normal dos filhos
Manifestações clínicas D
Não se deve subestimar a impressão subjetiva das mães de que o filho tem febre
NOC
Medição correta da temperatura
19
Febre táctil
Manifestações clínicas D
LP
Tem
pera
tura
Temperatura
Tremor (atividade muscular)
Arrepios
Sensação de frio
Procura de quente e agasalhos
Acrocianose/ Pele marmoreada
(vasoconstrição periférica)
Taquicardia
Polipneia
Mialgias e artralgias (PGE2)
Pele quente/ hiperemia
Sudação
Sensação de calor
Procura de fresco
(vasodilatação periférica)
Sintomas que acompanham a variação de temperatura
20
Manifestações clínicas D
NOC cuidadores
Sintomas que acompanham a variação de temperatura
21
Abordagem da febre
22
DGD
Criança com febre
Estável
Instável
Procurar sinais de alarme
Estabilizar e atuar como sépsis
Atuar de acordo com a idade*
*Apenas 1,5% dos episódios febris agudos ocorrem antes dos 3 meses, mas:
Dos 0-3 meses, 10% dos episódios febris correspondem a doença grave
Em RN até 20% correspondem a doença grave
Abordagem da febre D
NOC e LP
História Clínica
Evolução da febre e em que local foi feita a medição
Máximo de temperatura e horário da febre (ou intervalos de administração de antipiréticos)
Resposta aos antipiréticos e estado geral em apirexia
Sintomas associados e cronologia de aparecimento
− Choro, sono, marcha, alimentação, vómitos, dor, prostração, dificuldade respiratória, alterações da coloração, exantema,
calafrio, outros
Contexto epidemiológico
Estado vacinal e data da última vacina
Doença crónica grave: malformações cardíacas, imunodeficiência, quimioterapia, tx imunossupressora ou biológica
Antecedentes pessoais e familiares
Para o esclarecimento da causa da febre é fundamental
a elaboração de uma história clínica detalhada e exame físico minucioso
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Aula
Convulsões febris
Abordagem da febre D
NOC e LP
Exame Físico
Impressão clínica da criança
Sinais vitais: FR, FC e TA
Se cianose/acrocianose ou dificuldade respiratória, avaliação de SpO2
Perfusão periférica
Nível de consciência
Exantema (macular, petequial, purpúrico) ou outras alterações cutâneas
Sinais meníngeos
Sinais de desidratação (diminuição da diurese, sede não saciável, mucosas secas, olhos encovados, fontanela deprimida,
prega cutânea)
Dor
Tumefação articular ou limitação da mobilidade
A criança com febre aguda é sempre observada despida
e procuram-se pistas para a etiologia da ponta dos cabelos à ponta dos pés
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Para o esclarecimento da causa da febre é fundamental
a elaboração de uma história clínica detalhada e exame físico minucioso
Baixo risco Risco intermédio Alto risco
Cor Normal Palidez (referida pelo cuidador) Palidez/ cianose/ “má cor”
Atividade
- Resposta normal a estímulos
- Bem disposto/ sorridente
- Acordado ou fácil de despertar
- Choro facilmente consolável
- Resposta anormal a estímulos
- Difícil de despertar
- Diminuição da atividade
- Não sorri
- Não responde a estímulos sociais
- Sensação de doença
- Não desperta
- Choro fraco, contínuo ou agudo
Respiração Normal
- Adejo nasal
- Polipneia
- SpO2 95% em ar ambiente
- Fervores/ crepitações
- Gemido
- Polipneia (>60cpm)
- Tiragem moderada a grave
Hidratação/
circulação
- Olhos e pele normais
- Mucosas húmidas
- Taquicardia
- Mucosas secas, TRC ≥ 3 s
- Recusa alimentar
- ↓ débito urinário
Perda de turgor cutâneo
Outros
T ≥ 39ºC dos 3-6 meses, febre ≥ 5d,
edema de membro ou articulação,
recusa da marcha ou em usar um
membro, claudicação, tremor/ calafrio
na subida térmica
Idade < 3 meses, exantema
petequial/ purpúrico, fontanela
tensa, rigidez da nuca, status
convulsivo, sinais focais,
convulsões focais
Abordagem da febre
25
DGD
Procurar sinais de alarme Risco de infeção bacteriana potencialmente grave ou infeção bacteriana invasiva
Abordagem da febre D
NOC, NOC cuidadores e LP
Os sinais de alerta que acompanham a febre são mais importantes que a temperatura absoluta da criança
Má impressão clínica Irritabilidade, gemido mantido e/ou prostração
Choro inconsolável ou criança que não tolera o coloCalafrio e/ou acrocianose na subida térmica
SpO2<94%
Convulsão ou sinais de irritação meníngeaExantema macular ou petequial
(sobretudo se nas primeiras 24-48 horas de febre)
Má perfusão periférica (TRC > 2s)
ou instabilidade hemodinâmica
Dificuldade respiratória
(respiração entrecortada, intermitente ou SDR em apirexia)
Vómitos incoercíveis Recusa alimentar quase total e/ou sinais de desidratação
Dor articular ou óssea, dificuldade em mobilizar um membro
ou alteração da marchaUrina turva ou com mau cheiro
26
ATENÇÃO
10% dos episódios de febre + petéquias devem-se a infeção
meningocócica (% menor em crianças com vacinas anti-meningocócicas
C e/ou B); a maioria dos restantes casos têm etiologia viral
ATENÇÃO
Febre no recém-nascido ou no lactente com
menos de 3 meses é sempre sinal de alarme
Abordagem da febre D
NOC cuidadores
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NÃO são sinais de gravidade
Desde que não associados a nenhum sinal de alerta
T não voltar ao normal mesmo com antipiréticos
(antipirético é eficaz se baixar T 1,0-1,5ºC a T máxima prévia)
Picos febris com intervalo <4h
Febre com duração até 5 dias
Criança mais parada, “mais caída”, mas que consegue estar sentada ao colo e/ou sair da cama sozinha
Dormir mais que o habitual, desde que não “excessivo”
Comer pouco, desde que aceite leite ou outros líquidos nutritivos
Ter 1 ou 2 vómitos esporádicos
Ter período de choro intenso mas transitório
Delírio durante os picos febris
Abordagem da febre D
NOC cuidadores e LP
ATENÇÃO
Febre no recém-nascido ou no lactente com
menos de 3 meses é sempre sinal de alarme
Sinais tranquilizadores
Sinais sugestivos de infeção benigna
quando associado a estes sinais tranquilizadores e sem nenhum
dos sinais de alerta de febre
Brinca Tosse como sintoma predominante
Sorriso fácil Odinofagia com placas brancas
Acalma ao colo Odinofagia com olho vermelho e/ou tosse
Apetite mantido ou come menos mas não recusa líquidos Gengivas dolorosas, vermelhas ou sangrantes
Comportamento quase normal em apirexia Aftas orais
Olhos vermelhos com exsudado
Diarreia ligeira-moderada sem sangue, muco ou pus
Pieira audível sem SDR ou só com polipneia ligeira
Manchas eritematosas dispersas após o 4.º dia de febre em
criança com melhora clínica ou já apirética
28
Abordagem da febre
NOC
Não existe um dia mais adequado para a observação médica da criança com febre:
•Para as doenças graves e muito graves o 3.º d será demasiado tarde
•Para as doenças benignas autolimitadas (a maioria) o 3.º d será demasiado cedo, dado que duram em média
4,1d (cerca de 30% podem prolongar-se para além dos 5 dias e quase 10% duram 7 ou mais dias)
A presença de sinais de alarme é que
deve motivar a observação médica,
independentemente do dia de doença
29
Quando recorrer aos serviços de saúde
DGD
Abordagem da febre
NOC
Quando recorrer aos serviços de saúde (independentemente do dia de febre)
Presença de qualquer dos sinais de alarme descritos
Idade <3 meses (inferior a 3 meses de idade corrigida se a criança nasceu prematura)
T axilar ≥ 39,0ºC ou retal ≥ 40,0ºC se idade < 6 meses
T axilar ≥ 40,0ºC ou retal ≥ 41,0ºC se idade > 6 meses
Febre em criança com patologia crónica grave debilitante (malformações cardíacas, imunodeficiência,
medicação crónica com imunossupressores, cancro em quimioterapia)
Febre com duração > 5 dias completos ou reaparecimento de febre após 2 a 3 dias de apirexia
Devem sempre ser observadas, mas na maioria
dos casos serão identificadas doenças benignas
30
DGD
Sangue(na época endémica, pesquisar vírus
antes das análises)
Abordagem da febre
31
DGD
Febre
Sem Foco Estado geral Intermédio ou mau Estabilizar (ABCD) + MCD para sépsis
Bom
< 21 d 22 d – 3 M 3 - 36 M
MCD para sépsis(análise sumária de urina/
urocultura, hemograma,
PCR, hemocultura, estudo
do LCR, RX tórax)
Internamento
AB empírica
(se >15d, BEG e MCD
sem alts - ponderar
internar sem AB)
Urina + Sangue
Estratificar risco
Baixo(cumpre todos)
Alta sem AB
(ou internar para
vigiar se <28d)
Alto
PL
Internamento
AB empírica
Avaliação clínica
BEG BEG
Urina
Vacinado e
T<40ºC?
Sim Não
Alta
Urina + Sangue
Atuar de acordo
com resultados e
evolução
BEG – Bom estado geral, sinais de alarme
MCD de
acordo com
suspeita
clínica
Abordagem da febre
32
DGD
Febre
Sem Foco Estado geral Intermédio ou mau Estabilizar (ABCD) + MCD para sépsis
Bom
>36 M
BEG e
<72h de evolução?
Sim Não
Alta
Reavaliação
conforme
necessidade
BEG – Bom estado geral, sinais de alarme
MCDs D
Completado com LP e NOC
Os parâmetros inflamatórios são úteis para tentar diferenciar entre infeção viral e bacteriana
Pesquisa de parâmetros inflamatórios
Em quem pedir?
Na criança com ar doente
Em todos os RN com febre
Leucocitose
Índice infecioso (quociente formas imaturas/ neutrófilos totais)
Proteína C Reativa
Procalcitonina
33
A maioria dos episódios febris são diagnosticados pela história e exame físico
e requerem poucos ou nenhuns MCDs
MCDs D
Completado com LP e NOC
Parâmetros inflamatórios
Leucocitose
Mais útil para diagnosticar do que para excluir IBPG
IBPG mais provável se:
- Leucócitos >15000 /mm3
- Neutrófilos totais >10000 /mm3
Se clínica preocupante, n.º de leucócitos normal não exclui doença grave e pode significar
consumo aumentado de leucócitos, que é fator de gravidade
Índice infecioso
Valor normal:
- <0,12 se <1 mês de idade
- <0,20 se >1 mês de idade
34
MCDs D
Completado com LP e NOC
Parâmetros inflamatórios
Proteína C Reativa
Mais útil do que contagem de leucócitos para discriminar infeção bacteriana, contudo:
Aumenta nas situações inflamatórias infeciosas tanto bacterianas como virais (Ex: adenovírus)
e também nas não infeciosas
Não é um marcador precoce, uma vez que se eleva a partir das 12-24h (considera-se
significativa após 12-24h de febre)
Valores de referência:
- <3 mg/dL – risco muito baixo de IBPG
- 3 - 7 mg/dL – infeção viral ou bacteriana
- >7 mg/dL – provável infeção bacteriana
Procalcitonina
Mais específica de IBPG
Elevação mais precoce do que a PCR (<12h)
Útil no diagnóstico precoce de sépsis porque aumenta muito significativamente, enquanto
mantém valores relativamente baixos em infeções localizadas
Altera-se pouco nas infeções virais
Valores de referência:
- <0,5 ng/mL – risco muito baixo de IBPG
- 0,6 - 2 ng/mL – risco intermédio
- >2 ng/mL – risco alto de IBPG
35pCr e PCT são complementares
MCDs D
Completado com NEP e NOC
Investigação do foco
Hemocultura
Em quem pedir?
Todos os doentes com suspeita de sépsis, bacteriemia ou meningite:
- Criança com ar doente
- RN com febre
Ponderar se febre e 1-3 meses de idade
Ponderar em qualquer idade antes do início de antibioticoterapia empírica
Devem ser realizadas precocemente » raramente são positivas após o 5.º d de febre
36
MCDs D
Completado com NEP e NOC
Investigação do foco
Análise de urina
Tira-teste
Alta sensibilidade para excluir ITU (VPN 96-100%)
Em quem pedir?
FSF até aos 36 meses
Se história de disúria, lombalgia ou refluxo vesicoureteral
Deve ser feita colheita adequada:
- Em crianças com controlo de esfíncteres » colheita por jato médio
- Em crianças sem controlo de esfíncteres
└ Se necessidade de dx ou tx imediatos » colheita por algaliação ou PV
└ Nos restantes casos » rastreio com colheita por saco coletor
Urocultura
Em quem pedir?
Tira-teste positiva para leucócitos e/ou nitritos
Suspeita de ITU em doentes com uropatia
Febre e <3 meses (++ se RN - nesta faixa etária a tira-teste tem pouca sensibilidade)
Só devem ser feitas uroculturas de amostras assépticas(jato médio, algaliação ou PV)
37Aula ITU
MCDs D
Completado com NEP, NOC e PUP
Investigação do foco
Punção lombar
Em quem pedir?
Ponderar se FSF e <21d
Ponderar antes do início de AB empírica para FSF se 1-3 meses de idade
Ponderar se FSF e mau estado geral/ sensação de doença grave
Ponderar se resultado da avaliação analítica de alto risco para IBPG e foco desconhecido
Na presença de sinais meníngeos/ suspeita clínica de meningite
Sempre que possível deve ser feita antes do início de AB
Devem ser colhidas amostras para análise citoquímica, cultura e serologias virais
38
As indicações para PL na FSF em idade pediátrica variam entre fontes bibliográficas e na prática clínica real são frequentemente
discutidas caso a caso. Nos últimos anos, face à diminuição da incidência de meningite bacteriana, tem-se tentado reduzir a realização
de PL e estreitar as indicações. Contudo, a baixa incidência de meningite bacteriana limita a possibilidade de realização de estudos
com dimensão suficiente para demonstrar a segurança das novas indicações, pelo que é difícil estabelecer normas. A PL deve ser
sempre ponderada e discutida nas situações listadas na tabela.
Aula Meningite
MCDs D
Completado com NEP, NOC e PUP
Investigação do foco
RX tórax
Em quem pedir?
Na suspeita de pneumonia (polipneia, dispneia, fervores ou alterações focais na auscultação,
sintomas respiratórios altos, hipoxemia)
Na presença de fatores que aumentam a probabilidade de pneumonia radiográfica: febre >3d,
tosse prolongada (>10d), leucócitos >20.000/mm3 e PCR >10 mg/dL
Ponderar na presença de febre e polipneia ou dispneia mesmo se auscultação sem alterações
CoproculturaEm quem pedir? Ponderar na presença de diarreia com sinais de alarme (ar doente e diarreia com muco ou sangue)
Testes rápidos
para vírus
Em quem pedir? Ponderar nas épocas epidémicas, de acordo com a suspeita clínica
Muito úteis para ↓ MCDs, AB e internamentos, por permitirem resultados em 2-3h
A maior desvantagem é o preço elevado, ainda limita muito a disponibilidade na maioria dos hospitais
39Aulas GEA, IVRS e PAC
MCDs D
Completado com NEP, NOC e PUP
Avaliação do impacto da doença
Ionograma
Em quem pedir?
Em todos os RN
Ponderar na presença de sintomas respiratórios, gastrointestinais ou neurológicos
Ureia e Creatinina
Glicemia
Gasimetria
40
Tratamento T
O objetivo do tratamento da febre é minimizar o desconforto da criança!
Para tal não é necessário normalizar a T corporal,
nem é o objetivo
Tx da febre é recomendado apenas quando causa desconforto ou quando a criança pertence a um
grupo de risco (doença cardiopulmonar crónica, metabólica, neurológica)
Os antipiréticos permitem alívio sintomático mas não alteram o curso da doença
Considera-se que um antipirético é eficaz se reduzir a T de 1,1 a 1,6ºC durante 3 a 4 horas
Não é recomendado intercalar dois antipiréticos diferentes - a administração alternada de
antipiréticos não traz benefício aos doentes e tem risco de efeitos adversos (hepáticos do
paracetamol, gastrointestinais e/ou renais do ibuprofeno)
Os antipiréticos não previnem as convulsões febris
T>41ºC associa-se a distúrbios hipotalâmicos ou hemorragia do SNC e deve ser tratada com antipiréticos
Não existe relação confirmada entre T>41ºC e maior risco de infeção bacteriana
Completado com NTP e NOC
41
Tratamento T
Medidas
físicas
Hidratação oral Reposição de fluidos perdidos com o aumento das necessidades metabólicas
As restantes medidas físicas (banhos tépidos, despir, toalhas frias) são contraindicadas
Só se deve despir a criança se for necessário confirmar a temperatura, caso esteja demasiado tapada ou em ambiente muito quente;
posteriormente deve adequar-se a roupa e a temperatura ambiente para permitir o conforto da criança sem sobreaquecer
Ensinos à
família
Tranquilizar e
informar
•Desmistificar a febre: é um mecanismo de defesa, não tem maior risco de convulsões,
não é perigosa para o cérebro e não é sinónimo de bacteriemia
•A febre desaparece quando a causa subjacente resolve
Explicar sinais
de alarme(ver slide 26)
Explicar
tratamento
•O objetivo é o conforto, não há necessidade de ↓ temperatura se a criança estiver bem
•Alimentar sem forçar, oferecer sobretudo líquidos (água, leite aos lactentes)
•Adequar atividade à capacidade da criança/ adolescente com febre
•Adequar o vestuário e a temperatura ambiente de modo a que não provoquem
sobreaquecimento, mas mantenham o conforto
•Explicar administração correta de antipiréticos e confirmar a dose para o peso atual
Completado com NTP, NOC e NOC cuidadores
42
Tratamento T
Antipiréticos
Paracetamol
10-15 mg/kg/dose a cada 4h
Se <1mês: 7,5mg/kg/dose, cada 6h• Diminuem a febre pela ↓ da produção de prostaglandinas
•Utilizados de forma adequada são muito seguros
•Para redução da febre de forma segura o cuidador deve
escolher só 1 dos antipiréticos e registar a dose
e hora de administração para evitar sobredosagens,
sobretudo se houver vários cuidadores envolvidos
Ef adversos: lesão hepática
Ibuprofeno
Só >6 meses
5-10 mg/kg/dose a cada 6h
Ef adversos: GIs e lesão renal
MetamizolSó >3 meses
10-20mg/kg/dose a cada 6-8h
• Habitualmente só é usado quando os anteriores estão contraindicados
ou se febre alta com desconforto que não cede aos outros antipiréticos
Completado com NTP e NOC
43
Tratamento T
NOC cuidadores
44
Oral
- Dose 10-15 mg/Kg/dose - máximo de 1.000 mg/dose
- Dose diária máxima: 90 mg/Kg/ dia
No recém-nascido: dose oral ou retal 7,5 a 15 mg/kg/dose - dose máxima 60 mg/kg/dia
Intervalo mínimo entre duas administrações consecutivas: 4 horas
Máximo de tomas diárias: 5
Dose 5-10 mg/Kg/dose – máximo de 600 mg/dose
Dose diária máxima: 40 mg/kg/dia
Intervalo mínimo entre duas administrações consecutivas: 6 horas
Máximo de tomas diárias: 4
Paracetamol1.ª LINHA
Redução esperada da T de 1,1 a 1,4ºC
Rectal
- Dose: 15-20 mg/Kg/dose - máximo de 1.000 mg/dose
- Dose diária máxima: 100 mg/Kg/ dia
Ibuprofeno
Indicações: alergia ao paracetamol, resposta ao paracetamol ou
recorrência da febre com desconforto antes da administração seguinte (< 4h)
Redução esperada da T de 1,4 a 1,6ºC
Contraindicações: idade <6 meses, alergia aos AINEs, varicela, insuficiência renal, risco de desidratação, doença
crónica (gastrointestinal, renal, cardíaca, hematológica) ou sob outra terapêutica sem indicação médica, meningite
recorrente idiopática ou induzida pelo ibuprofeno
FSF no lactente com <1 mês
45
FSF <1M - Diagnóstico D
Etiologia bacteriana mais frequente
Completado com PUP
MD
46
Faixa etária com episódios febris pouco frequentes, mas com maior risco de IBI
RN com FSF e bom estado geral têm 10% de risco de IBPG (15-18% nalgumas séries)
Principais fatores de risco de bacteriemia:
estado geral e idade <21d
Os resultados das serologias virais não alteram a abordagem neste grupo etário
Streptococcus do grupo B
E. Coli e outras enterobacteriaceas
Listeria monocytogenes
Enterococcus
FSF <1M - Diagnóstico D
Completado com NEP e PUP
MD
47
História Clínica
Antecedentes obstétricos e perinatais
História alimentar
Fatores de risco infecioso
- Pesquisa de SGB retovaginal positiva
- Rotura de bolsa >18-24h
- Febre materna periparto
- Leucocitose maternaDesidratação pode ser causa de febre nesta faixa etária
Exame objetivo
Febre ou instabilidade térmica
Sinais de desidratação
Icterícia, dificuldade respiratória
ou apneias
Dificuldade alimentar pode ser sinal de doença grave
Procurar sinais de alarme
Podem ser as únicas manifestações de bacteriemia no RN
Exame objetivo normal
tem baixo VPN para IBI no RN
ATENÇÃO
Como os RN têm homeostasia térmica imatura, temperatura elevada pode
dever-se apenas a excesso de aquecimento externo e deve ser confirmada
FSF <1M - Diagnóstico D
Completado com PUP e NOC
48
MCDs
Hemograma (contagens e índice infecioso) » nesta faixa etária, índice infecioso deve ser <0,12
Hemocultura
pCr
PCT » fisiologicamente ↑↑ nos primeiros 3d de vida; posteriormente, se >2ng/mL tem ≈100% sensibilidade para dx de sépsis
Tira-teste de urina » tem menor sensibilidade no RN e deve fazer-se urocultura mesmo que não tenha alterações
Urocultura
Análise citoquímica e bacteriológica do LCR » PL é recomendada se <21d
Ponderar RX tórax
Ponderar coprocultura
GD
FSF <1M - Abordagem
Completado com PUP
49
Internamento
AB empíricaapós colheita de hemocultura, urocultura e cultura LCR
Vigilância sem AB
Nesta abordagem, realização de PL depende da clínica do RN
e pode ser dispensada se boa evolução
Maioria dos RN
++ se suspeita de doença grave
RN com BEG e MCDs iniciais normais
++ se >15d de idade
Se boa evolução clínica e culturas negativas às 48h,
pode planear-se alta precoce com vigilância e seguimento
TGD
FSF <1M - Abordagem
Completado com PUP
50
AB empírica
Ampicilina EV (50mg/kg/dose a cada 12h se <7d ou a cada 8h se >7d) + Gentamicina EV (4mg/kg a cada 24h)
Na suspeita de meningiteAmpicilina EV (200-300 mg/kg/d a cada 8h se <7d ou 300mg/kg/d a cada 6h se >7d)
+ Cefotaxime EV (200mg/kg/d a cada 6h)
Na suspeita de infeção por HSV
- Mau estado geral, vesículas, convulsões e/ou
história materna de herpes vaginal
- LCR pode mostrar só pleocitose
- Elevação de transaminases é marcador precoce
Adicionar aciclovir EV
No RN evita-se o ceftriaxone porque este compete com a bilirrubina não conjugada pela ligação à albumina,
deixando a bilirrubina livre para atravessar a barreira hematoencefálica com risco de kernicterus
TGD
FSF no lactente com 1-3 meses
51
FSF 1-3M - Diagnóstico D
Completado com PUP
MD
52
Incidência de IBPG oscila entre 6 e 10%
Os scores de risco de IBPG previamente utilizados (Rochester, Philadelphia, Boston, etc.) só consideram a contagem de leucócitos e
neutrófilos; atualmente temos outros marcadores com mais utilidade - pCr e PCT
A abordagem alterou-se com a modificação de fatores epidemiológicos: ↓ incidência de bacteriemia por SGB (profilaxia
intraparto), melhoria do DPN de malformações urinárias e ↓ incidência de bacteriemia por pneumococo (vacinação)
Nos lactentes com 1-3M e critérios clínicos e analíticos de baixo risco, a prevalência de IBPG e IBI é ≈0,2%
e a afeção do estado geral é o critério clínico mais importante
Etiologias bacterianas mais frequentes
E. Coli e outras enterobacteriaceas
Listeria monocytogenes
Enterococcus
Streptococcus pneumoniae
Streptococcus do grupo B
Neisseria meningitidis
Haemophilus influenzae
Os agentes maternos podem ser
causa de IBPG até aos 3 meses
FSF 1-3M - Diagnóstico D
Completado com PUP
MD
53
História Clínica
Antecedentes perinatais
Prematuridade
Internamentos prévios
AB prévia
Contexto epidemiológico
Exame objetivo
1 ponto
(normal)
3 pontos
(alteração moderada)
5 pontos
(alteração grave)
Esforço
respiratório
Normal Dificuldade respiratória (tiragem,
gemido, FR >60cpm)
Dif. respiratória com esforço
inadequado (fadiga), apneia
Perfusão
periférica
Rosado, extremidades quentes Extremidades frias, pele
marmoreada
Palidez, choque
Aspeto Sorri, irritabilidade Irritado mas consolável Irritado, inconsolável
Ponto de corte: 7 pontos » sensibilidade 76%, especificidade 75%, VPN 96% para IBPG
Procurar sinais de alarme e foco para a febre
Avaliar gravidade » Young Infant Observation Scale (critérios clínicos de baixo risco)
FSF 1-3M - Diagnóstico DMD
54
DDx de “ar séptico” antes dos 3 meses:
“Ar séptico”
Má perfusão periférica
Taquicardia
Taquipneia
Cardiopatias
Maus tratos
Desidratação
Abdómen agudo
Doenças metabólicasOutros traumatismos
FSF 1-3M - Diagnóstico DMD
55
MCDs
Hemograma (contagens e índice infecioso)
Hemocultura
pCr
PCT
Tira-teste de urina
Urocultura
<3 meses + ar doente
<3 meses + BEG
Estudo completo de sépsis
Incluindo ponderar PL, RX tórax e coprocultura
Decidir sobre necessidade de PL em função dos resultados dos MCDs,
história clínica e observação
Critérios analíticos de baixo risco
Leucócitos 5000-15000
Total de neutrófilos <10000
Índice infecioso <0.2
pCr <2 mg/dL
PCT <0,5 ng/mL
Tira-teste de urina negativa
Critério clínico de baixo risco Pontuação ≤7 na escala YIOS
FSF 1-3M - Abordagem
56
TGD
Alta sem AB
Cumpre todos os critérios de baixo risco(clínicos e analíticos)
Família/ cuidadores adequados
Possibilidade de reavaliação por pediatra em 24h
Boa tolerância oral
Facilidade de acesso ao hospital
Não cumpre algum dos critérios acima
Internamento
Vigilância sem AB
AB empírico
» ponderar repetir av. analítica
para ver evolução
FSF 1-3M - Abordagem
57
AB empírica
ITU em <3 meses Ampicilina EV (100 mg/kg/d a cada 6h) + Gentamicina EV (4mg/kg a cada 24h)
Pneumonia em <3 meses Ampicilina EV (100 mg/kg/d a cada 6h) + Cefotaxime EV (100mg/kg/d a cada 8h)
FSF com LCR inocente Ampicilina EV (50 mg/kg/dose a cada 6h) + Gentamicina EV (4mg/kg a cada 24h)
FSF com LCR alterado
ou suspeita clínica de meningite
Ampicilina EV (50 mg/kg/dose a cada 6h) + Cefotaxime EV (50-75mg/kg/dose a cada 6h)
Ponderar adicionar vancomicina se suspeita de gram-positivos
TGD
FSF dos 3-36 meses
58
FSF 3-36M - Diagnóstico DMD
59
Incidência de IBPG oscila entre 5 e 7%, sendo a mais frequente a ITU
>50% dos episódios febris ocorrem entre os 6 e os 24 meses
Os marcadores clínicos e biológicos de IBPG mais importantes são
o estado geral, o grau de elevação da temperatura e os valores de pCr
Nesta faixa etária existe risco aumentado de infeção por microrganismos com cápsula polisacarídica
Por exemplo: S. pneumoniae, Hib, N. meningitidis e Salmonella não tifoide
Nos primeiros meses de vida, a IgG materna adquirida por via placentar garante a imunidade contra estes microrganismos, mas ao
desaparecer gradualmente de circulação o risco de infeção aumenta
Incidência de IBPG diminuiu muito com a introdução das vacinas anti-Hib e anti-S. pneumoniae
Incidência de bacteriemia oculta:
Se vacinados com anti-Hib e anti-S.pneumoniae, FSF e bom ar: <0.2%
Se vacinados com anti-S. pneumoniae: <0.25-0.5%
Se vacinados com anti-S. pneumoniae e leucocitose >15.000: <1.5-3% (várias infeções virais causam leucocitose)
É essencial determinar o estado vacinal!
Completado com PUP, NEP e NOC
FSF 3-36M - Diagnóstico DMD
60
Fatores de risco para
bacteriemia oculta
T≥39ºC
Leucócitos ≥ 15000/uL e
N.º absoluto de neutrófilos aumentado
N.º de bastonetes aumentado
Proteína C reativa aumentada
VS aumentada
Nenhuma combinação de fatores demográficos, clínicos ou laboratoriais permite prever de forma fiável a
probabilidade de bacteriemia oculta
Habitualmente a bacteriemia oculta, em crianças saudáveis, é transitória e autolimitada; nalgumas crianças
pode corresponder à fase inicial de uma infeção localizada e não um a estado transitório
Bacteriemia
oculta
= hemocultura positiva* para bactéria patogénica num doente febril
sem ar gravemente doente e sem foco de infeção (exceto otite média)
NEP e NTP
* Atenção: habitualmente a suspeita de bacteriemia oculta ocorre antes de se conhecer o resultado da hemocultura
FSF 3-36M - Diagnóstico DMD
61
NEP e NTP
Bacteriemia
oculta
= hemocultura positiva* para bactéria patogénica num doente febril
sem ar gravemente doente e sem foco de infeção (exceto otite média)
Abordagem
Crianças com bom estado geral podem ser vigiadas em ambulatório, sem AB empírico
Em alternativa, pode optar-se por tratar com ceftriaxone IM
Deve ser sempre mantido follow-up durante 72h, com reavaliação em 24h ou antes se
agravamento clínico, mesmo que seja feito tratamento com AB
Quando se confirma a hemocultura positiva, a criança deve ser reavaliada imediatamente, deve ser
repetida hemocultura e deve ser ponderada PL e início de AB empírico
* Atenção: habitualmente a suspeita de bacteriemia oculta ocorre antes de se conhecer o resultado da hemocultura
FSF 3-36M - Diagnóstico DMD
62
Exame objetivo
1 ponto
(normal)
3 pontos
(alteração moderada)
5 pontos
(alteração grave)
Choro Sem choro/ choro em tom normal Queixoso/ soluçante Choro fraco ou gritado
Reação aos pais Consolável ao colo Choro intermitente Choro contínuo, inconsolável
VigíliaVígil Se vígil, vai fechando os olhos; se
adormecido, demora a reagir
Não adormece ou não acorda
Cor Rosado Extremidades pálidas/ acrocianose Pálido, cianótico, acinzentado
HidrataçãoHidratado Pele e olhos normais, boca
ligeiramente seca
Pele e mucosas secas, prega
cutânea, olhos encovados
RespostaSorri, alerta Sorri ou alerta por períodos Não sorri, não fixa atenção, fácies
ansioso ou inexpressivo
BEG: <11 pontos, estado geral razoável: 11-15 pontos, mau estado geral: >15pontos
Procurar sinais de alarme e foco para a febre, mas não valorizar sinais inespecíficos ou ligeiros como origem da febre
Avaliação do estado geral dos 3-36 meses » Escala de Yale
A partir dos 3 meses a avaliação clínica tem maior sensibilidade e quando é normal não é obrigatório fazer análises
O grupo entre os 3 e os 6 meses é o que tem maior incidência de meningite bacteriana
A temperatura correlaciona-se com a incidência de IBPG, contudo o VPP é baixo
FSF 3-36M - Abordagem
63
TGD
MCDs
Tira-teste de urina » deve ser feita a todos, mas ++ se T > 39ºC
Hemograma, pCr, PCT, +/- hemocultura » se não vacinado ou T >40º
BEG – Yale < 11 pontos
Razoável estado geral – Yale 11-15 pontos
Tira-teste de urina
Hemograma, pCr, PCT, +/- hemocultura » na época endémica, ponderar pesquisa de vírus antes das análises
Estudo completo de sépsis
Mau estado geral – Yale > 15 pontos
FSF 3-36M - Abordagem
64
TGD
BEG Urina sem alterações Vacinação em diaAlta sem AB
Reavaliação pelo médico assistente
BEG Urina sem alterações
Não vacinado
T > 40ºc
ou Avaliação analítica
↑ parâmetros inflamatórios
Sem alterações
Ponderar AB empíricaAvaliar se tem critérios para RX tórax
Ponderar pesquisas rápidas de vírus na época sazonal,
antes da realização de avaliação analítica
FSF 3-36M - Abordagem
65
TGD
Razoável estado geralDecisão de internamento e tratamento de acordo com
resultados de sangue + urina e evolução clínica
Se pCr > 3mg/dL ou PCT >0,5ng/mL recomenda-se iniciar AB
e manter até serem conhecidos os resultados das culturas
Mau estado geral
Suspeita de meningite
Suspeita de sépsis
Internamento + AB empírica
FSF 3-36M - Abordagem
66
TGD
AB empírica
Alta para o domicílioPonderar dose única de ceftriaxone EV ou IM (50 mg/kg) se alterações analíticas
e continuar com Amoxicilina PO (80mg/kg/d a cada 8h) até resultado de culturas
Internamento
por mau estado geralCefotaxime EV (200mg/kg/d a cada 6h) ou Ceftriaxone EV (50-100 mg/kg, max. 4g, a cada 24h)
Ponderar adicionar vancomicina (100 mg/kg/dose a cada 6h)
FSF em >36 meses
67
FSF >36M DMD
68
As infeções bacterianas nesta idade são localizadas
Baixa incidência de bacteriemia oculta
A história e a observação fornecem sinais e sintomas mais específicose permitem orientar a abordagem
A realização de MCDs está indicada se FSF com duração > 3-5d ou FSF com sinais de alarme
GD
Febre e petéquias
69
Febre e petéquias
70
Petéquias
Lesões cutâneas arroxeadas
que se formam por extravasação de glóbulos vermelhos dos vasos sanguíneos
e não desaparecem à digitopressão
<0,3cm
Púrpura
0,3-1cm
Equimose
>1cm
As petéquias podem ser a manifestação inicial de vários processos infeciosos, na sua maioria benignos
2-10% das crianças com febre e exantema petequial terão uma infeção bacteriana grave,
frequentemente meningocócica
Na fase inicial da meningococemia observa-se um exantema maculopapular de aspeto violáceo e profundo em até 30%
dos casos, que pode por vezes ser macular com uma petéquia no centro da mácula
Inicialmente pode ter pouco impacto clínico: entre 25-50% dos doentes têm alta na 1ª ida à urgência
A contagem de leucócitos, ao contrário das bacteriemias por pneumococo, costuma ser normal
Aula Doenças exantemáticas
DMD
Febre e petéquias
71
A etiologia do exantema petequial permanece desconhecida em até 45% dos casos
Em 23% podem ser petéquias de esforço
Em 11% podem ser secundárias a infeções virais(enterovirus, adenovírus, CMV, EBV, HHV6, …)
Em 17% podem ser secundárias a infeções bacterianas(++ N. meningitidis, S. pneumoniae, S. pyogenes, Hib, Rickettsia)
Outras causas: púrpura de Henoch-Schönlein, vasculite, trombocitopenia, endocardite
Se febre e petéquias com >48h de evolução, BEG e petéquias apenas supramamilares, a
probabilidade de doença meningocócica é mínima
DMD
Febre e petéquias D
72
GD
Critérios clínicos de ↑ risco Alteração do estado geral
Irritabilidade/ Letargia
Má perfusão (TRC >2 s)
Exantema generalizado
Aumento rápido do n.º de lesões
Critérios analíticos de ↓ risco Leucócitos <15000
Neutrófilos (total) <10000
PCR < 3 mg/dL
PCT > 0,5 ng/mL
Coagulação normal
Se risco clínico ou analítico
de doença meningocócica:
Punção lombar
AB empírico
Cefotaxime EV (200mg/kg/d a cada 6h) ou
Ceftriaxone EV (100mg/kg/d, q24h, max 4g/d)
Internamento
em UCI ou enfermaria(dependendo do quadro)
Febre e petéquias D
73
GD
Febre e petéquias
Sim
ABC
Hemograma + pCr e PCT +
coagulação + gasimetria
Ponderar PL
AB empírica (cefotaxime ou
ceftriaxone)
Internamento (ponderar UCI)
Alteração do
estado geral?Não
Risco de
exantema purpúrico?Sim
Hemograma + pCr e PCT +
coagulação + gasimetria
Observação na urgência
durante 6h
Deterioração clínica ou
alterações analíticas?
Não
Petéquias
<2 mm
isoladas
Petéquias de
esforço ou
axilares na
escarlatina
Observação
2-4h
Deterioração
clínica?
Sim
Alta. Tratamento da doença de base
Vigilância no domicílio
Controlo com médico assistente em 24h
Não
AB empírica (cefotaxime ou ceftriaxone)
Ponderar PL
Internamento (ponderar UCI)
Sim Não
Febre e vacinas
74
Febre e vacinas D GD
75
NOC cuidadores
As vacinas podem induzir febre
Ocasionalmente pode ser necessário perceber se uma vacina recentemente administrada pode ou não ser a
responsável pela febre:
− É necessário ter em conta se se tratam de vacinas “vivas” ou de vacinas “mortas”
− Não esquecer que as crianças frequentemente fazem vacinas mortas e vivas em simultâneo, em especial
após o primeiro ano de vida (ex.: aos 12 meses: vacina anti-meningocócica, anti-pneumocócica e VASPR)
A febre não deverá ser atribuída a vacinas nas seguintes situações:
Vacinas mortas Vacinas vivas
Início de febre <4h ou >24h após vacina
Febre com duração >24h
T axilar máxima >39,5ºC
Grande irritabilidade e/ou prostração
Presença de exantema (qualquer tipo)
Início de febre antes do 5º dia após ou depois do 12º
dia após a vacina
Grande irritabilidade e/ou prostração.
Aula PNV
Febre e vacinas D GD
76
NOC cuidadores
Febre em doentes de risco
77
Febre em doentes de risco
Febre na criança com anemia falciforme
NEP e NTP
Têm função esplénica diminuída, o que as deixa em particular risco para bacteriemia por falta dos
mecanismos de opsonização properdina-dependentes, sobretudo nos primeiros 5 A de vida
Todas as crianças com anemia falciforme e febre (+++ se T >40º C), com ar doente ou leucócitos
<5000/uL ou >30000/uL devem ser internadas sob AB empírica
Crianças com anemia falciforme e febre sem estes sinais de alarme devem colher hemocultura, iniciar AB
empírica com ceftriaxone e manter vigilância clínica apertada
Osteomielite por Salmonella ou S. aureus é mais frequente em crianças com anemia falciforme
A hemocultura nem sempre é positiva na presença de osteomielite
78
Febre em doentes de risco
79
Febre na criança com imunodeficiência primária
As crianças com IDP frequentemente recorrem aos serviços de saúde por febre e infeções
Abordagem:
1. Conhecer o tipo de IDP, tratamento, profilaxias e vacinações
2. Questionar sobre infeções prévias e resultados de culturas anteriores
3. Anamnese e observação exaustivas, com atenção às infeções mais frequentes consoante o tipo de IDP
4. Utilizar adequadamente MCDs microbiológicos, colhendo amostras de acordo com as infeções mais
frequentes consoante o tipo de IDP (atenção: não pedir estudos serológicos em crianças com
agamaglobulinemia ou ID combinadas porque não produzem anticorpos)
5. Iniciar AB empírico de largo espectro em crianças com ID combinadas graves
O diagnóstico precoce é essencial nas crianças com ID combinadas graves que se apresentem com febre,
dificuldade respiratória ou suspeita de infeção
As crianças com agamaglobulinemia devem ser consideradas “não vacinadas” na decisão de AB empírico
As crianças com ID variável comum apresentam frequentemente complicações não infeciosas (citopenias
autoimunes, pneumonite intersticial linfoide ou organomegalias)
Febre em doentes de risco
80
Febre na criança com imunodeficiência primária
Classificação das IDPs e infeções mais frequentes em cada
Deficiência predominante
de anticorpos
Agamaglobulinemias – infeções respiratórias bacterianas (S. pneumoniae, H. influenzae), gastroenterites,
meningoencefalites graves (enterovírus), infeções osteoarticulares (Mycoplasma, S. aureus, S. pyogenes)
Imunodeficiência variável comum – infeções semelhantes às agamaglobulinemias
Défice de IgA – maioria são assintomáticas; algumas com infeções respiratórias leves
Imunodeficiências
combinadas
Défice de linfócitos T e B; existem múltiplas doenças neste grupo que são classificadas pela gravidade
Grave – pneumonite intersticial (adenovírus, parainfluenza, VSR, etc.), sépsis bacterianas, infeções
disseminadas virais graves, candidíase mucocutânea, gastroenterite crónica
Defeitos do fagócito D. granulomatosa crónica – adenites bacterianas e micobacterianas, infeções da pele e partes moles,
abcessos profundos e viscerais, osteomielites bacterianas e fúngicas, pneumonias complicadas
Neutropenias congénitas – infeções bacterianas graves precoces
défice de adesão leucocitária – infeções bacterianas sem pús, sépsis bacterianas
Défices do complemento C5 a C9 – meningite, sépsis meningocócica e pneumocócica, infeções sinusais e pulmonares recorrentes
C4 e C2 – infeções respiratórias por pneumococo e H. influenzae
C3 – doença pneumocócica invasiva
Outras IDs: síndromes com ID (Wiskott-Aldrich, ataxia-telangiectasia, DiGeorge, …), doenças autoinflamatórias, sínd. linfoproliferação e
desregulação, defeitos congénitos da imunidade inata
Febre em doentes de risco
81
Febre e neutropenia
Neste grupo incluem-se:
− Crianças dom doença hematoncológica e contagem absoluta de neutrófilos ≤ 0,5 x 109/L ou contagem ≤
1 x 109/L mas previsão de diminuir para ≤ 0,5 x 109/L nas 48h seguintes (neutropenia induzida por
quimioterapia)
− Crianças sem doença oncológica e contagem absoluta de neutrófilos ≤ 1 x 109/L (neutropenia não
induzida por quimioterapia)
Além da febre, valorizam-se sinais ou sintomas de infeção associados a neutropenia, nomeadamente
hipotermia, hipotensão, confusão ou outra alteração da consciência, deterioração do estado geral
Febre em doentes de risco
82
Febre e neutropenia no doente oncológico
1. Anamnese e observação exaustivas
− Com atenção à doença de base, tratamentos recebidos, sintomas de novo, profilaxias, exposição a
infeções, cateteres centrais
2. MCDs
− Obrigatórios: hemograma, f. renal, f. hepática, ionograma e pCr, culturas de todos os cateteres centrais
− Ponderar: hemoculturas periféricas, urocultura (++ se ♀ ou <5 A), vírus respiratórios, RX tórax, ecografia ou RX
abdominal, PL, pesquisa de C. difficile, aspiração ou biopsia de lesões cutâneas
3. Tratamento precoce com AB de largo espectro
− Cefepime, meropenem ou piperacilina-tazobactam
− Existem indicações específicas para intensificar o tratamento e cobrir gram-positivos, outros gram-negativos, anaeróbios,
fungos
4. Tratamento com G-CSF – não existem recomendações unânimes
− Não deve ser feito em doentes sem diagnóstico, que tenham recebido quimioterapia nas 24-48h anteriores, em leucemias
agudas em indução ou sem remissão medular
− Não é necessário se tiver sido administrado pegfilgrastim nas 3 semanas anteriores
Febre em doentes de risco
83
Febre e neutropenia sem doença oncológica ou quimioterapia
Ao contrário do doente oncológico, não existem indicações definidas para a abordagem
A anamnese e observação e os MCDs devem ser idênticos aos do doente oncológico
O risco de infeção não é comparável em todas as entidades que cursam com neutropenia, depende do grau de
neutropenia, da duração, da função dos fagócitos, da reserva funcional medular e da integridade dos restantes componentes
do sistema imunitário
− Os doentes de baixo risco podem ser tratados em ambulatório, ajustando de acordo com a necessidade
e escolhendo a terapêutica em função da idade e clínica
− Nos doentes de risco intermédio deve ser tido em conta o foco infecioso; alguns casos podem ser
seguidos em ambulatório; na ausência de foco infecioso, deve optar-se por AB de largo espectro
administrada em meio hospitalar
− Nos doentes de alto risco, a abordagem é equiparável à do doente oncológico
Tratamento com G-CSF – nos doentes que não fazem este tx profilaticamente, pode iniciar-se a
administração nos casos de infeção complicada ou que necessite de tratamento hospitalar
Febre em doentes de risco
84
Febre e neutropenia sem doença oncológica ou quimioterapia
Categoria Situação Causa da febre Disposição Tratamento
Risco
baixo
Saudável, neutropenia isoladaQualquer, ++ infeção viral Ambulatório De acordo com clínica e idade
Neutropenia pós-infeciosa
Risco
moderado
Neutropenia crónica idiopática
ou autoimune
IVRS, OMA, infeção da pele e
tecidos moles, abcessosAmbulatório
AB oral
Ponderar G-CSF
Pneumonia, celulite orbitária,
meningite, sépsis, infeção
complicada prévia
HospitalarAB EV
G-CSF
Neutropenia cíclica
Lesões orais, gengivite,
amigdalite, linfadenopatiaAmbulatório De acordo com clínica
Bacteriemia, celulite, OMA,
sinusite, pneumonia, infeção
complicada prévia
Hospitalar AB EV
Risco alto
Neutropenia congénita grave
Qualquer, semelhante a
neutropenia induzida por
quimioterapia
HospitalarAB EV
G-CSF
Sínd. de falência medular
Neutropenia + mau estado geral
Associada a quimioterapia
Febre em doentes de risco
85
Febre na criança com VIH
Causas de febre sem foco no doente com VIH
Infeções
Virais habituais
Bacterianas habituais
Oportunistas – quando CD4 <200 ou <25% (em <6 A): TB, fungos, Toxoplasma, …
Neoplasias Linfoma não-Hodgkin
Secundária a fármacos
Sínd. de reconstituição imunológica
Febre em doentes de risco
86
Febre na criança com VIH
Abordagem:
1. Anamnese e observação exaustivas, procura ativa do foco
2. Rever a observação anterior e as últimas análises
− Se CD4 >200 ou 25%: MCDs de acordo com as causas habituais da população geral, com atenção
especial a TB e linfoma não-Hodgkin
− Se CD4 <200 ou 25%: DDx alargado
− Se CD4 <15%: internamento
3. MCDs
− Se imunodepressão ou mau estado geral: hemograma, bioquímica completa, pCr, PCT, hemoculturas
(bactérias, micobactérias e fungos)
− Urocultura, coprocultura, cultura de expetoração – de acordo com sintomas
− RX tórax
− Se imunodepressão grave: fundoscopia
− Se doente vindo de zona endémica de malária: gota espessa e teste rápido
Febre em doentes de risco
87
Febre na criança com VIH
Tratamento
BEG + controlo adequado com CD4 >25%: tx igual ao da população geral, dirigido à causa, e seguimento em
consulta de Infeciologia se necessário alargar investigação
BEG mas suspeita de infeção bacteriana: AB empírica e reavaliação em consulta de Infeciologia
Alteração do estado geral, imunodepressão grave ou suspeita de infeção bacteriana grave: internamento
+ AB EV específica para o foco
Febre em doentes de risco
88
Febre na criança que viajou
Definições
Febre na criança que viajou – episódio febril em relação com uma viagem a uma zona tropical, na maioria dos
casos nas primeiras 4-6 semanas após o regresso, ainda que possa surgir mais tarde
− Na maioria dos casos são doenças ligeiras e autolimitadas, mas podem implicar riscos para a saúde individual e pública
− As infeções são a principal causa de morbilidade numa viagem, mas causam apenas 2-3% da mortalidade
Classificação dos viajantes:
− Turistas – viajantes que regressam de uma zona tropical, frequentemente com bom contexto
socioeconómico e bom estado nutricional
− Imigrantes ou adotados – crianças que nasceram numa zona tropical e se mudam para o país onde são
observados, apresentam habitualmente condições socioeconómicas, sanitárias e nutricionais precárias
− Visiting friends and relatives – filhos de imigrantes que voltam ao país de origem em visita durante as
férias; apresentam alto risco de infeções tropicais porque: (1) nem sempre fazem consulta do viajante e,
mesmo quando fazem, (2) raramente cumprem as recomendações e profilaxias, (3) convivem com a
população local e consomem os mesmos produtos e (4) ficam durante muito tempo no destino tropical
Febre em doentes de risco
89
Febre na criança que viajou
Períodos de incubação
Curto (<1 semana) Médio (1-3 semanas) Longo (>3 semanas)
Arboviríase*
Bactérias entéricas
Febre paratifoide
Febres hemorrágicas
Gripe
Peste
Rickettsioses
Malaria
Febre tifoide
Brucelose
D. de Lyme
Febre Q
Leptospirose
Rickettsioses
Tripanosomíase africana
Doenças por vírus hemorrágicos
Malaria
Tuberculose
Abcesso hepática amebiano
Schistosomíase aguda
Filaríase
Hepatites virais
Leishmaníase visceral
Tripanosomíase americana
*Dengue pode ter um período de incubação até 14d
Diagnóstico diferencial de acordo com o momento de aparecimento da febre
Febre em doentes de risco
90
Febre na criança que viajou
Exposição Microrganismos frequentes Microrganismos menos frequentes
Alimentos mal cozinhados Salmonella não typhi Vibrio cholerae, Trichinella, Entamoeba
Água não potável Vírus Hepatite A, Salmonella não typhi Vibrio cholerae
Ingesta de lácteos não pasteurizados Brucella, micobactérias atípicas Salmonella, Shigella, Listeria, Coxiella
burnetti
Banhos em água doce Schistosoma Leptospira interrogans
Contacto com animais Brucella, Coxiella burnetti Vírus da raiva, Francisella tularensis,
Yerisinia pestis
Picadas de insetos Plasmódio, vírus do dengue, Rickettsia,
vírus de chikungunya
Francisella tularensis, Trypanosoma
Contacto com doentes Neisseria meningitidis, Mycobacterium
tuberculosis
Arenavirus, Filoviridae, Bunyaviridae,
Flavivirus
Diagnóstico diferencial de acordo com a atividade de risco
Febre em doentes de risco
91
Febre na criança que viajou
Icterícia Malária, hepatites virais, leptospirose, amebíase, tuberculose, febre tifoide, tifo, febres
hemorrágicas
Linfadenopatias Tuberculose, rickettsiose, brucelose, leishmaníase visceral, tripanossomíase
Hepatomegalia Malária, hepatites virais, abcesso amebiano, febre tifoide, leptospirose, brucelose, schistosomíase
Escaras Tifo, rickettsiose, borreliose
Petéquias/ púrpura Meningococemia, dengue, chikungunya, febres hemorrágicas
Exantema macular Febre tifoide
Eritema migrans D. de Lyme
Manif. hemorrágicas Dengue, meningococemia, febres hemorrágicas, leptospirose, febre das montanhas rochosas
Sintomas respiratórios Gripe, pneumonia bacteriana típica, pneumonias atípicas, tuberculose, histoplasmose, febres
hemorrágicas, quisto hidático, malária, síndrome de Löffler
Diarreia Enterobacterias, vírus entéricos, parasitoses intestinais, malária, febre tifoide, cólera, ciclosporíase,
disenteria, viroses (rotavírus, norovírus)
Manif. Neurológicas Malária, meningococemia, tripanossomíase africana, raiva, arboviríase
Diagnóstico diferencial de acordo com apresentação clínica
Febre em doentes de risco
92
Febre na criança que viajou
Diagnóstico diferencial de acordo com o destino:
Mapas de distribuição de doenças: https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2020/list/maps
Recomendações para viajantes e clínicos: https://wwwnc.cdc.gov/travel/destinations/list ,
https://www.who.int/ith/en/ , https://www.fitfortravel.nhs.uk/destinations.aspx
Alertas sanitários: https://promedmail.org/
A anamnese é essencial no DDx e os dados da viagem permitem orientar o diagnóstico final
− Explorar cuidadosamente destinos nos 12 meses anteriores, itinerário dentro dos países, estação do ano,
altitude, tipo de alojamento, atividades, alimentação, vacinação, profilaxias
− Não esquecer as rotas de viagem e as escalas
− Consultar sempre os links acima para informações e alertas recentes nos destinos da viagem
− Descrever detalhadamente cada sintomas e sinal
Febre em doentes de risco
93
Febre na criança que viajou
Abordagem
MCDs: 1ª linha para orientar o diagnóstico e excluir causas graves; 2ª linha de acordo com sintomas e sinais
1ª linha 2ª linha
Hemograma e coagulação
Função renal e função hepática
pCr
Hemocultura/ urocultura
Gota espessa e teste rápido para plasmódio
Coproculturas e exame parasitológico das fezes (3 amostras)
Mantoux
RX tórax
Serologias: arbovírus, rickettsias, helmintas, hepatites
Teste rápido para dengue
Parasitas na urina (Schistosoma)
Fezes frescas (ameba)
Parasitas no sangue (microfilarias) e na pele (filarias)
PCR plasmódio
Culturas de acordo com sintomas
Baciloscopia, cultura de micobactérias, IGRA
Medulograma (leishmaníase)
Exames de imagem de acordo com suspeita
Febre em doentes de risco
94
Febre na criança que viajou
Abordagem
Critérios de internamento:
− Gravidade clínica: hemorragia, instabilidade hemodinâmica, desidratação, dificuldade respiratória ou
alterações neurológicas
− Intolerância oral
− Risco social
− Suspeita de doença infeciosa com necessidade de isolamento
− Doença de base que predisponha a doença mais grave
− Suspeita ou confirmação de malária, sobretudo em doentes com critérios de malária grave, P. falciparum,
intolerância oral ou idade <3 A
− Suspeita ou confirmação de dengue com sinais de alarme ou hemorragia
Tratamento dirigido à causa
Devem manter seguimento em consulta de especialidade todos os casos cuja etiologia não fique esclarecida, bem
como os que necessitem de vigilância clínica mas não apresentem critérios de internamento
Febre em doentes de risco
95
Febre na criança com cateter central
Os cateteres centrais podem infetar-se no momento da inserção ou posteriormente durante a manipulação; mais raramente podem
ser infetados por extensão de infeção local, via hematogénea ou fluidos contaminados
Definições
− Colonização de cateter: crescimento significativo de microrganismos na cultura da ponta do cateter, do trajeto subcutâneo ou
do reservatório, na ausência de sinais de infeção sistémica ou local
− Infeção do local de inserção: sinais locais de infeção no ponto de inserção, sem hemocultura positiva
− Infeção clínica do local de inserção ou infeção do túnel: infeção do trajeto subcutâneo do cateter, mais de 2cm acima do
local de inserção
− Infeção possivelmente relacionada com o cateter: crescimento significativo de microrganismos na cultura da ponta do cateter
numa criança com infeção local ou sistémica e sem outro foco de infeção, com ou sem hemocultura positiva
− Bacteriemia/ fungemia relacionada com cateter: hemocultura periférica positiva + 1 dos seguintes: cultura da ponta do
cateter positiva para o mesmo microrganismo ou hemocultura extraída do cateter central positiva para o mesmo microrganismo
e com crescimento superior (rácio >3:1 central: periférico) ou hemocultura extraída do cateter central positiva para o mesmo
microrganismo e positivando >2h antes da cultura de sangue periférico (têm de ser amostras extraídas ao mesmo tempo e com o mesmo
volume de sangue) ou pús no local de inserção do cateter com crescimento do mesmo microrganismo
− Bacteriemia/ fungemia relacionada com o líquido de infusão: isolamento do mesmo microrganismo no líquido administrado
e na hemocultura, na presença de infeção sistémica (extremamente raro hoje em dia)
− Bacteriemia/ fungemia por disseminação hematogénea: isolamento do mesmo microrganismo no cateter e na hemocultura,
na presença de foco infecioso não relacionado com o cateter (situação excecional)
Febre em doentes de risco
96
Febre na criança com cateter central
Abordagem
MCDs (recolher amostras antes do início de AB se o doente estiver estável)
− Esfregaço da ponta do cateter
− Hemoculturas - via central e punção periférica em simultâneo e com o mesmo volume de sangue; ponderar
repetir às 72h para controlo; se cateter multilúmen, colher amostras de todos os lúmens
− Cultura da ponta distal do cateter, se for removido
Critérios para remover o cateter (ponderar sempre se o cateter ainda é necessário ou se pode ser removido, mesmo
nos casos de infecção local ou sem sinais de gravidade)
− Via central não necessária
− Sépsis grave sem outra origem provável
− Infecção clínica da ponta do cateter
− Tromboflebite séptica
− Endocardite
− Êmbolos à distância
− Bacteriemia persistente >48-72h após início de AB
− Infecção por Candida spp., bacilos gram-
negativos, micobactérias, enterococos,
microrganismos multirresistentes ou S. aureus
Febre em doentes de risco
97
Febre na criança com cateter central
Abordagem
Tratamento
− Rever critérios para remoção do cateter e necessidade de cateter
− AB empírico precoce nos casos de sépsis grave ou choque, imunodeprimidos, neutropénicos, cardiopatas,
portadores de corpos estranhos e/ou nos casos de infecção supurada
− AB empírico dirigido aos microrganismos frequentes da instituição e passar a AB dirigido quando forem
conhecidos os resultados da hemocultura e do TSA
− A duração de AB dependerá da evolução do doente, tipo de microrganismo, tipo de infecção, negativação
das culturas e aparecimento de complicações
Febre prolongada
98
Definições
99
MD
Febre de origem
indeterminada
(FOI)
Casos de febre durante um período > 8 d sem diagnóstico aparente
após investigação (hospitalar ou ambulatória) extensa
Síndrome febril
prolongado
Situação em que a duração da febre excede o esperado para o diagnóstico clínico
Curso de doença mais prolongado que o habitual, com sintomas inespecíficos que
interferem com as atividades da vida diária
FOI - Etiologia DMD
100
Em idade pediátrica deve-se frequentemente a situações benignas e autolimitadas,mas a FOI pode ter causas bacterianas graves
Muitas vezes causada por patologias comuns com apresentação atípica ou incompleta
Em até 30% dos casos não se descobre a origem da febre;
nos restantes 70% as principais etiologias são:
infeções (38%), doenças do tecido conjuntivo/ inflamatórias não infeciosas (13%) e neoplasias (6%)
A incidência diminui com o aumento da idade
A patologia infeciosa é mais frequentemente causa de FOI nos primeiros anos de vida
(até 2/3 das infeções que causam FOI ocorrem <2 A)
Quanto maior a idade do doente e maior a duração da febre,
mais prováveis são as etiologias inflamatória ou neoplásica
Em muitos casos a FOI é consequência de um diagnóstico tardiopor anamnese, observação ou exploração iniciais insuficientes
FOI - Etiologia DMD
101
Infeções Bacterianas
Localizadas: PNA, sinusite, mastoidite, pneumonia, abcessos, osteomielite,
endocardite
Sistémicas: tuberculose, brucelose, bartonelose, leptospirose, febre Q, doença de
Lyme, salmonelose, tularemia
Virais: EBV, CMV, hepatite, VIH, adenovírus, enterovirus, dengue, …
Fúngicas: blastomicose, histoplasmose, coccidioidomicose
Parasitárias: leishmaníase, malária, toxoplasmose, larva migrans visceral
Doenças do tecido conjuntivo Artrite idiopática juvenil, LES, poliarterite nodosa
Oncohematologia Leucemia, linfomas, tumores sólidos, sínd. hemofagocítico, sínd. mielodisplásicos,
histiocitose
Outras Febre medicamentosa, febre factícia, doença de Kawasaki, doença inflamatória intestinal,
síndrome de Munchausen, febre central, febre periódica, imunodeficiência primária, febre
metabólica/ endocrinológica (desidratação, hipertiroidismo)
FOI - Etiologia DMD
102
Infeções
Em países desenvolvidos, o EBV tem especial importância; em países em vias de desenvolvimento, malária e febre tifoide
A FOI pode ser causada por infeções bacterianas graves
A tuberculose miliar, a doença da arranhadela do gato (Bartonella henselae) e a leishmaníase visceral são patologias menos
frequentes mas que requerem uma alta suspeição
Doenças do tecido conjuntivo
A forma sistémica de artrite idiopática juvenil é o principal diagnóstico a considerar neste grupo
Neoplasias
80% das causas malignas de FOI são leucemias agudas e linfomas, frequentemente com sintomas musculoesqueléticos
Outras
Considerar sempre febre medicamentosa, febre factícia, febre periódica, febre central (hipertermia) e doença de Kawasaki
Nos casos de (1) FOI e febres prolongadas secundárias a infeções que habitualmente têm um curso mais ligeiro, (2) de
febre intermitente ou (3) de crianças com infeções e/ou febres recorrentes (com ou sem infecção), antes de mais temos de
excluir síndromes de febre periódica e imunodeficiências primárias
As imunodeficiências primárias manifestam-se com citopenias, esplenomegalia, adenopatias ou sínd. hemofagocítico:
− As imunodeficiências primárias mais frequentes que se apresentam com FOI (associada ou não a infecção ativa) são a
imunodeficiência variável comum e a doença granulomatosa crónica
− As imunodeficiências primárias mais associadas a síndrome hemofagocítico são as imunodeficiências combinadas e a
doença granulomatosa crónica
FOI - Diagnóstico DMD
História Clínica
Características da febreInício
Duração
Intensidade
Padrão
Calendário de sintomas
A intensidade da febre não se relaciona com a gravidade do quadro!
Sintomas associados− Cefaleias, diarreia, vómitos, exantema, artralgia, dor abdominal ou óssea,
astenia, anorexia ou perda ponderal
Antecedentes pessoais e familiares− Raça/ etnia, consanguinidade, doenças, prévias, medicação,
intercorrências (vacinação, traumatismos, …)
Contexto epidemiológico− Contacto com doentes infectocontagiosos, exposição a animais, viagens
internacionais (destino, profilaxias e cumprimento), consumo de alimentos
(lácteos não pasteurizados, carnes, mariscos)
Padrão intermitente
Pico febril súbito com recuperação rápida
Ex.: infeções bacterianas, tuberculose, AIJ
Padrão remitente
Picos febris com temperatura basal sempre elevada
Ex.: viroses, endocardites, linfomas
Padrão mantido
Febre persistente com variações mínimas
Ex.: febre tifoide, brucelose
Padrão recidivante
Períodos em que o doente se encontra apirético
Ex.: malária, linfomas, borreliose
Padrão recorrente
Febre seguida de período apirético repetido de forma
frequente, seguindo um padrão previsível durante,
pelo menos 6 meses – síndromes de febre periódica103
FOI - Diagnóstico DMD
104
Exame objetivo
Observação clínica sistemática e minuciosa, de preferência durante um episódio de febre
Reavaliação diária
Exploração por sistemas:
− Pele: cor, sudorese, exantemas, petéquias, lesões nodulares ou vesiculares, hipocratismo digital
− Respiratório: dificuldade respiratória, ruídos patológicos
− Cardiocirculatório: sopros, atritos, arritmias
− Abdómen: adenopatias, organomegalias
− Anogenital: aftas, nódulos
− Cabeça, pescoço, orofaringe: adenopatias, enantema, úlceras, focos infeciosos, alterações dentárias
− Olhos: conjuntivas, dor, fundoscopia
− Neurológico: Glasgow, marcha, sinais meníngeos, sinais focais
− Articular: inflamação, mobilidade, deformações, posturas antálgicas
− Musculoesquelético: pontos dolorosos, tumefações
Exame objetivo – Orientação diagnóstico em função dos achados
FOI - Diagnóstico DMD
105
Exantema Maculopapular EBV, D. de Kawasaki, AIJ, febre tifoide
Purpúrico CMV, endocardite, leucemia, histiocitose, vasculite
Eritema nodoso TB, colite ulcerosa, d. de Crohn, Streptococcus
Asas de borboleta LES, dermatomiosite
Adenopatias Infeções CMV, EBV, tuberculose, bartonelose
D. do tecido conjuntivo LES, artrite reumatoide
Oncohematológicas Linfomas, leucemia, histiocitose
Outras Sarcoidose, imunodeficiências primárias
Esplenomegalia Infeções TB, bartonelose, malária, leishmaníase visceral, endocardite, brucelose, salmonelose
D. do tecido conjuntivo LES, artrite reumatoide
Oncohematológicas Linfomas, leucemia, histiocitose, sínd. hemofagocítico
Outras Imunodeficiências primárias
Artrite Infeções TB, d. de Lyme, brucelose, Yersinia, Staphylococcus
D. do tecido conjuntivo AIJ, artrite reumatoide, LES, febre reumática
Oncohematológicas Leucemias
FOI - Abordagem
106
D GD
MCDs
Se sem diagnóstico após investigação inicial:
Repetir anamnese, observação e ponderar repetir MCDs da avaliação inicial
Ponderar suspender transitoriamente fármacos do doentes
Investigação inicial
Em todos os casos Em casos selecionados de acordo com suspeita
Hemograma
Esfregaço sangue periférico
VS, pCr
Função renal e hepática
Albumina, LDH, ácido úrico
Tira-teste de urina/ análise sumária
RX tórax
Hemocultura e urocultura
Mantoux
Serologia VIH
Serologia EBV, CMV, toxoplasmose
De acordo com contexto epidemiológico: sífilis, VHB,
VH, VHC, Brucella, Bartonella, Coxiella, tularemia
Viagem a zona endémica: malária
Ecografia abdominal
2ª investigação
Estudos imunológicos (fator reumatoide, anticorpos antinucleares, anti-DNA, imunoglobulinas)
Estudo da medula óssea (esfregaço e microbiologia)
Cintigrafias
FOI - Abordagem
107
D GD
MCDs (cont.)
Se sem diagnóstico após 1ª e 2ª investigação
Avaliação do curso da doença
Revisão exaustiva da anamnese e observação
Repetição de MCDs
Ponderar outras provas
Outras serologias
Biópsia ganglionar
RX dos seios perinasais
Investigação ORL
Enema baritado do cólon
TC crânio, seios perinasais e/ou toraco-abdominal
PET-TAC
FOI - Abordagem
108
D GD
BEG Tx não urgente
Evitar tx empírico com anti-inflamatórios ou AB
Investigar
Optar por tx sintomático até esclarecer a etiologia
Alteração do estado geral Tx urgente PET-TAC
Ideal quando é necessário dx urgente e a
restante investigação foi negativa
Capta focos de maior atividade metabólica »
permite detetar infeções ocultas
Situações especiais
Suspeita de AIJ – Iniciar AINE
Suspeita de TB disseminada – Iniciar antituberculosos
Suspeita de D. Kawasaki – Iniciar AAS e imunoglobulina
Suspeita de doença bacteriana grave e deterioração clínica – iniciar AB de largo espectro empírico
AB de largo espectro pode mascarar ou
atrasar o dx de infeções importantes e
↓ a possibilidade de isolar microrganismos
Febre recorrente ou periódica
109
Definições
110
MD
Síndrome febril
periódicoSituação em que ocorrem episódios febris repetidos, ocasionalmente periódicos,
não explicados por causa infeciosa, autoimune ou neoplásica
A causa mais frequente de febre recorrente é a escolarização, principalmente em crianças mais novas
− Na maioria dos casos deve-se a infeções virais repetidas
− Nalguns casos pode motivar a investigação de imunodeficiência
Quando se descartam infeções benignas repetidas, imunodeficiências, neoplasias e doenças autoimunes,
devem considerar-se as causas autoinflamatórias
O PFAPA (periodic fever with aphtous stomatitis, pharyngitis and cervical adenitis) é provavelmente a doença
autoinflamatória mais frequente e é a mais frequente das síndromes de febre periódica na infância
Síndrome PFAPA
111
MD
Etiologia: Desconhecida, mas estão propostos alguns mecanismos de desregulação da resposta imune inata
A identificação do síndrome num dos progenitores e os casos em irmãos sugerem uma base genética, mas ainda não está esclarecida
Apresentação: Frequentemente inicia-se antes dos 5 A e tem uma evolução benigna
Caracteriza-se por crises periódicas (normalmente a cada 3-5 semanas) com duração de 4-6 d de febre alta (39-41ºC),
faringoamigdalite (++ com exsudado), adenopatias cervicais e aftas orais; podem surgir também cefaleia, dor abdominal,
náuseas, vómitos e artralgia sem artrite. O pródromo inclui astenia, diminuição do apetite e tremores/ calafrios.
Os pontos essenciais para o dx são a normalidade entre episódios e o normal crescimento estaturoponderal
Diagnóstico: clínico, após exclusão de outras etiologias da febre
A suspeita surge perante episódios semelhantes, recorrentes e periódicos que se mantêm durante o verão (sem escola)
Na fase aguda importa excluir faringoamigdalite estreptocócica e pode verificar-se ↑ pCr (> 10mg/dL) e leucocitose com
neutrofilia; nos períodos inter crise as análise são completamente normais
Complicações: - remite espontaneamente, sem sequelas, ao fim de anos (++ antes da adolescência)
Tratamento: Prednisolona (0,6-2 mg/kg em dose única no início dos sintomas, repetir no dia seguinte se necessário) – resolve o
episódio rapidamente, mas não previne recorrência e pode diminuir o intervalo entre crises
Alguns estudos mostram resolução completa após amigdalectomia
O tratamento sintomático é semelhante ao da estomatite aguda – alimentos não agressivos, analgesia sistémica e tópica
D GD
Aula IVRS
Síndrome PFAPA
112
Critérios de diagnóstico(consenso internacional 2009)
Febre periódica durante ≥6 meses
- Febre diária >38.5ºC (axilar) durante 2-7 d
- ≥5 episódios de febre recorrente com intervalo máximo de 2 meses entre crises
Faringite, adenite laterocervical, aftas orais:
≥1 em cada episódio e ≥2 na maioria dos episódios
Exclusão de outras causas de febre recorrente
Exclusão de infeções, imunodeficiências e neutropenia cíclica
Início antes dos 6 A
Recuperação completa entre episódios
Crescimento normal
Critério de apoio: resposta rápida aos corticoides
D
Síndrome PFAPA
113
D
Critérios de diagnóstico dos PUP do H. Sta. Maria
Critérios clínicos Critérios de exclusão
>3 episódios documentados de febre com periodicidade
regular, sendo que para cada indivíduo
os intervalos entre crises são semelhantes
Neutropenia imediatamente antes ou durante as crises
Faringite, adenomegalias cervicais ou aftas orais
na fase aguda
Sintomas atípicos importantes na maioria dos episódios(tosse, coriza, dor abdominal intensa, vómitos ou diarreia significativos,
toracalgia, exantema, artrite, conjuntivite, lesões genitais ou sintomas
neuromusculares)
↑ parâmetros inflamatórios em crise
com normalização fora da crisePersistência do ↑ parâmetros inflamatórios fora da crise
Desenvolvimento e crescimento adequados e
sintomas e alterações laboratoriais intercrise de resolução da crise após prednisolona
Resolução da febre algumas horas após 1 ou 2 doses
de prednisolona
PEDIATRIA
Slides: Ana [email protected]
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Abordagem à criança com febre esíndromes febris
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