A Torre de Babel

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A Torre de Babel, por Ed René Kivitz

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A expressão “espiritualidade”, quando usada no ambiente de trabalho e relacionado à atividade pro-fissional, tem múltiplos sentidos. Identificar os dife-rentes sentidos do termo é uma tarefa complexa, pois a expressão espiritualidade é usada a partir de dife-rentes abordagens e referenciais conceituais, baseados nas mais diversas tradições filosóficas e religiosas. O sentido de espiritualidade no mundo corporativo é quase tão abrangente quanto o número de autores que se propõem a defini-lo.

Este ensaio pretende apresentar 10 conceitos de es-piritualidade conforme a literatura referente ao uso do termo no mundo corporativo, sumariados como se-guem, não necessariamente em ordem de importância.

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1. E SPIRITUA LIDA DE C OMO

REL AÇ ÃO C OM UM A FORÇ A SUPERIOR

A revista Você S.A., que em sua 100ª edição faz um resumo dos principais conselhos e conceitos dirigidos aos profissionais contemporâneos, inclui espiritualidade como um dos temas essenciais, definindo-a como “capacidade de pensar, sentir e agir acreditando que existe algo que transcende a matéria.1 Para os pesquisadores Mitroff e Denton, a espiri-tualidade está relacionada à crença no fato de que um poder transcendente, que escapa à compreensão humana, é responsável pela criação e sustentação do universo, bem como pelo sentimento que se ex-perimenta quando se tem consciência da presença desse poder.2 Aburdene cita Cindy, uma veterana de 20 anos na Enron, que chama isso de Espírito Vertical:

“o reconhecimento manifesto de uma organização de sua conexão com um poder superior, o transcendente, Deus, ou a Dimensão Sagrada”.3 Nash e Mclennan crêem na espiritualidade como “acesso à força sagrada

1- Revista Você S.A., edição 100, outubro de 2006, p. 54.2- MITROFF, I. I., DENTON, E. A. A spiritual audit of corpo-

rate America. San Francisco: Jossey-Bass, 1999, p. 24.3- ABURDENE, Patrícia. Megatrends 2010. São Paulo: Rio de

Janeiro: Elsevier, 2006, p. 91.

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que impele a vida”,4 geralmente associada às “forças criativas e geradoras da vida que inspiram espanto, re-verência e extraordinário poder”.5

Esses exemplos são suficientes para evidenciar que para alguns estudiosos a espiritualidade está relacionada com uma força superior, não necessaria-mente uma divindade deísta, isto é, um Deus-deus pessoal. Existe por trás dessa compreensão a idéia de que (1) existe uma força unificadora, ou energia na natureza de todas as coisas; (2) esse poder uni-versal habita cada ser humano, e (3) todos somos capazes de experimentar esse poder.6 Não importa se essa força ou poder recebe o nomem de Deus, Buda, Dão ou simplesmente Força.7 Isso significa que não necessariamente estamos falando do Deus judaico-cristão, muito embora alguns, como o clérigo católico Gregory Pierce, a espiritualidade é “uma tentativa disciplinada de alinharmos nós mesmos e nosso ambiente com Deus e encarnarmos (tornar

4 - NASH, Laura L. Igreja aos domingos, trabalho às segundas: o desafio da fusão de valores cristãos com o mundo dos negócios. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003, p. 32.

5- Ibid., p. 30.6- ASHAR, H., e LANE-MAHER. Success and Spirituality in

the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, 249-60 (2004).

7- Ibid.

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físico, fazer real, materializar) o espírito de Deus no mundo”.8

2 . E SPIRITUA LIDA DE C OMO

E S TA DO DE SER E OU DE E SPÍRITO

Schimidt-Wilk define espiritualidade como “um domínio pessoal, interior e profundo dentro de nós que podemos experimentar como um estado de extraordinária quietude e felicidade, ou consciência além da consciência ordinária em vigília ou um estado de harmonia e unidade com o universo”.9 Morris considera espiritualmente saudável aquele que vive em um estado de “comple-tude interior, estabilidade e poder, um estado de ser e transformar-se, no qual conseguimos realizar tudo o que somos capazes na pessoa interior”.10

Essa compreensão de espiritualidade prescinde do conceito de deus ou força superior, bastando ao ser hu-mano encontrar seus caminhos de harmonia interior.

8- PIERCE, Gregory. Espiritualidade no trabalho. Campinas, SP: Verus Editora, 2006. p. 33.

9- J. SCHIMIDT-WILK. Higher education for higher conciou-sness. Journal of Management Education, 24(5) p. 580-612.

10- MORRIS, Tom. A nova alma do negócio. Rio de Janeiro: Campus, 1998, p. 129.

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3. E SPIRITUA LIDA DE C OMO

C ONEC TI V IDA DE HOLÍ S TIC A

Para Ashmos e Duchon, “A busca por conexão, sen-tido e propósito é também central nas definições de (de espiritualidade)”,11 assim como para Morris, que con-sidera a dimensão espiritual o aspecto da natureza humana que “luta por unidade ou conexão definitiva”.12

Os consultores Jair Moggi e Burkhard definem a espiritualidade a visão do Eu como uma entidade integrada com os reinos mineral, vegetal, animal e com o próprio cosmos e também como co-criador e transformador da realidade e instituições sociais, in-cluindo aí as empresas, por exemplo”.13 Este é o mesmo conceito desenvolvido por B. Gunn, que relaciona a espiritualidade com uma “força unificadora”.14

11- ASHMOS e DUCHON. Spirituality at work. Journal of Management Inquiry, 9(2).

12- Tom MORRIS. A nova alma do negócio, p. 187.13- MOGGI, J. BURKHARD, D. Como integrar liderança e

espiritualidade: a visão espiritual das pessoas e das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 17.

14- ASHAR, H., e LANE-MAHER. Success and Spirituality in the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, 249-60 (2004).

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4 . E SPIRITUA LIDA DE C OMO É TIC A E VA LORE S

A espiritualidade está indiscutivelmente ligada a ética e valores. Stephen Covey trata espiritualidade como “sua essência, seu centro, seu compromisso com seu sistema de valores”,15 assim como Peter Block, para quem “espiritualidade é o processo de viver um con-junto de valores pessoais profundamente arraigados”.16 Muito mais que o mero aspecto comportamental, a espiritualidade está relacionada com a prática do respeito e do cuidado com os outros, e aspectos como compaixão, amor e humildade. Morris resume ética em um conceito simples: “pessoas espiritualmente sau-dáveis em relacionamentos socialmente harmônicos”.17 Mitroff e Denton falam de organizações baseadas em valores, fundamentadas nos valores das pessoas que a compõem, especialmente seus fundadores, uma vez que os compromissos de integridade são mais afetados pela origem e herança familiar que, até mesmo, a experiência religiosa.18 Wong identifica espiritualidade como aquele

15- Stephen COVEY, Os 7 hábitos das pessoas altamente efi-cazes, São Paulo: Best Seller, 2005.

16- Apud Peter BLOCK, Stewardiship, San Francisco: Barret-Koehler, 1993, p. 48-9. In: NASH e McLENANN, Igreja aos do-mingos, trabalho às segundas, p. 31.

17- Tom MORRIS, A nova alma do negócio, p. 129.18- MITROFF e DENTON, A spiritual audit of Corporate

America, p. 146.

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elemento que nos define como possuidores de valores inerentes, que nos caracterizam mais que nossos papéis, títulos ou posses.19 Moggi e Burkhard consideram que

“a liderança baseada na espiritualidade é uma liderança baseada em preceitos éticos e morais elevados, porque o mundo espiritual e o mundo moral são sinônimos”.20

O princípio da ética pode ser resumido na chamada regra de ouro [Não faças aos outros o que não queres que te façam], presente em diferentes épocas e culturas. Sua redação, algumas vezes, tem uma abordagem be-neficente, de fazer o bem, outras vezes não-maleficente, de evitar o mal. Todas, contudo, têm o mesmo objetivo: preservar a dignidade da pessoa humana. Confúcio (551 a.C. - 489 a.C.): “Aquilo que não desejas para ti, também não o faças às outras pessoas”. Rabi Hillel (60 a.C. - 10 d.C.): “Não faças aos outros o que não queres que te façam”. Jesus Cristo (c30 d.C.) “Tudo o que vocês quiserem que as pessoas façam a vocês, façam-no também a elas” (Mateus 7.12 e Lucas 6.31).

Nessa categoria de espiritualidade como ética e

19- Paul WONG, Spirituality and meaning at work. Inter-national Network On Personal Meaning. President’s Column, September 2003, http://www.meaning.ca/index.html. Acesso em: 17 out. 2006.

20- Jair MOGGI e Daniel BURKHARD. Como integrar lide-rança e espiritualidade, p. 121.

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valores encaixa-se o movimento de responsabilidade social das empresas, que tanto pode se enquadrar no contexto de uma crescente insatisfação com o modelo vigente de negócios,21 como na onda do marketing corpo-rativo, uma vez que as empresas estão conscientes dos dividendos da associação de suas marcas com causas sociais.22 Nessa relação encaixa-se também a busca de uma utopia social alternativa ao neoliberalismo.23

5. A E SPIRITUA LIDA DE C OMO

SA BEDORI A DA S TR A DIÇ ÕE S RELIGIOSA S

A espiritualidade em seu aspecto religioso também está presente na literatura voltada ao mundo corpo-rativo. As principais expressões religiosas têm sua sabedoria milenar aplicada aos negócios.

O judaísmo aparece, por exemplo, com A cabala do

21- MITROFF e DENTON, A spiritual audit of Corporate America, p. 125.

22- Ver Nathalie BEGHIN, A filantropia empresarial. São Paulo: Editora Cortez, 2005, que faz uma crítica do movimento de responsabilidade social das empresas e sua relação com o modelo neoliberal. Ver também SIEBEL, Felipe e GIANINI, Ta-tiana, ONGs: os novos inimigos do capitalismo. Revista Exame, Edição 879, outubro de 2006, que discorre sobre a guerra entre as ONGs e as empresas e suas relações com a globalização e a economia de mercado.

23- Ver Leonardo BOFF. Desafios éticos e ecológicos do mercado mundial. In: Ética da vida.

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dinheiro, O crime descompensa, A alma imoral, Ter ou ser eis a questão, de Nilton Bonder, rabino radicado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, e Valores, prosperidade e o Talmude,24 de Larry Kahamer, jornalista que vive em Washington D.C., Estados Unidos.

A versão da espiritualidade como experiência reli-giosa aparece no budismo principalmente na figura do Dalai-Lama XIV, notadamente nos seus textos A arte da felicidade no trabalho,25 em diálogo com o psiquiatra Howard Cutler, que analisa a relação entre a motivação para trabalhar e a satisfação com a vida e o próprio trabalho, e Uma ética para o novo milênio26, o qual defende uma revolução espiritual baseada na “conduta ética positiva”, o que faria não apenas o mundo melhor, como também faria com que as pessoas experimentassem mais profundos níveis de satisfação e felicidade.

Robin Sharma também se baseia na doutrina budista e sabedoria do Oriente para escrever o romance O monge que vendeu sua Ferrari,27 que narra a história

24- Larry KAHANER, Valores, prosperidade e talmude. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

25- Dalai-Lama XIV. A arte da felicidade no trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

26- Dalai-Lama XIV. Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: GMT, 2006

27- SHARMA, Robin. O monge que vendeu sua ferrari. Cam-pinas: Verus, 2002.

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de um iogue indiano, que abandonou a carreira de executivo para se dedicar a “despertar” pessoas para o verdadeiro sentido da vida.

Os autores cristãos protestantes são mais prolífi-cos. Talvez pela herança do protestantismo ascéti-co, conforme Max Weber, em A ética protestante e o espírito do capitalismo, que analisa as relações entre as orientações religiosas e a postura do ser humano frente às realidades econômicas.28 Weber interpreta que, no protestantismo calvinista o indivíduo que é alvo da predestinação,29 passa a existir para “aumen-tar a glória de Deus no mundo”, o que resulta em uma substituição de orientação da vivência religiosa: da contemplação do divino no outro mundo (o mundo dos céus) para uma ascese intramundana, exercida prioritariamente pela vocação-profissão. A angústia a respeito da dúvida quanto a ser alvo da predestina-ção – a necessidade de ter certeza de ser um eleito – é uma preocupação latente em todo indivíduo formado à luz do paradigma religioso calvinista. Para resolver

28- WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capita-lismo. São Paulo: Companhia das letras, 2004, p. 87.

29- Compreendido à luz da Confissão de Fé de Westminster, de 1647, Capítulo III (do Decreto Eterno de Deus), n. 3: Por decreto de Deus, para manifestação de Sua glória, alguns homens (...) são predestinados à vida eterna, e outros preordenados à morte eterna.

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esse dilema, surgem a valorização do trabalho e seus resultados de prosperidade material como expressão da bênção e favor de Deus.

Para o protestantismo calvinista, as boas obras são absolutamente insuficientes para levar ao estado de graça, mas “não deixam de ser imprescindíveis como sinais da eleição”.30 Essas relações fornecem a plata-forma para que se entenda por que espiritualidade, vida religiosa e trabalho são interligados no imagi-nário do protestantismo, principalmente calvinista, bem como sua relações de afinidade com o desenvol-vimento capitalista. É provável que esses elementos justifiquem a grande quantidade de autores cristãos protestantes dedicados ao tema espiritualidade no mundo corporativo.

Paul Stevens é um deles. Seus livros Doing God s business,31 A hora e a vez dos leigos32 e Os outros seis dias,33 são exemplos do esforço em mostrar que “o trabalho é intrinsecamente bom para nós, bom para o mundo

30- Ibid., p. 104.31- STEVENS, Paul. Os outros seis dias: vocação, trabalho e

ministério na perspectiva bíblica. Viçosa: Ultimato, 2005. 32- Paul STEVENS. Doing God s business. Grand Rapids:

Eerdmans, 2006. 33- Paul STEVENS. A hora e a vez dos leigos. São Paulo: ABU,

1998.

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e bom para Deus”,34 além de constituírem-se libelos contra a clericalização da igreja, que faz distinção entre aqueles que trabalham para Deus, nas atividades religiosas, e aqueles que trabalham para si mesmos em suas carreiras profissionais.

Também os autores católicos figuram entre os mais célebres autores que dão atenção ao crescente público corporativo. Entre eles está o best seller, James Hunter, popular por meio de seu livro O monge e o executivo,35 que apresenta a essência da liderança com base na tradição beneditina. Anselm Grün, que já vendeu mais de 14 milhões de livros no mundo inteiro, traduzido para 28 idiomas, conceituado conselheiro e palestrante, apresentado pela Editora Vozes como “ícone da espi-ritualidade e mestre do autoconhecimento em nossos dias”, tem entre seus títulos A sabedoria dos monges na arte de liderar pessoas36 e Orar e trabalhar,37 também baseados na tradição beneditina.

34- Ibid., p. 108. 35- HUNTER, James. O monge e o executivo: uma história

sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. 36- Anselm GRÜN, A sabedoria dos monges na arte de liderar

pessoas. Petrópolis: Vozes, 2006.37- GRUN, Anselm, RUPPERT, Fidelis. Orar e trabalhar. Pe-

trópolis: Vozes, 2005

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6. E SPIRITUA LIDA DE C OMO

BUSC A DE SENTIDO E SIGNIFIC A DO

A matéria da revista Você S.A. que em sua 100ª e comemorativa edição resume temas essenciais ao público corporativo, define espiritualidade também como “busca de significado para o seu papel na empresa, na família, na sociedade e o equilíbrio disso”.38 P. B. Vaill considera que a questão fundamental a respeito de espiritualidade é “What it all means?” (O que tudo isso significa?), concordando com Mitroff e Denton, que apresentam a noção de espiritualidade “um do-mínio inato e interior que busca por conexão, sentido e propósito”.39 Essa busca por sentido e significado está relacionada à necessidade de encontrar um propósito e uma fonte de recursos que esteja além do eu individual.

H. Ashar e Lane-Maher resumem dizendo que “a espiritualidade não envolve necessariamente crença ou fé em uma divindade. Quando alguém aborda o trabalho em um sentido transcendente às instrumentalidades de sua tarefa é capaz de expressar sua espiritualidade pelo trabalho”.40

38- Revista Você S.A., edição 100, outubro de 2006, p. 54.39- H. ASHAR, LANE-MAHER, Success and Spirituality in

the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, (2004), p. 252.

40- Ibid., p. 253.

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Para Paul Wong, a espiritualidade aplicada ao tra-balho “afirma o sentido e o propósito apesar do absurdo e do caos”.41 Dana Zohar, responsável pela popularização da teoria da inteligência espiritual aplicada ao mundo corporativo, afirma que “A busca pelo sentido no traba-lho por vezes se expressou, por exemplo, na tradução das relações humanas da teoria gerencial, mas noções mais visíveis sobre ‘espiritualidade corporativa’ bem poderão modelar a organização do próximo milênio”.42 Bolman e Deal colocam essa busca em palavras mais vivas:

“As pessoas dizem Chega. Somos mais do que somente um custo para a organização. Temos espíritos, temos almas. Temos sonhos. Queremos uma vida que tenha sentido. Queremos contribuir com a sociedade. Queremos nos sentir bem a respeito do que fazemos”.43

Em sua pesquisa a respeito dos conceitos de espi-ritualidade, religião e valores no mundo corporativo, Mitroff e Denton buscam saber “O que dá aos parti-cipantes mais sentido e propósito em seu trabalho”. As respostas classificam-se em sete categories (listadas

41- Paul WONG, Spirituality and meaning at work. Inter-national Network On Personal Meaning. President’s Column, September 2003. http://www.meaning.ca/index.html. Acesso em 17 out. 2006.

42- Apud ASHMOS e DUCHON, Spirituality at Work, Journal of Management Inquiry, v. 9. n. 2.

43- Idem.

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em ordem de prioridade): (1) a possibilidade de realizar seu potencial, (2) se associar com uma organização ética, (3) trabalho interessante, (4) ganhar dinheiro, (5) servir a humanidade, (6) servir as futuras gerações e (7) servir à comunidade imediata.44

O trabalho deve contemplar sentido para o dia-a-dia, além do pão de cada dia; reconhecimento e reali-zação, além de salário; encantamento e entusiasmo, além de fadiga e torpor; realização e contribuição pessoais ao mundo, além de consumo egocêntrico; algo mais que o lento arrastar da segunda até à sexta, enquanto caminhamos em direção à morte. Esse anseio resume mais um aspecto que se entende por levar a espiritualidade para o trabalho.

7. A E SPIRITUA LIDA DE

C OMO SEN SO DE VOC AÇ ÃO

A espiritualidade como busca de sentido e signifi-cado está associada ao sentido de vocação, conforme Lane-Maher Ashar:

O conceito de trabalho como vocação, ou o assim denomi-nado chamado – se distingue claramente das características aplicadas à espiritualidade. Quando alguém aborda o trabalho

44- MITROFF e DENTON, A Study of Spirituality in the Workplace. Sloan Management Review: Summer, 1999, p. 85.

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como forma de satisfazer suas prioridades e necessidades – in-dependentemente do quanto possam ser nobres e construtivas

– percebe o trabalho como uma carreira e deriva dele um sentido imanente. Por outro lado, quando o trabalho é orientado para além do sentido próprio e não centrado em princípios de servir a si mesmo, então se vê o trabalho como uma diversão e se experimenta um sentido transcendente pelo trabalho.45

Novak, em seu livro Business as Calling (Negócio como vocação), sugere que “O trabalho não deve só ter signifi-cado, mas deve ser um chamado”,46 o que faz eco com a afirmação de Moore: “Todo trabalho é uma vocação, um chamado de um local que é a fonte de sentido e identidade, a raiz além da intenção e interpretação humanas”.47

Semelhantemente, Frederick Buechner sustenta que o sentido do trabalho consiste no reconhecimento e na aceitação de que “O lugar para onde Deus chama você é o lugar onde se encontram a sua satisfação mais profunda e a fome mais profunda que o mundo tem”.48

45- H. ASHAR, LANE-MAHER, Success and Spirituality in the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, (2004), p. 253.

46- Apud ASHMOS e DUCHON, Spirituality at Work, Journal of Management Inquiry, v. 9. n. 2.

47- Ibid.48- Apud BUECHNER, F. Listening To your Life. George

O’Conner (Ed.). San Francisco: Harper, 1992. p. 189. In: ASH-MOS & DUCHON, Spirituality at Work, Journal of Management Inquiry, v. 9. n. 2.

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8. A E SPIRITUA LIDA DE C OMO INSPIR AÇÃO PA R A

MODELOS DE LIDER A NÇ A E GE S TÃO

É provavelmente nesse aspecto que a espiritualidade tenha maior espaço no mundo corporativo. Os líderes espiritualizados,49 o apóstolo Paulo dos cristãos,50 o Gandhi dos hindus,51 e até mesmo o quase universal Jesus de Nazaré, são fonte de inspiração para muitos líderes corporativos.

John Maxwell é um dos autores mais citados na cultura de negócios do mundo protestante evangélico. Reconhecido pelo seu trabalho na formação e treina-mento de líderes, anualmente realiza seminários para mais de 250 mil pessoas, nas quais aplica os princípios de liderança e motivação extraídos da Bíblia Sagrada para um público ávido por dar significado religioso à sua carreira e potencializar sua performance nos negó-cios. Títulos, como As 21 irrefutáveis leis da liderança,52

49- Ver Seja o líder que as empresas precisam, Revista VOCÊ S.A. edição 82, de abril de 2005, que apresenta “o líder espiri-tualizado”.

50- Ver CALIGUIRE, Jeff. Os segredos de liderança de Paulo: os conceitos de liderança de quem ajudou a mudar a história do mundo. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.

51- Ver Keshavan NAIR, A arte da paz: lições de Mahatma Gandhi para sua empresa. Rio de Janeiro: Editora Campos, 2000.

52- MAXWELL, John. As 21 irrefutáveis leis da liderança. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.

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As 17 leis incontestáveis do trabalho em equipe,53 As 21 indispensáveis qualidades de um líder,54 além da coleção Essência da gestão,55 pretendem desvendar os segredos para o sucesso profissional.

Laurie Beth-Jones, fundadora da Jesus – CEO Funda-tion, também merece destaque no panteão dos autores protestantes. Seus livros Jesus Coach56 e Jesus no cora-ção da empresa,57 além de serem traduzidos para mais de 12 idiomas, são a base de seminários para liderança corporativa que desenvolve no mundo inteiro.

O mais célebre autor é o já citado James Hunter, com sua série a respeito do modelo do líder servidor, baseado na tradição beneditina:58 O monge e o executivo, considerado “o livro de carreira mais lido e comenta-

53- MAXWELL, John. As 17 leis incontestáveis do trabalho em equipe. São Paulo: Mundo Cristão, 2002.

54- MAXWELL, John. As 21 indispensáveis qualidades de um líder. São Paulo: Mundo Cristão, 2000.

55- MAXWELL, John. A essência da gestão. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

56- BETH-JONES, Laurie. Jesus Coach. São Paulo: Mundo Cristão, 2006.

57- BETH-JONES, Laurie. Jesus no coração da empresa. São Paulo: Butterfly, 2003.

58- Ver também GALBRAITH&GALBRAIGHT. O código be-neditino de liderança. São Paulo: Landscape, 2005.

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do do momento”,59 e Como se tornar um líder servidor.60 Hunter advoga que liderar é exercer influência, e nisso Jesus é imbatível, de modo que é necessário entender seu método de liderança: liderar pela autoridade e não pelo poder, que se justifica pelas próprias palavras de Hunter:

“Quando você usa o poder, você obriga as pessoas a fazerem sua vontade, por conta da posição que você ocupa. Quando usa a autoridade, as pessoas fazem o que você quer de boa vontade, por sua influência pessoal. Esse é o único meio de contar com o coração, a mente e o espírito dos profissionais”.61

É muito difícil Hunter convencer que seu conceito define liderança e não manipulação, mas, pelo menos, serve como exemplo de como o nome, a vida e a obra de Jesus têm sido usados no mercado de consultoria, palestras, seminários e literatura para o público cor-porativo.

59- LACERDA, Daniela. Faça como Jesus, Revista VOCÊ S.A., abr. 2005.

60- O conceito de líder servidor não é original em Hunter. Ver, por exemplo, C. Gene WILKES, O último degrau da liderança. HYBELS, B., BLANCHARD, K., HODGES, P., Liderando com a Bíblia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001. COLLINS, J., Feitas para vencer, capítulo 5: Liderança Nível 5. Todos abordando o conceito de “líder servo”, e anteriores ao sucesso de James Hunter.

61- Daniela LACERDA, Faça como Jesus.

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Jesus, por sinal, tem sido identificado como o maior de quase tudo: o maior psicólogo, o maior líder, o maior empreendedor, o maior coach, o maior CEO, o maior administrador, o maior educador e assim por diante, em uma lista sem fim de aplicações superficiais dessa figura misteriosa e singular, que deu origem ao cris-tianismo afirmando ser único e divino e não apenas o maior dentre muitos. A liderança de Jesus não está baseada em algo que ele faz, uma técnica que domina, ou um conhecimento que detém. A liderança de Jesus está baseada em sua pessoa. Sua grandeza justifica-se não apenas pela singularidade de seu caráter, como pela magnitude de sua obra: inaugurar o reino de Deus e chamar toda a humanidade para que participe de sua redenção de todo o universo criado por Deus, o Pai. Jesu’s vive sob a ação e autoridade do Espírito Santo, e não age por si mesmo. Qualquer abordagem de lide-rança que pretenda estabelecer Jesus como modelo deve levar em consideração esses aspectos enfaticamente expressos pelo próprio Jesus.

9. A E SPIRITUA LIDA DE C OMO

FUNDA MENTO DO SUCE S SO

Hanna Ashar e Mauren Lane-Maher, após pesqui-sa sobre o conceito de sucesso no mundo corporativo, catalogam os resultados – “As definições em quatro ca-

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tegorias: sentido de realização, equilíbrio, contribuição para a sociedade e contribuição para os colaboradores”.62 Na definição de sucesso, o importante não é como alguém é percebido pelos outros, mas como percebe a si mesmo. O segundo componente do sucesso é equilí-brio, especialmente entre a vida profissional e pessoal, entre trabalho e família. Em terceiro lugar, aparece o conceito de sucesso referente a serviço e à contri-buição, especialmente à família e aos colaboradores em sua atividade de trabalho. Finalmente, um quarto componente do sucesso é o altruísmo e abnegação: para ser um sucesso, a pessoa deve ser “other-oriented” (orientada para o outro) e generosa, deve se dedicar à participação na vida da comunidade, da sociedade, e pensar na humanidade como um todo e no legado que deixará às próximas gerações.

Na divulgação do resultado de sua pesquisa, Ashar e Lane-Maher testemunham que “Sem qualquer soli-citação, os participantes ligaram o conceito de sucesso à espiritualidade e disseram que para ser bem sucedido é necessário também englobar a espiritualidade”.63 É notável que os aspectos que definem sucesso dizem

62- ASHAR e LANE-MAHER, Spirituality in the Workpla-ce – A Measure of Success?, Journal of Behavioral and Applied Management – Winter 2002, v. 3.

63- Ibid., v. 13, n. 3, 249-60 (2004).

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respeito às dimensões da espiritualidade, e a maioria das pessoas consciente ou inconscientemente, sabe disso, conforme demonstra esse comentário.

10. A E SPIRITUA LIDA DE

C OMO DIMEN SÃO DO HUM A NO

Leonardo Boff considera a espiritualidade uma di-mensão do humano, tanto quanto a corporeidade e a racionalidade. Assim descreve o ser humano:“Antes de mais nada importa enfatizar o fato de que,

tomado concretamente, o ser humano constitui uma totalidade complexa. Quando dizemos ‘totalidade’ sig-nifica que nele não existem partes justapostas. Tudo nele se encontra articulado e harmonizado. Quando dizemos “complexa” significa que o ser humano não é simples, mas a sinfonia de múltiplas dimensões. Entre outras, discernimos três dimensões fundamentais do único ser humano: a exterioridade, a interioridade e a profundidade”.64

No pensamento de Boff, a exterioridade refere ao corpo e à corporeidade; a interioridade, à mente, ou à racionalidade; e a profundidade, ao espírito.

Considerar a espiritualidade como dimensão do

64- Leonardo BOFF, Espiritualidade, dimensão esquecida e ne-cessária. http://www.cuidardoser.com.br. Acesso em: 14 set 2006.

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humano implica concluir com Remen que “Quer ou não saibamos, em todo tempo todos participamos do espiritual”.65 Também para Boff, a espiritualidade é uma realidade permanente, vivenciada em todas as circunstâncias. Assim como o ser humano não pode se expressar sem o corpo, de modo consciente, sem a atividade racional, também leva consigo sua dimensão espiritual a todo lugar e em todo tempo, como segue:“A espiritualidade é um modo de ser, uma atitude

de base a ser vivida em cada momento e em todas as circunstâncias. Mesmo dentro das tarefas diárias da casa, trabalhando na fábrica, andando de carro, conversando com os amigos, vivendo a intimidade com a pessoa amada, a pessoa que criou espaço para a profundidade e para o espiritual está centrado, sereno e pervadido de paz. Irradia vitalidade e entusiasmo, porque carrega Deus dentro de si. Esse Deus é amor que no dizer do poeta Dante move o céu, todas as estrelas e o nosso próprio coração”.66

Em seu texto Tipologia de conceitos do termo espi-

65- Apud ASHAR e LANE-MAHER, Success and Spirituality in the New Business Paradigm. Journal of Management Inquiry, v. 13, n. 3, 249-60 (2004).

66- Leonardo BOFF, Espiritualidade, dimensão esquecida e ne-cessária. http://www.cuidardoser.com.br. Acesso em 14 set 2006.

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ritualidade aplicada à administração,67 Cavalcanti e Silva indicam a espiritualidade como inerente ou parte do ser humano, bem como elemento científico. Dana Zohar e Ian Marshall desenvolvem o conceito de

“inteligência espiritual”, a partir do qual se propõem “a buscar no cérebro humano a prova científica”68 da espiritualidade, e criticam a sociedade de negócios fundamentada na cultura atomista da modernidade, que “isola seres humanos entre si e de outras culturas vivas, e da natureza em geral”.69 Baseados na logote-rapia (cura por meio do significado), de Victor Frankl,70 Zohar e Marshall compreendem o ser humano como

“uma criatura espiritual”.71 Também na tradição budista, especialmente nos

67- CAVALCANTI, Marly e SILVA, Shirley Jorge da. Espiritu-alidade corporativa. São Paulo: Instituto Guerreiro e BH Gráfica e Editora Ltda. 2005, p. 43-77.

68- Ibid., p. 74.69- Ibid., p. 74.70- Viktor Emil Frankl (1905 – 1997), médico e psiquiatra vie-

nense, precursor da logoterapia, postula a busca de sentido como a exata e precisa definição da natureza humana. Escreveu cerca de 30 livros traduzidos em mais de 28 línguas, inclusive japonês, chinês e russo, dentre eles Um sentido para a vida (Aparecida: Editora Santuário, 1989), Em busca de sentido (São Leopoldo: Editora Sinodal, 1991) e A presença ignorada de Deus (São Leo-poldo: Editora Sinodal, 1991).

71- M. CAVALCANTI, S. J. SILVA, Espiritualidade corporativa, p. 74.

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escritos mais populares no Ocidente por meio das publicações do Dalai-Lama, a espiritualidade é vista como aspecto inerente ao ser humano ou própria do espírito humano. O conceito de “espiritualidade bá-sica”, desenvolvido pelo Dalai-Lama em seu livro A arte da felicidade, refere-se às qualidades do espírito humano, como, por exemplo, bondade, benevolência, compaixão e interesse pelo outro e, acima de tudo, o amor e transcende os aspectos religiosos, pois está presente em todo e qualquer ser humano.72 Leonardo Boff compreende da mesma maneira:

“Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano – tais como amor e compaixão, paciência e tolerância, ca-pacidade de perdoar, contentamento, noção de respon-sabilidade, noção de harmonia – que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros”.73

Nessas palavras de Leonardo Boff, estão resumidos muitas referências do púbico corporativo à espiritua-lidade, como: sentido e significado, responsabilidade e vocação, harmonia e conexão, realização e contri-buição.

72- Ibid., p. 76.73- Leonardo BOFF, Espiritualidade, p. 21.

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DOI S C ONCEITOS E S SENCI A I S

Os conceitos expostos referem ao uso do termo es-piritualidade na literatura e teóricos que abordam a questão no contexto do mundo do trabalho. Mas caso eu fosse tratar expressão espiritualidade como um verbete de um dicionário de teologia, apresentaria pelo menos mais duas definições.

1. E SPIRITUA LIDA DE E IM AGO DEI

Platão definiu o homem como um animal racional que fala e pensa (zoon logikon). Mas a concepção antropológica da tradição judaico-cristã compreende o ser humano com criado à imagem e semelhança de Deus. A história do pensamento cristão pode ser escrita a partir de uma busca da resposta para a seguinte pergunta: como se ma-nifesta a imagem e semelhança de Deus no ser humano?

Os teólogos e filósofos cristãos estão de acordo que a imago Dei se manifesta no ser humano pelo menos em quatro aspectos.

1. EspiritualidadeDeus é espírito, disse Jesus. Nesse caso, o ser hu-

mano é também espiritual, e isso significa que sua plena realização não se esgota nos limites do mundo físico, material, nem naquilo que pode ser apropriado pelos cinco sentidos físicos. O ser humano é aberto para a transcendência;

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2. Pessoalidade Deus é um espírito pessoal, e nesse sentido, também

o ser humano é dotado de consciência, auto-consci-ência, razão, emoção e volição;

3. Pluralidade Deus é um espírito pessoal que existe eternamente

em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, e nesse caso, também o ser humano é uma unidade plural, sendo que masculino e feminino são dimensões que existem em unidade, diversidade, complementaridade e mutualidade, o que significa que a Imago Dei não se resume ao masculino nem ao feminino independentes um dos outro. Além disso, por ser uma unidade plu-ral, o ser humano é gregário, trazendo em sua cons-tituiçãom ontológica a necessidade da comunhão e da fraternidade, onde toda a raça é na verdade um Homem só;

4. Criatividade Deus é craidor e criativo, e nesse sentido, também o

ser humano é dotado da capacidade de criar e inventar, exercendo domínio sobre todas as demais instâncias do universo.

2 . E SPIRITUA LIDA DE E MUNDO DOS E SPÍRITOS

Evidentemente, a existência dos seres que cha-mamos espirituais, como anjos, demônios, e mesmo

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Deus, conforme a tradição cristã, Pai–Filho–Espírito, é uma questão de fé. Mas é inegável que a expressão espiritualidade remete também e necessariamente às possibilidades do relacionamento humano com estes seres espirituais, em com Deus em última instância.

UM A A DV ERTÊNCI A NECE S SÁ RI A

A distinção entre religião e espiritualidade é neces-sária. Não são poucas as pessoas que confundem os termos e por essa razão se perdem em preconceitos e se privam de experiências potencializadoras da rea-lização humana.

Espiritualidade é a experiência humana do sagrado, transcendente, divino. Religião é a maneira como o ser humano organiza e vivencia sua experiência de transcendência. Espiritualidade é uma experiência humana universal. Religião é uma experiência hu-mana condicionada a dogmas, ritos, códigos morais e grupos de pessoas que acreditam nas mesmas coisas e celebram sua espiritualidade da mesma maneira. As religiões mais conhecidas no mundo são Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo e Budismo. A es-piritualidade é o que os seres humanos têm em comum. Por exemplo, tanto o Dalai Lama quanto o Papa Bento XVI embora adotem religiões diferentes, um é budista, o outro é cristão, têm em comum a espiritualidade.

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Em termos simples, assim como o ser humano tem corporeidade (relação com o corpo) e racionalidade (relação com a mente), também tem espiritualidade (relação com as realidades espirituais). Religião é maneira como cada ser humano desenvolve e pratica sua espiritualidade. Espiritualidade tem a ver com os atributos do espírito humano: razão, emoção, volição, consciência e auto-consciência. Religião está rela-cionada ao mundo dos espíritos, supra humanos ou sobrenaturais. Espiritualidade é aquilo referente às virtudes do espírito: amor, compaixão, solidariedade, generosidade, perdão e justiça. Religião trata mais das regulações morais, objetivas: pode, não pode, em detrimento das virtudes subjetivas.

As generalizações religiosas servem como categorias sociológicas e ajudam a compreender as diferentes tradições, mas dizem muito pouco a respeito da espi-ritualidade de seus praticantes. Categorias religiosas não são suficientes para conter a grande diversidade das relações humanas com o sagrado e o divino. Dizer qual é a sua religião sugere alguma coisa, mas não diz muito a respeito de sua espiritualidade. É mais fácil encontrar uma pessoa religiosa, do que um espírito livre e capaz de amar.

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P OSICION A MENTO

Ao final deste ensaio, duas perguntas são necessá-rias a respeito do posicionamento do Fórum Cristão de Profissionais.

#1

Como o Fórum Cristão de Profissionais avalia a utilização do conceito de espiritualidade no mundo corporativo. Ou, se preferir, nessa torre de Babel da espiritualidade no mundo do trabalho, qual é a lígua que o FCP fala?

1. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com “a relação com uma força superior”, e crê que essa “força superior” é Deus, conforme re-velado na Bíblia Sagrada e na tradição cristã como Pai–Filho–Espírito Santo.

2. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com um “estado de ser e ou de espíri-to”, e crê que esse estado de ser ou espírito resulta do relacionamento com Deus, sendo na Bíblia Sagrada, inclusive identificado com o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, capacidade de suportar tempos difíceis, capacidade de suportar dias difíceis, bondade, capa-cidade de ser fiel, humildade e domínio prórpio. 

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3. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com uma “conectividade holística”, mas crê que Deus delegou ao ser humano o cuidado de todo universo criado, o que significa que o ser humano é ao mesmo tempo uma unidade com todo o universo de deus, mas também e principalmente cooperador com Deus no cuidado de sua criação.

4. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com “ética e valores”, e crê que a Bíblia Sagrada constitui o critério último da ética e da moral.

5. O FCP acredita que a espiritualidade está re-lacionada com a “sabedoria das tradições religiosas”, e está alinhado com a tradição judaica-cristã, ainda que em diálogo com todas as demais tradições.

6. O FCP acredita que a espiritualidade está rela-cionada com a “busca de sentido e significado”, e crê que, em relação à realidade do mundo do trabalho, o sentido último da existência humana e da vida particular de cada indivíduo resulta da recomendação de jesus: buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, o que implica cooperar com Deus para colocar ordem no caos

– atuar na construção de uma sociedade de justiça e paz.

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7. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com um “senso de vocação”, e crê que a carreira/atividade profissional deve ser exercida como vocação espiritual.

8. O FCP acredita que a espiritualidade está rela-cionada com a “inspiração para modelos de liderança e gestão”, e crê no modelo de liderança de Jesus, a saber, liderar servindo.

9. O FCP acredita que a espiritualidade está re-lacionada com “sucesso”, e crê que o sucesso con siste em fidelidade a Deus e contribuição para o bem comum, independentemente de posição social e prosperidade financeira.

10. O FCP acredita que a espiritualidade está relacionada com uma “dimensão do humano”, e crê no humano como ser criado à imagem e semelhança de Deus.

#2

De que maneira o Fórum Cristão de Profissionais se relaciona com os termos espiritualidade e religião.

O FCP é cristão, isto é, está baseado no evangelho de Jesus Cristo. Mas não está preocupado em converter

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pessoas para a religião cristã, nem se propõe a levar a religião para o mundo do trabalho. O FCP não tem caráter proselitista, pois acredita que a religião divide, mas a espiritualidade agrega. O ambiente do trabalho é, exceto raras exceções, laico, isto é, não está atrelado a qualquer credo religioso, pois cada pessoa tem sua própria religião. Mas o ambiente do trabalho não é vazio de valores espirituais. O FCP pretende afirmar a importância desses valores conforme definidos e vivenciados na tradição cristã, sem contudo negli-genciar o diálogo com todas as demais tradições que comungam dos mesmos ideias.

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