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1 A SAÚDE COMO TERRENO DE ORGANIZAÇÃO E LUTA DOS TRABALHADORES

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A SAÚDE COMO TERRENO DE ORGANIZAÇÃO E LUTA DOS TRABALHADORES

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Medicina do Trabalho

Saúde Ocupacional

Saúde do Trabalhador

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Características damedicina do trabalho

criado e gerido pelas empresas;

dirigidos por pessoas de inteira confiança do patrão,dispoatas a defendê-lo;

serviços centrados na figura do médico:

a prevenção dos danos à saúde resultantes dos riscos aotrabalho era tarefa eminentemente médica;

a responsabilidade pela ocorrência dos problemas de saúdeficava transferidas ao médico.

controle da força de trabalho: controle do absenteísmo: análise dos casos de doença, faltas,

licenças.

retorno mais rápido da força de trabalho à produção.

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“ O corpo médico é a seção de

minha fábrica que me dá mais

lucro.”Henry Ford

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Medicina do trabalho

A ausência ou precariedade dos sistemas de saúdefez com que os serviços médicos de empresaspassassem a criar e manter a dependência econtrole do trabalhador (e frequentemente dos seusfamiliares).

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Medicina do trabalho

Voltado para a garantia do processo deprodução:

Selecionar trabalhadores com maioraptidão física e mental à atividade daempresa;

Adaptar os trabalhadores às condições detrabalho pré-estabelecidas;

Mantendo o controle sobre a força detrabalho para garantir maiores lucros.

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Saúde Ocupacional Serviços de saúde e segurança ocupacional das

empresas: criados e organizados pelos patrões.

negam-se a reconhecer que as doenças dos trabalhadores estão relacionadas ao trabalho, especialmente as lesões por esforços repetitivos – LER, intoxicações crônicas, doenças cardiovasculares, transtornos mentais e outras.

o controle do absenteísmo é o mais importante.

sonegam informações aos trabalhadores e desprezam o saber operário.

as doenças são tratadas como fenômenos individuais, escondendo seu caráter social e a relação com o processo de produção.

os trabalhadores são tratados como “objetos” das ações de saúde ocupacional.

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Controle sobre os Trabalhadores

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Saúde Ocupacional

a segurança do trabalho - centrada na aplicação de medidas de proteção de caráter individual (EPI) e na adoção de “limites de tolerância” - medidas ineficazes para a efetiva proteção da saúde dos trabalhadores. Reduzem a exposição e não eliminam os fatores nocivos à saúde.

as análises dos acidentes de trabalho, realizadas pelas próprias empresas, tendem a mascarar a responsabilidade patronal, buscando culpar o próprio trabalhador, geralmente por imperícia, descuido ou desatenção (o chamado “ato inseguro”). Configura-se, desta forma, um modelo patronal, tecnicista e distanciado dos trabalhadores.

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Saúde Ocupacional

os acidentes de trabalho, ocorrências possíveis de serem previstas e prevenidas, são tratados como inerentes ao trabalho, ou seja, mera consequência. A própria palavra “acidente” passa a ideia de “fatalidade” (construção ideológica burguesa).

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SAÚDE DO

TRABALHADOR

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A SAÚDE NÃO SE VENDE, NEM SE DELEGA. SE DEFENDE!

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Modelo Operário Italiano

Contexto: Pós guerra – Crescimento do emprego industrial; Indústria de exportação / competição

intercapitalista; Final dos anos 50: Baixos salários, intensificação

de ritmo e cargas de trabalho, desemprego e aumento dos acidentes/doenças relacionados ao trabalho.

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Modelo Operário Italiano

Elaboração do Modelo Operário: Centro de Luta Contra a Nocividade do Trabalho –

Turin (1964); Publicação do Modelo Operário (1969).

Socialização/Consolidação (1968-1974) Período marcado pelo crescimento das lutas

operárias.

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Modelo Operário Italiano

Método: Pesquisa-Ação (empirismo)

Conceitos chave: Grupos operários homogêneos;

Experiência ou subjetividade operária

Não delegação;

Não monetização;

Validação consensual.

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Modelo Operário Italiano

Processo de investigação:

Resgatar e sistematizar a experiência do coletivo operário em relação aos fatores de risco presentes no ambiente e processo de trabalho.

Concretiza-se por meio dos grupos homogêneos, valendo-se da pesquisa baseada no esquema dos 4 grupos de fatores de risco:

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Modelo Operário Italiano

Os 4 grupos de fatores de risco:

Grupo 1 – definem o ambiente fora e dentro da fábrica (temperatura, iluminação, ruído, umidade, ventilação);

Grupo 2 – fatores de risco característicos da fábrica |(poeiras, gases, vapores, fumaças, substâncias químicas);

Grupo 3 – fadiga derivada do esforço físico;

Grupo 4 – os demais fatores que causam fadiga – ritmo, monotonia, repetitividade, tensão nervosa, posições incômodas, responsabilidade inadequada.

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Os resultados são validados consensualmente, a fim de que reflitam a experiência coletiva. Registram-se somente as observações que o grupo homogêneo reconhece como corretas e verídicas.

Verificam-se com medições e registros bioestatísticos os fatos revelados na pesquisa coletiva com o objetivo de quantificá-los (O que? Onde ? Quando?).

Elabora-se o mapa de risco (representação gráfica) que serve de base para a construção da pauta de reivindicações (validada consensualmente) e são definidas as estratégias de luta para alcançá-la.

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“Em termos metodológicos, a inovaçãodo Modelo Operário não consiste emuma reconceituação da enfermidadenem da relação entre o trabalho e asaúde, mas da mudança na forma degerar o conhecimento”

Laurell

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Lutas Operárias 1968-1974 Surgem a partir dos locais de trabalho, assumindo o caráter de

rebelião contra a organização capitalista do trabalho.

Ampliação da organização operária nas fábricas. Delegados eleitos nos centros de trabalho formavam os conselhos de fábrica.

1972: 10 mil conselhos de fábrica, com 97 mil delegados, representando 2,5 milhões de trabalhadores.

1974: 16 mil conselhos de fábrica, com 150 mil delegados, representando 4 milhões de trabalhadores.

Abrange trabalhadores dos ramos metalúrgico, petroquímico, construção civil, têxtil, calçadista, elétrico e agrícola. Em importantes empresas: Fiat, Alfa-Romeo, Pirelli e outras.

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Lutas Operárias 1968-1974

Este intenso processo de lutas no interior das fábricas permitiu avanços para o proletariado nos contratos coletivos de trabalho, além de conquistar o reconhecimento legal dos seguintes direitos: acompanhar fiscalizações e a execução de melhorias nos ambientes

e na organização do trabalho. direito à informação sobre riscos, medidas de controle, os resultados

de exames médicos e de avaliações ambientais. direito à recusa ao trabalho em condições de risco grave para a

saúde ou a vida. direito à consulta prévia aos trabalhadores, por parte dos patrões,

sobre as mudanças de tecnologias e formas de organização do trabalho.

direito de participar da escolha de tecnologias. direito de homologar a contratação dos profissionais que atuam

nos serviços de saúde das empresas.

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Contraofensiva patronal

Conjuntura de crise mundial capitalismo (1973-1974). Reestruturação produtiva (mudança nas formas de

gestão e da base técnica/ novas tecnologias).Dispersão produtiva (deslocamento de fases inteiras

do processo produtivo para outras empresas de menor porte).

Maior apoio estatal ao capital. Crescimento das demissões, fragilização dos grupos

operários homogêneos e conselhos de fábrica.Divisões entre as 3 Centrais Sindicais o que fragilizou o

Programa Mínimo de Ação.

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Limites do Modelo Operário

Ausência de teorização – baseado exclusivamente na experiência operária coletiva.

A experiência dos grupos homogêneos operários é importante para conhecer a realidade, mas não é imediatamente reveladora de sua essência.

As mudanças ocorridas no processo de produção (novos métodos de gestão e novas tecnologias) anulam a capacidade explicativa baseada exclusivamente na experiência.

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Modelo UAM-Xochimilco

Baseada em referencial marxista.

Objeto estudo:Relação entre o processo de produção e processo

saúde-doença. Busca análise global. Investigação do perfil patológico e estratégias de

geração valor; processos de trabalho/produção (base técnica e organização FT); cargas de trabalho e padrões de desgaste.

Estudo do padrão de desgaste-reprodução da coletividade operária (nexo biopsíquico).

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ELEMENTOS PARA UMA POLÍTICA DE ATUAÇÃO SINDICAL

Buscar a participação ativa dos trabalhadores, inclusive dos terceirizados, fortalecendo as organizações por local de trabalho – OLT.

Acolher as demandas individuais dos trabalhadores lesionados e estabelecer estratégias para o enfrentamento coletivo da nocividade dos ambientes e processo de trabalho.

Articular as ações formação política, organização e comunicação voltadas à defesa da saúde dos trabalhadores.

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ELEMENTOS PARA UMA POLÍTICA DE ATUAÇÃO SINDICAL

Buscar organizar os trabalhadores lesionados e/ou aposentados, visando à garantia de direitos (tratamento/reabilitação, previdenciários e trabalhistas).

Lutar pela redução das jornadas de trabalho como bandeira de luta em defesa da saúde dos trabalhadores. A organização do processo de trabalho estabelece enormes cargas de desgaste, onde se associa e potencializa a exposição e efeitos relacionados ao conjunto de riscos químicos, físicos, ergonômicos e psicossociais.

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