A s o r i g e n s

13
A S O R I G E N S Religiosas e Corporativas DA MAÇONARIA A pesquisa das origens da maçonaria leva à busca das características das instituições primitivas. De modo resumido, estes traços são os seguintes: Em primeiro lugar, trata-se de uma organização de trabalho, a da construção, onde o trabalho não era especializado como atualmente, mas implicava num vasto conhecimento da Arquitetura . Esta organização ia além do caráter estritamente profissional. Os seus membros deviam se considerar irmãos e se assistir mutuamente. Esta associação, operativa e de assistência mútua, possuía ritos tradicionais. A admissão era feita através de iniciação e as suas reuniões continham práticas ritualísticas. A partir do século XVII a associação passou a aceitar membros estranhos à sua atividade profissional e, finalmente, assume acentuado caráter universal. A partir destas características, dois métodos se oferecem ao estudo histórico da instituição maçônica: O primeiro método limita-se à pesquisa das origens da maçonaria moderna . As fontes estão principalmente na Inglaterra e nos remetem às Guildas dos séculos XIII e XIV. No entanto, este método não explica a universalidade da Instituição e a existência, na mesma época, de associações idênticas no continente europeu, onde os seus ritos pareciam nascidos de uma fonte comum, existente em épocas mais recuadas. O segundo método leva-nos à pesquisa de grupos ou associações da Antiguidade e da Alta Idade Média cujas características se aproximem daquelas que levaram ao desenvolvimento da Maçonaria Operativa . Um fato, porém não deve ser posto em dúvida: a Maçonaria atual nasceu da Maçonaria Operativa e, portanto devemos estudá-la . Outro fato igualmente certo é que a Maçonaria incorporou influências diversas em seus ritos, influências estas que também devem ser estudadas.

description

As origens

Transcript of A s o r i g e n s

A S O R I G E N S

A S O R I G E N S

Religiosas e Corporativas

DA MAONARIA

A pesquisa das origens da maonaria leva busca das caractersticas das instituies primitivas. De modo resumido, estes traos so os seguintes:

Em primeiro lugar, trata-se de uma organizao de trabalho, a da construo, onde o trabalho no era especializado como atualmente, mas implicava num vasto conhecimento da Arquitetura .

Esta organizao ia alm do carter estritamente profissional. Os seus membros deviam se considerar irmos e se assistir mutuamente.

Esta associao, operativa e de assistncia mtua, possua ritos tradicionais. A admisso era feita atravs de iniciao e as suas reunies continham prticas ritualsticas.

A partir do sculo XVII a associao passou a aceitar membros estranhos sua atividade profissional e, finalmente, assume acentuado carter universal.

A partir destas caractersticas, dois mtodos se oferecem ao estudo histrico da instituio manica:

O primeiro mtodo limita-se pesquisa das origens da maonaria moderna . As fontes esto principalmente na Inglaterra e nos remetem s Guildas dos sculos XIII e XIV.

No entanto, este mtodo no explica a universalidade da Instituio e a existncia, na mesma poca, de associaes idnticas no continente europeu, onde os seus ritos pareciam nascidos de uma fonte comum, existente em pocas mais recuadas.

O segundo mtodo leva-nos pesquisa de grupos ou associaes da Antiguidade e da Alta Idade Mdia cujas caractersticas se aproximem daquelas que levaram ao desenvolvimento da Maonaria Operativa .

Um fato, porm no deve ser posto em dvida: a Maonaria atual nasceu da Maonaria Operativa e, portanto devemos estud-la . Outro fato igualmente certo que a Maonaria incorporou influncias diversas em seus ritos, influncias estas que tambm devem ser estudadas.

Para ser completa, uma pesquisa histrica precisar considerar o contexto social, poltico, econmico, jurdico, religioso e filosfico que condicionou a ocorrncia destes eventos. Do ponto de vista cronolgico, estes eventos so os seguintes:

Os Colgios Romanos, seus derivados Galo-Romanos, Italianos e Bizantinos, e seus descendentes da Idade Mdia .

As Associaes Monsticas dos Construtores, constitudas pelos Beneditinos, Cistercienses e Templrios.

Sob a gide destas associaes e sob a forma de confrarias laicas ou de Guildas, ocorre o nascimento e a formao da Maonaria Operativa .

AS ANTIGAS CORPORAES

OS COLGIOS DE CONSTRUTORES DE ROMA

Em razo do carter sempre sagrado do trabalho e da cincia, as associaes profissionais foram sempre sacerdotais entre os povos da antiguidade.

No Egipto, os sacerdotes formavam classes separadas e consagravam-se ao ensino de algum ramo especial do conhecimento humano. Em todos os casos, os alunos passavam por um noviciado e por provas de iniciao para se assegurar de sua vocao .

Como as demais cincias, a Arquitetura tambm era ensinada em sigilo. A funo sagrada de arquiteto construtor era exercida pelos sacerdotes, como por exemplo Imhotep, sacerdote do Deus Amon, que era conselheiro do fara Sozer (3.800 AC) e que construiu a primeira pirmide em Sakkarah. Sennemout, arquiteto da rainha Hatsepout, era o controlador dos domnios de Amon e chefe dos sacerdotes de Monthou, na cidade de Armant.

O carter sacerdotal e mstico das associaes de construtores encontrado entre os persas, os caldeus, os srios e os gregos. A religio tambm era o fundamento dos Colgios Romanos e de nossas antigas confrarias.

Em Reis V, 13 e seguintes e em VII, versculos 13 e 14, v-se que Salomo teve, sob a direo de Hiram, milhares de obreiros envolvidos na construo do Templo de Jerusalm.

Na Grcia, as associaes profissionais eram conhecidas por Hetarias. Uma lei de Slon de 593 AC e cujo texto consta da obra de Gaius (sobre os Colgios e as Corporaes) permite s Hetarias, ou Colgios, ter seus prprios regulamentos, desde que no fossem contrrios s leis do Estado .

O carter sagrado dos construtores sobrevive nas lendas dos reis arquitetos como Ddalo, Trophonius e Agamedes. Um exemplo tpico o dos sacerdotes de Dionsios ou Iachus, o Sol. Estes sacerdotes foram os primeiros a construir estradas e estdios para os jogos de provas fsicas e de ginstica. Em suas cerimnias secretas, os dionisacos usavam simbolicamente os seus utenslios de trabalho.

Estrabo, em sua obra Theos, afirma que os reis de Prgamo (300 AC) tinham uma iniciao particular que inclua palavras e sinais de reconhecimento.

O mais antigo cdigo chegado at ns, o cdigo babilnico de Hamurabi, (2.000 AC) descoberto em Susa, j menciona as associaes dos carpinteiros e dos talhadores da pedra .

OS COLGIOS ROMANOS

Segundo Plutarco, os Colgios de Artesos foram fundados em Roma pelo rei Numa Pomplio, no ano 715 AC. A influncia dos Colgios Romanos foi fundamental nas confrarias de construtores da Idade Mdia .

Sob Srvio Tlio (578-534 AC) os Colgios Romanos aparecem com o carter definitivo de corporao. Ccero, na sua obra De Oficies (sobre as profisses) coloca os integrantes dos Colgios entre os cidados de primeira classe do Imprio Romano .

No reinado de Alexandre Severo, apesar de reprimidos pela Lei Iulia, existiam j trinta e dois Colgios em atividade no Imprio. Como em todos os povos da antiguidade, o Direito e as Instituies Romanas tinham base essencialmente religiosa.

O carter sagrado do trabalho tinha por objetivo a divinizao do Homem. Para os membros dos Colgios de Construtores o mundo era um imenso canteiro de obras. O uso de sinais de reconhecimento garantia e protegia os segredos de sua profisso, herdados dos egpcios, dos gregos, dos judeus, dos persas e dos srios.

O COLGIOS ROMANOS NA GLIA CENTRAL ( FRANA )

Estes Colgios foram facilmente implantados na Glia, aps a sua conquista por Caio Jlio Csar. No sculo IV DC eles j existiam em Marselha, Valncia, Nimes, Aix-la-Chapelle, Leo, Narbona e Lutcia (Paris), onde assumiram grande prestgio com a construo de importantes edifcios.

Escavaes realizadas em 1715 no subterrneo da Catedral de Notre Dame de Paris encontraram uma lpide escrita em Latim, cuja inscrio era um cntico de louvor, dedicado a Jpiter pelos habitantes de Paris.

Os Colgios tambm floresceram em Trves, a rica capital dos Gauleses, e na Rennia onde existem numerosos vestgios romanos.

OS COLGIOS ROMANOS NA INGLATERRA

Uma vez que a Maonaria moderna teve sua origem na Inglaterra, devemos conhecer em maior profundidade a histria dos seus Colgios de Construtores.

No ano 43 DC o imperador Cludio enviou ilha algumas brigadas dos Colgios de Construtores ento estacionadas com as legies romanas ao longo do rio Reno, na Glia . O seu objetivo foi construir as defesas romanas dos ataques do celtas do norte (os escoceses).

Na poca, ainda no existiam cidades nem castelos na Gr-Bretanha. Os Colgios foram encarregados de construir campos fortificados para as legies. Em pouco tempo estes campos se transformaram em cidades dotadas de termas, templos e palcios. Uma destas cidades foi York, ento chamada de Eboracum, clebre na histria da Maonaria. Os Colgios de Construtores edificaram tambm trs grandes muralhas no norte do pas, na inteno de conter os ataques dos celtas.

Em 287 DC, Carausius, comandante da frota romana na Glia Superior (Blgica), declara-se imperador da Inglaterra e confirma todos os antigos privilgios dos Colgios de Construtores que foram estabelecidos ao tempo de Numa Pomplio e de Srvio Tlio .

Em 306 DC Constantino assume o poder em Roma e proclama o cristianismo a religio oficial do Imprio. Durante um sculo a nova religio se expande na Inglaterra, onde os celtas finalmente conseguiram expulsar os romanos, no incio do sc. V DC. Na mesma poca toda a Europa caa no domnio dos brbaros.

OS COLGIOS ROMANOS E AS INVASES BRBARAS

Na Glia, as leis romanas subsistiram nos reinos dos Visigodos e dos Burgndios, atravs da Lex Romana Visigothorum ou Brevirio de Alarico . Este cdigo de leis, que tambm vigorava na Aquitnia, no Languedoc e em Narbona, protegia os Colgios dos Construtores.

Com a sobrevivncia destas instituies tambm no Loire, nos vales do Reno e do Sane, vrias construes de grande porte foram realizadas, como por exemplo a catedral de Clermont (450-460 DC) cujos muros tinham gravados os utenslios usados na sua construo .

Entre 475 e 550 DC os Construtores edificaram muitos palcios e monumentos, como por exemplo as Colunas de Auvergne, a Catedral dos Santos Apstolos em Rouen e a magnfica igreja de So Vicente em Paris, no bairro de Saint-Germain-de-Pres.

Ao final do sculo VII e incio do sculo VIII os Anglo-Saxes recrutaram mestres construtores de Roma e da Glia, herdeiros dos Colgios Romanos e organizados em forma de associaes.

Na poca, as baslicas da Glia j mostravam estilo diferente das romanas, devido s influncias orientais introduzidas pelos Godos e pelos Visigodos, trazidas do Egito, da Palestina, da Sria e da Prsia sassnida .

Em 568 DC os Visigodos Lombardos invadiram a Itlia e fundaram um reino que s seria vencido por Carlos Magno em 774 DC. Nesta poca, somente Roma, Ravena e Veneza permaneceram livres e ligadas ao Imprio Romano do Oriente, em Bizncio (Constantinopla/Istambul). no reino Lombardo que surgem os Mestres Comacinos, da regio de Cme, reconhecidos como excelentes artesos da arte de construir. A sua ao influenciou o desenvolvimento da Arquitetura no norte da Itlia entre os sculos VII e XII. A sua organizao era semelhante dos Colgios do Imprio Romano do Oriente.

AS ASSOCIAES MONSTICAS

Ao final do Imprio Romano, com o aparecimento dos pequenos Estados suseranos, as antigas instituies foram gradualmente desaparecendo, substitudas pelas classes dos homens livres, dos aldeos e dos servos. Para garantir a sua sobrevivncia, os Mestres Construtores se refugiaram nas igrejas, nos mosteiros e nos conventos que haviam construdo na alta Idade Mdia .

A histria das Associaes Monsticas est ligada das Ordens Religiosas, em

particular Ordem dos Beneditinos e Ordem do Templo .

O papel dos Templrios est intimamente ligado ao surgimento da Maonaria Moderna .

Para conhecer a extenso da influncia dos Templrios, seria necessrio analisar a formao das Associaes Monsticas nas regies gticas, assim como a sua atuao na transio da arte romana para a arte gtica .

Na Inglaterra, as confrarias monsticas se desenvolveram sob a proteo dos Beneditinos de Santo Andr. Entre os anos de 856 e 1307 DC diversas igrejas e catedrais foram construdas na Inglaterra pelas associaes monsticas de construtores, comandadas por mestres notveis como Santo Augustin, So Dunstan, arcebispo de Canterbury, Gauthier Gifford, arcebispo de York e Gauthier Stapleton, bispo de Exeter.

Uma destas associaes monsticas, a dos Colideus, relacionou-se com o rei Athelstan, que iria ter papel decisivo na histria da Maonaria. Em sua origem, os Colideus eram um pequeno grupo de cristos. Foram os primeiros a introduzir o cristianismo na Inglaterra, e em sua organizao adotaram os princpios dos Colgios Romanos, existentes na Inglaterra at sada dos romanos da ilha britnica .

A LENDA DE YORK

Esta Lenda contada no Poema Regius ou Manuscrito de Halliwel, datado do final do sculo XIV e descoberto em 1838 no Museu Britnico por James Halliwel. Athelstan governou a Inglaterra de 924 a 940 DC. Ele completou a conquista dos pequenos reinos iniciada por seu av, Alfredo o Grande, e tornou-se o primeiro rei de toda a Inglaterra .

Athelstan utilizou os servios dos Colideus na construo de vrios castelos, abadias e mosteiros. Em 926 DC, em sua passagem por York (a Eboracum dos romanos) aps vitoriosa campanha militar contra os escoceses, o rei se rene com os Colideus na catedral de So Pedro .

Para manter a ordem nos trabalhos construtivos e para punir os transgressores da lei, o rei proclamou um dito dirigido a todos os maons, determinando que todos os Colideus deveriam reunir-se anualmente em York, para tratar dos assuntos de interesse da associao.

A Lenda conta que na mesma ocasio - 926 DC - o filho adotivo de Athelstan, o prncipe Edwin, concedeu Carta Constitutiva Loja de York e tornou-se o seu primeiro Venervel Mestre. Esta Loja teria permanecido ativa at 1172 DC, quando teria sido fechada pelo rei Henrique II.

O artigo Arte Cltica inserto no Dicionrio de Arqueologia Crist, de Dom Cabral, fornece a lista dos edifcios, monastrios e igrejas construdos pelos membros da Loja de York. Eles foram os introdutores do estilo gtico ou ogival. Um dos principais exemplos deste estilo na Inglaterra a Abadia de Westminster, em Londres.

AS GUILDAS

As Guildas tiveram sua origem nos Colgios Romanos e receberam em sua formao a influncia das idias crists de fraternidade. Dividiam-se em Guildas Religiosas ou Sociais, Guildas de Mercadores e Guildas de Artesos.

Elas j so mencionadas nas Iudicia Civitatis Londoniae redigidas no reinado do rei Athelstan. As Guildas de Artesos so j influentes na Inglaterra no reinado de Henrique I (1100-1133), descendentes que eram de uma confraria de construtores que os Templrios trouxeram da Terra Santa para construir a sua Igreja de Fleet Street em Londres (Catedral de So Paulo).

OS TEMPLRIOS

A Ordem dos Templrios, cujo nome correto Milcia do Templo, foi criada em Jerusalm em 1118, tendo como seu primeiro Gro-Mestre Hugues des Pains, sob a proteo de Theocletes, 67 sucessor do apstolo So Joo .

Seus membros pronunciavam trs votos: Obedincia, Pobreza e Castidade e tinha por objetivo defender o Santo Sepulcro e os peregrinos da Terra Santa .

Atravs de suas numerosas e poderosas Comanderias espalhadas pela Europa, a Ordem do Templo exerceu forte influncia sobre as Associaes Monsticas de Construtores e sobre as Guildas, constituindo confrarias religiosas comparveis s dos Beneditinos e Cistercienses. Antes de dar incio a qualquer atividade importante, os Templrios invocavam a Deus da seguinte maneira: NON NOBIS DOMINE SED NOMINE TUO AD GLORIAM (o que vamos realizar oh Deus, no para nosso proveito, mas para a glria do Teu nome).

OS TEMPLRIOS E A MAONARIA

Quando os Templrios, ajudados pelos cristos, disseminaram as suas comandarias pela Europa, dividiram com eles os segredos dos ritos tradicionais dos Colgios Bizantinos - os Colgios Romanos do Oriente - e dos Tarouq Muulmanos, fundamentados no sincretismo hermtico .

Em todas as suas possesses os Templrios tinham pedreiros livres a seu servio, dirigidos por um oficial do Templo. Na Inglaterra, ao incio do sc. XIII j era grande a influncia da Ordem do Templo que se beneficiava dos grandes donativos feitos pelo rei Henrique I. O seu prestgio foi ainda maior no reinado de Ricardo Corao de Leo .

Em sua Cruzada, juntamente com Felipe Augusto, rei de Frana, ele conquistou Chipre e entregou a ilha guarda dos Templrios, dos quais se tornou grande aliado e amigo. O poder e a riqueza da Ordem do Templo eram tais no incio do sculo XIV que os Templrios eram temidos e invejados tanto pela Igreja quanto pelo rei de Frana, Felipe V, o que acabou provocando a sua extino .

Com efeito, uma bula do Papa Clemente V, de 2/5/1312, decretou a sua extino, passando todos os seus bens para a Ordem do Hospital de So Joo de Jerusalm, depois Ordem dos Cavaleiros de Malta.

Esta Ordem manteve a proteo aos Mestres Maons, representada em iconografia do final do sc. XV, que mostra o Gro-Mestre da Ordem recebendo um Mestre Maom, seguido de seus Companheiros portando os seus utenslios de trabalho: o Esquadro, o Compasso, o Malhete e o Cinzel.

Aps a dissoluo da Ordem, os Templrios se introduziram nas corporaes dos construtores para se proteger das perseguies, adotando seus sinais e palavras, e continuando assim a exercer sua influncia na formao da Maonaria Moderna .

Em Portugal, o rei Dom Diniz fundou a Ordem de Cristo com a finalidade principal de acolher os Templrios perseguidos, bem como garantir-lhes os seus bens materiais, que de nenhuma forma foram entregues nem ao Papa nem ao rei de Frana.

Foi particularmente na Esccia que se refugiaram os Templrios ingleses, onde receberam a proteo do rei Robert Bruce, que tinha parentes Templrios. Em 1314 este rei fundou, em favor dos Maons, a Ordem de Heredom de Kilwining, concedendo ao mesmo tempo o ttulo de Grande Loja Real de Heredom de Kilwining Loja fundada em 1150.

Podemos resumir assim a influncia dos Templrios na formao da Maonaria Moderna:

Os Templrios constituram associaes monsticas de construtores, segundo as tradies greco-romanas, transmitidas pelos Beneditinos e pelos Cistercienses.

Eles tiveram ligaes estreitas com as associaes arquitetnicas crists e muulmanas do Oriente, das quais receberam influncias operativas e iniciticas .

Aps a dissoluo da Ordem do Templo, um grande nmero de Templrios se incorporou aos mestrados dos construtores.

A MAONARIA CORPORATIVA NA INGLATERRA

Com a Maonaria Anglo-Saxonica nasceu a Maonaria Especulativa Moderna . Assim, em sua formao a Maonaria Operativa recebeu as seguintes influncias:

Os Colgios Romanos, em certa medida os Colideus, os monges Beneditinos e Cistercienses e as Confrarias da Normandia e das Ilhas Britnicas. A instituio das Guildas oferece um carter jurdico s Confrarias.

As Guildas inglesas apresentavam um carter profissional e religioso . No s as Guildas no sofreram restries na Idade Mdia, como foram influenciadas pelos Hermetistas, Pitagricos, Neo-Platnicos e Rosa-Cruzes, a partir do momento em que a Maonaria deixou de ser puramente operativa, e passou a admitir grande nmero de membros no ligados profisso dos construtores. Estes novos membros foram chamados de membros especulativos.

Os documentos mais antigos da Maonaria Inglesa datam do incio do sc. XIII, como por exemplo o de 1212, escrito em Latim, com o ttulo Sculptores Lapidum Liberorum ( Pedreiros Livres ). Tambm existem documentos em Francs, de 1292 e 1350. Neste ltimo apareceu pela primeira vez a expresso Franco-Maom ou Pedreiro-Livre. Outros documentos sobre a Instituio tambm foram escritos em 1376, 1377, 1381, e 1396, este ltimo escrito pelo arcebispo de Canterbury, o patriarca da Igreja Anglicana .

Data de 1409 outro documento, relativo construo da Catedral de So Paulo em Londres. Estes documentos tratam da organizao, das normas de trabalho e do embrionrio ritual manico. Deve-se mencionar que no fim do sc. XVII parte da maonaria inglesa era j especulativa e admitia mulheres na instituio, conforme menciona o Estatuto da Loja de York de 1693, que diz que aquele ou aquela que se tornasse maom deveria fazer seus juramentos colocando a mo sobre a Bblia .

Em 1472 e em 1481 apareceram documentos sobre a Antiga e Fraterna Ordem dos Maons e sobre a Fraternidade dos Franco-Maons da cidade de Londres. Os dois mais importantes documentos antigos sobre a Maonaria so o Manuscrito Cooke e o j referido Poema Regius, que composto de 794 versos e que prova que os mistrios da Fraternidade j eram praticados na Inglaterra, no sculo XIV.

O Poema Regius afirma o carter religioso e moral da Ordem, a eleio anual de sua administrao em assemblia, menciona a lenda dos Quatro Santos Coroados protetores da Ordem, narra a histria da construo da Torre de Babel, menciona as sete artes liberais, faz recomendaes religiosas e contm um cdigo social.

O Manuscrito Cooke data de 1430 mas a compilao de documentos do incio do sculo XIII. Divide-se em duas partes. Na primeira, conta a histria da Geometria e da Arquitetura; na segunda, contm um Livro dos Deveres, que compreende a organizao do trabalho em nove artigos, promulgados pelo rei Athelstan em 926 DC na cidade de York. Tambm contm artigos de ordem moral, religiosa e social.

A palava Especulativo aparece pela primeira vez, na frase o filho do rei Athelstan- Edwin - era um verdadeiro Mestre Especulativo.

O Manuscrito de Cooke serviu de base a George Paine, segundo Gro-Mestre da Grande Loja de Londres, para escrever os seus primeiros regulamentos, adotados no dia de So Joo ( 21/06/1721 ). Foi tambm a principal fonte na qual James Anderson e Desaguilliers se basearam para redigir a Constituio editada em 1723.

Importantes so tambm as Old Charges - os Antigos Deveres - do sculo XV e relativos Maonaria Operativa ou Corporativa de Ofcio (Guildas de Ofcio). Outros documentos manicos antigos e importantes foram destrudos num auto de f por Desaguilliers, Gro-Mestre da Grande Loja de Londres, em 21 de junho de 1719 (h quem afirme que o autor da barbrie foi George Paine).

As Old Charges so iniciadas com a invocao Trindade Crist, e seu contedo mais ou menos o seguinte:

Caros Irmos, nossa inteno vos fazer conhecer como comeou nossa Venervel Ordem Manica. Segue-se uma descrio das sete cincias, ressaltando a Geometria como a maior delas. O ltimo captulo conta uma lenda, que a seguinte:

Aps o dilvio, Hermes Trimegisto encontrou uma das duas colunas nas quais estavam os documentos que continham toda a cincia; ele assimilou tudo o que encontrou e o ensinou humanidade, tornando-se o pai de todos os sbios. A segunda coluna foi encontrada, segundo o Manuscrito de Cooke, por Pitgoras. Em seguida, mencionada a histria de Nemrod, rei da Babibonia, que deu uma rgua a seus maons. Eles deviam ser fiis e se amar uns aos outros.

O personagem seguinte Abrao. Ele emigrou do Eufrates para o Egito, onde ensinou as sete cincias. Euclides foi aluno de Abrao. Com a permisso real, Euclides ensinou a Geometria aos prncipes, filhos do fara.

Em seguida vem a histria de Davi, que protegeu os maons. Seu filho, Salomo, termina a construo do Templo, reunindo na obra 24.000 maons, entre os quais havia 3.000 mestres. Hiram, rei de Tiro, tinha um filho chamado Aymon que era o maior dos Mestres.

A lenda pula vrios sculos, e conta em seguida que a Maonaria foi introduzida na Glia por Namus Groecus, que tinha participado da construo do Templo de Salomo . Ele ensinou a Maonaria a Carlos Martel, que por sua vez a ensinou aos seus sditos.

A lenda chega a Santo Alban, patrono dos Maons, e ao rei Athelstan cujo filho, Edwin, era Maom.

A interrupo da lenda neste ponto sugere que tenha sido escrita nesta poca. A verdade que na Inglaterra e na Esccia a Maonaria se fortificou com o apoio do poder real e dos bispos e arcebispos da Igreja .

Assim que, em 1495 o rei Henrique VII defende o uso dos sinais de reconhecimento empregados pelos maons e, em 24/06/1502, ele preside a reunio da Sociedade dos Maons de Londres, na ocasio da colocao da pedra fundamental da reforma da Abadia de Westminster.

somente aps a Reforma religiosa de Lutero e com as mudanas na dinastia inglesa, que os maons ingleses e escoceses, at ento fieis Igreja Catlica Apostlica Romana, ofereceram apoio ao rei Henrique VIII e ao Clero Anglicano. Isto viria contribuir para a criao da Grande Loja de Londres em 1717.

A UNIO MANICA

O tipo de trabalho realizado pelos maons tornava-os itinerantes. Devido a isso, era constante a intercomunicao entre as Lojas, e todo o Maom tinha o direito de ser recebido na Loja da cidade em que estivesse.

Assim, havia necessidade de possurem sinais de reconhecimento e tcnicas e

prticas comuns. No interesse da Ordem, convinha conservar em segredo estes sinais e prticas. Deste modo, foi instituda uma organizao que se manifestava da seguinte maneira:

Pela realizao de sesses peridicas para tratar dos interesses da Ordem

Pelo reconhecimento de Lojas Regulares, pelas Lojas mais antigas ou Lojas-Me

Pela instituio de um protetor comum, denominado Gro-Mestre

Apesar disto, no havia ainda uma organizao legislativa e administrativa permanente, nem uma pr-figurao das Obedincias, que s deviam se materializar em 1717, com a fundao da Grande Loja de Londres e Westminster (Mosteiro do Ocidente). Na poca as Lojas eram livres, no subordinadas a uma Loja-Me, como nas Grandes Lojas e Grandes Orientes Modernos. Na Inglaterra o papel de Loja-Me foi por muito tempo realizado pela Antiga Loja de York, que podia provar ser muito mais antiga que todas as outras.

Na Esccia, as Lojas de Kilwining e de Edimburg possuam o privilgio de outorgar Cartas Constitutivas a outras Lojas. Este estado de coisas viria desembocar na fundao da Grande Loja de Londres, a 24.06.1717, quando se juntaram as Lojas The Goose and Gridiron, The Crown, The Apple Tree, The Rummor and Grapes, sendo George Paine eleito Gro-Mestre.

Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2001

Antonio Rocha Fadista MI

Antonio Rocha Fadista - M.:I.: