A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula,...

26

Transcript of A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula,...

Page 1: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de
Page 2: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

A POESIA BRASILEIRA EM CENA:

dos temas sociais ao palco

Autora: Janete Alves Giordani1

Orientadora: Keli Cristina Pacheco2

Resumo

O presente artigo, fomentado pelo Plano de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Estado de Educação do Paraná, apresenta uma discussão sobre a leitura de textos poéticos de uma forma ativa. Nessa perspectiva o leitor passa a ser concebido como produtor de sentido, ou seja, como produtor de texto. Sem abandonar a perspectiva de uma leitura crítica que leve em conta o contexto de produção da poesia, porém não se limitando a este, acreditamos que a literatura pode e deve ser trabalhada de forma livre e espontânea, oportunizando aos alunos dialogar ou a atribuir sentido ao texto de acordo com suas leituras de mundo ou vivências sociais e culturais. Tal perspectiva propõe que as aulas de leitura superem as atividades rotineiras de interpretação, as quais muitas vezes conduzem o processo interpretativo, desconsiderando a voz do leitor/aluno. Para o desenvolvimento do projeto, realizamos a leitura de poesias de cunho social, mediada pela atividade teatral, a qual conduziu os educandos, do Curso de Formação de Docentes Colégio Estadual Arnaldo Busato (CEAB), ao aperfeiçoamento e fluidez da leitura e da reescrita das mesmas, bem como ao estímulo das possibilidades intelectuais, ao desenvolvimento da sensibilidade, do senso crítico e artístico, da sociabilidade e trabalho coletivo. Dessa forma, este estudo apresenta proposta a qual o teatro figura como um recurso pedagógico de leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de ensejar a formação de leitores competentes e críticos a partir de uma perspectiva interdisciplinar.

Palavras-chave: Literatura; Poesia; Leitura; Teatro.

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, participante do PDE 2009 -

Programa de Desenvolvimento de Educação, criado com base na Lei n° 9.394/1996, na Lei n° 10.172/2001, na Lei Complementar n° 103/2004 e no Decreto n° 4.482/2005. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi professora

colaboradora na UNICENTRO entre 2010 e 2012. Atualmente é professora adjunta do Departamento de Letras, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: [email protected]

Page 3: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

Abstract

This article, fostered by the Educational Development Plan - PDE, the State Department of Education of Parana, presents a discussion about reading poetic texts of an active form. From this perspective the reader is being designed as a producer of meaning, ie as a producer of text. Without abandoning the prospect of a critical reading that takes into account the context of production of poetry, but not limited to this, we believe that literature can and should be handled in a free and spontaneous, providing opportunities for students to discuss or assign meaning to text according to their perceptions of the world or social and cultural experiences. This perspective suggests that the reading classes beyond the routine activities of interpretation, which often lead the interpretive process, ignoring the voice of the reader / student. To develop the project, we conducted a poetry reading in the social, mediated by the theater industry, which led the students, the School of Teacher Training College State Arnaldo Busato (BEAC), developing and fluency of reading and rewriting of same, and the stimulation of intellectual possibilities, the development of sensitive, critical and artistic sense, sociability and collective work. Therefore, this study presents a proposal which the theater stands as an educational resource for reading poetry to the classroom in order to awaken in students / the taste for poetry readings, as well as give rise to the formation of competent readers and critics from an interdisciplinary perspective.

Key-words: Literature; Poetry; Reading; Theatre.

1 Introdução

Tendo em vista que as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a

Educação Básica (PARANÁ, 2007, p. 12) ensejam uma nova abordagem para o

ensino de Língua e Literatura, no Ensino Médio, ao conceberem: A) o ensino de

Língua e Literatura como um processo dinâmico e histórico dos agentes na

interação verbal tanto na constituição social da linguagem quanto dos sujeitos que

por meio dela interagem (BAKHTIN, 1997); B) o texto como lugar onde os

participantes da interação dialógica se constroem e são construídos; C) que a

reflexão com e sobre a língua implica considerar, como ponto de partida, a

dimensão dialógica da linguagem, presente em atividades que possibilitem, aos

alunos e professores, experiências reais de uso da língua materna; D) que os

conceitos de texto e de leitura não se restringem à linguagem escrita, mas abarcam

outras linguagens criadas pelo homem (FARACO, 2002, p.101 apud PARANÁ, 2007,

p. 14); E) que as práticas da linguagem, como fenômeno de uma interlocução viva,

perpassam todas as áreas do agir humano, possibilitando, na escola, o

Page 4: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

desenvolvimento da perspectiva de um trabalho interdisciplinar; F) que a importância

da Literatura para “trazer sabor ao saber, faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza

nenhum deles”. [...]. E, nesse sentido, “a literatura não diz que sabe alguma coisa,

mas que sabe de alguma coisa; ou melhor: que ela sabe algo das coisas – que sabe

muito dos homens” (BARTHES, 1989, p.19 apud PARANÁ, 2007, p. 15), este projeto

“A Poesia brasileira em cena: dos temas sociais ao palco” propôs oportunizar aos

alunos/as do Curso de Formação de Docentes Colégio Estadual Arnaldo Busato

(CEAB), numa perspectiva inovadora e interdisciplinar, o contato com a Literatura

aliada a diversas outras linguagens e textos, tais como: teatro, música popular

brasileira, performance, entre outros - no intuito de entender o ponto comum entre

eles e as especificidades de cada um deles, preparando-o para uma leitura mais

ampla e mais crítica do mundo que os cerca, tendo em vista que, infelizmente, a

tradição da leitura literária na escola, em especial a leitura de poemas, tem,

historicamente, aprisionado o autor e o leitor, pois em alguns casos, os livros

trazem fragmentos de textos maiores que não dão conta de sua complexidade e de

seu valor estético, tirando a oportunidade de o aluno perceber a leitura do texto

literário, especificamente a leitura de poesias. Enfim, o que se vê ainda, em algumas

aulas, é uma literatura descontextualizada, sem análise crítica e que sequer

estabelece relação com outras áreas da linguagem, deixando de explorar seus

aspectos lúdicos, estéticos, linguísticos e sociais.

Sob essa ótica, e seguindo-se os fundamentos e as orientações das

Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação, objetivou-se com

este trabalho proporcionar aos alunos, do Curso de Formação de Docentes, o

estudo do gênero poesia de alguns consagrados poetas da literatura brasileira,

dando enfoque às poesias de cunho social, dos diferentes estilos literários,

promovendo a partir desse, a construção de um outro texto poético. Para tal,

figurou-se o teatro, entendido como um recurso pedagógico para a sala de aula,

com o objetivo de, em uma primeira etapa, despertar no aluno o interesse pela

leitura e, em outra, promovê-lo a leitor competente e crítico dos diversos textos

presentes no meio social em que está inserido.

Para a implementação do projeto em sala de aula foram selecionadas,

inicialmente, algumas poesias compostas por temas sociais. Buscamos,

posteriormente, ressaltar a diferença entre poesia clássica e poesia moderna,

partindo de pressupostos teóricos de Roland Barthes, o que pode revelar um modo

Page 5: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

diferente de operação da linguagem. Uma mais social, tanto na forma quanto no

conteúdo; e outra, em que observamos uma crítica social à própria linguagem que

constitui a sociedade. Após estudos em sala de aula das poesias selecionadas,

propomos a reescrita das mesmas e realização de ensaios, e por fim, promovemos

a circulação da apresentação teatral no espaço escolar, por meio de um Sarau

Literário.

Assim, temos como foco, nas reflexões ora apresentadas, a implementação

de tal projeto pautada no uso de jogos dramáticos, como meio de preparar o aluno,

na escola, para ler com maior proficiência as poesias, integrando-as às outras

linguagens (neste caso, ao teatro), criando condições para a percepção do fazer

artístico, no qual ler pressupõe também uma compreensão responsiva, o que

implica reagir ao texto, dar-lhe uma resposta, concordando com ele, ou discordando;

rindo dele, emocionando-se com ele, aplaudindo-o, assimilando-o. De certa forma,

ler para posteriormente encenar é um modo de reescrever, uma vez que ler,

segundo Barthes (1992), é produzir sentido, neste passo, a encenação passa a ser

compreendida como um ato de ressignificar o sentido. Portanto, concordamos com

Barthes (1992), pois concebemos o leitor como um produtor de texto, sendo que

esta produção segunda, a encenação da poesia, propõe uma série de aberturas e

pluralidades, pois não fecha a leitura em um sentido fixo.

Nessa perspectiva, este trabalho apresenta proposta na qual o teatro figura

como um recurso pedagógico para a sala de aula, com o objetivo de, em uma

primeira etapa, despertar no aluno o interesse pela leitura e em outra promovê-lo a

leitor competente e crítico dos diversos textos presentes no meio social em que está

inserido.

Para a aplicação do mesmo efetivamos um trabalho transdisciplinar junto às

disciplinas de Educação Física, Arte e Metodologia do Ensino de Arte, articulando

assim o discurso literário com as diferentes manifestações artísticas, atentando para

as necessidades e interesse dos alunos.

2 Referencial teórico

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná,

nos anos 70, o ensino de Literatura restringiu-se, ao chamado segundo grau, às

abordagens estruturalistas e/ou historiográficas do texto literário. Na análise do texto

Page 6: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

poético, por exemplo, adotava-se o método francês, isto é, propunha-se a análise do

texto conforme as estruturas formais: rimas, escansão de versos, ritmo, estrofes,

etc. Cabia ao professor à condução da análise literária, e aos alunos, a condição de

meros ouvintes.

A historiografia literária, que ainda hoje resiste em algumas salas de aula,

direcionava e limitava as leituras dos alunos. Em muitos casos eram interpretações

dos professores e/ou dos livros didáticos, desconsiderando o papel ativo do aluno

no processo de leitura e, em outros, os textos eram levados para sala como pretexto

para se ensinar gramática.

Segundo Barthes (2007), literatura não é um corpo ou uma sequência de

obras, nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas o grafo complexo das

pegadas de uma prática: a prática de escrever, visando essencialmente o texto,

tecido dos significantes que a constitui, porque o texto é o próprio aflorar da língua,

e porque é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela

mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o

teatro.

As forças de liberdade que residem na literatura não dependem de pessoa

civil, do engajamento político do escritor, nem mesmo do conteúdo doutrinal de sua

obra, mas do trabalho de deslocamento que ele exerce sobre a língua.

É preciso reabilitar a leitura literária no espaço escolar. Trata-se de uma

tarefa de construção de novas formas de lidar com a literatura e de desconstrução

de regras que muitos professores insistem ainda em utilizar em sua prática. Regras

estas que se limitam ao ensino das escolas e dos gêneros literários, sem mencionar

às fichas de leitura e às velhas atividades de compreensão e interpretação que

incluem comentários sobre a biografia do autor e o enredo de narrativas e/ou

paráfrase de poesias.

Por mais que Parâmetros e Diretrizes Curriculares preguem que o ensino-

aprendizagem da Língua Portuguesa deva pautar-se num movimento de

interlocução, cujo eixo diretivo é o texto, travestido em diferentes gêneros textuais,

portanto inclui-se a poesia, ela é ainda um mito em nossas salas de aula, o que nos

permite assinalar certa resistência em se ler, interpretar, criar e recriar poemas.

Sendo assim, é tarefa da escola e do professor formar leitores capazes de

compreenderem e ressignificarem os textos escritos e os pensamentos produzidos

por histórias coletivas. Despertar no aluno o gosto pelo texto literário significa

Page 7: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

favorecer-lhe o contato com diferentes olhares e entendimentos acerca da

realidade, e submetê-lo ao poder transformador da literatura, pois a leitura desperta

o espírito crítico, que é a chave de uma cidadania ativa.

Para Michel de Certeau: “Ler é estar em outro lugar, ali onde ele não está,

em outro mundo [...] é criar cantos de sobra e de noite em uma experiência

submetida à transparência tecnocrática” (CERTEAU apud PETIT, 2008, p. 40).

O autor tinha ainda uma fórmula para evocar a liberdade do leitor: “Os

leitores são viajantes; circulam em terras alheias; são nômades que caçam

furtivamente em campos que não escreveram” (CERTEAU apud PETIT, 2008, p.

27).

Como afirmamos acima, o leitor não é passivo, ele opera um trabalho

produtivo, ele reescreve, altera o sentido, faz o que bem entende, distorce,

reemprega, introduz variantes. Deixa de lado os usos corretos, mas ele também é

transformado: encontra algo que não sabe nunca aonde isso poderá levá-lo.

Nesse sentido, Chamoiseau expressa ”mesmo que a leitura não faça de nós

escritores, ela pode, por um mecanismo parecido, nos tornar mais aptos a enunciar

nossas próprias palavras, nosso próprio texto, e a ser mais autores de nossas vidas”

(CHAMOISEAU apud PETIT, 2008, p. 36).

Nessa leitura, o escritor e o leitor constroem-se um ao outro; o leitor desloca

a obra do escritor, e o escritor desloca o leitor, às vezes revelando nele um outro,

diferente do que acreditava ser.

Já na leitura de obras literárias o escritor faz um trabalho de alteração da

língua. É o que diz Barthes, que destacava a profunda ligação entre língua e poder:

“a linguagem é uma legislação”, ou melhor: “Assim que ela é proferida, seja na

intimidade mais profunda do sujeito, a língua entra a serviço de um poder”

(BARTHES apud PETIT, 2008, p.37).

Às vezes, a leitura nos dá apoio de uma definição, de uma forma, de uma

ordenação. Sentimos que existe, em alguns textos escritos por escritores, um pouco

mais de verdade que em outras formas de expressão linguística, pois o escritor

quebra estereótipos, renova a linguagem, caça os clichês...

Portanto, ler possibilita abrir-se para o outro, não é somente pelas formas de

sociabilidade e pelas conversas que se tecem em tornos das leituras, mas também

pelo fato de que ao experimentar o contato com o texto, tanto sua verdade mais

íntima como a humanidade compartilhada, a relação com o próximo também se

Page 8: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

transforma. Ler não isola do mundo. Ler reintroduz o leitor no mundo de forma

diferente (PETIT, 2008, p.43).

Ler é, portanto, a oportunidade de encontrar um tempo para si mesmo, de

forma discreta, tempo de imaginar outras possibilidades e reforçar o espírito crítico,

de obter uma certa distância, um certo “jogo” em relação aos modos de pensar e

viver de seus próximos.

Através da leitura nos tornamos um pouco mais agentes de nossas vidas,

encontrar uma margem para observar o jogo no xadrez da sociedade proporciona-

nos uma distância crítica, uma compreensão de si mesmo, do outro, e do mundo. Ao

mesmo tempo, pode-se encontrar um lugar em mundo, em uma sociedade que

transformamos um pouco, onde temos nossa parte, onde nos inscrevemos.

A leitura é um meio para se ter acesso ao saber, aos conhecimentos formais

e, sendo assim, pode modificar as linhas de nosso destino escolar, profissional e

social. É um caminho privilegiado para se construir, se pensar, dar um sentido à

própria experiência, à própria vida; para dar voz a seu sofrimento, dar forma aos

desejos e sonhos.

Lembramos também como os poetas ajudaram a “sustentar” naqueles que

se encontravam sob sofrimentos extremos; podemos evocar todos aqueles que, na

dor, mantiveram a dignidade recitando versos. Do papel que estas palavras

representaram para tantas pessoas, nos campos de concentração, durante a

Segunda Guerra Mundial.

Joseph Conrad dizia que o autor escreve apenas a metade de um livro, a

outra metade fica por conta do leitor (CONRAD apud CASA NOVA, 2007, p.3). A

cada leitura de um poema, torno-me poeta: essa é a minha parte na leitura. É o

momento do vazio que me incita à procura. Mas “o verdadeiro leitor não recria o

livro, está disposto a retornar, por um impulso insensível, as diversas prefigurações

que foram as suas e que o tornaram como que presente, de antemão, na

experiência aventurosa do livro” (BLANCHOT, 1987, p. 203). A cada leitura um outro

processo se instala.

Tentemos compreender o que diz Barthes:

Page 9: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

O autor que vem de seu texto e vai para dentro da nossa vida não tem unidade: é um simples plural de encantos, o lugar de alguns pormenores tênues, fonte, entretanto de vivos lampejos romanescos, um canto descontínuo de amabilidades, em que lemos apesar de tudo a morte com muito mais certeza do que na epopeia de um destino: não é uma pessoa (civil ou moral), é um corpo. (BARTHES, 1982, p.11).

De um corpo a outro corpo, o do leitor, que também é um texto, na medida

em que é tecido pela cultura. Com sua história, repertório, conhecimento, é capaz

de ler, significar. Esse leitor tem direitos, como aqueles que Pennac nos enumera

em seu livro Como um romance:

‘O direito de não ler’; ‘o direito de saltar páginas’; ‘o direito de reler’; ‘o direito de ler em voz alta’. Enfim, o direito à liberdade de troca, a liberdade do desejo, pois o poema não nos dá respostas às perguntas que fazemos a ele (PENNAC, 1993, p.118).

A leitura do texto poético adquire sua expressão maior numa mudança

radical em que o deslocamento, o descentramento da figura do autor, passando

para o texto e para o leitor, deixa a circulação e produção de sentidos acontecerem.

O texto é produto de um trabalho (poiesis)3 de criação, gerador de sentidos. A tônica

é a diferença entre significação e significância. A significação de um poema designa

o sentido enquanto uma unidade (sólida, que não admite variação) e a significância

como sendo dinâmica, ou seja, um regime de sentidos que não se fecha e

sensualmente é sentida.

Enfim, diversas vias são abertas no ato de criar um poema. Vozes de dentro

e de fora, silêncios, ruídos variados, na multiplicidade de registros sonoros ou nas

inúmeras possibilidades da imagem da letra em poemas visuais que constroem

ritmos audíveis e imagéticos. Cabe ao leitor o prazer da descoberta desse universo

que é o poema. Em qualquer suporte (meio) que o poema se dá a ler, ao leitor cabe

ir e vir dentro e fora da linguagem instaurando seu lugar.

Mas ainda cabe uma pergunta: para que a poesia seria hoje necessária?

O texto poético é visto por muitos como um gênero difícil de ser trabalhado e

muito raramente proposto em sala de aula. Portanto, é importante que se propicie

3 Palavra de origem grega, significou inicialmente criação, ação, confecção, fabricação; terminou por significar arte da poesia e faculdade poética. (DICIONÁRIO WEB). Disponível em: <www.dicionarioweb.com.br/poíeses.html>.

Page 10: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

juntamente com os textos que circulam socialmente, o texto poético, uma vez que é

na escola que talvez muitos tenham única oportunidade de contato.

A poesia presente na sala de aula pode também representar uma poderosa

estratégia para desenvolver a sensibilidade, a criatividade, a autonomia e a

autoestima. O trabalho com o texto poético - ler, interpretar, criar, recriar - abre

espaço para que o aluno se expresse com maior liberdade, contribuindo para

melhorar-se enquanto leitor, enquanto escritor e enquanto ser humano.

Acredita-se ainda que a utilização de texto poético seja um importante

instrumento no ensino de leitura porque atrai o leitor para aspectos relacionados

tanto à forma quanto ao conteúdo do texto, com a finalidade de um processamento

mais eficiente de construção de sentido. Além disso, o uso do poema, graças ao seu

caráter “aberto”, abre espaço para a expressão da subjetividade, para possibilidades

de significação durante o processo interpretativo, favorecendo uma prática interativa

e colaborativa, estimulante e motivadora na construção do sentido.

Durante milênios, e certamente muito antes da invenção da escrita, a poesia

habitou entre os homens para seu encantamento e consolo. Identificando-se com a

linguagem dos primeiros homens, a poesia lhes deu o abrigo da memória, os tons e

as modulações do afeto, o jogo da imaginação e o estímulo para refletir, às vezes

agir.

Embora poucos sejam os que duvidem do “desencantamento do mundo”,

ainda há quem sinta a magia de um verso musical, o esplendor de uma imagem

luminosa ou a melancolia do poema que fale de um bem para sempre perdido. De

acordo com Bosi (2000, p.260) “a poesia sobreviveria não só no ato de ressignificar

e, não raro, reencantar pessoas, coisas e eventos, mas também a recolher-se em si

mesma, a palavra que se desdobra sobre a palavra.” E ainda:

A poesia é ainda nossa melhor parceira para exprimir o outro e representar o mundo. Ela o faz aliando num só lance verbal sentimento e memória, figura e som. Momento breve que diz sensivelmente o que páginas e páginas de psicólogos e sociólogos buscam expor e provar às vezes pesadamente mediante o uso de tipologias (BOSI, 2000, p.272).

Segundo Candido:

Page 11: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

As produções literárias, de todos os tipos e todos os níveis, satisfazem necessidades básicas do ser humano que enriquece a nossa percepção e nossa visão de mundo. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante (CANDIDO, 1995, p. 248).

Candido exemplifica tal teoria com o poema abolicionista de Castro Alves, o

qual atua pela eficiência da sua organização formal, pela qualidade do sentimento

que exprime, mas também pela natureza da sua posição política e humanitária.

Sendo assim, a literatura satisfaz, em outro nível, a necessidade de conhecer os

sentimentos e a sociedade, ajudando-nos a tomar posição em face deles.

É aí que se situa a “literatura social”, na qual pensamos quase

exclusivamente quando se trata de uma realidade tão política e humanitária quanto

os direitos humanos, que partem de uma análise do universo social (CÂNDIDO,

1995, p.249).

Desse modo, a poesia seria hoje, particularmente, bem-vinda porque o

mundo no qual ela precisa subsistir tornou-se atravancado de objetos, atulhado de

imagens, aturdido de informações, submerso em palavras, sinais e ruídos de toda

sorte.

A poesia devolveu corpo e alma, forma e nome, ao que a máquina social já

dera por perdido. A poesia dá voz à existência simultânea, aos tempos do Tempo,

que ela invoca, evoca, provoca.

A leitura de qualquer texto, assim como a de textos poéticos, deve ser algo

prazeroso, que dê oportunidades de viajar pelo tempo e construir conhecimentos e

possibilidades de discernir e compreender melhor o mundo, os tempos passado,

presente e futuro.

Diante de tais colocações, compreendemos a necessidade de se estudar

este gênero literário na escola, buscando uma forma mais eficiente de se trabalhar

com poemas em sala de aula, sobrelevando, notadamente, a leitura em uma

perspectiva interativa, em que o aluno/leitor é convidado a participar da construção

do sentido do texto, atribuindo-lhe significações de acordo com seu horizonte de

experiências.

De acordo com as DCEs, para leitura de textos poéticos, o professor deve

estimular nos alunos a sensibilidade estética, fazendo uso, para isso, de um

instrumento imprescindível e, sem dúvida, eficaz: a leitura expressiva. O modo como

o docente proceder à leitura do texto poético poderá tanto despertar o gosto pelo

Page 12: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

poema como a falta de interesse pelo mesmo. Assim, antes de apresentá-lo aos

educandos, o professor deve estudar, apreciar, interpretar, enfim, fruir o poema.

A Literatura, como toda arte, é a expressão do próprio homem. Como

expressão humana, conduz ao autoconhecimento e por sua natureza ficcional, à

imaginação. Num mundo tão conturbado como o nosso, a literatura é o espaço da

criação, da liberdade de pensar, retirando a criatura da escravidão de pensamentos,

da passividade própria de uma sociedade dominadora. Ela desenvolve a criatividade

humana, leva a refletir sobre o indivíduo e sua comunidade.

O texto literário deve ser discutido e analisado por professores e alunos,

numa relação de diálogo, trocas e respeito à fala e à voz do aluno, bem como às

suas leituras anteriores.

É importante que o professor trabalhe com seus alunos as estruturas de

apelo, demonstrando a eles que não é qualquer interpretação que cabe à literatura,

mas aquelas que o texto permite. Há poemas em que desconsiderar a leitura do

ritmo significa comprometer a interpretação e a compreensão, assim como há

poemas em que esse recurso não é tão relevante. Há poemas em que a escolha

lexical é o que faz a diferença, outros, ainda, em que a pontuação é carregada de

significação. Há poemas em que informações como as condições de produção, o

contexto histórico-cultural fariam falta para a sua compreensão, outros nem tanto, o

poema responde por si só.

Cabe ao professor, portanto, observar quais recursos de construção do

poema devem ser considerados para a leitura e, como mediador do processo,

contribuir para que os discentes sejam capazes de identificá-los e, sobretudo,

permitir a eles que efetivem a experiência de ler o texto poético em toda a sua gama

de possibilidades (PARANÁ, 2007, p.76).

Dentre tantos princípios que orientam o estudo de literatura, o professor

poderá utilizar-se de um arsenal básico como prática pedagógica, o trabalho

interdisciplinar: Literatura e Arte, Literatura e História e outras, estabelecendo a

fusão de dois elementos artísticos distintos (textos poéticos e espetáculo teatral) que

buscam articular a linguagem cênica com a poesia, pois sabemos que muitos

espetáculos teatrais, até mesmo os contemporâneos, têm sido concebidos a partir

de obras poéticas de vários autores.

A Literatura, como expressão humana, conduz ao autoconhecimento e, por

sua natureza ficcional, à imaginação. Num mundo tão conturbado como o nosso, a

Page 13: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

literatura é o espaço da criação, da liberdade de pensar, retirando a criatura da

escravidão de pensamentos, da passividade própria de uma sociedade dominadora.

Ela desenvolve a criatividade humana, leva a refletir sobre o indivíduo e a

sociedade.

Para Garcia (2006, p.172):

A Literatura resulta o que precisa ser redefinido na escola: a Literatura no ensino pode ser somente um corpo expansivo, não-orgânico, aberto aos acontecimentos a que os processos de leitura não cessam de forçá-la. Se não for assim, o que há é o fechamento do campo da leitura pela via do enquadramento do texto lido a meros esquemas classificatórios, de natureza estrutural (gramática dos gêneros) ou temporal (estilos de época).

Sendo assim, a literatura trabalhada de forma livre e criativa, mediada pela

atividade teatral, aproveitando seu permanente diálogo com outras artes como a

música e dança, proporcionará aos alunos um contato mais expansivo e envolvente

com a literatura, fazendo com que interajam com a mesma, construindo

conhecimentos e desenvolvendo uma abertura aos acontecimentos que, como

vimos, são próprios e constitutivos ao ato de ler.

2.1 Poesia clássica e poesia moderna

Para Barthes (2007, p.141), a prosa e a poesia são grandezas, a diferença

entre elas é mensurável; não estão nem mais nem menos distantes do que dois

números, próximos como eles, mas distintas pela própria diferença de quantidade.

Ainda para o autor, com relação à linguagem, considerada um dogma

clássico, há diversas maneiras de falar conforme as ocasiões sociais: ora prosa e

eloquência, ora poesia ou preciosismo, mas sempre uma linguagem única refletidas

pelas categorias eternas do espírito (BARTHES, 2007).

A poesia clássica era sentida apenas como uma variação ornamental da

prosa, o fruto de uma arte, de uma técnica, nunca como uma linguagem diferente ou

como um produto de uma sensibilidade particular, uma equação decorativa,

carregada de uma prosa virtual. Sem nenhum sentimento, coerência, mas somente

a inflexão de uma técnica verbal; expressão segundo regras mais belas, portanto

uma fala socializada pela própria evidência de sua convenção.

Page 14: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

A função do poeta clássico não é, portanto, encontrar palavras novas, mais

densas ou mais brilhantes, mas ordenar um protocolo antigo, aperfeiçoar a simetria

ou a concisão de uma relação, levar ou reduzir um pensamento ao limite exato de

um metro. A linguagem clássica é portadora de euforia por ser uma linguagem

imediatamente social. Ainda segundo Barthes:

[...] a linguagem clássica se reduz sempre a um contínuo persuasivo, postula o diálogo, institui um universo onde os homens não estão sós, onde as palavras têm o peso visível das coisas, onde a fala é sempre encontro com outrem. A linguagem clássica é portadora de euforia por ser uma linguagem imediatamente social (BARTHES, 2007, p. 144).

Dessa estrutura, nada resta na poesia moderna. A poesia moderna não é

mais uma prosa decorada, amputada de liberdade. É qualidade irredutível e sem

hereditariedade; é substância a qual renuncia os signos e traz em si sua natureza e

não precisa assinalar exteriormente sua identidade: as linguagens poéticas e

prosaicas estão suficientemente separadas.

Na poética moderna as palavras emanam mais significados; o pensamento

se instala pelo acaso das palavras, com maior intenção. A palavra explode acima de

uma linha de relações esvaziadas; a gramática fica desprovida de sua finalidade,

torna-se prosódia. Assim, para Barthes, ”[...] sob cada palavra da poesia moderna,

jaz uma espécie de geologia existencial, onde se reúne o conteúdo total do Nome, e

não mais seu conteúdo eletivo como na prosa e na poesia clássica” (BARTHES,

2007, p.141).

Partindo desses pressupostos teóricos que Roland Barthes faz entre poesia

clássica e poesia moderna é que se propõe a exploração da poesia social,

estabelecendo um paralelo das escolas literárias, desde o Barroco até o

Modernismo, visando a um tempo só, uma leitura prazerosa e significativa das

poesias clássicas tanto quanto das poesias modernas. Acredita-se que o estudo do

texto poético seja um importante instrumento no ensino de leitura porque chama a

atenção do leitor para aspectos relacionados tanto à forma, quanto ao conteúdo do

texto.

A leitura de poesias clássicas e modernas, bem como a reescrita das

mesmas direcionadas para a encenação, pode abrir espaço para que o aluno se

expresse com maior liberdade (desprendendo-se das regras e convenções),

contribuindo de maneira significativa para enriquecê-lo como ser humano, além de

Page 15: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

possibilitar a ele uma leitura que leve em conta a pluralização dos significados

durante o processo interpretativo.

Acrescenta-se ainda, que o objetivo deste trabalho com poesias é priorizar

esse gênero literário de forma mais eficiente para que possa circular e ser difundido

socialmente no espaço escolar, deixando de enfatizar o estudo cronológico,

historicamente mecânico, das escolas literárias ou apenas a ilustração das

características das escolas, procedimento comum nos livros didáticos. Optamos,

assim, por um estudo que leve em conta as diferenças entre a poesia clássica e

moderna, tal como define Barth com a intenção de possibilitar a expansão do

conhecimento desta linguagem, através do exercício da reescrita, da ressignificação,

através da encenação no palco.

3 Da reflexão teórica à implementação de uma proposta

“Se teus projetos são para um ano, semeia o grão. Se são para dez anos, planta uma árvore.

Se são para cem anos, instrua o povo. Semeando uma vez o grão, colherás uma vez;

Plantando uma árvore, colherás cem vezes. Se deres um peixe a um homem – ele comerá uma vez;

Se, porém, o ensinares a pescar – ele comerá a vida inteira” Kuan Tzu – sábio chinês – séc VII a. C.

As atividades do PDE, mediante encontros de leituras, reflexões, análises,

pesquisa e seleção de referencial teórico-metodológico, seminários, debates, tutoria

on-line de Grupo de Trabalho em Rede (GTR), promovidos pela SEED, em parceria

com as Instituições de Ensino Superior (IES), visavam a que o professor

desenvolvesse no espaço escolar uma prática pedagógica inovadora, em processo

de formação continuada.

Após a escolha da metodologia, esse estudo constituiu-se na elaboração de

um Projeto Inicial, para delimitar o processo de aplicação. A próxima fase constou da

elaboração da Unidade Didática, que serviu como plano de aula para nortear a

Intervenção. Concomitantemente, destacou-se outra ação de igual importância que

foi o Grupo de Trabalho (GTR). Iniciado no segundo semestre de 2011 que contou

com a participação on line de professores de diferentes regiões da rede pública das

escolas do Estado do Paraná. Essa ação proporcionou uma apropriação de

conhecimentos sobre as tecnologias educacionais disponíveis através do trabalho

Page 16: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

desenvolvidos pelos professores da rede e pela professora PDE (2010). Os

cursistas participaram de forma efetiva, interagindo entre si e auxiliando com

sugestões e opiniões no processo de implementação do Material Didático.

A Unidade Didática foi aplicada no 2° semestre do ano letivo de 2011, como

Projeto de Intervenção aos alunos/as do Curso de Formação de Docentes do

Colégio Estadual Arnaldo Busato (CEAB), da cidade Coronel Vivida - PR, na

disciplina de Língua Portuguesa, culminado em um trabalho conjunto com as

disciplinas de Artes, Educação Física e Metodologia do Ensino de Arte (disciplina

específica do curso), articulando assim, o discurso literário com as diferentes

manifestações artísticas, atentando para as necessidades e interesse dos alunos.

Apoiando-se pelo referencial teórico registrado, buscou-se proporcionar aos

alunos experiências significativas de leitura de poesias, promovendo a encenação

dos textos poéticos selecionados, uma vez que o teatro é, sem dúvida, um dos

grandes recursos pedagógicos, basta o professor adequá-lo às possibilidades e

condições de desenvolvimento dos alunos e dos objetivos educacionais.

O material didático aplicado foi desenvolvido por unidades, sendo que cada

unidade foi aplicada para cada uma das quatro séries do Curso de Formação de

Docentes, mas que aconteceram concomitantemente, constituindo-se basicamente

de:

3.1 Contato inicial – motivação

Inicialmente reuniu-se os(as) alunos(as) do 1º ao 4º ano do Curso de

Formação de Docentes para a apresentação do projeto a ser desenvolvido,

averiguando o interesse dos mesmos por poesia. Ao mesmo tempo, falou-se um

pouco sobre poesia social e teatro, para que se sentissem motivados a participar

com entusiasmo, interesse e responsabilidade de todas as atividades propostas. Ao

final foi reproduzido um pequeno vídeo (Menestrel), com duração de 10 minutos.

Também foi entregue um questionário de investigação para levantamento de dados,

tais como: interesse pela leitura de poesias, quais alunos possuíam habilidades

artísticas como teatro, canto, instrumentos musicais, dramatização, encenação,

declamação. Nesse encontro estavam presentes os professores do curso das

disciplinas de Arte, Educação Física e Metodologia do Ensino de Arte.

Page 17: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

A partir dessas atividades, houve a seleção dos interessados em participar

do projeto, considerando-se os seguintes critérios: o gosto pela poesia, o desejo de

participar efetivamente do projeto, a disponibilidade de tempo em horários contrários

aos de aula e o empenho em cumprir com responsabilidade as atividades propostas.

Partindo de tal investigação, procurou-se proporcionar atividades de leitura

que acionassem o leitor/aluno, atreladas todas as suas habilidades artísticas. Para

isso, foram desenvolvidas práticas diversificadas e criativas referentes ao conteúdo,

leitura das poesias, dramatização, declamação, encenação, jogral, reprodução

musical, declamação, e recriação das poesias estudadas.

3.2 Oficinas de leitura

3.2.1 Unidade I - encenação de poesias

Um dos poemas selecionados na primeira unidade, e trabalhado junto ao 3º

ano, foi “O navio negreiro”, de Castro Alves, pois foi o primeiro e grande poeta social

brasileiro que, como poucos , soube conciliar as ideias de reforma social com os

procedimentos específicos da poesia, voltando-se para a arte engajada, isto é, arte

com o compromisso de interferir politicamente no processo social, retratando a

escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Primeiramente,

questionou-se se os alunos já conheciam ou se já haviam lido o poema. Em

seguida, distribuíram-se trechos do poema e comentou-se sobre o tom exaltado do

poema. Na sequência, utilizando a TV pendrive, fez-se uma amostra do poema na

íntegra, composto de seis partes. Na aula seguinte, os alunos dirigiram-se até o

laboratório de informática para pesquisar sobre o poeta Castro Alves. Para maior

motivação do trabalho, ouviu-se a música do CD Livro (1998), do baiano Caetano

Veloso, cantado em ritmo de Rap, juntamente com Maria Betânia. Para uma

compreensão mais aprofundada do poema em estudo, assistiram-se trechos do

filme Amistad, do diretor Steven Spielberg, baseado em fatos verídicos. O filme

conta a saga de dezenas de africanos que a bordo de um navio negreiro espanhol

chamado “La Amistad” conseguem matar a maioria dos tripulantes e obrigam os

sobreviventes a levá-los de volta para casa na África.

Page 18: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

Os africanos são enganados pelos tripulantes, desembarcando nos Estados

Unidos, onde são presos, sendo privados de suas liberdade sem o devido processo

legal, e levados a julgamento por assassinato.

Assim começa um longo e controverso processo.

Vida, Liberdade, Igualdade, Segurança e Propriedade serão os direitos

constitucionais que identificaremos como infringidas nesse filme.

Ainda para enriquecer e aprofundar o estudo, levou-se para a sala de aula o

Cd da música “Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro”, de Marcelo

Yuka, que dialoga com a poesia Navio Negreiro e nos faz refletir sobre a questão da

escravidão no Brasil. Na sequência, discutiu-se com os alunos sobre a letra da

música e sua relação com a poesia de Castro Alves. Percebem-se as condições

precárias de transporte dos escravos pela leitura do trecho do Navio Negreiro que foi

musicado, como também é evidente a crítica a um comportamento social negativo

por parte das autoridades policiais, da imprensa e da omissão das pessoas na

música “Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro”.

Após o estudo da música, propôs-se então que, em grupos, os alunos

fizessem uma reescrita (intertextualidade) do poema estudado “Navio Negreiro”,

voltando-se para questões sociais vividas nesse momento pelos brasileiros. Para tal

atividade, os alunos puderam selecionar estrofes do poema de seu interesse,

finalizando com a leitura dos mesmos para a sala de aula.

Também com o objetivo de descontrair, paródias foram produzidas e

encenadas para os colegas, voltando-se sempre para a temática em estudo.

Para finalizar o estudo, as aulas seguintes foram destinadas para o ensaio

da declamação do poema. Já com os trechos selecionados em mãos, dividiu-se a

turma em equipes, distribuíram-se as estrofes para cada um e foi realizada uma

leitura oral, e posteriormente uma declamação do poema. Várias leituras diferentes

e ensaiadas foram realizadas, procurando buscar a melhor entonação, expressão

corporal, dos gestos apropriados e dos movimentos necessários. Em vários outros

momentos a turma fez outros ensaios, agora com o poema já decorado,

preparando-se então para a apresentação final, o Sarau Literário, contando com a

ajuda da professora de Educação Física, a qual atrelou a declamação a uma

coreografia acompanhada de uma música afro, momento esse de bastante

descontração e total envolvimento da turma.

Page 19: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

3.2.2 Interdisciplinaridade - Oficina de Teatro

Não há como negar que o texto literário incentiva o imaginário, o lúdico e o

prazer; permite a reflexão e o desenvolvimento da sensibilidade estética e do senso

crítico. Pennac (1993) afirma que o professor é uma espécie de casamenteiro entre

o "livro" e o leitor e é também o responsável também pela interdisciplinaridade, na

medida em que faz incursões pelos diferentes campos do conhecimento.

Sendo assim, o teatro também é concebido como linguagem, como sistema

de representação especificamente humano e um instrumento poderoso de

comunicação, leitura e compreensão da realidade. Acredita-se que esse recurso

poderá motivar, contagiar o aluno para o prazer de ler. O teatro auxilia o estudante

no aprendizado de um determinado conteúdo ao mesmo tempo em que oferece

possibilidades de diverti-lo, afirma Reverbel (1978).

Partindo de tais pressupostos, buscou-se com esta Intervenção Pedagógica,

apresentar uma proposta na qual o teatro figura como um recurso pedagógico para

a sala de aula.

Para isso foram desenvolvidas “Oficinas de Teatro”, as quais foram

ministradas pela professora de Metodologia do Ensino de Arte do Curso de

Formação de Docentes, concomitantemente as demais atividades, articulando

assim, o discurso literário com as diferentes manifestações artísticas.

Tal proposta encontra-se baseada em propostas apresentadas nos livros:

“Metodologia do ensino de teatro”, de Ricardo Ottoni Vaz Japiassu, e “Oficina de

teatro”, de Olga Reverbel.

3.2.3 Unidade II - Leitura Dramatizada

Para o trabalho com o 2º ano, escolheu-se o poema “José”, de Carlos

Drummond de Andrade. Poeta hermético, poeta da lembrança de tempos passados,

poeta atento ao presente: o bem da verdade. Mas também é reconhecido como um

poeta popular, pois consegue manter um público fiel, por meio de uma linguagem

cotidiana, acessível a todos os níveis de leitores. Sua obra exprime os dois pontos

da problemática do homem no mundo moderno, desde os conflitos individuais do

ser até sua inserção conflituosa na sociedade. De um modo geral, a obra de Carlos

Page 20: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

Drummond de Andrade reflete a grande importância do autor, que sintetizou em

suas diversas fases poéticas a postura do homem frente ao mundo moderno que se

apresenta, gerando a cosmovisão de um sentimento do mundo.

Sabe-se que há algumas dificuldades para ler poemas em voz alta.

Portanto, faz-se necessário desenvolvermos técnicas que ajudem os alunos no

desempenho da leitura oral. As maiores dificuldades ocorrem com os poemas

modernos. A falta de pontuação, as elipses, a ausência de uma direção de leitura,

os deixam perplexos no contato inicial com a poesia moderna.

Por outro lado, a apresentação oral de poemas exige preparação. O

professor deve primeiro sentir o poema para depois poder partilhar com os alunos. E

deve treinar para poder usar adequadamente diferentes recursos expressivos, tais

como a intensidade da voz, a pronúncia, a entoação, os silêncios e a expressão

facial, os movimentos, a postura, etc. Uma boa leitura de poemas deve ser clara e

natural. Mas, neste caso, conseguir ser natural pressupõe algum treino.

Portanto, o poema “José” é um texto que proporciona uma bela leitura oral,

até mesmo uma leitura dramatizada improvisada, em sala de aula. Ler e reler em

voz alta de modo a acertar a leitura e adequá-la à entonação, valorizar determinadas

palavras, descobrir as pausas adequadas. Um poema bastante conhecido como

“José”, se for lido com muita lentidão poderá comprometer o valor e o encantamento

que o texto realmente possui. Dessa forma, lendo o poema em voz alta, por várias

vezes, fará com que o aluno o entenda melhor. Alfredo Bosi defende que se “o leitor

conseguir dar, em voz alta, o tom justo ao poema, ele terá feito uma boa

interpretação, isto é, uma leitura “afinada” com o espírito do texto.” (2000, p.280).

Pautado nas afirmações acima, optou-se por trabalhar o poema em forma

de Jogral, distribuindo cópias do poema para a turma, dividindo-os em equipe e

lançando o desafio de criar um belo jogral, de forma a produzir uma leitura com arte

para apresentação à turma.

Outro poema selecionado nesta unidade foi “O caso do vestido”, também de

Drummond. Lembrando que para a seleção e distribuição dos poemas para as

turmas procurou-se atrelar esses ao planejamento curricular da turma.

O poema “O Caso do Vestido”, de Drummond, saiu das páginas líricas, e

acabou sendo transformado primeiramente em romance por Carlos Herculano, e

posteriormente tornou-se um argumento para roteiro do filme proposto pelo cineasta

Paulo Thiago, lançado em 2004, intitulado O Vestido.

Page 21: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

Primeiramente, apresentou-se a declamação feita pelo próprio poeta Carlos

Drummond de Andrade que se encontra em vídeo na internet.

Essa atividade teve por objetivo envolver e motivar os alunos numa

atmosfera próxima ao do teatro, possibilitando um prévio conhecimento das

personagens que atuam no poema. Serviu então, como um exercício introdutório

(ensaio) para a representação teatral do poema.

Após leitura e estudo do poema, selecionou-se um grupo de alunos que se

interessou em encenar o poema, os quais tinham maior afinidade com o teatro. O

mesmo foi ensaiado, com muito interesse e dedicação por parte do grupo, e

apresentado durante o Sarau Literário.

3.2.4 Unidade III – Jogral

Dando sequência, concomitantemente às demais oficinas, o 1º ano ocupou-

se do estudo da poesia “A bomba”, ainda de Carlos Drummond de Andrade. A

poesia de Drummond remete às bombas atômicas lançadas sobre as cidades

japonesas de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Grande Guerra Mundial

(1939-1945). Drummond foi um dos poetas de sua geração, que em algumas

poesias, trata de temas sociais, denuncia injustiças, se preocupa com os problemas

da sociedade em que vive.

Num plano maior, sobre a ameaça nuclear, sobre todas as outras ameaças

políticas e guerreiras não se limita a tentar corrigir o mundo, pois não crê que seja

essa a missão do poeta, mas traz um jogo de sons no poema que a cada vez que se

lê um verso e se repete a palavra bomba sente-se a sonoridade da explosão que

impressiona. A palavra bomba repete-se 54 vezes, o som e a repetição faz com que

a atenção fique centralizada na sílaba bom... bom... bom... (os estrondos da

bomba). A presença da aliteração nos remete ao imaginário som de uma guerra.

À medida que o trabalho com as poesias vai acontecendo, vão surgindo

necessidades de procedimentos pedagógicos novos. Portanto, montagens teatrais

mais longas ou pequenas encenações possibilitam um corpo-a-corpo com os

poemas, com experiência de interpretação adequada que pede inúmeras leituras e

releituras.

Normalmente, alunos que participam desse tipo de atividade têm mais

possibilidade de se tornarem leitores de poesia mais assíduos. Muitos poemas

Page 22: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

ostentam a possibilidade de inflexão, do gesto, do movimento e até da dimensão

visual, quando se trabalha com cenários.

Sendo assim, com o poema “A bomba” visou-se o jogral. Tradicionalmente,

o jogral consiste na dramatização de um trecho ou recitação de trechos de obras,

realizada com os alunos divididos em grupos de vozes. É o correspondente falado

do canto coral.

Após a reescrita do poema por parte dos alunos, organizou-se um jogral do

poema, com montagem de um jogo de vozes, indicando quando e quem deve falar.

É preciso não confundir o jogral com a simples leitura coletiva de um texto. Na

verdade, ele é uma espécie de dramatização. Por isso, convém que o texto seja

memorizado e encenado como se fosse uma peça de teatro.

Para motivação e melhor compreensão do poema, ouviu-se a música “Rosa

de Hiroxima”, de Vinicius de Moraes, acompanhada da reprodução de diversas

imagens interessantes, e até chocantes, retratando a temática do poema/música.

Para tal, contou-se também com a participação da professora de História, a

qual aceitou em retomar e explicar para a turma sobre esse contexto, aterrorizante

acontecimento, que foi o lançamento da bomba sobre as cidades de Hiroxima e

Nagazaki.

A proposta seguinte foi aproveitar os talentos musicais do Curso de

Formação de Docentes, e propor para elas(es) interpretarem a música, pois há

alunos que se destacam e dominam alguns instrumentos musicais com habilidade

para cantar.

Para finalizar, os alunos foram divididos em pequenos grupos, pesquisaram,

recortaram, colaram/montaram, desenharam e/ou pintaram cartazes que

expressassem a temática “o engajamento político-social” presentes nos poemas de

Carlos Drummond de Andrade e montaram painéis para exposição.

3.2.5 Unidade IV – Linguagem Teatral

A obra selecionada para se trabalhar com o 4º ano foi “Morte e vida

severina”. Levada ao teatro, com música de Chico Buarque de Holanda, este longo

poema social fez grande sucesso, tornando-se uma das obras mais conhecidas de

João Cabral de Melo Neto.

Page 23: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

O poema narra a caminhada do retirante Severino desde o sertão até a

chegada a Recife. Além da denúncia dos problemas sociais do Nordeste, constitui

metaforicamente uma reflexão sobre a vida humana.

A obra carrega já em seu título, um forte jogo sintagmático, numa alusão ao

tipo de vida e de morte que pessoas sofridas como Severino tem. Sabe-se que a

palavra “severina” vem do nome próprio “Severino”. Ocorre aí uma adjetivação do

substantivo próprio, característica muito recorrente em toda a obra de João Cabral

que parece ser uma tentativa de esclarecer ao leitor a vida sofrida do protagonista a

que a morte preside.

Denominado por seu autor um “auto de Natal pernambucano”, “Morte e vida

severina” é um poema dramático; já definitivamente incorporado à sensibilidade

nacional, lido, representado, musicado e televisionado, proibido e liberado, sem

dúvida um dos pontos culminantes da poesia social brasileira.

Portanto, para despertar mais a atenção dos alunos e melhor compreensão

do poema, todos assistiram ao filme “Morte e vida severina”, baseado no poema

homônimo, com roteiro e direção de Walter Avancini. Assim, puderam apreciar, na

representação para o cinema, a fusão de tons e ritmos da poesia popular com a

densidade e a riqueza estrutural e metafórica da poesia erudita.

Após estudos de todas as poesias selecionadas, leitura, reescrita das

mesmas, dramatização, produção de paródias, encenação, declamação,

musicalização, produção de painéis, cartazes, realizaram-se vários ensaios; ou em

sala de aula, ou no horário das disciplinas afins, e até mesmo em contra-turnos.

Finalizamos então a implementação com a organização de um Sarau

Literário, acompanhado de um coquetel de confraternização, realizado no Centro

Cultural da cidade, o qual contou com o envolvimento de todos os alunos que

participaram do projeto, sendo que os demais foram convidados a assistir ao Sarau,

juntamente com os alunos Ensino Médio do Colégio em referência. Os mesmos

tiveram a oportunidade de apreciar e reler, como espectadores, uma pequena parte

da produção poética brasileira e seus respectivos autores.

Page 24: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

4 Considerações finais

O presente trabalho teve como desafio apresentar uma alternativa

pedagógica interessante que pudesse fazer frente ao ensino tradicional de leitura de

poesias, com vistas a diminuir ou eliminar os índices negativos das pesquisas

educacionais que mostram que os alunos não gostam de ler.

O trabalho de resgate da poesia voltado para o teatro procurou minimizar

em grande parte, as dificuldades que o aluno tem de ler e compreender textos

poéticos. Portanto, tal competência precisa ser desenvolvida, estimulada,

exercitada, praticada, assim como todas as capacidades. Escolher ou criar uma

estratégia para estimular e facilitar tal prática da leitura requer dedicação total por

parte do educador. E os textos poéticos e literários de forma geral, podem constituir

um ponto de partida significativo para essa mobilização.

Sendo assim, a importância de despertar o gosto pelo gênero poético está

articulada aos aspectos pedagógicos, afetivos, ao desenvolvimento da criatividade,

da expressividade e também da compreensão da linguagem.

Acredita-se dessa forma, que a presente implementação oportunizou ao

educando um contato prazeroso com o estudo de poesias, de forma dinâmica,

participativa e curiosa, proporcionando um maior aprofundamento da leitura,

levando-os à recriação, à ressignificação de sentido, saindo do espaço das folhas

para o palco representativo. Evidenciou-se, nesse estudo, que a leitura das poesias

selecionadas, sua reescrita e encenação, possibilitou ao aluno entrar e transitar pelo

universo da leitura, interagindo com elementos textuais e cênicos por meio de

ensaios, dramatizações, com o objetivo final de abrir o sentido do texto e expandir o

universo do leitor, definido como um ser que se debruça, experimenta e se

ressignifica ante texto literário.

Page 25: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

Referências

BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso. Porto: Edições 70, 1982.

_____. Aula: aula inaugural da cadeira de semiologia literária do Colégio de França, pronunciada dia 7 de janeiro de 1977. São Paulo: Cultura 2007.

_____. S/Z. Trad. Lea Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

BHARTES, Roland. Novos ensaios críticos: o grau zero da escrita. São Paulo: Cultrix, 1972.

BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1997.

BLANCHOT, M. O espaço literário. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura e a formação do

leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

CÂNDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo: Editora Livraria Duas Cidades, 1995.

CASA NOVA, Vera. Leitura do poema. Disponível em: <www.letraseletras.ileel. ufu.br/include/getdoc.php?id=300...>, 2007. Acesso em: 12 mar. 2011.

DAGA, Aline Cassol; CHRAIM, Amanda Machado. O ensino de literatura: relato de

uma prática. Revista Pedagógica – UNOCHAPECÓ, Ano 11, n. 23, p.274-282, jul./dez. 2009. Disponível em: <apps.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/ pedagogica/ article/ view/.../307>. Acesso em: 12 mar. 2011.

GARCIA, W. A. C. A semiosis literária e o ensino. In: DIAS, Maria de Fátima Sabino;

SOUZA, Suzani Cassiani de; SEARA, Izabel Christine. (Orgs.) Formação de

professores: experiências e reflexões. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2006.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação

Básica. Curitiba, PR: Secretaria de Estado da Educação - SEED, 2007.

PENNAC, Daniel. Como um romance. 4. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

Page 26: A POESIA BRASILEIRA EM CENA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · leitura de poesia para a sala de aula, com o objetivo de despertar nos alunos/as o gosto pela leitura de poemas, além de

PETIT, Michele. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Editora 34, 2008.

REVERBEL, Olga. Teatro na sala de aula. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978

Sites consultados

http://gilsonvie.blogspot.com.br/2008/12/filme-amistad-do-diretor-steven. http://jeanete-rezer.blogspot.com.br/2010/07/kuan-tzu-sabio-chines-do-sec-vii-ac.html