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    A OBRA DE

    Jean Baptiste Willermoz

    porJean-Franois Var

    Traduzido do original Francs

    L oeuvre de Jean -Baptiste Willermoz

    Sociedade das Cincias Antigas

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    INTRODUO

    Consagrada em 1980, a respeitvel Loja Geoffroi de Saint Omer n 18, no Oriente de Bruxelas, sob aObedincia da Grande Loja Regular da Blgica, a Loja belga mais antiga que pratica o Rito EscocsRetificado.

    Este destaque como pioneira lhe impe certas responsabilidades, tanto pela influncia deste Rito na

    Blgica como no mbito da divulgao de informaes.

    O presente estudo surge em um momento propcio, pois apresenta um prlogo de Guy Verval, antigoVenervel Mestre da Loja e autor de livros de excelente reputao, e contm um trabalho memorvel doIrmo Jean-Franois Var, membro eminente da Loja de estudos e investigao Villard de Honnecourt daGrande Loja Nacional Francesa e de nossa respeitvel Loja, sendo igualmente reconhecido por seusnumerosos escritos, artigos, ensaios e conferncias. Este trabalho dedicado a Jean Baptiste Willermoz,o fundador do Rito.

    Acrescentamos a reproduo do artigo assinado por Maharba, intitulado Sobre o R.E.R e os GrandesProfessos publicado em outubro de 1969 no nmero n 391 de da revista bimestral O Simbolismo,

    fundada por Oswald Wirth.

    Assim, o contedo deste trabalho constituir uma ferramenta indispensvel para todos os maons, praticantes ou no, do Rito Escocs Retificado (R. E. R.) que desejarem estudar sua histria e seuprofundo significado.

    Desejo expressar desde j meus agradecimentos a todos os Irmos que envidaram seu tempo e seusesforos para que esta realizao pudesse ser concretizada.

    Oriente de Bruxelas, Novembro de 1992.

    Pierre C. Gilles

    V.: M.: da R.: L.: Geoffroi de Saint Omer

    Sobre algumas reflexes merecedorasde um ensaio memorvel

    por

    Guy Verval

    Quo surpreendente foi o destino de Jean Baptiste Willermoz! Nada do que ocorreu no decurso de sua

    vida poderia sugerir o que logo viria a ser sua reputao pstuma. Nem sua origem familiar, tampoucosua educao permitiriam prever que seu nome, sua obra e seus escritos tornar-se-iam, dois sculos maistarde, to conhecidos por um expressivo nmero de pessoas.

    Dos produtores de seda Lyoneses do sculo XVIII podemos destacar dois nomes que permaneceriam namemria dos homens por razes bem distintas: Joseph-Marie Jacquard (1752-1834) e Jean BaptisteWillermoz (1730-1824), seu contemporneo. Este ltimo no lembrado por seu ofcio de tecelo, massim por seu trabalho na Maonaria Mstica e no campo da investigao espiritual.

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    Certamente foi por meio deste ofcio de tecelo que ganhou o po de cada dia, aplicando-se com amesma seriedade com que empreendia suas investigaes metafsicas. Esta dedicao profisso era,entretanto, apenas no sentido de prover o necessrio sua sobrevivncia, e nada mais.

    A obra de Jean Baptiste Willermoz deveria ser totalmente conhecida, ser objeto das mais profundasreflexes e mesmo consistir no autntico livro de cabeceira de todo maom do Rito Retificado. H umatal quantidade de documentos, de cartas, de manuscritos que iluminam o entendimento de sua Arte, o

    que no ocorre com muitos outros Ritos de origens obscuras e de autores annimos. Ao legado queWillermoz nos deixa devemos acrescentar, para fazer justia, o legado de um Turckheim ou de umSalzmann, o que nos permite conhecer a lenta gnese dos Rituais Retificados, suas intenes doutrinaise, definitivamente, seus objetivos finais. intil, porm, querer atribuir o status de qual o melhor sobreos Smbolos; suficiente apenas ler e compreend-los.

    Entretanto, tais documentos jamais foram reunidos, o que lamentvel. Foram publicados, pormdispersos em obras de interesses diversos ou mesmo em revistas confidenciais, sendo que muitos delesainda jazem esquecidos em remotas bibliotecas. Esta disperso suficiente para desanimar o buscadorde corao puro que no dispe nem do tempo, nem, sobretudo da pacincia de reunir e mergulhar nestemontante de documentos, extremamente profundo em seu contedo, desconcertante, porm, por sua

    prpria riqueza.

    Dentro deste contexto, podemos dizer que o presente ensaio de Jean-Franois Var nos chega em ummomento extremamente oportuno. um desafio apresentar, em to poucas pginas, uma exposioclara, brilhante e incisiva sobre o homem e sua obra. Nosso comentarista a divide em trs perodos. Noprimeiro revive a aprendizagem da Maonaria, que se pode, por questes de simplicidade, denominarpor estilo francs; no segundo, revive o encontro de capital importncia com a Teosofia de Martinez dePasqually; por fim, no terceiro, discorre sobre a adaptao da contribuio cavalheiresca e templria daEstrita Observncia Germnica. O resultado foi este admirvel Rito Escocs Retificado, que inclui o quede melhor existe nos trs componentes mencionados. Com isso, era de se esperar que a obra deWillermoz desconcertasse os maons de seu tempo, demasiadamente ocupados com uma convivncia delirismo fraternal, o que impediu assim a compreenso de sua mensagem em profundidade. Foi somente

    atravs dos ensinamentos de Ren Gunon que a mensagem de Willermoz pode ser percebida e julgadaem seu verdadeiro valor, o que ento acarretou no ressurgimento do Rito no sculo XX.

    Resta-nos ainda considerar a contribuio de Willermoz Franco-Maonaria de hoje. O que permaneceude sua obra por entre nossos contemporneos e nas estruturas da Ordem Manica?

    Como justamente descreve Jean-Franois Var, Willermoz elaborou seu sistema baseado em trs crculosconcntricos, em cujo centro se encontra a Ordem dos Cavaleiros Maons Eleitos Cohen do Universo,de Martinez de Pasqually.

    A primeira e a segunda classe, to bem descritas no prembulo de Wilhelmsbad (1782) existiram

    sempre, ainda que articuladas de um outro modo no previsto nos dois Cdigos adotados naConveno de 1778. Ainda hoje se faz necessrio avaliar mais detidamente esta questo.

    Em relao a ns, encontramos em nosso pas dois organismos principais que reivindicam a herana deWillermoz. O primeiro se considera sendo o herdeiro zeloso das Convenes de Lyon e deWilhelmsbad. Os quatro graus simblicos so conferidos nas lojas escocesas filiadas a uma GrandeLoja Escocesa Retificada para a Blgica. Esta certamente administrada pelos delegados das lojas,sobretudo por trs Irmos revestidos do grau mais elevado no regime. Aos representantes da segundaclasse se atribui o poder de deciso final (Art. 3 e 4 das Constituies e Regulamentos da Grande LojaEscocesa Retificada para a Blgica adotados em 14 de Julho de 1985). A segunda classe regida pelo

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    Grande Priorado da Lotarngia, sado da Provncia de Brabantia, constituda em Bruxelas em 1968 peloGrande Priorado da Frana.

    Esta estrutura reproduz o Regime previsto pelos dois cdigos j citados. Em toda a Ordem Retificadaa autoridade pertence ao escalo imediatamente superior, e assim desde as lojas de Aprendiz eCompanheiro at o mais alto nvel da Ordem Interior (Ren Bol, 1982). Um antigo gro Prior podiaproferir as seguintes palavras sem nenhum temor de equivocar-se: h, pois, estruturas e regras que so

    prprias do R.E.R., que fazem dele do princpio ao fim, e de acima a abaixo, um conjunto integrado,homogneo e coerente (J.L.S., 1982-1983).

    Sem desejar confrontar estes excelentes Irmos em relao ao significado que do no s estruturas

    formais, mas ao contedo doutrinal do Sistema[1]

    , reconhecemos que eles tm razo ao afirmar acoerncia do Rito, porm seu respeito literal pelas prescries administrativas do sculo XVIII no fazmais que coloc-los em um beco sem sada. Qual o propsito, pois, de pretender ser o representante e oarauto qualificado da mais pura Regularidade Escocesa (declarao de princpios da Grande LojaEscocesa Retificada para a Blgica), j que esta afirmao poderia excluir seus autores da RegularidadeManica tal como conhecida na atualidade? E por qual acaso haveria Willermoz de aceitar que se lhe

    fechassem as portas da Maonaria universal? Isto quando menos duvidoso. Por outro lado, por umsimples acaso o fato de todos estes tradicionalistas terem sido elevados no seio de lojas irregulares doGrande Oriente da Blgica, j que para eles a universalidade manica no mais do que um conceitodesprovido de sentido?

    Ao contrrio da primeira, a segunda famlia de Maons Retificados deseja unir a integralidade damensagem de Willermoz com as exigncias da Regularidade, a nica via de acordo com auniversalidade da Maonaria. Ela deixa a direo das Lojas Grande Loja Regular da Blgica,Obedincia protetora de todos os Ritos, de modo que estes sejam praticados em sua mais puraautenticidade. O grau de Mestre Escocs de Santo Andr conferido nas Lojas ditas de Santo Andr(o que Willermoz no havia previsto), que so regidas por um Diretrio Escocs que nada mais , sob oponto de vista simblico, que o Grande Captulo da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores Cidade Santa

    (CBCS) reagrupados no Grande Priorado da Blgica[2]

    , obedincia soberana, independente da GrandeLoja Regular da Blgica, sendo, porm, reconhecido por ela. Esta adaptao harmoniosa permitiu aabertura, tanto aos Grandes Priorados anglo-saxes dos Cavaleiros Templrios como aos Altos Grausdo Rito Sueco praticado pelas Grandes Lojas Escandinavas. Pode ser que se trate de uma inovao.Podemos constatar, porm, que tem o mrito de manter a vocao crist, aberta, tolerante e no-confessional da Ordem, vocao esta que, quando menos, permanece oculta para os auto-intituladostradicionalistas, j anteriormente citados.

    No obstante, se estas duas famlias so antinmicas na pratica, compartilham uma origem comum. OGrande Priorado da Lotarngia uma emanao do Grande Priorado da Frana, criado em 1962 a partirde uma ciso do Grande Priorado da Glia. Este ltimo, fundado em 1935 graas a uma patenteconcedida pelo Grande Priorado Independente da Helvetia, foi base para a fundao, em 1986, doGrande Priorado da Blgica, sendo este tambm um beneficirio de uma patente concedida peloG.P.I.H..

    O G.P.I.H., gerador comum dos Grandes Priorados existentes, foi fundado em 1779 pelo Captulo deBorgonha, V Provncia da Ordem. Sua regularidade original incontestvel, assim como seus rituaisno so exatamente os de Willermoz. Por outro lado, ao menos sob o ponto de vista administrativo,renunciou ao controle dos Graus Azuis desde 1844, tendo-os legado superviso da Grande Loja Nacional Alpina, e conservou somente os graus de Mestre Escocs de Santo Andr, de Escudeiro

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    Novio e de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa, disposio esta que prefigura as exigncias atuais.

    Reconheamos que esta filiao, por regular que seja no a nica. O Rito Escocs Retificado tambmpraticado na Frana por Lojas do Grande Oriente que nada devem Helvetia. Tal fato, pouco conhecido,merece uma ateno toda especial. Inmeros autores tm repetido que o captulo provincial deBesansn, herdeiro da provncia de Borgonha, encerra seus trabalhos em 1828 e confere ao GrandePriorado da Helvetia todos os seus poderes, entregando-lhe ao mesmo tempo todos os seus

    arquivos (Montchal, citado por L. Charrire, 1938; pg. 14). Em 1928 o Irmo Savoire, GroComendador do Grande Colgio dos Ritos do Grande Oriente da Frana, antes de se tornar o primeiroGro Prior do Grande Priorado da Glia, precisava: De fato, o Regime Escocs Retificado encerrousuas atividades na Frana em 1830 (?), quando a ltima Provncia cedeu seus direitos ao GrandePriorado da Helvetia. Estas afirmaes, ao que parece, no se baseiam em nenhuma prova documental.Ao contrrio, no ano de 1840, em Besansn, uma reunio do Comit de Administrao Provincial,formado pelo Captulo de Borgonha, decidiu que se retomariam os trabalhos da Loja Sinceridade ePerfeita Unio como smbolo de reativao do Regime Retificado sob o Diretrio que governava asegunda Provncia (Charrier, 1938; pg. 59). No mesmo ano, tal Comit reuniu 5 CavaleirosBenfeitores da Cidade Santa e instalou um Grande Captulo, elegendo como seu chefe o Irmo Ledoux,Gro-Mestre da Ordem (Ibid.). Os arquivos do antigo Diretrio de Borgonha seriam pouco depois

    confiados Loja de Besansn La Constante Amiti, inscrita na matrcula do Grande Oriente daFrana, onde tem estado sempre.

    Em todo caso, o Grande Priorado Independente da Helvetia em nada interveio na operao e, em 1852, oIrmo Galiffe, membro da Loja retificada de Genebra LUnion ds Coeurs, podia escrever que ostrabalhos (da Ordem Retificada) jamais foram encerrados na liderana do Departamento da Provncia deBorgonha (Besansn) (La Chane dUnion, 1852, pg. 457).

    Melhor dizendo, o que faz o R.E.R. no seio do Grande Oriente da Frana? Alguns se surpreendero coma resposta. preciso recordar, entretanto, que um Tratado foi firmado no dia 31 de Maio de 1776 entre oGrande Oriente da Frana e os Diretores Escoceses, tratado este que foi modificado no dia 14 de Junhode 1811. O primeiro foi assinado por Bacon de la Chevalerie, pelo Conde de Strogonoff e pelo Marques

    de Choiselier du Mesnil, representando, respectivamente, os Diretrios de Bordeaux, Lyon eEstrasburgo.

    A reviso de 1811 foi realizada por Roettiers de Montaleau, Depassy, de Soly, Moreau de Saint-Serez,

    Geneure, dAigrefeuille, Luzard, Bacon de Chevalerie[3]

    e Ch. Hariel.

    O Tratado de 1776 previa a reunio dos Diretrios no Grande Oriente da Frana. Os Diretrios secomprometiam a comunicar ao Grande Oriente a lista de seus membros (art. 5). O Grande Oriente e osDiretrios encarregar-se-iam da administrao e da disciplina sobre as lojas de seu Rito (art. 6). Estesestariam representados no Grande Oriente por um ou vrios representantes (art. 7). O direito de visita

    (art. 10) e a dupla pertinncia s Lojas do Rito Francs e s do Retificado estava garantido (art. 9). Areviso de 1811 assegura a cada Diretrio (com sedes em Lyon, Montpellier e Besansn) umrepresentante no Grande Oriente e no Grande Diretrio de Ritos (art. 3). Estas deviam formar uma seoque teria como objeto o Regime Retificado (art. 4). Definitivamente, o R.E.R. se convertia em parteintegrante do Grande Oriente e concorria tambm a formar no Grande Oriente a reunio geral dosRitos (L. Charrire 1938, pgs. 95-96 e 97).

    Assim, pois, e por direito, o Grande Oriente da Frana o possuidor legtimo do R.E.R., nem mais nemmenos que o Grande Priorado Independente da Helvetia.

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    Duas filiaes so oferecidas a quem queira praticar este Rito: a primeira, por meio do G.P.I.H., conduzao Diretrio de Borgonha, e a outra, no seio do Grande Oriente da Frana, substituda pelo acordo de1776. (Evidentemente, resta verificar se o G.O.F. ainda poderia ser qualificado como manico aps1877, mas esta outra histria).

    terceira classe

    Muito tem sido escrito a respeito desta Classe.

    Os Grandes Professos era secreta por definio. Willermoz, em seu Prembulo a Wilhelmsbad,dela fala somente sob uma forma obscura (o que no o impediu de receber, nos bastidores, as destacadasadeses de Charles de Hesse e do Duque Ferdinando de Brunswick, Gro-Mestre Geral da Ordem). Ainstruo aos C.B.C.S., datada de 1874, faz-lhe somente uma rpida aluso (no desespereis meu bemamado irmo, se seguires fielmente o caminho que acabamos de traar, pois poderas encontrar algum diaaqueles Mestres, aos quais intil buscar se for empregada alguma via duvidosa. Eles vo frentedaqueles que os buscam com um desejo puro e verdadeiro). Em 1872, a lista geral dos Irmos GrandesProfessos contava com 59 nomes reagrupados nos colgios de Lyon, Estrasburgo, Turim, Chambery,Grenoble, Montpelier e Npoles (Steel-Maret, 1893, pgs. 16-20). A Revoluo causou-lhe muitos

    transtornos e, ao final de sua longa vida, Willermoz no contava com mais do que dois fiis: seusobrinho Jean Baptiste e Joseph-Antoine Pont. Mesmo assim, o Grande Professo ainda sobreviveudurante algum tempo na Alemanha graas ao Prncipe Christian de Hesse, mas sob uma forma extra-manica (cf. J.Fabry, 1984).

    Com a morte de Willermoz, J. A. Pont tornou-se herdeiro de seus arquivos, tendo renunciado,entretanto, a qualquer funo at o ano de 1832, segundo afirma Le Forestier (pg. 935). Este autorrelata o fato de J. A. Pont no ter aceitado confiar tais arquivos LUnion ds Cohen, de Genebra,entre os anos de 1829 e 1832.

    O Grande Professo estaria extinto durante esta poca? Este seria o pensamento geralmente aceito casono fosse o aparecimento de um artigo que produziu uma grande agitao. Tal artigo, escrito por umautor que assinava Maharba, foi publicado na revista Le Symbolisme no ano de 1969, onde afirmavaque Joseph-Antoine Pont, no dia 29 de maio de 1830, havia concedido uma carta para a constituio doColgio e Captulo provincial dos Grandes Professos em Genebra. Segundo ele, o Grande Arquiteto doUniverso jamais havia permitido que sua ao se interrompesse. Existiria, pois, um ColgioMetropolitano em Genebra para amparar o Grande Priorado Independente da Helvetia, mesmo apesar daafirmao do Ritual dos C.B.C.S. corrigido por esta Obedincia: No h nada mais alm na Ordem naqual acabara de ingressar.

    As suposies e conjecturas foram aumentando. Quem era este misterioso Maharba e de onde extraa opoder de suas afirmaes? Na atualidade, sabemos que sob este pseudnimo se ocultava Jean Saunier,um destes maons apaixonados com o dom de guardar a Maonaria francesa em segredo. Falecido em

    1992, deixou um dos livros mais inteligentes j escritos sobre a Ordem (Les Franc-Masons, 1972).Assim descreve o Grande Professo: Caracteriza-se por uma grande renncia: nenhuma pompa,nenhuma decorao, nada de espetacular, como se fosse destinada quele que tivesse percorrido todauma hierarquia de complexos graus, algumas vezes at plenos de brilhantismo cavalheiresco, e dodespojar-se dos sonhos e iluses. No se sabia qual seria a melhor maneira de sugerir o quo vs eram asformas exteriores para aqueles que se aproximam da iniciao verdadeira ou, em outras palavras, anecessidade de superar as formas (pg. 239).

    No importa se Saunier fora recebido como Grande Professo em 1968, em Genebra ou em outra partequalquer; no importa se a filiao tenha sido interrompida ou no depois de J.A. Pont. O essencial

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    repousa em outro ponto: o Segredo do Professo e do Grande Professo , atualmente, um segredo... pblico! Seus documentos, rituais e, sobretudo, as instrues fazem parte hoje do domnio pblico.Conservadas em Lyon, Haia e Copenhague, entre outras localidades, esto acessveis a todos. Maisainda, foram publicadas! Paul Vuillaud publicou as Instrues aos Professos em sua obra Joseph deMaistre, Franc-Maon de 1926, pgs. 231-247; Antoine Faivre publicou a dos Grandes Professos comoapndice monumental obra Franc-Maonnerie Templire et Occultiste aux XVIIIe et XIXe Siclesde Ren Le Forestier, 1970 (pgs. 1023-1049).

    Tais instrues, especialmente a segunda, so uma exposio bem completa e, sobretudo compreensvelda doutrina de Martinez de Pasqually, arranjadas de modo a poder concili-las com as concepescatlicas muito ortodoxas de Willermoz. Sua leitura indispensvel para uma melhor compreenso dosgraus simblicos do Rito, mais particularmente do quarto.

    E isto no seria suficiente para salientar que, longe de serem secretas, tais Instrues no deveriam sercomunicadas a todo Maom Retificado?

    Por que manter, diante deste fato, uma fico que s serve para atrair a cobia, exaltar a vaidade dosEleitos e suscitar a amargura dos demais? Ademais, se este grau despojado, segundo as palavras de

    Jean Saunier, tinha algum valor ritualstico, nada era em si mesmo.

    O Cerimonial das assemblias da Ordem dos Grandes Professos, conservado no fundo Kloss[4]

    emHaia, confirma plenamente as afirmaes de Maharba. Resume-se a preces de abertura e fechamento,muito prximas s preces retificadas do primeiro grau (sem a mesma nfase crist que caracteriza a doC.B.C.S., e contendo tambm as variantes previstas para os dias de recepo), uma frmula de

    compromisso, um sinal e algumas palavras distintas para os dois graus[5]

    . Os Estatutos e Regulamentosda Ordem dos Grandes Professos (mesma fonte) nos introduzem no crculo ntimo, ensinando-nos queas assemblias estavam consagradas, alm das recepes, s leituras, conferncias e instrues (art.32). Discutiam-se as matrias das conferncias sem nenhuma cerimnia, sem que se pudesse fazeralguma distino de nvel entre os irmos (art. 737).

    Tratava-se, em suma, de um crculo de estudos, similar aos que atualmente so organizados nas lojas,sejam elas retificadas ou no. Ningum pode negar que tal estrutura seja ainda mais necessria naatualidade para que os maons, iniciados segundo as formas do Rito Retificado, conheam ecompreendam aquilo que constitui o mago de seu Rito. Tais estruturas so reveladas pelas Instruesaos Professos e Grandes Professos. No esqueamos que a estrutura dos graus retificados dupla:inicitica (o ritual de recepo) e pedaggica (as Instrues). Aplicar na execuo dos rituais a precisoe o cuidado que nossos Irmos Britnicos dedicam aos seus , de fato, muito correto. Limitar-se a estaexigncia com o entusiasmo e a intolerncia de numerosos convertidos (temos exemplos cotidianos emalgumas de nossas lojas) no seria somente um erro, mas tambm uma falta. Para que ento limpar afachada do edifcio se o tesouro que este guarda est descuidado ou ignorado?

    O estudo destas instrues secretas, completado pela leitura dos graus Cohen, de seus catecismos, doTratado da Reintegrao dos Seres Criados de Martinez de Pasqually, e das obras de Louis Claude deSaint-Martin indispensvel para o maom retificado, caso este queira merecer plenamente este ttulo.Resta ainda saber se necessrio reservar este estudo somente aos membros escolhidos da OrdemInterior, como queria Willermoz, ou ento, ao contrrio, abri-lo a todos, se no desde o momento de suainiciao, ao menos a partir do grau de Mestre Escocs.

    A resposta a esta pergunta no simples. Os documentos secretos do sculo XVIII so de domniopblico na atualidade, e qualquer um pode ter acesso aos mesmos. Como, pois, proibir-lhes seu acesso?

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    Seria preciso consolar-se recordando que os textos se defendem por si mesmos, o que, por outro lado,estaria certo?

    O problema no novo. Cada um sabe que a Ordem Interior Cavalheiresca comparece na pedagogiaretificada como um parntesis. A instruo especfica, bem avanada no quarto grau, parece seinterromper nos graus quinto e sexto, para ento no mais ser retomada at a classe secreta. Nestecaso, para qu conservar esta Ordem Cavalheiresca com sua pompa e decorao? No seria suprfluo e

    destinado somente a exaltar a vaidade dos cavaleiros, revestidos de forma altiva e com um mantobranco? A questo j foi exposta por Saltzmann e Bernard de Turckheim, que desejavam a supresso daOrdem Interior, de inspirao demasiadamente catlica para o gosto dos luteranos de Estrasburgo.

    Willermoz lhes responde sem rodeios em carta endereada a Turckheim, datada de 3 de Fevereiro de1783:

    Vs propondes, como fizera em sua poca o Irmo ab Hedera, que no haja futuramente mais do que ostrs graus simblicos, suprimindo assim o escocismo e os dois graus da Ordem Interior; ademais, que aclasse dos Grandes Professos faa o 4, que estaria aberto e, de algum modo, prometido a todos, postoque receber maons nos smbolos, sem assegurar-lhes uma possvel evoluo, seria como estar fazendo

    uma brincadeira com eles. Porm, no havendo nenhum intermedirio entre os graus azuis e o GrandeProfesso, resultar que todos, exceto aqueles que decididamente mereceriam serem expulsos, teriamdireito aos Grandes Professos, e, no sentido de no admitir ningum que fosse indigno, ter-se-ia de usar

    maior severidade na escolha do Primeiro Grau[6]

    . Este projeto seria simples e atrativo, mas, meu queridoamigo, no conheceis suficientemente bem os homens e o esprito de uma sociedade republicana paraver que impraticvel, independentemente do perigo habitual que representa...? Se do Terceiro grausimblico se saltasse diretamente classe de Professo, sem nenhum grau intermedirio, isto no seoperaria sem preparar o candidato demasiado abertamente neste Terceiro grau, e tal preparao no poderia se efetivar sem mescl-lo s formas ou instrues religiosas, isso em maior ou menor grau;ademais, no momento em que fosse mesclada a Religio Maonaria na Ordem Simblica veramosoperar sua runa... para tornar prefervel nosso regime desvelaremos seus princpios e objetivo particular,

    nossos discursos oratrios converter-se-o em sermes, e nossas Lojas, em igrejas ou em assemblias depiedade religiosa; sobre todo o edifcio do Regime no nomearemos a classe secreta, mas praticamente adesvelaremos e, quando for conhecido qual seu objetivo, nos converteremos em suspeitos e seremosexpostos a perseguies... segundo meu conceito, caro amigo, a Maonaria Simblica no deve ser maisque uma escola de moral e de beneficncia, mas sem nela introduzir nenhuma mescla ou propsitoreligioso, a no ser os princpios gerais que toda sociedade Crist deve professar. Parece-meindispensvel que haja entre esta classe e a seguinte, ou seja, religioso-cientfica, uma classeintermediria que apresente alguns desenvolvimentos dos smbolos, velando a ltima para preparar aseguinte. Nesta segunda classe ser exigida a prtica exata do que foi ensinado na primeira, e afidelidade nesta prtica abrir a porta da terceira. Por isto, esta segunda tornar-se- til humanidade elhe entregar seus melhores membros; este ser o objetivo e termo final da Ordem, sem que se faameno do objetivo secreto que no mais existe aps a abolio do antigo sistema. Qual ser a alma

    honesta que no se sentiria satisfeita ao encontrar como objetivo final um sistema moral e benfeitorposto em prtica? Convenhamos que aquele que no se contentasse no mereceria ser recebido comoaprendiz. Quanto aos que experimentarem esta dupla preparao, terica e prtica, mostraro maioresaptides e desejos da 3 classe velada pela 2 que ser sua justa recompensa; mas a segunda deve ser, detodo modo, suficientemente interessante por si mesma, como que para satisfazer em seu sentido prprioqueles que se sentiriam enfastiados na primeira e que no teriam a aptido necessria para a 3...

    (em Renaissance Traditionnelle, 1978, 35: 179-181)

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    O projeto est claro. A primeira classe, terica, ensina os rudimentos da doutrina por meio dos smbolos,ritos e instrues. Na segunda, a Ordem Interior, pe-se prtica as virtudes morais e de beneficncia.Esta exigncia tica seguramente suplanta o marco das possesses, aplicando-se a todos os instantes davida do cavaleiro maom. somente a aplicao prtica desta exigncia, juntamente com outraspredisposies no definidas, que pode abrir as portas da terceira classe. A Ordem Interior , antes detudo, uma prova, destinada a seleo dos indivduos dignos de ascender ltima classe, consagrada aoestudo das matrias de cunho religioso-cientficas. Destacamos o pargrafo no qual Willermoz

    condena aqueles que convertem as lojas em sucedneas da igreja, mesclando indevidamente Religio eMaonaria.

    Pelo que parece, o assunto est claro. Uma classe organizada de Grandes Professos no pode serconcebida se no for escolhida no seio dos C.B.C.S. Porm, uma vez mais, seria somente isso que restadestas Instrues, cujo segredo se desvaneceu, tornando-se ento algo pblico? Deixemo-las ondeesto, acessveis a quem as deseje, abertas a quem possa compreend-las. O que poderia impedir queos Homens de Desejo, com ou sem transmisso se renam, na Paz daquele que est sempre entre eles, para meditar conjuntamente sobre os ensinamentos de nosso Rito? Destarte, no seria tambm esta a

    simplicidade to quista por Willermoz[7]

    ?

    O artigo de Maharba, que de difcil acesso se encontra reproduzido no final deste livro.

    Bibliografia

    1) BOL RenLes origines du R.E.R.Le Lien Ecossais (1982-1983) 43-44:13-19.

    2) CHARRIER LouisLe Rgime Ecossais Rectifi et le Grand Orient de France. Resumo histrico de 1776 a1938. Paris, 1938.

    3) "Constitution et rglements de la Grande Loge Ecossaise Rectifie pour la Belgique", seguidosde sua "Declarao de Princpios", Bruxelas, 1985.

    4) FABRY JacquesJ.F. Von Meyer et la Franc-Maonnerie.Trabalhos da Loja Nacional de Estudos Villard de Honnecourt. 8 (2 serie): 131-143 (1984).

    5) GALIFFE John BarthelemyLa Chane Symbolique1852, Genebra - (Edition anastaltique Slatkine, 1987).

    6) LE FORESTIER RenLa Franc-Maonnerie Templire et Occultiste aux XVIIIe et XIXe sicles.Aubier-Montaigne, Paris et Nauwelaerts, Louvain.Reedio de "La Table d'Emeraude".

    7) MAHARBAA propos du R.E.R. et de la Grande ProfessionLe Symbolisme - 391. 63-67 (1969).

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    8) SAUNIER JeanLes Francs-MaonsGrasset, Paris (1972).

    9) Spcificit du R.E.R. (La)Dilogo entre o redator e J.L.S.Le Lien Ecossais (1982-1983) 43-44: 20-29.

    10) Estatutos, Cerimonial de abertura e fechamento das assemblias da Ordem dos GrandesProfessos.

    11) STEEL-MARETArchives secrtes de la Franc-Maonnerie1893-1896, Lyon (Edition anastaltique Slatkine, Genebra, Paris, 1985).

    12) VUILLAUD PaulJoseph de Maistre, Franc-Maon, suivi de Pices indites. 1926, Edition anastaltique ArchEdidit, 1990.

    13) WILLERMOZ Jean BaptistePrembulo de H. Eremo, Gro Chanceler da 2 Provncia, sobre o assunto concernente legitimidade da filiao na Ordem do Templo com nosso sistema atual e qual o sistemafuturo da Ordem (1782)Em "Os Cadernos Verdes" n 7 e 8 (1985-1986).

    A OBRa de Jean Baptiste Willermoz

    H pouco mais de dois sculos Joseph de Maistre exps, em suas Memrias ao Duque de Brunswick,certas questes sobre a Franco-Maonaria que nenhum Maom em total conscincia se atreveria a pr

    em discusso: Possivelmente no existe nenhum maom com certa capacidade de reflexo que notenha perguntado uma hora aps sua recepo: Qual a origem de tudo isto que vivenciei? De ondeprovm estas cerimnias estranhas, com toda a sua pompa e ostentao, as grandes palavras proferidas, eetc.?. Depois de ter convivido algum tempo na Ordem surgiriam outras perguntas, tais como: Qual aorigem de todos estes mistrios que nada ocultam que aparentemente nada representam? Por que tantoshomens de todos os pases se renem (possivelmente h muitos sculos) para se sentar ordenadamenteem duas filas, jurar no revelar jamais um segredo que no existe levar a mo direita ao ombro esquerdo,voltar a p-la em seu lado direito, e sentar-se mesa? No extravagante comer e beber em excesso sem

    falar de Hiram, do Templo de Salomo e da Estrela Flamejante, etc., etc.?[8]

    .

    Para estas perguntas, Willermoz eminente maom dotado de singular capacidade de reflexo buscou obstinadamente as respostas, e durante longo tempo. E no-las legou por sua grandiosa obra, que o objeto do presente trabalho.

    WILLERMOZ E SEUS FAMILIARES mais prximos

    Quem era Jean Baptiste Willermoz? Nascido a 10 de Julho de 1730 em Lyon, e falecido na mesmacidade aps 94 anos, em 29 de Maio de 1824, era o menor de uma famlia de treze irmos, dos quaissomente trs figuraram na histria manica (nada sabemos acerca dos outros, exceto de um deles que,ao que parece, foi clrigo):

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    1 - Sua irm maior, a futura Sra. Provensal, com a qual se manteve estreitamente ligado em toda a suavida. Tornou-se viva logo aps poucos anos de seu casamento, e cuidou dos afazeres domsticos aolongo de toda a longa vida celibatria de Willermoz at seu matrimnio, contrado em 1796 com umarf chamada Jeanette Pascal. digna de nota a diferena de idade entre Willermoz e Jeanette: ele tinha65 anos, e ela, somente 24. A estreita relao entre os dois irmos durou at o falecimento da Sra.Provensal em 1810, e todos aqueles que freqentaram o lar de Willermoz ou nele residiram por alguns

    dias guardaram-na em saudosas recordaes, como o caso de Saint-Martin e de muitos outros.Privilegiada confidente de Willermoz, nada lhe ocultava, ao contrrio: com ela compartilhava tudo,tendo at mesmo estimulado-a a entrar na Ordem dos Sacerdotes Eleitos de Martinez de Pasqually,onde foi recebida como Mestre Cohen, j que esta Ordem admitia mulheres.

    2 - O futuro doutor Pierre-Jacques Willermoz (1735-1799), do qual tornaremos a falar mais tarde.

    3 - E, finalmente, Antoine Willermoz (1741-1793), executado durante o Terror que se seguiu tomadade Lyon pela Conveno depois que a cidade se sublevara para defender os Girondinos. Dos dois irmosmencionados parece ter sido Pierre-Jacques o mais prximo a Jean Baptiste. No obstante, ambosestiveram associados quer se queira ou no, tudo leva a crer que Willermoz tinha uma forte

    personalidade dominadora, para no dizer desptica em seus empreendimentos manicos e para-manicos.

    Para finalizar a discusso acerca de seu ambiente familiar devemos dizer que o casamento de JeanBaptiste Willermoz, aparentemente desequilibrado (pois havia quarenta anos de diferena entre oscnjuges, ainda que tal tipo de situao no fosse rara naquele tempo), trouxe-lhe grandes pesares. Nopor ter sido infeliz em sua vida matrimonial, muito pelo contrrio; mas sim pelo fato de, ao final de seteanos, em 1804 (Willermoz tinha ento 74 anos), a Sra. Willermoz ter dado a luz uma menina que viveusomente alguns dias; no ano seguinte deu a luz um filho; posteriormente, em 1808, um parto prematuro lhe tirou a vida. Assim, depois de doze anos de felicidade sem queixas (segundo suasprprias palavras), Willermoz tornou-se vivo aos 78 anos de idade, tendo sob sua responsabilidade umfilho de 3 anos (que havia nascido em 20 de Setembro de 1805), em quem depositou todas as suas

    esperanas.

    Tendo em vista a instruo futura de seu filho, Willermoz redigiu importantes documentos naqueletempo: nove cadernos classificados em seus arquivos sob o seguinte ttulo geral: Instruo secreta eparticular a meu filho, para ser-lhe comunicada quando atingir a idade de perfeita maturidade e casovenha a demonstrar ser digno de receb-la (atualmente, tais instrues encontram-se no fundo Kloss da biblioteca do Grande Oriente da Holanda, em Haia). Estes textos, nos quais Willermoz expe suasconcepes religiosas e metafsicas as quais, como veremos, esto estreitamente ligadas so de uminteresse capital, pois esto escritas de modo aberto, sem ter seu pensamento disfarado para satisfazer apoltica manica.

    No dia 23 de Outubro de 1812 o pequeno Jean Baptiste-Franois de Sales-Claudius, que parecia cheiode vida (em uma carta datada de 10 de Setembro de 1810 a Charles de Hesse, Willermoz o descreviacomo muito bem constitudo), morre subitamente com apenas 7 anos de idade. Que golpe para esteancio de 82 anos que, em um espao de quatro anos, havia perdido sua querida esposa, sua no menosquerida irm, e seu filho, a menina de seus olhos, como ele costumava dizer.

    Entretanto, slido como uma rocha, desconhecendo qualquer enfermidade salvo um tremor nervosoem suas mos que havia aparecido aos 70 anos e que foi-se agravando a ponto de deix-lo praticamenteincapaz de escrever por si mesmo, e obrig-lo a recorrer aos bons servios de seu sobrinho sobreviveuainda mais doze anos at a idade avanada de 94 anos.

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    A partir daquele momento, j sem descendncia direta, voltou seu afeto e suas esperanas, principalmente manicas, a seu sobrinho, filho de Antoine, que deveria ser seu afilhado, posto quetambm se chamava Jean Baptiste. Este lhe serviu freqentemente como seu secretrio: por exemplo, foiele quem redigiu, sob ditado de seu tio, a longa carta datada de 10 de Setembro de 1810 a Charles deHesse, pela qual retomou contato aps 15 anos, carta esta na qual d notcias (preciosas para ns) doRegime Retificado na Frana:

    Minha mo, depois das fortes sacudidas morais que tenho sofrido, me nega seu servio para escreverqualquer texto de forma contnua. Estou obrigado a tomar os prstimos de meu sobrinho (a Lilio Albo),filho de meu irmo (a Concrdia), para escrever sob meu ditado; sendo Cavaleiro e Grande Professo, onico com o qual posso contar para meus escritos confidenciais; porm, encontrando-se ocupado emseus assuntos durante todo o dia, pode me dedicar somente alguns poucos momentos, esporadicamente,e sempre demasiadamente curtos.

    fcil de se perceber que o sobrinho de Willermoz no tinha realmente a fibra manica, e de se suporque ele havia aceitado ser iniciado em todos estes segredos somente para agradar a seu tio. certo queWillermoz se frustrou em suas esperanas, visto que seu herdeiro manico foi Antoine-Joseph Pont

    (filho de um amigo de seu irmo Antoine, iniciado por Willermoz juntamente com seu sobrinho JeanBaptiste, tendo sido os nicos iniciados por Willermoz aps a Revoluo Francesa). Willermoz fez deAntoine-Joseph Pont o legatrio de todos os seus arquivos e documentos.

    Para finalizar estes comentrios acerca da famlia de Willermoz e ento passar sua vida profissional necessrio dizer algumas palavras acerca de seu pai. Claude-Catherine Willermoz, oriundo de Saint-Claude, no futuro departamento do Jura, havia emigrado a Lyon no princpio do sculo e exercia aprofisso de comerciante de miudezas. Os Willermoz foram, pois, influenciados por esta atmosferalyonesa, de onde provieram as caractersticas que se revelaram no carter de Jean Baptiste: obstinao,gosto pelo secreto, talento para tratar com pessoas, senso para negcios e para relacionamentos.

    VIDA DE WILLERMOZ

    O jovem Jean Baptiste foi impelido, desde tenra idade, a ter uma vida ativa. Aos 14 anos foi aprendiz deum comerciante de sedas (algo que se impunha em Lyon). Dez anos mais tarde, aos 24 anos, montou seuprprio negcio e se estabeleceu por conta prpria como mestre fabricante. Uma nota contempornea,um tanto anterior Conveno de Wilhelmsbad, descreve-o como fabricante de tecidos de seda ecomerciante, sendo ao mesmo tempo fabricante e varejista, pertencendo tambm aristocracia docomercio Lyons. Seus produtos eram vendidos em toda a Frana e em boa parte da Europa, o que lhepermitiu entrar em contato e se relacionar com numerosos clientes abastados da aristocracia, incluindo prncipes, aos quais entretinha contando seus interesses e curiosidades manicas. Em suacorrespondncia pode-se ver mesclada, de maneira muito divertida at, as mais elevadas consideraessobre as altas cincias, assuntos da Maonaria, o Cristianismo transcendente, como bem dir Joseph

    de Maistre, e, de improviso, muitos outros assuntos de natureza profana, relativos a mostras de tecidosou coloridos. Existe um intercmbio de cartas com Charles de Hesse acerca das coloraes obtidas pelasreceitas alqumicas do Conde de Saint-Germain (que o prncipe teria recolhido) e que, ao prov-las, serevelaram de pobre qualidade...

    As viagens anuais empreendidas em razo de seu comrcio e sua correspondncia de negciosdemonstraram ser excelentes vias para no somente entrar na matria, mas tambm para travar contatoscom o que foi a grande obra de sua vida: estender e aprofundar o campo de seus conhecimentosmanicos. Isto foi o que o levou a fechar seu negcio comercial (vendeu a seus principaisempregados) em 1782, pouco antes da conveno de Wilhelmsbad, para ento se consagrar inteiramente

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    a Franco-Maonaria.

    Alice Joly (a quem devemos todos estes detalhes) aponta que nesta poca iniciou-se um perodo de crisepara os negcios com seda, j que as pessoas passaram a preferir os tecidos de algodo e de mousseline o tecido que se imaginava Maria Antonieta jogando nos encostos das cadeiras do pequeno Trianon.Isto prova que Jean Baptiste Willermoz tinha o senso de oportunidade, o que confirma amplamente suapoltica e sua diplomacia manica. Por outro lado, pudera aposentar-se com a idade de 52 anos, ou seja,

    bem precocemente, o que demonstra o fato de Willermoz ter conquistado se no uma fortuna, ao menosuma situao econmica favorvel que lhe permitisse viver de renda e at mesmo adquirir uma fazendaem razo de seu matrimnio em 1796 (em uma carta anteriormente citada de 1810 a Charles de Hesse,Willermoz qualifica a si mesmo como Jean Baptiste WILLERMOZ, proprietrio). Willermozconstantemente ampliou e tornou cada vez mais bonita sua fazenda, o que demonstra ter sido ele umsagaz homem de negcios.

    Em suma, Willermoz no havia se afastado totalmente de seus negcios. Manteve interesses nocomrcio atacadista de seu irmo, Antoine, e de seu cunhado, Provensal. Na ocasio da morte deAntoine foi preciso fechar este comrcio, tendo sido ento requisitada a presena de Willermoz pararealiz-lo.

    Para Willermoz, o xito profissional, o xito social (como mais adiante veremos) e, se assim podemosdizer, o xito manico, andavam em conjunto, e isso era devido ao fato de aplicar suas mltiplasqualidades em seus diferentes campos de atuao. Porm, no podemos perder de vista que Willermozfoi, ao mesmo tempo, um autodidata e um homem que se fez sozinho. Por este ponto de vista ele recordafreqentemente seu quase contemporneo Laurence Dermott (1720-1791) que, comeando como pintorde construo civil, passou a ser um prspero comerciante de vinhos londrinos, e foi o animador e aalma pensante da Grande Loja dos Antigos, o mesmo que Willermoz era para o Regime Retificado; e,curiosamente, ambos desde os postos de secretrio, o que fazia deles chefes ocultos assim comoSuperiores Desconhecidos, ou seja, dirigentes muito mais reais de seus respectivos sistemas que oschefes ostensivos.

    Tudo isso nos conduz carreira manica de Willermoz, a qual se confunde praticamente com sua vida,ou mais exatamente, demarca e orienta seu curso. As peripcias manicas modelam a sua existncia e,em funo delas, pode ser esquematicamente dividida em quatro grandes perodos:

    1 - Um perodo de cerca de quarenta anos, de 1750 a 1791, caracterizado por uma atividade manicacada vez mais intensa e criativa, ao menos at os anos 1775-1785, que configuram seu pontoculminante;

    2 - Um perodo de uma dcada, de 1791 a 1801, no qual fora forado, em funo dos eventosrevolucionrios, a encerrar temporariamente sua atividade manica, o que lhe conferiu a possibilidade eo tempo necessrio para aplicar sua transbordante energia a outros centros de interesse. Isso, sem que

    seu apego apaixonado pela Maonaria diminusse nem um timo, tendo mantido nesta poca uma atitudedo tipo contemplativo-especulativa;

    3 - Outro perodo de uma dcada, de 1801 a 1810, que poderamos definir como sendo um perodomisto. Um ligeiro recrudescimento das atividades manicas conduzem Willermoz a retomar seusprprios trabalhos. neste perodo que termina a redao e demais correes dos rituais da MaonariaRetificada (em particular o de Mestre Escocs e suas instrues). Isto, pois Willermoz era o nicoconservador e depositrio no somente dos documentos e arquivos autnticos do Rito Retificado, mastambm e sobretudo de sua memria. Por exemplo, de 1802 a 1807 ministrou um verdadeiro cursode Franco-Maonaria para uso da Loja da Tripla Unio de Marselha. Prossegue simultaneamente e de

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    forma ininterrupta suas atividades sociais e caritativas.

    4 - Um ltimo perodo de uma quinzena de anos, de 1810 a 1824, caracterizado por sua velhice (de 80 a94 anos), no qual seu ardor se apaga, principalmente em se tratando da Maonaria Retificada, da qualpraticamente desaparece de cena. Escrevendo a Charles de Hesse, constata um resfriamento geral naFrana em relao Maonaria autntica, e adiciona que, desde cerca de sete ou oito anos no haviapodido se ocupar com nada, e que no acreditava que restasse ningum da antiga provncia de Auvernia

    que estivesse interessado pelos segredos da verdadeira Maonaria.

    Como fcil de se ver, dentro do ponto de vista que nos interessa, quer dizer, o ponto de vistamanico, o primeiro destes quatro perodos que, por outro lado, ocupa um lapso de tempo maisabrangente que o dos outros trs juntos o qual que se apresenta mais rico ante nossos olhos, j que no curso deste intervalo de tempo que Willermoz edificou a obra da qual somos hoje seus herdeiros.Tambm podemos logicamente dividir sua existncia e sua atividade em dois grandes perodos: antes edepois da revoluo. Remontaremos inicialmente este segundo perodo, para depois ento nos determose analisarmos mais amplamente o primeiro.

    WILLERMOZ ANTES E DEPOIS DA REVOLUO

    A Revoluo, como se sabe, provocou sob a Conveno e principalmente sob o Governo do Terror ainterrupo de toda atividade manica (1793-1795), especialmente com a espetacular abdicao doGro-Mestre Phillippe-Egalit que abandona, em Janeiro de 1793, a quimera pela realidade, segundoos prprios termos de sua declarao pblica. A Franco-Maonaria no despertar at 1795-96, graasao esforo e cuidado de Roettiers de Montalean, antigo Venervel Mestre (em 1793) do Centre desAmis.

    De fato, para o Regime Escocs Retificado, a etapa na qual os trabalhos estiveram paralisados j haviase iniciado anteriormente, tal como relata Willermoz em sua carta a Charles de Hesse de 10 de Setembrode 1810. E isso em razo dos principais da Ordem, os Grandes Professos (que na continuao veremosquem eram) que, sendo por definio homens da elite, tanto da burguesia quanto da aristocracia, haviamtomado parte ativa nos acontecimentos polticos desde o primeiro momento; muitos eram delegados tanto do clero, como da nobreza ou do Terceiro Estado primeiramente nos Estados Gerais, logo naAssemblia Nacional Constituinte na qual estes Estados se transformaram, e alguns foram inclusiveeleitos para a Assemblia Legislativa que se seguiu. Evidentemente o trabalho manico se ressentiu,bem como a boa harmonia existente: dividiram-se entre partidrios e adversrios da Revoluo (sendoestes ltimos os mais numerosos), o que ento resultou em vvidas discusses, nem sempre muitofraternais. Como uma mostra disso, podemos ver o seguinte caso, testemunho das disputas provenientesdesde a poca dos Estados Gerais, entre dois Grandes Professos, o Cavaleiro de Rachais e o livreiroPrisse-Duluc, o qual compartilhava a opinio de Willermoz em favor da igualdade nacional e cvica.Como o primeiro reprovava veementemente a atitude do segundo, em nome da preeminncia nosomente poltica, mas tambm natural da nobreza, este ltimo lhe replicou que visto os princpios que

    ambos professavam se estimava to nobre como Rachais e que este ltimo era to plebeu como elemesmo. Ao qual o Cavalheiro respondeu em alta voz: Senhor, Senhor, como irmo da Ordem dosGrandes Professos, eu os quero bem!... (cf. Le Forestier, op. cit., pg. 837). O nvel manico,smbolo da igualdade, por no falar do amor fraternal, estava bem distante de tudo isto.

    Jean Baptiste Willermoz havia feito sua escolha. Com seu irmo e mdico Pierre-Jacques, e seu ntimocolaborador Prisse-Duluc do qual acabamos de falar, se alinharam entre os patriotas, quer dizer, entreos partidrios da Revoluo, porm entre os moderados; era um monarquista constitucional. Pertencia

    Sociedade dos Amigos da Revoluo. Seus membros, vulgarmente chamados os Feuillants[9]

    ,

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    entre os quais se encontravam Sieyes, Andr Chnier, La Fayette, por exemplo, seriam os que hojepoderamos denominar como centristas. Como tais, seriam combatidos igualmente pelos monarquistas

    intransigentes, pelos contra-revolucionrios, e pelos revolucionrios extremistas, os Jacobinos[10]

    . Eis oque foi escrito pelo irmo de Willermoz nos momentos em que Jean Baptiste estava tendo sriasdificuldades em conseqncia da tomada de Lyon pelas foras da Conveno: Tu s um moderado, umFeuillant que sempre se mostrou como tal. Crem que s um homem honesto, j que somente lhes falas

    quando esto em grupo, sem cumpriment-los pelas ruas, eriando as costas e vinculado aos realistas.(em Alice Joly, op. cit., pg. 296).

    Com efeito, no final de Maio de 1793, ao anunciar a proibio dos Girondinos[11]

    , as sees de Lyon se

    sublevaram, expulsando do poder a municipalidade montanhesa[12]

    e se rebelando contra a Conveno.Esta ltima ento envia suas tropas que cercam a cidade rebelde (de 8 de Agosto a 9 de Outubro de1793). Devido a este cerco, uma das bombas empregadas no conflito cai no domiclio de Willermoz, queacaba por destruir uma parte de seus arquivos. Ele mesmo exercer, sob mil penalidades e emcircunstncias perigosas, as funes de administrador (voluntrio) do Hospital Geral da Casa de Deusde Lyon. (A revista Renaissance Traditionnelle, n 45, de Janeiro de 1981, publicou diversos textos dearquivo, dentre os quais figuram as peties de Willermoz municipalidade descrevendo as dificuldades

    extremas com as quais se debatia). No princpio de Outubro as tropas da Conveno, enviadas porKellerman (que era maom!), esmagaram os defensores de Lyon vitimando, entre outros, Henrie deVirieu, antigo coadjutor (Le Forestier) de Willermoz, que aos 37 anos tentava escapar do cerco. A tudoisto se seguiu um sangrento Terror marcado por execues em massa, de Novembro de 1793 a Fevereirode 1794. Willermoz foi denunciado por trs vezes. Em duas ocasies foi absolvido; porm, na terceira,preferiu no se arriscar, e fugiu para o campo (de Fevereiro a Outubro de 1794), conseguindo assim ficara salvo. Antoine Willermoz, mais moderado que Jean Baptiste e Pierre-Jacques, foi guilhotinado em 28de Novembro de 1793.

    Depois deste episdio e, sobretudo depois do sucesso de Thermidor (execuo de Robespierre e Saint-Just, em 27 de Julho de 1794), Willermoz retorna a vida normal. Em 1796, como vimos, Willermoz se

    casa. Desde ento multiplica suas atividades. Entrega-se beneficncia (como exige sua condio deCavaleiro Benfeitor da Cidade Santa): desde 1797 at o fim de sua vida foi um dos cinco membros dacomisso administrativa dos hospcios civis, levando a cabo uma considervel obra de reconstruo ereorganizao; do mesmo modo, foi membro da oficina de beneficncia do terceiro distrito, de 1804 ato fim de sua vida, e algum tempo depois da oficina central. Coloca sua capacidade a servio da religio:em 1809, o arcebispo de Lyon, cardeal Fesch (tio de Napoleo I), o nomeia membro do conselho defbrica da parquia de So Policarpo. Ocupa-se da instruo primria. Faz parte da administrao local:de 1800 a 1815 conselheiro geral do departamento do Rdano (os conselheiros gerais no eram eleitosna poca, mas sim nomeados pelo governo). Finalmente, foi membro desde 1798 da Sociedade deAgricultura (cujo presidente foi encarregado de pronunciar um discurso em seu funeral), tendo ento setornado um agricultor apaixonado: a condio de proprietrio com que intitulava no final de sua cartade 1810 a Charles de Hesse no havia sido em vo...

    Estou completamente afastado de todos os assuntos externos. Vivo h 15 anos em uma fazenda rural nointerior da cidade, situada, em um de seus extremos, sobre uma colina onde o ar muito favorvel minha sade; ocupo-me do cultivo da vinha e de seus frutos no tempo disponvel. Seria feliz se notivesse sido acometido da desgraa de perder, j h dois anos, minha querida esposa por causa de umparto prematuro, etc....

    Em suma, Willermoz se apresenta mesmo encontrando-se em plena velhice como um homem dotadode uma vida plenamente ativa, atividade esta exuberante e de forma alguma sonhadora; ao mesmotempo, se apresenta como um homem notvel que soube muito bem guiar seu xito social.

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    Tais elementos, que so indispensveis para completar o retrato do homem, deixam escapar o essencial:o maom e sua obra, obra esta que foi, literalmente, a maior de sua vida. a seu estudo que a partirdeste ponto nos dedicaremos.

    [1] importante frisar que a Declarao de Princpios da Grande Loja Retificada para a Blgica abandona o Cristianismode Willermoz em nome do Esoterismo. Cada Franco-maom Escocs Retificado tem total liberdade de conscincia tanto emmatria religiosa quanto a qualquer outro ponto de vista. O antigo Gro Prior J. L. S . acrescenta que a afirmao a Ordem crist, do Ritual do 4 grau, tem um sentido esotrico e que no pode ser interpretada a no ser simbolicamente (1982-1983, pg. 25). Reconhece-se aqui a fcil utilizao da palavra Smbolo, que permite descobrir toda realidade por elaencoberta.[2]

    O Grande Priorado Independente da Helvetia, o Grande Priorado da Glia, e o Grande Priorado da Blgica se reconhecemmutuamente, exceo de qualquer outro organismo retificado. Recrutam seus membros das Grandes Lojas Azuis, regularese reconhecidas, neste caso, pela Grande Loja Alpina, Grande Loja Nacional Francesa, Grande Loja Regular da Blgica e porObedincias amigas.

    [3]Bacon de la Chevalerie (1731-1821), Rosa Cruz da Ordem dos Elu Cohen, foi eleito em 1766 como substituto geral de

    Martinez de Pasqually. Eques ab apro na Estrita Observncia Templria e os Diretrios Escoceses foi Gro-Orador doGrande Oriente entre 1773 e 1781. Ele tinha, pois, na assinatura dos tratados, um p em cada lado.[4]

    O Dr. Georg Bukhart Franz Kloss (1788-1854) foi recebido como Grande Professo em Darmstadt no dia 17 de Novembrode 1827. Fez parte deste Colgio Alemo presidido pelo landgrave Christian de Hesse-Darmstadt, colgio este que somente aduras penas poderia ser considerado como manico, conforme a avaliao de Jacques Fabry (1984). Depois de sua morte, oColgio entrou em plena decadncia, sendo que haviam restado somente dois Grandes Professos em Frankfurt e somente umem Darmstadt, isso segundo a declarao de G. Kloss no ano de 1849 (Le Forestier, pg. 925). Sua rica biblioteca estconservada em Haia, no Grande Oriente dos Pases Baixos. Contm sete manuscritos, em Francs e em Alemo, dedicadosaos Professos e aos Trabalhos dos Grandes Professos, em Frankfurt de 1828 a 1835.[5]

    Estariam completos estes documentos? Fala-se muito acerca da recepo do Grande Professo, de uma uno tal como praticada no grau anglo-americano do Holy Royal Arch Knight Templar Priest. Nada impede, seguramente, que Klosstenha consultado, ou simplesmente no tenha conhecido, um rito de inspirao sacerdotal. Pelo contrrio, se ainda forpraticado, haveria a necessidade de demonstrar que no fora inventado a posteriori. Alm disso, ser um Grande Professo no pressupe estar imune ao erro. Em seu artigo Simbolismo, Saunier diz que o Grande Professo deixou de existiroficialmente na conveno de Wilhelmsbad; ademais, no se fala a seu respeito publicamente, j que Willermoz decidiudeix-la em segredo. Em Les Franc-Maons, adianta que a liberao dos compromissos praticada no grau de C.B.C.S.corresponde anunciao da renncia do Grande Professo. Ademais, a liberao dos compromissos uma inveno helvticado ltimo sculo, que Willermoz nunca conheceu e que possivelmente lhe surpreenderia sobremaneira.[6]

    um grau como nvel inicitico e no como o de um escalo militar no sentido que esta palavra tem em ingls, a qual se

    refere Willermoz. Em ocasies anteriores me fora reprovado empregar a palavra grau, usual em francs, mas de inspiraoinglesa, sem esta considerao para designar os graus do Rito Retificado. Acaso estava eu to distante da tradio?

    [7]Um Grande Professo que elimina toda a aura de mistrio; assim, sentir-se-iam atrados nossos adornados dignitrios? A

    simplicidade e o esforo necessrio para chegar-se a elas seria compensador? Podemos certamente duvidar.[8]

    Memrias ao Duque de Brunswick(1782), de J. de Maistre, Ecrits Maonniques (Geneve, Slatkine, 1983) pgs. 80-81.Tratam-se de memrias redigidas como resposta consulta geral organizada por Ferdinand de Brunswick no marco dapreparao da conveno de Wilhelmsbad.

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    [9]O Clube dos Feuillants foi fundado em 16 de Julho de 1791, tendo-se instalado na rua Saint-Honor de Paris no convento

    que haviam ocupado at a dissoluo (em 1791) dos feuillants, religiosos da Ordem do Cister. Este Clube reagrupava oselementos conservadores do Clube dos Jacobinos que decidiram se separar deste ltimo aps uma parte importante de seusmembros terem se pronunciado a favor da queda do rei em Varennes. Inscreveram-se 264 deputados na AssembliaLegislativa. Adversrios tanto do antigo regime quanto da democracia, os feuillants eram partidrios de uma monarquialimitada e de uma primazia da burguesia tal como estabelecia a Constituio de 1791. Dividiam-se entre duas tendncias:Lametistas e Fayetistas. Os Lametistas seguiam as ordens do triunvirato composto por Barnaye, Du Port e Lameth, aopasso que os Fayetistas se inspiravam em La Fayette. Esta faco dos Feuillants que tencionava obter um papel mediadorcaiu ao mesmo tempo que o trono, em 10 de agosto de 1792. Sua influncia deu lugar dos Brissotins, futuros Girondinos.(Dicionrio PERRIN de Histria Francesa).[10]

    Clube dos Jacobinos: Partido poltico surgido na Frana durante a Revoluo. Constitudo em Versalhes durante osEstados Gerais (1789), foi logo transferido a Paris onde, sob o nome de Socit des Amis de la Constituition, celebrava suassesses em um antigo convento de dominicanos. Receberam o nome de Jacobinos por estarem situados na Rua de SoJacobo, endereo em Paris no qual estabeleceram sua primeira casa. Partido poltico moderado de incio, radicalizou-se apsa ciso dos Feuillants (1791), e sob a influncia de Robespierre, se converteu no principal rgo e sustentculo da Convenoe do Governo do Terror. Foi fechado na ocasio da queda de Robespierre (novembro de 1794) e reconstitudo por GracchusBabeuf (1795), para ser definitivamente encerrado em 1799.[11]

    Girondinos: Os Girondinos eram assim chamados por causa de alguns de seus membros, deputados pela Gironda.Partidrios da burguesia ilustrada opuseram-se poltica revolucionria dos Jacobinos. Com o apoio dos departamentos, seesforaram em frear a Revoluo na medida em que ela se radicalizava. Uma vez proclamada a Repblica, os Girondinosquiseram instaurar na Frana uma repblica burguesa moderada; porm, as derrotas sofridas pelo exercito francs e oabandono de Dumoriez significaram o fim de sua influncia. Acusados de traio pelos Jacobinos, seus chefes foram presosem sua maior parte (Junho de 1793), sendo que alguns deputados girondinos intentaram um levante federalista na provncias,porm sem sucesso. Em Outubro de 1793 foram executados os principais dirigentes deste grupo.[12]

    Partido da Montanha: Na Revoluo Francesa era um grupo de deputados (montagnards) que constitua a esquerda naConveno, e eram assim chamados por ocuparem as cadeiras mais altas na sala da assemblia. Faziam parte deste grupoRobespierre, Danton, Marat, Saint-Just, Couthon, Billard-Varenne, Carnot, entre outros. Oposto maioria conservadora da

    Conveno e ao federalismo dos Girondinos, lograram derrot-los (2 de Junho de 1793) com apoio dos clubes jacobino efranciscano, da Comuna e das classes populares, tendo implantado em seu lugar uma ditadura dirigida pelo Comit deSalvao Pblica. Robespierre foi a principal figura deste Comit. Enquanto esteve no poder acelerou a distribuio de benscomuns e a liquidao da ordem feudal, continuou o processo de combate ao Cristianismo em beneficio ao cultorevolucionrio e derrotou os federalistas, realistas e coligados; porm, as dissenses internas e a sistemtica represso qualse entregou acabaram por debilit-lo. Como grupo poltico foi definitivamente esmagado em 9 de Termidor (27 de Julho de1794).

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    Willermoz antes da Revoluo

    Sua Obra Manica

    Iniciado em 1750 com a idade de 20 anos (a mesma que Dermott) em uma loja de Lyon (a qual se ignorao nome), Willermoz galgou rapidamente todos os seus graus. Relatando seus feitos cinqenta anos maistarde, escreveu que em seguida foi vestido com todos os cordes e de todas as cores possveis; porm,rapidamente repudiou a frivolidade e a indisciplina reinante nas lojas. Vejamos o que escreveria vinteanos mais tarde em uma carta datada de 14-18 de Dezembro de 1772 ao baro Charles de Hund,fundador da Estrita Observncia Templria:

    Fui admitido bastante jovem em nossa Ordem. Os chefes da loja que me haviam recebido quiseramrecompensar meu zelo permitindo-me um avano rpido em seus mistrios. Em 1752 fui eleitovenervel. O relaxamento bastante comum nas lojas da Frana afetou tambm esta; minha rigidezdesagradou a muitos, o que me fez tomar partido, com um pequeno nmero de amantes de nossas leis, aformar uma outra loja sob o ttulo de Perfeita Amizade. Esta deciso se procedeu de forma muitoamigvel; minha primeira tarefa foi a de procurar as constituies. As que obtive em 1756 so asprimeiras conhecidas em Lyon e emanadas da Grande Loja da Frana. Fui eleito novamente Venervel,e apesar de minhas peties para deix-lo, continuei neste cargo at 1762. Vrias lojas estabelecidas emLyon se lamentavam do abuso que se propagava cada vez mais. Eu contribu para formar a G.L. deMestres Regulares de Lyon com os venerveis mestres e os que lhes sucederam, e ademais os deputadoselegveis de cada uma delas, escolhidos entre seus oficiais de maior grau (era preciso ser Cavaleiro doOriente para poder ser admitido). Este estabelecimento foi formado em 4 de Maio de 1760 e

    imediatamente reconhecido e patenteado em 18 de Julho de 1761 pela G.L. da Frana, tenho sidoagraciada com os maiores elogios pelo nome que havia sido escolhido, ao qual foi complementado: aexemplo da de Paris. Com esta composio, a G.L. dos Mestres Regulares de Lyon foi encarregada dezelar pela manuteno da disciplina nas lojas, da conservao da correspondncia geral feita sob seunome, de fixar a escolha da uniformidade dos graus simblicos (chamo Graus simblicos oscompreendidos at o de Cavaleiro do Oriente, inclusive). Em 1761 fui eleito Gro-Mestre Presidente,sendo que tal eleio era realizada anualmente com a participao de todas as lojas. Fui obrigado acontinuar nesta funo durante 1762. Finalmente, em 1763, obtive a liberdade que tanto desejava, eaceitei ser o depositrio dos selos e arquivos deste Oriente que haviam ficado disponveis devido a mortede um Respeitvel Irmo encarregado de sua custdia, depsito este que se encontra atualmente em meupoder.

    Esta funo de depositrio de selos e arquivos permitiu-lhe posteriormente entregar-se a uma de suasatividades favoritas: pesquisar, estudar e comparar os rituais de todos os graus possveis. Porm, por quetudo isto? Por gosto de colecionador? Certamente que sim, de algum modo, porm haviam outrosmotivos mais profundos, mais essenciais, que tinham a ver com o estado da Franco-Maonaria dametade deste sculo, da qual Willermoz se tornaria membro.

    Nesta poca, a Franco-Maonaria era, ao mesmo tempo, clebre e desacreditada. Falava-se e escrevia-semuito sobre ela. As divulgaes se multiplicavam, e se contavam pelo menos doze entre 1737 e 1751a partir da recepo de um Maom livre, que nada mais era que a redao das confidncias de

    Sociedade das Cincias Antigas

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    travesseiro recolhidas por uma bailarina de opereta, la Carton, instigada pelo tenente de polcia Herault. Numerosas divulgaes eram copiadas e se repetiam. Estas eram, em seu conjunto, cada vez maisprecisas e bem informativas. Em que se converteria o segredo do maom depois disto tudo? Era umfamoso segredo que todos conheciam (ou acreditavam conhecer).

    Por outro lado, a situao era parecida na Inglaterra onde, em 1743, Horario Walpole (que tambm eramaom) escreveu: A reputao dos franco-maons est em seu momento mais difcil na Inglaterra (...)

    no vejo outra coisa seno uma perseguio para coloc-los em moda.

    Podemos ento constatar a existncia, a grosso modo, de dois grandes tipos de Maonaria e de Maons.A primeira se caracteriza por uma sociabilidade apaixonada pela razo e pelo bom gosto, ou, paraempregar uma linguagem mais atual, repleta de atrativos: isto que o abade Marquet, em seu Discursosobre o esprito da sociedade (1735), chamava de razo humanizada. Esta tendncia era ilustradaperfeitamente pelo presidente Bertn de Rocheret, eleito de Epernay. Em sua Apologia da antiga, nobre evenervel sociedade dos franco-maons (1737) escreve: Deus, o Rei e a honra so os trs pivs sobreos quais esta antiga sociedade se sustenta desde aproximadamente sete sculos. Uma confederao de pessoas distintas e honestas em todos os estados, que no buscam outra coisa seno divertir-sefilosoficamente no intercmbio de bons sentimentos, das boas letras e belas artes de toda espcie,

    formando em tudo isso um slido vnculo. E, mais adiante, depois de ter citado como exemplo afamosa abadia de Ripaille, fundada no sculo XV pelo duque Amadeo VIII de Sabia, com sua regrade vida fundamentada sobre os princpios de um epicurismo sutil e filtrado pelas leis doCristianismo, toma a si, para depois devolv-la como cumprida, a crtica pontifcia segundo a qual aFranco-Maonaria seria um refinamento do epicurismo, comentando-la do seguinte modo:

    ... certo que no nos sero atribudas mais do que as mximas de um Epicuro cristo que sabe aliar osdeveres de sua religio e de seu estado com as satisfaes permitidas; o que realmente a honestidadehumana segundo Deus e segundo o mundo, suprimindo e aniquilando todas as tumultuosas paixes quese opem honesta segurana que procuramos gozar. Eis aqui toda nossa filosofia e nossa cincia, quedeveria ser a de todo o gnero humano, se o fingimento e os prejuzos no se opusessem como obstculoa este estado de perfeio que ns nos esforamos por alcanar.

    Em suma, segundo Bertn de Rocheret, o estado de perfeio ao qual deve conduzir a Franco-Maonariaconsiste em gozar as satisfaes permitidas com toda a segurana. Trata-se indubitavelmente dabusca do prazer honesto, mas igualmente cristo, se assim se desejar, porm sendo mesmo assimprazer o que uma bela definio do epicurismo.

    De uma mesma maneira Joseph de Maistre, recordando-se da loja dos Trs Morteros na qual foiiniciado, escrevia de maneira muito clara: Era puramente uma sociedade de prazer.

    Podemos encontrar este mesmo aspecto em um texto contemporneo reencontrado nos arquivos destefamoso iniciado que foi o marqus de Chefdebien. O autor, um maom que permaneceu annimo,

    desenvolve, sob o nome de Companheiro do dever, uma concepo igualmente epicurista daMaonaria que pode ser resumida na seguinte frase: O princpio de sua instituio (...) no apresentacomo objetivo, de antemo, fazer seus associados gozar das delcias de uma sociedade escolhida, na qualos prazeres se tornam mais interessantes pelo ligeiro mistrio e pelas cerimnias um tanto torpes doscompanheiros do dever.

    Este gnero de Maonaria apresentada nestes textos sob uma aparncia conveniente e decente, mas arealidade era muito diferente. Comia e bebia-se muito podemos recordar a passagem do texto deJoseph de Maistre, citado no comeo deste trabalho: No se pode (...) comer e beber em excesso,etc.... Os trabalhos de mesa davam lugar a um ritual mais complicado do que o desejvel, e no era

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    por acaso que a loja se formava, freqentemente, nas tavernas (leia-se espeluncas); s vezes osencarregados se auto-nomeavam Venerveis, e ser venervel, at a reforma decretada pelo GrandeOriente de 1773, era um cargo vitalcio (ao menos em Paris).

    As desordens nas lojas foram unanimemente denunciadas nesta poca. daqui que se procederam asdiversas tentativas por parte dos altos graus para controlar a situao: segundo os estatutos ditadospela Grande Loja em 1755, os Mestres Escoceses tinham por misso explcita vigiar as lojas.

    Observa-se uma situao anloga, por exemplo, na Alemanha. Temos como prova disto os extratos daorao fnebre do baro de Hund que, recordemos, fora o fundador da Estrita Observncia Templria,com o objetivo de reformar a Maonaria: Estas lojas atraem pessoas de esprito, porque estes nocaram nas mesmas extravagncias e nos mesmos prazeres ruidosos que estiveram em moda nas lojas daAlemanha deste mesmo tempo. A mesma loja de Altenburg, que no tem mais do que trs graus,trabalha com ordem e decncia; as outras lojas so como templos do deus Baco; e, se em uma ou emoutra se encontram homens de mrito, se envergonham de comparecer nas assemblias, o quenaturalmente dever acarretar a decadncia da Ordem.

    Mais adiante, diz: Em 1755 nosso Venervel Mestre Provincial reformou uma antiga lei de Dresden,

    conferindo-lhe uma forma mais regular: as lojas passariam a receber somente pessoas cuja conduta erairrepreensvel, fato este que despertou a ateno de todos. Sua Majestade, a Rainha da Polnia, fez osseguintes comentrios acerca dos vrios irmos maons que mudaram de conduta aps sua recepo: necessrio vigiar mais de perto esta sociedade, que antigamente no tinha uma maior transcendnciaquando suas assemblias somente se destinavam a realizar sacrifcios a Baco, mas que, na atualidade, seestabeleceram nas bases da prudncia, pela qual ser preciso conferir uma maior ateno....

    Em contrapartida e esta a segunda tendncia outros maons tinham idias e aspiraes sob umaconcepo totalmente diferente da Maonaria. Esta outra Maonaria era buscada em todas as partes e, nafalta de encontr-la, a inventavam por eles mesmos. Tal era a origem dos outros graus.

    O que buscavam? Um significado, uma substncia para a Franco-Maonaria, no tendo esta nenhum

    valor, segundo eles, se seus adeptos no procurassem um conhecimento, uma cincia. Para alguns,esta cincia deveria ser elevada, uma alta cincia. Willermoz falar tambm de conhecimentos rarose preciosos. Entretanto, a maior parte deles entender esta noo em seu sentido mais concreto ematerial. E este sculo qui mais dividido em si mesmo que os outros, sculo das luzes, mastambm do iluminismo, sculo da razo, mas tambm do irracional, da incredulidade e da credulidade,do sentimento e do cinismo terrivelmente material, para no dizer materialista. Sua religiosidade sentimental, seu sentimento de desfrute, e sua busca do oculto em si mesma a investigao depoderes tangveis e de efetividade real.

    Sustentavam que a hiptese da Maonaria encobria uma verdade oculta, certamente escondida para amaioria, mas capaz de dar poderes efetivos queles que tinham acesso mesma, seja da ordem da

    influncia quer dizer, da influncia poltica e social, de onde sai como conseqncia o mito das forasocultas, do compl manico, etc seja na ordem do poder de conferir a riqueza e restaurar a sade,isto , o poder de fazer ouro e o de curar; ou, em outros termos, a transmutao dos metais e ataumaturgia.

    esta tambm a poca onde cada um presume curar. Para citar somente os nomes dos mais clebrespodemos listar Cagliostro, Saint-Germain, Martinez de Pasqually e tambm Mesmer e a incrvel modado magnetismo, qual Willermoz e seus associados sucumbiram do mesmo modo que outros grupos,tendo-se ocupado assiduamente das curas magnticas durante vrios anos.

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    Quanto alquimia, podemos dizer que jamais na histria fora to popular e to investigada o que noquer dizer sobremaneira que tenha sido praticada com seriedade e honestidade. Uma tal atrao devia-se,sobretudo a duas razes: os bens materiais que poder-se-ia conseguir (ouro, sade, longevidade), comotambm o poder de influenciar os demais, alm do poder que a alquimia legaria queles que sededicassem sua prtica, a partir do momento que estes bens podiam, segundo seus desejos, seremdados ou negados aos demais.

    Aqui reside, repetimos, a origem no a nica, porm a principal dos altos graus e de suas legendas.Legendas estas conectadas entre si, e que podem ser classificadas em trs grupos: a legenda escocesa, alegenda jacobina ou stuardista, e a legenda templria. Estas tm como denominador comum a afirmaoda posse, no corao mesmo da Maonaria e sem que soubesse a maior parte dos maons, dosSuperiores Desconhecidos, os quais afirmavam possuir e ser depositrios, fosse por filiao ou mesmosucesso, de poderes quase sobrenaturais cujos efeitos ao menos se supunha eram bem tangveis ereais nos mbitos que acabamos de mencionar.

    Tal era a inspirao geral dos diferentes sistemas e graus que Jean Baptiste Willermoz se disps aestudar por suas funes no seio da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon, e examinou-ascuidadosamente a fim de encontrar a verdade manica e a verdade da Maonaria.

    Deste modo se organiza a sua carreira manica que, para fins de maior clareza, pode ser decompostaem diversos perodos, entrecortados por datas significativas que correspondem a feitos memorveis.

    1 - A Busca da Verdade 1760-1767

    Deixemos que Willermoz se expresse com suas prprias palavras:

    H muito tempo os maons se embrenham em buscas interminveis para desvendar o verdadeiroobjetivo da Ordem. Desta busca nasceram uma infinidade de sistemas muito diferentes entre si, seja emnmero ou em suas horrveis conseqncias. Um estudo contnuo de cerca de 20 anos na Ordempermitiu-me conhecer muitos destes sistemas; no tenho, em absoluto, nenhuma vaidade ao acreditar

    que os conheo todos, j que cada nao pode ter seus sistemas particulares que adotam como nico everdadeiro objetivo, censurando ou desaprovando todos os demais. Creio firmemente que so falsostodos aqueles que se apartam ou no exigem a prtica da moral mais s. Assim, pois, somente pode-seescolher entre o pequeno nmero de sistemas que compem esta classe.

    (Carta ao baro de Landsperg, 25 de Novembro de 1772)Desde minha primeira admisso na Ordem estive sempre convencido de que ela encerra oconhecimento de um objetivo possvel e capaz de satisfazer a honestidade humana. Partindo destepressuposto, tenho trabalhado arduamente para descobri-lo. Um estudo contnuo de mais de 20 anos,uma correspondncia particular consideravelmente extensa trocada com irmos instrudos da Frana e de

    fora dela, o legado dos Arquivos da Ordem de Lyon, sob minha custdia h dez anos, me tm conferidomeios, graas aos quais tenho descoberto numerosos sistemas, cada qual mais singular que o outro. Umasimples inspeo suficiente para provar a futilidade de uns, a impossibilidade de outros e, finalmente,para inspirar uma justa averso por alguns outros mais. inconcebvel que uma tal multiplicidade dehomens razoveis se ocupem seriamente com tais tipos de quimeras. Todos os objetivos, quaisquer quesejam, que no estejam destinados utilidade pblica e particular, dentro dos limites que os primeirosprincpios da Ordem prescrevem, me parecem evidentemente falsos.

    (Carta ao baro de Hund, 14-18 de Dezembro de 1772)

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    Na continuao desta segunda carta Willermoz expe que a Grande Loja de Lyon no se apresentavacomo um lugar propcio para tais buscas, o que o impeliu a adotar um instrumento adequado, umcaptulo por ele mesmo constitudo, uma espcie de laboratrio de altos graus:

    No ano de 1765 os conhecimentos relativos aos mistrios da Ordem estavam se multiplicando nesteOriente no que se refere aos graus seguintes ao de Cavaleiro do Oriente. Alguns irmos, possuidores dosdiferentes sistemas adotados em diversos lugares sob este mesmo objetivo, decidiram formar entre si um

    captulo, o qual estaria reservado somente a eles, cuja finalidade seria a de deter esta multiplicidade.Esta pequena sociedade, independente da Grande Loja dos Mestres, recebeu o ttulo de Captulo dosCavaleiros da guia Negra. Esta sociedade realizou uma seleo entre os conhecimentos que adotou, proscrevendo os considerados falsos e perigosos por suas conseqncias, e manteve secretas suasassemblias para evitar suscitar a curiosidade. Desde sua fundao mostrou-se muito crtica em relao aadmisso de novos membros, tendo sido nomeado para presidi-la o Irmo Jacques Willermoz, doutor emmedicina, agregado do colgio de Lyon e antigo professor de qumica da Universidade de Montpelier.

    Se eu no estivesse ligado a ele pelo duplo ttulo de irmo estaria mais livre para poder elogiar as belasqualidades que esta eleio merece, e que lhe tm conservado no exerccio do cargo que ainda ocupa.

    (Ibid.)Qual panorama se descortina ante nossos olhos? O prprio Willermoz relatar a Charles de Hesse quinzeanos mais tarde:

    Podemos ver vrios sistemas muito diferentes que possuem mltiplas analogias entre suas finalidades oumeios. Aqui somente mencionarei aquelas que podem conduzir a alguns conhecimentos das cinciasnaturais, e em absoluto nada direi a respeito daquelas que no tm nenhuma relao direta com estascincias. Assim mesmo, no quero fazer nenhuma meno cincia da evocao de espritos que alguns,sobretudo na Alemanha, tm aplicado na Maonaria, pois o que h de bom nesta cincia pertence a umaclasse mais elevada, e o que se encontra de mal deveria ser para sempre ignorado; somente citarei osprincipais deste gnero que tm chegado a meu conhecimento.

    Uns pretendem que a Maonaria ensine Alquimia, ou a arte mercurial de fabricar a Pedra Filosofal, equereriam ver as lojas mobiliadas com fornos e alambiques.

    Outros, desaprovando a arte mecnica dos sopradores e igualmente o ouro que buscam com tanto ardor,do um sentido mais elevado Cincia Hermtica e parecem empregar outros meios para lograremrealizar suas obras. Efetivamente, esperam que, reencontrando a palavra perdida que os maons buscam,obter-se-ia uma panacia universal por meio da qual curar-se-iam todas as enfermidades humanas prolongando, assim, a durao normal da vida. Outros, finalmente, alando um vo mais elevado, pretendem que seja ensinada aos verdadeiros maons a arte nica ou a cincia da Grande Obra porexcelncia, atravs da qual o homem que adquire a sabedoria opera em si mesmo o verdadeiro

    Cristianismo praticado nos primeiros sculos da era Crist, se regenerando corporalmente e renascendopela gua e pelo esprito segundo o conselho que foi dado a Nicodemus, o qual se assustou. Este sistemaassegura conhecer a verdadeira matria da Obra, assim como os verdadeiros vasos, forno e fogo danatureza pelos quais opera. Assegura que, por meio da conjuno do Sol e da Lua, e pela prtica exatado que est indicado emblematicamente nos trs graus simblicos, se produzir um filho filosfico emvirtude do qual o possuidor tambm prolongar seus dias, curar as enfermidades e espiritualizar, porassim dizer, seu corpo, desde que tenha a coragem e a confiana suficientes como se fosse buscar a vidanos braos da morte. Aqui me deterei; estes sistemas, sobretudo os ltimos, abarcam o que todos osdemais somente indicam de forma parcial.

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    (Carta a Charles de Hesse, em 8 de Julho de 1781)[1]

    So tantas Maonarias que Willermoz sente, sem ainda saber o porqu, que so inferiores e enganadoras,que mais tarde classificar como apcrifas. Prossegue mesmo assim em sua busca de uma Maonariasuperior e autntica, da qual pressente sua existncia. Rene, coleciona, experimenta os graus, elabora-os ele mesmo. Tal parece ser o caso do grau Rosa+Cruz, ltimo grau (os ingleses o qualificam, inclusive

    em nossos dias, de nec plus ultra) de um sistema em 25 graus praticado em Lyon ao longo do ano de1765, no qual se converteria no Rito de Perfeio e futuro grau XVIII do Rito Escocs Antigo e Aceito.Alice Joly, e depois dela, Paul Naudon, afirmam que foi Willermoz quem fez o necessrio para lev-lo acabo. Naudon no , certamente, sempre confivel (ainda que seja um bom investigador, equivoca-sefreqentemente em suas interpretaes e dedues), mas A. C. Jackson, o melhor conhecedor ingls daquesto, adota esta mesma tese. Se tal prerrogativa for mantida, este grau Rosa+Cruz seria o primeirolegado manico de Willermoz. E que legado! Em sua verso original, ainda em vigor na Inglaterra, ,propriamente falando, esplndida (ainda que, desafortunadamente, no seja sempre assim em sua versoatualmente praticada na Frana, degenerada e desvirtuada).

    durante o curso desta investigao que Willermoz toma seu primeiro contato com a legenda templria,atravs de duas cartas que recebera de um irmo de Metz, Meunier de Prcourt. Eis abaixo as passagens

    mais significativas:

    Sim, meu M.Q.H., tocaste no ponto exato, descendes destes famosos e desafortunados templrios; mas necessrio distingui-los daqueles que a inveja, a avareza e o orgulho tratam de fazer parecer comocriminosos aos olhos das naes da terra. Contemple-os como pessoas, que instrudas por grandesmestres, conheceram o segredo da Grande Obra, e lograram por este meio imensas riquezas que foram acausa da destruio de sua Ordem.

    (Carta de 22 de Abril de 1762)E pretendo faz-los ver que os Cavaleiros Rosa+Cruzes, que apareceram no norte em 1414, nada mais

    so do que os templrios que, possuidores de seu grande segredo, ainda subsistem na maior parte daAlemanha, e que tm-no comunicado a alguns membros da Ordem Teutnica.

    (Ibid.)Pergunta: Qual o objetivo da Maonaria? Resposta: o de apresentar ao Conclio ecumnico as provasirrefutveis das caluniosas imputaes feitas primeira Ordem do Templo, mostrar o suborno dostestemunhos, os motivos que Felipe, o Belo, e Clemente V apresentaram para autuar e conseguirreabilitar sua memria e reclamar seus bens confiscados pela Ordem de Malta (...).

    (Carta de 13 de Setembro de 1762)

    No obstante, tudo isso deve ter-lhe parecido algo de pouco valor, tal como mais tarde testemunhou... Eesta investigao obstinada prosseguiu at...

    2 - A Descoberta da Verdade 1767-1774

    Esta descoberta teve lugar ao se deparar com a Ordem dos Cavaleiros Maons Eleitos Cohens doUniverso, de Martinez de Pasqually, na qual foi recebido entre 1767 e 1768, e logo progrediu.Encontrou finalmente a revelao qual aspirava desde os primrdios de suas profundas investigaes,revelao esta que, coroando seus esforos, propiciou-lhe a confirmao de que havia tido razo em

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    perseverar em sua busca. Desde ento comunica aos demais maons as luzes com as quais havia sidoagraciado. Este o sentido de sua obra manica.

    Willermoz relata poucos anos depois este seu encontro e descoberta, e em quais termos ocorrera:

    Certas felizes circunstncias durante minhas viagens me propiciaram a oportunidade de ser admitidoem uma sociedade bem estruturada e no muito numerosa, cujo objetivo me seduziu, uma vez que me

    foram apresentadas exteriormente as regras ordinrias. Desde ento todos os sistemas restantes queconhecia (pois no posso julgar os quais desconheo) me pareceram fteis e repulsivos. Este o nicono qual encontrei a paz interior da alma, a maior vantagem da humanidade relativa a seu ser e ao seu princpio. Tenho a satisfao de poder vislumbrar o mesmo saborear desta doura pelos poucosdiscpulos que me fora permitido admitir ao longo de cinco ou seis anos, sob a direo de meus chefes particulares. Com eles cultivo em silncio as instrues que recebi, e em conjunto julgamos osemblemas que as lojas simblicas nos apresentam, sob um ponto de vista bem distinto do comumenteaceito pelos maons.

    (Carta ao baro de Landsperg, em 25 de Novembro de 1772)

    Ou em outra carta:Em uma de minhas viagens, em 1767, tive a sorte de ser admitida em uma sociedade manica poucoconhecida e bem estruturada. O assunto mais sublime do qual ela se ocupa e a verdade da qual no sepode duvidar, quando se alcana o ltimo grau, exige a maior circunspeo e traz consigo expectativasmuito grandes. Tendo a vantagem de ser conhecido desde muito tempo por seus chefes, os quais me tmem considerao, flexibilizaram as formalidades ordinrias a meu favor. Seu desejo de me preparar paraformar um estabelecimento em Lyon e de instruir aqueles que eu cresse dignos fizera que eu avanasserapidamente. A cada ano recebi novas luzes, e ao terceiro ano fui conduzido ao termo final. Esta classede maons que recebem o ttulo de Filsofos, porm em um gnero de filosofia bem distinta da qual fiztantos progressos, est dividida em 7 graus, na qual todos os graus manicos normalmente conhecidosformam a parte simblica. De todos os conhecimentos que pude adquirir at o presente momento, posso

    dizer que esta sociedade manica a que me pareceu ser a mais satisfatria e a mais adequada para serdirigida ao homem de bem.

    (Carta ao baro de Hund, 14-18 de Dezembro de 1772) com a doutrina de Martinez de Pasqually, ensinada no seio de sua Ordem, que a Maonaria encontrasua verdadeira natureza. Esta natureza seria assim definida por Joseph de Maistre, dez anos mais tardeem suas memrias anteriormente citadas: O grande objetivo da Maonaria ser a cincia dohomem (pg. 97).

    O que isto significa?

    Que a Maonaria dispensa a seus adeptos uma cincia do homem e do universo, que forosamente devederivar do conhecimento e da ao divina em um e em outro, como escrever Jean Baptiste Willermoz:Salomo e os fundadores da Maonaria primitiva no tiveram outro objetivo seno o de conduzir osiniciados ao conhecimento do homem, do universo temporal e dos agentes espirituais que devem exercersua ao, por deciso do Criador, at o fim dos tempos (Instruo secreta aos Grandes Professos).

    Sebastian Mercier, em sua Tableau de Paris (publicada entre 1781 e 1790 em doze volumes), fornece umbom resumo da doutrina de Martinez de Pasqually:

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    A base do sistema reside no fato de que o homem um ser degenerado, castigado em seu corpo material por suas faltas anteriores, mas que, por meio do raio divino que leva incorporado, pode ser aindaconduzido a um estado de grandeza, de fora e de luz. Um mundo invisvel, um mundo de espritos nosrodeia; o homem poderia ter-se comunicado com eles, e por meio deste intercmbio ampliar a esfera deseus conhecimentos, se sua m inteno e seus vcios no lhe tivessem feito perder este importantesegredo. O homem perdeu a permanncia na glria, na qual no retornar a adentrar at que saibaconhecer este centro fecundo onde reside a verdade, que una e indivisvel.

    Para entrar mais em detalhes, ainda que apenas de forma sumria, podemos dizer que esta doutrina denatureza cabalstica. Provm da Cabala Crist (seria mais adequado dizer: judaico-crist), da qual Picodella Mirandola fora o primeiro e um de seus mais ilustres representantes. Martinez de Pasqually, defato, era ao mesmo tempo judeu e cristo, segundo a expresso de Franz Von Baader em LesEnseignements secrets de Martinez de Pasqually; Gunon acredita que ele poderia ter tido origemsefaradi. Como tal, esta doutrina absolutamente tradicional. Aproxima-se muito, por exemplo, deReuchlin exposta em sua De Arte Cabalstica (1557). Possui as caractersticas habituais de toda aCabala: exegese simblica e esotrica da Bblia, numerologia, cosmogonia e androgonia, angelologia,teosofia, assuntos todos estes que, por outro lado, no so somente de ordem especulativa e conceitual,mas que apresentam rituais invocatrios como base, quer dizer, rituais cujas operaes consistem em

    invocaes de certos Nomes. isto o que se subentende, propriamente falando, por prticascabalsticas, ainda que tambm seja correto dizer que os cabalistas no so unicamente ou, ao menosessencialmente, sbios na teoria. No que se refere ao sistema elaborado por Martinez de Pasqually, o primeiro sistema manico cuja substncia inicitica e, por conseqncia, o ritual inicitico, estinteiramente fundamentado sobre:

    1) a queda do homem de seu estado original glorioso, e

    2) seu retorno, sua reintegrao por meio da iniciao a este estado primitivo, iniciao esta que, parapoder ser operada, exige a intercesso e a ao do Grande Reparador, que o Cristo.

    Temos, pois, uma relao com um tema fundamentalmente cristo, de uma perfeita ortodoxia. Expresso

    em termos patrsticos uma relao de imagem e semelhana: a perda e logo a restituio, no homem,da semelhana imagem que perdura inaltervel. O mesmo expresso pela primeira divisa do primeirograu do Regime Escocs Retificado: o homem a imagem imortal de Deus; porm, quem poderreconhecer a beleza desta imagem, se ele mesmo a desfigura?.

    O objetivo da iniciao , pois, o retorno da deformidade conformidade, do estado cado ao estadoanterior queda. Isto est claramente indicado no ttulo do Tratado no qual Martinez havia iniciado (jque a obra permanece inacabada) a exposio de sua obra, ttulo este que se l integralmente: Tratadoda Reintegrao dos Seres criados em suas primitivas propriedades, virtudes e poderes espirituais edivinos. E a famosa definio que Saint-Martin d a respeito da iniciao em sua Tableau des rapportsqui existent entre Dieu, l'homme et l'univers (Quadro das relaes existentes entre Deus, o homem e o

    universo), diz exatamente o mesmo: A palavra iniciar, em sua etimologia, quer dizer aproximar, unirao princpio; a palavra initium significando tanto princpio quanto comeo. E, desde ento, nada maiscomum todas as verdades que o costume das iniciaes em todos os povos, nada mais apropriado situao e esperana do homem que a fonte de onde descendem todas as iniciaes, cujo objetivo aoqual se prope em todas as partes : anular a distncia existente entre a luz e o homem, o de aproxim-loa seu princpio, restabelecendo-lhe ao mesmo estado em que se encontrava no comeo.

    partir deste momento e j plenamente convencido, Willermoz comeou ento a trabalhar. Entretanto,tal trabalho no prosseguiu sem dificuldades j que Martinez, devido sua personalidade complexa eambgua, freqentemente demorava em enviar os