A NOSSA VOZ nº 68
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O Semestre Europeu 2015 - o ciclo anual da UE de coordenação das políticas económicas – ignorou mais uma vez direitos fundamen-tais. A Plataforma AGE Europa está profundamente preocupada que as recomendações específicas por país em 2015, relativas aos objectivos sociais da Estratégia Europa 2020, tenham ficado em segundo plano. Muitas reformas respeitantes à proteção social nomeadamente nas pensões, saúde e cuidados a longo prazo, estão a minimizar os di-reitos dos idosos na sua participação na sociedade, como viver de forma independente e com dignidade.
De acordo com o “feedback” de membros da AGE, as reformas na-cionais recentes para modernizar a proteção social, solicitadas pelas recomendações específicas por país da UE (CSR), têm um impacto negativo cumulativo, sobre os direitos fundamentais dos cidadãos idosos em muitos Estados-Membros da UE. Embora alguns Estados da UE tenham chegado a acordo em algu-mas recomendações consideradas positivas, tais como uma melhor conciliação entre vida profissional e familiar, muitas questões can-dentes para os idosos não foram abordadas. Usando a sua compe-tência sobre a disciplina orçamental, a Comissão Europeia impõe aos Estados membros a redução da despesa pública e a prossecução de reformas que de facto minam os direitos fundamentais das pes-soas mais velhas, consagrados na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. “É da competência da Comissão Europeia, como guardiã dos Trata-dos da UE, garantir que as CSRs, sobre a consolidação orçamental, as reformas estruturais e a modernização da protecção social res-peitem os direitos fundamentais de todos”, salientou Anne-Sophie Parent, Secretária-Geral da AGE numa recente reunião com Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da Comissão Europeia. “Por exemplo, a disparidade nas pensões de género já está em 40%, em média, para a UE a 28, e vai aumentar na maioria dos países, caso as reformas de proteção social não abordem as raízes principais das desigualdades de género ao longo da vida “, acrescentou a Sra Parent.
Pensões reduzidas e investimentona saúde inadequadas
“Muitos idosos sentem as consequências do aperto fiscal promo-vido por intermédio do Semestre Europeu”, disse Marjan Sedmak, Presidente da AGE,” as pensões estão a ser reduzidas em muitos Estados-Membros, enquanto os custos de saúde e cuidados de lon-ga duração, estão a aumentar.” Isso representa um desafio direto,
MEMBRO DO GRUPO EUROPEU DE PENSIONISTAS DAS CAIXAS ECONÓMICAS E BANCOS
Publicação Trimestral da ANACAno XXV • N.º 68 • Janeiro / Março 2016
Posição da Plataforma AGE Europa sobreo exercício 2015 do Semestre Europeu
EDITORIALO tempo, no seu incessante devir, traz ao nosso en-contro mais uma época pascal, período de alegria para a maioria de nós, que as estatísticas dizem que é católica, mas mesmo para os que o não são, deveria, com o aproximar do desabrochar da vida que a Natureza nos relembra nestes dias, fazer sur-gir a esperança na vinda de um tempo, em que nós e os que nos sucederem, sintam que o que foi de-lineado e prometido para o futuro coletivo, possa alguma dia vir a concretizar-se.
Continuamos a ter um presente de insatisfação, exclusão, onde tudo parece inclinado para trás, em que não parece ser possível sair do mesmo sítio, mesmo que aos nossos olhos se revele a grande divergência entre o que sabemos e o que fazemos.
Vivemos numa sociedade em que a evolução da ciência, da tecnologia e em geral do nível de co-nhecimentos nos permitiria maior tempo de vida com saúde e com melhor qualidade.
A economia que construímos, inquinada pela sua componente financeira, conduz-nos aos sucessi-vos resgates bancários, incompreensíveis para a maioria e impensáveis para quando a nossa gera-ção de trabalhadores bancários, neles labutavam diariamente com empenhamento e dedicação. Hoje assistimos à derrocada de instituições de ho-norabilidade à prova de qualquer suspeita, onde a segurança e a rentabilidade do dinheiro dos clien-tes era um valor inquestionável.
Da Europa continuam a chegar exigências de manutenção de uma cada vez menos justificável austeridade, onde se verifica rigor nos cortes em despesas, que são premissas essenciais do Esta-do Social, com propostas de prolongamento nos anos de trabalho, com reformas reduzidas e cada vez mais tarde, e complacência nas despesas que beneficiam grandemente as grandes empresas privadas, com interesses em setores fundamentais como os bancos, a energia e ensino.
Tudo isto mostra que no nosso mundo a volatilida-de dos valores, subordinada aos ditames materiais, onde os primeiros se deixam facilmente corrom-per pelos segundos, conduzem à confusão que ora nos traz alegrias e esperanças, ora nos traz desilu-são e sofrimento.
Apelamos ao retorno da ética como princípio con-dutor de todas as vertentes do funcionamento co-letivo. É a falta dela, que levando uns homens a dominar outros a seu favor e a confrontar a própria natureza, que faz surgir as calamidades e as dores que isso acarreta. Enquanto a ética for apenas um ditame da consciência individual e não um desíg-nio coletivo, o futuro não será esperançoso nem digno das capacidades que o homem tem revela-do individual e coletivamente, no sentido do aper-feiçoamento que seria legítimo esperar. l
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Ficha Técnica
Propriedade da ANAC – Associação Nacional dos Aposentados da Caixa Geral de Depósitos; Sede: Rua Marechal Saldanha,nº. 5-1º. 1200-259 Lisboa, Tels. 21 324 50 90/3, Fax 21 324 50 94, E-mail: [email protected], Blogue: http://anaccgd.blogspot.com; Coordenação: Carlos Garrido; Publicação: Trimestral; Impressão: Gráfica Expansão - Artes Gráficas, Lda., Rua de S. Tomé, 23-A, 2685-373 PRIOR VELHO; Tiragem: 3.500 exemplares; Depósito Legal: nº. 55350/92; Distribuição: gratuita aos sócios; Colaboraram neste número: António Gomes Marques; Carlos Garrido; Cândido Vintém; José Coimbra (Delegação da Região Norte); Orlando Santos.
não só para as pessoas idosas com pensões baixas, mas também para aqueles que têm pensões médias, que já não são suficientes para cobrir as suas necessidades de saúde. A expectativa de vida saudável tem vindo a di-minuir para três anos, reduzindo 1,1 anos para as mulhe-res e 0,4 anos para os homens, sendo necessários in-vestimentos para colocar as infraestruturas da UE para a prestação de cuidados de saúde de longo prazo, em termos adequados, tendo em vista o aumento previsto do população idosa na Europa.
As crescentes desigualdadesMuitas reformas, tais como a mudança de pensões da Segurança Social para o sistema de poupança privada, desfavorecem populações que já são vulneráveis: mu-lheres, trabalhadores com carreiras interrompidas e de pensões baixas. As recomendações específicas por país para 2015, são insuficientes para resolver o problema da persistência da pobreza entre os idosos mais vulnerá-veis, bem como o seu número foi reduzido.
Questões sociaisainda em segundo plano detalhes
A Comissão Europeia apresentou a Análise Anual do Crescimento para 2016, como ponto de partida para o próximo Semestre Europeu. O documento destaca as principais prioridades que a Comissão pretende pros-seguir em 2016, ou seja, fortalecer a recuperação e pro-mover a convergência. Isso deve ser conseguido através do apoio sobre os três pilares principais já identifica-dos em 2015: relançar o investimento, a prossecução de reformas estruturais, políticas fiscais “responsáveis”. As medidas relacionadas com o emprego são consideradas prioritárias, e as questões sociais são apenas referias de forma marginal.Algumas das prioridades da Plataforma AGE Europa são consideradas no documento, mas muitas questões ain-da foram ignoradas.
Prioridade aos sistemas de segurançasocial, para apoio aos mercados
de trabalho
Os sistemas de segurança social são vistos principalmen-te pelo prisma de facilitar o acesso ao mercado de traba-lho: os Estados-Membros são incentivados a promover o investimento social na área da saúde, puericultura, ha-bitação e serviços de reabilitação e combinar “flexibili-dade” com “segurança”. Com o objectivo de fomentar o acesso ao mercado de trabalho, a Comissão sublinha o investimento em “capital humano” para reduzir o risco de pobreza, de promoção da produtividade e competiti-vidade. Positivamente, a Comissão sublinha a importân-
Persiste a discriminação por idadeno emprego
Enquanto as CSRs recomendam o prolongamento da vida ati-va, nada é proposto para enfrentar os desafios que os traba-lhadores mais velhos enfrentam na permanência no local de trabalho, que incluem a discriminação etária no recrutamen-to e na reestruturação, a falta de meios de aprendizagem ao longo da vida e políticas inadequadas de saúde e segurança no trabalho. A UE necessita de novas medidas para apoiar os Estados membros, já que apenas 40% das pessoas entre 50 e 64 tem trabalho em toda a UE. “Esperamos que os pacotes de medidas anunciadas para o desemprego de longa duração, o equilíbrio entre vida profis-sional e mobilidade do trabalho, problemas correntes na UE incluiram propostas para atender às necessidades dos traba-lhadores seniores e dos idosos”, palavras de Anne-Sophie Pa-rent, “mas estas questões também devem ser abordadas no Semestre Europeu para assegurar a coerência entre os objeti-vos sociais e orçamentais da UE.” l
cia da educação de adultos e aprendizagem ao longo da vida, especialmente para os menos qualificados e de-sempregados de longa duração.A Comissão considera “bem concebidos e adequados os apoios ao rendimento, tais como subsídios de desem-prego e regimes de rendimento mínimo, que permitam aos desempregados investir na procura de emprego e formação”. No entanto, não há nenhuma menção espe-cífica à adequação do rendimento mínimo para além da idade de trabalho.
Ênfase na convergência económicae social
A Comissão quer que exista uma maior convergência entre os Estados-Membros e, portanto, defende a intro-dução de parâmetros de referência para avaliar quais as políticas a nível nacional que possibilitem um melhor desempenho económico e social.Esta iniciativa vai ao longo das propostas dos presiden-tes da AGE, apresentadas no relatório do verão passado, como sobre “completar a união económica e monetária da Europa”. A convergência, deve incluir os mercados de trabalho e as administrações públicas, mas a eficiên-cia e adequação dos sistemas de segurança social, no combate à pobreza, por exemplo, não são mencionados.
Cuidados de longa duração e saúde:financiamento adequado e acesso
universal permanecem questões abertas
A Comissão considera que as políticas de cuidados de saúde de longo prazo são importantes para garantir uma
ANÁLISE ANUAL DO CRESCIMENTO PARA 2016
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OS SENIORES E A SAÚDE
proteção adequada para todos. A Comissão recomenda políticas “responsáveis” para atingir a sustentabilidade financeira e garantir a proteção ao mesmo tempo.
São mencionadas medidas para melhorar a eficiência e eficácia dos cuidados de saúde, tais como a prestação de cuidados primários eficazes, eficiência no uso de me-dicamentos, a integração dos cuidados através de ca-nais de informação, promoção da saúde e tecnologias.No entanto, a Comissão não explica como os Estados--Membros devem garantir o acesso universal e finan-ciamento adequado para a saúde e cuidados de longo prazo.
Pensões: medidas complementaresnecessárias para apoiar
a sua adequação
A Comissão reitera a sua avaliação do Relatório sobre o Envelhecimento 2015, que os sistemas de pensões estão agora melhor preparados para enfrentar a mudança de-mográfica. No entanto, a Comissão reconhece que são necessárias medidas adicionais, tais como ampliando ainda mais a vida activa, incentivando a poupança de previdência complementar inclusive através de planos de previdência individuais e colectivos - para comple-mentar os regimes de pensões públicas
Plataforma AGE: prestar mais atenção às necessidades das pessoas mais velhas
A análise aprofundada relativa aos seniores no AGS para 2016, será feito com base na avaliação conjunta dos nos-sos membros do Semestre Europeu de 2015. Na posição de AGE enviada ao Presidente Juncker em 2015, desta-camos uma série de questões que precisam ser melhor dirigidas para alcançar os objectivos da Estratégia Euro-pa 2020, em particular, para garantir os direitos das pes-soas mais velhas para uma vida independente e digna. A Análise Anual do Crescimento de 2016, reflete apenas um pequeno número de recomendações relativas à idade. Mais importante ainda, é necessário encarar o problema da pobreza entre certos grupos de pessoas mais velhas, como mulheres, pessoas com deficiência, pessoas com necessidade de cuidados de longa duração e suas famí-lias. Em matéria de emprego, a discriminação por idade ainda é generalizada e os mercados de trabalho têm de se adaptar para acomodar os trabalhadores mais velhos. Portanto, é necessário muito mais investimento na apren-dizagem e formação ao longo da vida para os trabalha-dores de todas as idades. Finalmente, as condições de saúde estão a piorar, como é mostrado pelo declínio do indicador dos anos de vida saudável “nos últimos anos”. Isso mostra a importância de sistemas acessíveis e uni-versais de saúde, incidindo na prevenção, mas também incluindo os cuidados primários, secundários e de outros profissionais de saúde. l
PINTAR REDUZ O STRESS?Pintar poderá ter efeitos fisiológicos benéficos que se manifestam por uma redução dos níveis de stress. Esta relação é defendida por Jacques Fradin do Instituto de Medicina (IME) em Paris. “De maneira geral, todo o lazer, toda a atividade que nos faça libertar o espírito e nos afaste da azáfama quotidiana, é um fator de descanso. Ora a pintura permite tudo isso, nomeadamente o rela-xamento. Com efeito esta atividade é utilizada há muitos anos em arte terapia, um método psicológico visando estimular, com a ajuda de um orientador, todas as mo-dalidades de atividade artística, (música, escultura…). A criatividade pessoal pode tratar por exemplo, a ansie-dade e a depressão. Na opinião deste especialista, em resultado da criatividade específica que exige, a pintu-ra é uma espécie de mini-arte-terapia com impacto no stress. Ao nível da pesquisa, vários trabalhos realizados em 2012 e 2014, mostraram o efeito relaxante desta ativi-dade. Um desses trabalhos comparou em 2005 os efei-tos de três práticas artísticas, todos concordantes uns com os outros: a pintura livre, a de quadrículas e a de “mandalas”, que são desenhos geométricos em círculo, usados pelo hinduísmo para a meditação. A conclusão indicou que a pintura dos círculos reduz a ansiedade em 34%, enquanto que a de quadrículas a reduziu em 27%. A pintura livre mostrou um efeito quase nulo, muito pro-vavelmente causado pela angústia da folha em branco que vem contrariar o eventual efeito calmante do de-senho. No entanto o seu efeito parece também ser benéfico para a concentração. Uma hipótese explicativa avança-da por Camille Lefrançois, investigadora de neurociên-cias no IME. “Pode pensar-se que esta prática solicita a
ativação da região do cérebro implicada na criatividade e controlo dos movimentos: o córtex pré-frontal. Esta área, situada na zona frontal do cérebro, regula os cir-cuitos neuronais do stress (amígdala, hipocampo…). Um estudo realizado em 2010, mostrou que um grupo de pessoas, dedicada à pintura, mostrou fixar 29% melhor um conjunto de nomes numa lista previamente apresen-tada.No entanto o processo pelo qual o nosso cérebro, pa-rece reduzir os níveis de stress pela prática da pintura, ainda não foi explicado por nenhum estudo realizado para o efeito. l
C. Garrido
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grau com glaucoma, idade superior a 40 anos, população de etnia africana, diabéticos, pouca ou nenhuma assiduidade a consultas de oftalmologia, população feminina e hipertensão intra-ocular. O Manual de Boas Práticas em Oftalmologia da Comissão Coordenadora do Plano Nacional para a Saúde da Visão re-comenda, para quem se inclua no grupo de fatores de risco, uma vigilância apertada cada dois ou quatro anos antes dos 40, ou cada seis a doze meses depois dos 65, ou pelo menos de cinco em cinco anos para a generalidade da população.Se é verdade que a aplicação diária de medicamentos em gotas pode ser suficiente para tratar a doença no seu tipo menos grave (glaucoma de ângulo aberto), o de maior gravi-dade (glaucoma de ângulo fechado) implica quase sempre a cirurgia a laser ou tradicional. A gravidade da doença quan-do se manifesta, e que é responsável por muitos casos de cegueira, aconselha que se respeitem com todo o rigor os períodos aconselhados entre as consultas médicas da espe-cialidade. Tendo em atenção a nula existência de sintomas numa fase inicial, podem não ser percetíveis os benefícios do tratamento, daí a necessidade da explicação clínica de todas as questões envolvidas e motivação para o cumprimento ri-goroso dos procedimentos necessários. l
CG
O GLAUCOMADoença que surge com maior frequência após os 40 anos, manifesta-se pela visualização do efeito de túnel, que se ca-rateriza pela perda da visão lateral, originado pelo dano do nervo ótico que vai evoluindo progressivamente, muitas ve-zes sem que seja clara a perceção dos sintomas. A heredi-tariedade é muito importante no seu aparecimento, em que a visão central se mantém até uma fase mais avançada da doença. Sem tratamento o risco de evolução para a cegueira é muito elevado, mas felizmente a deteção precoce e o trata-mento tornam possível o seu controlo.Na maioria dos casos esta afeta os dois olhos. É causada pelo entupimento progressivo dos canais de drenagem do humor aquoso, líquido existente naturalmente nos olhos, o qual se acumula no seu interior alargando o ângulo entre a íris e a córnea. Existe outro tipo de glaucoma, designado por agudo ou de ângulo fechado, menos comum do que o anteriormente des-crito, designado por de ângulo aberto. O de ângulo fechado é mais vulnerável a crises e pode evoluir mais rapidamente. Neste caso, existe sempre hipertensão intra-ocular, porque os canais de drenagem ficam bloqueados, impedindo a circula-ção do humor aquoso, podendo atingir os olhos em simul-tâneo.Como na maioria das pa-tologias a prevenção é essencial. Deve ser con-sultado o oftalmologista pelo menos de cinco em cinco anos. Existem fatores de risco que podem facilitar o aparecimento da doen-ça: ascendentes em 1º
ATIVIDADES
HERANÇA JUDAICA
Enfrentando bastante frio e alguma chuva, para além das difi-culdades próprias que resultam da nossa gastronomia, um gru-po de 26 Sócios, Familiares e Amigos fez a Rota do Judaísmo.Como previsto, a viagem decorreu desde Castelo de Vide a Trancoso, passando por Castelo Branco, Belmonte, Guarda, Gouveia, Seia, Vila Verde, entre outros locais.O Dr. José Domingos guiou-nos através dos locais mais rele-vantes da presença judaica em Portugal.Foram visitados diversos museus que o próprio criou e/ou aju-dou a criar. Esta viagem proporcionou a todos os participantes uma visão mais ampla da cultura e da história judaica.A viagem terminou com um momento de reflexão junto da casa do Embaixador Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato.A gastronomia “kosher” e a portuguesa acompanharam o grupo durante estes três dias. Pena não termos visto a queda de neve mas fomos compensados com uma dose razoável de frio. l
TEATRO NACIONAL D. MARIA II E TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS
Foram cerca de 30 sócios e familiares, os iniciadores das visitas culturais aos teatros de Lisboa programadas para Março e Abril e efetuaram-se nos dias 07 ao Teatro Nacional D. Maria ll e 9 ao Teatro Nacional de São Carlos. No Teatro D. Maria ll com 7 pisos, para além dos bastidores, vi-sitámos o Auditório, o salão Nobre e claro a sala Garrett, nome dado para homenagear o poeta indicado pelo Rei para levar a cabo a edificação dos Teatros Nacionais. Visitámos ainda o último piso, onde se encontra um grande acervo de adereços utilizados nas diversas peças. A visita teve como guia o Dr. Pe-dro Vaz. No Teatro São Carlos a Dra. Maria Gil foi a nossa guia tendo começado a visita no largo fronteiriço junto ao prédio onde nasceu o Poeta Fernando Pessoa. Este teatro distingue-se do anterior pelo facto de neste caso ser um teatro com vocação para o belcanto/ópera, e também por ter um espaço próprio (fosso) para orquestras. O teatro foi construído com elementos neoclássicos em apenas seis meses.
Em ambos os casos todos ficámos agra-dados com a visita, e até m o t i v a d o s para no futuro vermos mais espetáculos teatrais. l
Orlando Santos
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ESPAÇO DE REFLEXÃO
APRENDER ALGUMA COISA COM O PASSADOAPONTAMENTOS PARA «EM VIAGEM PELA RÚSSIA»
Foi em Abril de 1990 que, pela primeira vez, pisei terras da Rússia, então ainda União Soviética; agora, 25 anos e alguns meses depois, voltei à Rússia. Nessa viagem de 1990 visitei também a Estónia e a Letónia, não tendo sido difícil percepcionar que o império soviético estava em derrocada, tendo ficado com a certeza de que a sepa-ração dos países bálticos da União Soviética não tardaria. Agora, a viagem de Julho de 2015 deixou-me com a convicção de que a Rússia caminha, numa democracia musculada com o todo-podero-so Vladimir Putin ao leme, rumo à consolidação de uma economia desenvolvida, reforçando assim a grande potência que já é.
É minha intenção desenvolver várias crónicas para o blogue, se-guindo o modelo utilizado para a segunda viagem à Turquia, que deu origem ao longo texto «Em Viagem pela Turquia», aqui pu-blicado durante 62 dias. Agora vou procurar escrever de vez em quando um texto ou outro sobre esta viagem tendo em conta que o texto mais longo que pretendo escrever será de demorada con-clusão e, não menos importante, a minha habitual preguiça para escrever necessita de ser combatida por compromissos que as-suma.
Este primeiro texto nasceu ao repegar no livro de Tony Judt, «O Sé-culo XX Esquecido – Lugares e Memórias» (Ed. 70, Setembro/2010, págs. 13/14), relendo as primeiras páginas e, nomeadamente, estes pequenos excertos:
«Nós no Ocidente, com os nossos entusiasmos maniqueístas, apressámo-nos a dispensar, sempre que possível, a bagagem eco-nómica, intelectual e institucional do século XX, e encorajámos ou-tros a fazer o mesmo. A crença de que isso era dantes, e agora é assim, e que do passado só precisávamos de aprender a não repe-ti-lo, abarcou muito mais do que as instituições defuntas do comu-nismo da Guerra Fria e a sua membrana ideológica marxista. (…)
Ao escrever nos anos 90, e novamente a seguir ao 11 de Setembro de 2001, fiquei diversas vezes espantado com esta perversa in-sistência contemporânea de não perceber o contexto dos nossos dilemas actuais, no país e no estrangeiro; de não escutar com mais atenção algumas das mentes mais sábias das últimas décadas; de procurar activamente esquecer em vez de lembrar, (…)
O que realmente pretendo, com este escrito, é activamente lem-brar. Vamos devagar.
Ora, no centro de Moscovo, num lugar privilegiado da cidade, na margem alta do rio «Moskvá», próximo do Kremlin, o centro históri-co da cidade, existia o Templo de Cristo Salvador, a igreja ortodoxa mais alta do mundo, construído no século XIX, como homenagem aos heróis da guerra contra Napoleão, projectado pelo arquitecto Konstantín Ton, demorando cerca de 44 anos a construir, inician-do a sua função religiosa em 26 de Maio de 1883, na coroação do Czar Alexandre III. Num local tão privilegiado haver um tal símbo-lo da «religião, ópio do povo» era ofensivo, sobretudo agora que se propagandeava que era o povo, a sua vontade colectiva, quem mandava, tornava-se necessário substituí-lo por um símbolo mais representativo –o Palácio dos Sovietes!-, determinando Estaline a sua destruição até aos alicerces com explosivos, o que aconteceu em 5 de Dezembro de 1931, embora a ordem tenha sido dada pelo Presidente do Comité Executivo da União Soviética, Mikhail Kalinin, em 13 de Julho de 1931, ao mandar construir o Palácio dos Sovietes no local da Catedral de Cristo Salvador, devendo, no entanto, refe-rir-se não ter sido este o primeiro local escolhido.
Em meados da década de 1930, o governo stalinista previu a cons-trução de 08 (oito) arranha-céus em homenagem ao VIII cente-
nário da cidade de Moscou, o qual seria comemorado em 1947. O principal deles seria o Palácio dos Sovietes – projetado por B. Iofan com 389m de altura e coroado com uma estátua de Lenin com 100m de altura –, mas acabou sendo o único não executado. As demais torres foram construídas até o início da década de 1950 – todas historicistas, com elementos tanto clássicos como góticos – com alturas variando de 133 a 240m, passando a ser conhecidas como as SETE IRMÃS de Moscou. (http://arquitetura.weebly.com/)
O Palácio dos Sovietes não foi ali construído, embora se tivesse dado início à construção dos alicerces do que se pretendia fosse o maior edifício do Mundo, desejo este que viria a ser impossibilitado pela II Guerra Mundial e pelas dificuldades económicas. Nos anos 60 do século passado, Nikita Krustchev mandou ali construir uma enorme piscina pública, a que deu o nome de «Moskvá» (Mosco-vo, em russo), aproveitando os alicerces do projectado Palácio dos Sovietes. Fossem eles conhecedores profundos da obra de Anton Tchékhov e talvez tal destruição não tivesse sido levada a cabo, recordando eu o que Vladimir Nabokov escreveu nos seus estu-dos de literatura russa sobre este grande escritor: «... uma pessoa que prefira Dostoiévski ou Górki a Tchékhov nunca chegará a com-preender a essência da literatura russa e da vida russa, e, o que é ainda mais importante, a essência da arte literária em geral.» (V. Prefácio a «Contos de Tchékhov – volume I, Relógio d’ Água Edito-res, Julho de 2001).
Esqueceu-se Estaline e os membros do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética de que aquele Templo, para além de um local de culto religioso ortodoxo, culto seguido por milhões de russos, era também um símbolo da vitória na Grande Guerra Pátria contra Napoleão em 1812-14. O Czar Alexandre I, mais inte-ligente ou melhor conhecedor dos sentimentos do povo russo do que Estaline, quis, como escreveria Fiódor Dostoiévski, «glorificar precisamente esta vitória».
É-me difícil compreender este acto criminoso, que não tem qualquer justificação, encontrando paralelo nos crimes que os fundamentalistas islâmicos estão agora a perpetrar nas ruínas de Palmira. l
Publicado no blog “aviagemdosargonautas.net”
Continua no próximo Boletim
António Gomes Marques
Demolição do Templo em 1931 (V: es.wikipedia.org)
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Formou-se na Assíria,
ao longo do tempo,
um corpo burocráti-
co bastante eficien-
te. Muitos deles eram
epónimos, e, portanto,
davam nome ao ano.
O rei era, em geral, o
epónimo do primeiro
ano. Seguia-se a ele,
assim, uma série de
epónimos, em crité-
rio de hierarquia. Tal
sistema constitui um
elemento de grande
importância para os
historiadores no pro-
cesso de datação. A literatura assíria era praticamente
idêntica à babilónica, e os reis assírios mais cultos, prin-
cipalmente Assurbanipal, gabavam-se de armazenar
nas suas bibliotecas cópias de documentos literários
babilónicos. A vida social ou familiar, os costumes ma-
trimoniais e as leis de propriedade também eram muito
parecidas.
E as práticas e crenças religiosas, muito semelhan-
tes às da Babilónia, inclusivé o deus nacional assí-
rio, Assur, foi substituído pelo deus babilónio Marduk.
A principal contribuição cultural assíria ocorreu no cam-
po da arte e da arquitetura.
A política externa assíria era conhecida pela sua bru-
talidade para com os inimigos. Em muitos casos, atos
de selvageria por parte do império assírio foram em-
pregados, com o fim de persuadir os seus inimigos a
entregarem-se sem luta. Registos escritos da época de-
monstram o temor dos povos adjacentes ao terror assí-
rio. Os governantes assírios caracterizaram-se também
pelo tratamento despendido aos povos conquistados.
ASPETOS DA HISTÓRIA DOS ASSÍRIOS (II PARTE)Organização económica
e cultural do país
Para evitar mo-
vimentos rebel-
des nas regiões
conquistadas,
os povos venci-
dos eram cap-
turados, remo-
vidos de suas
terras, e distri-
buídos entre as
cidades do im-
pério, diluindo o
seu poder. Nati-
vos assírios e
inimigos captu-
rados de outras
regiões eram
encorajados a
ocupar as áreas conquistadas. Esta prática mostrou-se
particularmente eficiente, e foi mantida pelos babilónicos.
Assim, como na maioria dos Estados que se desenvol-
veram no Crescente Fértil, os reis assírios exerciam um
poder autocrático, sendo considerados intermediários
dos deuses.
Sendo semitas, os assírios tinham muitos deuses em co-
mum com outras nações semíticas, nomeadamente com
os babilónios. Adoravam as grandes deidades babilóni-
cas, tais como Shamash, o deus-sol; Sin, o deus-lua; Ea,
o deus das águas e Ishtar, a grande deusa da fertilida-
de. Também honravam Aru, Marduk (Bel) e o seu filho
A religião seguia as bases dos cultos realizados pelos
sumérios. Cada cidade era devota de um deus espe-
cífico (ao qual se associava a sua criação e proteção),
e os deuses mais impor-
tantes do panteão assírio
dependiam do grau de in-
fluência das suas cidades.
Contudo, o principal
deus dos assírios era As-
sur, que não pertencia ao
panteão babilónico. Assur
era representado por um
sol alado que protegia e
guiava o rei, o seu prin-
cipal servo. Era também
simbolizado por uma ár-
vore, representando a
fertilidade. No entanto
ele era, antes de mais, o
deus da guerra e a guerra
tornou-se parte integran-
te da religião dos assírios.
ESPAÇO CULTURAL
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Cada campanha militar era pensada para ser levada a
cabo em resposta às ordens diretas de Assur. Assim, a
participação na guerra era um ato de adoração.
Esta associação de Assur com as campanhas militares
dos assírios, explica o facto de o culto a Assur ter desa-
parecido com a destruição do Império Assírio, contras-
tando com os cultos dos deuses das outras nações que
sobreviveram à destruição do seu povo. Por exemplo,
Marduk, o deus patrono dos babilónios, permaneceu
como deidade principal do Vale Mesopotâmico durante
a ocupação persa mas Assur nunca reapareceu no mun-
do antigo após a captura e destruição de Niníve.
A Crueldade Assíria
Os assírios eram um povo militar e comercial,
simples em costumes porém cruéis e ferozes com
os seus prisioneiros, queimando-os vivos após uma
sessão de mutilação. Cortavam-lhe as mãos, pés,
orelhas, faziam pirâmides de caveiras. Um certo rei
Assírio, numa das batalhas que travou, levou cativos 14
mil homens como prisioneiros de guerra. Por medida de
precaução, para que não houvesse revoltas, deu ordem
ao seu exército para que vazassem os olhos a todos os
presos.
Existe o relato de um rei que quando estava cercado
pelos exércitos assírios, resolveu fazer um acordo com
o monarca assírio, tentando preservar a vida dos seus
súbditos. Neste aceitava que se renderia desde que não
houvesse derramamento de sangue. O acordo foi cumpri-
do por ambas as partes e os vencidos foram enterrados
vivos. Assurbanipal (669 a.C. - 631 a.C.) ficou conhecido
pela selvageria e por ser impiedoso para com os inimigos.
Após a morte do Rei Asarhaddão iniciou-se uma guerra
civil entre os seus dois filhos Assurbanipal e Chamás-
Chum-Uquim.
Tal guerra só terminou após 3 anos tendo final-
mente, Chamás-Chum-Uquim morrido no seu pró-
prio palácio, tendo-lhe Assurbanipal dado um fu-
neral digno, e depois vingado dos outros rebeldes:
“Eu alimentei com seus cadáveres, cortados em peda-
ços pequenos, cães, porcos, abutres, águias, os pássa-
ros do céu e os peixes do oceano”.
Após isso, Assurbanipal atacou um antigo protegido, o
rei de Elão, que tinha aceitado suborno de Chamás-Chum
-Uquim. A guerra com os elamitas foi longa e, em 639 a.c.,
tendo os assírios vencido a última batalha. Toda a região
de Elão foi destruída e a capital saqueada. O zigurate de
Susa foi destruído e os templos profanados e saquea-
dos. Ele conquistou o Elão mas não conseguiu evitar
que o Egito, em 653 a.C., efetivasse a sua emancipação.
Foi o momento mais alto do império assírio, mas nunca
este império foi, ao mesmo tempo, tão forte e tão fraco,
com o Elão destruído, a Babilónia devastada, peque-
na parte da população a seu favor, fenícios cheios de
ódio pelos assírios, tendo os gregos como rivais e como
vassalos príncipes assírios pouco confiáveis e, além do
mais, estando o exército cansado após um século de
guerras.
Após a sua morte, o império decaiu e nunca mais recu-
perou. Assurbanipal vangloriava-se de seus feitos san-
grentos, mas, apesar da sua ferocidade, é mais lembra-
do como o estudioso que criou a grande biblioteca de
Nínive, com uma coletânea de obras em escrita cunei-
forme, hoje responsável pela maior parte do que se
sabe dos povos da Mesopotâmia. Esta biblioteca conti-
nha milhares de textos (crónicas, cartas reais, decretos,
religião, mitos, e muitos outros) escritos em tabuinhas
de barro cozido. Depois da morte do grande rei Assur-
banipal em 627, o seu
filho Sinsariscum foi
declarado rei, mas o
seu irmão Assur-Etel-
li-Illani conseguiu ocu-
par o trono em Nínive,
enquanto Sinsariscum
ficou com as suas tro-
pas na região leste do
país. Um dos seus ge-
nerais, o comandante
e governador da pro-
víncia da Babilónia
Nabopolasar aprovei-
tou a confusão, e traiu
Sinsariscum e depois
de duas vitórias com
a conquista de duas
cidades é declarado rei da Babilónia. Foi então que, em
614 a.C, Nabopolasar se aproximou dos Medos, formali-
zando com eles uma aliança mediante o casamento do
príncipe Nabucodonosor, seu filho, com uma princesa
Meda. Em 612 a.c., os aliados convergiram sobre Nínive
e, após um longo cerco, conseguiram conquistar a or-
gulhosa capital da Assíria. A cidade foi devastada e o rei
assírio, Sin-shar-ishkun, desapareceu entre as chamas
ateadas pelos invasores. Seu sucessor, Assur-uballit II,
ainda tentou resistir em Harran, com o apoio dos egíp-
cios, mas essa cidade também caiu, três anos depois
(609 a.C.). l
Nabopalassar, durante o cerco de Nínive.
Cerco de Nínive.
Fontes: História do Mundo / Wikipédia
8
ESPAÇO CULTURAL
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos
góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no
dorso e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma
temperatura nunca inferior
A 37º centígrados, podendo eventualmente provocar
queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de
paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os
olhos
Ao abri-los ela não mais estará presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta,
não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente
e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que
exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna
dançarina
Do efêmero;
e em sua
incalculável
imperfeição
Constitua a
coisa mais
bela e mais
perfeita de
toda a criação
inumerável
Vinicius de Morais
As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na
República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que
um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro
minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e
desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras
cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como o âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o
pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo
e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as
pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher
sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteia em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mais que gótica ou
barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de
cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas bem haja um
certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de
suavíssima penugem
No entanto sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!)
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
NO DIA DA MULHER O OLHAR DO POETARECEITA DE MULHER
9
Passaram no dia 16 de dezembro último de forma quase desapercebida na opinião pú-
blica portuguesa, quinhentos anos sobre a morte do 2º Governador e Vice-Rei da índia,
que é considerado pelos historiadores o grande impulsionador e estratega do chamado
império Português no Oriente. Afonso de Albuquerque foi o terceiro filho de Gonçalo Al-
buquerque e de D. Leonor Meneses. Não se sabe com rigor onde e quando nasceu, mas
supõe-se que tenha ocorrido em Alhandra, no ano de 1461 ou 1462.
Nada se sabe sobre a sua infância e adolescência, mas a forma como desempenhou as
funções para que foi sendo nomeado ao longo da vida, levam a pensar que tenha tido
uma instrução de nível elevado, na qual à época se destacava o estudo do latim e dos
autores clássicos.
Os objetivos alcançados e o prestígio adquirido muito devem ter contribuído para o am-
biente desfavorável a Albuquerque que surgiu na corte e no conselho do rei, que levaram
a que nunca tivesse tido um poder incontestado no governo que dirigiu, pois muitos dos
fidalgos colocados na Índia tinham acesso ao monarca através de manobras de bastido-
res, certamente muito semelhantes ao que se passa nos dias de hoje.
A primeira referência a Afonso de Albuquerque surge em 1476 na batalha de Toro, ao
lado de D. João II e depois em Arzila no norte de África. Pela experiência que demons-
trou posteriormente, tanto na arte de navegação como nas ações militares, levam a pen-
sar que terá passado parte da sua juventude na ocupação portuguesa das fortalezas africanas. A sua presença é referida
em descrições históricas de 1503, quando esteva na Índia com a armada comandada pelo seu primo Francisco de Albuquer-
que, tendo participado em várias batalhas, erguido a fortaleza de Cochim, e estabelecido relações comerciais com Coulão.
Regressou a Portugal em 1504, onde teve oportunidade de apresentar ao rei D. Manuel I o seu pensamento sobre o desen-
volvimento de um império no Oriente, tendo por base a conquista de posições estratégicas no Índico. Tendo conseguido o
apoio do rei, e com algumas hesitações de membros do conselho, é em 1506 que parte para a Índia, como capitão-mor, com
o comando de uma frota incorporada na armada de Tristão da Cunha, com o qual participou na incursão de Socotorá, de
que resultou a derrota das tropas turcas que a ocupavam, considerando que esta ilha poderia vir a ser, dada a sua posição
estratégica, uma importante base naval que controlasse o acesso ao oceano Índico. Após esta operação, a frota de três
naus de Albuquerque separou-se da de Tristão da Cunha, tendo como missão vigiar a porta do mar da Arábia, para impedir
qualquer ação que pudesse impedir a navegação portuguesa, conquistou Omã e submeteu Ormuz (1507). Nomeado pelo
rei, Governador da Índia em 1508, veio a ocupar o cargo no ano seguinte. Já como Vice-Rei da Índia, em substituição de
D. Francisco de Almeida, conquistou Goa (1510) e Malaca (1511) e entrou no mar Vermelho em 1513 não tendo conseguido
conquistar Adem, importante cidade e praça militar.
Com a conquista e construção da fortaleza de Ormuz em 1515, concluiu o seu
plano de domínio dos pontos estratégicos que permitiam o controle marítimo
e o monopólio comercial da Índia. No aspeto administrativo, seguiu uma polí-
tica de integração racial, favorecendo o casamento de indianas com soldados
e marinheiros portugueses, tendo como objectivo que ficassem a servir na
administração.
Falecido em 1515, os seus sucessores contrariaram em parte as orientações
que seguia, no entanto o seu plano estratégico, conseguiu manter-se até aos
ataques holandeses e ingleses do século XVII. A queda de Ormuz em 1622,
atacada por ingleses e persas viria a ser o início da fase final do desmoronar
do Império Português na Índia, que já se tornara claro desde meados do século
XVI. Porém, a energia e determinação de Albuquerque tinham conseguido du-
rante algumas décadas, um espaço relativamente seguro na Ásia, que tornou
possível o início de sistema global de comércio, entre o Índico, o Atlântico e a
Europa. l
Albuquerque, Luís Os Descobrimentos Portugueses
C. Garrido
ESPAÇO CULTURAL
AFONSO DE ALBUQUERQUE
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Delegação Norte da Anac / Março 2016
DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
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Resposta à Rubrica “Quem é o Autor ?”
A resposta à rubrica “Quem é o Autor?” publicada no último boletim da Delegação Norte da Anac, é a seguinte: Prof. Azeredo Lopes. Em entrevista à RTP. Nenhum Sócio acertou na resposta correta. Aproveitamos para retificar a informação dada nos Boletins de Junho e Setembro de 2015 dado que, para além dos Colegas indicados como tendo respondido acertadamente à rubrica “Quem é o Autor?”, também a Colega Maria Manuela Boavida, sócia da Anac, respondeu acertadamente, não tendo por lapso sido referido o seu nome. Do facto apresentamos as nossas desculpas. A resposta à rubrica deste número, deverá ser dirigida à Delegação Norte da Anac e será divulgada no próximo número deste jornal.
Caldo de Letras
Quem é o Autor?
Afinal, caiu o muro Para o bem da Humanidade Quem sabe se, no futuro,
Cai o Carmo e a Trindade? Mas não houve um muro apenas, Como não há um só Deus
“As gravíssimas situações de pobreza e de exclusão que persistem em Portugal por razões da crise e das políticas sociais e económicas que se seguiram e que continuam a ferir muitas pessoas, não só as mais vul-neráveis mas também camadas da sociedade que não era suposto entrarem em depressão, não são solução para o crescimento económico porque fragilizam um dos pilares do desenvolvimento que é o pilar social.” O que (não) é a União Europeia “Para os portugueses e para muitos europeus, a União Europeia transformou-se num agente externo, um quase adversário. Em diversas matérias e ocasiões
surge-nos como ameaça da qual temos de nos defen-der. Estão a realizar-se transferências de soberania e de instrumentos de políticas para uma entidade que se mete onde não devia e que onde devia meter-se não se mete. A EU já não se assemelha a uma equipa arti-culada, cooperante e solidária, mas sim a uma espécie de EU-rebanho cheia de tensões internas e sem míni-ma perceção de destino, guardada por cães que sabem morder nas canelas dos recalcitrantes, mas podem estar a conduzir a manada para o precipício. Será que a EU já acabou e nós não demos ainda por isso? É possível reverter o rumo?”
Rot
as
da
Esp
era
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ros
da
Ver
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ha
ÍNDIA / PAQUISTÃO 550 km A rivalidade entre a Índia e o Paquistão data de 1947, quando a Índia Britânica foi dividida em dois esta-dos. Em 2003, parcialmen-te como resposta à infiltra-ção de militares a partir do Paquistão, a Índia inicia a construção de barreiras na sua fronteira.
CHINA / COREIA NORTE - 33 km Em 2006 a China terá cons-truído uma vedação de 20 km ao longo do delta do rio Yalu. A sua função pas-sa por dificultar a passa-gem dos desertores vindos da Coreia do Norte. Desde então, tanto a China como a Coreia terão levantado mais vedações nos pontos de fronteira sensíveis.
PAQUISTÃO / AFGANIS-TÃO - 35 km A ideia surgiu em 2005 com o objetivo de travar o tráfico de droga e a circula-ção de rebeldes. Os planos previam uma vedação de 2400 km mas não passou dos 35 km por falta de fundos.
ISRAEL / CISJORDÂNIA 700 km Passa à volta e por dentro dos territórios ocupados. É ladeado por uma faixa de 60 metros. Atinge a altura de 10 metros em alguns locais. Chamado por uns de “cerca de segurança” é referido por outros como “muro da segregação” ou do “apartheid”.
EUA / MÉXICO 3145 Km Após anos de violência, crimes relacionados com o narcotráfico e imigração ilegal, os Estados Unidos iniciam a construção de uma barreira na fronteira mexicana. O projeto foi parcialmente suspenso pelo presidente Barack Obama.
COREIA NORTE / COREIRA SUL— 250 Km Há cerca de 60 anos foi estabelecida uma zona desmilitarizada entre as Coreias do Norte e do Sul. É hoje uma atração turísti-ca para uns e um sinal de separação para muitos outros. É também conside-rada uma das últimas fron-teiras da Guerra Fria.
ÍNDIA / BANGLADESH 3,5 Km O parlamento indiano aprovou a construção de uma vedação fronteiriça para prevenir a entrada de imigrantes ilegais - a cons-trução iniciou-se em 1993. O traçado sinuoso da fron-teira, que atravessa rios e ilhas pantanosas, provoca inúmeros incidentes todos os anos.
ESPANHA / MARROCOS 19 Km Uma das vedações que separa a EU do continente africano situa-se em Melil-la, na fronteira com Marro-cos, onde refugiados, prin-cipalmente subsarianos, continuam a tentar entrar no enclave espanhol.
MARROCOS / SARA OCI-DENTAL - 2700 Km O Saara Ocidental, um território disputado no Norte de África, é separa-do de Marrocos por um muro de areia construído em 1987 com o objetivo de travar os ataques dos separatistas. Um número considerável de soldados ainda vigia esta linha de separação.
CHIPRE (Turquia) / CHI-PRE (Grécia) - 180 km Localizado a sul da Tur-quia, a ilha de Chipre está dividida por uma zona tampão sob vigilância da ONU, estabelecida em 1974. Esta divisão separa a parte norte da ilha, de influência turca, do terri-tório sul, de influência grega.
BELFAST 5 Km Em Belfast, Irlanda do Nor-te, “Peace Walls” separam as comuinidades católica e protestante. Existem cerca de 99 barreiras só em Bel-fast e algumas semelhan-tes na cidade de Derry. KUWAIT / IRAQUE 190 Km Começada em 1991, a barreira é composta por um fosso de 4,5m de pro-fundidade, uma elevação de 3m e um arame eletrifi-cado. Além disso conta com patrulhas de soldados apoiados por helicópteros. A barreira vai desde a fron-teira com a Arábia Saudita ao Golfo Pérsico.
O MUNDO Eram 16 em 1989, quando caiu o Muro de Berlim. Hoje, há cerca de 65 muros e
11
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Delegação Norte da Anac / Março 2016
DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
Passeio a Paços de Ferreira
No dia 25 Fevereiro 2016 (Quinta-feira) efetua-mos um passeio à cidade de Paços de Ferreira, com a participação de cerca de 40 Sócios e Fami-liares. A visita iniciou-se com uma Sessão de Boas-Vindas na Câmara Municipal de Paços de Ferreira presidida pelo Sr. Presidente, Dr. Humberto Brito a quem oferecemos uma placa comemorativa da visita da Anac a Paços de Ferreira. Continuamos com uma visita guiada ao Museu Municipal (Museu do Móvel), a visita à Citânia de Sanfins e ao Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins. Após o almoço, visitamos o Mosteiro de Ferreira e uma Fábrica de Móveis local em laboração. Após as visitas culturais fomos provar a Doçaria Típica de Paços de Ferreira numa Pastelaria de referência local. O regresso ao Porto ocorreu de seguida com os participantes neste interessante passeio mais ricos culturalmente e com o conhecimento mais aprofundado duma região que, pela sua proximidade
da cidade do Porto, não tem merecido a atenção que a sua cultura e monumentalidade merecem. Passeio a Penacova e Mosteiro de Lorvão No dia 12 Março 2016, efetuamos um passeio a Penacova e ao Mosteiro de Lor-vão, com a participação de cerca de 60 Sócios e Familiares. Em colaboração com a Câmara de Pena-cova, que nos disponibilizou uma Guia para nos acompanhar durante todo o passeio, efetuamos a visita a pé à interes-sante Vila de Penacova, com realce para a Pérgola Raúl Lino e o Mirante Emidyo da
Silva. Após o almoço que decorreu na Quinta da Con-chada, com uma lindíssima vista sobre o rio Mon-dego, visitamos, na Serra da Atalhada, o núcleo dos moinhos de vento (cerca de 18) e em seguida rumamos para o Mosteiro de Lorvão. Em Lorvão efetuamos a visita guiada ao Mosteiro de Santa Maria de Lorvão e terminamos com uma prova da doçaria local.
Festa de Reis No dia 6 de Janeiro, dia de Reis, fizemos a tradi-cional festa nas instalações da Delegação Norte da Anac, com a participação de dezenas de Sócios, Familiares e Amigos. Não faltando o Bolo
Rei, o vinho do Porto e outras iguarias e guloseimas próprias da época, tive-mos também música ao vivo e muita con-fraternização.
Palestra do Engº Capela
Joaquim Domingos Capela é um homem de "vida cheia". Engenheiro de formação, rendeu-se aos encantos da construção de violinos. No dia 24 de Fevereiro assistimos, nas instalações da Delegação, com mais de 50 participantes, a uma excelente palestra/demonstração sobre a “História e Cons-trução de Instru-mentos de Cor-da”, que teve como palestrante o nosso Colega Engº Joaquim Domingos Capela.
PLANO DE ATIV IDADES EM 2016
PROGRAMA DE PASSEIOS EM 2016 DA DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
março – dias 17 a 20 “FALLAS” EM VALÊNCIA
- dia 30 ASSEMBLEIA GERAL
maio - dias 13 a 20 XXII EUROENCONTRO
junho - dias 05 a 15 FUENGIROLA – HOTEL LAS PALMERAS ****
- dias 27 a 29 ROTA DA LÃ
julho - dias 01 a 09 CABO NORTE
– dias 15 a 21 SÃO PETERSBURGO E MOSCOVO
setembro - dias 04 a 14 FUENGIROLA – HOTEL FUENGIROLA PARK ****
outubro – dia 8 XV ENCONTRO NACIONAL DE SÓCIOS EFETIVOS
- dias 14 a 27 VIAGEM À ÍNDIA
novembro – dias 11 a 13 SÃO MARTINHO
dezembro – dia 10 ALMOÇO DE NATAL
VISITAS CULTURAIS
abril – dia 4 TEATRO NACIONAL D.MARIA II
- dia 6 TEATRO MUNICIPAL S. LUÍS
- dia 11 TEATRO NACIONAL D. MARIA II
- dia 13 MARINHA GRANDE E NAZARÉ
- dia 18 ENCENAÇÃO DOS SERMÕES DO PADRE ANTÓNIO
VIEIRA, IGREJA DE SÃO ROQUE
- dia 20 TEATRO NACIONAL DE SÃO CARLOS
maio – dia 4 VISITA AO SARDOAL
- dia 9 TEATRO NACIONAL D. MARIA II
Caros Sócios, Sabemos que existem talentos artísticos vários na nossa Associação.Não nos privem da sua fruição. PARTICIPEM!
março - dias 16 a 20 “FALLAS” EM VALÊNCIA
maio - dias 6 a 8 GALIZA
junho - 18 a 22 AÇORES CENTRAIS (FAIAL, PICO E S. JORGE)
julho NORMANDIA E CASTELOS DO LOIRE
(VIAGEM DE AUTOCARRO)
setembro - dias 10 a 19 FÉRIAS EM VINARÓS (ESPANHA) COM VISITA A MADRID
outubro - dias 15 a 20 ANDALUZIA (GRANADA, SEVILHA E CÓRDOVA)
novembro - dia 10 SÃO MARTINHO
dezembro - dia 10 ALMOÇO DE NATAL
VISITAS CULTURAIS
março – dia 12 LORVÃO E PENACOVA
abril - dia 6 LOUSÃ E ALDEIAS DE XISTO
maio - dia 29 GUARDA
junho LAMEGO
julho - dia 16 ENTREGA DOS TROFÉUS
setembro UM DIA COM A FERROVIA
outubro FAMALICÃO E S. MIGUEL DE SEIDE