A Música é Que Chama Os Espíritos Dos Bonecos

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    A msica quechama os espritosdos bonecosmamulengos em Glria do Goit

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    Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular

    Iphan / Ministrio da Cultura

    S A P

    sala do artista popular 1762

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    MUSEU DE FOLCLORE EDISON CARNEIRO

    A msica que chama os espritos dos bonecos

    mamulengos em Glria do Goit

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    Presidncia da RepblicaPresidenta: Dilma Vana Rousseff

    Ministrio da CulturaMinistra: Marta Suplicy

    Instituto do Patrimnio Histrico eArt stico Naciona lPresidente: Luiz Fernando de Almeida

    Departamento de Patrimnio ImaterialDiretora: Clia Corsino

    Centro Nacional de Folclore eCultura PopularDiretora: Claudia Marcia Ferreira

    realizao

    APOIO

    Prefeitura Municipalde Glria do Goit

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    Setor de Pesquisa

    PROGRAMA SALA DO ARTISTA POPULAR

    COORDENADORAMaria Elisabeth Costa

    PESQUISA E TEXTORaquel Dias Teixeira

    FOTOGRAFIASFrancisco Moreira da Costa

    EDIO E REVISO DE TEXTOSLucila Silva Telles

    Lucia Santalices

    DIAGRAMAOLgia Melges

    Luana Santos (estagiria)

    APOIO DE PRODUODirlene Regina Santos da Silva

    PROJETO DE MONTAGEM E PRODUO DA MOSTRALuiz Carlos Ferreira

    A Sala do Arti sta Popular, do Centro Nacional de Folclore e

    Cultura Popular/CNFCP, criada em maio de 1983, tem por objetivo

    constituir-se como espao para a difuso da arte popular, trazendo

    ao pblico objetos que, por seu significado simb lico, tecnologia de

    confeco ou matria-prima empregada, so testemunho do viver e

    fazer das camadas populares. Nela, os artistas expem seus trabalhos,

    estipulando livremente o preo e explicando as tcnicas envolvidas

    na confeco. Toda exposio precedida de pesquisa que situa oarteso em seu meio sociocultural, mostrando as relaes de sua

    produo com o grupo no qual se insere.

    Os artistas apresentam temticas diversas, trabalhando mat-

    rias-primas e tcnicas dis tintas. A exposio propicia ao pblico no

    apenas a oportunidade de adquirir objetos, mas, principalmente,

    a de entrar em contato com realidades muitas veze s pouco familiares

    ou desconhecidas.

    Em decorrncia dessa divulgao e do contato direto com

    o pblico, criam-se oportunidades de expanso de mercado para

    os artistas, participando estes mais efetivamente do processo de

    valorizao e comercializao de sua produo.

    O CNFCP, alm da realizao da pesquisa etnogrfica e de

    documentao fotogrfica, coloca disposio dos interessados

    o espao da exposio e produz convites e catlogos, providenciando,

    ainda, divulgao na imprensa e pr-labore aos artistas no caso de

    demonstrao de tcnicas e atendimento ao pblico.

    So realizadas entre oito e dez exposies por ano, cabendo

    a cada mostra um perodo de cerca de um ms de durao.

    A SAP procura tambm alcanar abrangncia nacional, recebendoartistas da s vrias unidades da Federao. Nesse sentido, ciente do impor-

    tante papel das entidades culturais estaduais, municipais e particulares,

    o CNFCP busca com elas maior integrao, partilhando, em cada

    mostra, as tarefas necessrias a sua realizao.

    Uma comisso de tcnicos, responsvel pelo projeto, recebe e

    seleciona as solicitaes encaminhadas Sala do Artista Popular,

    por parte dos artesos ou instituies interessadas em participar

    das mostras.

    M987 A msica que chama o esprito dos bonecos : mamulengos

    em Glria do Goit / pesquisa e texto de Raquel DiasTeixeira.-- Rio de Janeiro : IPHAN, CNFCP, 2012.

    36 p. : il. -- (Sala do Artista Popular ; n. 176).

    ISSN 1414-3755

    Catlogo etnogrfico lanado durante a exposio

    realizada no perodo de 4 de outubro a 4 de novembro

    de 2012.

    1. Teatro de boneco Pernambuco. 2. Fantoche.

    3. Arteso - Pernambuco. I. Teixeira, Raquel Dias, org.

    II. Srie.

    CDU 792.97(813.4)

    PRODUO DE TRILHA SONORAAlexandre Coelho

    EQUIPE DE PROMOO E COMERCIALIZAOMarylia Dias, Magnum Moreira e Sandra Pires

    176sala do artista popularMUSEU DE FOLCLORE EDISON CARNEIROS A P

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    A msica que chama os espri tos dos bonecos:

    mamulengos em Glria do Goit

    RAQUEL DIAS TEIXEIRA

    A cidade de Glria do Goit local iza-se na Zona daMata, Norte do Estado de Pernambuco, e recebeu o ttulo deBero do mamulengo provavelmente por ser a terra natalde dois grandes mestres de fama nacional e internacional,

    Jos Severino dos Sa ntos, o mestre Z de Vina , e Jos Lopesda Silva Filho, o mestre Z Lopes.

    Alm de p ossuir algu ns bri nquedosde mamulengo, acidade tambm rica em outras brincadeiras,como o cavalo-marinho, o maracatu, o caboclinho, a ciranda e o coco. nomunicpio, inclusive, que existe o nico museu do cavalo-marinho do Brasil, criado e mantido por Jos Evangelistade Carvalho, o Mestre Z de Bibi1.

    A brincadeira do mamulengo na Zona da Mata pernam-bucana caracteriza-se pela manipulao de bonecos realizadade dentro de uma estrutura chamadatorda ou empanada. Osfolgazes, como tambm so chamados os mamulengueiros,

    manobram os bonecos em punho na apresentao de pa s-sagens (enredos curtos) e na execuo de loas ou glosas deaguardente (msicas).

    A torda uma estr utura de madei ra ou ferro, como entorno coberto por algum colorido tecido, e a partirde seu interior que os mamulengueiros brincam. A tordafunciona como uma demarcao fsica e visual de territrioreferencial da brincadeira [], pois concentra as funes de

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    funciona como um interlocutor entre os bonecos e a audi-ncia (o pblico).

    Os toadores, em geral, dominam diferentes gnerosmusicais (baio, xote, coco, ciranda) e instrumentos (san-fona, tringulo, ganz e bombo), e as loas so utilizadas namarcao das entradas, sadas e danas dos bonecos.

    Ao conduzir as histria s epassagensdas figuras,o ma-mulengueiro deve ser capaz de impostar seu tom de voz dediferentes maneiras, para fazer a s vezes de mulher, homem,

    jovem ou idoso. Outro elemento primordial a memorizaode um repertrio bsico que reinventado no prprio atode brincar.

    interessante notar que uma marca fundamental domamulengo no contexto local a interlocuo entre as falasdos bonecos e da audincia, que reconhece seus elementos,dialogando com propostas familiares de encenao (ALCU-RE, 2007:19). A busca pelo riso da a udinciae aimprovisaoso outros elementos bsicos.

    Os bonecos do corpo a figuras que denotam histrias eexperincias imbricadas no contexto social da Zona da Mata.

    As pa ssagens efiguras possuem uma base que recorrenteem diferentes mamulengos, mas a criao e a reinveno socomuns (AZEVEDO, 2001).

    Entre outras caractersticas, os bonecos possuem nome,idade, personalidade, relaes sociais, s vezes famlia, pro-

    fisso, cantigas prprias, loas que costumam dizer quando seapresentam. A dramaturgia, a encenao, a msica, tudo

    parte do personagem. Um mamulengo pode reunir em tornode 50, 100 bonecos. Os tipos so vrios: os bichos, comoa cobra e o boi; os seres fant sticos, como a morte e o diabo;as autoridades, como os polticos, o padre, o fazendeiro,

    armazenamento, revelao e ocultao dos bonecos e dassituaes dramticas (RIBEIRO, 2010:53). Atualmente,a iluminao da torda eltrica e o som da brincadeirapossui amplificao.

    frente da torda posiciona m-se os toca dores e a fig ura(personagem) do Mateus, um brincador com o rostopintado com farinha branca,que responde aos bonecos e

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    literalmente levava coices do mestre que intentava expulsaro intruso (RIBEIRO, 2010:89). O grande conhecimentode Z de Vina sobre o brinquedo faz dele uma figura muitoreconhecida na regio. Como ele no confecciona os ma-mulengos, compra-os de diversos bonequeiros da regio. interessante notar que, como nos relata Adriana SchneiderAlcure (2007), Z de Vina exerceu dezena s de profissesdiferentes at sua aposentadoria, pois nunca conseguiu so-breviver exclusivamente domamulengo. Atualmente,ainda possui e brincacom

    seu Mamulengo Riso doPovo em Lagoa de Itaen-ga, cidade em que vive,vizinha Glria de Goita.

    Nascido na dcadade 50, Z Lopes tambmconviveu com o mamu-lengo desde sua infncia.Ao assist ir a brincadei rasrealizadas nas redondezasde Glria do Goit, passoua improvisar apresentaes

    para os moradores do stio em que vivia e aprendeu a confec-cionar bonecos. Aos quinze, teve seu primeiro mamulengocompleto, que possua mais de setenta bonecos (ABREU;ALCUR E; PACHECO, 1998).

    Z Lopes diz ter aprendido quase tudo o que sabe demamulengo com Z de Vina. Porm, diferentemente de seumestre, tem na brincadeira seu principal meio de sustento.Talvez seja pelo fato de que junto a sua esposa e filhos, almda apresentao do Mamulengo Teatro do Riso, que possuidesde 1982, tambm confecciona e vende os bonecos.

    o inspetor, os militares; as mulheres casadas, vivas, moassolteiras, moas valentes; os rapazes e os velhos namoradores,valentes, covardes, espertos, malandros, cornos e bbados;os profissionais, como o professor, o fisca l e o mdico; violei-ros e cantadores; caboclinhos e ndios; xangozeiros, espritase pretos velhos, e muitos outros (ALCURE, 2007:29).

    O dono do brinquedo quem possui e mantm suaestrutura, a torda, os bonecos, alm de ser o responsvelpelos contratos, organizao, transporte, alimentao e pa-gamento dos demais mamulengueiros. Em geral, o dono

    tambm o mestre do mamulengo, quem manipula o bonecoe coloca as figuras.

    Desse modo, o mestre quem domina uma srie de tc-nicas de manipulao, de entoao de diferentes vozes, daspassagense loasde cada figura; enfim, a habilidade e capaci-dade de improvisao e c omicidade faz com que o processode aprendizado e reconhecimento de um mestre seja longo.No por acaso que um mamulengo torna-se conhecidoatravs de seu mestre mamulengueiro. por conta de seutalento que o pblico interessa-se em assistir a brincadeira e a sua habilidade que ser avaliada, louvada ou condenada(ALCURE, 2007:169). Alm do mestre, geralmente dentro

    da tordah tambm umcontramestre e/ou ajudante, queentrega e tambm manipula alguns bonecos.

    O Mestre Z de Vina nasceu na dcada de 40 e desdesua infncia perseguia o mamulengo e acabava ajudandoos folgazes em atividades como a montagem da empanada,o cuidado com o boneco, e assim foi constituindo seu saberna vivncia com os mamulengueiros antigos (ALCURE,2007). Conta que, nessa poca, o aprendiz era chamado decoiceiro, j que ao espiar a brincadeira dentro da empanada, Z

    Lopes

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    mesma pessoa pode ser as duas coisas. O primeiro umarteso que domina a arte de esculpir e finaliza r os bonecos;o segundo possui as habilidades e domnios necessrios parabrincar com eles.

    [...] mamulengueiro aquele que trabalha manipulandoo boneco, nem todo mamulengueiro fazo boneco, s que ele d vida ao boneco.E bonequeiro aquele que faz, por mimmesmo, eu acho que vou morrer bone-queiro! (Jos Maurcio da Silva Gomes)

    Os bonequeiros da associao pro-duzem bonecos de fio, de luva e de varae bonecos de escultura inteira.

    Os bonecos de fio possuem fiosligados a uma pequena construo demadeira que permitem sua manipula-o. Tais bonecos, em geral, so feitosmais para a venda. Na associao, htambm alguns outros bonecos, como ocaboclo de lana, que so de esculturainteira como um objeto de dec orao.

    conjunto de bonecos que representam tradies regionais,como uma casa de farinha ou uma brincadeira de cavalo-marinho. O lugar visitado por turistas e tambm pelapopulao local.

    Z Lopes participouda criao do Museu doMamulengo de Gl-ria do Goit em 2002.O projeto Mamulen-go, o Boneco Brasileiro,apoiado pelo Programade Artesanato Solidrioem Glria do Goit eOlinda, que teve como

    coordenador o pesquisador e bonequeiro Fernando Augus-

    to Santos, visava revitalizao do mamulengo e realizavaoficinas em que os mestres de mamulengo passavam seusconhecimentos aos jovens. O Museu foi instalado numgrande e privilegiado espao, o antigo mercado municipal dacidade. No mesmo ano, foi fundada a Associao Culturalde Mamulengos e Artesos de Glria do Goit.

    No museu, dispostos em mesas, bases diversas oupendurados, ficam em exposio uma srie mamulengos.A maioria s o bonecos ven da confec cionados pe los atua isassociados. Contudo, h tambm alguns bonecos mais anti-gos, feitos por outros mamulengueiros, algumas caricaturasde bonecos bem grandes, e tambm algumas estruturas com

    Devido a alguns desentendimentos, atualmente Z Lo-pes no faz mais parte da associao e do Museu, mas suaesposa, uma filha, um fil ho e sua nora sim. Os 14 associadosque, em geral, se identificam c omo Nova Gerao, se dividempara recepcionar os visitantes e limpar o espao. Relatam teraprendido a arte de confeccionar mamulengo com Mestre ZLopes, em geral por meio das oficinasao longo de dois anos. J a iniciaodo aprendizado sobre manipulaoe dar vida aos bonecos foi feita peloMestre Z de Vina, ta mbm por meio

    de oficinas. Os artesos gravaram emudio os ensinamentos do mestre, comas histrias, loas e toadas das passagensdo mamulengo.

    A mai oria dos ass oci ados con-fecciona bonecos, mas apenas algunssabem manipul-los e brincam como Mamulengo Nova Gerao.

    Pode-se dizer que bonequeiro emamulengueiro so duas categoriasdiferentes, que no necessariamente seencontram dissociadas, ou seja, uma

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    Os bonecos feitos tambm para venda, mas que efeti-vamente brincam o mamulengo, em geral so os de luva,vara e de escultura inteira. Os bonecos de luva possuema cabea de mulungu montada sobre um camisolo de pano.Seus movimentos so feitos pelas mos do mamulengueiro,que introduz os dedos indicador na cabea e polegar e mdionos braos.

    Os bonecos de vara so movimentados por meio decompridas varetas, que sustentam sua verticalidade e lheproporcionam outros movimentos, como a articulao das

    pernas (BORBA FILHO, 1987). Os bonecos de esculturainteira so ou totalmente rgidos ou tm uma articulaocontrolada apenas indiretamente, no movimento geral daescultura. Os que contam com essa articulao geralmentea tem em um ou nos dois braos (KAISE, 2010:64). Essesbonecos muitas vezes possuem outros elementos, comoarmas e enxadas.

    interessante notar que os bonecos do mamulengopodem possuir outras tcnicas de ma nipulao, como porexemplo a articulao da boca por meio do controle de um

    Burrinha . Maurcio

    Diabo. Jailson

    Patat. Edjane Caboclo de Lana. Edjane

    Xibana. Maurcio Quitria . Jacilene Pssaro e Via. Bila Simo. Z LopesBila

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    fio que interliga a mesma aos olhos,ou outros tipos de articulao deolhos, quadris, braos, pernas etc.

    Um importante ponto a serressaltado a diferena existenteentre os bonecos criados para atuarno mamulengo e aqueles feitos paraa venda.

    Os mamulengos para brincardevem ser feios, pois sua fisionomiacaricata como os grandes narizes

    ou os olhos esbugalhados umdos elementos que ajuda a provo-car o riso da audincia, de quemassiste brincadeira. Alm disso,tais bonecos devem ser fiis s ca-ractersticas fsicas e ao vesturioda figura e, s vezes, demandamoutros mecanismos de articulaopara a apresentao. importantenotar que, alm das figuras ditastradicionais, sempre possvel queum mamulengueiro crie outras

    figuras, que podero at serreconhecidas e incorporadasem outrosbrinquedos.

    A narrativa dobonequei-ro Almir Barbosa dos Santosnos diz um pouco mais sobretais especificidades dos ma-mulengos: Quando a gentefaz uma pea, a gente faz docomeo ao fim; coloca alma,nome, esprito, carinho, de-

    dicao, amor, tudo nela.A gente sente o poder da linguagem do boneco, se a genteno passar isso para ele, no tem alma no espetculo.

    J os bonecos d estinad os venda s o feitos, proposita l-mente, mais bonitos e delicados e, mesmo quando carregamo nome de um personagem tradicional do mamulengo,no tm a mesma obrigao de corresponder fisicamentea determinado imaginrio. Mesmo quando os bonecos sofeitos para venda, o elo estabelecido entre o arteso e suascriaes grande. s vezes, a gente faz um boneco e ficato apegada a ele que no temos coragem de colocar ele paravenda. S pra voc ter uma ideia, tem boneco que j batizei

    com os nomes de meus filhos. Ento,tem bonecos por a no mundo com osnomes das minhas duas filhas, contaJacilene Fe lix Li ma.

    Outro diferencial pode haver emalguns tipos de materiais usados nosadornos e detalhes dos bonecos. Porexemplo, nos bonecos para venda, s seutilizam cabelos e barbas de materiaissintticos. J em figuras de brinquedocom frequncia usam-se pelos de crina

    de cavalo, de bode ou mesmo cabelohumano. comum tambm tais figuras possurem umamaior quantidade de acessrios, como chapus e culos, ecarregarem algu m outro elemento ou objeto, como armase cassetetes.

    O boneco pra mamulengo bonito tambm no presta.Boneco pra mamulengo s presta boneco feio, porquequando o boneco feio chega em cima, j t fazendoo povo rir antes que ele fale. Quanto mais ele feio daquele

    jeito, mais a gente tem que procurar o ritmo dele. Ele mal aguniado, todo cheio de frescura. Aquela Quitria

    bonita, mas aquilo no faz gracejo, aquilo somente praencher o movimento. Porque ali ela a mulher de ManParacu, ento tem que sair uma boneca bonita daquela(Z de Vina, apudAZEVEDO, 2011:77).

    Seu Angu. Jaison

    Almir Fiscal. Genilda

    Doente e Doutor. Bila

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    Na entrevista concedida pesquisadora Dbora Aze-vedo, o mamulengueiro Z de Vina falava das diferenasentre o que ele chama de fazer boneco e fazer figura debrinquedo. Mestre Z de Vina tambm foi o interlocutorda pesquisa realizada uma dcada antes pela antroplogaAdriana Schneider A lcure, que dest acou outra interessantediviso entre as figuras de brinquedo:

    Z de Vina, por exemplo, divide seus bonecos em duas clas-sificaes: os bonecos principais e os bonecos de samba.Os bonecos principais fazem uma estreita relao entre

    a forma e a fisionomia do boneco em si, e o personagemque o define. Estes bonecos no podero representar outrospersonagens , porque so de fato um determinad o persona-gem. [] Os bonecos de samba, como notei no de correrdas apresentaes que assisti, podem variar, assumindo,at mesmo, um ou mais personagens durante o brinquedo.

    A a utora chama ainda a ateno para o fato dos bo-necos de samba de maneira nenhuma serem consideradossecundrios nabrincadeira. Alm disso, a seleo de quaisfiguras podero ser revezadas pelo mesmo boneco no aleatria, e sim feita de modo tal que determinado boneco

    deve corresponder s caractersticas fsicas e temperamentaisde tais figuras. Diante de toda essa c omplexidade, possvelperceber que os bonecos em sua materialidade carregamdiversas perspectivas sociais e simblicas.

    A maioria dos artesos da associao relata ter conhecidoo mamulengo desde criana, seja nas brincadeiras de stio,no tempo das moradas dentro das terras dos engenhos, sejanas apresentaes nas ruas e praas pblicas.

    Todos iniciaram o apren-dizado de confeccionar osbonecos direta ou indiretamen-te pelas oficinas ministradas porZ Lopes. Os que no estavampresentes aprenderam posterior-mente a partir de algum parente

    que havia participado.Genilda Flix de Lira par-ticipou das oficinas e logocomeou a ensinar sua irm,Joelma Flix de Lira, que porsua vez, ao falar desse processode repasse disse:

    A minha irm pegava a madeirae dizia J, arredonda a cabea.

    Ai, eu arre dond ava a cabe a,riscava um quadradinho para

    a diviso do nariz, da eu cortava e fazia o nariz, depoisos olhos, riscava, desenhava , mas agora nem preciso. J faosozinha, sem riscar, sem nada.

    Depois que Joelma aprendeu a fazer, repassou para seupai, Genaro Flix de Lira, e sua outra irm, Jacilene, quehoje alm de fazer os bonecos, tambm brincade mateus etoca ganz frente da torda.Pantel. Lucinia Goiaba. Jacilene Ful do Mundo. Bila

    Genilda Joelma

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    Edjane relata que, quandovia Quitria danando de ves-tido, toda formosa, achava quea boneca era gente de verdade.Tinha um vestido de cetim,brilhoso, umas flores na cabea,cabelo longo e liso, e ela giravapra l e pra c e danava!Edjane viu seu irmo aos dezanos seguir Mestre Z Lopes,mas ela s se interessou aos

    dezessete, a partir das oficinas.Hoje, pensa que esse fascnioque Quitria provocava nelaquando criana possa ter feitocom que seu trao na madeirado rosto do mamulengo sejamais feminino. Eu acho queera isso, a fixao que eu tinhanaquela boneca no mamulengoque danava. Hoje eu s visoa Quitria, as bonequinhassaem sempre feito ela.

    nar. Porque a gente ensina a botar a mo. A manipular,aprende. Ensinar a danar com os bonecos, aprende. Masaqueles gracejo, aquelas coisa, aquilo o camarada puxade si prprio.

    Essa fala do Mestre Z de Vina confirma a opinio deBila de que o mamulengo no para qualquer um, no.Ou seja, o processo de aprendizagem dobrincar, do tornar-se um mamulengueiro, alm de no linear, exige diversashabilidades de quem aprende.

    A irm de Bil a e atua l presidente d a associ ao, Edja ne

    Maria Ferreira de Lima, conta que, quando pequena, viao mamulengo na festa da padroeira da cidade, Nossa Senhorada Glria:

    Mamulengo, quan do eu e ra pequen inha, eu no gostavano, porque eu tinha uma raiva quando a boneca Quitriademorava para sair, porque eu s queria ver ela, danandoe virando. Eu no entendia que Quitria e Simo paraencerrar o mamulengo. Eles demoravam, demoravam,demoravam, e mainha dizia vamuzimbora! A a gente saa,e eu saa arretada porque no via a Quitria!

    Jos Edvan Ferreira de Li ma, o Bila, o nico que j erabonequeiro e mamulengueiro antes do projeto do Museu.

    Eu comecei eu tinha nove anos, andava com mestre ZLopes. Eu aprendi assim, vendo ele fazer boneco. Eu soumuito curioso e eu via ele fazendo na frente da casa dele.Fui l, peguei os moldes de madeira e comecei a fazer osmeus. A ele pegou e me chamou para fazer na casa dele.

    Depois, eu fui pro mamulengo mais ele, ficar andandocom o mamulengo, comecei a brincar com ele. muitodifcil voc aprender as histrias do mamul engo, no paraqualquer um no. Eu sempre ficava na torda, l, escutandoos bonecos, vendo as loas, os personagens, tudinho!

    Os depoimentos de Bila eu aprendi vendo, ficavana torda, l, escutando os bonecos, vendo as loas ou deGenaro eu comecei a fazer vendo as meninas faz endo, acheguei, peguei um pedao de pau caracterizam a princi-pal forma de aprendizagem, seja dos mamulengueiros mais

    antigos, seja os da nova gerao.Dbora Azevedo (2011) relata que a construo doaprendizado tanto do bonequeiro quanto do mamulengueirosempre foi especialmente amparada na relao cotidiana porredes de socializao familiares ou de vizinhana, por meioda observao e da prtica. Atual mente, as oficinas amplia-ram as oportunidades deste repasse do saber. Em entrevista pesquisadora, Z de Vina afirma:

    Ningum ensina ningum a brincar de mamulengo.O camarada aprende vendo. Se ele vir e for curioso, vaimarcando aquilo. Porque no tem jeito do cabra ensi-

    GenaroJacilene

    Quitria . Bila

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    sentaes da brincadeira domamulengo que tambm soperidicas. Alm da renda ex-tra, comum se escutar sobreos benefcios teraputicosde se trabalhar esculpindoo mulungu, como fala Ge-nilda: Eu gosto demais! uma terapia. [...] Eu pego umboneco e comeo a esculpir eesqueo tudo. Quando voc t

    fazendo o boneco aqui, vocno pensa em nada, s nele,esquece os problemas da vida!

    UMA CULTUR A JOGADA E M BONECO,

    UMA CULTURA VIVA (BILA)

    Os bonecos brigam, apanham, morrem e tambm sequebram. Eles so um instrumento de realizao dabrincadeira (AZEVEDO, 2001).

    A ma ioria d os bonequ eiros t rabalh a a maior p arte dotempo em suas casas, em meio a outras atividades domsti-cas. No perodo que passam na associao, aproveitam parafazer determinados acabamentos, como a pintura e a costura.A maior pa rte dos artesos tem outra profi sso como fontede renda, mesmo por que a renda com a venda dos bonecosno regular, tendo maior sada durante feiras (como a Fe-nearte), festivais (como o Sesi Bonecos do Mundo), ou datasespecficas, como o carnaval, acompanhando ento as apre-

    Edjane

    Marines Tereza do Nascimento

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    A madei ra deve ser tr abalhadaquando seca, porque nesse estgioela, possivelmente, estar cheiade furinhos, o que indica queos bichos j passearam porela, arejando-a por dentro. Estatecnologia natural garante aoboneco sua durabilidade e evitadele ser atacado por cupins, porisso um boneco pode atravessar

    geraes inteira s d e mamulen -

    gueiros (ALCURE, 2007: 225).

    Os bonecos podem possuircabea, braos, pernas e/ou corpofeitos com mulungu, de acordo coma necessidade de cada tipo (vara, fio,luva). Assim, os materiais e at asferramentas necessrias para cadatipo de boneco variam. O mulungu leve, macio e malevel, perfeitopara proporcionar os movimentosdos mamulengos.

    Apesa r das carac terstica s tpica s de d eterminad a figu-ra e do prprio trao que pode se assemelhar fisionomiado arteso, cada bonequeiro imprime tipos singulares decorte, tornando cada boneco nico. Edjane diz ainda queo humor de quem talha a feio do boneco pode influir emsua expresso. A maioria dos artesos, se voc t com raiva,[o boneco] sai com cara de raiva. A se voc t feliz, o bonecosai mais bonitinho. Os primeiros bonecos meus que eu fiz[estava] aperreada [...] e elas saram tudo com raiva, arretadas,invocadas, srias.

    A parti r de determi-nado corte de mulungu,aps descasc-lo, inicia-seo entalhe da parte maismarcante e expressiva doboneco: sua face. Em geral,os artesos primeiro deli-neiam o formato do corteda cabea e o pescoo doboneco. Aps desenhar,com o lpis no mulungu,

    as linhas definidoras dafeio do boneco, os arte-sos esculpem tais traoscom o auxlio de facas decozinha e estiletes.

    A bo ca, o ol ho, o n ariz e a orelha , o trao seu. [...]A maioria das pessoas faz a sua pr pria fi sionomia se mquerer. As peas do Maurcio, se voc olhar, o Maurcio.E voc olha e sabe que dele. A do Bila, Bila tambm.

    As minhas boneca s tm o meu trao EDJANE.

    A madeira ma is utiliz ada na confeco dos bonecos omulungu. Em geral, os artesos negociam a compra com odono do terreno onde existe um mulungu no estgio ideal paraser esculpido e o levam para a associa o, onde fazem os cortesde madeira. Em 2 011, por meio do Programa de Promoo doArtesanato de Tradio Cultural (Promoart2), voltado parao apoio ao artesanato tradicional, foram realizadas oficinassobre educao ambiental e manejo do mulungu. A partir dacesso de terreno de meio hectare pela prefeitura da cidade,os artesos fizeram o plantio de 100 ps de mulungu.

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    Depois de esculpida em mulungu, a cabea do boneco lixada, emassada com massa corrida, lixada novamente,pintada com ltex e colocada para secar.

    Depois disso que recebe os adereos que lhe cabem,como cabelos, culos, colares, brincos, lenos etc. As outraspartes do boneco feitas com mulungu recebem o mesmotratamento. Mas, dependendo do tipo de boneco, so feitosfuros de encaixe na cabea ou nos braos, que variam parareceber varas, varetas ou os dedos dos mamulengueiro.

    Maurcio descreve algumas etapas da produo dosbonecos de luva dessa forma:

    Essa pea de luva que eu fao tem trs partes, a cabea,as duas mos, o resto a roupa. [...] A eu lixo, tem a partede emassar, a depois a parte de pintar. Quando eu terminode pintar vem o processo que a costura, a depois que eucorto, vem a costura, a vou terminar a pea.

    Nas peas que Maurcio confecciona para venda, ele cos-tuma fazer vrias cabeas, mos, pernas para depois montardezenas de bonecos. So de autoria de Maurcio muitas daspeas que ficam em exposio no espao do Museu, como oconjunto de bonecos trabalhando na casa de farinha, ou um

    brinquedo com vrias figuras de cavalo-marinho. Ele aindatem planos de fazer um brinquedo de maracatu completo,pensando em colocar as principais cul-turas de Pernambuco em movimento.

    Outros materiais necessrios paraa constituio do boneco so colas,pregos, elsticos, condutes de plsticousados nas articulaes, e panos paraas roupas.

    Depois de cortados os tecidos,as roupas dos bonecos so costuradasem mquinas de costura e ento, na

    Maurcio

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    etapa da montagem da pea, as roupasso vestidas e/ou coladas nos bonecos.

    O texto de Adriana Schneider Al-cure sobre a maneira como se procedeo movimento entre o imaginar e o fazerartesanal de Mestre Z Lopes, retratamuito bem elementos e situaes quetambm se passam no cotidiano deoutros bonequeiros.

    Z Lope s diz que muitas vezes co-mea a fazer um boneco sem saberde que personagem se trata, mas, deacordo com as formas que o bonecovai tomando, o tipo vai aos poucosaparecendo. Outras vezes inspira-seem pessoas que conhece, vizinhos, au-toridades, para experimentar novas

    feies. E ssa inspir ao inicial , po-rm, resultar invariavelmente emalgum personagem j conhecido domamulengo. Quase sempre ao fazeros bonecos, tem-se como referncia

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    a galeria de tipos que compe o universo do mamulengo. claro, a criao de personagens tambm ocorre. Z Lopes

    gosta de experimentar e criar bonecos a partir de ideias quevai amadurecendo, mas tambm corta aleatoriamente,dando feio a um boneco at encontrar uma forma quelhe convenha (ALCURE, 2007:231).

    Isso vem da cabea da gente. Quando voc comeaa fazer um boneco, voc j olha pro taco da madeira e vocj sabe o qu e v ai fazer. Voc ima ginou, criou e jog ou n amadeira, diz Edjane.

    Mas eu t vendendo. Eu vou contar uma historia pravoc, eu tive um sonho to gostoso. Mas que sonho foi esse, rapaz? Eu sonhei que eu ia me casar, ela vinha toda de bran-co, ela linda. Mateus, o que eu fao pra ela aparecer, etal sonho virar realidade? Canta que ela aparece, que o sonho realiza!

    A ele comea a cantar :eu vi a morte pescando, com a foice e um jerer,oh, morte, tu no me mata, vai matar as mulher,olel , oh, bambu, olha a morte atrs de tu,olel , oh, bambu, olha a morte atrs de tu.

    A morte quer me mata r, a morte quer me mat ar,com todo cuidado e carinho,oh, morte, sossega o bote,morte, deixa eu criar meus filhinhos,olel , oh, bambu, olha a morte atrs de tu...

    A tem vrias cant igas que o mamulengo v ai fazendocom essas personagens, at na hora que a morte vem,mata ele e o Diabo leva.

    PASSAGEM DE BAMBU E A MORTE

    Como costuma acontecer nas passagens da brincadeira,os dilogos, loas e toadas das figuras se intercalam. Bambu uma figura de pele muito clara, plida, cuja fisionomia frgilcontrasta com sua apresentao como o mais corado de suacasa e vendedor de sangue.

    Sua entrada em cena acontece, na maioria das vezes depoisde entoado um canto que relata um sonho que teve coma Morte. Bambu aparece danando no primeiro refro emcoro da msica que foi entoada. A Morte aparece em cenade fato e um boneco de luva esculpido com uma grandecabea e grandes dentes. Ela carrega uma foice em umadas mos e passa o tempo todo entrando e saindo da cena,investindo contra Bambu com sua foice sem ter sucesso(RIBEIRO, 2010:312).

    Bila explica como se d o desenrolar dessa passagem,quando Bambu tenta vender seu sangue para Mateus:

    Rapaz, mas tu t to amarelo, quem vai quererteu sangue? Bambu. Jailson | Morte. Bila

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    Vamos dizer assim, a cara do nordestino [Caroquinha], a cara das pessoa que trabalha na roa. A mulher dele[Catirina] lavadeira de pano, tem a trouxinha de panona cabecinha dela, ela tem 16 meninos, a maior parte numalapada s que ele fez. Ela vai pra uma dana porque, na-quele tempo, a festa que se tinha no stio era o maracatu, omamulengo, pastoril, essas brincadeiras do stio. Ento eledisse que ela um amor,que ela nunca vai pra umadana, que ele ama ela.

    Mas ela diferente , es-petaculosa, gosta de farra,gosta de namorar, ento ela muito diferente do que ele

    fala pros pessoal. Ento vocespera, porque ele fala tobem dela, e outra coisa queaparece. [...] A vai sempre

    ficando nessa brincadeira...

    Tem o Cego e a Guia, que um personagem muitoengraado. [...] A hora que

    ser brabo, ele quer dar lapada, cacetadaem quem juntar na frente dele, [...] autoridade. Ele inspetor e chega assim:

    Mateus, eu sou o insp etor Peinha, o queaconteceu a, quem matou quem, tiraa cala e siga na minha frente. Que isso, rapaz? pra no correr, no querover ningum na minha frente correr nu.

    A vai, quem matou quem? No, rapaz ,Goiaba matou um aqui. Mas porque tuno ficaste em cima do homem, rapaz,deixaste o homem correr? A ele diz assim:Sargento, vamos fazer uma ronda dentroda torda, peguei ele aqui, ele mijou e t

    fedendo danado a qui, a e le pega outraboneca, fica metendo cacete no outroboneco, e Mateus fala: no, rapaz, no essa no, eu vi ele ali, tava no murodo cemitrio, no sei o que est fazendoali, ento a historia rolando dele, um

    personagem muito bonito, e no fin al detudo ele apanha de Goiaba .

    que o boneco dorme e s acorda quando a gente chama ele,a msica que chama os espritos dos bonecos. Eu acho quecada boneco, cada personagem tem um esprito (GilbertoSouza Lopes da Silva, o Bel, filho de Z Lopes).

    ALGUMAS OUTRAS

    FIGURAS DO MAMULENGOS

    NOVA GERAO

    Narrativas de Bila

    Porque no mamulengo temvrias coisas, tem a ma-cumba, tem a procisso deNossa Senhora, tem o va-lente, o brigo, o tocadorde viola, ento tem tudo,tem policial, tem sargento,

    porque antigamente no erapolicial, era o e xrcito quetomava conta das coisas, porisso que existe o sargento e oinspetor Peinha. Ele quer

    importante destacar o papel da msica, pois ela es-trutura a passagem e apresenta sua sequncia narrativa, sualetra e ritmo, e intercalada com as loas, oferece uma sensaode aproximao de Bambu com a Morte que gradativa(RIBEIRO, 2010), numa combinao de traos dramti-cos e cmicos. A audinciaparticipa ativamente na mo-vimentao da Morte atrsde Bambu, nas incertezase expectativas acerca dodestino da figura. O al-voroo, a tenso, o medo,o alvio, as gargalhadas,tudo isso despertado nesteepisdio da brincadeira.

    Imaginar essa passa-gem permite visualizar aalma que os bonequeirosdeclaram colocar dentro deum boneco, exatamente noinstante em que ela desper-tada pela brincadeira. Temuma tradio [...] que diz Inspetor Peinha e Sargento. BilaJoo Carcundo . Jailson

    Goiaba. Bila

    Caroquinha e Catirina. Bila O Cego e a Guia . Bila

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    BIBLIOGRAFIA

    ABREU, Maria Clar a Cavalcanti de; PACHECO, Gustavo; AL CURE,Adriana Sc hneider. Teatro do riso: mamulengos de Mestre Z Lopes.Rio de Janeiro: Fundao Nacional de Arte, Centro Nacionalde Folclore e Cultura Popular, 1998. (Sala do Artista Popular, 74).

    ALCURE , Adriana Schn eider.Mamule ngos dos me stres Z L opes eZ de Vin a: etnografia e estudo dos personagens. 2001. 240 f.Dissertao (Mestrado em Teatro) - Centro de Letras e Artes, UNIRIO,Rio de Janeiro, 2001.

    _____. A Zona da Mata ric a de can a e brinc adeir a: uma etnografiado mamulengo. 2007. Tese (Doutorado em Antropologia) - Programade Ps-Graduao em Sociologia e Antropologia, Instituto de Filosofiae Cincias Sociais, UFRJ, Rio de Janeiro, 2007.

    AZEVED O, Dbora Silva de. Nas redes dos donos da brincadeira:um estudo do mamulengo da Zona da Mata pernambucana. 2011.Dissertao (Mestrado em Cincias Sociais) Instituto de CinciasHumanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,Rio de Janeiro, 2011.

    BORBA FILHO, Hermilo. Fisionomia e esprito do mamulengo. 2. ed.Rio de Janeiro: Inacen, 1987.

    RIBEIRO, K. H. T.A dialo gicida de do Ma mulengo R iso do Pov o:interaes construtiva da performance. 2010. Dissertao (Mestradoem Artes) - Programa de Ps-Graduao em Artes, Instituto de Artes,Universidade de Braslia, Braslia, 2010.

    NOTAS

    1 O Museu est situado no stio da Malcia, localidade que pertencea Z de Bibi, um dos vencedores do prmio Rodrigo Melo Francode Andrade, do Ministrio da Cultura, em 2009.

    2 Realizado pela Associa o Cultural de Amigos do Museude Folclore Edison Carneiro (Acamufec), por meio de convniofirmado com o Ministrio da Cultura, o Promoart contoucom a gesto conceitual e metodolgica do Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular (CNFCP).

    no mamulengo dava meia-noite emponto, eles colocavam esse persona-gem: da m eia-noite p ro dia, j vemo Cego e a Guia, da meia-noite prodia, j vem o Cego e a Guia [toada].O ceguinho t vendo o moo, veiotirar foto da gente, que coisa boa, oceguinho pede uma esmolinha praele. O cego diz a ssim: moo, me duma esmolinha pelo amor de Deus,se quiser me dar dinheiro, se noquiser me dar, vai pro infern o, que sedane mesmo. Ento fica insultandoas pessoas. A a Guia: no assimque pede esmola no. como que

    pede en to, guia , me exp lica a. Chega p erto de le comcalma que ele ajuda voc.

    na hora que ele chega perto da pessoa e pede de novo:moo, me d uma esmolinha pelo amor de Deus, se noquiser me dar, t bom tambm. A o cara pega e d esmola

    pra ele, porque p ediu direito.

    Praxedes, Xoxa e beb. Bila

    Viva e Professor Tirid. Mestre Tonho de Pombos

    Burrinha.

    Maurcio

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    Glria do Goit PE

    tel (81) 3658.1442 | (81) 9993.0139

    contato: Edjane lima (Presidente da Associao)

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    Edjane

    |CaroquinhaeCatirina.

    Bil

    a

    realizao

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    MINISTRIODACU

    LTURA|IPHAN|CENTRON

    ACIONALDEFOLCLOREECULTURAPOPULAR

    MUSEUDEFOLCLOR

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