A luz na pintura - parte 2 (Autor: Farlley Derze)

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1 luz & cena BOLSHOI NO BRASIL Escola de Cinema Darcy Ribeiro Uma década de educação audiovisual entrevista Osvaldo Perrenoud Renomado iluminador fala de carreira, decisões e aperfeiçoamento Escola brasileira encena terceiro e mais belo ato de Raymonda Direção de Fotografia Interpretando fotograficamente um roteiro R$ 8,00 Editora Música & Tecnologia ANO XVI - novembro 2012 - Nº 160 www.luzecena.com.br

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DERZE, Farlley. A representação da luz na pintura ocidental - parte 2. Revista Luz & Cena. Ed. Música e Tecnologia. Rio de Janeiro, ano XV, n. 160, p. 50-54, nov. 2012.

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1luz & cena 1luz & cena

BOLSHOI NO BRASIL

Escola de Cinema Darcy RibeiroUma década de educação audiovisual

entrevista

Osvaldo PerrenoudRenomado iluminador fala de carreira, decisões e aperfeiçoamento

Escola brasileira encena terceiroe mais belo ato de Raymonda

Direção de Fotogra� aInterpretando fotografi camente um roteiro

R$ 8,00

Editora Música & Tecnologia

ANO XVI - novembro 2012 - Nº 160 www.luzecena.com.br

Page 2: A luz na pintura - parte 2 (Autor: Farlley Derze)

EDITORIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

PRODUTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

DESTAQUE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

EM FOCO ............................................. 12

MEDIA COMPOSER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA PARA VÍDEO....44

ILUMINANDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Novembro 2012

foto capa: Divulgação

entrevista

Osvaldo Perrenoud fala de sua trajetória profi s-sional, aperfeiçoamento e importantes decisões

por Rodrigo Sabatinelli

galeria

É campeão!

por Ricardo Ayres

32

56

holofote

Felipe Lourenço, iluminador

por Louise Palma

16

educação

Escola de Cinema Darcy Ribeiro completa uma década de atividades

por Louise Palma

18

capa

Bolshoi no Brasil

Toda a beleza do terceiro ato de Raymonda, encenado no Festival de Dança de Joinville

por Rodrigo Sabatinelli

22

2 luz & cena

Page 3: A luz na pintura - parte 2 (Autor: Farlley Derze)

Inspirado pelo trecho sobre luz elétrica e modernidade que integra a segunda parte da série

A representação da luz na pintura ocidental (você pode conferi-la nesta edição da Luz &

Cena, na seção Iluminando, tão bem conduzida por Farlley Derze), saiamos um pouco,

neste editorial, do universo em que luz é arte, caminhando apenas alguns metros junto à

dupla luz e sociedade.

Todos sabemos que a luz, enquanto produto, e sua escassez – na forma de sombra ou de

mais completa escuridão, inclusive –, são fortes indicadores de desenvolvimento ou de atraso,

de atenção ou descaso público, mas, aproveitando essa época pós-eleição, vale a pergunta: isso não é errado? Pensemos em Paris, a própria Cidade Luz. Veem à mente a iluminada

Torre Eiffel, os animados e brilhantes cafés, os museus com iluminação controlada, ideal para

que as obras neles expostas possam ser apreciadas adequadamente por muitas gerações.

No entanto, quão irônico não deve ser viver na Cidade Luz quando se é um morador de um

conjunto habitacional do subúrbio, cercado de má iluminação e violência?

No Brasil, muitos vivem sem luz em suas casas até hoje, e não me refi ro a gente moderna que adotou velas como únicas fontes de iluminação de seus lofts. Mas como as trevas não podem

ser eternas, acompanhamos o alvorecer de um programa do governo que, desde 2003, já

tirou cerca de 15 milhões de pessoas da escuridão. E se esse mesmo governo promete, para

os próximos anos, um avanço tão grande no investimento em educação graças ao dinheiro

que vem à tona junto com o petróleo, de repente o jovem que ontem nem tinha luz em casa

será o jovem formado, com a mente ligada em política, ciência, cultura... Amanhã ele poderá

ser um engenheiro elétrico, ou, quem sabe, depois de ver uma peça de teatro pela primeira

vez, ter a certeza de que será um lighting designer.

Dito isso, nessa edição da L&C temos, em detalhes, o terceiro ato de Raymonda, encenado

pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil durante o Festival de Dança de Joinville. Em nossas

páginas você também encontrará uma matéria sobre os dez anos da cada vez mais impor-tante Escola de Cinema Darcy Ribeiro e uma valiosa entrevista com nosso ex-colaborador, o iluminador Osvaldo Perrenoud, também conhecido como Oz. Além, claro, de nossas colunas.

Boa leitura!

Marcio Teixeira

Luz social

ANO XVI - Nº 160 - NOVEMBRO 2012

EDITOR

MARCIO TEIXEIRA

([email protected])

GERÊNCIA FINANCEIRA

LUCINDA DINIZ

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

CRISTIANO MOURA, FARLLEY DERZE

E LÉO MIRANDA

REDAÇÃO

FERNANDO BARROS,

LOUISE PALMA E

RODRIGO SABATINELLI

([email protected])

DIREÇÃO DE ARTE / DIAGRAMAÇÃO

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FREDERICO ADÃO

LUIZ MILLER

PUBLICIDADE

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ASSINATURAS

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NÃO É PERMITIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL

DAS MATÉRIAS PUBLICADAS NESTA REVISTA.

LUZ & CENA NÃO SE RESPONSABILIZA PELO CON-TEÚDO DOS ANÚNCIOS VEICULADOS.

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Page 4: A luz na pintura - parte 2 (Autor: Farlley Derze)

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ARTE NO MUNDO INDUSTRIALO mundo ocidental viu florescer no século 18 a nor-matização da ciência por meio da sistematização

dos métodos que cada cientista empregava em suas

experiências com vegetais, animais, gases, minerais,

líquidos e até com comportamento humano, de modo

que na segunda metade daquele século estava formado

o ambiente propício para dar origem à industrialização

dos materiais. Em pouco tempo, obras artísticas tam-

bém estariam industrializadas e chegariam ao alcance

de um público maior, inclusive o de outros países.

O filósofo Walter Benjamin escreve no século 20 sobre “a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”,

publicado apenas em 1955. A industrialização em mas-sa de um produto (Revolução Industrial do século 18)

transformou o modo como o homem se comunicaria,

bem como a maneira de lidar com os materiais dispo-nibilizados pelo mundo cada vez mais mecanizado. A

A REPRESENTAÇÃO DA LUZ NA PINTURA OCIDENTAL

I luminando Farlley Derze

Luz neoclássica: A morte de Sócrates (Jacques Louis David, 1787)

(PARTE 2)

Page 5: A luz na pintura - parte 2 (Autor: Farlley Derze)

Luz romântica: A liberdade guiando o povo (Eugène Delacroix, 1831) e A balsa da medusa (Théodore Géricault, 1819)

curiosidade dos cientistas que viviam noite e dia em

seus laboratórios para desvendar mistérios da natureza

tornou possível a invenção de lâmpadas a gás (1792) e,

ao raiar do século 19, a lâmpada elétrica (1808), ambas

criadas na Inglaterra. Em pouco tempo, os empresários

se ocupariam da reprodutibilidade técnica dos inventos

que foram socializados no mundo. Em 1820 seria a vez

da invenção e popularização da fotografia.

Bem: se antes do século 19 o mundo dependeu dos

pintores para registrar com tintas e pincéis os eventos

particulares e públicos, a máquina fotográfica poderia fazer o mesmo. Resultado: os pintores deixariam de

pintar aquilo que seus olhos viam ou aquilo que lhes era

encomendado a pintar para produzir uma pintura com

outros olhos – os olhos da imaginação. Nascia a arte

moderna. Cada pintor tinha sua própria imaginação, e,

por conta disso, a forma de manipular as cores e os pin-céis traria novidades nas cores, nas formas, nos temas

representados em suas telas. Do século 18 ao século

20 o mundo mecanizado ou tecnológico vai impor um

novo ritmo à sociedade e novos conceitos sobre arte.

A LUZ NEOCLÁSSICAEstamos na segunda metade do século 18. Já sabe-mos o que vai acontecer no futuro com a industrializa-ção que se inicia nesse ponto da história. Enquanto

a ciência produz seus inventos, a luz da pintura

neoclássica é simbolizada pelo branco translúcido

da luz do Sol com a visualização de manchas que

representam sombras mais sutis que aquelas do mo-vimento anterior (barroco = sombras escuras ou áreas

não iluminadas). A representação da luz neoclássica

quer recuperar a luz renascentista, mas não elimina a

influência mais recente do barroco (sombras).

Bem, a ideia central na representação da luz neoclás-sica é fazer o mesmo que os renascentistas: deixar

visível tudo o que foi pintado na superfície da tela. A

ocorrência da sombra não deve comprometer a visu-alização das partes. Resultado: podemos dizer que a

representação da luz na pintura renascentista (séculos

15 e 16) e neoclássica (século 18) possui a mesma... di-gamos... genética estilística. O fato da pintura neoclás-sica buscar referência no passado (o renascimento),

não difere das situações que encontramos em nosso

cotidiano. Há inúmeras lojas especializadas em vender lustres, luminárias, mobiliário e eletrodomésticos que

pertenceram ao passado. A diferença é que no passado

se estava diante de um produto que representava a

modernidade com os recursos materiais e tecnológicos

disponíveis de sua época e tinha sua função utilitária

no cotidiano, e no futuro será retomado com outro

valor: valor histórico, valor afetivo, valor artístico...

negociados a preços especulativos.

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52 luz & cena

A LUZ ROMÂNTICAEstamos na primeira metade do século 19. O romantis-mo nasce na literatura e se espalha nas demais verten-tes artísticas: pintura, música, teatro, arquitetura. Em

resposta ao romantismo, nasceu também, da literatura,

o realismo. O romantismo e o realismo foram forças

contrárias, pois uma se direcionava a imagens oníricas

ou de uma sociedade ideal, enquanto a outra queria

mostrar a realidade do mundo, dos trabalhadores no

campo, nas fábricas, e a realidade dos confl itos sociais. Assim, a representação da luz será feita com vários

pontos de luz e sombras em vários pontos da superfície

da tela, como se luz e sombra, ou área iluminada e área

escura, disputassem um lugar.

O resultado visual nos inspira a lembrar do resultado

visual da pintura barroca (século 17 e primeira metade

do século 18). É como se a luz romântica fosse uma

releitura da luz barroca... então... outro caso de genética

estilística. A diferença é que enquanto na luz barroca

a luz incide numa área específi ca da tela em oposição à outra área da mesma, onde não incide luz, na luz

romântica são vários pontos onde a luz incide na tela em

oposição a pequeninas áreas onde a luz não alcança,

ou áreas cobertas por manchas de sombra.

A LUZ MODERNAEstamos na segunda metade do século 19. Surge uma

relação de oposição entre romantismo e realismo (uma

pintura que pretende mostrar “a vida como ela é”).

Desse embate surgirá uma prole de “ismos”. E “ismos”

será o sobrenome da arte moderna: impressionismo,

pontilhismo, fovismo, neoplasticismo, cubismo, expres-

sionismo, futurismo, primitivismo, raionismo, suprema-tismo, construtivismo, dadaísmo, surrealismo. Nesse

ponto da história testemunham-se as consequências visuais na representação da luz na pintura ocidental

após o surgimento da máquina fotográfi ca.

O pintor francês Monet vai pintar, em 1872, a tela

Impressions soleil levant (impressões do sol nas-cente). Essa obra veio a público apenas dois anos

depois, quando já havia um grupo de outros pintores

“impressionistas”, e juntos apresentaram suas obras

dentro de uma galeria, já que no museu não teriam a

menor chance. A ideia da pintura impressionista era

capturar a luz atmosférica, ou seja, a luz natural que

incidia no ambiente em determinado horário. Monet

pintou a fachada da catedral de Rouen mais de 30

vezes para demonstrar que a luz era diferente no

outono, na primavera, no verão, no inverno, às 9h,

às 12h, às 17h... de modo que o conceito da pintura

impressionista era fi xar na tela a impressão recebida em nossos olhos pela luz atmosférica em determinado

horário. Isso explica a velocidade com a qual o pincel

foi manipulado na superfície da tela, afi nal, a nitidez dos objetos e cenas representadas na imagem eram

menos importantes do que deixar registrada com tintas

e cores a impressão da luz no horário em que o pintor

capturava a imagem. Monet chegou a retirar suas telas

e tintas de casa e montou seu estúdio em um barco

para poder produzir inúmeras telas ao longo do dia.

Conclusão: a luz natural deu origem ao conceito que

estruturou esse movimento artístico.

Mas a luz artifi cial, com a luz elétrica, vai dar o tom que faltava ao signifi cado da palavra “modernidade”. O pin-tor russo Larionov traduziu os fachos de luz elétrica em

suas obras e chamou sua forma de pintar de “raionismo”

Luz moderna: Impressions soleil levant (Claude Monet, 1872), Catedral de Rouen (Claude Monet, 1832-93/94) e Noite estrelada sobre Rhone (Vincent Van Gogh, 1888)

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Luz moderna: Raionismo (Mikhail Larionov, 1913)

Luz moderna: A metrópole (Georg Grosz, 1916)

Farlley Derze é professor do Instituto de Pós-Graduação, diretor de Gestão e Pesquisa da empresa Jamile Tormann Iluminação Cênica e Arquitetural e membro do Núcleo de Estética e Semiótica da UnB. Doutorando em Arquitetura. E-mail: [email protected]

Neoclássico  (segunda metade  do  séc.  18): Re-presentação da luz com tonalidades da cor branca

translúcida (infl uência renascentista) que traduz a luz do Sol difusa no ambiente e com representação de

sombras que não comprometem a visualização do que

foi pintado na tela.

Romantismo (primeira metade do séc. 19): Repre-sentação da luz com tonalidades amareladas que tra-duzem vários fachos de luz salpicados na superfície da

tela, entremeados por diversas manchas de sombras.

Modernismo (segunda metade do séc. 19 e primeira metade do séc. 20): Representação da luz segundo

o conceito do pintor – representar a luz atmosférica no

horário em que pintava a cena; representar os raios de

luz elétrica; representar a vida social noturna.

Gostaria de recomendar o livro A obra

de arte na era de sua reprodutibilidade

técnica, de Walter Benjamin.

Síntese

Pausa para uma xícara de chá

(raios de luz). Quando vejo suas telas, me lembro dos

fachos de luz que tantas vezes vi em shows de música.

O termo “moderno” foi aplicado às artes como à música,

à pintura, à arquitetura, à escultura, ao teatro, à dança,

como um modo de dizer que as ideias, o mundo, a vida

estava em transformação. E a luz elétrica, assim como

a luz natural, também inspirou os artistas da pintura,

conforme pode ser visto nas obras apresentadas aqui.

A luz elétrica, além de transformar as cenas teatrais

e os shows de música na companhia de refl etores de todo tipo e formato, gobos, lentes, movings, mesas

analógicas ou digitais, também transformou as noites

urbanas, que nunca mais foram as mesmas desde

que o mundo noturno conheceu as lâmpadas a arco

voltaico, as incandescentes, as lâmpadas de neon, as

fl uorescentes, as de sódio e mercúrio nas vias públicas, as halógenas, a fi bra ótica, os LEDs...

A cidade moderna nasceu à noite.

A obra

de arte na era de sua reprodutibilidade