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A LUDICIDADE E OS NÚMEROS: CAMINHOS METODOLÓGICOS ATRATIVOS DE APRENDER E ENSINAR A MATEMÁTICA Fabiane Passarini Marques Pizaneschi 1 RESUMO O presente estudo pretende evidenciar possibilidades de ensinar e aprender o conteúdo matemático de forma lúdica, em uma turma do 3º ano do Ensino Fundamental I. O estudo teve como contexto, uma escola pública do Município de Várzea Grande-MT, a qual oferece Educação Infantil, Ensino Fundamental I, e como sujeito: uma professora que atua na respectiva escola numa turma de 3º ano. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa do tipo qualitativa e para elaboração dos dados, foram adotados como instrumentos: o questionário de caracterização da escola e da professora, observações em sala de aula e entrevista estruturada. A ludicidade se torna um caminho metodológico alternativo para impulsionar a aprendizagem, desenvolver o raciocínio lógico-dedutivo, a criatividade, a autonomia, a organização, transformando o ensino da Matemática em situações de aprendizagem atrativas e prazerosas. Para fundamentar este estudo nos pautamos em Grando (2000), Macedo, Petty e Passos (2005), Muniz (2014), entre outros. As reflexões apresentadas neste estudo, objetivam mostrar que as atividades de matemática diferenciadas favorecem a construção do conhecimento de maneira concreta, significativa e interessante. Constatou-se que, o uso da ludicidade no processo de aprendizagem da matemática atua significativamente no desenvolvimento cognitivo do aluno e promove ainda o encantamento pela disciplina. Palavras-chave: Matemática; Ludicidade; Ensino Fundamental. 1 Introdução A matemática enquanto disciplina tem buscado desconstruir o conceito enraizado e disseminado na esfera educacional e na sociedade, que a classifica como uma disciplina “difícil” e “complicada”. Portanto, tem no atual cenário educacional o desafio em tornar a sua aprendizagem mais leve, atrativa, dinâmica e significativa, de maneira que os conteúdos estejam vinculados com a realidade concreta. Possibilitando assim, a criatividade individual do aluno, fazendo com que seja o real transformador de seu conhecimento. 1 Professora Educação Básica- Mestre em Educação (PPGE/UFMT)-Prefeitura Municipal de Várzea Grande-MT, Brasil.

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A LUDICIDADE E OS NÚMEROS: CAMINHOS

METODOLÓGICOS ATRATIVOS DE APRENDER E ENSINAR A

MATEMÁTICA

Fabiane Passarini Marques Pizaneschi 1

RESUMO

O presente estudo pretende evidenciar possibilidades de ensinar e aprender o conteúdo

matemático de forma lúdica, em uma turma do 3º ano do Ensino Fundamental I. O estudo teve

como contexto, uma escola pública do Município de Várzea Grande-MT, a qual oferece

Educação Infantil, Ensino Fundamental I, e como sujeito: uma professora que atua na respectiva

escola numa turma de 3º ano. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa do tipo qualitativa

e para elaboração dos dados, foram adotados como instrumentos: o questionário de

caracterização da escola e da professora, observações em sala de aula e entrevista estruturada.

A ludicidade se torna um caminho metodológico alternativo para impulsionar a aprendizagem,

desenvolver o raciocínio lógico-dedutivo, a criatividade, a autonomia, a organização,

transformando o ensino da Matemática em situações de aprendizagem atrativas e prazerosas.

Para fundamentar este estudo nos pautamos em Grando (2000), Macedo, Petty e Passos (2005),

Muniz (2014), entre outros. As reflexões apresentadas neste estudo, objetivam mostrar que as

atividades de matemática diferenciadas favorecem a construção do conhecimento de maneira

concreta, significativa e interessante. Constatou-se que, o uso da ludicidade no processo de

aprendizagem da matemática atua significativamente no desenvolvimento cognitivo do aluno e

promove ainda o encantamento pela disciplina.

Palavras-chave: Matemática; Ludicidade; Ensino Fundamental.

1 Introdução

A matemática enquanto disciplina tem buscado desconstruir o conceito enraizado e

disseminado na esfera educacional e na sociedade, que a classifica como uma disciplina

“difícil” e “complicada”. Portanto, tem no atual cenário educacional o desafio em tornar a sua

aprendizagem mais leve, atrativa, dinâmica e significativa, de maneira que os conteúdos

estejam vinculados com a realidade concreta.

Possibilitando assim, a criatividade individual do aluno, fazendo com que seja o real

transformador de seu conhecimento.

1 Professora Educação Básica- Mestre em Educação (PPGE/UFMT)-Prefeitura Municipal de Várzea Grande-MT,

Brasil.

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Motivando a sua aprendizagem por meio de atividades lúdicas, oportunizando a

interação social e impulsionando o senso cooperativo.

Nesse caminho, a Matemática que permeia a ludicidade é uma proposta que torna o

ensino desta disciplina mais prazerosa e dinâmica e que tem ganhado espaço no ambiente

escolar.

Motivar os estudantes para o aprender a Matemática é uma tarefa difícil. O entusiasmo

com a disciplina é quase inexistente na sala de aula. Vincular a matemática com a simples

memorização de fórmulas e algoritmos para a resolução de cálculos a tem tornada enfadonha e

sem nenhuma atração para os alunos, visto que ainda apresentam muitas dificuldades em

entender o que estudam, para que estudam, sem qualquer vinculação com suas atividades

cotidianas.

Considerando a importância da ludicidade tanto no ensino como no processo de

aprendizagem do educando, o presente artigo traz uma discussão sobre a importância de se

trabalhar o conteúdo de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, numa perspectiva

lúdica.

Assim, será apresentado um recorte de vivências pedagógicas lúdicas na disciplina de

matemática de uma turma do 3º ano do Ensino Fundamental I, do Ciclo Básico de Alfabetização

Cidadã- CBAC, da escola municipal Alino Ferreira de Magalhães, da rede municipal do

município de Várzea Grande-MT.

O objetivo do estudo foi conhecer experiências e práticas educativas que privilegiam a

ludicidade no aprender da matemática, com vistas a uma aprendizagem real, mais próxima ao

universo da criança/aluno, explorando a matemáticas de forma mais divertida e atrativa.

Pretendeu-se, portanto, discutir o uso de diferentes abordagens lúdicas, para impulsionar uma

aprendizagem que acentue o pensar criativo e reflexivo do aluno.

Frente aos resultados obtidos nesse estudo, constatou-se que a atividade lúdica é

entendida como um instrumento alternativo de ensino, que permite ao professor em sua prática

escolar tornar o conteúdo mais vivo, interativo e dinâmico. Sua aceitação por parte dos alunos

é de grande relevância para tornar a aula mais descontraída e eficaz, facilitando a introdução do

conteúdo proposto pelo professor.

Como ponto de partida, faremos algumas considerações sobre a Matemática e a

ludicidade.

2 A Ludicidade aplicada para ensinar e aprender a matemática

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Considerando que, os primeiros anos escolares assumem grande importância no

percurso formativo do aluno, visto que é nessa fase que se é construída uma base para

fundamentar os anos escolares seguintes, em especial os conceitos e relações em Matemática,

os quais serão aprendidos no decorrer da vida escolar do aluno.

A Matemática nos anos iniciais prima por desenvolver o pensamento lógico, sendo

essencial também para construção de conhecimentos em outras áreas, nesse sentido, a

Matemática deve proporcionar aos alunos também momentos de descobertas para além dos

cálculos.

O professor assume, nesta perspectiva o papel de mediador dessa construção e

descoberta, contribuindo para ampliar os questionamentos e as investigações, suscitando com

que estas provoquem nos alunos interesse pela disciplina.

Dentre as alternativas para impulsionar o aprendizado do aluno na matemática podemos

recorrer ao lúdico como possibilidade de tornar a aprendizagem prazerosa e atrativa para o

aluno.

2.1 Experiências Lúdicas: estratégias para aprender a matemática

O lúdico e o brincar perpassaram por todas as épocas da humanidade, permanecendo até

os dias atuais. Em cada época, conforme o contexto histórico vivido por uma determinada

sociedade, sempre foram concebidos como algo inerente ao ser humano, e posteriormente

vieram a ser usado como uma possibilidade pedagógica para o pleno desenvolvimento do ser

humano.

O ensino de forma lúdica é entendido como uma alternativa que vem somar junto ao

trabalho do professor, propiciando a ação reflexiva e investigativa da criança, assim a

ludicidade, o brincar auxiliam na construção de habilidades, na organização de atividades

pedagógicas, além de, estimular e despertar o interesse das crianças em diversas áreas.

Grando (2000, p.34) acentua que as crianças, desde os primeiros anos de vida, “gastam

grande parte de seu tempo brincando, jogando e desempenhando atividades lúdicas. A

brincadeira parece ocupar um lugar especial no mundo delas”.

Nessa perspectiva, desde muito pequeno vamos nos apropriando das mais diversas

maneiras de conhecimento: seja popular, cultural, religioso, aprendendo-as de maneiras

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diferentes, no entanto com algo comum para todos os seres: o mundo da criança,

independentemente de suas origens, é lúdico.

Nas palavras de Mota e Andrade (2017, p.39) o lúdico caracteriza-se em “tudo o que se

refere a jogos, brinquedos, brincadeiras, dramatizações, teatros, pantomimas e divertimentos”.

Todavia, o termo lúdico tem sua etimologia originada do grego ludus que significa

brincar/recrear.

Atividade lúdica traz consigo que, o importante não é apenas o resultado efetivo, mas a

própria ação. A experiência vivida permite experimentar ciclos de significação, ressignificação

e apreensão, além de propiciar que o aluno se autoconheça e conheça o próximo, e no ambiente

escolar oportuniza maior apropriação do conteúdo trabalhado, uma vez que o aluno vivenciou

de forma prazerosa e não na forma automática, pronta e acabada.

Nascimento (2011, p.23) acrescenta que,

A utilização da ludicidade como instrumento metodológico para o ensino de nossas

crianças é um desses ensinamentos que não devemos deixar para trás. Devemos fazer

o mesmo com a maneira que ensinamos nossas crianças, que estas tenham o

aprendizado matemático de maneira espontânea, onde possam ser ativas durante o

processo de aprendizagem e que este se torne significativo.

Trazer a dimensão lúdica para a pratica e aplicá-la nas tarefas escolares é possibilitar

que as crianças possam “ser protagonistas, isto é, responsáveis por suas ações, nos limites de

suas possibilidades de desenvolvimento e dos recursos mobilizados pelos processos de

aprendizagem”. Macedo, Petty e Passos (2005, p.10)

Sob essa perspectiva, a ludicidade auxilia no desenvolvimento das potencialidades da

criança para além da sala de aula, o fazendo ativo em todas as dimensões no qual está inserido

enquanto sujeito social.

Kishimoto (2001), referenda que “o lúdico na prática pedagógica da Educação Infantil

e no Ensino Fundamental estimula o imaginário (faz-de-conta), a criatividade infantil e a

expressão corporal”.

Portanto, o ensino da matemática também deve ser regado com muita ludicidade para

florescer um sentimento positivo em relação a ciência tida como exta e com poucos atrativos

aos alunos, cabendo ao professor trazer em sua prática pedagógica elementos pedagógicos que

privilegiem o lúdico no ensinar dos números.

Nessa direção, um dos objetivos da ação pedagógica é a mudança dos alunos por meio

da assimilação de um dado conhecimento, cabendo ao professor, o papel de participante no

processo de interlocução que permita ao aluno aprender.

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Para Muniz (2014).

Os processos de mediação pedagógica, ganham importância nas nossas reflexões,

revelando que qualquer aprendizagem significativa da Matemática, do número ou de

outro conceito, depende da qualidade da mediação realizada pelo professor, sempre

desafiando, estimulando e intervindo nos processos de construção da aprendizagem

de cada criança (p.4).

Macedo, Petty e Passos (2005, p.12) salientam que em uma escola para todos,

desenvolvimento e aprendizagem devem ser considerados como formas interdependentes.

“Uma das condições para isso é que a dimensão lúdica, como proporemos a seguir, qualifique

as tarefas escolares, principalmente na perspectiva daquelas que são propostas às crianças”.

Contudo, o ensino da matemática não pode ser restringido a uma prática com enfoque

mecânico, utilitário e empírico e somente usado no ambiente escolar.

Grando (2000, p.13) alerta para a necessidade de um processo de ensino aprendizagem

da matemática realmente significativo para o aluno em seu contexto, “é preciso que seja

possível ao aluno estabelecer um sistema de relações entre a prática vivenciada e a construção

e estruturação do vivido, produzindo conhecimento. ”

O aluno anseia por conteúdos que realmente façam parte de seu cotidiano para além do

escolar, no qual possam fazer uso do que foi aprendido em sala de aula.

A Matemática lúdica é essencial para elaborar no aspecto pedagógico, aulas mais

atrativas e que forneça subsídios para que o aluno perceba o que lhe foi proposto, apropriando-

se de métodos para analisar, interpretar, argumentar e concretizar problemas.

Paiva, Paulo e Calado (2017, p.482) frisam que a criança e o adolescente “estão em

constantes relações com a matemática, principalmente por meio das suas brincadeiras. Por

exemplo, quando brincam de amarelinha, esconde-esconde, xadrez, pular corda, dominó,

boliche, par ou ímpar, dentre muitas outras brincadeiras”.

Paixão (2012) enfatiza quanto ao ensino da matemática de forma lúdica,

A criança deve brincar com materiais concretos para manipular o objeto levando

futuramente ao pensamento (entendimento) abstrato, levando em consideração que a

educação de cada um tem um tempo de aprendizagem diferente, daí quanto mais a

criança tiver experiências diferentes, maior terá desenvolvido as habilidades

necessárias para utilizar quando for adulta (p.75).

No entanto sabemos que, conforme situa Fiorentini (1995, p. 3) que por trás “dos

diferentes modos de ensinar a matemática, esconde-se uma particular concepção de

aprendizagem, de ensino, de matemática e de educação”.

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Mota e Andrade (2017, p.43) acentuam que o “lúdico na educação se apresenta na

atualidade como um paradigma para o processo de ensino e aprendizagem, pois se trata de uma

metodologia inovadora – aprender brincando”.

Paixão (2012) nos chama atenção que é essencial a “compreensão de que todo material

didático, até mesmo o jogo, é apenas um meio que pode desencadear ações e interações

construtivas das noções matemáticas e que, por si só, não provoca aprendizagem”(p.77).

Considerando a relevância da ludicidade nas atividades no que tange a disciplina de

matemática, no entanto o professor ao fazer uso de tal abordagem não deve somente utilizá-la

sem método. É significativo trabalhar o conteúdo matemático por meio dela e aproximar o

pensar e a interpretação do aluno para mais próximo da realidade, oportunizando possibilidades

de moldar e trabalhar a aula face ao entendimento do aluno.

3 Metodologia

A pesquisa em questão é qualitativa e buscou compreender práticas educativas que

privilegiam a ludicidade no ensino da matemática, numa turma de 3º ano do Ensino

Fundamental I do CBAC.

As considerações de Ludke e André (1986, p.12) sobre a pesquisa qualitativa revelam

que ‘o interesse do pesquisador está em verificar como o problema emerge na realidade do dia-

a-dia e a maneira com que os pesquisados percebem e falam a respeito da realidade vivida”

A análise foi realizada a partir das observações do cotidiano escolar, em especial das

aulas de matemática, no decorrer do 1º semestre do corrente ano letivo, e dos registros dos

alunos agregados aos diálogos em contexto, os quais mostraram importantes elementos

constituidores dos melindrosos processos de aprendizagem matemática. Dessa forma, os

resultados foram analisados e fundamentados no referencial teórico que balizam o estudo em

questão.

Para o desenvolvimento da pesquisa, contamos com a participação de 01 professora,

que foi escolhida por trabalhar com turma do 3º ano, e está dentro da proposta do CBAC, que

atua na EMEB Alino Ferreira de Magalhães da Rede Municipal de Várzea Grande-MT, situada

na zorna urbana do referido município.A EMEB Alino Ferreira de Magalhães, atende anos

finais da Educação Infantil (04 e 05 anos) e o Ensino Fundamental I, nos turnos matutino e

vespertino.

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Atualmente a rede municipal de educação de Várzea Grande-MT tem suas ações

pautadas nas orientações da versão do Referencial Curricular do Ensino Fundamental do

referido município do ano de 2016, o qual versa sobre as concepções de currículo, de

metodologias e de avaliação da aprendizagem que orientam toda ação educacional para a Rede

Municipal de Ensino e a estrutura organizacional do Ensino Fundamental.

Trata o referido documento ainda, das diretrizes conceituais, didático-metodológicas e

avaliativas do Ciclo Básico de Alfabetização Cidadã/CBAC, bem como sua estrutura

organizacional.

A proposta curricular preconizada no Referencial Curricular dispõe sobre o CBAC e

como serão trabalhados os saberes a serem priorizados de maneira condizente com cada faixa

etária, os meios para que os alunos se tornem sujeitos ativos frente ao seu processo de

conhecimento, bem como os conteúdos disciplinares que deverão ser selecionados e os critérios

para sua seleção e sequenciação.

4 Resultados e reflexões

No decorrer das observações e a entrevista, buscamos compreender de que forma é

ensinada e apreendida a matemática numa perspectiva lúdica. Nessa direção, observamos e

perguntarmos “De que forma a matemática é trabalhada no contexto lúdico? ” a professora

relata:

“No início das aulas por meio das atividades de diagnósticos, percebi que os alunos

da minha turma do 3º ano demonstravam medo e muita insegurança diante das

atividades de matemática, isso me inquietou enquanto professora e me levou a

procurar alternativas metodológicas para romper essa barreira frente a matemática.

Então comecei a trazer atividades lúdicas como forma de atrair os alunos e descontruir

ideias negativas, como a que a matemática é muito difícil, mecânica e que reprova o

aluno. ”Professora Liz.

A partir do relato da professora, percebe-se a sua preocupação didática na disciplina de

matemática, partindo do que os alunos precisam conhecer e revendo a forma de trazer esse

conteúdo para o aluno, de maneira que ele se apropria de forma consistente. A professora

acrescenta:

“Penso também que ao planejar as aulas de matemática, tenho que trazer o conteúdo

de forma interessante para os alunos, contudo, sem torná-lo artificial e sem

descaracterizar os conteúdos a serem trabalhados”. Professora Liz

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Sabe-se das adversidades do fazer pedagógico, em especial nos anos iniciais do Ensino

Fundamental são constantes e variadas, visto que além de trabalhar o conteúdo devemos ainda

facultar aos alunos que se apoderem de atitudes positivas em relação a essa disciplina e sejam

motivados a aprendê-la, e sobre tudo compreender a sua relevância em seu processo formativo

e para além dele.

A professora Liz clarifica que na sua concepção e prática para que o aluno se aproprie

de um determinado conteúdo, esse aluno deve antes de tudo vivenciá-lo de maneira concreta, e

consequentemente abstraí-lo.

Quando a professora traz a ideia e a vontade de favorecer a aprendizagem significativa

da matemática, explorando contextos lúdicos, sua concepção vai ao encontro das ideias de

Grando (2000, p.16):

A busca por um ensino que considere o aluno como sujeito do processo, que seja

significativo para o aluno, que lhe proporcione um ambiente favorável à imaginação,

à criação, à reflexão, à construção e que lhe possibilite um prazer em aprender, não

pelo utilitarismo, mas pela investigação, ação e participação coletiva de um "todo"

que constitui uma sociedade crítica e atuante, leva-nos a propor a o ensino espaços

lúdicos de aprendizagem.

Moraes (2016, p.17) acentua que “cabe ao professor perceber as potencialidades

educativas para o desenvolvimento do aluno”.

Grando (2000, p.14) acrescenta que “numa escola ativa, pressupõe-se que sejam

estimulados tanto trabalhos individuais quanto coletivos”.

A professora Liz descreve uma atividade lúdica em sua prática cotidiana no espaço

escolar:

“Para trabalhar as figuras geométricas com ludicidade e de forma menos sistemática,

primeiro organizei os alunos em pequenos grupos e depois pedi que eles se

organizassem, e com uma corda cada grupo formaria uma figura geométrica e depois

revezariam. A aula foi realizada no pátio da escola, mudar o ambiente é outra forma

de deixar a aula mais atrativa. O conteúdo dessa maneira fica mais claro e perceptível,

uma vez que é feito brincando e com o corpo do aluno, uma experiência viva e

dinâmica, eu percebo que o aluno assimila o mesmo com mais naturalidade, pois há

um processo de reflexão para realizar a atividade concreta, há movimento do corpo e

do pensar juntos e também há uma interação de informações, essa troca entre eles,

enriquece o conhecimento individual do aluno. ”

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Figura 1: Realização de atividades lúdicas: trabalhando figuras geométricas.

Fonte: Autora da pesquisa.

Figura 2: Realização de atividades lúdicas: trabalhando figuras geométricas.

Fonte: Autora da pesquisa.

As figuras 1 e 2, respectivamente retratam o momento que a professora descreveu, sendo

na figura 1 os alunos no pátio da escola deveriam se organizar em roda, e com uma corda

formarem figuras geométricas como triangulo, quadrado, retângulo e o círculo. Percebe-se que

a aula tem movimento, é viva, dinâmica e concreta, favorecendo a compreensão do aluno.

Nesse caminho, Scheffer e Martins (2016, p.178) pontuam que “a utilização de

atividades lúdicas na sala de aula dos anos iniciais, pode conduzir e despertar nos alunos o gosto

pela matemática, ampliando, assim, o seu interesse em relação aos conceitos trabalhados e

construídos na escola”.

Assim, a ludicidade torna-se uma estratégia importante, que auxilia tanto para

interpretar, como para resolver problemas escolares e do cotidiano.

Nas palavras de Moraes (2016, p.12) nesse contexto, “reafirma-se como os materiais

concretos são importantes para a compreensão do saber matemático do aluno e a mobilização

de uma aula mais dinâmica, prazerosa e significativa”.

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Na concepção de Mota e Andrade (2017, p.45) ao optar por usar as atividades lúdicas

como estratégia de ensino, “o professor tem com a intenção de facilitar a aprendizagem, ainda

mais quando esse ensino está voltado à disciplina de Matemática, considerada uma das ciências

“duras” da educação”.

Corrobora-se com as palavras de Lapa (2017, p,23) que nas atividades lúdicas em grupo,

“o aluno tem a oportunidade de desenvolver a capacidade de argumentar, criar hipóteses, testá-

las e, ao final, elaborar seus próprios comentários, justificando os caminhos por ele escolhidos”.

Contudo, Paixão (p.77) adverte que a criança “ao “brincar” com o material concreto,

mas sozinha, sem uma aprendizagem direcionada não irá trazer a reflexão necessária para poder

fazer a comparação dos objetos e das situações e aprender”.

Nesse sentido, cabe ao professor no ambiente escolar fazer esta ponte entre o aluno e o

material didático, refletindo sobre o que propor em relação a ludicidade para que seja algo que

realmente contribua para o conhecimento do aluno.

Outro elemento adotado pela professora Liz em sua prática são os registros por meio

dos desenhos e textos. Nessa perceptiva, a professora após ter trabalhado o conteúdo

ludicamente, solicita aos alunos que façam um registro sobre a aula. A professora explica essa

possibilidade pedagógica:

“ Depois que trabalho o conteúdo de uma maneira mais lúdica e menos pesada para o

aluno, eu proponho a elaboração de um registro. Algumas vezes peço que desenhe o

que vimos na aula e outras vezes peço que escrevam em poucas linhas o que

compreenderam da aula.

As figuras 3 e 4 ilustram essa ferramenta adotada pela professora. Uma ferramenta

importante que pode ser uma aliada na aprendizagem dos conteúdos matemáticos possibilitando

ao aluno uma forma criativa e lúdica para seu aprendizado.

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Figura 3: Realização de atividades lúdicas: registro trazendo as impressões do aluno sobre a aula.

Fonte: Autora da pesquisa.

Figura 4: Realização de atividades lúdicas: registro sobre as impressões dos alunos sobre a aula.

Fonte: Autora da pesquisa.

Paixão (2012, p. 80) esclarece que o professor pode utilizar algum recurso para auxiliar

a memória, pedindo um registro, este “tem duas funções em relação à atividade cerebral: de

estabelecimento de redes neurais e de fortalecimento de rede já existente”, esta nota pode ser

feita com desenhos, escrita, foto ou filme.

Quando se lança um outro olhar subjacente a perceber a beleza e a subjetividade da

criação do aluno, no primeiro momento há um impacto diante da obra singela e inspiradora ao

pensarmos nas produções das crianças dos anos iniciais.

Os registros que os alunos apresentam em sua grande maioria nos parecem

desordenados e sem nexo. Entretanto, quando se promove uma análise frente ao que foi

produzido, o que querem dizer em seus textos, assim como suas estratégias para elaborarem

seus textos, entende-se o seu pensar Matemático, que conhecem e suas suposições.

Muniz (2017, p.11) acentua que “este é um caso em que podemos facilmente constatar

o quanto os registros revelam as estruturas de pensamento da criança”.

Face a essa perspectiva, é perceptível que o aluno por meio do desenho fornece pistas

sobre muito do que compreendeu, do que é capaz, simbolizando suas aprendizagens e seus

progressos em seus construtos.

Muniz (2017, p.6) reforça que considerar as produções dos alunos “poderá significar a

construção de uma intervenção pedagógica não mais a partir de supostos e hipotéticos

conhecimentos do aluno, mas uma maior aproximação de reais capacidades, construções e

aquisições do aluno”.

Paixão (2012) lembra que,

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A escola deve levar em consideração esta característica e montar um currículo com

caráter lúdico para garantir a criança descrever, explorar sua imaginação, impulsionar

sua capacidade criadora, exteriorizar pensamentos impulsivos e emoções, realizar

coisas, familiarizar-se com normas, melhorar suas faculdades gerais, conseguir maior

equilíbrio emocional, ter interesse em aprender, relacionar suas aprendizagens com a

vida cotidiana (p.78).

Em síntese, frente aos relatos e observações da professora Liz percebe-se o quão a

professora privilegia um ensino da matemática vivo, criativo e autônomo, fazendo com que o

aluno conduza seu aprendizado ativamente, possibilitando a reflexão em seu processo

formativo, e que seja capaz de opinar sobre os conteúdos de forma significativa.

Na contramão de uma prática mecânica e sistemática, na qual o aluno apenas copia e

decora os conteúdos que são transmitidos de forma apática e burocrática, sem ausência de

significado e consequentemente sem qualquer participação efetiva do aluno em seu processo de

aprender a matemática.

5 Considerações Finais

O ensino da Matemática deve estar em harmonia com a finalidade principal da

educação, que é colaborar para a formação de um sujeito questionador, capaz de intervir, com

qualidade na dinâmica social em que está inserido.

Constatou-se frente a realização desse estudo que a atividade lúdica é um instrumento

alternativo de ensino que permite ao professor tornar o conteúdo mais vivo, interativo e

dinâmico.

Sua aceitação por parte dos alunos é de grande relevância para tornar a aula mais

descontraída e eficaz, facilitando a introdução do conteúdo proposto pelo professor.

As possibilidades da ludicidade no ensino da matemática fazem o processo se tornar

mais atrativo, feliz e dinâmico, permitindo maior assimilação, interação e compreensão dos

conteúdos, levando o aluno a analisar e observar todo o conjunto de fatores que envolvem uma

determinada a atividade.

Nessa direção, este estudo representa um dos passos, de muitos que precisam ser dados

nesse processo de pensar e repensar o ensino da Matemática de maneira lúdica em busca de

uma educação real e autônoma.

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Em suma, conclui-se que a professora participante da pesquisa privilegia um

aprendizado da Matemática vivo, dinâmico, autônomo e criativo. Pesquisar, realizar, buscar

metodologias alternativas se faz necessário e premente, para alcançar o conhecimento

significativo e que permita ao aluno realizar conexões com o que se apreende e com a sua

realidade.

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