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À LA CARTE
Vera Ribeiro de Carvalho
(você poderá ver a explicação desse título clicando aqui)
ESCLARECIMENTO
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AS LIÇÕES DA ÁGUIA... E DO GUSTAVO IOSCHPE!
Hummm! Mas o que será que tem a ver uma coisa com a outra, hein??
Já explico... Mas, primeiro, preciso que leia a primeira lição:
A LIÇÃO DA ÁGUIA
A águia é uma ave que chega a viver até 70 anos mas, para chegar a essa idade, ela tem de
tomar uma séria e difícil decisão por volta dos 40 anos. Nessa idade, ela estará com as unhas compridas
e flexíveis, não conseguindo mais caçar suas presas para se alimentar; seu bico alongado e pontiagudo já
está curvo, suas asas estão apontando contra o peito, uma tarefa difícil!
Então a águia só tem duas alternativas: morrer... ou enfrentar um dolorido processo de
renovação que irá durar 150 dias.
Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e recolher-se em um ninho
próximo a um paredão, onde ela não necessite voar. Após encontrar esse lugar, a águia começa a bater
com o bico contra a rocha até conseguir arrancá-lo. Depois espera nascer um novo bico, com o qual vai
arrancar as suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas.
Somente depois de 5 meses ele sai para o seu famoso voo da renovação. Poderá então, viver mais 30
anos.
Em nossa vida, muitas vezes, temos de nos resguardar por algum tempo e começar um processo
de renovação. Para que continuemos a voar um voo de vitória, devemos nos desprender de lembranças,
costumes e outras tradições que nos causaram dor. Somente quando nos livrarmos do peso do passado é
que podemos aproveitar o resultado valioso que uma autorrenovação sempre traz.
Autor Desconhecido
***
O QUE HÁ DE ERRADO CONOSCO?
E agora, vamos à lição do Ioschipe...
Na Página Aberta, sessão da Veja, de 31 de agosto, ele publica um artigo com o título acima,
no qual fala sobre o impeachment.
Diz que pouquíssimos países tiveram presidentes depostos por esse motivo, e que nenhum teve
dois...
Que receia que, nesse contexto “polarizado e raivoso da nossa política, o impeachment tenha
gerado uma sensação inebriante de vitória que nos cegue” para o fato do parágrafo acima. E aí, coloca
a pergunta: “Por que somos o único país em que representantes da República são impedidos, por
corrupção, não apenas uma vez, mas duas??” E complementa: “Precisamos fazer essa introspecção.
Crises são dolorosas demais para que passemos por elas desperdiçando a oportunidade de entender o
que deu errado”.Aí ele fala “um monte”, sobre várias coisas... e lança a pergunta final: “A pergunta
que se coloca urgentemente, antes que passemos por mais um impeachment, Lava-Jato ou mensalão, é o
que devemos fazer para mudar.”
A resposta tem a ver com minha comparação acima... Agora é que vocês irão ligar os pontos...
Ele acha que a resposta mais óbvia – a de que é necessário que os pais deem melhores
ensinamentos para seus filhos – é inexequível, porque não podemos nos meter na maneira como eles, os
pais, se comportam em casa. Que, então, sobram duas instituições-chave para serem acionadas: a escola
e o judiciário.
Sobre o judiciário, acha que a justiça está atrasada, que “até o mensalão, a sensação de
impunidade, de um Judiciário leniente com os poderosos e draconismo com ladrões de galinha, eram
compartilhadas por todos.” Que mudamos o paradigma... que os valores são outros, a ponto de
acreditarmos que a exceção vire regra... “São amplos recursos, embargos e medidas protelatórias que
fazem com que os casos menos célebres morram na vala comum da prescrição”. (...) “A mera
expectativa de um processo infinito e custoso faz com que contratos valham pouco mais do que papel de
embrulhar pão e se transformem no adubo que nutre os picaretas.”
Apesar de achar que “sem dúvida nosso problema mais importante está na Justiça”... sobre a
escola... só transcrevendo, mesmo!
“Apesar de todo o blá-blá-blá sobre formar cidadãos conscientes, nossas escolas ajudam na
formação de patifes. Porque são, elas mesmas, instituições profundamente antiéticas. Alunos colam em
quase todas as provas e os professores fazem vista grossa. Também, pudera: a maioria dos mestres
também é aética. Falta às aulas, chega atrasada, não cumpre com suas obrigações profissionais.
O professor médio brasileiro não está em condições morais de cobrar comportamento virtuoso
de seus pupilos.
A própria incompetência da nossa escola conspira contra a honestidade: o livro de Almeida
mostra que, quanto mais instruída a pessoa, mais séria ela tende a ser.”
E então... vamos “ligar os pontos” de vez?
A bagagem com que ele afirma tão contundentemente esses fatos sobre as escolas foi
acumulada ao longo de mais de 15 anos de pesquisas. “Eu não escrevo para mostrar minha opinião.
Escrevo como pesquisador, apoiado em literatura empírica.”
Muitos hão de estar lembrados de várias passagens dele em uma blitz da educação do JN,
mostrando inúmeros problemas em várias instituições escolares. Concordo com ele em muitas coisas...
quem vai negar que grande parte dos professores fazem vista grossa para as colas? Que muitos deles
faltam às aulas? Que outro “montão” chega atrasado? E agora, o que estou dizendo é fruto também de
minha própria observação. Fui diretora, lembram? E hoje ainda pesquiso com meus alunos esse tipo de
situação, e me parece que não mudou nadinha...
A parte do “não cumprir com suas obrigações profissionais” é a que mais serve de ponto de
ligação.
E aqui voltamos à lição da águia...
Principalmente ao seu final: “Em nossa vida, muitas vezes, temos de nos resguardar por algum
tempo e começar um processo de renovação. Para que continuemos a voar um voo de vitória, devemos
nos desprender de lembranças, costumes e outras tradições que nos causaram dor. Somente quando nos
livrarmos do peso do passado é que podemos aproveitar o resultado valioso que uma autorrenovação
sempre traz.”
Adaptando, eu mudaria para “temos que nos desprender de velhos costumes como o de copiar
de uma ano para o outro os planejamentos... o de dar as “velhas aulas” de sempre... atentar-nos para a
riqueza que a tecnologia pode oferecer... largar o ranço de aulas ultrapassadas e tentar pegar de novo o
trem da história, que foi perdido lá atrás.”
O mundo avançou... os alunos, hoje, entendem demais de internet, tecnologias modernas... não
há mais como suportarem aquelas aulas à base de “cuspe e giz”!
A tecnologia, hoje, não funciona porque há vários professores que não sabem lidar com ela. Sei
de alguns que sequer sabem ligar direito o computador. Ela não resolveria os problemas do mundo
educacional mas, bem aproveitada, seria sem dúvida um progresso. Mas... mesmo sem ela, daria para
pelo menos atualizar conteúdos... engendrar outras técnicas mais dinâmicas.
Quantas vezes já abordei isto aqui, em minhas colunas?
É isso o que a águia nos ensina: a renovar-nos sempre. Buscar novos caminhos. Desapegar-nos
do nosso conforto e comodismo. Das antigas estratégias do passado!
E, por favor... antes de alguns começarem a querer argumentar sobre falta de interesse dos
alunos... dos pais... da família em geral... da violência... do salário dos professores...das salas de aula
lotadas... e de tantas outras coisas mais, já vou dizendo... Isso tudo é um grande problema, sim... mas há
aí muito mito também. E há diversas formas de tentar ludibriar isso – principalmente se houver boa
vontade...
Mas isso já é um outro assunto, ao qual posso voltar outro dia, até apontando outras ideias que
esse senhor defende. Se alguém quiser pode ir “adiantando o expediente” lendo o livro de autoria dele,
O Que o Brasil Quer Ser Quando Crescer?, da Editora Objetiva. “Os textos falam do que ninguém quer
ouvir e fazem questionamentos que enriqueceriam o debate sobre o que fazer para melhorar a qualidade
da educação.”
Por ora, prefiro terminar estas lições da mesma maneira que o citado autor terminou seu artigo:
“Precisamos fortalecer e agilizar nosso Judiciário, melhorar e endireitar nossas escolas. Não
vamos a lugar nenhum enquanto a vida pública for habitat de salafrários e, na vida privada, ser ético for
sinônimo de otário”.
http://veja.abril.com.br/educacao/gustavo-ioschpe-derruba-12-mitos-da-educacao-brasileira/
PAINEL
Enquanto aguardo as dezenas de amigos aos quais mandei as perguntas da entrevista e me
prometeram responder... enquanto aguardo as respostas dos nossos dois candidatos a Prefeito (cujas
assessorias responderam afirmativamente ao convite)... vou, mais uma vez, publicando entrevista com
pessoas que admirei e admiro até hoje. É o caso de...
Renato Russo, nome artístico de Renato Manfredini Júnior, que nasceu no Rio de Janeiro, em
27 de março de 1960. Era filho de Renato Manfredini (economista ) e de Maria do Carmo Manfredini
(professora de inglês). Descendente de italianos provenientes da comuna de Sesto ed Uniti, Cremona;
e nordestinos. Tem uma irmã, Carmem Tereza Manfredini.
Até os seis anos de idade, Renato viveu no Rio de Janeiro junto com sua família. Começou a
estudar cedo no Colégio Olavo Bilac, na Ilha do Governador, zona norte da cidade. Em 1967, mudou-
se com sua família para Nova York, pois seu pai, funcionário do Banco do Brasil, fora transferido
para agência do banco em Nova York, mais especificamente para Forest Hills, no distrito do Queens.
Foi quando Renato foi introduzido à língua e a cultura norte-americana. Em 1969, a família volta
para o Brasil, indo Renato morar na casa de seu tio Sávio na Ilha do Governador, Rio de Janeiro.
Em 1973, a família trocou o Rio de Janeiro por Brasília, passando a morar na Asa Sul.
Em 1975, aos quinze anos, Renato começou a atravessar uma das fases mais difíceis e curiosas de sua
vida quando fora diagnosticado como portador da epifisiólise, uma doença óssea. Ao saber do
resultado, os médicos submeteram-no a uma cirurgia para implantação de três pinos de platina na
bacia. Renato sofreu duramente a enfermidade, tendo que ficar seis meses na cama, quase sem
movimentos, e permanecendo ao todo cerca de um ano e meio em recuperação. Durante o período de
tratamento, Renato teria se dedicado quase que integralmente a ouvir música, iniciando sua extensa
coleção de discos dos mais variados estilos. Simultaneamente à cura da epifisiólise, passou no
vestibular para jornalismo no Centro de Ensino Universitário de Brasília (Ceub), após fracassar no
vestibular da Universidade de Brasília(UnB).
Aos 18 anos, Renato revelou a sua mãe ser homossexual.
O único filho que Renato deixou, dizia ser fruto do relacionamento que o cantor teve com uma
fã (Raphaela Bueno), porém, depois da morte de Renato Russo especulou-se que a criança teria sido
adotada por Renato e criada pela avó materna Maria do Carmo, mas essa história nunca foi
confirmada.
Renato Russo faleceu no dia 11 de outubro de 1996, às 01h15 da madrugada, em consequência
de complicações causadas pela AIDS (era soropositivo desde 1989). Deixou o filho, o produtor cultural
Giuliano Manfredini, na época com apenas 7 anos de idade. O corpo de Russo foi cremado e suas
cinzas foram lançadas no Parque Burle Marx.
A entrevista a seguir foi tirada do blog de Thiago Castilho, feita em data não esclarecida.
(http://obviousmag.org/arcano_do_aleph/2015/entrevista-postuma-com-renato-russo-na-ilha-de-lost--
-parte-ii.html )
1. Thiago Castilho: Em primeiro lugar eu gostaria de dizer muito obrigado pela sua obra
excepcional, profunda, versátil e medicinal. (...). Sua música foi minha terapia psicanalítica alternativa ao
lado da poesia de Drummond e Pessoa. Vocês três formam minha santíssima trindade poética pessoal. Bem,
vamos lá. Renato Russo por Renato Russo?
Renato Russo: Eu sou o Renato Russo. Eu escrevo as letras, eu canto. Nasci no dia 27 de março, eu
tenho 26 anos. Sou Áries e ascendente em Peixes. Eu trabalhava com jornalismo, rádio, era professor de
Inglês também e... comecei a trabalhar com 17 anos e tudo, mas só que de repente tocar rock era uma coisa
que eu gostava mais de fazer. E como deu certo eu continuo fazendo isso até hoje. (declaração feita em
outro site)
2. Thiago Castilho: O jornalista Arthur Dapieve disse que tanto ao falar de política quanto ao falar
de amor, uma única linha norteava sua poética: a busca da ética perdida. Como você visualiza essa ética
perdida hoje em dia?
Renato Russo: Eu acho que existe um grande confronto entre a ética e a estética. A ética, em algum
momento, foi substituída pela estética. Isto é mais uma forma de controle. Eu me baseio numa ética
normativa, que diz o que é certo ou errado fazer. É bom deixar claro que isso passa por uma avaliação
interior, e não por uma imposição. (...) Acho que o básico, para essa avaliação, é a Declaração dos Direitos
Humanos. E isso teria que partir do núcleo da sociedade, que é a família. É uma questão de educação!
Porque não adianta ficar xingando o Sarney [ex-presidente José Sarney]. Na verdade, os culpados pela
situação do país somos nós! Por exemplo: como a nova geração vai ter respeito pela mais velha, se essa a
ataca e está cheia de preconceitos?
3. Thiago Castilho: Sua primeira banda de rock possuía um nome insólito, “Aborto Elétrico”, que
foi a semente da Legião Urbana. Você pode nos revelar, por favor, qual é a origem desse nome exuberante?
Renato Russo: O nome Aborto Elétrico é justamente porque eles inventaram, em 68, os cassetetes
elétricos que davam choque. Numa dessas batidas, uma menina que estava grávida, nada a ver com a
história, levou uma tal daquelas cacetadas e perdeu a criança! Coisa de mau gosto! Então, Aborto Elétrico
era o que representava a música da gente.
4. Thiago Castilho: Para mim com a Legião Urbana você reinventou o rock nacional, introduzindo
poesia pensante e crítica político-social em seu corpo. No entanto você tinha uma postura pessoal I Don't
Care (Eu não ligo), certo?
Renato Russo: Eu tinha uma postura tão contra tudo e contra todos que, se você me falasse "Não
come isso que é veneno", eu chegava e comia mesmo. Eu sou ariano, eu aprendo dando cabeçadas. A minha
serenidade, e até a minha própria insegurança, são um dom, porque eu sofri tanto! A questão é que eu não
tinha que tomar droga coisa nenhuma, tinha que tomar na cabeça. "Sai desse canto, Renato, pára com
tadinho de mim". Tadinho de mim? Foda-se! A vida é difícil mesmo. "Ah, eu sou poeta, artista..." Foda-se!
Não vou ficar incomodando os meus amigos. Eu tinha uma postura rebelde, completamente idiota. Eu
achava assim: "Ah, eu estou destruindo meu próprio corpo e ninguém tem nada com isso".
5. Thiago Castilho: Você nunca ocultou de ninguém sua relação problemática com as drogas. Como
é o cotidiano de um depende químico?
Renato Russo: A doença [dependência química] te domina de tal maneira que você pensa que é
daquele jeito, mas, na verdade, não é. É como uma depressão. Você não consegue sair daquilo, vai usando
isso, aquilo, e de repente o mundo vai se fechando. Você fica agressivo sem perceber. Tudo é cinza. Você
não consegue ver nada de positivo. E a vida não é nem boa, nem ruim: a vida é o que a gente faz da vida.
Mas, é claro, se você vive entupindo seu corpo com toxinas... No começo, é até interessante. É o que a gente
chama de lua de mel. Depois, é fatal. Quem é dependente químico, se não parar, morre. E, se não morrer de
overdose, suicídio ou câncer no fígado, morre em acidente de carro ou coisa assim. Quem não tem esse
problema acha que é frescura. Quem tem é geralmente gente muito sensível, é tudo uma gente maravilhosa
que entra no buraco e não sai. Todos os poetas e escritores são alcoólatras, eles têm uma coisa a mais. Mas a
verdade é que a droga não traz nada de bom para ninguém, eu é que achava que precisava de droga.
6. Thiago Castilho: (...) A beleza é um ponto de vista e há quem valorize mais o conteúdo do que a
forma. Você teve problemas com a sua aparência?
Renato Russo: Eu sempre tive trauma de ser feio. Eu achava que tinha direito a ter um ponto de
vista, e as pessoas riam da minha cara. E agora é: "Viu, Renato, você estava certo". Eu não sou nenhum
Paulo Ricardo, nenhum James Taylor, mas eu dou lá minhas reboladinhas, e as meninas gritam "Lindo!
Lindo!". Eu era magrelo, branquinho, com espinhas, e, de repente, consegui ter uma banda de rock. Por que
não? O pessoal me via: "Mas ele é que é o Renato Russo?". "É, mas as letras dele são bacanas".
7. Thiago Castilho: Segundo Sartre, "O inferno são os outros.". Sabemos que onde existem dois
seres humanos coabitando existe conflito. Como é a convivência na Legião Urbana?
Renato Russo: Conviver com uma banda é superlegal. Para mim, é uma das coisas mais importantes
da vida. Acho que trabalho é uma coisa muito importante. Eu tive sorte de encontrar não só o Dado e o
Bonfá, mas uma equipe que acredita no que a gente faz. Eu acho o Bonfá o mais inteligente da banda, mas
ele é mais caseiro. Então, fica parecendo que eu sou o mais inteligente, o mais culto. O Dado é o mais
sensível. No fim das contas, cada um de nós é uma pessoa, mas, pelo fato de a gente ter trabalhado tanto
tempo juntos, cada um de nós é uma parte da Legião Urbana. Nós temos muitas coisas em comum. E isso é
impressionante, porque somos três pessoas completamente diferentes. Como eles são mais jovens do que eu
— isso não é uma coisa que parte de mim —, às vezes eu sinto que eles se ressentem de ser essa coisa de
Renato Russo, Renato Russo, Renato Russo. O vocalista aparece mais, mas, às vezes, as pessoas têm a
impressão de que eu faço tudo. E eu não faço tudo, não. Têm músicas inteiras que o Dado me entrega a fita
pronta, eu só coloco a letra. E as pessoas não veem isso. Eles também não gostam muito de fazer entrevista.
8. Thiago Castilho: Imagino que tenha sido psicologicamente excruciante ou superpunk para você
descobrir que era soropositivo naquela época. Você poderia, por favor, descrever como foi essa experiência?
Renato Russo: A Aids coloca toda e qualquer ação humana sob outro prisma. A Aids acabou com a
segurança. As angústias voltaram a ser básicas. E pessoais. Pratico sexo seguro desde 1986. E acho que a
doença está mais ligada a um tipo de vida desregrada. Já perdi amigos. É uma coisa brutal, terrível. Mas
espero que agora, passados dez anos, a situação melhore. Esta garotada que está aí é bem mais informada.
9. Thiago Castilho: Defina o que foram os anos 90.
Renato Russo: Não queremos ser diferentes, e, sim, que todo mundo tenha o direito de ser como é.
Eu não preciso me sentir mal porque não sou igual ao garoto que está no anúncio do iogurte. É você ser
sexy, charmoso, com uma certa plasticidade corpórea. Cria-se uma geração de clones. Estes são os anos 90.
10. Thiago Castilho: Segundo Camões que conheci durante minha última viagem no tempo, somos
destinados a amar. Você ainda acredita no 'L'amour?
Renato Russo: Depois que eu me apaixonei de verdade, e não deu muito certo, então eu não consigo
mais... Eu fico esperando, putz, eu quero sentir aquilo de novo, mas aí, se começa, se o coração bate mais
rápido: "Ah, eu não sei se quero isso, não". Eu acreditei durante muito tempo em amor romântico. Hoje em
dia, eu não acredito em amor romântico, não. Eu acredito em respeito e amizade. De repente, sexo é tudo.
Ou, então, expressão física. Mas é assim: respeito e amizade. Porque paixão, essa coisa de amor romântico
mesmo, acho que traz muito sofrimento e sempre acaba. Você sofre, você fica pensando na pessoa, você não
funciona direito. Ao mesmo tempo em que você descobre muitas coisas boas em você — não sei, pelo
menos comigo acontece isso —, eu descubro sempre as invejas, certos ciúmes, uma certa possessividade, no
meu caso, muito machista. E isso incomoda. Eu sou ciumento, possessivo, italianão. Eu acho que o amor
verdadeiro não passa por isso, não.
11. Thiago Castilho: Você já tentou mulheres, por assim dizer. Afinal você tem um filho, Giuliano
Manfredini?
Renato Russo: Então, o Giuliano foi por encomenda. (risos) Na verdade, minhas melhores amigas de
hoje vêm de uma época em que eu estava tentando namorar garotas, para ver se deixava meus pais felizes, a
sociedade feliz. Namorei mulheres belas e interessantes. Uma delas foi a Denise Bandeira — posso dizer,
porque sei que ela não se importa —, aquele mulherão. Tentei, mas não deu certo comigo. Entendi que podia
namorar a mulher mais bonita do mundo, mas, quando passasse um bofe atraente, com o corpo cabeludo,
hummmm. Não deu, não dá.
12. Thiago Castilho: Recentemente você conseguiu se libertar do vício do álcool e agora você só
toma milk shake, certo? Parabéns. Mas por que você acha que mergulhou nesse abismo ziguezagueante do
alcoolismo ou essa é uma pergunta cretina?
Renato Russo: Não. Aquela história: bebia, porque sofria; depois, sofria, porque bebia. E bebia
muito para ser aceito, para que gostassem de mim. Sentia insegurança, tomava umas doses, ficava
espirituoso, virava o rei das pistas de dança.
13. Thiago Castilho: (...)Você nasceu com o dom artístico-musical, a inteligência criativa e o
vozeirão inigualável. Eu imagino que seja surreal senão transcendental ouvir 50.000 pessoas num estádio
gritando seu nome. Mas sempre tem a galerinha medíocre do contra, os inimigos inglórios. Enfim, qual é a
sua crítica da crítica?
Renato Russo: Se a crítica valesse alguma coisa, a gente não teria vendido o Que País é Este em São
Paulo. Saiu bem grande num jornal lá: "Legião Urbana lança disco esquálido e primitivo". Eu nunca vou me
esquecer. No entanto, o crítico que escreveu isso teve que ouvir a música por mais de um ano, tocando sem
parar, em todas as rádios. Eu acho que, aqui no Brasil, tem muito ranço, muita picuinha. (...) Porque você
pode até fazer uma crítica apontando as falhas, mas, ao mesmo tempo, encorajando as pessoas. O que
geralmente eles fazem é jogar seu ressentimento em cima das falhas das pessoas. Para mim, isto é inveja.
Deve ser porque eu sou gay, maravilhoso, e não preciso ficar indo a festinhas para me promover, não sento
mais no chão com os amigos fumando baseado e ouvindo Ramones. Eu fico em casa ouvindo Mozart. Foda-
se a imprensa! Sou formado em Jornalismo e sei como funciona essa corja. O Caetano tem toda razão: essas
bichas são danadinhas. Eu não me importo com o que a imprensa fale de mim, desde que meu disco venda.
Como diz Mick Jagger: "Tanto faz o que dizem na página 93 da revista, desde que eu esteja na capa". No
Brasil, este tipo de coisa é mais cruel, na medida em que as pessoas são mais ignorantes.
14. Thiago Castilho: Eu sei que é desagradável desenterrar essa ferida cicatrizada, mas eu gostaria
que você falasse um pouco sobre o tumulto ocorrido durante o show no estádio Mané Garrincha que resultou
em uma morte e 385 atendimentos médicos.
Renato Russo: Eu sempre quis falar isso: não vou pedir desculpas nem perdão, mas eu gostaria de
explicar que, se eu pudesse voltar no tempo, eu não faria certas coisas que fiz. No caso de Brasília, eu faria
tudo de novo. Da próxima vez, ainda levava uma metralhadora giratória e matava um monte de gente... Claro
que não. É brincadeira. No caso de Brasília, não faríamos o show.
15. Thiago Castilho: Certa vez o nosso querido Rauzito (Raul Seixas) disse que a solução era alugar
o Brasil. E para os jovens, qual é a solução, se existe?
Renato Russo: Quem não tem uma rede embaixo não vai tentar um triplo mortal. O movimento das
esquerdas nos anos 60 não deu em nada. Agora, tem que tentar um novo caminho, sem ter nenhuma saída: o
povo está sem educação, sem alimentação, e a estrutura política está totalmente sem base ética. Então, fica
muito difícil. Não tem modelo, não tem referencial, nem mentores que indiquem o caminho. Porque as
gerações anteriores, além de estarem totalmente desiludidas, jogam toda essa desilusão nos próprios jovens.
Um cara como o Ferreira Gullar dizer que a geração de roqueiros é uma geração sem caráter é de perder a
confiança. O Baden Powell também falou isso. E eram pessoas que eu respeitava. Então, em quem é possível
confiar? Em Caetano Veloso, mas ele está fora disso. O máximo que você pode fazer é tentar se interiorizar,
buscar algo de sobrevivência mesmo, tanto a nível psicoemocional como intelectual, informativo, social,
político, sexual, tudo.
16. Thiago Castilho: O que posso dizer? Muito obrigado por essa entrevista extraordinária, querido.
Nós amamos muito você. Você é único e insubstituível. Obrigado por ter nascido e nos legado sua obra
espetacular. Só mais uma pergunta, como é o lado de lá?
Renato Russo: Você sabe, o maior mistério é não haver mistério algum.
"Eu poderia ser a pessoa mais agradável do mundo, mas optei por ser eu mesmo." Renato Russo
Fique agora com o...
Álbum de recordações
Renato
O pai, Renato Manfredini (in memorian)
A mãe, Carminha
A irmã, Carmen Tereza
A família
O filho Giuliano Manfredini
Sua estátua, inaugurada na Estrada do Galeão - 2012
Do fundo do baú...
Aos 2 anos, no colo da mãe
O menino Renato
Outra
Renato Russo segurando a placa
Com a irmã
Renato e a irmã Tereza em frente a casa da Ilha do Governador, no Carnaval de 1969 – 9 anos
Aos 15
Aos 17, com a irmã
A primeira banda
Sua performance mais conhecida
Legião Urbana - Renato Rocha, Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá
Com Cazuza
Com o filho
Em sentido horário, a partir da foto da esquerda, acima: Renato Russo ao lado da irmã, Carmem;
junto com os pais e a irmã; em um acampamanto (deitado no chão) e ao lado da amiga Leo Coimbra, a
Mônica, que virou canção (Foto: Carmem Teresa Manfredini/Acervo pessoal e Mila Petrillo/Divulgação)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Renato_Russo
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“Pedacinho” às vezes exótico, ou pitoresco... interessante do Brasil, que eu vi por aí...
Uma coisa que me fascina é conhecer lugares que, antes, só conhecia em letras de música... (♪”No Abaeté
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