A Invenção Da Transexualidade

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III Simpósio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS) DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE A INVENÇÃO DA TRANSEXUALIDADE: DISCURSOS, PRÁTICAS E MODOS DE SUBJETIVIDADES. Fátima lima 1 Apresentação Pensar e definir a transexualidade não constitui uma tarefa fácil. Classificações estão presentes, tanto no ethos da saúde, expressas através de discursos e práticas, envolvendo uma rede multiprofissional e diferentes especialidades; quanto no imaginário social, retroalimentado por diferentes ideias do que vem a ser as experiências trans. A temática levanta polêmicas que abrangem discussões acerca do corpo, da sexualidade e da identidade, provocando inquietações em torno de pares dicotômicos clássicos como sexo/gênero, natureza/cultura, normal/patológico e saúde/doença. Nesse contexto, as estruturas binárias que parecem organizar o campo social e cultural, principalmente no que se refere aos comportamentos sexuais, têm sido colocadas cada vez mais em debate, ameaçando os alicerces sólidos nos quais se constituíram. Dessa forma, dissertar sobre a transexualidade é discutir como a cultura ocidental tem construído e naturalizado categorias como corpo/sexo/sexualidade. Nas últimas décadas, várias (os) transexuais ganharam visibilidades, alargando as fronteiras do gênero estabelecidas pela dicotomia feminino/masculino. Tomando as ideias do pensamento do Michel Foucault (1984; 1985; 1997; 2002) e da Judith Butler (1993; 1997) sobre os enunciados, discursos e práticas sobre os corpos, sexualidades e desejos; o presente texto tem como proposta analisar as produções discursivas sobre as transexualidades 2 no contexto dos serviços de saúde ou não. Como ideia central trabalha-se a força dos enunciados que transformam as experiências trans em patologia expressa através da norma psiquiátrica F.64x 3 . 1 Antropóloga, Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social/IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/UERJ. Professora Adjunta de Saúde Coletiva do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ campus de Macaé. 2 A presente reflexão parte da tese de doutoramento intitulada “A construção do Dispositivo da Transexualidade: saberes, tessituras e singularidades nas experiências trans” defendida no Instituto de Medicina Social/IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/UERJ sob a orientação de Márcia Arán. 3 Atualmente, a transexualidade é conhecida como Transtorno de Identidade de Gênero, denominação que ganhou legitimidade no Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders - DSM IV. No DSM IV a transexualidade passou a ser considerada um Transtorno de Identidade de Gênero ( F64.x) com características diagnóstica definidas, principalmente uma identificação com o gênero oposto e um desconforto com o próprio corpo. Em relação ao CID –10 a classificação da transexualidade aparece dentro dos Transtornos de Identidade de Gênero – F.64 que se encontra entre os Transtornos de Personalidade e Comportamento.

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A Invenção Da Transexualidade

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  • III Simpsio Nacional Discurso, Identidade e Sociedade (III SIDIS)DILEMAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE

    A INVENO DA TRANSEXUALIDADE: DISCURSOS, PRTICAS E MODOS DE SUBJETIVIDADES.

    Ftima lima1

    Apresentao

    Pensar e definir a transexualidade no constitui uma tarefa fcil. Classificaes esto

    presentes, tanto no ethos da sade, expressas atravs de discursos e prticas,

    envolvendo uma rede multiprofissional e diferentes especialidades; quanto no imaginrio

    social, retroalimentado por diferentes ideias do que vem a ser as experincias trans. A

    temtica levanta polmicas que abrangem discusses acerca do corpo, da sexualidade e

    da identidade, provocando inquietaes em torno de pares dicotmicos clssicos como

    sexo/gnero, natureza/cultura, normal/patolgico e sade/doena. Nesse contexto, as

    estruturas binrias que parecem organizar o campo social e cultural, principalmente no

    que se refere aos comportamentos sexuais, tm sido colocadas cada vez mais em

    debate, ameaando os alicerces slidos nos quais se constituram. Dessa forma,

    dissertar sobre a transexualidade discutir como a cultura ocidental tem construdo e

    naturalizado categorias como corpo/sexo/sexualidade. Nas ltimas dcadas, vrias (os)

    transexuais ganharam visibilidades, alargando as fronteiras do gnero estabelecidas pela

    dicotomia feminino/masculino.

    Tomando as ideias do pensamento do Michel Foucault (1984; 1985; 1997; 2002) e da

    Judith Butler (1993; 1997) sobre os enunciados, discursos e prticas sobre os corpos,

    sexualidades e desejos; o presente texto tem como proposta analisar as produes

    discursivas sobre as transexualidades2 no contexto dos servios de sade ou no. Como

    ideia central trabalha-se a fora dos enunciados que transformam as experincias trans

    em patologia expressa atravs da norma psiquitrica F.64x3.

    1 Antroploga, Doutora em Sade Coletiva pelo Instituto de Medicina Social/IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/UERJ. Professora Adjunta de Sade Coletiva do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ campus de Maca.

    2 A presente reflexo parte da tese de doutoramento intitulada A construo do Dispositivo da Transexualidade: saberes, tessituras e singularidades nas experincias trans defendida no Instituto de Medicina Social/IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/UERJ sob a orientao de Mrcia Arn.

    3 Atualmente, a transexualidade conhecida como Transtorno de Identidade de Gnero, denominao que ganhou legitimidade no Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders - DSM IV. No DSM IV a transexualidade passou a ser considerada um Transtorno de Identidade de Gnero ( F64.x) com caractersticas diagnstica definidas, principalmente uma identificao com o gnero oposto e um desconforto com o prprio corpo. Em relao ao CID 10 a classificao da transexualidade aparece dentro dos Transtornos de Identidade de Gnero F.64 que se encontra entre os Transtornos de Personalidade e Comportamento.

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    A partir de uma pesquisa emprica que consistiu na realizao de entrevistas semi-

    estruturadas com transexuais; profissionais de sade, entre outros sujeitos sociais que

    interagem de alguma forma com as experincias trans foi possvel observar que o

    conceito de transexualidade est permanentemente em negociao e abarca uma

    diversidade de experincias. Nesse sentido, a metodologia adotada toma como

    referncia as discusses no mbito da Sade Coletiva, das Cincias Sociais,

    principalmente a Cincia Antropolgica, atravs das discusses que tomam os discursos

    enquanto produes culturais (texto cultural) possveis de interpretao. Seguindo essa

    perspectiva, as entrevistas foram consideradas material etnogrfico, textos discursivos

    cujo objetivo interpretar os sentidos presentes em cada fala bem como a rede de

    significados que estabelecem entre si.

    Questes como: partindo dos e em relao aos domnios e s prticas discursivas em

    torno da transexualidade, como os sujeitos que vivenciam a experincia transexual se

    relacionam consigo mesmos, com seus desejos e modos de ser?, quais as negociaes

    permutadas constantemente entre sujeitos, saberes e prticas de poder? e, como os

    discursos institudos podem ser ressignificados e/ou subvertidos nas prticas cotidianas

    dos diferentes sujeitos transexuais? so norteadoras nas reflexes aqui apresentadas.

    A produo do dispositivo trans

    O conceito de dispositivo no pensamento de Michel Foucault uma ferramenta chave na

    compreenso da produo da transexualidade enquanto patologia. Deleuze (1990)

    discutindo o conceito de dispositivo no pensamento de Michel Foucault coloca que

    A filosofia de Foucault muitas vezes se apresenta como uma anlise de dispositivos concretos. Mas o que um dispositivo? Em primeiro lugar, uma espcie de novelo ou meada, um conjunto multilinear. composto por linhas de natureza diferente e essas linhas do dispositivo no abarcam nem delimitam sistemas homogneos por sua prpria conta (o objeto, o sujeito, a linguagem), mas seguem direes diferentes, formam processos sempre em desequilbrio, e essas linhas tanto se aproximam como se afastam uma das outras (DELEUZE, 1990, p.1).

    Percebe-se, dessa forma, que o dispositivo funciona como uma maquinaria que captura

    nas suas engrenagens sujeitos e corpos de forma plural, heterognea e difusa.

    importante perceber que o dispositivo no constitui um elemento fechado, mas um

    conjunto de diferentes linearidades que se articulam e rearticulam constantemente,

    conservando, no seu interior, a caracterstica das tenses e das contradies. O

    dispositivo por excelncia contraditrio, pois desvela o jogo paradoxal que se

    estabelece entre sujeitos e normas, revelando as sedimentaes e as fissuras

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    constituintes dele. Assim, compe-se tanto por enunciados, discursos, falas como por

    aes e prticas, no se configurado nem em sujeitos ou objetos, mas num regime de

    enunciaes que necessrio definir em funo do visvel e do enuncivel, com suas

    derivaes, suas transformaes, suas mutaes. E em cada dispositivo, as linhas

    atravessam limiares em funo dos quais so estticas, cientficas, polticas, etc.

    (DELEUZE, 1990, p. 2).

    Dessa maneira, apresentado-se de forma plural e heterognea, congregando desde

    instituies at as mais diferentes formaes discursivas, o dispositivo apresentado por

    Foucault (2002) atravs de trs possibilidades:

    [...] em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogneo que engloba discursos, instituies, organizaes arquitetnicas, decises regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados cientficos, proposies filosficas, morais filantrpicas. Em suma, o dito e o no dito so elementos do dispositivo. O dispositivo a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relao que pode existir entre estes elementos heterogneos. Sendo assim, tal discurso pode aparecer como programa de uma instituio ou, ao contrrio, como elemento que permite justificar e mascarar uma prtica que permanece muda; pode ainda funcionar como uma reinterpretao dessa prtica, dando acesso a um novo campo de racionalidade. Em suma, entre esses elementos discursivos ou no, existe um tipo de jogo, ou seja, modificaes de funes, que tambm podem ser muito diferentes. Em terceiro lugar, entendo dispositivo como um tipo de formao que, em um determinado momento histrico, teve como funo principal responder a uma urgncia. O dispositivo tem, portanto uma funo estratgica dominante (FOUCAULT, 2002, p. 244)

    Partindo dessa caracterizao, no mbito dos dispositivos, encontram-se desde estruturas

    arquitetnicas (igrejas, escolas, prises, instituies sociais, entre outros), normas,

    regulamentos, leis, postulados, proposies morais, ticas, estticas, entre outras formas

    de controle e resistncias cuja heterogeneidade caracterizada pela capacidade de unir

    pontos, de estabelecer conexes, de formar redes, configurando uma racionalidade a um

    determinado campo seja ele material e/ou discursivo. Dessa forma, os dispositivos se

    articulam e produzem-se em determinados momentos histricos com a funo estratgica

    de produo e sustentao de verdades. Foi assim com a sexualidade a partir dos sculos

    XVIII e XIX, e foi assim com a transexualidade a partir das primeiras dcadas do sculo XX

    e, mais precisamente, a partir de sua segunda metade.

    A ideia da transexualidade, enquanto um transtorno de identidade de gnero,

    resultado de um conjunto de saberes que, atravs de relaes e prticas de poder

    estabeleceram sobre os corpos, o sexo e a sexualidade toda uma organizao conceitual e

    prtica que permitiu e legitimou a transexualidade como um fenmeno por excelncia, do

    mbito mdico, principalmente psiquitrico.

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    No Cdigo Internacional das Doenas CID 10, a transexualidade figura o F64.0, fazendo

    parte dos transtornos de identidade sexual com a tipologia de transexualismo. No

    Manual de Diagnstico e Estatstica de Distrbios Mentais DSM-IV, a transexualidade

    passa a ser considerada uma disforia neurodiscordante de gnero, tendo como referncia

    o F64.x.

    Neste contexto, as relaes entre diferentes campos de saber Medicina, Psiquiatria,

    Sexologia, Sociologia, entre outros, contriburam para inveno da transexualidade

    enquanto fenmeno singular, definindo suas caractersticas bem como condutas

    teraputicas e prticas interventivas, transformando-se num imperativo normativo. Esse

    movimento se configurou a partir de um conjunto de enunciaes, prticas discursivas,

    postulados, pesquisas, e, principalmente de um feixe de relaes de fora (poder).

    Mesmo considerando toda uma dimenso mtica e histrica que tem recuperado as

    imagens e as presenas de transexuais em determinadas pocas histricas e outras

    culturas no ocidentalizadas como as comunidades tradicionais e tribais, o ponto de

    partida para compreenso da construo da transexualidade, enquanto patologia, a

    sociedade ocidental e capitalista na transio da modernidade para contemporaneidade.

    Sua gnese remete segunda metade do sculo XIX cuja consolidao pode-se perceber

    a partir da segunda metade do sculo XX (CASTEL, 2001) inscrita num conjunto de foras

    intelectuais e de pesquisas empricas que encontraram intensidade, principalmente, aps a

    2 Guerra Mundial com o desenvolvimento de pesquisas voltadas para as questes

    geradas pela guerra, consolidando uma tecnologia que tinha nas reconstituies dos

    corpos, seu objetivo principal. Tal fato aliado aos avanos no campo dos hormnios bem

    como as pesquisas em torno dos interssexuados constituram acontecimentos

    fundamentais na construo do dispositivo da transexualidade (HAUSMAN, 1995). Faz-se

    necessrio ressaltar que desde o final do sculo XIX e incio do sculo XX, diferentes

    pesquisas foram realizadas, tendo como foco a possibilidade de inverso sexual.

    Destacam-se as pesquisas desenvolvidas por Magnus Hirsifeld no Instituto de Cincias

    Sexuais em Berlim 1929, do mdico Steinach (que tentou a implantao de ovrios em

    um sujeito biologicamente masculino) e Felix Abram (responsvel pela 1 cirurgia de

    redesignao sexual (CASTEL, 2001; SAADEH, 2004; ARN, 2006).

    Mas, foi a partir do final da 2 Guerra Mundial que a questo da transexualidade se

    consolidou. Constituram movimentos importantes: a utilizao do termo

    Transexualismo, inicialmente por Cauldwell, em 1949, atravs do artigo Psychopatia

    Transexualis e a documentao e publicizao, em 1952, da primeira cirurgia para

    adequao do sexo, na cidade de Copenhague Dinamarca: o ex-soldado americano

    Georges Jorgensen passava a ser Cristine Jorgensen (FRIGNET, 2002; RANSEY, 1998;

    VIEIRA, 1996; PERES, 2001, CASTEL, 2001; CHILLAND, 2003).

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    Do ponto de vista das formulaes tericas e desenvolvimento de pesquisas, os alicerces

    da ideia da transexualidade, enquanto doena, encontram-se nas obras do

    endocrinologista Henry Benjamim, do mdico psiquiatra Jonh Money e do psicanalista

    Robert Stoller. Esses pensadores, atravs de suas pesquisas, equipes de pesquisadores,

    anlises, formulaes e teorias constituem a base epistemolgica e prtica sob a qual a

    transexualidade se consolidou no sculo XX.

    Henry Benjamim a primeira referncia conceitual sobre o fenmeno da transexualidade,

    atravs da publicao do livro O fenmeno transexual, em 1953. Nessa obra, definiu e

    classificou a transexualidade, dando-lhe os contornos e especificidades de um objeto

    prprio no campo das patologias sexuais. Definiu a singularidade da transexualidade em

    oposio ao hermafroditismo, homossexualidade e ao transvestitismo, estabelecendo

    uma tipologia gradativa que ia do pseudo transexual ao transexual verdadeiro. Alm disso,

    foi responsvel por se ter estabelecido uma conduo teraputica que iria se transformar

    numa referncia na segunda metade do sculo XX, atravs do Instituto Henry Benjamin,

    ainda uma das maiores e mais influentes autoridades no campo da transexualidade.

    O nome de John Money aparece com fora na cultura norte-americana a partir da dcada

    de 1960 e liga-se particularmente a um grupo de trabalho do Jonh Hopkins Hospital. As

    pesquisas desenvolvidas no mbito da clnica de identidade sexual representam um

    conjunto de formulaes tericas e prticas de intervenes clnicas fundamentais na

    separao da transexualidade dos casos de intersexualidade. Alm disso, seus trabalhos

    foram importantes na introduo de uma dimenso sociolgica e psicolgica a partir das

    noes de identidade e papis sexuais na compreenso e explicao do fenmeno da

    transexualidade.

    Por fim, os trabalhos desenvolvidos por Roberto Stoller somam-se a essa seara discursiva

    na medida em que suas pesquisas, principalmente, em relao noo de gnero foi

    outro ponto importante na produo do se que est designando como dispositivo da

    transexualidade. possvel encontrar outros pensadores que desenvolveram discusses e

    pesquisas acerca da transexualidade. No entanto, o pensamento de Benjamin, Money e

    Stoller o pilar epistemolgico e clnico nas formulaes das discusses tericas

    ( discursivas) e prticas sobre a transexualidade.

    No apenas a transexualidade se tornou visvel, mas diferentes profissionais e centros de

    especialidades tornaram-se referncias mundiais na construo do dispositivo da

    transexualidade. So exemplos a Harry Benjamin Internacional Gender Dysphoria

    Association (HBIGDA), o Jonh Hopkings Hospital e a Associao Americana de Psicologia

    (APA) que assumem um papel mundial como referncia nas questes sobre

    transexualidade. Essas instituies e organizaes so elementos fundamentais tanto

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    na conceituao e tipificao da transexualidade quanto nas condutas teraputicas

    estabelecidas e adotadas por diversos pases no tratamento s (aos) transexuais

    Na complexa realidade brasileira, a questo da transexualidade ocupa cada vez mais o

    campo das discusses quanto das demandas no campo do Direito, da Sade Coletiva e da

    Sade Pblica. Atualmente, o Brasil possui 04 (quatro) Servios de Atendimento

    reconhecidos pelo MS como referncia no tratamento da transexualidade. Alm desses,

    existem outros Servios tanto pblicos quanto privados que tm como objeto de

    interveno e conduo teraputica os casos denominados de transexualidade. Sem dvida,

    esses servios tm um papel e uma importncia fundamental na minimizao do sofrimento

    subjetivo presente nos sujeitos trans. Funcionam como um espao produtor de

    subjetividades.

    Sujeito (s), Corpo(s) e Norma(s): produes discursivas e modos de

    subjetivaes.

    Os sujeitos e os corpos aparecem na gramtica cultural a partir da constante reiterao

    que mantm com as normas sexuais e sociais. esse conjunto de caractersticas,

    enunciados, postulados, expectativas, entre outros que produzem o reconhecimento dos

    sujeitos sociais como sujeitos de gnero. Para Judith Butler (1993; 2003) a

    inteligibilidade dos corpos est ligada coerncia entre sexo/gnero/desejo. Os sujeitos

    e seus corpos tornam-se inteligveis no mbito de uma matriz a matriz

    heteronormativa - que produz a sensao de uma estabilidade, expressa atravs das

    ideias naturalizadas do que ser mulher e, ser homem. A construo desta suposta

    estabilidade dar-se a partir de atos de fala, enunciados que produzem sobre os sujeitos

    e corpos reiteraes normativas e se materializam atravs de atos performativos.

    O conceito de matriz cultural das identidades de gnero um dos pontos-chaves das

    discusses de Judith Butler. Entender a sua constituio, suas contradies e

    historicidade torna-se imprescindvel para a discusso da sexualidade e das questes de

    gnero. No entendendo o sexo, o gnero e a sexualidade como algo dado, mas como

    uma produo cultural, a autora figura sua dinmica no que denomina de matriz. a

    matriz cultural e normativa, leia-se, a matriz heterossexual que opera de forma

    compulsria no estabelecimento de sujeitos e corpos que sejam reconhecidos e

    legitimados socialmente. Esses corpos, ou melhor, essa dimenso corporal o que

    confere o carter de inteligibilidade aos sujeitos sociais.

    Assim, sexo/gnero/desejo mantm uma coerncia interna em que cada termo

    caracteriza-se por uma univocidade. O sexo toma como caracterstica fundamental o

    princpio, a base sob a qual se constituiria o gnero e o desejo. Esse espectro contnuo

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    reafirma os sujeitos e os corpos reconhecveis socialmente. No entanto, a

    descontinuidade e a incoerncia marcam tambm o sistema de gnero cujas subverses

    so constantemente produzidas em relao norma estabelecida. Esse movimento pelo

    qual os gneros se tornam inteligveis acontece numa relao paradoxal com corpos e

    identidades que subvertem a matriz culturalmente estabelecida. O reconhecimento e a

    inteligibilidade s se fazem possveis a partir da excluso de outras identidades.

    Ao tempo em que a matriz cultural da identidade de gnero a matriz da

    heterossexualidade compulsria exige que certos tipos de identidades que no se

    amparam na poltica de direito institudo pelas leis culturais (BUTLER, 2003, p. 39) no

    possam existir, essa mesma matriz proporciona um tensionamento de outras

    identidades de gnero que persistem e proliferam criando oportunidades crticas de

    expor os limites e os objetivos reguladores desse campo de inteligibilidade e,

    consequentemente, de disseminar nos prprios termos dessa matriz de inteligibilidade,

    matrizes rivais e subversivas de gnero (BUTLER, 2003, p. 39). Percebe-se que, o

    termo gnero , aqui, empregado levando em considerao seu carter de

    complexidade. Entende-se o gnero como algo aberto, um espao permissvel s

    mltiplas convergncias e divergncias, sem obedincia um telos normativo e definidor

    (BUTLER, 2003, p. 38).

    A partir desse entendimento, as construes das identidades transexuais se inscrevem

    num caminho biogrfico, onde, na maioria das vezes, passa por um encontro e

    tensionamento com as identidades homossexuais. Eduardo, transexual, conta como essa

    tenso de identidades marcou sua trajetria e reconhecimento enquanto transexual.

    E eu sempre me senti lsbica, lsbica masculina, lsbica caminhoneira, butch4, esses nomes que todos tm, tinham. Quando eu comecei a militar, em 2005, que at ento eu no militava, eu s comecei a militar em 2003, eu me identificava como mulher, mas eu no me encaixava no grupo de lsbicas, no era aquilo. Eu olhava as lsbicas, e falava Mas eu no sou assim, no me enquadro assim!. complicado porque... E a tinha lsbica que falava Para ser lsbica no precisa ser assim!, que era ser bem masculina, tinha umas que falavam isso. Mas realista porque eu no sou uma mulher que faz sexo com uma mulher. Fragmento do depoimento do transexual Eduardo5.

    O discurso de Eduardo desvela a reafirmao, ou, ao menos, a tentativa de perceber e

    encontrar uma coerncia para si como para o social, o que significava a sua condio de

    estar no mundo. Quando diz eu sempre me senti lsbica esse fragmento revela a

    necessidade de uma continuidade: nasci mulher, gosto de mulher, portanto, sou lsbica.

    4 Este termo refere-se s lsbicas masculinizadas. um termo pejorativo que acabou sendo positivado por algumas lsbicas que reivindicam o direito s performatividades de gneros.

    5 Os nomes das (os) transexuais bem como das (os profissionais de sade e outras(os) informantes so fictcios preservando o sigilo e o respeito no fazer cientfico.

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    No d para nascer mulher e sentir-se, se perceber-se homem. A matriz de

    inteligibilidade no comporta a ruptura da gramtica normativa a esse ponto, pois o que

    foge, o que subverte a heteronormatividade constitui abjees que mantm com a

    gramtica heteronormativa uma constante reiterao.

    Outro fato que a fala de Eduardo desvela so as discusses apresentadas por Butler

    sobre a ideia do gnero como um ato performativo. Para a autora, a constituio dos

    sujeitos de gnero se d atravs da reiterao com a norma. Esse movimento se efetiva

    a partir de atos que so internalizados a partir de seu carter performativo. Esses atos,

    gestos e atuaes, entendidos em termos gerais so performativos, no sentido de que a

    essncia ou a identidade que por um lado pretendem expressar so fabricaes

    manufaturadas e sustentadas por signos corpreos e outros meios discursivos (BUTLER,

    2003, p. 194) em que os atos e gestos, os desejos articulados e posto em ato criam a

    iluso de um ncleo interno e organizador do gnero, iluso mantida discursivamente

    com o propsito de regular a sexualidade nos termos da estrutura obrigatria da

    heterossexualidade reprodutora (BUTLER, 2003, p. 195). Eu acho que voc precisa se

    sentir mulher, se no como que voc vai fazer uma cirurgia para ser mulher?...

    Fragmento do depoimento da transexual Beatriz.

    Butler (2003) apresenta um debate interessante sobre a ideia do original e da cpia

    nas produes de identidades no universo trans; principalmente acerca das identidades

    butch e drag. Perguntas com: h uma imagem original que norteia todas as construes

    performativas na gramtica dos gneros? o modelo heterossexual o original cujas

    performances gays seriam uma cpia? Ou na verdade no h um original, mas cpias

    de cpias em atos performativos? norteiam as reflexes. Eis a corroborao dessa ideia:

    A noo de uma identidade original ou primaria do gnero frequentemente parodiada nas prticas culturais do travestismo e na estilizao sexual das identidades butch/femme. Na teoria feminista, essas identidades parodsticas tem sido entendidas seja como degradantes das mulheres, no caso do drag e do travestismo, seja como uma apropriao acrtica da estereotipia dos papis sexuais da prtica heterossexual, especialmente no caso das identidades lsbicas butch/femme. Mas a relao entre a imitao e o original mais complicada, penso eu, do que essa crtica costuma admitir. Alm disso, ela nos d uma indicao sobre a maneira como a relao entre a identificao primria isto , os significados originais atribudos ao gnero e as experincias posteriores do gnero pode ser reformulada. A performance do drag brinca com a distino entre a anatomia do performista e o gnero que est sendo performado. Mas, estamos, na verdade , na presena de trs dimenses contingentes da corporeidade significante: sexo anatmico, identidade de gnero e performance de gnero (BUTLER, 2003, p. 196).

    Essa anlise interessante, pois Butler desfaz a ideia da existncia de um gnero

    original. Pelo contrrio, atravs dos atos performativos instaura-se uma pardia de

    gnero que dramatiza constantemente os papis de gnero estabelecidos culturalmente.

    Os corpos assumem, nesse debate, um espao relevante na medida em que se

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    materializam nas relaes de gnero. Para Foucault, o corpo no sexuado de nenhuma

    forma antes de sua produo discursiva. O corpo emerge enquanto significado no mbito

    do discurso e no feixe de relaes de poder. Nesse vis, o corpo desnaturalizado tanto

    de sua dimenso biolgica, ontolgica e socialmente construda, passando a ser

    entendido como efeito das relaes de poder. Nesse movimento, a sexualidade constitui

    uma das formas, um dos domnios onde o poder atua produzindo o sexo, ao mesmo

    tempo em que o mascara e naturaliza.

    Nas falas tanto das (os) transexuais quanto dos diferentes profissionais de sade essa

    naturalizao e estabilidade foi uma constante. H, no mbito desse imaginrio, ideia e

    papis estabelecidos do que ser mulher e ser homem. Esse imperativo normativo

    tambm se traduz nos servios de sade como revelam o fragmento do depoimento

    abaixo:

    Orientar ele desde a calcinha que ele vai usar, a cinta que ele vai usar, o comportamento, s vezes, dar dicas do comportamento pessoal dele, a convivncia dele com outras mulheres, trocar ideia, porque ele vai mudar tudo na sua vida, o guarda-roupa inteiro. Agora, ele tem que se ver como mulher, com comportamento de mulher, que outra realidade. Porque o comportamento dele tem que se adequar postura da mulher. Depoimento da Enfermeira Maria

    Outro aspecto que sobressa nas produes discursivas em torno do universo trans o

    jogo tenso com categorias identitrias presente no universo Gay, principalmente as (os)

    travestis:

    E porque ela, assim, a grande diferena ... a mulher transexual passa pela identidade, no pela sexualidade. diferente uma mulher transexual uma mulher que quer ser tratada, fazer a cirurgia diferente de uma travesti que sempre evita6[...]. Fragmento da entrevista com a transexual Tas.

    Ento, eu disse para a minha mdica: transexual para mim no travesti, e eu no considero que eu sou um travesti. Eu tenho muito tempo sendo homem e eu sinto como homem a... Depoimento do transexual Antonio.

    Outro fato que se revela nos depoimentos trans refere-se constante tenso corpo

    biolgico, construo de si e modos de subjetivaes cuja marca da dor, do preconceito,

    das indagaes sobre si e sobre os outros marcam constantemente as vivncias

    cotidianas.

    Com os meus 12 anos, na adolescncia, quando eu comecei a mudar, eu no entendia o que estava acontecendo. O que eu estava fazendo ali, se eu pensava e agia de outro jeito? Eu saia na rua de um jeito e quando chegava na rua me vestia de outro e aquilo me fazia mal. Quando eu voltava para casa colocava aquelas

    6 Referncia cirurgia de transgenitalizao.

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    roupinhas tudo de volta para a minha me no ver. Fragmento do depoimento da transexual Beatriz

    um conflito muito grande, uma luta com voc mesmo, como te falo, voc acaba se escondendo de muitas coisas por voc est lutando com voc mesmo. Voc saber que seu mundo interior uma coisa muito grande e que uma coisa to pequena e o seu exterior no deixa voc colocar seu interior para fora. o mnimo detalhe que faz voc viver uma priso dentro de voc, um conflito muito grande.

    CONCLUSO

    A transexualidade um dos temas privilegiados no debate atual sobre corpo,

    sexualidade, gnero e desejo. A compreenso desse processo bem como suas

    transformaes depende do entendimento, anlise e reflexo crtica da transexualidade

    enquanto um dispositivo. O surgimento da sociedade disciplinar, tal como sugere

    Foucault, foi condio imprescindvel na reconfigurao das relaes entre o poder e a

    forma de controle do corpo tanto individual (anatomo-poltica) quanto social. No interior

    dessas relaes, as sexualidades, sua polissemia e polimorfia, foram capturadas pelo

    modelo biopoltico, transformando-as num espao de controle, disciplinarizao,

    produes de verdades e intervenes que se constituram a partir da coadunao de

    diferentes saberes e um feixe de relaes de fora (poder) disseminado por todo tecido

    social - o micropoder.

    A partir das relaes estabelecidas entre diferentes domnios de conhecimento,

    principalmente a Medicina, a Psiquiatria, o Direito, a Psicologia e a Sociologia a

    transexualidade transformou-se numa patologia caracterizada no mbito dos transtornos

    mentais marcados por uma relao com o gnero. A configurao da norma transexual

    expressa atravs do DSM IV e do CID 10 constitui um evento que consolidou um

    movimento que, a partir do final do sculo XIX e transio para o sculo XX, comeava a

    produzir no apenas discusses acerca dos sujeitos, corpos e gneros, mas comeavam

    um processo de intervenes corporais que uniam a tecnologia ao campo da Medicina.

    Nesse contexto, as discusses em torno da transexualidade deram-se em relao

    travestilidade e, principalmente, a intersexualidade em que a separao e a

    singularizao dela se deu a partir de uma nosologia e uma nosografia prprias que

    delimitaram as fronteiras, as caractersticas e as condues da patologia. Essa norma

    a ideia da transexualidade enquanto um transtorno de identidade de gnero, passou a

    funcionar de forma imperativa caracterizando e determinando os comportamentos trans.

    Sem dvida, as discusses e pesquisas tanto do Henry Benjamin quanto do John Money

    e do Robert Stoller foram fundamentais nesse processo. Aliado a isso, a descoberta e

    uso dos hormnios bem como os avanos no campo das cirurgias plsticas foram

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    elementos importantes neste processo. Esse conjunto de acontecimentos composto por

    produes discursivas, postulados, teses cientficas, pesquisas e experincias,

    instituies sociais entre outros, compe o que se designa como dispositivo da

    transexualidade, passando a operar como um imperativo cujos corpos, sexualidades,

    gneros e desejos so compulsoriamente enquadrados na norma.

    O objetivo do texto aqui apresentado foi perceber e analisar como se d a interao e a

    reiterao dos sujeitos trans com a norma psiquitrica. Percebendo esse movimento

    marcado por relaes de poder e, entendendo que onde h o poder, apresentam-se as

    possibilidades de resistncias, as anlises das subverses normativas tambm passaram

    a pautar as discusses aqui presentes. Tal fato desvelou o intricado jogo que perfaz a

    experincia da transexualidade em que possvel perceber o paradoxo de reiterao e

    subverso das normas. Esse movimento alarga as fronteiras dos gneros e da

    transexualidade, contribuindo para reafirmao das pluralidades de experincias

    possveis de serem construdas e vivenciadas no mbito da complexa transexualidade. A

    emergncia desses saberes, seja no mbito do conhecimento, a partir de diferentes

    estudos que tm trazido as falas subalternas mulheres, homossexuais, etnias

    negras, entre outros, ou no mbito dos movimentos sociais e das prticas cotidianas

    mostram como os sujeitos elaboram, vivenciam e negociam suas experincias. No

    fenmeno da transexualidade essa possibilidade oxigena o campo conceitual e tcnico.

    Por fim, pode-se perceber que no mbito da construo das identidades transexuais se

    revela um jogo conceitual e esttico onde a transexualidade ora reafirma-se por uma

    identidade essencial ora por uma pluralidade. Nesse contexto, observa-se num primeiro

    momento que a transexualidade pode se constituir numa tenso com a travestilidade,

    onde A (o) transexual tem certeza de que antes de tudo mulher ou homem, sem

    espao para ambigidade. Neste sentido, a certeza de pertencimento ao outro gnero

    requer necessariamente a adequao do corpo. Esse movimento acaba por naturalizar

    as identidades e papis femininos e masculinos, reafirmando a ideia do verdadeiro

    sexo e transexual verdadeiro, um dos elementos importantes na construo do

    dispositivo. Por outro lado, foi possvel perceber outras leituras que abriram as

    possibilidades conceituais e estticas nas experincias trans, acolhendo a diversidade do

    que vem a ser mulher e homem, apontando um horizonte cujas transexualidades

    emergem e ganham fora na contemporaneidade, redefinindo os elementos do prprio

    dispositivo.

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    CONCLUSO