A INTERSECCIONALIDADE E A DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA E...

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Departamento de História A INTERSECCIONALIDADE E A DISCRIMINAÇÃO DE RAÇA E GÊNERO NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA PUC-RIO. Aluna: Bruna da Silva e Silva Orientadores: Margarida de Souza Neves, Silvia Ilg Byington e Eduardo Gonçalves Introdução Um dos marcos da contemporaneidade reside em tentar lidar com a diversidade, individualidade e a identidade dos seres humanos. A PUC-Rio é uma instituição que existe há mais de setenta anos e para tanto, com o objetivo de preservar a memória institucional da Universidade e fazer com que as memórias de seus múltiplos e diversos egressos não fosse negligenciada, fez-se necessária a criação do Núcleo de Memória. Em 2006, o Núcleo foi criado concomitantemente à comemoração dos 40 anos da universidade. Inicialmente o mesmo esteve voltado apenas para os estudantes de pós- graduação e aos poucos teve sua atuação estendida para todos. Assim foi definitivamente constituído o Núcleo de Memória da PUC-Rio, para que esta complexa tarefa zelar pela memória da Universidade pudesse ser realizada de maneira mais eficaz e disponibilizada à comunidade acadêmica. Com o passar dos anos, através do acervo físico e digital - que é aberto para a colaboração de membros tanto dentro quando fora da PUC –, o Núcleo auxilia na preservação e no armazenamento da memória da instituição, para que os acontecimentos não fiquem relegados ao passado e possam continuar sendo construídos no presente por seus membros docentes e discentes. Para tanto, dentre as atividades propostas, destacam-se o site para a procura de acervos, a produção dos anuários, dos PIBICs e os eventos organizados, fazendo do Núcleo de Memória um espaço primordial dentro da universidade. A coordenação da equipe é feita pela professora Margarida de Souza Neves, pelos pesquisadores: Silvia Ilg Byington, Clóvis Gorgônio e Eduardo Gonçalves. Incluem-se também o fotógrafo Antônio Albuquerque, os bolsistas de iniciação científica: Rodrigo Lauriano Soares, Milena Pereira, Bruna da Silva, Caren Ferreira, Miguel Azaldegui e André Mesquita Penna Firme. Este relatório visa deixar disponível à comunidade minhas atividades enquanto bolsista, exercidas entre Novembro de 2015 a Julho de 2016, que se desdobram em duas partes: O relatório técnico descreve brevemente as atividades coletivas, feitas pela equipe do Núcleo de Memória, e as atividades individuais que exerci. O relatório substantivo, que consolida em texto a pesquisa realizada, encontra-se adiante. Relatório Técnico 1 - Atividades em equipe

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    A INTERSECCIONALIDADE E A DISCRIMINAO DE RAA E

    GNERO NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA PUC-RIO.

    Aluna: Bruna da Silva e Silva

    Orientadores: Margarida de Souza Neves, Silvia Ilg Byington e Eduardo Gonalves

    Introduo

    Um dos marcos da contemporaneidade reside em tentar lidar com a diversidade, individualidade e a identidade dos seres humanos. A PUC-Rio uma instituio que existe h mais de setenta anos e para tanto, com o objetivo de preservar a memria institucional da Universidade e fazer com que as memrias de seus mltiplos e diversos egressos no fosse negligenciada, fez-se necessria a criao do Ncleo de Memria.

    Em 2006, o Ncleo foi criado concomitantemente comemorao dos 40 anos da universidade. Inicialmente o mesmo esteve voltado apenas para os estudantes de ps-graduao e aos poucos teve sua atuao estendida para todos. Assim foi definitivamente constitudo o Ncleo de Memria da PUC-Rio, para que esta complexa tarefa zelar pela memria da Universidade pudesse ser realizada de maneira mais eficaz e disponibilizada comunidade acadmica.

    Com o passar dos anos, atravs do acervo fsico e digital - que aberto para a colaborao de membros tanto dentro quando fora da PUC , o Ncleo auxilia na preservao e no armazenamento da memria da instituio, para que os acontecimentos no fiquem relegados ao passado e possam continuar sendo construdos no presente por seus membros docentes e discentes. Para tanto, dentre as atividades propostas, destacam-se o site para a procura de acervos, a produo dos anurios, dos PIBICs e os eventos organizados, fazendo do Ncleo de Memria um espao primordial dentro da universidade.

    A coordenao da equipe feita pela professora Margarida de Souza Neves, pelos pesquisadores: Silvia Ilg Byington, Clvis Gorgnio e Eduardo Gonalves. Incluem-se tambm o fotgrafo Antnio Albuquerque, os bolsistas de iniciao cientfica: Rodrigo Lauriano Soares, Milena Pereira, Bruna da Silva, Caren Ferreira, Miguel Azaldegui e Andr Mesquita Penna Firme.

    Este relatrio visa deixar disponvel comunidade minhas atividades enquanto bolsista, exercidas entre Novembro de 2015 a Julho de 2016, que se desdobram em duas partes: O relatrio tcnico descreve brevemente as atividades coletivas, feitas pela equipe do Ncleo de Memria, e as atividades individuais que exerci. O relatrio substantivo, que consolida em texto a pesquisa realizada, encontra-se adiante.

    Relatrio Tcnico

    1 - Atividades em equipe

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    importante sinalizar que diversos tpicos presentes nesta parte do relatrio foram escritos coletivamente pelos bolsistas. Entre novembro de 2015 e julho de 2016, realizei as seguintes atividades com a equipe do Ncleo de Memria da PUC-Rio:

    01. Reunies tcnicas semanais com a participao de toda a equipe: coordenadores, pesquisadores e bolsistas; tendo como principais metas elaborar projetos, sistematizar a agenda de tarefas, trocar experincias, discutir textos produzidos pela equipe, estabelecer procedimentos metodolgicos comuns e sanar eventuais dvidas sobre a rotina de trabalho;

    02. Publicao do acervo atravs do website do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    03. Produo e edio de contedo, textos e imagens, para publicao no website do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    04. Produo do Anurio da PUC-Rio;

    05. A equipe do Ncleo de Memria escreve uma coluna para toda a edio do Jornal da PUC. Em 2015, a coluna teve como tema "A PUC-Rio e os 450 anos da cidade, e esse ano a temtica sobre os funcionrios que completam 50 anos de trabalho na Universidade, e cada bolsista em parceria com algum coordenador ir escrever uma crnica;

    06. Atendimento a solicitaes relativas pesquisa no acervo, cesso e autorizao de uso de documentos e perguntas sobre temas abordados. As consultas, internas e externas Universidade, so respondidas diretamente pela equipe ou encaminhadas aos setores responsveis;

    07. Consulta a professores, pesquisadores, ex-alunos e funcionrios administrativos para coleta e aferio de documentos e informaes pesquisadas.

    08. Identificao de fotografias coletadas e selecionadas para cadastro no acervo do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    09. Catalogao e sistematizao do material documental atravs de digitalizao e cadastro em metadados no acervo do Ncleo de Memria da PUC-Rio;

    10. Realizao de seminrios tericos internos com a participao dos componentes da equipe para discusso sobre conceitos de Memria. Esse ano, a equipe trabalhou com os seguintes objetos:

    10.1. Seminrio terico interno no qual a equipe debateu os dois primeiros captulos do livro "O Sabor do Arquivo" de Arlette Farge e discutimos sobre como a autora mobiliza os registros de arquivos policiais da Frana, no sculo XVIII, de modo a transverberar esse contexto social. Ao revelar essas situaes, Farge mostra ao leitor que os documentos arquivados so como um conjunto de informaes que permitem ao pesquisador descobrir novas histrias, crimes e costumes da sociedade da poca. Atravs dessa abordagem, sua pesquisa no arquivo passa a ser interpretada como uma experincia encantadora, ao invs de ser retratada como uma vivncia montona.

    10.2. Seminrio terico sobre o livro Cidade das letras de ngel Rama; A equipe debateu questes elaboradas pelo autor sobre a construo dos smbolos e das cidades no contexto da colonizao espanhola na Amrica.

    10.3. Seminrio realizado pela professora Margarida de Souza Neves sobre conceitos de memria: Com o intuito de apresentar possveis ferramentas tericas para os projetos de PIBIC dos bolsistas e aprofundar o debate sobre a memria entre os membros do Ncleo, a professora introduziu distintos autores que versam sobre o tema, entre eles, Gilberto Velho,

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    Pierre Nora, David Lowenthal, Tzevetan Todorov, Jacques Le Goff, Paolo Rossi e outros. Com um carter mais expositivo, o seminrio trouxe noes fundamentais sobre o assunto, e props relaes entre elas. Entre distintas formas de se pensar a memria, influenciadas pelos mltiplos campos do conhecimento representados pelos autores, tivemos por exemplo, entendimentos que trazem a geografia como forma explanatria, como Lowenthal prope ao falar do passado, transpassado pelos caminhos da histria e memria, esta vista como pas estrangeiro que deve ser explorada e descoberta. Ou tambm, atravs da antropologia, com Gilberto Velho analisando as relaes orgnicas entre a memria, identidade e projeto, e como estas se constituram com o advento das sociedades modernas individualistas. O ponto comum, que pode-se enxergar em meio a mltiplos saberes, que memria uma construo do presente, e que a conscincia de seus usos e potenciais, fundamental para que no se cometam abusos e no se limite as possibilidades do futuro. Contamos com a participao especial da me do bolsista Andr Penna-Firme.

    10.4. Seminrio realizado pelo bolsista Andr M. Penna-Firme sobre o artigo Memria, identidade e projeto do Gilberto Velho: Foi entendido que seria de auxlio maioria dos bolsistas, que altura do seminrio estavam na reta final de escrita de seus relatrios, a discusso sobre os conceitos que Gilberto Velho relaciona em seu texto. O bolsista fez uma breve apresentao da estrutura do texto e como os conceitos so postos em jogo, para que em seguida fosse aberto um debate sobre estas categorias, to complexas independente de o quanto nos relacionemos com elas todos os dias. A professora Margarida atentou para o carter no natural da memria, e como essa presentifica o passado assim como os projetos trazem ao presente o futuro. Foi chamado ateno tambm para o cuidado ao se fazer a distino entre a memria no mundo moderno individualista, como diz Velho, e a mesma em sociedades tradicionais, holsticas, e que no se pode pensar nesta como mais verdadeira que aquela, a partir do momento que se entende que toda memria construo de narrativa e escolha, mesmo inconsciente, daquilo que se lembra. Na discusso foi ressaltado que memria, como o presente do passado, projeto, como o presente do futuro e identidade, se relacionam mutuamente e se influenciam ao passo que so influenciados, e que os trs, apesar de transportarem tempos e experincias, acontecem somente no presente.

    11. Esse ano o Ncleo de Memria est produzindo um livro sobre a Igreja do Sagrado Corao de Jesus, localizada na PUC-Rio, e os bolsistas em parceria com os coordenadores esto escrevendo os captulos;

    2 - Atividades individuais Durante o mesmo perodo que constam as atividades em equipe, realizei as seguintes

    tarefas individuais no Ncleo de Memria:

    01. Participao na oficina de metadados, junto com o bolsista Rodrigo Lauriano Soares, promovida pelo pesquisador Clvis Gorgnio. Nela pde-se perceber os diversos tipos de documentos que existem, como funcionam os sistemas de catalogao e com o auxlio do pesquisador Eduardo Gonalves, cadastramos algumas fotos no banco de dados do Ncleo de Memria.

    02. Digitalizao dos exemplares da revista catlica A Ordem, fundada no Rio de Janeiro, em 1921, por Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima como Diretor-Responsvel.

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    ndice da revista A Ordem

    Fonte: Acervo do Ncleo de Memria da PUC-Rio

    03.No perodo de 2016.1, cursei a disciplina de Gnero/Relaes Internacionais, com a professora Andrea Browning Gill e sua estagiria docente Amanda lvares Ferreira. A disciplina explorou questes de gnero e sexualidade enquanto relaes de poder na sociedade contempornea, trabalhadas atravs de crticas e narrativas interseccionais, de modo a contemplar tambm as dinmicas de raa e classe. No decorrer das aulas, consegui traar pontes sobre o que estava aprendendo em sala com a minha pesquisa individual.

    04.Participei do minicurso de Feminismo na Amrica Latina, ministrado por Manoela Miklos, de 30 de maio de 2016 at o dia 01 de junho de 2016. Estas aulas me permitiram compreender o desdobramento das diversas ondas do feminismo na Amrica Latina e como a interseccionalidade foi se formando no decorrer do processo de desenvolvimento do movimento feminista.

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    05.Pesquisa no acervo do Jornal da PUC com o pesquisador Clvis Gorgnio, a fim de encontrar imagens e informaes publicadas no jornal sobre a construo da Igreja Sagrado Corao de Jesus, para a elaborao do livro sobre as obras de arte dessa Igreja.

    06.Pesquisa sobre o seminrio de iniciao cientfica PIBIC. A bolsa de estudos no Ncleo tambm implica na produo de um relatrio de pesquisa para o Seminrio de Iniciao Cientfica da PUC-Rio. A partir do meu interesse pessoal em questes de gnero e raa e minha vivncia enquanto aluna da PUC-Rio, decidi formular uma pesquisa que abordasse a dinmica entre raa e gnero. Como aluna, senti uma falta de professoras negras no corpo docente da graduao de Relaes Internacionais o que tambm motivou a minha pesquisa. Utilizei o conceito de interseccionalidade, elaborado pela professora Kimberl Crenshaw, para analisar a lacuna criada pela interseo entre raa e gnero no que diz respeito ao nmero de professoras negras na PUC-Rio, e o resultado da pesquisa ser apresentado a seguir.

    Relatrio Substantivo

    A INTERSECCIONALIDADE E A DISCRIMINAO DE RAA E

    GNERO NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA PUC-RIO.

    Aluno: Bruna da Silva e Silva

    Orientadores: Margarida de Souza Neves, Silvia Ilg Byington e Eduardo Gonalves

    Introduo Questes de raa e gnero costumam ser bastante sensveis e so essenciais para pensar

    a experincia social histrico-brasileira. Na memria coletiva, a PUC-Rio percebida como um local ocupado predominantemente por uma elite branca. Eu compartilhava dessa impresso ao entrar na PUC-Rio, porm a convivncia diria me fez enxergar uma realidade diferente, e compreender o quo diversa a Universidade pode ser. Atualmente, a PUC-Rio procura ser mais inclusiva, e embora o nmero de minorias tnicas no corpo discente e docente da Universidade ainda esteja aqum do ideal, a presena de alunos e professores negros parece estar aumentando.

    A seguinte pesquisa foi imensamente influenciada pela minha experincia como aluna de graduao em Relaes Internacionais. No quadro efetivo do corpo docente do Instituto de Relaes Internacionais, no h nenhuma professora negra, e atualmente h apenas um professor negro. Alm disso, eu ainda era uma das poucas alunas negras na minha turma. Apesar de haver alguma diversidade de raa, classe, sexualidade e gnero na PUC-Rio, essa diversidade no grande o suficiente para atenuar as desigualdades de raa e gnero quando estas se intersecionam. A minha perspectiva enquanto aluna e a maneira como a PUC-Rio

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    vista socialmente, me trouxeram os seguintes questionamentos: Aonde esto as docentes negras e se as mulheres negras so maioria dentre as mulheres no Brasil, por qu elas no esto mais bem representadas na Universidade? Ser que PUC-Rio, de certa forma, ainda se mantm um espao majoritariamente branco e elitista? Essas questes, somadas minha experincia e imagem da PUC-Rio que perpetuada at hoje, e tambm ao meu interesse pessoal em questes de gnero e raa, me motivaram a pesquisar a questo da baixa representatividade de mulheres negras no mbito acadmico, utilizando a PUC-Rio como estudo de caso.

    A interseccionalidade e a ideia de que a discriminao por raa e gnero esto relacionadas em demasiado relevante para pensar a sub-representao feminina negra no ensino superior. O conceito de interseccionalidade, cunhado pela terica de estudos crticos de raa e advogada Kimberl Crenshaw, sugere que em contextos especficos, diferentes categorias sociais e biolgicas, como sexo, gnero, raa, sexualidade, religio e classe se intersectam e interagem, gerando um sistema de opresso que revela a interseo de mltiplas formas de discriminao [1]. O conceito foi criado para suprir as diversas falhas judiciais, tericas e polticas - dentro do feminismo e do movimento negro que no do conta de explicar por si ss as situaes em que a descriminao no s ao gnero ou raa, mas combinao destas duas categorias discriminatrias. Normalmente, os sistemas judicial e poltico no so capazes de prever em todas as situaes a condio de ser mulher e negra sem dissociar uma identidade social da outra.

    Muitas naes como o Brasil e os Estados Unidos, tm promovido discriminaes racial e de gnero. No entanto quando as leis no preveem que as vtimas da discriminao racial podem ser mulheres e que as vtimas da discriminao de gnero podem ser mulheres negras, elas acabam no surtindo o efeito desejado e as mulheres ficam desprotegidas. [2]

    A princpio, Crenshaw utiliza o conceito para pensar como o direito e a justia respondem a questes que incluem discriminao de raa e gnero. As leis costumam examinar questes de raa e gnero individualmente, ignorando que mulheres de diversas etnias costumam sofrer discriminao baseada na sobreposio entre gnero e raa, tornando o sistema judicirio incapaz de combinar esses dois fatores de opresso, impossibilitando que a justia seja feita para essas mulheres. Embora existam leis contra a discriminao que almejam remediar esse problema e punir quem comete estas prticas, quando um caso de natureza interseccional aparece numa corte, o crime no pode ser julgado de uma forma acurada, pois estas leis operam atravs de uma perspectiva singular de discriminao, aonde a diferenciao ocorre por um fator ou por outro. De acordo com a Lei, se a prtica discriminatria em questo no puder ser comprovada como sendo ao gnero ou raa, ento no houve um crime.

    O caso analisado pela advogada foi um processo movido pela empresa De Graffen Reed contra a General Motors em 1976, nos Estados Unidos, quando diversas mulheres negras afirmavam terem sido discriminadas pela General Motors alegando que a mesma se recusava a contratar mulheres negras [3].

    Havia emprego para negros, mas esses empregos eram s para homens. Havia empregos para mulheres, mas esses empregos eram s para mulheres brancas. Na General Motors, os empregos disponveis aos negros eram basicamente o de postos nas linhas de montagem. Ou seja, funes para homens. E como ocorre frequentemente, os empregos disponveis a mulheres eram empregos nos escritrios em funes como a de secretria. Essas funes no eram consideradas adequadas para mulheres negras. Assim,

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    devido segregao racial e de gnero presente nessas indstrias, no havia oportunidades de emprego para mulheres afro-americanas. Por essa razo, elas moveram um processo afirmando que estavam sofrendo discriminao racial e de gnero [4].

    O tribunal no pde compreender que este caso se tratava de uma discriminao interseccional, aonde ocorria um processo misto de discriminao entre raa e gnero. Logo, perante a justia, no havia nenhum tipo de discriminao de gnero, pois havia mulheres sendo contratadas, nem de raa, pois contratavam-se negros.

    interessante indagar-se se h algo anlogo que se repete no contexto brasileiro, particularmente na PUC-Rio. Na Universidade h mulheres brancas docentes, e tambm um pequeno contingente de professores homens negros. Contudo, dentre o nmero de professores negros, a quantidade de mulheres negras aparenta ser ainda menor. Nesse caso, a interseccionalidade pode atuar como uma ferramenta que, quando evocada, nos permite encontrar as lacunas e os pontos aonde as diferentes categorias de discriminao se encontram, criam um problema singular, que muitas vezes no bvio quando examinamos a situao por um vis ou outro. importante analisar o problema da pouca presena de mulheres negras no Ensino Superior atravs desse mecanismo, para compreender que sua condio enquanto mulher influenciada tambm pela sua etnia e classe.

    Para compreender a discriminao interseccional A ideia de que existe uma relao entre a raa e gnero na discriminao sofrida pela

    mulher negra, precede a criao do conceito de interseccionalidade, ferramenta importante para o movimento feminista atual. Nos Estados Unidos, lugar de origem do conceito, diversas mulheres negras abolicionistas reconheciam a sobreposio da discriminao entre raa e gnero na vivncia da mulher negra. No sculo XIX, possvel observar nos discursos de mulheres como Anna Julia Cooper [5], Maria Stewart [6] e Soujourner Truth [7], a relao entre a discriminao de raa e gnero. Ainda que Anna Cooper tratasse da dificuldade de acesso ao ensino superior, enquanto Maria Stewart defendia pautas abolicionistas, ambas chamavam ateno para a sobreposio das diferentes categorias de discriminao que dificultavam a insero das mulheres afrodescendentes na universidade ou no mercado profissional.

    A interseccionalidade surge no feminismo negro a partir da percepo de que a opresso no um processo singular ou uma relao poltica binria, mas melhor compreendida como sendo constituda por um sistema mltiplo, que se entrelaa e converge o conceito deriva de crticas feministas s alegaes de que a opresso feminina pode ser capturada apenas por uma anlise de gnero [8]. O conceito diz respeito a mltiplas categorias de subordinao ou identificao social e biolgicas que se intersectam, gerando uma experincia de opresso especfica para as pessoas que incorporam essas intersees. Alm de ser uma ferramenta que pode ser mobilizada para encontrar situaes em que o processo de discriminao misto, a interseccionalidade tambm pode servir como uma ponte entre questes de gnero e raa nos discursos sobre direitos humanos uma vez que parte do projeto da interseccionalidade visa incluir questes raciais nos debates sobre gnero e direitos humanos, e incluir questes de gnero nos debates sobre raa e direitos humanos [9]. No que diz respeito s questes de gnero, a prtica dos direitos humanos se desenvolve a partir do pensamento que os direitos das mulheres e os direitos humanos so iguais e pertencentes um ao outro, fazendo parte de uma nica estrutura. Essa premissa reflete o modo como, tradicionalmente, quando as mulheres vivenciam situaes de violao dos direitos humanos semelhantes quelas vivenciadas por homens, elas estavam protegidas. Contudo, quando a infrao passa a ser especificamente relacionada questo de gnero, como o caso de estupros e gravidez ou

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    casamento forado, os direitos humanos no davam conta de lidar com essas violaes especficas. Posteriormente, aps as conferncias de Viena, em 1992, e Pequim, em 1995, passa-se a entender que as mulheres devem ser protegidas tanto em situaes em que as violaes de seus direitos so iguais s violaes vividas por homens, quanto em ocasies nas quais a experincia discriminatria diferente e perpassa a questo de gnero.

    Crenshaw afirma que a essa linha de raciocnio pode ser aplicada a questes que dizem respeito discriminao de raa e gnero. Em se tratando de discriminao racial, quando esta se manifestava na negao da participao poltica, considerava-se que isso representava uma forma de violao dos direitos humanos. No entanto, quando a discriminao era vivenciada como outras formas de segregao, "[...] o desafio era fazer com que essas diferenas nas formas pelas quais as pessoas negras sofriam violaes de direitos humanos fossem consideradas luz de um entendimento mais amplo dos direitos humanos" [10]. Ambas questes de gnero e raa lidam com a diferena, "[...] o desafio incorporar a questo de gnero prtica dos direitos humanos e a questo racial de gnero" [11], o que significa que homens e mulheres podem vivenciar situaes diferentes de racismo de maneiras que esto especificamente vinculadas ao seu gnero. Logo, as mulheres devem ser protegidas quando so vtimas da mesma forma de racismo que os homens sofrem, e tambm quando a discriminao por raa ou gnero faz com que a experincia discriminatria vivenciada pelas mulheres seja diferente. Quando as mulheres negras sofrem o mesmo tipo de discriminao que as mulheres brancas, ambas devem ser protegidas igualmente. Contudo, elas tambm devem ser protegidas quando sofrem discriminaes raciais e de gnero que as mulheres do grupo dominante no sofrem, e nesse ponto que se encontra o desafio da interseccionalidade: estabelecer mecanismos que podem ser polticas pblicas ou legislaes - que atendam mulheres que incorporam diversas intersees, e situaes especficas.

    A problemtica com a prtica tradicional dos direitos humanos que a viso tradicional parte da premissa que as pessoas em questo ocupam diferentes categorias, fazendo com as diversas discriminaes sejam compreendidas como categorias individuais: "[...] a discriminao de gnero pertinente s mulheres, a racial diz respeito apenas raa e etnicidade, e a discriminao de classe diz respeito apenas aos pobres" [12]. um processo de separao desses grupos, que acaba por desconsiderar que estas categorias de discriminao podem atuar concomitantemente, de uma maneira peculiar para as pessoas que se encontram no meio dessa interseo. A abordagem interseccional sugere que alguns casos no se tratam de uma categoria especfica de pessoas, mas com grupos que se sobrepem. No caso da General Motors, ao concluir que a montadora no havia cometido nenhum tipo de discriminao racial ou de gnero, o tribunal indicava que se a experincia de racismo no fosse a mesma dos homens, e a de gnero no fosse a mesma sofrida pelas mulheres brancas, ento no houve nenhum tipo de discriminao, e a discriminao sofrida pelas mulheres negras invalidada. As mulheres negras que denunciaram a General Motors por suas prticas discriminatrias no conseguiram apresentar evidncias individuais de discriminao de raa e de gnero, pois a discriminao mista entre gnero e raa estava sendo vivenciada apenas por elas.

    Crenshaw descreve a interseccionalidade como ruas:

    Se uma pessoa imaginar uma interseo ela visualizar ruas que seguem em direes diferentes norte-sul, leste-oeste e cruzam umas com as outras. Isso seria o que eu chamo de eixos da discriminao. Podemos pensar sobre a discriminao racial como uma rua que segue do norte para o sul. E podemos pensar sobre a discriminao de gnero como uma rua que cruza a primeira na direo leste-oeste. Esses so os sulcos profundos que podem ser observados em qualquer sociedade pelos quais o poder flui. O trfego, os

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    carros que trafegam na interseo, representa a discriminao ativa, ou seja, as polticas contemporneas que excluem indivduos em funo de sua raa e de seu gnero [13].

    Posteriormente, a autora complementa a explicao fazendo uma comparao ao Grand Canyon nos Estados Unidos:

    um enorme desfiladeiro criado por fluxos d'gua durante milhes de anos, pela presso da gua, fluindo numa determinada direo. Esse fluxo d'gua criou sulcos profundos nos quais a gua continua a correr. Vamos imaginar: os eixos seriam os sulcos profundos criados, ao longo de sculos, por polticas e prticas baseadas na raa e no gnero. A parte ativa o contemporneo, aquilo que passa por esses sulcos e efetivamente afeta os que esto na interseo. Se uma pessoa estiver no meio de uma interseo, ela poder prever que ocorrero colises nessa interseo e que provavelmente estar no meio dessas colises [14].

    Essas analogias nos permite compreender melhor como o conceito opera. A partir destes exemplos, Crenshaw procura analisar as possveis colises com a qual a mulher negra pode se deparar, dividindo o processo discriminatrio em trs movimentos: a discriminao contra grupos especficos, a discriminao mista ou composta e a subordinao estrutural. A discriminao contra grupos especficos diz respeito ao efeito causado pela combinao das estruturas de raa e de gnero, o que marginaliza as mulheres que j esto na base. A discriminao mista ou composta, mencionada anteriormente, o que ocorre no caso da General Motors. a combinao entre a discriminao racial e a discriminao de gnero, o que faz com que as mulheres negras sejam afetadas de modo especfico, devido a confluncia dessas duas categorias de discriminao. Por fim, a autora optou por no utilizar o termo discriminao para descrever esse fenmeno, pois subordinao estrutural no direcionada para um grupo especfico. Na subordinao estrutural no h a figura de um discriminador ativo, ou seja, uma entidade ou fora que esteja oprimindo diretamente. Essa subordinao no resultante de polticas locais, mas de polticas internacionais, que tem um determinado impacto em certas mulheres de acordo com a posio ocupada na estrutura socioeconmica. Como exemplo, Crenshaw menciona as polticas de ajustes que alguns pases adotam compulsriamente:

    Geralmente polticas de ajustes estruturais obrigam os pases subalternos a desvalorizar suas moedas, o que, por sua vez, reduz salrios e restringe servios sociais, geralmente forando as mulheres a assumirem servios que deixam de ser prestados, como o de cuidar de idosos, doentes, []. Mas h outros elementos envolvidos. Em decorrncia de sua boa condio socioeconmica, algumas mulheres conseguem contratar mo-de-obra de outras mulheres para assumirem esses servios de cuidados. As contratadas em geral, so mulheres economicamente marginalizadas, que, por essa razo so tambm socialmente socialmente marginalizadas, situadas na base da pirmide socioeconmica. [] isso que eu chamo de subordinao estrutural, a confluncia entre gnero, classe, globalizao e raa [15].

    O problema da discriminao interseccional, que por sua vez resulta na subordinao e discriminao sofrida pela mulher negra, leva ao questionamento da discriminao em si e porque essa discriminao invisibilizada dentro dos movimentos sociais, polticos e de polticas intervencionistas. Mesmo dentro do movimento feminista e do movimento negro, raa e gnero so questes mutuamente excludentes. O movimento negro no costuma atender

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    as demandas geradas pela discriminao de gnero, e o movimento feminista em diversos momentos da histria de sua consolidao marginalizou as mulheres negras e falhou em reconhecer as peculiaridades do sexismo racializado que elas sofrem. Esse fenmeno ocorre porque as mobilizaes ocorrem a partir do grupo racialmente dominante no movimento feminista nesse caso, as mulheres brancas , e do grupo dominante enquanto ao gnero no movimento negro. Essa situao contribui para a invisibilizao da mulher negra. Embora, enquanto mulheres, sejam capazes de falar sobre os problemas comuns a todas as mulheres, suas necessidades especficas no so discutidas, o que torna as mulheres negras subincludas, pois muitos dos problemas pertinentes s mulheres negras no so includos na pauta feminista, e as problemticas levantadas pelas mulheres desse movimento nem sempre consideram categorias discriminatrias como raa e classe como um dos fatores contribuintes para a desigualdade social. Logo, o problema da subincluso ocorre quando um problema de gnero no anexado s pautas do movimento, por atingir apenas um grupo especfico de mulheres. O mesmo ocorre dentro do movimento negro, quando problemas de mulheres negras claramente relacionados ao gnero no so discutidos como tambm sendo um problema racial.

    Segundo Crenshaw, importante reconhecer que atualmente j existem aparatos judiciais que ajudam a combater a discriminao interseccional, pois teoricamente as mulheres j esto protegidas contra qualquer discriminao racial, ainda que esta seja diferente do racismo sofrido pelos homens, e tambm temos mecanismos de combate discriminao de gnero, ainda que a experincia da mulher negra seja diferente da experincia de uma mulher branca. A autora tambm prope que para minimizar a discriminao interseccional,

    [...] precisamos reconfigurar nossas prticas que contribuem para a invisibilidade interseccional. Isso inclui a integrao dos diversos movimentos e inclui a nomeao de uma mulher para chefiar a seo que cuida da discriminao racial e no considerar isso incomum de forma alguma [16].

    crucial que as mulheres passem a ocupar este locais, pois a presena delas no indica apenas a normalidade de sua presena, mas tambm a possibilidade de que as vozes e as pautas dessas mulheres se faam ouvir nos espaos pblicos. Adotar uma abordagem interseccional para a coleta de informaes tambm importante, assim como, atravs do relato de diversas mulheres, ouvi-las e tentar compreender como esses fatores se relacionam e afetam a vida dessas mulheres. necessrio identificar especialistas em nvel local que trabalhem diretamente com mulheres negras e que entendam como esses mltiplos fatores influenciam a vivncia da mulher negra. Dessa forma, a discriminao interseccional deixaria de ser um problema que marginaliza e deixa tantas mulheres desprotegidas. A interseccionalidade, portanto, uma ferramenta que pode ser utilizada de modo a pensar polticas e prticas mais inclusivas.

    O feminismo negro e a discriminao de gnero e raa no Brasil No Brasil, autoras como Luiza Bairros, Beatriz Nascimento, Llia Gonzalez, Sueli

    Carneiro, entre outras, tambm reconheceram a simultaneidade na discriminao de gnero e raa, e contriburam imensamente para a formao dos movimentos negro e feminista no Brasil. Ajudaram a aprofundar os debates sobre de raa e gnero, e enfatizaram a importncia de se discutir racismo e sexismo juntos, tanto para definir polticas contras discriminaes sociais, quanto para pensar o conceito de cidadania [17].

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    No texto Racismo e sexismo na cultura brasileira, Gonzalez (1983) discute sobre como o sexismo e o racismo permeiam a vida da mulher negra no Brasil e como isso influencia o modo como elas so tratadas perante a sociedade.

    Gonzalez se interessa em pensar de que forma a articulao entre sexismo e racismo funciona como um dos operadores simblicos do modo como as mulheres negras so vistas e tratadas no pas. Para a autora, racismo e sexismo engendram a violncia contras as mulheres negras e explicam o fato de que mesmo mulheres negras da classe mdia sejam vtimas de discriminao. Ou seja, no se podem compreender as discriminaes e a opresso sofridas pelas mulheres apenas pelos vieses de gnero e classe social [18].

    Em trabalhos posteriores, Gonzalez constata que ao ater-se apenas s categorias gnero e classe, os estudos sobre mulheres brasileiras contribuem para a naturalizao das desigualdades raciais. Segundo a autora, as mulheres negras sofrem uma espcie de opresso tripla, que envolve discriminao por raa, gnero e classe social. Historicamente, o movimento feminista costuma priorizar a fala de mulheres brancas e as questes raciais costumavam ser deixadas de lado. Em contrapartida, o movimento negro muitas vezes reproduzia o sexismo, o que dificultava as discusses referentes ao gnero. Feministas negras alertam que homogeneizar o feminismo e a ausncia da dimenso racial na luta contra o sexismo, expressa uma sobrepujana da ideologia colonizadora - eurocntrica, masculina e branca - nas entrelinhas de uma teoria e de uma prtica que se afirmam como libertrias [19].

    Considerando que o feminismo, portanto, no universal, Sueli Carneiro, criou a expresso enegrecendo o feminismo [20] para descrever a luta das mulheres negras dentro do movimento feminista. A autora tambm assinalou o recorte ocidental e branco das produes tericas do feminismo hegemnico e demonstrou como essas produes no percebem as desigualdades de gnero e intragnero, justamente por no levar em considerao a condio especfica de ser mulher, negra, e em geral, pobre [21]. Em um trecho de Mulheres em movimento, Carneiro reconhece a ligao entre as diferentes categorias de opresso :

    Feminismo esteve [...] prisioneiro da viso eurocntrica e univeralizante das mulheres. A consequncia disso foi a incapacidade de reconhecer as diferenas e desigualdades presentes no universo feminino [...] Dessa forma, as vozes silenciadas e os corpos estigmatizados de mulheres vtimas de outras formas de opresso alm do sexismo, continuaram no silncio e na invisibilidade.[...] Enegrecendo o feminismo a expresso que vimos utilizando para designar a trajetria das mulheres negras no interior do movimento feminista brasileiro. [...] uma agenda especfica que combateu, simultaneamente, as desigualdades de gnero e intragnero; afirmamos e visibilizamos uma perspectiva feminista negra que emerge da condio especfica do ser mulher, negra e, em geral, pobre [22].

    O feminismo negro comea a se desenvolver numa oposio ao feminismo branco, que o movimento feminista predominante e que costuma desconsiderar o que pode ocorrer quando diferentes categorias de discriminao e subordinao se cruzam. O feminismo negro atua de forma a apreender as demandas de mulheres negras, cujos problemas costumam no ser atendidos pelo feminismo que reproduz o eurocentrismo e possui tendncias individualistas. Ao adotar uma abordagem homognea no feminismo, ignora-se a forma com que o racismo, o classismo e a homofobia so capazes de interagir com sexismo e afetar negativamente mulheres das mais variadas origens. importante ressaltar nossas semelhanas, o que nos permite cultivar um sentimento de alteridade e empatia por outras

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    mulheres, mas necessrio reconhecer nossas diferenas tambm. Por mais que em determinados contextos faa sentido focar nas semelhanas entre a subordinao vivenciada pelas mulheres de modo geral, ater-se somente a esse aspecto traz o risco de ignorar os problemas que so particulares s mulheres negras. Ignorar a diferena contribui para invisibilizar ainda mais essas histrias e segregar as vozes de um grupo de mulheres j marginalizadas. A necessidade de discutir questes de raa e gnero no movimento feminista no Brasil semelhante ao processo de subincluso mencionado por Crenshaw, e embora esteja se referindo ao contexto americano, o descaso com os problemas especficos s mulheres negras, decorrentes da sobreposio entre raa e gnero, no movimento negro e no movimento feminista tambm ocorre no contexto brasileiro.

    A subincluso das pautas referentes s mulheres negras no movimento feminista e no movimento negro, caminham lado a lado com a representao muito aqum do desejado dessas mulheres nas mais diferentes esferas da sociedade. Historicamente, os espaos pblicos foram ocupados pela figura masculina, e s mulheres ocuparam o mbito privado. Apesar de alguns avanos e da gradativa insero das mulheres nas mais diversas camadas da sociedade, a busca por maior representao feminina nas esferas pblicas - poltica, Academia - persiste, especialmente no que diz respeito s mulheres negras, pois elas tem desvantagens raciais em relao s mulheres brancas, e de gnero em relao aos homens. Elas so a maioria numrica da populao [23] e deveriam estar mais bem representadas, contudo, so as que menos tem representatividade poltica e acadmica pois tem dificuldades em acessar esses espaos de poder, tamanha a desigualdade social em que se encontram.

    H mecanismos de poder, velhos como o mundo, que se reproduzem historicamente e que ainda excluem e limitam a participao poltica das mulheres: na nossa sociedade, o espao reservado s mulheres era tradicionalmente o espao privado, domstico, junto famlia; o espao pblico a rua e locais de encontro, estudo, reunies e debates era considerado exclusivamente espao para trnsito dos homens [24].

    A partir do conceito de interseccionalidade e da ideia de que os processos de opresso ocorrem no como um processo singular ou binrio, mas consistem em vrias categorias de discriminao que se intersectam [25], a falta de representatividade pode ser pensada no apenas como um problema de gnero: existe simultaneidade entre gnero, classe e raa na vida dos indivduos, portanto a discriminao no apenas como um ato isolado. A subrepresentao feminina tambm pode ser interpretada como um problema ocasionado pela masculinizao dos espaos de poder e a estrutura patriarcal da sociedade, pois a excluso poltica e social se alimenta da permanncia da dominao masculina nas outras esferas sociais e contribui para perpetu-la [26]:

    Para que se possibilite igualdade de oportunidades para as mulheres disputarem os mandatos eletivos essencial o reconhecimento de que no h a mulher e, sim, mulheres, a requererem suportes diferenciados, em face de suas distintas necessidades. No d para estandardizar as iniciativas potencialmente includentes da presena de mulheres, tendo s demandas relativas s mulheres brancas como as nicas a serem relevadas. Isso, alm de replicar nas lutas do movimento de mulheres e do movimento feminista a ideologia eurocntrica, branca e masculina dominante, retira das mulheres negras o direito de exercer a cidadania passiva (capacidade de serem votadas), com perspectivas de vitrias; desconsiderando, inclusive, o fato de elas terem o direito de reivindicar e promover diretamente e na condio de detentoras de mandatos eletivos as mudanas compreendidas como

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    importantes e essenciais populao negra e especificamente, s mulheres negras, que perfazem maioria no Brasil [27].

    A diviso social de trabalho est relacionada produo de categorias culturais dialticas, que se confirmam e se constroem mutuamente, como por exemplo: a construo da oposio entre pblico/privado, branco/negro e masculino/feminino. A formao das esferas pblico/privado foi feita de forma sexuada, que relega as mulheres ao espao domstico e ao mesmo tempo s exclui da esfera pblica, dificultou o processo de insero das mulheres no ambiente pblico. A ausncia de mulheres nos espaos pblicos ao longo dos anos e a relao de dominao do masculino sobre o feminino contriburam para as desigualdades entre homens e mulheres dentro desses espaos.

    Estando a razo e o poder socialmente associados ao masculino, as organizaes burocrticas, baseadas na racionalidade e na hierarquia, tendem a reservar para as mulheres posies subordinadas. Os processos pelos quais se introduz esta "sexualizao" do poder no emprego so mltiplos e complexo. Eles passam tambm pela mediao da sexualidade. Nos espaos mistos do trabalho onde convivem homens e mulheres pode-se identificar um mecanismo quase universal: a construo da diferena. Ora, em matria de categorizao social, a via estreita entre diferenciar e hierarquizar [28].

    A noo de mulher como fora de trabalho secundria estruturada a partir da separao e hierarquizao entre as esferas do pblico e do privado da produo e da reproduo [29]. Em se tratando da mulher negra, o acesso esfera pblica ainda mais rduo, pois alm de estarem numa posio subordinada pelo seu gnero, encontram-se em desvantagem perante as mulheres brancas devido a sua etnia. Ao descer os nveis da hierarquia presentes nas mais diversas camadas do espao pblico, as mulheres negras costumam ocupar os lugares mais baixos em maior nmero. A construo de mecanismos de diferenciao - esteretipos que reforam a posio das mulheres de subordinao, construdas em oposio figura do homem branco - nas esferas pblico/privadas e a atribuio da vida privada s mulheres, se traduz no mercado de trabalho brasileiro. As desigualdades no mercado de trabalho persistem atravs de um grande nmero de mulheres que prestam servios em condies precrias e recebendo remuneraes mais baixas, principalmente no trabalho domstico. A partir da construo de que os afazeres domsticos so responsabilidade da mulher, o trabalho domstico passa a ser naturalizado como algo feminino. Alm disso, a aprendizagem dos afazeres domsticos ocorre no seio familiar, logo no preciso passar por um processo de especializao formal, ento somado naturalizao do trabalho domstico como feminino est "[..] a desvalorizao dos processos de aquisio de competncias que ocorrem fora das instituies formais" [30]. O trabalho domstico pautado pela invisibilidade, informalidade, condies de trabalho precrias ou inadequadas e baixo rendimento salarial. No Brasil, a maior parte das mulheres que atuam nesse segmento negra, o que torna o trabalho domstico uma atividade aonde a discriminao por raa e gnero contribui para perpetuar as desigualdades enfrentadas pelas mulheres, principalmente pelas mulheres negras no mercado de trabalho [31].

    Os estudos sobre as relaes de gnero e as disparidades de poder entre os feminino e o masculino, nos permite compreender melhor a complexidade das dinmicas existentes nessas relaes, o que possibilitou a desconstruo de diversos fenmenos histricos, tal como superar a abordagem de diferenciao ou subordinao baseada em atributos biolgicos. Vrios estudos j apontaram que as relaes entre homens e mulheres atravessam a sociedade e se articulam como o conjunto das relaes sociais e podem ser modificadas historicamente [32]. A maior presena das mulheres no mercado de trabalho contribuem para visibilizar as

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    dinmicas da esfera privada, alm de mostrar as experincias das mulheres no mercado de trabalho, e como isso se reflete na sociedade.

    A permanncia da diviso desigual do trabalho familiar e domstico influencia as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A permanncia das obrigaes domsticas e do cuidado como tarefas de responsabilidade predominantemente femininas no mundo privado impactam a segregao sexuada, no mercado de trabalho. Mesmo que as mulheres tenham alcanado uma participao crescente no mercado de trabalho obtendo efeitos mais positivos na busca pela igualdade e cidadania, elas ainda encontram limites para a realizao de sua autonomia [33].

    Ainda que instituies como a OIT tentem implementar condies de trabalho adequadas para as profisses mais desvalorizadas, muitas mulheres, em sua maioria negras e pobres esto excludas do mercado de trabalho, pois no tem as qualificaes necessrias para exercer o trabalho formal. A entrada da mulher no mundo do trabalho no foi acompanhada do remodelamento da diviso sexual do trabalho domstico e da atribuio mulher de um papel secundrio no mercado de trabalho [34]. O aumento da pobreza no apenas uma consequncia da ausncia de renda, mas influenciada por diversos outros fatores, como a ausncia de poder, discriminao, subordinao social do gnero feminino e a dificuldade em acessar os servios pblicos. Esses fatores se vinculam s disparidades sociais j existentes, eles diminuem ainda mais o poder de ao e representao das mulheres das mulheres que esto excludas socialmente. As disparidades nas relaes de poder entre homens e mulheres se manifestam de diferentes formas na convivncia social diria, e estas desigualdades sustentam um sistema interaes que faz com que as mulheres estejam em desvantagem perante os homens. A exposio a fatores como vulnerabilidade, pobreza e privao so responsveis por manter as mulheres em crculos de precariedade, muitas vezes difceis de serem rompidos [35].

    A Universidade enquanto esfera pblica: a PUC-Rio

    Assim como uma viso de feminismo que homogeneza a luta das mulheres, na construo das esferas pblica e privada tambm passvel de problematizao. Historicamente, o espao pblico foi construdo como um espao masculino, e o esquema mental que fazia com que a esfera pblica fosse vista como estranha s mulheres, tambm fundava mecanismos estruturais que impediam o acesso delas a esta esfera [36]. O resultado disso era, segundo Luis Felipe Miguel:

    [...] aquilo que Bourdieu (1979, p.549) chamava de efeito de doxa: a coincidncia entre as vises de mundo e a experincia de mundo. Se a poltica entendida como um terreno masculino e, ao olhar para a poltica, eu s vejo (ou quase s vejo) homens, posso entender a excluso das mulheres como algo natural [37].

    Embora Miguel esteja se referindo especificamente presena feminina na poltica, a insero das mulheres no Ensino Superior tambm ocorreu de forma gradativa, de modo a ocupar espaos que antes no lhe pertenciam. plausvel indagar-se se efeito de doxa se repete de forma anloga na PUC-Rio: se a PUC-Rio entendida como um terreno majoritriamente branco, e ao olhar para a Universidade eu s vejo (ou quase s vejo) homens e mulheres brancos, posso entender a subordinao das mulheres negras como algo supostamente natural. A ausncia das mulheres negras nos espaos pblicos refora esse processo de excluso como algo natural. Grande parte das discusses sobre a sub-representao feminina nos espaos de poder falham em considerar que a questo racial impe uma desigualdade entre as mulheres, distinguindo-as em oportunidades, mesmo

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    quando o que se quer alcanar a incluso [38]. E com poucas mulheres negras, a PUC-Rio se afirma enquanto um territrio majoritriamente e tradicionalmente branco. Em suma, as mulheres que conseguem romper o monoplio branco tem um efeito-demonstrativo e simblico, e ainda que essa presena seja significativa, elas continuam sendo excees num local que socialmente no lhes pertence. Ento, torna-se possvel ter um punhado de mulheres negras bem-sucedidas e que ocupam cargos importantes dentro da Universidade e, simultaneamente, mant-la como um espao de maioria branca.

    Se a Academia um espao tradicionalmente dominado por homens brancos, logo o gnero feminino estaria numa posio subalterna dentro dessa hierarquia, e quando a etnia das mulheres em questo no branca, elas passam a ocupar uma posio ainda mais inferior em relao mulher branca. Portanto, imprescindvel fazer um recorte de raa aliado questo de gnero, pois, socialmente, as disparidades entre as mulheres brancas e negras so muito grandes para serem ignoradas.

    A fim de saber quantos funcionrios e professores negros, e quantas desse contingente so mulheres, solicitei Gerncia de Recursos Humanos da PUC-Rio um levantamento quantitativo dos registros dos funcionrios por gnero e etnia, e perguntei se havia algum tipo de registro que cruzasse essas duas informaes, resultando num nmero de professoras e funcionrias negras. A Gerncia de Recursos Humanos da Universidade possui esses dados desde 1998, que so preenchidos no ato de admisso do funcionrio. No se sabe se esses dados foram solicitados no passado, ou se algum j trabalhou com essas informaes anteriormente. No campo referente etnia, os funcionrios e professores recm-admitidos podem se definir como indgena, branco(a), preto(a), amarelo(a) e pardo(a).

    Funcionrios e Professores - Raa/Cor Preta

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    Levantamento dos funcionrios declarados negros da PUC-Rio, com os nmeros de

    funcionrios negros ativos, afastados e demitidos de 1999 2016. Fonte: Gerncia de Recursos Humanos da PUC-Rio

    No obtive acesso informao sobre quantos funcionrios foram admitidos na Universidade a cada ano. A Gerncia de Recursos Humanos da Universidade tambm no disponibilizou a relao de funcionrios categorizados por gnero.

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    Levantamento dos professores declarados negros da PUC-Rio, com os nmeros de

    funcionrios negros ativos, afastados e demitidos de 1999 2016. Fonte: Gerncia de Recursos Humanos da PUC-Rio

    Novamente, no obtive acesso s informaes relativas ao nmero de professores negros admitidos na Universidade.

    Ao analisar as listas, nota-se que o nmero de funcionrios negros muito maior que o nmero de professores. No h uma ferramenta de registro que faa um cruzamento entre a raa e o gnero dos funcionrios, ento no h como precisar dentro do nmero total de professores negros, quantas so mulheres, e dentro do nmero de mulheres, quantas delas so negras. Vale ressaltar que, atravs da autodeterminao, os funcionrios e professores podem informar ou no sua etnia no processo de admisso, o que tambm dificulta a obteno de um nmero acurado de funcionrios e professores negros. difcil determinar com preciso a etnia dos funcionrios e professores, pois eles podem no se reconhecer enquanto negros, e podem no ser lidos socialmente enquanto negros.

    importante questionar o significado das ausncias de informaes. A falta de registros e de interesse em criar esses registros que interseccionem raa e gnero, pode ser um dos indicativos de que a sociedade brasileira ainda repousa sobre o mito da democracia racial. Um registro interseccional poderia ser um forte elemento a impulsionar iniciativas que considerassem a perspectiva racial de gnero como elemento indispensvel para aplacar a subrepresentao das mulheres negras nos espaos pblicos, alm de fornecer uma forma mais efetiva de saber aonde se encontram as mulheres negras da PUC-Rio, quais cargos elas

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    ocupam, e indagar porque elas ocupam esses cargos e o que as impede de acessar posies de maior visibilidade.

    Concluso Embora a PUC-Rio tente se tornar cada vez mais inclusiva e diversa, a presena de

    mulheres negras no corpo docente da PUC-Rio, ainda muito pequena. As informaes disponibilizadas pela Gerncia de Recursos Humanos da Universidade necessitam ser problematizadas, uma vez que o registro depende da autodeterminao dos professores e funcionrios quanto a sua etnia, e muitos deles optaram por no fornecer essa informao. No caso da definio de gnero, a informao no opcional, e essa discrepncia tambm merece ser considerada. Por ser opcional, no h um nmero acurado de professoras negras lecionando na PUC-Rio, o que refora a premissa de uma ausncia de abordagem interseccional que fundamente as informaes dentro da Academia. Talvez essas informaes, possam fornecer possibilidades para uma ao afirmativa no sentido da necessidade de entrecruzar dados de raa e gnero na universidade e dentro de outros espaos profissionais.

    Discutir a incluso da mulher negra na academia por um vis interseccional compreender que diferentes mulheres, de diferentes etnias e status socioeconmicos possuem diferentes necessidades, e que a descriminao no atinge todas as mulheres da mesma forma, e que isso tem um efeito direto em como essas mulheres negras so capazes ou no de acessar os espaos pblicos e quais as posies desses cargos dentro de uma estrutura institucional. importante indagar o significado das ausncias de informaes precisas sobre as mulheres negras lecionando na PUC-Rio, e o que a baixa representao de mulheres negras enquanto docentes representa dado contexto brasileiro, e gostaria de me aprofundar mais nesse e em outros questionamentos numa pesquisa futura.

    Referncias bibliogrficas 1 - CRENSHAW, Kimberl. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory, and Antiracist Politics. University of Chicago Legal Forum, 14, 1989, p. 53854.

    2 - CRENSHAW, Kimberle. A Intersecionalidade na Discriminao de Raa e Gnero. (Xerox, s/d) Disponvel em http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/09/KimberleCrenshaw.pdf Acesso em junho de 2016.

    3 Ibidem, p. 10.

    4 Ibidem, p.11.

    5 - BLACKPAST. Cooper, Anna Julia Haywood (1858-1964) Disponvel em:. Acesso em: maio de 2016.

    6 - LEWIS, Jone Johnson. Maria Stewart Facts. 2016 Disponvel em:. Acesso em maio de 2016.

    7 - TRUTH, Sojourner. Ain't I A Woman?, 1851. Disponvel em: . Acesso em: maio de 2016.

    8 - CARASTATHIS, Anna. The Concept of Intersectionality in Feminist Theory. Philosophy Compass, Los Angeles, v. 9, n. 5, p. 306

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    9 - CRENSHAW, Kimberl, op. cit.

    10 Ibidem, p.9.

    11 Idem.

    12 Idem.

    13 Ibidem, p.11.

    14 Ibidem, p.12.

    15 Ibidem, p.13

    16 - Ibidem, p.16.

    17 - RODRIGUES, Cristiano. Atualidade Do Conceito De Interseccionalidade Para A Pesquisa E Prtica Feminista No Brasil. Seminrio Internacional Fazendo Gnero 10, Florianpolis, 2013. Disponvel em Acesso em Junho de 2016.

    18 - Idem.

    19 - BAIRROS apud BRITTO, Anhamona Silva. Incluindo a Perspectiva Racial de Gnero no Debate Sobre a Reforma Poltica. Autonomia Econmica e Empoderamento da Mulher. Braslia: FUNAG, 2011

    20 - CARNEIRO, Sueli. Mulheres em Movimento. Estud. av. , So Paulo, v. 17, n. 49, dezembro 2003. Disponvel em . Acesso em abril de 2016

    21 - CARNEIRO apud BRITTO, Anhamona Silva, op.cit.

    22 - CARNEIRO, Sueli, op. cit.

    23 - MELO, Hildete Pererira de; MORANDI, Lucilene; DWECK, Ruth Helena. Mulheres na poltica: Tecendo redes, escrevendo histrias, transformando a realidade. Rio De Janeiro: Editora alternativa, 2016, p. 17.

    24 Ibidem, p.28.

    25 - CARASTATHIS, Anna, op. cit., loc. cit.

    26 - MIGUEL, Luis Felipe. Mulheres nos espaos de poder e deciso. Revista do Observatrio Brasil da Igualdade de Gnero. Braslia: Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres, 2009.

    27 - SANTOS apud BRITTO, Anhamona Silva, op. cit.

    28 - DAUNE-RICHARD, A.M. Qualificaes e representaes sociais. IN:Maruani, M. e Hirata,H. (org) As Novas fronteiras da desigualdade: homens e mulheres no mercado de trabalho: So Paulo: SENAC Editora, 2003

    29 - NEVES, Magda de Almeida. Desigualdades de gnero e raa no mercado de trabalho: precarizao e discriminao salarial. Autonomia Econmica e Empoderamento da Mulher. Braslia: FUNAG, 2011, p. 160.

    30 Ibidem, p.158 .

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    31 Idem.

    32 Ibidem, p. 160.

    33 Ibidem, p. 161.

    34 - Idem.

    35 Ibidem, p. 163.

    36 - MIGUEL, Luis Felipe, op. cit., p. 142

    37 Ibidem, p.147

    38 - Idem.