A INSERÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA DA … · comunidades. Esta abordagem será ......
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A INSERÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA DA COMUNIDADE PAIOL DE
TELHA NO COTIDIANO ESCOLAR
Autora: Lucia Maria Coimbra Maia Campos1
Orientador: Prof. Dr. Hélvio Alexandre Mariano2
Resumo
Este artigo é o resultado do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
promovido pelo governo do Estado do Paraná, desenvolvido no Colégio Estadual D.
Pedro I, em Entre Rios, Guarapuava, que teve como público alvo alunos do Ensino
Fundamental da 7ª série/8º ano e 8ª série/9º ano. A intenção foi relatar o cotidiano
do escravo negro em Guarapuava e também sobre a diversidade cultural dos
afrodescendentes do Quilombo Paiol de Telha, reforçando sua importância e
entendendo suas manifestações culturais, trazendo-as para o cotidiano escolar. A
unidade temática produzida e implementada no colégio objetivou promover
atividades pedagógicas que proporcionassem uma reflexão sobre os aspectos
históricos relacionados a vida das pessoas desta etnia. A metodologia utilizada foi o
estudo da história regional procurando atender a Lei Nº 13.381 de 18/12/2001, a
qual tornou obrigatório no Ensino Público Estadual os conteúdos da História do
Paraná, objetivando atender à Lei 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana. Este artigo relata a atuação dos alunos e suas reflexões através das
leituras dos textos e da visita ao Paiol de Telha.
Palavra-chave: escravo, afrodescendentes, Paiol de Telha, quilombo.
1 Pós-graduada em Filosofia, e Graduada em História, atuando no Colégio Estadual D. Pedro I – Colônia Vitória – Guarapuava – Paraná. 2 Doutor em História, professor adjunto de História – Unicentro Guarapuava.
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1 Introdução
Este trabalho é resultado do Programa do Desenvolvimento Educacional –
PDE, promovido pelo governo do Estado do Paraná, desenvolvido no Colégio
Estadual D. Pedro I, Colônia Vitória, em Guarapuava, tendo como público alunos do
Ensino Fundamental, de 7ª Série/8º ano e 8ª Série/9º ano.
O desenvolvimento do trabalho teve como objetivo a elaboração de material
didático para sua implementação no Colégio, tendo como proposta final divulgar os
resultados da pesquisa - realizada junto aos integrantes da Comunidade Paiol de
Telha, através deste Artigo Científico.
No final do século XX e início do século XXI o tema das identidades veio à
tona na História. Esse conceito tem atingido relevância tal para a compreensão do
mundo de hoje, globalizado, que de certo modo aproximou culturas e costumes,
logo, identidades diferentes. Diante disso, a convivência com o diferente faz com
que as identidades aflorem, levando os educadores a promoverem a
conscientização sobre a diversidade cultural brasileira, a qual passa pela definição
das identidades étnicas, regionais, entre outras, tornando-se, assim, um dos
conceitos mais importantes de nossa época.
Identidade e memória são indissociáveis para David Lowenthal (SILVA E
SILVA, 2006, P.204), para o qual, sem recordar o passado não é possível saber
quem somos, pois as lembranças nos remetem a identidade pessoal e grupal. Toda
identidade é uma construção histórica: ela não existe sozinha, nem de forma
absoluta e é sempre construída em comparação com outras identidades, pois
sempre nos identificamos com o que somos para nos distinguir de outras pessoas.
“A memória é um elemento essencial do que se costuma denominar identidade,
individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos
e das sociedades de hoje. [...].” (LE GOFF, 2005, p.469).
José Ricardo Oriá Fernandes, em seu artigo Ensino de História e Diversidade
Cultural: desafios e possibilidades, deixa claro a importância de se trabalhar no
Ensino Básico o tema da diversidade cultural do Brasil. Segundo ele, a Lei 10.639
veio valorizar o conhecimento da história da África e do negro, contribuindo para se
desfazer os preconceitos e estereótipos ligados ao segmento afro-brasileiro,
resgatando a autoestima de milhares de crianças e jovens que se veem
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marginalizados por uma escola de padrões eurocêntricos, que nega nossa
formação étnico-cultural. E mais, afirma que a instituição escolar tem um papel
fundamental no combate à discriminação e ao preconceito, pois agrega valores e
atitudes essenciais à formação da cidadania de nossos estudantes. Há também as
Diretrizes Curriculares Estaduais que propõem uma abordagem a partir da história
local/regional para a nacional e mundial, reforçando a sua importância e
promovendo uma reflexão sobre os personagens até então negligenciados pela
História.
Para Paul Thompson a História Oral (1992, p. 44) é uma história construída
em torno das pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história alargando seu
campo de ação, admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria
desconhecida do povo reconhecendo-os como sujeitos da história. Aproxima
professor, estudantes e comunidade como protagonistas da história na produção do
conhecimento histórico, tendo um papel ativo, possibilitando dar voz à própria
comunidade para articular essa história a um contexto mais amplo. E ainda, estimula
professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho, pois traz a história
para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Portanto,
aprofunda o conhecimento histórico dos alunos, aproximando-os de sua
comunidade.
A visão de História Oral de THOMPSON (2002, p.22) é a seguinte:
[...] a história oral pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a finalidade da história. Pode ser utilizada para alterar o enfoque da própria história e revelar novos campos de investigação; pode derrubar barreiras que existam entre professores e alunos, entre gerações, entre instituições educacionais e o mundo exterior; e na produção da história – seja em livros, museus, rádio ou cinema – pode devolver às pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar fundamental, mediante suas próprias palavras.
Por meio da História Oral o estudante poderá perceber que a história não é
algo sem vida, amorfo, abstrato, mas, sim, é feita por pessoas com sentimentos,
fisionomia e ambições. Nesse sentido, THOMPSON (2002, p.30) afirma: “Pelo
sentimento de descoberta nas entrevistas, o meio ambiente imediato também
adquire uma dimensão histórica viva: uma percepção viva do passado, o qual não é
apenas conhecido, mas sentido pessoalmente.”
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Para a elaboração do projeto de pesquisa e implementação, buscou-se
embasamento nas Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica do
Estado do Paraná, que fundamentam as novas necessidades e práticas de ensino
da História, utilizando-se das correntes historiográficas: a Nova História, a Nova
História Cultural e a Nova Esquerda Inglesa, que trazem grandes contribuições para
a formação do pensamento histórico desenvolvido nas escolas (DCE de História,
2008).
A pesquisa “A Inserção da Cultura Afro-Brasileira da comunidade Paiol de
Telha no cotidiano escolar”, privilegiou a etnia africana em Guarapuava do Paiol de
Telha, com o intuito de compreender os aspectos históricos relacionados à vida
destas pessoas, com vistas de entender suas manifestações culturais.
Percebe-se a necessidade de se tentar investigar a história dos indivíduos
que hoje são considerados minorias como os indígenas e africanos a partir de um
recorte local estudando as ações e relações de pessoas comuns, como de famílias e
comunidades. Esta abordagem será através da História do Cotidiano, a memória dos
esquecidos, tendo especial interesse em dar voz àqueles que nunca tiveram vez na
historiografia oficial. Neste sentido, através de entrevistas, buscar-se-á desencadear
o processo de memória reavivada das mulheres e homens de etnias afro na
comunidade de estudo, memória que poderá fornecer informações para a
compreensão do cotidiano das mesmas e das manifestações de resistência que não
são incluídas nos materiais didáticos. A escola tem função primordial de acabar com
a discriminação e dar relevância a todas as etnias sem distinção.
Os recursos metodológicos utilizados contemplaram várias fontes: textos,
documentos da época, poesia, imagens, relatos de entrevistas, pesquisa na rede
mundial (Internet), visita ao Quilombo Paiol de Telha.
Apresentamos neste artigo o resultado dos estudos em sala de aula,
realizados no segundo semestre de 2011, e entrevistas realizadas com jovens
moradores do Paiol de Telha, que fazem parte do Grupo Kundu-Belê.
2. Fundamentação Teórica
2.1 ESCRAVIDÃO NEGRA NO BRASIL
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Nos meados do século XVI, a introdução da cana-de-açúcar encadeia a
escravidão africana na América portuguesa, transformada na principal compradora
de escravos africanos, sendo que cerca de 4 milhões que aqui entraram até o século
XIX, representava mais de 1/3 do total capturado e retirado da África. A maioria
pertencia a um dos dois grandes grupos: bantos, capturados nas regiões dos atuais
Congo, Angola e Moçambique, e sudaneses, originários dos atuais territórios da
Nigéria, Daomé e Costa do Marfim.
Os escravos africanos trabalharam nas mais diferentes atividades: nos
engenhos; na mineração; nas lavouras de algodão, tabaco e café; nos serviços
domésticos das casas senhoriais; nas atividades realizadas nas vilas e cidades.
A vida do escravo foi pautada pela violência. A retirada forçada da terra natal,
os trabalhos pesados, a alimentação precária, os castigos físicos frequentes, a
desintegração das famílias e das nações africanas, marcaram a existência do negro
escravizado na América portuguesa.
“Os escravos eram oprimidos pelo mais duro dos regimes de exploração de trabalho. Não escapava ilesos às degradações impostas por esse regime perverso.” (Gorender, 1991, p.121)
No Paraná a escravidão se deu de forma diferente de outros lugares do
Brasil, sendo a quantidade de escravos inferior em relação as demais. Inicialmente
os escravos foram empregados no trabalho das minas de ouro e, com a decadência
destas, nas fazendas dos planaltos paranaenses. O negro teve grande participação
na construção do Estado, seja como mão-de-obra escrava ou mão-de-obra livre.
Contribuiu em várias localidades, e depois da abolição continuou a trabalhar nas
fazendas e em outras localidades, participando no desenvolvimento e consolidação
do Estado do Paraná. A partir de 1870 o sistema econômico baseado na criação de
gado entra em decadência e o número de escravos foi sendo reduzido
progressivamente. Muitos foram vendidos e utilizados nas primeiras fazendas de
café em São Paulo, empregados em serviços domésticos e artesanais nas cidades,
ou alugados.
Depois da Independência, o Brasil apresentava-se como o único país
independente das Américas que praticava o tráfico de africanos. Proibido em 1831, o
tráfico prossegue ilegalmente até 1850. Em 1871 é votada a Lei do Ventre Livre,
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decretando a liberdade dos filhos dos escravos nascidos, todavia, o efeito da Lei era
diminuído pelo dispositivo assegurando aos senhores o usufruto desses indivíduos
até a idade de 21 anos. Em 1885, a Lei dos Sexagenários decretava a liberdade dos
escravos com de 60 anos, idade que poucos atingiam na época. No dia 13 de maio
de 1888, o Parlamento vota a abolição imediata, sem indenização para os
proprietários de escravos. Assim, o Brasil foi o último país americano a extinguir a
escravidão. E os ex-escravos tiveram de se virar para serem absorvidos pela
sociedade e sobreviverem.
2.2 O INÍCIO DA OCUPAÇÃO DOS ESCRAVOS NEGROS EM GUARAPUAVA
Fernando Franco Neto relata em seu livro “População, escravidão e família
em Guarapuava”, que o processo de ocupação e povoamento de Guarapuava não
foi espontâneo, mas oficial e determinado pelo governo português. O processo de
ocupação teve fundamento à concessão de sesmarias, e para tal era necessário
possuir escravos para se obter uma gleba de terra. Em função de ameaças de
espanhóis, a defesa da fronteira sul do país, a partir da segunda metade do século
XVIII, foi a preocupação do governo. Fixar uma população estável nessa área
relativamente vazia seria fundamental para a exploração territorial e a conquista de
novas áreas, expandindo assim os domínios portugueses, sendo adotada pelo
governo a política da expansão de fronteira, baseada em expedições militares de
defesa.
Por determinação do Marques de Pombal, foram organizadas bandeiras de
reconhecimento e defesa das terras que ficavam a oeste da Linha de Tordesilhas,
entre elas a do Tenente Cândido Xavier de Almeida e Souza, que descobriu
Guarapuava em 09 de setembro de 1770. Mas somente com a chegada do Príncipe
Regente, D. João, ao Brasil, é que os campos guarapuavanos passaram a ser
ocupados definitivamente com a doação de sesmarias para aqueles que possuíam
escravos e condições de defender o território.
As primeiras expedições colonizadoras que chegaram em 1810 na região de
Guarapuava eram compostas por homens jovens, casados e alguns já possuíam
filhos e escravos. Por ser região de fronteira, o fluxo populacional era intenso, pois a
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maioria dos migrantes estava chegando para ocupar suas propriedades (iniciando o
povoamento da região), estando envolvidos principalmente com atividades da
pecuária e agricultura de alimentos.
Outros escravos vieram para a região de Guarapuava quando muitos políticos
paulistas foram transferidos para a 5° Comarca do Paraná, por serem criadores de
gado, necessitavam de grandes extensões de terras, requereram também sesmarias
na região de Guarapuava, para onde mandavam seus escravos de confiança para
garantir a posse das novas terras. Com o passar dos anos e pressionados pelas leis,
os proprietários tiveram que assumir a administração dos negócios, transformando
suas propriedades em invernadas, adquirindo gado no sul do Brasil para invernarem
em Guarapuava e depois venderem na feira de Sorocaba, contando sempre com o
auxílio de seus escravos.
A expedição de Diogo Pinto de Azevedo Portugal, a primeira a chegar à
região, era formada por 300 pessoas, entre estes 09 escravos adultos e 02 crianças.
A presença de escravos crioulos foi uma característica das regiões
paranaenses, onde a economia era voltada para o mercado interno. Outra
explicação é de que o Paraná não possuía um entreposto de desembarque de
escravos africanos, reduzindo o acesso a esses indivíduos, e que os proprietários
que possuíam terras em Guarapuava não tinham dinheiro para competir com os
proprietários mais ricos no comércio negreiro e também não possuíam condições de
negociar com os comerciantes de escravos, isso porque o africano jovem e saudável
tinha um preço mais elevado.
A maioria dos escravos que vieram para Guarapuava era crioulos, jovens e do
sexo masculino e foram destinados para trabalharem na lavoura e proteger a
fronteira. A presença dos escravos jovens se explica pela necessidade de pessoas
em plena atividade produtiva que tivessem força suficiente para trabalhar nos
diversos setores da plantação. A utilização do escravo crioulo tinha suas vantagens,
devido a seus costumes e modo de falar, já que esses indivíduos nasceram no
Brasil, foi mais fácil sua inserção na sociedade local.
Muitos escravos vieram de localidades paulistas como Itu, Santos e
Sorocaba. Outros vieram de regiões paranaenses como Curitiba, São José dos
Pinhais, Castro e Ponta Grossa. Alguns desses escravos chegaram à região em
1810, acompanhando a Real Expedição Colonizadora de Guarapuava; outros com a
distribuição de lotes de terra para pessoas mais pobres a partir de 1818.
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O negro escravo representou a força produtiva em todo o Brasil e em
Guarapuava não foi diferente: todo o trabalho nas propriedades era realizado pelos
escravos, desde os mais rudes e pesados, como a derrubada das árvores para dar
início a produção da roça, aos considerados mais leves, como varrer o quintal. Foi
ele que produziu os alimentos, abasteceu as moradias com lenha e água, tratou de
engordar os animais, domar o potro selvagem e depois leva-los para ser vendidos,
carregar as pedras para a construção das moradias, conduziu a boiada pelo mato e
pelos rios até chegarem aos compradores na região de Sorocaba, Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
A jornada de trabalho do escravo era longa, chegando até 18 horas por dia:
começava por volta das 4h da manhã, sem ter uma hora fixa pra terminar. As 18h da
noite era o momento de rezar o terço e quase todas as fazendas possuíam um local
destinado ao santo de devoção. Ao término da oração iniciava a jornada noturna, na
qual o escravo era obrigado a realizar serviços caseiros como debulhar o milho,
fazer os doces e os pães, escolher o feijão e ainda encher os barris de água,
amassar o barro com os pés para a construção das taipas. Era durante a jornada
noturna que aconteciam os acidentes com muitos escravos, pois cansados dormiam
em pé e se queimavam, prendiam as mãos na moenda e cortavam os dedos, e às
vezes viravam os tachos de doces ou sabão fervente sobre o corpo.
Nos primeiros anos de vida de Guarapuava, foram os negros responsáveis
pelos artesanatos feitos de couro: eles produziam os calçados, estrados de cama e
os artefatos para montaria. Depois de cortar as árvores, transformavam a madeira
em camas, mesas, armários, bancos e diversos utensílios para cozinha, como
gamelas que eram utilizadas para a preparação (lavagem) dos alimentos e lavar
louças, pilões para pilar o café torrado e a canjica, e as colheres.
A vida do escravo urbano, apesar de tudo, foi um pouco melhor que aqueles
que viviam na zona rural, que quase não tinham oportunidade de sair da fazenda, a
não ser durante a Festa da Padroeira.
Em Guarapuava quase todas as famílias possuíam escravos, tanto as mais
ricas como as mais pobres, visto que eram eles que faziam todo o trabalho
necessário para a sobrevivência da sociedade. Trabalhavam na cozinha, na
arrumação e limpeza da casa, como porteiro, pajem, lavando roupa, aguadeiro,
cocheiro, e os “tigres”, que transportavam os barris com dejetos até os córregos,
onde eram esvaziados. Foi a escrava negra que amamentou, embalou e ensinou as
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primeiras palavras aos filhos (as) de seus senhores, passando noites inteiras
cuidando das crianças doentes, fazendo chás com ervas medicinais que só elas
conheciam, na tentativa de curar essas crianças que já tinham se tornado os seus
“filhos adotivos”, mesmo porque elas não sabiam onde andavam os seus próprios
filhos.
Muitos escravos urbanos tornaram-se escravos de ganho e aluguel,
prestando seus serviços à comunidade, trabalhando como barbeiros, cocheiros,
fabricantes e vendedores de cestos, carregadores (baús, sacas de café, caixotes,
barris de água) moços de recados, vendedores de milho, leite, galinhas; as mulheres
negras trabalhavam como parteiras, doceiras, lavadeiras, eram vendedoras de angu,
sonho, refresco. Ao término de seu trabalho deveriam entregar aos seus senhores o
dinheiro recebido. Algumas vezes recebiam como recompensa um pouco da quantia
referente ao seu trabalho, que guardavam para garantir com o passar do tempo a
sua alforria.
Os escravos Guarapuavanos, assim como os outros existentes em todo o
território brasileiro, sofreram diversos castigos por parte dos seus senhores, que
procuravam demonstrar que eram donos de suas vidas. Para ter o controle e
obediência do escravo, era lhe aplicado diversos castigos como palmatórias, surras
no tronco, queimaduras com tição, chibatadas, enforcamento, banhos de água
salgada, orelhas cortadas, facadas, uso de ferro nos pés e no pescoço. Também
dormiam amontoados e trancados a cadeados na senzala, vestiam-se mal e
enfrentavam os rigores do inverno descalços. Os que não eram batizados eram
enterrados fora do muro do cemitério juntos com os leprosos.
Com o passar do tempo e não aguentando mais sofrer tanto, os escravos
tentaram criar mecanismos de defesas: abortos, suicídios, às vezes fingiam de
doentes para não ir trabalhar, e através do conhecimento das ervas mortíferas
ministravam veneno na comida dos patrões, provocando invalidez ou morte lenta
dos mesmos. Outros viam na fuga e na criação dos quilombos a salvação de suas
vidas. Alguns negros conseguiram com muito jeito conquistar a afeição dos seus
senhores tornando a vida no cativeiro mais suave: através de negociações
conseguiam um pedacinho de terra para plantar e o direito de ter uma companheira
escolhida pelo seu senhor.
A sociedade escravista começou sua decadência através das Cartas de
Alforria, que podiam ser de quatro modalidades: auto-compra (o escravo pagava o
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valor no ato ou condicionalmente em trabalhos por determinado período); fazendo
companhia aos familiares e antigos donos pelo resto da vida; recebimento da
alforria, como reconhecimento dos serviços prestados e ainda através de compra
justificada pelo Fundo de Emancipação que libertava anualmente os escravos. Em
Guarapuava alguns escravos foram alforriados gratuitamente e tornaram herdeiros
de terras, é o que consta em uma cláusula de testamento de Dona Balbina
Francisca de Siqueira, que diz o seguinte:
Os escravos, que meu finado marido deixou como libertos, com condição somente de me servirem durante minha existência, são os seguintes: Heleodoro e sua mulher Feliciana, Manoel, José Velho, Joaquina, Libania e Rita, os quaes todos tendo-me prestado bons serviços, ficam por isso gozando da liberdade. Declaro, que depois do falecimento de meu esposo, possui mais dois escravos, sendo estes: José Marcos, meu afilhado e Generosa, dos quais fica liberto, sem mais condição alguma, o dito José Marcos, e fica também liberta a mesma Generosa, com a condição porém de servir por espaço de quinze anos as duas orfans que estou creando, de nomes: Maria Antônia dos Santos e Porfiria Pedra, das quaes se alguma casar ficará ella servindo a que ficar solteira, e dela não poderia retirar-se, sem completar os quinze anos, contados do dia de meu falecimento. Declaro, que a invernada denominada Paiol de Telha, que possuo na Fazenda do Capão Grande, e que principia desde o portão até o rio da reserva com as terras de cultura nella existentes, ficão pertencendo por meu falecimento a todos os escravos acima mencionados, e sua famílias, para nella morarem sem nunca poderem dispor, visto como fica como patrimônio dos mesmos. - NETTO (2007: p.244-45)
2.3 INVERNADA PAIOL DE TELHA
Localizada no atual município de Pinhão, também conhecida como “Fundão”,
com uma área de mais ou menos 8.712 hectares, a invernada Paiol de Telha teve a
sua origem no século XVIII, quando migrantes paulistas vieram tomar posse de suas
terras na região de Guarapuava.
Manoel Ferreira dos Santos veio tomar posse de uma sesmaria que havia
recebido do governo imperial, que ficou denominada Fazenda Capão Grande em
1872. De família tradicional e proprietário de gado vacum, Manoel recebeu essa
sesmaria para a instalação de uma fazenda de criação. Era casado com Dona
Balbina Francisca de Siqueira e não possuíam filhos.
Capão Grande era uma fazenda de médio porte voltada para a criação de
gado, mulas e agricultura. A documentação consultada pela autora Miriam Hartung
não deixa muito claro quais eram as ocupações dos escravos e libertos na fazenda,
mas alguns estudos históricos sobre a pecuária no Paraná mostram que os cativos
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eram responsáveis pela produção de subsistência do grupo que ali residiam. Apesar
da maior parte dos escravos se concentrarem na pecuária e serviços domésticos,
existiam aqueles que além de se ocuparem com a agricultura, desempenhavam as
funções de cozinheiro, carpinteiro, campeiro, alfaiate, sapateiro, arrieiro. Mas se
tratando da organização dos mesmos na referida fazenda, os registros de
casamento, batismo, óbito e testamentos permitem verificar a boa relação entre
escravos e seus proprietários.
Referindo sobre a relação entre escravo e proprietário, Hartung relata que
Manoel Ferreira dos Santos em seu testamento liberta Eduardo, um jovem escravo
designado “rapazinho”, recebido como herança materna. Neste testamento Manoel
Ferreira dos Santos se mostra preocupado com o futuro do rapaz, e pede para que a
esposa providencie a instrução e o aprendizado de um ofício a este cativo, mesmo
que o escravo liberto continuasse a conviver naquele espaço com outros de
condição diferente da sua.
Ao se referir especialmente aos escravos, fica demonstrado pela
documentação, que eles já estavam organizados na vida familiar. Do total de
escravos declarados em 1860, no mínimo 06 integravam famílias, conjugais ou
formadas por mães e filhos. Pelo menos 02 famílias se formaram na própria
fazenda, Heleodoro e Feliciana, que se uniram em 1858, e Libânia (escrava liberta
de D. Balbina) e um escravo de uma fazenda adjacente. Esse fato revela que as
relações de parentesco se ampliavam para as propriedades vizinhas.
Outra característica marcante entre os escravos da Fazenda Capão Grande
foi a relação de compadrio: dos 17 escravos, 06 eram afilhados, outros compadres,
quer de escravos daquele ou de outras fazendas, quer de seus senhores ou de
senhores de fazendas vizinhas, como consta na documentação.
Em 1860, Dona Balbina Francisca de Siqueira, proprietária da Fazenda
Capão Grande, deixou de herança para seus escravos e ex-escravos as terras do
campo denominado Invernada Paiol de Telha. Livres 28 anos antes da abolição da
escravidão, esse grupo de escravos passaram a ser proprietários de uma área de
terras de aproximadamente 08 mil hectares.
Agora proprietários da terra e organizados em grupos e famílias, os escravos
e os ex-escravos passaram a produzir seus alimentos em pequenas roças, onde
cultivavam feijão, milho, batatinha e cana-de-açúcar. Seguindo um calendário
estipulado pela família, o cultivo de terra estava dividido em inverno e verão. Os
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produtos não eram comercializados, pois não possuíam excedente. Cada terreno da
casa tinha uma horta, que era da responsabilidade das mulheres. Além da produção
agrícola existia a criação de animais: um pequeno rebanho foi deixado de herança
pela Dona Balbina; com o passar do tempo, quando esse foi diminuindo, passaram a
criação de galinhas e porcos. O porco era comercializado para obtenção de bens
necessários aos familiares que não eram produzidos por eles, principalmente o
vestuário.
Em alguns momentos, grupos de parentes se reuniram para auxiliar familiares
na realização de determinadas tarefas agrícolas. Essa troca de favores era
conhecida como “puxirão”, que às vezes era organizado sem o conhecimento do
dono da roça, chamando-se então “surpresa”. Os grupos se reuniram e combinavam
com um dos membros da família como seria o trabalho e a alimentação por aquele
dia. Este fato apontado mantinha o grupo unido e organizado em defesa dos seus
valores.
Com relação à religiosidade dos moradores da Invernada, ela era expressa
sob duas formas: a familiar e a outra que reunia o grupo como um todo. A primeira
era em homenagem ao santo da casa. Cada família tinha seu local de oração, seu
santo de devoção e ali se reunia para rezar; e em cada morada havia um mastro em
que se expunha a imagem deste santo. Para reverenciar São Sebastião e Santo
Antônio, que eram os padroeiros da comunidade, o grupo organizava uma grande
festa com churrasco, pão e diversas prendas. Também fazia festa para reverenciar
Nossa Senhora Aparecida e Santo Antônio. Esse fato vem reforçar a organização e
união entre o grupo.
Pedro Lustosa de Siqueira, afilhado e sobrinho de Dona Balbina e também
herdeiro do restante da fazenda Capão Grande, aproveitou da confiança dos
herdeiros para requerer parte da fazenda Capão Grande. Depois da desapropriação,
restou aos herdeiros da Invernada apenas 3.000 hectares. Nos anos 40, os
herdeiros entraram com ação judicial solicitando reintegração de posse, no entanto o
processo foi arquivado.
Em 1967, os descendentes dos ex-escravos sofreram uma segunda
expropriação quando tentavam regularizar a sua propriedade: foram enganados por
pessoas que diziam ajudá-los a dividir as terras que eram utilizadas
comunitariamente. Através de uma escritura, suas terras foram transferidas para
Alvy Baptista Vitorassi e João Pinto Ribeiro. Quando estes perceberam que estavam
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sendo expropriados, contestaram a legitimidade do processo, mas foram obrigados
a assinar as escrituras da sessão dos últimos direitos de herança, cujo dono passou
a ser delegado Oscar Pacheco dos Santos.
Em 1975, todos os descendentes dos herdeiros foram finalmente expulsos
das terras da Invernada, então foram morar nas favelas da periferia de Guarapuava.
Mas não se conformaram com a situação e buscaram ajuda de instituições sociais,
como a Comissão Pastoral da Terra de Guarapuava, com o objetivo de manter a
unidade do grupo e reivindicaram a posse de suas terras, criando a “Associação
Pró-Reintegração da Invernada Paiol de Telha”.
Em agosto de 1998, alguns descendentes dos herdeiros da Invernada, foram
levados para uma área prevista para a reforma agrária, que ficou conhecido como
Quilombo Paiol de Telha. O Quilombo Paiol de Telha está localizado na Colônia
Socorro, Entre Rios, no município de Guarapuava. A grande maioria dos moradores
mantém ainda traços da cultura afro, como por exemplo, a culinária típica, rituais
religiosos, crenças, festividades comemorativas, danças e um modo de vida muito
específico, que se constituem em objeto de pesquisa muito importante para
organização e valorização do grupo.
No dia 28 de setembro de 2006, aconteceu um ato solene na Universidade
Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), reconhecendo a comunidade quilombola
como “Invernada Comunidade Paiol de Telha”, com o aval da Fundação Cultural
Palmares. Dessa forma os negros garantiriam a remarcação de suas terras.
3 Implementação
A implementação pedagógica teve início no dia 15 de agosto de 2011, com a
apresentação do projeto aos alunos, explicando seus objetivos, a metodologia a ser
utilizada e o resultado esperado ao término do projeto. Após a apresentação da
proposta aos alunos, iniciamos o trabalho falando sobre a Lei 10.639/2003
promulgada em 9 de janeiro de 2003, no início do governo Luiz Inácio “Lula” da Silva
tornando obrigatório a inserção dos conteúdos da história e cultura Afro-Brasileira e
Africana nos currículos escolares na Educação Básica. Para tornar mais claro o
14
objetivo da Lei realizamos a leitura das questões introdutórias do Parecer CNE/CP
003/2004 que diz o seguinte:
O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe à divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento ético-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada. (Parecer CNE/CP 003/2004. Brasília, julho de 2004).
Os alunos entenderam a importância da Lei, a qual passou a resgatar a
história relacionada a etnia africana que até então era praticamente inexistente nos
estabelecimentos educacionais.
É fundamental que se resgate uma imagem positiva do homem negro, para que a criança negra possa se projetar numa imagem positiva e perceber suas possibilidades de ascensão social e de uma trajetória escolar bem sucedida. Os professores têm colocado um certo temor diante da questão racial, falam o menos possível sobre o assunto, como se na sala de aula existisse uma população homogênea. Para o enfrentamento dessa situação, é necessário que os professores comecem abordando o negro de uma forma positiva, portanto, contrária ao material escolar. Isso se faz resgatando os feitos das personalidades negras, a atuação coletiva do povo negro, a importância das civilizações africanas; é importante que as manifestações culturais negras, como a religiosidade sejam ressaltadas no seu caráter positivo, e não tomadas como superstições que devem ser banidas em nome do progresso. Grandes figuras da humanidade e, em particular na história brasileira, eram negros; e quando a auto estima da criança negra estiver reabilitada ela estará preparada para fazer uma discussão sobre a questão racial a partir do ponto de vista, não de alguém a quem vai fazer uma concessão, mas a partir do ponto de vista de que ela é sujeito histórico e, portanto, importante no contexto sociocultural do seu país. (José Carlos Gomes dos Anjos, em entrevista a O Diário do Norte do Paraná em 7 de setembro de 1997. In Carvalho, 1997, p.74).
Prosseguindo a implementação do projeto, a atividade proposta foi a leitura
do poema “Continente Mãe” (Gilson Nascimento), que teve como objetivo falar da
África como o berço da humanidade, da diáspora negra, a questão da exploração do
povo africano e também de suas riquezas, e refletir sobre a origem do povo
brasileiro como resultado da união das três etnias – branco, índio e negro.
Antes da leitura do poema foi solicitado aos alunos que falassem sobre seus
conhecimentos sobre a África, aonde o mais lembrado eram os animais exóticos,
pessoas escravizadas, lugar atrasado e selvagem, deserto e miséria. Depois que os
15
alunos fizeram os comentários, destacou-se um dos parágrafos que diz o seguinte:
“O africano é de Deus, Ventre Fértil do mundo, Diáspora negra acorda os teus. Brota
lá no Egito e dá vida...” Então expliquei para os alunos que em um continente como
a África existem povos diferentes, com diversidade cultural, e que uma das mais
desenvolvidas civilizações da antiguidade foi a egípcia. Os egípcios ergueram
monumentos que desafiaram o tempo, aperfeiçoaram a agricultura, a medicina,
desenvolveram a escrita, produziram cerveja, perfume e papel, e se distinguiram no
artesanato. Também foi explicado aos alunos que os egípcios eram negros,
diferente do que é mostrado nos filmes, e em alguns livros como pessoas brancas,
numa tentativa de negar o potencial desses povos.
Os africanos quando chegaram ao Brasil trouxeram suas tradições e seus
rituais, suas religiões que hoje faz parte da nossa cultura e deve ser valorizada, que
muitos negros se destacaram como personagens fundamentais para a história do
Brasil. O racismo foi usado no século XIX para justificar a escravidão e a exclusão
dos negros na sociedade.
Dando continuidade foi trabalhado o conceito “quilombo”. Foi explicado para
os alunos que os escravos reagiam de várias maneiras diante da violência
provocada pelo sistema escravista. Provocavam incêndios, destruição das lavouras,
furtos, suicídios. Havia também as fugas em bando e a formação dos quilombos.
A definição do termo “quilombo” remonta ao Brasil Colonial. Ney Lopes afirma
que “quilombo é um conceito próprio dos africanos bantos que vem sendo
modificado através dos séculos”(...) “Quer dizer acampamento guerreiro na floresta,
sendo entendido ainda em Angola como divisão administrativa”. (Lopes, Siqueira e
Nascimento 1987: 27-28) apud Ilka Boaventura Leite.
Segundo uma lei régia de 1741, todo grupo com mais de cinco escravos
fugidos, ou suspeitos de fuga, era considerado um quilombo, arriscando-se desde
logo a ser massacrado ou reduzido à escravidão por capitães do mato. Em todas as
regiões onde existiam escravos, existiam quilombos, que eram maiores quando
ligados aos centros econômicos mais dinâmicos.
O quilombo de Palmares (Serra da Barriga – Alagoas), foi o mais estudado e
sobre o qual se tem mais informações. Palmares, que começou a se organizar no
início do século XVII, chegou a abrigar mais de 20.000 negros fugidos das fazendas
canavieiras. Nessa região desenvolveu-se uma comunidade autossuficiente que
produzia cana-de-açúcar, milho e mandioca. Sobrevivendo por quase cem anos,
16
Palmares sucumbiu em 1695, às tropas portuguesas comandadas pelo bandeirante
Domingos Jorge Velho. Hoje existem comunidades negras rurais habitadas por
descendentes de escravos africanos, conhecidos como quilombolas.
No Paraná existem 86 comunidades quilombolas identificadas, sendo 36
reconhecidas pela FUNDAÇÃO PALMARES, dentre elas a comunidade quilombola
Paiol de Telha no município de Guarapuava.
Para enriquecer e estimular o interesse pelo assunto, foi realizada a leitura do
texto “Zumbi: fantasma histórico ou ancestralidade viva” (doutor Ronaldo Sales
Junior, In Jornal: GT Racismo-Ministério Público de Pernambuco, Jornal Nº 3,
dezembro de 2005). Os alunos também pesquisaram na “Internet” sobre o
personagem Zumbi e depois escreveram textos.
A tarefa seguinte foi uma pesquisa entre os alunos do Colégio D. Pedro I no
período vespertino para verificar se eles conheciam os quilombolas que moram no
Paiol de Telha.
A pesquisa aconteceu da seguinte maneira: os alunos entravam na sala de
aula se identificavam como alunos participantes do projeto do governo PDE – Plano
de Desenvolvimento Educacional, e que estavam fazendo um estudo sobre a
escravidão negra em Guarapuava, e o Quilombo Paiol de Telha, e que eles queriam
saber se os alunos daquela série conheciam moradores daquele Quilombo. Como
em algumas salas os alunos entrevistados não sabiam o que era um Quilombo, os
alunos do projeto explicavam pois já tinham conhecimento sobre o assunto. O
resultado foi o seguinte:
Série Nº
Alunos
Conhecem o Paiol Alunos que
moram no
Paiol
SIM * NÃO
Unid. % Unid. %
5ª B 32 8 25 24 75 2
5ª C 34 3 8,8 31 91,2 3
5ª F 35 11 31,4 24 68,6 3
6ª B 28 1 3,6 27 96,4 0
6ª C 34 6 17,6 28 82,4 4
6ª D 41 0 0 41 100 0
6ª E 30 4 13,3 26 86,7 3
7ª C 46 3 6,5 43 93,5 2
8ª C 35 2 5,7 33 94,3 0
17
* Neste total estão inclusos os que moram no Paiol.
O resultado mostra que mesmo tendo afrodescendentes e moradores do Paiol
de Telha estudando no colégio, um grande número de alunos desconhecem a
realidade da vida dessas pessoas, apesar da existência da Lei 10.639/2003.
Outra atividade que os alunos acharam interessante foi à oficina de bijuterias
administrada por duas senhoras do Rotary Clube Guarapuava Guairacá. Esta oficina
foi ministrada no próprio colégio. Em primeiro lugar os alunos tomaram
conhecimento dos materiais que iriam utilizar e das peças que iriam produzir. As
senhoras explicaram que as joias e objetos de adornos estão fortemente presentes
na cultura africana. Os colares são adornados de contas brancas, vermelhas, e
pretas, e são objetos de proteção para o corpo, os mais conhecidos são os
“laguidibás” cujas contas são feitas de chifre ou casca de coco, sempre na cor preta.
Seu sentido está ligado a religião.
As crianças africanas ganham seus primeiros ornamentos logo após o
nascimento, uma tira de missangas brancas e simples usada em volta da cintura
para dar sorte. Para eles as cores tem diversos significados, que mudam com a
passagem da infância para a vida adulta. Os adornos também dão características às
tribos.
Depois da explicação os alunos receberam os materiais: fio de nylon, tesoura,
alicate, cola, cordão, sementes, casca de coco, e continhas de madeira. Seguindo a
orientação das senhoras, cada aluno produziu cinco peças (colares, pulseiras, e
brincos). Os alunos ficaram muitos felizes com o resultado e saíram da oficina já
75% 91%
69%
96% 92% 100%
87%
94% 94%
Não Conhecem o Paiol
5ª B
5ª C
5ª F
6ª B
6ª C
6ª D
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utilizando as bijuterias, mostrando para os colegas, e explicando tudo o que tinham
aprendido, e durante os dias seguintes continuaram a usar os adornos em sala de
aula.
O objetivo da atividade seguinte foi entender a presença de escravos negros
na região de Guarapuava, para isso realizamos a leitura do seguinte texto: “O início
da ocupação de escravos negros em Guarapuava”.
Fernando Franco Neto relata em seu livro População, escravidão e família em
Guarapuava, que o processo de ocupação e povoamento de Guarapuava não foi
espontâneo, mas oficial e determinado pelo governo português. O processo de
ocupação teve fundamento à concessão de sesmarias, e para tal era necessário
possuir escravos para se obter uma gleba de terra. Em função de ameaças de
espanhóis, a defesa da fronteira sul do país, a partir da segunda metade do século
XVIII, foi a preocupação do governo.
As primeiras expedições colonizadoras que chegaram em 1810 na região de
Guarapuava eram compostas por homens jovens, casados e alguns já possuíam
filhos e escravos. Por ser região de fronteira, o fluxo populacional era intenso, pois a
maioria dos migrantes estava chegando para ocupar suas propriedades (iniciando o
povoamento da região), estando envolvidos principalmente com atividades da
pecuária e agricultura de alimentos.
Na época da ocupação e povoamento da região de Guarapuava, o regime
social de produção do Brasil era baseado no trabalho escravo que era uma realidade
em todo o país e a formação da sociedade guarapuavana também não teve que
fugir de tal situação: o escravo foi responsável por todo o trabalho feito nas
Oficina com senhoras do Rotary Bijuterias feitas pelos alunos
19
propriedades. Mas como o escravo era um bem que custava dinheiro, a maioria dos
povoadores trouxe um número reduzido de escravos, só a quantidade exigida para a
doação das sesmarias, pois era permitida a escravidão dos índios na quantidade
que quisessem sem ter que gastar com essa aquisição.
A maioria dos escravos que vieram para Guarapuava era crioulos, jovens e do
sexo masculino e foram destinados para trabalharem na lavoura e proteger a
fronteira. A presença dos escravos jovens se explica pela necessidade de pessoas
em plena atividade produtiva que tivessem força suficiente para trabalhar nos
diversos setores da plantação. A utilização do escravo crioulo tinha suas vantagens,
devido a seus costumes e modo de falar, já que esses indivíduos nasceram no
Brasil, foi mais fácil sua inserção na sociedade local.
Muitos escravos vieram de localidades paulistas como Itu, Santos e
Sorocaba. Outros vieram de regiões paranaenses como Curitiba, São José dos
Pinhais, Castro e Ponta Grossa. Alguns desses escravos chegaram à região em
1810, acompanhando a Real Expedição Colonizadora de Guarapuava; outros com a
distribuição de lotes de terra para pessoas mais pobres a partir de 1818.
O negro escravo representou a força produtiva em todo o Brasil e em
Guarapuava não foi diferente: todo o trabalho nas propriedades era realizado pelos
escravos, desde os mais rudes e pesados, como a derrubada das árvores para dar
início a produção da roça, aos considerados mais leves, como varrer o quintal. Foi
ele que produziu os alimentos, abasteceu as moradias com lenha e água, tratou de
engordar os animais, domar o potro selvagem e depois leva-los para ser vendidos,
carregar as pedras para a construção das moradias, conduziu a boiada pelo mato e
pelos rios até chegarem aos compradores na região de Sorocaba, Minas Gerais e
Rio de Janeiro.
A jornada de trabalho do escravo era longa, chegando até 18 horas por dia:
começava por volta das 4h da manhã, sem ter uma hora fixa pra terminar. As 18h da
noite era o momento de rezar o terço e quase todas as fazendas possuíam um local
destinado ao santo de devoção. Ao término da oração iniciava a jornada noturna, na
qual o escravo era obrigado a realizar serviços caseiros como debulhar o milho,
fazer os doces e os pães, escolher o feijão e ainda encher os barris de água,
amassar o barro com os pés para a construção das taipas. Era durante a jornada
noturna que aconteciam os acidentes com muitos escravos, pois cansados dormiam
20
em pé e se queimavam, prendiam as mãos na moenda e cortavam os dedos, e às
vezes viravam os tachos de doces ou sabão fervente sobre o corpo.
A vida do escravo urbano, apesar de tudo, foi um pouco melhor que aqueles
que viviam na zona rural, que quase não tinham oportunidade de sair da fazenda, a
não ser durante a Festa da Padroeira.
Em Guarapuava quase todas as famílias possuíam escravos, tanto as mais
ricas como as mais pobres, visto que eram eles que faziam todo o trabalho
necessário para a sobrevivência da sociedade. Trabalhavam na cozinha, na
arrumação e limpeza da casa, como porteiro, pajem, lavando roupa, aguadeiro,
cocheiro, e os “tigres”, que transportavam os barris com dejetos até os córregos,
onde eram esvaziados.
Muitos escravos urbanos tornaram-se escravos de ganho e aluguel,
prestando seus serviços à comunidade, trabalhando como barbeiros, cocheiros,
fabricantes e vendedores de cestos, carregadores (baús, sacas de café, caixotes,
barris de água) moços de recados, vendedores de milho, leite, galinhas; as mulheres
negras trabalhavam como parteiras, doceiras, lavadeiras, eram vendedoras de angu,
sonho, refresco. Ao término de seu trabalho deveriam entregar aos seus senhores o
dinheiro recebido. Algumas vezes recebiam como recompensa um pouco da quantia
referente ao seu trabalho, que guardavam para garantir com o passar do tempo a
sua alforria.
Os escravos Guarapuavanos, assim como os outros existentes em todo o
território brasileiro, sofreram diversos castigos por parte dos seus senhores, que
procuravam demonstrar que eram donos de suas vidas. Para ter o controle e
obediência do escravo, era lhe aplicado diversos castigos como palmatórias, surras
no tronco, queimaduras com tição, chibatadas, enforcamento, banhos de água
salgada, orelhas cortadas, facadas, uso de ferro nos pés e no pescoço. Também
dormiam amontoados e trancados a cadeados na senzala, vestiam-se mal e
enfrentavam os rigores do inverno descalços. Os que não eram batizados eram
enterrados fora do muro do cemitério juntos com os leprosos.
A sociedade escravista começou sua decadência através das Cartas de
Alforria, que podiam ser de quatro modalidades: auto-compra (o escravo pagava o
valor no ato ou condicionalmente em trabalhos por determinado período); fazendo
companhia aos familiares e antigos donos pelo resto da vida; recebimento da
alforria, como reconhecimento dos serviços prestados e ainda através de compra
21
justificada pelo Fundo de Emancipação que libertava anualmente os escravos. Em
Guarapuava alguns escravos foram alforriados gratuitamente e tornaram herdeiros
de terras.
Prosseguindo a implementação do projeto a atividade proposta foi um
trabalho de pesquisa na Internet – “Conhecendo o Quilombo Paiol de Telha”
(www.oseias.org/pesquisa/modules/news/article.php.?storyid=20), e após a pesquisa
os alunos confeccionaram texto relatando o que tinham aprendido durante a
pesquisa.
Para que os alunos entendessem melhor a origem do Quilombo Paiol de
Telha, foi lido o testamento de Dona Balbina Francisca de Siqueira, que diz o
seguinte:
“Os escravos, que meu finado marido deixou como libertos, com condição somente de me servirem durante minha existência, são os seguintes: Heleodoro e sua mulher Feliciana, Manoel, José Velho, Joaquina, Libania e Rita, os quaes todos tendo-me prestado bons serviços, ficam por isso gozando da liberdade. Declaro, que depois do falecimento de meu esposo, possui mais dois escravos, sendo estes: José Marcos, meu afilhado e Generosa, dos quais fica liberto, sem mais condição alguma, o dito José Marcos, e fica também liberta a mesma Generosa, com a condição porém de servir por espaço de quinze anos as duas orfans que estou creando, de nomes: Maria Antônia dos Santos e Porfiria Pedra, das quaes se alguma casar ficará ella servindo a que ficar solteira, e dela não poderia retirar-se, sem completar os quinze anos, contados do dia de meu falecimento. Declaro, que a invernada denominada Paiol de Telha, que possuo na Fazenda do Capão Grande, e que principia desde o portão até o rio da reserva com as terras de cultura nella existentes, ficão pertencendo por meu falecimento a todos os escravos acima mencionados, e sua famílias, para nella morarem sem nunca poderem dispor, visto como fica como patrimônio dos mesmos.” - NETTO (2007: p.244-45)
Para enriquecer os assuntos abordados neste estudo e conhecer um pouco a
herança cultural dos afrodescendentes realizamos uma visita em 27 de outubro de
2011 ao Quilombo Paiol de Telha, localizado na Colônia Socorro a mais ou menos
20 Km do Colégio D. Pedro I. Antes da visita os alunos providenciaram a confecção
de questões, as quais eles as utilizariam como roteiro para sanar as dúvidas que
ainda possuíam sobre o tema. Entre elas destacamos: a.) Quantas famílias moram
no local? b.) Os jovens da comunidade frequentam escola e ou universidades? c.)
Todos que residem no Quilombo Paiol de Telha, são afrodescendentes? d.) Qual o
contato dos moradores com as religiões de matriz africana? e.) Quais são os
principais desafios enfrentados pela comunidade? f.) De que maneira vocês mantém
viva a cultura que herdaram dos seus ancestrais?
22
Fomos recebidos por alguns moradores que nos levaram para conhecer o
local. Primeiramente nos levaram ao barracão aonde acontece os ensaios do Grupo
de Dança Kundun Balê, e aonde também é realizado alguns ritos da religião
africana. Depois percorremos trilhas ecológicas até uma das cachoeiras existentes
na comunidade, um lugar excelente para diversão dos alunos, que nadaram e
brincaram bastante. Após o período das brincadeiras nas águas retornamos as
proximidades do barracão aonde um ex-aluno do Colégio D. Pedro I, e integrante do
Grupo de Dança respondeu as questões formuladas antes do início da visita, a
saber: a.) 64 famílias de afrodescendentes; b.) Sim; c.) Não. Possuem famílias de
outras etnias que adquiriram terras na região; d) Algumas pessoas participam da
religião de matriz africana, o Candomblé. Os encontros são realizados no Centro
Cultural, aonde fazem as homenagens e comemorações para alguns orixás entre
eles Xangô, Ogum, Oxum, e Iansã; e.) Falta de atendimento médico, pois não há
Posto de Saúde, e ou Médicos que atendam a comunidade no próprio local, sendo
necessário grandes deslocamentos para obter estes atendimentos. O mesmo
ocorrendo com a educação, pois não há escolas, e estas se encontram a mais de 20
Km do local. Outra dificuldade é quanto ao reconhecimento da posse das terras; f.)
Antes do surgimento do Grupo de Dança, não havia preocupação com a
manutenção da cultura dos ancestrais. Após a formação deste grupo ocorreu o
incentivo para o resgate desta cultura, e providenciar a sua difusão por meio da
música e da dança. Em um primeiro momento o grupo formado por adolescentes
utilizam do teatro para contar a história da comunidade, com o passar do tempo
começou a fazer uso da dança em suas apresentações. Ouvindo os relatos dos
moradores mais idosos e as suas vivências, o grupo passou a fazer uso deste
conhecimento para o resgate da cultura e através da dança manter viva esta cultura.
O grupo foi formado em 2006 por bailarinos e percursionistas com o objetivo
de resgatar as manifestações culturais de seus ancestrais, e difundi-los aos
moradores da região, sendo o principal alvo as escolas. Em 2007 foi desenvolvido o
projeto “Bolongo: O Fogo da Sabedoria”, que busca resgatar a valorização do
indivíduo através das suas características utilizando um nome africano. O bolongo é
um ritual africano de tradição Mandinga, e tem semelhança com o batismo cristão.
Os componentes do grupo participaram deste ritual e segundo as características de
cada um, receberam um nome africano, como por exemplo: Dandara, Anaxilê,
23
Makena, Kunta, Afixirê, Akan, e Djankaw. Todos são nomes dados segundo as
línguas africanas dentre elas Nagô, Ioruba, Mandinga entre outras variações.
O Grupo Kundun Balê fez várias apresentações no Paraná e São Paulo, com
a montagem de quatros shows (Fogo da Justiça, Acorda Raça, Encanto das Três
Raças, e Releitura do Acorda Raça), também participaram durante três anos
consecutivos no “FERA – Festival de Artes da Rede Estudantil”, promovido pelo
governo do Paraná. Foi produzido pela TV-E um documentário (Kundun escravos da
liberdade).
Em 2010 o grupo conquistou dois importantes prêmios nacionais: o 1º Prêmio
Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras, e o Selo Cultura Viva, ambos
concedidos pelo Ministério da Cultura com patrocínio da Petrobrás. O grupo participa
de festivais, debates, seminários, e tem o reconhecimento de seu sucesso através
do público que os assistiram nas mais de 200 apresentações nos palcos do Paraná.
O grupo desenvolve atividades culturais no Quilombo Paiol de Telha, entre
elas a oficina de penteados afros (teoria e prática), artesanato (colares, brincos,
pulseiras), oficinas com ritmos afros, dança dos Orixás, danças circulares, e
brincadeiras de rodas, puxada de rede e maculelê. É por meio do grupo e do
envolvimento da comunidade que os jovens tem aumentado a autoestima, afastando
o preconceito e mostrando a sua diversidade cultural possibilitando manter viva a
memória de seus ancestrais que ajudaram a construir a nação brasileira.
Depois de ouvir com muita atenção o relato do Léo (ex-aluno do Colégio D.
Pedro I) os alunos fizeram algumas perguntas e anotações, e após realizar os
agradecimentos pela acolhida, retornamos ao colégio. Como atividade para casa os
alunos tiveram de confeccionar um relatório sobre a visita ao Quilombo Paiol de
Telha.
Dando continuidade a implementação os alunos tiveram oportunidade de
participarem de uma oficina de penteado afro. Essa oficina foi desenvolvida pelo
aluno Mateus do Colégio D. Pedro I, dançarino do grupo Kundun Balê e morador no
Paiol de Telha. Primeiramente foi explicado para os alunos que os penteados com
tranças na África abrangem um amplo terreno social: religiões, idade, parentesco, e
outros atributos podem ser expressos no penteado, como diferenciar as tribos e até
sua posição na sociedade africana.
Tão importante é o ato de trançar, que transmite valores culturais entre
gerações, e exprime os laços entre amigos.
24
Com a escravidão das sociedades africanas o cabelo exerceu a importante
função de condutor de mensagem. Nessas culturas, o cabelo era parte integrante de
um complexo sistema de linguagem. A manipulação do cabelo era uma forma de
resistência e de manter suas raízes.
A trança Nagô é feita junto ao couro cabeludo e permite a criação de vários
desenhos. Pode ser feita até a metade da cabeça, ou na cabeça inteira com cabelo
natural e ou com aplicação de outros fios naturais e artificiais. Dependendo do
tamanho do cabelo e da complexidade do desenho, o trabalho pode durar de 1 a 7
horas (www.pixaim.com).
A trança elaborada pelo Mateus foi uma criação mais simples, como se
apresenta nas fotos abaixo:
25
Os alunos acharam interessante e gostaram muito dos penteados
apresentados, e ainda hoje alguns aparecem no colégio com este estilo de
penteado.
Para o encerramento do projeto foi pedido que os alunos confeccionassem
cartazes e algumas atividades para serem apresentadas para a comunidade escolar
e também um questionário sobre o projeto com as seguintes questões:
1. A lei Nº 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-
brasileira nas escolas. Por que esta Lei é tão importante?
2. O que é uma comunidade quilombola?
3. Aonde se localiza a comunidade Quilombola Paiol de Telha?
4. Sua opinião sobre a comunidade Quilombola Paiol de Telha:
a. Como vivem?
b. Quais são as suas conquistas?
c. Quais são os seus desafios?
5. Sua opinião sobre o projeto:
a. Gostou de participar, por que?
b. O que você achou mais interessante?
c. O que você aprendeu por meio das entrevistas com os moradores do
Quilombo do Paiol de Telha?
O encerramento das atividades do projeto aconteceu no dia 1º de dezembro
de 2011, com a apresentação dos trabalhos para a comunidade escolar.
Os alunos confeccionaram cartazes relatando as atividades que aconteceram
durante o projeto. Os alunos explicaram a importância da Lei 10.639/2003, fizeram
apresentação de um jogral com o poema “Continente mãe”, e outro aluno fez um
relato do que ele aprendeu sobre a vida dos escravos negros em Guarapuava. Uma
aluna fez a leitura relatando a história dos afrodescendentes do Quilombo Paiol de
Telha, e para finalizar outra aluna relatou a experiência de ter visitado a comunidade
Paiol de Telha.
4 Considerações Finais
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Foi muito importante para os alunos do Colégio Estadual D. Pedro I, o estudo
sobre a comunidade quilombola Paiol de Telha, despertando interesse e curiosidade
por tratar de assuntos ligados à vida de muitos colegas que moram nesta região.
Através das leituras de textos, oficinas, desenvolveu-se uma compreensão mais
ampla da história local, valorizando a contribuição das pessoas da comunidade e a
herança trazida pelos seus ancestrais. Percebeu-se o interesse dos alunos em
compreender e valorizar a memória cultural dos antepassados.
Nas discussões sobre a importância do projeto de intervenção pedagógica no
colégio, o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, a professora “A” relatou: “É de
fundamental importância o estudo da história local do Paiol de Telha, pois um dos
principais desafios de nosso tempo é resgatar a dignidade desse povo que a tempo
lhe foi negado o direito de ser cidadão, principalmente dos jovens e adolescentes
que frequentam a escola pública e que serão os futuros representantes desta
comunidade.” Outro professor escreveu: “O tema é relevante para que possamos
conhecer e reconhecer a comunidade Paiol de Telha como símbolo da resistência
negra na luta pelos seus direitos. Considero positivo desenvolver um trabalho mais
amplo sobre a temática, é exatamente deste tipo de projeto que necessitamos em
nossas escolas, para que possamos refletir e engajar na luta em defesa dos direitos
das classes oprimidas.”
As diferentes estratégias utilizadas para o desenvolvimento do trabalho com
os alunos envolvidos obtiveram bons resultados. A visita à comunidade Paiol de
Telha obteve a junção dos conhecimentos teóricos com a prática, fazendo com que
os alunos entendessem a importância da história dos afrodescendentes na formação
da própria história e cultura do povo paranaense, já que os livros didáticos existentes
não trazem estas informações sobre a cultura local, que eram em sua maioria
desconhecidas dos alunos, mesmo convivendo com habitantes desta comunidade
tão próxima – o Paiol de Telha.
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27
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