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21 A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS ADAPTADOS NO PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS Fátima Inês Wolf de Oliveira 1 Resumo: O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades amplia-se, ainda mais, no despertar do novo milênio, e aponta para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada pela competição e pela qualidade, em que progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mercado de trabalho. Tal demanda impõe uma revisão dos currículos da formação profissional que orientam o trabalho realizado no dia-a-dia pelos educadores e especialistas em educação do nosso país. Palavras-chave: educação, recursos didáticos, formação de cidadãos. 1. INTRODUÇÃO A perspectiva de uma educação para todos constitui um grande desafio, quando a realidade aponta para uma numerosa parcela de excluídos do sistema educacional sem possibilidade de acesso à escolarização, apesar dos esforços empreendidos para a universalização do ensino. Essas condições exigem a atenção da comunidade escolar para viabilizar a todos os alunos, indiscriminadamente, o acesso à aprendizagem, ao conhecimento e ao conjunto de experiências curriculares disponibilizadas ao ambiente educacional, a despeito de necessidades diferenciadas que possam apresentar, conforme idéias presentes em vários documentos oficiais (BRASIL, 1996; BRASIL, 1997). Enfrentar esse desafio é condição essencial para atender à expectativa de democratização da educação em nosso país e às aspirações de quantos almejam o seu desenvolvimento e progresso. Com base no reconhecimento da diversidade existente na população escolar e na necessidade de respeitar e atender a essa diversidade, existe a necessidade de focalizar a formação docente como ferramenta básica da emancipação e da cidadania; busca dimensionar o sentido e o alcance que se pretende dar às questões curriculares como estratégias e critérios de atuação docente; e admite decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de os alunos aprenderem, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola.

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A IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS ADAPTADOS NO PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

Fátima Inês Wolf de Oliveira1

Resumo: O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das sociedades

amplia-se, ainda mais, no despertar do novo milênio, e aponta para a necessidade de se

construir uma escola voltada para a formação de cidadãos. Vivemos numa era marcada

pela competição e pela qualidade, em que progressos científicos e avanços tecnológicos

definem exigências novas para os jovens que ingressarão no mercado de trabalho. Tal

demanda impõe uma revisão dos currículos da formação profissional que orientam o

trabalho realizado no dia-a-dia pelos educadores e especialistas em educação do nosso

país.

Palavras-chave: educação, recursos didáticos, formação de cidadãos.

1. INTRODUÇÃO

A perspectiva de uma educação para todos constitui um grande desafio, quando a

realidade aponta para uma numerosa parcela de excluídos do sistema educacional sem possibilidade

de acesso à escolarização, apesar dos esforços empreendidos para a universalização do ensino.

Essas condições exigem a atenção da comunidade escolar para viabilizar a todos os

alunos, indiscriminadamente, o acesso à aprendizagem, ao conhecimento e ao conjunto de

experiências curriculares disponibilizadas ao ambiente educacional, a despeito de necessidades

diferenciadas que possam apresentar, conforme idéias presentes em vários documentos oficiais

(BRASIL, 1996; BRASIL, 1997).

Enfrentar esse desafio é condição essencial para atender à expectativa de

democratização da educação em nosso país e às aspirações de quantos almejam o seu

desenvolvimento e progresso.

Com base no reconhecimento da diversidade existente na população escolar e na

necessidade de respeitar e atender a essa diversidade, existe a necessidade de focalizar a formação

docente como ferramenta básica da emancipação e da cidadania; busca dimensionar o sentido e o

alcance que se pretende dar às questões curriculares como estratégias e critérios de atuação

docente; e admite decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras

peculiares de os alunos aprenderem, considerando que o processo de ensino-aprendizagem

pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola.

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Nossa intenção, neste trabalho, é de intensificar o foco na atuação dos educandos

em geral, inclusive dos que possuem necessidades educacionais especiais; dos alunos que as

apresentam, e oferecer aos educadores referências para uma formação e atuação adequadas.

Foram desenvolvidas ações referentes ao projeto de nossa coordenação intitulado: “Atuação

Interdisciplinar junto a alunos com necessidades educacionais especiais de classes especiais,

salas de recursos em processo de inclusão”, do Núcleo de Ensino da UNESP de Marília, que

representaram melhoria significativa na prática didático-pedagógica desse contingente escolar.

Considerando o que se percebe de maneira mais expressiva, ao se pensar na

viabilidade do modelo de escola inclusiva para todo o país no momento, é a situação dos recursos

humanos, dos professores das classes regulares e dos professores de educação especial, que

precisam ser adequadamente formados para transformar sua prática educativa. A formação e a

capacitação docente impõem-se como meta principal a ser alcançada na concretização do sistema

educacional que inclua a todos, verdadeiramente. Partindo desses princípios, as iniciativas

desenvolvidas durante a execução deste projeto permitiram incrementar a formação docente de

seis bolsistas, sendo quatro contempladas com a bolsa, e duas voluntárias que participaram

diretamente das atividades com professores especializados das classes especiais de deficientes

mentais; classes especiais de deficientes físicos e salas de recursos de deficientes visuais

pertencentes às três Escolas Estaduais e de ensino municipalizado de Marília, parceiras do projeto.

Face às considerações acima, consideramos que tratar de educação para todos

implica em aprimorar, mas também, “aproximar” os ideais da formação dos educadores sem

dicotomias entre professores regulares e especializados. Rever as estratégias nos encontros e

congressos de formação de educadores, sem distanciamentos e sim de aproximações e trocas

de conhecimentos visando a construção de uma educação para todos. Essas idéias mobilizaram

e incentivaram tanto alunos bolsistas quanto professores envolvidos a participar da divulgação do

conhecimento científico produzido em eventos locais e regionais, visando, assim, a consecução das

propostas elaboradas na proposta inicial deste projeto.

O processo de inclusão das crianças com necessidades especiais na escola e na

sociedade requer conhecimentos específicos dos profissionais envolvidos. Quais seriam as

adaptações necessárias para um bom desempenho acadêmico do aluno com limitação visual,

física ou mental na rede regular de ensino? Quais atitudes e conhecimentos necessários

deveriam ser dominados pelos professores regulares? Tais questionamentos foram motivação

para o estudo dos recursos e dos procedimentos de ensino adequados aos alunos com

necessidades especiais, favorecendo seu processo de inclusão no ambiente escolar. Hoje, tendo

em vista a perspectiva de uma escola inclusiva, acredita-se que o conhecimento sobre

1 Professora do Departamento de Educação Especial (Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília).

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adaptações curriculares e recursos didático-pedagógicos adaptados, por parte dos professores

da rede regular de ensino que recebem, entre outros, alunos portadores de limitações

sensoriais, físicas e mentais, pode tornar-se elemento facilitador para essa inclusão. O projeto

do Núcleo de Ensino, objeto central de nossas idéias nesse artigo, buscou sustentação

teórica e prática nos pressupostos da educação inclusiva descritos na Declaração de

Salamanca (UNESCO, 1994), por se acreditar que alunos com limitações sensoriais, físicas,

mentais, múltiplas ou ainda com altas habilidades, possam freqüentar salas regulares e, na

mesma escola, receber apoio específico e, assim como eles, as professoras no tocante às

orientações sobre as adequações necessárias.

Segundo Cerqueira e Ferreira (2000), “talvez em nenhuma outra forma de educação

os recursos didáticos assumam tanta importância como na educação especial de pessoas

deficientes” (p.24). A manipulação de diferentes materiais ajuda no desenvolvimento da percepção

tátil, facilitando a discriminação de detalhes e propiciando a movimentação dos dedos. Njoroge

(1994) salienta que é preciso auxiliar os estudantes com visão subnormal a alcançarem a

utilização máxima de sua visão com a maior quantidade de adaptações. Também é preciso

ajudá-los a manter um equilíbrio real entre o que é possível e o que é prático. Assim, para

o professor que tem em sua sala um aluno com necessidades educacionais especiais, não

deve haver limite para a criatividade e para a utilização de recursos pedagógicos, mobiliário

adaptado e estratégias adequadas que motivam sua vontade de aprender.

Segundo De Carlos (1992), no momento em que se fizerem necessárias as

adaptações curriculares às necessidades do aluno com visão subnormal não se trataria de

modificar os conteúdos de ensino, mas, sim, como e quando ensiná-los. Para que a utilização

do recurso adaptado ao aluno com necessidades especiais alcançasse a melhor eficiência

possível, foram levados em conta os critérios acima, em sua seleção, adaptação e na

elaboração, visando maior eficácia do trabalho das alunas bolsistas com esses alunos

especiais.

Buscando subsidiar os futuros professores e os que já atuam nas escolas regulares

em sua tarefa de favorecer seus alunos na ampliação do exercício da cidadania, iniciativas como

essa do Núcleo de Ensino, em ação conjunta de professores colaboradores e orientadores, procuram

orientar alunos a produzirem material didático-pedagógico adaptado para auxiliar alunos com

deficiências físicas, visuais e mentais em busca de inclusão escolar e exercício de cidadania

plena (Mantoan, 2001).

Este trabalho pretendeu contribuir com esclarecimentos importantes aos professores

regulares sobre a necessidade de se utilizar recursos adaptados para facilitar a aquisição de

conhecimentos por parte de alunos com necessidades especiais. Enfatizou-se , porém, que

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para a construção de uma escola, de uma família, enfim, de uma sociedade que se quer

inclusiva, há que se pesquisar, estudar e intervir de forma decisiva para o êxito desse

processo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 9.394. MEC, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial. Adaptações Curriculares para o Ensino Fundamental. MEC/SEESP, 1997.

CERQUEIRA, J. B.; FERREIRA, M. A. Os recursos didáticos na educação especial. Rio de Janeiro: Revista Benjamin Constant, nº 5, dezembro de 1996. p.15-20.

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NJOROGE, M. El trabajo com alumnos com baja visión: algunas consideraciones útiles. Seminário para Profesores de Alumnos con Discapacidad Visual, Kajiado, Kenia, 1994

UNESCO. Ministério da Educação e Ciência da Espanha/CORDE. Declaração de Salamanca e Linha de Ação Sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília, 1994.

UNESCO. Special needs education. Students with disabilities in regular schools: welcoming schools. Division of basic education. Paris - France, 1999.