A Importância do Material Impresso no processo de aprendizagem na Educação a Distância (EaD)
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A Importância do Material Impresso no processo de aprendizagem na Educação a Distância (EaD)
São Bernardo do Campo – SP - Novembro de 2011
César Pereira Faustino – Faculdade de São Bernardo do Campo/[email protected]
Franciely Flavia Silva – Faculdade Anchieta- [email protected]
Jaqueline Erray Cecchi – Faculdade Anchieta - [email protected]
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar e discutir a importância que o
material impresso faz na relação com o processo de ensino e aprendizagem na
Educação à Distância, bem como as formas de sua utilização. O trabalho identifica
as mudanças na forma dos textos impressos ao longo da história da educação à
distância e sua utilização, principalmente em função da evolução do pensamento
pedagógico e das atuais concepções, na qual, infere diretamente sobre as formas
de organizar e estruturar os textos escritos pertinentes ao processo de elaboração
dos materiais didáticos impressos para EaD e, o grau de “abertura” adequado a
um material que será utilizado para o aluno construir seus saberes, na ausência
de um instrutor / orientador.
Partindo desses pressupostos, estruturou-se o presente artigo da seguinte
forma: I- Introdução: explicitando as necessidades e indagações a serem
discutidas no decorrer do artigo; II- Evolução dos textos impressos para EaD e
suas gerações; III- Estatísticas sobre o uso do material impresso e outras mídias
na Educação à Distância; IV- Observações relevantes sobre a produção de MDI
para EaD; V-Pontos positivos e negativos da utilização do MDI na EaD; VI-
Considerações Finais que por si só, exprime as considerações referentes às
reflexões realizadas.
Palavras- chaves: Material Didático Impresso, Ensino e Aprendizagem, Educação à Distância.
2
1. Introdução:A elaboração do artigo fundamenta-se nos estudos realizados na área da
Educação à Distância, focalizando o processo de desenvolvimento de materiais
didáticos para a EAD, abrangendo seu histórico com ênfase nos recursos
didáticos utilizados, fazendo um breve comparativo com a utilização de materiais
didáticos no ensino presencial, bem como os critérios adotados no que cerne ao
processo de elaboração de materiais didáticos para EAD e sua relevância, sendo
que o processo de planejamento, elaboração e utilização dos mesmos são
totalmente diversos aos do ensino presencial.
Muito já se pesquisou sobre a utilização de materiais didáticos em situações
presenciais, porém com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
nº 9.394 de 1996 e demais legislações subsequentes, oficializaram a possibilidade
de realizar cursos de graduação e pós-graduação à distância, fazendo com que
houvesse a necessidade de estudar e praticar novos olhares e diretrizes para a
elaboração de materiais didáticos que atendam às peculiaridades da modalidade à
distância.
Entretanto, a trajetória da EAD no Brasil antecede o emprego da informática
na educação, por meio de ações como o ensino por correspondência,
transmissões radiofônicas e tele-educação. Todavia, muitas dessas experiências
partem da concepção de educação enquanto transmissão de saberes e os
materiais didáticos funcionam como meios para que a informação chegue a uma
quantidade maior de pessoas. Se essas iniciativas, por um lado, democratizam o
acesso à educação, por outro, geram um isolamento do estudante devido às
precárias ferramentas de interação disponíveis verificamos historicamente.
2. Evolução dos textos impressos para a Educação à Distância:Dentro do EaD conforme LANDIM (1997) demonstra, temos três gerações
do Ensino à Distância permeados pela educação, e nessa gerações temos o
material impresso sendo citado.
A primeira geração surgiu nos idos do século XIX e o ensino consistia por
meio de correspondências, em que textos escritos para o ensino presencial eram
enviados aos alunos por meio do correio postal. O conteúdo dos textos reproduzia
3
as “lições” do professor, sem que houvesse a preocupação de imprimir ao material
instrucional um caráter específico que o distinguisse do material destinado ao
ensino presencial (EMERENCIANO, M. S. e WICKERT, M.L, 1998).
Nas primeiras décadas do século XX, a elaboração dos textos passa a
atender pressupostos das teorias de aprendizagem vigentes, tomando
características especificamente talhadas para o ensino à distância. Dentre os
fatores que influíram nos rumos da educação e do ensino, com reflexos na
elaboração de textos para EaD estavam: as concepções pragmatistas da Filosofia
de Educação de Dewey; a Psicologia Behaviorista e os avanços da Psicologia
Experimental; os métodos de ensino diretivo inspirados em Skinner; e os
princípios de Tyler para a construção de currículos e ensino. A teoria geral dos
sistemas, apresentada pela primeira vez por Bertalanffy, em 1937, só terá
repercussão após a segunda guerra mundial, mas, aos poucos, a abordagem
sistêmica é adotada em todos os setores de atividades, inclusive no setor
educacional e no material instrucional para “estudo programado”.
Sob o impacto desses fatores, o material impresso para EaD passa a ser
elaborado na forma de “módulo de ensino”, que caracterizava-se por ser um
material escrito que oferecia ao aluno, duas ou mais alternativas de aprendizagem
(texto alternativo, textos suplementares, esquemas) para atingir determinados
objetivos, que por sua vez deveriam ser redigidos de forma específica,
explicitando claramente o comportamento a ser desempenhado pelo aprendiz ao
final do processo.
Sob influência dos princípios de Tyler, os objetivos comportamentais
passaram a orientar todo o processo de ensino e aprendizagem e, por extensão,
marcaram a própria estruturação do material instrucional. No Brasil, a influência
de Tyler por longo tempo fundamentou as diretrizes para a construção de
currículos e para o ensino, com reflexos também na construção de material
instrucional, tendo como expoente nos anos 30, o Instituto Monitor. O mesmo
desenvolvia os famosos cursos a distância que envolvia apostilados e no final do
curso era remetido ao discente um diploma. Outro Instituo forte nesta época foi o
4
Instituto Universal Brasileiro, presente até hoje com cursos apostilados das mais
diversas áreas.
Seguindo na segunda geração, o material apostilado deu espaço para os
recursos síncronos do rádio e da televisão. Nos anos 70, um movimento de
renovação da Educação denunciava o caráter reprodutivista do ensino formal, cuja
função seria a de reproduzir as condições da sociedade vigente, e clamava por
uma prática pedagógica mais coerente com a realidade sócio-cultural do aluno
(BOURDIEU & PASSERON, 1975).
De acordo com esse movimento, a Educação só pode ser compreendida a
partir dos condicionantes sociais e das relações de dependência para com as
forças dominantes da sociedade que a mantém. Várias correntes, denominadas
por SAVIANI (2000) de Crítico-Reprodutivistas, tentavam explicar a dinâmica das
funções sociais da educação e da escola, e entre as principais se situam: a teoria
do sistema de ensino enquanto violência simbólica de Bourdieu e Passeron e a
teoria da escola enquanto aparelho ideológico do estado de Althusser.
Prevalecendo os pressupostos crítico-reprodutivas da educação, seria
impossível considerar que ações pedagógicas da escola pudessem contribuir para
superar as desigualdades sociais. Entretanto, dentre as teses surgidas naquele
momento, predominou a visão da relação dialética existente entre educação
escolar e sociedade, isto é, a educação escolar é, a um só tempo, produto e fator
da sociedade. Por um lado, a escola é a forma institucionalizada de transmitir o
saber e a cultura acumulados pela sociedade, com o fim de preservá-la; por outro
lado, constitui espaço de manifestação e desenvolvimento de seu potencial para
criar novos significados, novos saberes e novas culturas, o que por sua vez
concorre para transformar essa mesma sociedade. Surgem assim, os
pressupostos do que Moacir Gadotti (1987) chamou de Pedagogia Dialética -
comprometida com os interesses das classes menos favorecidas e que se negava
a ver a escola como instrumento para reprodução da estrutura social vigente.
De fato, os preceitos básicos da pedagogia dialética, em oposição à
concepção reprodutivista, reconhecem a existência de conflitos no espaço escolar,
mas acreditam nas possibilidades de enfrentá-los e assumem um compromisso
5
com a libertação - a transformação social. Para tanto, estudiosos consideram que
o processo de ensino e aprendizagem não poderia ser desvinculado da realidade
social e dos condicionantes históricos presentes na experiência de vida dos
alunos. Ou seja, a ação pedagógica crítica e transformadora deveria integrar-se à
realidade concreta do aluno, buscando transformá-la.
Nessa concepção, os conteúdos trabalhados precisariam estar relacionados
com a experiência e com os conhecimentos já dominados pelo aluno. Portanto,
na relação pedagógica dialética, ao mesmo tempo em que novos temas são
apresentados, devem ser reelaborados pelo aluno num processo de reflexão e em
confronto com os conhecimentos que já são de seu domínio, na qual, a última
etapa do processo é a aplicação dos conhecimentos aprendidos (ou reelaborados)
sobre a realidade, no sentido de transformá-la.
Já na terceira geração, a concepção da aprendizagem crítico-reflexiva
começa a ganhar sentido, embasada pelas correntes teóricas sóciointeracionistas,
sendo que o material impresso é complementado, também, pelo ambiente virtual.
Virtualmente o material impresso vira arquivo pdf e é lido da mesma forma que
livro, podendo ser reproduzido em Desktop’s, Notebook’s, Netbook’s, Tablet’s, etc.
3. Estatísticas do uso de materiais didáticos impressos (MDI) e outras mídias na Educação à Distância no Brasil:Segundo o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e à Distância
de 2006, há uma estimativa razoável de que ao menos 84,2% do que acontece
neste planeta em termos de educação a distância usa como base o material
didático impresso (MDI). Assim verifica-se que a educação à distância no Brasil
ainda é dominada por este tipo de mídia, geralmente utilizada na forma de
apostilas, fascículos e livros didáticos, geralmente distribuídos pelo sistema dos
Correios aos alunos de EaD.
Atualmente, todas as Universidades Federais que estão autorizadas - ao
menos em caráter experimental por dois anos – para atuar em Educação a
Distância superior pelo Ministério da Educação (MEC) - através da Portaria nº 873,
publicada no Diário Oficial da União de 11/04/2006 - utiliza o material impresso
6
como mídia predominante (84%). A internet vem crescendo, e ocupa o segundo
lugar, com 63% de instituições que a utilizam em EaD. Nota-se a predominância
da mídia impressa em todos os tipos de ensino oferecidos a distância: 81,3% das
instituições com credenciamento federal, que oferecem cursos de nível superior,
utilizam o papel, contra 73,4% do e-learning. Já as instituições com autorização
em âmbito estadual, com cursos de educação básica e técnica, utilizam a mídia
impressa em 93,9% dos casos, ante 39,4% do e-learning, conforme quadro
abaixo:
O especialista Roberto Palhares e o coordenador do Anuário Fábio
Sanchez afirmam que a tendência a curto e médio prazo é o material impresso
virar um apoio ao sistema virtual, de acordo com o que já está acontecendo.
Embora o avanço do aprendizado via internet, dependa, porém do maior acesso
ao computador e às conexões de rede no país.
Segundo a Avaliação do Ensino Superior a Distância no Brasil por José
Manuel Moran-2007, nos revela ainda que, o auxílio mais oferecido como suporte
e atendimento aos alunos é o e-mail, com 87%; na seqüência vem o telefone, com
82%; depois se destaca o auxílio do professor presencial, com 76%; e do
professor on-line (via chat ou fórum), com 66%. Alternativas como o fax, chegam a
58%; cartas enviadas por correio tradicional chegam a 50%; reuniões presenciais,
a 45%; e reuniões virtuais, por último, com 44%. Outros recursos atingem a marca
de 23%.
7
AbuSabha, Peacock e Achterberg (1997) relatam que 55% dos
participantes de um curso que utilizava teleconferência como mídia principal,
solicitaram que mais material impresso fosse incluído nos próximos cursos, dadas
as dificuldades de se reter o conteúdo somente com apresentações em vídeo ou
transmissão simultânea.
De acordo com os resultados da pesquisa do IBGE (2006) apenas 16% da
população tem acesso a internet, que é a segunda tecnologia de maior
abrangência nas iniciativas de EaD. Embora, segundo os levantamentos mais
atuais do Gartners Group (publicados pela revista InfoExame e pelo portal IDGnow
em Janeiro de 2007) esses 16% representam mais de 10 milhões de
computadores conectados à internet de banda larga e mais outros 5 milhões de
máquinas com outras modalidades de conexão (por exemplo: conexão discada,
rádio, cabo). Entretanto ainda é baixa a presença do computador no país se
comparado com outros países mais avançados em termos de adesão à
tecnologia, segundo a Pnad 2006 (Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios do IBGE), apenas 21,5% dos domicílios do país têm computador e
desses somente 16% possuem internet. Contra 16,3% de posse de computador
em casa e 12,2% de acesso a internet em 2004, o que representa grande
crescimento no intervalo de apenas dois anos (2004 para 2006). Estes dados
significam que por um bom tempo o MDI para EaD será a principal ferramenta
utilizada, mas tenderá a perder terreno para o crescente uso das mídias digitais.
Antigamente, com o advento do microcomputador supunha-se que o
volume de papel impresso cairia. Na prática, o que aconteceu foi que o volume
cresceu, porque as pessoas estão acostumadas e gostam de ler textos em papel e
não no monitor.
Portanto, este levantamento estatístico demonstra a penetração do MDI,
sua aceitação e melhor eficiência no transporte de conteúdo aos alunos de EaD,
mesmo com o crescimento de novas tecnologias de comunicação sendo aplicadas
a este método de ensino. Nesse sentido, CHAVES (1999) afirma que, a primeira
tecnologia que permitiu a educação à distância foi à escrita. Contudo, a tecnologia
tipográfica proporcionou a ampliação do alcance da educação à distancia, mais
8
recentemente as tecnologias de comunicação, principalmente em versão digital
ampliando cada vez o alcance e as possibilidades da EaD.
O manuscrito (o livro, a apostila) é com certeza, a tecnologia mais
importante na área da educação à distância, pois juntamente com as modernas
tecnologias virtuais, especialmente as digitais, e outras ferramentas para o
desenvolvimento da educação, o manuscrito auxilia no processo de aprendizagem
e ao alcance da educação à distância, e também uma melhor compreensão dos
conteúdos administrados.
4. Observações relevantes sobre a produção de MDI para EaD:Como Consuelo (2008) reitera, o material impresso deve ter cuidados para
com o aluno que tenha em mãos: a seleção do conteúdo a ser tratado; a
organização do conteúdo deixando claro sua sequência; linguagem de fácil
acesso e entendimento; exemplos e exercícios são formas de fixação de
conteúdo; Respeitar fontes bibliográficas utilizadas.
É importante considerar que existem duas categorias de sistema de
distribuição de EaD. Sendo elas os materiais que requerem interação assíncrona:
não requer a participação simultânea de todos os participantes e tutor. E os
materiais que requerem interação síncrona: requer a participação simultânea dos
participantes e tutor. Podendo encontrar sistemas mistos, sendo as duas formas
de distribuição de materiais.
Segundo Almeida (2000), um bom material de EAD deve considerar os
seguintes aspectos: Ordenar o conteúdo de forma extremamente cuidadosa, numa
progressão clara e lógica; tratar cada tópico passo a passo, de forma que o aluno
possa compreender inteiramente cada novo ponto, antes de passar para o
próximo; planejar cada pagina de forma muito clara; fornecer muitos exemplos que
ajudem a ilustrar a teoria na prática; incluir atividades de revisão, que permitam ao
aluno testar sua compreensão; fornecer oportunidade para o aluno verificar as
respostas das atividades e incluir para aluno testar seu progresso com atividade
de auto-avaliação. Dessa maneira quando o aluno escolher o manuscrito pode ter
uma aprendizagem eficaz com qualidade.
9
Portanto a escrita e a oralidade devem, sempre que possível, dirigir-se
diretamente ao sujeito da aprendizagem, no intuito de envolvê-lo, fazê-lo pensar e
contribuindo para a aprendizagem. Para tanto, O Ministério da Educação
estabeleceu os Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância,
documento elaborado pela secretaria de EAD do MEC e organizado por Neves
(2003), reestruturado em 2007, quando passou a orientar não só a graduação à
distância, mas toda a Educação Superior à distância.
Segundo esse documento, tem-se por objetivo orientar alunos, professores,
técnicos e gestores de instituições de ensino superior para que possam “usufruir
dessa modalidade educativa ainda pouco explorada no Brasil e empenhar-se por
maior qualidade em seus processos e produtos” (NEVES, 2003, p. 03). Com base
nesses referenciais, é possível extrair os itens básicos a serem observados pelas
instituições que preparam programas a distância.
Um dos critérios exigidos, diz respeito à equipe profissional multidisciplinar,
devendo pontuar que a multidisciplinaridade, segundo Japiassu (1976), ocorre
quando "a solução de um problema torna necessário obter informação de duas ou
mais ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no
processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas" (p.37).
No que se refere à atuação docente a distância, percebe-se que alguns
pensam, equivocadamente, que cursos à distância têm a possibilidade de
dispensar a intervenção e mediação do professor, sendo conduzida por tutores
generalistas. Conforme Authier (1998), os professores no AVA “são produtores
quando elaboram suas propostas de cursos; conselheiros, quando acompanham
os alunos; parceiros, quando constroem com os especialistas em tecnologia,
abordagens inovadoras de aprendizagem” (p. 31). Dessa forma, não só o
acompanhamento docente é indispensável, como também de outros profissionais
da área de gestão educacional, técnicos especializados em temáticas abordadas
pelos cursos, especialista em tecnologia educacional e informática na modalidade
e-learning, entre outros.
Conforme o documento do MEC, os programas de educação à distância
precisam dispor de docentes com habilidades multidisciplinares, capazes de:
10
a) estabelecer os fundamentos teóricos do projeto;
b) selecionar e preparar todo o conteúdo curricular de articulado a
procedimentos e atividades pedagógicas, inclusive interdisciplinares;
c) identificar objetivos referentes a competências cognitivas, habilidades e
atitudes;
d) definir bibliografia, videografia, audiografia etc., básicas e
complementares;
e) elaborar textos para programas a distância;
f) apreciar avaliativamente o material didático antes e depois de ser
impresso, videogravado, audiogravado, etc, indicando correções e
aperfeiçoamentos;
g) motivar, orientar, acompanhar e avaliar os alunos;
h) auto-avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo
de um projeto de curso ou programa a distância;
i) fornecer informações aos gestores e outros membros da equipe no
sentido de aprimorar continuamente o processo; (NEVES, 2003, p. 8-9).
Dentre as capacidades citadas, a maioria delas também devem ser
presentes em cursos presenciais. Destaca-se, porém, que no contexto da EAD,
mediado por tecnologias da informação e comunicação (TIC), os professores
precisam desenvolver habilidades para trabalhar, ensinar e aprender em mídias
diversificadas e inovadoras. Um segundo critério diz respeito à
comunicação/interação entre os agentes, que está diretamente relacionado e
dependem da qualidade dos materiais didáticos, aos quais permitem a difusão de
conteúdos de maneira prática e fácil, além de proporcionar a interatividade entre
professor e aluno por meio de ferramentas de comunicação, como chat, fóruns e
correio eletrônico.
Portanto, deve-se respeitar não só os critérios estipulados pelo MEC, mas
também ter a consciência de que é necessário um planejamento, de relevância
fundamental na elaboração do MDI, que tem seu início no atendimento dos
requisitos base da sustentação de todo o trabalho. Ao produzir o MDI é preciso
levar em conta: a promoção dos objetivos do curso; as metas de aprendizagem a
11
serem atingidas com seu estudo; a coerência pedagógica; a apresentação dos
conteúdos de maneira clara e bem definida; as atividades de auto-avaliação; as
sugestões de leituras complementares etc. Portanto, o planejamento é a primeira
e indispensável etapa do processo de criação e produção de material instrucional
para EaD.
Um dos problemas encontrados com freqüência nos materiais didáticos, diz
respeito ao tratamento dos conteúdos: muitas vezes não há preocupação em
trazê-los para o cotidiano do aluno, levando-o a encontrar dificuldade em
relacionar o que está estudando com as questões da sua realidade, seja pessoal
ou profissional. O SENAI/RJ (1998) enfoca esse aspecto: “Para o educando,
quase sempre o MDI parece falar de outro mundo, longínquo, totalmente afastado
daquele onde ele vive, o que o faz perder a noção de aplicabilidade do
conhecimento em seu cotidiano” – ou seja, se o MDI não for motivador, o aluno
não entenderá porque é necessário aquele conhecimento e muito menos para que
serve.
A necessidade de que os materiais didáticos sejam concebidos levando em
conta a aprendizagem significativa, que favoreçam o estabelecimento de relações
com as questões cotidianas do aluno na EaD são de extrema relevância,
considerando a separação física entre o aluno e o docente, tal cuidado torna-se
ainda mais relevante: o processo de ensino e aprendizagem é mediado pelo
material didático e este deve trazer os temas abordados para a vida real. De que
adianta, por exemplo, tratar teoricamente o tema meio ambiente, sem promover a
relação dos conceitos apresentados com o dia-a-dia do aluno? Sem levá-lo a
pensar e agir sobre o seu entorno? Sem incentivar a sua ação cidadã? Novas
propostas para a educação à distância devem privilegiar a construção do
conhecimento pelo aluno e, assim, não podem ignorar a contribuição das
pesquisas sobre a forma como aprendemos. LITWIN (2001) aborda a questão: “A
psicologia cognitiva e suas derivações no campo da didática enfatizaram que as
práticas rotineiras, descontextualizadas dos problemas autênticos, dificilmente
possibilitam o desenvolvimento da capacidade de reflexão. Trata-se de ensinar
problemas reais, e não selecionar para o ensino ‘problemas de mentira’,
12
‘pedagogizados’, os quais não implicam um desafio para o estudante e este se
habitua a resolvê-los aplicando fórmulas prontas. Os problemas autênticos não
costumam ter respostas unívocas ou facilmente previsíveis, envolvendo, na
maioria dos casos verdadeiros desafios cognitivos.” A linguagem e os conteúdos
devem instigar a curiosidade, a experimentação e a ação do aluno sobre as
questões que pertencem à sua realidade, ajudando-o a desvendá-la, a entender o
mundo a partir daquilo que faz sentido para ele.
Para que o aluno adquira autonomia em seus estudos, é importante que o
material deva ser bem elaborado, diferenciando-se dos livros tradicionais no que
diz respeito às questões de linguagem e do formato de apresentação das
informações. A mídia impressa deve ser um veículo utilizado para estabelecer a
comunicação entre os professores e alunos, assim, faz com que a necessidade de
que o material impresso seja bem formulado e redigido em uma linguagem
dialogada que, na ausência física do professor, possa garantir um certo grau de
compreensão e comprometimento com o estudo. A linguagem coloquial
reproduzindo mesmo, em alguns casos, uma conversa entre professor e aluno
tornando a leitura leve e motivadora, podendo contribuir para este
comprometimento e estimular as reflexões.
Isabel Solé (2006) afirma que, “(…) se um aluno não conhece o propósito
de uma tarefa e não pode relacionar esse propósito às suas próprias
necessidades, muito dificilmente poderá realizar aquilo que o estudo envolve em
profundidade”; ilustrando muito bem a necessidade de contextualização do
conteúdo, não só em MDI, mas na educação como um todo.
Já as questões de design do MDI (o design instrucional), ao contrário do
que acreditam alguns artistas pós-modernos, a forma jamais irá sobrepor-se ao
conteúdo, ou seja, por mais visualmente bem elaborado que seja o MDI, com
fundamentação teórica heterogênea, proporcionando o contraditório e o
embasamento para pesquisas, se o material não levar em conta os aspectos
específicos de cada região, de cada assunto abordado, de cada cultura e
comunidade, não poderá haver a potencialização do aproveitamento dos
conteúdos, uma vez que o distanciamento e a impossibilidade de realização de
13
analogias entre a teoria e a realidade de cada grupo de pessoas (traduzido nas
diferentes formas de agrupamento) poderão acabar gerando a ineficácia do MDI.
MISANCHUCK (citado por Willis, 1996), sugere uma série de cuidados ao
elaborar material impresso para cursos à distância, considerando o estilo do texto,
a organização do conteúdo, a diagramação do texto, a inclusão de questões e
indicações claras da localização dos itens (sinalização visual), no qual “Os
indicativos de localização devem estar claros não apenas no que se refere ao
material impresso, mas também em relação às demais mídias utilizadas no curso.”
A elaboração de um MDI é antes de tudo um ato de criação. O material tem
que ser atrativo, e desta forma, exige do criador o conhecimento do público alvo:
quem é este público, seus hábitos, suas necessidades. Trata-se de uma relação
de análise deste público, para que seja atingido o objetivo que se pretender
alcançar no projeto pedagógico como um todo.
5. Pontos positivos e negativos da utilização do MDI em EaD:Como já analisamos, o material impresso é um dos meios mais utilizados
em EaD devido à suas características, sendo que o mesmo oferece oportunidades
de acesso eliminando barreiras, podendo assim, atender a um público numeroso,
disperso e de culturas diferentes. Dessa forma, poderemos enumerar as principais
vantagens do MDI:
1. Fácil adaptação à complexidade da sociedade moderna;
2. Flexibilidade de espaço, tempo e ritmos de aprendizagem;
3. O aluno é estimulado a se tornar sujeito de sua aprendizagem;
4. Tem abertura a uma diversidade e amplitude de oferta de cursos e,
através dos sistemas de distribuição logística, o MDI pode alcançar
qualquer local do país ou do mundo;
5. Pode realizar a formação permanente no campo profissional e pessoal,
para dar continuidade à formação recebida formalmente;
6. Permite economia na produção em escala;
7. É familiar, razoavelmente compreensível e aceito pelos alunos de
diversas partes do país e do mundo;
14
8. Favorece ao aprendizado autônomo, por ser adaptável ao ritmo dos
alunos, permitindo a releitura, a leitura seletiva, em maior ou menor
aprofundamento do que se lê;
9. Pode ser “navegado” com facilidade. O acesso aleatório a partes
específicas é rápido e conveniente.
10. Oferece independência, pois os alunos não precisam de suporte,
equipamento nem assistência para utilizá-lo. Pode ser lido em qualquer
lugar e acessado a qualquer momento, permitindo ao aluno maior
flexibilidade no acesso ao conteúdo didático;
11. Não requer nenhum horário específico para sua utilização (o aluno não
precisa estar em um lugar e hora específicos);
12. Não requer equipamento específico para ser utilizado;
13. Também não requer nenhum treinamento para que seja usado com
eficiência;
14. Oferece portabilidade e é facilmente transportável;
15. É um meio “transparente”, permitindo à mensagem ser transmitida sem
distração ou interferência da tecnologia de entrega;
16. O material impresso é a tecnologia que os alunos estão mais
familiarizados com a linguagem, formato e manuseio;
17. É uma alternativa de baixo custo e de alta durabilidade;
18. A visualização do conteúdo através da mídia impressa estimula a
percepção e a cognição. O MDI concentra a atenção do aluno por longos
períodos de tempo;
19. Oferece a sequenciação de idéias e conteúdos. Possibilita a
transmissão eficiente de grandes quantidades de conteúdo e se integra a
outros meios facilmente.
20. De acordo com a elaboração do seu conteúdo, pode estabelecer a relação teoria e prática, facilitando a compreensão dos conceitos;21. Permite a reflexão e auto-avaliação do conhecimento.
22. Oferece grande capacidade de armazenamento de informações e aceita
toda e qualquer expressão gráfica (imagens, textos, gráficos, diagramação,
etc.).
15
Embora as vantagens do MDI serem amplamente difundidas e aplicadas na
EaD na qual, por um lado, democratizam o acesso à educação, entretanto, geram
ainda, o isolamento do estudante devido às precárias ferramentas de interação
disponíveis, bem como limitações e desvantagens de sua utilização:
1. Logística complexa, tanto para armazenamento quanto para estabelecer
a quantidade exata de reproduções, com menor perda;
2. Alta perecibilidade dos conteúdos podendo perder a validade facilmente.
A vida útil de um material depende também do tema, um curso sobre
história ou matemática com certeza poderá ser reeditado e/ou consultado
mais vezes do que um material sobre informática ou outra área que esteja
em constante mudança;
3. Não oferece possibilidade de manutenção de seu conteúdo, uma vez
impresso e encadernado, não há como refazer;
4. O material impresso é pouco interativo. Possibilita apenas a visão de
uma dimensão estática, sem o recurso de mostrar com clareza uma
seqüência de ações em movimento como, por exemplo, o vídeo;
5. A interação aluno/professor via material impresso não permite respostas
imediatas e depende de outras mídias para estabelecer o contato direto
entre professores e alunos;
6. A informação é apresentada por meio de uma cadência de leitura
(seqüencial) e não é possível ter acesso a ela globalmente, de modo
imediato;
7. Intimida um número grande de alunos. Há um número significativo de
aprendizes que não sabem fazer uso adequado do material impresso, com
dificuldades de interpretação de textos e decodificação da leitura;
especialmente, ao que parece, a geração educada assistindo mais à TV do
que lendo livros, seja por desinteresse, hábito ou baixa escolaridade;
8. É mais difícil alcançar a motivação para o estudo fazendo uso somente
do MDI;
16
6. Considerações Finais:Produzir material didático impresso para EaD é um grande desafio, na qual
é possível compreender que não se trata da mesma natureza de um material
destinado para um contexto presencial. Em EaD o material deve ser
especificamente organizado com orientações dialógicas a fim de integrar o aluno e
suas vivências nas leituras e atividades planejadas. Esses materiais devem estar
atualizados tecnologicamente, buscando se utilizar das novas tecnologias de
informação e comunicação como instrumentos para aproximar todos os que atuam
no curso, principalmente alunos e professores. Estruturar um material e escrever
para EaD é diferente de escrever em geral, pois "a redação para EaD é
essencialmente didática, com uma forte obrigação no sentido de comunicar-se
com os leitores, e com uma missão social muito clara"(LAASER, 1997, p. 32).
Levando-se em conta as particularidades da EaD, a metodologia e o
planejamento aplicados ao processo de ensino-aprendizagem devem garantir que
as características de interatividade, dialogicidade, multimídia e autonomia estarão
presentes. A equipe envolvida deve elaborar os materiais didáticos visando
assegurar as peculiaridades de uma modalidade de educação que deve ser
pautada em um planejamento cuidadoso e reflexivo do processo de ensino-
aprendizagem, na contextualização do conteúdo de acordo com o público-alvo e
nos objetivos do curso ou ação educativa a ser empreendida.
Elaborar materiais didáticos para a EAD é um grande desafio, pois é
preciso compreender que não é o mesmo tipo de material utilizado na educação
presencial, devendo ser especialmente preparado visando o público que se deseja
atingir, com orientações dialógicas objetivando sempre integrar o aluno e as suas
vivências nas leituras e atividades planejadas. Além disso, deve-se buscar a
utilização das novas tecnologias de comunicação, disponibilizadas pela internet,
como forma de aproximar todos os participantes de um curso, sejam eles alunos
ou professores.
Ainda são necessárias muitas pesquisas e reflexões sobre a produção e
utilização de materiais didáticos para EaD, tais como orientações específicas para
cada tipo de mídia a ser utilizada; estudos mais aprofundados sobre design
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instrucional; análise dos MDI, suas ferramentas e aplicabilidade; entre outras. Este
breve artigo não pretendeu esgotar o assunto, mas, sim, promover a reflexão e
instigar os interessados nessa temática a produzir novos trabalhos a fim de
preencher a carência que se tem nessa área do conhecimento educacional.
7. Referências Bibliográficas:
ALMEIDA, Alaciel Franklin. Produção de materiais didáticos: elaboração de manuais. Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Brasília, 2000
CONSUELO, Maria da Graça. Educação a Distância – o Estado da Arte. São Paulo: Pearson Educational, 2008
CHAVES, Eduardo. Ensino á distância: conceitos básicos. Campinas. Disponível na Internet: www.edutecnet.com.br. Visitado em 02 de novembro de 2011
LANDIM, Claudia Maria Ferreira. Educação à distância: algumas considerações. Rio de Janeiro, s/n, 1997