A. Fármacos Diuréticos

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5 1 A. Fármacos Diuréticos 1. Introdução - Conhecer aspectos históricos e a classificação dos diuréticos. Classificação estrutural -> Podem ser classificados em termos de: o Mecanismo de acção (inibidores da anidrase carbónica (IAC) e osmóticos); o Local de acção (diuréticos da ansa); o Classe química (teofilinas); o Efeito nos conteúdos urinários (diuréticos poupadores de potássio). História Água -> Inibidora da libertação de ADH -> Induz diurese. Cloreto mercuroso Calomel (séc. 16) -> Diurético tóxico com má absorção. Organomercuriais -> 1º grupo de diuréticos com eficácia clínica. Via parentérica, possibilidade de tolerância e perfil de toxicidade (promove a excreção de K + , e causa um pH urinário muito alto -> acidose sistémica, pois não há compensação com saída de Cl - ). Não são usados, substituídos por compostos menos tóxicos (base dos novos diuréticos). Outros compostos previamente usados: sais formadores de ácido (cloreto de amónia) e metilxantinas (teofilina). 2. Diuréticos osmóticos - Conhecer as principais estruturas com este efeito e suas características. - Baixo peso molecular, filtrados livremente na cápsula de Bowman. Não-reabsorvíveis (pela elevada solubilidade aquosa). Não são muito metabolizados, excepto a glicerina e ureia. - Administrados em solução hipertónica – Aumentam a pressão osmótica intraluminal -> Causa passagem de água do corpo para o túbulo (mecanismo osmótico). - Aumentam o volume da urina e a excreção de água e quase todos os electrólitos. - Os polióis, sorbitol e isosorbido providenciam este efeito. Ureia (não poliol) -> Efeito semelhante. - Os açúcares (Ex.: glucose e sucrose) também têm efeito diurético por este mecanismo. - Muito polares -> Via I.V. Manitol* - Este e o sorbitol são os mais usados. - Estes compostos podem ser preparados por redução electrolítica da sucrose ou glucose. Isosorbido - Forma bicíclica do sorbitol. Via oral -> Redução na pressão intra-ocular, em casos de glaucoma. Também se observa um efeito diurético.

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A. Fármacos Diuréticos

1. Introdução

- Conhecer aspectos históricos e a classificação dos diuréticos.

Classificação estrutural -> Podem ser classificados em termos de:

o Mecanismo de acção (inibidores da anidrase carbónica (IAC) e osmóticos);

o Local de acção (diuréticos da ansa);

o Classe química (teofilinas);

o Efeito nos conteúdos urinários (diuréticos poupadores de potássio).

História

Água -> Inibidora da libertação de ADH -> Induz diurese.

Cloreto mercuroso – Calomel (séc. 16) -> Diurético tóxico com má absorção.

Organomercuriais -> 1º grupo de diuréticos com eficácia clínica. Via parentérica,

possibilidade de tolerância e perfil de toxicidade (promove a excreção de K+, e causa um pH

urinário muito alto -> acidose sistémica, pois não há compensação com saída de Cl-). Não são

usados, substituídos por compostos menos tóxicos (base dos novos diuréticos).

Outros compostos previamente usados: sais formadores de ácido (cloreto de amónia)

e metilxantinas (teofilina).

2. Diuréticos osmóticos

- Conhecer as principais estruturas com este efeito e suas características.

- Baixo peso molecular, filtrados livremente na cápsula de Bowman. Não-reabsorvíveis (pela

elevada solubilidade aquosa). Não são muito metabolizados, excepto a glicerina e ureia.

- Administrados em solução hipertónica – Aumentam a pressão osmótica intraluminal -> Causa

passagem de água do corpo para o túbulo (mecanismo osmótico).

- Aumentam o volume da urina e a excreção de água e quase todos os electrólitos.

- Os polióis, sorbitol e isosorbido providenciam este efeito. Ureia (não poliol) -> Efeito

semelhante.

- Os açúcares (Ex.: glucose e sucrose) também têm efeito diurético por este mecanismo.

- Muito polares -> Via I.V.

Manitol*

- Este e o sorbitol são os mais usados.

- Estes compostos podem ser preparados por redução electrolítica da sucrose ou glucose.

Isosorbido

- Forma bicíclica do sorbitol. Via oral -> Redução na pressão intra-ocular, em casos de

glaucoma. Também se observa um efeito diurético.

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3. Diuréticos inibidores da anidrase carbónica (IAC’s)

- Conhecer a sua origem, desenvolvimento e consequente REA .

Anidrase carbónica (AC) -> Epitélio do túbulo renal (parte proximal), glóbulos

vermelhos, olho (uso no glaucoma) e SNC. Catalisa a reacção:

IAC’s -> Bloqueiam a enzima no rim -> Diminuição da formação de H2CO3 e H+. Desta

forma, o Na+ é excretado com grandes quantidades de H2O (pela hidratação do ião e efeitos

osmóticos). Resultado: diurese, acompanhada de um dramático aumento no volume de urina.

- Tem de se inibir mais de 99% da AC para se obter uma resposta diurética.

- A urina torna-se alcalina e aumenta a excreção de K+ (efeito indesejado).

- A redução da pressão ocular, pode levar à cegueira.

- Também são efectivos, em combinação com anticonvulsivantes, no controlo da

epilepsia.

REA

Desenvolvimento dos IAC’s tipo sulfonamida: baseou-se na observação de

que os AB sulfonamidas produziam urina alcalina (Ex.: sulfonilamida). Descobriu-se

depois que a porção sulfonamida da molécula diurética activa não podia ser nem mono

nem dissubstítuida -> Uma sulfonamida mais acídica ligaria mais fortemente à AC.

Os IAC’s promovem uma urina mais alcalina -> menor troca entre H+ e Na+.

Síntese de sulfonamidas acídicas: compostos 2.500x mais activos que as

sulfanilamidas. Assim, desenvolveu-se a acetazolamida, um derivado tiadiazole.

Tipo de fármacos úteis: derivados da clorotiazida (diuréticos orais).

Diferem uns dos outros na natureza do substituinte em C3.

Politiazida: derivado da clorotiazida, 3-4x mais activo, e com duração de acção de 24h.

Furosemida*: sulfanilamida, não é um IAC, mas sim um diurético da ansa de Henle.

- Conhecer a estrutura base da anidrase carbónica e compreender a sua inibição.

Estrutura

- Não foi completamente elucidada. Sabe-se a sequência de AA e a estrutura cristalina 3D.

- Duas isoenzimas: de baixa e alta actividade (HCA-C, C a designação para a de alta actividade)

Consiste numa cadeia peptídica (constituída por 35% de folhas β e 20% de hélices α,

na estrutura enrolada), sendo que o local activo tem um Zn2+ (funciona como ácido de Lewis,

que doa um H+ ao CO2), seguro por 3 resíduos de histidina, que se liga a uma molécula de

água. Este local activo está dividido em 2 metades, hidrofílica e hidrofóbica.

Inibição da enzima

Dorzolamida

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As sulfonamidas activas não têm o N amídico substituído. Só estas chegam ao local

activo da enzima e substituem a água no ião Zn2+, bloqueando o local onde o CO2 se deveria

ligar (local de coordenação V).

As sulfonamidas usadas como diuréticos (Ex.: hidroclorotiazida, acetazolamida e

metazolamida) devem ser co-administradas com inibidores dos canais de sódio ou

cloro, pois ao passarem do túbulo proximal para a ansa de Henle, estes podem ser

reabsorvidos.

A dorzolamida resulta da manipulação molecular da metazolamida e as suas

interacções com o local activo evidenciam:

o Interacções hidrofóbicas;

o União ao metal (Zn);

o Pontes de hidrogénio com treonina e glutamina.

- Conhecer as estruturas e as principais características dos

fármacos mais relevantes deste grupo.

Acetazolamida*

- 1º IAC introduzido oralmente como diurético efectivo.

- Efeito dura 8-12h

- Problema: ocorrência de acidose sistémica.

- Diminui a velocidade da formação de humor aquoso (reduz pressão intra-ocular no

glaucoma).

Metazolamida

- Derivado da acetazolamida. Um dos H activos foi substituído por um CH3 -> Redução

da polaridade e aumento da penetração no fluido ocular.

Etoxzolamida e diclorofenamida

- Etoxzolamida -> Semelhante à acetazolamida.

- Diclorofenamida -> Derivado disulfonamídico que partilha as mesmas

propriedades farmacológicas que os compostos anteriores.

4. Diuréticos tiazídicos ou benzotiadiazinas

- Conhecer o seu desenvolvimento.

Estudos de derivados de benzeno dissulfonamida para encontrar novos IAC’s:

o Substituição do cloro e amino -> Maior actividade antidiurética. Fracos IAC’s;

o Acetilação do grupo amino -> Ocorre o fecho do anel -> Compostos diuréticos, não

inibidores -> Nova série de diuréticos: benzotiazinas.

- Conhecer a estrutura base e os principais aspectos da REA.

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Têm um núcleo benzotiazina 1,1-dióxido; são ácidos fracos.

A Clorotiazina é o membro mais simples e tem um pka de 6,7 e 9,5;

O H em 2 é o mais acídico -> Efeito electroatractor do grupo sulfona;

Grupo sulfonamida substituído em C7 -> Ponto adicional de acidez; protões acídicos

permitem a formação de sais para administração I.V. -> Maior solubilidade do fármaco;

Grupo electroatractor em C6 -> Necessário para a actividade diurética:

Se for um H -> Actividade diurética fraca;

Se for CH3 -> Diminui a actividade diurética;

Se for Cl ou CF3 -> Altamente diurético (derivados CF3 são mais lipossolúveis que os

análogos com Cl -> Maior t1/2);

Substituição/remoção de grupos sulfonamida em C7 -> Pouco activos/inactivos;

Saturação da dupla ligação (derivado 3,4-di-hidro) -> Compostos 10x mais activos;

Grupo lipofílico em C3 -> Aumenta a potência diurética. Substituições haloalquilo,

arilalquilo e tioéter originam compostos com maior tempo de acção;

Alquilo em N2 -> Diminui a polaridade e aumenta a duração de acção.

- Conhecer estruturas e principais características dos fármacos mais relevantes deste grupo.

Alguns são rapidamente absorvidos e podem demonstrar efeito após uma hora;

Não são extensivamente metabolizados e são excretados inalterados na urina;

- Conhecer a síntese da hidroclorotiazida*.

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É uma 1,2,4-benzotiazina; é um

derivado 3,4-dihidro da clorotiazida -> É

melhor tolerada e tem menos efeitos

secundários que esta.

1. Dupla clorossulfonação da m-cloroanilina;

2. Reacção com o NH3 -> Sulfonamida.

3. Depois a síntese pode seguir 2 caminhos:

- Reacção com formamida com posterior redução com formaldeído em meio alcalino;

- Condensação com formaldeído, em meio ácido, para dar o catião metileniminio que

cicliza (Mannich).

5. Diuréticos “thiazide-like”: derivados quinazolinona, ftalimidina e indolinas

- Conhecer estruturas base, evidenciar semelhanças e diferenças entre elas e em relação aos

diuréticos tiazídicos; compreender o desenvolvimento dos fármacos destes grupos. Conhecer

as estruturas e as principais características dos fármacos mais relevantes deste grupo.

Principal diferença entre tiazidas e quinazolinonas: substituição do grupo 4-sulfona (-

SO2-) por um 4-ceto. Como têm estrutura similar, têm efeito diurético semelhante.

Têm longa duração de acção devido à ligação a proteínas plasmáticas.

Clorotalidona*: conhecida por ftalimidina ou 1-oxo-isoindolina -> Molécula existe

primariamente na forma ftalimidina, mas o anel pode abrir-se

formando um derivado benzofenona -> Relaciona-se com os

diuréticos quinazolinonas.

Indolinas -> Indapamida*

- Tem anel saturado; um grupo clorobenzamida polar; e um grupo metilindolina lipofílico.

- Diferença com as tiazidas: Indapamida não tem anel tiazida e só tem 1 grupo sulfonamida.

- Tem longa duração de acção, pois liga-se extensamente à AC nos eritrócitos.

Clorotalidona Benzofenona

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6- Diuréticos da Ansa

- Conhecer as estruturas, o seu desenvolvimento e semelhanças/diferenças entre elas e em

relação às sulfonamidas clássicas e aos diuréticos tiazídicos.

- Conhecer as características mais relevantes e a REA dos principais fármacos deste grupo.

- Caracterizados mais pelas semelhanças farmacológicas do que pelas semelhanças químicas.

- Produzem maior diurese (diuréticos mais potentes).

- Rápida acção e curta duração -> Efeito aparece após 30min e dura 6h.

Furosemida*

- Derivado do ácido antranílico ou ácido o-aminobenzóico.

- Tem um COOH livre (ácido mais forte do que os diuréticos tiazídicos) -> pka = 3,9.

- Excretada principalmente na forma inalterada.

- Pode ocorrer metabolismo no anel furano -> Redução.

Bumetanida

- Duração de acção: 4h.

- Cloro ou trifluorometil (de outros diuréticos) são substituídos por um

grupo fenoxi.

- Grupo amino normalmente em 6 está em 5 -> Aumenta

potência diurética.

- Substituição do fenoxi em 4 por C6H5NH ou C6H5S -> Compostos com actividade.

- Butil em C5 substituído por um grupo furanilmetil -> Desfavorável.

Torasemida

- Porção sulfonilureia em vez da sulfonamida.

Ácido etacrínico

- Derivado do ácido fenoxiacético.

- Redução da dupla ligação -> Composto activo, mas com menos actividade.

- Substituição 2,3-dicloro -> Necessária.

- Actividade diurética óptima: grupo ácido oxiacético em para relativamente a um carbonilo

α-β-insaturado; e cloro ou metil em 2 ou 3 do anel fenil.

- Átomos de H no carbono terminal do alceno -> Máxima actividade.

- Grupo fracamente acídico -> Direcciona a molécula para o rim.

- Porção alquilante -> Reage com grupos sulfidril e grupos lipofílicos.

Novos fármacos

Azosemida -> Pouca biodisponibilidade oral -> Metabolismo de 1ª

passagem.

Melhor combinação

para os diuréticos

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7. Diuréticos poupadores de potássio

7.1. Antagonistas dos receptores mineralocorticóides

- Conhecer a estrutura da aldosterona

O córtex adrenal secreta um mineralocorticóide potente ->

aldosterona. Esta promove a retenção de sais e água e a excreção de H+ e K+.

Assim, uma substância que antagonize a aldosterona é um bom

diurético -> Espironolactona*.

- Conhecer a estrutura, características e metabolismo da espironolactona.

- Via oral: 90% da dose é absorvida.

- Sofre grande metabolismo de 1º passagem -> Principal metabolito activo

(canrenona-lactona). Sendo que esta se interconverte com o anião

canrenoato (ácido canrenóico), que não é activo directamente.

- Conhecer outras moléculas antagonistas dos receptores mineralocorticóides.

Eplerenona

- Estrutura e mecanismo semelhante à espironolactona.

- Sofre metabolismo hepático a metabolitos inactivos.

7. 2. Pteridinas – conhecer a estrutura, características e REA do triamtereno*

Estudos de derivados pteridina -> 2,4-diamino-6,7-dimetilpteridina:

diurético potente, cuja modificação estrutural deu origem ao Triamtereno*:

- Via oral: > 70% absorvido.

- Efeito diurético ocorre rapidamente (~ 30 min).

- Extensivamente metabolizado -> Alguns metabolitos são activos. Excretados na urina.

- Modificações, normalmente, não são benéficas em termos de actividade.

- Grupo amina substituído por um grupo menor alquilamina -> Actividade mantém-se.

- Introdução de um metilo em para no fenilo -> Diminui actividade para cerca de metade.

- Introdução de um OH em para no anel fenilo -> Inactivo.

7.3. Aminopirazinas – conhecer a estrutura e carcaterísticas do amilorida*

- Aminopirazina relacionada com o triamtereno com cadeia aberta análoga.

- Via oral: absorção de 50%. Duração de acção = 10-12h (mais longa que o triamtereno).

- 50% do amilorido é excretada inalterado.

B. Agentes inotrópicos positivos utilizados no tratamento da ICC

1. Glicosídeos Cardiotónicos

1.1 Química dos glicosídeos cardiotónicos

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- Compreender a importância das agliconas e conhecer a sua constituição química básica:

estrutura base; fusão dos anéis e forma da molécula; grupos metilo angulares; posições,

estereoquímica e substituições dos grupos hidroxilados; importância dos grupos

hidroxilo em C12 e C16; latona em C17 e sua importância.

Glicosídeos cardíacos: compostos por 2 partes, açúcar e não açúcar (aglicona

= genina). Na estrutura têm um núcleo esteróide com apenas um grupo de anéis

fundidos (distingue-os de outros esteróides):

- Anéis A-B e C-D -> Fundidos na conformação cis. E os anéis B-C têm conformação

trans. Esta fusão dos anéis dá ao núcleo aglicona uma “forma em U”(ao lado).

- Também tem, na maioria dos casos, dois grupos CH3 angulares em C10 e C13;

- Os OH em C3 (estabelece a ligação com a parte açúcar) e em C14 (não pode ser substituído);

- Podem ligar-se OH adicionais em C12 e C16 -> Distingue

importantes geninas (digitoxigenina, digoxigenina e

gitoxigenina) com impacto no coeficiente de partição e FK.

- Anel latona em C17, cujo tamanho e grau de insaturação variam com a origem do

glicosídeo:

Cardenólido -> Origem vegetal. Anel α,β-insaturados de 5 membros; mais usado. R=

Bufadienólifo -> Origem animal. Anel de 6 membros com duas ligações conjugadas

(α-pirona). R=

- Compreender a importância dos açúcares e conhecer a sua constituição química: ligação do

núcleo esteróide; tipo de açúcar e características; efeitos resultantes da acetilação dos

açúcares.

O OH em C3 é conjugado com um mono- ou polissacarídeo por ligações

glicosídicas β-1,4. Estes açúcares existem na conformação β, e alguns podem estar na

forma acetilada (presença do grupo O-acetil vai afectar a FK e a lipofilicidade).

Açúcares mais comuns: D-Glucose, D-Digitoxose, L-ramnose, D-cimarose.

1.2 Fontes e nomes comuns de glicosídeos cardiotónicos

- Conhecer a base da distinção e designação dos diferentes glicosídeos cardiotónicos

Digitalis lanata

Lanatosido A, que é constituído pela digitoxigenina ligada a:

- 3 moléculas digitoxose em que a 3ª possui um grupo 3-acetil;

- Uma molécula de glucose terminal.

Lanatosido B, cuja porção açúcar é igual à do lanatosido A; tendo a aglicona um OH

extra em C16 -> Gitoxigenina.

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Lanatosido C, com a porção açúcar igual à dos anteriores; já a aglicona, tem o núcleo do

lanatosido A com um OH extra em C12 -> Digoxigenina;

A hidrólise parcial da glucose e do acetato do lanatosido A e C origina,

respectivamente, glicosídeos cardiotónicos: digitoxina e digoxina.

Digitalis purpurea

Glicosídeos purpurea A e B -> Estruturas idênticas aos lanatosidos A e B; não têm o acetil na 3ª

digitoxose, logo são chamados digilanidos desacetilados A e B. Não há glicosídeos purpurea C.

Strophanthus gratus e strophanthus komba

Glicosídeos de origem animal: alta toxicidade, raros, sem muita importância.

Ouabain (ou g-estrofantina): aglicona correspondente é a ouabagenina

(núcleo polihidroxilado) e está conjugada com uma molécula de L-ramnose.

K-estrofantósido: aglicona é a estrofantidina (tem um OH extra em C5 e um

aldeído angular em C10 a substituir o CH3); esta é conjugada com cimarose (que

está ligada a mais duas moléculas de glucose).

1.3 Requerimentos estruturais para a actividade intrínseca

- Compreender dificuldades de estabelecimento da REA e interesse particular destes estudos

Dificuldades: método inicial do teste das preparações de glicosídeos cardíacos e falta

de caracterização dos receptores.

Estudos para avaliar a toxicidade cardíaca -> Grupos importantes para a actividade:

Esqueleto esteróide;

14-β-OH;

Lactona insaturada em C17.

- Conhecer os principais aspectos da REA: núcleo esteróide, sua forma e fusão de anéis.

Lactona 17-insaturada -> Importante para ligação ao receptor:

- Tem mais actividade que a saturada; mas não é um requerimento absoluto;

- Pode ser substituída por grupos de cadeia aberta α-β insaturada coplanares -> Análogos

com α,β-nitrilo insaturado em 17-β têm alta actividade, pois há interacção entre o nitrilo e

o C=O no local de acção do receptor Na+/K+-ATPase (insaturação orienta O do C=O).

Estrutura esteróide, com o sistema anelar (A-B-C-D) -> Permite a actividade

glicosídica cardíaca (a lactona, quando não ligada ao anel esteróide, não tem actividade):

- 14-β-OH -> Retém o carácter sp3 e cis da junção anelar C e D;

- C e D estão fundidos em cis (esteróides AI e a maioria dos endógenos apresentam fusão em

trans) -> Crítico para a actividade de compostos com uma butirolactona em 17-β (anel de 5);

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- A e B estão fundidos em cis (não é um requerimento absoluto, mas em trans diminui a

actividade).

- Açúcar(es) em C3 -> Influenciam as propriedades PK, como a absorção e o t1/2.

- Remoção do açúcar -> Epimerização do OH em C3 -> Reduz actividade e aumenta toxicidade.

1.4 Características físico-químicas e absorção, metabolismo, interacções e toxicidade

- Relacionar estruturas com o coeficiente de partilha e consequências na sua

farmacocinética: absorção, duração de acção, velocidade de excreção e outras.

Absorção, metabolismo e excreção

Quanto mais lipofílico o glicosídeo, mais rápida será a absorção e a duração de acção

-> Excreção urinária mais lenta.

Lipofilicidade -> Coeficiente de partilha

Quanto maior o coeficiente de partilha, maior

a lipofilicidade. Esta é influenciada pelo nº de moléculas

de açúcar, ou de OH na aglicona. Exemplos:

- Lanatosido C: tem mais de uma ose (numa delas um acetil) para além de ter um OH extra em

C12 -> Aumenta a hidrofobicidade.

- Acetildigoxina: presença do 3-O-acetil -> Mais lipofílica do que a digoxina (análogo desacetil);

- G-estrophantina: tem 5 OH livres na ouabagenina -> Baixa lipofilicidade.

Digoxina

- Absorção no TGI por processo passivo dependente da

solubilidade lipídica, dissolução e permeabilidade na

membrana.

- Biodisponibilidade oral exibe variabilidade interindividual

(70-85%). Esta é atribuída ao efluxo mediado pela gp-P

(glicoproteína P) intestinal, e à eliminação renal dependendente desta (também é expressa no

rim e fígado).

Digitoxina

- T1/2= 5-7 dias -> Devido à circulação enterohepática;

Cerca de 25% da dose é excretada inalterada na bílis.

- Conhecer outras características relevantes.

Interacções de fármacos -> Causa mais comum de toxicidade

A inibição da secreção tubular renal da digoxina pela quinidina (substrato da gp-P) -

> Reduz a secreção renal desta em 60% -> Aumenta [] plasmática para níveis tóxicos.

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Verapamil -> Aumento níveis de digoxina no sangue para níveis tóxicos, pois inibe o

efluxo da digoxina pela gp-P intestinal.

Rifampicina -> Induz a expressão intestinal da gp-P -> Aumenta a secreção de

digoxina -> Diminuição dos níveis sanguíneos para [] subterapêuticas.

Utilização de glicosídeos com antiarrítmicos, simpaticomiméticos, bloqueadores β e

bloqueadores dos canais de Ca2+ que são substratos da gp-P -> Alterar controlo de arritmias.

A absorção de digoxina após administração oral pode ser muito alterada por outros

fármacos presentes no TGI. Exemplos: laxantes, antiácidos, diuréticos poupadores de K+, etc.

Toxicidade

- Dose mínima tóxica é apenas 2-3x a dose terapêutica (intoxicação é comum).

- A toxicidade dos glicosídeos resulta da inibição da bomba de Na+/K+-ATPase -> Aumenta

[Ca2+]i -> Arritmias.

- Hipocalemia, induzida pela co-administração de diuréticos tiazídicos, glucocorticóides -> Pode

ser um factor importante no início da resposta tóxica. Com os glicosídeos, a Na+/K+-ATPase

encontra-se já parcialmente inibida, e a hipocalemia inibe-a ainda mais (níveis baixos de K+

extracelular inibem-na parcialmente) -> Acumulação intracelular de Na+, que leva a um

aumento dos níveis de Ca2+.

- Tratamento da toxicidade: descontinuação do fármaco e administração de sais de K ->

Aumento dos seus níveis extracelulares -> Estimula bomba -> Diminui [Na+]i e [Ca2+]i. Para

tratar as arritmias iniciadas pela toxicidade usa-se fenitoína, lidocaína e propanolol.

2. Agentes inotrópicos positivos não-glicosídicos

O cAMP e o cGMP são segundos mensageiros e na sua formação intervêm a

adenilciclase e guanilciclase. Já na sua degradação estão envolvidas as fosfodiesterases

(catalisam a hidrólise da função diéster fosfato para originar 5’-AMP e 5’-GMP).

Inibidores das fosfodiesterases podem ser

agonistas adrenérgicos indirectos -> A nível periférico:

anti-asmáticos ou inotrópicos positivos; no SNC -> AD.

A família das PDE é variada, e os inibidores

(IPDE) mais conhecidos são as xantinas (Ex.: teofilina,

broncodilatadora) e seus análogos -> Não são selectivos

e têm índice terapêutico estreito, provocando

alterações no coração e SNC. E foi na procura de

inibidores mais selectivos que se encontraram:

- Amrinona e milrinona -> IPDE-3 -> ICC;

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- Rolipram -> AD com efeitos secundários.

- Nitracuazona -> AI (PDE interfere no processo inflamatório).

Fármacos inotrópicos positivos não-glicosídicos podem:

- Estimular síntese de cAMP -> Agonistas adrenérgicos e

dopaminérgicos.

- Inibir a hidrólise de cAMP -> IPDE3.

2.1. Inibidores da fosfodiesterase-3

- Conhecer estruturas e principais características, incluindo a problemática das preparações

injectáveis.

São usados conjuntamente com diuréticos, inibidores das enzimas de conversão da

angiotensina (IECAs), bloqueadores β ou glicosídeos cardíacos. Nunca em monoterapia.

Milrinona e Inamrinona

- São bipiridinas e inibidores selectivos da PDE3;

Inamrinona

- Administração IV -> Utilizam-se soluções de lactato diluídas com cloreto de sódio. É

preservado em metabissulfito de sódio -> Sensibilidade a bissulfitos.

Milrinona (+ potente)

- Fármaco de eleição e muito selectiva para PDE3 com poucos efeitos secundários.

- Problemática da administração IV -> Usam-se soluções de lactato diluídas em cloreto de

sódio (soro fisiológico).

- O lactato da inamrinona para injecção é preservado em metabissulfito de sódio e tem de ser

protegido contra a luz. Doentes sensíveis a bissulfitos podem ser sensíveis.

- Não deve ser diluída com soluções com dextrose -> Ocorrem reacções químicas em 24h.

- Uma interacção química imediata, com a formação de um precipitado é observada quando a

furosemida é injectada numa infusão de milrinona.

2.2. Agonistas β

- Conhecer a estrutura e características dos agonistas β1 (via de administração; peculiaridade

estrutural; estereoquímica e actividade biológica) (revisão).

Dopamina

- Anel catecol e amina primária, rapidamente metabolizada pela COMT e MAO;

- Duração de acção curta. Administrada I.V. (sem actividade oral).

Dobutamina

- Análogo da dopamina; com um grupo arilalquílico volumoso e um centro quiral.

- O enantiómero S-(-) tem actividade agonista β1 e agonista α1, enquanto que o R-(+)

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

13

é um antagonista α1 e agonista (fraco) β1. Desta forma, os efeitos α anulam-se e a mistura

racémica tem actividade agonista β1 selectiva.

- Estereoquímica do CH3 afecta a actividade intrínseca, mas não a afinidade.

- Compreender o seu desenvolvimento a partir da dopamina – objectivos e

semelhança/diferença estrutural e conhecer as suas principais características e consequência

A DA é um estimulante β1 potente, mas tem muitos efeitos secundários -> Análogos

da DA que retêm os efeitos inotrópicos e menos efeitos na frequência cardíaca, tónus vascular

e arritmias -> Dobutamina: apesar de apenas ser dada por via I.V., as suas propriedades

levaram ao desenvolvimento de compostos activos via oral.

No entanto, dessensibilizam os β1 no miocárdio -> Baixa resposta por diminuição

dos receptores e parcial desacoplamento dos receptores da adenilato ciclase.

C. Fármacos antianginosos

1. Nitratos orgânicos

- Conhecer a sua origem, as estruturas químicas básicas e compreender a problemática da

sua designação genérica e das designações específicas.

São ésteres de álcoois orgânicos simples ou poliois,

associados a ácido nítrico. E foi a partir dos efeitos do amil-nitrito

em ataques anginosos que se deu o desenvolvimento dos fármacos

desta classe. São usados 5: amil-nitrito, nitroglicerina, di-nitrato de

isossorbida, eritritil tetranitrato e pentaeritritol tetranitrato ->

Nitratos orgânicos.

Nome desta classe é usado para simplificar -> Ex.:

Nitroglicerina não é um composto nitro verdadeiro (não possui a ligação NO2-C), o correcto

seria gliceriltrinitrato; o amil-nitrito tem a estrutura de um éster-álcool-isoamil com um grupo

ácido nitroso; o nome correcto seria isoamil-nitrito.

- Conhecer as suas principais propriedades e relacioná-las com as vias de administração, com

a problemática da formulação para uso clínico e nas utilizações em emergências.

Problemática da formulação -> Pequenos, lipofílicos e voláteis -> Durante a

formulação, o princípio activo pode ser perdido.

Evitar humidade no armazenamento -> Minimizar a hidrólise do éster.

Propriedades explosivas na sua forma mais concentrada -> Necessidade de várias

diluições em veículos e excipientes que reduzam estas características.

Lipofilicidade -> Tratamento de emergência de ataques agudos anginosos.

- Compreender mecanismo de activação e de actuação e factores condicionantes.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

14

NO, produzido pelas células endoteliais vasculares -> Relaxamento do músculo liso

vascular, inibição da agregação plaquetária e inibição das interacções endotélio-leucócitos,

pois estimula a formação de cGMP gerada pela guanilato ciclase intracelular.

Os nitratos orgânicos mimetizam as acções do NO, estimulando a libertação ou

formação deste nos tecidos -> Necessários grupos sulfidril (-SH) livres nos tecidos para ocorrer

vasodilatação (provado pela co-administração com N-acetilcisteína -> Aumenta a

disponibilidade destes grupos).

Outro mecanismo: metabolitos nitrosotiois produzidos intracelularmente a partir dos

nitratos, estimulam directamente a guanilato ciclase -> Produção de cGMP -> Activação de

proteínas cinases dependentes deste -> Fosforilação (inactivação) das cadeias de miosina ->

Vasodilatação e bloqueio dos canais de Ca2+ que catalisam as contracções vasculares ->

Consistente com a necessidade de grupos sulfidril livres.

Mecanismos fisiológicos compensatórios e diminuição de grupos sulfidril -> Tolerância.

Aumento [cGMP] intraplaquetar -> inibe a agregação.

Acções farmacológicas ocorrem no endotélio danificado ->

Selectividade.

Por acção da nitrato redutase dependente do glutatião,

os nitratos originam álcool correspondente e anião nitrito que em

ácido se reduz ao radical NO.

Tanto o NO como os nitrosotióis formados pela reacção

com grupos mercapto de moléculas do organismo -> Activação da guanilciclase.

- Para outros pró-fármacos de NO, conhecer a activação e desvantagens, as características

físico-químicas e as diferenças e vantagens/desvantagens em relação aos nitratos orgânicos.

Os pró-fármacos de NO (nitratos orgânicos, nitritos,

molsidomina e nitroprussiato) são conhecidos há muito tempo

como agentes antianginosos.

Nitritos de etilo e de isoamilo -> Ésteres voláteis do

ácido nitroso, com acção rápida e t1/2 curto; raramente usados e

administrados por inalação.

Trinitrato de glicerilo (nitroglicerina) -> administra-se

por via sublingual na angina de peito. Tem acção muito rápida; e

existe também na forma de pensos transdérmicos ou pomadas

(tem boa absorção através da pele).

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

15

Outros nitratos são utilizados na forma transdérmica, pois libertam NO mais

lentamente (tetranitrato de pentaeritritilo, dinitrato de isossorbitol e 5-mononitrato de

isossorbitol). O seu t1/2 depende da bioactivação redutiva e da hidrólise no fígado. Assim,

para o dinitrato de isossorbitol, o metabolismo ocorre na conformação exo ->

Preferível utilizar-se o 5-mononitrato de isossorbitol, pois a semi-vida é

superior e controlada.

Molsidomina: forma mesoiónica de um heterociclo pouco comum; a

bioactivação inicia-se pela hidrólise do grupo carbamato, originando etanol,

CO2 e sidnonimina. Esta, por abertura

espontânea, forma um derivado N-nitroso-

hidrazinoacetonitrilo que liberta o NO:

Pró-fármacos que geram NO

espontaneamente em todo o corpo produzem

efeitos indesejados noutros locais.

2. Bloqueadores dos canais de cálcio (BECs)

- Conhecer as diferentes classes químicas de BECs e compreender a consequência da sua

dissimilaridade estrutural, incluindo ao nível da sua farmacocinética.

Classes químicas de BECs -> existem 4 classes de bloqueadores dos canais do tipo-L

1. 1,4-dihidropiridinas (1,4-DHPs) -> Única classe com mais de um fármaco. Ex.: Nifedipina

-> Selectiva para o VSM -> Excelente hipotensivo.

2. Fenilalquilaminas e 3. Benzotiazepinas ->

Benzo[b-1,5]tiazepinas. Ex.: Verapamil e

diltiazem, respectivamente -> Efeito directo

no coração, não causam taquicardia ->

Antianginosos ideais.

4. Diaminopropanol. Ex.: Bepridil -> Tem acção

relativamente não-selectiva.

A dissimilaridade estrutural enfatiza

diferenças no perfil dos efeitos. Assim:

Verapamil: tem um N básico central ao

qual os alquil e aralalquil estão ligados.

Diltiazem e verapamil: quirais -> (+)-

enantiómero é mais potente como BEC que o (-).

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16

1,4-DHPs: são as mais estudadas ->

Amlodipina* (tem biodisponibilidade oral de 80-

90%; t1/2 = 40-50h), felodipina, isradipina,

nicardipina*, nifedipina*, nimodipina (t1/2 = 1-

2h), nitrendipina e nisoldipina (biodisponibilidade

oral de 5%). Em geral, as 1,4-DHPs sofrem

metabolismo de 1ª passagem extenso. O anel

DHP é inicialmente oxidado ao análogo piridina.

Estes compostos ligam-se à subunidade α1 do canal do tipo L.

Esta proteína altera a sua forma em resposta ao gradiente de voltagem

transmembranar e existe nas formas de:

Repouso – Estimulado por uma despolarização para abrir;

Aberto – Permite a entrada de Ca2+;

Inactivo – Temporariamente refractário.

As 1,4-DHPs ligam-se na conformação aberta ou inactiva (preferencialmente inactiva

e na porção extracelular do canal). Verapamil inibe a sua ligação ao canal e o diltiazem

melhora essa ligação por modulações alostéricas.

3. Antagonistas dos receptores adrenérgicos β (revisão)

O seu desenvolvimento começou com a isoproterenol e

foi numa tentativa de remover a actividade agonista/agonista

parcial que surgiu o propanolol (antagonista puro).

4. Outros – Conhecer as estruturas e principais características

de outros antianginosos.

- Moduladores do metabolismo do miocárdio.

Ranolazina: biodisponibilidade oral = 76%; metabolizada pela CYP3A4

e pela CYP2D6; t1/2 de preparações de libertação prolongada é 7-9h; eliminado

na urina e fezes; inibidor da gp-P intestinal.

- Diversos vasodilatadores coronários.

Dipiridamol: IPDE-3 -> Maior efeito nas artérias não obstruídas,

aumentando o fluxo sanguíneo nos locais adjacentes, vantajoso para artérias

em isquemia. Aumenta as [] intracelulares de cAMP -> Relaxamento do VSM

(vasodilatação).

Papaverina: vasodilatador benzoisoquinolina -> Biodisponibilidade

BEC’s: mais eficazes

quando a despolarização

é mais longa, intensa e

frequente -> Interacção

preferencial com o

estado aberto/inactivo.

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oral de 30-50% -> metabolismo de 1ª passagem.

Outros: nesiritida (aumenta [GMPc] intracelular vasodilatador); nicorandil* -> Éster

de nitrato nicotinamida, é um híbrido entre nitratos orgânicos e activadores dos canais de K.

D. Fármacos antiarrítmicos

1. Classe I

- Verificar e compreender a semelhança com anestésicos locais e a importância do seu t1/2.

Anestésicos locais pertencem à classe IA -> Diminuem a condução eléctrica no

miocárdio pelo bloqueio de canais de Na+ rápidos, inibindo a fase 0 do potencial de acção

(diminuição da velocidade máxima de despolarização), não alterando o potencial de repouso.

Maior sensibilidade em membranas do miocárdio.

Procaína, lidocaína (anestésicos amino-amida) -> T1/2 permite utilização como

antiarrítmicos.

- Conhecer a sua descoberta e características estruturais comuns e todos os requerimentos

estruturais dos antiarrítmicos que actuam por bloqueio dos canais de sódio.

Efeitos secundários de antimaláricos, anticonvulsivos e anestésicos locais ->

Propriedades antiarrítmicas.

- Necessários grupos aromáticos para intercalarem com fosfolípidos;

- Cadeia alquílica ligada a grupos funcionais capazes de estabelecerem pontes de H;

- Grupo amina ionizável a pH fisiológico e capaz de formar um sal;

- Relação entre o bloqueio de canais de Na+ com o coeficiente de partilha.

- Conhecer a descoberta e o desenvolvimento, as estruturas e as principais características

dos fármacos mais relevantes deste grupo.

Classe IA

Quinidina -> Protótipo

- Família dos alcalóides (diasteroisómero da quinina, mas mais potente nos efeitos cardíacos).

- Possui um anel quinolina e um sistema de anéis bicíclicos quinuclidina, com uma ponte

hidroximetilénica que a ligar as duas partes.

Procainamida*

- Bioisóstero da procaína (tóxica no SNC, com curta duração de acção, baixa actividade oral

-> hidrólise por esterases), sintetizado a partir desta por substituição do éster por uma

amida -> Oralmente activa, resistente à hidrólise -> Boa biodisponibilidade oral.

- Metade da dose: excretada inalterada. Resto: acetilação hepática -> Ácido p-aminobenzóico

e N-acetilprocainamida (activo -> excreção renal) formada pela N-acetiltransferase hepática.

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Disopiramida*

- Pouca semelhança com a procainamida, mas os efeitos cardíacos são semelhantes.

- Rápida e completamente absorvido no TGI. T½ = 5-7 h.

- Metade da dose: excretada na urina inalterada. Restante: metabolismo hepático -> Formas

N-desalquiladas com 1/2 da actividade antiarrítmica do fármaco -> Sofrem excreção renal.

Classe IB

Lidocaína *

- Rápido início e fim de acção IV -> Não tem actividade oral (metabolismo de

1ª passagem).

- Ligação proteica: 60-70%; metabolizado por N-desetilação ->

Monoetilglicinexilida -> hidrólise por uma amidase a N-etilglicina e 2,6-

dimetilanilina.

Tocainida

- Análogo estrutural α-metil da monoetilglicinaxilida -> O α-metil contribui

para dar actividade oral ao fármaco.

Fenitoína

- Fracamente ácida e pouco solúvel na forma não-ionizada -> Fosfenitoína (éster fosfato).

- Metabolismo: lento -> Metabolitos p-hidroxilados inactivos. Induz o seu metabolismo e está

sujeita a variabilidade interindividual.

Classe IC

Flecainida*

- Derivado benzamida fluorado (como sal acetato)

- Bem absorvido por via oral e t1/2 = 14h -> Metade da dose metabolizada no

fígado. 1/3 excretada na urina na forma inalterada.

- Encainida -> Derivado benzamida com menos efeitos inotrópicos negativos.

Propafenona

- Tipo anestésico local -> Relacionado com outros fármacos da classe IC e bloqueadores β.

2. Classe II (revisão) – Ver também objectivo sobre fármacos antianginosos

Propranolol*

- (+)-Propranolol -> Não selectivo.

- Ariloxipropanolamina mais lipofílica -> Atinge melhor o SNC que os outros deste grupo.

- Boa absorção oral; sofre metabolismo de 1ª passagem, ligação proteica de 90%.

Sotalol*

(+)-Sotalol -> Não selectivo -> Agente antiarrítmico metanosulfonanilida ->Possíveis alergias.

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3. Classe III

- Conhecer estruturas e principais características dos fármacos mais relevantes deste grupo.

Bretílio* -> protótipo desta classe

- Sal de amónio quaternário.

- T1/2 = 10h. Eliminado inalterado na urina.

Amiodarona*

Outros -> Ibutilida e Dofetilida são, respectivamente, derivados

metanosulfonanilido e bis-metanosulfonanalido.

4. Classe IV

E. Agentes que afectam o sistema renina-angiotensina.

1. Inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs)

1.1. Introdução

- Conhecer o sistema renina-angiotensina, incidindo nas estruturas básicas dos peptídeos

envolvidos e reacções e enzimas envolvidas.

Angiotensina: α2-globulina abundante no plasma, continuamente sintetizada e

secretada pelo fígado. Sendo que hormonas como glucocorticóides, hormona da tiróide e

angiotensina II estimulam a sua síntese. Parte mais importante do composto -> Porção N-

terminal -> Ligação Leu10-Val11.

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1. Esta ligação é clivada pela renina e produz o decapéptido angiotensina I.

2. Ligação peptídica Phe8-His9 da angiotensina I é clivada pela

ACE para produzir o octapéptido angiotensina II.

3. Aminopeptidase converte angiotensina II num heptapéptido

activo, angiotensina III -> Remove a arginina N-terminal.

4. Carboxipeptidases, aminopeptidases e endopeptídases ->

Formação de fragmentos peptídicos inactivos.

5. Composto adicional pode formar-se por acção da prolil-

endipeptidase na angiotensina I.

6. Clivagem da ligação Pro7-Phe8 da angiotensina I produz o

heptapéptido angiotensina 1-7.

Renina: aspartil protease que determina a velocidade de

produção de angiotensina II. É muito mais específica que a ACE e

tem como função primária clivar a ligação Leu10-Val11 do angiotensinogénio.

ACE - Enzima Conversora da Angiotensina: também chamada cininase II. Protease

de zinco sob controlo fisiológico mínimo. Não está limitada pela velocidade da geração no

passo de angiotensina II. É uma dipeptidil carboxipeptidase não específica -> Requer apenas

uma sequência tripéptidica como substrato (mas o penúltimo a.a. do substrato não pode ser

prolina -> Angiotensina II, que contém a prolina neste sítio, não é metabolizada pela ACE).

Bradicinina: nonapéptido que actua localmente. Tal como a angiotensina II, é

produzida por clivagem proteolítica de um percursor péptico.

1. Clivagem dos cininogénios pela protease calicreína ->

Decapéptido calidina ou lisil-bradicinina.

2. Clivagem da lisina N-terminal pela aminopeptidase ->

Bradicinina.

3. ACE degrada a bradicinina a péptidos inactivos.

NOTA: A ECA não produz só um potente vasoconstritor, também inactiva um potente vasodilatador.

- Compreender a razão da hidrólise rápida das angiotensinas.

O sistema renina-angiotensina regula a pressão sanguínea por mecanismos de

feedback. Desta forma: a diminuição da pressão sanguínea, pela perda de sangue, perda de

Na+, ou pela clampagem da artéria renal -> Estimula células justaglomerulares do rim a

secretar renina. Esta promove a produção de angiotensina I que é clivada no pulmão e rins

pela ACE -> Angiotensina II.

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Por sua vez, esta é um potente vasoconstritor -> Eleva a pressão sanguínea. E os

efeitos a longo prazo são alcançados por esta como pelo produto da sua clivagem,

angiotensina III. É pelo controlo rápido da pressão arterial que as angiotensinas fazem que se

torna importante a sua rápida hidrólise.

1.2. IECAs

1.2.1. Inibidores com grupo sulfidrilo

- Conhecer a descoberta da constituição do local activo da ECA e as interacções envolvidas

com o substrato e com os inibidores.

IECAs -> Classificados em 3 grupos (composições químicas):

Inibidores contendo sulfidril (único exemplo: captopril);

Inibidores contendo dicarboxilato (Ex.: Enalapril); [maioritários]

Inibidores contendo fosfonato (único exemplo: fosinopril).

Descoberta da constituição do local activo da ACE

Verificou-se que o veneno da piton (Bothrops jararaca) contém factores que

potenciam a acção da bradicinina (BPFs). Estes inibem a conversão enzimática da angiotensina

I a angiotensina II (ECA -> conhecida por ser idêntica à anterior bradicinase (cinase II)). E são os

líderes para desenvolvimento de outros anti-hipertensivos por possuírem actividade dupla:

Inibem a degradação da bradicinina (potente vasodilatador);

Inibem a biossíntese de angiotensina II (potente vasoconstritor).

Um nonapéptido (teprotido) isolado do BPF original tem a maior

potência in vivo como IECA e abaixamento da pressão sanguínea em

hipertensos. Também tem efeitos benéficos em doentes com falência cardíaca, contudo

devido à natureza peptídica e falta de actividade oral, tem actividade limitada na terapia.

Conhecimento da especificidade de ligação ao substrato e o facto da ACE ter

propriedades similares às carboxipeptidases pancreáticas -> Modelo hipotético do sítio activo.

Interacções com o local activo

Carboxipeptidase A (como a ECA) ->

Exopeptidase com Zn2+.

Ligação à carboxipeptidase A envolve 3

interacções maioritárias:

1. Carboxilato terminal do substrato (negativo) liga-se

à Lisina (carregada positivamente).

2. Bolsa hidrofóbica na enzima -> Especificidade para um C-terminal aromático ou apolar.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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3. Zn2+ localizado perto da ligação peptídica lábil estabiliza o intermediário tetraédrico

carregado negativamente, que se forma quando H2O ataca o C=O entre o C-terminal e o

penúltimo resíduo de a.a..

Similarmente, a ligação à ACE envolve 3 ou 4 interacções maioritárias.

1. Ligação iónica entre o carboxilo terminal (negativo) com a amina (positiva) da enzima.

2. Papel do Zn2+ deve ser similar ao da carboxipeptidase. Como a ACE cliva dipéptidos,

assumiu-se que este está localizado 2 a.a. depois do centro catiónico, para estar

adjacente à ligação peptídica lábil.

3. Cadeia lateral R1 e R2 pode contribuir para a afinidade da ligação; contudo,

contrariamente à carboxipeptidase A, não mostra especificidade para a.a. hidrofóbicos

no C-terminal, não sendo expectável que se forme uma ligação hidrofóbica.

4. Ligação peptídica terminal é estável -> Ponte de H entre o substrato e a enzima.

- Conhecer e compreender o desenvolvimento do captopril e compreender a importância do

grupo sulfidrilo.

O desenvolvimento do captopril e outros IECAs

oralmente activos começou pela observação que o ácido D-

2-benzilsuccinico (A) era um potente inibidor da

carboxipeptidase A, sendo a sua ligação a esta similar à

observada para outros substratos, com excepção de que o

Zn2+ liga a um carboxilato, contrariamente à ligação peptídica lábil.

Este composto é um análogo que contém recursos estruturais de ambos os produtos

da hidrólise peptídica: maioria são idênticos ao a.a. terminal do substrato, enquanto que

grupos carboxilatos adicionais são capazes de mimetizar o grupo carboxilato produzido

durante a hidrólise peptídica.

Este conceito e o modelo da ACE -> Síntese e avaliação

de derivados de ác. succínico. Como a prolina está presente no

C-Terminal no teprotido (resultou dos estudos do veneno da

jararaca) e noutro péptido potente inibitório do veneno de cobra

foi incluída na estrutura de novos compostos inibidores -> 1º

inibidor sintetizado: succinil-L-prolina, que apesar da sua

especificidade para a ACE, só tem 1/500 da potência do

composto de partida (teprotido).

Substituição da prolina por outro a.a. -> Compostos menos potentes.

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23

Adição de um CH3 em 2 na succinil-L-prolina para mimetizar a cadeia lateral R2 do

substrato -> Potenciou a actividade marginalmente. D-2-Metilsuccinil-L-prolina -> Similar ao

composto de partida, mas 1/300 menos potente.

Isómero D, em vez de L (normal) -> Necessário devido à substituição isostérica de

um NH2 por um CH2 presente na succinil-L-prolina.

Comparação do R2 do substrato com um CH3 da D-2-metilsuccinil-L-prolina -> Metil

ocupa o mesmo local de ligação que a cadeia lateral do grupo L-amino.

Alteração importante para succinil-L-prolina -> Succinil carboxilato por outros grupos

potenciando a afinidade para a ligação do zinco à ECA. Ex.: Substituição do carboxilato por

sulfridril -> 3-mercaptopropanoil-L-prolina 10-20x mais potente que o composto original ao

inibir respostas contrácteis e vasopressoras da angiotensina I.

Adição de grupo 2-D-metil -> Potencia a actividade, sendo o composto resultante ->

Captopril -> IECA competitivo em que o grupo sulfridril é responsável pela sua excelente

actividade inibitória, bem como pelos maiores efeitos secundários: erupções cutâneas e

distúrbios de paladar -> Diminuem com a redução da dose e descontinuidade da terapia.

- Conhecer a síntese do captopril.

Tem 2 carbonos estereogénicos.

Para se obter o diasteroisómero

activo (S,S) utiliza-se um a.a. quiral (L-

prolina) e após N-acilação com o cloreto de

ácido conveniente, separam-se os

diastereómeros (S,S) e (S,R) -> inactivo (os sais que originam com diciclo-hexilamina podem

separar-se facilmente por cristalização fraccionada em acetato de etilo).

A seguinte desprotecção do grupo SH com amónia em metanol origina o captopril.

Sendo que o cloreto de ácido em causa é preparado por adição de Michael do ácido tiolacético

ao ácido metacrílico, seguida de reacção com cloreto de tionilo.

1.2.2. Inibidores com grupo dicarboxilato

- Compreender o mecanismo de hidrólise da angiotensina I em angiotensina II e conhecer o

desenvolvimento do enalaprilat como inibidor competitivo reversível (análogo do estado de

transição) da enzima envolvida.

ACE: carboxipeptidase glicoproteica, que pertence ao grupo das metaloproteases

que contêm zinco como cofactor. Sendo que este activa o

C=O da amida (ácido de Lewis) enquanto que a água é

activada como nucleófilo por catálise básica através de um

Page 24: A. Fármacos Diuréticos

Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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resíduo glutamato -> Coordenação simultânea do zinco com o C=O e com a “água

activada” baixa a energia de activação para o ataque nucleofílico à ligação peptídica lábil.

Na tentativa de desenvolver compostos sem o sulfidril do captopril, mas que

mantivessem a sua capacidade de quelar o zinco (Estrutura ao lado):

Análogos dos substratos tripetídicos em que o C-terminal (A) e o penúltimo a.a. (B)

são retidos, mas o 3º a.a. está isostericamente substituído por um N-carboximetil (C).

Uso de um CH3 em R3 (B = Ala) e um feniletil em R4 -> Enalaprilat.

Este é 10x mais potente que o captopril, ainda que a sua capacidade de quelar o

zinco seja significativamente menor que a deste -> Ligação é mais forte devido à capacidade

de mimetizar o estado de transição da hidrólise da

angiotensina I.

Para além disso, possui um carbono

tetraédrico no lugar da ligação peptídica lábil. Quanto

aos intervenientes na ligação à ACE:

- Amina 2ª (localizada na mesma posição que o N da

amida lábil);

- Ácido carboxílico (ionizado -> interacção iónica com o Zn);

- Feniletil (mimetiza a cadeia lateral hidrofóbica da fenilalanina presente na angiotensina I).

- Conhecer estrutura, características e desvantagem (forma de a ultrapassar) do Enalaprilat.

Apesar da excelente actividade I.V., o Enalaprilat tem uma biodisponibilidade oral

muito reduzida -> Esterificação deste -> Enalapril (com biodisponibilidade superior) que sofre

bioactivação posterior e, como tal, é considerado um pró-fármaco.

Na origem deste problema do Enalaprilat podem estar:

- Combinação das suas características, especialmente os dois carboxílicos e a amina 2ª ->

Baixa lipofilicidade e fraca biodisponibilidade oral.

- Ionização do carboxílico adjacente do Enalaprilat aumenta a basicidade da amina 2ª -> pKa

desta é 8,02 enquanto que no Enalapril é 5,49. E ao contrário da amina deste, no intestino

delgado, a amina do Enalaprilat vai encontrar-se na forma

ionizada, formando um zwiterião com o carboxílico adjacente.

- A formação destes zwiteriões também pode contribuir para

a baixa actividade oral.

Administração I.V. de um ou outro produzem o

mesmo efeito sobre a Angiotensina II.

Síntese do enalapril

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

25

Síntese em solução de um péptido por condensação directa da N-

tertbutoxicarbonilalanina com o éster benzílico da prolina, na presença de diciclo-

hexilcarbodidimida (DCC) -> Reagente de acoplamento que activa o ácido carboxílico para

sofrer ataque nucleofílico pela amina. Pois na ausência de um agente deste tipo, ocorreria

uma reacção entre um ácido e uma base -> Sal.

Desprotecções subsequentes e a aminação redutiva do produto com 2-oxo-4-

fenilbutanoato de etilo -> Enalapril.

- Conhecer as estruturas e características mais relevantes dos principais IECAs com grupo

dicarboxilato e compará-los entre si.

Sucesso do Enalapril -> Desenvolvimento de

compostos similares, principalmente por variação do anel

do a.a. C-terminal, podendo a pirrolidina ser substituída

por anéis mais largos bicíclicos.

Por serem diácidos, o Enalaprilat e análogos, para

terem absorção GI -> Pró-fármacos do tipo éster,

bioactivados por esterases sanguíneas.

Análogo do Enalaprilat, activo por via oral ->

Lisinopril (dois carboxilos e duas aminas que se conjugam e

neutralizam as suas cargas -> Não é necessário estereficar) -> Tem um resíduo de lisina. Este e

o captopril são os únicos IECAs usados que não são pró-fármacos.

1.2.3. Inibidores com grupo fosfonato

- Conhecer o desenvolvimento deste grupo de IECAs e compreender a ligação do grupo

fosfinato à ACE.

- Conhecer as semelhanças/diferenças e vantagens/desvantagens destes derivados em

comparação com os anteriores.

Na procurar de alternativas ao SH do captopril -> Inibidores com fosfonato ->

Interacção do zinco com o ácido fosfínico é similar à dos sulfidril e carboxilatos; e também é

capaz de formar pontes iónicas, de H e hidrofóbicas similares às destes.

Estes compostos têm característica única -> Ácido fosfínico mimetiza realmente o

intermediário tetraédrico ionizado da hidrólise -> Espaçamento entre N da prolina e fenil

hidrofóbico é de mais um átomo que nos dicarboxilados.

Modificações (descobrir sistemas de anéis C-terminal mais hidrofóbicos, semelhantes

aos descritos para os dicarboxilados) -> Análogos 4-ciclohexilprolina do ácido fosfínico original.

Page 26: A. Fármacos Diuréticos

Química Farmacêutica – PFFH – UP5

26

Neste sentido, surgiu o fosinoprilat -> Mais potente que

captopril, mas menos que o Enalaprilat -> diferenças no espaçamento

anteriormente referido. É semelhante aos dicarboxilados -> Muito

hidrofílico e apresenta pouca biodisponibilidade oral. Sendo que ambos

os problemas são ultrapassados pelo grupo (aciloxi)alquilo contido no

seu pró-fármaco -> Fosinopril (bioactivado por esterases na parede

intestinal e fígado).

1.2.4. REA – conhecer a estrutura base dos IECAs e o efeito de variações estruturais em cada

uma das partes constituintes na sua actividade biológica.

ACE -> Estereoselectiva; inibidores actuam como

substratos análogos di- ou tripéptidos.

o Anel N deve ter ácido carboxílico -> Mimetizar o carboxilato C-terminal dos substratos;

o Grandes anéis heterocíclicos hidrofóbicos (Ex.: anel N) -> Aumentam a potência e

alteram os parâmetros PK;

o Grupos ligantes de Zn podem ser: sulfidril (A), ácido carboxílico (B) ou fosfínico (C);

o Sulfidrilo -> Superior ligação ao zinco (cadeia lateral que mimetiza a fenilalanina nos

compostos ácido carboxílico e fosfínico compensa a falta do grupo sulfidrilo);

o Compostos com sulfidrilo -> Formam dímeros e disulfuretos -> Diminui duração de acção;

o Compostos que ligam ao Zn por carboxilato ou fosfinato -> Mimetizam o estado de

transição da hidrólise do péptido;

o Esterificação do carboxilato ou fosfinato -> Pró-fármaco oralmente activo;

o Substituinte X -> Usualmente um CH3 -> Mimetizar cadeia lateral da alanina. Com as

séries dicarboxilato, quando o X é a n-butilamina (cadeia lateral da lisina) -> Composto

que não requer um pró fármaco;

o Actividade óptima -> Estereoquímica do inibidor é consistente com a estereoquímica do

L-a.a. presente nos substratos normais.

1.2.5. Características físico-químicas dos IECAs e farmacocinética

- Compreender o efeito dos grupos constituintes no pKa e na ionização dos IECAs e pró

fármacos ao pH fisiológico.

Captopril e Fosinopril -> Ácidos. Todos os outros IECAS são anfotéricos.

Comum: ácido carboxílico ligado ao anel N (pKa 2,5-3,5); ionizado a pH fisiológico.

Enalapril -> pKa e a ionização da amina 2ª nas séries dicarboxilato depende do grupo

funcional adjacente estar no pró-fármaco ou na forma activa; no pró fármaco, está adjacente a

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

27

um éster (menos básico e principalmente não ionizado). Após bioactivação, está adjacente a

um COOH (está ionizado e aumenta a basicidade e ionização da amina).

Similarmente, o N básico também aumenta a acidez do COOH adjacente. Ex.:

Valores do pKa do Enalapril são 3,39 e 2,30 -> correspondem ao COOH no anel N e ao COOH

adjacente à amina, respectivamente.

- Relacionar as estruturas com os coeficientes de partilha e consequências farmacocinéticas.

Todos têm boa solubilidade

lipídica. Excepções: Captopril, Enalaprilat e

o Lisinopril.

Compostos com sistemas de anéis

bicíclicos hidrofóbicos -> Maior

solubilidade lipídica que os com prolina;

Enalaprilat -> Mais hidrofílico que

o pró-fármaco -> Único IECA dado I.V.;

Lisinopril -> É o composto inibitório mais hidrofílico, oralmente activo; no

duodeno, existe como di-zwiterião, os grupos ionizados podem internamente ligar-se

entre si -> Capaz de atravessar as membranas com carga neutra.

Farmacocinética (sumário na tabela anterior)

- Biodisponibilidade oral: 13-95% -> Solubilidade lipídica e metabolismo de 1ª passagem;

- Administração com alimentos afecta a administração oral. Excepções: Enalapril e Lisinopril;

- Ligação proteica -> Grande variedade -> Valores de log P. Ex.: Três dos compostos mais

lipofílicos (fosinopril, quinapril e benazepril) apresentam ligação >90%; três dos compostos

menos lipofílicos (lisinopril, enalapril e captopril) têm ligação proteica muito inferior;

- Excreção renal (para a maioria);

- Todos têm início, duração de acção e intervalo de administração semelhantes. Excepção:

Captopril -> Início de acção mais rápido, duração de acção mais curta e requer intervalo de

administração menor.

1.2.6. Metabolismo

- Compreender a activação dos pró-fármacos deste grupo e

relacionar as estruturas químicas com as vias metabólicas mais

comuns para os diferentes IECAs.

Lisinopril e enalaprilat: excretados inalterados. Todos

os outros -> Sofrem metabolização;

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

28

Todos os pró-fármacos dicarboxilato e fosfonato: bioactivação por esterases

hepáticas;

Captopril: sulfidril -> Sujeito a dimerização oxidativa ou conjugação. 40-50 % da sua

dose -> Excretada inalterada; restante: dímero dissulfido ou dissulfido captopril cisteína;

Para todos os IECAs (excepto benazepril), o C adjacente ao COOH é parte de um

sistema de anéis e fornece impedimento estérico à conjugação.

2. Antagonistas dos receptores AT1 da angiotensina II (ARAs)

- Conhecer e compreender o design e desenvolvimento dos ARAs, incluindo as analogias

estruturais com o ligando endógeno, a evolução da acção agonista para antagonista, as

modificações moleculares efectuadas e os objectivos das mesmas e que levaram ao

desenvolvimento do losartan.

Os ARA’s são também chamados de “sartans”. Neste sentido, e como o receptor da

angiotensina II é o alvo inicial para o desenvolvimento de compostos inibidores da via da

renina-angiotensina surgiu o protótipo saralasina -> Octapéptido no qual os resíduos de Asp e

Phe da angiotensina II foram substituídos por Sar (sarcosina, N-metilglicina) e Ile -> Baixa

biodisponibilidade oral e actividade agonista parcial não desejada.

A Saralasina deriva de análogos do ácido 1-benzil-5-imidazolilacéticos

(exemplificados pelo S-8308) que embora fossem antagonistas fracos, não possuíam actividade

agonista indesejada. Um modelo computacional fez a sobreposição da angiotensina II com o S-

8308, revelando três partes estruturais comuns:

1. Carboxilato ionizado do S-8308 relaciona-se com o C-

terminal do carboxilato da angiotensina II;

2. Imidazol do S-8308 -> Imidazol da cadeia lateral da His;

3. n-butil do S-8308 -> Cadeia lateral hidrocarbonada da Ile.

O benzil do S-8308 situa-se na direcção do N-terminal da

angiotensina II contudo, não deve ter interacções com o receptor.

A partir do S-8308 foram feitas várias modificações ->

Tentativa de melhorar a ligação ao receptor e a lipossolubilidade,

importante para a absorção oral -> Preparação do Losartan, com

elevada afinidade para o receptor e boa actividade oral.

- Compreender o desenvolvimento de outros ARAs, as

semelhanças/diferenças entre si e em relação ao losartan e

consequências.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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Valsartan, Irbesartan, Telmisartan, Candesartan, Olmesartan -> Análogos difenílicos

do losartan com características semelhantes às deste.

Valsartan: primeiro ARA não-imidazólico, sendo mais potente que o losartan.

C=O amídico do valsartan é isóstero do N do imidazol do losartan -> Pode servir

como aceitador de ligações de H similar ao N do imidazol.

Irbesartan: não tem OH 1º do losartan, mas tem 10x mais afinidade para o AR ->

Ponte de H ou ligação ião-dipolo do C=O pode mimetizar a interacção do álcool 1º deste.

Candesartan, telmisartan: têm anéis benzimidazóis que reforçam a ponte de H.

Candesartan cilexitil e o olmesartan medoxomil: pró-fármacos rapidamente

hidrolisados aos metabolitos ácido carboxílico (candesartan e olmesartan) durante a absorção

no TGI. Estes COOH localizam-se no mesmo sítio que o OH do losartan, que o COOH do

valsartan e que C=O do irbesartan. Podem participar em interacções iónicas e dipolo.

Eprosartan: similarmente ao losartan, o COOH do S-8308 mimetiza o carboxilato da

Phe (isto é, o C-terminal) da angiotensina II.

O benzil do S-8308 mimetiza a cadeia lateral aromática da Tyr dos agonistas -> A

maior mudança não foi a extensão do grupo N-benzil, mas o aumento da capacidade do

composto para mimetizar o C-terminal da angiotensina II -> Conseguido pela substituição do

ácido 5-acético por um ácido α-tienilacrilico. Um grupo

carboxilato em posição para foi também adicionado.

Anel tienil mimetiza isostericamente o fenil da Phe

da angiotensina II e com o carboxilato em para, é

responsável pela potência do composto.

- Conhecer a REA dos ARAs.

Grupos acídicos: mimetizam o fenol da Tyr ou

carboxilato da Asp da angiotensina II.

Séries difenílicas: tetrazol e carboxilato devem estar

em orto -> Actividade óptima (tetrazol têm melhor estabilidade metabólica, lipofilicidade e

biodisponibilidade oral).

n-butil do composto modelo fornece pontes de H e mimetiza a cadeia lateral da Ile

da angiotensina II. Ex.: Candesartan, telmisartan, olmesartan -> Substituído por éter etílico ou

n-propil.

Imidazol ou um equivalente isostérico é necessário -> Mimetiza a cadeia lateral His

da angiotensina II.

Substituições no R -> COOH, hidroximetil, cetonas ou anéis benzimidazol.

Page 30: A. Fármacos Diuréticos

Química Farmacêutica – PFFH – UP5

30

Mecanismos celulares de influxo, efluxo e

armazenamento de Ca 2+

.

ROC: receptor operado por canais de Ca;

POC: canais dependentes de potencial;

SR: Retículo sarcoplasmático;

M: mitocôndria.

- Relacionar os grupos constituintes dos ARAs com as suas características físico-químicas

(acidez e ionização ao pH fisiológico, lipofilia, estereoquímica) e consequências

farmacocinéticas, incluindo no metabolismo

“Sartans” -> Estruturas simples que mimetizam a porção Tyr-

Ile-His-Pro-Phe da angiotensina II. O C=O vizinho do benzilo é

importante. Ex.: Losartan é muito pouco activo, enquanto o

metabolito (derivado da oxidação do álcool primário) é muito mais activo.

O irbesartan é a excepção, em que o C=O interage com o

receptor por ponte de H (não se pode descartar a possibilidade de

metabolização a COOH).

Cadeia lipofílica também é importante -> Metabolito oxidado

do valsartan na posição ω-1 da cadeia alquílica é menos activo.

É importante que o COOH (ou tetrazole) esteja em orto do fenilo ou para do benzilo.

Todos os ARAs são ácidos;

Anel tetrazol (losartan, valsartan, irbesartan, candesartan e olmesartan) tem pKa=6 e

está >90% ionizado a pH fisiológico.

F. Bloqueadores dos canais de cálcio (BECs)

1. Introdução

- Conhecer a estrutura dos canais de cálcio tipo L e saber onde actuam os BECs.

Os BEC produzem efeitos, pois interagem com canais de Ca2+ dependentes de

voltagem -> 6 subclasses de canais: T, L, N, P, Q e R. Estes diferem na localização e função.

Divididos em 2 grupos: canais activos por baixa voltagem (LVA) e canais activados por alta

voltagem (HVA).

Canal L -> Canal HVA (exige maior despolarização)

- Local onde actuam estes bloqueadores -> Existem no músculo-

esquelético, cardíaco e liso.

- Pentâmero composto por subunidades: α1, α2, β e γ e por δ

polipeptidases):

o α1 -> Proteína transmembranar com quatro domínios com

função de poros; apresenta os locais de ligação para os BEC

disponíveis -> Poro. Diferenças genéticas produzem pequenas

diferenças nos canais L nos diferentes tecidos -> Selectividade.

o Restantes 4 subunidades -> Rodeiam α1 e contribuem para a

Page 31: A. Fármacos Diuréticos

Química Farmacêutica – PFFH – UP5

31

hidrofobicidade do pentâmeto -> Permite que o canal seja incorporado na membrana

e modulam a actividade de α1.

o As subunidades α2, δ e β modulam a subunidade α1;

- Existem 6 subtipos de α1 (α1s; α1A; α1B; α1C; α1D; α1E). Canais tipo-L:

o Encontrados no músculo-esquelético -> Subtipo α1S;

o Encontrados no cérebro -> Subtipos α1C e α1D.

- Conhecer a classificação química dos BEC’s.

- 1,4-DHPs (Ex.: nifedipina, nicardipina e amlodipina);

- Derivados benzotiazepina - benzo [b-1,5] tiazepinas. Ex.: Diltiazem;

- Derivados arilalquilaminas. Ex.: Verapramil.

- Éteres diaminopropanol. Ex.: Bepridil.

2. Di-hidropiridinas

- Compreender a importância biológica da estrutura 1,4-DHP.

Úteis como intermediários na síntese de piridinas substituídas. Sendo o anel 1,4-

DHP o responsável pelas propriedades de “transferência de H” da coenzima NADH.

- Conhecer a origem deste tipo de estruturas químicas e a sua síntese geral.

A reacção de Hantzsch produz um composto simétrico:

ésteres e substituintes em 2 e 6 são iguais.

Requerimentos necessários -> Identificados pela

mudança sequencial em 4, nos ésteres em 3 e 5, nos grupos alquilo em 2 e 6, e no N1-H.

- Conhecer a estrutura base, a sua numeração, as modificações estruturais efectuadas nos

estudos de REA e as características estruturais importantes para a interacção com o receptor

e actividade farmacológica/terapêutica dos diferentes compostos deste grupo.

Interacções mais importantes:

Polares: entre o OH de uma treonina como doador de H e um C=O de um éster; e

entre o NH da DHP liga-se ao C=O de uma glutamina.

Apolares: interacções entre metionina e fenilalanina (não polares) com o arilo.

Interacções entre NO em orto do fenilo (Nifedipina) -> Diferentes das que se

estabelecem quando este está em meta (Nicardipina).

Fenil substituído em C4 -> Optimiza a actividade (heteroaromáticos, como a piridina,

produzem efeitos similares, não são usados devido à toxicidade animal observada). Alquilo

pequeno não planar ou cicloalquilo -> Reduz a actividade.

Substituição em C4 (c/ grupo não planar acilo ou cicloacilo) -> ↓ actividade.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

32

Substituição no fenil (X) -> Mais importante para tamanho e posição que natureza

electrónica. Compostos com substituintes orto/meta têm actividade óptima. No entanto, as

não são substituídas/substituição para -> ↓ actividade. Todas as 1,4-DHP comercializadas:

substituintes orto/meta electrotractores (não é requerimento absoluto). Compostos com

grupos electrodoadores nestas duas posições -> Boa actividade.

Importância dos substituintes orto e meta -> Promover volume para bloquear a

conformação da 1,4-DHP, para que o aromático em C4 seja perpendicular ao anel 1,4-DHP. Esta

conformação é vista como essencial para a sua actividade.

Anel 1,4-DHP -> Essencial para a actividade.

Substituição em N1 ou uso de sistemas de anéis oxidados (piperidina) ou reduzidos

(piridina) -> Diminui actividade/inactivos.

Ésteres em C3 e C5 -> Optimiza a actividade. Grupos aceitadores de e- mostram

actividade agonista e menos actividade antagonista.

Se os ésteres em C3 e C5 não são idênticos -> C4 quiral -> Enantiómeros exibem

estereoselectividade (ambos os enantiómeros bloqueiam os canais, mas têm actividades

distintas). Posições do C3 e C5 do anel de DHP não são equivalentes. Estruturas cristalinas de

nifedipina (única 1,4-DHP simétrico) -> C=O do C3 é sinplanar à ligação

C2-C3 e o do C5 é antiperiplanar à ligação C5-C6. Os compostos

assimétricos apresentam selectividade para vasos sanguíneos específicos.

Para além disso, outros electrotractores em C3 e C5, diminuem a

actividade antagonista, podendo levar a actividade agonista -> Ex.:

Substituição do éster em C3 da isradipina por um NO2 produz um

activador dos canais de Ca2+ (agonista).

Os grupos éster em C3 e C5 conduzem a actividade óptima mas podem ser

substituídos por outros grupos aceitadores de e-.

Substituintes em C2 e C6 -> Devem ser alquilos pequenos,

geralmente metilos.

Todas as 1,4-DHP têm CH3 em C2 e C6 (excepção:

amlodipina). Potência maior da amlodipina -> Receptor 1,4-DHP pode tolerar substituintes

maiores nestas posições e a potência pode ser aumentada substituindo estes grupos.

DHPs são moléculas flexíveis -> Substituintes

arilo em C4 e éster em C3 e C5 podem rodar:

conformação de barco aplanado com o substituinte arilo

e posição pseudoaxial e quase ortogonal a este.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

33

- Relacionar as estruturas químicas (basicidade e grupos responsáveis; ionização ou não ao

pH fisiológico; lipofilia; solubilidade aquosa; quiralidade) com as características das DHPs e

comparar com outros BECs e justificar as suas semelhanças/diferenças farmacocinéticas

(incluindo metabolismo) e farmacodinâmicas.

Verapamil, diltiazem e 1,4-DHPs: básicos. Verapamil e

Diltiazem têm aminas 3ª com pKa de 8,9 e 7,7, respectivamente. Em

contraste, o azoto das 1,4-DHPs faz parte de um carbamato conjugado ->

e- estão envolvidos numa estabilização por ressonância, o que torna o N

menos disponível para protonação -> Menos básicas.

Consequência: a pH fisiológico, verapamil e diltiazem estão ionizados e as 1,4-DHPs

não estão. Sendo que dentro destas, existem duas excepções (Amlodipina e Nicardipina) ->

Aminas das cadeias laterais estão ionizadas ainda que o anel DHP não esteja. Ainda neste

contexto, como uma ligação iónica é feita entre o fármaco e o seu receptor -> Diferenças na

basicidade -> Ligação das 1,4-DHPs é distinta das do verapanil e do diltiazem.

Todos têm boa solubilidade lipídica -> Boa absorção oral. Nas 1,4-DHPs, a

solubilidade lipídica ocorre em compostos com grupos éster grandes ou anéis fenílicos

disubstituídos -> Nifedipina e nisoldipina. Os valores de logP da tabela são para compostos não

ionizados. Estes diminuem para formas ionizadas de amlodipina, nicardipina, verapamil e

diltiazem. Os 3 últimos agentes possuem são suficientemente hidrossolúveis -> Via oral e I.V.

Todos os BECs (excepção: nifedipina) -> Pelo menos um centro quiral e são

comercializados como misturas racémicas. Neste sentido: enantiómero S das fenilalquilaminas

são mais potentes que o R; as 1,4-DHPs assimétricas exibem estereoselectividade; e o

diltiazem necessita de configuração cis no ésteracetil e os fenilo substituídos.

Metabolismo

BECs: metabolismo de 1ª passagem; substratos do CYP3A4.

1,4-DHPs: em muitos casos, anel DHP é inicialmente

oxidado a um análogo piridina inactivo. Noutras situações:

- Hidrólise, conjugação, oxidação adicional.

- Hidroxilação do ésterisobutil (nisoldipina) -> Metabolito activo.

- Interacções com sumo de uva – Aumento da [] sistémica das 1,4-DHPs.

Verapamil: sofre N-desmetilação (norverapamil) – Activo. O isómero activo (S) sofre

metabolismo de 1ªpassagem mais extensivo. I.V.: escapa a esta via de eliminação prolongando

o intervalo PR em maior extensão que via oral.

Diltiazem: hidrolizado a desacetildiltiazem -> metabolito activo.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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Farmacocinética geral

- Excelente absorção, elevado metabolismo de 1ª passagem -> Diminui biodisponibilidade oral.

- Elevada ligação proteica.

- Metabolitos inactivos excretados na urina.

- Preparações parentéricas de nicardipina e verapamil (também pode ocorrer no diltiazem)

são incompatíveis com soluções I.V. com bicarbonato de sódio. Como este aumenta o pH da

solução -> Precipitação dos BECs. Nicardipina: incompatível em solução Ringer de lactato. O

verapamil precipita em soluções com pH≥6.

- Conhecer a síntese da nifedipina e da nimodipina.

Nifedipina -> Diéster metílico simétrico, obtido

pela síntese de Hatzsch de piridinas (condensação do

aldeído adequado com duas moléculas de β-cetoéster e uma

de amoníaco -> Derivado di-hidropiridínico simétrico que

por oxidação, em condições suaves, se transforma na

piridina correspondente).

Visto a síntese de Hatzsch originar derivados

simétricos, a nimodipina (diéster assimétrico) é preparada por modificação

deste processo: último passo consiste no fecho do anel DHP por reacção

entre uma enamina e um composto α,β-insaturado.

3. Benzotiazepinas – conhecer a estrutura, a REA e a interacção com o

receptor e outras características

Diltiazem (enantiómero cis-dextrorrotativo) é vasodilatador.

Análogos em que a lactama é substituída por um pirrole (bioisóstero)

evidenciaram as possíveis interacções com os canais de cálcio.

4. Fenilalquilaminas – conhecer a estrutura e características

5. Éteres diaminopropanólicos - estrutura e propriedades físico-químicas

G. Fármacos simpaticolíticos centrais e periféricos úteis em patologias do

sistema cardiovascular e fármacos vasodilatadores

1. Simpaticolíticos de acção periférica

1.1. Antagonistas dos receptores β

- Explicar o desenvolvimento dos antagonistas β (isoprenalina -> dicloroisoprenalina ->

pronetalol -> propanolol).

Os antagonistas β foram desenhados para serem antagonistas β1. E o primeiro

objectivo do desenvolvimento foi atingir a selectividade para os β em detrimento dos α.

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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Neste sentido, a partir da isoprenalina (agonista β que não é activo nos receptores α)

e como os grupos fenólicos são importantes para a actividade agonista -> Substituição dos

mesmos por Cl -> Dicloroisoprenalina/Dicloroisoproterenol. De modo a remover a sua

actividade agonista parcial, adicionou-se um anel aromático extra (anel naftalénico) ->

Pronetalol (também tinha actividade agonista parcial, mas foi o 1º bloqueador β usado na

angina, arritmia e hipertensão) -> Aumento da cadeia entre o aromático e a amina (introdução

de uma ponte oximetilénica – OCH2) e a passagem da cadeia lateral de C2 para C1 -> Grupos

das ariloxipropanolaminas, onde se inclui o propanolol (antagonista β puro 10-20x mais

potente que o anterior usado como racemato).

- Conhecer a REA destes compostos (ariloxipropanolaminas vs ariletanolaminas:

características comuns dos antagonistas β não selectivos e dos β1 selectivos; lipofilia e BHE e

clearance renal/hepática).

Substituintes volumosos N-alquil (isopropil e t-butil) ->

Bons para a actividade antagonista β pois interagem com o bolso

hidrofóbico no local de ligação; no entanto, N-alquilos maiores que

isopropil ou t-butil são menos efectivos;

Possível alterar o sistema aromático -> Heteroaromáticos (Ex.: pindolol, timodol);

Substituição na cadeia lateral por metileno -> ↑estabilidade metabólica, ↓ actividade;

OH na cadeia lateral -> essencial para a actividade (ponte de H);

Oxigénio do éter na cadeia lateral por um S, CH2 ou NMe -> Prejudicial. Obtém-se

um bloqueador β selectivo ao substituir o O por um NH.

Adição de N-ariletilo como –CHMe2-CH2Ph ou CHMe-CH2Ph -> Benéfico (extensão).

Amina -> Deve ser secundária -> Ligação iónica.

Ariloxipropanolaminas -> Mais potentes que as ariletanolaminas.

Descoberta de moléculas que inibem selectivamente β1 -> Fenoxipropanolaminas

4-substituídas (estabelecem ponte de H extra com β1). Estas interagem com β2 apenas em

altas [] -> Problema de provocar broncoconstrição foi superado.

- Esterioquímica dos antagonistas β – configuração activa (revisão).

Máxima eficácia na ligação ao receptor: OH deve ocupar a mesma região no espaço

que nos agonistas feniletanolamina -> Configuração R. Contudo, pela inserção de O na cadeia

lateral das ariloxipropanolaminas -> C assimétrico altera a sua conformação -> Isómero S é o

que satisfaz os requisitos espaciais.

- Conhecer as estruturas e as características mais relevantes dos principais agentes deste

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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grupo e as características que influenciam a sua selecção.

Propanolol*

- Inicialmente introduzido para a angina do peito e mais tarde como antiarrítmico.

- Alta lipofilicidade -> Passa BHE, sendo utilizado em distúrbios do SNC, como a ansiedade.

Esmolol*

- Éster metílico do metabolito carboxílico do metaprolol.

- Sofre hidrólise por esterases -> Metabolito ácido é inactivo e excretado como zwiterião.

- Tempo de meia-vida de 8 min; usado quando é necessária uma acção curta.

1.2 Antagonistas dos receptores α1 adrenérgicos

- Conhecer estruturas e características mais relevantes dos principais agentes deste grupo.

Prazosina e Terazosina -> antagonistas selectivos α1

- Contém sistema de anel 4-amino-6,7-dimetoxiquinazolina

ligado ao N da piperazina.

- Furano da prazosina é reduzido -> Tetrahidrofurano da terazosina -> Mais hidrofílico.

- Têm longos t½ vida e duração de acção.

1.3. Bloqueadores mistos α/β

- Conhecer a estrutura e características dos antagonistas mistos α/β – labetalol e carvedilol,

considerando as características estruturais necessárias para a ligação ao receptor α.

Nas feniletanolaminas agonistas: isopropil e t-butil diminuem a actividade α, mas

grupos maiores podem restaurar a afinidade para α1, mas não a actividade intrínseca ->

Labetalol e Carvedilol: anti-hipertensivos com actividade bloqueadora α1, β1 e β2.

Labetalol*

- Dois centros quirais -> Administrado como mistura de 4 diastereoisómeros:

- R,R é o bloqueador β activo (actividade bloqueadora α1 mínima) -> Dilevalol;

- S,R é um bloqueador α1. O S,S e R(CH3),S(OH) -> Inactivos.

- Actividade bloqueadora β é ~1,5x a actividade bloqueadora α.

Carvedilol*

- Racemato: S-(-)-enantiómero é bloqueador α e β; R é bloqueador α1.

- Actividade bloqueadora β é 10-100x superior à actividade bloqueadora α.

- O α-metilo ligado ao N-arilalquilo -> Responsável pelo efeito bloqueador α .

2. Simpaticolíticos de acção central

2.1 Metildopa* e pró-fármaco

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Química Farmacêutica – PFFH – UP5

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- Conhecer o desenvolvimento e as estruturas e as propriedades FQ, relacionando-as com as

duas principais características farmacocinéticas.

L-α-Metildopa: estruturalmente não está relacionada

com aminoimidazolinas ou guanidinas. É capaz de passar a BHE ->

Descarboxilada a α-metildopamina -> Esteroespecificamente

hidroxilada a 1R,2S-α-metilnorepinefrina (estes dois produtos não

passam a BHE -> Hidrofílicos).

É um agonista α2 selectivo -> Anti-hipertensivo. Originalmente sintetizada como

inibidor da síntese de NA (inibidor da DOPA descarboxilase). Pensou-se que esta substituía a

NA no terminal e quando libertada teria menos actividade intrínseca que esta -> falso NT.

Propriedades físico-químicas

Estrutural e quimicamente relacionada com a L-DOPA e com as catecolaminas ->

Susceptíveis à oxidação ao ar -> Metabisulfitos/sulfitos são adicionados para a prevenir. Alguns

doentes (asmáticos) -> Reacções de hipersensibilidade relacionadas com os sulfitos.

Para aumentar a solubilidade para administração parental, o zwiterião metildopa é

esterificado e convertido no sal cloridrato: etil éster cloridrato metildopato (metildopato).

Este é utilizado na preparação de soluções parentéricas, possuindo pH =3,5 a 6,0 e a sua

injecção é incompatível com fármacos fracamente solúveis em ácido (ex. sais de sódio de

barbitúricos e sulfonamidas) e com fármacos sensíveis a pH ácido. A incompatibilidade

depende de factores como a [], diluentes utilizados, pH e temperatura.

A metildopa é instável: na presença de agentes oxidantes; pH alcalino e luz.

2.2. - Agonistas adrenérgicos α2

- Conhecer a estrutura e principais características dos agonistas α2 – 2-aminoimidazolinas e

outras estruturas, incidindo principalmente na clonidina (pka, ionização e ressonância;

substituintes lipofílicos no anel benzénico, sua posição e conformação; REA e

desenvolvimento de moléculas análogas).

Agonistas α2 – 2-aminoimidazolinas e outros agonistas α2

Existem três subtipos de α2-adrenoreceptores, α2A, α2B e α2C.

Cada subtipo tem papel diferente nas aplicações dos agonistas α2,

incluindo o uso como antihipertensivos, fármacos antiglaucoma e

analgésicos.

Clonidina*

É uma 2-arilaminoimidazolina. Possui grupos lipofílicos (cloro) em orto no fenil; tem

uma ponte de NH a substituir a ponte de CH2 no C1 da imidazolina -> Anel de imidazolina faz

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parte de um guanidino (carga positiva -> ressonância entre os três N) e a forma não carregada

existe como um par de tautómeros.

Tem pKa=8,3; 80% desta encontra-se ionizada a pH fisiológico e possui uma

biodisponibilidade oral >90%.

Impedimento estérico dos Cl em orto não permite a conformação coplanar dos 2

anéis. Estes Cl podem ser substituídos por CH3 (sem perda de potência/selectividade) -> CH3 é

semelhante em volume ao Cl -> Interacções estéricas semelhantes forçam o anel fenólico a

assumir a conformação necessária para os α2.

Esta substituição por grupos volumosos na clonidina retém a potência agonista.

CH3 aromático: rapidamente metabolizado (CYP450) -> Hidroximetil -> Convertido a ácido

carboxílico -> Ambos são inactivos. Análogos metílicos Pouca duração.

Guanabenz acetato

Difere da clonidina, pela presença de uma cadeia lateral

aminoguanidina em vez do anel aminoimidazolina. A pH 7,4 (pKa = 8,1)

encontra-se não ionizado (80%), numa forma lipossolúvel.

É metabolizado por hidroxilação -> Metabolito inactivo (4-hidroxiguanabenz).

Cloridrato de guanfacina

Derivado fenilacetil da guanidina (pKa = 7); a pH fisiológico, 67% está na forma não

ionizada, na forma lipossolúvel -> Elevada biodisponibilidade oral (> 90%).

Tem acção simpaticolítica central, sendo mais selectivo que a clonidina para α2.

É metabolizado por hidroxilação -> Metabolito inactivo 3-hidroxiguanfacina.

3. Vasodilatadores

a. Hidralazina*

- É uma hidrazina com substituinte ftalazina e pka = 7,3.

- Bem absorvida no TGI. Por via oral, o efeito hipotensor começa 20-30 min

depois e dura 2-4h.

- T1/2= 2-4h; e liga-se muito às proteínas plasmáticas (85%)

- Metabolizada por acetilação, hidroxilação e conjugação com ácido

glucorónico. Pequena quantidade: Convertida em hidrazona, com vit. B6

(piridoxina), que pode ser responsável pelos efeitos neurotóxicos.

- Acetilação de 1ª passagem na mucosa GI e fígado -> Fenótipo

acetilador.

- Excreção: pequena parte na forma inalterada (urina); maior parte

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sob a forma de metabolitos sem actividade significativa.

b. Estimulantes dos canais de potássio

Minoxidil*

- N-óxido de um hipotensivo piperidinopirimidina com pKa de 4,6.

- É absorvido no TGI e só é activo após metabolização pela

sulfotransferase hepática a minoxidil N-O-sulfato.

- Não se liga às proteínas plasmáticas.

- Apenas 10-20% da dose oral origina o metabolito activo, sendo o principal metabolito: N-O-

glucoronido (inactivo); para além disso, 20% é excretado inalterado.

Diazóxido

- Relacionado com os diuréticos tiazídicos. É uma

sulfonamida com pKa = 8,5 -> Solúvel em soluções alcalinas.

- Soluções e suspensões orais: instáveis à luz, escurecendo quando expostas a ela.

- Maiores metabolitos -> Oxidação do 3-metil -> 3-hidroximetil e 3-carboxi-.

- Ligação proteica de 90%; e 20-50% é eliminada inalterada.

c. Inibidores de fosfodiesterases

Problema: índice terapêutico estreito e baixa

selectividade. A papaverina (alcalóide do ópio sem acção

analgésica) -> Eleva o AMPc por inibição das PDEs.

Nota: os nomes dos inibidores da PDE3 acabam em

“one” e os inibidores da PDE5 acabam em “fil”.

d. Nitrodilatadores

Nitroprussido de Sódio

- Estruturalmente independente de outros anti-hipertensivos disponíveis.

- Numa preparação de infusão: potência é expressada em termos de fármaco dihidratado.

- Cristais e soluções: instáveis à luz e calor, sendo que a exposição à luz causa deterioração

(evidenciada pela mudança de castanho-avermelhado para verde/azul, indicando um rearranjo

do nitroso à sua forma isonitro inactiva). Quando devidamente protegidas são estáveis 24h.

- Metais (Fe e Cu) -> Catalisam a degradação de soluções de nitroprussiato, libertando cianeto

(por uma reacção redox). Este é convertido em tiocianato no fígado pela tiosulfato

sulfotransferase e excretado na urina.

Pró-fármacos de óxido nítrico – agentes antianginosos