A Fenomenologia e a Teoria da Comunicação
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Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero
ResumoResumo
Palavras-chavePalavras-chave
Volume 5, nº 1, 2013
Alfred Schutz, comunicação, fenomenologia
Este artigo trata sobre o filósofo e sociólogo Alfred Schutz, bem como seus principais feitos para a Sociologia e para a Comunicação,
tendo como foco a Fenomenologia Social. Para isto, são trazidos alguns conceitos-chave importantes para a visão total da Comu-
nicação: sociabilidade e o mundo da vida cotidiana, tipificação e relevância, e a Fenomelogia propriamente dita. O artigo abrange
a visão de Schutz no que diz respeito aos profissionais da Comunicação. Como os jornalistas não devem reconstituir a experiência
através da reflexão, cabe a eles organizarem as informações da melhor maneira possível, segundo o objeto analisado, com as fer-
ramentas metodológicas escolhidas. Assim, a Fenomenologia de Schutz questiona a própria idéia de conhecimento, dirigindo-se
às próprias coisas, aos fenômenos e às formas como eles aparecem para os indivíduos. O assunto é tema de bastante discussão no
jornalismo e da Comunicação e merece ainda mais destaque na área de pesquisa.
Karen Sica*
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ArtigoA FENOMENOLOGIA E A TEORIA DA COMUNICAÇÃO Sob o ponto de vista de Alfred Schut
AbstractAbstract
KeywordsKeywords
* Professora de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e doutoranda da mesma instituição. Email: [email protected]
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IntroduçãoNascido em 13 de abril de 1899, em Viena, Schutz estudou Direito e, em 1939, mudou-se para
os Estados Unidos e tornou-se membro da New School for Social Research. Embora Schutz nunca
tivesse sido aluno de Husserl, juntamente com Felix Kaufmann estudou a obra do autor sistemati-
camente, a fim de procurar uma base para uma sociologia do entendimento, originada do trabalho
desenvolvido por Max Weber. Este trabalho teve como resultado a publicação de seu primeiro li-
vro, intitulado The Phenomenology of the Social World (A Fenomenologia do Mundo Social). Vale
salientar que esta obra chamou a atenção de Husserl, com quem Schutz manteve contato por anos
até a sua morte, em 1938.
Durante sua trajetória, Alfred Schutz colocou, acima de tudo, o mundo da vida cotidiana em
suas investigações sociológicas, possibilitando, assim, articulações e pensamentos entre os estudos
dos sistemas e das instituições e os estudos iniciais referentes às relações face a face. Reinvindi-
cou como objeto de estudo a sociabilidade, isto é, o conjunto de relações interpessoais e atitudes
pessoais que são reproduzidas de forma pragmática ou modificadas na vida cotidiana, embora
dependam de padrões adquiridos pelo indivíduo ao longo da vida. Em suas colocações, aborda a
questão do estoque de conhecimento, que está relacionado às experiências do sujeito. Este estoque
de conhecimento é construído em sedimentações de experiências em que o sujeito foi submetido
em determinados momentos de sua vida. Inversamente, cada presente experiência é inserida no
fluxo da experiência vivida e em uma biografia, de acordo com o conjunto de tipos e relevância
encontrada no estoque de conhecimento (Luckmann; Schutz, 1973).
Schutz é um dos teóricos que, de um modo direto ou indireto, influenciou não só a constitui-
ção de sociabilidade, mas também compreendeu melhor a formulação de entendimentos e os su-
cessivos processos de aprendizagem graças ao qual construímos uma compreensão mútua em que
se baseia a percepção de entendimento de uma realidade social. A Comunicação surge, desta forma,
como o meio pelo qual superamos e melhoramos a nossa experiência de vida cotidiana, devido à
troca de aprendizado com os outros indivíduos (Algarra, 1993).
Através do uso de signos, o processo comunicativo permite tornar-me consciente, ao
menos até certo ponto dos pensamentos de outrem, permite-me ter acesso à sua durée
interior (corrente deconsciência) em simultâneo com a minha, apesar do fato de que a
comunicação completamente bem sucedida é impossível (Schutz, 1989:263).
Estes pensamentos, que também têm uma fundamentação filosófica, contribuíram para tra-
zer novas ideias e mostrar novos caminhos importantes na área das Ciências Sociais. A partir das
ideias desenvolvidas por Schutz, é possível perceber, de uma forma mais prática e clara, a dife-
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renciação entre as sociologias compreensivas, inspiradas pela Fenomenologia, e as demais pers-
pectivas marcadas pela herança deixada por Durkheim e, também, pensadas por outros autores
reconhecidos no âmbito da Sociologia, como Hobbes, Hegel, Spencer, Comte, Parsons e Luckmann
(Correia, 2002).
De acordo com Schutz, existe uma diferença significativa entre as Ciências Naturais e as Ci-
ências Sociais. Para o filósofo e sociólogo, as Ciências Sociais lidam com acontecimentos e relações
pré-significativas para os atores envolvidos em determinada ação que está sendo colocada à prova.
Completa, ainda, que os processos compreensivos são centrais para que os atores sociais possam
interpretar significativamente o mundo e defende que o método da compreensão é indispensável.
Porém, se era evidente para Schutz que a ação social é eminentemente significativa,
desde logo se lhe tornou também evidente que era necessário interrogar de onde
provém o sentido que lhe é atribuído e em que é que o mesmo consistia. Por outro lado,
desde logo se tornou igualmente claro para ele que era necessário clarificar quais os
procedimentos que permitem à ciência reconstruir o sentido de uma forma controlada
(Correia, 2002, p.12).
Justamente por trabalharem com o método compreensivo, as Ciências Sociais precisariam
desenvolver um método controlável de orientação com o mais elevado nível possível de clareza,
que permitisse o acesso à ação individual e, simultaneamente, possibilitasse a formulação de novas
generalizações. Por este motivo, grande parte da participação importante de Alfred Schutz no que
diz respeito à Epistemologia das Ciências Sociais fica totalmente centralizada nas relações entre a
teoria e a formação de conceitos na construção do mundo da vida cotidiana, tendo como o prin-
cipal foco de tensão a objetividade científica e a subjetividade humana. Ao expor aos indivíduos
esta forma de ver o mundo como ponto de partida, a Teoria da Comunicação de Alfred Schutz in-
clui uma concepção da natureza humana e da sua relação com o mundo da vida que privilegia a
intersubjetividade. Portanto, para que se possa entender especificamente a Teoria da Comunicação
proposta por Schutz, é necessário compreender alguns conceitos-chave importantes para a visão
total da Comunicação.
Sociabilidade e o mundo da vida cotidianaAlfred Schutz parte da constatação de que a realidade é constituída socialmente através do
conhecimento, isto é, das diferentes atribuições de sentido que os indivíduos desenvolvem em de-
terminados contextos na vida social. Berger e Luckmann (1991) desenvolvem a Sociologia do Co-
nhecimento1 a partir de pressupostos teóricos de Schutz e definem os conceitos de realidade e
conhecimento (Berges; Luckmann, 1991).
A Sociologia do Conhe-cimento difere da Teoria do Conhecimento pelo fato de que a última tem como foco os problemas comuns a todas as áreas do conhecimento cientí-fico, preocupando-se não apenas com sua “gênese social”. Ao contrário, a Teoria do Conhecimento está envolvida no desen-volvimento do conheci-mento científico em um nível meta-teórico.
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Concebida como o estudo das condições sociais de produção de conhecimento, a Sociologia
do Conhecimento, como o próprio nome se refere, tem como enfoque as relações sociais envolvidas
na produção do conhecimento. Isto é, traz para o tema a gênese do conhecimento intelectual e dos
usos no ambiente social. Sendo assim, consideram-se outros fatores determinantes da produção de
conhecimento além da consciência puramente teórica, como também a consciência de elementos
de natureza não teórica, vindos e originados na vida social e nas influências e vontades as quais o
indivíduo está sujeito no seu mundo de vida. Pode-se afirmar que esta formulação teórica tem em
vista que cada período histórico da humanidade é dominantemente influenciado por determinado
tipo de pensamento ou teorias tidas como relevantes. Ou seja, cada momento oferece tendências
conflitantes e aponta tanto para a conservação da ordem quanto para a sua transformação (Berger;
Luckmann, 1991).
De acordo com os autores, conhecimento e a realidade podem não ser os mesmos para o pes-
quisador social e o homem comum. Para eles, a realidade constitui “uma qualidade pertencente a
fenômenos que reconhecemos terem um ser independente de nossa própria volição2”, enquanto o
conhecimento é a “certeza de que fenômenos sociais são reais e possuem características específi-
cas” (Berger; Luckmann, 1991:11).
No campo da sociabilidade, ocorre uma negociação entre os indivíduos através da comuni-
cação, que permite que os indivíduos entrem em contato uns com outros com pensamentos e lin-
guagens, mas não de forma completa. Portanto, a comunicação, frequentemente, também produz
estranhezas e incertezas, o que é bastante reconhecido e tão importante quanto o campo do enten-
dimento na produção de significados, de acordo com a teoria de Schutz:
A comunicação implica a constituição de universos de significado comuns onde é possível
compreender e sermos compreendidos graças a um processo de geração recíproca de
expectativas no decurso da qual construímos uma idéia partilhada de realidade (Correia,
2005:16).
Ao mesmo tempo que a comunicação entre os indivíduos torna possível a transferência de
um amplo universo de significados comuns e a coesão da ideia de realidade e sociabilidade, ela
também oportuniza o questionamento, dúvidas e o tensionamento do que é tido como comum ou
natural na vida cotidiana. Também é possível analisar que a comunicação nunca é completa, como
será debatido neste artigo, pois cada indivíduo tem uma experiência, um mundo de vida diferente,
o que deve ser levado sempre em consideração.
Tipificação e RelevânciaPode-se dizer que as tipificações são constituídas de generalizações utilizadas na vida coti-
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diana como facilitadoras do pensamento e das ações do ser humano. De acordo com o pensamento
exposto por Correia (2005), estas tipificações são um acervo de conhecimento sedimentado através
das experiências do indivíduo e do estabelecimento deste indivíduo no convívio social. O principal
objetivo é garantir a vivência e a interpretação do mundo.
Na tipificação, os objetos do mundo social estão constituídos dentro de um marco de
familiaridade e de reconhecimento proporcionados por um repertório de conhecimentos
disponíveis cuja origem é sobretudo social. É o que habitualmente Schutz designou de
acervo de conhecimentos disponíveis (Correia, 2005:92).
Ainda de acordo com o pensamento de Schutz, pode-se dizer que existe uma ordem garanti-
da para as coisas e os acontecimentos. Isto é, o mundo existe e pode ser explicado por esse leque de
conhecimentos disponíveis e ofertados pelas pessoas que fazem parte deste universo. Juntamente
com a atitude natural, as tipificações consagram a ordem social, em um contexto relacionado à prá-
tica e às rotinas do cotidiano. Esta crença é o que organiza o modo como as pessoas lidam, de uma
forma geral, com o extraordinário, o fato inesperado.
Um dos questionamentos trazidos por Schutz diz respeito à possibilidade de fazer ciência
com base nas construções do senso comum. Assim, ele defende a tipificação científica, a noção de
tipo ideal, com base, sempre, na vida cotidiana. Para o autor, os tipos ideais são constituídos por
uma síntese científica e uma padronização que coloca em ordem os estudos dos fenômenos so-
ciais. Tendo como base as ideias propostas por Weber, Schutz traz o pensamento de que existe um
tratamento objetivo de realidades com significados subjetivos. Assim, o cientista assume o papel
de observador desinteressado, que pode ser friamente comparado ao processo de aprendizado do
estrangeiro quando chega a um local até então desconhecido, por exemplo, que pode ser repensa-
do, também, como o estranho. Segundo Schutz, o estranho é o homem que coloca em questão tudo
àquilo que parece, até o momento, inquestionável para o restante do seu grupo (Schutz, 1979).
Portanto, a figura do estrangeiro, ou do estranho, conforme comentado anteriormente, apa-
rece na obra de Alfred Schutz como uma metáfora do comportamento do pesquisador, que atribui
sentido a processos de atribuição de sentido. Também é importante compreender que estas tipifi-
cações estão submetidas à relevância, isto é, à orientação dos interesses dos sujeitos a um assunto
determinado exposto diante à sociedade. Segundo Correia (2005) a relevância diz respeito à aten-
ção seletiva pela qual são estabelecidos os problemas a serem solucionados pelo pensamento e os
objetivos a serem atingidos pelas ações do próprio indivíduo.
O teórico Alfred Schutz analisa três tipos de relevância no que diz respeito à importância das
experiências no mundo de vida do sujeito. Uma delas é a relevância motivacional, que é conduzida
pelos interesses da pessoa e a importância que ela dá a um fato dominante em um dado período.
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Além disso, a relevância motivacional tem como premissa elementos conhecidos para o sujeito,
caso contrário há uma problematização para definir o cenário de acordo com os interesses de re-
velação de cada sujeito. A segunda é a relevância volitiva, a qual se refere à importância que o indi-
víduo confere a algum fato ou pessoa, de acordo com a sua vontade. E o terceiro tipo é a relevância
interpretacional, na qual há uma interpretação da relevância motivacional (Schutz, 1979).
A variação do sistema de relevâncias tem importantes efeitos para a Teoria da Comunicação
visto que o mundo, da forma que é observado pelas pessoas, é um mundo de significados intersub-
jetivamente partilhados, no qual uma forma de tipificação é a linguagem. A comunicação entre os
indivíduos da sociedade se dá neste mundo da vida cotidiana e o processo de criação de significa-
dos tem como base fundamental a memória das experiências vividas do sujeito, de acordo com o
pensamento de Schutz. Quando há um cruzamento entre memórias, torna-se possível ir além do
mundo do conhecimento e aproximar-se de novos significados desconhecidos para aquele indiví-
duo. Porém, isto não ocorre de forma prática e clara, pois Schutz garante que a comunicação plena
e bem sucedida não é possível visto que “há sempre uma margem da vida privada do outro que me
é inacessível e transcende as minhas experiências possíveis” (Correia, 2005:106).
Para finalizar, diz-se ainda que os sistemas de tipificação e relevâncias são uma herança
social que desempenham funções importantes no ecosistema no qual o homem atua, como, por
exemplo, (Schutz, 1979:119):
a) determinar os fatos que devem ser tratados como homogêneos;
b) transformar ações individuais em papéis sociais;
c) servir como um código de interpretação de significados e orientação de um indiví-
duo em um grupo específico no qual ele interage e atua;
d) garantir a perpetuação no sistema através de meios de controle social;
e) dar origem aos sistemas de tipificações e relevâncias individuais, colocando os pro-
blemas particulares no contexto dos problemas do grupo.
Desta forma, fica clara qual a real importância dos sistemas de relevância e de tipificação
nos pensamentos de Schutz, tendo como foco a Teoria da Comunicação. Afinal, é através do conta-
to intersubjetivo que ocorre a ligação dos indivíduos com a realidade já construída. Pode-se dizer,
ainda, que a linguagem e comunicação são elementos fundamentais e essenciais da sociabilidade.
Além disso, afirma-se que a atividade desenvolvida pelos meios de comunicação é, também, um
dos elos de ligação entre os indivíduos e suas experiências, ambiente no qual eles manifestam opi-
niões ou criam as tipificações e as relevâncias, já que eles influenciam nos processos pelos quais
qualquer corpo de conhecimento chega a ser socialmente estabelecido como realidade (Berger;
Luckmann, 1991).
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A Fenomenologia e a Teoria da ComunicaçãoConforme analisado anteriormente, a relevância atua como um dispositivo que elege o que
é realmente importante para um grupo ou um sistema social. Além disso, o compartilhamento de
significados entre os indivíduos é determinante nas ações. Quando pensa-se na atuação dos meios
de comunicação, percebe-se o quanto esta questão de relevância é determinante em diversos as-
pectos: na definição de assuntos importantes para a agenda pública (onde pode ser citada a Agenda
Setting3) e também para a consolidação ou para geração de questionamentos dos significados par-
tilhados pelos indivíduos. Afinal, o que transforma um determinado fato em notícia propriamente
dita? Ou melhor, como se dá o surgimento do sistema de relevância nos meios de comunicação?
Com base em que e quem determina o que é realmente importante em determinado momento da
vida cotidiana?
No jornalismo, o responsável por considerar um fato em algo relevante para a população tem
como base principal o conceito de valor-notícia4 que está presente em determinado assunto. É este
valor que indica se uma informação deve, ou não, ocupar o espaço midiático, tendo sempre como
base o olhar do jornalista e da redação sobre um fato específico que merece ser noticiado para a
sociedade.
Esta questão é bastante importante porque o jornalista é convocado exatamente para saber/
indicar o que é relevante. Um dos elementos para o quel ele é treinado e que faz parte do conjunto
de competências que ele tem de possuir é o saber de reconhecimento: reconhecer que um deter-
minado acontecimento é suscetível de ser considerado como notícias à luz dos critérios chamados
valor-notícia. Na nossa perspectiva, os valores-noticia refletem a intersecção entre o sistema de
relevâncias vigente na redação, no grupo profissional e no mundo da vida em que estão inseridos
(Correia, 2005:128).
Desta forma, compreende-se que a relação entre a mídia e a relevância se dá na forma como
a redação ajuda a determinar ou reforçar o que é importante para a sociedade. Nesse processo, o
meio de comunicação atua diretamente no terreno das tipificações e reforça, ou questiona, as ge-
neralizações construídas através da experiência e que definem a apreciação que fazemos de deter-
minadas partes do mundo da vida. A informação midiatizada amplia a potencialidade daquilo que
é possível experimentar. Porém, como já foi explicado anteriormente, todas estas informações são
encaminhadas a um conhecimento prévio que já nos é familiar.
As tipificações são a forma que a atitude natural do mundo da vida tem de lidar com
a erupção generalizada da novidade. São o modo de estabelecer regularidades num
mundo ameaçado pela contingência. São a forma de assegurar que é possível lidar com
3. As ideias básicas do Agendamento podem ser atribuídas ao trabalho de Walter Lippmann que, em 1922, propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamen-te aos fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo-ambiente composto pelas imagens impostas na cabeça de cada indivíduo. A mídia teria papel importante no fornecimento e gera-ção destas imagens.
4. Valor-notícia é um valor subjetivo que determina a importância que um fato ou acon-tecimento tem para ser noticiado. Por este moti-vo é também designado de critério de noticiabi-lidade sua experiência profissional e intuição. Os fatores ou critérios que dão um fato valor-notícia coincidem na maior parte das redações dos meios de comunicação social.
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o mundo como até aí. Obviamente que o ator, no mundo social, parece menosprezar tal
contingência, tal novidade, tal estranheza. Age [...] como se o mundo lhe surgisse como
uma evidência tida por adquirida. Na realidade, o mundo da vida é paradoxal. Como
Schutz adivinha, um mundo pode ser instável, marcado pela aceleração das diferenças,
pela erupção de acontecimentos permanentes. Porém, aos olhos dos agentes que o
integram, as tipificações permitem lidar com essas mudanças de um modo que lhes
parece evidente. Nesse sentido, até acontecimentos como a morte são tipificados de um
modo que lhes permite serem absorvidos pela visão relativamente natural do mundo
que faz parte da vida cotidiana (Correia, 2005:131).
Pode-se afirmar, ainda, que as tipificações envolvem questões como o quesito espaço-tem-
poral, como, por exemplo, a periodicidade do meio de comunicação e os limites de espaço e da
forma que a informação midiatizada está sujeita a um quadro de tipos e relevância importantes
socialmente, seja na experiência de cada um dos jornalistas, ou nos fatores que influenciam o pro-
cesso de produção. Sendo assim, é produzido um conteúdo que permeia e tem como foco principal
a descrição da realidade como ela realmente é, adequando esta realidade do fato ao veículo e à co-
munidade na qual ele está inserido.
Os profissionais da comunicação são fundamentais na construção de imagens que fazem
sentido em uma história real, em que há a colaboração de formas institucionais de narradores, mas
também o próprio público-alvo daquela narrativa específica. A estrutura percorre diversas formas
de relatos do acontecimento a fim de proporcionar a adesão do público ou a repulsa. As imagens
têm a funcionalidade de criar a parte visual deste relato, inseridas articuladamente em conjunto
com as narrativas dominantes. Isto é, é uma outra linguagem que, junto com o conteúdo textual,
contextualiza o conteúdo para o leitor. Desta forma, a própria sociedade tira suas conclusões, cria
pensamentos e imagens negativas e positivas, mais do que isto, inscreve-as na concepção relativa-
mente natural da comunidade. “O risco é que se desencadeie uma operação coletiva de naturaliza-
ção do que é cultural que acentue a vocação alegadamente universal dos valores e visões transmi-
tidos, omitindo os elementos conflituais e contraditórios” (Correia, 2005:134).
As construções noticiosas são construções realizadas a partir das construções feitas por ato-
res no mundo social. Interessante, neste caso, é perceber que os atores são socializados e ensinados
a obter a máxima sintonia com a atitude natural presente nos mundos da vida dos seus leitores,
tipificados através de estudos de mercado.
Ou seja, pede-se aos produtores dessas construções que utilizem de forma ingénua
e acrítica certo tipo de conceitos que se têm por adquiridos. Pede-se-lhes que não
teorizem sobre o mundo que descrevem. Solicita-se-lhes que trabalhem com noções que
são tidas por adquiridas sem as interrogarem pelo menos além dos limites do acervo de
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conhecimentos dos seus destinatários e receptores. Pede-se-lhes que não usem palavras
maiores do que a média das palavras dos seus leitores na linguagem quotidiana. Exige-
se-lhe que não questionem as premissas com base nas quais é possível descrever a re-
alidade tal como é percepcionada pelos seus leitores (Correia, 2002: 39).
Assim, os veículos de comunicação e os profissionais que lá exercem suas convicções, no
caso os jornalistas, que buscam e primam por informar fatos verdadeiros à população, reforçam as
relevâncias e tipificações tidas como dominantes. Ocorre, então, a correspondência entre as rotinas
profissionais e a atitude natural. Mesmo assim, há quem discuta os assuntos que são dados como
prioridade na mídia tradicional, colocando em dúvida e questionando os fatos que são destacados
para grande parte da sociedade. É neste momento que fala-se em mais uma característica funda-
mental que faz parte do mundo de vida e do cotidiano de quem atua no jornalismo, a questão da
objetividade.
O profissional da comunicação está presente no mundo que observa e interpreta, assim como
o próprio pesquisador, que busca fatos que merecem destaque e precisam ser pesquisados a fundo.
Pode-se dizer que os fatos noticiados nos veículos de comunicação já são, por si só, construções da
realidade, de acordo com Schutz. A dificuldade metodológica que faz parte deste cotidiano é jus-
tamente o fato de evitar que a proximidade com o senso comum se transforme em conformidade/
conformismo. Neste quesito, Schutz responde com a afirmação de que o jornalista precisa traba-
lhar como um observador, mas também como um agente do processo social.
Ao ganhar consciência do seu estatuto de observador e participante, o resultado poderá
ser a possibilidade de o jornalista se tornar ainda mais observador, desenvolvendo
a confiança a suspeita (num sentido positivo), mais atento à situação complicada que
resulta da sua posição peculiar (Correia, 2005:139).
Todas as interações entre as províncias de significado ocorrem com conflitos, desentendi-
mentos ou falhas de comunicação, tanto no plano individual quanto no plano coletivo. Às vezes,
as contradições só são aparentes no contato com o estrangeiro, por exemplo, no momento em que
a posição natural e do ambiente de origem é questionado e colocado em estado de reflexão pelos
indivíduos. Há outros casos, como nas relações políticas, onde ocorre o contato direto entre dife-
rentes, o que gera o desentendimento. O modo que um grupo se enxerga entra em choque com as
heterotipificações dos demais indivíduos gerando, assim, o confronto. Esse encontro também pode
gerar reflexão, relativização e entendimento, dependendo do caso que está sendo abordado. Estas
diferenças, contradições e reflexões originadas pelo encontro das realidades múltiplas manifesta-
-se na mídia, segundo o pensamento apresentado por Alfred Schutz.
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Visto que os jornalistas não devem reconstituir a experiência através da reflexão, de acordo
com Schutz, cabe aos pesquisadores da área da Comunicação organizarem as informações da me-
lhor maneira possível, segundo o objeto analisado, com as ferramentas metodológicas escolhidas.
Assim, a Fenomenologia de Schutz atua como uma tentativa de ir além das mais simples pressu-
posições básicas, questionando a própria idéia de conhecimento, dirigindo-se às próprias coisas,
aos fenômenos e às formas como eles aparecem para os indivíduos. O assunto é tema de bastante
discussão no jornalismo e da Comunicação e merece ainda mais destaque na área de pesquisa.
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ExpedienteCoMtempoRevista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper LíberoSão Paulo, v.1, n.4, nov. 2013/dez 2013
A revista CoMtempo é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Programa de Pós-graduação em Comuni-cação Social da Faculdade Cásper Líbero. Lançada em novembro de 2009, tem como principal finalidade divulgar a produção acadêmica inédita dos mestrandos e recém mestres de todos os Programas de Pós-graduação em Comunicação do Brasil.
Presidente da Fundação Cásper Líbero Paulo Camarda
Diretora da Faculdade Cásper Líbero Tereza Cristina Vitali
Vice-Diretor da Faculdade Cásper Líbero Welington Andrade
Coordenador da Pós-Graduação Dimas Antônio Künsch
EditorSimonetta Persichetti
Comissão EditorialCarlos Costa (Faculdade Cásper Líbero) * Luis Mauro de Sá Martino (Faculdade Cásper Líbero) * Maria Goreti Frizzarini (Faculdade Cásper Líbero) *Liráucio Girardi Junior (Faculdade Cásper Líbero) * Edilson Cazeloto (Faculdade Cásper Líbero)Simonetta Persichetti (Faculdade Cásper Líbero)
Conselho EditorialAntonio Roberto Chiachiri (Faculdade Cásper Líbero) * Cláudio Novaes Pinto Coelho (Faculdade Cásper Líbero) * Dimas Antonio Künsch (Faculdade Cásper Líbero) * Dulcília Schroeder Buitoni (Faculdade Cásper Líbero) * José Eugenio de Oliveira Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Luís Mauro Sá Martino (Faculdade Cásper Líbero) * Simonetta Persichetti (Faculdade Cásper Líbero)
Projeto Gráfico e LogotipoDanilo Braga * Marcelo Rodrigues
Revisão de textosKaren GoulartCamilla do Vale
Editoração eletrônicaPetrus Lee
CorrespondênciaFaculdade Cásper Líbero – Pós-graduaçãoAv. Paulista, 900 – 5º andar01310-940 – São Paulo (SP) – BrasilTel.: (11) 3170.5969 – 3170.5875