A EFICÁCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DOS BRICS MEDIDA POR … · maurÍcio morsbach machado a...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
UNIVERSITE PARIS 1 PANTHEON SORBONNE
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM ECONOMIA DA
MUNDIALIZAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO
A EFICÁCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DOS BRICS MEDIDA
POR MEIO DO ESTUDO DE SENSIBILIDADE DAS TAXAS DE JUROS NO
PERÍODO DE 2000 A 2014.
Maurício Morsbach Machado
São Paulo/SP
2014
Maurício Morsbach Machado
A EFICÁCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DOS BRICS MEDIDA
POR MEIO DO ESTUDO DE SENSIBILIDADE DAS TAXAS DE JUROS NO
PERÍODO DE 2000 A 2014.
Projeto de dissertação apresentado como requisito à obtenção
do grau de Mestre em Economia da Mundialização e do
Desenvolvimento do Programa de Estudos Pós-Graduados da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em
conjunto com o Master 2 Recherche Economie de la
Mondialisation - Universite Paris 1 Pantheon Sorbonne.
Orientador: Prof. Dr. Celso Ribeiro Campos
São Paulo, 2014.
MAURÍCIO MORSBACH MACHADO
A EFICÁCIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DOS BRICS MEDIDA
POR MEIO DO ESTUDO DE SENSIBILIDADE DAS TAXAS DE JUROS NO
PERÍODO DE 2000 A 2014.
Dissertação apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre pelo Programa de Estudos
Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP) em conjunto com o Master 2 Recherche
Economie de la Mondialisation - Universite Paris 1
Pantheon Sorbonne , aprovada pela Comissão
Examinadora abaixo assinada.
Banca Examinadora
__________________________
Prof. Dr. Celso Ribeiro Campos
Orientador
Departamento de Economia – PUC SP
_________________________
Prof. Dr. José Nicolau Pompeo
Departamento de Economia – PUC SP
________________________
Prof. Dr. Euclides Pedrozo Junior
Departamento de Economia – UNIP
Suplentes
________________________
Prof Dr. Marcel Guedes Leite
Departamento de Economia – PUC SP
____________________________________
Prof Dr. Carlos Eduardo Mariano da Silva
Departamento de Economia – Faculdades Sumaré
São Paulo, ____ de ____________ de _______.
Sumário
Lista de Figuras .................................................................................................................................................... 4
Lista de Tabelas ................................................................................................................................................... 5
Lista de Gráficos .................................................................................................................................................. 6
Resumo ................................................................................................................................................................... 7
Abstract .................................................................................................................................................................. 8
Introdução ............................................................................................................................................................. 9
1. A política monetária: uma breve revisão dos principais conceitos ............................................. 12
2. Base de dados e modelos econométricos ............................................................................................ 15
a) Bases de dados utilizadas ................................................................................................................................. 15
b) Modelos para estimação das taxas naturais de juros ............................................................................. 16
c) Sensibilidade das taxas de juros e inflação ................................................................................................ 18
3. Resultados obtidos .................................................................................................................................. 19
a) Taxas naturais de juros ..................................................................................................................................... 19 1. Estimativas pelo Filtro HP ......................................................................................................................19 2. Estimativa via determinantes da taxa de juros ..............................................................................23
b) Comparativo das estimações da taxa neutra de juros ............................................................................ 25
c) Sensibilidade das taxas de juros ..................................................................................................................... 27
d) Relação entre taxa neutra de juros e sensibilidade no crescimento econômico e taxa de
inflação................................................................................................................................................................................ 31
Bibliografia .......................................................................................................................................................... 33
Apêndice: ............................................................................................................................................................. 35
a) Fontes das bases de dados................................................................................................................................ 35
b) Estimativas do Modelo para os países. ........................................................................................................ 38
Lista de Figuras Figura 1: Relacão entre taxa neutra de juros e demais variáveis econômicas ................13
Figura 2: Efeitos da taxa neutra de juros na economia ...................................................31
Lista de Tabelas Tabela 1: Relação dos dados utilizados .....................................................................................16
Tabela 2: Alguns trabalhos sobre taxa natural de juros e seus resultados mais recentes.
...............................................................................................................................................................16
Tabela 3: Descrição dos dados - Brasil .....................................................................................35
Tabela 4: Descrição dos dados - Rússia ....................................................................................35
Tabela 5: Descrição dos dados - Índia .......................................................................................36
Tabela 6: Descrição dos dados - China .....................................................................................36
Tabela 7: Descrição dos dados - África do Sul .......................................................................37
Tabela 8: Descrição dos dados - Estados Unidos da América ............................................37
Lista de Gráficos Gráfico 1: Taxa neutra de juros via Filtro HP - Brasil ..........................................................19
Gráfico 2: Taxa neutra de juros via Filtro HP - Rússia ........................................................20
Gráfico 3: Taxa neutra de juros via filtro HP - Índia ............................................................21
Gráfico 4: Taxa de juros neutra via filtro HP - China ...........................................................22
Gráfico 5: Taxa neutra de juros via filtro HP - África do Sul .............................................23
Gráfico 6: Taxa neutra de juros via determinantes - Brasil .................................................24
Gráfico 7: Taxa de juros via determinantes - Índia ................................................................24
Gráfico 8: Taxa de juros via determinantes - China ..............................................................25
Gráfico 9 Taxa de juros via determinantes - África do Sul .................................................25
Gráfico 10: Comparativo das estimações - Brasil ..................................................................26
Gráfico 11: Comparativo das estimações - Índia ....................................................................26
Gráfico 12: Comparativo das estimações - China ..................................................................27
Gráfico 13: Comparativo das estimações - África do Sul ....................................................27
Gráfico 14: Sensibilidade da taxa de juros - Brasil ................................................................28
Gráfico 15: Sensibilidade da taxa de juros - Índia .................................................................29
Gráfico 16: Sensibilidade da taxa de juros - China ................................................................30
Gráfico 17: Sensibilidade da taxa de juros - África do Sul .................................................30
Resumo
A principal questão estudada neste trabalho diz respeito as dosagens exigidas
na aplicação das taxas de juros, função de sua sensibilidade, frente aos hiatos de produto
e inflação. Os resultados encontrados demonstram diferenças significativas na presença
de choques, ora com os efeitos esperados no controle de produto e inflação, ora
amplificando estes efeitos, atuando de forma contrária ao usualmente esperado. Para a
obtenção destes resultados foram estimadas as taxas neutras dos BRICS e também um
modelo VAR definindo os determinantes da taxa de juros de cada um destes países.
Estes resultados foram comparados às taxas reais de forma a identificar os objetivos a
serem perseguidos. Posteriormente é utilizada a função impulso-resposta para medir os
efeitos de um choque de juros nos hiatos de produto e inflação mostrando como a
sensibilidade da taxa de juros afeta o controle das taxas de inflação e a promoção do
crescimento econômico e que dosagens elevadas são exigidas quando a sensibilidade
da taxa de juros é baixa e dosagens reduzidas quando esta sensibilidade é elevada.
Palavras-chaves: Política monetária, juros neutros, sensibilidade, hiato de
produto, hiato de inflação.
Classificação JEL: E03, E31, E32, E37, E43
Abstract
The main issue studied in this work concerns the measurements required in the
application of interest rates, due to their sensitivity, front to output and inflation gaps.
The results show significant differences in the presence of shocks, both with the
expected effects in the control of output and inflation, as well as amplifying these
effects, acting in a manner contrary to the usually expected. To obtain these results were
estimated neutral interest rate of BRICS and a VAR model defining the determinants
of the rate of interest for each of these countries. These results were compared to actual
rates in order to identify the goals to be pursued. After it we used the function impulse-
response to measure the effects of a shock of interest in output and inflation gaps
showing how the sensitivity of the interest rate affects the control of inflation rates and
the promotion of economic growth and that high dosages are required when the
sensitivity of the interest rate is low and reduced dosages when this sensitivity is high.
Keywords: monetary policy, neutral interest rate, sensitivity, output gap,
inflation gap.
Classificação JEL: E03, E31, E32, E37, E43
9
Introdução
As estratégias de crescimento dos países passam necessariamente pela adoção
de políticas monetárias eficientes de modo que, atingidos seus objetivos, o resultado
seja um nível de crescimento econômico sustentável e o mais próximo possível ao seu
crescimento potencial.
As ferramentas utilizadas pelos executores da política monetária envolvem uma
série de variáveis e conceitos nos quais se destacam a taxa real de juro1, taxa natural ou
neutra de juros2, hiato de produto3 e hiato de inflação4.
O conceito de eficácia da política monetária envolve o atingimento de seus
objetivos de uma forma equilibrada, buscando um resultado sustentável no longo prazo.
A simples adoção de medidas que busquem um maior grau de importância a um
objetivo em detrimento dos demais fatalmente gerará desequilíbrios que terão que ser
corrigidos no decorrer do tempo, muitas vezes a custos mais elevados.
Neste trabalho, buscamos analisar os países: Brasil, Índia, China, Rússia e
África do Sul, denominados BRICS, no período compreendido a partir do ano 2000 até
o ano vigente, 2014, quanto à sua eficácia na condução de políticas monetárias.
A relevância deste trabalho está em apresentar um estudo comparativo dessa
questão nos países citados por meio de uma série de metodologias analíticas, descritas
no corpo deste estudo, de forma a avaliar criticamente a eficiência de suas estratégias
de crescimento e combate à inflação.
A principal contribuição deste estudo é a verificação da eficácia dessas políticas
monetárias no decorrer desse espaço temporal. Para que isso seja possível faremos
inicialmente o estudo das taxas naturais de juros desse conjunto de países, confrontando
com as taxas reais de juros de forma a analisar o comportamento das demais variáveis
– crescimento econômico e taxa de inflação – definindo inicialmente qual o objetivo
1 É equivalente à taxa de juros nominal com expurgo do efeito inflacionário. 2 Taxa de equilíbrio da economia que define a disponibilidade de recursos para consumo e investimento mantendo a economia em perfeito equilíbrio. 3 Conceito em política monetária que permite analisar se a economia está ou não crescendo acima de seu potencial. Este é um conceito de grande importância nas economias que utilizam a Regra de Taylor. 4 Diferencial entre a taxa de inflação pretendida e a taxa de inflação corrente.
10
inicial de cada um desses países ao longo do período estudado. Posteriormente
incluiremos a variável sensibilidade das taxas de juros e de inflação como forma de
medir a eficácia dessas políticas no sentido de atingir o objetivo proposto gerando um
menor grau de desequilíbrio da economia.
O conjunto de análises que visamos fazer busca um foco mais aprofundado no
assunto taxa neutra de juros que, muitas vezes, possui um caráter comparativo com as
taxas reais praticadas pela autoridade monetária seguida de conclusões baseadas nos
fundamentos da teoria que explica os reflexos do gap de taxa de juros. Pretendemos,
com este trabalho, esclarecer porque quedas acentuadas das taxas de juros, por vezes
negativas, não são acompanhadas do esperado crescimento econômico e, de outra
forma, como pequenas variações nas taxas se refletem em mudanças profundas na
economia.
Nossas principais referências são os trabalhos de Magud (2012), que busca
investigar as taxas neutras de juros em países da América Latina; e o estudo do Reserve
Bank of India - RBI (2013) que versa sobre o impacto das taxas de juros reais sobre o
investimento e crescimento. Outros trabalhos de pesquisa complementam o plano de
estudo aqui elaborado e serão citados ao longo do texto.
Como consequência, a questão central que nos guiará ao longo desta
investigação é como o hiato da taxa de juros e sua sensibilidade afetaram o controle da
inflação e o crescimento econômico nos BRICS no período de 2000 a 2014?
Como hipóteses, acreditamos que as taxas de juros reais abaixo das taxas de
equilíbrio (neutra) estimulam o crescimento econômico apenas de forma temporária na
medida em que proporcionam o crescimento das taxas de inflação. Também
acreditamos que, desde que a sensibilidade da taxa neutra de juros seja superior à da
taxa real de juros, haverá o esperado crescimento econômico. De forma oposta,
sensibilidade das taxas de juros reais acima da sensibilidade da taxa neutra não levariam
ao crescimento e, no caso da sensibilidade da taxa neutra ser elevada, apenas alterações
significativas, que superem a sensibilidade das taxas de juros neutro, teriam o efeito
esperado no crescimento econômico e no combate à inflação.
Para este estudo utilizaremos a mesma metodologia presente em Magud (2012),
que consiste na adoção de modelos estáticos tais como o consumo suavizado e paridade
descoberta de taxas de juros; além de modelos dinâmicos estimados por meio de
11
tendência estocástica implícita, regra de Taylor dinâmica, regra de Taylor com
expectativa de inflação e modelos de equilíbrio geral, na apuração das taxas neutras de
juros. Para a determinação da sensibilidade da taxa de juros neutra será utilizado um
modelo VAR, descrito no estudo do Reserve Bank of India - RBI (2013).
Feita essa determinação compararemos primeiramente as taxas estimadas com
as taxas reais que vigoraram nos países selecionados nessa janela temporal e, por
último, analisaremos as taxas de crescimento dos países bem como a influência das
sensibilidades na eficácia das políticas monetárias.
As fontes de dados para este estudo serão os Bancos Centrais dos países
envolvidos, a base de dados do Federal Reserve Bank of Saint Louis e outros trabalhos
já apresentados.
As principais referências bibliográficas que usaremos na parte que trata da
definição das taxas neutras de juros, além da obra de Magud (2012) que nos servirá de
base na medida em que utilizaremos seus modelos econométricos para estimação dos
valores das taxas neutras na gama de países selecionados, estão divididas em três
blocos: estudos de casos brasileiros, América Latina e países desenvolvidos.
No primeiro grupo, trabalhos sobre o caso brasileiro, utilizaremos os trabalhos
de Duarte (2010), Magud (2012), Miranda (2003), Goldfajn (2011), Neto (2009), Silva
(2013) e Perelli (2014) que engloba todos os países dos BRICS.
Como trabalhos desenvolvidos na América Latina selecionamos Castilho &
Montoro (2006) e Fuentes (2007).
Como trabalhos desenvolvidos nos países desenvolvidos faremos uso de
Giammarioli & Valla (2003) pesquisadores do CEPII (centro francês de estudo e
pesquisa em economia internacional), e do Banco Central Europeu (ECB) com suas
contribuições teóricas e definição quanto à forma de obtenção da taxa neutra de juros,
Lam (2004) com um estudo para determinação da taxa neutra de juros no Canadá por
meio de um modelo DSGE, Ogunç (2011) que estima as taxas neutras em países
emergentes, além de Manrique (2004) com seu estudo das taxas naturais de EUA e
Alemanha. Demais bibliografias que colaboram com o objetivo deste trabalho serão
acrescentadas quando necessário.
Com relação à análise da sensibilidade das taxas utilizaremos prioritariamente
os trabalhos do Reserve Bank of India - RBI (2013) e MODENESI (2011).
12
Desenvolveremos este trabalho em quatro seções. Na primeira parte trataremos
de uma breve revisão dos principais conceitos de política monetária, demonstrando o
papel das sensibilidades das taxas de juros e as relações existentes desses fatores com
o crescimento econômico e com o controle da inflação. Na seção seguinte detalharemos
os dados e modelos a serem trabalhados – tanto no que se refere a obtenção das taxas
naturais de juros como na análise da sensibilidade das taxas –, suas principais variáveis
e sua aplicação para os países que compõem nossa amostra. Na terceira seção faremos
as análises dos dados para que possamos tecer nossa interpretação na seção final.
Adicionalmente os anexos incluirão os dados e o detalhamento de como algumas
passagens foram executadas.
1. A política monetária: uma breve revisão dos principais conceitos
A política monetária possui como objetivos principais a busca pela estabilidade
dos preços, a manutenção de elevados níveis de emprego e a manutenção de um sistema
financeiro sólido e equilibrado. Como consequência desses objetivos espera-se o
atingimento do produto potencial5.
No tocante à estabilidade de preços, item no qual nos deteremos, destacam-se
principalmente as restrições de capacidade da economia, mudanças nas expectativas de
inflação e alterações na taxa de câmbio. Essas restrições de capacidade da economia
podem gerar pressão sobre os preços dos fatores de produção e ter como consequência
alterações no produto potencial.
Segundo Weber & Lemke (2008), há um consenso de que a política monetária
é neutra no longo prazo. Seu principal instrumento na busca da estabilidade de preços
são as taxas de juros que possuem papel tanto como variável instrumental – atuando
como variável econômica – quanto variável indicativa refletindo o guidance para a
condução da política monetária. As taxas de juros podem ser divididas quanto às suas
5 Produto potencial é uma variável não observável e pode ser conceituado como a capacidade da economia com pleno emprego dos fatores de produção (capital e trabalho), sendo que o nível de emprego será o máximo possível sem gerar pressões inflacionárias. Na Teoria Geral de Keynes (1936), o produto potencial corresponde ao pleno emprego do fator trabalho. Trata-se de um importante indicador para análises econômicas de curto e longo prazos. O atingimento ou não desse “potencial” remete a uma definição secundária de “Hiato de Produto” que se caracteriza pela diferença entre o PIB potencial e o PIB efetivo. Quando positivo, pelo excesso de produto que leva a uma tendência de elevação no nível geral de preços; quando negativo, indica capacidade ociosa da economia ou uma tendência ao resfriamento da atividade econômica. O produto potencial pode variar em função dos ganhos de produtividade, aumentos de renda e riqueza.
13
características6: nominais, reais e neutras; e quanto aos seus prazos7: curto, médio e
longo prazos.
Os Bancos Centrais controlam as taxas de juros nominais de curto prazo e assim
o fazem buscando diminuir as oscilações da economia decorrentes de sua busca pelo
crescimento econômico. A decomposição dessa taxa nominal, conforme trabalho de
Archibald (2001), define as demais taxas: real e natural ou neutra conforme Figura 1.
Figura 1: Relação entre taxa neutra de juros e demais variáveis econômicas
Fonte: Archibald (2001) pg.20
A retirada do componente inflacionário da taxa nominal dá origem à taxa real
de juros da economia. Essa poderá ser influenciada pela política monetária, mas sua
força motriz está baseada na economia e no investimento real, incluindo fatores não
monetários tais como déficit fiscal, carga de impostos, preço de commodities, progresso
tecnológico e confiança empresarial.
Do mesmo modo, a taxa de juros neutra da economia é obtida por meio da taxa
de juros real deduzida de seus componentes cíclicos, restando para a taxa neutra de
juros da economia os componentes que afetam poupança e investimentos – determinam
6 Giammarioli & Valla (2004) citam a decomposição da taxa de juros nominal em um componente real e um componente de inflação. Sobre esta divisão nasceu a definição de taxa neutra dada por um economista sueco chamado Knut Wicksel em 1898 que a definia genericamente como sendo uma taxa de juros em empréstimos que era neutra em relação aos preços das mercadorias e que tenderia nem a baixá-los, nem a aumentá-los. 7 Curto prazo é definido como o tempo em que a taxa de juros afeta a inflação; Médio prazo é o tempo necessário para que a inflação e suas expectativas convirjam para o centro da meta, o hiato de produto volta para zero e a taxa de câmbio volta ao equilíbrio; e Longo prazo é um período suficientemente longo em que todos os mercados se ajustam a taxas de crescimento constantes.
Taxa de juros de
equilíbrio de longo prazo
Inflação esperada
Efeitos da Política
Monetária
Prêmio de risco país
Barreiras ao fluxo de capital
internacional
Taxa de juros nominal
Taxa de juros real
Taxa de juros neutra Fatores cíclicos
14
a taxa de equilíbrio de longo prazo –, as restrições aos fluxos de capital internacional e
o prêmio de risco país.
A taxa neutra de juros é definida por Blinder (1999) como a taxa que iguala o
PIB ao longo do estado estacionário8da curva IS9 ao PIB potencial. Possui como
característica uma indeterminação de seu nível preciso, por isso é tomada mais como
um conceito do que como um número. Dessa forma, é um conceito operacional, uma
maneira de se pensar a política econômica. Blinder (1999) ainda cita que as médias
históricas fornecem uma boa proxy do que deveria ser a taxa neutra. Modelagens mais
robustas buscam descobrir suas forças motrizes de forma que os Bancos Centrais
possam tomá-la como sendo uma medida com maior confiabilidade, além de influenciar
diretamente em seus fundamentos na medida em que é necessário conhecer por meio
de que canais essa taxa será afetada.
Mesmo sendo um conceito de real importância na política monetária, sua
importância foi incrementada com base na adoção dos sistemas de metas de inflação
adotado por diversos Bancos Centrais. É a partir desse ponto que os Bancos Centrais
começam a descartar a ideia de que a oferta de moeda seja controlada pela autoridade
monetária, passando a ser dependente do nível de juros e este controlado pelo nível da
taxa de inflação e nível do produto. O direcionamento das taxas de juros da economia
para cima ou para baixo dessa taxa natural definem o que se chama de políticas
contracionistas ou expansionistas.
Estudos empíricos citados no trabalho do Reserve Bank of India - RBI (2013)
sugerem que existam três grandes possibilidades sobre a relação entre taxas de juros e
crescimento econômico: (a) aumento das taxas reais levam a aumento do crescimento
econômico (visão de McKinnon & Shaw (1973)); (b) maiores taxas reais levam a menor
crescimento econômico (visão da política monetária tradicional); e (c) taxas reais mais
elevadas levam a um crescimento maior ou menor dependendo do nível da taxa real em
relação a sua sensibilidade – uma relação não linear – (visão de Fry (1997)).
8 Refere-se ao estado estacionário da teoria de crescimento de Solow que demonstra que a partir de um certo período o estoque de capital e o produto chegam a um valor constante, mantendo a economia em um estado de equilíbrio. 9 Sigla em inglês para Investment-Saving (Investimento-Poupança). Relaciona o nível de Produto/Renda com o nível de taxa de juros. Um aumento na taxa de juros reduz a demanda agregada pelo seu efeito sobre o consumo. Representada graficamente encontramos uma inclinação decrescente, denominada função IS.
15
A primeira possibilidade, conforme analisada por Pill & Pradhan (1995), citado
no estudo do RBI, só poderia coexistir na presença de taxas moderadas de abertura da
conta capital do país. A segunda visão é a mais cotidiana, fazendo parte do mainstream
do pensamento econômico. A terceira visão, mais recente, demonstra que a
sensibilidade do nível de taxa real de juros frente ao nível de sensibilidade do
crescimento econômico é que determina ou não o crescimento econômico.
Se tomarmos como verdade que alterações na taxa real de juros geram flutuações
no produto real e que as taxas de inflação estão relacionadas ao hiato de produto, há a
possibilidade de se definir uma função reação do Banco Central baseada em uma regra
de Taylor. Esta por sua vez já incorporará os conceitos de sensibilidade das taxas de
juros. Modenesi (2008) testou esse modelo de regra de Taylor para o Brasil no período
2000-2007 e concluiu que o Brasil segue essa regra de Taylor e pratica uma excessiva
suavização na determinação da taxa básica de juros.
A maior ou menor eficácia da política monetária pode ser medida por meio da
sensibilidade das taxas de juros reais sobre a taxa natural e a sensibilidade da taxa de
inflação sobre a taxa real. Essas medidas visam quantificar o quanto é necessário alterar
a taxa real de juros da economia de forma que ela tenha efeito para a política monetária.
É com essa medida que se define a dosagem necessária para que o aperto ou
afrouxamento monetário tenham o efeito esperado. O aperto ou afrouxamento
monetário será tanto maior quanto: (a) maior for a sensibilidade da inflação ao hiato de
produto; (b) maior for o grau de aversão do policymaker aos desvios de inflação com
relação à meta e (c) menor for a sensibilidade da demanda agregada às variações de
taxa de juros.
2. Base de dados e modelos econométricos
a) Bases de dados utilizadas
Para este trabalho selecionamos dados macroeconômicos dos países que
compõem os BRICS e dos Estados Unidos da América, utilizado como proxy e/ou
referencial de algumas medidas. O estudo possui foco nos dados baseados em séries
trimestrais. Àquelas séries cuja periodicidade se encontra diferente daquela focada
neste trabalho, seja ela mensal ou diária, foi ajustada de forma que pudesse ser utilizada
16
para a elaboração das estimativas. O detalhamento da fonte de cada série de dados está
disponibilizado no apêndice deste trabalho.
Tabela 1: Relação dos dados utilizados
Brasil Rússia Índia China África do
Sul
Estados
Unidos
da
América
Prêmio de risco
(CDS) X X X X X
Taxa de Câmbio X X X X X
Taxa de Juros
Nominal X X X X X X
Taxa de Inflação X X X X X X
Meta de Inflação X X
PIB X X X X X X
Fonte: Elaboração própria
b) Modelos para estimação das taxas naturais de juros
No trabalho de Magud (2012) são mostradas algumas alternativas econométricas
para a apuração das taxas naturais de juros. A Tabela 2 apresenta alguns estudos
relevantes realizados nos últimos anos, bem como uma subdivisão das metodologias
utilizadas – baseada em Giammarioli & Valla (2004) – e os resultados encontrados nas
economias estudadas.
Tabela 2: Alguns trabalhos sobre taxa natural de juros e seus resultados mais recentes.
Metodologia Autor País Período Resultado
Obtido
Medidas
empíricas das
taxas naturais
Regra de Taylor
(Neto, 2009) Brasil 2000-2005 7,38%
(Duarte, 2010) Brasil 2009 4,20%
(Magud, 2012) Brasil 2012 5,70%
Estimaçãp da
Curva IS com
hiato zero
(Goldfajn, 2011) Brasil 2002-2009 9,00%
(Miranda, 2003) Brasil 1999-2002 4,60%
Curva IS e
Phillips e
estimação pelo
Filtro de Kalman
(Neto, 2009) Brasil 1999-2008 11,10%
(Fuentes, 2007) Chile 1986-2006 3,50%
17
Tendência
Estocástica
Comum Implícita
(Fuentes, 2007) Chile 2002-2007 2,80%
(Magud, 2012) Brasil 2012 5,40%
Filtro HP
(Neto, 2009) Brasil 2002-2005 7,50%
(Duarte, 2010) Brasil 2001-2009 9,20%
(Perelli, 2014) Brasil
2002-2004
2005-2008
2010-2013
9,30%
8,80%
3,50%
(Perelli, 2014) China
2002-2004
2005-2008
2010-2013
4,30%
2,80%
2,80%
(Perelli, 2014) India
2002-2004
2005-2008
2010-2013
n.a.
-0,30%
-2,90%
(Perelli, 2014) Russia
2002-2004
2005-2008
2010-2013
3,70%
0,30%
1,10%
(Perelli, 2014) África do Sul
2002-2004
2005-2008
2010-2013
4,50%
2,70%
0,30%
(Silva, 2013) Brasil 2012 2,12%
(Castillo &
Montoro, 2006) Peru 2002-2005 1,30%
(Magud, 2012) Brasil 2012 4,80%
Filtro Kalman
(Ogunç, 2011) Turquia 2006 7,50%
(Manrique, 2004) EUA 1993-2003 2,60%
(Manrique, 2004) Alemanha 1993-2003 1,40%
(Castillo &
Montoro, 2006) Peru 2002-2005 1,40%
Filtro Band-Pass (Neto, 2009) Brasil 2002-2005 9,40%
Fundamentos
Econômicos (Goldfajn, 2011) Brasil 1999-2008 10,00%
Medidas
baseadas nos
mercados
financeiros
Curva de Juros
Futuros
(Perelli, 2014) Brasil 2013 4,50%
(Fuentes, 2007) Chile 2002-2007 2,75%
(Pereda, 2010) Peru 2010 2,10%
(Fuentes, 2007) Chile 2005 2,40% - 3,30%
18
Paridade de Taxa
de Juros
(Magud, 2012) Brasil 2012 4,50%
(Pereda, 2010) Peru 2010 3,00%
Medidas
derivadas de
modelos DSGE
DSGE
(Fuentes, 2007) Chile 1995-2006 2,90%
(Lam, 2004) Canada 2002 1,24%
(Giammarioli,
The Natural Real
Rate of Interest in
the Euro Area,
2003)
Zona Euro 2000 2,75%
(Magud, 2012) Brasil 2012 5,50%
Fonte: Elaboração própria
Por se tratar de uma medida inexata, escolheremos duas metodologias para
obtenção da taxa natural nos países envolvidos neste trabalho e detalharemos a seguir
suas principais características. Como medida empírica escolheremos o Filtro Hodrick-
Prescott (Filtro HP) e como uma medida estimada com base nos fundamentos
econômicos obtida através da modelagem de vetores autoregressivos (VAR).
Escolhemos o Filtro HP em função de sua popularidade. Trata-se de uma
metodologia presente em diversos trabalhos e com fácil nível de compreensão. Uma
série temporal pode ser decomposta em componentes de tendência e de ciclo. Há
diversas maneiras de se efetuar esta decomposição e uma das mais populares é o filtro
HP. Os procedimentos do filtro devem obter ao menos um de dois propósitos: (a) uma
pequena diferença entre o produto observado e sua tendência e (b) crescimento suave
da tendência. É o parâmetro de suavização (λ) que define o peso atribuído a estes dois
propósitos. Quanto maior o valor de λ, mais suave será o crescimento da tendência.
A medida estimada nos fundamentos econômicos visa definir quais as variáveis
determinantes para o equilíbrio da taxa de juros no longo prazo. Para esta estimativa
utilizamos um modelo VAR e as variáveis macroeconômicas citadas com suas
adequadas defasagens de forma a estimar a taxa nominal de juros que melhor explicaria
o modelo.
c) Sensibilidade das taxas de juros e inflação
Para a estimação da sensibilidade da taxa de juros utilizaremos um modelo de
vetores auto-regressivos (VAR) que nos levará a determinar a função de reação
simplificada do Banco Central. Com esse modelo estimaremos a dinâmica de
determinação da taxa básica de juros e, com base nesse resultado compararemos com
19
as taxas naturais já calculadas de forma a verificar os impactos, sobre o índice de
inflação, dos movimentos da taxa de juros. Adicionalmente analisaremos o impacto
dessas decisões no crescimento econômico por meio da função impulso-resposta que
adiciona choques na economia e mede sua provável reação. A partir destes dados
projetam-se os efeitos causados no crescimento econômico e na taxa de inflação
oriundos de elevações da taxa nominal de juros. Os efeitos causados nas variáveis
crescimento e taxa de inflação demonstrarão a sensibilidade destas variáveis à taxa de
juros.
3. Resultados obtidos
a) Taxas naturais de juros
1. Estimativas pelo Filtro HP
O primeiro procedimento foi a estimação da taxa natural de juros por meio do
filtro HP. O parâmetro de suavização (λ) utilizado foi 1600 por se tratar de uma série
com dados trimestrais. Os resultados obtidos foram os seguintes:
Gráfico 1: Taxa neutra de juros via Filtro HP - Brasil
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
20
Observamos no Gráfico 1 que o processo de queda das taxas reais de juros
brasileiras atingiu seu auge no final do ano de 2002 e seu ponto mínimo no final do
primeiro trimestre do ano de 2013.
Durante o período analisado há uma clara tendência de queda na taxa de juros
reais, mesmo considerando que em alguns períodos houve aumentos. Quando
comparado com a taxa de juros neutra, observamos uma volatilidade elevada da taxa
de juros reais, apresentando grande distanciamento da taxa neutra em diversos períodos.
No caso da Federação Russa, que vemos no Gráfico 2, há uma clara tendência
de queda da taxa real. O ponto máximo de taxa de juros real observado na série se
encontra no segundo trimestre de 2000 e o ponto mínimo no primeiro trimestre de 2011.
A volatilidade, quando comparada à taxa neutra é inferior à apresentada pelos demais
países.
Gráfico 2: Taxa neutra de juros via Filtro HP - Rússia
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
21
Gráfico 3: Taxa neutra de juros via filtro HP - Índia
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
No caso da Índia temos a exceção entre os países analisados. Há uma clara
recuperação do nível de taxa de juros reais. O ponto máximo coincide com o início da
amostra e o ponto mínimo ocorre no terceiro trimestre de 2009. A volatilidade quando
comparada com a taxa neutra estimada é também elevada dentre os países analisados,
Gráfico 3.
22
Gráfico 4: Taxa de juros neutra via filtro HP - China
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
A China também apresenta elevada volatilidade quando comparada com a taxa
neutra, Gráfico 4, porém seu nível de taxa de juros reais é o menor dentre os países
analisados e é aquele que possui a maior tendência à manutenção dos níveis de juros
quando visto em prazos mais longos. O ponto de maior elevação da taxa de juros reais
ocorreu no segundo trimestre de 2000 e seu mínimo no último trimestre de 2003.
Na África do Sul também há uma clara tendência de queda da taxa real no
período analisado e uma diminuição da volatilidade quando comparada à taxa de juros
neutra nos últimos períodos da medição, Gráfico 5. Em termos reais é o país que possui
no início da série a terceira maior taxa de juros reais, perdendo apenas para Rússia e
Brasil, respectivamente. Quando medido no final do período mostra-se na mesma
posição com uma taxa real quase idêntica à Rússia, 4,16% ao trimestre contra 4,14%
ao trimestre respectivamente.
23
Gráfico 5: Taxa neutra de juros via filtro HP - África do Sul
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
2. Estimativa via determinantes da taxa de juros
Para esta análise foram definidos, para cada país envolvido neste trabalho, um
modelo VAR específico que busque obter, para aquele país, os determinantes da taxa
de juros.
No Apêndice deste trabalho foram colocadas as tabelas e estimativas resultantes
de cada modelo, bem como os testes realizados nas variáveis e os testes pós-estimação.
24
Gráfico 6: Taxa neutra de juros via determinantes - Brasil
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/. Detalhamento da estimação no apêndice.
Não há estimação de modelo para a Rússia face a insuficiência de dados
para o período e periodicidade da amostra (2000 – 2014, dados trimestrais).
Gráfico 7: Taxa de juros via determinantes - Índia
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/. Detalhamento da estimação no apêndice.
25
Gráfico 8: Taxa de juros via determinantes - China
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/. Detalhamento da análise no apêndice.
Gráfico 9 Taxa de juros via determinantes - África do Sul
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/. Detalhamento da estimação no apêndice.
b) Comparativo das estimações da taxa neutra de juros
As estimações para os países Brasil e África do Sul, gráficos 10 e 13
respectivamente, apresentam níveis de taxa de juros neutra acima das taxas de
26
juros reais em vigência. Destaque para a estimação da taxa sul-africana que se
apresenta muito acima do nível atual. Para as estimações indianas, gráfico 11, e
chinesa, gráfico 12, as taxas estimadas estão abaixo do nível praticado
atualmente.
Gráfico 10: Comparativo das estimações - Brasil
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
Gráfico 11: Comparativo das estimações - Índia
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
27
Gráfico 12: Comparativo das estimações - China
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
Gráfico 13: Comparativo das estimações - África do Sul
Fonte: Elaboração própria com dados do Federal Reserve Bank of St. Louis. Disponível em
https://research.stlouisfed.org/fred2/
c) Sensibilidade das taxas de juros
Conforme descrito nas hipóteses deste trabalho, acreditamos que quanto menor
a sensibilidade da taxa de juros frente à taxa de inflação e produto, menor será seu efeito
28
enquanto indutora da política monetária. Aqueles países cujo principal instrumento é a
taxa de juros devem, nesse sentido, atuar de forma que sua taxa de juro possua
sensibilidade elevada de forma a atingir seus objetivos com menor esforço. Aqueles
que possuem outros instrumentos de política monetária deverão tê-los também com
elevada sensibilidade como forma de atingimento de seus objetivos.
A estimativa da sensibilidade em cada um dos países analisados foi obtida
através da função impulso-resposta, portanto é uma estimativa dos resultados esperados
na presença de um choque na variável juros. Nos gráficos a seguir mostraremos o efeito
do choque de juros para os próximos 20 períodos.
Gráfico 14: Sensibilidade da taxa de juros - Brasil
Fonte: Elaboração própria com dados estimados pelo modelo VAR de determinantes brasileiro.
No caso brasileiro (Gráfico 14) vemos que um choque de juros no período zero
acarreta um aumento no gap de produto – significando a diminuição do produto - cuja
tendência de recuperação ao padrão inicial se dá somente a partir do 5º (quinto) período.
O efeito do choque de juros no gap de inflação é positivo no primeiro momento,
elevando a taxa de inflação, para posteriormente retroceder e tender a estabilidade a
partir do período 6 (seis).
29
Gráfico 15: Sensibilidade da taxa de juros - Índia
Fonte: Elaboração própria com dados estimados pelo modelo VAR de determinantes indiano.
No caso indiano, choques de juros afetam somente a inflação na medida em que
o gap de produto não é significativo para o modelo. Neste caso o gap de inflação
diminui nos primeiros períodos – significando diminuição de sua taxa frente a uma
média – e posteriormente se eleva. Sua estabilidade ocorre a partir do 8º (oitavo)
período.
30
Gráfico 16: Sensibilidade da taxa de juros - China
Fonte: Elaboração própria com dados estimados pelo modelo VAR de determinantes chinês.
No caso Chinês (Gráfico 16) há um resultado muito semelhante àquele
observado na Índia (gráfico 15), onde inicialmente há uma queda do gap de inflação
para uma posterior recuperação a já a partir do 3º (terceiro) período, mantendo-se
oscilando, com efeitos poucos relevantes no decorrer do 6º (sexto) período.
Gráfico 17: Sensibilidade da taxa de juros - África do Sul
Fonte: Elaboração própria com dados estimados pelo modelo VAR de determinantes sul-africano.
31
No caso sul-africano (Gráfico 17) temos uma resposta à choque de juros
semelhante à resposta brasileira, ou seja, há um aumento do gap de produto –
significando queda no produto – e aumento marginal do gap de inflação, logo
regularizado.
d) Relação entre taxa neutra de juros e sensibilidade no crescimento
econômico e taxa de inflação
A figura 2 demonstra a corrente predominante do pensamento econômico,
mainstream, que entende ser isso uma relação de causa-efeito. O estudo realizado pelo
Reserve Bank of India - RBI (2013) na sua página 12, mostra que esta visão pode ser
alterada quando a sensibilidade das taxas de juros se mostra pequena. Dessa forma,
aquilo que é esperado como resposta às ações da política monetária pode apresentar
resultados contraditórios cuja influência se dá por fatores estruturais daquela
determinada economia, como por exemplo, o baixo nível de investimento.
Fonte: Elaboração própria
Nos países analisados neste trabalho percebemos que as reações aos choques de
juros são diferentes para os países. No caso brasileiro e sul-africano – que possuem a
taxa neutra de juros estimada acima da taxa vigente de juros – já há um estímulo ao
aumento de produto e de inflação. Elevações de taxa de juros, enquanto não atingirem
a taxa neutra, terão seus efeitos reduzidos. Para este conjunto de países a inflação
mantêm-se em elevação, mesmo que de maneira marginal e o produto sofre uma
pequena queda que logo se recupera. Nestes casos apenas com uma elevação mais
Taxa de Juros Reais
> Taxa de Juros
Neutra
Produto
Inflação
Taxa de Juros Reais
< Taxa de Juros
Neutra
Produto
Inflação
Figura 2: Efeitos da taxa neutra de juros na economia
32
consistente, que torne a taxa de juros reais superior a taxa neutra, é que teríamos a
esperada queda da taxa de inflação, porém haveria impacto também no produto.
No caso chinês e indiano, a taxa de juros da economia está acima da taxa neutra
estimada com isso elevações de juros possuem como consequência a queda dos níveis
inflacionários e diminuição do produto, muito embora não tenhamos estimado o efeito
no gap de produto para estes dois países.
A baixa sensibilidade das taxas de juros ocorre quando as taxas reais se
encontram abaixo do nível de equilíbrio determinado pela taxa neutra. Desta forma,
entendendo que a sensibilidade da taxa de juros é baixa, somente elevados choques de
juros trariam o efeito esperado, conforme citação de Modenesi (2011 p. 8), porém os
Bancos Centrais tendem a suavizar o caminho das taxas de juros de forma a evitar
choques na economia. Cabe aos países com esta característica analisar formas de
combate aos hiatos de produto e inflação fora do alcance das taxas de juros.
Conclusões
O estudo da taxa neutra de juros busca dar um horizonte ao planejador financeiro
de como está a economia em determinado momento. Indica, a priori, quais atitudes
devem ser tomadas como forma de reacomodá-la, colocando-a no caminho do
crescimento sustentável.
Por sua vez, a análise da sensibilidade das taxas de juros nos indica o tamanho
do esforço a ser desprendido para alcançar o objetivo esperado. Na medida em que
tenhamos uma baixa sensibilidade da taxa de juro, caberá à autoridade monetária
utilizar de outras medidas como forma de controle da inflação e produto objetivando o
equilíbrio da economia.
Neste estudo vimos que as economias do Brasil e da África do Sul possuem
condições semelhantes de sensibilidade de taxas de juros – estão com suas taxas reais
abaixo do nível da taxa neutra – ocasionando maior dificuldade em usar a ferramenta
de juros como forma de combate aos hiatos de produto e inflação, já que para a
efetividade dessa ferramenta haverá a necessidade de uma elevação mais acentuada dos
juros contrariando, segundo Blinder (1999) as expectativas de que os Bancos Centrais
buscam uma suavização nos movimentos de juros. Para estes dois países, o controle de
inflação, definido pela corrente predominante, se dará somente quando suas taxas reais
33
atingirem e ultrapassarem a taxa de juros neutra. Abaixo deste patamar sua eficiência
estará prejudicada, ocasionando pouco ou nenhum efeito sobre a economia.
Por outro lado as economias da Índia e China – que estão com suas taxas de
juros reais acima do nível de equilíbrio definido pela taxa neutra – possuem uma maior
sensibilidade da taxa de juros. Choques de juros que atinjam estas economias levarão a
queda de produto e inflação e seus efeitos serão mais duradouros, conforme vemos nos
gráficos 15 e 16, respectivamente.
Bibliografia
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Weber, A. A., & Lemke, W. a. (2008). How Useful is The Concept of The Natural Real
Rate of Interest for Monetary Policy? Cambridge Journal of Economics, pp.
49-63.
35
Apêndice:
a) Fontes das bases de dados Tabela 3: Descrição dos dados - Brasil
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
CDS_BR Prêmio de
risco
Trimestral JP
Morgan
www.tradingeconomi
cs.com
Utilizada a última
medição disponível para
cada trimestre
Juros_BR Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/I
RSTCB01BRQ156N
Câmbio_BR Taxa
nominal de
câmbio
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
CUSMA02BRQ618N
Inflação_BR Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
PALTT01BRQ657N
Medido em % em relação
ao período anterior
MetaInf_BR Meta de
inflação
Anual Banco
Central
do
Brasil
http://www.bcb.gov.b
r/pec/metas/tabelamet
aseresultados.pdf
Dados anuais
transformados em taxa
equivalente trimestral
PIB_BR Crescimento
do PIB
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/N
AEXKP01BRQ657S
Medido em % em relação
ao período anterior
Fonte: Elaboração própria
Tabela 4: Descrição dos dados - Rússia
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
CDS_RU Prêmio de
risco
Trimestral JP
Morgan
www.tradingecono
mics.com
Utilizada a última medição
disponível para cada
trimestre
Juros_RU Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlo
uisfed.org/fred2/seri
es/IRSTCB01RUQ
156N
Câmbio_RU Taxa
nominal de
câmbio
Trimestral OCDE https://research.stlo
uisfed.org/fred2/seri
36
es/CCUSMA02RU
Q618N
Inflação_RU Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlo
uisfed.org/fred2/seri
es/CPALTT01RUQ
657N
Medido em % em relação
ao período anterior
PIB_RU Crescimento
do PIB
Trimestral OCDE https://research.stlo
uisfed.org/fred2/seri
es/NAEXKP01RU
Q659S
Medido em % em relação
ao período anterior
Fonte: Elaboração própria
Tabela 5: Descrição dos dados - Índia
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
CDS_IN Prêmio de
risco
Trimestral JP
Morgan
www.tradingeconomics.
com
Utilizada a última
medição disponível
para cada trimestre
Juros_IN Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlouisfe
d.org/fred2/series/IRST
CB01INQ156N
Câmbio_IN Taxa
nominal de
câmbio
Trimestral OCDE https://research.stlouisfe
d.org/fred2/series/CCU
SMA02INQ618N
Inflação_IN Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlouisfe
d.org/fred2/series/CPA
LTT01INQ657N
Medido em % em
relação ao período
anterior
PIB_IN Crescimento
do PIB
Trimestral OCDE https://research.stlouisfe
d.org/fred2/series/NAE
XKP01INQ657S
Medido em % em
relação ao período
anterior
Fonte: Elaboração própria
Tabela 6: Descrição dos dados - China
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
CDS_CH Prêmio de
risco
Diária JP
Morgan
www.tradingeconomi
cs.com
Utilizada a última
medição disponível para
cada trimestre
Juros_CH Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/I
RSTCB01CNQ156N
37
Câmbio_CH Taxa
nominal de
câmbio
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
CUSMA02CNQ618N
Inflação_CH Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
PALTT01CNQ657N
Medido em % em relação
ao período anterior
PIB_CH Crescimento
do PIB
Trimestral People’s
Bank of
China
www.tradingeconomi
cs.com
Medido em % em relação
ao período anterior
Fonte: Elaboração própria
Tabela 7: Descrição dos dados - África do Sul
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
CDS_SA Prêmio de
risco
Diária JP
Morgan
www.tradingeconomi
cs.com
Utilizada a última
medição disponível para
cada trimestre
Juros_SA Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/I
RSTCB01ZAQ156N
Câmbio_SA Taxa
nominal de
câmbio
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
CUSSP02ZAQ650N
Inflação_SA Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
PALTT01ZAQ659N
Medido em % em relação
ao período anterior
PIB_SA Crescimento
do PIB
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/N
AEXKP01ZAQ657S
Medido em % em relação
ao período anterior
Fonte: Elaboração própria
Tabela 8: Descrição dos dados - Estados Unidos da América
Dado Significado Frequência Fonte Dados obtidos em: Observações
Juros_US Taxa
nominal de
Juros
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/I
RSTCI01USQ156N
Inflação_US Taxa de
inflação
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/C
PALTT01USQ657N
Medido em % em relação
ao período anterior
38
PIB_US Crescimento
do PIB
Trimestral OCDE https://research.stlouis
fed.org/fred2/series/N
AEXKP01USQ657S
Medido em % em relação
ao período anterior
Fonte: Elaboração própria
b) Estimativas do Modelo para os países.
Modelo - Brasil
Testes de raiz unitária das variáveis
39
40
Teste de Cointegração e definição de lags
41
Modelo
Testes pós-estimação
42
Gráfico da normalidade dos resíduos:
Modelo Indiano
Testes de raiz unitária das variáveis
43
44
Teste de Cointegração e definição de lags
Modelo
45
Testes pós-estimação
Gráfico da normalidade dos resíduos
46
Modelo Chinês
Testes de raiz unitária das variáveis
47
Teste de Cointegração e seleção de lags
48
Modelo
49
Testes pós-estimação
Gráfico da normalidade dos resíduos
Modelo Sul-Africano
Teste de raiz unitária das variáveis
50
51
Teste de Cointegração e seleção de lags
52
Modelo
Testes pós-estimação
53
Gráfico da normalidade dos resíduos