A CRÔNICA

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A CRÔNICA. Criança trocada por casa é apresentada no PR - PowerPoint PPT Presentation

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A CRÔNICA

Criança trocada por casa é apresentada no PRCriança trocada por casa é apresentada no PR

Um dos quatro bebês trocados pelos pais por material de construção, cestas básicas e até uma casa foi apresentado ontem pela manhã na sede do Sicride (Serviço de Investigações de Crianças Desaparecidas) da Segurança Pública do Paraná.

A criança estava em Curitiba com o engenheiro Antônio Ricardo Siqueira, 39, e a comerciante Luiza Helena Pereira, 39, havia cerca de um mês.

O menino continuará com o casal, que foi indiciado em inquérito policial, até decisão final da Justiça. O casal foi indiciado sob acusação de venda ou troca de crianças, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

A mãe da criança, a desempregada Maria do Nascimento, deverá ser indiciada em inquérito policial no início da próxima semana, segundo o delegado Harry Herbert, que cuida do caso.

Ela teria entregue o filho em abril à curitibana Jurema Frumento, que teria intermediado a troca da criança por uma casa.

Jurema, que também foi indiciada, nega ter recebido qualquer quantia pela entrega. Ela afirma ter apenas ajudado a amiga, que é mãe solteira e não tem dinheiro.

[...]

(Folha de S. Paulo, 12/6/99)

A casa das ilusões perdidas

Quando ela anunciou que estava grávida, a primeira reação dele foi de desagrado, logo seguida de franca irritação. Que coisa, disse, você não podia tomar cuidado, engravidar logo agora que estou desempregado, numa pior, você não tem cabeça mesmo, não sei o que vi em você, já deveria ter trocado de mulher havia muito tempo. Ela, naturalmente, chorou, chorou muito. Disse que ele tinha razão, que aquilo fora uma irresponsabilidade, mas mesmo assim queria ter o filho. Sempre sonhara com isso, com a maternidade – e agora que o sonho estava prestes a se realizar, não deixaria que ele se desfizesse.

- Por favor, suplicou. – Eu faço tudo que você quiser, eu dou um jeito de arranjar trabalho, eu sustento o nenê, mas, por favor, me deixe ser mãe.

Ele disse que ia pensar. Ao fim de três dias daria a resposta. E sumiu.

Voltou, não ao cabo de três dias, mas de três meses. Àquela altura ela já estava com uma barriga avançada que tornava impossível o aborto; ao vê-lo, esqueceu a desconsideração, esqueceu tudo – w certa de que ele vinha com a mensagem que tanto esperava, você pode ter o nenê, eu ajudo você a criá-lo.

Ela ficou desesperada. De novo caiu em prantos, de novo implorou. Ele se mostrou irredutível. E ela, como sempre, cedeu.

Entregue a criança, foram visitar a casa. Era uma modesta construção num bairro popular. Mas era o lar prometido e ela ficou extasiada. Ali mesmo, contudo, fez uma declaração.

- Nós vamos encher esta casa de crianças. Quatro ou cinco, no mínimo.

Ele não disse nada, mas ficou pensando. Quatro ou cinco casas, aquilo era um bom começo.

Moacyr Scliar (Folha de S. Paulo, 14/6/99.)

Crônica de Veríssimo

Conversa entre o pai e o filho, por volta do ano de 2031 sobre como as mulheres dominaram o mundo.

- Foi assim que tudo aconteceu, meu filho... Elas planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos. Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos: Diretoras de Orçamento, empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo. - E aí, Papai?

- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone durante horas a fio, eles pensavam que o assunto fosse telenovela...Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite" eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "o regime"

- E vocês? Não perceberam nada?

- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior: continuávamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, consertar torneiras, abrir potes de azeitona, ceder a vez nos naufrágios. Essas coisas de homem. (...)

- Tudo bem, Papai. Não tem importância. Continue...

- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona...

- Pai, conta mais...

- Bem filho... O resto você já sabe. Instituíram o Robô-Troca-Pneu como equipamento obrigatório de todos os carros... a Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho... E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês...

- TPM ???

- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... É quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear....

- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai...

- Sssshhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas...

Características da Características da crônicacrônica

A palavra crônica deriva do Latim chronica, que significava, no início da era cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos.

A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado em jornal ou revista. Assim, o fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista.

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele.

O cronista ouve conversas, recolhe frases, observa pessoas e registra situações, flagrantes de esquina e do cotidiano; as palavras de uma criança, incidentes domésticos e coisas que acontecem nas ruas. Lida com acontecimentos corriqueiros ou inusitados e com fatos do noticiário.

Pode apresentar os elementos básicos da narrativa: fatos, personagens, tempo e lugar; o tempo e o espaço são normalmente limitados.

Cabe ao cronista mostrar ao leitor aquilo que só ele vê nas entrelinhas do fato. Normalmente, parte de situações particulares que funcionam como metáforas de situações universais.

A crônica é um gênero predominantemente leve, por isso o autor brinca com os fatos que elege como tema e brinca consigo mesmo, ironiza-se como personagem.

A crônica de hoje deve ser ágil, dinâmica e objetiva, de preferência construída com frases curtas e diretas e sem adjetivações. É importante que o leitor identifique claramente o assunto da crônica e a posição do cronista em relação à questão. A concisão é uma grande qualidade no cronista e no escritor de hoje

Tipos de Crônica

Crônica Lírica ou Poética Em uma linguagem poética e metafórica o autor extravasa sua alma lírica diante de episódios sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida urbana, significativos para ele. Como, por exemplo, em «Brinquedos Incendiados», de Cecília Meireles. Por vezes, esse tipo de crônica é construído em forma de versos poéticos. Contudo, tem-se observado estar, a crônica lírica ou poética, cada vez mais em desuso, provavelmente devido à violência e a degradação da vida nas grandes cidades brasileiras.

Crônica de Humor Apresenta uma visão irônica ou cômica dos fatos em forma de um comentário, ou de um relato curto. Como em «Sessão de Hipnotismo», de Fernando Sabino. É uma crônica muito próxima do conto. Procura basicamente o riso, com certo registro irônico dos costumes.

Crônica-Ensaio

Apesar de ser escrita em linguagem literária; ter um espírito humorístico e valer-se, inclusive, da ficção; este tipo de crônica apresenta uma visão abertamente crítica da realidade cultural e ideológica de sua época, servindo para mostrar o que autor quer ou não quer de seu país. Aproxima-se do ensaio, do qual guarda o aspecto argumentativo. Paulo Francis e Arnaldo Jabor são dois grandes representantes desse tipo de crônica. Como exemplo, cito: Reality Show, de Marcelo Coelho.

Crônica Narrativa Tem por base uma história (às vezes, constituída só de diálogos), que pode ser narrada tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular. Por essas características, a crônica narrativa se aproxima do conto (por vezes até confundida com ele). É uma crônica comprometida com fatos do cotidiano, isto é, fatos banais, comuns. Não raro, a crônica narrativa explora a caracterização de seres. Quando isso acontece temos a Crônica Narrativo-Descritiva.

Crônica Dissertativa Opinião explícita, com argumentos mais “sentimentalistas” do que “racionais” (em vez de “segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil”, seria “vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo”). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular quanto na do plural.

Crônica Reflexiva Reflexões filosóficas sobre vários assuntos. Apresenta uma reflexão de alcance mais geral a partir de um fato particular.

Crônica Metafísica Constitui-se de reflexos filosóficos sobre a vida humana.

Linguagem

A linguagem predominante na crônica é coloquial. O cronista do cotidiano privilegia o despojamento verbal. Muitas vezes rompe com os padrões lingüísticos, desrespeita a norma culta e usa gírias, imprimindo um ritmo de bate-papo, de “conversa-fiada” à narrativa.

Linguagem geralmente de acordo com o padrão culto formal ou culto informal da língua.

NarradorNormalmente, o cronista narra algo na primeira pessoa. A crônica, em alguns casos, tem um caráter confessional, autobiográfico. O cronista parte de experiências próprias, fatos que testemunhou ou dos quais participou, sempre com um certo envolvimento. Isso o conduz à flash backs relacionando fatos atuais com o passado e sua infância.

Em alguns casos a narrativa é feita na terceira pessoa, ou através de pessoas reais que se tornam personagens. Quando inventa uma personagem o cronista agrega ficção a fatos e pessoas reais, semelhantes a tantas outras que conhecemos. O cronista é responsável pela composição ou reprodução de interessantes tipos humanos. Muitas vezes, o narrador torna-se personagem de si mesmo.

Humor

O riso é um jeito ameno de denunciar os absurdos que vivenciamos no dia-a-dia. Por intermédio de sua arte, o cronista mostra o ridículo da condição humana, da realidade urbana e do cotidiano do brasileiro.  Situações cômicas se não fossem trágicas. Através do humor, expressa sua indignação, com ironia, cinismo e até sarcasmo. O humor deve ser refinado e a ironia inteligente para que o texto não se torne vulgar.

Crítica

Através do humor o cronista pretende recuperar a capacidade crítica de seu leitor enquanto o diverte, sem perder o caráter de leveza próprio da crônica.  São matérias predominantes na crônica a crítica de costumes, a crítica política e social, onde o cronista, em algumas ocasiões, assume o lado das classes menos favorecidas.

Sugestões de notícias para produzir uma ótima crônica

NOTÍCIA 1NOTÍCIA 1: Traz felicidade, sim!

Está provado. O ditado “dinheiro não traz felicidade” está errado. Economistas da Universidade de Warwick, Inglaterra, observaram 9000 famílias por dez anos para concluir o óbvio: um aumento de renda costuma trazer alegria e saúde mental. Um sério candidato ao Prêmio IgNobel de Economia.

(Superinteressante, edição 175.)

NOTÍCIA 2NOTÍCIA 2: Boca na botija

Mais uma para a lista dos ladrões mais azarados da história. Em setembro, o americano Paul Lee roubou vários objetos de uma casa que estava em reforma em Delaware, nos Estados Unidos. Foi um assalto cuidadoso: não havia digitais ou fios de cabelo que pudessem dar alguma pista à polícia. Até que um dos donos da casa encontrou um objeto estranho no chão: uma dentadura! Como a lei do estado de Indiana obriga que todos os dentes postiços venham com o nome do proprietário gravado nas gengivas artificiais, foi moleza localizar e prender o gatuno. O que ninguém sabe é como o ladrão banguela deixou a dentadura cair...

(Mundo estranho, n.22)

NOTÍCIA 3NOTÍCIA 3: Macacos que não mordem

Pesquisadores da Califórnia que há 32 anos ensinam Koko, uma gorila de 130 quilos, a se comunicar por linguagem de sinais, comemoraram uma vitória em agosto. Os cientistas conseguiram que a gorila lhes contasse que estava com dor de dente e fizeram nela um tratamento odontológico. Mas nem tudo é avanço: ao receber o cartão de visitas de uma repórter, Koko o devorou imediatamente.

(Superinteressante, edição 205.)

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