A CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA · 2019-05-24 · universidade federal da fronteira sul campus...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
CAMPUS CHAPECÓ
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – LICENCIATURA
FLÁVIA RUTI MASS
A CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA:
UMA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DA REDE ESTADUAL DE
ENSINO NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC
CHAPECÓ, SC
2014
FLÁVIA RUTI MASS
A CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA:
UMA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DA REDE ESTADUAL DE
ENSINO NO MUNICÍPIO DE CHAPECÓ/SC
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial de avaliação para a obtenção do título de Licenciada em Geografia. Orientação: Prof. Dr. Ederson Nascimento
CHAPECÓ, SC
2014
Este trabalho é dedicado...
A Deus que me concedeu a vida.
Á minha família, que me deu apoio, carinho e
compreensão.
Ao Marcos, que esteve ao meu lado nesse projeto,
em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que me concedeu a vida e me iluminou nesta caminhada.
A minha família que sempre esteve comigo me apoiando nas horas difíceis,
especialmente meu pai Arlindo, minha mãe Cerentina, minhas irmãs Fátima e Fabiana e
meu irmão Odivan.
Ao Marcos pelo apoio, pela compreensão e companheirismo ao longo deste
caminho, segurando a barra em momentos difíceis.
Ao meu orientador Prof. Dr. Ederson Nascimento.
A Gerência de Educação - GERED de Chapecó que contribuiu para o acesso
ás escolas e consequentemente aos livros didáticos.
Aos Diretores e Assessores das escolas estaduais do município de Chapecó
que me forneceram os dados, o nome das coleções didáticas de Geografia utilizada pela
escola no ensino fundamental e médio e, em especial aqueles que disponibilizaram os
livros didáticos para a realização da pesquisa.
As minhas amigas e colegas com quem dividi as horas boas e as horas
difíceis dessa trajetória.
Á CAPES pela oportunidade de participar do Programa de Iniciação á
Docência – PIBID, onde tive o contato com a docência e com os livros didáticos,
surgindo o interesse pela pesquisa.
E a todos aqueles que de forma direta ou indireta fizeram parte desse
trabalho, muito obrigado!
RESUMO
Na atualidade, com todos os problemas enfrentados pelos professores, como formação precária, a grande quantidade de aulas, a falta tempo para planejar, a pouca disponibilidade de materiais pode fazer com que o livro didático se torne em geral um importante apoio a prática pedagógica, pois em muitas escolas é o único material didático disponível. Neste trabalho são analisados os conhecimentos da Cartografia como também as representações cartográficas, principalmente os mapas presentes nos livros didáticos de Geografia, particularmente no 6ª e 9ª ano do Ensino Fundamental e 1ª ano do Ensino Médio. De maneira específica, os principais conceitos cartográficos e sua adequação quanto à literatura específica, como também as representações cartográficas, especialmente os mapas, principal ferramenta para o estudo cartográfico. Essa monografia foi elaborada a partir das seguintes etapas: contextualização sobre o ensino de Geografia e a Cartografia como linguagem da Geografia, considerações sobre o livro didático de Geografia e a Cartografia presente no mesmo, levantamento e escolha dos livros didáticos a serem analisados, apresentação dos livros didáticos, análise dos conhecimentos cartográficos presentes, como também das representações cartográficas especialmente os mapas, identificação de erros e/ou lacunas e avaliação dos resultados encontrados. Dentre os principais resultados da investigação, observou-se que os livros didáticos contemplam os conhecimentos cartográficos e também as representações cartográficas, especialmente os mapas. Os conceitos apresentados, em sua maioria, estão adequados e coerentes com a bibliografia específica. Além disso, a maioria dos mapas estão completos contendo os seus elementos principais, possibilitando a comunicação cartográfica. Observou-se ainda, por fim, que os mapas possuem funções diversas nos livros, ora servindo para complementar os textos, ora servindo apenas como ilustrações desconectadas da redação.
Palavras-chave: ensino-aprendizagem de Geografia; Cartografia; livro didático;
comunicação cartográfica.
ABSTRACT
Today, with all the problems faced by teachers as poor training, the large number of classes, the lack of time to plan, the limited availability of materials can cause the textbook becomes generally an important support for teaching practice, because in many schools is the only teaching materials available. This paper analyzes the knowledge of cartography as well as cartographic representations, especially the maps present in textbooks of Geography, particularly in the 6th and 9th grade of elementary school and 1st year of high school. Specifically, the main concepts cartographic and its suitability for the specific literature, as well as cartographic representations, especially the maps, the main tool for studying cartographic. This monograph was compiled from the following steps: contextualization of the teaching of Geography and Cartography as a language of Geography, considerations about the textbook of Geography and Cartography in this same survey and selection of textbooks to be analyzed, presentation of textbooks, analysis of cartographic knowledge present, as well as the cartographic representations especially the maps, error detection and / or gaps and evaluation of results. Among the main results of the research, it was observed that textbooks include the cartographic knowledge and also the cartographic representations, especially maps. The concepts presented, mostly, are appropriate and consistent with the research literature. Furthermore, most are complete maps containing the main features, allowing the cartographic communication. It was also noted, finally, that the maps have different functions on the books, now serving to complement the texts, now serving only as of the writing disconnected illustrations.
Keywords: teaching and learning of Geography; Cartography; textbook; cartographic communication.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização do município de Chapecó no Estado de Santa Catarina. ......................... 13
Figura 2: Representação esquemática da apreensão/transmissão da informação cartográfica. ... 23
Figura 3: Mapa mundi com o norte para “cima” e mapa com o sul para "cima". ....................... 46
Figura 4: Fazendo a leitura de um tipo de mapa. ........................................................................ 50
Figura 5: Elementos do mapa. ..................................................................................................... 54
Figura 6: A linguagem dos mapas. .............................................................................................. 56
Figura 7: Exemplo de confecção de um mapa a partir de uma fotografia aérea. ........................ 58
Figura 8: Mapa com questionamento. ......................................................................................... 61
Figura 9: Imagem de satélite e mapa do uso da terra a partir da interpretação da imagem. ........ 65
Figura 10: Comparação de uma imagem registrada por um radar e uma imagem de satélite, da capital do Nepal em 2000 á esquerda e em 2002 á direita. ......................................................... 66
Figura 11: Modelo Digital do Terreno (MDT). ........................................................................... 68
Figura 12: Mapa que integra a Cartografia á Geografia. ............................................................. 71
Figura 13: Exemplos de produtos produzidos através da Cartografia moderna e tecnológica, Imagem digital em três dimensões (3D) e Imagem de Satélite. .................................................. 76
Figura 14: Mapas com atividade. ................................................................................................ 78
Figura 15: Mapa conectado ao texto. .......................................................................................... 83
Figura 16: Mapa que integra produto cartográfico com conteúdo geográfico. ........................... 85
Figura 17: Exemplos de mapas e imagens de satélites presentes no livro didático..................... 88
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Coleções didáticas de Geografia utilizadas no ensino fundamental nas escolas da rede estadual de ensino de Chapecó .............................................................. 37
Quadro 2: Coleções didáticas de Geografia utilizadas no ensino médio nas escolas da rede estadual de ensino de Chapecó – SC ...................................................................... 38
Quadro 3: Coleções didáticas de Geografia da Rede Estadual de Ensino e as escolas que as utilizam no Ensino Fundamental ................................................................................ 39
Quadro 4: Coleções didáticas de Geografia da Rede Estadual de Ensino e as escolas que as utilizam no Ensino Médio .......................................................................................... 39
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1. ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: A CARTOGRAFIA COMO LINGUAGEM ................................................................. 15
1.1. ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA ........................................... 15
1.2 A CARTOGRAFIA COMO LINGUAGEM DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA ............................................................................................................. 18
CAPÍTULO 2. CARTOGRAFIA, LIVRO DIDÁTICO E ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................................................... 25
2.1. LIVRO DIDÁTICO: IMPORTÂNCIA E PAPEL NO ENSINO EM GERAL E NA GEOGRAFIA ....................................................................................................... 25
2.2. A CARTOGRAFIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA ................ 29
CAPÍTULO 3. OS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA NA REDE ESTADUAL DE ENSINO EM CHPACÓ/SC ........................................................... 34
3.1 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................. 34
3.2 COLEÇÕES DIDÁTICAS UTIZADAS NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE CHAPECÓ .................................................................................................................. 37
CAPITULO 4. ANÁLISE DOS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS ................................................................ 41
4. 1. APRESENTAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS .............................................. 41
4.1.1. Livros didáticos de Geografia do sexto ano do ensino fundamental............. 41
4.1.2. Livros didáticos de Geografia do nono ano do ensino fundamental ............. 42
4.2. ANÁLISE DA CARTOGRAFIA NOS LIVROS DIDÁTICOS SELECIONADOS ...................................................................................................... 45
4.2.1. Análise da Cartografia nos livros didáticos de Geografia do ensino fundamental ............................................................................................................. 45
4.3.2. Análise da Cartografia nos livros didáticos de Geografia do ensino médio . 73
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 95
11
INTRODUÇÃO
A Cartografia se apresenta à Geografia como um meio de compreender a
organização espacial, como uma linguagem que traz a possibilidade de sintetizar
informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre várias outras coisas que
envolvem a ideia da produção do espaço: sua organização e distribuição.
O mapa se tornou um meio importantíssimo para espacializar informações, cada
vez mais presente na atualidade, como na TV e na internet. Nas salas de aula no ensino
de Geografia seu uso também tem se generalizado. Porém o mapa não deve ser somente
um instrumento de ilustração é preciso decodificá-lo, pois o mesmo é um meio de
comunicação e informação.
No ensino a produção, organização e distribuição do espaço geográfico podem
ser estudadas a partir de diferentes níveis começando com noções básicas e com o
tempo adquirindo noções mais complexas. Esse estudo é feito na Geografia com o apoio
dos materiais didáticos, principalmente o livro didático que é muitas vezes o único
material de apoio ao professor.
Porém, nem sempre esse estudo sobre o espaço geográfico através do uso da
Cartografia vem sendo feito a contento, pois os alunos, por vezes, não compreendem as
noções cartográficas simples, como a organização de uma legenda, o uso das projeções,
a importância da escala, enfim a Cartografia não fica clara e compreensível para os
alunos.
Esses podem ser alguns dos fatores, como professores despreparados para
trabalhar com a Cartografia devido a uma formação acadêmica fraca e precária nessa
área, como também a falta de recursos didáticos para trabalhar com a Cartografia, falta
de tempo para planejar e organizar atividades, etc.
Sabendo da importância que a Cartografia possui atualmente, pois possibilita
uma melhor compreensão e leitura do espaço, destaca-se a mesma como um importante
conhecimento abordado no universo escolar.
Na Geografia, as representações gráficas e cartográficas são importantíssimas no
desenvolvimento de conhecimentos espaciais do cotidiano e de lugares distantes dos
estudantes, principalmente no período atual com a globalização em curso, por que com
a globalização aumentou-se a necessidade de conhecimentos espaciais, e as
12
representações cartográficas possibilitam esse estudo dos lugares distantes,
principalmente através dos mapas.
Assim, nos livros didáticos os gráficos e cartogramas devem interagir com os
textos, complementá-los como também contribuir para a organização pedagógica das
aulas (PONTUSCHKA, PAGANELLI, CACETE, 2009).
Os livros didáticos podem ser alvos de muitas críticas, desde o principio, porém
continuam presentes nas escolas no período hodierno, sendo utilizado pela maioria dos
professores no exercício de sua profissão. Assim, tais materiais constituem-se como um
dos mais importantes, senão o principal recurso didático disponibilizado aos professores
para utilizarem em suas aulas, como também para trabalhar com os conhecimentos
cartográficos. Por isso é imprescindível que a Cartografia apresentada nas obras
didáticas esteja adequada e coerente aos interesses e necessidades dos estudantes.
Portanto, este trabalho justifica-se pela importância que a Cartografia representa
hoje no ensino de Geografia e a grande relevância do livro didático no processo de
ensino-aprendizagem, como um dos responsáveis juntamente com o professor por
orientar o diálogo do aluno com a realidade. Outro ponto de destaque e que justifica a
realização deste trabalho, é a falta de pesquisas sobre essa temática para o município de
Chapecó, no Oeste catarinense, recorte espacial do estudo (Figura 1 – Localização do
município de Chapecó no Estado de Santa Catarina).
13
Figura 1: Localização do município de Chapecó no Estado de Santa Catarina.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar a Cartografia
presente em livros didáticos de Geografia do 6º e 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º
ano do Ensino Médio, mais utilizados nas escolas estaduais em Chapecó. De maneira
específica, pretende: analisar os conhecimentos cartográficos presentes nos livros
didáticos, comparando-os aos conhecimentos cartográficos expostos na literatura
específica; verificar as características dos produtos cartográficos nos livros analisados, a
partir da Cartografia de base, e; avaliar os produtos cartográficos quanto à adequação
aos conteúdos e abstração das informações.
Dessa forma, se espera com esse trabalho compreender como a Cartografia é
abordada nos livros didáticos de Geografia, os conteúdos/conceitos cartográficos e sua
adequação para as três séries escolares em questão – no caso, as que preveem a
Cartografia Sistemática como conteúdo programático –, o contexto de disposição das
representações cartográficas na redação, a comunicabilidade da informação espacial dos
mesmos na abordagem dos conhecimentos geográficos.
O interesse em estudar a Cartografia presente nos livros didáticos surgiu após
uma oportunidade proporcionada pela CAPES através do Programa de Iniciação á
14
Docência – PIBID, que se constitui em um programa que disponibiliza bolsas aos
acadêmicos dos cursos de licenciatura para vivenciar a docência antes de estarem
formados. Foi a partir dessa oportunidade que me aproximei do ensino de Geografia e
consequentemente dos livros didáticos. Através da atuação nas aulas de Geografia e a
utilização do livro didático para trabalhar os conteúdos, passou a me incomodar
algumas lacunas trazidas pelos mesmos. Assim passei a pensar nos livros didáticos
como uma possibilidade de pesquisa, que se tornou concreta e hoje se constitui nessa
monografia.
O trabalho está estruturado em quatro capítulos mais as considerações finais. O
primeiro capítulo, intitulado ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: A
CARTOGRAFIA COMO LINGUAGEM, contextualiza a proposta abordando o ensino
de Geografia e o uso da Cartografia como linguagem de ensino-aprendizagem de
Geografia, bem como apresentando sobre a importância da Cartografia para a
Geografia.
O segundo capítulo CARTOGRAFIA, LIVRO DIDÁTICO E ENSINO DE
GEOGRAFIA, trata sobre o livro didático em geral, críticas e potencialidades, como
também sua importância e seu papel no ensino em geral e na Geografia e a forma como
a Cartografia esta presente nos livros didáticos de Geografia.
O terceiro capítulo, OS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA NA REDE
ESTADUAL DE ENSINO EM CHAPECÓ, dispõe sobre a metodologia e os critérios
de análise da Cartografia nos livros didáticos, ou seja, como serão avaliados os
conhecimentos cartográficos presentes ou não nas obras didáticas, como também a
exposição das coleções didáticas de Geografia utilizadas nas escolas da rede estadual de
ensino de Chapecó, destacando as mais utilizadas que serão os objetos de análise da
pesquisa.
No quarto capítulo, ANÁLISE DOS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS
PRESENTES NOS LIVROS DIDÁTICOS é apresentado os livros didáticos que
comporão a análise, seguida da análise dos livros a partir dos conhecimentos
cartográficos presentes nas obras e da avaliação dos mapas. Por fim têm-se as
considerações finais que apresentará a síntese dos resultados do trabalho.
15
CAPÍTULO 1
ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: A CARTOGRAFIA COMO LINGUAGEM
1.1. ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA
A Geografia é uma ciência de grande importância, contribuindo para uma
melhor compreensão da organização da sociedade em sua dimensão espacial e, a partir
disso, para uma visão crítica e reflexiva da realidade em que vivemos.
O pensamento geográfico é controverso, com diferentes entendimentos sobre
qual é o objeto de estudo da Geografia, sobre as características principais desse objeto e
sobre as bases epistemológicas de seu estudo, há um relativo consenso em torno do
espaço geográfico enquanto objeto de estudo (SANTOS, 2008).
Para tratarmos um pouco sobre espaço geográfico traremos Corrêa (2003) que o
sumariza as suas diversas interpretações:
[...] “a morada do homem. Absoluto, relativo, concebido como planície isotrópica, representado através de matrizes e garfos, descrito através de diversas metáforas, reflexo e condição social, experienciado de diversos modos, rico em simbolismos e campo de lutas, o espaço geográfico é multidimensional” (CORRÊA, 2003, p. 44).
Dessa forma, compreende-se que o uso que se faz do espaço geográfico é
desigual, resultando das relações homem-homem e dos seus interesses distintos, que
passam por esferas econômicas e sociais. O espaço é, assim, conflituoso.
O espaço geográfico não é neutro. Tende a ser controlado pelos agentes
econômicos que exercem poder, como os proprietários dos meios de produção, os
proprietários fundiários, os promotores imobiliários e o Estado, além de receber, por
vezes, a ação contestatória e subversiva de grupos sociais não hegemônicos e excluídos.
Nesse sentido, ao analisar o espaço geográfico procura-se a partir do “[...] resultado de
suas ações sociais e concretas, compreender a sociedade que o produziu”
(CAVALCANTI, 1998, p. 118).
A Geografia dispõe de instrumentos imprescindíveis para compreender e intervir
na realidade social. A partir da ciência geográfica compreendemos como as diferentes
sociedades interagem com a natureza e entre si para construir o seu espaço.
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Essas discussões também abrangem as propostas curriculares voltadas ao ensino
básico, principalmente nas últimas décadas em relação à escolha de seus conteúdos.
Dentre eles, podemos citar que os modismos podem ser comuns, principalmente ligados
a questões ambientais; que se preocupa mais com os conteúdos conceituais do que com
os procedimentais e atitudinais; que se separa Geografia Humana da Geografia da
Natureza; a memorização continua predominante; a noção apresentada de escala espaço-
temporal não é evidente (BRASIL, 1998).
A Geografia que precisa ser apresentada nas salas de aulas aos estudantes é uma
Geografia interessante, significativa e de grande importância na vida dos sujeitos-
alunos. No ensino, a Geografia tem por finalidade o estudo das relações entre o processo
histórico na formação das sociedades humanas e também como ocorre o funcionamento
da natureza a partir da leitura do lugar, do território e da paisagem (BRASIL, 1998).
O ensino de Geografia é importante e de grande relevância aos estudantes,
porém precisa lhes ser apresentado dessa forma, sendo atraente, instigador, despertando
a curiosidade em se aprender e compreender. É preciso que todas as esferas envolvidas
– como as diretrizes que norteiam o ensino, os conteúdos dos livros didáticos, os
professores, e os demais membros da comunidade escolar – estejam comprometidos em
buscar inovar sempre, criando novas maneiras de trabalhar seus conteúdos com novas
metodologias.
Com o tempo, conforme Cavalcanti (1998), a Geografia desenvolveu uma
linguagem e um corpo conceitual que se transformou numa linguagem geográfica.
A Geografia possui um compromisso social de estimular nos educandos o
pensamento crítico e reflexivo sobre o meio em que vivem. A mesma deve trabalhar e
estudar aquilo que é marcado no território, mostrando o espaço como resultado de lutas,
de disputas, que exponha os jogos de interesses e de poder que existem entre os povos,
as sociedades e os homens, olhando a realidade a partir de um olhar espacial (SANTA
CATARINA, 2010).
A ciência geográfica possui um grande campo de estudo destacando desde o
estudo da realidade dos estudantes até os lugares distantes, comparando-os,
diferenciando-os, relacionando-os, para assim ter uma visão ampla do mundo em que
vivemos e da organização da sociedade.
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Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a Geografia deve estar
“[...] comprometida em tornar o mundo compreensível para os alunos, explicável e
passível de transformações” (BRASIL, 1998, p. 26). É preciso que a Geografia seja
trabalhada de maneira a integrar o aluno com o conhecimento científico, que ela seja
abordada partindo de uma posição que aproxime o conhecimento transmitido com o
cotidiano, para que faça sentido estudar e compreender a Geografia, não somente
decorá-la.
A Geografia trabalhada na escola tem a função de auxiliar na aprendizagem
espacial dos estudantes fazendo com que eles compreendam a se localizar e a entender
como as sociedades organizam seu espaço, tornando-se agentes ativos dessa
organização. O ensino da disciplina deve buscar a compreensão do todo ao longo dos
diferentes níveis de ensino, abordando as diferenças, os interesses e as necessidades dos
diversos indivíduos buscando a formação de uma cidadania responsável, consciente e
atuante (OLIVEIRA, 2002).
Para atingir este objetivo, é necessário preparar os alunos para o mundo em que
vivem abordando questões sobre o seu cotidiano, como os problemas com o
desmatamento, as ocupações irregulares de terras, as formas de poder que interferem na
organização do espaço geográfico, enfim, deve-se fazer com que os mesmos através da
Geografia reflitam sobre o mundo em que vivem os problemas e as possibilidades,
criando e formando o seu próprio modo de pensar e analisar.
A partir da perspectiva de fazer com que a Geografia se torne uma disciplina
importante capaz de trazer uma educação de qualidade aos estudantes, estabelecemos a
disciplina como responsável pelo estudo do espaço construído pelos homens em relação
com a natureza, sendo o compromisso social o de estimular nos alunos o pensamento
crítico/reflexivo sobre o meio em que vivem, fazendo dos estudantes sujeitos críticos e
não apenas um memorizador (SANTA CATARINA, 2010). Nesta tarefa, muito se pode
utilizar da Cartografia como um meio de contribuir para uma melhor compreensão do
espaço geográfico através dos mapas.
De acordo com Cavalcanti (1998), a disciplina escolar de Geografia deve
potencializar o interesse dos alunos pelos mapas, localizando lugares e construindo
representações. Assim, o aluno poderá se interessar mais pela Geografia, pois através da
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mesma se tem a possibilidade de conhecer e localizar lugares do mundo utilizando-se de
mapas e representações cartográficas.
A Cartografia constitui-se, portanto, em um importante conhecimento a ser
utilizado pela Geografia para tornar as análises geográficas mais fundamentadas e
concretas, pois através dos mapas é possível analisar desde um fenômeno isolado de
uma realidade próxima, como também fenômenos interligados de realidades distantes.
Em suma, a Cartografia representa um importante caminho para o ensino de
Geografia, pois subsidia os estudantes na compreensão da organização espacial. Assim
não deve ser ignorada, e sim utilizada e constantemente pesquisada em sua relação com
o conhecimento geográfico e com a realidade escolar para se encontrar a melhor forma
de trabalha-la com todas as suas potencialidades no ensino de Geografia.
1.2 A CARTOGRAFIA COMO LINGUAGEM DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE
GEOGRAFIA
“A cartografia é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de divulgar os mapas” (JOLY, 1990, p.7).
A busca de uma definição para uma ciência não é fácil nem feita de forma
simples e rápida. Pelo contrário, se transforma a cada momento na tentativa de explicá-
la, passando inclusive anos, pois nem tudo é consenso. Com a Cartografia não é
diferente. Possui várias definições de acordo com os anos e o contexto, influenciada
também pelas transformações tecnológicas que evoluem o seu conceito.
Uma das definições para a Cartografia a apresenta como “[...] a ciência e a arte
de expressar (representar), por meio de mapas e cartas, o conhecimento da superfície
terrestre” (ROSA, 2004, p. 4). Para o autor é ciência, pois para alcançar sua exatidão
precisa principalmente da astronomia, geodésia e matemática, e arte, pois é dependente
das leis de estética, simplicidade, clareza e harmonia.
A Cartografia está presente no ensino nas escolas, não como uma disciplina
isolada, mas fazendo parte dos conhecimentos da disciplina escolar de Geografia. Sua
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relevância para a ciência geográfica se expressa principalmente na sua especialidade em
representar o espaço geográfico que é o objeto da Geografia.
Em termos gerais, a Cartografia pode ser definida, segundo Castrogiovanni
(2010, p. 38), como:
[...] um conjunto de estudos e operações lógicas – matemáticas, técnicas e artísticas, a partir de observações diretas e da investigação de documentos e dados, intervêm na construção de mapas, cartas, plantas e outras formas de representação, bem como seu emprego pelo homem. Assim a cartografia é uma ciência uma arte e uma técnica.
No ensino de Geografia a Cartografia se apresenta principalmente através dos
produtos cartográficos, tais como mapas, cartas, plantas, e maquetes, sendo um
conhecimento que possibilita uma melhor compreensão dos fenômenos geográficos.
Nos livros didáticos, os materiais cartográficos devem interagir com os textos e não
somente serem utilizados como mera ilustração, problema que será discutido adiante.
A Cartografia se constitui como um sistema de análise da representação
codificada de signos tendo o mapa como um importante instrumento de grande poder de
sintetização. Essa é a grande importância da Cartografia para o ensino da Geografia,
interessa-se com a organização do espaço (FRANCISCHETT, 2002).
A Cartografia é usada pela Geografia para melhor compreender como ocorre a
organização do espaço, sendo este estudo possível a partir dos mapas que representam o
espaço geográfico.
Na acepção de Simielli (2006), a Cartografia nos dá a possibilidade de ser
trabalhada no ensino básico a partir de três níveis. O primeiro seria o da “[...]
localização e análise – cartas de análise, distribuição ou repartição, que analisam o
fenômeno isoladamente” (p. 97). Esse é o primeiro nível proposto para ser
compreendido por alunos nos primeiros anos do ensino fundamental II, no qual os
mesmos devem ler mapas simples que expressem a localização ou distribuição dos
fenômenos de forma isolada.
O segundo nível, o da “[...] correlação - permite a combinação de duas ou mais
cartas de análise” (SIMIELLI, 2006, p. 97). Este nível deve ser trabalhado nas séries
finais do ensino fundamental II, os alunos devem conseguir correlacionar dois mapas ou
duas informações conjuntamente e compreendê-las. Por sua vez, o último nível define-
se como “[...] síntese – mostra as relações entre várias cartas de análise, apresentando-se
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em uma carta simples” (SIMIELLI, 2006, p. 97). Neste nível, que se espera ser
compreendido por estudantes do ensino médio, empreende-se operações com várias
informações em um mesmo mapa, necessitando um maior poder de abstração para
compreendê-las.
Sobre as representações de síntese, Martinelli (2011), expõe que nesse tipo de
representação os elementos não podem estar em superposição ou em justaposição, mas
sim correlacionados em tipos. Propriamente nos mapas de síntese, devem ser
identificados agrupamentos de lugares definidos por agrupamento de atributos, ou seja,
os mapas vão expressar uma realidade através de conjuntos espaciais, por exemplo, o
tema unidades de paisagem de um território.
A Cartografia deve ser trabalhada desde as primeiras séries escolares a partir da
alfabetização cartográfica e continuando ao longo do ensino, começando de forma mais
simples e evoluindo para noções mais complexas, acompanhando, é claro, o nível e o
poder de abstração dos alunos. Os mapas devem estar presentes em todas as séries
escolares de forma adequada para contribuir com a Geografia no objetivo de refletir
sobre o espaço geográfico.
Concordando com Francischett (2004), ao mapa, a mais importante ferramenta
para o estudo cartográfico, cabe articular o conteúdo com a forma, ou seja, os conteúdos
com as formas espaciais, usando a linguagem cartográfica na construção de
conhecimentos, conceitos e valores referentes à representação do espaço.
O mapa é de grande importância para a Geografia contribuindo para a realização
de análises do espaço geográfico, sendo que seu uso tem se disseminado nos materiais
didáticos da disciplina. Segundo Joly (1990, p. 7), “Um mapa é uma representação
geométrica plana, simplificada e convencional, do todo ou de parte da superfície
terrestre, numa relação de similitude conveniente denominada escala”, sendo a escala
muito importante, pois estabelece a correlação que existe entre o mapa e o terreno.
Dessa forma, o mapa representa o espaço geográfico de maneira reduzida,
utilizando-se da escala para diminuir grandes áreas e colocá-las na representação, bem
como de um sistema semiótico de linguagem que cria símbolos para expressar os
elementos e fenômenos que ocorrem no espaço real.
Como compreender os mapas e as informações que os mesmos expressam?
Conforme Castrogiovanni (2010, p. 34), “Ler mapas significa dominar o sistema
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semiótico da linguagem cartográfica. Não é apenas localizar um elemento cartográfico
ou qualquer fenômeno”. Compreende-se, assim, que os estudantes precisam elaborar
seus próprios mapas, dominando noções cartográficas básicas para que tenham
capacidade de lê-los e utilizar essa ferramenta ao trabalhar os conteúdos geográficos.
Para que os estudantes consigam interpretar e compreender um mapa é
necessária uma preparação anterior. Precisam ter um domínio das noções cartográficas
básicas, como construção da noção de legenda, proporção e escala, projeção
cartográfica, lateralidade/referências e orientação. Devem entender as noções básicas da
Cartografia para chegarem ao nível de fazer a leitura de mapas.
Segundo as Diretrizes Curriculares de Santa Catarina (2010, p. 180), “O mapa é
o instrumento fundamental, capaz de proporcionar as informações que se precisa e
capaz, por outro lado, de fazer as representações que se pretende”. Essas propriedades
dos mapas os torna importante a sua presença no ensino de Geografia, pois essa ciência
tem na representação do espaço um dos principais elementos metodológicos para a
produção de seu conhecimento, bem como para o seu aprendizado, tanto no ensino
superior como na educação básica.
Entretanto, muitas vezes o mapa é subutilizado no ensino, servindo apenas para
localizar informações, ou seja, não ultrapassando o primeiro nível operatório exposto
acima (SIMIELLI, 2006), limitando um uso mais abrangente do mapa para análise dos
fenômenos geográficos, sobretudo no ensino.
O uso que se faz dos mapas nas salas de aula depende muito da visão que o
professor possui da Geografia, se a mesma tiver a função apenas de descrever os
lugares, o mapa servirá para localizar. No entanto, se o professor concebe a Geografia
como uma disciplina capaz de contribuir para o melhor entendimento das
territorialidades produzidas pelos homens, o mapa ultrapassará a função de orientar e
localizar, mas também será um recurso usado para as análises e explicações geográficas
da realidade mapeada (KATUTA, 2000).
O mapa se utiliza da linguagem cartográfica para expressar suas informações,
portanto para ler um mapa como um texto é preciso compreendê-lo.
Segundo Francischett (2004, p. 37):
Através dessa linguagem, é possível sintetizar informações e representar temas (conteúdos), conhecimentos e as formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola e por meio de situações nas quais os
22
alunos sejam ancorados na ideia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolve proporcionalidade, uso de signos ordenados e técnicas de projeção.
Há enfoques diferenciados para compreender o potencial de transmissão de
informações espaciais pelos mapas, sendo que a teoria da Comunicação Cartográfica é
apenas um deles. De acordo com Matias (1996), autores como Board, Kolacny,
Ratajsky, Robinson e Petchnik, e Morrison, trabalham ou já trabalharam com a temática
da comunicação cartográfica, e eles concordam com o esquema geral básico de
transmissão de informação cartográfica, conceito esse imprescindível para entender o
processo de comunicação cartográfica.
O processo de comunicação entre os homens se concretiza a partir de três
dimensões simples da comunicação: a sintática, que se constitui na organização e na
construção interna da mensagem; a semântica refere-se a seu conteúdo e significado, e,
por fim; a pragmática, de diz respeito aos seus efeitos ( GOMES et al, 2012).
Nesse sentido:
A comunicação cartográfica como produção teórica e metodológica, apresenta-se estritamente ligada a Teoria da Informação e, por isso, a produção de mapas é explicada a partir da dimensão sintática, ou seja, o fenômeno da comunicação pelo mapa compreende em saber como construir mensagens que apresentem condições ótimas para, quando veiculadas pelo canal, atinjam da forma mais eficiente possível o receptor.Nessa perspectiva, o mapa, resultado do processo de comunicação cartográfica, apenas exprime o conteúdo da realidade observada e processada na mente do cartógrafo (GOMES et al, 2012, p. 3-4).
O processo de comunicação cartográfica é representado através de um esquema,
proposto pelo cartógrafo russo Konstantin Salichtchev, onde podem ser observadas duas
partes principais, sendo que a primeira constitui a construção do mapa, ou seja, a parte
da realidade que vai para o mapa e a segunda constitui o processo de interpretação do
mapa, ou seja, a parte que vai do mapa para a realidade, criando um ciclo. Para Matias
(1996) a maneira como ocorre a apreensão/transmissão da informação cartográfica pode
ser observada a partir do esquema abaixo (Figura 2), que constitui uma releitura do
esquema proposto por Salichtchev, sobre como ocorre o processo de comunicação
cartográfica.
23
Figura 2: Representação esquemática da apreensão/transmissão da informação cartográfica.
Fonte: Matias, 1996, p. 85.
A realidade é o ponto de partida para se entender o esquema acima, o construtor
do mapa (cartógrafo) mapeia parte da realidade, adquirindo e processando as
informações que considera importante para compreender e representar o fenômeno no
mapa.
Conforme o referido autor, na sequência ilustrada pelo esquema ocorre um
entendimento diferenciado entre a realidade do construtor do mapa e o usuário, que se
justifica a partir da práxis diferenciada e dos lugares diferentes que estão situados no
contexto social os indivíduos.
Assim, no processo da comunicação cartográfica precisa-se destacar a
importância do contexto social em que o construtor/usuário estão inseridos, pois como
já foi abordado, o espaço geográfico não é neutro, muito pelo contrário, é um campo de
lutas.
Dessa forma, a visão que cada indivíduo possui da realidade e,
consequentemente, das representações dessa realidade, refletem o seu contexto social.
24
Nas palavras do referido autor: “[...] podemos dizer que a realidade não é aquilo que se
representa no mapa, mas também não é algo diferente, pois só é possível aprisionar a
realidade a partir da sua representação” (MATIAS, 1996, p. 109).
Em suma, o mapa possui um grande potencial como documento geográfico,
para registrar, tratar e comunicar a informação espacial.
Portanto compreendendo a importância da Cartografia, principalmente dos
mapas, para o ensino-aprendizagem de Geografia, necessita-se avaliar a
comunicabilidade do mapa no ensino, sendo o livro didático uma das principais fontes
para isso, pois o referido recurso está presente em grande parte das salas de aula.
25
CAPÍTULO 2
CARTOGRAFIA, LIVRO DIDÁTICO E ENSINO DE GEOGRAFIA
2.1. LIVRO DIDÁTICO: IMPORTÂNCIA E PAPEL NO ENSINO EM GERAL E NA GEOGRAFIA
As discussões acerca dos livros didáticos vêm crescendo nos últimos anos, nos
debates muito se questiona sobre o seu papel no ensino-aprendizagem, entretanto não se
pode esquecer que o mesmo pode ser em muitas escolas o único material didático de
apoio para o professor dar suas aulas.
Os livros didáticos são regulamentados e distribuídos pelo PNLD – Programa
Nacional do Livro Didático nas escolas de forma gratuita para serem utilizados pelos
estudantes durante o ano letivo. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi
criado em 1985 pelo Decreto 91.542, e existe até os dias atuais. O programa surge com
o objetivo de “[...] adquirir e distribuir, de forma universal e gratuita, livros didáticos
para todos os alunos das escolas públicas do Ensino fundamental brasileiro”
(MANTOVANI, 2009, p. 33).
Conforme o mesmo autor a partir do PNLD, os professores das escolas públicas
passaram a indicar os livros didáticos que usariam durante o ano letivo. Também
passou-se a produzir livros didáticos reutilizáveis, com materiais de melhor qualidade.
Entretanto, deve-se destacar que as indicações feitas pelos professores quanto a escolha
da coleção de livros didáticos que querem utilizar durante o livro didático não garante
que será aquele o livro didático enviado pela escolas, muitas vezes vem outra coleção
que não aquela escolhida, problema relatado durante o levantamento dos dados sobre os
livros didáticos junto as escolas.
Os estudos sobre a temática do livro didático vêm aumentando nos últimos
tempos e tem crescido o interesse de estudo por esse material que é amplamente aceito
nas unidades escolares, sendo trazidas muitas críticas sobre o material didático, dentre
elas cita-se o uso do material como “guia” das aulas como fonte do saber acabado, como
o ditador dos conteúdos a serem trabalhados. Algumas críticas tramitam inclusive na
possibilidade de excluí-lo das salas de aula para dar mais autonomia no processo de
ensino.
26
No caso específico do livro didático de Geografia, as principais críticas incidem
sobre a falta de objetivos dos mesmos em desenvolver a criticidade, o raciocínio lógico,
a sociabilidade e a criatividade dos estudantes, ao não problematizarem a sociedade
onde vivem e o papel social da escola. Apenas divulgam conhecimentos e apresentam
fatos da Geografia sem a preocupação de contribuir com a formação de cidadãos,
integrados criticamente com o meio. As partes do texto não dialogam, ficam
fragmentadas entre si, sendo tratadas de forma estanque. Não interagem, nem se
complementam.
Outro debate acerca dos livros didáticos gira em torno de serem os mesmos
adotados em escolas de todo o Brasil, ou seja, o livro didático utilizado, por exemplo,
em escolas da Região Sul pode ser o mesmo utilizado na Região Nordeste, não
abordando, assim, as realidades locais dos estudantes, mas apenas fatos gerais.
Um problema observado em trabalhos que problematizam os livros didáticos de
Geografia é a forma como os conteúdos são apresentados, sem fazer relações de um
capítulo com o outro, capítulos fechados. A Cartografia não é utilizada para trabalhar
com os conteúdos geográficos, os mapas servem apenas como ilustrações.
A partir dessa e outras carências dos livros didáticos, fica o desafio ao professor
de equaciona-las com o uso de outros materiais e metodologias de ensino. No entanto,
sabe-se que nem sempre isso se torna ou é possível, pois os baixos salários, o elevado
número de aulas que o professor pega para tentar aumentar a renda, a grande quantidade
de alunos por turma, as dificuldades nas condições de apoio ao trabalho docente (falta
de materiais, de boas bibliotecas, etc.) podem contribuem para fazer dos livros didáticos
verdadeiros “guias” das aulas (VESENTINI, 2008).
Dessa forma, compreende-se que as políticas ligadas aos livros didáticos devem
ser criteriosas ao avaliar os materiais, pois quando estão nos ambientes escolares podem
ser usados das formas mais diversas, como material de consulta, de apoio, como “guia”
para as aulas, ou também muitas vezes ignorados, descartando o seu potencial para o
ensino-aprendizagem.
A produção, distribuição e utilização de livros didáticos são compostos por
diferentes agentes: o Estado,que compra os livros e os distribui às escolas; as editoras,
que os produzem para o mercado visando lucratividade; e, os professores, que fazem
uso do material juntamente com os alunos, último elo da corrente. Por esse motivo
27
ocorrem tantas tensões: cada um dos elos possui um objetivo para o livro didático
(VESSENTINI, 2008).
O Estado possui a função de fiscalizar e comprar os livros didáticos; a escola é o
espaço onde se produz o conhecimento, baseando-se na sua maioria nos materiais
didáticos; o professor vincula esse saber através do saber da disciplina que leciona; e o
aluno é o elemento chave e o objetivo do processo (OLIVEIRA, 2010).
A utilização ou não dos livros didáticos nas aulas de Geografia também gera
conflito. Não se pode utilizar-se do mesmo como “guia” para as aulas, porém não se
pode ignorá-lo e achar que os problemas estão resolvidos, precisa-se encontrar um meio
termo, um equilíbrio. Sobre o assunto Vesentini (2008, p. 55) destaca:
A pergunta Deve o professor de geografia fazer uso do manual didático?
precisa ser relativizada. Não se trata apenas, e nem principalmente, do tipo de obra a ser utilizada, da escolha entre A, B ou C. Independentemente do manual adotado pelo professor (que até pode ser o "melhor" em termos de conteúdo e tratamento pedagógico de vocabulário, das questões propostas, da adequação aos ensinamentos da psicologia educacional, etc.), o que se constata na realidade é que o livro didático constitui um elo importante na corrente do discurso da competência: é o lugar do saber definido, pronto, acabado, correto e, dessa forma, fonte última de referência e contrapartida dos "erros" das experiências de vida. Ele acaba, assim, tomando a forma de critério do saber, fato que pode ser ilustrado pelo terrível cotidiano do "veja no livro", "estude, para a prova, da página x até a y", "procure no livro", etc. Entendido nesses termos, o livro didático, apesar de não ser como querem alguns o grande culpado pelo autoritarismo e pela precariedade no ensino, acaba consubstanciando a sua forma usual e institucionalizada com o saber "competente".
Segundo Katuta (2000) muitas vezes podem ser os livros didáticos e os autores
dos mesmos que acabam “escolhendo” os conteúdos a ser trabalhados nas aulas de
Geografia e isso reflete os vários problemas da má formação dos professores.
Assim, o problema dos livros didáticos não se resolve apenas com a escolha por
parte do professor da “melhor” obra que “melhor trabalha” com os conteúdos, mas o
uso que o professor vai fazer dele nas aulas de Geografia faz muita diferença. Então,
existe uma relação entre se fazer a “melhor” escolha do material, como também o
“melhor” uso do mesmo nas aulas.
Como aponta Vesentini (2008), o livro didático deve atender aos objetivos do
professor, da sua proposta de trabalho. No entanto, deve-se fazer um uso crítico do
28
mesmo, relativizando-o, confrontando-o com outros materiais como outros livros,
informações de revistas e jornais, com observações da realidade em que está inserida a
escola e os alunos. O livro didático pode ser encarado como um apoio ou complemento
para a prática pedagógica.
Nesse sentido, mesmo que se persista o questionamento sobre o uso do livro
didático como um instrumento de alienação nas aulas de Geografia, compreende-se que
o uso do mesmo deve ser como um instrumento de apoio à prática do professor, pois
toda obra didática traz sua concepção geográfica (SANTA CATARINA, 2010).
A ideia de o livro didático constituir apenas um apoio à prática pedagógica do
professor é bastante aceita e parece ser a mais “acertada”, entretanto não se pode
esquecer que na maioria das vezes o professor não tem muito tempo para preparar suas
aulas, para pesquisar diversos materiais, ou mesmo não tem acesso a eles, persistindo
assim o problema e destacando a relevância que o livro didático assume em tal contexto
para a promoção do ensino-aprendizagem.
O problema da “ditadura” dos livros didáticos nas aulas de Geografia é
configurado quando este acaba “determinando” os conteúdos a serem trabalhados na
escola. No ensino de Geografia isso não é diferente. De acordo com Katuta (2000),
assuntos importantes desta disciplina acabam não sendo trabalhados por não serem
abordados nos livros didáticos, caso dos conteúdos de orientação e localização
geográfica, que aparecem no início da maioria dos livros, porém em alguns podem não
ser abordados. O professor fica subordinado ao autor do livro didático na escolha dos
conteúdos e na forma como os mesmos vão ser ensinados.
Esse uso frequente do livro didático nas salas de aula levanta outras questões que
merecem ser mencionadas, como a falta de outros materiais de apoio à prática
pedagógica, a má formação dos professores, a insegurança. Enfim existem outros
problemas que podem estar relacionados com esse uso “exagerado” dos livros didáticos.
No processo de ensino-aprendizagem, precisa-se existir um equilíbrio no uso que
se faz do livro didático pelos professores e consequentemente pelos estudantes, ou seja,
o material didático deve servir para trabalhar alguns conteúdos, mas sem restringir os
temas ensinados aos existentes no livro didático. Este deve ser encarado como um meio
de consulta, tanto pelos professores como pelos estudantes, utilizando-se de outros
29
instrumentos e metodologias para que os demais instrumentos didáticos supram as
falhas apresentadas pelos compêndios escolares.
O livro didático se constitui um instrumento de apoio ao professor e um suporte
teórico e prático para o aluno, assim, é muito importante no processo de ensino-
aprendizagem, além da sua grande relevância pelo fato de apresentar os conteúdos
sistematizados (MANTOVANI, 2009).
Nesse sentido, destaca-se que a presença do livro nas salas de aulas continua
forte, sendo muito utilizado no processo de ensino-aprendizagem. Possui grande
importância em relação à Cartografia na Geografia, pois vincula os produtos
cartográficos que serão utilizados, ou que devem ser utilizados, para trabalhar e
compreender melhor os conteúdos geográficos.
Ao considerar a importância do livro didático deve-se levar em conta o uso que
se faz dele, assim se o material for empregado corretamente o resultado será positivo e
vice-versa, portanto precisa-se investir na qualidade do profissional que usará o livro
didático como ferramenta (MANTOVANI, 2009).
A importância em entender e debater a temática sobre o livro didático se justifica
pela relevância que o mesmo representa, pois ainda hoje, nas salas de aula brasileiras,
no processo de ensino-aprendizagem de Geografia, tais materiais seguem sendo o
principal recurso didático que norteia a prática pedagógica dos professores e a
aprendizagem dos estudantes.
Após apresentar as principais críticas e potencialidades dos livros didáticos é
preciso entender como ocorre à relação entre os conteúdos geográficos e a Cartografia,
que possui tanta importância para o ensino-aprendizagem de Geografia nos materiais
didáticos.
2.2. A CARTOGRAFIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA
A Cartografia encontra-se, em muitos casos, distante das aulas de Geografia,
distante do ensino da disciplina, porém, como foi abordado anteriormente, a mesma tem
grande importância para a educação geográfica. Nesta seção tem-se o objetivo de tratar
30
sobre a questão da Cartografia nos livros didáticos de Geografia, como a mesma aparece
nesses materiais didáticos, quais são as principais críticas levantadas, as potencialidades
que a mesma apresenta se trabalhada juntamente ou não com os conteúdos geográficos.
Algumas críticas levantadas os conhecimentos cartográficos presentes no em
livros didáticos versam sobre como avaliar o grau de desenvolvimento psicogenético do
educando, ou seja, sua capacidade de maior ou menor abstração. Por exemplo: não
adianta ensinar Cartografia na quinta série do ensino fundamental de forma dedutiva,
definindo e dando exemplo de escalas, mapas, entre outros, pois esse procedimento não
é adequado para a faixa etária dos estudantes.
Dessa forma, compreende-se que não bastam os materiais didáticos
apresentarem as representações cartográficas, mas essas precisam estar adequadas ao
nível cognitivo dos estudantes e aos objetivos previstos para a faixa etária, pois se no 6ª
ano os mapas devem ser menos complexos para facilitar a sua compreensão, não se
pode colocar mapas que exijam um poder de abstração maior daquele que o aluno
possui.
De acordo com pesquisa realizada por Pina (2009), ao avaliar algumas coleções
de livros didáticos de Geografia, as representações gráficas como mapa, bloco-
diagrama, maquete, gráfico, quadro, foto, imagem de satélite e radar, ficam restritas a
seções no término das unidades sem ser estabelecida uma relação direta com o tema que
é tratado na unidade do livro.
Assim, se constata um problema que vem sendo amplamente debatido sobre a
temática da Cartografia nos livros didáticos que são os conteúdos cartográficos isolados
no final das unidades, sem ligação com o capítulo, desperdiçando-se o grande potencial
que a linguagem cartográfica possui para a construção do conhecimento geográfico na
escola.
A pesquisa de Lima (2007) realizada no âmbito dos conteúdos cartográficos nos
livros didáticos de Geografia do Ensino Fundamental revela que os autores dos manuais
estão se preocupando com a presença e a inserção da Cartografia nos conteúdos
geográficos. Estes aparecem como temas principais em diversos volumes, e nos
sumários pode-se observar a relação estabelecida entre a Cartografia e o conteúdo a ser
trabalhado. Exemplos: “Mapeando a Terra” (5ª série); “O estudo do Brasil e de sua
31
população pelas linguagens gráfica e cartográfica” (6ª série); “A cartografia e o
continente americano” (7ª série).
Nota-se uma tendência variada na estruturação de capítulos encontrada nos
livros didáticos, pois alguns livros didáticos trazem a Cartografia isolada no final das
unidades e outros trazem a Cartografia integrada aos textos, contribuindo para a melhor
compreensão dos conteúdos geográficos.
Algumas críticas e possibilidades tecidas nesta pesquisa (LIMA, 2007) quanto a
Cartografia nos livros didáticos de Geografia circundam alguns pontos principais, como
o uso de mapas, esquemas, fotografias, etc., apenas com a função de dividir os textos,
sem serem explorados ao longo do capítulo. Ao trabalharem com os conteúdos, as
representações cartográficas aparecem, na maioria das vezes, desconectadas dos textos,
servindo apenas para dividir os textos, sendo que a sua função é bem mais ampla do que
isso, as ilustrações concentram informações e contribuem para o entendimento dos
conteúdos trabalhados.
Sobre a utilização de mapas, destaca-se que os mesmos possuem duas funções
diferentes, mas não excludentes. Têm-se os mapas de localização, que respondem às
perguntas “o que” e “onde”, e também os mapas temáticos, que possuem funções mais
complexas com informações quantitativas, ordenadas ou qualitativas, que respondem a
questões como o “que?”, “onde?”, “como?”, “quanto?”, “quando?” e “por quê?”, sendo
que não apenas descrevem, mas também explicam. Os mapas de localização aparecem
mais na 5ª série do ensino fundamental em detrimento dos mapas temáticos, e essa
distribuição vai se invertendo nas séries seguintes. Tal fato ocorre porque os níveis de
complexidade de leitura aumentam e exigem mais dos estudantes, chegando a mapas
únicos com diversas informações (LIMA, 2007).
Nas séries iniciais do ensino fundamental os alunos conseguem compreender
mais facilmente mapas com apenas uma informação e nas séries finais os mesmos
devem fazer a leitura de mapas com informações associadas (LIMA, 2007).
Outras críticas apresentadas nas bibliografias estudadas versam sobre aspectos
como o uso restrito dos mapas, apenas para localizar países e informações, e sobre a
grande concentração de informações em um único mapa, impossibilitando a sua
compreensão pelo aluno. Outro ponto destacado é a presença de símbolos pequenos,
que desestimulam o aluno a interessar-se pelo mapa.
32
Katuta (2000) observa que alguns livros didáticos trazem os conteúdos
cartográficos logo nos primeiros capítulos, porém são tratados de forma estanque, sendo
trabalhados em um capítulo exaustivamente e depois esquecidos, como, exemplo, com
os conteúdos de orientação e localização geográfica. Essas noções, habilidades e
conceitos são importantíssimos para a compreensão geográfica, então não devem ser
esquecidas e sim relacionadas.
Conforme comentado anteriormente, um grave problema presente em alguns
livros didáticos é quando se termina o capítulo, muitas vezes se “esquece” do assunto
tratado; vira-se a página e começa-se um novo assunto sem relacioná-lo com o capítulo
anterior. No caso dos conteúdos cartográficos, esse problema é mais grave, pois não
basta apenas trabalhar com os mesmos como um conteúdo específico de um tópico ou
unidade do livro, mas é preciso também relacioná-los com os demais. Esse é o papel da
Cartografia para a Geografia, a sua contribuição para a realização e compreensão de
análises geográficas.
O livro didático deve ser responsável pela apresentação dos conteúdos e
conceitos com qualidade de forma correta e adequada a cada nível de ensino. A
linguagem deve estar adequada, seus textos devem interagir com os mapas ou
ilustrações, complementando-os. Não devem ser isolados, sendo que esta deve ser uma
grande responsabilidade dos autores do mesmo, pois “[...] não basta um texto bom,
atualizado, se a diagramação não contribuir para a compreensão daquilo que se quer
ensinar” (PONTUSCHKA, PAGANELLI, CACETE, 2009, p. 340).
Nesse sentido, concorda-se que “Sem conseguir produzir a linguagem
cartográfica e fazer a leitura dos mapas, o conhecimento do aluno sobre o espaço fica
limitado” (COSTA; LIMA; CESÁRIO, 2007. p. 3). A Cartografia, através de seus
produtos cartográficos, contribui muito para a Geografia.
Observa-se uma maior presença de figuras e gravuras em detrimento de menos
mapas, plantas, tabelas e gráficos, nos livros didáticos de Geografia, portanto pode-se
entender que a Cartografia está presente nos livros didáticos, porém em números
percebe-se a inferioridade em que se encontram os mapas, lembrando que os mesmos
são o principal produto cartográfico e que tem muito a contribuir para a análise do
espaço geográfico.
Os livros didáticos trazem os conceitos acabados quando se refere à Cartografia,
33
sem permitir discutir e contrariá-los, assim os alunos somente devem receber e gravar as
informações (XAVIER, 2008). Outra crítica exposta pela literatura refere-se que os
conceitos de Cartografia aprecem nos livros didáticos como elementos externos e
ilustrativos, sem serem contextualizados ao conteúdo escolar, eles são meramente
ilustrativos e deveriam ser questionadores como os textos, abrangendo o cotidiano dos
alunos (XAVIER, 2008).
Existe um grande número de críticas quanto a Cartografia nos livros didáticos,
mostrando que os mesmos precisam ser melhorados, com maior rigor e qualidade para
que a Cartografia cumpra o seu papel na Geografia e o livro didático mereça o lugar de
destaque e importância que exerce na maioria das aulas de Geografia.
Assim, a percepção sobre a importância da presença da Cartografia nos livros
didáticos de Geografia vem se ampliando e se pode pensar que essa tendência se tornará
mais real e concreta ao longo dos anos. Porém, em meio a tantas críticas quanto a
Cartografia nos livros didáticos, também se observa elogios, destacando que na
atualidade é possível encontrar produtos cartográficos como mapas, cartas topográficas,
fotografias de satélites modernos e ricos em detalhes (XAVIER, 2008).
Essa popularização cada vez maior dos produtos cartográficos nos livros
didáticos representa um grande avanço, possibilitando o contato dos alunos com esses
recursos. Porém só a presença não basta, as representações cartográficas precisam estar
adequadas e com qualidade, possibilitando a comunicação cartográfica, para assim
cumprir o seu papel no ensino-aprendizagem de Geografia.
É de suma importância analisar como a Cartografia aparece nos livros didáticos
do espaço local, que estão mais próximos do cotidiano, isto é, realizar estudos de caso
sobre a realidade em que vivemos.
34
CAPÍTULO 3
OS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA NA REDE ESTADUAL DE
ENSINO EM CHPACÓ/SC
3.1 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
A metodologia deste trabalho foi organizada da seguinte forma. Primeiramente
fez-se um levantamento dos livros didáticos de Geografia utilizados pelos estudantes do
Ensino Fundamental (6º e 9º ano) e do Ensino Médio (1º ano) nas escolas da rede
estadual de ensino pertencente ao município de Chapecó – SC.
Para fazer este levantamento, realizou-se um contato com as escolas (diretores,
assessores, professores de Geografia) através de telefonemas, e-mail e, quando
necessário, visita in loco. Em seguida, escolheu-se as coleções utilizadas no maior
número de escolas, para se ter uma visão representativa quantitativamente abrangente
quando da realização da análise qualitativa dos livros. Foram selecionadas as três
coleções mais utilizadas pelas escolas estaduais no Ensino Fundamental (6º e 9º anos) e
outras três coleções mais encontradas no Ensino Médio.
A necessidade de fazer este levantamento se constitui na inexistência dos dados
sistematizados, sobre o uso dos livros didáticos nas escolas, assim para fazer a pesquisa
precisou-se fazer o levantamento e sistematizar os dados.
A escolha das respectivas séries se justifica a partir da presença dos conteúdos
de “Cartografia de Base” – ou seja, da Cartografia Sistemática – nas referidas séries,
que é o que preveem os currículos oficiais, e também, da importância de os alunos das
séries finais do Ensino Fundamental conseguirem interpretar os mapas e seus
fenômenos representados com o uso de informações cartográficas na abordagem dos
demais conteúdos geográficos.
Segundo a Proposta Curricular de Santa Catarina (2010), devem ser trabalhados
no 6ª ano os conteúdos cartográficos relacionados à alfabetização cartográfica, dentre
eles orientação espacial (meios de orientação), representação espacial (escala
cartográfica, representações cartográficas, projeções cartográficas), localização
geográfica e representação espacial (técnicas de produção de mapas: a tecnologia
35
moderna a serviço da cartografia). No 9º ano se trabalha com conhecimentos sobre os
grandes continentes, utilizando-se especialmente de mapas. Por fim, no 1ª ano do
Ensino Médio, deve-se trabalhar os conhecimentos cartográficos referentes à
representação espacial, meios de orientação, projeções cartográficas, escala cartográfica,
coordenadas geográficas, localização geográfica.
A definição dos conceitos e conteúdos cartográficos a serem analisados está
pautada e sendo orientada pela proposta curricular de Santa Catarina para o Ensino
Fundamental e Médio.
A análise dos conteúdos/conceitos cartográficos está organizada a partir dos
seguintes critérios:
a) As definições acerca da Cartografia apresentadas no livro didático estão
compatíveis com a literatura específica?
b) Traz exemplos compreensíveis conforme a faixa etária para a qual está
direcionada? Traz exercícios?
c) Os mapas e os outros materiais cartográficos contribuem para a compreensão
dos demais conhecimentos geográficos trabalhados na obra? Possibilitam a
comunicação cartográfica?
Por sua vez, os principais conceitos/conteúdos alvo de exame são:
- Meios de orientação;
- Localização geográfica;
- Escala cartográfica;
- Representação cartográfica;
- Projeções cartográficas;
Quanto à análise da qualidade e do contexto e disposição das informações
cartográficas e da comunicação cartográfica nos livros didáticos, pretende-se analisar os
mapas, que são o principal instrumento da Cartografia, importantíssimos para o ensino
da Geografia.
Começando a análise a partir dos elementos do mapa:
- Título: expressa com clareza do que trata a representação, de onde e de
que momento, isto é, responde às questões “O quê?”,“Onde?” e “Quando?”?;
36
- Legenda: expressa com clareza os símbolos, responde a questão
“Como?”?;
- Orientação: possui orientação, “Norte, Sul, Leste, Oeste”, rosa dos
ventos?;
- Escala: está presente nas formas “Gráfica e Numérica”, como uma barra
ou em forma de números acompanhando os mapas?;
- Fonte: possui fonte, esta correta, “Referência”?.
Os critérios e parâmetros que devem nortear a análise quanto à presença dos
mapas nos livros didáticos das referidas séries são: em que contexto se apresenta?
Cumprem sua função de integrar e complementar os textos? São somente utilizados
como ilustração? Possui linguagem adequada para a série em questão? As
características da legenda e da projeção cartográfica são adequadas à comunicabilidade
da informação geográfica? Possibilitam, enfim, a comunicação cartográfica?
Com este encaminhamento metodológico, analisou-se como a Cartografia vem
sendo abordada nos livros didáticos de Geografia mais utilizados no município de
Chapecó, como também a sua relação com os demais conteúdos geográficos,
destacando especialmente o uso e adequação dos mapas, que são os principais produtos
cartográficos nos materiais didáticos, particularmente nos livros didáticos de 6ª e 9ª ano
do Ensino Fundamental e 1ª ano do Ensino Médio.
A presença ou não da Cartografia nesses materiais didáticos será o ponto de
partida da análise, ou seja, o primeiro aspecto a ser observado é se a Cartografia se faz
ou não presente nos livros. Após essa primeira constatação, serão tecidas considerações
sobre os conteúdos e conceitos cartográficos, como são apresentados, adequação,
coerência, entre outros aspectos.
Em seguida, será feita uma análise dos mapas como principais produtos
cartográficos, que uso é feito deles nos livros didáticos, sua utilização pela Geografia, se
são completos, possibilitando a comunicação cartográfica.
Esses são os principais parâmetros e critérios que serão utilizados durante a
realização da pesquisa empírica para avaliar a Cartografia nos livros didáticos e a sua
utilização como instrumento nos demais conteúdos da Geografia escolar, pois se a
simbologia e a representação estão adequadas e eficientes, é possível uma comunicação
37
cartográfica mais eficiente, com o usuário sendo mais capaz de interpretar corretamente
o mapa e compreender a sua informação.
Destaca-se que são critérios levados em conta pelos avaliadores do Programa
Nacional do Livro Didático - PNLD para a análise de livros de Geografia: se o material
didático apresenta mapas, gráficos e tabelas fazendo uso da linguagem cartográfica, se
as informações geográficas se localizam de forma correta no espaço e no tempo, e
também se ocorre uma articulação entre as diferentes escalas geográficas (PNLD,
2012).
Nesse sentido, a partir da identificação, seleção e apresentação dos livros
didáticos será realizada a análise das coleções, de acordo os procedimentos de análise
apresentados anteriormente acordando com o Guia do Livro Didático de Geografia 2014
para o Ensino Fundamental e o Guia do Livro Didático de Geografia 2012 para o
Ensino Médio, como também a investigação detalhada dos mapas principal produto
cartográfico presentes nos livros didáticos.
3.2 COLEÇÕES DIDÁTICAS UTIZADAS NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE
CHAPECÓ
Os quadros 1 e 2, exibidos a seguir, elencam as coleções didáticas utilizadas
pelas escolas da Rede Estadual de Ensino de Chapecó e aprovadas pelo PNLD 2014.
Título Autor(es) Editora Projeto Telaris José Willian Vesentini e Vânia Vlach Ática Projeto Velear
Eustáquio de Sene e João Carlos Moreira
Scipione
Projeto Araribá Fernando Carlo Vedovate Moderna Mundo da Geografia Ygor Morreira Positivo
Projeto Radix - Raiz do Conhecimento Valquíria e Beluce Scipione Expedições Geográficas Melhen Adas e Sérgio Adas Moderna
Jornadas.Geo Marcelo Moraes Paula e Angela Rama Saraiva Observatório de Geografia
Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva
e Raul Borges Guimarães Moderna
Geografia: Uma Leitura de Mundo Sonia Castellar e Valter Maestro FTD
Fonte: levantamento realizado pela autora junto a escolas da Rede Estadual de Chapecó (2014).
Quadro 1: Coleções didáticas de Geografia utilizadas no Ensino Fundamental nas escolas da rede estadual de ensino de Chapecó
38
Título: Autor (es): Editora: Coleção Ser Protagonista Ricardo Gonçalves Barreto SM
Território e sociedade no mundo globalizado Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco, Claudio
Mendonça
Saraiva
Geografia - Fronteira da globalização Lucia Marina e Tércio Ática Geografia o mundo em transição José Willian Vesentini Ática Geografia geral e do Brasil – Espaço
geográfico e globalização Eustáquio de Sene e João Carlos
Moreira Scipione
Projeto Radix - (1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio)
Não informado Scipione
Coleção Áreas do Conhecimento - Geografia Alice de Martini e Rogata Soares Del Gaudio
IBEP
Fonte: levantamento realizado pela autora junto a escolas da Rede Estadual de Chapecó (2014).
Quadro 2: Coleções didáticas de Geografia utilizadas no Ensino Médio nas escolas da rede
estadual de ensino de Chapecó – SC
Por sua vez, o quadro a seguir indica as escolas estaduais em que os referidos
livros são utilizados.
Coleção didática Escola Projeto Telaris - Geografia o espaço natural e a ação humana - José Willian Vesentini e Vânia Vlach - editora Ática.
- Pedro Maciel - Bom Pastor - Tancredo de Almeida Neves - Geni Comel - Druziana Sartori - Jacob Gisi - Prof Sonia de Oliveira Zani
Projeto Velear - Eustáquio de Sene/ João Carlos Moreira - Editora Scipione.
- Prof Nelson Horostecki - Coronel Lara Ribas - Professora Lourdes Ângela Sarturi Lago - Saad Antônio Sarquis
Projeto Araribá - Fernando Carlo Vedovate - Editora Moderna .
- Irene Stonoga - Antonio Morandini - Marechal Bormann - Prof Lidia Glustack Remus - Linha Campinas
Mundo da Geografia - Ygor Morreira – Editora Positivo.
- Valesca Carmem Rescke Parizotto
Projeto Radix - Valquíria e Beluce - Editora Scipione.
- Coronel Ernesto Bertaso - Prof Zélia Scharf - Luiza Santin - São Francisco - Prof Clelia Seganfredo Bodanese
Expedições geográficas – Melhen Adas e Sérgio Adas – Editora Moderna.
- Sede Figueira
Jornadas.geo de: Marcelo Moraes Paula e Angela Rama - Editora Saraiva.
- Alecio Alexandre Cella
Observatório de Geografia - Regina Araújo, Angêla Correa da Silva e Raul Borges Guimarães - Editora Moderna.
- Marcolina Rodrigues da silva
Geografia: Uma Leitura de Mundo – Sônia - Neiva Maria Andreatta Costella
39
Castellar; Valter Maestro - FTD.
Fonte: levantamento realizado pela autora junto a escolas da Rede Estadual de Chapecó (2014).
Quadro 3: Coleções didáticas de Geografia da Rede Estadual de Ensino e as escolas que as
utilizam no Ensino Fundamental.
No Ensino Fundamental as coleções mais utilizadas são:
“Projeto Teláris: Geografia o espaço natural e a ação humana”, de autoria de
José Willian Vesentini e Vânia Vlach, utilizada em 7 escolas;
“Projeto Araribá”, de Fernando Carlo Vedovate, utilizada em 5 escolas; e,
“Projeto Radix - Raiz do Conhecimento, de Valquíria Pires Garcia e Beluce
Bellucci utilizada também em 5 escolas.
Coleção Ser Protagonista - Ricardo Gonçalves Barreto - Editora SM.
- Pedro Maciel
Território e sociedade no mundo globalizado – Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco, Claudio Mendonça - Editora Saraiva.
- Prof Nelson Horostecki - Bom Pastor - Coronel Ernesto Bertaso
Geografia - Fronteira da globalização - Lucia Marina e Tércio - Editora Ática.
- Saad Antônio Sarquis - Tancredo de Almeida Neves - Druziana Sartori - Luiza Santin - São Francisco - Prof Lidia Glustack Remus - Valesca Carmem Rescke Parizotto - Marechal Bormann
Geografia o mundo em transição - José WilianVesentini – Editora Ática.
- Coronel Lara Ribas - Professora Lourdes Angela Sarturi Lago
Geografia geral e do Brasil - Eustáquio de Sene e João Carlos Moreira - Editora Scipione.
- Geni Comel - Antonio Morandini - Marcolina Rodrigues da Silva
Projeto Radix - Editora Scipione (1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio)
- Irene Stonoga
Editora IBEP, Geografia Geral – Alice de Martini e Rogata Soares Del Gaudio
- Prof Zélia Scharf
Fonte: levantamento realizado pela autora junto a escolas da Rede Estadual de Chapecó (2014).
Quadro 4: Coleções didáticas de Geografia da Rede Estadual de Ensino e as escolas que as
utilizam no Ensino Médio
Por sua vez, no Ensino Médio as coleções mais utilizadas são:
40
“Geografia - Fronteira da globalização, de autoria de Lucia Marina e Tércio,
utilizado em 8 escolas;
“Geografia geral e do Brasil, de autoria de Eustáquio de Sene e João Carlos
Moreira, utilizado em 3 escolas; e
“Território e sociedade no mundo globalizado, de autoria de Elian Alabi Lucci,
Anselmo Lazaro Branco e Claudio Mendonça, utilizado também em 3 escolas.
No próximo capítulo serão apresentadas as coleções didáticas selecionadas e
realizada a análise das mesmas, seguindo os procedimentos e critérios de análise já
anteriormente citados.
CAPITULO 4
41
ANÁLISE DOS CONHECIMENTOS CARTOGRÁFICOS PRESENTES NOS
LIVROS DIDÁTICOS
4. 1. APRESENTAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS
Nesta seção serão apresentados os livros didáticos que vão compor a análise a
seguir. Primeiramente serão apresentadas as três obras do sexto ano, em seguida as três
obras do nono ano, ambos do Ensino Fundamental e, por último, as três obras do
primeiro ano do Ensino Médio.
4.1.1. Livros didáticos de Geografia do sexto ano do Ensino Fundamental
O primeiro livro didático apresentado será o Projeto Teláris – Geografia – o
espaço natural e a ação humana, 6ª ano do Ensino Fundamental dos autores José
Willian Vesentini e Vânia Vlach, da editora Ática. O livro didático possui 4 unidades e
15 capítulos no total, com 112 páginas.
Unidade 1: O Espaço Geográfico e Suas Representações
Unidade 2: Conhecendo o Planeta Terra
Unidade 3: Litosfera, Atmosfera e Hidrosfera
Unidade 4: Biosfera e Sustentabilidade
O livro didático de Geografia do Projeto Araribá organizado pela Editora
Moderna com o editor responsável Fernando Carlo Vedovate do 6ª ano do Ensino
Fundamental, PNLD 2014, 2015 e 2016, está organizado em 8 unidades, cada uma com
4 temas, possui 215 páginas, com as referências bibliográficas, no final de cada unidade
tem Atividades, Representações gráficas e Compreender um texto.
Unidade 1: A Geografia e a compreensão do mundo
Unidade 2: O Planeta Terra
Unidade 3: Os continentes, as ilhas e os oceanos
42
Unidade 4: Relevo e Hidrografia
Unidade 5: Clima e vegetação
Unidade 6: O campo e a cidade
Unidade 7: Extrativismo e agropecuária
Unidade 8: Indústria, comércio e prestação de serviços
O Projeto Radix – raiz do conhecimento, das autoras Valquíria e Beluce da
Editora Scipione, PNLD 2014, 2015 e 2016 do 6ª ano do Ensino Fundamental, está
organizado em 8 módulos, com 216 páginas.
Módulo 1: O nosso lugar e os outros lugares;
Módulo 2: Os lugares e suas paisagens;
Módulo 3: As paisagens e as relações entre seus elementos: o relevo e a
hidrografia;
Módulo 4: As paisagens e as relações entre seus elementos: o clima e a
sociedade;
Módulo 5: Os lugares e as paisagens no tempo da sociedade;
Módulo 6: Os lugares e as paisagens no tempo da natureza;
Módulo 7: O espaço geográfico: sociedade e natureza;
Módulo 8: A natureza, seus recursos e os problemas ambientais.
4.1.2. Livros didáticos de Geografia do nono ano do Ensino Fundamental
Começaremos pelo Projeto Teláris – Geografia – Países do norte e o panorama
do século XXI, dos autores José Willian Vesentini e Vânia Vlach da editora Ática,
possui 4 unidades com 16 capítulos no total, tendo 128 páginas.
Unidade 1: Europa e CEI
Unidade 2: América Anglo-saxônica, Japão e Oceania
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Unidade 3: Desigualdades Internacionais
Unidade 4: Globalização, Nova Ordem e Cenário do Século XXI
O Projeto Araribá organizado pela editora Moderna e pelo Editor responsável
Fernando Carlo Vedovate, PNLD 2014, 2015 e 2016, do 9ª ano do Ensino Fundamental
está organizado em 8 unidades, cada unidade com 4 temas cada, mais as referências
bibliográficas contendo 240 páginas no total. Sendo que no final de cada unidade tem
Atividades, Representações gráficas e Compreender um texto.
Unidade 1: Países e Conflitos Mundiais
Unidade 2: Globalização e Organizações Mundiais
Unidade 3: O Continente Europeu
Unidade 4: Leste Europeu e CEI
Unidade 5: O Continente Asiático
Unidade 6: Ásia: Destaques Regionais
Unidade 7: O Continente Africano
Unidade 8: Oceania e Regiões Polares
O Projeto Radix – raiz do conhecimento do 9ª ano do Ensino Fundamental é das
autoras Valquíria e Beluce, editora Scipione, Programa Nacional do Livro Didático -
PNLD de 2014-2016. A obra possui 8 módulos, com 264 páginas.
Módulo 1: Espaço geográfico e globalização
Módulo 2: Fluxos, redes e rumos da globalização
Módulo 3: Globalização e regionalização no mundo atual
Módulo 4: Territórios e geopolítica
Módulo 5: Europa
Módulo 6: África
Módulo 7: Ásia
44
Módulo 8: Oceania e regiões polares
4.1.3. Livros didáticos de Geografia do primeiro ano do Ensino Médio
Apresentando os livros didáticos de Geografia do Ensino Médio escolhidos para
fazer a análise. Começaremos pela obra didática titulada Fronteira da globalização – O
mundo natural e o espaço humanizado – Geografia volume 1, de autoria de Lucia
Marina e Tércio da editora Ática, PNLD 2012, 2013 e 2014. O livro didático possui 7
unidades e 25 capítulos, com 328 páginas, incluindo no final do mesmo Significado das
siglas; Referências bibliográficas e índice Remissivo.
Unidade 1: A Evolução da Ciência Geográfica e os Principais Conceitos
da Geografia
Unidade 2: O Espaço Geográfico: Localização, Tempo e Representação
Unidade 3: O Espaço Natural: a dinâmica da natureza
Unidade 4: O Espaço Natural: Paisagens Naturais do Mundo
Unidade 5: O Espaço Humanizado: População e Urbanização
Unidade 6: O Espaço Humanizado: Estado – Nação - Território e
Conflitos.
Unidade 7: O Espaço Modificado: a Questão Ambiental
O livro didático Geografia Geral e do Brasil - Espaço geográfico e globalização
– volume 1, dos autores Eustáquio de Sene e João Carlos Moreira da editora Scipione,
PNLD 2012, 2013 e 2014, está organizado em 2 unidades contendo 12 capítulos no
total, com 248 páginas. No final do livro encontram-se testes e questões; glossário;
sugestões de leituras complementares; bibliografia; respostas dos testes do Enem e dos
vestibulares.
Unidade 1: Fundamentos de Cartografia
Unidade 2: Geografia Física e Meio Ambiente
O livro didático de Geografia Território e Sociedade no mundo globalizado,
volume 1, de Elian Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Branco e Cláudio Mendonça, editora
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Saraiva, PNLD 2012, 2013 e 2014, possui 5 unidades com 14 capítulos no total e 304
páginas, incluindo questões de Enem e vestibulares; caderno de mapas; dicionário
geográfico e bibliografia.
Unidade 1: Era da Informação e Sistemas de Informações Geográficas
Unidade 2: Estrutura, formas e dinâmica da Terra e as Atividades
Humanas
Unidade 3: Dinâmica Climática
Unidade 4: As Águas do Planeta
Unidade 5: Natureza, Sociedade e Ambiente
4.2. ANÁLISE DA CARTOGRAFIA NOS LIVROS DIDÁTICOS SELECIONADOS
A análise dos livros didáticos de Geografia seguirá a ordem dos anos. Assim,
primeiramente serão analisados os livros didáticos do 6ª ano, depois os do 9ª ano,
ambos do Ensino Fundamental e, por último, os livros didáticos do 1ª ano do Ensino
Médio.
A partir da análise dos livros didáticos espera-se, ou melhor, seria desejável,
constatar que os materiais didáticos apresentam os conhecimentos da Cartografia de
base, e as representações cartográficas especialmente os mapas de forma adequada e
presente em todas as séries, como também mapas ao longo de todos os capítulos.
4.2.1. Análise da Cartografia nos livros didáticos de Geografia do Ensino Fundamental
Projeto Teláris– 6ª ano
A presença da Cartografia no livro didático de Geografia Projeto Teláris do 6ª
ano quanto aos conteúdos referentes à “Cartografia de Base”, ou seja, Cartografia
Sistemática aparece na primeira unidade do material didático, Unidade 1: O espaço
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geográfico e suas representações, Capítulo 3: Orientação; Capítulo 4: Localização e o
Capítulo 5: Representação: os mapas.
No terceiro capítulo, explica-se sobre os polos e os hemisférios, deixando claro
que o mapa mundi com o Norte acima e o Sul abaixo é apenas uma tradição e não seria
errado se os mapas estivessem ao contrário, com o Sul em cima e o Norte em baixo
(Figura 3).
Segundo Fitz (2008), “Essas indicações (norte “para cima”, sul “para baixo”) são
simplesmente convenções e podem ser alteradas pelo usuário” (p. 35). Essa é uma
questão bem importante de ser apresentada aos estudantes, pois por estarmos
acostumados com os mapas indicando o sul para “baixo” e o norte para “cima”, os
estudantes ao verem um mapa “ao contrário” vão considerá-lo como errado.
Figura 3: Mapa mundi com o norte para “cima” e mapa com o sul para "cima".
Extraído deVesentini e Vlach (2012, p. 34).
Sobre orientação o livro didático expõe:
Se tomarmos o nascer do Sol como ponto de referência e olharmos na direção do polo norte, atrás de nós estará o polo sul. À nossa direita, estará o leste (ou este ou nascente), onde o Sol desponta todas as manhãs. À nossa esquerda, estará o oeste (ou poente ou ocidente), onde o Sol desaparece fins de tarde (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 36).
47
O método de orientação através do sol é o mais antigo que se tem conhecimento
e baseia-se que ao estender nossa mão direita para onde o sol nasce encontra-se a
direção leste, o braço esquerdo estendido na direção oposta é o oeste, na nossa frente
fica o norte e nas nossas costas o sul (FITZ, 2008). Esse método, apesar de bastante
antigo, ainda possui grande importância ao se trabalhar com orientação, sendo muito
importante apresentá-lo nos livros didáticos de 6ª ano.
No quarto capítulo é tratado sobre localização, as coordenadas geográficas:
Para sabermos a localização exata de qualquer lugar utilizamos as coordenadas geográficas. As coordenadas geográficas baseiam-se em linhas imaginárias traçadas sobre o globo terrestre, chamadas de paralelos e meridianos (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 45-46).
Segundo Joly (1990), qualquer ponto da superfície terrestre pode ser definido
com relação ao sistema de referências fixas que se chamam coordenadas terrestres ou
coordenadas geográficas. As coordenadas geográficas se constituem em um conteúdo
muito importante de ser trabalhado no 6ª ano por vários motivos, entre eles pode-se citar
que é importante para compreender a nossa localização, para entender a posição dos
objetos nos mapas apresentados no livro didático, pois os mesmos terão coordenadas,
entre outros.
Para fechar o capítulo, é abordado sobre Sistema de Posicionamento Global, o
GPS (do inglês, Global Positioning System), explicando a sua importância e o seu uso
no cotidiano, nos automóveis para localizar-se nas ruas da cidade, do país, etc. O
assunto é tratado em uma página do livro didático, de forma resumida, poderia ser mais
detalhado, porém explica sobre sua invenção, como também sua importância na época e
nos dias atuais e trás exemplos de seu uso no cotidiano, como meio de localização,
orientação e navegação, para caros, ciclistas, balonistas, entre outros.
Trabalhar com os conteúdos apresentando-os na realidade dos estudantes
contribui para um melhor entendimento do assunto que está sendo tratado, explicar seu
uso e importância no cotidiano traz mais sentido em estudá-lo.
No quinto capítulo é tratado sobre Representação: os mapas. É trazida uma
importante constatação sobre mapas e a Geografia:
48
Você já reparou que a maioria dos estudos de Geografia vem acompanhado por mapas? Isso acontece porque o mapa é uma forma de representação do espaço geográfico, sendo assim um instrumento indispensável para a Geografia (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 57).
Define-se no livro didático mapa como:
[...] a representação em superfície plana, como uma folha de papel, e em escala reduzida de um espaço qualquer. Ele pode representar um terreno, um bairro, município, país, continente, etc. (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 57).
Segundo Joly (1990), “Um mapa é uma representação geométrica plana,
simplificada e convencional, do todo ou de parte da superfície terrestre, numa relação de
similitude conveniente denominada escala” (p. 7). Entende-se que a definição trazida
pelo livro didático confere com a definição apresentada na literatura específica, os
mapas se constituem em representações planas da superfície terrestre, sendo importante
definir uma representação gráfica muito presente no material didático.
Quanto a ler mapas, o referido livro didático destaca que:
Ler um mapa é interpretar e compreender as informações que ele contém. Saber fazer a leitura de mapas é uma forma de conhecer o espaço geográfico, de se orientar, perceber distâncias, localizar elementos e as relações entre eles, entender a organização espacial de uma cidade, de um país ou do mundo e tirar conclusões sobre diferentes aspectos desses espaços (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 59).
No mapa, a informação é transmitida a partir de uma linguagem cartográfica
utilizando-se de um sistema de signos, redução e projeção, assim, ler mapas representa
ter o domínio desse sistema semiótico, ou seja, dominar essa linguagem cartográfica
(ALMEIDA; PASSINI, 1992). A definição trazida pelo livro didático é coerente com a
definição apresentada pela literatura, é a partir da decodificação dos símbolos que é
possível compreender o mapa, ou lê-lo, porém os estudantes devem ser preparados para
essa ação.
Após isso,é abordado as convenções cartográficas, onde é definida “[...] a
Cartografia é a arte ou ciência de elaborar mapas” (VESENTINI; VLACH, 2012, p. 60).
Para Joly (1990), a Cartografia “é a arte de conceber, de levantar, de redigir e de
divulgar os mapas” (p. 7). Percebe-se coerência entre o conceito trazido pelo livro
didático com a literatura específica. Definir a Cartografia é interessante, pois explica
qual é a ciência que está por traz da confecção e produção de mapas.
49
Na sequência, aborda-se sobre legenda, orientação e escala de um mapa, essa
última definida como “[...] uma proporção matemática, uma relação numérica entre as
distâncias no mapa e na realidade que ele representa” (p. 61). O livro explica escala
gráfica e numérica, escala grande/pequena, traz exemplo de escala a partir de um mapa
da América do Sul – Político. Para Joly (1990), escala pode ser definida como “a
relação existente entre o mapa e o terreno” (p. 9).
Observa-se que o conceito apresentado no livro didático está de acordo com o
conceito apresentado pela literatura científica. É importante apresentar os principais
elementos do mapa, para que os alunos compreendam que eles não estão “aí” por acaso,
possuem uma função para propiciar a compreensão do mapa. Porém, não se aborda
sobre a fonte, que também se constitui um dos principais elementos do mapa.
Em seguida, é tratado sobre os diferentes tipos de mapas, que depende do que
eles representam. Os mapas podem ser políticos, mapas físicos ou hipsométricos, mapas
climáticos, mapas demográficos, cartogramas, mapas históricos, mapas mentais, mapas
digitais, entre outros.
Para finalizar o capítulo, aborda-se sobre fazer a leitura de um tipo de mapa. O
processo de ler mapas inicia-se pela leitura e observação do título, para saber qual é o
espaço que está sendo representado, quais as informações e limites trazidos pelo mapa.
Em seguida, deve-se observar os significantes e os significados dos signos presentes na
legenda e no mapa como um todo. Após isso, deve-se dar atenção para a escala, para
calcular e compreender quantas vezes o espaço real foi reduzido, para ser feto sua
representação (ALMEIDA; PASSINI, 1992).
O livro de Vesentini e Vlach orienta o processo de leitura de mapas trazendo um
mapa sobre as distribuições das indústrias no território brasileiro e vai explicando os
passos que devem ser seguidos para se ler um mapa (Figura 4). Observa-se que na
figura, os autores representam por meio de apenas um ponto a distribuição de indústrias
nos Estados (área), e não por densidade de pontos. Está é uma representação confusa,
pois não mostra a distribuição dentro dos estados. Poder-se-ia, por exemplo, usar um
mapa de cores, pintando os estados com as mesmas cores dos pontos, que são
apresentadas na legenda.
Compreende-se que trabalhar com a leitura e compreensão de mapas é muito
importante para que os alunos, possam lê-los e assim entender o que estão
50
representando, aliando o conteúdo dos mapas aos conteúdos dos textos nos demais
capítulos do livro didático, porém os mapas devem ser precisos.
Figura 4: Fazendo a leitura de um tipo de mapa.
Extraído deVesentini e Vlach (2012, p. 66).
Sobre a presença de atividades dos conteúdos cartográficos apresentados,
destaca-se que no final de cada capítulo tem uma seção “Para fechar o capítulo” com
atividades sobre os conteúdos trabalhados. Inclusive nos capítulos tratados sobre os
conteúdos da Cartografia e nos demais sobre os outros conteúdos da Geografia tem-se a
presença de mapas nas atividades propostas. Os mapas são muito importantes para a
Geografia, portanto é recomendável que os mesmos estejam presentes nas atividades
propostas.
51
Quanto à presença de mapas no livro didático, observou-se ao longo das
unidades que os mapas estão presentes e completos, contendo na sua maioria os
principais elementos como título, legenda, orientação, escala e fonte, como também
adequados.
Para que os mapas possam ser vistos como um meio de comunicação, é preciso
uma base de conhecimento sobre a Cartografia, ou seja, sobre a linguagem cartográfica,
como também se necessita que os mesmos estejam completos e coerentes. No referido
material didático, se trabalha com os conteúdos cartográficos e apresenta mapas na sua
grande maioria completos, assim é possível utilizar-se dos mesmos como um meio de
comunicação.
[...] ao elaborar um documento cartográfico, deve-se levar em consideração, a condição do usuário, pois, a comunicação a partir da Cartografia deve ser visto como um processo monossêmico de transmissão da informação onde o emissor e o receptor, são os atores da ação e juntos devem visar o mesmo objetivo: a compreensão das relações que se estabelecem entre os signos (RODRIGUES; SOUZA, 2008, p. 75).
Os mapas da obra didática possibilitam a comunicação cartográfica, ou seja, eles
“comunicam” as informações representadas, permitindo que através das representações
conheça-se o espaço real que foi representado no mapa.
O uso que se faz dos mapas no livro didático em questão são os mais diversos,
desde mapas apenas como ilustração, como também mapas ligados aos textos,
dialogando com os textos, possibilitando uma compreensão maior dos conteúdos, como
também o uso de mapas para localizar os fenômenos.
Projeto Araribá- 6ª ano
A presença da Cartografia no livro didático de Geografia Projeto Araribá do 6ª
ano quanto aos conteúdos da Cartografia de Base aparece no início do livro, na primeira
unidade – A Geografia e a compreensão do mundo, tema 3 – Orientação no espaço
geográfico e segue no tema 4 - Localização no espaço geográfico.
O tema 3, orientação no espaço geográfico traz a orientação a partir do sol
destacando que:
Observando o Sol, o ser humano percebeu que esse as astro surge (ao amanhecer) e desaparece (ao anoitecer) aproximadamente nas mesmas direções todos os dias. Com base nessa observação, foi determinado um
52
conjunto de pontos de orientação, chamados pontos cardeais: leste, oeste, norte e sul (VEDOVATE, 2010, p. 27).
Em seguida, aborda-se a orientação através da bússola explicando que a agulha
imantada sempre aponta para o norte, atraída pelo polo magnético da Terra. Também
trata sobre os modernos instrumentos de orientação, como os radares, rádios, sistemas
de GPS, discutindo as novas tecnologias (VEDOVATE, 2010). É muito importante
trabalhar com o método de orientação através do sol com os alunos do 6ª ano, como
também com a orientação a partir da bússola, para eles aprendam como se orientar no
espaço geográfico através pontos cardeais.
O tema 4 trata sobre a localização no espaço geográfico, destacando que ao
cruzar um paralelo (latitude) com um meridiano (longitude), “O cruzamento ou
encontro dessas linhas determina uma coordenada geográfica que nos permite localizar
com exatidão um ponto na superfície terrestre” (p. 31). Ao confrontar o conceito
apresentado no livro didático com o conceito trazido pela literatura observa-se que o
mesmo é apresentado de forma coerente.
O autor expõe que os paralelos e meridianos são linhas imaginárias traçadas
sobre mapas e globos, explica que o ponto em que ambas se cruzam determina uma
coordenada geográfica, trazendo o exemplo de um mapa com pontos sobre o
cruzamento de paralelos e meridianos, cada ponto tem uma letra do alfabeto, se pede
que os alunos indiquem as coordenadas geográficas dos pontos representados,
destacando que o mapa traz exposto a latitude de 20° á 20° graus e a longitude de 30°
em 30° graus e os pontos estão localizados em cima do encontro entre os paralelos e os
meridianos, permitindo que através da observação e entendimento sobre paralelo e
meridiano seja possível encontrar as respostas.
É importante trabalhar com as coordenadas geográficas para o aluno
compreender como são localizados os lugares nos mapas.
Quanto às atividades sobre os temas estudados, situam-se no final da unidade em
duas páginas, trazendo atividades sobre os paralelos e meridianos com o mapa mundi,
atividades sobre orientação com o mapa do Brasil, atividades sobre os conceitos
estudados, atividades que estimulam o aluno a se localizar na sala de aula, entre outras.
Nas demais unidades pode-se observar que as atividades se utilizam de mapas para a sua
resolução, como também se faz o uso de imagens, destacando que os mapas continuam
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presentes nas atividades dos demais capítulos que não tratam sobre Cartografia
Sistemática.
É importante apresentar as representações gráficas, especialmente os mapas para
auxiliar a resolução das atividades propostas, principalmente porque o recurso é
utilizado ao longo das demais unidades, não somente das que tratam sobre a
Cartografia.
No final de cada unidade o programa desenvolve um tipo específico de
representação gráfica em duas páginas, explicando o que é, como é feito, como é
utilizado e também traz atividades para os alunos praticarem a leitura, análise e
aplicação dos conhecimentos desenvolvidos na seção.
Na primeira unidade onde trata sobre a Cartografia Sistemática, a seção
“Representações Gráficas” trata sobre as Representações do espaço geográfico,
destacando o que são croqui, planta, carta, mapa, bloco-diagrama, maquete e
infográfico, trazendo exemplos e atividades para os alunos praticarem. Define-se mapa
como:
Representação do espaço geográfico visto de cima. Trata-se de uma representação plana e reduzida dos aspectos naturais e artificiais de toda a superfície terrestre (planisfério ou mapa-múndi) ou de uma superfície definida por uma unidade político-administrativa (país, estado etc.) ou por uma divisão temática (bacias hidrográficas, áreas de proteção ambiental etc.) (VEDOVATE, 2010. p. 34).
Comparando o conceito de mapa apresentado no livro didático com o conceito
exposto na literatura específica percebe-se que o mesmo é apresentado de forma
coerente.
Na Unidade 3 – “Os continentes, as ilhas e os oceanos”, a seção “Representações
gráficas” aborda os elementos do mapa, trazendo um mapa com título, legenda, escala,
orientação, coordenadas geográficas e fonte, explicando o que são cada um dos
elementos e também ensinando como se ler um mapa (figura 5). Em um mapa, a
informação é transmitida a partir de uma linguagem cartográfica utilizando-se de um
sistema de signos, redução e projeção, assim ler mapas representa ter o domínio desse
sistema semiótico, ou seja, dominar essa linguagem cartográfica (ALMEIDA;
PASSINI, 1992). Portanto é importante que o livro didático prepare o aluno para ler os
mapas, já que a representação cartográfica é muito presente nos materiais didáticos, se
constituindo no mais importante instrumento cartográfico.
54
Figura 5: Elementos do mapa.
Extraído de VEDOVATE (2010, p. 86-87).
Na Unidade 4 – Relevo e hidrografia, a seção “Representações gráficas” aborda
sobre principais tipos de mapas, que são classificados em mapa político, mapa físico,
mapa temático, traz exemplos e definição de cada um deles.
Existem vários tipos de mapas entre eles os mapas temáticos, que tem por
objetivo fornecer “[...] uma representação convencional dos fenômenos localizáveis de
qualquer natureza e de suas correlações” (JOLY, 1990, p. 62). É importante abordar que
os mapas possuem classificações, ou seja, os mapas não são todos iguais, existem
mapas para representar os diferentes interesses.
55
Na Unidade 5 – Clima e vegetação, a seção “Representações gráficas” trata
sobre escala, definindo-a como “a relação entre as dimensões dos elementos
representados no mapa e as correspondentes dimensões reais no terreno” (VEDOVATE,
2010, p. 136). O conceito trazido pelo livro didático está coerente com a bibliografia
sobre o tema. Sendo de extrema importância explicar sobre escala para que os alunos
possam compreender como lugares com grandes extensões são representados de forma
reduzida, sendo necessária, portanto, a generalização e classificação de objetos e sua
simbolização para “caber” numa escala específica.
Na Unidade 8 – Indústria, comércio e prestação de serviços, a seção de
representações gráficas trata sobre “A linguagem dos mapas”, destacando que para
construir um mapa é preciso conhecer regras básicas de sua linguagem, traz exemplos
de mapas, e um quadro com a explicação de como representar graficamente relações
entre objetos. Para Joly (1990), “[...] a execução dos mapas deve observar um mínimo
de regras para torná-los, ao mesmo tempo, fáceis de compreender e úteis para explorar”
(p. 95). Apresentar sobre as regras que existem para a execução dos mapas se torna
relevante para os alunos, pois após serão eles que vão “fazer” seus próprios mapas e
deverão seguir as regras, que podem ser observadas na figura 6, extraída do livro
didático.
56
Figura 6: A linguagem dos mapas.
Extraído de VEDOVATE (2010, p. 208-209).
57
Quanto à presença de mapas no livro didático em análise, considera-se positiva,
ou seja, ao analisa-lo notou-se uma grande presença de mapas ao longo das unidades.
Na sua grande maioria estão integrados aos textos, servindo para localizar e representar
os fenômenos. Estão adequados, contendo os principais elementos do mapa como título,
legenda, orientação, escala e fonte, entretanto a subutilização dos mapas ainda continua
presente no livro didático, com mapas servindo apenas para ilustrar e menos para
explicar os assuntos tratados nos textos.
Projeto Radix – raiz do conhecimento - 6ª ano
O Projeto Radix – raiz do conhecimento de Geografia do 6ª ano, não traz
capítulos sobre os conteúdos de Cartografia de base. A Cartografia aparece em seções
no meio ou no final das unidades definidas como “Olhar Geográfico – Cartografia”,
entretanto nem todas as unidades possuem essa seção.
Na Unidade 1 – O nosso lugar e os outros lugares encontram-se duas daquelas
seções, Na primeira, que trata sobre construção e análise de tabelas e gráficos, é
proposto um trabalho onde os alunos podem conhecer o lugar onde vivem e aprender a
fazer tabelas e gráficos a partir das informações. Os alunos respondem a questão se a
escola localiza-se no mesmo bairro da sua casa, no bairro vizinho ou em um bairro
distante. Após quantifica-se as respostas dos alunos no quadro pelo professor, faz-se a
tabela com as respostas e depois organiza as informações em um gráfico.
Trabalhar com o cotidiano do estudante possibilita com que os mesmos se
integrem aos conteúdos realizem as atividades e produzam conhecimento. Partir da
realidade para explicar conteúdos é de grande relevância para a Geografia, pois propicia
que os alunos compreendam sua realidade e após vão confrontando com realidades mais
distantes, refletindo sobre o mundo. Segundo Almeida e Passini (1992), o trabalho de
orientação, localização e representação deve ser realizado partindo do espaço próximo
para o distante, relacionando as duas instâncias.
Na segunda seção “Olhar Geográfico – Cartografia” da unidade é abordado
sobre os caminhos do nosso dia-a-dia, explica como nos orientar e nos localizar
corretamente nos percursos que realizamos. Para essa atividade é trazido o exemplo de
uma menina que usa pontos de referência para chegar até a escola. Explicar os métodos
58
de orientação e localização através do cotidiano possibilita o estudo desses conceitos e
faz com que os mesmos criem um mapa mental do percurso.
Na Unidade 2 – Os lugares e suas paisagens encontram-se uma seção sobre “As
paisagens e os mapas”. A partir de uma fotografia aérea é feito sua representação em
uma folha com legenda utilizando as cores e as formas representadas, mostrando um
exemplo de como um mapa pode ser confeccionado (figura 7). Após explica-se sobre as
convenções cartográficas, representando-as em um quadro.
Figura 7: Exemplo de confecção de um mapa a partir de uma fotografia aérea.
Extraído de GARCIA; BELLUCCI (2012, p. 54-55).
Para a construção de um mapa necessita-se de informações que vem
principalmente de duas fontes, “[...] documentos cartográficos (fotografias aéreas,
imagens de satélite, radar, etc.) e estatísticas – fontes secundárias, e levantamento de
campo – fontes primárias (ROSA, 2004, p. 47). Explicar sobre a confecção de um mapa
a partir de uma fotografia aérea, possibilita que o aluno também construa seus próprios
mapas, trabalhando com as convenções cartográficas.
59
Na Unidade 3 – As paisagens e as relações entre seus elementos: o relevo e a
hidrografia faz uma breve relação entre “Os elementos das paisagens e os mapas”. Traz
o exemplo de um mapa altimétrico através de uma imagem explicando como as
representações cartográficas ajudam a conhecer melhor os elementos que compõem as
paisagens e as relações que ocorrem entre eles. Após, traz o exemplo de um mapa
altimétrico do Brasil explicando que através da análise de um mapa é possível
identificar várias relações entre o relevo e os rios da região. Entretanto não é usado os
produtos altimétricos na discussão sobre o relevo no capítulo, fica restrito apenas a
seção no final.
Segundo Lima (2007), comparar os mapas com as fotografias dos lugares nas
obras didáticas faz com que se compreenda melhor os fenômenos e as discussões sobre
os mesmos, até porque muitos lugares apresentados nos livros didáticos são
desconhecidos dos alunos, como também fortalece a visão do mapa como uma
representação do espaço real.
Não é trazida uma definição específica para mapas ao longo do livro didático,
dessa forma destaca-se que:
Existem diferentes tipos de mapas. alguns deles podem apresentar características e elementos naturais de um lugar, como mapas de vegetação, [...]. Existem ainda outros mapas que são elaborados para representar as características humanas ou culturais de um determinado lugar (GARCIA; BELLUCCI, 2012, p. 67).
A citação apresentada no livro didático busca esclarecer que os mapas não são
todos iguais, cada um é utilizado para representar um fenômeno mais específico.
Na Unidade 5: Os lugares e as paisagens no tempo da sociedade encontra-se uma
seção Olhar Geográfico – Cartografia abordando sobre “Os lugares vistos de perto e de
longe”. Esta seção explica a relação da escala, mostrando uma série de imagens as
primeiras são bem próximas em uma escala maior e assim vão ficando mais distantes
em uma escala menor. No livro didático, define-se que “A função da escala é indicar á
qual medida cada centímetro de imagem corresponde na realidade” (GARCIA;
BELLUCCI, 2012, p. 122). Dessa forma, o conceito trazido pelo livro didático confere
com o conceito científico.
Na Unidade 7 - O espaço geográfico: sociedade natureza encontra-se uma seção
que dispõe sobre a evolução das técnicas cartográficas e a representação do espaço
terrestre. A partir das novas tecnologias emergiu “[...] uma Cartografia, mais dinâmica,
60
flexível, multidimensional e interativa, na qual a manipulação dos dados espaciais
promoverá consistentes mudanças nessa ciência” (MARTINELLI, 2010, p. 214). As
novas tecnologias, sem dúvida, contribuíram muito para nós, ou seja, a partir delas
podemos conversar com as pessoas mesmo estando distante, através de celulares,
internet, entre outros meios. Para a Cartografia, as novas tecnologias também
contribuíram para torná-la mais dinâmica, interativa, para facilitar a confecção de seus
produtos, entre outros.
Sobre o assunto o livro didático trata sobre a evolução e a importância das
técnicas cartográficas para representar o espaço terrestre trazendo exemplos de mapas
antigos e comparando com mapas atuais confeccionados através de imagens de satélite,
explicando as mudanças nas técnicas cartográficas, a partir dos avanços tecnológicos.
Na Unidade 8 - A natureza, seus recursos e os problemas ambientais, encontram-
se uma seção que aborda sobre os gráficos na leitura geográfica, explicando que os
gráficos são utilizados com frequência nos estudos geográficos.
O livro traz diversos mapas intercalados com textos, para representar, localizar
os fenômenos, como também para complementar os textos, sendo que na sua grande
maioria os mapas apresentam os principais elementos, como título, legenda, orientação,
fonte, escala. Na grande parte dos mapas é proposto questionamentos sobre os mesmos
como pode ser observado na figura 8 (abaixo).
61
Figura 8: Mapa com questionamento.
Extraído de GARCIA ; BELLUCCI (2012, p. 87).
Quanto à presença de atividades utilizando-se da Cartografia destaca-se que o
material traz atividades onde o aluno deve fazer o seu próprio percurso até a escola
utilizando-se de pontos de referência, atividades onde os alunos devem escolher uma
paisagem e a partir dela fazer um croqui, utiliza-se dos mapas que estão ao longo do
62
capítulo para responder atividades propostas, destacando que duas atividades trazem
mapas nas perguntas para utilizar na resolução das questões, as demais se utilizam na
sua maioria de imagens.
O livro didático é bem ilustrativo, trazendo diversos mapas, porém a quantidade
de mapas é bem inferior que a quantidade de imagens presente no material. Usa-se
muitas imagens em detrimento de poucos mapas.
Em pesquisa realizada por Lima (2007) com livros didáticos, observa-se que a
presença de mapas em detrimento dos demais elementos visuais não é uniforme, pois
enquanto há 1,5 elementos visuais por página da obra didática analisada, a presença de
mapas é de um (1) mapa a cada três páginas, assim o mapa que é considerado o
documento mais importante para a Geografia não é tão presente quanto os demais
elementos visuais nos livros didáticos de Geografia.
Os mapas possuem um grande potencial como um meio de transmitir
informações sobre o especo real, como um meio de comunicação, o mesmo contribui
para uma melhor compreensão dos fenômenos geográficos. Porém para que isso possa
ocorrer os mapas precisam estar completos e adequados, ou seja, precisam apresentar
seus principais elementos, como também um sistema de símbolos compatíveis com os
conhecimentos dos usuários. Destaca-se que, apesar de não serem muitos, a maioria dos
mapas trazidos pelo livro didático são completos e adequados, possibilitando a
comunicação cartográfica.
Outro ponto a ser destacado sobre a Cartografia no material didático é a falta de
capítulos que tratassem sobre os conteúdos cartográficos ao longo das unidades. Nota-se
que ao contrário das coleções anteriores, o Projeto Radix não disponibiliza capítulos do
livro didático para trabalhar os conteúdos cartográficos, como orientação e localização
geográfica, entre outros, os conteúdos cartográficos ficam restritos as seções definidas
como “Olhar Geográfico – Cartografia”. As seções apresentadas no livro didático são
importantes, porém a Cartografia não pode ficar restrita em seções deve ser trabalhada
ao longo do capítulo, fazendo relações e contribuindo para os estudos geográficos.
Ressalva-se que as seções definidas como “Olhar Geográfico – Cartografia”
distribuídas ao longo da publicação tratam de maneira coerente e adequada os conteúdos
cartográficos, principalmente ao propor aos alunos a prática, como é o exemplo de
propor que os alunos escolham uma paisagem e a partir dela façam uma croqui.
63
Projeto Teláris– 9ª ano
O livro didático Projeto Teláris do 9ª ano não traz conteúdos referentes à
“Cartografia de Base” ou Cartografia Sistemática, porém esse não é o foco de análise
nos livros da série em questão.
A escolha do livro didático da respectiva série se deu para analisar os produtos
cartográficos – especialmente os mapas, se presentes ou não no material, avaliando a
presença de seus elementos principais como título, legenda, orientação, escala e fonte,
possibilitando a comunicação cartográfica, como também o seu contexto e disposição-
se são utilizados no trato com os conteúdos geográficos ou servem apenas como uma
ilustração.
Sobre a presença de mapas no material didático, observou-se que os mesmos
estão presentes e dispostos ao longo das unidades, são apresentados contendo seus
elementos principais, título, legenda, orientação, escala e fonte. É importante que os
mapas contenham seus principais elementos, para que assim possa ocorrer a
comunicação cartográfica, pois ao entendê-los como um meio de comunicação das
informações representadas é necessário que esses tragam os signos e os significados na
legenda de forma correta, possibilitando a comunicação das informações.
Posto em termos da discussão teórica, o que ocorre em relação à comunicação cartográfica, enquanto conhecimento sistematizado, é que, em dado momento, ela é entendida e proposta, a priori, como um instrumento, a ser utilizado pela sociedade. Instrumento capaz de levar a eficientização do mapa no processo de comunicação manifestando-se a nítida pretensão de objetividade e neutralidade do ato de comunicação (GOMES ET al, 2012, p. 6).
Alguns mapas presentes no livro didático estão dispostos a fim de contribuir
para a compreensão dos textos, ou seja, estão cumprindo o seu papel, busca-se integrá-
los aos textos chamando a atenção para a importância dos mapas e o que eles estão
representando, possibilitando uma melhor compreensão dos conteúdos geográficos.
Quanto à presença de atividades que se utilizem de mapas, destaca-se que o
material apresenta atividades que exigem a observação de mapas presentes ao longo dos
capítulos, como também atividades que trazem mapas para serem analisados juntamente
a perguntas.
64
Enfim, de maneira geral o livro didático se utiliza de mapas ao longo de seus
capítulos no trabalho com os conteúdos geográficos, para representar e completar os
assuntos trabalhados, contribuindo para uma melhor compreensão, dessa forma ocorre
um bom uso dos mapas na obra.
Projeto Araribá – 9ª ano
Nos livros didáticos de 9ª ano, o principal objetivo é analisar os mapas presentes
e a sua relação com os conteúdos geográficos. No livro didático em questão observou-se
que o mesmo mantém as páginas especiais definidas como “Representações gráficas”,
presentes na obra didática de 6ª ano da editora. Dessa forma, além de analisar os mapas
também serão tecidos comentários sobre as seções de representações gráficas referentes
à Cartografia presentes na coleção.
Quanto às páginas especiais definidas como “Representações gráficas” presentes
no final de cada unidade, a primeira trata sobre Mapa histórico, traz o exemplo de um
mapa sobre a segunda Guerra Mundial e explica o que é mapa histórico, destacando que
a unidade trata sobre os Países e conflitos mundiais, concordando assim a seção com o
conteúdo abordado na unidade, unindo a Cartografia aos conteúdos geográficos.
A segunda daquelas seções trata sobre as projeções cartográficas, trazendo as
diversas projeções cartográficas existentes, explicando que a Cartografia tem como
desafio representar numa superfície plana os elementos que existem numa superfície
curva que é nosso planeta, destacando que a representação nunca será fiel a realidade, e
apresentando imperfeições e distorções. Portanto, é preciso observar qual projeção
cartográfica é mais apropriada àquilo que se deseja ressaltar (VEDOVATE, 2010).
Sobre o exposto, Matias (1996) destaca que mesmo que o mapa seja construído
de forma correta, ou seja, conforme as regras da Semiologia Gráfica, não deve se
esquecer de que o mesmo é apenas uma abstração da realidade devendo ser encarado
dessa forma.
Essa seção se destaca como importante e adequada por apresentar as diferentes
projeções cartográficas, que é um conhecimento que pode facilitar a compreensão dos
alunos quanto às representações da superfície da Terra. Durante as unidades aparecem
diferentes representações da superfície terrestre, utilizando-se diferentes projeções. Por
exemplo, uma é utilizada para representar o continente europeu, outra para a Antártida,
65
etc. Nesse sentido as projeções cartográficas transportam, “do modo mais fiel possível,
os pontos notáveis da superfície da Terra para os mapas” (FITZ, 2008, p. 43).
Na terceira unidade do livro, as páginas especiais “Representações gráficas”
abordam sobre sensoriamento remoto e imagem de satélite, explicando o que é
sensoriamento remoto e como são os sensores. Dentro da mesma seção, a página
seguinte traz uma imagem de satélite colorida e explica como interpretá-la e como dessa
interpretação fazer mapas temáticos, do uso da terra, ocupação urbana, entre outros
(Figura 9), não explicando ou definido o que é mapa temático.
Figura 9: Imagem de satélite e mapa do uso da terra a partir da interpretação da imagem.
Extraído de VEDOVATE (2010, p. 92-93).
É importante que se apresente as novas tecnologias à serviço da Cartografia, ou
seja, como as novas tecnologias contribuem para uma melhor utilização dos produtos
cartográficos. Começa-se por uma abordagem mais simples apresentando os elementos
dos mapas e seus principais tipos evoluindo até chegar à leitura de mapas complexos, de
imagens de satélites, entre outros como também o estudo das projeções cartográficas
(PNLD 2014).
66
Na quinta unidade, as páginas especiais abordam sobre o imagemaneot por
radar, trazendo o exemplo de uma imagem de radar de Katmandu, capital no Nepal em
2000. Explicam o que é radar e como interpretar a imagem registratada pelo radar, e
trazem também uma imagem do satélite Ikonos da mesma cidade em 2002, para
comparar as diferenças, observe na figura 10 (abaixo).
Figura 10: Comparação de uma imagem registrada por um radar e uma imagem de satélite, da capital do
Nepal em 2000 á esquerda e em 2002 á direita.
Extraído de VEDOVATE (2010, p. 142-143).
Comparar diferentes tecnologias é importante para mostrar as diferenças de seus
produtos e os diferentes usos que podem ser feitos dos mesmos para reconhecimento e
análise do território. Ou seja, optar pelo uso de uma imagem de satélite ou pelo uso de
uma imagem de radar depende do que você está pretendendo evidenciar e estudar.
No final da sexta unidade, que trabalha com a “Ásia: destaques regionais”, as
páginas especiais de representações gráficas tratam sobre mapa analítico e mapa de
síntese. Explicam o que é mapa analítico e mapa de síntese, como se constrói e trazem
exemplos.
Segundo Martinelli (2010), nos mapas de síntese deve-se “identificar
agrupamentos de lugares caracterizados por agrupamentos de atributos ou variáveis” (p.
67
216). Para Lima (2007), mapas analíticos só representam “[...] a extensão e repartição
de um fenômeno, além de mostrar sua exata localização” (p. 158).
A sétima unidade traz nas páginas especiais um exemplo de mapa hipsométrico
da África que é o conteúdo da unidade e explica como se constrói. A seção possibilita
uma maior compreensão sobre o que é um mapa hipsométrico ou que representa o
relevo e também uma maior compreensão sobre o relevo africano, ressaltando que em
uma visão do todo nas demais unidades também se observa a presença de mapas
representando o relevo. Nesse sentido, observa-se que a seção uniu a representação
gráfica, ou seja, um mapa do relevo africano explicando-o, aos conteúdos sobre a África
que são abordados ao longo do capítulo, assim integrou-se a Cartografia aos conteúdos
geográficos.
Na oitava e ultima unidade do livro didático, as páginas especiais tratam sobre
novas tecnologias, a cartografia na era digital e o GPS. Explica o que é GPS, sua
utilização, traz imagem do sistema GPS, do aparelho GPS e o exemplo da planta de uma
fazenda realizada com o uso do GPS, através do levantamento topográfico. Também
destacando que na cartografia digital a representação do relevo pode ser feita a partir de
um Modelo Digital do Terreno (MDT) (Figura 11).
68
Figura 11: Modelo Digital do Terreno (MDT).
Extraído de VEDOVATE F. C. (2010, p. 170-171).
Para Rosa (2004), o surgimento de novos processos tecnológicos evoluiu os
métodos para produzir os mapas, como também para atualizar a Cartografia, “[...]
principalmente na área de informática com o mapeamento digital, a utilização de
Sistemas de Posicionamento Global (GPS), tratamento digital de imagens e Sistemas de
Informação Geográfica (SIG’s)” (p. 68).
Neste âmbito, abordar sobre as novas geotecnologias em materiais didáticos
utilizados na educação básica é importante, pois trata da Cartografia na era digital em
que vivemos, como também explica sobre um aparelho que tem seu uso difundido na
atualidade principalmente na navegação de automóveis, monitoramento de carros em
movimento, entre outros, trazendo exemplos do cotidiano para as aulas de Geografia.
Ao analisar as seções representações gráficas presentes no final das unidades,
percebe-se que as mesmas articulam os conteúdos geográficos com a Cartografia, ou
seja, apresentam algumas representações gráficas e cartográficas trabalhando conteúdos
da Geografia.
69
Quanto à análise dos mapas propriamente ditos destaca-se que os mesmos estão
presentes em grande número no livro didático como um todo, são completos, ou seja,
apresentam os elementos principais de um mapa, como título, legenda, orientação,
escala.
Para que exista uma comunicação cartográfica os mapas precisam estar
completos e adequados e os alunos precisam compreender a mensagem que o mesmo
está querendo comunicar através de seus símbolos e signos. Assim, os mapas da coleção
estando completos, com os signos e significados na legenda adequados, favorecem o
processo de comunicação cartográfica.
Quanto ao seu uso no livro, se destaca que os mesmos são utilizados
principalmente para localizar os fenômenos, continentes, países, conflitos, etc.,
representar os fenômenos principalmente os ligados a parte física, ou seja, representar o
relevo, a hidrografia, o clima, etc., mas também encontram-se mapas conectados aos
textos.
Os mapas presentes no livro didático possibilitam a espacialização dos
fenômenos, porém poderiam dialogar mais com os textos, fazendo um movimento de ler
o texto olhar o mapa e vice-versa, pois às vezes da forma como estão dispostos parece
que é apenas uma ilustração, não deixando claro a sua função e importância para a
Geografia, ou seja, a sua relevância ao trabalhar com os conteúdos geográficos.
Sobre atividades envolvendo a Cartografia destaca-se que o material propõem
atividades que envolvem a Cartografia em todas as seções Representações Gráficas que
tratam sobre o tema. Nas demais atividades propostas pelo livro didático ao longo das
unidades, observou-se que ocorre uma grande presença de mapas para serem analisados
e assim responder as perguntas, ou seja, o livro didático traz um grande número de
atividades em que ocorre a presença de Cartografia, principalmente a partir dos mapas.
Projeto Radix 9ª ano
O livro Projeto Radix do 9ª ano do Ensino Fundamental será analisado também
sob a perspectiva de reconhecer a presença ou não dos mapas ao trabalhar com os
conteúdos geográficos como também o contexto e a disposição de apresentação dos
mapas. Sobre a presença de conteúdos ligados diretamente a Cartografia Sistemática se
o livro apresentar serão analisados.
70
O livro didático do 9ª ano, assim como o livro do 6ª ano analisado
anteriormente, traz a seção “Olhar Geográfico – Cartografia”, destinada ao trabalho com
a Cartografia, ou seja, utiliza-se da Cartografia para olhar de forma geográfica os fatos
que ocorrem no mundo.
O Módulo 2 - Fluxos, redes e rumos da globalização, possui uma seção que trata
sobre da representação espacial dos fluxos de mercadorias, utilizando-se de uma
representação espacial, um planisfério, para localizar os países, para representar os
fluxos e facilitar a compreensão do tema (Figura 12). Mostra como integrar a Geografia
à Cartografia para trabalhar com os conteúdos geográficos, pois ao longo do texto vai
explicando o assunto e também o mapa, assim o mapa complementa o texto e vice-
versa.
71
Figura 12: Mapa que integra a Cartografia á Geografia.
Extraído de GARCIA; BELLUCCI (2012, p. 41).
No Módulo 3 - Globalização e regionalização no mundo atual, a seção “Olhar
Geográfico – Cartografia” trata sobre “A representação da superfície terrestre:
planisférios e globo terrestre”. Nessa seção, destaca-se que a superfície terrestre é
72
representada em planisférios, por exemplo, mapa mundi, ou em globos terrestres ou
geográficos.
Apresentar as diferentes formas de representação da superfície da Terra
possibilita que os alunos compreendam que não existe uma única representação, e que
nenhuma está “errada”, pois depende do uso que se faz dela. Assim, para determinadas
situações usa-se o globo e em outras usa-se os mapas.
No Módulo 4- Territórios e geopolítica, a seção “Olhar Geográfico –
Cartografia” trata das “Projeções cartográficas – diferentes maneiras de representar o
mundo e seus territórios”. As projeções cartográficas foram construídas cada uma a
partir de um interesse, um objetivo, seu uso deve ocorrer da mesma forma.
Nesse sentido o livro didático traz a explicação e o exemplo dos principais tipos
de projeções explicando como as mesmas foram criadas, trazendo o exemplo de países
representados através da projeção de Mercator e comparando ao país representado a
partir da projeção de Peters, exemplificando as distorções de cada uma delas, trazendo
também atividades sobre projeções. Assim pode-se dizer que referente ao conteúdo
projeções cartográficas é bem trabalhado na obra.
Essas são as seções referentes à Cartografia presentes no livro didático,
destacando que em todas as seções são propostas atividades para serem desenvolvidas
sobre o tema trabalhado, possibilitando a prática e a reflexão dos mesmos, através de
uma integração entre a Cartografia e a Geografia.
Quanto à presença dos mapas no material didático, avalia-se como positiva, pois
o material traz um grande número de mapas ao longo dos módulos. Os mapas se
apresentam com os seus elementos principais, contendo título, legenda, orientação,
escala e fonte. Observou-se que os mesmos estão ligados aos textos, ou seja, a maioria
dos mapas é citada antes ou após no texto, destacando a importância de analisá-lo para
melhor compreender o assunto trabalhado.
Os recursos didáticos possuem o intuito de desenvolver competências no âmbito
da Geografia, como por exemplo, a interpretação de mapas. Assim, em relação à
Coleção Radix, concorda-se com a análise presente no Guia de livros didáticos do
PNLD 2014 no sentido de que as ilustrações presentes na coleção Radix, além de
diversificadas, não estão lá somente para ilustrar os temas, como também tem o objetivo
de problematizar, para que a partir das informações seja possível analisar e interpretar
73
os fenômenos geográficos que são representados, possibilitando que os estudantes
produzam seus próprios conhecimentos, como também que desenvolvam habilidades,
procedimentos e competências (PNLD, 2014).
Notou-se também que após os mapas são propostos algumas questões ou
questionamentos para os alunos sobre o mapa, ou seja, sobre o fenômeno que o mapa
representa, possibilita-se aos alunos a reflexão sobre os temas representados pelos
mapas. Entretanto não são todos os mapas da coleção que são trabalhados dessa forma.
Considera-se que os mapas presentes no livro didático estão completos, ou seja,
contendo os elementos principais do mapa, título, legenda, orientação, escala e fonte.
Também se observa uma tentativa de integrar os mapas aos textos, fazendo com que os
mesmos cumpram seu papel, não sendo somente ilustrações.
Portanto possibilitam o processo de comunicação cartográfica. Assim ao
observá-los entendem-se as informações que o mesmo quer comunicar, possibilitando
uma melhor compreensão da realidade representada, potencializando a importância dos
mapas nos livros didáticos.
4.3.2. Análise da Cartografia nos livros didáticos de Geografia do Ensino Médio
Geografia - Fronteira da globalização 1ª ano
O livro didático Geografia – Fronteira da globalização do 1ª ano do Ensino
Médio traz os conteúdos da Cartografia de Base na Unidade 2: O espaço geográfico:
localização, tempo e representação que está dividida em quatro capítulos: Capítulo 4 - A
localização no espaço geográfico; Capítulo 5 - A medida do tempo no espaço
geográfico; Capítulo 6 - A representação do espaço geográfico: a construção de mapas;
e o Capítulo 7 - A representação do espaço geográfico: linguagem cartográfica e leitura
de mapas.
O capítulo quatro trata sobre a localização, define-se no livro didático que:
As direções indicadas pelos pontos cardeais (leste, oeste, norte e sul) estão baseadas no movimento aparente do Sol, desde que ele desponta ao amanhecer até desaparecer no horizonte. Entre cada par de pontos cardeais,
74
ficam os pontos colaterais e entre esses, os subcolaterais. Todos esses pontos estão representados na rosa dos ventos (ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 47).
A rosa dos ventos é usada para representar graficamente a orientação, “[...] a
orientação norte-sul é considerada sobre qualquer meridiano e a orientação leste-oeste,
sobre qualquer paralelo. Para orientar-se, consideram-se os pontos cardeais, colaterais e
subcolaterais” (ROSA, 2004, p. 26).
É importante apresentar os diferentes meios de orientação, através do sol, da
bússola, entre outros, para refrescar os conteúdos que já foram trabalhados no 6ª ano
aprimorando-os, tornando-os mais complexos.
Após, é trabalhado no livro didático sobre as coordenadas geográficas,
destacando que:
Qualquer ponto da superfície terrestre pode ser localizado com exatidão com o auxílio das coordenadas terrestres horizontais. Para isso, traçamos um conjunto de linhas imaginárias sobre mapas e globos que representam a Terra. Essas linhas, chamadas paralelos e meridianos, se cruzam formando um sistema de coordenadas geográficas: a latitude, medida nos paralelos, e a longitude, medida nos meridianos (ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 49).
O conceito apresentado no livro didático confere com o conceito trazido pela
literatura específica. É conveniente explicar que as coordenadas geográficas, ou seja, os
paralelos e meridianos não são algo concreto que você pode ir lá e tocar, são linhas
imaginárias criadas para possibilitar a representação da Terra e localização dos países.
Em seguida, é abordado sobre GPS, trazendo o exemplo da rede de satélites
usados no posicionamento via satélite, explicando o seu uso no cotidiano,
principalmente pela população em geral nos automóveis, como também trabalhando
com os paralelos e a latitude, os meridianos e a longitude, exemplificando-os em
globos.
O sistema de navegação GPS mais usado no Brasil vem dos EUA e foi
produzido para fins militares, porém foi amplamente distribuído pelo mundo, os seus
usos vem sendo para diversos fins, como para navegação, métricos, submétricos e
geodésicos (FITZ, 2008). Nesse sentido, apresentar que a criação dos aparelhos de GPS
foi exclusivamente para fins militares e hoje são muito utilizados pela sociedade civil
possibilita a reflexão sobre o uso de tecnologias no cotidiano e na geografia, ligando-a a
realidade.
75
O livro didático trata sobre o uso das novas tecnologias no cotidiano, trazendo o
exemplo de uma pessoa que mora em São Paulo e se comunica com outra que mora no
maranhão, também traz o exemplo do uso do GPS para a segurança, através de
acessórios que contém o aparelho.
No quinto capítulo, sobre a medida do tempo no espaço geográfico, é abordado
sobre os movimentos da Terra e os fusos horários O livro traz um mapa mundi
representando os fusos horários do mundo. No livro didático define-se:
“Ao girar, a Terra expõe ao Sol a esfera terrestre, que tem 360° de circunferência. Considerando que o nosso planeta leva 24 horas para realizar seu movimento de rotação, veremos que, a cada hora, o Sol ilumina uma faixa de 15° na superfície terrestre (360°: 24= 15°). Essas faixas são chamadas de fusos horários” (ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 54).
É importante, ao se trabalhar com fusos horários, explicar como os mesmos
foram definidos, a partir de quais perímetros e explicar a importância que a
compreensão dos mesmos pode facilitar a vida das pessoas, principalmente as que
viajam para outros países, ou que se comunicam com pessoas de outros fusos horários.
O sexto capítulo dispõe que para elaborar ou interpretar um mapa se faz uso da
Cartografia, definida como “[...] ciência e arte que se ocupa da elaboração e da leitura
de formas de representação de espaço geográfico, como mapas, as plantas e as cartas”
(ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 60).
No livro didático, é abordado que a escala foi criada para resolver o problema de
“como reproduzir áreas muito extensas em tamanho reduzido” (ALMEIDA; RIGOLIN,
2010, p. 60) ao fazer os mapas. Para Rosa (2004), “A escala é uma proporção
matemática, ou seja, uma relação numérica entre o mapa e a realidade que ele
representa” (p. 29). A abordagem dada ao conceito no material didático é adequada à
abordagem trazida na literatura. O estudo da escala é muito importante, pois é a partir
de sua compreensão que é possível entender como os mapas representam em espaços
pequenos grandes áreas.
Após isso, é abordado sobre as projeções cartográficas, destacando que
“A rede de paralelos e meridianos sobre a qual desenhamos um mapa constitui o que
chamamos de projeção cartográfica. Sua aplicação envolve conceitos matemáticos e
geométricos” (ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 61).
76
O livro apresenta as principais projeções cartográficas, as projeções cilíndricas
(Projeção de Mercator, Projeção de Peters), projeções cônicas (Projeção de Lambert),
projeções azimutais (oblíqua, polar e equatorial), explicando cada uma delas, quem
criou, com qual objetivo, para que servem.
Abordar sobre as projeções cartográficas traz para a reflexão como é possível
representar a Terra de várias maneiras, sem estar errado, é preciso que os alunos
compreendam que as projeções foram criadas a partir de um objetivo, ou seja, cada uma
tem a sua finalidade, assim ao observá-las ao longo do livro didático vão saber entendê-
las.
Para finalizar o capítulo, o livro didático aborda sobre a Cartografia e a
tecnologia, comentando sobre geoprocessamento, fotogrametria, mapeamento digital,
sensoriamento remoto e Sistema de Posicionamento Global (GPS). Define-se
sensoriamento remoto como “O conjunto de técnicas que permitem obter informações
sobre a superfície terrestre através de sensores instalados em satélites artificiais”
(ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 65). O livro traz exemplos de produtos produzidos
através da Cartografia moderna e tecnológica, observe a figura 13 abaixo.
Figura 13: Exemplos de produtos produzidos através da Cartografia moderna e tecnológica, Imagem
digital em três dimensões (3D) e Imagem de Satélite.
Extraído de ALMEIDA; RIGOLIN. (2010, p. 75 e p. 64-65).
77
O livro didático traz produtos do sensoriamento ao longo dos capítulos, sendo
utilizados junto aos textos e nas atividades propostas, porém em pequeno número.
O sétimo capítulo dispõe sobre a representação do espaço geográfico: linguagem
cartográfica e leitura de mapas começa-se abordando os tipos de mapas ou cartas,
destacando que “Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
“[...] mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por elementos físicos ou político-administrativos, destinada aos mais variados usos – temáticos, culturais e ilustrativos (ALMEIDA; RIGOLIN, 2010, p. 67).
Para finalizar o capítulo, é exposto sobre escala do mapa, gráfica e numérica,
sobre orientação, sobre legenda e símbolos usados nos mapas.
Sobre a presença de atividades dos conteúdos abordados, destaca-se que no final
de cada capítulo são propostas atividades sobre os conteúdos trabalhados, definidas
como “Questões para reflexão”. No final da unidade tem-se a seção “Concluindo a
unidade” com questões do Enem e vestibulares que tratam sobre conteúdos
cartográficos. Sendo que nas seções de atividades presentes nos demais capítulos ao
longo do livro didático encontram-se atividades com mapas, como também atividades
sobre os principais elementos dos mapas, exemplos abaixo (Figura 14).
78
Figura 14: Mapas com atividade.
Extraído de ALMEIDA; RIGOLIN (2010, p. 75 e p. 194).
Nesse sentido, tem-se a presença de atividades que trabalham com a discussão e
interpretação de mapas, gráficos, entre outros. Os mapas e as demais representações
gráficas presentes na coleção contribuem para a visualização e espacialização dos
79
fenômenos, propiciando um estudo da realidade representada. Porem tem-se mapas sem
coordenadas geográficas (PNLD, 2012).
Quanto aos mapas presentes no material didático, se observa que na sua grande
maioria são completos, apresentando os elementos principais como título, legenda,
orientação, escala e fonte.
Outro aspecto que deve ser apresentado é quanto ao contexto que os mesmos se
apresentam, ou seja, como se utiliza dos mapas para trabalhar com os conteúdos da
Geografia. No livro didático analisado alguns mapas ficam mais como ilustrações,
alguns servem para localizar os fenômenos, e alguns são importantes, contribuem para a
compreensão do fenômeno apresentando-o e também completando o texto.
Geografia geral e do Brasil – espaço geográfico e globalização – 1ª ano
O livro didático Geografia Geral e do Brasil – Espaço geográfico e
globalização traz os conteúdos da Cartografia Sistemática na primeira unidade, que está
dividida em quatro capítulos. Capítulo 1: Planeta Terra: coordenadas, movimentos e
fusos horários; Capítulo 2: Representações cartográficas, escalas e projeções; Capítulo
3: Mapas temáticos e gráficos e Capítulo 4: Tecnologias modernas utilizadas pela
Cartografia.
Inicia-se o primeiro capítulo abordando as formas de orientação, destacando que
podemos nos orientar através de bússolas, do GPS e do sol (SENE; MOREIRA, 2010).
Na sequência, trabalha-se com as coordenadas geográficas, sobre as quais o livro
faz a seguinte consideração:
O globo terrestre pode ser dividido por uma rede de linhas imaginárias que permitem localizar qualquer ponto em sua superfície. Essas linhas determinam dois tipos de coordenadas: a latitude e a longitude, que conjuntamente são chamadas de coordenadas geográficas (SENE; MOREIRA, 2010, p. 18).
Observa-se que o conceito apresentado no livro didático esta coerente com o
conceito trazido pela bibliografia específica. Abordar sobre as coordenadas geográficas
faz com que se reflita sobre o espaço geográfico e os meios criados para representá-lo.
Sobre o tema também é possível abordar que esse conteúdo é imprescindível para a vida
dos estudantes, para que os mesmos aprendam a se localizar no espaço geográfico.
80
Em seguida é abordado sobre os movimentos da Terra e as estações do ano para
entrar no assunto fusos horários. Como foi abordado anteriormente no trabalho, os fusos
horários propiciam o funcionamento ininterrupto do sistema financeiro mundial, e para
nós é importante entendê-lo, pois ao viajar para outros países ou mesmos para se
comunicar com pessoas que moram em outros países é preciso influenciá-lo.
No segundo capítulo, dispõe-se sobre as representações cartográficas,
destacando que o mapa é uma das mais antigas formas gráficas de comunicação
procedendo à própria escrita. O objetivo fundamental dos mapas, conforme o livro,
“[...] é o de permitir o registro e a localização dos elementos cartografados e facilitar a orientação no espaço geográfico. Portanto, qualquer mapa será sempre uma simplificação da realidade para atender ao interesse do usuário” (SENE; MOREIRA, 2010, p. 30).
Após, é apresentado que além de orientação um mapa precisa ter título, legenda
e escala.
Sobre os tipos de produtos cartográficos, o livro didático traz os mapas que
podem ser classificados em topográficos (ou de base) e temáticos. Sobre as cartas
topográficas, o material destaca que “Na carta topográfica, as variáveis da superfície da
Terra são representadas com maior nível de detalhamento e a localização é mais
precisa” (SENE; MOREIRA, 2010, p. 32). A título de comparação, para o IBGE, é a
“Carta elaborada a partir de levantamentos aerofotogramétrico e geodésico original ou
compilada de outras cartas topográficas em escalas maiores” (IBGE, 1998, p. 44).
Quanto aos mapas temáticos, informa que
“[...] contêm informações selecionadas sobre determinado fenômeno ou tema do espaço
geográfico: naturais – geologia, relevo, vegetação, clima etc. – ou sociais – população,
agricultura, indústrias, urbanização etc.” (SENE; MOREIRA, 2010, p. 33).
Sobre a classificação temática pode-se destacar que se constitui em,
“[...] cartas, mapas ou plantas em qualquer escala, destinadas a um tema específico,
necessária ás pesquisas socioeconômicas, de recursos naturais e estudos ambientais”
(IBGE, 1998, p. 46).
Nesse sentido relembra-se mais uma vez que os mapas são produzidos com uma
intenção, um objetivo, como também para representar determinado fenômeno de
determinada forma, assim ou utilizar-se de um mapa precisa-se refletir se aquele mapa é
81
adequado para aquela função. Sendo que nos livros didáticos os mapas devem ser
adequados, pois muitas vezes podem ser encarados como verdades absolutas nas aulas
de Geografia.
O conceito de escala cartográfica é apresentado no livro didático da seguinte
forma: “A escala cartográfica expressa à relação entre o tamanho dos objetos
representados na planta, carta ou mapa e o tamanho na realidade” (SENE; MOREIRA,
2010, p. 34).
O conceito de escala é apresentado de forma coerente no livro didático ao
compará-lo com a apresentação do conceito na literatura – por exemplo, com a
proposição de Rosa (2004), apresentada anteriormente. Entender a noção de escala torna
os mapas mais concretos, possibilita a compreensão de como extensões grandes com
muitos quilômetros quadrados de área são reduzidas e representadas em alguns
centímetros, possibilitando através de cálculos saber o seu tamanho real.
Sobre projeções cartográficas o livro didático aborda que:
Uma projeção cartográfica é o resultado de um conjunto de operações que permite representar no plano, por meio de paralelos e meridianos, os fenômenos que estão dispostos na superfície esférica (SENE; MOREIRA, 201, p. 37).
O livro didático apresenta as principais projeções cartográficas, classificando-as
em: conformes (Projeção cônica, Projeção azimutal, Projeção de Mercartor),
equivalentes (Projeção de Peters), equidistantes (Projeção azimutal com centro no Polo
Norte) ou afiláticas (Projeção de Robison). Explica quem criou, com qual objetivo, e o
seu principal uso, também destaca que a projeção mais utilizada durante séculos na
elaboração de planisférios foi a Projeção de Mercator, e que apesar do surgimento
posterior de muitas outras, ainda hoje é muito usada.
O capítulo 3: Mapas temáticos e gráficos aborda que os métodos de
representação dos mapas podem ser qualitativo, ordenado e quantitativo. Dependendo
do fenômeno que se quer representar utiliza-se um método de representação podendo
ser o qualitativo que mostra a presença, localização. O método ordenado é utilizado para
representar fenômenos que admitem uma classificação e seguem uma ordem, já o
quantitativo é utilizado para mostrar quantidade, proporcionalidade, A é maior que B.
O capítulo 4,“Tecnologias modernas utilizadas pela Cartografia”, define o
sensoriamento remoto como “[...] o conjunto de técnicas de captação e registro de
82
informações a distância por meio de diferentes tipos de sensores” (SENE; MOREIRA,
2010, p. 57).
O material aborda também sobre fotografias aéreas e as imagens de satélite,
esclarecendo que um dos exemplos mais conhecidos da utilização de imagens de
satélites é a previsão do tempo. Após isso, trata sobre sistemas de posicionamento e
navegação por satélites, aborda sobre o GPS e por fim sobre os Sistemas de
Informações Geográficas.
O livro didático apresenta o conteúdo sobre Sistemas de Informações
Geográficas no final do capítulo 4, explicando o que é, e trazendo exemplos de sua
utilização.
No final da unidade, encontram-se a seção de testes e questões, onde são trazidas
questões do Enem e dos vestibulares sobre o assunto da unidade, ou seja, sobre os
conteúdos cartográficos trabalhados, com atividades sobre escala, projeções
cartográficas, coordenadas geográficas, fusos horários, sobre mapas temáticos e modos
de representação, imagens de satélite, gráficos entre outras.
Sobre os mapas presentes no livro didático, destaca-se que os mesmos são
utilizados ao se trabalhar com os demais conteúdos da Geografia além dos conteúdos da
Cartografia. Os mapas são completos, apresentam seus elementos principais como
título, legenda, orientação, escala e fonte.
Quanto à função que os mapas exercem no material, observaram-se ora que
alguns mapas são utilizados pelos textos para uma compreensão do assunto, utiliza-se
deles para explicar o fenômeno, estão conectados ao texto, exemplo figura 15 (abaixo),
porém também se observou que alguns mapas ao longo dos capítulos servem apenas
para localizar e ilustrar os fenômenos.
83
Figura 15: Mapa conectado ao texto.
Extraído de SENE; MOREIRA, (2010, p. 124).
84
Território e sociedade no mundo globalizado 1ª ano
Esse livro didático traz os conteúdos referentes à Cartografia Sistemática na
Unidade 1: Era da Informação e Sistemas de Informações Geográficas, dividida em três
capítulos: “A Geografia na Era da Informação”; “A localização no espaço e os Sistemas
de Informações Geográficas” e “Geoprocessamento e mapas”.
No primeiro capítulo é abordado sobre as novas tecnologias e o espaço
geográfico, sobre o meio técnico, o meio técnico científico informacional e a internet.
Nesse sentido define-se espaço geográfico como:
O espaço geográfico é o conjunto de elementos materiais (naturais e construídos) sob permanente ação da sociedade, que também faz parte desse espaço, modificando-o e organizando-o de acordo com as necessidades econômicas, políticas e culturais em seu processo de evolução histórica (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 12).
Para Corrêa (2003), “O espaço é concebido como lócus da reprodução das
relações sociais de produção, isto é, reprodução da sociedade” (p. 26).
Observa-se que tanto a abordagem trazida pelo livro didático como a abordagem
de Corrêa (2003) sobre o espaço geográfico traz o mesmo como o lugar onde ocorre as
relações humanas, trazendo o modo de ver o espaço a partir da relação homem com a
natureza, o primeiro utilizando-se da segunda, como também a partir da visão homem-
homem, onde o espaço não é neutro e sim disputado.
O segundo capítulo aborda sobre a localização no espaço geográfico e os
Sistemas de Informações Geográficas, define-se coordenadas geográficas como:
[...] linhas imaginárias traçadas sobre o globo terrestre que permitem a localização de qualquer ponto sobre sua superfície. Essa rede de linhas é composta pelos meridianos que ligam o polo geográfico norte ao polo geográfico sul, e os paralelos, que cruzam perpendicularmente os meridianos (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 23).
Após é tratado sobre os fusos horários, o material didático dispõe que:
“Em 1884, representantes de 25 países reunidos em Washington D.C. estabeleceram uma divisão do mundo em 24 fusos de uma hora, tendo como referência as linhas de longitude e baseando-se no fato de que a Terra demora praticamente 24 horas para dar uma volta completa em torno do seu próprio eixo. Dessa forma, dividindo os 360° da circunferência terrestre por 24, obtém-se a medida de cada fuso horário: 15°” (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 26).
85
É trazido um mapa explicando os fusos horários do mundo, depois é abordado
sobre os fusos horários no Brasil também trazendo um mapa explicando e
representando, obser a figura 16 (abaixo).
Figura 16: Mapa que integra produto cartográfico com conteúdo geográfico.
Extraído de LUCCI; BRANCO.; MENDONÇA (2010, p. 28).
Na sequência, dentro do tema Sistemas de Informações Geográficas, é abordado
sobre sensoriamento remoto e GPS. O livro didático define:
“O sensoriamento remoto corresponde á tecnologia de captação de imagens através do fluxo de ondas eletromagnéticas refletidas ou emitidas pelos objetos existentes na superfície terrestre” (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 30).
86
A presença de conteúdo sobre sensoriamento remoto como também de imagens
de satélite contribui para que as novas tecnologias sejam inseridas nos livros didáticos,
para que a Geografia se utilize dos novos instrumentos que estão ao seu dispor para
realizar as análises geográficas.
O livro didático explica sobre sensoriamento remoto e traz exemplo de sua
utilização, inclusive o esquema da Florenzano (2002), sobre a coleta de informações por
meio de sensoriamento, como também imagens de satélites comparativas de Rondônia
em 1984 e 2008 que demonstram a evolução do desmatamento.
Após, é abordado sobre mapas não trazendo uma definição. Explica-se, no
entanto, que “Um mapa é considerado de boa qualidade quando apresenta medidas
precisas e informações corretas – as posições e formas de seus elementos devem
corresponder á realidade” (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 37).
Segundo Joly (1990), a confecção de um mapa deve ser feita seguindo um
mínimo de regras, para que os mesmos se tornem fácies de compreender e úteis para
explorar, sendo precisão, nível de confiança e eficácia as qualidades que são avaliadas
em um bom mapa. Um bom mapa deve representar de forma fiel, precisa e adequada
um fenômeno, possibilitar a comunicação cartográfica a partir de sua linguagem
transmitindo as informações.
Em seguida, é abordado sobre escala, destacando que:
É possível manter as proporções dos elementos de um mapa utilizando escala, que é a relação entre as dimensões da área na superfície terrestre e sua representação em uma superfície plana menor. As escalas podem ser numéricas ou gráficas (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 40).
O próximo assunto apresentado no livro didático são as projeções cartográficas.
O material não traz exatamente uma definição, expondo que:
“A representação da superfície curva da Terra numa superfície plana – o mapa – já foi o grande desafio da Geografia e tornou-se possível graças ás projeções cartográficas, baseadas em relações matemáticas e geométricas” (LUCCI; BRANCO; MENDONÇA, 2010, p. 45).
Após, destaca que entre as projeções cartográficas mais usadas estão à cilíndrica,
a cônica e a azimutal, explicando cada uma delas e trazendo exemplos.
Quanto à presença de atividades sobre o conteúdo trabalhado, destaca-se que no
final de cada capítulo tem atividades sobre os conteúdos apresentados definidas no
87
material como “Questões de compreensão e análise”, também é exposto dicas de filmes,
leituras e sites. No final da unidade tem “Questões de Enem e vestibulares”.
Sobre a presença de mapas ao longo das demais unidades do livro didático,
destaca-se que os mapas estão presentes nos capítulos e nas seções de atividades e
completos, ou seja, contendo os elementos principais do mapa. Também se observou a
presença de imagens de satélite durante as unidades, como também nas seções de
atividades (Figura 17).
88
Figura 17: Exemplos de mapas e imagens de satélites presentes no livro didático.
Extraído de LUCCI; BRANCO; MENDONÇA (2010, p. 243-247).
A importância dos mapas estarem completos se destaca pelo seu potencial de
comunicar as informações, pois a partir dos seus signos e significados é possível a
realização do processo de comunicação cartográfica.
89
Nesse sentido, a linguagem cartográfica se faz de extrema importância ao
ensino-aprendizagem da Geografia, pois é um meio de comunicação que comunica
através de seus signos e símbolos, dos mapas, como também um instrumento para
realizar a interpretação do mundo, que se torna mais necessário atualmente através da
globalização que vai interligando todos os lugares, trazendo a necessidade de estudá-los.
A presença da Cartografia nos livros didáticos é importante, pois “A cartografia
deve, por meio de sua linguagem gráfica específica, incrementar a análise espacial e
proporcionar aos alunos uma nova leitura da realidade” (SANTOS, 2003, p.113).
Os mapas estão presentes nas unidades alguns deles integrados aos textos, ou
seja, explicando e representando os conteúdos, contribuindo, outros são usados somente
para localizar os fenômenos e alguns servem mais como uma ilustração.
Ressalta-se que as análises realizadas neste trabalho são referentes aos livros
didáticos. Os conteúdos e as representações cartográficas presentes nos mesmos e o uso
que o professor e os alunos fazem dele na sala de aula, isto é, como o professor trabalha
com o material na sala de aula, em que pese sua grande importância, escapam ao
alcance desta pesquisa.
A partir do exposto, certamente é muito importante avaliar a qualidade da
Cartografia presente nos livros didáticos, pois os materiais didáticos são distribuídos
pelo governo de forma gratuita e amplamente aceito no universo escolar.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, abordou-se sobre alguns aspectos do ensino de
Geografia, refletindo sobre a Geografia e como o ensino dessa disciplina vem sendo
trabalhado nas escolas. Também como as pesquisas sobre o tema vem discutindo sobre
o mesmo.
Sobre a linguagem cartográfica no ensino-aprendizagem de Geografia, abordou-
se sobre as potencialidades e dificuldades no uso da linguagem cartográfica no ensino
de Geografia, destacando que as carências no uso dessa linguagem podem vir desde a
formação dos professores e a falta de recursos para trabalha-la.
Também se tratou sobre o livro didático de Geografia, a sua importância e as
esferas que são envolvidas para a produção e distribuição dos mesmos, destacando que
mesmo apresentando dificuldades o livro didático se mantém como o principal recurso
didático nas salas de aula. Portanto, necessita-se frequentemente avaliá-lo e refletir
acerca do mesmo, pois muitas vezes seus conteúdos são encarados como verdades
absolutas no processo de ensino-aprendizagem.
Por fim, analisaram-se os conhecimentos cartográficos e uso dos mesmos nas
coleções didáticas apontadas – em pesquisa de campo efetuada no âmbito da pesquisa –
como as mais utilizadas em escolas estaduais de Chapecó. Procurou-se observar se os
livros didáticos trazem os conteúdos cartográficos e como ocorre o uso das
representações cartográficas, especialmente dos mapas ao longo das coleções, bem
como analisar se os mapas estão completos favorecendo a comunicação cartográfica,
além de sua disposição e adequação em relação aos textos do livro, tanto dos capítulos
específicos da Cartografia, como dos demais.
Quanto aos conceitos apresentados nos livros didáticos referentes à Cartografia,
observou-se que os mesmos, na sua maioria, se encontram corretos ao confrontá-los
com os conceitos trazidos pela bibliografia específica, destacando os principais
referenciais: JOLY, 1990; ROSA, 2004; FITZ, 2008; IBGE,1998.
Pode ser observado que a maioria dos mapas presentes nos livros didáticos
analisados de 6ª ano, 9ª ano e 1ª ano estão completos contendo seus elementos
principais como título, legenda, orientações, escala e fonte. Porém ainda se encontram
no material analisado mapas sem seus elementos principais, ou incompletos.
91
Nesse sentido expõe que o uso dos mapas como meio de comunicação nos
materiais didáticos depende dos mesmos estarem completos e adequados, com signos e
significados correspondentes, como também que seja trabalhado os conhecimentos
básicos da Cartografia, pois para ocorrer uma comunicação cartográfica eficiente
através dos mapas, necessita-se de uma base de conhecimentos.
Segundo o guia do PNLD 2014 de maneira geral as falhas referentes à
Cartografia baseiam-se em legendas incompletas, na ausência e/ou equívoco de datas de
autoria nas ilustrações, imprecisão na localização dos fenômenos geográficos,
principalmente quanto às reduções da escala do mapa, o que induz ao erro ao indicar
uma localidade enquanto a seta mostra outra (PNLD, 2014).
Porém, muitos problemas permanecem como o fato da disposição de mapas ao
longo dos livros analisados, apenas para servirem como ilustração, muito contrário da
função que devem exercer, e o que se pode observar em alguns mapas que,
complementam e dialogam com os textos.
Sobre a coleção do Projeto Teláris pode-se observar que os livros didáticos do 6ª
e 9ª ano analisados trazem mapas ao longo de seus capítulos, estando na sua maioria
completos, como também integrados aos textos, complementando-os. O livro do 6ª
apresenta os conhecimentos cartográficos de forma adequada e coerente ao comparar
com a literatura específica. Entretanto ainda observam-se problemas com a
subutilização da Cartografia no trato com os demais conteúdos geográficos, como
também mapas servindo apenas como ilustração desconectados dos textos. No livro do
9ª ano apesar dos mapas estarem presentes, observa-se que poderiam ser mais
explorados.
A coleção Araribá traz os conteúdos cartográficos na sua maioria adequados e
coerentes, trazendo seções denominadas “Representações gráficas” no final das
unidades, onde trabalha com a Cartografia, conhecimentos e produtos cartográficos.
Quanto à presença de mapas nos livros didáticos considera-se positiva, notou-se uma
grande presença de mapas ao longo das unidades, estão na sua maioria integrados aos
textos, servindo para localizar e representar os fenômenos, estão adequados. Entretanto
a subutilização dos mapas ainda continua presente no livro didático, com mapas
servindo apenas para ilustrar.
92
Quanto ao Projeto Radix, o livro didático do 6ª ano não apresenta os conteúdos
da Cartografia de Base em capítulos, como pode ser observado nos dois livros didáticos
de Geografia das coleções anteriores. A Cartografia aparece em seções no meio ou no
final das unidades definidas como “Olhar Geográfico – Cartografia”, presentes inclusive
no livro do 9ª ano, entretanto não são todas as unidades possuem essa seção. O livro
didático do 6ª ano apresenta grande quantidade de mapas, como também propõe várias
atividades que envolvem os conhecimentos cartográficos. O livro didático é bem
ilustrativo, trazendo diversos mapas, porém a quantidade de mapas é bem inferior que a
quantidade de imagens presente no material, usa-se muitas imagens em detrimento de
poucos mapas. Tem-se a presença de atividades que trabalham com a discussão e
interpretação de mapas, gráficos, entre outros. Quanto aos mapas presentes no material
didático, se observa que na sua grande maioria são completos, alguns mapas ficam mais
como ilustrações, alguns servem para localizar os fenômenos, e alguns são importantes,
contribuem para a compreensão do fenômeno apresentando-o e também completando o
texto.
O livro didático Fronteiras da globalização – 1ª ano apresenta os conhecimentos
da Cartografia de Base de forma coerente ao compará-los á literatura específica, traz
mapas ao longo de seus capítulos contribuindo para visualização e espacialização dos
fenômenos, propiciando um estudo da realidade representada. Entretanto ainda é
possível observar mapas utilizados apenas como ilustrações.
Sobre o livro didático Geografia geral e do Brasil – 1ª ano destaca-se que o
material apresenta os conhecimentos cartográficos. Quanto aos mapas presentes no livro
didático, destaca-se que os mesmos são utilizados ao se trabalhar com os demais
conteúdos da Geografia além dos conteúdos da Cartografia, estando na sua maioria
completos, sobre à função que os mapas exercem no material, observa-se que alguns
mapas são utilizados pelos textos para uma compreensão do assunto, utiliza-se deles
para explicar o fenômeno, estão conectados ao texto, todavia também se observou que
alguns mapas ao longo dos capítulos servem apenas como ilustração.
O livro didático Território e Sociedade no mundo globalizado do 1ª ano do
Ensino Médio apresenta os conhecimentos cartográficos coerentes com a literatura
específica. Sobre a presença de mapas ao longo das demais unidades do livro didático,
destaca-se que os mapas estão presentes nos capítulos e nas seções de atividades,
completos, alguns deles integrados aos textos, ou seja, explicando e representando os
93
conteúdos, contribuindo, outros são usados somente para localizar os fenômenos e
alguns servem mais como uma ilustração. Observou-se também a presença de imagens
de satélite durante as unidades e nas seções de atividades.
Assim destaca-se que os problemas relatados pela literatura pesquisada e
apresentada no trabalho, puderam ser constatados nos materiais analisados como mapas
desconectados dos textos, mapas somente como ilustração, entre outros. Todavia
também se observou que os materiais estão evoluindo-nos que tange à Cartografia,
trazendo mapas que cumprem sua função, que representam o conteúdo trabalhado para
uma melhor compreensão, que complementam e dialogam com os textos.
As coleções didáticas devem possibilitar em diferentes níveis contribuir para a
apropriação da linguagem cartográfica, estabelecendo correlações e desenvolvendo as
habilidades para representar e interpretar a mundo.
A Cartografia nos livros didáticos deve ser vista com o mesmo rigor e
importância que se olha para os textos, pois possui grande relevância para a Geografia,
como também vem se expandindo para a sociedade em geral.
Durante a análise dos livros didáticos de Geografia, pode-se constatar que os
conteúdos cartográficos estão presentes nas coleções didáticas, em algumas de forma
mais abrangente e em outras em poucas páginas. Observou-se que os mesmos são
apresentados de forma coerente ao compará-los com a bibliografia específica sobre o
tema, também se notou que os mapas estão presentes nas obras didáticas analisadas em
grande número, porém divergem quanto à função que cada um representa.
Assim evolui-se utilizando o potencial dos mapas para trabalhar com os
conteúdos de Geografia, porém ainda continua ocorrendo problemas quanto ao mau uso,
ou subutilização da Cartografia para trabalhar os conteúdos geográficos nos materiais
didáticos.
Nesse sentido os livros didáticos não são ruins, o desafio é o professor fazer um
bom uso do mesmo, usá-lo criticamente, o professor tem o poder de usá-lo como melhor
lhe atender os seus objetivos nas aulas, sendo que o professor deve usar o livro didático
e não deixar ele, o livro, usar a sua aula.
Dessa forma é extremamente necessário que continuem se desenvolvendo
pesquisas geográficas que analisem os livros didáticos, pois o referido recurso está
presente na grande maioria das salas de aula do país, sendo distribuído de forma gratuita
94
pelo governo federal, assim analisar os seus conteúdos se torna imprescindível e urgente
para possibilitar uma melhor qualidade dos mesmos.
Ao finalizar este trabalho, almeja-se que o mesmo tenha contribuído para a
discussão sobre o ensino de Cartografia na Educação Básica, especialmente na
disciplina de Geografia, como também sobre a questão dos livros didáticos e das
possibilidades do mesmo para trabalhar com a comunicação cartográfica nas escolas.
Esse não é o fim, mas sim uma possibilidade de continuar discutindo o assunto,
investigando novos dados, como a formação dos professores, a opinião dos educadores
sobre os livros didáticos, opinião dos estudantes sobre o livro didático e o uso que se faz
dele nas aulas de Geografia, o uso dos livros didáticos nas escolas particulares, dentre
outros temas relacionados á problemática da Cartografia nos livros didáticos.
95
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