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Carlos Neves 2
A Cabana dos Milagres
Copyright ©2013 Editora Perse
Capa e Projeto gráfico
Carlos Neves
Autor
Carlos Neves
Registrado na Biblioteca Nacional
ISBN – International Standard Book Number –
Literatura – Romance
Publicado pela Editora Perse
Impresso no Brasil
Printed in Brasil
Carlos Neves 3
A Cabana dos Milagres
Dedicatória
Dedico este livro a todas as pessoas que buscam na
espiritualidade e as respostas para suas vidas.
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A Cabana dos Milagres
Agradecimentos
Agradeço a Deus por me dar inspiração para escrever
esta obra.
Agradeço a Daísa Galvão a que tanto amo a sua
dedicação e todo seu empenho na revisão desta obra e seus
incentivos para que eu continuasse a escrevê-la.
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A Cabana dos Milagres
Capitulo – 01
Em um lugar do Brasil no ano de 1980.
Uma mulher caminhava apressada pelas estreitas ruas de
uma pequena cidade. Ela era conhecida como D. Maria do Bom
Parto. Este não era seu nome de batismo, mas um carinhoso
apelido naquela cidade por ser uma excelente parteira.
Uma amiga que a viu andando naquela marcha tão
apressada perguntou:
- Aonde vai assim com tanta pressa D. Maria?
- Vou ver a dona Dadá que entrou em trabalho de parto.
- Verdade? Depois passo na casa dela para uma visita ao
recém-nascido.
- Direi a ela. – respondeu D. Maria, sem diminuir os passos.
Este seria o quarto filho de dona Dadá. Ela era uma mulher
trabalhadeira e com muita luta havia construído com seu marido
Ribamar, uma pequena cabana de três quartos no sítio onde
moravam desde que se casaram. Sempre se mostrava feliz e amava
seus filhos: uma menina, e seus dois gêmeos meninos. Com a
perspectiva da chegada de mais um filho ela havia comentado com
seu marido:
- Precisamos fazer uma puxada na casa para mais um quarto
que a família tá crescendo.
Ribamar então respondera:
- Vamos apertar por uns tempos, pois não tenho como
ampliar nada no momento.
Eles eram pobres, mas viviam sem muitas dificuldades
Ribamar era pedreiro e sempre o chamavam para algum serviço
extra.
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A Cabana dos Milagres
Quando D. Maria entrou na casa já sabia onde ficava o
quarto de dona Dadá e se dirigiu de imediato para lá. Encontrou-a
deitada na cama se contorcendo de dores. E então perguntou:
- Como se sente Dadá?
- Mal - respondeu a mulher suando e gemendo sobre o
colchão.
- Logo ele vai nascer e estas dores vão passar. Deixa-me ver
a dilatação. – disse dona Maria preparando-se para examinar Dadá.
Dona Maria a examinou e de pronto disse:
- Não vai demorar. A cabecinha da criança já coroou.
De fato a criança já estava nascendo. Em alguns minutos D.
Maria veio com água quente e mais panos.
- Vamos lá Dadá. Faz força que ele nasce... Seja forte mulé.
- E num esforço quase sobre humano Dadá fez muita força
e a criança nasceu. Dona Maria o pegou e sua face mudou de
expressão.
- O que foi D. Maria? Algo de errado com meu filho?
- D. Maria balançou a cabeça negativamente e disse
entregando a criança a dona Dadá.
- Você mesma vai ver.
Quando dona Dadá pegou a criança e o viu, seus olhos
encheram-se de lágrimas, e então ela disse olhando para o alto. Ela
segurava nas mãos uma criança corcunda.
- Meu Deus. Por que me fizeste merecedora desta cruz?
Não sei se serei capaz de Vos servir como determinas.
- Uma criança corcunda vai te purificar e vai precisar de
muito amor para viver - disse dona Maria cheia de emoção.
- Por que Deus me daria uma criança Corcunda? Olha pra
ele, tão pequenino e indefeso...
- Acho que Deus confiou a você esta missão de amor.
- O que dirá Ribamar ao ver este filho deformado? Deus me
ajude, e que ele o aceite assim como eu aceitei.
- Ele vai ter que aceitar a vontade de Deus.
- Sei não D. Maria. Ribamar é muito tinhoso e ignorante.
Tenho medo dele querer até matar o filho.
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- Não diga uma coisa destas mulé. Deus nos livre de tal
maldade.
- Espero que ele aceite esta criança.
- Haverá de aceitar dona Dadá. Ele nem é besta de renegar
o próprio filho.
Dona Maria apanhou a criança e deu-lhe um banho, vestiu
uma roupinha, colocou os sapatinhos de lã e entregou-o de volta a
mãe.
- Tome, lhe dê de mamar que ele tá faminto. Como ele vai
se chamar? Já escolheu o nome?
- Já. Vai se chamar de Fábio.
- Lindo nome.
Enquanto a criança sugava o leite no peito da mãe. Ela
acariciava sua cabecinha com as pontas dos dedos. Havia muito
amor naquela mulher.
D. Maria arrumou o quarto e o berço com lençóis limpos ao
lado da cama de dona Dadá Só então ela foi embora.
Nisso a porta do quarto é aberta e aparecem seus três filhos:
Pedro, João e Lúcia. Timidamente eles perguntam:
- Mamãe, podemos ver nosso irmãozinho?
- Claro meus filhos – respondeu ela enxugando o rosto que
estava molhado de lágrimas.
As três crianças aproxima-se e Lúcia pergunta ao observar
o irmão nos braços da mãe:
- Mamãe... Por que ele tem esta bola nas costas?
- Não é bola minha filha, ele nasceu com uma deformidade,
Isso é uma corcunda. Seu irmãozinho não veio como vocês, mas
ele é tão bom como qualquer um de nós.
Pedro fez uma cara de quem não havia gostado do que via,
mas João sorriu e disse:
- Gostei dele. Não vejo a hora de brincarmos com ele. –
disse João sorrindo.
Dadá limitou-se a sorrir.
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As crianças ficaram algum tempo em volta da mãe e do
irmão, conversando e fazendo planos para quando ele estivesse
maior.
- Pedro, vá à casa de dona Izabel e diga a ela que eu estou
pedindo para a filha dela Cristina vir me ajudar a cuidar da casa –
pediu Dadá ao seu filho.
- Tudo bem mamãe.
Mais tarde Cristina apareceu e cuidou de preparar o jantar.
Quando soube que a criança tinha aquela deformidade, lamentou.
- Puxa dona Dadá. Lamento muito que ele tenha nascido
assim.
- Nada não minha filha. Deus sabe o que faz. Se Ele me
mandou esta criança é porque sabe que eu cuidarei bem dele.
- O coração dela estava cheio de tristezas. Olhava para o
filho e não queria acreditar no que via. Mesmo assim ela o amava
tanto quanto os demais.
A criança dormia profundamente em seu berço. Havia um
sorriso em seus lábios. Ela o segurou nos braços e o apertou como
se isso aliviasse seu coração. Depois o colocou de volta no berço e
foi para a sala. Seus filhos estavam felizes e brincando na sala.
Dadá beijou seu filho na testa e no seu rostinho. Ia esperar o
marido chegar e sentiu um aperto no coração ao imaginar a sua
reação ao ver o filho corcunda. A estas horas ele já devia saber do
nascimento do filho. Quando ele havia saído ela estava entrando
em trabalho de parto e foi ele mesmo que foi chamar a parteira.
Dadá não deixaria de criar o filho com o mesmo amor que
sentia pelos outros.
Mais tarde, o marido de Dadá chegou e foi direto ver a
esposa e o filho que havia nascido.
Dadá estava com a criança nos braços quando ele entrou no
quarto e enrolou a criança num lençol rapidamente para que o
marido não visse, mas não adiantou, ele já havia visto a
deformidade da criança e disse:
- O que é isso? Dadá? Que criança é está?
- Nosso filho.
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A Cabana dos Milagres
- Como pode meu filho nascer aleijado?
- Não se aborreça home. Se for esta a vontade de Deus, que
seja.
- Vontade de Deus nada. Isso é coisa do demônio. Num
quero saber de filho aleijado na minha casa.
- Num diz uma coisa desta Ribamar. Devemos respeitar a
vontade de Deus e nos sujeitar as Suas determinações.
- Só se for tu. Porque eu mesmo que num vou de aceitar
uma coisa destas.
- Credo home. Num tem medo de um castigo? Fala assim
não, esta criança precisa de nosso amor e carinho.
- Tenho amor prô ele não.
- Tu és home sem coração. O que ele te fez de mal pra ser
renegado deste jeito?
- Num quero saber. Num gostei dele e pronto. Num nasci
pra ser pai de filho do demônio.
- Não fala uma miséria destas home. Se ele veio pra nós,
temos que ter amor e carinho prô mode cuidar dele. Esta é a
vontade de Deus.
- Já te disse que num vô aceitar ele cuma sendo meu filho.
Tu que pariu até pode aceitar, mas eu não vou abençoar uma
criatura destas.
- Pai desalmado que tu és. Ele num tem culpa de ter nascido
assim. Mas se tu num quer abençoar eu o abençoarei por nós dois.
- Faz cuma bem entender.
Ribamar deu por encerrado a conversa e saiu do quarto
fechando a porta com violência. Estava transtornado por ter visto o
filho com aquela deformidade nas costas.
Dadá ficou deitada com o filho nos braços. Chorava muito,
e se esforçou para se controlar com receio do leite secar nos peitos.
Apertou um pouco a criança nos braços e disse:
- Perdoa teu pai meu filho. Um dia ele há de te dar valor.
E com todo este amor e carinho Fábio foi criado pela mãe
ao lado dos irmãos. Pedro logo se apegou a ele. Perguntava a toda
hora quando ele ia poder andar. E Dadá respondia:
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A Cabana dos Milagres
- Depois de um ano ele vai poder andar meu filho
O pai nunca se conformou em ter um filho com aquela
deformidade. Apenas suportava ter que viver com ele em sua casa.
Fábio muito cedo deu mostras que era inteligente. Aos onze
meses já ensaiava suas primeiras palavras. Enquanto Pedro e João
se enchia de cuidados para com o irmão.
Com um ano e dois meses de idade, Fábio já falava com
desembaraço e andava normalmente. Ele chamava a atenção com a
sua inteligência. Cresceu procurando ser sempre prestativo dentro
de casa.
Aos quatro anos via seus irmãos irem para a escola e logo
fez questão de acompanhá-los. Lá ele iria viver humilhações entre
seus colegas por causa da sua corcunda. Muitas vezes era chamado
pelos colegas de o “corcundinha”, “aleijadinho” e outros adjetivos
preconceituosos.
Mas Pedro e João o protegiam e brigavam com quem
tentasse humilhá-lo. Não demorou e logo Fábio se destacava como
alguém com muita inteligência, e isso lhe trouxe respeito e
admiração. Tornou-se comum que colegas o procurassem para tirar
dúvidas sobre algumas matérias.
Sempre sorridente e demonstrando felicidade, nunca
reclamava por ter aquela deformidade que o impedia a prática de
esportes. E assim Fábio cresceu e tornou-se respeitado entre os
colegas da escola.
Mesmo com sua deficiência ele por vezes competia em
condições de igualdade com os demais colegas em alguns esportes
que surpreendia a todos. Era rápido e destemido.
Fábio tinha sempre uma palavra de conforto para com seus
colegas. E se encontrava alguém em dificuldades, logo estava
tentando resolver seus problemas. Era uma criança doce, meiga e
carinhosa. Em pouco tempo havia se tornado um líder entre seus
colegas.
Apesar de feio, tinha um sorriso que encantava todos.
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A Cabana dos Milagres
CAPITULO - 02
Cinquenta Anos antes.
Era uma pacata cidade do interior de Goiás. Seus
habitantes viviam da lavoura. Assim, aquele rapaz que se chamava
Luiz e o pai, passavam a plantar arroz num pedaço de chão da
pequena fazenda onde viviam, mas Luiz era apaixonado por Alice,
uma linda moça de cabelos cacheados e olhos castanhos
amendoados. Contudo ela amava o seu amigo Reinaldo.
Luiz parecia que não ia desistir de conquistar o coração de
Alice. Não se coformava com o namoro dela com Reinaldo. Roia-
se de inveja e ciúmes. Sempre que podia ia visitá-la e tentar
conquistá-la, mas era inútil, ela só tinha olhos para Reinaldo.
Porém, ela nunca comentou com seu namorado sobre Luiz porque
sabia que isso daria em brigas. Este ano a fazenda do pai de
Reinaldo apresentou um enorme lucro. E o rapaz resolveu que já
estava na hora de se casar com Alice. Sendo assim, marcaram a
data do casamento. Um casamento que nunca aconteceria.
Quando Luiz ficou sabendo do casamento de Alice com
Reinaldo, não se conformou. Ficou transformado. Logo havia
tomado uma decisão para por fim a aquele namoro.
Certo dia, Luiz ficou na estrada que levava a casa de
Reinaldo de tocaia a espera dele.
Esperou por mais de duas horas. Já era noite quando
Reinaldo apareceu para ir visitar a namorada.
Quando Reinaldo passou, Gustavo saiu de trás de uma
arvore com uma enorme pedra e o atingiu com toda sua força nas
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A Cabana dos Milagres
suas cotas. A pancada atingiu bem na coluna serviçal quebrando
uma das vértebras.
Reinaldo soltou um forte grito de dor e caiu ao chão se
contorcendo. Virou-se e viu Luiz diante dele e perguntou:
- Por quê? Por quê?
Luiz não respondeu. Abaixou-se, pegou a pedra de volta e o
atingiu na cabeça. Matando-o com aquele covarde golpe.
Luiz olhou o rapaz sem vida caído ao chão e tratou de
desaparecer de lá o quanto antes. Não havia uma única testemunha
daquele crime. De lá Luiz foi direto para sua casa. No dia seguinte
a noticia do assassinato de Reinaldo se espalhou pelo vilarejo.
Ninguém sabia quem tinha cometido tal barbaridade. O Pai de
Reinaldo, o senhor Ozias, ficou inconformado. Sua mãe estava
inconsolada. Pela tarde foi o enterro do rapaz e a maioria da
população estava presente ao sepultamento de Reinaldo. Alice
estava presente e chorava convulsivamente. Nada e ninguém a
consolava. Luiz não compareceu ao enterro. Preferiu ficar em casa
aguardando os acontecimentos. Mostrava-se calmo e seguro. Ele
não pode ver como Alice estava triste e inconformada com aquela
tragédia.
Mas ele alimentava esperanças que agora nada impediria
que ela aceitasse sua corte.
Esperou 15 dias para ir procurá-la e ao fazer isso sentiu no
seu olhar, que ela parecia acusá-lo daquele assassinato. Esquivava-
se de Luiz e lhe disse que jamais iria casar com outro homem, pois
só amava Reinaldo e o amaria até o fim dos seus dias. Por um
alguns instantes ele imaginou que ela desconfiava ser ele o
assassino e pela primeira vez sentiu medo de ser descoberto.
Preferiu não correr riscos e resolveu não evitar aparecer mais vezes
na casa de Alice.
Como havia percebido que Alice estava desconfiada, e com
receio de ser descoberto, Luiz já não dormia direito. Andava
sobressaltado e nervoso. Um ano se passou e ele soube que a
família de Alice ia se mudar para outra cidade. Ali acabava a sua
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A Cabana dos Milagres
esperança de casar-se com ela. Sentia-se mais culpado. Sabia que
tinha destruído um amor verdadeiro e isso o fazia refletir bastante.
De que teria adiantado ele ter matado o amigo se ao final
nada havia mudado? Apenas o remorso crescia dentro de si, e
Gustavo nunca mais teria sossego em sua vida. Muitas vezes
acordava com pesadelos, como se Reinaldo cobrasse dele a vida
que lhe foi tirada. Isso o deixava arrasado. As primeiras pessoas a
reparar que ele havia mudado foram seus pais. Ele estava mais
calado e andava sempre nervoso. Mas ninguém poderia supor que
ele havia assassinado o amigo.
Luiz resolveu ir despedir-se de Alice e ela comentou:
- Não sei até hoje como alguém pode matar meu amado
Reinaldo. Foi muita maldade. Ele era um bom rapaz e não tinha
inimigos. – disse isso olhando nos olhos de Gustavo.
Aquele olhar lhe dava a certeza de que Alice desconfiava
dele.
Luiz esforçou-se para não deixar transparecer qualquer
reação que o denunciasse.
Os dois jovens se despediram e nunca mais voltaram a se
encontrar antes que ela e seus pais se mudassem para outra cidade.
Anos mais tarde Luiz soube que Alice havia entrado para um
convento de freiras e se dedicado a uma vida religiosa.
Tinha dias que ele sentia vontade de gritar que foi ele o
assassino do amigo, mas lhe faltava coragem e se calava.
Viveu com este segredo até o fim de sua vida.
Antes de morrer ele disse:
- Vou buscar o perdão diante de Deus para ter paz na minha
vida.
Ninguém entendeu o que ele dizia. Morreu sem nunca ter se
casado e confessado o assassinato do amigo.
Fábio sonhou várias vezes com estas pessoas. Agora ele
sabia quem era o seu pai. Era o pai de Reinaldo. Veio para que
nesta vida perdoasse o assassino do seu filho com amor de pai.
Agora ele entendia porque seu pai o rejeitava. Mesmo que tivesse
nascido normal, sabia que seu pai nunca ia aceitá-lo.
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A Cabana dos Milagres
Ele saberia reconhecer Alice e Reinaldo quando os
encontrasse. Ia esperar por este dia e tudo faria para que eles
voltassem a se amar.
Aquela corcunda era como uma marca que não ia deixá-lo
esquecer do que havia feito de mal no passado, e que não podia ser
apagada. Estaria sempre Ali, como uma cobrança viva do que ele
havia feito.
Um dia pela manhã enquanto tomava o seu café em
companhia do seu pai ele disse:
- Papai, eu sei que não gostas de mim por eu ter esta
deformidade. Eu te entendo e mesmo sabendo que não me aceitas
eu te amo.
- Engana-se meu filho. Não é pela tua deformidade, mas
algo muito forte que vem de dentro de mim que não sei explicar. –
ele não sabia, mas eram as lembranças de outra vida quando teve
seu filho assassinado que o fazia sentir-se assim.
- Eu te entendo meu pai. Muitas vezes cometemos erros às
pessoas a quem amamos e as machucamos. Quando nos damos
conta do que fizemos, nós imploramos o seu perdão centenas de
vezes e por mais que nos digam que estamos perdoados, é preciso
que nós mesmos nos perdoemos. - Fábio reconhecia o pai e sabia
quão grande era aquela dor que o atormentava. O pai ainda não o
havia perdoado. Então Fábio disse:
- E se eu te dissesse que foi por amor que eu nasci assim?
- Ribamar olhou para o filho com ternura antes de dizer:
- Se foi por amor, onde entra o perdão?
- Aí é que está meu pai. Na hora certa o perdão virá. Amor
e perdão são sentimentos que andam juntos. Ou esquece que Jesus
ao morrer nos perdoou? Com a mesma intensidade que Ele nos
amou Ele nos perdoou.
- Isso é verdade. Ainda não havia pensado assim.
- E por que me diz que você nasceu assim por amor?
- Eu sei. Eu apenas sei .Muitas vezes cometemos erros
irreparáveis e nem sabemos por que os comentemos. Quando nos
damos conta o mal já foi feito, mas o perdão existe para sermos
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A Cabana dos Milagres
perdoados ou podermos dar o perdão a quem nos tenha feito mal.
Fábio precisava daquele perdão mais que qualquer coisa em sua
vida.
- Todas aquelas lembranças passadas incomodavam Fábio.
Ele se esforçava para não deixar transparecer. Pobre Fábio. Por
noites seguidas recordou sua vida passada e tudo de mal que havia
feito. Desde então ele passou a ter um olhar mais triste e havia se
tornado mais introspectivo dando sinais de depressão.
Ele conviveu com estes sonhos por 15 anos.
Naquele dia Fábio teria uma surpresa ao chegar ao seu
colégio.
Foi logo quando ele chegou na sua sala, que tudo
aconteceu.
Fábio ao chegar à sala, notou que havia dois jovens
novatos, uma moça e um rapaz.
Assim que ele olhou para a moça, de imediato a
reconheceu. Era Alice. Não tinha a menor dúvida quanto a isso.
Depois olhou para o rapaz e também o reconheceu. Ali estava
Reinaldo. O destino havia providenciado que eles se encontrassem
mais uma vez. Não entendeu a razão deste encontro. Aproximou-se
do rapaz e se apresentou:
- Me chamo Fábio e estarei ao seu inteiro dispor. Seja bem
vindo a nossa escola.
O rapaz disse se chamar Paulo e achou estranho a forma
que ele havia se aproximado.
Paulo era loiro de olhos castanhos claros. Cabelos loiros e
ondulados. Tinha um bom físico atlético.
A moça estava sentada ao seu lado, e Fábio apresentou-se a
ela também. Chamava-se Maria de Lourdes. Morena clara com
cabelos negros e cacheados que desciam até os ombros. Olhos
castanhos escuros, lábios finos e um rosto oval encantador.
Quando Fábio se apresentou ela sorriu amavelmente para
ele.
Fabio ficou tentando puxar conversa, mas Paulo não lhe
dava margem da conversa se prolongar. Ele não havia gostado de