A BIBLIOGRAFIA DIDÁTICA DE GEOGRAFIA: história e ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM GEOGRAFIA
AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO GEOGRAFIA E GESTAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)
JEANE MEDEIROS SILVA
UBERLAcircNDIAMG
2012
JEANE MEDEIROS SILVA
A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutora em Geografia
Aacuterea de Concentraccedilatildeo Geografia e Gestatildeo do Territoacuterio
Orientadora Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach
UberlacircndiaMG
INSTITUTO DE GEOGRAFIA
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA
Jeane Medeiros Silva
A BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA histoacuteria e pensamento do ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930)
_________________________________________________
Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach
Orientadora
_________________________________________________
Profa Dra Mariacutesia Margarida Santiago Buitoni ndash UERJ
Examinadora
_________________________________________________
Profa Dra Rogata Soares Del Gaudio ndash UFMG
Examinadora
_________________________________________________
Prof Dr Deacutecio Gatti Juacutenior ndash UFU
Examinador
_________________________________________________
Profa Dra Rita de Caacutessia Martins de Souza ndash UFU
Examinadora
Data 27junho2012
Resultado Aprovada com Louvor
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil
S586b
2012
Silva Jeane Medeiros 1978-
A bibliografia didaacutetica de geografia histoacuteria e pensamento do
ensino geograacutefico no Brasil (1814-1930) Jeane Medeiros Silva ndash
2012
394 f il
Orientador Vacircnia Rubia Farias Vlach
Tese (doutorado) ndash Universidade Federal de Uberlacircndia Progra-
ma de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia
Inclui bibliografia
1 Geografia - Teses 2 Geografia - Estudo e ensino - Brasil -
Histoacuteria - Teses 3 Geografia - Bibliografia - Teses I Vlach Vacircnia
Rubia Farias II Universidade Federal de Uberlacircndia Programa de
Poacutes-Graduaccedilatildeo em Geografia III Tiacutetulo
CDU 9101
Aos meus pais Geraldo e Herotildes minha forccedila e meu refuacutegio sempre
AGRADECIMENTOS
Agrave divina forccedila imensuraacutevel que me protege guia e vela pelos meus atos agradeccedilo
pela feacute que me sustenta e me equilibra nos dias difiacuteceis nas alegrias da vida
Agrave Profa Dra Vacircnia Rubia Farias Vlach orientadora e amiga que me acompanha haacute
doze anos indicando-me os caminhos do ensino da Geografia atenta paciente e
generosa sou sua indisfarccedilaacutevel disciacutepula e levarei para sempre as marcas de sua
dedicaccedilatildeo agrave Geografia brasileira transmitidas agrave minha formaccedilatildeo acadecircmica
Agrave minha famiacutelia forccedila oculta que se desvela em zelo e apoio incomensuraacuteveis
Geraldo e Herotildes meus pais Naama minha irmatilde e Deds meu cunhado
Agrave Adrianna Silveira das Neves e ao Itamar Carlos de Jesus Jr pela alegria do
conviacutevio e pela forccedila nos dias difiacuteceis vocecircs satildeo muito especiais e eternos em meu
coraccedilatildeo
Agraves amigas de feacute sonhos e ousadias Liacutevia Silva Sousa e Andreacuteia Mello Laceacute torccedilo
pela forccedila do futuro a nosso favor nenhum plano eacute em vatildeo
Agrave Iacutenia Franco de Novaes amiga tatildeo iacutentegra que me inspira verdadeiramente
Aos amigos da infacircncia geograacutefica Cleacutecio Joseacute Carrilho e Maacutercia Andreacuteia Ferreira
Sousa pelo entusiasmo humor e torcida pessoas muito especiais para mim
Agrave Roberta Afonso Vinhal Wagner e Elza Canuto pelo incentivo sempre
Agrave amiga Miyuki Kurokawa pela torcida carinhosa primeiro do outro lado da ponte do
Araguari e depois do outro lado do mundo mesmo
Agrave Claudia Faacutetima Kuiawinski e agrave Sofia Lorena Vargas Antezana companheiras de
lida sempre dispostas a ouvir e a ajudar
Aos Profs Drs Adriany de Aacutevila melo Sampaio Eucidio Pimenta Arruda e Seacutergio
Luiz Miranda pelo acurado exame e contribuiccedilatildeo por ocasiatildeo da qualificaccedilatildeo da
tese
RESUMO
Considerando que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem da histoacuteria desta ciecircncia o objetivo da tese foi compreender a bibliografia didaacutetica do ensino de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo da trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise do livro didaacutetico de Geografia e dos discursos dos seus sujeitos Considerou-se a Anaacutelise do Discurso a Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo como subsiacutedios teoacuterico-metodoloacutegicos para apreender a bibliografia didaacutetica de Geografia como objeto de pesquisa A bibliografia sistematizou dados referentes a 276 tiacutetulos de 510 ediccedilotildees escrita por 183 autores As primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina independente surgiram no ensino superior na organizaccedilatildeo curricular de alguns dos primeiros cursos cientiacuteficos introduzidos no territoacuterio brasileiro no contexto da formaccedilatildeo da Academia Real Militar (1810) pelo que a Geografia passou a ser estudada em aulas avulsas marcando esse processo o surgimento de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 ateacute ser introduzida permanentemente no quadro curricular do Coleacutegio Pedro II a partir de 1837 O ensino de Geografia com intensidade variante ao longo de sua trajetoacuteria assumiu um papel cultural um papel nacional e um papel cientiacutefico no contexto da educaccedilatildeo brasileira Os discursos didaacuteticos de Geografia desde seu surgimento inscreveram-se na Geografia moderna em sua vertente claacutessica emergente no seacuteculo XVIII assimilando a estrutura da Geografia Fiacutesica da Geografia Poliacutetica e da Cosmografia como vertentes da sua organizaccedilatildeo modelo que em fins do seacuteculo XIX comeccedilou a apresentar sinais de esgotamento Os anos 1920 foram um divisor de aacuteguas para o ensino de Geografia e para a bibliografia didaacutetica dessa disciplina O sopro da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo da Geografia somada ao sentimento de cansaccedilo aferido pela Geografia descritiva a reorientaccedilatildeo dos objetivos do ensino contribuiacuteram para compor um novo quadro didaacutetico para a Geografia O exame da bibliografia permitiu acompanhar a formaccedilatildeo e o desenvolvimento da Geografia como disciplina escolar Demonstrou como o seu conteuacutedo transgrediu sua funccedilatildeo auxiliar no ensino impliacutecito desse saber caracteriacutestico aos periacuteodos jesuiacuteticos e pombalino ateacute canalizar uma constituiccedilatildeo uacutenica dando voz a uma disciplina formada com lugar e responsabilidades na instituiccedilatildeo escolar entre o reinado e a primeira repuacuteblica Foi possiacutevel ainda examinar questotildees como autoria autoridade legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo dos textos com os curriacuteculos propostos a questatildeo das fontes e das traduccedilotildees posicionamentos frentes agrave tradiccedilatildeo agrave metodologia de ensino e agrave formaccedilatildeo dos professores a questatildeo da nacionalidade e outras percebidas enquanto regularidades na dispersatildeo do discurso didaacutetico de Geografia
Palavras-chave Ensino de Geografia Bibliografia didaacutetica de Geografia Geografia Descritiva Curriacuteculo de Geografia Discurso didaacutetico
ABSTRACT
Considering the geography textbooks as one of the places of historical and ideological discourse of geographical thought in Brazil instituting the history of this science the thesis aim to understand the didactic bibliography of geography its history and thought between 1810rsquos and the 1930rsquos through the constitutive description of the trajectory and the analysis of the Geography textbook and the discourses of their subjects It was considered Discourse Analysis History of School Subjects and Curriculum History as theoretical-methodological to grasp the geography teaching for research subject The bibliography systematized data on 276 books 510 editions written by 183 authors The first manifestations of Geography discipline as independent discipline emerged an in superior education in the curriculum of some early science courses introduced in Brazil in the context of Royal Military Academy (1810) formation so the geography began to be studied in independent courses marking this process the emergence of textbooks in the early 1820s being introduced permanently in the curriculum of the Coleacutegio Pedro II from 1837 The geography teaching with an intensity variation along its trajectory assumed a cultural a national and a scientific paper in the context of Brazilian education The didactic discourses of Geography since its inception enrolled in Geography modern classic emerging in the eighteenth century understanding the structure of the Physical Geography the Political Geography and Cosmography as aspects of its organization a model which at the end nineteenth century began to show signs of exhaustion The 1920s were a watershed for the teaching of Geography and the its didactic literature The modern lines of geography coupled with the feeling of fatigue as measured by descriptive geography the reorientation of the education aims contribute to compose a new framework for teaching geography The examination of the literature allowed the monitoring of the formation and development of geography as a school subject Demonstrated its content violated its auxiliary function implicit in the teaching of this knowledge to channel a unique composition giving voice to a discipline formed with place and responsibilities in the school between the kingdom and the first republic It was also possible to examine issues such as authorship authority discipline legitimacy the relationship of the texts with the proposed curriculum the question of sources and translations fronts positions tradition the teaching methodology and teacher training the question nationality and others perceived as regularities in the dispersion of the geography didactic discourse
Keywords Teaching Geography Bibliography teaching of Geography Descriptive Geography Geography Curriculum teaching discourse
SUMAacuteRIO
CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS 01
CAPIacuteTULO 1 ndash UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A
ANAacuteLISE DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina
curriacuteculo e discurso
12
11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas
contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua
literatura didaacutetica
13
12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo 25
121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo
da autoria
28
122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico 37
13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso 45
CAPIacuteTULO 2 ndash DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939)
discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia
49
21 A bibliografia didaacutetica de Geografia 49
22 A autoria da bibliografia 87
23 A editoraccedilatildeo 93
24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia 108
CAPIacuteTULO 3 ndash DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA
GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos
histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil
121
31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica 125
32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo 136
33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma
literatura didaacutetica de Geografia
139
331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira
explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina
144
34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre
1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil
161
CAPIacuteTULO 4 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA
ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e
de uma bibliografia didaacutetica
169
41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial 172
411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o
entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina
174
412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio
Pedro II
180
42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no
periacuteodo imperial
200
421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia
Poliacutetica
201
422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio 205
423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio 212
CAPIacuteTULO 5 ndash DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA
ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e
transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica
227
51 A educaccedilatildeo brasileira na Repuacuteblica o lugar da Geografia escolar e sua
proposta curricular
229
52 A constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo republicano 252
521 A bibliografia didaacutetica de Geografia na Repuacuteblica 253
522 A contribuiccedilatildeo de Said Ali o significado da sua proposta de
regionalizaccedilatildeo
257
523 A contribuiccedilatildeo de Delgado de Carvalho a orientaccedilatildeo moderna da
Geografia e sua relaccedilatildeo com o livro didaacutetico
260
524 Antonio Firmino Proenccedila siacutentese das transformaccedilotildees no ensino de
Geografia
265
525 Fernando Antocircnio Raja Gabaglia o ensino de Geografia por
praacuteticas
268
CAPIacuteTULO 6 ndash DISCURSOS NO LIVRO DIDAacuteTICO DE GEOGRAFIA
anaacutelises de elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico
272
61 O discurso da designaccedilatildeo das obras 275
62 A formaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia estabelecimento da
Geografia descritiva
287
63 Prefaacutecios proacutelogos notas de advertecircncia apresentaccedilotildees e imprensa os
discursos do entorno
300
631 Estabelecimento da autoria e da obra vozes constitutivas dos
sujeitos e dos discursos didaacuteticos
301
632 A identidade e a legitimidade da disciplina 310
633 Os sujeitos da recepccedilatildeo enunciativa 314
634 A relaccedilatildeo do discurso didaacutetico de Geografia com os curriacuteculos e
programas
315
635 Enfrentamentos das traduccedilotildees fontes e lacunas do discurso
didaacutetico de Geografia
317
636 Discursos emergentes como oposiccedilatildeo agrave tradiccedilatildeo da bibliografia
didaacutetica de Geografia
325
637 Enunciados ao professor instruccedilotildees e recomendaccedilotildees dos autores
aos docentes de Geografia
329
638 Posiccedilotildees constitutivas da bibliografia didaacutetica de Geografia quanto
ao nacionalismo
334
64 Livro escolar de Geografia e representaccedilotildees sobre o ensino geograacutefico no
periacuteodo em questatildeo
340
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 351
REFEREcircNCIAS 366
APEcircNDICE 389
01 ndash obras de importacircncia direta para a bibliografia didaacutetica de geografia
brasileira
390
LISTA DE FIGURAS
01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em
exemplares de Henrique Martins (1896) Carlos Goacutees (1918) e Joseacute Theodoro
de Souza Lobo (1927)
85
02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia
no Brasil (1814-1939)
100
03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa
(1814-1939)
102
04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais
para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que
consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil
107
05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do
seacuteculo XIX
110
06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a
identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa
frontal
112
07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra
illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica
das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)
113
08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926
das primeiras obras em formato panoracircmico
114
09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de
Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto
para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887
116
10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute 118
11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur
Thireacute
118
12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de
Horacio Scrosoppi
119
13 ndash Esquema da explicaccedilatildeo para o processo de Gormaccedilatildeo das chuvas
proposto por Gabaglia (1930)
270
LISTA DE GRAacuteFICOS
01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939) 86
02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939) 99
LISTA DE QUADROS
01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939) 51
02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais
didaacuteticos de Geografia (1814-1939)
91
03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras da bibliografia didaacutetica de Geografia
(1814-1939)
94
04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838
188
05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841
189
06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850
191
07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855
192
08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857
194
09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862
195
10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870
196
11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876
197
12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878
197
13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na
vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881
198
14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal
rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio
Quaresma Torreatildeo 1824
213
15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia
geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829
216
16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio 217
17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de
Pompecirco Brasil
220
18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na
vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881
223
19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de
Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880
225
20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do
Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880
225
21 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia de acordo com o Decreto
n 981 de 8 de novembro de 1890 para a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do
Distrito Federal Reforma Benjamim Constant
232
22 ndash Ensino Primaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma
Benjamim Constant (1890-1901)
234
23 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma
Benjamim Constant (1890-1901)
235
24 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de
acordo com o Decreto n 3914 de 23 de janeiro de 1901 Reforma Epitaacutecio
Pessoa
237
25 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de
acordo com o Decreto nordm 8660 de 5 de abril de 1911 Reforma Rivadaacutevia
Correcirca
239
26 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na
vigecircncia da Reforma Rivadaacutevia Correcirca (1911-1915)
240
27 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de
acordo com o Decreto n 11530 de 18 de marccedilo de 1915 Art 167 Reforma
Carlos Maximiliano
242
28 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de
acordo com o Decreto nordm 16782-A de 13 de janeiro de 1925 Art 47
Reforma Luiz Alves Rocha Vaz
243
29 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia Coleacutegio Pedro II na
vigecircncia da Reforma Luiz Alves-Rocha Vaz (1925-1931)
244
30 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio de
acordo com o Decreto nordm 19890 de 18 de abril de 1931 Reforma Francisco
Campos
249
31 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos
(1931-1937) para o Curso Fundamental
251
32 ndash Programa de Geografia na vigecircncia da Reforma Francisco Campos
(1931-1937) para o curso secundaacuterio
251
33 ndash Exemplos enunciados de sujeitos-destino da bibliografia 281
LISTA DE TABELAS
01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950 171
CONSIDERACcedilOtildeES INICIAIS
O Ensino de Geografia foi decisivo para a formaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico
geograacutefico no Brasil e uma praacutetica anterior agrave sua institucionalizaccedilatildeo em sociedades
ou na academia esse tem sido um consenso entre os que estudam a histoacuteria e o
pensamento do ensino dessa disciplina Os objetivos da Geografia acadecircmica com
tais raiacutezes tecircm fundamentos que permeiam desde a estruturaccedilatildeo territorial das
atividades econocircmicas nacionais ateacute o processo de constituiccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das
proacuteprias regiotildees nacionais unificados aos interesses sociais econocircmicos e poliacuteticos
organizados em construccedilotildees discursivas manifestas em praacuteticas artiacutesticas
midiaacuteticas escolares programas governamentais entre outros elaborando corpos
ideoloacutegicos que sustentaram (e sustentam) essa orientaccedilatildeo Dessa forma considero
a educaccedilatildeo geograacutefica como um dos pilares dos discursos sobre o territoacuterio e
nessas circunstacircncias considero os manuais escolares como um dos pilares
tradicionais desta educaccedilatildeo e como contribuiccedilatildeo da presente pesquisa considero-
os parte importante da gecircnese de um pensamento e praacutetica da Geografia bem
como partiacutecipe da histoacuteria da Geografia e do seu ensino no Brasil
Esses livros ou o seu desenvolvimento e expressatildeo satildeo um indicador
cultural importante e como objetivos discursivos abrigam processos sobre a
formaccedilatildeo de sujeitos efeitos de sentido e efeitos ideoloacutegicos sob orientaccedilatildeo de
alguma discursividade geograacutefica qual seja ela
Natildeo obstante o gecircnero didaacutetico por suas contradiccedilotildees e principalmente
por estar sob a oacutetica de um produto cultural menor na linha dos gecircneros que
documentam a pesquisa acadecircmica foi desconsiderado por muito tempo enquanto
objeto de estudo Os livros didaacuteticos de Geografia a propoacutesito apenas em fins do
seacuteculo XX mais precisamente a partir da deacutecada de 1980 passaram a ser alvo de
artigos dissertaccedilotildees de mestrado e teses de doutorado (PINHEIRO 2005a 2005b
SILVA 2006) Anteriormente a essa deacutecada satildeo poucas as contribuiccedilotildees nesse
sentido Considerando essas pesquisas eacute indiscutiacutevel o viacutenculo entre a produccedilatildeo
dos livros didaacuteticos de Geografia e o discurso institucionalizado dessa ciecircncia sem
aprofundar no meacuterito da questatildeo posso afirmar que as denominadas Geografia
Tradicional Geografia(s) Criacutetica(s) Geografia Humaniacutestica ndash principalmente estas ndash
tiveramtecircm seus professores e autores didaacuteticos (Cf SILVA 2006) Mas quais
seriam essas relaccedilotildees anteriormente agrave institucionalizaccedilatildeo brasileira da Geografia
De onde enunciavam aqueles autores Quais formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas
orientavam suas praacuteticas enunciativas De quem eram essas vozes que
conformavam um discurso pedagoacutegico para a Geografia Que obras foram aquelas
e quais suas marcas na histoacuteria e no pensamento da Geografia e do seu ensino
Esta pesquisa defende a tese de que os livros didaacuteticos de Geografia satildeo
um dos lugares manifestos do discurso histoacuterico-ideoloacutegico do pensamento
geograacutefico no Brasil instituinte tambeacutem de sua histoacuteria e por isso propotildee estudar
a constituiccedilatildeo do discurso escolar da Geografia por meio de sua bibliografia didaacutetica
identificando os autores pioneiros suas instacircncias de interlocuccedilatildeo e as contribuiccedilotildees
identificaacuteveis e manifestas nesses objetos no que tange agrave formaccedilatildeo da Histoacuteria e do
Pensamento Geograacutefico em um periacuteodo especiacutefico isto eacute aquele que antecede agrave
institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica no Brasil na deacutecada de 1930
procurando em paralelo perceber a construccedilatildeo desse discurso enquanto gecircnero
bibliograacutefico um discurso didaacutetico de Geografia O periacuteodo de abordagem portanto
estende-se desde o tempo dos jesuiacutetas perpassando pelos periacuteodos pombalino e
joanino ateacute o Impeacuterio (1822-1889) quando a educaccedilatildeo brasileira em geral e a de
Geografia em especiacutefico comeccedila a ser organizada alcanccedilando as transformaccedilotildees
que acompanharam o estabelecimento da Repuacuteblica (1889) ateacute o surgimento da
Geografia acadecircmica no paiacutes quando a Educaccedilatildeo brasileira jaacute destituiacuteda da Igreja
Catoacutelica como mentora do ensino e sob orientaccedilatildeo do Estado compartilha com a
Academia (ou com a classe intelectual) a regulamentaccedilatildeo do ensino e por
conseguinte da produccedilatildeo dos livros didaacuteticos intervenccedilatildeo que atinge igualmente os
manuais de Geografia
Portanto concentro meu objeto de pesquisa na bibliografia didaacutetica aqui
sistematizada enveredando pela formaccedilatildeo do ensino de Geografia no que respeita
agrave constituiccedilatildeo da disciplina formaccedilatildeo do curriacuteculo perspectivas sobre esse ensino
e sobretudo o discurso do e sobre o livro didaacutetico de Geografia
O livro didaacutetico de Geografia em geral tendo sua relevacircncia denegada pela
academia quando foi enfim objeto de estudo apenas alguns de seus aspectos
despertaram o interesse da pesquisa as poliacuteticas puacuteblicas a ideologia (ainda que
em uma visatildeo marxista base epistemoloacutegica das Geografias Criacuteticas perspectiva
que fez essas primeiras leituras do livro didaacutetico) a metodologia de ensino natildeo
sendo explorado na totalidade seu papel histoacuterico e epistemoloacutegico Apesar de
contraditoacuterio o livro didaacutetico eacute um produto complexo com ampla margem para a
investigaccedilatildeo cientiacutefica sendo uma lacuna a produccedilatildeo de perspectivas histoacutericas que
compreendam e esclareccedilam aspectos que engendram o surgimento e o
desenvolvimento da Geografia e do seu ensino no Brasil
Considerando que os textos didaacuteticos de Geografia (e por conseguinte o
ensino dessa disciplina) anteciparam a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia e
muitos de seus debates inclusive o da ldquoorientaccedilatildeo modernardquo (Said Ali e Delgado de
Carvalho dentre outros que seratildeo examinados nessa pesquisa satildeo exemplos
desse processo sendo esta expressatildeo de Delgado) verifica-se a necessidade de se
avanccedilar no debate sobre os discursos materializados nessa bibliografia mesmo
porque o livro didaacutetico em si foi das primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do
discurso geograacutefico Em pesquisa anterior em niacutevel de dissertaccedilatildeo de mestrado1
identifiquei um significativo desconhecimento sobre a histoacuteria do livro didaacutetico de
Geografia no Brasil particularmente suas relaccedilotildees com a academia e com outras
fontes de produccedilatildeo da pesquisa e do conhecimento geograacutefico sobretudo um
desconhecimento sobre o periacuteodo delimitado para esta pesquisa dado que as
pesquisas existentes sobre o livro didaacutetico se concentram prioritariamente na
produccedilatildeo contemporacircnea
Esse desconhecimento leva a prevalecer lugares comuns simplistas e
simplificadores ao referenciar o ensino de Geografia e os livros didaacuteticos do periacuteodo
em recorte a noccedilatildeo de que existiriam poucos e raros livros de Geografia a
prevalecircncia de textos importados o discurso apoliacutetico natildeo cientiacutefico satildeo algumas
das reduccedilotildees que se engendram no desconhecimento histoacuterico do livro didaacutetico de
Geografia
O preenchimento de tais lacunas anima o debate do ensino de Geografia e
subsidia a formaccedilatildeo de professores desta disciplina pois auxilia o esclarecimento de
um passado ainda sem luz apropriada alocado na penumbra que antecede um
1 SILVA Jeane Medeiros A constituiccedilatildeo de sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos de geografia
na oacutetica da Anaacutelise do Discurso 2006 275 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Geografia) ndash Instituto de Geografia Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006
periacuteodo bem mais conhecido ndash o da Histoacuteria do Pensamento Geograacutefico e do ensino
dessa ciecircncia ndash apoacutes a institucionalizaccedilatildeo acadecircmica da ciecircncia geograacutefica no
Brasil embora seja parte constituinte da realidade atual Sobretudo contribui para
demover certas anaacutelises destituiacutedas de compreensatildeo do periacuteodo em foco tais como
as mencionadas acima o que leva muitos pesquisadores a fazer avaliaccedilotildees
errocircneas e anacrocircnicas do ensino meacutetodos e materiais daqueles anos tornando-as
um consenso amplamente reproduzido de especial maneira no acircmbito da formaccedilatildeo
de professores de Geografia
O contexto das pesquisas do Ensino de Geografia nesse iniacutecio de milecircnio eacute
propiacutecio agrave valorizaccedilatildeo do livro didaacutetico como objeto de pesquisa e fonte da produccedilatildeo
de conhecimentos a distacircncia entre livro didaacutetico de Geografia e a pesquisa
acadecircmica tende a ser reduzida pelo menos em vista da crescente quantidade e
qualidade de trabalhos sobre o tema a partir do final da deacutecada de 1990 A
propoacutesito em se tratando de uma atividade com linguagem(ns) ndash autoria escrita
formaccedilatildeo bibliograacutefica ndash eacute oportuna a utilizaccedilatildeo da Anaacutelise do Discurso como
sustentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica de uma compreensatildeo do livro didaacutetico de
Geografia aliada a algumas perspectivas da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da
Histoacuteria do Curriacuteculo enquanto sustentaccedilatildeo para a construccedilatildeo de um corpo histoacuterico
para anaacutelise A linguagem por si soacute jaacute contorna com relevacircncia a proposta uma vez
que com a Anaacutelise do Discurso inova-se a questatildeo da interpretaccedilatildeo que perpassa
pelas praacuteticas de produccedilatildeo e recepccedilatildeo textuais fazendo desse campo de estudo
uma contribuiccedilatildeo vigorosa para o debate da educaccedilatildeo geograacutefica quanto agrave
consideraccedilatildeo de relaccedilotildees que atravessam a linguagem a Histoacuteria a ideologia as
condiccedilotildees de produccedilatildeo discursiva e ainda a constituiccedilatildeo dos sujeitos e dos
sentidos que entrecruzam a tessitura da Histoacuteria da Geografia no Brasil
Por objetivo geral proponho compreender a bibliografia didaacutetica do ensino
de Geografia bem como a histoacuteria e o pensamento deste ensino entre as deacutecadas
de 1810 e 1930 por meio da descriccedilatildeo de sua trajetoacuteria constitutiva e da anaacutelise dos
discursos dos seus sujeitos
As etapas de efetivaccedilatildeo dessa proposta objetivam especificamente
a) Buscar elementos teoacutericos e metodoloacutegicos que auxiliem a
compreensatildeo da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia
sobretudo na Anaacutelise do Discurso de linha francesa
b) Reunir referecircncias da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo
entre a refuncionalizaccedilatildeo da Colocircnia brasileira para sediar o Reino
portuguecircs ateacute o momento contemporacircneo agrave institucionalizaccedilatildeo da
Geografia acadecircmica no Brasil sistematizando autores e obras que
subsidiaram o ensino de Geografia brasileiro
c) Compreender historicamente a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo da
disciplina nos movimentos histoacutericos que a definiram procurando
perceber os reflexos desses movimentos na bibliografia didaacutetica de
Geografia
d) Analisar elementos constitutivos do discurso instituinte da
bibliografia sistematizada na pesquisa identificando posiccedilotildees
autorais discursos e efeitos de sentido que esbocem a partir dela
os lugares da Histoacuteria do Ensino de Geografia brasileiro
Esse percurso agrega significados agrave Geografia brasileira e ao seu ensino
aleacutem de ressignificar o livro didaacutetico de Geografia e seus autores como objeto de
estudo e documento das praacuteticas geograacuteficas no Brasil
Para conduzir a proposta de conhecer o pensamento e o ensino geograacutefico
por meio dos sujeitos sentidos e fundamentos ideoloacutegicos que paulatinamente
tomam forma de um gecircnero integrante do discurso geograacutefico constituindo um
acervo de obras e de referecircncias didaacuteticas utilizo as teacutecnicas da pesquisa
bibliograacutefica como ponto inicial para vislumbrar de acordo com as possibilidades da
pesquisa a histoacuteria do livro didaacutetico de Geografia de 1814 ateacute o final da deacutecada de
1930 Defino este periacuteodo tomando como marco inicial a publicaccedilatildeo da obra
Elementos de Astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar de
Manoel Ferreira de Arauacutejo Magalhatildees publicada no Rio de Janeiro em 1814 pela
Impressatildeo Reacutegia O periacuteodo de abordagem encerra-se sem limite preciso na deacutecada
de 1930 quando a Geografia foi institucionalizada no Brasil de acordo com o
modelo de produccedilatildeo e formaccedilatildeo que perdura ateacute a atualidade afirmando alguns dos
viacutenculos entre a academia e a produccedilatildeo dos manuais didaacuteticos de Geografia mas
sem necessariamente aprofundar a questatildeo dessa institucionalizaccedilatildeo nesse
momento da pesquisa Apesar de limitar a sistematizaccedilatildeo ao ano de 1939 algumas
ediccedilotildees de anos anteriores satildeo reeditadas nas deacutecadas seguintes registros
contabilizados na pesquisa pois o criteacuterio para a inclusatildeo de um tiacutetulo na relaccedilatildeo foi
o ano da primeira ediccedilatildeo ou ediccedilatildeo mais antiga identificada
Em linhas gerais trata-se de uma pesquisa exploratoacuteria visando
proporcionar a discussatildeo de um problema ndash a produccedilatildeo da literatura didaacutetica de
Geografia no periacuteodo anterior agrave institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia geograacutefica ndash um tema
ainda pouco conhecido entre os historiadores do pensamento e do ensino
geograacutefico
A pesquisa portanto foi iniciada com um exaustivo levantamento de
referecircncias e produccedilatildeo de fichas para localizaccedilatildeo acesso ou obtenccedilatildeo das fontes
primaacuterias ou de dados a elas relacionados Foram consultados cataacutelogos de diversas
bibliotecas de universidades brasileiras bem como cataacutelogos virtuais da Bibliotegraveque
Nationale de France o Banco de Dados de Livros Escolares Brasileiros (1810 a
2005) ndash LIVRES o Acervo Geral e Acervo de Obras Raras da Fundaccedilatildeo Biblioteca
Nacional (Rio de Janeiro RJ) e da Biblioteca Arthur Viana (Beleacutem PA) Consultei
tambeacutem cataacutelogos e extratos de cataacutelogos de editoras cataacutelogos de exposiccedilotildees
geograacutefica e pedagoacutegica aleacutem de consultar acervos particulares e obras de
referecircncia bibliograacutefica (SILVA 1870 BLAKE 1883 1893 1895 1898 1899 1900
1903 GARRAUX 1962 MORAES 1969) Dentre os indicadores de busca
destacaram-se os termos geographia2 chorographia compendio cosmographia
geografia geographico geograacutefico geograacutefica geographica corographia
corografia Seguiram-se o levantamento de criteacuterios histoacutericos para classificaccedilatildeo dos
2 O periacuteodo em abordagem nesta tese passou por diversas formas de ortografia da liacutengua
portuguesa Diante disso as transcriccedilotildees diretas seratildeo sempre de acordo com a ortografia vigente na fixaccedilatildeo do texto agrave eacutepoca agrave exceccedilatildeo de alguma transcriccedilatildeo cujo acesso obtido jaacute constasse com uma atualizaccedilatildeo Os nomes dos autores igualmente teratildeo observados a ortografia corrente agrave eacutepoca de sua existecircncia ou registro
grupos de referecircncias seleccedilatildeo e anaacutelise destas notadamente os periacuteodos Jesuiacutetico
Pombalino do Reinado Imperial e Republicano com subdivisotildees que se fizeram
necessaacuterias Os principais periacuteodos histoacutericos do territoacuterio brasileiro ficam como
expressatildeo maacutexima do recorte pois satildeo responsaacuteveis por transformaccedilotildees
significativas na educaccedilatildeo brasileira que diferenciam um periacuteodo de outro
Esta etapa inicial permitiu a identificaccedilatildeo de tiacutetulos autores anos e locais de
publicaccedilatildeo definindo um panorama histoacuterico-descritivo que permite entrever o
surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia e do ensino desta A
composiccedilatildeo de um panorama bibliograacutefico de obras e autores constituiu o arcabouccedilo
de fontes para construccedilatildeo histoacuterica e anaacutelise
Na delimitaccedilatildeo da pesquisa natildeo foram inscritos o levantamento a anaacutelise ou
a historicizaccedilatildeo de atlas dicionaacuterios cartas globos3 literatura para o ensino ciacutevico
literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha que embora tenham feito a
histoacuteria da disciplina Geografia constituindo sua literatura considero produtos
complementares e de referecircncia sem a abrangecircncia que os livros escolares
propriamente tecircm Eacute fato inegaacutevel que esses materiais subsidiaram o ensino de
Geografia apresentando viacutenculos diretos com esse ensino mas natildeo satildeo oportunos
a este trabalho neste momento pela necessidade de delimitaccedilatildeo e controle da
extensatildeo da pesquisa de acordo com a estrutura de uma tese apenas me utilizei
dos mesmos marginalmente por necessidade da anaacutelise
Enganos e omissotildees satildeo inevitaacuteveis em trabalhos com bibliografia
sobretudo em periacuteodos com tempo dilatado em deacutecadas e sobretudo deacutecadas e
seacuteculos distantes da atualidade A dispersatildeo eleva os objetos culturais agrave categoria
de raros ou desaparecidos sustendo-se em seus contextos pelo valor e impacto
histoacuterico que tiveram ndash uma condiccedilatildeo que o tempo pode lembrar ou esquecer De
acordo com as condiccedilotildees da pesquisa pretendi elaborar uma base ampla a mais
completa de forma que a pesquisa dispotildee de uma bibliografia dentre as possiacuteveis
para anaacutelise
Nesta tese denomino por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo de
documentos em anaacutelise direta ou indireta ndash dado que nem todos os tiacutetulos satildeo
3 Uma histoacuteria da bibliografia didaacutetica na perspectiva cartograacutefica por ser encontrada na tese A
cartografia nos livros didaacuteticos e programas oficiais no periacuteodo de 1824 a 2002 contribuiccedilotildees para a histoacuteria da geografia escolar no Brasil de Levon Boligian (2010)
acessiacuteveis Atualmente tratamos os objetos em estudo pelo termo ldquolivro didaacuteticordquo
para os quais genericamente empregam-se com regularidade enquanto sinocircnimos
obra didaacutetica livro-texto manual didaacutetico compecircndio Essas designaccedilotildees satildeo
historicamente constituiacutedas compecircndio por exemplo foram os nomes gerais desses
livros em boa parte do seacuteculo XIX dada a concepccedilatildeo e a metodologia de
elaboraccedilatildeo nomeando um conjunto de conhecimentos relativos a uma dada aacuterea do
saber dentre os considerados mais importantes em forma de livro compilados ou
natildeo Livro-texto jaacute eacute uma denominaccedilatildeo mais recente bem como livro didaacutetico
Podem ser compreendidos como livros se forem impressos encadernados
legalmente catalogados publicados4 Por apostilas se a divulgaccedilatildeo do texto sofre
variaccedilotildees em relaccedilatildeo ao padratildeo ldquolivrordquo
Esses materiais nessa pesquisa satildeo tratados quando em conjunto por
duas denominaccedilotildees literatura didaacutetica e bibliografia didaacutetica de Geografia
Por bibliografia didaacutetica compreendo a sistematizaccedilatildeo possiacutevel ao
alcance dessa pesquisa do acervo cujas fontes tenham sido identificadas
acessadas ou adquiridas referem-se tambeacutem consequentemente agrave sistematizaccedilatildeo
de dados como indicaccedilatildeo de autoria titulaccedilatildeo e subtitulaccedilatildeo ediccedilatildeo local e casa de
publicaccedilatildeo ano de publicaccedilatildeo quantidade de paacuteginas impressas e registro de
outros dados complementares agrave caracterizaccedilatildeo formal do livro tais como coleccedilotildees
volumes traduccedilatildeo adaptaccedilatildeo revisatildeo ampliaccedilatildeo Para o levantamento das obras
em estudo poreacutem os dados foram organizados em um levantamento bibliograacutefico
no qual constaram as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga que pude localizar
seguindo uma ordem cronoloacutegica conforme pode ser visto no Quadro Relaccedilatildeo geral
de tiacutetulos por autor - iacutendice por data de primeiras e demais ediccedilotildees ou ediccedilatildeo mais
antiga identificada apresentada no Capiacutetulo 2 O levantamento foi organizado para
que a entrada de cada tiacutetulo registre cronologicamente todas as ediccedilotildees
identificadas da obra Esses documentos apresentam especificidades agrave anaacutelise e agrave
construccedilatildeo histoacuterica da pesquisa conforme abordo apropriadamente no desenvolver
das descriccedilotildees e anaacutelises
4 Publicaccedilatildeo enquanto manifestaccedilatildeo notoacuteria de uma obra seja pelo uso (aquisiccedilatildeo leitura adoccedilatildeo
institucional) seja pela visibilidade mesmo quando natildeo institucional pelas finalidades e direcionamento ao puacuteblico pela integraccedilatildeo a acervos cataacutelogos bem como pela citaccedilatildeo em obras de referecircncias
Por literatura didaacutetica de Geografia entendo todos os aspectos que
extrapolam as dimensotildees fiacutesicas de uma obra ou da bibliografia sobretudo os
aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos poliacuteticos sociais ideoloacutegicos e outros que
apresentam continuidades rupturas conflitos contradiccedilotildees mas se desenvolvem na
composiccedilatildeo de uma aacuterea ndash perfazendo uma formaccedilatildeo discursiva em torno desses
objetos Nessa categoria tambeacutem satildeo inclusos atlas dicionaacuterios cartas globos
literatura para o ensino ciacutevico literatura pedagoacutegica e demais materiais dessa linha
que conforme demonstrado embora sejam parte integrante da histoacuteria da disciplina
Geografia natildeo estatildeo em foco nesta pesquisa
O corpus estaacute constituiacutedo assim pela bibliografia didaacutetica na qual se
encontram majoritariamente livros compendiados traduzidos adaptados produzidos
ou importados para o ensino de Geografia brasileiro Marginalmente quando
julgados importantes para a anaacutelise outros documentos de outros gecircneros satildeo
tomados como parte do corpus e como unidade de anaacutelise como jaacute mencionei
A propoacutesito da bibliografia e da literatura didaacuteticas de Geografia considero a
partir de uma visatildeo geral do corpus e do seu contexto que haacute um ensino expliacutecito e
um ensino impliacutecito de Geografia O ensino expliacutecito de Geografia compreende os
programas e curriacuteculos elaborados para o ensino e aprendizagem exclusivo desta
disciplina Geografia com os materiais culturais produzidos para esse fim tais como
as obras da bibliografia O ensino impliacutecito de Geografia compreende por sua vez o
aprendizado e o ensino incidental de conteuacutedos de Geografia em outros programas
curriacuteculos e disciplinas Para exemplificar os livros de leitura os livros do ensino
ciacutevico os livros de Histoacuteria estatildeo todos eivados com discursos geograacuteficos pois as
formaccedilotildees discursivas que justificaram e promoveram o ensino de Geografia em
muito extrapolam os interesses desta disciplina
A pesquisa inicia-se com a construccedilatildeo de uma perspectiva teoacuterica
perpassando pela construccedilatildeo histoacuterica da disciplina e dos manuais de Geografia ateacute
alcanccedilar uma siacutentese analiacutetica do periacuteodo delimitado
Por conseguinte no primeiro capiacutetulo Uma perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica
para a anaacutelise da bibliografia didaacutetica de Geografia disciplina curriacuteculo e discurso
apresento discussotildees relativas agrave Anaacutelise do Discurso e a algumas perspectivas da
Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo no que tocam de perto
ao estudo do objeto proposto e aos objetivos lanccedilados Natildeo se trata propriamente de
fazer uma histoacuteria das disciplinas em geral ou do livro didaacutetico como um todo o que
natildeo eacute objetivo da pesquisa mas de buscar elementos que auxiliem a compreensatildeo
da bibliografia didaacutetica de Geografia tendo na Anaacutelise do Discurso elementos
conceituais e metodoloacutegicos que fundamentem essa compreensatildeo Procuro
portanto construir uma perspectiva para compreender os documentos em anaacutelise
como bibliografia especiacutefica do ensino da Geografia e partiacutecipes do processo de
constituiccedilatildeo discursiva do gecircnero didaacutetico
No segundo capiacutetulo Descriccedilatildeo da bibliografia didaacutetica (1814-1939)
discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia apresento os dados
bibliograacuteficos em sua sistematizaccedilatildeo e discuto aspectos relacionados agrave constituiccedilatildeo
do acervo tais como autoria editoraccedilatildeo apresentaccedilatildeo graacutefica dentre outros
No terceiro capiacutetulo Do ensino impliacutecito ao ensino expliacutecito da Geografia
prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos histoacutericos anteriores agrave
independecircncia poliacutetica do Brasil percebo na dispersatildeo do ensino jesuiacutetico
pombalino e joanino as raiacutezes da disciplina e da bibliografia didaacutetica de Geografia
com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810) instituiccedilatildeo integrante do
movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no Brasil e marco no ensino de
Geografia brasileiro
No quarto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia escolar no
Impeacuterio (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de uma bibliografia
didaacutetica demonstro o surgimento da Geografia como disciplina consolidada na
educaccedilatildeo brasileira bem como seu desenvolvimento curricular aliando essa
trajetoacuteria a um crescente mercado editorial que seraacute aliado das nascentes
instituiccedilotildees escolares sobretudo do ensino secundaacuterio ambientando a consolidaccedilatildeo
da Geografia como disciplina escolar e a constituiccedilatildeo de um acervo bibliograacutefico
desta disciplina na vigecircncia do Impeacuterio
No quinto capiacutetulo Delineamentos constitutivos da Geografia Escolar na
Primeira Repuacuteblica (1889-1930) permanecircncias e transformaccedilotildees na disciplina e
em sua bibliografia didaacutetica examino o debate e os atos que promovem a
transformaccedilatildeo do fazer e modo de ser da disciplina geograacutefica e da sua bibligorafia
durante a vigecircncia da Primeira Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de
1930 tempo em que a Geografia estaacute constituida e institucionalizada e incorporada
de certa tradiccedilatildeo quanto a uma literatura didaacutetica
No uacuteltimo capiacutetulo Discursos no livro didaacutetico de Geografia anaacutelises de
elementos constitutivos da bibliografia e do ensino geograacutefico procuro analisar as
circunstacircncias e viacutenculos constitutivos da bibliografia observando em seu discurso
como os sujeitos autores se impotildeem no cenaacuterio educacional aspectos da
legitimaccedilatildeo da disciplina a relaccedilatildeo com as propostas curriculares o posicionamento
da bibliografia em relaccedilatildeo a sua proacutepria tradiccedilatildeo o posicionamento com suas fontes
com os professores com as formaccedilotildees ideoloacutegicas
Em um aspecto geral a trajetoacuteria delineada pela pesquisa demonstrou uma
atividade intensa embora fragmentada que participou da delineaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo da
Geografia como disciplina escolar respondendo agraves necessidades impostas pela
educaccedilatildeo brasileira reagindo agraves criacuteticas colocadas pela intelectualidade brasileira
de forma a compor um material extremamente rico para a compreensatildeo da histoacuteria
da Geografia escolar e mesmo do pensamento geograacutefico brasileiro
CAPIacuteTULO 1
UMA PERSPECTIVA TEOacuteRICO-METODOLOacuteGICA PARA A ANAacuteLISE
DA BIBLIOGRAFIADIDAacuteTICA DE GEOGRAFIA disciplina curriacuteculo e discurso
Para alcance dos objetivos propostos nesta tese elejo um corpus de anaacutelise
ndash os manuais de Geografia examinados a partir do discurso didaacutetico desta
disciplina o que eacute um recorte de pesquisa isso porque o discurso didaacutetico da
Geografia se enuncia em diferentes materialidades na produccedilatildeo do professor
(resumos anotaccedilotildees relatoacuterios fala) na produccedilatildeo dos alunos na produccedilatildeo do
Estado (legislaccedilatildeo relatoacuterios programas) nos manuais didaacuteticos na ciecircncia
geograacutefica na imprensa e em tantas outras instacircncias aleacutem da literatura didaacutetica de
Geografia propriamente dita Dessa forma a literatura do ensino de Geografia por
meio da bibliografia suscitada eacute colocada como objeto de estudo e a partir dele
incorporar-se-aacute outras materialidades que se fizerem necessaacuterias para a construccedilatildeo
e a anaacutelise de uma histoacuteria do livro e da disciplina escolar da Geografia dentre
tantas possiacuteveis
A Geografia que se ensina tem uma histoacuteria e um desenvolvimento
peculiares que atravessam sua constituiccedilatildeo e sua institucionalizaccedilatildeo Nesta
pesquisa tomo a Anaacutelise do Discurso como fundamentaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica
para compreender este percurso atraveacutes dos livros didaacuteticos como materialidades
discursivas deste ensino Para isso neste capiacutetulo procuro compreender a Anaacutelise
do Discurso a partir da questatildeo do sujeito e do discurso especificamente o dos
sujeitos autores e o didaacutetico
A Anaacutelise do Discurso como o proacuteprio nome enuncia procede por meio da
anaacutelise como meacutetodo e do discurso como teorizaccedilatildeo Ambos anaacutelise e discurso
transitam em uma circunscriccedilatildeo histoacuterica neste caso a histoacuteria da disciplina de
Geografia Para atingir esse enquadramento teoacuterico parto de algumas das
contribuiccedilotildees da Histoacuteria das Disciplinas Escolares e da Histoacuteria do Curriacuteculo como
definiccedilatildeo de uma perspectiva para compreender a histoacuteria do livro didaacutetico de
Geografia no bojo da qual a pesquisa se propotildee a compreender aspectos das
formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas que acompanham a emergecircncia e o
desenvolvimento desta disciplina no seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930
11 A Histoacuteria das Disciplinas Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo algumas contribuiccedilotildees para uma histoacuteria da disciplina escolar de Geografia e de sua literatura didaacutetica
A anaacutelise discursiva leva-nos a identificar e mover-se nas circuntacircncias da
histoacuteria onde os discursos se filiam e produzem sentido A literatura didaacutetica como
as que compotildeem o objeto desta pesquisa soacute tem existecircncia na vida e dinacircmica de
uma disciplina Organizar e analisar uma bibliografia do ensino de Geografia dessa
forma eacute acompanhar o fazer histoacuterico da disciplina de Geografia No campo da
Educaccedilatildeo duas aacutereas de estudo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares5 e a Histoacuteria
do Curriacuteculo tecircm contribuiccedilotildees para auxiliar a construccedilatildeo de uma perspectiva
histoacuterica do Ensino de Geografia quanto agrave sua formaccedilatildeo disciplinar o que inclui
uma compreensatildeo do desenvolvimento curricular e quanto agrave formaccedilatildeo dos seus
manuais didaacuteticos
Bittencourt (2008) ao abordar o problema do saber escolar no acircmbito da
Histoacuteria das Disciplinas Escolares lembra que o mesmo se estrutura em uma triacuteade
o saber a ser ensinado o saber ensinado e o saber apreendido O periacuteodo
delineado para esta pesquisa historicamente distante dos dias atuais dinamizado
em geraccedilotildees jaacute extintas apresenta dificuldades documentais para o estudo do saber
ensinado e do saber apreendido sem inteireza de fatos e repercussotildees de modo
que historicizar a disciplina precisa recorrer a meios indiretos para promover e
construir conhecimentos O seacuteculo XIX natildeo apresenta fartos registros sobre o ensino
de Geografia quanto aos aspectos dos saberes ensinados e apreendidos quando
ainda era iniciante no contexto geral da educaccedilatildeo brasileira a imprensa pedagoacutegica
e algo que se assemelhasse agrave produccedilatildeo de saberes acadecircmicos sobre a educaccedilatildeo
5 Histoacuteria das Disciplinas Curriculares Histoacuteria das Mateacuterias Escolares Histoacuteria dos Saberes
Escolares e Histoacuterias dos Conteuacutedos Escolares satildeo outros campos com afinidades na Educaccedilatildeo agrave Histoacuteria das Disciplinas Escolares (SOUZA JUacuteNIOR GALVAtildeO 2005)
geograacutefica Registros oficiais como relatoacuterios inerentes agrave vida burocraacutetica do Estado
obras memorialistas a literatura ficcional (de forma muito fragmentada) satildeo os
documentos mais pertinentes agrave compreensatildeo da Geografia ensinada no periacuteodo
circunscrito a esta pesquisa para se conhecer os discursos instituintes da Geografia
escolar brasileira Apoacuteiam esta proposta ainda as diversas pesquisas acadecircmicas
sobre o tema embora tambeacutem natildeo sejam muitas Nesse conjunto eacute mais acessiacutevel
o saber a ser ensinado do qual os manuais didaacuteticos a legislaccedilatildeo e os programas
educacionais satildeo documentos muito vivos indicativo do caminho trilhado nesta tese
No contexto da Histoacuteria das Disciplinas Escolares para conhecimento do
saber a ser ensinado satildeo importantes os curriacuteculos e programas a legislaccedilatildeo
pareceres os documentos institucionais (editoras oacutergatildeos da administraccedilatildeo do
Estado e escolar) Sobretudo satildeo importantes os livros didaacuteticos os prefaacutecios
proacutelogos advertecircncias textos introdutoacuterios tiacutetulos das obras informaccedilotildees de folhas
de rosto os iacutendices e propriamente os discursos produzidos e armados nessa
estrutura A documentaccedilatildeo de referecircncia do saber a ser ensinado permite entrever a
proposta de um ensino modelar como ponto de partida para as praacuteticas que seriam
exercidas que resultam no saber ensinado e no saber apreendido De acordo com
Chervel (1990 p 209)
O estudo dos conteuacutedos beneficia-se de uma documentaccedilatildeo abundante agrave base de cursos manuscritos manuais e perioacutedicos pedagoacutegicos Verifica-se ai um fenocircmeno de vulgata o qual parece comum agraves diferentes disciplinas Em cada eacutepoca o ensino dispensado pelos professores eacute grosso modo idecircntico para a mesma disciplina e para o mesmo niacutevel Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar
A Histoacuteria da Educaccedilatildeo em geral (ou as nacionais) tem tradiccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo ampla Nela eacute recente no entanto a Histoacuteria das Disciplinas Escolares
com atenccedilatildeo especial agrave histoacuteria das disciplinas em particular Chervel (1990)
demonstra que da crise dos estudos claacutessicos a partir de 1850 emergiu uma
perspectiva de ensino fundamentado no exerciacutecio intelectual capaz de formar o
espiacuterito do aprendiz e a essa acepccedilatildeo iniciou-se o desenvolvimento de conjuntos
culturais de conteuacutedos que principalmente a partir das primeiras deacutecadas do seacuteculo
XX associaram-se ao termo ldquodisciplinardquo No sentido original enquanto formadoras
de espiacuteritos as disciplinas aplicavam-se agraves humanidades claacutessicas No seacuteculo XX
reforccedilo desse processo tem-se o fortalecimento de outra classe de estudos ndash os
conteuacutedos cientiacuteficos ndash como motrizes da formaccedilatildeo humana e nesse contexto o
termo ldquodisciplinardquo generaliza-se como classificaccedilatildeo das mateacuterias de ensino
consolidando-se como ldquo[] os meacutetodos e as regras para abordar os diferentes
domiacutenios do pensamento do conhecimento e da arterdquo (CHERVEL 1990 p 181)
Paradoxalmente como demonstro nos proacuteximos capiacutetulos esse processo iniciou
cedo no caso do ensino da Geografia brasileira mas em um movimento espiralado
com dificuldade para estabelecer seu centro seu lugar como disciplina oscilando
entre um saber claacutessico e um saber cientiacutefico
Como tal as disciplinas seriam o espaccedilo da sistematizaccedilatildeo de
conhecimentos introdutoacuterios para um puacuteblico iniciante cujo acesso agrave integralidade
ficaria reservado ao ingresso no ensino superior Aos educadores ou a outros
sujeitos autorizados pelas formaccedilotildees institucionais e governamentais caberiam a
responsabilidade dessa realizaccedilatildeo isto eacute o desenvolvimento e a aplicaccedilatildeo de
meacutetodos de ensino bem como o desenvolvimento discursivo das disciplinas
esquema esse de ampla aceitaccedilatildeo dentre os estudiosos da educaccedilatildeo
frequentemente denominado de ldquovulgarizaccedilatildeo da ciecircnciardquo Chervel (1990) e outros
historiadores das disciplinas questionam esse modelo pelo estreitamento da
perspectiva das disciplinas quanto agrave existecircncia autocircnoma de cada uma
No caso da Geografia se tomamos o consenso da precedecircncia do ensino agrave
ciecircncia (pelo menos na perspectiva da Geografia Moderna e quanto agrave
institucionalizaccedilatildeo desta) com as relativas ressalvas como demonstro em capiacutetulo
posterior permite-se creditar agrave criacutetica de Chervel razotildees para desmistificar esse
posicionamento tradicionalmente aceito Pois na Geografia isso eacute incisivamente
particular muitos dos textos a trabalhar o territoacuterio brasileiro na totalidade possiacutevel agrave
eacutepoca apoacutes o trabalho de Ayres de Casal (1817a 1817b) foram textos didaacuteticos
compendiados e produzidos para as praacuteticas educacionais Na gecircnese da histoacuteria e
do pensamento geograacutefico nesse sentido estatildeo os livros escolares Sobretudo as
instacircncias de produccedilatildeo desses conhecimentos em nada se assemelharam a um
recipiente enchendo-se do jorro de uma ciecircncia acadecircmica em porccedilotildees mais
palataacuteveis aos sujeitos alvos ndash os aprendizes esta natildeo deixaraacute de ter a sua
importacircncia e contribuiccedilatildeo significativa inclusive predominante mas ateacute pouco antes
das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX natildeo satildeo poucos os sinais que asseguram um
fazer tambeacutem autocircnomo para o ensino de Geografia no Brasil Natildeo raro os autores
da bibliografia em questatildeo em prefaacutecios ou notas introdutoacuterias deixam claro que na
elaboraccedilatildeo de seus materiais consultaram acadecircmicos de referecircncia na Geografia
europeia sobretudo franceses mas que lanccedilaram matildeo a consultas proacuteprias em
especial agraves estatiacutesticas governamentais Essa trajetoacuteria atesta que os conteuacutedos
geograacuteficos estatildeo longe de ser reflexos exatos simplificados e vulgarizados de uma
ciecircncia dada antes se formando como uma construccedilatildeo histoacuterica da instituiccedilatildeo
escolar da cultura social desta Aleacutem disso os livros didaacuteticos organizaram uma das
primeiras formas de institucionalizaccedilatildeo do saber geograacutefico no Brasil
A finalidade da educaccedilatildeo e a funccedilatildeo dos professores constituem um
nuacutecleo importante da Histoacuteria das Disciplinas Escolares (CHERVEL 1990)
Contrapondo este princiacutepio com a anaacutelise discursiva torna-se evidente a questatildeo
ideoloacutegica e o papel dos sujeitos na produccedilatildeo de sentidos constitutivos do discurso
didaacutetico ndash duas feiccedilotildees dos livros escolares como instacircncia de produccedilatildeo linguageira
O livro escolar converge essas duas perspectivas enquanto inteacuterpretes do curriacuteculo
formadores de uma concepccedilatildeo disciplinar e propositores de uma metodologia de
ensino os sujeitos autores se comportam como professores consolidando a
percepccedilatildeo mais ampla da educaccedilatildeo em seu tempo Nestas circunstacircncias a Histoacuteria
das Disciplinas Escolares atribui ao curriacuteculo especificamente agrave Histoacuteria do
Curriacuteculo a explicaccedilatildeo sobre porque certos conhecimentos em determinado
momento satildeo ensinados e porque satildeo conservados excluiacutedos ou alterados
(MOREIRA 2007)
O manual didaacutetico testemunha as finalidades do ensino de um conteuacutedo
mas certamente natildeo reflete o ensino como acontecimento e praacutetica social nem os
discursos que se articulam em torno dos sentidos produzidos em seu dizer Apesar
disso o livro didaacutetico eacute um dos pilares do estudo das disciplinas escolares e da sua
historicizaccedilatildeo de maneira que uma das formas de se conhecer a histoacuteria de uma
disciplina eacute por sua produccedilatildeo editorial desde que se reuacutena para tanto um corpus
representativo de suas diversas eacutepocas ndash aquelas de inovaccedilatildeo e as de estabilidade
Em sua produccedilatildeo de acordo com Chervel os conteuacutedos satildeo reapropriados por meio
de uma metodologia de ensino que diferencia os estados de aprendizagens na
produccedilatildeo de livros para o ensino nesse sentido haacute pressupostos na motivaccedilatildeo da
aprendizagem e na organizaccedilatildeo dos saberes em uma progressatildeo contiacutenua Os
conteuacutedos jaacute pela seleccedilatildeo e depois pelo tratamento etaacuterio dispensado
descaracterizam-se em relaccedilatildeo aos seus objetivos originais
O que caracteriza o ensino de niacutevel superior eacute que ele transmite diretamente o saber Suas praacuteticas coincidem amplamente com suas finalidades Nenhum hiato entre os objetivos distantes e os conteuacutedos do ensino O mestre ignora aqui a necessidade de adaptar a seu puacuteblico os conteuacutedos de acesso difiacutecil e de modificar esses conteuacutedos em funccedilatildeo das variaccedilotildees de seu puacuteblico nessa relaccedilatildeo pedagoacutegica o conteuacutedo eacute uma variaccedilatildeo (CHERVEL 1990 p 188)
Os conceitos e processos cientiacuteficos precisam de traduccedilatildeo em niacutevel de
linguagem preacute-existente no caso do discurso didaacutetico Por outro lado haacute a
exposiccedilatildeo dos conteuacutedos Nesta fase haacute a execuccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas que
compreende desde a elaboraccedilatildeo de manuais ndash estrutura riacutegida no meacutedio prazo das
relaccedilotildees de ensino e aprendizagem ndash ateacute as praacuteticas docentes ndash estrutura flexiacutevel
dessa mesma relaccedilatildeo ldquo[] eacute uma variaacutevel que em geral potildee em evidecircncia algumas
grandes tendecircncias evoluccedilatildeo que vai do curso ditado para a liccedilatildeo aprendida no
livro da formulaccedilatildeo estrita [] para as exposiccedilotildees mais flexiacuteveis []rdquo (CHERVEL
1990 p 207) Para Bakhtin (1997) o texto eacute composto a partir de uma estruturaccedilatildeo
definida para o exerciacutecio de uma funccedilatildeo e sua comunicaccedilatildeo O estilo natildeo eacute
meramente a marca de um autor em uma produccedilatildeo de niacutevel teacutecnico poreacutem eacute de
igual modo elemento de unidade de um gecircnero
Ainda na relaccedilatildeo entre ciecircncia e discurso didaacutetico os historiadores da
disciplina escolar satildeo criacuteticos quanto agraves visotildees simplistas da vulgarizaccedilatildeo da ciecircncia
esta eacute o esteio primo de diaacutelogo da disciplina escolar e dos seus curriacuteculos mas o
saber escolar tem uma trajetoacuteria constitutiva proacutepria Na realidade trata-se de uma
relaccedilatildeo conflituosa com acertos e desacertos encontros duradouros e retrocessos
certamente peculiares a cada disciplina Das ciecircncias as disciplinas querem os
resultados mais conclusivos e abertos a explicaccedilotildees assimilaacuteveis pelos alunos No
caso da Geografia as primeiras fases da produccedilatildeo de manuais verificam essa
questatildeo Em sua maioria eram textos que compendiavam livros e documentos de
diversas instacircncias mas ademais eram produtores de conhecimento ou no
miacutenimo sistematizadores dos mesmos6 A anaacutelise vertical dessa proposiccedilatildeo
apresenta dificuldades devido agraves condiccedilotildees autorais proacuteprias agrave eacutepoca da produccedilatildeo
bibliograacutefica em estudo nesta pesquisa principalmente por natildeo ser comum
referenciar fontes uma praacutetica que relativamente nunca deixou de ser usual na
produccedilatildeo de discursos didaacuteticos Como explicitado posteriormente a
heterogeneidade mostrada (processo discursivo que remete e nomeia o Outro no
acircmbito da enunciaccedilatildeo) natildeo eacute uma marca comum no discurso didaacutetico e quando eacute
tem um funcionamento especiacutefico (complementar e para aprofundar
desenvolvimentos de conteuacutedo ou ilustrar as abordagens em foco por exemplo)
As disciplinas constituem-se de forma aditiva avanccedilando ou retrocedendo
para uma nova composiccedilatildeo no que tange agrave constituiccedilatildeo da sua formaccedilatildeo discursiva
nos quais se alojam os curriacuteculos os meacutetodos os objetivos Satildeo de fato produtos
histoacutericos Seus discursos satildeo acrescidos ampliados reduzidos de acordo com as
necessidades socialmente colocadas e de acordo com o puacuteblico definido para elas
Sua histoacuteria curricular e seus livros textos demonstram esse desenvolvimento satildeo
as disciplinas escolares um
[] vasto conjunto cultural amplamente original que ela [a escola] secretou ao longo de dececircnios ou seacuteculos e que funciona como uma indicaccedilatildeo posta a serviccedilo da juventude escolar em sua lenta propensatildeo em direccedilatildeo agrave cultura da sociedade global (CHERVEL 1990 p 205)
As disciplinas escolares se compotildeem assim pelos meacutetodos de exposiccedilatildeo
dos conteuacutedos expliacutecitos o que eacute funccedilatildeo do professor e tambeacutem dos manuais
Os discursos didaacuteticos satildeo selecionados tanto na ciecircncia como em outras
formaccedilotildees discursivas nas artes na administraccedilatildeo puacuteblica na imprensa nos
saberes claacutessicos e na religiatildeo Nesta perspectiva os historiadores da disciplina
escolar criticam a visatildeo da disciplina como simples vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica
acertadamente A percepccedilatildeo da disciplina eacute ampla e natildeo condiz necessariamente
com uma reduccedilatildeo da complexidade de uma ciecircncia ao ponto palataacutevel dos
estudantes em iniciaccedilatildeo E no que diz respeito agrave ciecircncia nem todos os seus
discursos interessam a um ensino baacutesico seja pela complexidade seja pelo estaacutedio
6 Os manuais de Geografia em nosso caso sobretudo aqueles que abordam o Brasil ou sua
corografia tinham um puacuteblico que ultrapassava os interesses escolares como demosntro no uacuteltimo capiacutetulo desta pesquisa
de suas fronteiras O saber cientiacutefico eacute um corpo em composiccedilatildeo em avanccedilo
apresentando espaccedilos de incertezas de debate de problemas natildeo resolvidos
Majoritariamente o discurso didaacutetico opta pela base mais soacutelida da ciecircncia ou dos
conhecimentos de base historicamente consolidada e mesmo por vezes cristalizada
de acordo com os paradigmas dominantes sendo daiacute que o curriacuteculo escolar se
alimenta
Nesse conjunto o curriacuteculo se apresenta como uma plataforma estrutural
para a literatura didaacutetica A base de estruturaccedilatildeo dos manuais escolares (sejam eles
compecircndios livros didaacuteticos apostilas) perpassa pelo curriacuteculo Um passo
importante agrave autonomia de um conjunto de saberes e por conseguinte agrave gecircnese de
uma disciplina eacute a constituiccedilatildeo de um curriacuteculo aplicado ao ensino a proposiccedilatildeo de
objetivos que definem um lugar para esses saberes na formaccedilatildeo em implemento
No Brasil diferentes movimentos histoacutericos e suas formaccedilotildees marcam a
construccedilatildeo do curriacuteculo em termos gerais as concepccedilotildees jesuiacuteticas o movimento
cientificista do periacuteodo joanino o nacionalismo patrioacutetico a concepccedilatildeo positivista no
periacuteodo inicial da Repuacuteblica o movimento escolanovista o movimento tecnicista
chegando ateacute as formaccedilotildees atuais como o construtivismo e as tendecircncias histoacuterico-
culturais Natildeo entrarei em detalhes nesses movimentos porque os atinentes ao
curriacuteculo de Geografia uacutenico com espaccedilo nessa tese teratildeo desenvolvimento em
capiacutetulo posterior Todavia vale ressaltar que a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos observando
alguma teorizaccedilatildeo no acircmbito das instituiccedilotildees somente se verificou apoacutes a deacutecada
de 1920 deacutecada na qual eacute marcante a transferecircncia de influecircncia na educaccedilatildeo da
Franccedila para os Estados Unidos da Ameacuterica Em outras palavras ateacute entatildeo o
curriacuteculo era uma praacutetica das instacircncias educacionais mas natildeo necessariamente
objeto de estudos formais De acordo com Moreira (2007 p 15) as reflexotildees e
praacuteticas com fundamentaccedilatildeo em teoria tiveram a partir daiacute trecircs recortes histoacutericos
na educaccedilatildeo brasileira no seacuteculo XX
O primeiro ndash anos vinte e trinta ndash corresponde agraves origens do campo do curriacuteculo no Brasil O segundo ndash final dos anos sessenta e setenta ndash corresponde ao periacuteodo no qual o campo tomou a forma e a disciplina curriacuteculos e programas foi introduzida [nas] faculdades de educaccedilatildeo O terceiro ndash de 1979 a 1987 ndash caracteriza-se pela eclosatildeo de intensos debates sobre curriacuteculo e conhecimento escolar bem como por tentativas de reconceptualizaccedilatildeo do campo
A deacutecada de 1990 representou outro marco Qual seja contudo sua instacircncia de
emersatildeo o curriacuteculo eacute uma construccedilatildeo histoacuterico-cultural reagindo a repercussotildees
sociais poliacuteticas e culturais Apesar de o periacuteodo anterior agrave deacutecada de 1920 natildeo
contar com uma anaacutelise sistecircmica natildeo significa que natildeo tenha existido Como dito
anteriormente a organizaccedilatildeo do ensino sempre implica a organizaccedilatildeo de um
curriacuteculo
O termo curriacuteculo a propoacutesito tem emprego desde a primeira metade do
seacuteculo XVI no entanto as primeiras teorizaccedilotildees remontam ao iniacutecio do seacuteculo XX
Enquanto praacutetica educativa o curriacuteculo passou a ter difusatildeo do seacuteculo XVI em
diante em universidades coleacutegios e escolas europeus na forma do Modus et Ordo
Parisienses Modus referia-se agraves combinaccedilotildees e subdivisotildees das classes escolares
regidas com instruccedilatildeo individualizada Ordo (ordem) por seu lado referia-se agrave
sequecircncia ou ordem de eventos e tambeacutem agrave coerecircncia do ensino (HAMILTON
1992) Dentre os registros histoacutericos referentes ao curriacuteculo Hamilton (1992) relata
que na Universidade de Leiden (1582) o aluno era certificado quando tinha
completado o curriculum de seus estudosrdquo na Universidade de Glasgow (1633) e
na Grammar School de Glasgow (1643) o curriculum condizia ao curso completo
frequentado pelo aluno
Sua teorizaccedilatildeo desde entatildeo tem evoluiacutedo em associaccedilatildeo agrave compreensatildeo
das transformaccedilotildees no mundo do trabalho e aos processos gerais de produccedilatildeo No
campo da educaccedilatildeo o termo foi definido e redefinido de acordo com as perspectivas
de diferentes eacutepocas a partir do seacuteculo XX Inerente a qualquer organizaccedilatildeo de
ensino na concepccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo7 tem-se uma estrutura organizada
com conteuacutedos indicados para o ensino de um campo do saber em outras palavras
a definiccedilatildeo mais claacutessica de curriacuteculo eacute ser uma relaccedilatildeo de disciplinas em um curso
e uma relaccedilatildeo de conteuacutedos em uma disciplina organizada em sequecircncia a uma
determinada loacutegica ordenada em um tempo de execuccedilatildeo obedecendo a alguma
proposta ou necessidade institucional
Historicamente a praacutetica do curriacuteculo escolar passou por duas tendecircncias de
estudos sistematizados as concepccedilotildees tradicionais ou conservadoras e as
concepccedilotildees criacuteticas todas influentes na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XX Nas
7 Do latim curriculum derivado de currere significando caminho trajeto percurso Atribui-se
ainda o significado de ldquoordem como sequecircnciardquo ou ldquoordem como estruturardquo (GOODSON 2001)
teorias tradicionais foi muito influente a compreensatildeo do curriacuteculo a partir das
teorias da administraccedilatildeo particularmente a Teoria da Administraccedilatildeo Cientiacutefica de
Frederick W Taylor (1856-1915) prevalecendo a preocupaccedilatildeo com resultados em
razatildeo da valorizaccedilatildeo dos conteuacutedos objetivos e ensino Atuaria assim como uma
seleccedilatildeo na totalidade cultural conhecida seleccedilatildeo essa relacionada agraves dinacircmicas
sociais ndash poliacuteticas culturais econocircmicas ndash intencional portanto Sob influecircncia das
teorias administrativas predominou a elaboraccedilatildeo de curriacuteculos tecnicistas
denunciados a partir dos anos 1960 na perspectiva da criacutetica ao funcionamento da
sociedade capitalista e do funcionamento das instituiccedilotildees nesse contexto dentre as
quais a escolar (APPLE 1982 MOREIRA 2007) Ateacute as deacutecadas iniciais do seacuteculo
XX o curriacuteculo foi uma praacutetica para a elaboraccedilatildeo de planos de estudo embora em
nada se possa dizer que essa praacutetica fosse neutra e despossuiacuteda dos elementos
que permaneceram na elaboraccedilatildeo de curriacuteculos ateacute a atualidade definiccedilatildeo de
objetivos educacionais debate poliacutetico dentre outras A mudanccedila para objeto de um
campo de estudos sistematizados a contemplar a totalidade das experiecircncias
orientadas a serem vivenciadas pelos estudantes no contexto escolar considerando
os interesses destes surgiu a partir do trabalho pioneiro de John Franklin Bobbit
(1876-1956)8 cuja obra The Curriculum foi publicada nos Estados Unidos em 1918
(MOREIRA 2007) O contexto do surgimento desse campo nos EUA compreendia
as transformaccedilotildees soacutecio-econocircmicas que o paiacutes atravessava entre fins do seacuteculo
XIX e iniacutecio do seacuteculo XX com a transformaccedilatildeo de uma economia agraacuteria para uma
economia industrial com uma populaccedilatildeo predominantemente urbana e vivenciando
os primeiros impactos da imigraccedilatildeo massiva (iniciada no seacuteculo XIX) Os
educadores agravequele tempo sentiam uma ameaccedila agrave homogeneidade da cultura
estadunidense
[] uma cultura centrada na cidade pequena e sedimentada em crenccedilas e atitudes da classe meacutedia A comunidade que os antepassados ingleses e protestantes dessa classe lsquolavraram de um desertorsquo parecia desmoronar-se diante de uma sociedade urbana e industrial em expansatildeo [] (APPLE 1982 p 108)
Os trabalhos de Bobbit e de outros pioneiros direcionavam-se a convergir o
curriacuteculo com as necessidades econocircmicas e culturais da eacutepoca e com inspiraccedilatildeo
8 Outros teoacutericos do curriacuteculo contemporacircneos de Bobbit foram Edward L Thorndike (1874-1949)
W W Charters (1875-1952) e David Snedden (1868-1951) dentre outros
nos princiacutepios da Administraccedilatildeo Cientiacutefica procuraram especificar os objetivos
educacionais para as dinacircmicas da vida social Interessava nesses estudos
preservar [] o consenso cultural e ao mesmo tempo [] destinar aos indiviacuteduos o
seu lsquolugarrsquo adequado numa sociedade industrial interdependenterdquo (APPLE 1982 p
107) A escola foi percebida como uma instituiccedilatildeo partiacutecipe na compensaccedilatildeo dos
problemas sociais ampliando-se a concepccedilatildeo do curriacuteculo para aleacutem de um
conjunto de saberes ou seja compreendendo-o como estrutura para organizaccedilatildeo
de atividades e experiecircncias capazes de moldar o comportamento e o pensamento
do aprendiz Natildeo coincidentemente a experiecircncia e a praacutetica foram integrantes da
proposta curricular de Geografia a partir da deacutecada de 1930 Para tanto o curriacuteculo
poderia dispor de representaccedilotildees da sociedade em padrotildees preacute-definidos de forma
a produzir o humano socializado (MOREIRA 1992 p 15) O passo seguinte foi
dado por Ralph W Tyler (1902-1994) na deacutecada de 1940 e por John Dewey (1859-
1952) um pouco antes De acordo com Moreira (1992) Tyler trabalhou a proposta
progressista de um curriacuteculo tecnicista e Dewey com a consideraccedilatildeo dos interesses
e as atividades da crianccedila tornando-se um importante criacutetico da educaccedilatildeo herdada
do seacuteculo XIX amplamente praticada no Brasil ateacute quase a metade do seacuteculo XX ndash a
pedagogia das liccedilotildees
A escola tradicional estaacute organizada para permitir que se pratiquem certas habilidades mecacircnicas e certas ideacuteias sem cogitar da praacutetica de outros traccedilos morais e emocionais desejaacuteveis em uma personalidade Como aprender com efeito honestidade bondade toleracircncia no regime de lsquoliccedilotildeesrsquo marcadas para o dia seguinte Soacute uma situaccedilatildeo real de vida em que se tenha de exercer determinado traccedilo de caraacuteter pode levar agrave sua praacutetica e portanto agrave sua aprendizagem Daiacute ser necessaacuterio que a escola ofereccedila um meio social vivo cujas situaccedilotildees sejam tatildeo reais quanto as fora da escola (DEWEY 1979 p 57)
A proposta de Tyler foi amplamente aceita Basicamente consistia em
controlar o planejamento do estudo em todos os acircngulos definindo os objetivos
educacionais atraveacutes de um triacuteplice que considerava os interesses e necessidades
discentes o cotidiano extraescolar as sugestotildees dos especialistas nos conteuacutedos
repassando-o pelo crivo filosoacutefico e psicoloacutegico isto eacute dos valores e das condiccedilotildees
de aprendizagem Tratava-se de uma teoria pragmaacutetica voltada para implementar a
visatildeo cultural e ideoloacutegica da ordem social e econocircmica estabelecida Sem espaccedilo
portanto para a diversidade embora por preconizar tantas perspectivas
transparecesse neutralidade A questatildeo clarificada na revisatildeo criacutetica posterior
condizia a quais seriam os interesses os cotidianos as especialidades os valores
elegidos
Na concepccedilatildeo dialeacutetica base das interpretaccedilotildees criacuteticas do curriacuteculo que se
seguiram o Estado articula uma classe social dirigente e uma classe social civil
propondo e atingindo objetivos coesos aos interesses de classes a ser legitimado
pela articulaccedilatildeo de uma ideologia dada sustentaacuteculo da hegemonia que manteacutem o
poder em exerciacutecio (GRAMSCI 1995) Essa compreensatildeo levou agraves teorias criacuteticas
que agiram analiticamente nos silenciamentos das abordagens conservadoras sobre
o curriacuteculo Essas criacuteticas operaram com conceitos como ldquoreproduccedilatildeo culturalrdquo
ldquoemancipaccedilatildeordquo e ldquolibertaccedilatildeordquo embasadas na questatildeo da ideologia Concepccedilotildees
como ldquoaparelho ideoloacutegico do estadordquo ldquoreproduccedilatildeo da estrutura socialrdquo e ldquointeresses
da classe capitalistardquo definiram duas linhas de estudo sobre o curriacuteculo uma
enfatizava os conteuacutedos (originando a Pedagogia Criacutetica dos Conteuacutedos) e outra
chamada genericamente de educaccedilatildeo popular trilhou a reflexatildeo sobre as lutas das
classes trabalhadoras orientando o curriacuteculo a contemplar tanto os conteuacutedos
claacutessicos quanto os conhecimentos profissionais Os fundamentos da teoria criacutetica
para o qual igualmente contribuiacuteram referenciais da psicanaacutelise da fenomenologia e
da hermenecircutica permitiram rever as relaccedilotildees de ensino e aprendizagem a partir
das conexotildees entre saber curriacuteculo ideologia e poder discernindo o discurso
escolar como entreposto de problemas expressos na exclusatildeo escolar atraveacutes da
eleiccedilatildeo curricular de determinadas formas de raciociacutenio que privilegiava alguns
conteuacutedos e silenciava outros
Vistos em retrospectiva de fato os curriacuteculos apresentam visotildees de mundo
sectadas em formaccedilotildees discursivas que expressam determinados valores atuantes agrave
eacutepoca embora atuem igualmente vozes dissonantes capazes de perturbar a
estabilidade e implodir determinados consensos Por isso mesmo tais vozes satildeo
contidas e silenciadas por todos os meios possiacuteveis a interdiccedilatildeo dessas vozes em
termos da bibliografia didaacutetica sinaliza a existecircncia ou natildeo desses materiais e seus
discursos no mercado educacional Algumas obras didaacuteticas de Geografia ilustram
esse processo quando propotildeem uma abordagem ou metodologia natildeo concordante
que resultam na natildeo publicaccedilatildeo ou na natildeo adoccedilatildeo nas escolas eacute o caso das Breves
noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil de Praxedes Pacheco
(1857) que analisarei em outro momento Agraves vezes tem aceitaccedilatildeo tiacutemida no
mercado escolar
Mais recentemente o curriacuteculo na perspectiva humanista (teorias
tradicionais) na tecnicista bem como na perspectiva dos curriacuteculos emancipatoacuterios
das pedagogias criacuteticas foi questionado por teorias poacutes-criacuteticas O pensamento poacutes-
estruturalista (movimento ao qual a Anaacutelise do Discurso pertence) desenvolveu
formas de anaacutelise proacutepria para a criacutetica agraves instituiccedilotildees teorizando sobre um conjunto
diversificado de objetos e meios tais como a linguagem a miacutedia as artes dentre
outros de modo que o estudo do curriacuteculo questionou a distinccedilatildeo entre
conhecimento claacutessico e cultura cotidiana Passa-se a considerar um curriacuteculo
flexiacutevel sensiacutevel agraves diferenccedilas culturais A construccedilatildeo e o desenvolvimento de
identidades no entreposto de praacuteticas sociais integram a proposta de teorizaccedilatildeo e
elaboraccedilatildeo dos curriacuteculos proposta que tanto envolve o multiculturalismo quanto a
Anaacutelise do Discurso
A tradiccedilatildeo por seu lado perpassa a histoacuteria dos curriacuteculos No pretexto de
transmitir ndash o sentido etimoloacutegico da palavra eacute entregar (no latim traditio tradere) ndash
praacuteticas conhecimentos atitudes valores normas a elaboraccedilatildeo do curriacuteculo
introduz sutilmente as marcas de uma eacutepoca ao mesmo tempo em que seleciona no
passado o que condiz e silencia ou exclui o que for inconveniente aos interesses em
sustentaccedilatildeo
Esse breve exame teoacuterico e histoacuterico sobre o curriacuteculo a ser aprofundado na
medida em que for necessaacuterio agrave anaacutelise da tese introduz o curriacuteculo como um
nuacutecleo motor ao fazer da literatura didaacutetica contacta os espaccedilos sujeitos
instituiccedilotildees que se cruzam na formulaccedilatildeo do discurso didaacutetico e dos seus objetivos
educacionais
Eacute importante ressaltar que o periacuteodo em anaacutelise tem deficiecircncia de estudos
gerais no sentido epistemoloacutegico do curriacuteculo cujos estudos sistematizados satildeo
marcados a partir do seacuteculo XX como visto No entanto o desenvolvimento atual do
estudo do curriacuteculo permite perceber nuances e tendecircncias integradas agraves praacuteticas
antigas do curriacuteculo no que tange agrave constituiccedilatildeo e agraves transformaccedilotildees de um
curriacuteculo para a Geografia escolar brasileira e para a constituiccedilatildeo de sua bibliografia
didaacutetica
12 Anaacutelise do Discurso fundamentos teoacuterico-metodoloacutegicos da interpretaccedilatildeo
A Anaacutelise do Discurso eacute um campo de estudo interdisciplinar que dialoga a
Linguiacutestica com ciecircncias de formaccedilatildeo social destacando-se por considerar e
valorizar em seu corpo teoacuterico a historicidade inscrita na linguagem e romper a
noccedilatildeo de transparecircncialiteralidade desta demonstrando-a como histoacuterica e
ideoloacutegica
A partir do acervo teoacuterico-metodoloacutegico da anaacutelise discursiva eacute possiacutevel agrave
pesquisa considerar a linguagem como categoria para investigar o processo de
produccedilatildeo de sentidos e seu funcionamento histoacuterico-social Com a Anaacutelise do
Discurso a linguagem passa a ser entendida como produccedilatildeo social circunscrita por
operadores como o sujeito a ideologia a histoacuteria
O campo da Linguiacutestica atual gravita em torno das noccedilotildees de fala liacutengua
linguagem e discurso como objetos de sua construccedilatildeo Essa abrangecircncia permite
que outros domiacutenios do conhecimento dialoguem com seus recursos teoacuterico-
metodoloacutegicos o que auxilia o entendimento de seus objetos de estudo quando em
abordagem linguageira dentre os quais os dispositivos de interpretaccedilatildeo a partir de
uma fundamentaccedilatildeo soacutelida sobre as questotildees da linguagem A Linguiacutestica estrutural
focada na Fala e na Liacutengua9 tal qual se desenvolvia desde a obra seminal de
Ferdinand de Saussure (2008) Curso de Linguiacutestica Geral limitava a compreensatildeo
da linguagem em suas diversas formas e performances
Na Linguumliacutestica estrutural de matriz saussureana a enunciaccedilatildeo podia ser entendida como uma realizaccedilatildeo livre e independente empreendida pelo indiviacuteduo falante o que ademais excluiacutea o discurso do campo dos estudos linguumliacutesticos em um plano de anaacutelise fonoloacutegica ou morfossintaacutetica estavam exclusas as variaacuteveis soacutecio-culturais (SILVA 2006 p 159)
As rupturas com o Positivismo no entanto a partir dos anos 1960
permitiram agrave Linguiacutestica iniciar um diaacutelogo profiacutecuo com diferentes campos do saber
particularmente com a Histoacuteria a Filosofia (em especial com o Materialismo
Histoacuterico) e a Psicanaacutelise Esta interdisciplinaridade interna por sua vez passou a
9 Liacutengua e Fala na acepccedilatildeo saussureana implicam uma oposiccedilatildeo dicotocircmica na qual a Liacutengua eacute
compreendida como o sistema social da linguagem humana e a Fala como apropriaccedilatildeo individual da Liacutengua
permitir que outros campos se aproximassem para o estabelecimento de pesquisas
fundamentadas na interdisciplinaridade conforme assinalado acima Este eacute o
contexto da Anaacutelise do Discurso francesa que procura compreender o discurso
como praacutetica da linguagem De acordo com Gregolin (2003) o deslocamento teoacuterico-
metodoloacutegico da liacutenguafala para o discurso como unidade de anaacutelise despertou o
interesse para aspectos marginalizados na Linguiacutestica estrutural como a conotaccedilatildeo
a retoacuterica a estiliacutestica as estrateacutegias discursivas da argumentaccedilatildeo e sobretudo a
inscriccedilatildeo social na linguagem
Em siacutentese a Anaacutelise do Discurso eacute um dispositivo de interpretaccedilatildeo uacutetil a
qualquer pesquisa que eleja a linguagem como categoria de investigaccedilatildeo O Ensino
de Geografia no comeccedilo do milecircnio presenciou o surgimento de alguns trabalhos
com fundamento teoacuterico-metodoloacutegico na Anaacutelise do Discurso para a compreensatildeo
do livro didaacutetico dessa disciplina dentre os quais Gonzaga (2000) que pesquisou a
terminologia das Geografias Tradicional e Criacutetica Ferreira (2004) com uma anaacutelise
do discurso geograacutefico criacutetico e Silva (2006) com uma anaacutelise discursiva dos
sentidos poliacuteticos em livros didaacuteticos desta disciplina este o primeiro trabalho com
essa perspectiva teoacuterico-metodoloacutegica no interior da ciecircncia geograacutefica
A Anaacutelise do Discurso como diz o nome desses estudos portanto
desenvolve-se em torno do discurso compreendido a partir da ideia de movimento
curso percurso dos sentidos Por meio desses estudos conforme Orlandi (2002 p
15) ldquo[] procura-se compreender a liacutengua fazendo sentido enquanto trabalho
simboacutelico parte do trabalho social geral constitutivo do homem e da sua histoacuteriardquo A
anaacutelise da linguagem em uma perspectiva discursiva permite um enfoque no
funcionamento da linguagem com as instacircncias da Histoacuteria da ideologia e dos
sentidos pois eacute nessa correlaccedilatildeo que discursos e praacuteticas satildeo produzidos os
conteuacutedos em si (o ldquoo querdquo) apesar de considerados cedem espaccedilo analiacutetico para
uma dimensatildeo processual maior ndash o ldquocomordquo se constituem ldquopor querdquo e como foram
dinamizados
Situada na Linguiacutestica como jaacute aferido a Anaacutelise do Discurso desenvolve-se
desde a deacutecada de 1960 incialmente na Franccedila no momento em que Michel
Pecirccheux apresenta uma obra de rompimento com a Linguiacutestica da frase
estruturalista e positivista centrada na descriccedilatildeo anaacutelise e compreensatildeo interiores
ao enunciado predominantemente delimitado pela frase ndash do fonema agrave sintaxe ndash
que se desloca entatildeo com Pecirccheux em direccedilatildeo a uma Linguiacutestica do discurso
Trata-se de uma Linguiacutestica referente ao imanente segundo o qual se define a frase
de acordo com as relaccedilotildees de seus termos interiores ou seja intrafrasais Nessa
perspectiva natildeo interessava aos linguistas por natildeo conceberem como importantes
ndash dado o objeto e os objetivos circunscritos entatildeo ndash as relaccedilotildees extralinguiacutesticas da
enunciaccedilatildeo ou melhor dizendo as relaccedilotildees transfraacutesticas da enunciaccedilatildeo as
relaccedilotildees para aleacutem da frase
Pecirccheux certamente natildeo estava isolado nessa orientaccedilatildeo10 O
deslocamento da liacutengua para a linguagem interessava a inuacutemeros linguistas em
locais geograacuteficos distintos e assim a Anaacutelise do Discurso foi um dos campos
emergentes dentre os quais se encontram a Sociolinguiacutestica a Linguiacutestica Textual
a Pragmaacutetica a Anaacutelise da Conversaccedilatildeo A Anaacutelise do Discurso se distingue destes
campos pois enquanto aqueles se encaminharam para uma investigaccedilatildeo dos fatos
linguiacutesticos a Anaacutelise do Discurso se expandiu para a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees
constitutivas da enunciaccedilatildeo e do discurso pondo em relevo o contexto soacutecio-
histoacuterico na produccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos
Michel Pecirccheux (1938-1983) na Franccedila no que diz respeito agrave formulaccedilatildeo
de uma teoria para a anaacutelise discursiva publicou um dos textos fundadores nesse
sentido nos anos 1960 o livro Anaacutelise automaacutetica do discurso no qual propunha
dispositivos de anaacutelise do discurso como um novo objeto A partir da obra que
escreveria ateacute iniacutecio dos anos 1980 (PEcircCHEUX 1981 1997 1999a 1999b 2001a
2001b 2001c 2002 dentre outras) desenvolveu-se a Anaacutelise do Discurso de linha
francesa ou ldquoderivada de Pecirccheuxrdquo filiada ainda a outros ldquoquatro pilaresrdquo autorais
Louis Althusser (1918-1990) Michel Foucault (1926-1984) Mikhail Bakhtin (1895-
1975) e Jacques Lacan (1901-1981) quanto ao desenvolvimento de um corpo
teoacuterico-metodoloacutegico O substrato epistemoloacutegico portanto da Anaacutelise do Discurso
entrecruza a Linguiacutestica o Marxismo e a Psicanaacutelise para instituir duas categorias
preciacutepuas o sujeito e o sentido no discurso
10
Jean Dubois autor como Pecirccheux ligado agrave Linguiacutestica ao marxismo e agrave anaacutelise poliacutetica igualmente publicou um texto fundante da Anaacutelise do Discurso francesa o artigo ldquoLexicologia e anaacutelise do enunciadordquo em fins dos anos 1960 Nessa mesma eacutepoca surgia outra vertente de rompimento com a Linguiacutestica estrutural na Inglaterra com Norman Fairclough A Anaacutelise do Discurso francesa foi introduzida no Brasil em fins da deacutecada de 1970 por Eni Puccinelli Orlandi que divulgou a obra de Michel Pecirccheux em liacutengua portuguesa e implementou a formaccedilatildeo de analistas discursivos no Brasil (GREGOLIN 2003)
121 O sujeito a histoacuteria e a ideologia na anaacutelise discursiva a questatildeo da autoria
O sujeito na Anaacutelise do Discurso natildeo eacute concebido como centro e origem do
seu discurso poreacutem como uma construccedilatildeo polifocircnica enunciando a partir de um
lugar onde a significaccedilatildeo eacute constituiacuteda historicamente Por conseguinte o sujeito
pode ser compreendido a partir de sua diferenciaccedilatildeo do indiviacuteduo O indiviacuteduo eacute
sujeito porque diz porque eacute imerso no discurso pertencendo a diversas memoacuterias
discursivas sendo por elas constituiacutedo A ideologia nesse sentido eacute condiccedilatildeo
constitutiva do sujeito A partir das contribuiccedilotildees de Mikhail Bakhtin o sujeito
discursivo eacute descentrado na sua enunciaccedilatildeo pois eacute constituiacutedo em uma interaccedilatildeo
social em sua voz haacute um conjunto de vozes vozes essas heterogecircneas Bakhtin
propriamente desenvolveu uma filosofia da linguagem na qual teve espaccedilo para o
sujeito ser compreendido em suas relaccedilotildees com a histoacuteria Sua abordagem eacute
particularmente interessante ao entendimento discursivo do sujeito a partir dos
enfoques teoacutericos que desenvolveu para noccedilotildees como gecircnero vozes e sobretudo
polifonia Jacqueline Authier-Revuz por exemplo a partir do pensamento de
Bakhtin elaborou o conceito de heterogeneidade discursiva explicada adiante Por
conseguinte
[] o sujeito discursivo deve ser considerado sempre como um ser social apreendido em um espaccedilo coletivo portanto trata-se de um sujeito natildeo fundamentado em uma individualidade em um ldquoeurdquo individualizado e sim um sujeito que tem existecircncia em um espaccedilo social e ideoloacutegico em um dado momento da histoacuteria e natildeo em outro A voz desse sujeito revela o lugar social logo expressa um conjunto de outras vozes integrantes de dada realidade social de sua voz ecoam as vozes constitutivas eou integrantes desse lugar soacutecio-histoacuterico (FERNANDES 2005 p 33-34)
O sujeito discursivo assim eacute um sujeito polifocircnico A leitura pelos analistas
da obra de Jacques Lacan completou a abordagem discursiva do sujeito pois
pressupondo-o clivado em consciente e inconsciente estabeleceu viacutenculos entre a
Psicanaacutelise e a Linguiacutestica evidenciando que o inconsciente estrutura-se em
linguagem atravessado pelo discurso do Outro O sujeito discursivo nesses termos
pode ser compreendido a partir dos conceitos de formaccedilatildeo imaginaacuteria da noccedilatildeo do
simboacutelico e do inconsciente na constituiccedilatildeo sujeitudinal
Por ser apreendido no social na ideologia e na histoacuteria por estar imerso nos
discursos e interagir por eles o sujeito eacute captado na anaacutelise discursiva por meio da
enunciaccedilatildeo ou seja pelos sentidos produzidos entre sujeitos diferentes
posicionados que estatildeo soacutecio-histoacuterico-ideologicamente em lugares distintos de
onde enunciam e se apercebem da enunciaccedilatildeo No desenvolvimento atual da
anaacutelise discursiva o sujeito eacute visto como marcado pela heterogeneidade discursiva
ou seja clivado cindido divido e descentrado embora em outras eacutepocas desta
disciplina tenha sido compreendido como um ser uacutenico assujeitado agraves maquinarias
institucionais desta concepccedilatildeo o sujeito evoluiu ao chamado sujeito-posiccedilatildeo e
desta para o sujeito clivado percepccedilatildeo atual (Pecirccheux 2001b 2001c 2002 1997)
Fundamentado em Pecirccheux Possenti (2002 p 99) procura sistematizar a
concepccedilatildeo do sujeito discursivo nos seguintes termos
1 - os sujeitos satildeo integralmente sociais e histoacutericos e integralmente individuais ndash para evitar o subjetivismo desvairado e a identificaccedilatildeo do sujeito com uma peccedila
2 - cada discurso eacute integralmente histoacuterico e social e integralmente pessoal e circunstancial ndash para evitar a ideacuteia de que o sujeito eacute fonte de seu discurso e a de que eacute o discurso que se daacute
3 - cada discurso eacute integralmente interdiscurso e integralmente relativo a um mundo exterior ndash para evitar a ideacuteia de que o discurso refere-se diretamente agraves coisas e a de que tudo eacute discurso ou que a realidade se houver uma eacute criada pelo discurso
4 - cada discurso eacute integralmente ideoloacutegico eou inconsciente e integralmente cooperativo e interpessoal - para evitar a ideacuteia de que o sujeito diz o que diz materializando as suas intenccedilotildees e a de que o sujeito natildeo tem nenhum poder de manobra e que o interlocutor concreto eacute irrelevante
5 - o falante sabe (integralmente) o que estaacute dizendo e ilude-se (integralmente) se pensar que sabe o que diz (ou que soacute diz o que quer) - para evitar que se desconheccedilam os saberes que os sujeitos acumulam em sua praacutetica histoacuterica e que se conclua disso que nada lhes eacute estranho ou desconhecido
A questatildeo pode ser formulada em termos anaacutelogos a certos problemas da microfiacutesica Uma partiacutecula pode ser integralmente onda e integralmente corpuacutesculo sendo que a anaacutelise em um ou outro dos termos natildeo equivale a uma negaccedilatildeo de propriedades do real mas eacute sempre uma questatildeo de relevacircncia ou mesmo de preferecircncia
Com isso percebe-se que o sujeito atua em uma esfera de intermediaccedilatildeo entre o
seu plano e o plano do mundo em uma rede de sentidos que interage e retroage de
forma complexa e contiacutenua O discurso tem uma feiccedilatildeo aparentemente uacutenica mas
na verdade eacute uma apropriaccedilatildeo na qual haacute um encontro de vozes constituintes a que
Bakhtin denomina polifonia ou conjunto de vozes possiacuteveis de serem identificadas
em um discurso Ao conceito de polifonia segue-se outro bakhtiniano tambeacutem o
dialogismo em que na instacircncia da enunciaccedilatildeo o sujeito dialoga com o interlocutor
e com outros discursos O sujeito ainda eacute marcado pela construccedilatildeo da identidade
em um processo de identificaccedilatildeo no qual as diferenccedilas satildeo negociadas em seu
processo de constituiccedilatildeo
A ideologia eacute indispensaacutevel para a concepccedilatildeo analiacutetica do discurso e para a
compreensatildeo do sujeito A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo foi formulada na Anaacutelise
do Discurso a partir da obra de Louis Althusser Partindo do materialismo histoacuterico
em Althusser (1980) a noccedilatildeo de ideologia foi revista de forma diferente daquela
proposta por Marx ndash ideologia como uma ldquofalsa consciecircnciardquo ndash passando a ser
entendida como a relaccedilatildeo do sujeito com as condiccedilotildees materiais da existecircncia a
ideologia seria mais que ideias seria praacuteticas sociais exercidas nas relaccedilotildees de
produccedilatildeo do cotidiano Para Althusser os sujeitos satildeo determinados pela ideologia
inconscientes dela e assujeitados pela posiccedilatildeo discursiva que ocupam o que o
levou a conceituar os ldquoaparelhos ideoloacutegicos de estadordquo e das instituiccedilotildees como
instacircncias sociais nas quais as ideologias se materializam Por meio da ideologia
portanto tem-se o encontro da Linguiacutestica com o discurso
[] como a ideologia deve ser estudada em sua materialidade a linguagem se apresenta como o lugar privilegiado em que a ideologia se materializa A linguagem se coloca para Althusser como uma via por meio da qual se pode depreender o funcionamento da ideologia (MUSSALIM 2001 p 104)
A partir da noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux teorizou as ldquocondiccedilotildees
de produccedilatildeo do discursordquo ou as relaccedilotildees de forccedila que atuam dentro do discurso em
outras palavras o funcionamento da liacutengua com a ideologia e com a histoacuteria cuja
relaccedilatildeo desvenda a posiccedilatildeo do sujeito no discurso
[] os fenocircmenos linguumliacutesticos de dimensatildeo superior agrave frase podem efetivamente ser concebidos como um funcionamento mas com a condiccedilatildeo de acrescentar imediatamente que este funcionamento natildeo eacute integralmente linguumliacutestico no sentido atual desse termo [tal como na Linguiacutestica estrutural] e que natildeo podemos defini-lo senatildeo em referecircncia ao mecanismo de colocaccedilatildeo dos protagonistas e do objeto de discurso mecanismo que chamamos de ldquocondiccedilotildees de produccedilatildeordquo do discurso (PEcircCHEUX 2001c p 78 ndash itaacutelicos do autor)
Dupla face de um mesmo erro central que consiste de um lado em considerar as ideologias como ideacuteias e natildeo como forccedilas materiais e de
outro lado em conceber que elas tecircm sua origem nos sujeitos quando na verdade elas constituem os indiviacuteduos em sujeitos (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)
Natildeo ser a ideologia ideias natildeo significa ser por conseguinte uma visatildeo ou
representaccedilatildeo do mundo muito menos um processo de ocultaccedilatildeo da realidade a
ideologia eacute as accedilotildees em praacutetica no mundo e o que delas resulta Assim a
bibliografia didaacutetica aqui suscitada eacute a(as) formaccedilatildeo(otildees) ideoloacutegica(as) de seu
tempo da Histoacuteria que permitiu sua existecircncia
As condiccedilotildees do discurso sugerem o rompimento proposto entre frase e
discurso pois para Pecirccheux (2001c p 79 grifos do autor) o discurso natildeo se
submete a uma anaacutelise ldquo[] como um texto isto eacute como uma sequumlecircncia linguumliacutestica
fechada sobre si mesma mas [] eacute necessaacuterio referi-lo ao conjunto de discursos
possiacuteveis a partir de um estado definido de condiccedilotildees de produccedilatildeordquo
Fernandes (2005 p 20-21) considerando o discurso do Sem-Terra
demonstra de forma bem sucinta como o discurso do sujeito exterioriza suas
condiccedilotildees de produccedilatildeo por meio do uso e das escolhas lexicais evidenciando um
conflito social com representantes distintos no acircmbito da discursividade
[] observemos o emprego dos substantivos ocupaccedilatildeo e invasatildeo em revistas e jornais que circulam em nosso cotidiano Tais substantivos satildeo constantemente encontrados em reportagens eou entrevistas que versam sobre os movimentos dos trabalhadores rurais Sem-Terra e revelam diferentes discursos que se opotildeem e se contestam Em torno do Sem-Terra ocupaccedilatildeo eacute empregado pelos proacuteprios Sem-Terra e por aqueles que os apoacuteiam e os defendem para designar a utilizaccedilatildeo de algo obsoleto ateacute entatildeo natildeo utilizado no caso a terra Invasatildeo referindo-se agrave mesma accedilatildeo eacute empregado por aqueles que se opotildeem aos Sem-Terra contestam-nos e designa um ato ilegal e considera os sujeitos em questatildeo como criminosos invasores
No discurso histoacuterico brasileiro tambeacutem encontramos outro exemplo
bastante significativo aos acontecimentos poliacutetico-militares de 1964 duas
denominaccedilotildees foram comuns ndash ldquorevoluccedilatildeordquo e ldquogolpe militarrdquo ou ldquoditadurardquo Os
discursos que emergiam o lexema ldquorevoluccedilatildeordquo revela(va)m os partidaacuterios do
movimento militar e ldquogolpe de estadordquo ou ldquoditadurardquo os seus oposicionistas
Todo sujeito portanto compreende a realidade ideologicamente e isto o
posiciona na ordem social as filiaccedilotildees ideoloacutegicas o condicionam A Anaacutelise do
Discurso e tambeacutem outros campos do conhecimento em relaccedilatildeo a Althusser
colocaram em criacutetica a interpelaccedilatildeo pelo assujeitamento que este filoacutesofo evidenciou
de forma quase engessada nas noccedilotildees de aparelho ndash do qual o escape seria quase
impossiacutevel Sobretudo na Anaacutelise do Discurso esse assujeitamento riacutegido foi
desconstruiacutedo pela consideraccedilatildeo da interpelaccedilatildeo pelo inconsciente e pela
resistecircncia do sujeito no que diz respeito agrave formaccedilatildeo de sua identidade ou aos
desvios discursivos e mesmo em relaccedilatildeo ao ldquoacontecimentordquo compreendido por
Pecirccheux como o momento em que o discurso se reestrutura O sujeito submete-se
livremente agraves condiccedilotildees de produccedilatildeo impostas pelas formaccedilotildees do discurso e da
ideologia Livremente no sentido de que pode reagir a elas Natildeo haacute contudo outra
forma de constituiccedilatildeo do sujeito que natildeo seja o assujeitamento agrave ideologia
A subjetividade do sujeito eacute determinada pelo assujeitamento assumindo
uma dimensatildeo histoacuterica ldquoa forma-sujeito histoacuterica que corresponde agrave da sociedade
atual representa bem a contradiccedilatildeo eacute um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso
Ele eacute capaz de uma liberdade sem limites e uma submissatildeo sem falhasrdquo (ORLANDI
2002 p 50)
As forccedilas materiais da ideologia embrenhada nos discursos natildeo satildeo da
ordem da consciecircncia
Eacute a ideologia que fornece as evidecircncias pelas quais ldquotodo mundo saberdquo o que eacute um soldado um operaacuterio um patratildeo uma faacutebrica uma greve etc evidecircncias que fazem com que uma palavra ou um enunciado ldquoqueiram dizer o que realmente dizemrdquo e que mascaram assim sob a ldquotransparecircncia da linguagemrdquo aquilo que chamaremos o caraacuteter material do sentido das palavras e dos enunciados (PEcircCHEUX 1997 p 129 ndash itaacutelicos do autor)
Sobretudo os discursos agem pelo apagamento
[] se uma palavra uma mesma expressatildeo e uma mesma proposiccedilatildeo podem receber sentidos diferentes ndash todos igualmente ldquoevidentesrdquo ndash conforme se refiram a esta ou aquela formaccedilatildeo discursiva eacute porque [] uma palavra uma expressatildeo ou uma proposiccedilatildeo natildeo tem um sentido que lhe seria ldquoproacutepriordquo vinculado a sua literalidade Ao contraacuterio seu sentido se constitui em cada formaccedilatildeo discursiva nas relaccedilotildees que tais palavras expressotildees ou proposiccedilotildees mantecircm com outras palavras expressotildees ou proposiccedilotildees da mesma formaccedilatildeo discursiva (PEcircCHEUX 1997 p 161)
Orlandi (2002 p 46) demonstra que esse apagamento eacute um mecanismo
proacuteprio da interpretaccedilatildeo Todo discurso eacute interpretado natildeo haacute literalidade no dizer o
alcance dos sentidos e dos seus efeitos eacute onerado pelas filiaccedilotildees histoacuterico-
ideoloacutegicas do sujeito O sentido eacute definido pelo movimento de interpretaccedilatildeo o qual
passa pela posiccedilatildeo ideoloacutegica frente agrave enunciaccedilatildeo quando se escreve quando se
fala quando se lecirc quando se ouve Diante do discurso enunciado o sujeito exerce
um esquecimento da interpretaccedilatildeo de forma a naturalizaacute-la e construir
transparecircncias no dizer (ORLANDI 2002 p 46)
Por esse mecanismo ndash ideoloacutegico ndash de apagamento da interpretaccedilatildeo haacute transposiccedilatildeo de formas materiais em outras construindo-se transparecircncias ndash como se a linguagem e a histoacuteria natildeo tivessem sua espessura sua opacidade ndash para serem interpretadas por determinaccedilotildees histoacutericas que se apresentam como imutaacuteveis naturalizadas Esse eacute o trabalho da ideologia produzir evidecircncias colocando o homem na relaccedilatildeo imaginaacuteria com suas condiccedilotildees materiais de existecircncia
Nesse sentido a ideologia natildeo se oculta no dizer mas opera na linguagem
fazendo com que a palavra cumpra sua funccedilatildeo ndash a de designar alguma coisa ndash
constituindo o sentido Assim toda linguagem eacute ideoloacutegica toda enunciaccedilatildeo parte
de uma formaccedilatildeo ideoloacutegico-discursiva e eacute reinterpretada por outra
A interpretaccedilatildeo do discurso no entanto natildeo eacute vista como subjetiva pois
transita com garantias pela memoacuteria em duas perspectivas de um lado pela
memoacuteria institucionalizada que Foucault (2005a) denomina Arquivo isto eacute a
reuniatildeo de determinadas formaccedilotildees discursivas o que faz com que a interpretaccedilatildeo
seja social de outro pela memoacuteria constitutiva tambeacutem denominada interdiscurso
pela qual o sujeito constitui os sentidos (ORLANDI 2002) todo enunciar se posta
em uma formaccedilatildeo discursiva o que abriga conflitos mas natildeo um arbiacutetrio do tipo
subjetivo
Esta revisatildeo teoacuterica sobre o sujeito me leva a considerar a principal tipologia
de sujeitos com os quais esta pesquisa lida no acircmbito do discurso didaacutetico de
Geografia em abordagem os sujeitos autores
A autoria na Anaacutelise do Discurso pode ser entendida como um
acontecimento na acepccedilatildeo que Pecirccheux (2002 p 19) deu ao termo ldquo[] o fato
novo as cifras as primeiras declaraccedilotildees [] em seu contexto de atualidade e no
espaccedilo de memoacuteria que ele convocardquo A autoria se enquadra em uma das posiccedilotildees
que o sujeito pode assumir na enunciaccedilatildeo discursiva Notabiliza-se por ser uma
posiccedilatildeo extremamente marcada pelas condiccedilotildees sociais histoacutericas e ideoloacutegicas
sendo dele cobradas exigecircncias de coerecircncia natildeo-contradiccedilatildeo e responsabilidade
(FOUCAULT 2005a) O sujeito-autor assume o entrecruzamento de diversas ordens
discursivas precisando imprimir-lhe uma aparente unicidade
A posiccedilatildeo sujeito-autor no caso do discurso didaacutetico eacute uma funccedilatildeo
enunciativa que natildeo implica um desempenho individual embora assim seja nas
aparecircncias Nesse sujeito haacute um efeito construiacutedo em torno de duas imagens a de
autoria e a de autoridade a partir de uma relaccedilatildeo social de poder O discurso
didaacutetico assume o lugar de um discurso competente ldquo[] eacute o lugar do saber definido
pronto acabado correto e dessa forma fonte uacuteltima (e agraves vezes uacutenica) de
referecircnciardquo (SOUZA 1999 p 27) O efeito a ser produzido na face de autoridade eacute
a de veicular sentidos imperativos afirma ou nega incisivamente deixando pouca
margem para questionamentos do que diz A imagem construiacuteda nesses efeitos eacute a
de quem diz o que estaacute dizendo sabe do que fala e eacute isso mesmo O efeito de
autoridade eacute reafirmado por diversas formaccedilotildees ideoloacutegicas que alinham o discurso
didaacutetico o Estado as editoras as idiossincrasias a imprensa as ciecircncias de base
filiando-o a uma imersatildeo histoacuterica definida o que faz dele um instrumento da
institucionalizaccedilatildeo escolar fora da qual natildeo tem aceitaccedilatildeo A autoridade do
discurso didaacutetico responde a outras instacircncias autoritaacuterias portanto ao curriacuteculo e
ao programa por exemplo
Isso significa dizer que o discurso didaacutetico eacute delimitado circunscrito quanto
ao que nele pode ser proposto e dito ao objetivo que pode orientaacute-lo O Estado ou
as instituiccedilotildees por ele autorizadas prescreve os limites e as diretrizes desse
discurso as instituiccedilotildees escolares os cumprem e as editoras ndash intermediaacuterias nessa
relaccedilatildeo de realizaccedilatildeo ndash por sua vez se atentam minuciosamente a esses limites
pois isso faz com que seus produtos tenham coerecircncia com a necessidade do
mercado e por conseguinte aceitaccedilatildeo
A trajetoacuteria da bibliografia didaacutetica de Geografia e do livro didaacutetico em
contexto mais amplo tem fatos exemplares quanto ao cumprimento dessa norma e
quanto agraves medidas incidentes ao rompimento dessa norma Em uacuteltima instacircncia
trata-se de um processo de legitimaccedilatildeo O veto a autorizaccedilatildeo e as recomendaccedilotildees
para correccedilatildeo e refeitura foram os instrumentos finais das instacircncias de autorizaccedilatildeo
das obras didaacuteticas Ao professor restava uma obediecircncia incontinente ao
estabelecido A respeito Bittencourt (2008 p 58) afirma
As regulamentaccedilotildees referentes aos ldquodeveresrdquo ou ldquoobrigaccedilotildeesrdquo dos professores apresentavam sistematicamente artigos expliacutecitos sobre o uso dos livros didaacuteticos adotados pelas autoridades educacionais competentes Os professores que usassem livros proibidos estavam sujeitos a puniccedilotildees admoestaccedilotildees dos superiores com possibilidades de suspensatildeo do exerciacutecio ou multas
Por conseguinte haacute um cruzamento entre autoritarismo e autoridade no
contexto enunciativo do discurso didaacutetico
A autoria por seu lado perpassa pela noccedilatildeo do supersujeito
[] uma espeacutecie de onisciente cognitivo que deteacutem conhecimentos da aacuterea como poucos um domiacutenio aliaacutes totalizante Para isso as fontes satildeo apagadas e a produccedilatildeo do conhecimento eacute retirada de sua formaccedilatildeo histoacuterica Ausente desse processo nas aparecircncias a enunciaccedilatildeo parece vir do autor (SILVA 2006 p 196)
Isso ao mesmo tempo em que faz emergir um efeito de coerecircncia e unidade na
dispersatildeo (GREGOLIN 2004b) as contradiccedilotildees as duacutevidas as ambiguidades do
conhecimento simplesmente desaparecem do discurso do sujeito didaacutetico
A noccedilatildeo de heterogeneidade discursiva introduzida na Anaacutelise do Discurso
por Jacqueline Authier-Revuz (2004 p 12 grifos da autora) eacute elucidativa para se
compreender o comportamento da autoria neste tipo de discurso ldquono fio do discurso
que real e materialmente um locutor uacutenico produz um certo nuacutemero de formas
linguisticamente detectaacuteveis no niacutevel da frase ou do discurso inscrevem em sua
linearidade o outrordquo Todo discurso e por extensatildeo todo sujeito eacute constituiacutedo pelo
Outro embora as formas de manifestaccedilatildeo possam variar Os discursos e os sujeitos
existem porque haacute uma heterogeneidade constitutiva a interaccedilatildeo social permite que
o sujeito apreenda sentidos de diversas formaccedilotildees discursivas e dessa
heterogeneidade o sujeito eacute produzido eacute constituiacutedo tem o que dizer Uma segunda
forma eacute a heterogeneidade mostrada segundo a qual a voz do outro se manifesta
explicitamente no devir do discurso a materialidade discursiva deixa entrever
diretamente por referecircncia a fonte do seu dizer
No discurso didaacutetico de Geografia conforme demonstrado na histoacuteria e na
anaacutelise suscitada por esta pesquisa haacute uma prevalecircncia da heterogeneidade
constitutiva em todas as geraccedilotildees de manuais observadas funcionando para
construir um efeito de autoria e de autoridade perceptiacutevel apenas na instacircncia da
anaacutelise a partir das hipoacuteteses de pesquisa sugeridas pelo analista que se confronte
com esses discursos
O sujeito que enuncia o discurso didaacutetico em primeiro lugar eacute um sujeito
autorizado a dizer o que diz o que significa que tem uma inscriccedilatildeo discursiva
adquirida de alguma forma (FERNANDES 2005) por estudo proacuteprio por formaccedilatildeo
por institucionalizaccedilatildeo ndash lembrando que sua competecircncia e coerecircncia com as
instacircncias do poder escolar eacute regra para que possa existir Todo o processo de
imersatildeo discursiva que o inscreveu nesse discurso resulta de uma dispersatildeo de
vozes na cena da formaccedilatildeo discursiva Esta inscriccedilatildeo no entanto na
heterogeneidade constitutiva eacute assujeitada ao discurso em curso de forma que as
vozes diversas satildeo apagadas na enunciaccedilatildeo O sujeito nesses termos compotildee no
manual didaacutetico em especiacutefico mas tambeacutem em outras instacircncias uma superfiacutecie
discursiva lisa conceito que proponho para compreender no discurso didaacutetico o fio
do dizer que promove o efeito autoria e autoridade repassado aos sujeitos
aprendizes o que eacute feito a partir do apagamento da heterogeneidade o fio do
discurso responde apenas a um locutor uacutenico
No livro didaacutetico os espaccedilos do dizer satildeo demarcados e a enunciaccedilatildeo se
imprime mesmo graficamente para construir o efeito de autoria e a autoridade essa
superfiacutecie No discurso cientiacutefico por exemplo soacute para contrapor a heterogeneidade
mostrada eacute uma preocupaccedilatildeo constante o sujeito acadecircmico se posta entre pares
e com eles e a partir deles promove o seu discurso
Na minha dissertaccedilatildeo de mestrado (SILVA 2006) propus a noccedilatildeo de ldquobloco
textual lisordquo como suporte do sujeito enunciador para expressar a mancha autoral
que graficamente se constroacutei nos livros contemporacircneos de Geografia em grande
parte da enunciaccedilatildeo como suporte agrave heterogeneidade constitutiva Na ocasiatildeo
percebi que as heterogeneidades constitutivas e mostradas ocupam espaccedilos bem
delimitados no discurso didaacutetico de Geografia contemporacircneo
Textualmente ou melhor graficamente os enunciados satildeo organizados hierarquicamente haacute uma enunciaccedilatildeo principal a do sujeito-enunciador em fonte tipograacutefica de tamanho maior sobre fundo branco e haacute caixas de textos com fundo em diversas cores e tons nas quais estatildeo escritas notas explicativas (como designaccedilatildeo de conceitos) e nas quais o sujeito-enunciador cede a palavra para outros sujeitos colocarem pequenas enunciaccedilotildees complementares Textos complementares marcados com as
respectivas assinaturas costumam abrir e fechar capiacutetulos unidades partes etc (SILVA 2006 p 216)
Neste momento considero que os efeitos desse processo excedem bastante o niacutevel
dos significantes Por extensatildeo proponho nomear esse processo de superfiacutecie
discursiva lisa aliando aos significantes outras propriedades discursivas dentre as
quais os efeitos de sentidos que essa estrateacutegia enunciativa do discurso didaacutetico
promove
122 O discurso seus elementos e a formaccedilatildeo do dizer didaacutetico
O discurso na Anaacutelise do Discurso eacute tomado como conceito mestre dessa
construccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica e por isso difere do dado empiacuterico isto eacute dos
textos falados ouvidos impressos visualizados embora estes sejam as
materialidades ou cadeia de significantes que permitem o acesso aos discursos e
seus sentidos Pecirccheux (2001c) relaciona o dado linguiacutestico a um acircmbito de
confluecircncia entre a liacutengua o sujeito e a Histoacuteria e daiacute resulta um funcionamento na
ordem do sujeito e do sentido resultando na acepccedilatildeo de discurso O discurso
frequentemente eacute confundido como um recurso retoacuterico vazio de sentidos reais e
empiacutericos Na Anaacutelise do Discurso no entanto a acepccedilatildeo cientiacutefica do termo difere
da acepccedilatildeo usual pois o termo eacute um conceito complexo manifesto materialmente
por meio da liacutengua e da linguagem mas implicando uma exterioridade agrave liacutengua
posto ser detectada no social e absorver compreensotildees para aleacutem das questotildees
linguiacutesticas Por conseguinte diferencia-se do emprego cotidiano aquele do senso
comum
Discurso como uma palavra corrente no cotidiano da liacutengua portuguesa eacute constantemente utilizada para efetuar referecircncia a pronunciamentos poliacuteticos a um texto construiacutedo a partir de recursos estiliacutesticos mais rebuscados a um pronunciamento marcado por eloquumlecircncia a uma frase proferida de forma primorosa agrave retoacuterica e muitas outras situaccedilotildees de uso da liacutengua em diferentes contextos sociais (FERNANDES 2005 p 19-20)
Enunciar o discurso assim perpassa pelas condiccedilotildees histoacutericas como meio para a
interpretaccedilatildeo posicionando o lugar soacutecio-ideoloacutegico dos sujeitos nele envolvidos
A Anaacutelise do Discurso nega a imanecircncia dos sentidos pela qual a palavra
teria significado e natildeo sentido negando portanto sua representaccedilatildeo pelo
significante ou pelo texto extraindo-se dela a naturalidade ou a-historicidade
Significado assim eacute como a palavra definida em estado de dicionaacuterio o que a
Anaacutelise do Discurso procura eacute o sentido ou seja o acontecimento das
representaccedilotildees nos contextos soacutecio-histoacutericos dados A enunciaccedilatildeo para a Anaacutelise
do Discurso natildeo eacute literal mas interpretada embora os fatos linguiacutesticos ndash tais como
os elementos fonoloacutegicos morfoloacutegicos e sintaacuteticos ndash ou semioacuteticos sejam a
materialidade da anaacutelise a forma de acesso ao discurso pressupondo este
portanto Os sentidos nesse aspecto sempre satildeo produzidos na interaccedilatildeo
discursiva
[] no discurso os sentidos das palavras natildeo satildeo fixos natildeo satildeo imanentes conforme geralmente atestam os dicionaacuterios Os sentidos satildeo produzidos face aos lugares ocupados pelos sujeitos em interlocuccedilatildeo Assim uma mesma palavra pode ter diferentes sentidos em conformidade com o lugar socioideoloacutegico daqueles que a empregam (FERNANDES 2005 p 22-23)
Portanto os sentidos pertencem ao acontecimento e ao funcionamento dos
discursos que por sua vez pertencem a uma instacircncia histoacuterico-ideoloacutegica dada
delimitados em uma formaccedilatildeo discursiva que pode ser compreendida como o que
ldquo[] se pode dizer somente em determinada eacutepoca e espaccedilo social ao que tem
lugar e realizaccedilatildeo a partir de condiccedilotildees de produccedilotildees especiacuteficas historicamente
definidasrdquo (FERNANDES 2005 p 60) Na formaccedilatildeo discursiva cada enunciado
encontra seu lugar e seu comportamento ou regra de apariccedilatildeo Nas palavras de
Pecirccheux (1997 p 160) a formaccedilatildeo discursiva refere-se agravequilo ldquo[] que numa
formaccedilatildeo ideoloacutegica dada isto eacute a partir de uma posiccedilatildeo dada numa conjuntura
dada determinada pelo estado da luta de classes determina o que pode e deve ser
ditordquo A noccedilatildeo de formaccedilatildeo discursiva permite o entendimento de sentido para
Pecirccheux (1997 p 160 grifos do autor) uma mesma palavra expressatildeo proposiccedilatildeo
assume sentidos diversos quando transferida para outra formaccedilatildeo discursiva outro
lugar e situaccedilatildeo enunciativa
[] o sentido de uma palavra de uma expressatildeo de uma proposiccedilatildeo etc natildeo existe ldquoem si mesmordquo (isto eacute em sua relaccedilatildeo transparente com a literalidade do significante [o que eacute mais proacuteprio ao significado como demonstrado anteriormente]) mas ao contraacuterio eacute determinado pelas posiccedilotildees ideoloacutegicas que estatildeo em jogo no processo soacutecio-histoacuterico no qual as palavras expressotildees e proposiccedilotildees satildeo produzidas (isto eacute reproduzidas) Poderiacuteamos resumir essa tese dizendo as palavras expressotildees proposiccedilotildees etc mudam de sentido segundo as proposiccedilotildees sustentadas por aqueles que as empregam o que quer dizer que elas adquirem seu sentido em referecircncia a essas posiccedilotildees isto eacute em referecircncia agraves formaccedilotildees ideoloacutegicas [] nas quais essas posiccedilotildees se inscrevem
A noccedilatildeo de ldquoformaccedilatildeo discursivardquo foi dialogada na Anaacutelise do Discurso com
a obra de Michel Foucault sobretudo com os livros Arqueologia do saber (publicaccedilatildeo
original de 1969) e A ordem do discurso (original de 1970) Para Foucault a
formaccedilatildeo discursiva se evidencia pela regecircncia de regularidades nas relaccedilotildees entre
saber e poder em que a produccedilatildeo daquele eacute controlada selecionada organizada e
distribuiacuteda de forma a natildeo ameaccedilar este
Foucault (2005a p 135-136) define discurso nos seguintes termos
Chamaremos de discurso um conjunto de enunciados na medida em que se apoacuteiem na mesma formaccedilatildeo discursiva ele natildeo forma uma unidade retoacuterica ou formal indefinidamente repetiacutevel e cujo aparecimento ou utilizaccedilatildeo poderiacuteamos assinalar (e explicar se for o caso) na histoacuteria eacute constituiacutedo de um nuacutemero limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de condiccedilotildees de existecircncia O discurso assim entendido natildeo eacute uma forma ideal e intemporal que teria aleacutem do mais uma histoacuteria o problema natildeo consiste em saber como e por que ele pocircde emergir e tomar corpo num determinado ponto do tempo eacute de parte a parte histoacuterico ndash fragmentos da histoacuteria unidade e descontinuidade na proacutepria histoacuteria que coloca o problema de seus proacuteprios limites de seus cortes de suas transformaccedilotildees dos modos especiacuteficos de sua temporalidade e natildeo de seu surgimento abrupto em meio agraves cumplicidades do tempo
Foucault (2005a) no contexto de emergecircncia da Nova Histoacuteria11 na obra
Arqueologia do saber promove diversas rupturas principalmente em relaccedilatildeo a
noccedilotildees como tradiccedilatildeo influecircncia mentalidade equiliacutebrio continuidade causalidade
linearidade apresentando outras no lugar dispersatildeo descontinuidade limite seacuterie
transformaccedilatildeo dentre outras Procurando compreender a relaccedilatildeo entre discurso e
11
Corrente historiograacutefica surgida nos anos 1970 em um terceiro movimento da denominada Escola dos Annales Caracteriza-se por ser a histoacuteria das mentalidades coagindo as formas de representaccedilatildeo coletivas e as estruturas mentais das sociedades filtradas pelo historiador por meio da anaacutelise e da interpretaccedilatildeo racional dos dados (VEYNE 1995)
poder institui o enunciado como unidade de anaacutelise no meacutetodo arqueoloacutegico
compreendendo-o ainda como unidade do discurso
[] o enunciado natildeo eacute uma unidade do mesmo gecircnero da frase proposiccedilatildeo ou ato de linguagem natildeo se apoacuteia nos mesmos criteacuterios mas natildeo eacute tampouco uma unidade como um objeto material poderia ser tendo seus limites e sua independecircncia [] Natildeo eacute preciso procurar no enunciado uma unidade longa ou breve forte ou debilmente estruturada mas tomada como as outras em um nexo loacutegico gramatical ou locutoacuterio Mais que um elemento entre outros mais que um recorte demarcaacutevel em um certo niacutevel de anaacutelise trata-se antes de uma funccedilatildeo que se exerce verticalmente [] a propoacutesito de uma seacuterie de signos [] O enunciado natildeo eacute pois uma estrutura [] eacute uma funccedilatildeo de existecircncia que pertence exclusivamente aos signos e a partir da qual se pode decidir em seguida pela anaacutelise ou pela intuiccedilatildeo se eles ldquofazem sentidordquo ou natildeo [] e que espeacutecie de ato se encontra realizado por sua formulaccedilatildeo (oral ou escrita) [] eacute que ele natildeo eacute em si mesmo uma unidade mas sim uma funccedilatildeo que cruza um domiacutenio de estruturas e de unidades possiacuteveis e que faz com que apareccedilam com conteuacutedos concretos no tempo e no espaccedilo (FOUCAULT 2005a p 98-99)
O enunciado na percepccedilatildeo de Foucault eacute uma funccedilatildeo dispersa em sua
singularidade mas regular em sua repeticcedilatildeo
A questatildeo da autoria tambeacutem eacute problematizada por Foucault A partir da
noccedilatildeo da funccedilatildeo-sujeito desloca-se a autoria do desempenho individual
reafirmando o sujeito como posiccedilatildeo reforccedilando que o enunciado natildeo eacute algo isolado
mas vizinho a uma seacuterie de outros enunciados e sujeitos e inscrito e delineado em
um campo enunciativo que lhe afere lugar e status inserindo-o na Histoacuteria
sublinhando a posiccedilatildeo sujeito-autor como uma funccedilatildeo
Foucault (2005a p 43) define formaccedilatildeo discursiva do seguinte modo
No caso em que se puder descrever entre um certo nuacutemero de enunciados [um] sistema de dispersatildeo e no caso em que entre os objetos os tipos de enunciaccedilatildeo os conceitos as escolhas temaacuteticas se puder definir uma regularidade (uma ordem correlaccedilotildees posiccedilotildees e funcionamentos transformaccedilotildees) diremos por convenccedilatildeo que se trata de uma formaccedilatildeo discursiva []
Trata-se portanto da regularidade na dispersatildeo dos enunciados embora essa
estrutura natildeo seja estanque e possa em seu interior ter subarticulaccedilotildees
O conceito formaccedilatildeo discursiva contribuiu para romper a noccedilatildeo de
maquinaria estrutural na qual os discursos eram percebidos de forma fechada na
primeira eacutepoca de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica da Anaacutelise do Discurso
Contribui por conseguinte para implodir a noccedilatildeo de sujeito homogecircneo
Outra noccedilatildeo importante para a compreensatildeo do discurso e do sujeito eacute a
ldquoformaccedilatildeo ideoloacutegicardquo Pecirccheux Fuchs (2001 p 166) caracterizam-na como o
elemento
[] suscetiacutevel de intervir como uma forccedila em confronto com outras forccedilas na conjuntura ideoloacutegica caracteriacutestica de uma formaccedilatildeo social em dado momento desse modo cada formaccedilatildeo ideoloacutegica constitui um conjunto complexo de atitudes e de representaccedilotildees que natildeo satildeo nem ldquoindividuaisrdquo nem ldquouniversaisrdquo mas se relacionam mais ou menos diretamente a posiccedilotildees de classes em conflito umas com as outras
O discurso interage atraveacutes do sujeito entre as formaccedilotildees discursivas e
ideoloacutegicas por meio do interdiscurso que pode ser entendido como a ldquo[] presenccedila
de diferentes discursos oriundos de diferentes momentos na histoacuteria e de diferentes
lugares sociais entrelaccedilados no interior de uma formaccedilatildeo discursivardquo (FERNANDES
2005 p 61) Por extensatildeo ao interdiscurso compreender o discurso perpassa pela
noccedilatildeo de memoacuteria que difere da acepccedilatildeo corrente de uma memoacuteria individual ndash
centrada nas lembranccedilas de uma pessoa Para Pecirccheux (1999b) a memoacuteria eacute
exterior ao estrato psicofisioloacutegico do indiviacuteduo Nesses termos eacute colocado como
ldquo[] um conjunto complexo preacute-existente e exterior ao organismo constituiacutedo por
uma seacuterie de lsquotecidos de iacutendices legiacuteveisrsquo que constitui um corpo soacutecio-histoacuterico de
traccedilosrdquo (PEcircCHEUX 1990 f 1) A memoacuteria assim transpotildee-se para o campo social
de onde descreve as condiccedilotildees de um acontecimento aliando portanto discurso e
histoacuteria As formaccedilotildees discursivas ideoloacutegicas e imaginaacuterias12 de uma sociedade
tramitando no interdiscurso situam os sujeitos e os discursos fazendo com estes
signifiquem A memoacuteria sempre que praacutetica social eacute operacionalizada por meio de
impliacutecitos isto eacute elementos preacute-construiacutedos que atuam na produccedilatildeo dos sentidos
(PEcircCHEUX 1999b) Dessa forma a memoacuteria discursiva re-estabelece os impliacutecitos
que significam o discurso reconstituindo um imaginaacuterio no acircmbito da enunciaccedilatildeo
12
Pecirccheux dialogando com a obra de Lacan sobre o conceito de imaginaacuterio definiu as formaccedilotildees imaginaacuterias como resultantes de processos discursivos que antecedem a enunciaccedilatildeo agindo portanto como antecipaccedilatildeo de sentidos com a qual o sujeito faz uma representaccedilatildeo do receptor discursivo (natildeo confundido com sujeitos ou lugares fiacutesicos mas agraves representaccedilotildees deles suscitadas) orientando seu enunciar da imagem que daiacute resulta
Uma operaccedilatildeo taacutecita natildeo expliacutecita mas presente na construccedilatildeo dos sentidos e dos
seus efeitos De acordo com Achard (1999 p 13)
[] a explicitaccedilatildeo desses impliacutecitos em geral natildeo eacute necessaacuteria a priori e natildeo existe em parte alguma um texto de referecircncia expliacutecita que forneceria a chave Essa ausecircncia natildeo faz falta a paraacutefrase de explicitaccedilatildeo aparece antes como um trabalho posterior sobre o expliacutecito do que uma preacute-condiccedilatildeo [] Do ponto de vista discursivo o impliacutecito trabalha sobre a base de um imaginaacuterio que o representa como memorizado enquanto cada discurso ao pressupocirc-lo vai fazer apelo a sua (re)construccedilatildeo sob a restriccedilatildeo ldquono vaziordquo de que eles respeitem as formas que permitam sua inserccedilatildeo por paraacutefrase
Um dos impliacutecitos possiacuteveis por exemplo eacute o da ordem do icocircnico tanto como
materialidade verbal ou semioacutetica pois visiacutevel Este eacute um dos operadores dentre os
mais atuantes do discurso da Geografia que antes de tudo se empenha na
construccedilatildeo de uma visatildeo do mundo ldquo[] a imagem seria um operador de memoacuteria
social comportando no interior dela mesma um programa de leitura um percurso
inscrito discursivamente em outro lugarrdquo (PEcircCHEUX 1999b p 51)
O silecircncio e seu processo o silenciamento eacute outro elemento constitutivo do
discurso Foucault indica que a enunciaccedilatildeo implica um funcionamento de permissatildeo
no qual haacute o dito o natildeo dito o que natildeo pode ser dito Na enunciaccedilatildeo interagem as
formaccedilotildees discursivas e ideoloacutegicas de cada eacutepoca por meio das vozes plurais que
constituem e instituem o sujeito discursivo levando-o a dizer o que diz Um dizer
sempre controlado e freado pelos limites que o acircmbito da enunciaccedilatildeo impotildee A
propoacutesito Foucault demonstra como os discursos satildeo socialmente controlados
organizados selecionados e distribuiacutedos fato que coaduna em especiacutefico com a
posiccedilatildeo defendida pela Histoacuteria das Disciplinas Escolares e pela Histoacuteria do
Curriacuteculo que veremos adiante Se necessaacuterio o discurso pode ser interditado
Mesmo natildeo o sendo ele sempre eacute delimitado e controlado
[] em toda sociedade a produccedilatildeo do discurso eacute ao mesmo tempo controlada selecionada organizada e redistribuiacuteda por certos nuacutemeros de procedimentos que tecircm por funccedilatildeo conjurar seus poderes e perigos dominar seu acontecimento aleatoacuterio esquivar sua pesada e temiacutevel materialidade [] em uma sociedade como a nossa conhecemos eacute certo procedimentos de exclusatildeo O mais evidente o mais familiar tambeacutem eacute a interdiccedilatildeo Sabe-se bem que natildeo se tem o direito de dizer tudo que natildeo se pode falar de tudo em qualquer circunstacircncia que qualquer um enfim natildeo pode falar de qualquer coisa Tabu do objeto ritual de circunstacircncia direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala [] (FOUCAULT 2005b p 8-9)
O dialogismo bakhtiniano tambeacutem estabelece o silecircncio como uma das
vozes que atravessam a interaccedilatildeo enunciativa De acordo com Villarta-Neder (2004
p 173) o apagamento eacute um dos efeitos do silecircncio discursivo
[] as palavras natildeo soacute apagam silecircncios porque se sobrepotildeem a eles ndash e estabelecem assim um silecircncio por excesso ndash mas tambeacutem silenciam outras palavras pelo mesmo processo de sobreposiccedilatildeo Igualmente o silecircncio natildeo somente apaga as palavras porque as sobrepotildee (excesso) mas porque cria uma virtualidade em que outras palavras possiacuteveis sobrepotildeem (excesso ainda) as que natildeo foram ditas (ausecircncia) Portanto o apagamento mesmo provocado pela palavra implica sempre a instauraccedilatildeo de um tipo de silecircncio o leva a consideraacute-lo como uma decorrecircncia do silecircncio (VILLARTA-NEDER 2004 p 173)
A anaacutelise do silecircncio geralmente depreende as relaccedilotildees de poder colocadas
ao discurso
Nesses termos apoacutes essas consideraccedilotildees qual seria a caracterizaccedilatildeo do
discurso didaacutetico
Em uma perspectiva discursiva o ensino eacute uma ritualizaccedilatildeo de discursos
conjugados por sujeitos qualificados adequados a uma forma poliacutetica de
manutenccedilatildeo modificaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo ndash relaccedilatildeo na qual os saberes e os poderes
estatildeo em um conflito de definiccedilatildeo (FOUCAULT 2005b p 43) Isto porque eacute pela
educaccedilatildeo que uma sociedade moderna se molda se reproduz e se preserva de
acordo com as orientaccedilotildees impostas e negociadas nessa permanecircncia Essa
educaccedilatildeo molda sua forccedila para sobrepor-se a qualquer outra inclusive a educaccedilatildeo
tradicional como a familiar A sociedade por exemplo precisa na percepccedilatildeo do
Estado ter a feiccedilatildeo requerida por seus propoacutesitos gerais ndash aquelas permitidas por
ele
O discurso didaacutetico para esse fim eacute construiacutedo para transparecer
neutralidade surtir um efeito paciacutefico sendo influente o controle do Estado e das
instituiccedilotildees deste o controle da Ciecircncia o controle da sociedade civil O curriacuteculo
nesses termos como estrutura exposta quanto agrave proposiccedilatildeo e impliacutecita ao discurso
didaacutetico eacute controlado pelos programas dos departamentos educacionais Agrave escola
antecedem instacircncias preliminares que delimitam o discurso didaacutetico para que nele
haja efeitos de uma visatildeo social e de um sujeito direcionado mas tambeacutem eacute um
acircmbito de produccedilatildeo discursiva
O construto da Anaacutelise do Discurso de linha francesa pecheuxtiana como
demonstrado referencia-se na intersecccedilatildeo dos discursos e da histoacuteria para
compreender a linguagem em funcionamento na construccedilatildeo dos sujeitos e dos
sentidos O discurso portanto tem uma ordem que prevalece acima dos sujeitos
revelada natildeo em si em sua materialidade mas nas condiccedilotildees de sua produccedilatildeo ele
aparece em uma formaccedilatildeo parece desaparecer e ressurge adiante com novas
condiccedilotildees Algo do discurso didaacutetico eacute uacutenico e proacuteprio a ele mesmo mas com
materialidades e manifestaccedilotildees enunciativas diferentes dos quais os manuais
didaacuteticos em suas geraccedilotildees satildeo dessas instacircncias enunciativas O espaccedilo do
saber eacute simultaneamente um espaccedilo de descontinuidades e de permanecircncia
Coube agrave escola enquanto instituiccedilatildeo responsaacutevel por ensinar formalmente
princiacutepios da vida civil e da cultura instituiacutedas aos indiviacuteduos a criaccedilatildeo das
disciplinas sempre como tradiccedilotildees culturais expressas em um movimento e
dinacircmicas proacuteprios direcionando os aprendizes para uma cultura geral a cultura da
sociedade nacional ndash no caso das sociedades modernas sendo o curriacuteculo a ser
ensinado uma manifestaccedilatildeo desse processo O dizer e o fazer da escola nesse
sentido promoveu discursos gerais e particulares manifestos em diferentes
materialidades e notadamente aqueles componentes das disciplinas constituiacuteram
uma literatura didaacutetica consecuccedilatildeo de qualquer campo do conhecimento que se
ensine13 Como materialidades dos discursos didaacuteticos os manuais escolares
permitem entrever a linguagem e seu papel importante na constituiccedilatildeo do processo
do ensino e da aprendizagem permitindo ainda uma compreensatildeo histoacuterica dessas
relaccedilotildees
Diversas formaccedilotildees discursivas habitam o discurso didaacutetico A obra de
Mikhail Bakhtin (1997 1998 2004) permite compreender os gecircneros do discurso
como combinaccedilatildeo de formas e coacutedigos relativamente estaacuteveis quanto a seus
enunciados em grupos sociais especiacuteficos peculiares a estes no que se enquadra
o dizer didaacutetico como um discurso
Bakhtin (1998 p 10) para quem os gecircneros do discurso compotildeem-se de
uma estratificaccedilatildeo da linguagem que se cliva em instacircncias soacutecio-ideoloacutegicas
13
Um exemplo desse desenvolvimento eacute sua inclusatildeo em miacutedias diversas e veiculaccedilatildeo em meios de comunicaccedilatildeo de diferentes ordens como caracteriacutesticos atualmente da modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia
diversas utilizou a noccedilatildeo de ldquoconstruccedilatildeo hiacutebridardquo para compreender ldquoo enunciado
que segundo iacutendices gramaticais (sintaacuteticos) e composicionais pertence a um uacutenico
falante mas onde na realidade estatildeo confundidos dois enunciados dois modos de
falar dois estilos duas lsquolinguagensrsquo duas perspectivas semacircnticas e axioloacutegicasrdquo
atingindo a reformulaccedilatildeo das formaccedilotildees discursivas como o discurso cientiacutefico o
discurso cotidiano o discurso do Estado e outros que com reflexos dos objetivos e
das condiccedilotildees do meio social de inserccedilatildeo estabelecem um gecircnero discursivo
aquele que se pode encontrar materializado no livro didaacutetico
13 Procedimentos metodoloacutegicos da pesquisa da Anaacutelise do Discurso
O procedimento da anaacutelise discursiva implica uma performance de escuta no
dizer a partir de uma concepccedilatildeo teoacuterica sobre o objeto em pesquisa Nesses
termos o funcionamento e a constituiccedilatildeo do discurso satildeo processos previstos
movendo-se o analista por meio da descriccedilatildeo e da anaacutelise da materialidade
linguiacutestica ateacute o discurso De acordo com Silva (2006 p 184)
A anaacutelise um proceder agrave procura do funcionamento dos sentidos difere do curso descarteano de seu emprego ou seja o desmonte do todo em partes para se entrever o funcionamento do objeto e com isso produzir o conhecimento A anaacutelise discursiva se situa mais proacutexima agrave Psicanaacutelise lacaniana como uma ldquoescuta engajadardquo da linguagem a partir da qual se percorre a constitutividade do sujeito
E percorrer a constitutividade do sujeito eacute embrenhar-se na movecircncia dos sentidos
Assim a estrutura eacute desvelada natildeo unicamente para concepccedilatildeo e produccedilatildeo do
conhecimento da materialidade em si dos objetos visiacuteveis vai aleacutem perscruta o
invisiacutevel no dizer o que na materialidade deixa apenas vestiacutegios indicaccedilotildees e sinais
mesmo que remotos Sobretudo uma sombra dispersa que reunificada indica uma
unicidade natildeo anunciada natildeo prevista no esquema da enunciaccedilatildeo
Esse caminho metodoloacutegico aproxima-se portanto do procedimento
analiacutetico no qual a anaacutelise se comporta como caminho ldquo[] eacute um caminho limitado
mas infinito Limitado porque sempre se ergue um limite que o faz parar E infinito
porque esse limite uma vez tocado desloca-se para o infinito sempre mais distanterdquo
(NASIO 1993 p 38) Perfaz um caminho espiralado de idas e vindas de
aproximaccedilatildeo e distanciamento procurando os sentidos na movecircncia dos
enunciados procurando regularidades na dispersatildeo De acordo com Santos
(2004 p 114) as regularidades satildeo
[] as evidecircncias significativas observadas na conjuntura enunciativa da manifestaccedilatildeo discursiva em estudo Essas evidecircncias aparecem como elementos de recorrecircncia de idiossincrasia enunciativa ou ainda de efeito provocado pela natureza na organizaccedilatildeo dos sentidos na enunciaccedilatildeo Eacute por meio das regularidades que se emoldura com mais clareza o toacutepico em investigaccedilatildeo pelo analista corroborando assim com as projeccedilotildees determinantes advindas dos objetivos hipoacuteteses e questotildees de pesquisa
Dada uma materialidade discursiva procura-se evidenciar os sentidos
histoacuterico-ideoloacutegicos nos discursos que constituem os sujeitos e suas praacuteticas O
corpus ndash reuniatildeo de discursos de uma formaccedilatildeo discursiva ndash expressa a
materialidade empiacuterica e objetiva a ser analisada Trata-se de
[] um banco de dados relativamente extenso e exaustivo coletado em documentos grafos condizentes agrave pesquisa ou documentado (anotado gravado ou filmado) a partir do dizer dos sujeitos em investigaccedilatildeo O registro do corpus portanto refere-se agrave descriccedilatildeo da accedilatildeo linguageira agrave sua seleccedilatildeo e organizaccedilatildeo de acordo com uma orientaccedilatildeo (SILVA 2006 p 185)
Os discursos do corpus geralmente passam por recortes seletivos
orientados pela intuiccedilatildeo do analista quanto a regularidades previstas nos
enunciados Na dispersatildeo eles calam mas seus sentidos aproximados
entrecruzados detidos no acircmbito histoacuterico-ideoloacutegico satildeo desentranhados da
opacidade e da transparecircncia aparente evocando outros sentidos que natildeo aqueles
encenados na enunciaccedilatildeo Isso distancia os recortes de mera ilustraccedilatildeo ou
exemplificaccedilatildeo remetendo o analista para o processo histoacuterico-ideoloacutegico para as
condiccedilotildees de produccedilatildeo para a incompletude para o contingente isto eacute para o
discurso
Esta acepccedilatildeo coloca a anaacutelise discursiva no paracircmetro de um dispositivo
de interpretaccedilatildeo ou seja ldquo[] ouvir naquilo que o sujeito diz aquilo que ele natildeo
diz mas que constitui igualmente os sentidos de suas palavrasrdquo (ORLANDI 2002 p
59) apreendendo deste modo o funcionamento dos sentidos a constituiccedilatildeo do
sujeito
A performance metodoloacutegica desta pesquisa trabalha assim com quatro
tipos de unidade de anaacutelise o discurso o fragmento discursivo a sequecircncia
discursiva e o lexema O fragmento discursivo a sequecircncia discursiva e o lexema
satildeo recortes na extensatildeo do discurso para propoacutesitos da anaacutelise lexema eacute a
unidade baacutesica de um leacutexico entendido como oposiccedilatildeo a um vocabulaacuterio o lexema
eacute colocado em relaccedilatildeo agrave Liacutengua e o vocaacutebulo em relaccedilatildeo agrave Fala O fragmento e a
sequecircncia discursivos estatildeo para recortes maiores e menores do discurso
respectivamente
Como visto neste capiacutetulo a Histoacuteria das Disciplinas Escolares me permite
circunscrever o saber a ser ensinado como recorte dentre outras possibilidades tais
como o saber ensinado e o saber apreendido o que nos remete diretamente aos
manuais didaacuteticos como documentos constitutivos do objeto da pesquisa Sobretudo
apresenta uma perspectiva pela qual determinados conhecimentos no ambiente
escolar revelam-se e consolidam-se como disciplinas sendo ressignificados para
um puacuteblico especiacutefico cumprindo certa finalidade da educaccedilatildeo bem como a
distribuiccedilatildeo dos papeis sociais nas relaccedilotildees de ensino e aprendizagem E nessa
direccedilatildeo o curriacuteculo e a legislaccedilatildeo educacional incluem-se como circunscriccedilatildeo
constitutiva do objeto de pesquisa
As abordagens sobre curriacuteculo em uma perspectiva mais histoacuterica que
teoacuterica ndash embora os laccedilos entre histoacuteria e teoria natildeo se separem ndash situam essa tese
a pensar historicamente a organizaccedilatildeo do curriacuteculo da Geografia escolar no periacuteodo
assinalado quanto aos interesses institucionais de sua proposiccedilatildeo a motivaccedilatildeo
poliacutetica a percepccedilatildeo da aprendizagem discente o estabelecimento do cotidiano
escolar e da metodologia de ensino A Histoacuteria do Curriacuteculo indica que compreender
o curriacuteculo e o programa eacute sondar as relaccedilotildees entre ideologia poder e saber bem
como a tradiccedilatildeo e o constructo histoacuterico inerente agrave sua composiccedilatildeo a indicaccedilatildeo
desse caminho faz encontro com a Anaacutelise do Discurso como perspectiva teoacuterico-
metodoloacutegica ou a compreensatildeo que tenho do ob
jeto em estudo e dos objetivos propostos A essa discussatildeo se remete o que
compreendo por discurso sujeito ideologia sentido formaccedilatildeo (histoacuterica ideoloacutegica
discursiva) heterogeneidade (constitutiva e mostrada) memoacuteria
No capiacutetulo seguinte apresento a pesquisa bibliograacutefica e faccedilo uma
discussatildeo descritiva sobre a mesma expondo aspectos gerais da trajetoacuteria do livro
didaacutetico de Geografia no Brasil
CAPIacuteTULO 2
DESCRICcedilAtildeO DA BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA (1814-1939) discussatildeo da trajetoacuteria constitutiva dos manuais de Geografia
Neste capiacutetulo apresento e discuto o levantamento bibliograacutefico suscitado
pela pesquisa expondo o conjunto de referecircncias que indicam os tiacutetulos autores
ediccedilotildees anos e locais de publicaccedilatildeo indicando a trajetoacuteria dos textos didaacuteticos de
Geografia A partir dele procuro definir um panorama histoacuterico que descreva o
surgimento e o desenvolvimento dos manuais de Geografia Aleacutem disso instituo as
fontes discursivas da tese dessa bibliografia que apresenta livros produzidos ndash
compendiados traduzidos adaptados ndash ou importados para o ensino de Geografia
brasileiro Algumas obras de relevacircncia direta agrave produccedilatildeo desses textos mas que
natildeo satildeo propriamente textos didaacuteticos foram relacionadas no Apecircndice 1 como
Casal (1817) Wappoeus (1884) Sellin (1889) indicados como manuais didaacuteticos
por Colesanti (1984) Lourenccedilo (1996) e outros
21 A bibliografia didaacutetica de Geografia
Para esse levantamento pesquisei informaccedilotildees em diversas fontes sobre
cada tiacutetulo e autor confrontando-as para listar as referecircncias com fidelidade14 Em
sua maior parte como em programas curriculares extratos de cataacutelogos cataacutelogos
de bibliotecas dentre outros as informaccedilotildees satildeo incompletas haacute divergecircncias
ortograacuteficas abreviaccedilotildees que dificultam a fixaccedilatildeo das informaccedilotildees suscitando
duacutevidas Em Sacramento Blake (1893 a 1903) por exemplo eacute comum encontrar
unicamente o nome do autor o tiacutetulo e o ano de uma publicaccedilatildeo agraves vezes soacute o
14
A principal relaccedilatildeo de fontes estaacute mencionada nas Consideraccedilotildees Iniciais e apresentada nas referecircncias
autor e o tiacutetulo tambeacutem muitas vezes divergentes embora tenha sido uma fonte
indispensaacutevel para o estabelecimento de pistas investigadas em outros lugares
Recapitulando entendo por ldquobibliografia didaacutetica de Geografiardquo o acervo
material e sua referenciaccedilatildeo dos tiacutetulos didaacuteticos da disciplina em questatildeo satildeo as
materialidades que tiveram uma vida escolar servindo ao ensino expliacutecito da
Geografia por extensatildeo igualmente pode ser compreendida como bibliografia toda
descriccedilatildeo e caracterizaccedilatildeo pertinente ao Acervo aquele que agrega toda a
produccedilatildeo existente ou ao acervo de pesquisa Como sistematizaccedilatildeo da bibliografia
em questatildeo o levantamento do Quadro 01 exposto a seguir organiza-se em ordem
cronoloacutegica expondo as primeiras ediccedilotildees ou a ediccedilatildeo mais antiga localizada
constando ainda todas as ediccedilotildees identificadas da obra de forma que a par da
trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia procurei registrar o percurso de cada
documento indicando as ediccedilotildees que o tiacutetulo teve ao longo de sua trajetoacuteria o que
demonstra as alteraccedilotildees que a obra passou em seu curso de vida uacutetil tais como
alteraccedilotildees no tiacutetulo cooperaccedilatildeo de terceiros autores transferecircncias casas
publicadoras dentre outras
Nomeio duas distinccedilotildees para cada documento elencado tiacutetulo como uma
obra individual apesar das alteraccedilotildees que possam ter sofrido sua nomeaccedilatildeo e
ediccedilatildeo que corresponde agraves tiragens ou conjunto de sucessivas tiragens de uma
obra incorporando ou natildeo alteraccedilotildees correccedilotildees ampliaccedilatildeo desde que assim for
nomeada a tiragem Esta distinccedilatildeo eacute necessaacuteria pois dimensiona e redimensiona a
reproduccedilatildeo de uma bibliografia
Assim posto o levantamento bibliograacutefico apresentado a seguir no periacuteodo
compreendido entre 1814 e 1939 expressa 276 tiacutetulos perfazendo 510 ediccedilotildees
identificadas15 Natildeo identificadas pela pesquisa mas deduzidas a partir da maior
ediccedilatildeo indicada teriacuteamos outras 441 ediccedilotildees o que sem precisatildeo indica que esse
acervo teve 950 ediccedilotildees ao longo do periacuteodo um nuacutemero apenas aproximado e
com certeza bem abaixo dessa expressatildeo real ateacute porque natildeo tenho garantia de
que a uacuteltima seja realmente a uacuteltima
15
Outros conhecidos levantamentos similares de manuais didaacuteticos para o periacuteodo apontam 25 tiacutetulos para os quais as ediccedilotildees natildeo foram contabilizadas (COLESANTI 1984) e 117 ediccedilotildees (LOURENCcedilO 1996)
QUADRO 01 ndash Bibliografia didaacutetica brasileira de Geografia (1814-1939)
1ordf Ed ou ediccedilatildeo mais
antiga identifica-
da
Demais ediccedilotildees
identifica-das
BIBLIOGRAFIA DIDAacuteTICA
1814 - GUIMARAtildeES Manoel Ferreira de Arauacutejo Elementos de Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1814
1818
1821
1822
1824
PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinaacuterios agraves idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Impressatildeo Reacutegia 1818
PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Real 1821
PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1822
PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal e historia natural Rio de Janeiro Typ Nacional 1824
1823 -
TILBURY Guilherme Paulo Breve introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I Rio de Janeiro Typ Nacional 1823 197 p
1824 - TORREAtildeO Bazilio Quaresma Compendio de Geographia universal Rezumido de diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira London L Thompson (na officina portugueza) 1824 528 p
1824 -
HUM BRASILIANNO Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil Rio de Janeiro Typographia de Silva Porto 1824 26 p
1826 -
CASAL Pe Manoel Ayres de Introducccedilatildeo da Geographia brazilica da parte que trata da Bahia composta por um presbytero secular do gratildeo-priorado do Crato e mandada imprimir para instrucccedilatildeo da mocidade bahiense por um professor da mesma Organizada anonimamente por Ignaacutecio Apriacutegio da Fonseca Galvatildeo Bahia [s n] 1826
1827 -
ARAUacuteJO Joseacute Paulo de Figueiroa Nabuco de Compendio cientifico para a mocidade brazileira destinado ao uso das escolas dos dois sexos ornado de nove estampas acomodadas aacute arte e aacutes sciencias de que nele se trata tiradas por litografia Oferecido agrave heroacuteica e
briosa naccedilatildeo brasileira etc Rio de Janeiro P Plancher 1827
1829 -
REBELLO Domingos Joseacute Antonio Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos Rio de Janeiro Typographia Imperial e Nacional 1829 260 p
1830 -
LIMA Manoel Ildefonso de Souza Elementos de Geographia astronomica politica e physica Apresenta um mappa Rio de Janeiro [s n] 1830 65 p
1830 -
LISBOA Manoel Ignacio Soares Elementos de Geographia Astronomica Poliacutetica e Physica Dedicados a sua Alteza Imperial o Sr D Pedro Principe Imperial do Brasil para uso das Escolas Brasileiras Rio de Janeiro Typographia Torres 1830 65 p
1832 - GOUVEcircA Agostinho Marques de Novo cathecismo geographico brazileiro Offerecido aos senhores paes de famiacutelia e professores de ambos os sexos Rio de Janeiro [s n] 1832
1835 -
BEAUREPAIRE Jacques Antonio Marcos de [Conde de BEAUREPAIRE] Compendio de Geographia universal contendo a divisatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do impeacuterio do Brazil por um official general do exercito Rio de Janeiro Laemmert 1835 2 tomos
1835 - MULLER Daniel Pedro Cathecismo de Geographia Rio de Janeiro [s n] 1839[]
1835 -
UM OFFICIAL GENERAL DO EXERCITO [Pseud] Compendio de Geographia universal contendo a descripccedilatildeo particular de todas as regiotildees do mundo conhecido e com especialidade do Impeacuterio do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1835
1836 - PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro Typ de R Ogier 1836 210 p
1836 - COMPENDIO de Geographia para uso das aulas de primeiras lettras Recife Typographia de Santos 1836 64 p
1836 - OLIVEIRA Affonso Joseacute de Compendio de Geographia universal extrahida de diversos auctores Recife Typographia de M F de Faria 1836 136 p
1838 -
ROCHA Justiniano Joseacute da Compendio de Geographia elementar Offerecido ao governo de S M I e por ele aceito para uso dos alumnos do Imperial Coleacutegio de Pedro II 2 ed Rio de Janeiro Typ Nacional 1838 142 p
1839 - POELITZ H L Resumo da Historia Universal para uso da aula de Historia e Geographia Adaptaccedilatildeo de Julio Frank Satildeo Paulo Graphica Costa Silveira 1839
1839 -
RESUMO de historia universal para uso da aula dhistoria e Geographia da academia de sciencias Satildeo Paulo Typographia de M F Costa Silveira 1839
184- 1852
BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil Rio de Janeiro [s n] 184- 74 p
BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Noccedilotildees preliminares de Geographia em forma de dialogo com especial applicaccedilatildeo ao imperio do Brazil 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1852 74 p
1840 - BELLEGARDE Pedro drsquoAlcacircntara Introducccedilatildeo corographica a historia do Brazil Rio de Janeiro Typographia de J E S Cabral 1840
1840 - SANTA GERTRUDES Joseacute Policarpo de Elementos de Geographia para uso das escolas da instruccedilatildeo primaria da provincia do Rio de Janeiro Nitheroy Typographia Nietheroy 1840 219 p
1842
1868
1871
FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II Rio de Janeiro Typ de J E S Cabral 1842 106 p
FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um breve epitome sobre os globos e seus circulos por Joatildeo Henrique Freese 3 ed revista e consideravelmente augmentada na parte que trata da Geographia physica e inteiramente nova a Geographia com referencia politica segundo os mais recentes acontecimentos com uma descripccedilatildeo do impeacuterio do Brazil e um elenco de todas as cidades e villas por Joatildeo Baptista Collogeras Rio de Janeiro [s n] 1868 124 p
FREESE Joatildeo Henrique Compendio de Geographia e historia seguido de um epitome sobre os globos e seus circulos e de um trabalho chronologico dos principaes acontecimentos da historia do Brazil desde o seu descobrimento ateacute a coroaccedilatildeo de S M I o Sr D Pedro II 4 ed Rio de Janeiro Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 126 p
1845
(2 ed) 1873
BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 2 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1845 70 p
BREVES Noccedilotildees de Geographia Universal mui accrescentadas na parte respectiva ao Impeacuterio do Brasil para uso da mocidade estudiosa 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1873 70 p
1846 - CAVALCANTI Luiz Paulino Geographia elementar [s l] [s n] 1846
1845 -
SOUZA Francisco Nunes de Nocccedilotildees elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas academias
lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor Rio de Janeiro [s n] 1845
185- - BANDEIRA Antonio Rangel Torres Geographia antiga
16 Recife 185-
Mimeo
1850 - BRANDAtildeO Antonio Pinto da Costa de Souza Diaacutelogo Geographico para uso de suas disciacutepulas e alumnas do Collegio de Satildeo Joatildeo em Satildeo Christovatildeo Rio de Janeiro Typographia Francesa 1850 44 p
1851
1856
1859
1864
1869
BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Elementos de Geographia Offerecidos agrave mocidade cearense Fortaleza Typographia de Paiva e Companhia 1851 284 p
BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio de Geographia Adoptado no collegio de Pedro II e nos lyceos e seminaacuterios do Impeacuterio 2 ed Cearaacute Typographia de Paiva e Companhia 1856 536 p
BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 3 ed augmentuda e correcta Rio de Janeiro Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 519 p
BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 4 ed augmentada e cuidadosamente corrigida Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1864 556 p
BRASIL Thomaz Pompeu de Souza Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Typographia Universal de Lammert 1869 556 p
1853[] - MONSERRATE Fr Camillo de Liccedilotildees de Geographia antiga
17 Rio de
Janeiro [s n] 1853[]
1854 - PEREIRA Joatildeo Felix Chorographia do Brazil Lisboa Imprensa de Lucas Evangelista 1854 352 p
1855
(2 ed)
1867
1872
1878
ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia 2 ed Paris Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855
ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Traduzidas em portuguez por uma sociedade de litteratos portuguezes Ediccedilatildeo noviacutessima inteiramente refundida e consideravelmente augmentada feita sobre a ultima franceza contendo agora pela vez primeira mui interessantes e numerosas addiccedilotildees e mudanccedilas indispensaacuteveis sobre as novas divisotildees dos estados da Europa e importantiacutessimos desenvolvimentos sobre a Geographia topographia e estatiacutestica do Impeacuterio do Brazil e das republicas americanas e com especialidade a Chorographia portugueza por J-I Roquette acompanhadas de uma estampa geomeacutetrica e cosmographica e com um SUPPLEMENTO mencionando as mudanccedilas que sobrevieram durante a impressatildeo da obra Paris J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867
ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp
16
De acordo com Sacramento Blake os manuscritos deste livro eram utilizados nas aulas que o autor ministrava
17 Conforme Sacramento Blake nesta obra haacute o programma do curso da aula para o anno de 1853
nas paacuteginas 94 e 95 seguida pelo autor natildeo foi possiacutevel a localizaccedilatildeo dessa obra
Cia 1872 595 p
ABBADE GAULTIER Liccedilotildees de Geographia Paris Guillard Aillaud amp Cia 1878 659 p
1856 1880
ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Noccedilotildees de Geographia para uso das escolas Pernambuco Typ Universal 1856 46 p
ALBUQUERQUE Salvador Henrique de Compendio de chorographia universal especial do Brazil e da provincia de Pernambuco approvado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica de Pernambuco 2 ed melhorada e muito augmentada Rio de Janeiro Typ Universal de Eduardo amp Henrique Laemmert 1880 138 p
1857 -
PACHECO Joseacute Praxedes Pereira Breves noccedilotildees para se estudar com methodo a Geographia do Brasil Ensaio para pela primeira vez indicar os tanques mariacutetimos no Atlacircntico as vertentes delles as valladas ou bacias que ellas encerratildeo accommodando o Brasil ao ultimo plano de estudos para o impeacuterio francez se guindo a Geographia da Franccedila Rio de Janeiro Ediccedilatildeo do Autor 1857 204 p
1858
1865
1870
1882
BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1858 134 p
BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios Rio de Janeiro Laemmert 1865 170 p
BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 3 ed Rio de Janeiro E amp H Laemmert 1870 181 p
BURGAIN Luis Antonio Novas liccedilotildees de Geographia elementar sem decorar por meio de exercicios 6 ed Rio de Janeiro Typ Universal de H Laemmert 1882 206 p
1858 -
LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Recife [s n] 1858 Tomo I
1859 -
LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza Elementos de Geographia compilados de diversos autores Trata da Geographia astronoacutemica como se declara no fim onde ha algumas paginas em additamento ao primeiro Recife [s n] 1859 Tomo II
186- - ABREU Pedro Joseacute Pontos de Geographia physica [s l] [s n] 186-
186- -
SANTOS Ignacio Francisco dos Simples noccedilotildees de cosmographia e Geographia compiladas e traduzidas para uso da infacircncia nas escolas de instrucccedilatildeo primaria Pernambuco [s n] 186-
186- - ALBUQUERQUE Severino Bezerra de Geographia geral [s l] [s n]186-
186- - OLIVEIRA Joseacute Joaquim Machado de Liccedilotildees de Geographia Satildeo Paulo [s n] 186-
1860 -
PEREIRA Manuel da Silva Elementos de Geographia e astronomia compendio offerecido e dedicado ao Illm Sr Dr Abiacutelio Cezar Borges Bahia Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 228 p
1860 1871
ESPIacuteNDOLA Thomaz do Bonfim Geographia physica politica histoacuterica e administrativa da proviacutencia de Alagoas offerecida ao Exm Sr Dr Pedro Leatildeo Velloso presidente da mesma proviacutencia Maceioacute [s n] 1860 33 p e mais fls de mappas
ESPINDOLA Thomaz do Bom-Fim Geographia alagoana ou descripccedilatildeo phyisica politica e historica da provincia das Alagoas 2 ed muito augmentada e cuidadosamente correcta Maceioacute Typographia do Liberal 1871 483 p
1860
1869
1875
1880
1885
1902
MENEZES Estaacutecio de Saacute [pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier Rio de Janeiro B L Garnier 1860 283 p
MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1869 287 p
MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methode Gaultier 3 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1875 287 p
MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 4 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1880 291 p
MENEZES Estacio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier 5 ed Rev e acres por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1885 332 p
MENEZES Estaacutecio de Saacute [Pseud de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro] Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o methodo Gaultier Augmentada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Junior Rio de Janeiro B L Garnier 1902 332 p
1861 - MOURE J G Amedeo MALTE-BRUN Tratado de
Geographia elementar physica histoacuterica eclesiaacutestica e politica do imperio do Brasil Paris Aillaud Monlon amp Cia 1861
1862 -
OLIVEIRA Brigadeiro Joseacute Joaquim Machado de Geographia da provincia de S Paulo adaptada aacute liccedilatildeo das escolas e offerecida aacute assembleacutea legislativa provincial Satildeo Paulo Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typ Imparcial de J R Azevedo Marques 1862 122 p
1862 1866
REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria Maranhatildeo [s n] 1862 82 p
REGO Antonio do Rudimentos de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria 2 ed Maranhatildeo [s n] 1866 85 p
1863
1867
1870
1871
1875
1882
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna para uso dos alunnos do imperial Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 223 p
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1867 280 p
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 3 ed Rio de Janeiro [s n] 1870
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 4 ed Rio de Janeiro [s n] 1871
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1875 260 p
ABREU Pedro Joseacute de Elementos de Geographia moderna e cosmographia para uso dos alumnos do imperial Collegio de Pedro II Adoptado pelo conselho director da instrucccedilatildeo publica para uso dos alumnos do Collegio Pedro II 7 ed Rio de Janeiro Typographia do Apoacutestolo 1882 260 p
1863 1868
1872 BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Porto Alegre
1877
1881
Typographia Deutsche-Zeitung 1863 54 p
BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typographia O Rio Grande 1868 54 p
BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 3 ed Porto Alegre J Alves Editor 1872 103 p
BERLINCK Eudoro Brazileiro Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 4 ed Porto Alegre Typographia Perseveranccedila 1877 103 p
BERLINCK Eudoro Brazileiro [BERLINK] Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul 5 ed Porto Alegre J Alves Editor 1881 104 p
1863 -
BORGES Abiacutelio Cezar (Baratildeo de Macahubas) Epitome de Geographia physica para uso dos alumnos da classe elementar da mesma sciencia no gymnasio bahiano Bahia Camillo de Lellis Masson 1863 58 p
1863 - RUBIM Joaquim Frederico Kiappe da Costa Liccedilotildees histoacutericas e geographicas do Brasil extraiacutedas dos melhores autores Rio de Janeiro Typ de Pinheiro 1863 86 p
1863
(8 ed) 1879
FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute 8 ed corr e aum Paraacute [s n] 1863 100 p
FREITAS Joaquim Pedro Correcirca Noccedilotildees de Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da proviacutencia do Paraacute Paraacute [s n] 1879 100 p
1864 - SOUZA Thomas Pompeu Liccedilotildees de Geographia geral Rio de Janeiro Imprensa Oficial 1864
1865 - CASTRO Eduardo de Saacute Pereira de Postillas de Geographia astronoacutemica Rio de Janeiro Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia 1865 91 p
1865
(8 ed) -
MONTEVERDE Emilio Achilles Manual encyclopedico para uzo das escolas drsquoinstrucccedilatildeo primaria Approvado pelo Conselho Geral DrsquoInstrucccedilatildeo Publica 8 ed Lisboa Imprensa Nacional 1865 702 p
1869 1874
PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 1869
PINTO Alfredo Moreira Elementos de Geographia moderna 2 ed consideravelmente augmentada Rio de Janeiro [s n] 1874
187-[] - FERREIRA Gustavo Adolpho Ramos Compendio de Geographia [s l] [s n] 187-[]
187- 1880
BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica Rio de Janeiro
[s n] 187- 128 p
BITTENCOURT Joseacute Correia de Mello Elementos de Geographia physica contendo a descripccedilatildeo especial de cada paiz e organisados segundo o actual programma de exames geraes da instrucccedilatildeo publica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1880 128 p
187- - SANTOS Presalindo Lery Curso elementar de Geographia moderna Rio de Janeiro [s n] 187-
187- -
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia elementar ornada com gravuras obra approvada pelo conselho da instrucccedilatildeo publica da corte e mandada admittir pelo ministeacuterio da guerra na escola militar Rio de Janeiro [s n] 187-
1870 - SILVA Vasco de Araujo e Noccedilotildees de Geographia Porto Alegre [s n] 1870
1870 -
LACERDA Joaquim Maria de Tratado elementar de Geographia physica politica e astronocircmica composto para uso das escolas brasileiras Nov Ediccedilatildeo Rio de Janeiro Livraria de B L Garnier 1870 352 p
1870
1880
1884
1887
1895
LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1870 256 p
LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 2 ed Paris Typ Pillet et Dumoulin 1880 256 p
LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronocircmica 3 ed Rio de Janeiro Typographia do Commercio 1884 264 p
LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica commercial e astronomica compostos para uso das escolas brasileiras 4 ed Melhorada pelo autor e por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 264 p
LACERDA Joaquim Maria de Elementos de Geographia physica politica e astronomica com estampas coloridas para as classes inferiores da instrucccedilatildeo segundaria Contendo 12 cartas geographicas 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1895 278 p
1871 -
SAacute Luiz de Franccedila Almeida e Compendio de Geographia da provincia do Paranaacute adaptado ao ensino da mocidade brazileira e acompanhado de cento e trinta notas instructivas Rio de Janeiro Typ Universal de E amp H Laemmert 1871 88 p
1873 - LEITE Dr Tobias Rabello Liccedilotildees de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1873
1873 - LIMA Arcelino de Queiroz Compendio elementar de Geographia geral e especial do Brazil Cearaacute [s n]
1873
1873 -
MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro Typ Franco-Americana 1873 233 p
MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Rio de Janeiro [s n] 1873 Tomo I 223 Tomo II 424 p
MACEDO Joaquim Manoel de Noccedilotildees de corographia do Brazil Traduccedilatildeo inglesa por H L Sage Leipzig F A Brocklaus 1873
MACEDO Joaquim Manoel de Notions de chorographie du Breacutesil Traduccedilatildeo francesa por J F Halbout Leipzig F A Brocklaus 1873
MACEDO Joaquim Manoel de Geographische Beschreibung Brasiliens von Joaquim Manoel de Macedo Uebersetzt von M P Alves Nogueira und Wilhelm Theodro v Schiefler Leipzig F A Brocklaus 1873 535 p
1873 - MAURY Tenente Geographia physica Traduccedilatildeo de L A da Costa Aguiar Rio de Janeiro Paris B L Garnier 1873 200 p
1874 1876
MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural Paraacute Livraria Claacutessica 1874 134 p
MARQUEZ Pilippe Pinto Compendio de Geographia para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria seguido de brevissimas noccedilotildees do cosmographia physica e historia natural 2 ed Paraacute Livraria Claacutessica 1876 132 p
1875 1878
PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife Typographia Mercantil 1875 173 p
PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Elementos de Geographia universal geral do Brazil e especial de Pernambuco para a infacircncia escolar da provincia de Pernambuco de conformidade com o programma da lei n 1143 art 33 sect 7ordm que rege a instruccedilatildeo na proviacutencia Recife [s n] 1878 106 p
1876 1884
PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do imperio do Brazil Bahia Imprensa Econocircmica 1876
PEREIRA Jeronymo Sodreacute Compendio de Geographia elementar especialmente do Brazil 2 ed Bahia Lopes da Silva amp Amaral 1884
420 p
1876 -
ZALUAR Augusto Emilio Liccedilotildees das cousas inanimadas e animadas guia dos professores e das matildees que quizerem instruir-se para communicar a seus filhos uma grande somma de conhecimentos praticos principiando a explicar-lhes logo que comeccedilam a balbuciar as primeiras palavras o que eacute e para que serve tudo o que os rodeia Com vinhetas e desenhos Rio de Janeiro [s n] 1876
1877 - LOPES Luiza Carolina de Araujo Liccedilotildees de Geographia particular do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1877
1877 - PONTO de Geographia segundo o programa para os exames gerais em 1877 por um professor de Geographia Rio de Janeiro Typographia J G de Azevedo 1877 32 p
1877 -
MACEDO Joaquim Manoel de Liccedilotildees de Corographia do Brazil para uso dos alumnos do imperial Colleacutegio de Pedro II Rio de Janeiro B L Garnier 1877 294 p
1879 - PINTO Colimeacuterio Leite de Faria Compecircndio de Geographia do Brasil
18 Compilaccedilotildees 1879 Mimeo
188-[] -
BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees do Geographia geral Na opiniatildeo de um competente eacute o melhor trabalho sobre o assumpto escripto na liacutengua portugueza [S l] [s n] 188-[]
188-
1902
1904
1920
F I C [Frere Ignace Chaput] Terra illustrada Geographia universal physica etnographica politica economica dos cinco partes do mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Livraria Garnier 188-
F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1902 651 p
F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1904 651 p
F I C [Frere Ignace Chaput] A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica politica e economica das cincos partes do Mundo Traduccedilatildeo e adaptaccedilatildeo por Eugenio de Barros Raja Gabaglia Rio de Janeiro Garnier 1920 644 p
188-
(2 ed) -
PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia astronoacutemica 2 ed Rio de Janeiro [s n] 188-
188- - LEAL Domingos Theophilo de Carvalho Compendio de noccedilotildees de
18
Natildeo foi editado segundo Sacramento Blake
Geographia Manaus [s n] 188-
188- - OLIVEIRA L C de Geographia Bahia Tipografia de Affonso Ramos amp Cia 188-
188- -
LOPES Joatildeo Baptista Pires de Castro Geographia patria infantil Escripta em verso para uso das classes primarias [S l] [s n] 188-
188- -
PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes Compendio de Geographia da proviacutencia de Pernambuco 188- Mimeo Ineacutedito
1880 1882
GEIKIE Archibald Geographia Physica Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1880 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)
GEIKIE Archibald Geographia Physica 2 ed correta e melhorada Trad e adapt de Carlos Jansen Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp Cia 1882 (Col Bibliotheca do ensino intuitivo Primeira serie de sciencias naturaes Opuacutesculos elementares adaptados ao portuguez 1)
1881
RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul Porto Alegre Ed Carlos Pinto amp Cia 1880 50 p
RIBEIRO Hilaacuterio Geographia do Rio Grande do Sul 2 ed Porto Alegre Typografia da Livraria Americana 1881 58 p
1880
(2 ed)
1884
1887
1890
1895
1898
1908
1910
1913
1914
1915
1917
1918
1924
1928
1930
1932
1934
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 2 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1880 96 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 3 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1884 96 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 4 ed Melhorada com seis cartas coloridas das cinco partes do mundo sendo a ultima melhorada com seis cartas das cinco partes do mundo sendo a ultima um lindo mappa do Brazil Rio de Janeiro B L Garnier 1887 97 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 5 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1890 97 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia para uso das escolas primarias 6 ed Feita por L L Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1895 108 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas 9 ed Corrigida e actualizada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1898 97 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Rio de Janeiro Francisco
Alves amp Cia 1908 126 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1910 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1913 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1915 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1917 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 8 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por Joatildeo Ribeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1924 116 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da Infacircncia composta para uso das Escolas Primaacuterias Curso Primeiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 p 128
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1930 128 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1932 128 p
LACERDA Joaquim Maria de Pequena Geographia da infancia composta para uso das escolas Enriquecida com 6 bellas cartas coloridas das cinco partes do mundo e um lindo mappa do Brasil Corrigida e actualizada por por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1934 128 p
1880 -
ZALUAR Augusto Emilio Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias Eacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro II Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de N Alves 1880 123 p
1880 - UM PROFESSOR Elementos de Geographia Physica Compilado segundo os melhores autores por um professor Rio de Janeiro Typographia de Pinheiro amp Cia 1880 215 p
1881 1882
1897
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1881 96 p
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia organisados etc Porto Alegre [s n] 1882 108 p
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Cunha 1897 160 p
1881 1883
VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo Rio de Janeiro [s n] 1881 240 p
VEIGA Fernando Augusto da Silva Curso regimental ou livro do soldado organizado etc Segundo anno Comprehende a grammatica arithmetica geometria Geographia geral e noticia abreviada do imperio do Brazil e de sua constituiccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1883 240 p
1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees de Geographia universal Rio de Janeiro [s n] 1881
1881 - PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Rio de Janeiro [s n] 1881
1881 1893
PINTO Alfredo Moreira Noccedilotildees elementares de corographia do Brazil para uso das escolas primarias Rio de Janeiro [s n] 1881
PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Rudimentos Para as escolas primarias 2 ed ornada de tres cartas Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893
1881 1891
1895
PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de corographia do Brazil Para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1881 16 p
PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1891 16 p
PINTO Alfredo Moreira Rudimentos de Chorographia do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 16 p
1882[] - DrsquoSAacute Lemos Elementos de Geographia [s l] [s n] 1882[]
1882 - SILVA Viriato Augusto da Corographia do Brasil Lisboa [s n] 1882
1883 - CARVALHO Joaquim Joseacute de Breves noccedilotildees de Geographia e corographia do Brazil Formuladas de accordo com o novo programma de exames geraes de
preparatorios Rio de Janeiro [s n] 1883 127 p
1883
1885
1889
190-[]
PINTO Alfredo Moreira Geographia das proviacutencias do Brazil Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1883 254 p
PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 2 ed Rio de Janeiro Livraria Nicolau Alves Alves amp Cia 1885 254 p
PINTO Alfredo Moreira Geographia das provincias do Brazil 3 ed Rio de Janeiro Livraria claacutessica de Alves amp Cia 1889 288 p
FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil (curso superior)19 4 ediccedilatildeo muito augmentada Adoptada na escola normal da capital federal no gymnasio nacional na escola normal do estado do Rio de Janeiro na de S Paulo etc [S l] [s n] 190-[]
1883 -
FRAZAtildeO Manoel Joseacute Pereira Noccedilotildees de Geographia do Brazil para uso da mocidade brazileira Rio de Janeiro Typ Esperanccedila de J dAguiar amp C 1883 198 p
1883 - CARVALHO FILHO Joaquim J Breves licccedilotildees de Geographia e corographia do Brasil [S l] [s n] 1883
1883 -
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Corografia do Brasil ndash Pontos escritos de Geographia Porto Alegre Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 78 p
1884 - AZURARA Joatildeo Joseacute Pereira de Pequena Geographia do Brazil Methodo intuitivo para uso dos alumnos do curso primaacuterio do Externato Azurara Santos Typ do Diaacuterio de Santos 1884 99 p
1884 -
VASCONCELLOS Ezequiel Benigno de Pontos de Geographia do Brazil segundo o novo programma para os exames geraes de preparatoacuterios Prova escripta Rio de Janeiro [s n] 1884
1884 -
NERY Raymundo Agostinho Noccedilotildees geraes de Geographia universal contendo particularmente a Geographia do imperio do Brazil e a da provincia do Amazonas acompanhadas de 17 figuras no texto Compendiadas por Raymundo A Nery Paris Guillard Ailtaud et Cia 1884
1884
(3 ed)
1887
1892
1895
1901
1902
1908
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 3 ed Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1884 424 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas
19
Antigamente publicada com o titulo de Geographia das Proviacutencias do Brasil contendo uma carta geographica de cada Estado do Brasil desenhada por Olavo Freire texto pelo Dr Moreira Pinto obra premiada pelo juri de uma exposiccedilatildeo pedagoacutegica
1910
1911
1912
1914
1915
1918
brazileiras 5 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro H Laemmert amp Cia 1887 424 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 5 ed Rio de Janeiro B L Garnier 1892 432 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 6 ed Rev por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Garnier 1895 420 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras 7 ed Rio de Janeiro Garnier 1898 420 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1901 432 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Rio de Janeiro B L Garnier 1902 432 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Melhorada pelo Pe Joseacute Severiano de Rezende Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1908 532 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 554 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1911 554 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1912 556 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1914 556 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso methodico de Geographia physica poliacutetica e astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alvesamp Cia 1915 556 p
LACERDA Joaquim Maria de Curso Methodico de Geographia Physica Poliacutetica Historia Commercial e Astronomica composto para uso das escolas brazileiras Ediccedilatildeo revista e muito melhorada por
Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1918 464 p
1884 - SANCTOS Affonso Joseacute dos Elementos de Cosmographia Rio de Janeiro Paris Garnier 1884 178 p
1885 -
CARVALHO Joaquim Joseacute de Noccedilotildees elementares de Geographia do Brasil Para uso dos alunnos do curso primario do colegio Amorim Carvalho e das escolas do corpo militar de policia da corte Rio de Janeiro [s n] 1885 74 p
1885 - BURGAIN Joseacute Julio Augusto Geographia patria elementar Rio de Janeiro B L Garnier 1885 110 p
1885 -
PALHA Joseacute Egydio Garcez LAMARE Joseacute Victor de Livro do aprendiz marinheiro Mandado confeccionar por ordem etc de accordo com o art 15 do regulamento que baixou com o decreto n 9371 de 14 de fevereiro de 1885 O primeiro volume sob o tiacutetulo Ensino elementar contam Leitura Grammatica portugueza Doutrina cristatilde Desenho linear Mappas regimentaes Noccedilotildees de Geographia Elementos de arithmetica e principios de systema meacutetrico decimal O segundo sob o titulo Ensino profissional abrange Apparelhos e nomenclatura do todas as peccedilas de architectura dos navios Nomenclatura das armas de fogocomprehendendo artilharia ou canhotildees Whitworth Armstrong Nordenfeldt e Hotchkiss armas portaacuteteis ou carabinas Westley Richard e Kropatscbeck e revolver Nagant carretas da compressor de laminas e de compressor hydraulico Instrucccedilotildees para o exerciacutecio de infantaria Rosas dos ventos e rumos de agulha Noccedilotildees sobre sondas Nomenclatura das machinas aacute vapor Este livro eacute intercallado de figuras no texto eacute um compendio completo para o marinheiro ser instruido Rio de Janeiro [s n] 1885 246 p (v 1) 1889 259 p (v 2)
1886
1890
1896
1901
1906
VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1886 168 p 165 p
VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 2 ed Rio de Janeiro Typographia MontrsquoAlverne 1890 168 p
VILLA-LOBOS Raul Compendio elementar de chorographia do Brasil 3 ed Rio de Janeiro 1896 244 p
VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 5 ed Corr e aumentada Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1901 234 p
VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brasil resumo didactico 6 ed Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1906 234 p
1886 -
CALKINS N A Primeiras liccedilotildees de coisas Traduzido e Adaptado por Rui Barbosa Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1886 616 p
1887 - ARNOSO Joatildeo [Pedro Moreira] Elementos de chorographia do Brazil Compilados de accocircrdo com o ultimo programma para os exames geraes Maranhatildeo [s n] 1887 136 p
1887 -
LACERDA Joaquim Maria de Resumo de chorographia do Brazil Revisto augmentado e adaptado ao novo programma de exames por Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro Rio de Janeiro B L Garnier 1887 134 p
1887 -
CUNHA Raymundo Cyriaco da Pequena Geographia da provincia do Paraacute Paraacute Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 85 p
1887 1893
1906
PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1887 222 p
PINTO Alfredo Moreira Curso de Geographia geral 2 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1893 256 p
PINTO Alfredo Moreira Geographia geral curso superior 6 ed Rio de Janeiro Livraria Classica de Alves amp C 1906 316 p
1888 - BASTOS Lindolpho de Siqueira Noccedilotildees elementares de Geographia geral e do Brazil Especialmente da proviacutencia do Paranaacute compiladas para uso das escolas da daquela proviacutencia Rio de Janeiro [s n] 1888
1888 - CAVALCANTI Joseacute Pompeu de A Chorographia da provincia do Cearaacute Rio de Janeiro Imprensa Nacional 1888 317 p
1888 - ENEacuteIAS Joatildeo de Simas Epiacutetome da Geographia do Brazil Destinado ao ensino primaacuterio Rio de janeiro [s n] 1888 99 p
1889 - NOGUEIRA Manoel Tomaz Alves Compendio de Geographia e chronographia do Brasil acompanhado de tres mappas e de um indice alphabetico Leipzig F A Brockhaus 1889 234 p
189- - MAYA Elesbatildeo Alves Elementos de Geographia do Brazil [S l] [s n] 189-
189- - PINTO Alfredo Moreira Pontos de Geographia organisados etc Rio de Janeiro [s n] 189-
189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Licccedilotildees elementares de Geographia Especialmente do Amazonas [S l] [s n] 189-[]
189-[] - CARVALHO Goeth Galvatildeo de Geographia do Amazonas [S l] [s n] 189-[]
1890[] 1894
VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia ou rudimentos desta sciencia ao alcance de todos e indispensaacuteveis aos candidatos desta disciplina aos exames geraes de preparatorios Rio de Janeiro Laemmert amp C Editores 1890[]
VILLA-LOBOS Raul Noccedilotildees de cosmographia Com gravuras 2 ed Rio de Janeiro Laemmert 1894
1891 - ESPIacuteRITO SANTO E R T Noccedilotildees geographicas e historicas do estado de Pernambuco Compendio Adoptado pelo Conselho litterario
(6 ed) para uso das Escolas Primaacuterias do Estado de Pernambuco 6 ed Recife Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 48 p
1892
1893
1895
1896
1904
1907
1909
AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 78 p
AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 2 ed cor e aum Rio de Janeiro Francisco Alves 1893 213 p
AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 213 p
AMARAL Tancredo [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias Adoptado unanimemente pelo Conselho superior da instrucccedilatildeo publica de S Paulo e adoptado nas escolas 5 ed revista e augmentada com 28 artigos Rio de Janeiro Francisco Alves 1896 213 p
AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 8 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1904 213 p
AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1907 213 p
AMARAL Tancredo do [Tancredo Leite do Amaral Coutinho] Geographia elementar adaptada aacutes escolas publicas primarias 11 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 210 p
1892
1895
1900
190-
NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1892 164 p
NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 162 p
NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 164 p
NOVAES Carlos Geographia primaacuteria composto para uso das Escolas Primaacuterias 12 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 190- 164 p
1892 1898
1911
REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Bahia Wilcke Picard amp C 1892
REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia 2 ed Bahia Wilcke Picard amp C 1898
REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorografia e historia do Brasil Especialmente do Estado da Bahia Approvada pelo Conselho Superior de Ensino do mesmo Estado 3 ed Bahia Typographia Reis e Cia 1911 415 p
1892 1895 PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos
(4 ed) 1900
1909
gymnasios e escolas normaes 4 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves amp Cia 1892 227 p
PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Paris Alves amp C Guillard Aillaud amp Cia 1895 272 p
PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1900 272 p
PINTO Alfredo Moreira Chorographia do Brasil Para uso dos gymnasios e escolas normaes 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 272 p
1893 - MELO Carlos Elementos de Geographia geral [S l] [s n] 1893
1893
(2 ed) -
COURTURIER Monsenhor C Geographia-Atlas Contendo oito mappas seguida drsquoum ligeiro esboccedilo chronologico da historia do Brazil e de algumas noccedilotildees de cosmographia dedicado aacute infacircncia 2 ed muito melhorada pelo Dr Moreira Pinto Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1893
1894 - BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Liccedilotildees de Geographia do Cearaacute Fortaleza [s n] 1894
1894 1898
CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute Approvada para uso das escolas primarias Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 89 p
CUNHA Raimundo Ciriacuteaco Alves da Geographia especial do Paraacute 2 ed Paraacute Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1898 89 p
1894
(3 ed) -
PINTO Alfredo Moreira Elementos de cosmographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Claacutessica de Alves 1894 90 p
1895 1907
ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes seguida de noccedilotildees de historia do mesmo estado Rio de Janeiro Francisco Alves 1895 78 p
ARAUJO Francisco Lentz Geographia do estado de Minas Geraes Rio de Janeiro Editores Paes amp Cia 1907
1895
(3 ed) -
ODILON Odorico Octavio Elementos de Geographia moderna 3 ed Bahia [s n] 1895 117 p
1895 - RAMOS Antonio Manuel dos Compendio de Geographia Porto Livraria Portuense de Lopes 1895 324 p
1896
(5 ed) 1910
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 5 ed Ampliada e mais correcta segundo o programma do Gymnasio Nacional Porto Alegre Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 232 p
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Elementos de chorographia do Brasil 8 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1910 221 p
1897 - LISBOA Luiacutes Carlos da Silva Chorographia do estado de Sergipe
Aprovada pelo Conselho Superior de Instruccedilatildeo e mandada adotar nas escolas puacuteblicas Aracaju SE Imprensa Oficial 1897
1897 1898
SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia geral Geographia especial Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1897
SALLABERRY Carlos Jorge Licccedilotildees de Geographia Geral 2ordf parte Geographia Especial Rio de Janeiro Livraria Cruz Coutinho 1898 413 p
1898
(100 ed) -
GUIMARAtildeES J Pinto O Rio Grande do Sul para as escolas 100 ed Pelotas Carlos Pinto 1898
1898 1909
1910
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Porto Alegre Liv Franco amp Irmatildeo 1898 95 p
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul 4 Ed Porto Alegre Liv Globo 1909 103 p
MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Geographia do Estado do Rio Grande do Sul Approvada pelo Conselho Escolar e Adoptada Para as Aulas Publicas do Estado 5 ed Porto Alegre Globo 1910 103 p
1898 - MAGALHAtildeES Basilio de Liccedilotildees de Geographia geral Satildeo Paulo Typographia Aurora 1898 120 p
1901
1910
1924
1928
ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1901 107 p
ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Approvada unanimamente pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 4 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1910 140 p
ARAUacuteJO Elysio de Geographia elementar Rio de Janeiro Francisco Alves 1924 107 p
ARAUJO Elysio Geographia elementar 7 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928 201 p
1901
(4 ed)
VILLA-LOBOS Raul Chorographia do Brazil Resumo Didactico 4 Ed Rio de Janeiro Laemmert amp C 1901 245 p
1901 1909
1925
THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1901 164 p
THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 10 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1909 164 p
THIREacute Arthur Geographia elementar Compediada para uso das escolas primarias 17 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 173 p
1901 - FERREIRA Justo Jansen Fragmentos para a Chorographia do Maranhatildeo Maranhatildeo Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 107 p
1905 - ALI Manuel Said Compendio de Geographia elementar Rio de Janeiro Satildeo Paulo Laemmert amp C Editores 1905 161 p
1905
1912
1922
1924
SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1905 390 p
SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia Geral 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves amp Cia 1912 396 p
SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 8 ed Rio de Janeiro Paulo Azevedo 1922 555 p
SCROSOPPI Horacio Curso elementar de Geographia geral 9 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1924 100 p
1906 - PINTO Alfredo Moreira Geographia Geral curso superior 6 ed correcta augmentada principalmente na parte economica Rio de Janeiro Livraria Classica de Francisco Alves 1906 316 p
1907 - BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de Geographia geral De accordo com o programma do Gymmasio Nacional e da Escola Normal Rio de Janeiro Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 180 p
1907 -
SANTOS Francisco Agenor de Noronha Chorographia do Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro) Approvada e adaptada pelo Conselho Superior de Instrucccedilatildeo Ed consideravelmente melhorada contendo minucioso mappa de Olavo Freire Rio de Janeiro B de Aguila 1907 414 p
1907 - FTD Novo manual de Geographia para uso das escolas primarias Curso elementar Satildeo Paulo FTD 1907 48 p
1908
1911
1917
1921
1927
SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios Satildeo Paulo Duprat 1908 450 p
SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma dos gymnasios 2 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1911 450 p
SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio D Pedro II 3 ed Satildeo Paulo Casa Duprat 1917 456 p
SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Casa Duprat 1921
SCROSOPPI Horacio Liccedilotildees de Chorographia do Brasil Organizadas conforme o programma do Collegio Pedro II 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 450 p
1908
1910
1929
1923
1931
NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria organizada segundo o Programa dos Gymnasios Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1908 643 p
NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o Programma dos gymnasios dos lyceus e das escolas normaes 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 643 p
NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o
programa dos gymnasios 4 ed Rio de Janeiro Liv Francisco Alves 1923 547 p
NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria Organizada segundo o programma dos Gymnasios dos Lyceus e das Escolas Normaes do Brasil 11 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1929 547 p
NOVAES Carlos Geographia secundaacuteria 13 ed revista e actualizada Rio de Janeiro Francisco Alves 1931 547 p
1908 1909
1914
SAVIO Themistocles Curso Elementar de Geographia Rio de Janeiro Orosco Impressores 1908 583 p
SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 2 ed Rio de Janeiro Heitor Ribeiro amp Cia 1909 433 p
SAVIO Themistocles Curso elementar de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves e Cia 1914 596 p
1909
1910
1911
1914
1916
1918
1919
1925
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1909 298 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1910 298 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 3 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1911 386 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 4 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1914 386 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 5 ed revista e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves Aillaud Alves amp Cia 1916 386 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil De accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional 6 ed rev e augmentada Rio de Janeiro Paris Francisco Alves 1918 386 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compecircndio de Corographia do Brasil 7 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1919 386 p
BITTENCOURT Feliciano Pinheiro Compendio de corographia do Brasil Compendio de corographia do brasil de accocircrdo com o programma do Gymnasio Nacional Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 386 p
191- - F I C [Frere Ignace Chaput] Elementos de cosmographia por F I C Revistos e adaptados as escolas de instrucccedilatildeo secundaria do Brazil pelo Eugenio de Barros Raja Gabaglia 191- Rio de Janeiro Garnier 228 p
1911 1929
1931
LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola 1911
1935
1939
LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1929 143 p
LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul Porto Alegre Livraria do Globo 1931 165 p
LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 7 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1935 165 p
LIMA A G [Afonso Guerreiro] Noccedilotildees de Geographia Curso complementar I parte Rio Grande do Sul 8 ed Porto Alegre Livraria do Globo 1939 165 p
1911 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia do Rio Grande do Sul Brasil e globo terrestre Porto Alegre Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911 124 p
1911 1913
PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes Curitiba Buzetti Mori amp Filhos 1911 487 p
PARANAacute Sebastiatildeo Estados da Repuacuteblica para estudo nos Gymnasios e nas Escolas Normaes 2 ed Curitiba Leopoldino Rocha 1913 502 p
1912 -
GEOGRAPHIA - atlas do Brasil e das Cinco Partes do Mundo conforme o ldquoAtlas do Brasilrdquo do Baratildeo Homem de Mello e Dr F Homem de Mello e os melhores auctores para a ldquoparte geralrdquo Proacutelogo do Dr Francisco Cabrita Rio de Janeiro F Briguiet 1912 99 p
1912 1923
1925
NOVAES Carlos Geographia especial ou chorographia do Brazil Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1912
NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1923 328 p
NOVAES Carlos Geographia especial ou corographia do Brazil 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 330 p
1913
1923
1927
1927
1928
1930
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I Geographia Geral Prefacio do Dr Oliveira Lima Rio de Janeiro Impressotildees Artiacutesticas Empresa Foto-Mecacircnica do Brasil 1913 253 p
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I De acordo com o programa do Coleacutegio Pedro II de 1923 (livro indicado pelo programa) Rio de Janeiro Empresa Graacutephico-Editora 1923
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Tomo I 3 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 235 p
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil Volume II Livro adoptado no Collegio Pedro II Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 p 239-516 p
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 4 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1928 512 p
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 481 p
1913 - LEME Ezequiel de Moraes Curso de Geographia Geral Pirassununga Typographia Minerva 1913 189 p
1913 1924
FTD Geographia - Atlas curso superior Programma do primeiro anno do Gymnasio Nacional Satildeo Paulo FTD 1913 118 p
FTD Geographia - Atlas curso superior Satildeo Paulo FTD 1924 118 p
1914 - ALBUQUERQUE FILHO M Geographia elementar para as escolas primarias Recife Imprensa Industrial 1914 233 p
1914 - FTD Curso Elementar de Geographia para uso das Escolas Primaacuterias Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 48 p
1914 - FTD Geographia Curso medio comprehendendo 1deg Chorographia do Brazil 2deg Geographia universal Rio de Janeiro Francisco Alves 1914 71 p
1915[]
1924
1927
1933
1941
LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar Porto Alegre Selbach amp Mayer 1915[]
LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 11 ed Porto Alegre Globo 1924 244 p
LOBO Joseacute Theodoro de Souza zGeographia elementar Adoptado nas aulas publicas do Estado do Rio Grande do Sul 12ordf ed correcta e augmentada Porto Alegre Livraria do Globo 1927 247 p
LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 14 ed Porto Alegre Liv do Globo 1933 214 p
LOBO Joseacute Theodoro de Souza Geographia elementar 17 ed Porto Alegre Globo 1941 212 p
1915
(5 ed)
1918
1927
SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Paris Francisco Alves amp Cia Aillaud Alves amp Cia 1915 555 p
SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 6 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1918 571 p
SCROSOPPI Horacio Curso superior de Geographia geral 10 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1927 571 p
1915
(5 ed)
1921
1923
1927
SCROSOPPI Horacio Geographia geral 5 ed Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1915 553 p
SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1921 553 p
SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1923 553 p
SCROSOPPI Horacio Geographia geral Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Francisco Alves 1927 556 p
1916
1920
1921
1924
1925
1927
1931
CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Brasil Rio de Janeiro Editora Paulo de Azevedo 1916
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 5 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1920 373 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1921 363 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 363 p
1933
1934
1936
1937
1938
1940
1941
1942
1947
1953
1957
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de Chorographia do Brasil 10 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 556 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1926 363 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 633 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 17 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 633 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 20 ed 228 mileiro Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1933 613 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 21 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1936 633 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1937 633 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1938 650 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1940 631 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 26 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1941 631 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de chorographia do Brasil 27 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1942 635 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Compendio de corografia do Brasil 28 ed Rio de Janeiro A Noite 1947 640 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 30 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1953 826 p
Cabral Maacuterio da Veiga Corografia do Brasil 31 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1957 826 p
1917 1924
1942
GOacuteES Carlos Pontos de Geographia para o Estado de Minas 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1917 128 p
GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio 2 ed Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1924 128 p
GOacuteES Carlos Pontos de Geographia 2ordm 3ordm e 4ordm anos primaacuterios 8 ed Rio de Janeiro P de Azevedo 145 p
1918 -
GOacuteES Carlos Pontos de Geographia De acordo com a ultima Refoacuterma do Ensino em Minas e o Novo Programma Official (Decreto n 4930 de 6 de fevereiro de 1918) 2ordm 3ordm e 4ordm anno primaacuterio Para uso dos Grupos Escolares e Escolas Singulares Bello Horizonte Imprensa Official de Minas 1918 203 p
1918
(2 ed) -
REIS O de Souza Manual de Geographia elementar e noccedilotildees rudimentares de physiographia para uso das classes superiores das escolas primaacuterias e princiacutepios do ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Ed do Autor 1918 119 p
1919 - LISBOA Coelho BRASIL Etienne Cosmographia De conformidade com o programa dos exames gymnasiaes Rio de Janeiro Leite Ribeiro
amp Maurillom 1919 113 p
1919 1926
MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1919 79 p
MARTINS Ameacutelia de Rezende Geographia elementar Com gravuras e oito mappas coloridos Approvada e adoptada pela instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal 11ordm milheiro Satildeo Paulo Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926 79 p
1920 - REIS Antocircnio Alexandre Borges dos Chorographia do Brasil Bahia [s n] 1920
1920 - SCHWALBACH Lucci L Compendio de Geographia [S l] [s n] 1920
1920
(5 ed)
1921
1922
LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 5 ed Satildeo Paulo Melhoramentos 1920 215 p
LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 6 ed Satildeo Paulo Nacional 1921 216 p
LEME Ezequiel de Moraes Elementos de Cosmographia e Geographia geral 7 ed Satildeo Paulo Nacional 1922 210 p
1921 - OLIVEIRA J Monteiro F de Geographia geral Rio de Janeiro [s n] 1921 446 p
1921
(2 ed) -
REIS O de Souza Chorographia do Districto Federal Manual de Geographia das escolas primarias Curso Complementar 2 ed Rio de Janeiro [s n] 1921 151 p
1921 - PORTUGAL A Geo-Atlas curso complementar de Geographia Nicteroy Escola Typ Salesiana 1921 88 p
1921 1925
FREIRE [da Silva] Olavo Geographia Geral Compendio destinado agraves escolas normaes lyceus gymnasios atheneus e coleacutegios militares Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves amp Cia 1921 503 p
FREIRE [da Silva] Olavo Geographia geral Compendio Destinado agraves Escolas Normaes Lyceus Gymnasios Atheneus e Colleacutegios Militares 2 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1925 462 p
1922[] - FTD Curso de Cosmographia elementar Programma oficial completo Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]
1922[] - FTD Geographia Livro I texto soacute sem mappas programma do 1ordm anno do Coleacutegio Dom Pedro II Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922[]
1922 -
FTD Chorographia do Brasil segundo os programas officiaes Texto com 35 mappas pretos Segundo os programas oficiaes Rio de Janeiro Paulo de Azevedo 1922 383 p (Col Nova Coleccedilatildeo FTD de Livros Didacticos)
1922 - MILANO Miguel Geographia physica para uso do primeiro anno meacutedio Satildeo Paulo Matano 1922 119 p
1922 1924 XAVIER Lindolpho Geographia commercial Rio de Janeiro Jacintho
1929 Ribeiro dos Santos 1922 555 p
XAVIER Lindolpho Geographia commercial 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924 765 p
XAVIER Lindolpho Geographia commercial 11ordf ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 667 p
1923 - FTD Geographia atlas curso elementar Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo amp C 1923
1923
(3 ed) -
FTD Geographia Curso elementar 3 ed Satildeo Paulo FTD 1923 110 p
1923 - FTD Geographia Ediccedilatildeo texto soacute para escolas primaacuterias (Admissatildeo ao curso gymnasial) 25 mappas pretos Rio de Janeiro Satildeo Paulo Livraria Paulo de Azevedo e Cia FTD 1923
1923 1925
CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 363 p
CABRAL Maacuterio da Veiga A Europa actual Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 363 p
1923 1924
1940
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Cia Melhoramentos 1923 328 p
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Rio de Janeiro Weizflog Irmatildeo Incorp 1924
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia elementar Satildeo Paulo Melhoramentos 1940
1923
(2 ed)
1927
1930
1949
1963
1967
CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Para uso das escola publicas municipaes 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1923 104 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1927 82 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Chorographia do Districto Federal Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1930 182 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Corografia do Distrito Federal 8 ed Rio de Janeiro A Noite 1949 304 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara20
3 ed Rio de Janeiro Graacutefica Ed Livros SA 1963 160 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia do Estado da Guanabara 8 ed Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1967 128 p
1923 - PAUWELS G Apontamentos de Chorographia Porto Alegre Typographia do Centro 1923
20
ldquoCom a transformaccedilatildeo do antigo Distrito Federal em Estado da Guanabara ficou a terra carioca sem um manual por onde se pudesse estudar a sua geografia Para atender a esta lacuna elaboramos a Geografia do Estado da Guanabara crente de que os habitantes desta maravilhosa cidade-Estado principalmente os aqui nascidos hatildeo de dar o devido apreccedilo ao nosso esforccedilo e boa vontaderdquo (CABRAL 1963)
1923 - PEDROSO T Pontos de Geographia Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso Casa Prado 1923 22 p
1924 - CABRAL Maacuterio da Veiga Nossa paacutetria Noccedilotildees de chorographia do Brasil para uso das escolas Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1924
1924 - UMA PROFESSORA PRIMAacuteRIA [Pseud] Noccedilotildees preliminares de Geographia Colligidas por uma professora primaria Campos Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 51 p
1925 - FREIRE [da Silva] Olavo Chorographia do Brasil Satildeo Paulo Monteiro Lobato 1925 607 p
1925 1928
1930
GAMA L D Pontos de Geographia Rio de Janeiro Typographia Barreto Vianna 1925 64 p
GAMA L D Pontos de Geographia 2 ed atualizada Rio de Janeiro Imprensa Naval 1928 110 p
GAMA L D Praacuteticas de Geographia 3 ed Rio de Janeiro Livraria Paulo de Azevedo 1930 225 p
1925 1929
1944
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1925 212 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaria Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1929 240 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia primaacuteria 12 ed Rio Janeiro A Noite 1944 242 p
1925
1932
1933
1936
FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1925 436 p
FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 10 ed Rio de Janeiro H Antunes 1932 466 p
FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia para o curso secundario 13 ed Rio de Janeiro H Antunes 1933 479 p
FREITAS Gaspar de Liccedilotildees de Geographia Rio de Janeiro Graphica Sauer 1936
1926 -
GABAGLIA Raja RIBEIRO Joatildeo Exame de admissatildeo para os gymnasios Portuguez Historia do Brazil Geographia Arithmetica Geometria Pratica Appendice Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1926[]
1926 -
CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Chorographia do Districto Federal Approvada e adoptada pela Directoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica do Districto Federal Rio de Janeiro Francisco Alves 1926 177 p
1926 1930
LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1926 228 p
LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia II Parte Brasil Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 228 p
1926[] - NOVAES Carlos Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Francisco Alves 1926[]
1928 - DUQUE-ESTRADA Osoacuterio Chorographia do Brasil Para uso das escolas primarias (Classe complementar) Rio de Janeiro Livraria Francisco Alves 1928
1929
(7 ed)
1931
1934
1943
CABRAL Mario da Veiga Curso de Geographia geral 7 ed Rio de Janeiro J R dos Santos 1929 711 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1931 724 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 11 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 757 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Curso de Geographia geral 16 ed Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1943 737 p
193- 1935
PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises 4ordf seacuterie Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-
PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia dos principais paises para a 4ordf seacuterie do curso ginasial e normal Rio de Janeiro J R de Oliveira amp Cia 1935 259 p
193- - PIMENTEL JUNIOR F Menezes Geographia geral dos continentes 2ordm ano 2 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-
1930 - MARTINS Ameacutelia de Rezende 40 pontos de Geographia Segundo o programa official Rio de Janeiro Laemmert 1930 175 p
1930 - GABAGLIA Raja Praticas de Geographia Para uso do Collegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal Rio de Janeiro Francisco Alves 1930 216 p
1930 - LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Geographia III Parte Globo Terrestre Porto Alegre Globo 1930 190 p
1931 1936
LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares Porto Alegre Barcellos Bertaso amp Cia 1931 170 p
LIMA Afonso Guerreiro Noccedilotildees de Cosmographia De acordo com o programa da escola normal e escolas complementares 2 ed Porto Alegre Globo 1936 170 p
1931
(2 ed)
1932
1939
1942
CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo como o programa de ensino secundaacuterio 2 ed Rio de Janeiro Livraria de Jacintho 1931 406 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Geographia Primeiro anno Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 386 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro ano de Geographia 14 ed Rio de Janeiro Livraria Jacinto 1939
CABRAL Maacuterio da Veiga Primeiro anno de Geographia De acordo com o programa de ensino secundaacuterio 16 ed Rio de janeiro Livraria Jacintho 1942 303 p
1931 1932 CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1931 381 p
1934
1959
CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia 2 ed Rio de Janeiro Jacintho Ribeiro dos Santos 1932 381 p
CABRAL Maacuterio da Veiga Liccedilotildees de Cosmographia Rio de Janeiro Livraria Jacintho 1934 381 p
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PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia physica 3 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees Rio Branco 193-
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PIMENTEL JUNIOR F Menezes Liccedilotildees de Geographia fiacutesica 2 ed Rio de Janeiro Ed de J R de Oliveira amp Cia 1932
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FREITAS Gaspar de Pontos de Geographia e historia do Brasil para uso de todas as classes primarias 27 ed Rio de Janeiro Graphica Sauer 1937 190 p
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CARVALHO Carlos Miguel Delgado de Geographia humana politica e economica 3 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 358 p
Vol 40
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CABRAL Maacuterio da Veiga Terceiro anno de Geographia De accocircrdo com o actual programma de ensino secundaacuterio 4 ed Rio de Janeiro Bedeschi 1935
1934 - ELLIS JUNIOR Alfredo Geographia 3ordf seacuterie de acordo com o programa do Coleacutegio D Pedro II Satildeo Paulo Liv Acadecircmica 1934 280 p
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GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial Para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e Normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1935 162 p
GABAGLIA Fernando GABAGLIA Raja Curso de Geographia 2ordf seacuterie ginasial 8 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1941 233 p
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GABAGLIA F A Raja Curso de Geographia 1ordf seacuterie para uso no Coleacutegio Pedro II e no ensino secundaacuterio e normal 2 ed Rio de Janeiro F Briguiet amp Cia 1936 162 p
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LENZ Luiz Gonzaga Geographia 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Saraiva 1936 158 p
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GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios ao ginaacutesio Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1938 131 p
GONCcedilALVES Artur de Campos Noccedilotildees de Cosmographia e Geographia para cursos primaacuterios e de preparatoacuterios a ginaacutesio de acocircrdo com os programas oficiais 2 ed Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1939 135 p
1938 - MILANO Miguel Seriaccedilatildeo geographica Para os gymnasios cursos seriados escolas normaes e preparatoacuterias 3ordf seacuterie Rio de Janeiro Francisco Alves 1938 142 p
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1938 1942
AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 7 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 341 p
AZEVEDO Aroldo de Geographia para a segunda seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 12 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1942 392 p
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AZEVEDO Aroldo de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Consta programa de Geographia para a quarta seacuterie secundaacuteria Contem leituras geograacuteficas de autores escolhidos 6 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1938 389 p
1939 - BARRETO Adolpho Alves Pequena Geographia para a infacircncia pobre [S l] Mundo Novo 1939 56 p
1939 1942
GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1939 266 p
GICOVATE Moiseacutes Geographia para o curso secundaacuterio 1ordf seacuterie Satildeo Paulo Melhoramentos 1942 266 p
1939 1941
AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria de acordo com o programa oficial 8 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1939 298 p
AZEVEDO Aroldo de Geographia para a primeira seacuterie secundaacuteria De acordo com o programa oficial 17 ed Satildeo Paulo Cia Editora Nacional 1941 478 p
1939 - AZEVEDO Aroldo de Geographia para o curso comercial Satildeo Paulo Satildeo Paulo Editora 1939 380 p
Org Jeane Medeiros Silva 2007-2011
A quase totalidade desse material foi editada regularmente agrave exceccedilatildeo de
Bandeira (185-) Pinto (1879) e Pinheiro (188-) cujas obras foram utilizadas
unicamente nas docecircncias de seus autores como apostilas mas com relevacircncia e
notoriedade suficientes para serem citadas por Sacramento Blake por exemplo
Natildeo se trata objetivamente de um levantamento completo sobretudo
porque haacute indiacutecios de que a produccedilatildeo regional de manuais de Geografia foi muito
expressiva inclusive em cidades interioranas
Todavia satildeo os iacutendices que nas proximidades de duas centenas de anos
depois estatildeo ao alcance dessa pesquisa No conjunto satildeo compilaccedilotildees traduccedilotildees
adaptaccedilotildees obras autorais Predominantemente satildeo obras de ediccedilatildeo uacutenica ao todo
174 nessa condiccedilatildeo Outras 102 tiveram reediccedilotildees Talvez mais difiacutecil do que
rastrear as obras seja conhecer a totalidade de suas ediccedilotildeesreimpressotildees Fato
agravado com o problema da pirataria do livro que foi extremamente alta no seacuteculo
XIX e um dos problemas recorrentersquo do mercado editorial naquele momento como
demonstra Hallewell (2005) cuja anaacutelise relaciona parte do crescimento das casas
publicadoras brasileiras agrave pirataria de obras praacutetica facilitada pela inexistecircncia ateacute
1912 de uma legislaccedilatildeo que protegesse internacionalmente os direitos autorais ou
mesmo o cumprimento dos direitos dos autores nacionais
De igual modo essa questatildeo eacute examinada por Correcirca (2006) no circuito
amazonense de instruccedilatildeo educacional pesquisador que suscita a hipoacutetese natildeo
diretamente comprovada de que um dos livros portugueses mais utilizados no
ensino primaacuterio o Manual encyclopedico para uso das escolas drsquoinstrucccedilatildeo
primaria21 de Emilio Achilles Monteverde22 em sua oitava ediccedilatildeo portuguesa em
1865 ndash e com uma parte dedicada ao ensino da Geografia ndash sofreria ediccedilotildees
brasileiras natildeo autorizadas Esse problema natildeo era isolado e sua produccedilatildeo e
comercializaccedilatildeo incluindo outros paiacuteses alastravam-se por toda a costa do paiacutes
Houve sempre um comeacutercio de ediccedilotildees chamadas clandestinas contrafeitas ou piratas isto eacute ediccedilotildees que natildeo obedeciam ao Privileacutegio concedido agrave ediccedilatildeo original [] Os impressores holandeses chegaram a ser verdadeiros especialistas em ediccedilotildees piratas No seacuteculo XVIII quando a literatura francesa tornou-se a mais lida de todas a Holanda chegou a imprimir mais livros franceses que a Franccedila No seacuteculo XIX foram os belgas os grandes piratas das ediccedilotildees francesas No Brasil em fins do seacuteculo XIX e princiacutepios deste os editores rio-grandenses protegidos por uma constituiccedilatildeo positivista imprimiram toda sorte de livros sem autorizaccedilatildeo do editores legiacutetimos e sem pagar direitos autorais (MORAES 1975 p 112-113)
Estrateacutegias de controle das ediccedilotildees e combate agrave pirataria satildeo encontradas em
exemplares da bibliografia Geralmente o autor ou seu representante legal
numerava eou assinava os exemplares enunciando uma advertecircncia sobre a
propriedade legal da obra ndash uma forma de domiacutenio sobre os direitos autorais da
proacutepria obra e para alertar o consumo do leitor como demonstra a Figura 01 21
Outras obras do autor sofreriam o mesmo processo
22 Escritor diplomata e pedagogo portuguecircs nascido em 1803 em Lisboa e falecido em 1881 Autor
do Methodo facilimo para aprender a ler amplamente utilziado no Brasil Atuou em diversos cargos puacuteblicos em Portugal (ZUIN 2007)
FIGURA 01 ndash Atos de controle e advertecircncia contra a pirataria de obras didaacuteticas em exemplares de Henrique Martins23 (1896) Carlos Goacutees24 (1918) e Joseacute Theodoro de Souza Lobo25 (1927)
Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011
23
Henrique Martins ndash foi professor do Coleacutegio Militar de Porto Alegre 24
Carlos Goacutees ndash Bacharel em Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais foi professor do Ginaacutesio Oficial de Minas Delegado do Estado de Minas Gerais no 4ordm Congresso Brasileiro de Instruccedilatildeo e Membro da Academia Mineira de Letras e do Instituto Histoacuterico Mineiro (GOacuteES 1918) 25
Joseacute Theodoro de Souza Lobo ndash Engenheiro geoacutegrafo pela Escola Central do Rio de Janeiro educador e escritor gauacutecho nascido a 7 de janeiro de 1846 em Porto Alegre onde faleceu a 9 de agosto de 1913 Atuou como professor de matemaacutetica da Escola Normal de Porto Alegre de 1873 ateacute a extinccedilatildeo desta Em 1877 quando fundou o Coleacutegio Souza Lobo instituiccedilatildeo de reconhecida tradiccedilatildeo na capital gauacutecha (PORTO-ALEGRE 1917)
Praticamente a trajetoacuteria do livro didaacutetico de Geografia no periacuteodo
apresenta quatro fases de produccedilatildeo com diferentes mas crescentes intensidades
(Cf Graacutefico 01)
GRAacuteFICO 01 ndash Produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia por deacutecada (1814-1939)
0
10
20
30
40
50
60
70
1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930
Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011
A primeira fase abrange as deacutecadas de 1810 e 1840 com 26 tiacutetulos tem-se
nas duas deacutecadas iniciais o aparecimento dos manuais de Geografia em quantidade
relativamente pequena (oito tiacutetulos no total) embora coerente com a demanda desse
ensino agrave eacutepoca (centrada nas aulas avulsas) e tambeacutem com os meacutetodos de ensino
(livro prioritariamente destinado agrave informaccedilatildeo do professor) nas duas outras
deacutecadas a produccedilatildeo corresponde ao iniacutecio da institucionalizaccedilatildeo da Geografia como
disciplina no ensino secundaacuterio em funccedilatildeo dos exames preparatoacuterios de acesso aos
cursos superiores somando 18 tiacutetulos
Apoacutes a deacutecada de 1840 haacute uma segunda fase concentrada entre os anos
1850 e 1870 com 50 tiacutetulos A deacutecada de 1850 foi um marco no desenvolvimento
econocircmico do Brasil que beneficiou a expansatildeo do mercado editorial que jaacute
progredira bastante desde o final do monopoacutelio da Impressatildeo Reacutegia que ocorreu em
1822 A educaccedilatildeo teve algum desenvolvimento e com isso houve fomento na
produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos livros didaacuteticos Por conseguinte passam-se a ter a
partir desse momento manuais didaacuteticos de Geografia reeditados Do periacuteodo
joanino ateacute meados do Impeacuterio essas obras tinham ediccedilotildees uacutenicas agrave exceccedilatildeo de
Pereira (1818) em obra de leitura natildeo exlusiva ao ensino de Geografia
Em termos de mercado editorial em razatildeo dos pedidos locais de impressatildeo
de materiais didaacuteticos Hallewell (2005) assinala que por volta dos anos 1850 os
livros didaacuteticos igualaram-se agraves demandas de impressatildeo de jornais e revistas na
agenda de encomendas das tipografias Imprensa e obras didaacuteticas seriam os motes
de sobrevivecircncia do parque graacutefico e das casas editoriais Nesse periacuteodo cerca de
trecircs deacutecadas apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica assinala-se um tempo de
consolidaccedilatildeo do paiacutes particularmente na educaccedilatildeo embora com severa restriccedilatildeo
geograacutefica ndash isto eacute centralizada no municiacutepio da Corte Satildeo desta eacutepoca
[] a criaccedilatildeo da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte destinada a fiscalizar e orientar o ensino puacuteblico e particular (1854) estabelecimento das normas para o exerciacutecio da liberdade de ensino e de um sistema de preparaccedilatildeo do professor primaacuterio (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio de Preparatoacuterios tomando-se por base programas e livros adotados nas escolas oficiais (1854) reformulaccedilatildeo dos estatutos da Academia de Belas Artes (1855) reorganizaccedilatildeo do Conservatoacuterio de Muacutesica e reformulaccedilatildeo dos estatutos da Aula de Comeacutercio da Corte (RIBEIRO 2001 p 54-55)
Uma terceira fase compreende as deacutecadas de 1880 e 1900 com um salto
supreendente na primeira deacutecada desse desenvolvimento ndash 80 tiacutetulos ao todo sendo
43 apenas nos anos 1880 Esse periacuteodo coaduna com importantes transformaccedilotildees
histoacutericas do paiacutes como a passagem do Impeacuterio para a Repuacuteblica aleacutem de
importantes configuraccedilotildees na economia na demografia na dinacircmica urbana e na
proacutepria organizaccedilatildeo do ensino brasileiro
Uma uacuteltima fase de produccedilatildeo pode ser identificada a partir dos anos 1910
em um crescendo que atinge o maior pico ateacute entatildeo na deacutecada de 1930 totalizando
120 produccedilotildees Esta fase em que a Geografia jaacute era haacute tempos uma disciplina
consolidada nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute marcada por inovaccedilotildees teoacuterico-
metodoloacutegicas bem como pela aproximaccedilatildeo da Geografia acadecircmica
22 A autoria da bibliografia
O acervo apresentado foi escrito por 183 autores incluindo autores
traduzidos A maioria eacute autoria do gecircnero masculino sendo apenas trecircs autorias
femininas Desse conjunto de autores oito satildeo anocircnimos por pseudocircnimos ou por
autorias institucionais Haacute seis traduccedilotildees com adaptaccedilotildees o que reforccedila o
questionamento da noccedilatildeo muitas vezes endossada em pesquisas sobre a formaccedilatildeo
do ensino de Geografia de que principalmente no seacuteculo XIX se utilizariam livros
importados para o ensino dessa mateacuteria ndash esta parece ter sido de fato uma
realidade para obras de outras disciplinas mas natildeo propriamente desta mateacuteria Os
manuais de Histoacuteria e Geografia foram sobretudo nacionais ao passo que os
manuais para o ensino da leitura e da liacutengua portuguesa eram em grande parte
importados de Portugal e os das aacutereas exatas importados ou traduzidos da Franccedila
ou Inglaterra como depotildee Veriacutessimo (1906 p 4-8)
Satildeo muitos os escritores estrangeiros que traduzidos transladados ou quando muito servilmente imitados fazem a educaccedilatildeo da nossa mocidade Seja-me permitida uma recordaccedilatildeo pessoal Os meus estudos feitos de 1867 a 1876 foram sempre em livros estrangeiros Eram portugueses e absolutamente alheios ao Brasil os primeiros livros que li O Manual Enciclopeacutedico de Monteverde a Vida de D Joatildeo de Castro de Jacinto Freire () os Lusiacuteadas de Camotildees e mais tarde no Coleacutegio de Pedro II o primeiro estabelecimento de instruccedilatildeo secundaacuteria do paiacutes as seletas portuguesas de Aulete os Ornamentos da memoacuteria de Roquete - foram os livros em que recebi a primeira instruccedilatildeo E assim foi sem duacutevida para toda a minha geraccedilatildeo Acanhadiacutessimas satildeo as melhorias desse triste estado de cousas e ainda hoje a maioria dos livros de leitura se natildeo satildeo estrangeiros pela origem satildeo-no pelo espiacuterito Os nossos livros de excertos satildeo aos autores portugueses que os vatildeo buscar e a autores cuja claacutessica e hoje quase obsoleta linguagem o nosso mal amanhado preparatoriano de portuguecircs mal percebe Satildeo os Fr Luiacutes de Souzas os Lucenas os Bernardes os Fernatildeo Mendes e todo o classicismo portuguecircs que lemos nas nossas classes da liacutengua que aliaacutes comeccedila a tomar nos programas o nome de liacutengua nacional Pois se pretende a meu ver erradamente comeccedilar o estudo da liacutengua pelos claacutessicos autores brasileiros tratando coisas brasileiras natildeo poderatildeo fornecer relevantes passagens E Santa Rita Duratildeo e Caldas e Basiacutelio da Gama e os poetas da gloriosa escola mineira e entre os modernos Joatildeo Lisboa Gonccedilalves Dias Sotero dos Reis Machado de Assis e Franklin Taacutevora e ainda outros natildeo tecircm paacuteginas que sem serem claacutessicas resistiriam agrave criacutetica do mais meticuloso purista
Assim haacute a tese amplamente divulgada e aceita na histoacuteria do livro didaacutetico
segundo a qual a nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico ocorreria concretamente no final
do seacuteculo XIX no contexto em que se esboccedilava um sistema de educaccedilatildeo puacuteblica
conforme Lajolo Zilberman (1996) Hallewell (2005) Bittencourt (2008) Razzini
(2004) Mas para o caso do ensino de Geografia essa tese deve ser questionada
pois a proacutepria bibliografia suscitada neste capiacutetulo demonstra que as publicaccedilotildees de
Geografia como uma das primeiras linhas do gecircnero didaacutetico a par com os livros de
Histoacuteria a ter a nacionalidade dos autores e dos conteuacutedos desenvolvidos em uma
produccedilatildeo significativa pelo menos em termos quantitativos inclusive com certo
desenvolvimento regional disperso em pontos referenciais do territoacuterio brasileiro O
que parece eacute que em momentos de reorientaccedilatildeo do ensino natildeo se achava no
mercado livros brasileiros de Geografia que se adequassem agraves novas propostas
Isso se percebe por exemplo na adoccedilatildeo do Manuel du Baccalaureacuteat26 e do Atlas
de Delamarche pelo Coleacutegio Pedro II por ocasiatildeo da reforma induzida pelo Decreto
de 24 de janeiro de 1856 obras essas necessaacuterias para complementar a adoccedilatildeo do
compecircndio de Pompeu Brasil Outra hipoacutetese pode ser as pequenas tiragens o
largo tempo para consumi-las o que as levava agrave desatualizaccedilatildeo ou mesmo agrave natildeo
reediccedilatildeo
O mais comum foram as autorias uacutenicas tendecircncia destoante por exemplo
da produccedilatildeo atual de livros didaacuteticos de Geografia na qual predomina o sistema de
co-autorias No periacuteodo suscitado tecircm-se apenas nove produccedilotildees em co-autorias e
trecircs co-autores interventores mais especificamente Luiz Leopoldo Fernandes
Pinheiro27 Joatildeo Ribeiro28 e Pe Joseacute Severiano de Rezende29 que atuaram na
sobrevida das obras de Joaquim Maria de Lacerda30 apoacutes o falecimento deste autor
Um pouco menos da metade dos tiacutetulos 113 dos 276 satildeo obras de autores
que tiveram pelo menos dois tiacutetulos em sua produccedilatildeo Para o periacuteodo a maior
26
Por natildeo ter tido acesso a essa obra natildeo a inclui na bibliografia parece que atendia mais ao curriacuteculo de Histoacuteria do que propriamente ao de Geografia
27 Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro ndash era sobrinho de Joaquim Maria Lacerda Nasceu em
Campos (RJ) em 1855 e faleceu em 1925 Foi literato atuando na poesia crocircnica romance e traduccedilatildeo Trabalhou como professor de Filologia Geografia e Histoacuteria (RONZANI 2011)
28 Joatildeo Ribeiro ndash atuou em trabalhos editoriais para revisatildeo e ampliaccedilatildeo de manuais didaacuteticos de
Geografia Nasceu em Sergipe em 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 1934 Foi historiador filoacutelogo jornalista e professor do Coleacutegio Pedro II (MOTA 2004)
29 Pe Joseacute Severiano de Rezende ndash nasceu em 1871 e faleceu em 1931 Foi paacuteroco em Mariana
(MG) e atuante no jornalismo (MARTINS 1983)
30 Joaquim Maria de Lacerda ndash filho de um marinheiro capitatildeo de navio nasceu no Rio de Janeiro em 1833 e faleceu em Paris no ano de 1886 Formou-se em Direito e foi membro da Arcaacutedia Romana e outras associaccedilotildees literaacuterias inclusive europeias Sobretudo nos uacuteltimos anos de vida dedicou-se agrave educaccedilatildeo produzindo inuacutemeras obras de Geografia e Histoacuteria (BLAKE 1898)
produccedilatildeo com 12 tiacutetulos pertence a Alfredo Moreira Pinto31 em quase 30 anos de
atividade Destacam-se ainda Maacuterio da Veiga Cabral32 e Aroldo de Azevedo33 com
11 e 10 tiacutetulos respectivamente embora esses nuacutemeros reflitam devo ressaltar
apenas o periacuteodo delimitado pela pesquisa pois a produccedilatildeo dos mesmos foi bem
maior haja vista terem sido atuantes e se situarem dentre os autores mais
significativos da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute a deacutecada de 1970 Aroldo de
Azevedo por exemplo totalizou 30 tiacutetulos didaacuteticos ao longo de sua carreira Com
um caraacuteter mais regional pois em grande parte centrado no Rio Grande do Sul tem-
se A G Lima34 autor de 10 tiacutetulos (Cf Quadro 2)
Todavia a quantidade de tiacutetulos natildeo expressa exatamente a importacircncia de
um autor no contexto da educaccedilatildeo geograacutefica Muitos autores publicaram apenas
uma obra com muitas reediccedilotildees e frequentemente melhoradas alteradas
complementadas prolongando a utilizaccedilatildeo do livro Talvez o caso mais tiacutepico
tenham sido os livros de Joaquim Maria de Lacerda que publicando cinco tiacutetulos em
seus uacuteltimos anos de vida a partir da deacutecada de 1870 foi exaustivamente
republicado ateacute a deacutecada de 1930 Dada a desatualizaccedilatildeo perioacutedica dos livros de
31 Alfredo Moreira Pinto ndash nasceu no Rio de Janeiro em 1847 filho de um comerciante portuguecircs Formou-se bacharel em Letras pelo Coleacutegio Pedro II em 1865 ingressou na Faculdade de Direito de Satildeo Paulo em 1866 curso que natildeo concluiu Foi professor de Geografia e Histoacuteria do curso preparatoacuterio anexo agrave Escola Militar aleacutem de ter sido professor particular dessas disciplinas atuando ainda como jornalista Escreveu extensa obra nas aacutereas de Geografia e Histoacuteria aleacutem de ter sido autor de um dicionaacuterio geograacutefico Faleceu em 1903 (BLAKE 1883 BARBUY 2006) 32
Maacuterio [Vasconcelos] da Veiga Cabral ndash geoacutegrafo e engenheiro agrimensor estudou no Coleacutegio Militar e na Escola de Guerra de Realengo Atuou como professor em instituiccedilotildees como o Ginaacutesio 28 de Setembro Instituto de Educaccedilatildeo Liceu Rio Branco Universidade do Distrito Federal e Escola de Engenharia do Rio de Janeiro sendo autor de extensa obra didaacutetica nas aacutereas de Histoacuteria e Geografia aleacutem de outras Nasceu em 1894 e faleceu em 1973 (SILVA 2009 AGCRJ 2010)
33 Aroldo [Edgard] de Azevedo ndash geoacutegrafo e geomorfoacutelogo brasileiro nascido em Lorena (SP) em
1910 filho de um poliacutetico paulista e falecido em Satildeo Paulo em 1974 Formado em Direito nunca exerceu profissatildeo juriacutedica formado em Geografia e Histoacuteria pela Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras da Universidade de Satildeo Paulo (USP) em 1939 foi um dos primeiros autores didaacuteticos com formaccedilatildeo em Geografia sendo um dos primeiros professores dessa ciecircncia na USP onde foi catedraacutetico de Geografia do Brasil e tambeacutem Diretor do Instituto de Geografia Membro da Associaccedilatildeo dos Geoacutegrafos Brasileiros e do Instituto Geograacutefico do Brasil publicou 127 livros de Geografia entre didaacuteticos e cientiacuteficos e artigos Na pesquisa geograacutefica destacou-se por propor um importante mapa e uma das primeiras classificaccedilotildees do relevo brasileiro (1949) a partir do criteacuterio altimetria Eacute um dos autores didaacuteticos mais bem sucedidos do seacuteculo XX com cerca de 13 milhotildees de exemplares vendidos (ISSLER 1973 CONTI 1976 PREFEITURA 2010)
34 A G [Affonso Guerreiro] Lima ndash Affonso Guerreiro Lima foi professor da Escola Normal de Porto
Alegre sendo de sua autoria diversas obras didaacuteticas de Histoacuteria e Geografia Eacute lembrado por ter sido um inovador da apresentaccedilatildeo graacutefica nos livros didaacuteticos Era geoacutegrafo e membro do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do RS (IHGRGS 2011)
Geografia sobretudo em um periacuteodo em que as estatiacutesticas a regionalizaccedilatildeo e o
conhecimento geograacutefico eram ampliados eou modificados de diversas maneiras a
continuidade dessas obras soacute foi possiacutevel por meio do trabalho de co-autores como
citado acima E por outro lado haacute autores que publicaram apenas um tiacutetulo mas
com muita importacircncia na perspectiva do meacutetodo da teorizaccedilatildeo ou mesmo na
perspectiva graacutefica
QUADRO 02 ndash Produccedilatildeo por autoria para autores com mais de dois tiacutetulos de manuais didaacuteticos de Geografia (1814-1939)
Obras Autores Periacuteodo de Produccedilatildeo
(1ordf ed ou ediccedilatildeo mais antiga)
12 PINTO Alfredo Moreira 18691906
11 CABRAL Maacuterio da Veiga 19161937
10 LIMA A G [Afonso Guerreiro] 19111937
10 FTD 19071923
10 AZEVEDO Aroldo de 19341939
07 MILANO Miguel 19221938
05 MARTINS Henrique [Augusto Eduardo] Deacutecada de 1870 a 1898
05 ELLIS JUNIOR Alfredo 19321935
05 LACERDA Joaquim Maria de 18701887
04 CARVALHO Carlos Miguel Delgado de 19131933
04 PIMENTEL JUNIOR F Menezes Entre 1930 e 1932
04 SCROSOPPI Horacio 19051915
04 NOVAES Carlos 18821926[]
03 FREITAS Gaspar de 19251936
03 JARDIM Renato 19331936
03 GABAGLIA F A Raja 19331936
03 GABAGLIA Raja 19251936
02 ALMEIDA Antonio Figueira de 19311935
02 BITTENCOURT Feliciano Pinheiro 19071909
02 BRAZIL Thomaz Pompeu de Souza (Filho) Deacutecada de 18801894
02 CARVALHO Goeth Galvatildeo de Deacutecada de 1890
02 CARVALHO Joaquim Joseacute de 18831885
02 CUNHA M P 19311938
02 CUNHA Raymundo Cyriaco da 18871894
02 F I C [Frere Ignace Chaput] Deacutecadas de 1880 a 1910
02 FREIRE [da Silva] Olavo 1921-1925
02 GOacuteES Carlos 1917-1918
02 LEAtildeO Manuel do Rego Barros de Souza 1858-1859
02 LEME Ezequiel de Moraes 1913-1920
02 MACEDO Joaquim Manoel de 1873-1877
02 MARTINS Ameacutelia de Rezende 1919-1930
02 PEREIRA Joseacute Saturnino da Costa 18181836
02 PINHEIRO Manoel Pereira de Moraes 1875 e deacutecada de 1880
02 REIS Antocircnio Alexandre Borges dos 18921920
02 REIS O de Souza 19181921
02 VILLA-LOBOS Raul 18861890[]
02 ZALUAR Augusto Emilio 18761880
Org Jeane Medeiros Silva 2011
Dois outros casos de adequaccedilatildeo de uma mesma obra agora por seus
autores chamam a atenccedilatildeo Primeiro temos Thomaz Pompeu de Souza Brasil que
publicou os Elementos de Geographia em 1851 em Fortaleza para uso dos alunos
do Liceu local ganhando uma nova ediccedilatildeo em 1856 com o tiacutetulo de Compendio de
Geographia ainda editado no Cearaacute A obra no entanto ganhou dimensatildeo nacional
ao ser adotada no Rio de Janeiro e em outras cidades (inclusive adotada pelo
Coleacutegio Pedro II liceus e seminaacuterios do Impeacuterio como clarifica uma chamada em
sua capa) passando a ter uma terceira ediccedilatildeo aumentada e corrigida publicada no
Rio de Janeiro com novo tiacutetulo Compendio elementar de Geographia geral e
especial do Brasil Nessa forma apenas com correccedilotildees e ampliaccedilotildees pontuais teve
mais duas ediccedilotildees em 1864 e 1869
Os autores mais comuns foram professores natildeo unicamente de Geografia
No entanto principalmente no seacuteculo XIX pessoas de diferentes formaccedilotildees e
ocupaccedilotildees profissionais produziram as obras da bibliografia literatos advogados
poliacuteticos jornalistas militares graduados religiosos engenheiros Alguns de
renome na cultura geral brasileira como Osoacuterio Duque-Estrada35 Joaquim Manoel
de Macedo36 outros com renome na poliacutetica como Thomaz Pompeu de Souza
Brasil37 ou com reconhecimento na tradiccedilatildeo cientiacutefica brasileira como Said Ali38
35
Osoacuterio Duque-Estrada ndash Nascido em Pati do Alferes municiacutepio de Vassouras (RJ) em 29 de abril de 1870 e falecido no Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1927 Duque-Estrada eacute reconhecido por ter sido autor da letra do hino nacional brasileiro Foi poeta ensaiacutesta criacutetico de literatura e atuou como professor sendo autor de diversas obras didaacuteticas Na educaccedilatildeo exerceu as funccedilotildees de inspetor geral do ensino bibliotecaacuterio e professor de francecircs chegando a ser professor da cadeira de Histoacuteria Geral do Brasil no Coleacutegio Pedro II instituiccedilatildeo na qual se formou bacharel em Letras em princiacutepios do seacuteculo XX Abandonou o magisteacuterio para dedicar-se apenas agrave imprensa (ABL 2011)
36 Joaquim Manoel de Macedo ndash Nasceu em Itaboraiacute a 24 de junho de 1820 e faleceu no Rio de
Janeiro em 11 de abril de 1882 Formado em medicina destacou-se como escritor brasileiro e trabalhou como professor de Histoacuteria e Geografia do Brasil no Coleacutegio Pedro II Em 1845 foi soacutecio secretaacuterio e orador do Instituto Histoacuterico e geograacutefico Brasileiro Em sua extensa obra literaacuteria destaca-se o romance A moreninha sua obra mais reconhecida Escreveu livros didaacuteticos de Geografia e Histoacuteria (ABL 2011)
37 Thomaz Pompeu de Souza Brasil ndash Nasceu em Santa Quiteacuteria em 6 de junho de 1818 e faleceu
em Fortaleza a 2 de setembro de 1877 Formado em Direito ocupou cargos na poliacutetica e na educaccedilatildeo sendo um dos fundadores diretor e docente de Histoacuteria e Geografia do Liceu do Cearaacute aleacutem de contribuir com a imprensa Pertenceu ao quadro de diversas instituiccedilotildees cientiacuteficas dentre as quais a Sociedade de Geografia de Paris o Instituto Arqueoloacutegico Histoacuterico e Geograacutefico de Pernambuco e o Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro (SOUSA NETO 1997)
Frequentemente as editoras com especializaccedilatildeo em livros didaacuteticos como a
Francisco Alves agiam por encomendas procurando por autores institucionalizados
no Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro ndash IHGB e sobretudo no Coleacutegio Pedro
II em razatildeo da visibilidade desses autores e de sua experiecircncia com os programas e
a metodologia de ensino da instituiccedilatildeo modelar do ensino secundaacuterio no Brasil
Muitos autores quando professores para a escrita de suas obras didaacuteticas
desenvolviam apenas suas anotaccedilotildees e roteiros de aulas
Na perspectiva discursiva desta tese percebo esses autores como sujeitos
ou seres sociais natildeo fundamentados em uma individualidade mas como
expressotildees de um espaccedilo social e ideoloacutegico em determinado momento da histoacuteria
(FERNANDES 2005) Dessa forma seratildeo compreendidos no desenvolvimento da
tese
23 A editoraccedilatildeo
A loacutegica de mercado situa-se por detraacutes da histoacuteria do livro como um todo e
do livro didaacutetico em particular A aceitaccedilatildeo do livro junto ao puacuteblico escolar definiu
muitos aspectos da produccedilatildeo de uma obra dependente ainda para existir como
material escolar de atos autorizativos do Estado
De iniacutecio a primeira casa em territoacuterio brasileiro a imprimir manuais
escolares foi a Impressatildeo Reacutegia criada para produzir materiais subservientes agrave
administraccedilatildeo puacuteblica ldquo[] predominando publicaccedilotildees sobre economia poliacutetica
geografia agrimensura sauacutede puacuteblica incluindo-se obras ligadas ao curriacuteculo das
escolas criadas no periacuteodo joanino que visavam formar especiaistas e teacutecnicos para
o corpo burocraacutetico []rdquo da administraccedilatildeo instalada no novo territoacuterio que servia agrave
gestatildeo do reino portuguecircs (BITTENCOURT 2008 p 65) Serviu portanto como
marco a uma editoraccedilatildeo que evoluiria para a formaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de
livros ou pelo menos editorial haja vista que ateacute princiacutepios do seacuteculo XX o parque 38
Manuel Said Ali Ida ndash Nasceu em Petroacutepolis em 21 de outubro de 1861 e faleceu no Rio de Janeiro em 27 de maio de 1953 Filoacutelogo destacou-se nas pesquisas sobre a sintaxe da liacutengua portuguesa De descendecircncia alematilde foi professor de alematildeo na Escola Militar e no Coleacutegio Pedro II Aleacutem do alematildeo lecionou francecircs inglecircs e Geografia (INSTITUTO CAMOtildeES 2011)
graacutefico brasileiro ainda foi depentente de mateacuterias primas teacutecnica e matildeo de obra
europeia no que concerne a impressotildees
Ao longo do periacuteodo em anaacutelise conforme dados sistematizados no Quadro
03 teve-se a atuaccedilatildeo de 117 casas publicadoras identificadas entre nacionais
predominantes e estrangeiras aleacutem de tipografias Como casa publicadora natildeo
identificada sem registro de tipografia ou editora somam-se 75 ediccedilotildees
QUADRO 03 ndash Descriccedilatildeo das casas publicadoras39 da bibliografia didaacutetica de Geografia (1814-1939)
LOCAL DE PUBLICA-
CcedilAtildeO CASA PUBLICADORA
INIacuteCIO DA(S) PUBLICA-
CcedilOtildeE(S)
QUANTI- DADE DE PUBLICA-
CcedilOtildeES
RIO DE JANEIRO (RJ) 322 Ediccedilotildees
01
Impressatildeo Reacutegia 1814
11
Typographia Real 1821
Typographia Nacional 1822
Typographia Nacional 1828
Typographia Imperial e Nacional 1829
Imprensa Oficial 1864
Imprensa Nacional 1886
02 Typographia de Silva Porto 1824 1
03 P Plancher 1827 1
04 Typographia Torres 1830 1
05
Laemmert 1835
21
E amp H Laemmert 1845
Typographia Universal de Laemmert 1864
H Laemmert amp Cia 1870
Typographia Universal de Eduardo e Henrique Laemmert
1871
Laemmert amp Cia 1880
Typographia Universal de Henrique Laemmert 1882
07 Typographia de R Ogier 1836 1
08 Typographia de J E S Cabral 1840 2
09 Livraria de Agostinho de Freitas Guimaratildees amp Cia 1871 1
10 Typographia Francesa 1850 1
11 Domingos Joseacute Gomes Brandatildeo e Irmatildeos 1859 1
12
B L Garnier 1860
30 Livraria de B L Garnier 1870
Garnier 1902
13 Typographia de Pinheiro 1863
3 Typographia de Pinheiro amp Cia 1880
14 Typographia do Apoacutestolo 1875 2
15 Typographia Episcopal de Antonio Gonccedilalves Guimaratildees amp Cia
1865 1
39
Considero literalmente o nome das casas publicadoras conforme expresso nas obras ou nas referecircncias frequentemente satildeo as mesmas mas as alteraccedilotildees dos nomes podem se referir a mudanccedilas na razatildeo social das empresas Apesar das alteraccedilotildees nominais considero o quantitativo de publicaccedilotildees no seu conjunto referente a cada casa
16 Typographia do Commercio 1884 1
17 Typographia Franco-Americana 1873 1
18 Typographia J G de Azevedo 1877 1
19
Francisco Alves amp Cia 1908
110
Livraria Francisco Alves 1913
Francisco Alves 1914
Livraria Claacutessica de Nicolau Alves 1880
Livraria Claacutessica de Alves e Cia 1889
20 Cunha 1897 1
21 Typographia Esperanccedila de J drsquoAguiar amp Cia 1883 1
22 Typographia MontrsquoAlverne 1886 2
23 Editores Paes amp Cia 1907 1
24 Jacintho Ribeiros dos Santos 1897
43 Livraria Jacintho 1933
25 Livraria Cruz Coutinho 1898 1
26
Editora Paulo de Azevedo 1916
9 Livraria Paulo de Azevedo e Cia 1922
Livraria Azevedo 1930
27 Livraria da Viuacuteva Azevedo e Cia 1907 1
28 B de Aacutequila 1907 1
29 Orosco Impressores 1908 1
30 Heitor Ribeiro e Cia 1909 1
31 F Briguiet 1912
7 Fernando Briguiet amp Cia 1933
32 Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil
1913 1
33 Empresa Graacutephico-Editora 1923 1
34 A noite 1947 3
35 Leite Ribeiro amp Maurillom 1919 1
36 Weizflog Irmatildeo Incorp 1924 1
37 Graacutefica Ed Livros SA 1963 1
38 Typographia Barreto Vianna 1925 1
39 Imprensa Naval 1928 1
40 Graphica Sauer 1936 2
41 H Antunes 1932 3
42 J R de Oliveira amp Cia 1935 4
43 Typographia Esporte 1931 1
44 Ediccedilotildees Alba 1932 1
45 J O Antunes amp Cia 1932 1
46 Bedeschi 1935 1
47 Typographia Patronato 1935 1
48 Conselho Nacional de Geografia 1967 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1830 38
SAtildeO PAULO (SP) 64 ediccedilotildees
01 Graphica Costa Silveira 1839
2 Typographia de M F Costa Silveira 1839
02 Impressatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo Typographia Imparcial de J R Azevedo Marques
1862 1
03 FTD 1907 4
04 Duprat 1908
4 Casa de Duprat 1911
05 Melhoramentos 1920
7 Cia Melhoramentos 1923
06
Nacional 1921
25 Companhia Editora Nacional 1931
Editora Nacional 1934
07 Matano 1922 2
08 Monteiro Lobato 1925 1
09 Ediccedilotildees Rio Branco 193- 3
10 Livraria Acadecircmica 1932 4
11 Typographia Siqueira 1932 1
12 Editora Saraiva 1935 4
13 Livraria Teixeira 1935 1
14 Livraria Selbach de J R da Fonseca amp Cia 1935 1
15 Satildeo Paulo Editora 1939 1
16 Typographia Aurora 1898 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 186- 2
PORTO ALEGRE (RS) 39 Ediccedilotildees
01 Typographia Deutsche-Zeitung 1863 1
02 Typographia O Rio Grande 1868 1
03 J Alves Editor 1972 1
04 Typographia Perseveranccedila 1877 1
05 J Alves Editor 1881 1
06 Ed Carlos Pinto amp Cia 187- 1
07 Editor Rodolpho Joseacute Machado 1883 1
08 Livraria Rodolpho Joseacute Machado 1896 1
09 Liv Franco amp Irmatildeo 1898 1
10
Liv Globo 1909
22 Globo 1910
Livraria do Globo 1929
11 Officinas Graphicas da Escola 1911
2 Officinas Graphicas da Escola de Engenharia 1911
12 Selbach amp Mayer 1915[] 1
13 Typographia do Centro 1923 1
14 Barcellos Bertaso amp Cia 1931 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1870 3
SALVADOR (BA) 11 Ediccedilotildees
01 Typographia Poggeti de Catilina amp Cia 1860 1
02 Camillo de Lellis Masson 1863 1
03 Imprensa Econocircmica 1876 1
04 Lopes da Silva amp Amaral 1884 1
05 Typographia de Affonso Ramos amp Cia 188- 1
06 Wilcke Picard amp C 1892 2
07 Typographia Reis e Cia 1911 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1826 3
RECIFE (PE) 11 Ediccedilotildees
01 Typographia de Santos 1836 1
02 Typographia de M F de Faria 1836 1
03 Typographia Universal 1856 1
04 Typographia Mercantil 1875 1
05 Typographia drsquoA Proviacutencia 1891 1
06 Imprensa Industrial 1914 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 185- 5
BELEacuteM (PA) 07 Ediccedilotildees
01 Livraria Claacutessica 1874 2
02 Typographia do Diaacuterio de Beleacutem 1887 1
03 Typographia e Encadernaccedilatildeo da V Travessa 1894 2
- Casa Publicadora natildeo identificada 1863 2
FORTALEZA (CE) 04 Ediccedilotildees
01 Typographia de Paiva e Companhia 1851 2
- Casa Publicadora natildeo identificada 1873 2
MARANHAtildeO 04 Ediccedilotildees
01 Typ A P Ramos drsquoAlmeida amp Cia 1901 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1862 3
BELO HORIZONTE (MG) 03 Ediccedilotildees
01 Imprensa Official de Minas 1917
03
NITEROacuteI (RJ) 02 Ediccedilotildees
01 Typographia Nitheroy 1840 1
02 Escola Typographia Salesiana 1921 1
MACEacuteIO (AL) 02 Ediccedilotildees
01 Typographia do Liberal 1971 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1860 1
CURITIBA (PR) 02 Ediccedilotildees
01 Buzetti Mori amp Filhos 1911 1
02 Leopoldina Rocha 1913 1
SANTOS (SP) 01 Ediccedilatildeo
01 Typ do Diaacuterio de Santos 1884 1
ARACAJU (SE) 01 Ediccedilatildeo
01 Imprensa Oficial 1897 1
PELOTAS40
(RS) 01 Ediccedilatildeo
01 Carlos Pinto 1898 1
PIRASSUNUN-GA (SP) 01 Ediccedilatildeo
01 Typographia Minerva 1913 1
SAtildeO SEBASTIAtildeO DO PARAIacuteSO (MG) 01 Ediccedilatildeo
01 Casa Prado 1923 1
CAMPOS (SP) 01 Ediccedilatildeo
01 Ed da Casa ldquoA Penna de Bronzerdquo 1924 1
MOSSOROacute (RN) 01 Ediccedilatildeo
01 Typographia do Nordeste 1937 1
MANAUS (AM) 01 Ediccedilatildeo
Casa Publicadora natildeo identificada 188- 1
LOCAL NAtildeO IDENTIFICADO 17 Ediccedilotildees
01 Mundo Novo 1939 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1840 16
40
Identifiquei apenas uma ediccedilatildeo mas o tiacutetulo produzido em Pelotas O Rio Grande do Sul para as escolas teve mais de 100 ediccedilotildees de acordo com Bittencourt (2008)
PARIS (Franccedila) 06 Ediccedilotildees
01 Casa de Va J P Aillaud Monlon amp Cia 1855 2
02 J-P Aillaud Guillard amp Cia 1867 1
03 Guillard Aillaud amp Cia 1872 3
04 Typographia Pillet et Dumoulin 1880 1
LEIPZIG (Alemanha) 04 Ediccedilotildees
F A Brocklaus 1873 4
LISBOA (Portugal) 03 Ediccedilotildees
01 Imprensa de Lucas Evangelista 1854 1
02 Imprensa Nacional 1865 1
- Casa Publicadora natildeo identificada 1882 1
PORTO (Portugal) 01 Ediccedilatildeo
01 Livraria Portuense de Lopes 1895 1
LONDRES (Inglaterra) 01 Ediccedilatildeo
01 L Thompson (na officina portugueza) 1824 1
Org Jeane Medeiros Silva 2011
O Rio de Janeiro ao longo do seacuteculo XIX e no periacuteodo delimitado liderou a
produccedilatildeo dessa bibliografia com 66 do total Satildeo Paulo assumiu essa lideranccedila
no seacuteculo XX mas com expansatildeo mais significativa apenas apoacutes a deacutecada de 1930
pelo menos no que concerne agraves publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia em um
crescendo no qual assumiria a ponta na segunda metade daquele seacuteculo De
qualquer forma para o periacuteodo entre 1839 e os anos 1930 teve suas casas
editoriais participantes com 14 das publicaccedilotildees didaacuteticas de Geografia O terceiro
lugar eacute ocupado por Porto Alegre com 8 da produccedilatildeo no periacuteodo (Cf Graacutefico 02)
Geograficamente a produccedilatildeo do acervo da bibliografia didaacutetica de Geografia
distribuiu-se por 25 localidadades incluindo cinco cidades estrangeiras citadas como
sede da ediccedilatildeo No Brasil conforme indica o mapa da Figura 02 a produccedilatildeo dividiu-
se por 14 proviacutenciasestados Rio de Janeiro (Rio de Janeiro Niteroacutei Campos) Satildeo
Paulo (Satildeo Paulo Santos Pirassununga) Rio Grande do Sul (Porto Alegre
Pelotas) Paranaacute (Curitiba) Bahia (Salvador) Pernambuco (Recife) Paraacute (Beleacutem)
Amazocircnia (Manaus) Cearaacute (Fortaleza) Maranhatildeo (Satildeo Luiz) Minas Gerais (Belo
Horizonte Satildeo Sebastiatildeo do Paraiacuteso) Alagoas (Maceioacute) Sergipe (Aracaju) Rio
Grande do Norte (Mossoroacute)
GRAacuteFICO 02 ndash Distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo de livros didaacuteticos por localidade (1814-1939)
6614
8
2
2
1
3
3 1
RIO DE JANEIRO
SAtildeO PAULO
PORTO ALEGRE
SALVADOR
RECIFE
BELEacuteM
OUTROS COM MENOS DE 05
EDICcedilOtildeES
LOCAIS NAtildeO IDENTIFICADOS
PARIS
Org Jeane Medeiros Silva 2011 Fonte Pesquisa direta 2007-2011
Nota-se em todo esse percurso o predomiacutenio das cidades e regiotildees
litoracircneas e o destaque para as proviacutencias (depois estados) mais proacutesperas no
periacuteodo a comeccedilar pelo Rio de Janeiro e por Satildeo Paulo mais tarde muito influentes
nacionalmente
Destacam-se tambeacutem outros pontos regionais importantes como o Rio
Grande do Sul marcado por produzir manuais didaacuteticos com muita ecircnfase na
abordagem do proacuteprio estado aleacutem da Bahia Pernambuco e Recife
Bittencourt (2008) jaacute assinalou o fato de Manaus e Beleacutem aleacutem de Satildeo Luiz
do Maranhatildeo assumirem certa especializaccedilatildeo na produccedilatildeo de obras de Geografia
no contexto da iniciaccedilatildeo da exploraccedilatildeo geograacutefica da regiatildeo amazocircnica coadunado
com o interesse de proteger a regiatildeo igualmente da cobiccedila internacional fato que
potildee em relevo os conhecimentos espaciais
FIGURA 02 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica41 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no Brasil (1814-1939)
Fonte Pesquisa direta 2007-2011
Porto Alegre foi outro centro regional importante na produccedilatildeo de livros
didaacuteticos de Geografia O interessante eacute notar que a educaccedilatildeo geograacutefica do Rio
Grande do Sul apresentou uma tradiccedilatildeo de estudo do seu territoacuterio provincial bem
maior que outras regiotildees Natildeo se limitou a abordar o Rio Grande do Sul como parte
41
Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo
da Corografia ou Geografia brasileira mas dedicando obras especiacuteficas ao Rio
Grande como exemplificam algumas das produccedilotildees didaacuteticas dessa regiatildeo Eudoro
Brazileiro Berlink42 com o Compendio de Geographia da Provincia de Satildeo Pedro do
Rio Grande do Sul (cinco ediccedilotildees ateacute 1881) Hilaacuterio Ribeiro43 com a Geographia do
Rio Grande do Sul (1880 1881) A G Lima com Noccedilotildees de Geographia Curso
complementar I parte Rio Grande do Sul (sete ediccedilotildees ateacute 1935) e J Pinto
Guimaratildees44 com O Rio Grande do Sul para as escolas obra que foi um verdadeiro
best-seller com 100 ediccedilotildees ateacute 1898
Com indicaccedilatildeo de sede no estrangeiro tem-se Franccedila (Paris) Alemanha
(Leipzig) Portugal (Lisboa Porto) e Inglarerra (Londres) ndash (Cf Figura 03) Devo
frisar ainda outra vez que uma parte significativa das obras referenciadas por
editoras ou filiais brasileiras tinha as impressotildees realizadas na Europa As
mencionadas acima ou eram obras importadas ou foram relatadas como obras
editadas nestes locais
Eacute interessante notar a convivecircncia entre editoras e tipografias Das 948
ediccedilotildees registradas neste trabalho apenas 287 foram publicadas propriamente por
editoras com expressatildeo nacional como a Impressatildeo Reacutegia a Laemmert a Garnier
a Francisco Alves a Jacintho Ribeiro dos Santos a Paulo Azevedo A Noite a
FTD a Melhoramentos a Companhia Editora Nacional e a Globo sendo todo o
restante a maioria publicado por pequenas tipografias ou casas editorias de
alcance local
As pequenas editoras ou graacuteficas prestavam-se geralmente para imprimir as obras encomendadas pelos proacuteprios autores Ao acompanharmos as ediccedilotildees dos livros escolares observamos que ao obter sucesso de vendagem havia a transferecircncia ou compra de obras ou dos direitos autorais pelas editoras maiores (BITTENCOURT 2008 p 74)
42
Eudoro Brazileiro Berlink ndash Nasceu em Porto Alegre em 1843 e faleceu no Rio de Janeiro em 1880 De filiaccedilatildeo poliacutetica conservadora foi professor e jornalista Dirigiu o jornal Rio-Grandense oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo do Partido Conservador No Rio de Janeiro para onde se mudou em 1876 trabalhou no jornal O Cruzeiro Foi autor da obra de Geografia mencionada acima e de Caxias Apontamentos para a Histoacuteria Militar do Duque de Caxias (1870) Para o teatro escreveu Georgina (BLAKE 1893 ALMEIDA 2007 PORTO-ALEGRE 1917)
43 Hilaacuterio Ribeiro ndash Nasceu em Porto Alegre em 1847 e faleceu no Rio de Janeiro em 1886 Cursou
Medicina no Rio de Janeiro mas precisou abandonar os estudos por motivos de sauacutede passando a dedicar-se ao ensino atuando como professor e proprietaacuterio de escola Escreveu poesias e peccedilas de teatro aleacutem de obras didaacuteticas (PORTO-ALEGRE 1917 HALLEWELL 2005)
44 J Pinto Guimaratildees ndash Natildeo foi possiacutevel localizar informaccedilotildees sobre esse autor
FIGURA 03 ndash Distribuiccedilatildeo geograacutefica45 da produccedilatildeo da bibliografia didaacutetica na Europa (1814-1939)
Fonte Pesquisa direta 2007-2011
Esse fato eacute aferido diversas vezes na bibliografia didaacutetica de Geografia Thomaz
Pompeu de Souza Brasil publica seus Elementos de Geographia em Fortaleza pela
Typographia de Paiva e Companhia em 1851 pela qual saiu a segunda ediccedilatildeo em
1856 e transfere a terceira ediccedilatildeo em 1859 para a tipografia Domingos Joseacute
45
Delimitaccedilatildeo poliacutetica atual Natildeo corresponde ao traccedilado das regionalizaccedilotildees do periacuteodo
Gomes Brandatildeo e Irmatildeos a quarta ediccedilatildeo em diante que eacute de 1864 foi transferida
para o Rio de Janeiro onde foi editada pela Laemmert Jaacute no seacuteculo XX Carlos
Miguel Delgado de Carvalho publica a Geographia do Brasil Tomo I Geographia
Geral pelas Impressotildees ArtiacutesticasEmpresa Foto-Mecacircnica do Brasil em 1913 e a
partir da terceira ediccedilatildeo em 1927 a obra com todas as modificaccedilotildees endossadas eacute
editada pela Francisco Alves
Poreacutem por editoras ou tipografias os dados reafirmam o Rio de Janeiro
como centro econocircmico e cultural brasileiro acircmbito das decisotildees poliacuteticas agraves quais
a existecircncia do livro didaacutetico sempre esteve atrelada mas natildeo necessariamente o
uacutenico lugar Resgardadas as proporccedilotildees houve uma descentralizaccedilatildeo nesse
processo do sul ao norte do paiacutes excluindo-se os estados interioranos
A Impressatildeo Reacutegia que depois assumiria outros nomes (Imprensa Nacional
Imprensa Oficial Tipografia Nacional) foi a primeira casa dos manuais de
Geografia ao longo do seacuteculo XIX editou 11 ediccedilotildees a partir de 1814 A lideranccedila
contudo no seacuteculo XIX foi dividida com a Garnier casa que publicou 30 ediccedilotildees de
1860 em diante e com a Laemmert com 35 ediccedilotildees sendo a primeira de 1835 A
partir de 1880 a Francisco Alves entatildeo Livraria Claacutessica de Nicolau Alves passou a
atuar no mercado dos livros didaacutetico de Geografia liderando todas as casas com
110 ediccedilotildees das que identifiquei
Na segunda metade do seacuteculo XIX algumas editoras passaram a assumir os
riscos comerciais para suprir o mercado com livros didaacuteticos o estado nacional da
educaccedilatildeo jaacute permitia assumi-los O editor francecircs radicalizado no Brasil Baptiste
Louis Garnier (1823-1893) foi o pioneiro nesse sentido aleacutem de um grande inovador
dos projetos graacuteficos como um todo introduziu diversos padrotildees que passariam a
ser comerciais para o livro brasileiro como o formato francecircs ndash in-oitavo (165 x 105
cm) e in-doze (175 x 110 cm) o volume uacutenico preccedilos de capa fixo o pagamento
de direitos autorais ndash assumindo assim todos os encargos inerentes a uma ediccedilatildeo
Isso permite afirmar que Garnier foi um editor inovador
Transferir um autor para um editor o trabalho completo e o risco financeiro de publicar seu livro e ser pago por isso jaacute era possiacutevel haacute muitos anos na Inglaterra e na Franccedila no Novo Mundo isso ainda constituiacutea novidade [] (HALLEWELL 2005 p 209)
Embora Laemmert outro editor importante ao tempo de Garnier tenha
publicado livros didaacuteticos considerando todas as aacutereas sem duacutevida Garnier foi o
principal impressor e comerciante de livros didaacuteticos em geral posto que perderia
apenas para a casa de Francisco Alves deacutecadas depois embora Laemmert tenha
publicado mais tiacutetulos de Geografia que a Garnier
No conjunto dos materiais impressos das tipografias e editoras o valor
dimensionado a esse gecircnero pode ser perceptivo na abertura e incentivos a essas
produccedilotildees Lajolo Zilberman (1996) a esse respeito mencionam direitos a autores
de livros didaacuteticos que chegavam a 20 sobre o valor do volume percentagem que
era (eacute) o dobro de qualquer pagamento autoral em qualquer eacutepoca
O interessante eacute que no cenaacuterio geral dessas publicaccedilotildees a maioria das
obras didaacuteticas destinava-se ao ensino primaacuterio mas especificamente no que diz
respeito agrave Geografia a maioria dos tiacutetulos tinha por alvo o ensino secundaacuterio
Somente a partir do fim do seacuteculo XIX passariam a ser mais frequentes obras
individualizadas para o ensino de Geografia em niacutevel primaacuterio
Ateacute 1912 natildeo havia proteccedilatildeo internacional aos direitos autorais no Brasil
sobretudo para os autores natildeo residentes Muito da sobrevivecircncia e crescimento das
editoras nacionais se deveram a esse fato Os rudimentos legais de proteccedilatildeo aos
direitos autorais de estrangeiros originaram-se no artigo 261 do Coacutedigo Criminal do
Impeacuterio de dezembro de 1830 cujo texto criminalizava as apropriaccedilotildees indevidas
mas sem efeitos diretos Para os brasileiros era tradiccedilatildeo o proacuteprio autor custear
suas ediccedilotildees situaccedilatildeo que se observa de perto na bibliografia didaacutetica de Geografia
na accedilatildeo do amplo conjunto das pequenas tipografias Aleacutem disso muitas instacircncias
responsaacuteveis pela avaliaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo do livro didaacutetico soacute o recebiam para esse
procedimento uma vez impresso natildeo os originais Por isso se nota que
praticamente todo livro bem sucedido aqueles que tiveram reediccedilotildees migravam de
tipografias particulares para casas comerciais o que soacute acontecia sob a proteccedilatildeo e
aceitaccedilatildeo dos especialistas ou da criacutetica ndash o que os levava a ser adotados por
importantes instituiccedilotildees escolares O livro nessas condiccedilotildees garantia seu sucesso
comercial aferido tambeacutem pelo renome e tradiccedilatildeo do autor Com certeza esse
esquema aferia dificuldades para o autor que natildeo raro por natildeo ter pecuacutelio para
financiar uma tiragem agia por meio de subscriccedilotildees cotizando o valor da impressatildeo
entre amigos ndash uma espeacutecie de venda antecipada Garnier que introduziu o
pagamento regular de direitos autorais na base de 10 sobre o valor da capa era
extremamente conservador quanto agrave ediccedilatildeo de didaacuteticos raramente endossando
primeiras ediccedilotildees Francisco Alves por sua vez tinha habilidades para identificar
uma boa obra comercial e frequentemente agia por encomenda solicitando aos
autores determinadas obras Todavia talvez fossem os autores de livros didaacuteticos os
uacutenicos a realmente ter na produccedilatildeo destes alguma renda regular considerando-se
que algumas tiragens da Livraria Alves anos apoacutes o Impeacuterio variavam entre cinco e
cinquenta mil exemplares
A accedilatildeo de pequenas editoras revela sobretudo as dificuldades de
integraccedilatildeo de um mercado editorial mas natildeo soacute No Impeacuterio o Estado preocupou-se
essencialmente com o ensino da Corte delegando autonomia agraves proviacutencias para
cuidar de seus interesses educacionais Com isso era comum que os curriacuteculos
sofressem divergecircncias apresentando regionalidades curriculares que poderiam
conflitar com os da corte Assim surgiram manuais locais com perspectivas
geograacuteficas e histoacutericas particulares sobretudo se para o ensino primaacuterio Obras
como a Pequena Geographia da provincia do Paraacute de Cunha ou Noccedilotildees de
Geographia e de Historia do Brazil para uso das escolas da instrucccedilatildeo primaria da
proviacutencia do Paraacute de Freitas eram essencialmente regionais natildeo atendendo a um
mercado mais amplo
Em um prospecto particular diferentemente do panorama geral do livro
didaacutetico apoacutes a reabertura das importaccedilotildees para o manual didaacutetico de Geografia
natildeo se aplica o relato de Hallewell (2005 p 215) ldquocom o reestabelecimento dos
intercacircmbios durante muitos anos pouca coisa ouvimos de livros escolares
brasileirosrdquo Embora em nuacutemero natildeo expressivo a primeira metade do seacuteculo XIX
presenciou a gecircnese de um acervo bibliograacutefico para o ensino de Geografia bastante
significativo Afora a Impressatildeo Reacutegia a editora Laemmert juntamente com a
Garnier foram as casas comerciais pioneiras no desenvolvimento de uma linha
editorial de obras didaacuteticas em particular as de Geografia mas a par delas e desde
a deacutecada de 1830 a quantidade de tiacutetulos nacionais de Geografia foi significativa
Se a editora e livraria de Garnier foram pioneiras no mercado editorial do
livro didaacutetico brasileiro Francisco Alves foi o consolidador ao fazer deste mercado
sua principal fonte empresarial Sem duacutevida contribuiu para isso a conjuntura
educacional do Brasil nas deacutecadas precedentes e subsequentes agrave virada para o
seacuteculo XX conforme veremos adiante
Na avaliaccedilatildeo de Hallewell (2005 p 289) o livro didaacutetico difundido a partir
da Livraria Francisco Alves teve um papel maior que seus fins metodoloacutegicos de
ensino ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da literatura brasileira
natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus compecircndios escolares e
antologiasrdquo (HALLEWELL 2005 p 289) Francisco Alves de Oliveira levou ao limite
em sua eacutepoca a experiecircncia de uma editora com os didaacuteticos Sua importacircncia
como editor costuma ser relegada justamente por esse motivo como analisa
Hallewell (2005 p 277 e 289) ldquoAs reminiscecircncias da vida literaacuteria do Rio de Janeiro
na virada do seacuteculo [] deixam totalmente de lado outro editor e livreiro tatildeo
importante quanto [outros] talvez porque lidasse principalmente com livros
didaacuteticosrdquo no entanto ldquo[] ao analisar a contribuiccedilatildeo de Alves para a difusatildeo da
literatura brasileira natildeo devemos desprezar a inegaacutevel importacircncia de seus
compecircndios escolares e antologiasrdquo E de fato o livro didaacutetico eacute um mal estar
completo entre escritores e acadecircmicos no Brasil jaacute naquele tempo e ainda o eacute na
atualidade Na avaliaccedilatildeo dos criacuteticos este gecircnero pertence a obras de menor conta
no conjunto de fatores que circunscrevem os manuais escolares devido a um
conjunto de estranhamentos a autoria ndash no sentido socioloacutegico ndash os manuais
enquanto obras de divulgaccedilatildeo natildeo satildeo percebidos como uma criaccedilatildeo completa
portanto exclusas das instacircncias de formulaccedilatildeo teoacuterico-metodoloacutegica atuante na
criacutetica mesmo na especializada a acadecircmica compilam simplificam natildeo
contribuem com o avanccedilo da aacuterea na qual se inserem o puacuteblico alvo ndash satildeo obras
destinadas agrave instruccedilatildeo alcanccedilando por isso um puacuteblico imaturo cujo ldquoacontecer em
cenardquo dificilmente reverbera no ldquodebaterdquo ou ldquocomposiccedilatildeo do cenaacuteriordquo no qual uma
obra comum se posiciona
Estes dentre outros fatores levam o livro didaacutetico a um lugar quase maldito
na cena editorial e acadecircmica de maneira que o anonimato frequentemente foieacute
uma recorrecircncia como se nota mesmo entre as personagens mais engendradas no
processo criativo e produtivo dos manuais escolares como o eacute Francisco Alves
O uso de diversos pseudocircnimos manteve desconhecido esse lado de suas atividades [autoria de livros didaacuteticos ndash a maioria na linha da linguagem] ateacute mesmo para amigos de trinta anos apoacutes sua morte poreacutem Oswaldo de
Melo Braga conseguiu identificar nada menos que trinta e nove livros de autoria de Francisco Alves (HALLEWELL 2005 p 279)
A Livraria Francisco Alves emergiu de outra empresa a Livraria Claacutessica do
editor Nicolao A Alves que desde 1872 anunciava sua especializaccedilatildeo na linha de
livros escolares e acadecircmicos (identifiquei o primeiro de Geografia no ano de 1880)
Naquele tempo atuava mais com livros importados do que propriamente com obras
da produccedilatildeo nacional Francisco Alves sobrinho de Nicolao quando adquiriu a
casa apoacutes um periacuteodo de sociedade manteve a aacuterea de atuaccedilatildeo da Livraria
Claacutessica ampliando-a com a inclusatildeo de manuais para as escolas primaacuterias e
incrementando o desenvolvimento editorial praticado tambeacutem por questatildeo de
barateamento dos custos de produccedilatildeo na Europa A grande inovaccedilatildeo de Francisco
Alves aleacutem do centramento do seu negoacutecio nos manuais didaacuteticos ndash um mercado
estaacutevel de vendas seguras e de maior volume ndash consistiu no incentivo e
incorporaccedilatildeo de uma produccedilatildeo nacional haja vista a vantagem para o editor
nacional uma vez que apenas com dificuldades os competidores estrangeiros
inseriam-se no mercado brasileiro pois os produtos destes ldquo[] jamais podem
adaptar-se tatildeo bem agraves condiccedilotildees ou aos curriacuteculos locaisrdquo (HALLEWELL 2005 p
280)
FIGURA 04 ndash Baptiste Louis Garnier (1823-1893) pioneiro das atividades editoriais para o livro didaacutetico brasileiro e Francisco Alves de Oliveira (1848-1917) que consolidou o mercado das publicaccedilotildees didaacuteticas no Brasil
Fonte HALLEWELL (2005 p 198 e 277)
As relaccedilotildees sociais de Francisco Alves muito o favoreceram a exemplo da
amizade que manteve com Teoacutefilo das Neves Leatildeo Secretaacuterio da Educaccedilatildeo na
presidecircncia de Prudente de Morais que foi leitor dos originais da Livraria e seu
conselheiro muito auxiliando o editor na tomada de decisotildees corretas e coerentes
na definiccedilatildeo do acervo didaacutetico de sua empresa de acordo com o movimento
educacional do seu tempo (HALLEWELL 2005)
A importacircncia da Livraria Francisco Alves fez com que os negoacutecios tivessem
necessidade de expansatildeo jaacute no periacuteodo republicano sendo abertas filiais em Satildeo
Paulo e Belo Horizonte ldquoa firma havia crescido rapidamente a partir de meados da
deacutecada de 1890 e logo chegou a deter o quase monopoacutelio no campo do livro didaacutetico
brasileirordquo tambeacutem por um meacutetodo econocircmico uma vez que conseguira a ldquo[]
suplantaccedilatildeo dos concorrentes mediante a praacutetica de tiragens maiores o que
barateava os preccedilos e em parte com a aquisiccedilatildeo das firmas rivaisrdquo (HALLEWELL
2005 p 285) Periacutecia econocircmica escolhas apropriadas e uma massiva propaganda
foram a receita empresarial de Francisco Alves para o mercado do livro didaacutetico
Por fim vale mencionar que a atuaccedilatildeo das editoras comerciais foi central na
questatildeo da distribuiccedilatildeo dos livros sobretudo nacionalmente Muito trabalharam na
divulgaccedilatildeo de seus cataacutelogos por meio de jornais submetendo os tiacutetulos agrave
apreciaccedilatildeo criacutetica dos jornalistas promovendo resenhas ou anuacutencios publicitaacuterios
24 O desenvolvimento fiacutesico-graacutefico dos manuais didaacuteticos de Geografia
O aspecto fiacutesico-graacutefico dos livros didaacuteticos em geral conforma uma histoacuteria
e uma significaccedilatildeo particulares nas quais os manuais de Geografia tecircm suas
especificidades com implicaccedilatildeo direta na organizaccedilatildeo do ensino e da aprendizagem
dessa disciplina Entre os designers semioacuteticos e analistas do discurso ndash quanto agrave
materialidade impressa ndash eacute consenso que a leitura tem iniacutecio pela visualizaccedilatildeo do
objeto e sobretudo pela visualizaccedilatildeo graacutefica que causa ldquo[] um impacto no
observador e uma inconsciente primeira leitura [] do material impresso A partir daiacute
o arranjo graacutefico passa a atuar como discurso e como discurso possui uma
linguagem especiacutefica e uma rede encadeada de significaccedilatildeordquo (SILVA 1985 p 40)
De acordo com Martins (2006) nas materialidades impressas conjugam-se pelo
menos trecircs modalidades de linguagem a linguagem verbal que expressa a escrita
a linguagem matemaacutetica ndash as equaccedilotildees graacuteficos notaccedilotildees tabelas e a linguagem
imageacutetica que apresenta desenhos fotografias mapas diagramas (MARTINS
2006)
Os manuais de Geografia relacionados na bibliografia da pesquisa
apresentam um quadro graacutefico que passaraacute por poucas transformaccedilotildees satildeo de
certa forma homogecircneos ateacute a virada para o seacuteculo XX quando haveraacute algumas
inovaccedilotildees relevantes embora pontuais no padratildeo graacutefico desses materiais
Ateacute a deacutecada de 1960 a linguagem do livro didaacutetico em geral esteve inscrita
no universo da cultura escolar a partir de entatildeo inscreve-se em outras linguagens
sobretudo a da comunicaccedilatildeo impressa (MORAES 2008) Ou seja a linguagem
instrucional do gecircnero foi basicamente verbal opositiva agrave miscelacircnea linguageira
que se alinhou agrave produccedilatildeo do livro didaacutetico a partir dos anos 1960 por exemplo
quando se instituiu uma semioacutetica didaacutetica com recursos iconograacuteficos de diversas
estirpes ampliando a compreensatildeo do leitor e diversificando a experiecircncia da leitura
e do estudo do livro didaacutetico O layout das uacuteltimas deacutecadas praticamente perdeu a
simplicidade e certa inocecircncia identificaacutevel nas teacutecnicas de composiccedilatildeo do bloco
impresso dos livros do periacuteodo ganhando traccedilos e efeitos que inovam a
diagramaccedilatildeo e potencializam o funcionamento discursivo das disciplinas Ateacute com
certo exagero havendo casos em que se percebe um predomiacutenio dos recursos
iconograacuteficos sobre os recursos textuais
O livro brasileiro formalmente foi influenciado pelo modelo de impressatildeo
francecircs Talvez por uma razatildeo teacutecnica jaacute que a maioria das impressotildees era feita
diretamente na Franccedila ou por alguns dos principais livreiros e editores do paiacutes
terem sido franceses Predominantemente satildeo livros de capa dura O mais comum
ateacute os anos 1870 era que a capa identificasse apenas o tiacutetulo da obra e a autoria
geralmente na lombada As primeiras ediccedilotildees da Impressatildeo Reacutegia por exemplo
ldquo[] eram vendidos brochados Geralmente saiacuteam cobertos com uma simples capa
de papel cinzento ou azulado papel barato como se usava na Europa O comprador
eacute que os mandava encadernar por sua conta e a seu gostordquo (MORAES 1975) Agraves
vezes o livreiro jaacute os vendia encadernados mas natildeo era regra De qualquer forma
encadernaccedilatildeo e impressatildeo ateacute final do seacuteculo XIX natildeo eram sempre partiacutecipes do
mesmo processo industrial Muitos dos livros impressos na Europa sequer eram
exportados prontos vinham em rolos impressos aquartelados em barris sendo pelo
livreiro cortados montados e agregados por colagem ou costura (HALLEWELL
2005) Agrave maneira da Franccedila satildeo comuns os encadernamentos marmorizados com
falsas nervuras e filigramas como se observa ainda em um exemplar de 1878 das
Liccedilotildees de Geographia do Abbade Gaultier46 ou encadernados de forma mais
simples com cartonado espesso e tecido sem identificaccedilotildees como o exemplar de
Joaquim Maria de Lacerda Curso methodico de Geographia physica politica
histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de
1887 (Figura 05)
46
Abbade Gaultier ndash Religioso nascido na Itaacutelia (1745-1818) mas radicalizado na Franccedila do seacuteculo XVIII migrou para a Inglaterra quando da Revoluccedilatildeo Francesa onde abriu um curso puacuteblico e implementou um meacutetodo de ensino que ficou conhecido como ldquomeacutetodo Gaultierrdquo prenuacutencio do meacutetodo de ensino muacutetuo Sua geografia didaacutetica utilizada por quase um seacuteculo foi estruturada no meacutetodo socraacutetico ou dialogada em que alunos fazem perguntas e o mestre responde desenvolvendo o conteuacutedo (SCROSOPPI 1939)
FIGURA 05 ndash Encadernaccedilotildees tiacutepicas da bibliografia didaacutetica de Geografia ateacute fins do seacuteculo XIX
Autoria Jeane Medeiros Silva 2011
Esse padratildeo passaria por transformaccedilotildees como ademais o livro brasileiro em geral
no que se refere agrave constituiccedilatildeo do encapamento das obras A folha de rosto desde a
constituiccedilatildeo dos livros impressos destacou-se como uma espeacutecie de certidatildeo de
nascimento da obra apresentando identificaccedilotildees como autoria titulaccedilatildeo editoraccedilatildeo
e outras informaccedilotildees O que se nota na bibliografia a partir dos anos 1880 eacute uma
transferecircncia do constituto das folhas de rosto para as capas que importam ou
mesmo reproduzem o layout das folhas de rosto ou constituem uma informaccedilatildeo
mais personalizada deslocando a identificaccedilatildeo exclusivamente das lombadas A
contracapa tambeacutem passa a ser utilizada geralmente para comerciais do editor ou
da livraria anunciando outros lanccedilamentos ou sortimentos relacionados ao ambiente
escolar (Figuras 06 e 07)
A maioria dos manuais de Geografia editados ateacute o final do seacuteculo XIX tinha
tamanho in-oitavo (165 x 105 cm) e in-doze (175 x 110 cm) Nesse periacuteodo
geralmente os livros para o ensino primaacuterio eram menores que esse padratildeo como a
Pequena Geographia da Infacircncia de Lacerda Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX
no entanto esse padratildeo eacute modificado em alguns casos com o aparecimento de
obras mais largas e em formato panoracircmico especificamente para o ensino
primaacuterio a exemplo da obra Geographia Elementar de A de Rezende Martins47
(Figura 08)
47
Ameacutelia de Rezende Martins ndash Renomada musicista paulista pianista e camerista neta do Baratildeo Geraldo Rezende nascida em Campinas (Satildeo Paulo) em 1877 e falecendo em data ignorada no Rio de Janeiro cidade onde viveu a maior parte de sua vida Apesar de na muacutesica estar registrada suas contribuiccedilotildees mais relevantes foi ainda autora de livros didaacuteticos de Histoacuteria e Geografia em um total de seis todos ldquoapprovados e adoptados pela Instrucccedilatildeo do Districto Federalrdquo aleacutem de filmes pedagoacutegicos ensaios e criacuteticas atuando ainda como polemista e conferencista Suas atividades intelectuais foram iniciadas na deacutecada de 1910 com a escrita de livros didaacuteticos contextualizados na Escola Nova e na linha montessoriana Sua contribuiccedilatildeo para a educaccedilatildeo brasileira inclui ainda a produccedilatildeo de diversos filmes pedagoacutegicos cujo propoacutesito era complementar aulas expositivas Como conferencista e polemista participou de eventos e debates sobre questotildees sociais polecircmicas contribuindo para diversos perioacutedicos e diaacuterios cariocas Juntamente com Theodoro Heuberger e Frei Pedro Sinzig em 1931 no Rio de Janeiro fundou e presidiu a Pro-Arte Sociedade de Artes Letras e Ciecircncias em cujos salotildees realizaram-se exposiccedilotildees conferecircncias e concertos e posteriormente difundiu trabalhos artiacutesticos e instituiccedilotildees de muacutesica A despeito das dificuldades de comunicaccedilatildeo e transportes participou de caravanas artiacutesticas que transitaram por cidades do Paranaacute Santa Catarina e Rio Grande do Sul levando muacutesica exposiccedilotildees e obras de artesanato (TINHORAtildeO 2000 COELHO PRO-ARTE 2009) Reformadora e arquiconservadora em diversas questotildees incluindo gecircnero e educaccedilatildeo chegou a afirmar que ldquo[] eacute preferiacutevel a ignoracircncia completa e uma satilde moral ciecircncia nenhuma e muito catecismo a todo esse simulacro de instruccedilatildeo que serve apenas para infelicitar uma onda de meninas brasileirasrdquo (MARTINS apud BESSE 1999 p 133)
FIGURA 06 ndash Capa da 5 ed da Chorographia do Brasil de Henrique Martins (1896) a identificaccedilatildeo da obra desloca-se da lombada e da folha de rosto para a capa frontal
Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011
A qualidade do papel igualmente reflete alguns nuances da trajetoacuteria do livro
didaacutetico de Geografia Ateacute a deacutecada de 1880 os livros espelham o prestiacutegio de um
consumo mais elitizado sendo impressos em papel de qualidade em sua maioria o
que inclusive garantiu uma maior preservaccedilatildeo dos exemplares sobreviventes
Apenas na entrada do seacuteculo XX se consta uma oscilaccedilatildeo na qualidade do papel
quando o livro jaacute consolidado como objeto pedagoacutegico do discente tem
aumentadas suas tiragens e por conseguinte o consumo processo que visou o seu
barateamento
FIGURA 07 ndash Reproduccedilatildeo da folha de rosto na capa do exemplar de 1902 de A Terra illustrada Geographia universal physica ethnographica poliacutetica e econocircmica das cinco de Frere Ignace Chaput (FIC)
Organizaccedilatildeo Jeane Medeiros Silva 2011
O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius
(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi
possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma
teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma
pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que
alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados
do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma
tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica
Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a
semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na
iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na
paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia
foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo
que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo
econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos
graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma
determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio
fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem
construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo
(NAKAMOTO 2010 p 70)
FIGURA 08 ndash Geographia Elementar de A de Rezende Martins ndash exemplar de 1926 das primeiras obras em formato panoracircmico
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O uso de imagens jaacute era uma recomendaccedilatildeo na Didaacutetica de Comenius
(1986) no seacuteculo XVII Mas a viabilidade desse uso em escala mais ampla foi
possiacutevel apenas com o aparecimento da litografia em fins do seacuteculo XVIII uma
teacutecnica de gravura realizada a partir do desenho com um laacutepis gorduroso sobre uma
pedra calcaacuteria reproduzido posteriormente com impressatildeo manual Ao passo que
alguns livros soacute passaram a contar com recursos iconograacuteficos a partir de meados
do seacuteculo XX (NAKAMOTO 2010) os livros de ciecircncias e Geografia tiveram alguma
tradiccedilatildeo no uso de ilustraccedilotildees A cor eacute outro recurso relevante na teacutecnica graacutefica
Particularmente satildeo relevantes no discurso pedagoacutegico da Geografia haja vista a
semiologia graacutefica empregada nas representaccedilotildees cartograacuteficas na
iconoinformaccedilotildees da Geografia Fiacutesica e na diferenciaccedilatildeo de elementos na
paisagem nas simbologias nacionais etc No periacuteodo em anaacutelise a predominacircncia
foi do preto e do branco e quando dispostas representaccedilotildees das hachuras Natildeo
que fosse desconhecida sua importacircncia mas propriamente por uma questatildeo
econocircmica esses recursos encareciam a produccedilatildeo No contexto dos projetos
graacuteficos as cores tecircm seu proacuteprio funcionamento ldquoao utilizar deliberadamente uma
determinada cor num projeto esta exerce trecircs accedilotildees no sujeito receptor de iniacutecio
fiacutesico impressiona a retina depois psiacutequico pois provoca uma reaccedilatildeo e eacute tambeacutem
construtiva visto que possui um valor podendo assim comunicar uma ideiardquo
(NAKAMOTO 2010 p 70)
Os primeiros manuais de Geografia sobretudo ateacute a deacutecada de 1870 natildeo
possuiacuteam ilustraccedilotildees Os mapas foram as primeiras representaccedilotildees a serem
introduzidas geralmente um mapa mundi ou do Brasil Os livros de maior
repercussatildeo nesse periacuteodo como o do Abbade Gaultier o de Thomaz Pompeu de
Souza Brasil o de Luiz Antonio Burgain48 natildeo possuiacuteam nenhum tipo de ilustraccedilatildeo
ou mapa Geralmente custeado pelo proacuteprio autor ou por uma casa editora que natildeo
contava com uma demanda de mercado certa natildeo se podia arcar com os dispecircndios
da produccedilatildeo ou com o encarecimento da obra fatos ligados agrave implementaccedilatildeo de
ilustraccedilotildees como fica aclarado no discurso de Torreatildeo (1824 apud BOGLIAN 2010
p 80)
Conheccedilo que para melhor intelligencia eu devia gravar Mappas Geographicos para esclarecer as divisoens dos Paizes que descrevo mas as minhas circuntancias actuaes natildeo me offerecem as necessaacuterias proporccedilotildeens para huma empreza tatildeo delicada portanto como seja o meu
48
Luiz Antonio Burgain ndash Foi um recohecido professor e dramaturgo brasileiro nascido em 1812 e falecido em 1877 Escreveu obras didaacuteticas de Geografia e de Liacutengua Portuguesa (BLAKE 1899)
objecto dar aos meus Patriacutecios huma tintura geral de Geographia resolvi-me a publicar mesmo com essa falta na persuasatildeo de que as Cartas Universaes e Geraes poacutedem muito bem applicar-se-lhe com pequenas faltas que seratildeo supridas por qualquer haacutebil explicador
Em 1830 os Elementos de Geographia Astronomica poliacutetica e physica de
Manoel Ildefonso de Souza inovam nesse sentido apresentando um mapa fato
posto em destaque no subtiacutetulo da obra
No final do seacuteculo XIX alguns manuais de prestiacutegio passaram a ostentar
maior variedade de litografias e sobretudo mapas coloridos como eacute o caso do Curso
methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica
composto para uso das escolas brazileiras de Joaquim Maria de Lacerda que
apresentava ldquo[] 14 mappas coloridos illustrada com grande numero de finissimas
gravuras instructivas e interessantesrdquo (LACERDA 1898) Comumente eram
ilustraccedilotildees anocircnimas retratando paisagens ou descrevendo elementos da natureza
como plantas e animais (Figura 09)
FIGURA 09 ndash Ilustraccedilotildees e um dos mapas coloridos da obra Curso methodico de Geographia physica politica histoacuterica commercial e astronomica composto para uso das escolas brazileiras de Lacerda 1887
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Na primeira deacutecada do seacuteculo XX os livros da bibliografia passam por
inovaccedilotildees nas apresentaccedilotildees e representaccedilotildees Em 1901 eacute publicado o livro de
Arthur Thireacute49 Geografia Elementar para o ensino primaacuterio pela Francisco Alves O
livro apresentava um projeto graacutefico completamente novo capa ilustrada colorida
mapas e desenhos coloridos reproduccedilotildees fotograacuteficas (Figuras 10 e 11) Foi
aprovado pelo governo do Estado de Satildeo Paulo em ato legislativo de 08 de agosto
de 1901 sendo apresentado por meio de carta publicada na obra por Theodoro
Sampaio (1855-1937) A obra foi medalha de prata na Exposiccedilatildeo Internacional e
Universal de Bruxelas em 1910
Nesse momento os manuais de Geografia comeccedilavam a incorporar as
fotografias como recursos iconograacuteficos embora apresentassem nitidez inferior agraves
ilustraccedilotildees sobretudo ao enquadrarem paisagens ou representaccedilotildees que
diversificassem e dispusessem de muitos detalhes As Liccedilotildees de Chorographia do
Brasil de Horacio Scrosoppi50 na segunda ediccedilatildeo em 1911 eacute outra obra que
incorpora as fotografias em seu corpo (Figura 12) Proacuteximo agrave deacutecada seguinte a
qualidade graacutefica das fotografias presentes na bibliografia melhorou sensivelmente
embora tal como antes as ilustraccedilotildees que persisitiram presentes tivessem um uso
meramente ilustrativo sem integrar o texto em abordagem natildeo eram comentadas
nem exploradas como recurso didaacutetico No maacuteximo contavam com um curto tiacutetulo de
identificaccedilatildeo do objeto em representaccedilatildeo
49
Arthur [Charles] Thireacute ndash Nasceu na Franccedila em Caen em novembro de 1853 Formou-se em Paris em Matemaacutetica e Engenharia Civil e de Minas na Eacutecole Polytechnique de Paris Em 1878 a convite de Dom Pedro II mudou-se para o Brasil para lecionar na Escola de Minas de Ouro Preto (MG) Permaneceu no Brasil ateacute sua morte trabalhando como engenheiro diretor agriacutecola e como professor Em 1910 assumiu a caacutetedra de Matemaacutetica no Internato do Coleacutegio Pedro II O autor traduziu obras teacutecnicas da aacuterea de mineraccedilatildeo e escreveu diversas obras cientiacuteficas e didaacuteticas sobretudo de matemaacutetica ensino para o qual apresentou muitas contribuiccedilotildees significativas aleacutem da Geografia e das Ciecircncias (THIENGO 2005 SANTOS 2009)
50 Horacio Scrosoppi ndash Nasceu em 1850 e faleceu em 1928 Foi educador
FIGURA 10 ndash Capa da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute
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FIGURA 11 ndash Algumas paacuteginas internas da obra Geographia Elementar de Arthur Thireacute
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FIGURA 12 ndash Fotografias ilustrando a obra Liccedilotildees de Chorographia do Brasil de Horacio Scrosoppi
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Graficamente o texto da bibliografia tem uma composiccedilatildeo simeacutetrica agraves
vezes mesmo sem colunamento constituiacuteda basicamente pelos fios tipograacuteficos do
texto ateacute a deacutecada de 1870 A partir dos anos 1880 se verifica uma maior
abundacircncia de vinhetas notas de rodapeacute uma acentuaccedilatildeo das pregnacircncias
(recursos expressivos) aleacutem de glossaacuterios boxes de textos complementares e
outros As teacutecnicas graacuteficas desse periacuteodo compreendem a tipografia como forma de
impressatildeo dos textos embasado na composiccedilatildeo de caracteres (tipologia) com os
tipos ou fontes produzindo diversos efeitos no texto corrido na titulaccedilatildeo O principal
destaque dos tipos sua teacutecnica mais elementar satildeo as serifas pequenos efeitos
nos caracteres que criam a ilusatildeo de uma linha movendo instantaneamente o leitor
de uma letra a outra de uma palavra a outra o que define o valor e a qualidade da
impressatildeo A expressividade da tipografia conta com recursos denominados
ldquopregnacircnciardquo como itaacutelico negrito caixa alta sublinhado e sinalizaccedilotildees como traccedilos
manchetes etc que ocupam uma funccedilatildeo na organizaccedilatildeo dos sentidos alinhando
significados a mais agraves palavras e agrave organizaccedilatildeo dos textos O efeito graacutefico principal
eacute a legibilidade para o que influi a forma dos tipos o cumprimento das linhas o
entrelinhamento os espaccedilos definidos e as margens O tamanho da fonte precisa
ser compatiacutevel com o cumprimento da letra e ambos com o espacejamento e tanto
melhor seraacute a leitura quanto for o equiliacutebrio entre a mancha graacutefica e o espaccedilo em
branco (SILVA 1985 NAKAMOTO 2010)
Na bibliografia em questatildeo a qualidade da impressatildeo oscila dependendo
das ediccedilotildees em geral satildeo boas Apenas com a ampliaccedilatildeo das tiragens e iniacutecio do
processo de ampliaccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo eacute que se observa agraves vezes uma ou outra
ediccedilatildeo com menor qualidade graacutefica e de impressatildeo em razatildeo de barateamento de
custos
No proacuteximo capiacutetulo procuro perceber a gecircnese do ensino geograacutefico no
Brasil considerando como marcadores histoacutericos os periacuteodos jesuiacutetico pombalino e
joanino momentos que datildeo os primeiros indiacutecios de uma disciplina e da bibliografia
didaacutetica de Geografia com particular atenccedilatildeo agrave Academia Real Militar (1810)
instituiccedilatildeo integrante do movimento de introduccedilatildeo do pensamento cientiacutefico no
Brasil e marco no ensino de Geografia brasileiro
CAPIacuteTULO 3
DO ENSINO IMPLIacuteCITO AO ENSINO EXPLIacuteCITO DA GEOGRAFIA prenuacutencios da disciplina e do livro didaacutetico nos movimentos
histoacutericos anteriores agrave independecircncia poliacutetica do Brasil
A histoacuteria do livro didaacutetico no Brasil incluindo os de Geografia no periacuteodo
delimitado para a pesquisa teve o primeiro centro de irradiaccedilatildeo no Rio de Janeiro
onde predominou como atividade cultural e editorial ateacute fins do seacuteculo XIX gestando
nesse espaccedilo sua formaccedilatildeo posteriormente deslocado para Satildeo Paulo processo
iniciado nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX e consolidado na segunda metade
deste seacuteculo ressalvando-se algumas manifestaccedilotildees regionais importantes nesse
entretempo (HALLEWELL 2005 BITTENCOURT 2008)
As raiacutezes da literatura didaacutetica de Geografia engendram-se na formaccedilatildeo
desta disciplina cujos primeiros movimentos constitutivos se enunciam de forma
evidente nas deacutecadas iniciais do seacuteculo XIX embora nos trecircs primeiros seacuteculos de
histoacuteria do Brasil se encontrem vestiacutegios de praacuteticas deste ensino ainda natildeo
autocircnomo nem expresso como necessidade nos objetivos educacionais de entatildeo
poreacutem significativos Compreender esse movimento educacional evidencia alguns
dos contextos de emersatildeo e desenvolvimento da disciplina Geografia e do seu livro
didaacutetico
O livro didaacutetico portanto engendra-se no desenvolvimento de uma
disciplina e esta soacute eacute compreendida no contexto geral da educaccedilatildeo (CHERVEL
1990 MOREIRA 2007)
A propoacutesito a gecircnese da educaccedilatildeo brasileira consensualmente encontra-
se nas praacuteticas educacionais dos padres da Companhia de Jesus e soacute mais tarde
no seacuteculo XIX o ensino de Geografia em especiacutefico comeccedilaria a ganhar corpo e
independecircncia Os livros didaacuteticos de Geografia por sua vez incorporaratildeo conteuacutedo
e expressatildeo na medida em que a educaccedilatildeo brasileira passou a ser sistematizada e
normatizada quando a Geografia escolar ocupou um lugar nessa educaccedilatildeo como
uma das disciplinas autocircnomas ou ainda em caminho da autonomia haja vista a
fronteira cega que fez par com a Histoacuteria muitas vezes Seus status como disciplina
autocircnoma e consolidada no sistema educacional foi um processo lento certificado
aos poucos
Que praacuteticas geograacuteficas foram essas Quais os seus objetivos Quais suas
referecircncias Quais os seus agentes Qual a sua relaccedilatildeo e influecircncia na literatura
didaacutetica de Geografia
Ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a educaccedilatildeo geograacutefica passou por
um longo e difuso caminho ateacute estreitar seu diaacutelogo com as instacircncias de produccedilatildeo
da ciecircncia orientar a formaccedilatildeo dos professores de Geografia consolidar seu espaccedilo
na instituiccedilatildeo escolar e ser partiacutecipe na institucionalizaccedilatildeo da Geografia acadecircmica
Essa gecircnese inicia-se externamente agraves fronteiras do que na atualidade conhecemos
como Geografia Moderna de matriz cientiacutefica que demoraria ainda algumas
deacutecadas a partir da segunda metade do seacuteculo XIX para ter expressatildeo na Europa
embora as condiccedilotildees histoacutericas para tanto jaacute estivessem lanccediladas e em andamento
Procurando-se a histoacuteria da literatura didaacutetica de Geografia busca-se
igualmente a dimensatildeo de sua importacircncia o papel que exerceu na sistematizaccedilatildeo
e divulgaccedilatildeo de um saber geograacutefico brasileiro a funccedilatildeo exercida para preparar e
orientar professores desprovidos de bases formativas nesse conhecimento
Natildeo que a disciplina Geografia viesse necessariamente a ser uma
vulgarizaccedilatildeo cientiacutefica pois a estrutura da disciplina se ergue do entrecruzamento de
diversas instacircncias sendo a ciecircncia apenas uma delas a ciecircncia a seu tempo teve
contribuiccedilotildees importantes no processo de sustentaccedilatildeo da Geografia escolar assim
como o contraacuterio tambeacutem se deu pois a Geografia escolar contribuiu para
institucionalizar a Geografia acadecircmica a formaccedilatildeo de professores foi uma das suas
razotildees de existecircncia
No Brasil as primeiras manifestaccedilotildees da Geografia como disciplina
independente surgiram no ensino superior na composiccedilatildeo curricular de alguns dos
primeiros cursos cientiacuteficos especificamente nas formaccedilotildees estabelecidas pela
Academia Real Militar (1810) Teria essa presenccedila influenciado o iniacutecio do ensino de
Geografia nos niacuteveis secundaacuterio e elementar Como se teria dado esse processo
Quais os outros influxos no mesmo De antematildeo respondo que as implicaccedilotildees
dessa dinacircmica foram determinantes para a composiccedilatildeo da literatura didaacutetica de
Geografia no Brasil
O palco do nascimento e fortalecimento no Brasil da disciplina escolar de
Geografia e tambeacutem da Histoacuteria foi o seacuteculo XIX Esse acontecer eacute abordado em
duas teorias na literatura geograacutefica na primeira delas teria emergido da forccedila e
necessidade dos nacionalismos (VLACH 1988 PEREIRA 1999) no acircmbito da
educaccedilatildeo das elites na segunda sua emergecircncia se deveria ao fato de ter sido um
instrumento da divulgaccedilatildeo de uma cultura universal necessaacuteria ao ingresso na
civilizaccedilatildeo predominante a europeia (ROCHA 1996)
Neste capiacutetulo defendo uma outra tese que natildeo necessariamente anula ou
contradiz as duas anteriores mas as amplia Trata-se da hipoacutetese de que o
aparecimento da Geografia como ensino teve iniacutecio com a introduccedilatildeo de uma
educaccedilatildeo cientiacutefica na Colocircnia em um primeiro momento posteriormente no
alvorecer do Impeacuterio sua consolidaccedilatildeo se acentua com o projeto poliacutetico de
formaccedilatildeo do Estado brasileiro ou das elites deste Estado momento em que vamos
ao encontro do movimento proposto por Vlach (1988) notadamente marcado no
discurso de nacionalizaccedilatildeo do livro didaacutetico esse movimento nas primeiras deacutecadas
do seacuteculo XX se expande no sentido de descentrar-se das elites e ser popularizado
Complementando esta hipoacutetese o processo de formaccedilatildeo poliacutetica do Brasil
coincide entre as deacutecadas de 10 e 50 dos Oitocentos no acircmbito da educaccedilatildeo com
a crise dos estudos claacutessicos e a emergecircncia das abordagens cientiacuteficas que
advindas do Iluminismo adentram a cena educacional brasileira por meio das
faculdades e escolas de estudos superiores no periacuteodo joanino e daiacute permeiam a
educaccedilatildeo baacutesica em um processo paulatino que em fins do seacuteculo XIX conta com a
forccedila das ideias positivistas para sua consolidaccedilatildeo jaacute no periacuteodo republicano
Haacute que se considerar como demonstro com mais detalhes adiante que a
Geografia Claacutessica com sua dupla orientaccedilatildeo ndash a matemaacutetica e a descritiva ndash eacute o
que encontraremos como referecircncia para o ensino de Geografia no Brasil ao longo
do seacuteculo XIX e a encontraremos em crise ao findar desse seacuteculo abrindo espaccedilo
para a ascensatildeo da Geografia Moderna que comeccedila a ser introduzida no cenaacuterio da
educaccedilatildeo geograacutefica antes mesmo de sua institucionalizaccedilatildeo como ciecircncia na
academia nas primeiras deacutecadas do seacuteculo seguinte Em outras palavras o ensino
superior no Brasil se organizou em trecircs nuacutecleos Medicina Engenharias e um pouco
mais tarde Direito A Geografia matemaacutetica especialmente foi valorizada no acircmbito
dos cursos de engenharias e a Geografia descritiva foi colocada como condiccedilatildeo
cultural e ideoloacutegica nos exames dos cursos de humanidades Uma e outra sem
fronteiras claras Mesclaram-se por fim com avanccedilos e recuos para estabelecer as
bases curriculares da Geografia escolar
Em uma perspectiva discursiva na qual se consideram as formaccedilotildees
histoacutericas e ideoloacutegicas inerentes agrave construccedilatildeo da realidade por meio da linguagem
haacute comprometimentos poliacuteticos indissociaacuteveis a qualquer praacutetica do discurso dos
quais natildeo se isenta o discurso da Geografia seja por manifestaccedilatildeo seja pelos
silenciamentos impostos a ela isso impede que seja vista unicamente nos
Oitocentos como instrumento de uma cultura universal como percebe Rocha
(1996) A linguagem e suas praacuteticas necessariamente satildeo ideoloacutegicas filiam-se a
determinadas formaccedilotildees ndash a cultura inclusive
No periacuteodo joanino e nos anos iniciais do Impeacuterio esses movimentos
geograacuteficos foram sutis mas anunciavam o que estava por vir e natildeo devem ser
desconsiderados A fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II em 1837 faraacute um ordenamento
modelar no curriacuteculo do ensino de Geografia Poreacutem ateacute o surgimento desta
instituiccedilatildeo o ensino de Geografia tem uma trajetoacuteria que se anuncia e precisa ser
analisada (praticamente sem abordagem sistecircmica na literatura especiacutefica) pois o
ensino da Geografia e a instauraccedilatildeo desse saber como disciplina escolar natildeo eacute um
ato inaugural do Coleacutegio Pedro II ndash fato tomado como marco por muitos historiadores
do ensino de Geografia brasileiro51
As obras de Geografia com o propoacutesito do ensino sempre primaram pela
atualizaccedilatildeo da realidade apresentada gerando no meio autoral e editorial uma
espeacutecie de ldquoanguacutestia da desatualizaccedilatildeordquo Historicamente construiacutedas as geografias
em representaccedilatildeo ano a ano rapidamente envelheciam desatualizando essas obras
sempre reescritas acrescentadas refundidas aumentadas a cada nova ediccedilatildeo Em
um dos exemplos mais claacutessicos tem-se a Geacuteographie moderne et universelle do
Abade Nicolle de la Croix morto em 1760 cuja obra ainda em circulaccedilatildeo nos
51
COLESANTI 1984 ROCHA 1996 PINHEIRO 2005a e 2005b dentre outros
Oitocentos contava com ampliaccedilotildees e atualizaccedilotildees a cada ediccedilatildeo como a feita por
Victor Comeiras em 1800 adentrando outras o seacuteculo XIX
Outra necessidade que se impunha era a de adaptaccedilotildees em duas vertentes
de um lado adaptaccedilotildees de obras cientiacuteficas para uso escolar (eacute o caso do Abreacutegeacute
de la Geacuteographie Moderne adaptaccedilatildeo francesa com fins didaacuteticos da obra de
Pinkerton) de outro adaptaccedilotildees de obras estrangeiras agrave realidade nacional
Historicamente esse material foi constituiacutedo pela agregaccedilatildeo de padrotildees e
elementos que o foram caracterizando com construccedilotildees proacuteprias a ele tornando-o
uma materialidade uacutenica e tiacutepica de forma que a sua discursividade pode identificaacute-
lo como um gecircnero do discurso
Os livros escolares integram a constituiccedilatildeo e a autonomia dos conteuacutedos
enquanto disciplinas do ensino baacutesico Analisando e revisitando a histoacuteria do livro
escolar de Geografia brasileiro a presente pesquisa faz face com alguns campos
histoacutericos e socioloacutegicos da Educaccedilatildeo particularmente a Histoacuteria das Disciplinas
Escolares e a Histoacuteria do Curriacuteculo Nesta tese estes campos histoacutericos satildeo
ressignificados na perspectiva da Anaacutelise do Discurso na medida em que os textos
satildeo vistos a partir da bibliografia sistematizada como materialidades discursivas e
seus produtores como sujeitos destes discursos
31 A educaccedilatildeo colonial os primeiros indiacutecios de uma educaccedilatildeo geograacutefica
A educaccedilatildeo colonial brasileira teve duas fases a jesuiacutetica e a pombalina
Como se sabe promovida pela Sociedade de Jesus52 a escola elementar eacute o que
houve de mais expressivo em termos de educaccedilatildeo formal na Colocircnia brasileira
perdurando por pouco mais de 200 anos desde a chegada do padre Manoel da
Noacutebrega em companhia de outros jesuiacutetas em 1549 acompanhando Tomeacute de
Souza ateacute o desmembramento da Sociedade em Portugal no ano de 1759 e por
extensatildeo em todos os territoacuterios coloniais da coroa portuguesa A escola elementar
52
Como amplamente conhecido a Companhia de Jesus foi uma ordem catoacutelica fundada em 1534 por Ignaacutecio de Loyola com o objetivo de conter o avanccedilo do Protestantismo por meio da educaccedilatildeo e da accedilatildeo missionaacuteria
complementava-se com cursos preparatoacuterios para o ensino superior e para a
formaccedilatildeo eclesiaacutestica Os jesuiacutetas a esse propoacutesito edificaram um plano
educacional que monopolizou a educaccedilatildeo em dois planos no primeiro a catequese
cujo empenho estava na conversatildeo dos indiacutegenas (catequisados) no segundo o
empenho na instruccedilatildeo dos filhos dos colonos quanto agrave escrita e agrave leitura domiacutenio
da aritmeacutetica e um curso de Humanidades (aulas avulsas de Latim Grego Filosofia
e Retoacuterica) que servia como preparaccedilatildeo para os estudantes frequentarem cursos
superiores em Portugal (instruiacutedos) e como preparatoacuterios para a formaccedilatildeo de
eclesiaacutesticos53
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada com o objetivo de atender agrave diversidade de interesses e de capacidades Comeccedilando com o aprendizado de portuguecircs incluiacutea o ensino da doutrina cristatilde a escola de ler e escrever Daiacute em diante continua em caraacuteter opcional o ensino de canto orfeocircnico e de muacutesica instrumental e uma bifurcaccedilatildeo tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agriacutecola e de outro aula de gramaacutetica e viagem de estudo agrave Europa (RIBEIRO 2001 p 21-22)
A rigor os jesuiacutetas introduziram a estrutura baacutesica da formaccedilatildeo elementar no
Brasil abrindo duas direccedilotildees de atuaccedilatildeo educacional as escolas de letramento e a
preparaccedilatildeo mais apurada para formaccedilatildeo do ilustrado comum ou preparaccedilatildeo para o
ingresso no ensino superior De acordo com Moura (2000 p 28)
A distinccedilatildeo entre escola e coleacutegio eacute importante no trabalho educacional dos jesuiacutetas O tiacutetulo de coleacutegio foi desde cedo reservado para designar uma instituiccedilatildeo devidamente fundada do ponto de vista monetaacuterio e dotada de uma abrangecircncia mais vasta do ponto de vista educacional
As escolas ministravam alfabetizaccedilatildeo e catequese e praticamente eram
anexas a todas as residecircncias jesuiacuteticas jaacute os coleacutegios ministravam estudos de
humanidades e situavam-se nas cidades de maior projeccedilatildeo na Colocircnia
Apesar de os jesuiacutetas terem um monopoacutelio do ensino formal houve tambeacutem
outras iniciativas sejam privadas sejam de outras ordens religiosas que tambeacutem
atuaram na educaccedilatildeo embora com menor expressatildeo (como eacute o caso dos
53
Era tradiccedilatildeo na aristocracia brasileira ter dentre os filhos geralmente o mais velho um religioso Para aleacutem da tradiccedilatildeo cultural a presenccedila de um padre na famiacutelia significava status social e expressatildeo da pureza eacutetnica dado que a Igreja natildeo permitia a formaccedilatildeo de cleacuterigos entre mesticcedilos negros ou iacutendios
beneditinos e dos franciscanos) ldquodeve-se admitir no Brasil o fato universal de que
todo sacerdote secular sempre foi mestre de algum menino de famiacutelias locais das
suas relaccedilotildeesrdquo (MOURA 2000 p 54)
A educaccedilatildeo emergente na sociedade colonial do Brasil (estruturada
basicamente por duas classes sociais ndash proprietaacuterios (de terras e escravos) e
escravos ndash visava atender e manter uma ordem poliacutetica de pertencimento agrave famiacutelia
aristocraacutetica que detinha com exclusividade os bens culturais importados de
Portugal (ROMANELLI 1985) Para isso do denominado Descobrimento aos
meados do seacuteculo XVIII os jesuiacutetas levantaram a educaccedilatildeo desde a construccedilatildeo de
edifiacutecios agrave elaboraccedilatildeo de dicionaacuterios E nesses quase trecircs seacuteculos (incluindo o
periacuteodo posterior agrave expulsatildeo dos jesuiacutetas do Brasil) os livros de Geografia natildeo
chegaram a existir pois ainda natildeo havia uma disciplina para esses conteuacutedos o
ensino dessa aacuterea como veremos dava-se por meios indiretos natildeo possuindo
propriamente um objetoobjetivos de ensino mesmo o que havia de uma educaccedilatildeo
geograacutefica era distante da realidade vivenciada pelos educandos referindo-se
sobretudo a uma geografia histoacuterica e eclesiaacutetica
Trata-se nesses termos de um ensino impliacutecito de Geografia
A existecircncia de manuais didaacuteticos estaacute intrinsecamente relacionada agrave
formulaccedilatildeo de disciplinas autocircnomas e agrave presenccedila de um curriacuteculo formulado e
ativo ou seja vincula-se agrave dinacircmica institucional de uma disciplina pois satildeo
produtos integrantes e ao mesmo tempo constituintes da autonomia dos conteuacutedos
no contexto escolar
A inexistecircncia da Geografia enquanto ensino de uma visatildeo territorial dos
espaccedilos geograacuteficos com suas perspectivas fiacutesicas ou societaacuterias quais sejam as
verticalidades a estas associadas explica-se pelos objetivos da educaccedilatildeo ou
melhor pelos objetivos da formaccedilatildeo pretendida Natildeo havia entatildeo nada que os
definisse Natildeo havia um sistema educacional independente para a Colocircnia que
refletisse as necessidades e os interesses desta nem esses em si eram
independentes e constituiacutedos em outras instacircncias ndash culturais poliacuteticas econocircmicas
A educaccedilatildeo cristatilde e humaniacutestica dos jesuiacutetas permitia-se ndash como toda a tradiccedilatildeo
escolaacutestica ndash produzir o instruiacutedo sem fronteiras Natildeo havia portanto ainda as
condiccedilotildees histoacutericas para o surgimento da Geografia escolar O conteuacutedo geograacutefico
mais expressivo do Ratio Ataque Institutio Studiorum Societatis Iesu54 a propoacutesito
foi a Cosmologia ndash neutra em sua amplitude universal Todavia por outro lado a
concepccedilatildeo subjacente ao Ratio era a de que ldquoeducar natildeo eacute formar um homem
abstrato intemporal eacute preparar um homem concreto para viver no cenaacuterio deste
mundordquo de acordo com Franca (1952 p 76) Este era o sentido da formaccedilatildeo
humanista que no vieacutes jesuiacutetico tinha como ponto de partida princiacutepios da doutrina
catoacutelica formar o cristatildeo jaacute era uma preparaccedilatildeo da humanidade para viver
plenamente no mundo
Portanto no periacuteodo colonial natildeo se teve um curriacuteculo para o ensino de
Geografia inexistiam necessidades histoacutericas para isso E natildeo haver a disciplina
Geografia natildeo invalidava haver saberes geograacuteficos em circulaccedilatildeo no ensino formal
qual fosse ele Eram saberes relacionados agrave Geografia Claacutessica ou agrave Antiga sendo
desta selecionados para serem incorporados agraves diretrizes incidentes no aprendizado
espacial inerente a outros aprendizados
A colocircnia brasileira foi instituiacuteda em torno do modelo econocircmico
agroexportador passando posteriormente por um ciclo de mineraccedilatildeo que pouco
alterou a formaccedilatildeo social Caracterizou-se portanto pela monocultura latifundiaacuteria
operado por matildeo de obra escrava dirigida por uma classe de proprietaacuterios que
tambeacutem incorporava funccedilotildees liberais acomodando ainda o clero por sua vez
pouco diversificado nos quais sobressaiacuteram os jesuiacutetas por dois seacuteculos Sem uma
sociedade poliacutetica autocircnoma compunham-se as elites aleacutem dos proprietaacuterios por
representantes do poder poliacutetico metropolitano O sentido da educaccedilatildeo portanto foi
bem explicitado e praticado pelos jesuiacutetas letramento catequese aprimoramento da
cultura ou preparatoacuterio para a formaccedilatildeo de profissionais liberais ou eclesiaacutesticos em
Portugal majoritariamente Na anaacutelise claacutessica de Freitag (1986 p 47) encontra-se
uma perspectiva para a questatildeo da educaccedilatildeo no Brasil colonial
[] a fase colonial caracterizava-se pela inexistecircncia de instituiccedilotildees autocircnomas que compusessem a sociedade poliacutetica Essa se reduzia agraves representaccedilotildees locais do poder da metroacutepole [] natildeo havia nenhuma funccedilatildeo de reproduccedilatildeo da forccedila de trabalho a ser preenchida pela escola [] A escola como mecanismo de re-colocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na estrutura de classes era portanto dispensaacutevel Restavam-lhe ainda duas funccedilotildees a de reproduccedilatildeo das relaccedilotildees de dominaccedilatildeo e a de reproduccedilatildeo da ideologia dominante (FREITAG 1986 p 47)
54
ldquoPlano e Metodologia dos Estudos da Sociedade de Jesusrdquo
Conforme a anaacutelise da autora uma forma de perpetuaccedilatildeo da sociedade cristalizada
O Ratio Studiorum a propoacutesito foi o documento educacional mais influente
nos territoacuterios coloniais de tradiccedilatildeo catoacutelica Produzido por uma comissatildeo
internacional de padres jesuiacutetas em 1586 e finalizado definitivamente em 1599
sofreu alteraccedilotildees apenas em 1832 apoacutes o retorno dos jesuiacutetas agraves suas atividades
em 1814 quando cessaram algumas deacutecadas de suspensatildeo da ordem55 mas sem
atuaccedilatildeo expressiva no Brasil Todavia o Ratio resultou de um amplo processo
endossando as experiecircncias de uma ordem religiosa que surgiu sobretudo para
educar Conforme Franca (1952 p 41)
O trabalho de sua redaccedilatildeo prolongou-se por obra de 15 anos (1584-1599) e obedeceu ao criteacuterio com que se preparam os curriacuteculos modernos mais bem elaborados Primeira redaccedilatildeo aproveitando um imenso material pedagoacutegico acumulado em dezenas de anos criacuteticas dos melhores pedagogos de todas as proviacutencias europeacuteias da Ordem segunda redaccedilatildeo nova remessa agraves proviacutencias para que a submetessem por um triecircnio agrave prova da vida real dos coleacutegios aproveitamento das uacuteltimas sugestotildees sugeridas agrave luz dos fatos promulgaccedilatildeo definitiva
Sistematizando a pedagogia jesuiacutetica o Ratio Studiorum continha 467 regras
para o ensino e a orientaccedilatildeo dos estudos preconizados na filosofia de Aristoacuteteles e
na teologia de Satildeo Tomaacutes de Aquino As regras prescritas no Ratio abrangiam todas
as fases do ensino e indicavam accedilotildees e comportamentos para todo o sistema
educacional que impunha Interessante eacute notar que a educaccedilatildeo jesuiacutetica se
comportou na educaccedilatildeo brasileira posterior como uma das mais significativas
influecircncias a estruturar o ensino inclusive o de Geografia ao lado de leituras do
cientificismo oriundo do Iluminismo Na educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX ocorreraacute
uma clivagem um tanto contraditoacuteria com o ensino superior voltado inicialmente
para o ensino cientiacutefico mas o ensino secundaacuterio teraacute um forte influxo da tradiccedilatildeo
literaacuteria dos jesuiacutetas A educaccedilatildeo brasileira do seacuteculo XIX lidaraacute com ambas as
influecircncias
55
O governo portuguecircs suspendeu as atividades da ordem em seus territoacuterios em 1759 Em 1779 a Companhia de Jesus tambeacutem foi suspensa pelo papa Clemente XIV
O Ratio procurava orientar as atividades do ensino fundamentando-se em
grande parte no pedagogo claacutessico Quintiliano56 Vaacuterios elementos do Ratio
sobreviveram no seacuteculo XIX e agraves vezes mais adiante Na metodologia didaacutetica
ficaram os exerciacutecios como praacutetica as leituras como meacutetodo as dramatizaccedilotildees a
organizaccedilatildeo e a disposiccedilatildeo dos discentes em sala os exames escritos e orais
(sabatina liccedilotildees ditado) a periodicidade dos exames a memorizaccedilatildeo das liccedilotildees
aleacutem da delimitaccedilatildeo dos periacuteodos de feacuterias regras de comportamento costumes e
disciplina
Cabe observar que o Ratio foi uma espeacutecie de manual pedagoacutegico natildeo
propriamente um documento curricular embora este esteja parcialmente impliacutecito
portanto em sua redaccedilatildeo
No sentido mais apurado da organizaccedilatildeo dos conteuacutedos educacionais dos
jesuiacutetas ou seja para aleacutem das accedilotildees de catequese e letramento57 e que seria
correspondente a um embriatildeo do ldquoensino secundaacuteriordquo brasileiro o Ratio prescrevia
trecircs orientaccedilotildees de ensino o curriacuteculo teoloacutegico o curriacuteculo filosoacutefico e o curriacuteculo
humanista A forma mais direta de um ensino geograacutefico incidia na orientaccedilatildeo
filosoacutefica cujo primeiro ano deveria abranger estudos de loacutegica e introduccedilatildeo as
ciecircncias seguidas no segundo ano por estudos de cosmologia psicologia fiacutesica e
matemaacutetica e por fim no terceiro ano estudos de psicologia metafiacutesica filosofia
moral ndash de acordo com siacutentese apresentada por Franca (1952 p 47)
O estudo de liacutenguas era primazia com destaque para o latim tanto nos
estudos superiores quanto nos inferiores amplamente recomendado ao longo do
documento para versotildees traduccedilotildees escrita leitura representaccedilatildeo teatral fala
ldquoTodos mas de modo especial os que se aplicam aos estudos de humanidades
falem latim aprendam de cor o que lhes for prescrito pelo professor e nas
composiccedilotildees trabalhem com esmero o estilordquo (Regra 9 aos Escolaacutesticos da Nossa
Companhia HISTEDBR 2009)
56
Marcus Fabius Quintilianus (35-95 dC) - escritor e retoacuterico latino preconizava a organizaccedilatildeo do tempo dos estudos aconselhando a leitura como elemento fundamental da educaccedilatildeo e da formaccedilatildeo do caraacuteter
57 Grosso modo o Ratio circunscreve o ensino secundaacuterio e superior sendo que este natildeo foi
autorizado pela metroacutepole portuguesa a funcionar nos territoacuterios da colocircnia
Tendo a leitura como um dos veacutertices definidores da educaccedilatildeo os coleacutegios
jesuiacutetas eram notaacuteveis por suas amplas bibliotecas ideologicamente cindidas e
fechadas a influecircncias que fugissem do modelo escolaacutestico aceitaacutevel Hallewell
(2005 p 83) analisando o fim do periacuteodo jesuiacutetico na colocircnia brasileira observa que
A grande perda que o Brasil sofreu com a dissoluccedilatildeo da Companhia pode ser sentida na destruiccedilatildeo de suas bibliotecas quinze mil volumes se perderam no Coleacutegio em Salvador outros cinco mil no do Rio de Janeiro aleacutem de mais de doze mil apenas nos coleacutegios do Maranhatildeo e do Paraacute
Moraes (1975) afirma que algumas dessas bibliotecas retornaram a
Portugal outras tiveram partes dos acervos doadas ou foram destruiacutedas pelo
abandono A formaccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de bibliotecas todavia tinham atenccedilatildeo
especial dos jesuiacutetas ldquoA fim de que aos nossos natildeo faltem os livros convenientes
aplique ao da biblioteca [sic] uma renda anual proveniente dos bens do coleacutegio ou
de outra fonte e que de modo algum poderaacute ser desviada para outros finsrdquo (Regra 32
ao Provincial HISTEDBR 2009) Agrave biblioteca recomendava-se uma economia
cultural que preconizava ldquo[] natildeo faltem os livros uacuteteis nem sobrem os inuacuteteis []rdquo
(Regra 29 ao Prefeito de Estudos HISTEDBR 2009) Eram bibliotecas sobretudo
devidamente orientadas aos fins institucionais
Tome todo o cuidado e considere este ponto como da maior importacircncia que de modo algum se sirvam os nossos nas aulas de livros de poetas ou outros que possam ser prejudiciais agrave honestidade e aos bons costumes enquanto natildeo forem expurgados dos fatos e palavras inconvenientes e se de todo natildeo puderem ser expurgados como Terecircncio eacute preferiacutevel que natildeo se leiam para que a natureza do contendo natildeo ofenda a pureza da alma (Regra 33 ao Provincial HISTEDBR 2009)
A preleccedilatildeo (prelectio) estava dentre os esteios metodoloacutegicos para o ensino
nas classes inferiores Por esse meio a instruccedilatildeo se iniciava pela leitura explicaccedilatildeo
e resumo passando-se ao estudo mais detalhado do vocabulaacuterio e da gramaacutetica Da
sintaxe passava-se para o estudo do estilo da composiccedilatildeo momento em que as
ideias sobrepunham-se aos elementos sintaacuteticos e lexicais Na compreensatildeo do
texto entrava o aprendizado de noccedilotildees auxiliares dentre os quais as de Geografia
ldquo[] acrescente-se se for o caso alguma cousa de histoacuteria e erudiccedilatildeo de vaacuterias
fontes relativa ao assuntordquo ldquo[] procure-se na histoacuteria na mitologia e em todos os
domiacutenios do conhecimento o que possa contribuir para esclarecer a passagemrdquo
(Regras 7 e 8 ao Professor de Retoacuterica HISTEDBR 2009) Todo o circuito central
ou perifeacuterico contudo restringia-se aos produtos selecionados da Antiguidade
Claacutessica ldquoNa preleccedilatildeo soacute se expliquem os autores antigos de modo algum os
modernosrdquo (Regra 27 aos Professores das Classes Inferiores HISTEDBR 2009) E
mesmo os claacutessicos antigos eram amplamente censurados para natildeo contrariar os
dogmas e as diretrizes cristatildes da feacute catoacutelica
Para conhecimento da liacutengua que consiste principalmente na propriedade e riqueza das palavras explique-se nas liccedilotildees quotidianas dos oradores exclusivamente Ciacutecero e de regra escolham-se os seus livros de filosofia moral dos historiadores Cesar Saluacutestio Liacutevio Curtius e outros semelhantes dos poetas principalmente Virgiacutelio com exceccedilatildeo de algumas eacuteclogas e do 4ordm livro da Eneida odes seletas de Horaacutecio e tambeacutem elegias epigramas e outras composiccedilotildees de poetas ilustres contanto que expurgados de qualquer inconveniecircncia de expressatildeo (Regra 1 ao Professor de Humanidades HISTEDBR 2009)
Foram cerca de 200 anos de reuniatildeo desses acervos fazendo deles
conjuntos bem representativos dos usos culturais perpetuados agravequele tempo
refletindo ainda as restriccedilotildees ideoloacutegicas da ordem Os inventaacuterios que
sobreviveram indicam a presenccedila de obras geograacuteficas na maioria trabalhos
cartograacuteficos Atlas da Antiguidade tratados descritivos
Predominam livros de cunho religioso nos campos de teologia direito moral asceacutetica escrituriacutesitca apologeacutetica liturgia e filosofia No sermoniaacuterio registram-se obras da oratoacuteria sacra da eacutepoca Aparecem obras poeacuteticas de Homero em grego e em latim obras de Virgiacutelio Horaacutecio Marcial Oviacutedio Terecircncio e Ciacutecero A histoacuteria e a geografia estavam representadas com diversas obras [] Eram livrarias especializadas Seus acervos cobriam em primeiro lugar as disciplinas ministradas nos coleacutegios [ aleacutem de serem] essenciais para auxiliar os padres nas atividades religiosas (SILVA 2008 p 231-232)
Serafim Leite (1949 p 171) igualmente registra a presenccedila da Geografia entre os
Jesuiacutetas ldquoa Geografia tambeacutem presente com seus livros Corografias Atlas e
Mapas de Portugal e do mundo em todos os grandes coleacutegios como consta dos
respectivos inventaacuterios completava esta secccedilatildeo de ensinordquo
O Arquivo Nacional Torre do Tombo por exemplo deteacutem um documento
intitulado Tratado da esfera e do globo terrestre traduzido da Geografia do Abade
La Croix e aumentado de algumas notas necessaacuterias caderno manuscrito que
pertenceu a escolas da Companhia cujo conteuacutedo eacute a traduccedilatildeo do Tratado da
Esfera e do Globo do Abade Louis-Antoine Nicolle apresentando trecircs gravuras
calcograacuteficas que representam a ldquoEsfera Artificialrdquo o ldquoMapa-Mundordquo e a ldquoRosa dos
Ventosrdquo (MSLIV 2010) O Tractatus de Sphaera obra de 1220 de Johannes de
Sacrobosco (1195-1256) foi tambeacutem uma das obras que fundamentaram o ensino
de Cosmografia pelos jesuiacutetas (SOBREIRA 2005)
Os jesuiacutetas ainda deram sua contribuiccedilatildeo para o conhecimento geograacutefico
da Colocircnia Andreacute Joatildeo Antonil (1649-1716) autor de Cultura e opulecircncia no Brasil
fez importantes registros sobre a vida econocircmica sendo amplamente conhecidos os
roteiros que descreveu de Satildeo Paulo para Minas Gerais entre o Rio de Janeiro e
Minas a ligaccedilatildeo entre Minas e a proviacutencia da Bahia e os circuitos do gado no Rio
Satildeo Francisco comumente conhecidos como os Cinco Roteiros de Antonil
Natildeo tinham os livros de Geografia representatividade ampla como os livros
dos demais assuntos pois funcionavam como obras de referecircncia para um
conteuacutedo de referecircncia atendendo ao papel secundaacuterio e auxiliar que a
Geografia a par da Histoacuteria e outros campos exerciam na pedagogia dos jesuiacutetas
Esta em si eacute a principal caracteriacutestica e propoacutesito de um ensino impliacutecito diluiacutedo em
outros objetivos de ensino e aprendizagem mas indispensaacutevel A Regra 14 do Ratio
direcionada ao Professor de Sagradas Escrituras eacute elucidativa da relaccedilatildeo didaacutetica
com os conteuacutedos geograacuteficos dispondo sua posiccedilatildeo referencial e auxiliar
Natildeo se detenha muito tempo em investigar questotildees de cronologia ou de geografia da terra santa ou outras menos uacuteteis a menos que a passagem o exija bastaraacute indicar os autores que tratam amplamente estes assuntos (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)
Aleacutem da leitura na conduccedilatildeo do esclarecimento literaacuterio o conhecimento
geograacutefico associava-se agrave matemaacutetica disciplina autocircnoma do Ratio em seu
programa para as Humanidades complementar ao ensino de cosmologia aliando a
geometria agrave cartografia e agrave astronomia
Aos alunos de fiacutesica explique na aula durante 34 de hora os elementos de Euclides depois de dois meses quando os alunos jaacute estiverem um pouco familiares com estas explicaccedilotildees acrescente alguma cousa de Geografia da Esfera ou de outros assuntos que eles gostam de ouvir e isto simultaneamente com Euclides no mesmo dia ou em dias alternados (Regra 14 ao Professor de Sagradas Escrituras HISTEDBR 2009)
Nota-se que a Geografia eacute qualificada como um dos assuntos de predileccedilatildeo dos
discentes E aleacutem da matemaacutetica os saberes geograacuteficos integravam a abordagem
da ciecircncia da natureza recomendando-se expressamente a obra de Aristoacuteteles58
sect1 No segundo ano os oito livros Physicorunt os livros De Cœlo e o primeiro De generatione Dos oito livros Physicorum decirc sumariamente os textos do livro 6ordm e 7ordm e do 1ordm a comeccedilar do ponto em que refere as opiniotildees dos antigos No livro 8ordm nada exponha do nuacutemero das inteligecircncias nem da liberdade nem da infinidade do primeiro motor Estas questotildees seratildeo discutidas na metafiacutesica e somente segundo a opiniatildeo de Aristoacuteteles
sect2 O texto do 2ordm 3ordm e 4ordm livro De Cœlo deveraacute ser dado brevemente e em grande parte omitido Nestes livros soacute se tratem algumas poucas questotildees sobre os elementos sobre o Ceacuteu as que se referem agrave sua substacircncia e influecircncias as outras deixem-se ao professor de matemaacutetica ou reduzam-se a compecircndio
sect3 Os livros meteoroloacutegicos percorram-se nos meses de veratildeo na uacuteltima hora da tarde pelo professor ordinaacuterio se possiacutevel ou se parecer mais conveniente por um professor extraordinaacuterio (Regra 10 ao Professor de Filosofia HISTEDBR 2009)
Dependente e auxiliar essa Geografia nutria-se nos tratados claacutessicos que
organizavam o saber geograacutefico da Antiguidade agrave Idade Meacutedia ndash a conhecida
sistemaacutetica dual a tradiccedilatildeo descritiva ou Geografia histoacuterico-poliacutetica de Estrabatildeo e
a tradiccedilatildeo matemaacutetica de Ptolomeu (GOMES 2000 KIMBLE 2005) Natildeo eacute demais
salientar que a interceptaccedilatildeo dessa dualidade a irromper na Geografia Moderna
ainda gestava-se na Europa a exemplo das contribuiccedilotildees de Immanuel Kant (1724-
1804) que no fervor dos ideais iluministas em seu projeto de separaccedilatildeo entre a
metafiacutesica e a razatildeo revestiria de ciecircncia esse saber antigo
Apoacutes a desintegraccedilatildeo da Companhia de Jesus no Brasil a educaccedilatildeo
brasileira passou por um retrocesso o que eacute consenso entre historiadores da
educaccedilatildeo e estudiosos da cultura brasileira (ALMEIDA 1989 AZEVEDO 1963
MOURA 2000 ORTIZ 1994 RIBEIRO 2001 ROMANELLI 1985) periacuteodo esse
conhecido como pombalino em vigor por quase 50 anos entre 1759 e 1808 em
referecircncia agraves reformas de Sebastiatildeo Joseacute de Carvalho e Melo influente poliacutetico e
ministro portuguecircs mais conhecido como Marquecircs de Pombal (1699-1792) as quais
impactaram tambeacutem na educaccedilatildeo da colocircnia brasileira
58
Recomendaccedilotildees ao curso Superior que formava os teoacutelogos embora decirc para discernir algumas das noccedilotildees do ensino da natureza para os estudantes das aulas avulsas
Os coleacutegios e escolas dos jesuiacutetas embora natildeo sobrepujassem tinham um
soacutelido sistema de financiamento com recursos advindos do padroado de donativos
reacutegios e de fieacuteis aleacutem dos recursos gerados pela proacutepria Companhia haja vista que
os jesuiacutetas foram exiacutemios comerciantes e produtores latifundiaacuterios Tal situaccedilatildeo
permitia a oferta de uma educaccedilatildeo puacuteblica e gratuita (MOURA 2000) embora natildeo
democraacutetica Outras ordens religiosas e demais elementos educacionais alccediladas
em continuaccedilatildeo ao trabalho dos jesuiacutetas natildeo contaram com este esteio econocircmico
nem com os ideais pedagoacutegicos da Companhia
A gestatildeo educacional passou a ser gerida pelo Estado que ateacute entatildeo se
abstinha de interferecircncia nos ensinos equivalentes ao elementar e ao secundaacuterio
Por conseguinte o Estado ldquo[] tomou a seu cargo por iniciativa de Pombal a
funccedilatildeo educativa que passava a exercer em colaboraccedilatildeo com a Igreja
aventurando-se a um largo plano de oficializaccedilatildeo do ensinordquo (AZEVEDO 1963 p)
Desarticulando o Ratio dos jesuiacutetas instituiu as aulas reacutegias chamadas tambeacutem
aulas avulsas cujo principal retrocesso foi diluir os cursos graduados e
sistematizados Nas cidades e vilas as escolas e coleacutegios atuaram por aulas
isoladas ateacute a Regecircncia na deacutecada de 1840 quando o modelo do Coleacutegio Pedro II
fundado em 1837 passou a ser disseminado nas proviacutencias O curriacuteculo nesse
entretempo reduziu-se a aulas avulsas de gramaacutetica e latim e nos seminaacuterios
filosofia eacutetica e retoacuterica A grande transformaccedilatildeo curricular foi o banimento de
liacutenguas indiacutegenas e a institucionalizaccedilatildeo pelo Estado da liacutengua portuguesa
A reforma educacional brasileira implementada por Pombal a tiacutetulo de experimento [que a histoacuteria mostrou natildeo ter sido bem sucedida] tinha como meta levar a educaccedilatildeo para o controle do Estado secularizaacute-la e uniformizar o curriacuteculo Em cada aldeia indiacutegena os diretores deveriam ocupar o lugar dos missionaacuterios e duas escolas puacuteblicas ndash uma para meninos e outra para meninas ndash deveriam ser implantadas (MOURA 2000 p 70)
Para financiar o sistema puacuteblico desprovido das substanciais verbas
jesuiacuteticas o Estado portuguecircs instituiu na colocircnia um imposto chamado ldquosubsiacutedio
literaacuteriordquo em 1772 apoacutes 13 anos de inaniccedilatildeo incidentes sobre a produccedilatildeo de carne
sal aguardente e outros produtos O subsiacutedio sem sistema eficiente de arrecadaccedilatildeo
e envolto em fraudes jamais foi suficiente para financiar a educaccedilatildeo colonial que se
tornou deploraacutevel
Descontinuidade improvisaccedilatildeo amadorismo e falta absoluta de senso pedagoacutegico caracterizaram muito da empreitada educacional de Pombal Surgiram aulas de disciplinas isoladas sem planos sistemaacuteticos de estudos (aulas reacutegias) dadas por professores em sua maior parte desinformados O latim o grego e a retoacuterica eram mais ensinados que a liacutengua portuguesa O ensino superior que comeccedilava a se esboccedilar no Brasil com os cursos de artes de base jesuiacutetica natildeo se desenvolveu (MOURA 2000 p 70)
O clero como a classe mais culta seguiu com prioridade nas regecircncias
pedagoacutegicas Na falta de instituiccedilotildees e de uma hierarquia organizacional das
atividades educativas59 com ele permanecia a orientaccedilatildeo e a realizaccedilatildeo do ensino
ldquoos professores eram geralmente padres embora natildeo faltassem leigos em todos os
graus de ensinordquo (MOURA 2000 p 66) poreacutem subvencionados e nomeados pelo
Estado
32 A educaccedilatildeo colonial a influecircncia do isolacionismo
Todavia haacute que se ressaltar que as marcas sociais deixadas pelo ensino
jesuiacutetico por muito tempo seratildeo influentes para a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo brasileira
inclusive nas bases de constituiccedilatildeo do ensino de Geografia no seacuteculo XIX Tendo a
doutrina catoacutelica como lastro o planejamento da educaccedilatildeo jesuiacutetica cercou-se de
todas as precauccedilotildees possiacuteveis para afastar influecircncias entatildeo consideradas nocivas
determinavam o que aprender como aprender quem poderia ensinar Os
professores que somente poderiam ensinar apoacutes os 30 anos de idade em sua
preparaccedilatildeo lidavam com os livros e as questotildees selecionadas pelos jesuiacutetas Se
dados a novidades ou ao espiacuterito livre deveriam ser afastados da docecircncia (PAIM
1967) Com base nessas praacuteticas Ribeiro (2001 p 26) assinala que o objetivo
religioso o conteuacutedo literaacuterio e a metodologia de imitaccedilatildeo
[] faziam com que natildeo soacute os religiosos de profissatildeo como os intelectuais de forma geral se afastassem natildeo apenas de outras orientaccedilotildees religiosas
59
Haja vista a enorme distacircncia entre os mestres e o Diretor Geral de Estudos que era o proacuteprio Vice-Rei sem subordinaccedilotildees intermediaacuterias
como tambeacutem do espiacuterito cientiacutefico nascente [na Europa] e que atinge durante o seacuteculo XVII uma etapa bastante significativa
A ciecircncia nascia justamente como reaccedilatildeo ao meacutetodo escolaacutestico medieval
que direcionava o conhecimento agrave metafiacutesica Romanelli (1985 p 34) igualmente
demonstra que este espiacuterito combalido em outros espaccedilos da Europa era persistente
e cultivado na educaccedilatildeo portuguesa e na educaccedilatildeo colonial ibeacuterica pois se tratava
antes de qualquer coisa
[] da materializaccedilatildeo do proacuteprio espiacuterito da Contra-Reforma que se caracterizou sobretudo por uma eneacutergica reaccedilatildeo ao espiacuterito criacutetico que comeccedilava a despontar na Europa por um apego a formas dogmaacuteticas de pensamento pela revalorizaccedilatildeo da Escolaacutestica como meacutetodo e como filosofia pela reafirmaccedilatildeo da autoridade quer da igreja quer dos antigos []
O isolamento intelectual da Colocircnia brasileira era agravado um pouco mais
pelo fato de a metroacutepole portuguesa acircmbito de formaccedilatildeo das elites brasileiras
igualmente estar em separado do conhecimento pleno e das ideias cientiacuteficas que se
desenvolviam em alguns paiacuteses europeus pois instituiccedilotildees como a Universidade de
Coimbra e o Coleacutegio dos Nobres fizeram leituras e absorccedilotildees parciais do Iluminismo
Portugal chega em meados do seacuteculo XVIII com sua Universidade ndash a de Coimbra ndash tatildeo medieval como sempre fora A filosofia moderna (Descartes) a ciecircncia fiacutesico-matemaacutetica os novos meacutetodos de estudo da liacutengua latina eram desconhecidos em Portugal O ensino jesuiacutetico solidamente instalado continuava formando elementos da corte dentro dos moldes do Ratio Studiorum (RIBEIRO 2001 p 32)
Conforme veremos adiante o avanccedilo intelectual dos portugueses no
contexto do Renascimento natildeo ultrapassou um empirismo mitigado60 capaz de
afastar certos ranccedilos da escolaacutestica mas ultrapassando o fazer da ciecircncia ndash a
pesquisa no sentido amplo ndash para calcar-se em certo pragmatismo ou aplicaccedilatildeo
simploacuteria da ciecircncia
60
Expressatildeo cunhada por Joaquim de Carvalho (18921958) para denominar a adoccedilatildeo do empirismo no acircmbito do conhecimento sem problematizaccedilatildeo apenas como forma de difundir uma nova doutrina como criacutetica ao aristotelismo Esse movimento foi inspirado pelas obras Instituiccedilotildees loacutegicas do italiano Antonio Genovesi (1713-1792) e O verdadeiro meacutetodo de estudar de Antoacutenio Verney (1713-1792) ndash (PAIM 1999)
Apoacutes os jesuiacutetas61 cuja estrutura e administraccedilatildeo escolar nos territoacuterios
portugueses ruiacuteram em 1759 influenciadas pela modernizaccedilatildeo da cultura lusa
atrelada ao processo de recuperaccedilatildeo econocircmica no periacuteodo pombalino houve um
lento processo de reestruturaccedilatildeo do aparelho administrativo da colocircnia que passou
a ldquo[] exigir um pessoal com um preparo elementar As teacutecnicas de leitura e de
escrita se fazem necessaacuterias surgindo com isto a instruccedilatildeo primaacuteria dada na
escola que antes cabia agrave famiacuteliardquo (RIBEIRO 2001 p 31) pelo menos na intenccedilatildeo
dos planos jaacute que na realidade se assistiu a uma desestruturaccedilatildeo sem par A
educaccedilatildeo foi assumida pelo governo colonial (encargo administrativo do Vice-Rei) e
ministrada por leigos e religiosos sem contudo ocorrer mudanccedilas nas bases e
fundamentos que sustentavam o ensino anteriormente (ROMANELLI 1985) ou seja
prevalecem a educaccedilatildeo com objetivos religiosos e literaacuterios Aleacutem disso as
tentativas de organizaccedilatildeo estiveram longe de igualar ou superar a estrutura jesuiacutetica
Na contramatildeo em Portugal tinha-se uma paulatina penetraccedilatildeo das novas ideias no
meio intelectual posterior agrave reforma poliacutetica do Marquecircs de Pombal direcionado ao
pragmatismo acima mencionado A influecircncia dessas ideias no ensino colonial
portanto seria de assimilaccedilatildeo mais morosa ainda aliaacutes pode-se afirmar que
praticamente foram nulas Somente na primeira metade do seacuteculo XIX com as
transformaccedilotildees do cenaacuterio poliacutetico da Colocircnia vestiacutegios semelhantes comeccedilariam a
aparecer no ensino brasileiro particularmente propiciando o aparecimento da
Geografia como disciplina escolar
Eacute importante ressaltar que a Geografia natildeo teve uma gecircnese uacutenica formou-
se da reuniatildeo de algumas disciplinas geograacuteficas Na formaccedilatildeo posterior da
Geografia escolar disciplinas momentaneamente autocircnomas e subservientes a
diversos propostos seriam elencadas em um curriacuteculo uacutenico a Cosmologia a
Corografia a Astronomia a Cartografia62 dentre outras
Um marco para a ascensatildeo da Geografia escolar sem duacutevida foi a
transferecircncia da corte portuguesa para o Brasil (1808) pois este fato impocircs outra
visatildeo e interesse para a educaccedilatildeo praticamente reinaugurando-a no Brasil Todavia
a Geografia escolar por vir jaacute tinha lanccedilados alguns dos seus fundamentos na
61
Piletti Piletti (2002) indicam que com a saiacuteda dos jesuiacutetas deixaram de existir 18 estabelecimentos de ensino secundaacuterio e 25 escolas de ler e escrever 62
Curiosamente ateacute a Astrologia fez parte do ensino e dos manuais de Geografia
Geografia Claacutessica em alguns aspectos da tradiccedilatildeo da Antiguidade e da Idade
Meacutedia por meio das praacuteticas educacionais dos Jesuiacutetas O paradigma dos estudos
claacutessicos prevaleceria ateacute meados do seacuteculo XIX tempo no qual os paracircmetros
cientiacuteficos comeccedilaram a se infiltrar de forma renovada e a predominar no cenaacuterio da
educaccedilatildeo brasileira estabelecendo-a definitivamente anos mais tarde nas primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX
33 Reinado (1808-1821) o surgimento dos primeiros indiacutecios de uma literatura didaacutetica de Geografia
Com a chegada da Famiacutelia Real e da Corte portuguesa ao Brasil a
educaccedilatildeo colonial jaacute desvinculada anteriormente do monopoacutelio jesuiacutetico foi
reorganizada no sentido poliacutetico-administrativo pois a nova ordem poliacutetica precisava
de matildeo de obra especializada para atender aos imperativos de uma classe poliacutetica e
social completamente distinta da entatildeo existente A estrutura social anterior havia
sido implodida com o surgimento e o fortalecimento no tempo da mineraccedilatildeo de uma
classe intermediaacuteria teacutecnica e poliacutetica alheia agrave classe dos proprietaacuterios rurais e que
seria ao longo do seacuteculo XIX permanentemente ascendente e determinante para as
direccedilotildees poliacuteticas da monarquia e mais adiante da repuacuteblica (ROMANELLI 1985) e
a essa forccedila agregavam-se as necessidades da Corte instalada na Colocircnia quanto agrave
instruccedilatildeo de sua elite dirigente
As medidas poliacutetico-administrativas de D Joatildeo foram programaacuteticas para
refuncionalizar a colocircnia como centro do Impeacuterio portuguecircs O que se inovou na
educaccedilatildeo contemplava as necessidades imediatas e praacuteticas com espaccedilos
geograacuteficos marcados ndash Bahia e principalmente Rio de Janeiro Na educaccedilatildeo
prevaleceu a homogeneidade instaurada pelos jesuiacutetas embora o sentido
humaniacutestico da educaccedilatildeo tenha sofrido algumas reorientaccedilotildees de ordem
pragmaacutetica
Este contexto o do reinado eacute o nascedouro contudo de uma cultura
cientiacutefica brasileira apesar de natildeo vingar nenhuma universidade e apesar de natildeo se
instalar escolas voltadas para a pesquisa cientiacutefica (OLIVEIRA 2005 p 106)
Surgiram faculdades e a pesquisa foi um processo de instauraccedilatildeo mais lenta
posterior
A educaccedilatildeo brasileira nesses termos tem seu primeiro esboccedilo sistemaacutetico
a partir de um ensino primaacuterio em continuidade agraves escolas de ler e escrever de um
ensino secundaacuterio preparatoacuterio para o ensino superior sendo que por sinal tem
inauguradas as primeiras instituiccedilotildees em solo brasileiro devido ao mesmo bloqueio
continental que trouxe a Corte portuguesa para o Brasil O ensino superior ateacute
entatildeo estava completamente erradicado dos planos da colonizaccedilatildeo portuguesa no
sentido de tolher qualquer iniciativa para a independecircncia poliacutetica ou cultural apesar
de diversas tentativas para sua implementaccedilatildeo seja pelos jesuiacutetas com iniciativas
em Salvador Olinda Rio de Janeiro e Satildeo Paulo que talvez pudessem ter esboccedilado
o iniacutecio do ensino superior na colocircnia seja a intenccedilatildeo dos inconfidentes mineiros
(FAacuteVERO 2006)
O ensino cientiacutefico pelo menos no tocante ao aspecto teacutecnico foi
introduzido por meio de diversas escolas de ensino superior Na Bahia surgia um
Curso Meacutedico de Cirurgia em 1808 aos quais se seguiriam cursos de Agricultura
(1812) Comeacutercio (1809) Quiacutemica (1817) e Desenho Teacutecnico (1818) No Hospital
Militar do Rio de Janeiro se instituiu um Curso de Anatomia Cirurgia e Medicina
(1808-1909) seguindo-se a implantaccedilatildeo de outros Cursos Quiacutemica (1812)
Agricultura (1814) Ciecircncias Artes e Ofiacutecios (1816) ndash (COLESANTI 1984 FAacuteVERO
2006) Tratava-se de cursos e academias profissionalizantes distantes do modelo
europeu de ensino superior As atividades meacutedicas as edificaccedilotildees as bases da
economia (agricultura e comeacutercio) respondem agraves necessidades iniciais ao que
Neva Collaccedilo (2006) denominam de ldquocorporaccedilotildees de ofiacuteciordquo Somente apoacutes a
independecircncia (1822) por exemplo surgiram cursos juriacutedicos e outros ndash em um
momento no qual mais que de teacutecnica necessitava-se de pensamentos e ideias
para erigir e consolidar a naccedilatildeo a qual natildeo dispensaria um iacutendice de burocracia
para implementar a constituiccedilatildeo e organizar a administraccedilatildeo puacuteblica
Eacute notaacutevel nesse periacuteodo a tutela do Estado no arregimento da educaccedilatildeo
brasileira para aleacutem da tutela da Igreja e de iniciativas particulares vigentes entatildeo
Permaneciam poreacutem o lastro da preparaccedilatildeo teacutecnica antes percebido nas escolas
de ler e escrever (no sentido de uma instrumentalizaccedilatildeo rudimentar para produzir
aptos agrave leitura agrave escrita e ao caacutelculo baacutesico) continuando agora no ensino
superior Nessa tutela contudo foram muitas as inovaccedilotildees dentre elas a condizente
ao livro
A questatildeo do livro de fato ganhou status e referecircncia especiacuteficos no
periacuteodo joanino tanto em termos de produccedilatildeo material quanto de elaboraccedilatildeo Na
situaccedilatildeo educacional o livro assumiu uma funccedilatildeo no ordenamento em um cenaacuterio
destituiacutedo desde a implementaccedilatildeo das aulas reacutegias
Houve necessidade de formular um novo saber escolar substituindo o Ratio Studiorum com seu minucioso meacutetodo e regras pormenorizadas dos jesuiacutetas e das ordens religiosas que os seguiam por um outro projeto pouco detalhado nos conteuacutedos e meacutetodos bem como o problema de transmiti-lo a um corpo docente leigo que passaria a ser remunerado compondo o quadro do funcionalismo puacuteblico (BITTENCOURT 2008 p 28)
O surgimento da Impressa Reacutegia em 1808 casa impressora para veicular
os atos administrativos e normativos da Coroa Portuguesa assim marcou o iniacutecio
de uma editoraccedilatildeo em territoacuterio brasileiro Toda publicaccedilatildeo ateacute 1821 ano em que D
Joatildeo VI retornou com sua corte a Portugal passava necessariamente pela censura
palaciana Ateacute o surgimento da Impressa Reacutegia qualquer trabalho de impressatildeo no
territoacuterio colonial era ilegal e apoacutes essa se estendeu como monopoacutelio ateacute 1822
Antes da Impressatildeo Reacutegia praticamente inexistia um mercado livreiro no
Brasil Em 1792 no Rio de Janeiro havia somente duas livrarias com oferta
paupeacuterrima de livros a maioria sobre medicina e religiatildeo Os tiacutetulos mais
interessantes agrave populaccedilatildeo letrada (e proibidos) adentravam as fronteiras da colocircnia
por contrabando promovido por ingleses franceses e holandeses (HALLEWELL
2005) esclarecimento ilegal cujos frutos a coroa portuguesa sempre temeu dentre
os quais a Inconfidecircncia severamente reprimida Mesmo a Biacuteblia em vernaacuteculo era
um tiacutetulo proibido
Em 1808 permaneciam duas livrarias estabelecidas na sede da colocircnia ndash
ano inicial de transformaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais inerentes agrave
chegada da corte portuguesa ao Brasil Como sintoma dessas transformaccedilotildees no
ano seguinte 1809 o nuacutemero de livrarias passou para cinco alcanccedilando 12 em
1816 Para evidenciar um pouco mais a evoluccedilatildeo intelectual do Brasil assinala-se
que em 1890 havia no Rio de Janeiro 45 livrarias 67 tipografias e 16 litografias
bem como trecircs fundidores de tipos (HALLEWELL 2005) Estes nuacutemeros revelam
natildeo soacute o crescimento da atividade econocircmica e cultural ao longo do seacuteculo XIX pois
expressam e foram alimentadas por diversas atividades primeiro o interesse pela
poliacutetica nacional que continuamente soergueu uma imprensa nacional segundo a
implantaccedilatildeo e o fortalecimento igualmente contiacutenuos de uma estrutura educacional
que nunca em tempos de modernidade prescindiu de livros ou materiais impressos
de leitura
A censura intelectual anterior ao periacuteodo joanino estendia-se agrave proibiccedilatildeo
completa de atividades graacuteficas antes de 1808 e a partir de entatildeo ao monopoacutelio
governamental sobre a impressatildeo com a instauraccedilatildeo da Impressatildeo Reacutegia que
perdurou ateacute 1821 quando foi permitida a instalaccedilatildeo de graacuteficas privadas no paiacutes A
exceccedilatildeo legal a esse monopoacutelio talvez seja apenas Salvador onde desde 1811
publicavam-se livros impressos com permissatildeo governamental com autorizaccedilatildeo de
D Joatildeo VI para o tipoacutegrafo Manoel Antocircnio da Silva Serva (MORAES 1975)
Outra explicaccedilatildeo para natildeo haver implantaccedilatildeo de tipografias no Brasil ateacutem-
se ao temor de uma concorrecircncia ou proteccedilatildeo ao mercado metropolitano esta
estrateacutegia mercantilista foi por exemplo outra razatildeo apresentada pelo governo para
abortar a iniciativa de um graacutefico portuguecircs Isidoro da Fonseca que em 1747
instalara no Brasil sua oficina e iniciara trabalhos graacuteficos (MORAES 1975) Outro
mecanismo seria uma questatildeo juriacutedica relativa agraves licenccedilas governamentais que um
texto necessitava para vir a puacuteblico uma vez que a mesa censoacuteria ndash eclesiaacutestica e
civil ndash estava sediada em Lisboa
Para driblar a censura e o monopoacutelio havia em Londres uma induacutestria
editorial em liacutengua portuguesa paralela agrave outra na Franccedila abastecendo ambas o
contrabando de livros para o Brasil Essa induacutestria permaneceu apoacutes o fim da
censura e do monopoacutelio por razatildeo de custos (acesso a maacutequinas mateacuteria-prima
matildeo de obra especializada) era mais barato imprimir na Europa do que no Brasil
passando o mercado editorial inglecircs e francecircs a mercado graacutefico tambeacutem sendo
presenccedilas marcantes ateacute a deacutecada de 1930 Um expressivo volume de livros
didaacuteticos de Geografia foi impresso fora do Brasil embora editado no paiacutes
De qualquer forma a Impressatildeo Reacutegia inaugurou as bases editoriais de
livros de interesse agrave Geografia e seu ensino no Brasil Hallewell (2005 p 114) sobre
essa atividade diz
Muitos dos ldquotrabalhos uacuteteisrdquo [] estavam direta ou indiretamente relacionados com problemas de interesse do governo economia poliacutetica geografia agrimensura medicina sauacutede puacuteblica ateacute desenho e astronomia pois eram mateacuterias do curriacuteculo da Academia Militar
Realmente dentre os volumes do cataacutelogo editorial da Impressatildeo Reacutegia
chamam atenccedilatildeo alguns tiacutetulos de maior ou menor importacircncia agrave Geografia
integrantes da gecircnese da histoacuteria e do ensino brasileiro desta A esse propoacutesito haacute
dois atos inaugurais em termos bibliograacuteficos para a Geografia brasileira e seu
ensino o primeiro livro didaacutetico com conteuacutedos geograacuteficos os Elementos de
Astronomia Para uso dos alumnos da Academia Real Militar de Arauacutejo Guimaratildees
(1814) e o primeiro livro a sistematizar conhecimentos geograacuteficos sobre o Brasil
Corografia braziacutelica ou relaccedilatildeo histoacuterico-geograacutefica do reino do Brazil composta a
sua magestade fideliacutessima por hum presbitero secular do gram priorado do Crato do
Padre Manoel Ayres de Casal (1817a 1817b) Aleacutem desses livros haacute um outro com
fins propriamente didaacuteticos que faz menccedilatildeo agrave Geografia dentre outros temas
Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios
as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal
e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa
Pereira
Em um prospecto geral a Impressatildeo Reacutegia teve um significado para aleacutem de
atender as necessidades graacuteficas da administraccedilatildeo puacuteblica Com as guerras
napoleocircnicas e por conseguinte com o bloqueio continental importar ou editar
livros na Europa ficou difiacutecil Eacute por esse motivo que o cataacutelogo da Impressatildeo Reacutegia
incluiu manuais didaacuteticos Ateacute entatildeo quando presentes no ensino eram importados
importaccedilatildeo que nunca arrefeceu poreacutem tiacutetulos nacionais ou compilaccedilotildees nacionais
passaram a ser agregadas e nesse processo se diferenciam os livros de Histoacuteria e
Geografia sendo que estes conforme demonstrado no capiacutetulo anterior foram
sobretudo nacionais Com o fim da instabilidade internacional e com o
restabelecimento das importaccedilotildees a produccedilatildeo de livros didaacuteticos permaneceu e
progrediu ganhando um amplo impulso na uacuteltima metade do seacuteculo XIX
Esse cenaacuterio editorial apoacuteia-se em diversos fatores dentre os quais
evidencio o pequeno mercado da educaccedilatildeo sem dinacircmica suficiente para
impulsionar ativos comerciais a metodologia de ensino centrada na coacutepia e na
memorizaccedilatildeo de liccedilotildees que dispensavam a utilizaccedilatildeo de livros pelos alunos no
maacuteximo se exigindo essa posse do professor Um terceiro fator a este propoacutesito eacute
visiacutevel na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira a qual foi estruturada a partir de um centro
o ensino superior e por extensatildeo o ensino secundaacuterio
Conforme demonstrado anteriormente as primeiras determinaccedilotildees
governamentais nas duas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX voltaram-se para
cursos de formaccedilatildeo profissional permanecendo o ensino secundaacuterio na claacutessica
constituiccedilatildeo de classes independentes ndash as ldquoaulas avulsasrdquo ndash ao passo que o ensino
primaacuterio natildeo se distanciou das aulas de ler e escrever Mesmo apoacutes o iniacutecio do
periacuteodo republicano a preocupaccedilatildeo do governo estava fixada no ensino superior e
secundaacuterio haja vista as diversas reformas educacionais vigorantes por todo o
periacuteodo em anaacutelise
Visualizar o raiar do ensino de Geografia no Brasil no periacuteodo joanino
significa entrever as necessidades pedagoacutegicas engendradas em alguns cursos do
ensino superior especificamente na Academia Militar
331 Academia Real Militar do Rio de Janeiro (1810) a primeira explicitaccedilatildeo da Geografia como disciplina
A demanda curricular do ensino superior determina a demanda das
formaccedilotildees de base quando esta tem por alvo o ingresso do aluno naquela O ensino
de Geografia no Brasil sobretudo no ensino secundaacuterio dentre vaacuterios
pressupostos tem o fato de ser objeto de exame para ingresso nas faculdades de
Direito a partir de 1831 (HAIDAR 1972 VLACH 1988) Em 1827 haviam sido
fundadas as Faculdades de Direito de Satildeo Paulo e Olinda jaacute em um segundo
movimento do estabelecimento do ensino superior brasileiro O ensino de Geografia
foi proponente no surgimento da Geografia como uma ciecircncia institucional no Brasil
Todavia antes de ser uma ciecircncia isto eacute uma aacuterea do conhecimento com objeto
corpo teoacuterico-metodoloacutegico e espaccedilo institucional independente o que viria a ocorrer
apenas na deacutecada de 1930 e antes de ser uma disciplina estaacutevel no ensino
secundaacuterio e posteriormente no ensino elementar foi disciplina autocircnoma do
ensino superior ainda no periacuteodo joanino Este fato praticamente ainda natildeo foi
abordado na bibliografia referencial sobre o ensino de Geografia Deve ser
mencionado pois tem uma relaccedilatildeo muito proacutexima com o desenvolvimento posterior
da disciplina e da literatura didaacutetica de Geografia
Dessa forma de um saber auxiliar sobretudo em cursos secundaacuterios como
visto no ensino jesuiacutetico a Geografia integrou o processo de introduccedilatildeo do ensino
superior no paiacutes bem como a introduccedilatildeo desse ensino no movimento cientiacutefico
testemunhado nas escolas teacutecnicas do ensino superior iniciantes apoacutes a chegada da
corte portuguesa ao Brasil
Os primeiros cursos a receberem os conteuacutedos geograacuteficos de forma
independente foram da Academia Real Militar do Rio de Janeiro63 Esta instituiccedilatildeo
fundada em 04 de dezembro de 1810 por carta reacutegia foi inaugurada em 23 de abril
de 1811 num contexto que respondia agrave criaccedilatildeo dessas academias na Europa e na
instauraccedilatildeo do ensino superior na colocircnia brasileira (MOACYR 1936) Foi a primeira
escola de engenharia do paiacutes respondendo por diversos nomes mais tarde
Imperial Academia Militar (1822) Academia Militar da Corte (1832) Escola Militar
(1840) Na deacutecada de 1850 houve um desmembramento entre a formaccedilatildeo dos
militares e a formaccedilatildeo em engenharia consolidada apoacutes a Guerra do Paraguai
(1864-1870) pelo Decreto 5529 de 17 de janeiro de 1874 que liberou o exeacutercito
brasileiro da formaccedilatildeo de engenheiros centralizando institucionalmente a formaccedilatildeo
de militares (LUCENA 2005) Dessa forma a antiga Academia Real Militar que jaacute
natildeo respondia a esse nome desmembrou-se em instituiccedilotildees outras como em 1858
a Escola Central que originaria a atual politeacutecnica da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (ESCOLA POLITEacuteCNICA 2011) a Escola Militar da Praia Vermelha a
Escola Superior de Guerra (1890)64 a Escola Astronocircmica e de Engenharia
Geograacutefica (1890) e outras denominaccedilotildees e instituiccedilotildees A Academia Real Militar
63
A Real Academia natildeo foi a primeira experiecircncia da colocircnia nesse sentido Cerca de duas deacutecadas antes exatamente em 1792 a metroacutepole portuguesa fundou no Rio de Janeiro a Real Academia da Artilharia Fortificaccedilatildeo e Desenho da cidade do Rio de Janeiro para formar soldados da infantaria cavalaria e artilharia da cidade bem como formar engenheiros e arquitetos para construir zelar e defender as fortificaccedilotildees aleacutem de outras construccedilotildees civis Poreacutem a experiecircncia da Real Academia foi muito mais ampla
64 Esta se diferencia da tambeacutem Escola Superior de Guerra - ESG fundada em 1949 pelos
geopoliacuteticos militares brasileiros
assim eacute a base histoacuterica de algumas instituiccedilotildees que sobrevivem na atualidade
como a citada Politeacutecnica da UFRJ e o Instituto Militar de Engenharia ndash IME
As academias militares assim como as sociedades cientiacuteficas foram alguns
dos efeitos imediatos e influentes da nova mentalidade intelectual e cultural
emergente na Europa apoacutes o seacuteculo XVIII que fundamentou o surgimento do
pensamento e da ciecircncia moderna
Espaccedilos de formaccedilatildeo cientiacutefica essas academias militares possibilitaram a formaccedilatildeo de um novo tipo de oficial atraveacutes de curriacuteculos e diretrizes pedagoacutegico-cientiacuteficos que eram verdadeiros porta-vozes de um novo modelo cientiacutefico - que privilegiava a observaccedilatildeo e a experimentaccedilatildeo - resultante da fusatildeo da matemaacutetica e da fiacutesica sob uma perspectiva praacutetica (DUARTE 2003 p 241)
Em Portugal vaacuterias academias surgiram na ampla reforma do periacuteodo
pombalino cuja inovaccedilatildeo no ensino superior portuguecircs conta com a criaccedilatildeo de
faculdades de matemaacutetica ciecircncia de grande impacto nos estudos militares Inicia
portanto na cultura luso-brasileira o arqueacutetipo do cientificismo como forma
modernizadora introduzida pelo Marquecircs de Pombal intermediada natildeo raras vezes
por militares processo que no Brasil teraacute mais de 200 anos de influecircncia notaacutevel ldquoo
Positivismo brasileiro tornou-se o desdobramento natural da tradiccedilatildeo cientificista
iniciada sob Pombal Mais que isto transformou-se no fundamento doutrinaacuterio do
autoritarismo republicano []rdquo (PAIM 2002 p 1) O Marquecircs de Pombal foi
expoente de um movimento cultural que perpassou as elites portuguesas no qual se
incluiacutea a corrente filosoacutefica do jaacute mencionado empirismo mitigado que tentou a
superaccedilatildeo no acircmbito do ensino superior do aristotelismo Ao passo que em outros
paiacuteses filoacutesofos como Hume Locke Kant em torno do conhecimento promoviam
um debate intenso a que Kant nos seus Prolegocircmenos se referiu a si mesmo
nesse processo como o despertar de um ldquosono dogmaacuteticordquo em Portugal natildeo se
pretendeu ir e natildeo se foi tatildeo longe Mesmo assim esse movimento opocircs-se ao
ensino escolaacutestico e ao monopoacutelio educacional dos jesuiacutetas promovendo uma
concepccedilatildeo de filosofia que tivesse alguma identificaccedilatildeo com a ciecircncia aplicada no
sentido de modernizar o Estado portuguecircs Um conjunto de accedilotildees despoacuteticas pois
centrado nas necessidades do Estado natildeo da naccedilatildeo portuguesa No exemplo maior
de um pragmatismo absoluto o empirismo mitigado reduziu a filosofia agrave ciecircncia e a
ciecircncia agraves aplicaccedilotildees em um gesto necessariamente simploacuterio e foi o esteio
principal para a reformulaccedilatildeo da Universidade de Coimbra e do Coleacutegio dos Nobres
Nesse sentido a Geografia foi uma das disciplinas de rompimento com a
praacutetica pedagoacutegica escolaacutestica compondo o processo de renovaccedilatildeo do ensino visto
como cientiacutefico
Este movimento acompanhou a corte portuguesa ao Brasil em 1808 e
influenciou amplamente os intelectuais brasileiros e os portugueses migrados que
aqui atuaram fundamentando as escolas de ensino superior que surgiram no
reinado Tais eram as influecircncias do Conde de Linhares D Rodrigo de Souza
Coutinho (1755-1812) organizador da Academia Real Militar do Rio de Janeiro e
ex-aluno do Coleacutegio de Nobres e da Universidade de Coimbra Tratava-se da
aplicaccedilatildeo da ldquoaritmeacutetica poliacuteticardquo de Pombal conforme Rodriacuteguez (2010 p 3)
a) o Estado empresaacuterio com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a riqueza da naccedilatildeo b) o Estado com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a ordem poliacutetica e a moral dos cidadatildeos c) o Estado ainda com o auxiacutelio da ciecircncia aplicada garante a formaccedilatildeo da elite burocraacutetico-teacutecnica de que precisa
Ainda de acordo com Rodriacuteguez (2010 p 4-5)
A ideacuteia cientificista em siacutentese surgira em Portugal sob o marquecircs de Pombal na segunda metade do seacuteculo XVIII como alternativa modernizadora que substituiu a crenccedila na tradiccedilatildeo religiosa sobre a qual ateacute entatildeo assentava o poder patrimonial do Estado Em que pese o caraacuteter modernizador da reforma pombalina em nada modificou o esquema concentrado do poder patrimonial natildeo surgira entatildeo da queda do absolutismo teocraacutetico um regime de democracia representativa como tinha acontecido na Inglaterra apoacutes a Revoluccedilatildeo Gloriosa de 1688 Apareceu assim como alternativa modernizadora no seio da cultura lusa o despotismo ilustrado ou patrimonialismo modernizador que exerceria forte influxo no desenvolvimento do cientificismo no Brasil
Na instacircncia do ensino superior brasileiro observou-se um afastamento do saber
humaniacutestico que calccedilou tradicionalmente as formaccedilotildees de base por meio dos
jesuiacutetas continuado agrave sua maneira nas aulas reacutegias e na acircnsia das necessidades
profissionalizantes visou agrave aplicaccedilatildeo maacutexima que as ciecircncias do tempo permitiriam
Conveacutem lembrar que esta anaacutelise refere-se ao periacuteodo joanino Apoacutes a
Independecircncia na aurora do Impeacuterio cursos juriacutedicos e outros humanistas foram
instituiacutedos com forte teor literaacuterio apresentando uma continuidade da tradiccedilatildeo
estabelecida pelos jesuiacutetas e a custo mantida apoacutes eles e que confrontou as
rupturas que o ensino superior joanino incorporaria nesse cenaacuterio
O objetivo da Academia Real Militar do Rio de Janeiro era a formaccedilatildeo de
oficiais militares e oficiais teacutecnicos com uma centralidade bem especiacutefica o territoacuterio
e a nascente infraestrutura brasileira O espaccedilo geograacutefico da Colocircnia pela primeira
vez a partir de uma instituiccedilatildeo firmada no espaccedilo brasileiro detinha a atenccedilatildeo de um
novo olhar o olhar do Estado diferente das percepccedilotildees anteriores essencialmente
econocircmicas Seu curriacuteculo pautava-se nas ciecircncias exatas aplicadas para formar
oficiais de artilharia infantaria e cavalaria engenheiros (inclusive os denominados
ldquoengenheiros geoacutegrafosrdquo) e topoacutegrafos habilitados a administrar a construccedilatildeo civil
conforme enunciava os Estatutos da Academia
[] Faccedilo saber a todos os que esta Carta virem que Tendo consideraccedilatildeo ao muito que interessa ao Meu Real Serviccedilo ao bem puacuteblico dos Meus Vassalos e agrave defesa e seguranccedila dos meus vastos Domiacutenios que se estabeleccedila no Brasil e na minha atual Corte e cidade do Rio de Janeiro um curso regular das Ciecircncias Exatas e de Observaccedilatildeo assim como de todas aquelas que satildeo aplicaccedilotildees das mesmas aos Estudos Militares e Praacuteticos que formam a Ciecircncia Militar em todos os seus difiacuteceis e interessantes ramos de maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem haacutebeis oficiais de Artilharia Engenharia e ainda mesmo Oficiais da Classe de Engenheiros Geoacutegrafos e Topoacutegrafos que possam tambeacutem ter o uacutetil emprego de dirigir objetos administrativos de Minas de Caminhos Portos Canais Pontes Fontes e Calccediladas Hei por bem que na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro se estabeleccedila uma Academia Real Militar para um Curso completo de Ciecircncias de Observaccedilatildeo quais a Fiacutesica Quiacutemica Mineralogia Metalurgia e Historia Natural que compreenderaacute o Reino Vegetal e Animal e das Ciecircncias Militares em toda a sua extensatildeo tanto de Taacutetica como de Fortificaccedilatildeo e Artilharia [] Dada no Palaacutecio do Rio de Janeiro em quatro de Dezembro de mil oitocentos e dez PRIacuteNCIPE Com Guarda Conde de Linhares (BRASIL 2004 p 3)
Somente apoacutes 1874 a jaacute entatildeo Escola Central desligou-se das atividades militares
vinculando-se agrave Secretaria do Impeacuterio para formar exclusivamente engenheiros civis
Para graduar engenheiro-geoacutegrafo nas deacutecadas finais do seacuteculo XIX o aluno
deveria seguir primeiramente o curso geral cujo curriacuteculo era
1ordm ano Aacutelgebra (teoria das equaccedilotildees e teoria e uso dos logaritmos) Geometria Analiacutetica Geometria no Espaccedilo Trigonometria Retiliacutenea Fiacutesica Experimental Meteorologia Desenho Geomeacutetrico e Topograacutefico
2ordm ano Caacutelculo Diferencial e Caacutelculo Integral Mecacircnica Racional e Aplicaccedilatildeo agraves Maacutequinas Elementares Geometria Descritiva Trabalhos Graacuteficos a respeito da soluccedilatildeo dos principais problemas de Geometria
Descritiva Quiacutemica Inorgacircnica Noccedilotildees de Mineralogia Botacircnica Zoologia (CUNHA 2007 p 96-97)
Apoacutes o curso geral o acadecircmico deveria optar por uma especializaccedilatildeo A do
engenheiro-geoacutegrafo tinha duraccedilatildeo de um ano e correspondia ao segundo ano do
Curso de Ciecircncias Fiacutesicas e Matemaacuteticas ldquo2ordm ano Trigonometria Esfeacuterica
Astronomia (observaccedilotildees astronocircmicas e caacutelculos de astronomia praacutetica)
Construccedilatildeo e desenho de Cartas Geograacuteficas Topografia Geodeacutesia Hidrografiardquo
(CUNHA 2007 p 97) Formaccedilatildeo que natildeo fugia muito da proposta inicial da
Academia
De fato o pragmatismo da eacutepoca conduzia os militares a uma
profissionalizaccedilatildeo das carreiras com postos oficiais ocupados por homens do povo
natildeo mais exclusivamente pela nobreza O poderio militar ampliava sua dimensatildeo de
utilidade ao Estado Para isso o Estatuto que instituiu a Academia Militar prescrevia
um curso com duraccedilatildeo de sete anos para os oficiais de artilharia e engenharia com
disciplinas dos domiacutenios da Matemaacutetica e da Fiacutesica desenho disciplinas de
aplicaccedilotildees a obras de engenharia ciecircncias naturais No quarto ano os Estatutos
preconizavam Trigonometria Esfeacuterica Fiacutesica Astronomia Geodeacutesia Geografia
Geral e Desenho
O ensino militar no Brasil em niacutevel superior estaacute dentre os primeiros a
desenvolver-se sob orientaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e nele a Geografia
encontrou um lugar Lembrando poreacutem que essas referecircncias cientiacuteficas natildeo eram
ainda as que seriam instituiacutedas no Brasil nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX no
caso da Geografia
O que se teria ensinado sob a eacutegide de uma Geografia Geral Qual a
formaccedilatildeo agregada aos engenheiros geoacutegrafos Os militares propunham um
conhecimento mais sistemaacutetico do territoacuterio brasileiro a ser conhecido e produzido
suas cartas sua histoacuteria constitutiva a organizaccedilatildeo urbana os locais estrateacutegicos
o lugar do territoacuterio brasileiro no contexto do mundo Tais espaccedilos eram alvo da
atividade dos egressos da academia Desde o seacuteculo anterior o governo portuguecircs
vinha realizando trabalhos sobre o territoacuterio brasileiro o que pode supor que a
transferecircncia da Corte em 1808 natildeo foi um rompante a despeito da decisatildeo
repentina de embarque
Durante a segunda metade do seacuteculo XVIII expandiram-se ainda no Brasil as obras de cartografia e demais levantamentos realizados pelos engenheiros portugueses em missatildeo oficial que produziram um conjunto de informaccedilotildees detalhadas e ricas acerca das principais caracteriacutesticas fiacutesicas do territoacuterio cujo objetivo primordial era garantir o controle sobre as fronteiras e os recursos naturais [] Durante grande parte do periacuteodo colonial da histoacuteria brasileira a presenccedila de teacutecnicos das mais variadas formaccedilotildees foi [] uma das estrateacutegias baacutesicas de afirmaccedilatildeo do mando metropolitano Em caso dos engenheiros militares em especial essa funccedilatildeo ficava ainda mais evidente Coube exatamente a essa categoria profissional a determinaccedilatildeo de limites e o reconhecimento de aspectos topograacuteficos fundamentais do imenso territoacuterio da Ameacuterica portuguesa As expediccedilotildees comandadas pelos engenheiros militares portugueses tinham ainda um exerciacutecio essencial ndash levantar as condiccedilotildees fiacutesicas para a construccedilatildeo das fortalezas para a defesa do paiacutes (CURY 2002 p 253-254)
Atividades tais evidentemente natildeo poderiam ser desconsideradas por
qualquer administraccedilatildeo puacuteblica Em 1750 Portugal e Espanha haviam assinado o
Tratado de Madri e outro em 1777 o Tratado de Santo Ildefonso Esses tratados
por si soacute abriam um enorme flanco de trabalho no que diz respeito ao territoacuterio da
Colocircnia E havia no iniacutecio dos Oitocentos o conflito napoleocircnico que deixava em
vigilacircncia o Estado portuguecircs
O modelo acadecircmico francecircs foi influente na formaccedilatildeo da Real Academia
Militar Os livros mandados adotar pela Carta Reacutegia que a criou eram
majoritariamente franceses A Geografia contextualizava-se no plano de estudo do
espaccedilo o ldquosistema do mundordquo compreendido fiacutesica e matematicamente com
noccedilotildees precisas de localizaccedilatildeo e representaccedilatildeo acrescendo-se noccedilotildees gerais da
Geografia descritiva Dos autores indicados para esse programa tinham-se os
matemaacuteticos franceses Adrien-Marie Le Gendre (1752-1833) e Nicolas Louis La
Caille (1713-1762) e o fiacutesico francecircs Pierre-Simon de La Place (1749-1827) aos
quais se acrescia a obra do religioso e geoacutegrafo francecircs Abbeacute Nicolle de La Croix
(1704-1760) e do escocecircs John Pinkerton (1758-1826)
O Lente do quarto ano explicaraacute a trigonometria espherica de le Gendre em toda a sua extensatildeo e os princiacutepios de oacutetica catoacuteptrica e dioacuteptrica daraacute noccedilotildees de toda a qualidade de oacuteculos de refraccedilatildeo e de reflexatildeo e depois passaraacute a explicar o sistema do mundo para o que muito se serviraacute das obras de la Caille e de Ia Lande e da mecacircnica celeste de la Place natildeo entrando nas suas sublimes teorias porque para isso lhe faltaria o tempo mas mostrando os grandes resultados que ele tatildeo elegantemente expocircs e dali explicando todos os meacutetodos para as determinaccedilotildees das latitudes e longitudes no mar e na terra fazendo todas as observaccedilotildees com a maior regularidade e mostrando as aplicaccedilotildees convenientes as medidas
geodeacutesicas que novamente daraacute em toda a sua extensatildeo Exporaacute igualmente uma noccedilatildeo das cartas geograacuteficas das diversas projeccedilotildees e das suas aplicaccedilotildees as cartas geograacuteficas e as topograacuteficas explicando tambeacutem os princiacutepios das cartas mariacutetimas reduzidas e do novo meacutetodo com que foi construiacuteda a carta de Franccedila dando tambeacutem noccedilotildees gerais sobre a geografia do globo e suas divisotildees As obras de la Place de la Lande de la Caille e a introduccedilatildeo de la Croix a geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compendio que deve formar e no qual ha de procurar encher toda a extensatildeo destas vistas (BRASIL 2004 p 6 grifos meus)
O Abbeacute Nicolle de la Croix foi o autor da Geacuteographie moderne et universelle
preacutecedeacutee drsquoun Traiteacute de la sphegravere et drsquoun preacutecis drsquoastronomiehellip avec un abreacutegeacute de
la geacuteographie ancienne sacreacutee et eccleacutesiastiquehellip que em 1800 tinha uma nova
ediccedilatildeo refundida por Victor Comeiras em circulaccedilatildeo nas escolas nacionais da
Franccedila como base para cursos de Geografia Possivelmente a Carta refere-se ao
ldquoTratado da Esferardquo texto introdutoacuterio agrave obra divulgado e trabalhado no ensino
desde os jesuiacutetas
A principal obra de Pinkerton por sua vez ndash autor que na Carta eacute remetido
a um aproveitamento maior ndash intitula-se Modern geography a description of the
empires kingdoms states and colonies with the oceans seas and isles in all parts
of the world including the most recent discoveries and political alterations digested
on a new plan obra publicada em dois tomos em 1802 e 1804 de ampla circulaccedilatildeo
na Europa em princiacutepio do seacuteculo XIX com traduccedilotildees para o francecircs e para o
italiano ainda na primeira deacutecada daquele seacuteculo Possivelmente uma vez que a
Carta natildeo explicita o tiacutetulo da obra indicada esta seja a traduccedilatildeo francesa intitulada
Abreacutegeacute de la Geacuteographie Moderne Redigeacutee sur un Nouveau Plan refundida em
1805 por J-N Buache tambeacutem seu tradutor tendo uma segunda ediccedilatildeo ampliada
em 1806 Leva-me a crer tenha sido esta traduccedilatildeo adotada pois aleacutem do influente
modelo francecircs na articulaccedilatildeo da Academia esta obra praticamente remodelada foi
adotada pelo ensino francecircs
Fait sur la traduction franccedilaise de la Geacuteographie moderne de cet auteur et augmenteacute des deacutecouvertes puiseacutees dans les Voyages les plus reacutecens orneacute de neuf cartes revues par J N Buache de lrsquoInstitut National de France [] Revue et corrigeacutee diviseacutee quant agrave lrsquoAllemagne et agrave lrsquoItalie drsquoapregraves le traiteacute de Presbourg de 1805 consideacuterablement augmenteacutee sur-tout relativement agrave la France agrave plusieurs Etats de lrsquoEurope et agrave lrsquoAfrique septentrionale termineacutee par des Eleacutements de Geacuteographie ancienne compareacutee fort eacutetendus disposeacutes dans un ordre nouveau et meacutethodique et speacutecialement adapteacutes agrave la Geacuteographie moderne de Pinkerton [] Ouvrage adopteacute par la
Commission de lrsquoInstruction publique et destineacute pour lrsquoenseignement des Lyceacutees et Eacutecoles secondaires
65
Uma raacutepida anaacutelise da Geografia de Pinkerton se faz necessaacuteria pois foi
influente no ensino de Geografia francecircs que por sua vez foi modelo do ensino de
Geografia brasileiro A obra de Pinkerton foi composta por uma introduccedilatildeo
astronocircmica (escrita pelo reverendo S Vince) seguida por unidades
correspondentes a cada um dos entatildeo quatro continentes ndash Europa Aacutesia Ameacuterica e
Aacutefrica subdividindo-se em capiacutetulos com cada paiacutes do continente Nas observaccedilotildees
preliminares eacute interessante a concepccedilatildeo geograacutefica apresentada se hoje quando
pensamos o mundo e seus territoacuterios pensamos o espaccedilo geograacutefico em sua
totalidade ndash e esta eacute a visatildeo da modernidade geograacutefica ndash a discussatildeo proposta por
Pinkerton poreacutem coloca a questatildeo da divisatildeo do objeto e do saber como uma das
preocupaccedilotildees fundamentais da Geografia possivelmente um debate iniciado a esse
tempo ldquoThe word Geography is derived from the Greek language and implies a
description of the earthrdquo66 O lexema ldquoearthrdquo aqui remontando a discussotildees da
Antiguidade estaacute transitando de ldquoterrardquo para ldquoplaneta Terrardquo O sentido de ldquoterrardquo na
derivaccedilatildeo do termo grego ldquoGeordquo natildeo se referia ao planeta jaacute que este natildeo era um
conceito construiacutedo pelos antigos ndash a totalidade deles eacute bem relativa em referecircncia agrave
mesma percepccedilatildeo no sentido moderno Assim conforme apresenta Pinkerton (1804
p 1) a Geografia contrastaria com a Hidrografia ldquo[] wich signifies a description of
the water that is of seas lakes rives ampc this including marine charts but in
general hydrography is rather regarded as a province of geographyrdquo67 (PINKERTON
1804 p 1) Estes fragmentos apresentam certa dubiedade de circunscriccedilatildeo e
objetividade da Geografia na transiccedilatildeo dos seacuteculos XVIII e XIX jaacute vista e nomeada
como uma ciecircncia testemunhando incertezas para as quais a Geografia Moderna
65
ldquoProduzido a partir da traduccedilatildeo francesa da Geografia moderna do autor e aumentado com as descobertas das viagens mais recentes ornado com nove mapas revista por J N Buache membro do Instituto Nacional da Franccedila [] Revisto e corrigido dividido quanto agrave Alemanha e agrave Itaacutelia de acordo com o Tratado de Presburgo de 1805 aumentado consideravelmente sobretudo em relaccedilatildeo agrave Franccedila e a vaacuterios paiacuteses da Europa e da Aacutefrica do Norte terminando com os Elementos de Geografia antiga comparada dispostos em ordem nova e metoacutedica e especialmente adaptados agrave Geografia Moderna de Pinkerton [] Obra adotada pela Comissatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica e destinada para o ensino dos Liceus e das Escolas Secundaacuteriasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)
66 A palavra Geografia deriva da liacutengua grega e significa a descriccedilatildeo da terra (Traduccedilatildeo da autora)
67 [] que significa uma descriccedilatildeo da aacutegua isto eacute dos mares lagos rios etc este incluindo cartas
mariacutetimas mas em geral a hidrografia eacute bastante considerada como uma proviacutencia da geografia (Traduccedilatildeo da autora)
apresentaria um avanccedilo mas por outro lado evidencia a Geografia Claacutessica em
gestos de independecircncia em relaccedilatildeo agrave Geografia Antiga como demonstra a
seguinte assertiva ldquoboth [Geografia e Hidrografia] were anciently considered along
with astronomy as parts of Cosmography wich aspired to delineate the universerdquo68
(PINKERTON 1804 p 1) Ainda outro problema de recorte e escala eacute colocado
ldquoGeography is more justly contrasted with Chorography wich illustrates a country or
province and still more with Topography wich describes a particular place or small
districtrdquo69 (PINKERTON 1804 p 1) No caminho de afirmaccedilatildeo de uma Geografia
cientiacutefica havia uma oscilaccedilatildeo entre a compreensatildeo da Cosmografia e da
Corografia e a tentativa de conciliaccedilatildeo denominava-se Geografia Geral
What is called General Geography embraces a wide view of the subject regarding the earth astronomically as a planet the grand divisions of land and water the winds tides metereoroly ampc and may extend to what is called the mechanical of part geography in directions for the construction of globes maps and charts
70 (PINKERTON 1804 p 1)
Dentre as demais subdivisotildees da Geografia evidenciadas por Pinkerton
tem-se a Geografia Sacra respaldada nas escrituras a Geografia Eclesiaacutestica a
compreender a administraccedilatildeo da Igreja a Geografia Fiacutesica ndash pelo autor tambeacutem
denominada Geologia Agrave parte todas essas consideraccedilotildees Pinkerton (1808 p 1-2)
apresenta a consideraccedilatildeo popular dessa ciecircncia da qual parece ocupar-se em sua
obra com fronteiras diluiacutedas para aleacutem do domiacutenio interior da Histoacuteria a saber
Geography populary considered is occupied in the description of the various regions of this globe chiefly as being divided among various nations and improved by human art industry If a scientific term were indispensable for this popular acceptation that of Historical Geography might be adopted not only from its professed subservience to history but because it is in fact a narrative so nearly approaching the historical that Herodotus and many other ancient historians have diversified theirs works with large portions of
68
ldquoAmbas [Geografia e Hidrografia] foram antigamente consideradas juntamente com a astronomia como partes da Cosmografia que aspirava delinear o universordquo (Traduccedilatildeo da autora)
69 ldquoA geografia mais aproximadamente contrasta com a corografia que ilustra um paiacutes ou proviacutencia
e ainda mais com a topografia que descreve um determinado lugar ou pequeno distritordquo (Traduccedilatildeo da autora)
70 ldquoO que eacute chamada de Geografia Geral abarca uma visatildeo ampla do assunto sobre a Terra como um
planeta no contexto astronocircmico as grandes divisotildees de terra e aacutegua os ventos as mareacutes a meteorologia etc podendo-se estender agrave construccedilatildeo mecacircnica da Geografia construccedilatildeo de globos mapas e cartasrdquo (Traduccedilatildeo da autora)
geography and the celebrated description of Germany by Tacitus contains most of the materials adopted in modern treatises of geography
71
A Geografia de Pinkerton inicia com consideraccedilotildees gerais sobre o continente
europeu passando a abordar a Inglaterra em quatro enfoques uma abordagem
preliminar sobre os nomes extensatildeo populaccedilatildeo e eacutepocas histoacutericas Geografia
Poliacutetica religiatildeo geografia eclesiaacutestica governo leis populaccedilatildeo colocircnias forccedilas
armadas diplomacia Geografia Civil costumes liacutengua literatura artes educaccedilatildeo
cidades edifiacutecios estradas induacutestrias e comeacutercio Geografia Natural clima solo e
agricultura rios lagos montanhas florestas botacircnica zoologia mineralogia aacuteguas
minerais curiosidades naturais Os demais continentes e paiacuteses satildeo inseridos com
variaccedilotildees nesse enquadramento descritivo
O sentido metodoloacutegico de Pinkerton assim eacute descrever os espaccedilos da
Terra tendo por princiacutepio sua divisatildeo poliacutetica apresentando a onomaacutestica a
estatiacutestica a hierarquia e a Histoacuteria como meios de fazer conhecidas as naccedilotildees
constituiacutedas do mundo de sua eacutepoca Agraves vezes alguns debates satildeo introduzidos
mas como efeitos colaterais sem compor o objetivo da sua constituiccedilatildeo discursiva
como por exemplo quando questiona e se mostra incerto se a populaccedilatildeo exterior agrave
Inglaterra aquela congregada nas colocircnias do impeacuterio seria ou natildeo populaccedilatildeo
inglesa em funccedilatildeo da possiacutevel natildeo permanecircncia da anexaccedilatildeo dos territoacuterios
ocupados
To enumeration of the inhabitants os England may be added many exterior colonies and settements the most important of wich are now in Asia but as the climate of Hindostan is rather adverse to European constitutions it may be doubt whether our settlements there though containing a considerable population can be considered as permanent colonies
72 (PINKERTON 1804
p 41)
71
ldquoA Geografia considerada popularmente ocupa-se da descriccedilatildeo das diversas regiotildees do globo principalmente quanto agrave divisatildeo das vaacuterias naccedilotildees do globo acrescida da produccedilatildeo humana Se um termo cientiacutefico for indispensaacutevel para esta aceitaccedilatildeo popular talvez a denominaccedilatildeo de Geografia Histoacuterica possa ser adotada mas natildeo pela sua subserviecircncia professa agrave histoacuteria mas porque eacute de fato uma narrativa muito aproximada do dizer histoacuterico jaacute que Heroacutedoto e muitos outros historiadores antigos diversificou seus trabalhos com grandes porccedilotildees de geografia tal qual a ceacutelebre descriccedilatildeo da Alemanha por Taacutecito que conteacutem a maioria das mateacuterias aprovadas nos tratados modernos de geografiardquo (Traduccedilatildeo da autora)
72 ldquoPara quantificaccedilatildeo dos habitantes da Inglaterra podem ser adicionados muitas colocircnias e
assentamentos exteriores dos quais os mais importantes estatildeo agora na Aacutesia mas como o clima no Sul Asiaacutetico eacute bastante adverso para as constituiccedilotildees europeias eacute duvidoso que estas colocircnias embora contendo uma populaccedilatildeo consideraacutevel possam ser consideradas como colocircnias permanentesrdquo (Traduccedilatildeo da autora)
Basicamente esta estrutura ldquocontinentenaccedilotildeesrdquo e ldquonaccedilotildeesGeografia
PoliacuteticaGeografia CivilGeografia Naturalrdquo eacute reproduzida como proposta para a
abordagem dos demais continentes e paiacuteses embora natildeo com a extensatildeo da
abordagem dada agrave Inglaterra ou agrave Franccedila na versatildeo adaptada da traduccedilatildeo
francesa
Os trabalhos de La Croix e Pinkerton enquadram-se na tradiccedilatildeo dos grandes
tratados (alguns denominados de Geografia Histoacuterica) atlas e dicionaacuterios
geograacuteficos que surgiram ao longo do seacuteculo XVIII momento em que o saber
geograacutefico dos antigos gregos romanos e outros foram reinterpretados nos
fundamentos cientiacuteficos do Iluminismo constituindo as contribuiccedilotildees uacuteltimas da
Geografia Claacutessica ndash performance anterior agrave Geografia Moderna
Os desdobramentos da Geografia de Pinkerton da sua inclusatildeo como base
para a disciplina da Academia Real Militar do filtro francecircs como modelo e influecircncia
ndash quadros gerais da Geografia Claacutessica ndash tiveram impactos na organizaccedilatildeo do
ensino de Geografia brasileiro ao longo do seacuteculo XIX Dessa fonte surgiratildeo
disciplinas como Astronomia Cosmografia Corografia Geografia Geral Geografia
Universal as Corografia Histoacutericas e seratildeo influentes para a Corografia do Brasil a
Geografia do Brasil Eacute possiacutevel que se natildeo somente Pinkerton mas outros autores
estejam dentre as leituras que referenciaram a primeira geografia brasileira a de
Ayres de Casal alguns anos apoacutes a fundaccedilatildeo da Academia
Kimble (2005) natildeo sem razatildeo denominou a Geografia como a ldquoCinderela
das Ciecircnciasrdquo pelo papel indefinido que cumpriu tanto entre os antigos quanto na
Idade Meacutedia A Geografia ndash saber que mesmo deslocado nunca foi menosprezado ndash
foi defendido como um dos ramos da fiacutesica (como queriam os platocircnicos) e tambeacutem
como um dos ramos da matemaacutetica aplicada (como queriam os aristoteacutelicos) sendo
que estas vertentes introduziram uma das tradiccedilotildees componentes da Geografia
Claacutessica a tradiccedilatildeo matemaacutetica no tratamento do espaccedilo e dos instrumentais
cartograacuteficos Por outro lado os relatos descritivos de outro grego Estrabatildeo na
ordem de trabalhos como o de Heroacutedoto fundaram outra tradiccedilatildeo revalorizada a
partir dos Quinhentos a Geografia como descriccedilatildeo dos povos dos costumes e das
formas de viver
Na Idade Meacutedia a inconsistecircncia de uma unidade para a Geografia tambeacutem
natildeo permitiu que fosse inclusa no Quadrivium (saberes matemaacuteticos constituiacutedos
pela aritmeacutetica muacutesica geometria e astronomia) nem no Trivium (gramaacutetica
dialeacutetica e retoacuterica) Um encaminhamento distinto poreacutem passou a deslocar os
saberes geograacuteficos desse impasse durante a Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
no processo de redescoberta das ciecircncias antigas e da revalorizaccedilatildeo destas na
proposiccedilatildeo das nascentes ciecircncias modernas as tradiccedilotildees de Ptolomeu e de
Estrabatildeo de certa forma se encontraram preanunciando a Geografia que seria
institucionalizada com meacutetodo e com um objeto mais definido (pelo menos no que
diz respeito agrave sua procura) na Alemanha no seacuteculo XIX Para isso foram as
Grandes Navegaccedilotildees o fator antecedente e decisivo a partir das quais ldquo[] um
renovado ardor pelas descobertas geograacuteficas se manifesta e apesar do estado
primitivo da arte da navegaccedilatildeo a aacuterea da lsquoterra coacutegnitarsquo foi ampliada rapidamenterdquo
(KIMBLE 2005 p 257) As ldquogeografias histoacutericasrdquo comeccedilavam a surgir
ultrapassando a simples produccedilatildeo dos documentos cartograacuteficos Delimitar os
espaccedilos e conhececirc-los estava na ordem do dia
Sem duacutevida eacute nestas circunstacircncias que podemos compreender a obra de
La Croix e principalmente a de Pinkerton e outras semelhantes que surgiram com
relativos valores dentre as quais podemos enquadrar a Corografia Brasiacutelica de
Ayres de Casal no caso brasileiro A obra de Casal certamente teve amplo impacto
por preencher uma lacuna importante no que diz respeito a uma sistematizaccedilatildeo dos
conhecimentos sobre o territoacuterio brasileiro
Em uma perspectiva oficial a obra de La Croix e de Pinkerton eacute a mais
antiga referecircncia geograacutefica recomendada pelo Estado para o ensino de Geografia
A Geografia estudada na Academia Militar foi aquela introduzida para as elites
dentre as quais alguns se tornaram futuros lentes do ensino secundaacuterio eou autores
dos livros textos de Geografia Compreender essa Geografia eacute testemunhar o
momento de fecundaccedilatildeo do ensino de Geografia brasileiro
Em um prospecto geral e embora direcionado ao Ensino Superior a Carta
Reacutegia de 04 de dezembro de 1810 tem outra importacircncia ainda para o livro didaacutetico
brasileiro Haacute neste documento uma formalizaccedilatildeo dos livros com o propoacutesito de
estudo na Colocircnia indicando naquele momento uma ponte entre autores de
referecircncia cientiacutefica formaccedilatildeo de curriacuteculo e formaccedilatildeo de uma literatura didaacutetica
propriamente dita Em contexto amplo define aacutereas que deveriam contemplar a
formaccedilatildeo dos engenheiros para o que a Academia foi criada mas natildeo lanccedila em
extensatildeo o curriacuteculo
Para a educaccedilatildeo a Carta Reacutegia reproduz manifestaccedilotildees discursivas que
estavam na ponta da reestruturaccedilatildeo da educaccedilatildeo colonial desde 1808 Para a
Geografia institui pela primeira vez seu ensino O modo de organizaccedilatildeo do ensino
superior teve reflexos na organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio e por extensatildeo do
ensino elementar natildeo em efeito imediato mas ao longo da trajetoacuteria inicial e
posterior da educaccedilatildeo brasileira
Considerando a Carta em um plano geral fiz recortes de fragmentos
discursivos desse documento para uma anaacutelise mais detalhada das orientaccedilotildees que
circunstanciam a emergecircncia de um ensino independente de Geografia no contexto
da educaccedilatildeo proposta
Fragmento 331173
O lente do primeiro ano [] formaraacute o compecircndio ao seu curso e depois explicaraacute a excelente Geometria Trigonometria Retiliacutenea de Le Gendre dando tambeacutem as primeiras noccedilotildees da Trigonometria Esfeacuterica []
Fragmento 3312
O lente deveraacute formar o seu compecircndio debaixo dos princiacutepios de Aacutelgebra Caacutelculo Diferencial e Integral de Le Croix e teraacute cuidado de ir adicionando todos os meacutetodos e novas descobertas que possam ir fazendo-se
Fragmento 3313
O lente do terceiro ano ensinaraacute os princiacutepios de Mecacircnica tanto na Estaacutetica como na Dinacircmica e os da Hidrodinacircmica tanto na Hidrostaacutetica como na Hidraacuteulica e regularaacute seu compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecem servindo-lhe de base aos princiacutepios rigorosos das duas ciecircncias a obra de Francoeur unindo-lhe as aplicaccedilotildees teoacutericas e praacuteticas que puder tirar das excelentes obras de Prony Abade Bossut Fabre e da obra de Gregory []
Fragmento 3314
Deveraacute tirar da obra de Bezout Robins Memoacuterias de Eulero tudo o que toca aos problemas dos projeacuteteis de que deveraacute dar todos os princiacutepios teoacutericos a fim que depois no ano de Artilharia natildeo tenham em tal mateacuteria a ocuparse senatildeo das aplicaccedilotildees praacuteticas deduzidas dos princiacutepios teoacutericos
73
Quando necessaacuterio sequenciar uma ordem de fragmentos para anaacutelise optei por organizar esse conjunto de dizeres pela numeraccedilatildeo da seccedilatildeo seguido de barra e numeraccedilatildeo crescente Os fragmentos natildeo sequenciados natildeo seratildeo numerados
Fragmento 3315
As obras de Laplace La Landre La Caille e introduccedilatildeo de La Croix e a Geografia de Pinkerton serviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda extensatildeo destas vistas []
Fragmento 3316
O lente de Fiacutesica formaraacute seu compecircndio sobre os elementos de Fiacutesica do Abade Hauy que nada deixam a desejar em tal mateacuteria quanto aos nossos conhecimentos atuais tendo tambeacutem em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das obras de outros ceacutelebres fiacutesicos
Fragmento 3317
Formaraacute o seu compecircndio sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteria seguindo muito agrave primeira parte Guy de Vernon e agrave uacuteltima a obra de Cessac as belas memoacuterias que se acham no Manual Topograacutefico que publica o Arquivo Militar de Franccedila
Fragmento 3318
O lente formaraacute seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obras servindo-se das de Guy de Vernon das Memoacuterias do Abade Bossut Muumlller etc (ESTATUTO 2004 p 5 6 e 7)
Nesses recortes indentificam-se primeiramente um conjunto de sujeitos
constitutivos da instituiccedilatildeo em fundamento e em seguida eacute possiacutevel distinguir um
conjunto de lexemas e sequecircncias discursivas cujos significados e sentidos
reconstituem concepccedilotildees e direccedilotildees propostas agrave educaccedilatildeo formal ao tempo do
estabelecimento da Academia Real Militar
Nos recortes ficam evidenciadas duas categorias de sujeitos os lentes e
diversos autores (Abade Bossut Abade Hauy Bezout Cessac Eulero Fabre
Francoeur Gregory Guy de Vernon La Caille La Landre Laplace Le Croix Le
Gendre Muumlller Pinkerton Prony Robins dentre os mencionados) Os primeiros os
lentes satildeo exortados a determinadas accedilotildees na proposiccedilatildeo de um curriacuteculo e de
suas materialidades a partir das obras dos autores O lexema compecircndio comparece
com um efeito de sentido duplo tanto se refere a uma organizaccedilatildeo dos conteuacutedos
quanto em modo de apreensatildeo agrave construccedilatildeo de materiais para subsidiar o estudo
das quais podemos supor anotaccedilotildees roteiros de aulas apostilas e mesmo os livros
didaacuteticos propriamente ditos Ambos os sentidos confluem deixando essa margem
para interpretaccedilatildeo em sequecircncias discursivas tais como ldquoformaraacute o seu compecircndio
sobre as melhores obras que tem aparecido sobre tatildeo importante mateacuteriardquo ldquoformaraacute
seu compecircndio sobre as melhores e mais modernas obrasrdquo ldquoformaraacute seu compecircndio
sobre os elementos derdquo Na ausecircncia de instituiccedilotildees reguladoras do conteuacutedo eacute
atribuiacutedo ao sujeito-docente e posteriormente como demonstra a histoacuteria dessa
instituiccedilatildeo aos colegiados gestores da Academia a funccedilatildeo de propor ou regular
um programa curricular e suas referecircncias condutoras das relaccedilotildees de ensino e
aprendizagem
Dessa forma tecircm-se de um lado dois lexemas opostos e complementares ndash
obras e compecircndios postos em relaccedilatildeo as primeiras representam as ciecircncias das
quais a seguinte sequecircncia discursiva eacute bem elucidativa quanto ao seu papel
ldquoserviratildeo de base ao compecircndio que deve formar e no qual haacute de procurar toda
extensatildeo destas vistasrdquo os segundos os compecircndios seratildeo regulados pela
apresentaccedilatildeo e formaccedilatildeo de princiacutepios noccedilotildees elementos mateacuteria Esse conjugado
objetiva elaborar mateacuterias a partir das ciecircncias dos princiacutepios destas compor noccedilotildees
e elementos daquelas Entra aqui um dos principais mecanismos de composiccedilatildeo
curricular e da elaboraccedilatildeo da literatura didaacutetica o processo de seleccedilatildeo dispositivo
recorrente na Histoacuteria do Curriacuteculo e da Histoacuteria das Disciplinas Escolares No
documento em anaacutelise haacute um criteacuterio claro comunicado em dois lexemas -
celebridade e ceacutelebres para a seleccedilatildeo das discursividades e sujeitos a serem eleitos
para esta relaccedilatildeo como afirmam as seguintes sequecircncias discursivas ldquoregularaacute seu
compecircndio pelos uacuteltimos tratados que maior celebridade merecemrdquo e ldquotendo tambeacutem
em vista o Compecircndio de Fiacutesica de Brisson e o que julgue dever aproveitar das
obras de outros ceacutelebres fiacutesicosrdquo Selecionados os sujeitos-autores caberaacute aos
sujeitos-professores as accedilotildees prescritivas e deveres constitutivos do saber escolar
ldquodeveraacute tirar da obrardquo ldquoensinaraacute os princiacutepiosrdquo ldquoexplicaraacuterdquo ldquoformar o seu
compecircndiordquo ldquoformaraacute o compecircndiordquo O interessante eacute que a Carta daacute abertura para
que o sujeito-docente tenha nesse processo uma contribuiccedilatildeo a mais que a
sugerida quando o aconselha a ldquoir adicionando todos os meacutetodos e novas
descobertasrdquo
A anaacutelise discursiva da Carta Reacutegia instituinte da Academia Real Militar
exemplifica as circunstacircncias envoltas agrave educaccedilatildeo colonial naquele momento
faltavam instituiccedilotildees matildeo de obra especializada materiais de estudo organizaccedilatildeo
sistecircmica tanto institucional quanto curricular Este eacute o contexto em que pela
primeira vez a Geografia eacute chamada ao processo de instruccedilatildeo no Brasil como
disciplina independente Uma participaccedilatildeo pequena mas importante inaugural E
essa introduccedilatildeo ao ensino geograacutefico estabelecia uma relaccedilatildeo com a Geografia de
Pinkerton e de La Croix por sua vez representativa da Geografia Claacutessica
Este eacute o momento da passagem de um ensino impliacutecito para um ensino
expliacutecito da Geografia
Esta anaacutelise claramente demonstra que as prescriccedilotildees da Carta tinham por
centro a atividade docente Por que essa preocupaccedilatildeo
Repondo uma questatildeo jaacute abordada podemos afirmar que os jesuiacutetas tinham
seus meacutetodos e programas organizados em torno de suas abastadas bibliotecas ndash
para as quais pouco tiveram problemas de financiamento e com as quais
contornavam as dificuldades de custo para o alunado uma vez que os livros entatildeo
eram artigos muito caros importados A educaccedilatildeo pombalina na Colocircnia se viu
desprovida de obras e em paralelo de pessoas qualificadas para o ensino
Consequentemente os livros declinaram muito enquanto instrumental da
metodologia de ensino na vigecircncia das aulas reacutegias A ausecircncia de obras didaacuteticas
e de professores preparados coadunou a decadecircncia e a desarticulaccedilatildeo das
relaccedilotildees de ensino e aprendizagem apoacutes a saiacuteda dos jesuiacutetas e este foi o cenaacuterio
encontrado pelo Estado portuguecircs No seacuteculo XIX a Colocircnia e o Reinado se viram
com a necessidade de compecircndios sobretudo compecircndios secularizados
Neste cenaacuterio antes de as obras didaacuteticas servirem ao estudo dos
discentes tiveram outro papel importante instruir os professores74 e instruiacute-los de
acordo com os preceitos do Estado como bem analisa Bittencourt (2008 p 29)
Os livros que os professores deveriam utilizar foram pensados pelas autoridades brasileiras [] pelo custo e raridade das obras propriamente didaacuteticas [pelo que] impunha-se aos professores o uso de livros de autores consagrados [] Os professores fariam ditados e os alunos copiariam trechos ou ouviriam as preleccedilotildees em sala de aula As propostas de produccedilatildeo de livros escolares concentravam-se primordialmente na elaboraccedilatildeo de textos didaacuteticos para uso exclusivo dos professores dando-se preferecircncia agraves traduccedilotildees
Pensando em especiacutefico o ensino de Geografia natildeo havia obras didaacuteticas
dessa disciplina em portuguecircs nem na Colocircnia nem aleacutem mar Particularmente o
74
Entatildeo inexistiam obras pedagoacutegicas para a formaccedilatildeo dos professores que somente apareceriam concomitantemente ao surgimento das Escolas Normais
conteuacutedo geograacutefico ensinado a partir de La Croix e de Pinkerton assemelhava-se
ao que seria instituiacutedo no ensino secundaacuterio jaacute no Impeacuterio Nos movimentos
posteriores a Geografia descritiva embora permanecesse no ensino politeacutecnico
seria deslocada para os programas do ensino secundaacuterio e sua interface com o
ensino superior se limitaria aos exames de admissatildeo
34 Uma avaliaccedilatildeo da posiccedilatildeo da Geografia como atividade de ensino entre 1549 e 1821 prenuacutencios da formaccedilatildeo de uma disciplina geograacutefica no Brasil
Tendo em vista as abordagens deste capiacutetulo cabe-me introduzir uma
questatildeo importante para esta pesquisa e para a compreensatildeo da literatura didaacutetica
de Geografia no Brasil o que eacute a disciplina Geografia escolar Na tentativa de
discutir essa questatildeo finalizo esse capiacutetulo fazendo uma avaliaccedilatildeo do periacuteodo
antecedente agrave independecircncia poliacutetica do Brasil no que concerne agrave gecircnese da
Geografia escolar
O seacuteculo XIX principalmente a partir da criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II torna
possiacutevel uma visatildeo completa do que seria a disciplina escolar de Geografia
enquanto um curriacuteculo independente constituiacutedo e instituiacutedo na escola nascido a
par com a Histoacuteria e a partir do qual teria oscilaccedilotildees avanccedilos e retrocessos mas
pronto para desenvolver sua trajetoacuteria proacutepria Mais precisamente quando a
Geografia escolar reuniu nuacutecleos de conhecimentos que antes frequentemente e
mesmo depois cumprindo os objetivos da educaccedilatildeo proposta tiveram e teriam
existecircncia autocircnoma Destes nuacutecleos constituintes posso enumerar a Cartografia a
Cosmografia a Corografia a Geografia Fiacutesica a Geografia Humana ou Poliacutetica
Sobretudo caracterizaria a Geografia escolar como disciplina a circunscriccedilatildeo de
duas escalas geograacuteficas o mundo por um lado e os recortes regionais no espaccedilo
total por outro
A proposta desta pesquisa eacute historicizar e analisar o livro didaacutetico de
Geografia mas esta histoacuteria natildeo se desvincula da histoacuteria da disciplina escolar de
Geografia pois aquela tem laccedilos indissociaacuteveis com esta Desse modo o que
encontramos como contribuiccedilatildeo ao debate que a questatildeo acima suscita no periacuteodo
correspondente ao ensino jesuiacutetico pombalino e joanino
De iniacutecio posso afirmar que o ensino jesuiacutetico aleacutem de fazer presenccedila com
conteuacutedos geograacuteficos como saberes auxiliares agrave conduccedilatildeo do seu meacutetodo
preciacutepuo o prelectio introduziu conteuacutedos que seriam geograacuteficos na educaccedilatildeo
elementar por meio do estudo da Cosmologia disciplina integrante das aulas de
Filosofia O que se seguiu posteriomente natildeo foi necessariamente continuaccedilatildeo
dessas noccedilotildees pois o periacuteodo pombalino significou um rompimento e um retrocesso
em todo o curriacuteculo jesuiacuteta
Contemporaneamente a Cosmologia eacute uma disciplina da Fiacutesica Teoacuterica
embora alguns de seus princiacutepios elementares marquem presenccedila ateacute a atualidade
no ensino de Geografia Funciona ainda como um preacircmbulo ao ensino da
Cartografia O termo vem do grego (κοσμολογία κόσμος cosmosordemmundo e
λογία discursoestudo) em sentido amplo significa o estudo da origem estrutura e
evoluccedilatildeo do Universo Cosmologia eacute uma terminologia atual Para o campo que os
jesuiacutetas utilizavam essa denominaccedilatildeo ao longo do seacuteculo XIX e primeira metade do
seacuteculo XX associada agrave Geografia e agrave Matemaacutetica utilizou-se o termo Cosmografia
No seacuteculo XIX com a autonomia acadecircmica da Geografia a Cosmografia que nunca teve caracteriacutesticas de Ciecircncia independente tombou e cedeu espaccedilo ao desenvolvimento da Cosmologia Moderna e da Cartografia caindo parcialmente em esquecimento universitaacuterio e escolar atualmente (SOBREIRA 2005 p 18)
Na tradiccedilatildeo curricular dos jesuiacutetas o ensino da Cosmografia associava-se
mais particularmente agrave Matemaacutetica embora natildeo deixasse de ser uma introduccedilatildeo ao
estudo da Terra ldquoo Ensino da Astronomia escolar era vinculado agrave Astrologia e agrave
Matemaacutetica [] poreacutem no Brasil os jesuiacutetas ensinavam a Cosmografia []
abalizada no lsquoTratado da Esferarsquo de Sacroboscordquo (SOBREIRA 2005 p 41) Numa
perspectiva histoacuterica para que se compreendam suas implicaccedilotildees com o ensino de
Geografia e portanto com a formaccedilatildeo da disciplina escolar e em sequecircncia o lugar
ocupado na literatura didaacutetica dessa disciplina tem-se que sua trajetoacuteria chegou a
ser independente como disciplina mas se extinguiu na deacutecada de 1930 natildeo sem
antes manter viacutenculos com a Cartografia a Astronomia a Naacuteutica e a Geografia Na
siacutentese de Sobreira (2005 p 25-26) temos o seguinte
[] Na Antiguumlidade ateacute a Idade Meacutedia predominaram os modelos de concepccedilotildees da estrutura do Universo a forma e a posiccedilatildeo coacutesmica da Terra inclusive com as primeiras estimativas das dimensotildees da Terra [] No final da Idade Meacutedia ateacute a Modernidade o destaque foi quanto agrave aplicaccedilatildeo das teacutecnicas astronocircmicas na Naacuteutica por cosmoacutegrafos que atuavam tambeacutem como cartoacutegrafos teacutecnicos de instrumentos astronocircmicos e pilotos Este foi o auge da Cosmografia em uso nas navegaccedilotildees [] Na Idade Moderna teve iniacutecio o Ensino de Cosmografia em escolas jesuiacuteticas poreacutem no final do Renascimento a Cosmografia mundial foi perdendo importacircncia na Naacuteutica [] O seacuteculo XVIII foi o periacuteodo das melhores e mais precisas medidas das dimensotildees e o estabelecimento da forma da Terra ateacute aquele momento [] No seacuteculo XIX ocorreu a influecircncia da Filosofia Positivista de Auguste Comte quanto agrave introduccedilatildeo do Ensino de Astronomia nos manuais didaacuteticos europeus e brasileiros e a publicaccedilatildeo por Humboldt da obra ldquoCosmosrdquo que foi um marco para a estruturaccedilatildeo da Geografia Fiacutesica e tambeacutem para o Ensino da Cosmografia que em consequumlecircncia marcou sua permanecircncia nas escolas brasileiras (Imperial Coleacutegio Pedro II no Rio de Janeiro) como disciplina independente [] A primeira metade do seacuteculo XX se caracterizou pela extinccedilatildeo da disciplina de Cosmografia no Brasil e a sobrevivecircncia dela em conteuacutedos diluiacutedos nas disciplinas de Geografia Ciecircncias e Fiacutesica ateacute os dias atuais [] Poacutes-guerra a Era Astronaacuteutica e da Ecologia Coacutesmica e Planetaacuteria que aproximou a Cosmografia da Geografia escolar ldquoCosmografia Geograacuteficardquo
O termo ldquoCartografiardquo na verdade foi criado apenas no seacuteculo XIX pelo
portuguecircs Visconde de Santareacutem que ldquo[] eacute recordado internacionalmente entre os
estudiosos dos mapas antigos como um dos fundadores dessa aacuterea do saber e
tambeacutem como o autor do termo lsquoCartografiarsquordquo (GARCIA FEIJAtildeO 2006 p 8)
empregado pela primeira vez numa carta de 1839 escrita em Paris para o
historiador brasileiro Francisco Adolpho Varnhagem Na segunda metade dos
Oitocentos o termo teria o uso ampliado denominando uma praacutetica do saber
geograacutefico Pinkerton (1804) por exemplo agrave falta de uma denominaccedilatildeo especiacutefica
chamava as representaccedilotildees dos globos mapas e cartas de ldquopart mechanical of
geographyrdquo De fato estes conteuacutedos eram estudados na Astronomia e
principalmente na Cosmografia Mais aleacutem o ensino jesuiacutetico natildeo foi
Por outro lado na Europa no periacuteodo de vigecircncia do ensino jesuiacutetico e
pombalino na Colocircnia a Geografia passava por um desenvolvimento expressivo
inclusive com as primeiras organizaccedilotildees do ensino desse saber apenas
parcialmente absorvido pelos jesuiacutetas A posiccedilatildeo dos jesuiacutetas corresponde agrave tradiccedilatildeo
geograacutefica do grego Claacuteudio Ptolomeu autor da obra Geographike Syntaxis que
em traduccedilatildeo os aacuterabes nomearam Almagesto forma pela qual influiu o pensamento
sobre o mundo na Idade Meacutedia O conhecimento geograacutefico entre os gregos surgiu
como um estudo descritivo da terra com produccedilatildeo de mapas para localizaccedilatildeo de
territoacuterios Nesse ponto a Cosmografia convergia saberes matemaacuteticos e
astronocircmicos instaurando-se uma linhagem geograacutefica conhecida como Geografia
matemaacutetica (KIMBLE 2005) Orientaccedilatildeo e posiccedilatildeo espacial eram a preocupaccedilatildeo
dominante na Cosmografia como em toda a Geografia matemaacutetica e que se firmou
como um dos modelos que compuseram o ensino de Geografia no seacuteculo XIX
expresso sobretudo no ensino dos conteuacutedos cartograacuteficos O ponto de encontro
das tradiccedilotildees geograacuteficas da Antiguidade na formulaccedilatildeo da Geografia Claacutessica
apresentaraacute condiccedilotildees epistemoloacutegicas para uma concepccedilatildeo de Geografia modelar
para aquela esboccedilada na Colocircnia por ocasiatildeo das institucionalizaccedilotildees
empreendidas por D Joatildeo VI isto eacute na institucionalizaccedilatildeo da Academia Militar
Certamente o estabelecimento da Academia Real Militar mais que
representar o primeiro passo em direccedilatildeo ao ensino de Geografia no Brasil esteve no
processo decisoacuterio para iniacutecio de traduccedilotildees e produccedilotildees de obras didaacuteticas Quatro
anos apoacutes sua fundaccedilatildeo apareciam em especiacutefico no campo geograacutefico os
Elementos de Astronomia de Arauacutejo Guimaratildees75 (1814) autor de compecircndios para
outras disciplinas da Academia Militar da qual foi professor Joseacute Saturnino da
Costa Pereira76 tambeacutem membro da equipe de lentes da Academia dentre outros
tantos seria autor de um dos primeiros compecircndios de Geografia na deacutecada de
1830
75
Manoel Ferreira de Arauacutejo Guimaratildees - Aleacutem de militar (chegou a brigadeiro do Real Corpo de Engenheiros) foi professor da Academia Real Militar onde atuava no 4ordm ano Filho de Manoel Ferreira de Arauacutejo (negociante) e Maria do Coraccedilatildeo de Jesus nasceu na Bahia em 05 de marccedilo de 1777 e faleceu em 24 de outubro de 1838 Iniciou seus estudos aos sete anos no Brasil continuando-os em Lisboa Teve soacutelida formaccedilatildeo em liacutenguas (latim grego francecircs inglecircs italiano) Dentre as suas produccedilotildees bibliograacuteficas constam traduccedilotildees do francecircs e produccedilatildeo de obras teacutecnicas e didaacuteticas nas aacutereas de matemaacutetica astronomia e engenharia militar Foi editor da Revista O Patriota Bibliografia Elementos de Geometria Traduzido de A M Legendre 1809 Tratado de trigonometria por A M Legendre 1809 Variaccedilatildeo dos triacircngulos esfeacutericos para uso da Academia Real Militar 1812 Elementos de astronomia para uso dos alumnos da Academia Real Militar 1815 Manual do engenheiro ou elementos de geometria praacutetica de fortificaccedilatildeo de campanha 1815 Elementos de geodeacutesia para uso dos disciacutepulos da Academia Real Militar 1815 Elementos de geometria de Lacroix 1824 (OLIVEIRA 2005 p 317-318)
76 Joseacute Saturnino da Costa Pereira ndash Nasceu na Colocircnia do Sacramento em 1771 e faleceu no Rio
de Janeiro em 09 de janeiro de 1852 Cursou Ciecircncias Matemaacuteticas na Universidade de Coimbra entre 1802 e 1806 e atuou como engenheiro militar e poliacutetico brasileiro (presidiu a proviacutencia de Mato Grosso e foi senador do Impeacuterio entre 1828 e 1952) aleacutem de ter sido professor da Academia Real Militar Bibliografia Dicionaacuterio Topograacutefico do Impeacuterio do Brasil 1834 Recreaccedilatildeo Moral e Cientiacutefica - 1834-1839 Elementos de Loacutegica 1834 Compecircndio de Geografia Elementar 1836 Elementos de Geodeacutesia 1840 Liccedilotildees Elementares de Oacuteptica 1841 Aplicaccedilatildeo da Aacutelgebra agrave Geometria ou Geometria Analiacutetica 1842 Elementos de Caacutelculo Diferencial e de Caacutelculo Integral 1842 Elementos de Mecacircnica 1842 Elementos de Astronomia e Geodeacutesia 1845 Plano para Divisatildeo das Comarcas Cidades Vilas Povoaccedilotildees e Paroacutequias da Proviacutencia de Mato Grosso 1827-1828 (MORAIS 1940 MAGALHAtildeES 2006)
A chegada da famiacutelia real foi propiacutecia tambeacutem para a educaccedilatildeo das
crianccedilas sendo do periacuteodo da Impressatildeo Reacutegia o surgimento dos primeiros livros
impressos para o puacuteblico infantil embora de modo ainda muito precaacuterio e com
periodicidade esporaacutedica traduccedilotildees de contos e poemas ainda muito tocantes agrave
moral cristatilde comeccedilavam a formar um acervo utilizado no ensino da leitura e da
escrita atividades que contariam ainda alguns anos mais tarde com textos da
Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Coacutedigo Criminal dos Evangelhos Dessa forma em
niacutevel do ensino de primeiras letras temos dentre os primeiros livros didaacuteticos as
Leituras para meninos contendo historias moraes relativas aos defeitos ordinarios
as idades tenras e hum dialogo sobre Geographia chronologia historia de Portugal
e historia natural publicado em 1818 de autoria de Joseacute Saturnino da Costa
Pereira obra que teve outras trecircs ediccedilotildees em 1821 1822 e 1824 Este livro dos
primeiros editados no Brasil para o ensino das primeiras letras eacute exemplar pois
demonstra a linha de elaboraccedilatildeo que os livros de leitura assumiriam ao longo do
seacuteculo XIX incluiriam leituras geograacuteficas histoacutericas e literatura com forte teor
ideoloacutegico Esta obra de Pereira marca um diferencial no cataacutelogo da Impressatildeo
Reacutegia jaacute que quase nunca fazia novas ediccedilotildees das obras publicadas
Em um contexto externo ao cenaacuterio da educaccedilatildeo mas muito relacionado ao
futuro do ensino de Geografia e com certeza favorecido pelas condiccedilotildees histoacutericas
do momento surgiu a Corografia braziacutelica do Padre Manoel Ayres de Casal77
(1817a 1817b) A trajetoacuteria exposta acima no tocante ao movimento geograacutefico
introduzido pela criaccedilatildeo da Academia Real Militar e de outras instituiccedilotildees
reestruturadoras do territoacuterio colonial na aacuterea de abrangecircncia da Corte e de sua aacuterea
de influecircncia nos traz um contexto esclarecedor da importacircncia e da recepccedilatildeo da
Corografia braziacutelica
77
Manoel Ayres de Casal ndash Haacute poucas informaccedilotildees biograacuteficas sobre o autor tambeacutem conhecido como Padre Ayres de Casal Eacute controverso por exemplo o local e o ano de nascimento teria sido portuguecircs nascido em Pedroacutegatildeo em 1754 ou teria nascido em Cachoeira cidade baiana em 1757 Faleceu em Portugal em 1821 Aleacutem de sacerdote eacute considerado historiador e frequentemente reconhecido como ldquopai da Geografia brasileirardquo (Saint-Hilare) Escreveu uma obra sistecircmica sobre a Geografia do Brasil a primeira aleacutem de ter sido a primeira obra a imprimir em toda extensatildeo a Carta de Pero Vaz de Caminha embora censurando partes que considerava imoral Apoacutes os estudos preparatoacuterios cursou Teologia e Filosofia exercendo no Brasil a funccedilatildeo de Capelatildeo da Santa Casa de Misericoacuterdia do Rio de Janeiro a partir de 1796 Em 1815 vivia no Crato (Cearaacute) no cargo de presbiacutetero secular Fez parte da comitiva de retorno da Famiacutelia Real a Portugal em 1821 Natildeo se conhece outra obra de Ayres de Casal aleacutem da Corografia Brasiacutelica (BLAKE 1900)
Vlach (1988 p 133) considerando o ensino de Geografia estabelecido a
partir dos programas educacionais instituiacutedos na e apoacutes a deacutecada de 1830
questiona ldquoque geografia estava presente nas escolas secundaacuterias nas escolas
primaacuterias superiores ou complementares nas escolas normais em sua grande
maioria privadasrdquo Dois modelos de Geografia lhe ocorrem a Geografia da Revista
do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro fonte instituiacuteda apoacutes o processo de
autonomia poliacutetica brasileiro e outra que a antecede a Corografia Brasiacutelica
A Corografia de fato foi uma obra lida citada e incorporada com relativa
exaustatildeo por deacutecadas seguidas A influecircncia de Ayres de Casal chegaria ao seacuteculo
XX Ele eacute citado explicitamente pelo menos trecircs vezes em Os Sertotildees por exemplo
obra de Euclides da Cunha (2003 p 137) publicada originalmente em 1902 quando
o autor aborda a funccedilatildeo histoacuterica do Rio Satildeo Francisco quando fala sobre os
primeiros povoadores da Bahia e sobre a relaccedilatildeo destes com os tupiniquins (2003
p 125 126) ndash o que eacute notoacuterio posto que Euclides indicou poucas referecircncias em
seu texto Natildeo que fosse a Corografia a mais completa ou correta obra de Geografia
mas justamente pelo seu maior meacuterito ocupar a seu modo a ausecircncia de um saber
abrangente e sistematizado para tanto e diverso territoacuterio como o do Brasil Mesmo
Ayres de Casal sabia das limitaccedilotildees e deslizes de sua obra tanto que no periacuteodo
antecedente agrave sua morte preparava uma segunda ediccedilatildeo reformulada como narra
Moraes (1858 p 111-112)
O padre Manoel Ayres do [sic] Casal depois de imprimir e publicar em 1817 no Rio de Janeiro a sua Corographia Brasiacutelica continuou a trabalhar nesta obra para dar della uma segunda ediccedilatildeo ampliada e corrigida com as sua observaccedilotildees e outras que lhe foratildeo suggeridas por Joseacute Bonifaacutecio de Andrada que entatildeo era secretario perpetuo da academia de sciencias de Lisboa e por outras pessoas igualmente idocircneas que leratildeo e estudaratildeo a sua obra
Regressou para Portugal levando comsigo a sua segunda ediccedilatildeo jaacute completa que pretendia ali publicar Antes disso falleceu em casa de Fr Joaquim Damaso Encontrou um sobrinho deste com loja de gracador na rua do Oiro e outros parentes em Sacavem dos quaes soube que os papeis de Fr Joaquim e do padre Ayres tinhatildeo sido vendidos a peso nas tendas de Lisboa O sobrinho da rua do Oiro deu ao conselheiro Drummond alguns manuscriptos que por acaso restavatildeo marcado com um M e a coroa real sobreposta que tinhatildeo pertencido a seu tio e disse que alguns Brasileiros jaacute o tinhatildeo procurado para saberem da segunda ediccedilatildeo da Corographia do padre Ayres natildeo sabendo elle o caminho que ella tinha levado
Fazemos votos para que tatildeo precioso manuscripto natildeo tenha cahido nas matildeos assassinas de algum taberneiro e que possa apparecer aacute luz da imprensa ainda que seja sob diverso nome de seu verdadeiro autor
Evidentemente esses originais nunca reapareceram Em geral Ayres de Casal tem
sido avaliado com perspectivas anacrocircnicas Caio Prado Jr (1961 p 182)
reconhece com muitas restriccedilotildees o meacuterito da Corografia ldquoexcluamos o desataviado
da linguagem a puerilidade do estilo da apresentaccedilatildeo e de certas afirmaccedilotildees e
podemos comparar a Corografia Basiacutelica a qualquer uma das obras claacutessicas de
geografia do seu tempordquo Prado Jr (1955) ajuiacuteza o autor e obra por dois acircngulos
primeiro pela imprecisatildeo cientiacutefica e desvirtuamento das contribuiccedilotildees cientiacuteficas da
eacutepoca segundo pelo meacutetodo ldquoestanquerdquo o que teria originado uma obra mais
literaacuteria que cientiacutefica ldquo[] natildeo satildeo apenas rudimentos de ciecircncia que faltam ao
nosso autor Natildeo se percebe nele vocaccedilatildeo ou instinto cientiacutefico algum isto eacute
qualidade de observaccedilatildeo anaacutelise comparaccedilatildeo e siacutentese que fazem a base do
pensamento nas ciecircnciasrdquo (PRADO Jr 1955 p 53) Este parecer natildeo eacute correto se
recontextualizado A Corografia eacute sim uma obra de siacutentese de sistematizaccedilatildeo reuacutene
em um sistema conhecimentos dispersos por mais questionaacuteveis que sejam as
fontes de sua pesquisa e por si apresenta pela primeira vez uma visatildeo geograacutefica
sobre o territoacuterio brasileiro nunca antes empreendida nesta escala
Metodologicamente inspira-se nos modelos dos tratados geograacuteficos do seu tempo
para fazer recortes e delimitaccedilotildees espaciais e para fazer conhecidos esses espaccedilos
a partir de determinadas categorias de conteuacutedos Eacute possiacutevel que Casal tenha lido
Pinkerton La Croix e outros geoacutegrafos como mencionei anteriormente sobretudo
por serem autores postos pela proposta educacional da Coroa portuguesa para o
ensino na Academia Militar sendo proacuteximos os laccedilos de Casal com a Corte Sua
obra muito se assemelha a tratados histoacuterico-geograacuteficos de seu tempo ou em
circulaccedilatildeo na Colocircnia do iniacutecio do XIX como a Geografia de Pinkerton
O Renascimento e o Iluminismo foram os movimentos caracteriacutesticos nos
seacuteculos XVI e XVII que propiciaram uma reinterpretaccedilatildeo dos saberes e artes antigos
procurando um desenvolvimento que foi responsaacutevel pelo surgimento da ciecircncia
moderna De acordo com Foucault (2005a p 16-17)
[] por volta do seacuteculo XVI e do seacuteculo XVII (na Inglaterra sobretudo) apareceu uma vontade de saber que antecipando-se a seus conteuacutedos atuais desenhava planos de objetos possiacuteveis observaacuteveis mensuraacuteveis classificaacuteveis uma vontade de saber que impunha ao sujeito cognoscente (e de certa forma antes de qualquer experiecircncia) certa posiccedilatildeo certo olhar
e certa funccedilatildeo (ver em vez de ler verificar em vez de comentar) uma vontade de saber que prescrevia (e de um modo mais geral do que qualquer instrumento determinado) o niacutevel teacutecnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificaacuteveis e uacuteteis
Esta brilhante interpretaccedilatildeo ao mesmo tempo em que sintetiza o espiacuterito
cientiacutefico do Iluminismo a vontade de saber e sua diferenciaccedilatildeo funcional sobretudo
para os campos dos conhecimentos exatos e bioloacutegicos indica como a Geografia
encontrou dificuldades para sua definiccedilatildeo para estabelecer seu meacutetodo quando
tudo o que podia ser posto como seu objeto nada mais era do que o volume de
civilizaccedilatildeo habitante do planeta A descriccedilatildeo como meacutetodo na transiccedilatildeo da
Geografia Antiga-Claacutessica para uma Geografia Moderna terminou por enveredar
esse saber em direccedilatildeo a um inventaacuterio do mundo e de suas regiotildees A posteridade
avaliaria essa tradiccedilatildeo como exaustiva seu ensino de maccedilante ambos quase
inuacuteteis
Mas para a Geografia o caminho natildeo foi de flores As Geografias possiacuteveis
foram a de La Croix de Pinkerton de Casal bases das primeiras publicaccedilotildees
didaacuteticas de Geografia ateacute o seacuteculo XIX demonstrar outros caminhos outras
abordagens que chegaram ao ensino poreacutem bem mais tarde
No proacuteximo capiacutetulo passo a abordar a constituiccedilatildeo e a institucionalizaccedilatildeo
da disciplina Geografia e a emergecircncia de uma bibliografia didaacutetica desta disciplina
durante o Impeacuterio entre 1822 e a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica
CAPIacuteTULO 4
DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO IMPEacuteRIO (1822-1889) o estabelecimento de uma disciplina e de
uma bibliografia didaacutetica
Editar obras juriacutedicas ou escolares natildeo eacute mui difiacutecil a necessidade eacute grande a procura certa
Machado de Assis A Semana 08101893 no dia seguinte ao falecimento do editor Garnier
O regime imperial do Brasil apoacutes o processo de independecircncia poliacutetica
outorgado em 1822 trouxe ao territoacuterio brasileiro a condiccedilatildeo da nacionalidade Isso
significaria muito para todas as instacircncias da vida brasileira Significou tambeacutem para
a educaccedilatildeo e para o ensino de Geografia O periacuteodo joanino fora feacutertil no
estabelecimento de instituiccedilotildees e no esboccedilo de um aparelho de Estado se se
considerar o curto periacuteodo de sua duraccedilatildeo e ainda que atento agraves necessidades do
Estado portuguecircs Basicamente essa atuaccedilatildeo local foi levada a termos e
literalmente quanto a ser local a beneficiaacuteria direta dessas transformaccedilotildees foi uma
cidade o Rio de Janeiro e o restante do territoacuterio se beneficiou apenas do que
atendendo agrave Corte sobrepujava ou se permitia
A primeira reorientaccedilatildeo imposta por essa nacionalidade portanto foi a
questatildeo da integraccedilatildeo territorial no sentido de construir uma administraccedilatildeo puacuteblica
desenvolver uma cultura amadurecer um povo ndash na perspectiva da unicidade ou do
que se poderia denominar ldquointeresses nacionaisrdquo A educaccedilatildeo evidentemente foi
objetivo e meio dessa proposta partiacutecipe da grande questatildeo histoacuterica do Impeacuterio no
periacuteodo inicial a centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo dos atos poliacuteticos entre a Corte
e as proviacutencias Nos primeiros anos de um Estado genuinamente brasileiro apoacutes o
processo de autonomia poliacutetica de 1822 o Brasil teve outorgada sua primeira
Constituiccedilatildeo (1824) a qual especificamente para o ensino previa um ldquosistema
nacional de educaccedilatildeordquo que alcanccedilasse o territoacuterio brasileiro e flexionasse uma
organizaccedilatildeo de niacuteveis e graus garantindo-se ademais a gratuidade do ensino
primaacuterio Esse projeto teve execuccedilatildeo muito rudimentar tolhido por investimentos
precaacuterios e pela vontade das elites de manter a concentraccedilatildeo geograacutefica e
demograacutefica do acesso ao ensino medida que os privilegiava e contribuiacutea para a
manutenccedilatildeo das posiccedilotildees sociais e econocircmicas que detinham De qualquer forma o
notaacutevel nesse movimento legislador foi a organizaccedilatildeo e a orientaccedilatildeo do ensino
puacuteblico e privado passarem a ser do Estado brasileiro fato que certamente gerou
numerosos e conflituosos embates com a Igreja Catoacutelica e internamente entre
conservadores e liberais que por todo o Impeacuterio e deacutecadas iniciais da Repuacuteblica
trariam transformaccedilotildees significativas ao ensino brasileiro
O Artigo 179 da Constituiccedilatildeo do Impeacuterio instruiu o acesso gratuito agrave
educaccedilatildeo reforccedilado por lei em 1827 quanto ao ensino primaacuterio que foi instituiacutedo na
maioria das localidades habitadas do Brasil mas de forma completamente precaacuteria
escolas sem materiais impressos com professores despreparados e mal
remunerados com infraestrutura aqueacutem do necessaacuterio De fato ateacute a deacutecada de
1930 com raras exceccedilotildees a atuaccedilatildeo do Impeacuterio e da Repuacuteblica restringia-se ao
ensino secundaacuterio e superior Apesar de avanccedilos isolados na educaccedilatildeo do Brasil
apenas ao findar do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo em conjunto sistecircmico passou por
melhorias
A revoluccedilatildeo da educaccedilatildeo brasileira comeccedilou mais ou menos no uacuteltimo ano do Impeacuterio quando os poliacuteticos finalmente tomaram consciecircncia do atraso da naccedilatildeo e a crescente prosperidade do comeacutercio cafeeiro proporcionou os recursos necessaacuterios pelo menos no centro e no sul do paiacutes (HALLEWELL 2005 p 281)
Natildeo se trata apenas de um desenvolvimento horizontal ndash quantitativo e
econocircmico ndash mas de uma verticalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo com melhorias nos meacutetodos
de ensino o que permitiu a ascensatildeo do livro didaacutetico ao niacutevel do consumo de
massa Mas ateacute laacute o processo educacional ndash enquanto elementos e dinacircmicas ndash
desenvolve-se de forma muito lenta a constituiccedilatildeo histoacuterica da bibliografia didaacutetica
coloca claras evidecircncias desse fazer o que se nota no iacutendice das ediccedilotildees pois
apenas na segunda metade do seacuteculo XIX surgiriam obras geograacuteficas com
reediccedilotildees produzindo os primeiros best-sellers se assim se pode dizer da
bibliografia didaacutetica de Geografia como indica as obras de Thomaz Pompeu de
Souza Brasil Eudoro Brasileiro Berlink e sobretudo Joaquim Maria de Lacerda
Observando a Tabela 01 eacute possiacutevel ter uma visatildeo em um periacuteodo quase
coeso com a delimitaccedilatildeo dessa tese e ao longo do desenvolvimento demograacutefico
do comportamento da educaccedilatildeo brasileira desde o penuacuteltimo ano do periacuteodo joanino
ateacute meados do seacuteculo XX embora os dados censitaacuterios sejam bastante deficitaacuterios e
natildeo sejam confiaacuteveis devido agrave manipulaccedilatildeo de resultados em alguns periacuteodos
poliacuteticos
TABELA 01 ndash Populaccedilatildeo e educaccedilatildeo no Brasil ndash 1820-1950
Fonte Almeida (1989) Hallewell (2005 p 249 375) Ribeiro (2001 p 81) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2008
De acordo com estes dados o comportamento educacional nas linhas dos
alfabetizados e das matriacuteculas nos ensinos primaacuterio e secundaacuterio eacute extremamente
desarticulado da linha de progressatildeo do crescimento demograacutefico houve um
crescimento interno nas matriacuteculas mas sempre distantes do total da populaccedilatildeo Os
Ano Populaccedilatildeo Alfabetizados Matriacutecula
Primaacuterio Secundaacuterio
1820 4000000 20000 - -
1863 - - - 8600
1869 9650000 125017 11529
1872 10010000 1560000 139325 9389
1875 10690000 - 172802 -
1878 - - 175714 -
1883 - - - 10427
1888 13670000 - 258302 -
1889 266084 24889
1890 14330000 2120559 - -
1900 17320000 4448681 - -
1907 20860000 - 638378 20000
1920 30640000 7793357 1250729 50000
1925 - - 1700000 -
1930 33570000 - 2084000 83000
1935 37150000 - 24135947 93829
1940 41110000 - 3302830 170057
1945 46220000 - 3496664 256467
1950 51980000 - 5175887 406920
nuacutemeros do ensino primaacuterio e secundaacuterio satildeo ascendentes natildeo haacute nenhuma
involuccedilatildeo no processo com exceccedilatildeo do contorno de 1869 para 1872 quanto ao
secundaacuterio Contudo apenas para exemplificar tomando os dados de 1869 em
relaccedilatildeo ao total demograacutefico tem-se apenas 12 da populaccedilatildeo frequentando o
ensino primaacuterio e 011 o secundaacuterio no uacuteltimo desses anos 1950 seriam 99 de
matriculados no ensino primaacuterio e 078 no ensino secundaacuterio De acordo com o
Censo de 1950 em termos absolutos 887 da populaccedilatildeo com mais de cinco anos
de idade era analfabeta
Todavia se a distacircncia entre populaccedilatildeo e educaccedilatildeo eacute alta no interior da
educaccedilatildeo as disparidades satildeo igualmente marcantes As matriacuteculas entre o ensino
primaacuterio e o ensino secundaacuterio satildeo desproporcionais com a mesma amplitude Natildeo
estaacute indicado na tabela o ensino superior mas este seria ainda muito mais desigual
se comparado ao ensino secundaacuterio e muito mais ainda se comparado ao ensino
primaacuterio Os dados demonstram claramente o comportamento numeacuterico da
educaccedilatildeo no Brasil mas sobretudo estes satildeo indiacutecios dos problemas poliacuteticos e
sociais que nunca tiraram nesse periacuteodo a educaccedilatildeo da estagnaccedilatildeo O coeficiente
de acesso agrave educaccedilatildeo formal sempre esteve aqueacutem do desenvolvimento
demograacutefico revelando-se um serviccedilo precaacuterio e elitizado com iacutendices muito altos
de analfabetismo e iacutendices muito baixos de indiviacuteduos com qualificaccedilatildeo teacutecnica
Este eacute o cenaacuterio no qual o ensino de Geografia vai amadurecer seu
processo constitutivo ascender como uma das disciplinas regulares do ensino
baacutesico e constituir uma bibliografia de estudo
41 A educaccedilatildeo brasileira e o ensino de Geografia no periacuteodo Imperial
Nas deacutecadas iniciais do Impeacuterio houve alguma expansatildeo das escolas
primaacuterias nas proviacutencias centradas no ensino de leitura escrita caacutelculo Houve a
fundaccedilatildeo de Liceus e Coleacutegios nas proviacutencias No entanto as escolas de primeiras
letras continuaram em nuacutemero reduzido em relaccedilatildeo agrave demanda enfrentando
dificuldades como a falta de professores preparados ou motivados a seguir carreira ndash
em face disso surgem as primeiras escolas normais em Niteroacutei (1835) Bahia
(1836) Cearaacute (1845) e Satildeo Paulo (1846) e outras nos anos e deacutecadas seguintes O
ensino secundaacuterio por sua vez teve como marco amplamente reconhecido pelos
historiadores da educaccedilatildeo a criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II na capital em 1837
orientado para a formaccedilatildeo de bachareacuteis em Letras grau que dispensava seus
estudantes de exames de admissatildeo no ensino superior Representa pela primeira
vez uma formaccedilatildeo de fato em niacutevel do secundaacuterio pois ateacute entatildeo este ensino natildeo
dispunha de nenhuma titulaccedilatildeo aos seus frequentes apenas exercendo a
intermediaccedilatildeo preparatoacuteria em direccedilatildeo ao ensino superior preparaccedilatildeo instituiacuteda
pelos jesuiacutetas e continuada pelas aulas avulsas O Coleacutegio Pedro II assim foi
concebido para ser padratildeo e modelo nacional para o ensino secundaacuterio do restante
do paiacutes concretizando um plano antecedido como tentativa de congregaccedilatildeo dos
cursos avulsos nas atividades dos primeiros liceus fundados nas proviacutencias e
anteriores ao Coleacutegio o Liceu do Rio Grande do Norte (1834) o da Bahia e o da
Paraiacuteba (ambos em 1836) Coube ao Coleacutegio Pedro II a adoccedilatildeo e a manutenccedilatildeo de
meacutetodos e conteuacutedos e isso seraacute extremamente influente no processo de produccedilatildeo
de manuais didaacuteticos de Geografia No periacuteodo o ensino superior diferenciou-se da
eacutepoca de D Joatildeo VI pela criaccedilatildeo no Rio de Janeiro de um curso juriacutedico (1825)
aleacutem da inauguraccedilatildeo de algumas instituiccedilotildees cientiacuteficas a Academia de Belas Artes
(1831) e o Observatoacuterio Astronocircmico (1827) entre outras que surgiratildeo
O Coleacutegio Pedro II e os cursos juriacutedicos influenciaram diretamente na
consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina
A maior parte das publicaccedilotildees didaacuteticas relacionadas na bibliografia desta
pesquisa se direciona ao ensino secundaacuterio O ensino de Geografia introduzido
como disciplina no ensino superior ganhou forccedilas no ensino secundaacuterio e
posteriormente ampliou-se para o ensino primaacuterio ndash onde participou de um processo
significativo de nacionalizaccedilatildeo
Como se deu esse processo De antematildeo eacute importante sublinhar que todos
esses movimentos foram articulados e regidos por um agente preciacutepuo o Estado
brasileiro
411 Da Assembleia Constituinte de 1823 ao Ato Adicional de 1834 o entreposto da consolidaccedilatildeo da Geografia como disciplina
O Estado brasileiro de fato do seacuteculo XIX em diante foi o grande agente
articulador da educaccedilatildeo seja pela sua presenccedila em niacutevel de forccedila legisladora seja
pelas lacunas deixadas por sua ausecircncia que criavam respostas como as iniciativas
e o fomento do setor privado sobretudo o confessional Como visto anteriormente a
ordenaccedilatildeo do ensino brasileiro com raiacutezes no tempo de D Joatildeo VI comeccedilou com o
ensino superior O ensino de Geografia jaacute existia formalmente desde o periacuteodo
joanino e implicitamente desde os jesuiacutetas Com surgimento no interior do ensino
superior significava que na formaccedilatildeo de base concentrava-se nos estudos
posteriores ao letramento isto eacute nos estudos secundaacuterios preparatoacuterios ao ingresso
no ensino superior concentrado portanto nas aulas avulsas e nas transformaccedilotildees
pelas quais este sistema passaria
Esse primeiro curriacuteculo exposto em lei contudo natildeo isenta o ensino de
elementos de Geografia no ensino primaacuterio pois desde a Colocircnia havia
recomendaccedilotildees de acordo com Issler (1972 p 38) para o ensino de conteuacutedos
com enquadramento na Histoacuteria e na Geografia
Portanto natildeo sendo o ensino de Geografia introduzido ainda por toda
extensatildeo do ensino elementar tem o segundo passo ndash sendo o primeiro o lugar
aferido no espaccedilo disciplinar disposto na formaccedilatildeo militar de niacutevel superior ndash nas
cadeiras puacuteblicas e nas liccedilotildees particulares de cunho preparatoacuterio ao ingresso no
ensino superior Desde os anos 1810 havia aulas avulsas de Geografia se natildeo no
ensino puacuteblico pelo menos na iniciativa privada para o que corrobora o surgimento
de livros didaacuteticos no iniacutecio da deacutecada de 1820 sendo que o preparatoacuterio para as
carreiras militares eacute com certeza da deacutecada de 1810 Isso porque nos primeiros
anos a Geografia foi objeto de exame para a carreira militar mas natildeo o era para os
cursos de Medicina e Direito o que somente aconteceria apoacutes o segundo lustre do
seacuteculo XIX Dentre alguns exemplos tem-se na proviacutencia do Maranhatildeo em Satildeo
Luiacutes a criaccedilatildeo da cadeira de Geografia em 11 de novembro de 1831 na proviacutencia
de Paraiacuteba do Norte em 07 de junho de 1831 na capital entatildeo denominada Paraiacuteba
(Felipeia) na proviacutencia do Piauiacute em 23 de julho de 1833 na cidade de Oeiras na
proviacutencia de Pernambuco em Olinda foi criada em 07 de setembro de 1930
(ALMEIDA 1989)
Terceiro passo nesse processo de consolidaccedilatildeo da Geografia como
disciplina tem-se em 1837 a fundaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II a Geografia
estabeleceu-se definitivamente como uma das disciplinas do curriacuteculo escolar
brasileiro pois desde entatildeo natildeo seria prescindido do ensino secundaacuterio ndash presenccedila
que ademais aferiu sua inserccedilatildeo na educaccedilatildeo primaacuteria pois o ingresso no ensino
secundaacuterio tambeacutem se dava por exames que incluiacuteam conteuacutedos geograacuteficos
Portanto os exames de admissatildeo variavam e de iniacutecio a Geografia nem
sempre foi exigecircncia Pode-se supor que nesse momento havia um movimento
espiralado quanto agrave definiccedilatildeo das bases culturais sobre as quais assentar a
formaccedilatildeo superior o comum eram as habilidades de escrita e leitura o que
assegura a presenccedila da Retoacuterica o domiacutenio de liacutenguas traccedilo indispensaacutevel agrave
interaccedilatildeo entre a cultura universal necessariamente o Latim seguido do Francecircs e
ocasionalmente do Inglecircs conhecimentos matemaacuteticos conhecimentos filosoacuteficos
e numa zona fronteiriccedila insinuam-se a Histoacuteria e a Geografia O conhecimento
histoacuterico e geograacutefico distanciado da realidade claacutessica e antiga foram
necessidades construiacutedas na medida em que amadureciam as perspectivas
nacionais agrave medida que a formaccedilatildeo superior impunha funccedilotildees sociais que
transpunham os limites de uma educaccedilatildeo escolaacutestica Como visto anteriormente a
Geografia na Real Academia Militar marca uma presenccedila ao mesmo tempo teacutecnica
ndash no sentido da orientaccedilatildeo e representaccedilatildeo espacial ndash e cultural no sentido de
apresentar o mundo e sua descriccedilatildeo aos cursistas passados os tumultuados anos
1820 eacute a partir do amadurecimento do Brasil como paiacutes ou melhor da exposiccedilatildeo de
necessidades da naccedilatildeo das tentativas de organizar e ordenar o territoacuterio que o
saber histoacuterico e geograacutefico passa a vivenciar a experiecircncia da educaccedilatildeo
Criada por lei de 11 de agosto de 1827 os cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e
Olinda exigiam que os ingressantes fossem aprovados em Francecircs Latim Retoacuterica
Filosofia Racional e Moral e Geometria Todavia mais tarde com a aprovaccedilatildeo dos
Estatutos dos Cursos de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais do Impeacuterio em 07 de novembro
de 1831 a habilitaccedilatildeo necessaacuteria a ser demonstrada nos exames foi ampliada
Latim Francecircs Inglecircs Retoacuterica Filosofia Racional e Moral Aritmeacutetica e Geometria
Histoacuteria e Geografia (HAIDAR 1972) periacuteodo concordante com a institucionalizaccedilatildeo
de cadeiras puacuteblicas para o ensino avulso de Geografia
A partir dessa normativa foram criados coleacutegios de artes preparatoacuterias dos
cursos juriacutedicos Em 1854 a Geografia passaria a ser exame tambeacutem para os
cursos de Medicina por meio do decreto n 1387 de 28 de abril daquele ano mas
entatildeo a Geografia jaacute era uma das disciplinas regulares do ensino secundaacuterio papel
consolidado na institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II Como ressalta Haidar (1972)
ao longo do seacuteculo XIX o ensino secundaacuterio foi simples preparatoacuterio para o ingresso
no ensino superior e a partir da deacutecada de 1830 a presenccedila de exames de
Geografia na admissatildeo a esse ensino foi o marco de consolidaccedilatildeo dessa disciplina
Tem-se assim nos anos de 1830 dois marcos regulatoacuterios e consolidadores da
Geografia como disciplina do ensino de base os exames preparatoacuterios e a criaccedilatildeo
do Coleacutegio Pedro II (1837)
As primeiras propostas para uma educaccedilatildeo nacional apoacutes a
regulamentaccedilatildeo do Impeacuterio foram discutidas na Assembleia Constituinte de 1823
mas seus projetos natildeo integraram a constituiccedilatildeo de 1824 porque esta foi dissolvida
antes que fossem levados a termo Dentre as discussotildees havia a proposiccedilatildeo de
estabelecer um sistema de instruccedilatildeo puacuteblica e gratuita o que apareceu no texto final
da Carta uma vez que a gratuidade da educaccedilatildeo foi aferida na Constituiccedilatildeo de
1824 quando no Artigo 179 o Estado promulgou a seguinte garantia ldquoA
inviolabilidade dos Direitos Civis e Politicos dos Cidadatildeos Brazileiros que tem por
base a liberdade a seguranccedila individual e a propriedade eacute garantida pela
Constituiccedilatildeo do Imperio pela maneira seguinterdquo descrevendo dentre os previstos
no inciso XXXII que ldquoA Instrucccedilatildeo primaria eacute gratuita a todos os Cidadatildeosrdquo (BRASIL
1824 p 19 21) Essa gratuidade nunca efetivada plenamente ou com afericcedilatildeo
satisfatoacuteria em razatildeo da estrutura extremamente deficitaacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica
imperial praticamente desapareceu na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica em 1891
(CHIZZOTTI 2001)
O principal problema da primeira constituiccedilatildeo brasileira foi a excessiva
centralizaccedilatildeo das decisotildees poliacutetico-administrativas que desencadearia dois outros
atos legislativos com relevacircncia e maior praticidade para a educaccedilatildeo nacional a Lei
de 15 de outubro de 1827 e o Ato Adicional agrave Constituiccedilatildeo do Impeacuterio de 1834
ambos com indicativos claros de descentralizaccedilatildeo do poder da Corte mas sempre
com supervisatildeo desta
Por conseguinte em 1827 a Lei de 15 de outubro se tornou a primeira
legislaccedilatildeo de fato sobre a instruccedilatildeo puacuteblica no Impeacuterio cujo texto orientava a
organizaccedilatildeo do ensino elementar a ser criado nas cidades vilas e locais mais
populosos das proviacutencias Para isso atribuiacutea aos presidentes das proviacutencias a
marcaccedilatildeo do nuacutemero e localidades das escolas atribuindo-lhes ainda a extinccedilatildeo de
escolas menos funcionais por nuacutemero de acesso reordenando os professores
disponiacuteveis ndash o que ainda centralizava as decisotildees pois os presidentes natildeo
poderiam ldquocriarrdquo efetivamente os estabelecimentos (Art 2ordm) fixou os salaacuterios dos
professores (Art 3ordm) recomendou o ensino muacutetuo78 (Art 4ordm) disponibilizou os
recursos da Fazenda Puacuteblica para aparelhar as instituiccedilotildees e capacitar os
professores em curto prazo (Art 5ordm) instituiu exames puacuteblicos para admissatildeo de
docentes e as condiccedilotildees para assumir uma cadeira (Art 7ordm e 8ordm) previu as
condiccedilotildees para a educaccedilatildeo feminina bem como seu curriacuteculo e para a atuaccedilatildeo de
professoras (Art 11ordm e 12ordm) estabeleceu os castigos previstos pelo meacutetodo
Lancaster (Art 15ordm) e sobretudo pela primeira vez em legislaccedilatildeo estabeleceu um
quadro curricular para o ensino primaacuterio em seu Art 6ordm
Os professores ensinaratildeo a ler escrever as quatro operaccedilotildees de arithimetica pratica de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais de geometria pratica a grammatica de lingua nacional e os principios de moral cristatilde e da doutrina da religiatildeo catolica e apostolica romana proporcionados aacute compreensatildeo dos meninos preferindo para as leituras a Constituiccedilatildeo do Imperio e a Historia do Brasil (BRASIL 1827 p 71)
Percebe-se nessas disposiccedilotildees legais que o ensino primaacuterio apresentava
parcialmente um ato poliacutetico de coesatildeo para a sociedade nacional que emergia com
o novo regime administrativo e estado territorial impotildee a gramaacutetica nacional da
liacutengua portuguesa e faz preferidas a legislaccedilatildeo e a histoacuteria nacional como subisiacutedio agrave
leitura O ensino de Geografia natildeo eacute expliacutecito nessa proposta mas seus viacutenculos
satildeo indiretos conforme lembra Vlach (1988 2005) de forma que por algum tempo
78
O ensino muacutetuo tambeacutem conhecido por ldquomeacutetodo muacutetuordquo ou ldquomeacutetodo monitorialrdquo e consistia em um professor apenas ensinar a um nuacutemero grande de alunos por meio do auxiacutelio de monitores os quais eram escolhidos entre os alunos mais avanccedilados em termos da aprendizagem A instruccedilatildeo dos monitores era agrave parte mantendo a capacitaccedilatildeo para lidar com a decuacuteria ou grupo de 10 alunos em monitoramento (NEVES 2007)
a educaccedilatildeo geograacutefica no acircmbito do ensino primaacuterio manteve as condiccedilotildees e as
caracteriacutesticas das escolas de ler e escrever atuantes desde os jesuiacutetas e
perpetuadas nos periacuteodos seguintes presente mas natildeo incidente e nem explicitada
A implementaccedilatildeo dessa instruccedilatildeo ocorreu contudo nas condiccedilotildees
possiacuteveis agraves proviacutencias e dependente da vontade poliacutetica dos gestores puacuteblicos e
de acordo com os interesses das classes dirigentes predominando sempre a
ausecircncia de estruturas apropriadas e de matildeo de obra qualificada (RIBEIRO 2001
HALLEWELL 2005) o que fez prevalecer as condiccedilotildees remontantes agraves aulas de
letramento quando passaram para a eacutegide do Estado em 1772 sem que nada de
significativo melhorasse ou ampliasse a educaccedilatildeo primaacuteria
Eacute evidente que o Estado reagia agraves criacuteticas e agrave insatisfaccedilatildeo geradas pela
qualidade ruim que os rudimentos da educaccedilatildeo nacional apresentavam Percebe-se
que o governo tinha ciecircncia da necessidade de a instruccedilatildeo ter uma propagaccedilatildeo
raacutepida e ordenada e o sucesso do meacutetodo Lancaster entre os ingleses pareceu
inspirar essa decisatildeo (CHIZZOTTI 2001) Este meacutetodo tinha amplo reconhecimento
entre os militares (NEVES 2007) pela disciplina que impunha e por centrar na
memorizaccedilatildeo e na repeticcedilatildeo como meio eficaz de aprender aleacutem de dispersar a real
demanda de professores de organizaccedilatildeo e limpeza do espaccedilo escolar ndash atividades
cobertas por monitores selecionados dentre os proacuteprios alunos O ensino muacutetuo
tinha uma experiecircncia precedente pois havia sido normalizado pelo decreto de 1ordm de
marccedilo de 1823 que criava na Corte uma escola de primeiras letras orientada por
esse meacutetodo A disciplina era tida em primazia por um estado em formaccedilatildeo
necessitado de espiacuterito militar e de composiccedilotildees administrativas Poreacutem jaacute na
deacutecada seguinte os relatoacuterios do governo indicariam a permanecircncia do quadro
caoacutetico da instruccedilatildeo puacuteblica e a ineficaacutecia do meacutetodo intuitivo bem como a peacutessima
qualidade do ensino ofertado (SUCUPIRA 2001) sendo portanto abandonado
Apoacutes a Lei de 15 de outubro o proacuteximo passo significativo para a educaccedilatildeo
brasileira e por extensatildeo para o ensino de Geografia foi o Ato Adicional de 1834
aprovado pela Lei n 16 de 12 de agosto deste ano O Ato foi a uacutenica emenda
apresentada agrave Constituiccedilatildeo de 1824 suscitou um amplo debate sobre a
centralizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo entre o poder geral e a autonomia das proviacutencias
sendo relevante por ter criado as Assembleias Legislativas Provinciais as quais no
campo da educaccedilatildeo puacuteblica dentre outros atos administrativos poderia gerir e
legislar
Sobre instruccedilatildeo puacuteblica e estabelecimentos proacuteprios a promovecirc-la natildeo compreendendo as faculdades de medicina os cursos juriacutedicos academias atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instruccedilatildeo que para o futuro forem criados por lei geral (Ato Adicional de 1834 Artigo 10 sect 2 Apud BONAVIDES ANDRADE 1991 p 595)
O Ato terminou por ser um marco para a educaccedilatildeo nacional sobretudo por
eximir o poder central de responsabilidades sobre o ensino puacuteblico que natildeo fosse o
da Corte sufocando os projetos em discussatildeo sobre a instruccedilatildeo elementar
colocados desde a Assembleia Constituinte de 1824 pois descentralizada a
responsabilidade sobre sua organizaccedilatildeo e sustentaccedilatildeo viu-se um quadro de
desorganizaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo estabelecido no cenaacuterio geral do ensino
(AZEVEDO 1963) Com isso houve um fortalecimento do ensino secundaacuterio e
primaacuterio na iniciativa privada com a educaccedilatildeo das elites concentrando-se nas
escolas confessionais O poder central encarregou-se da educaccedilatildeo do municiacutepio do
Rio de Janeiro considerado neutro e responsabilizando-se pelo ensino superior
existente e natildeo criando as proviacutencias outros passou a ter influecircncia direta na
organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no que tange aos objetivos e agrave organizaccedilatildeo
curricular
Destinando-se precipuamente ao preparo de candidatos para as escolas superiores do Impeacuterio o ensino secundaacuterio em todo o paiacutes com um ou outro acrescentamento com uma ou outra lacuna reproduzia em seu curriacuteculo o conjunto de disciplinas fixadas pelo Centro para os exames de ingresso nas Academias (HAIDAR 1972 p 19)
Ateacute o Ato Adicional o ensino secundaacuterio ainda estruturava-se na forma de aulas
avulsas tradiccedilatildeo instituiacuteda pelos jesuiacutetas e mantida no periacuteodo pombalino com a
denominaccedilatildeo de ldquoaulas reacutegiasrdquo No ensino puacuteblico existiam de modo bastante
reduzido concentradas nos seminaacuterios e no Coleacutegio da Serra do Caraccedila aleacutem de
alguns estabelecimentos provinciais ldquo[] um punhado de aulas de latim retoacuterica
filosofia geometria francecircs e comeacutercio Somadas tocircdas as aulas puacuteblicas providas
entatildeo existentes na Cocircrte e nas proviacutencias mal se ultrapassava uma centenardquo
(HAIDAR 1972 p 20) O Atheneu Norte-Riograndense por exemplo fundado em
03 de fevereiro de 1834 pelo entatildeo presidente da Proviacutencia Quaresma Torreatildeo
autor de um compecircndio de Geografia surgiu para reunir em uma mesma instituiccedilatildeo
as disciplinas das Humanidades que antes sediavam-se em estabelecimentos
diferentes Filosofia Retoacuterica Geometria Francecircs e Latim A partir do Ato Adicional
houve a tentativa de estruturar o ensino secundaacuterio nas proviacutencias tentando sua
equiparaccedilatildeo ao Coleacutegio Pedro II alguns anos mais tarde
O Ato Adicional promulgou portanto agraves proviacutencias o poder de legislar sobre
a instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria e secundaacuteria agindo diretamente sobre os
estabelecimentos poreacutem com supervisatildeo do poder geral algo que praticamente
inexistiu a preocupaccedilatildeo do poder imperial nunca excedeu os limites da comarca da
Corte embora o centro natildeo deixasse de ser referecircncia e modelo Essa duacutebia
descentralizaccedilatildeo foi vital para o desenvolvimento de estabelecimentos de ensino
secundaacuterio na extensatildeo do paiacutes e para iniciar o processo de organizaccedilatildeo do ensino
secundaacuterio Esse processo culminou na transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo
Joaquim no Coleacutegio Pedro II em 02 de dezembro de 1937 em decreto consignado
pelo Ministro da Justiccedila Interino Bernardo Pereira de Vasconcellos ndash fato que
interessa diretamente agrave gecircnese da Geografia como disciplina institucionalizada no
ensino secundaacuterio
412 Curriacuteculo e ensino de Geografia no Impeacuterio o papel do Coleacutegio Pedro II
O surgimento do Coleacutegio Pedro II seguiu o modelo dos liceus franceses e
apresentou uma reforma educacional importante (restrita a ele de iniacutecio) introduziu
os estudos simultacircneos e seriados o que oscilou as aulas avulsas como perspectiva
de organizaccedilatildeo curricular ndash processo que iniciaria o enfraquecimento dessa
organizaccedilatildeo do ensino dos preparatoacuterios cuja presenccedila passou a ser oscilante ateacute
sua extinccedilatildeo definitiva nos anos 1870 ndash passando a aprovaccedilatildeo a ser por seacuterie e
natildeo por disciplina e introduziu o curriacuteculo obrigatoacuterio como curso regular de seis a
oito anos assim colocado no Art 3ordm do Decreto de 02 de dezembro de 1937 que
instituiu o coleacutegio ldquoNeste collegio seratildeo ensinadas as linguas latina grega franceza
e ingleza rhetorica e os princiacutepios elementares de geographia historia philosophia
zoologia mineralogia botanica chimica physica arithmetica algebra geometria e
astronomiardquo (BRASIL 1837)
A extensatildeo do curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II cobria a necessidade de
preparatoacuterios para qualquer curso acadecircmico do paiacutes e um pouco aleacutem visto
objetivar por si uma formaccedilatildeo completa que habilitaria o egresso com o bacharelado
em Letras e a posse desse tiacutetulo permitiria a admissatildeo em qualquer curso superior
sem a necessidade de exames Contudo o Coleacutegio jaacute nascia com um desafio a
enfrentar concorrer com os estabelecimentos particulares que ofereciam
preparatoacuterios em um tempo muito inferior aos oito anos do curso do Pedro II
O ano de 1837 teve mudanccedilas poliacuteticas importantes que favoreceram as
transformaccedilotildees no cenaacuterio da instruccedilatildeo puacuteblica da Corte dentre as quais a renuacutencia
do regente79 Diogo Antonio Feijoacute (1784-1843) passando a constituir um novo
ministeacuterio Pedro de Arauacutejo Lima (1793-1870) o que trouxe uma renovaccedilatildeo ao
cenaacuterio poliacutetico concretizando antigas discussotildees quanto agrave educaccedilatildeo (DOacuteRIA
1937) A imprensa os relatoacuterios provinciais os discursos nas cacircmaras legislativas jaacute
de algum tempo colocavam em pauta a necessidade de melhorar a instruccedilatildeo
puacuteblica solicitando a reuniatildeo e a fiscalizaccedilatildeo das aulas avulsas em uma uacutenica
instituiccedilatildeo (HAIDAR 1972) como indica o relatoacuterio despachado para a Assembleia
Legislativa em 1835 pelo presidente da proviacutencia do Rio de Janeiro Joaquim Joseacute
Rodrigues Torres
[] fora meu parecer que quando mesmo se julgasse dever continuar inteiramente gratuito o ensino dessas mateacuterias [da instruccedilatildeo avulsa] conviera reunir em collegios e em tres ou quatro differentes pontos da Proviacutencia todas as Cadeiras jaacute creadas e que se houverem de crear Assim tornava-se mais faacutecil a disciplina destes estabelecimentos e a despeza com que o Estado deve carregar achar-se-haacute mais modica e proficua (BRASIL 1850 p 3-4)
A posiccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II no cenaacuterio geral da instruccedilatildeo secundaacuteria do
Impeacuterio foi legitimar e de certa forma padronizar os saberes escolares
O Coleacutegio Pedro II foi criado para ser uma instituiccedilatildeo escolar paradigmaacutetica natildeo soacute no que diz respeito agrave sua organizaccedilatildeo e funcionamento mas tambeacutem em relaccedilatildeo aos saberes que por ele deveriam ser veiculados O fato de que os conteuacutedos a serem ministrados assim como os compecircndios
79
Apoacutes o retorno de D Pedro I a Portugal ficou em seu lugar D Pedro II ainda infante pelo que o paiacutes era governado por regecircncias
adotados pelos professores soacute poderem vigorar a partir da aprovaccedilatildeo legal dos legisladores de entatildeo deixa expliacutecita a tentativa de exercer um controle sobre a cultura a ser legitimada (ROCHA 1996 p 61)
Isto estaacute enunciado nas palavras do ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos no
discurso proferido por ocasiatildeo da abertura das aulas do Coleacutegio em marccedilo de 1838
quando afirma ser ldquo[] intento do Regente Interino criando este Collegio []
offerecer hum exemplar ou norma aos que jaacute se acham instituiacutedos nesta Capital por
alguns particulares convencido como estaacute de que a educaccedilatildeo collegial he preferiacutevel
agrave educaccedilatildeo privada80rdquo (VASCONCELLOS 1937 p 274)
Essa posiccedilatildeo era partiacutecipe dos entrelaccedilos do projeto poliacutetico de legitimar a
Monarquia e civilizar a naccedilatildeo com padrotildees inspirados no modelo europeu liderado
pela elite poliacutetica representante dos ideais econocircmicos e intelectuais pactuados e
representados pela classe do Estado Era incipiente entatildeo o sentimento de
pertenccedila a uma paacutetria brasileira no acircmbito geral do territoacuterio nacional ainda
permeado da influecircncia portuguesa povoado por migrantes e descentes diretos de
migrantes A nacionalidade brasileira foi um modelado principiado nas deacutecadas
iniciais do Impeacuterio amadurecido e consolidado ao longo do seacuteculo XIX (VLACH
1988 ANDRADE 1999) e era uma forma de contrapor as ameaccedilas internas e
externas que rondavam o jovem territoacuterio independente dentre as quais as rebeliotildees
e conflitos armados em diversas proviacutencias o receio de perder sua base de
sustentaccedilatildeo econocircmica ndash a matildeo de obra escrava ndash por pressatildeo da Inglaterra o
receio de uma recolonizaccedilatildeo portuguesa Nesse projeto de nacionalidade no
tocante agrave educaccedilatildeo teve-se a criaccedilatildeo dos cursos juriacutedicos de Satildeo Paulo e Olinda
(1827) a fundaccedilatildeo do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico Brasileiro e do Arquivo
Nacional (1838) dos primeiros liceus provinciais e escolas normais e a proacutepria
criaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II estatildeo como consolidaccedilatildeo desse projeto civilizador O
Coleacutegio particularmente emergia como instituiccedilatildeo de formaccedilatildeo daqueles que
conduziriam os rumos do paiacutes quanto agrave organizaccedilatildeo nacional emergente para uma
ldquomocidaderdquo que aiacute aprenderia ldquo[] a independecircncia da virtude a firmeza de caraacuteter
a energia e o valor da sciencia a pureza da moral e o respeito da Religiatildeo [e o que
isso] tem de dar aacute Pratria aacute naccedilatildeo aacute Liberdade ao Throno e ao Altar servidores
fieacuteis honra e gloacuteria do nome Brasileirordquo como anunciado pelo ministro Vasconcellos
80
Subtende-se aiacute uma criacutetica ao modelo de oferta avulsa de disciplinas
(1937 p 275) no discurso supracitado sendo ele um dos nomes poliacuteticos atuantes
por uma unidade nacional (SOUZA 1937) e sendo essa considerada uma tarefa de
ldquodedicaccedilatildeo patrioacuteticardquo conforme palavras do ministro
De fato Moises (2007 p 126) apoacutes analisar diversos documentos da eacutepoca
da institucionalizaccedilatildeo do Coleacutegio Pedro II incluindo a repercussatildeo da nascente
imprensa fluminense conclui que
a formaccedilatildeo organizada e defendida pelos principais mentores da iniciativa governamental de 1837 natildeo estava de fato preocupada em oferecer uma instruccedilatildeo que atendesse agrave grande maioria da populaccedilatildeo constituiacuteda majoritariamente de analfabetos mas buscava por meio da educaccedilatildeo uma maneira de consolidar a unidade nacional ameaccedilada constantemente naquele momento O Coleacutegio Pedro II ao ter como prioridade a restauraccedilatildeo das disciplinas claacutessicas pretendeu assegurar uma formaccedilatildeo aos alunos que poderiam chegar a posiccedilotildees de destaque no paiacutes relacionadas em especial agrave direccedilatildeo poliacutetica de modo que pudessem contribuir para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da nacionalidade brasileira
Sendo a supervisatildeo do Estado uma forma de controle este significa a
implementaccedilatildeo de objetivos do estado a configuraccedilatildeo dos sujeitos de acordo com
uma proposta oficial ndash que natildeo era outra a natildeo ser a formaccedilatildeo de nacionais como
explicita Vasconcellos (1937 p 274 ndash grifos meus)
Soacute assim [com a implementaccedilatildeo do Coleacutegio e seu regulamento] deixaratildeo receios infundados de tomar a natureza de difficuldades reaes soacute assim se evitaraacute o escacircndalo de estylos arbitraacuterios e porventura oppostos agraves providecircncias e agraves intenccedilotildees do Governo e a mocidade de par com as doutrinas que hatildeo de formar o seu coraccedilatildeo e aperfeiccediloar a sua intelligecircncia aprenderaacute a respeitar as leis e as instituiccedilotildees e conheceraacute as vantagens da subordinaccedilatildeo e da obediecircncia
A accedilatildeo do Estado nesse momento no campo educacional queria elevar o
paiacutes para ombrear as naccedilotildees civilizadas agindo portanto nos cursos superiores e
notadamente no que interferisse no acircmbito deles como eacute o caso dos preparatoacuterios e
do ensino secundaacuterio O fio condutor dessas accedilotildees era no miacutenimo a criaccedilatildeo de
modelos Se o Ato Institucional de 1834 deixara para as proviacutencias a organizaccedilatildeo da
instruccedilatildeo puacuteblica por outro atrelou os exames do ensino superior ndash instacircncia
educacional aos cuidados diretos do Estado ndash ao Coleacutegio Pedro II por conseguinte
influindo no ensino privado e no pequeno nuacutemero de instituiccedilotildees de instruccedilatildeo
secundaacuteria surgentes nas proviacutencias em particular em Pernambuco Bahia Paraiacuteba
e Rio Grande do Norte (HAIDAR 1972)
O curriacuteculo do Coleacutegio Pedro II posteriormente foi incorporado pelo disposto
nos exames de admissatildeo ao ensino superior como deixa claro a Portaria de 4 de
maio de 1856 (apud HAIDAR 1972 p 82) cujo teor era a regulaccedilatildeo do ensino
preparatoacuterio e que afirmava o seguinte em dois de seus artigos
Art 7ordm Os compecircndios e livros usados nas aulas de preparatoacuterios seratildeo os mesmos que tiverem sido ou forem adotados pelo govecircrno para a instruccedilatildeo secundaacuteria Os professocircres guiar-se-atildeo em suas explicaccedilotildees pelo sistema do programa dos estudos das aulas secundaacuterias da Cocircrte e segundo as instruccedilotildees que para ecircsse fim receberem o diretor
Art 8ordm Para a execuccedilatildeo do artigo antecedente o inspetor geral da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria do Municiacutepio da Cocircrte enviaraacute aos diretores das Faculdades natildeo soacute a relaccedilatildeo dos compecircndios e livros aprovados para uso das aulas de ensino secundaacuterio e 30 exemplares do referido programa como tambeacutem lhes comunicaraacute imediatamente qualquer alteraccedilatildeo que haja neste objeto
Por si soacute essa medida jaacute impunha o modelo curricular do coleacutegio como orientaccedilatildeo
para os demais estabelecimentos de ensino do paiacutes Para Vechia Lorenz (1998 p
VII)
[] os programas de ensino do Coleacutegio exerceram influecircncia ainda que de forma indireta sobre as escolas secundaacuterias existentes nos meados do seacuteculo XIX e as que surgiram em nuacutemero crescente ateacute o final do impeacuterio e inclusive nos primeiros anos da Repuacuteblica Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil foram criados cursos de niacutevel superior nas aacutereas de Medicina e Engenharia e posteriormente na de Direito A partir de 1838 o Coleacutegio Pedro II passou a desempenhar o importante papel de preparar os alunos para entrar nessas instituiccedilotildees [] O curriacuteculo era um mecanismo utilizado na tentativa de conciliar os interesses do ensino superior e os objetivos proacuteprios do ensino secundaacuterio Os demais coleacutegios eram incentivados a adequar os seus curriacuteculos e programas aos do Coleacutegio de Pedro II principalmente a partir de 1854 quando os exames preparatoacuterios passaram a ser realizados em conformidade com os programas daquela instituiccedilatildeo A loacutegica exigia portanto a adoccedilatildeo da emulaccedilatildeo desses programas pelos coleacutegios provinciais e particulares
Essa trajetoacuteria iniciou-se em 1838 totalizando ateacute o fim do Impeacuterio 10 atos
legais de regulaccedilatildeo da estrutura pedagoacutegica da grade curricular e dos saberes a
serem ministrados no Pedro II81 Essa legislaccedilatildeo determinou a organizaccedilatildeo do
81
No periacuteodo republicano ateacute meados do seacuteculo XX o Coleacutegio contaria ainda com mais oito programas (VECHIA LORENZ 1998)
ensino secundaacuterio e delimitou os espaccedilos que a Geografia assumiu na grade das
disciplinas escolares
O primeiro destes atos foi o Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 que
consolidou os estudos claacutessicos como plano de ensino e aprendizagem mas
abrindo espaccedilo para liacutenguas modernas e disciplinas cientiacuteficas estudos entatildeo
considerados modernos Organizado em oito seacuteries distribuiacutedas em seis anos e
executadas por disciplinas simultacircneas a Geografia foi inserida na 8ordf e 7ordf seacuteries
com cinco liccedilotildees semanais e na 6ordf seacuterie com uma liccedilatildeo semanal Este regulamento
predispunha 239 artigos estabelecendo orientaccedilotildees para os diversos aspectos
relacionados ao funcionamento da instituiccedilatildeo como sintetiza Joaquim Manoel de
Macedo (1991 p 202)
[] marcando as funccedilotildees do reitor vice-diretor professocircres e todos os empregados estabelecendo o plano de estudos dividindo o ensino em oito aulas ou anos letivos em que se devia ensinar gramaacutetica portuguecircsa latim grego francecircs inglecircs geografia histoacuteria retoacuterica e poeacutetica e filosofia Matemaacuteticas compreendendo aritmeacutetica aacutelgebra geometria trigonometria e mecacircnica Astronomia Histoacuteria natural compreendendo zoologia botacircnica e mineralogia Ciecircncias fiacutesicas compreendendo fiacutesica e quiacutemica Desenho e muacutesica vocal Especificando o enxoval dos alunos as condiccedilotildees para o bacharelado o regime econocircmico e tudo enfim quanto era de mister que focircsse regulado
O ministro Vasconcellos na elaboraccedilatildeo dos estatutos do Coleacutegio Pedro II
consultou a organizaccedilatildeo dos estudos secundaacuterios na Pruacutessia Holanda e Franccedila
procurando adaptar ao caso nacional o que parecia mais conveniente os mais
influentes foram os estatutos franceses agraves vezes literalmente copiados (DORIA
1937) Em pronunciamento na Cacircmara dos Deputados no ano da transformaccedilatildeo do
Seminaacuterio Satildeo Joaquim no Coleacutegio o ministro Vasconcelos intencionou a orientaccedilatildeo
de elevar os estudos de Humanidades e das liacutenguas claacutessicas no Brasil (ANAIS DA
CAcircMARA DOS DEPUTADOS 1837 p 117) agrupando seacuteries para em primeiro
lugar os estudos claacutessicos de Gramaacutetica Retoacuterica Poeacutetica Filosofia Latim e
Grego As inovaccedilotildees curriculares contaram com o ensino da Gramaacutetica Nacional
duas liacutenguas vivas o Francecircs e o Inglecircs Histoacuteria e Geografia aleacutem de Matemaacutetica
Ciecircncias Naturais Muacutesica e Desenho
O Inglecircs e o Francecircs inseriam-se pelo reconhecimento de que eram
necessaacuterias para uma comunicaccedilatildeo aleacutem das fronteiras sendo ainda formas para
aquisiccedilatildeo de conhecimentos sobre cultura ciecircncias e artes em um momento em
que o latim declinava como linguagem universal do saber formal Da mesma forma
a matemaacutetica e as ciecircncias impunham-se paulatinamente como plataforma para o
desenvolvimento ou desempenho cientiacutefico e tecnoloacutegico Sem duacutevida tratava-se de
um curriacuteculo influenciado pelas ideias liberais que percorriam todos os cantos da
Europa esclarecida
Em fins da deacutecada de 1830 o ensino de Geografia por sua vez jaacute era um
paracircmetro em qualquer discussatildeo curricular para o ensino elementar A presenccedila da
Geografia na grade curricular do Pedro II notadamente eacute uma das influecircncias do
modelo francecircs de ensino secundaacuterio no qual haacute tempos figurava essa disciplina
como parte da formaccedilatildeo dos sujeitos nacionais Mas natildeo somente pois a essa altura
da formaccedilatildeo do paiacutes a necessidade de um ensino espacial nos processos de
escolarizaccedilatildeo se impunha no debate geral sobre a educaccedilatildeo Para exemplificar
veja-se a posiccedilatildeo da imprensa um dos veiacuteculos de oposiccedilatildeo ao status poliacutetico dos
regentes monaacuterquicos em veiculaccedilatildeo desde 1827 foi o jornal Aurora Fluminense
Essa folha em relaccedilatildeo agrave transformaccedilatildeo do Seminaacuterio de Satildeo Joaquim (que educava
crianccedilas pobres) no Coleacutegio Pedro II criticou severamente a subversatildeo social que
essa institucionalizaccedilatildeo representou
O estabelecimento das classes pobres foi transformado em monopoacutelio da instrucccedilatildeo do rico Disemos do rico e em todo rigor do termo porque soacute uma porccedilatildeo miacutenima da nossa sociedade a mais abastada poderaacute participar hoje das vantagens do collegio Pedro II tatildeo levantadas satildeo as condiccedilotildees da admissatildeo para aquelle estabelecimento cujas formas gymnasticas satildeo o grego e o latim (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3)
E como representantes da sociedade civil apresentam uma proposta de ensino ndash
sem luxos claacutessicos como o aprendizado das liacutenguas grega e latina ndash que atendesse
agrave populaccedilatildeo como um todo na qual se inclui o ensino geograacutefico
Nos fariacuteamos ensinar no Seminaacuterio de S Joaquim os elementares princiacutepios das letras e algumas ideacuteias gerais das sciencias ensino comum e conforme a necessidade de todas as proffissotildees Eis aqui quaes seriam as mateacuterias drsquoeste ensino 1 da liacutengua materna aprendendo-se da grammaacutetica tatildeo somente aquillo que eacute essencial para entender a construcccedilatildeo do discurso 2 um epithome que nrsquouma colleccedilatildeo de maacuteximas explique de um modo curto e claro o systema solar as leis do movimento da attracccedilatildeo e da gravidade 3 outro cathecismo de geographia feito conforme o mesmo plano 4 uma synopsis de chronologia e de histoacuteria geral que de uma succinta e poreacutem compreensiva relaccedilatildeo dos principais acontecimentos do mundo 5
noccedilotildees geraes de psycologia e de moral 6 um cathecismo poliacutetico onde explicada fosse a constituiccedilatildeo do estado a importacircncia das leis a necessidade dos tributos os princiacutepios porque regula o uso da moeda e o valor das cousas e finalmente as ideacuteias as mais geraes relativas ao commeacutercio a agricultura e a industria 7 as lingoas francesa e inglesa (AURORA FLUMINENSE 1838 f 3 ndash grifos meus)
Nos primeiros anos os professores foram empossados e indicados pelo
governo sendo selecionados dentre representantes da inteligecircncia oitocentista A
cadeira de Histoacuteria e Geografia por exemplo foi ocupada inauguralmente por
Justiniano Joseacute da Rocha Durante a vigecircncia do Impeacuterio a Cadeira de Histoacuteria e
Geografia separadas na deacutecada de 1850 quando passou a existir entatildeo uma
caacutetedra exclusiva para a Geografia foi ocupada pelo cocircnego Dr Marcelino Joseacute de
Ribeiro Silva Bueno (1840 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Baptista Caloacutegeras (1847
Geografia e Histoacuteria) Dr Joaquim Manoel de Macedo (1849 Corografia e Histoacuteria
do Brasil) Frei Camilo de Monserrat (1850 Geografia e Histoacuteria) Joatildeo Antonio
Gonccedilalves da Silva (1855 Histoacuteria Geral e Geografia) Pedro Joseacute de Abreu (1858
Geografia) Dr Francisco Joseacute Xavier (1879 Geografia) Joatildeo Capistrano de Abreu
(1883 Corografia e Histoacuteria do Brasil)
No curriacuteculo de Ciecircncias alguns dos conteuacutedos ensinados seriam mais
tarde incorporados ao ensino de Geografia sobretudo os relacionados agrave Geografia
Fiacutesica eacute o caso da Geologia e da Mineralogia Contudo jaacute na primeira formaccedilatildeo
curricular do Pedro II conforme mencionado anteriormente a Geografia comparece
nas trecircs primeiras seacuteries com um total de seis liccedilotildees semanais cinco nos primeiras
e uma na sexta seacuterie (Quadro 04) Somente apoacutes o aluno ter adquirido noccedilotildees
gerais de Geografia no primeiro ano passava a estudar Histoacuteria a partir do segundo
e em todos os anos
QUADRO 04 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1838
Ano Seriaccedilatildeo Disciplinas Geograacuteficas Observaccedilotildees
1838
Regulamento n 8 de 31 de janeiro de 1838 (Coleacutegio Pedro II)
S
ecun
daacuteri
o d
e 8
Seacuteri
es 0
6 A
nos 8ordf e 7ordf
Seacuteries Geografia 5 liccedilotildees semanais
6ordf Seacuterie Geografia 1 liccedilatildeo semanal
5ordf e 4ordf Seacuterie
-
3ordf Seacuterie -
2ordf Seacuterie -
1ordf Seacuterie -
Fonte Brasil (1838) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Em primeiro de fevereiro de 1841 o Regulamento n 62 que fez algumas
alteraccedilotildees no estatuto do Coleacutegio implementado em 1838 estabeleceu um curso de
sete anos para a integraccedilatildeo curricular do bacharelado sendo proposto ldquo[] uma
redistribuiccedilatildeo das mateacuterias pelas diferentes seacuteries com o objetivo de melhor atender
ao desenvolvimento intelectual dos alunosrdquo (HAIDAR 1972 p 102) Certa
observaccedilatildeo da aptidatildeo e do raciociacutenio dos alunos enquanto capacidade intelectual
foi considerada em outros termos a capacidade de memorizaccedilatildeo habilidade
pedagoacutegica apreciada entatildeo e por muito tempo depois como justifica o proacuteprio
Regulamento
Tendo em consideraccedilatildeo por huma parte que o tempo de seis annos ora empregados no curso da Instrucccedilatildeo secundaria no Collegio de Pedro Segundo natildeo he sufficiente para os lumnos poderem adquirir as necessaacuterias noccedilotildees das Artes e Sciencias que se ensinatildeo no referudi Collegio e por outra parte que nos primeiros annos se dedicao os mesmos alumnos alguns estudos para os quaes ainda se natildeo achatildeo aptos por quanto supposto tenhatildeo sufficientemente desenvolvida a memoria natildeo tem com tudo desenvolvido no mesmo gratildeo o raciocinio do qual esses estudos principalmente dependem [] (BRASIL 1841 p 13)
A matemaacutetica e as ciecircncias foram reduzidas e postergadas aos uacuteltimos
anos ao passo que a Geografia teve sua carga horaacuteria ampliada e distribuiacuteda por
mais seacuteriesanos (Quadro 05) A Geografia passa a estar em todas as seacuteries a partir
do 2ordm ano sendo renomeada ldquoGeographia Descriptivardquo Aleacutem dessa havia ainda
uma outra disciplina geograacutefica denominada ldquoGeographia Mathematica e
Chronologiardquo esta disciplina no entanto pertencia agrave cadeira de Matemaacutetica e natildeo agrave
docecircncia de Geografia (Art 3ordm) Tambeacutem a Geografia precedia nessa grade ao
ensino de Histoacuteria introduzida apenas no 3ordm ano apoacutes o estudo de Geografia com
trecircs liccedilotildees semanais no 2ordm ano nos demais o ensino geograacutefico dispunha de um
horaacuterio semanal
Em fins dos anos 1840 havia entre os poliacuteticos uma preocupaccedilatildeo com a
situaccedilatildeo geral do ensino fora do acircmbito do Coleacutegio Pedro II Inexistia da parte do
governo um controle sobre os estabelecimentos privados e as aulas puacuteblicas ainda
existentes pouco acrescentavam agrave formaccedilatildeo dos estudantes Certamente a
experiecircncia do Coleacutegio Pedro II acompanhado de perto pelo governo influiu na
defesa de propostas para esse cenaacuterio dentre as quais a criaccedilatildeo de uma comissatildeo
permanente de instruccedilatildeo puacuteblica e a extinccedilatildeo das aulas avulsas Soacute mais tarde a
esse propoacutesito em 1854 foi criada a Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria e
Secundaacuteria do Municiacutepio da Corte oacutergatildeo que assumiu os exames gerais dos
preparatoacuterios agiu sobre a liberdade de ensino e reformulou os estatutos do
Coleacutegio Pedro II
QUADRO 05 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1841
1841
Regulamento n 62 de 01021841 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
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o d
e 0
7 a
nos
1ordm ano - -
2ordm ano Geografia descritiva 3 liccedilotildees semanais
3ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal
4ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal
5ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal
6ordm ano Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal
7ordm ano
Geografia descritiva 1 liccedilatildeo semanal
Geografia descritiva
1 liccedilotildees semanais
Geografia Matemaacutetica e Cronologia 2 liccedilotildees semanais
Fonte Brasil (1841) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Com o Ato Adicional de 1834 o governo do Impeacuterio descentralizou a
educaccedilatildeo permitindo agraves Proviacutencias a oferta e a manutenccedilatildeo do ensino primaacuterio e
secundaacuterio Poreacutem nesse processo centralizou uma referecircncia com a
institucionalizaccedilatildeo do Imperial Coleacutegio de Pedro II que a partir de sua criaccedilatildeo
passou a difundir ideias sobre a educaccedilatildeo a partir de modelos externos sobretudo
europeus influindo no comportamento dos estabelecimentos puacuteblicos e particulares
de todo o paiacutes Natildeo deixou de ser conforme lembra Haidar (1972) uma medida de
orientaccedilatildeo e controle de todo o ensino ofertado no territoacuterio brasileiro ateacute porque o
ensino secundaacuterio em grande parte teve a performance de preparatoacuterio para o
ingresso no ensino superior e os exames de admissatildeo aos cursos superiores
estavam atrelados aos programas do Coleacutegio Pedro II ldquoos dezesseis liceus
existentes em 1854 e os vinte existentes em 1872 eram incentivados a adequar seus
planos de estudos e programas de ensino aos do Coleacutegio bem como adotar os
mesmos livros didaacuteticosrdquo como lembram Vechia Lorens (2006 p 6009) As
proviacutencias resistiram a essa imposiccedilatildeo sendo as matriacuteculas avulsas uma prova
dessa posiccedilatildeo haja vista que desde sua fundaccedilatildeo o Coleacutegio Pedro II teve a
proposiccedilatildeo de um programa formativo seriado e integrado mas a frequecircncia avulsa
praticamente acompanhou com avanccedilos e retrocessos por todo o periacuteodo imperial
Na entrada dos anos 1850 os relatoacuterios provinciais indicavam graves
deficiecircncias no ensino secundaacuterio de todo o paiacutes o que urgia providecircncias do
governo central mas que natildeo ferissem a constituiccedilatildeo que descentralizara o ensino
da naccedilatildeo Dentre as reaccedilotildees do governo esteve a mencionada criaccedilatildeo da Inspetoria
Geral da Instruccedilatildeo Publica no Municiacutepio da Corte que atuando para o municiacutepio
neutro influenciava as demais instituiccedilotildees de ensino A Inspetoria era responsaacutevel
ainda pela anaacutelise dos relatoacuterios chegados das proviacutencias com pareceres influentes
sobre a legislaccedilatildeo e sobre a formaccedilatildeo discursiva condizente ao ensino no paiacutes
Dentre as medidas gerais impostas pela Inspetoria estaacute a equiparaccedilatildeo dos
programas de ensino e dos livros didaacuteticos adotados no Coleacutegio Pedro II (HAIDAR
1972) os quais fundamentavam a elaboraccedilatildeo dos exames admissionais
O programa de Geografia divulgado no iniacutecio de 1850 pelo Coleacutegio Pedro II
manteve a estrutura introduzida em 1841 apenas alterando os nomes das
disciplinas geograacuteficas a ldquoGeografia Descritivardquo se torna soacute ldquoGeografiardquo a Geografia
Matemaacutetica passa a se chamar Cosmografia e a Cronologia cede para a Geografia
Antiga (Quadro 06)
QUADRO 06 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1850
1850
Programa do Coleacutegio Pedro II
Secun
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o d
e
07 a
nos
2ordm ano Geografia
3ordm ano Geografia
4ordm ano Geografia
5ordm ano Geografia
6ordm ano Geografia
7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
A deacutecada de 1850 na Europa foi marcada por reformas educacionais que
procuravam adequar os sistemas de ensino agraves necessidades impostas pela
economia em pleno desenvolvimento Esse movimento teve repercussatildeo no Brasil
Nesse contexto o Coleacutegio Pedro II introduziu a reforma do Decreto n 1556 de 17
de fevereiro de 1855 ato decorrente da Lei n 630 apresentada na Assembleia
Geral Legislativa em 17 de setembro de 1851 por Couto Ferraz a qual a autorizava
reformas no ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte Dentre os
principais pontos da reforma no Coleacutegio Pedro II tem-se a compatibilizaccedilatildeo entre
ensino secundaacuterio e ensino teacutecnico por meio da divisatildeo das seacuteries em dois ciclos
um de quatro e outro de trecircs anos Os Estudos de Primeira Classe em quatro anos
obrigatoriamente deveriam ser frequentados por todos os matriculados findos os
quais poderiam continuar os estudos no proacuteprio coleacutegio ou uma vez certificados
ingressar em outros cursos sem a necessidade de prestar exames Os Estudos de
Segunda Classe por sua vez de trecircs anos sucediam ao primeiro ciclo e sua
conclusatildeo bacharelava em Letras o secundarista Com essa nova estrutura houve
uma redistribuiccedilatildeo das disciplinas pelas seacuteries Geografia e Histoacuteria tiveram suas
cadeiras separadas embora ainda coetacircneas ambas abordavam o periacuteodo
moderno o periacuteodo antigo e o Brasil sendo a abordagem nacional denominada
Corografia isso nos dois anos finais dos estudos da Primeira Classe Nos cursos da
Segunda Classe ambas enquadravam o periacuteodo antigo e a Idade Meacutedia Observa-
se aiacute uma proposta que procura uma transiccedilatildeo que atenda os estudos claacutessicos e
outro que no conjunto refere-se a uma formaccedilatildeo cientiacutefica organizada para os
interesses e as necessidades entatildeo atuais que requeriam uma praacutetica mais
presente mais distante da erudiccedilatildeo (Quadro 07)
QUADRO 07 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1855
1855
Decreto n 1556 17021855 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
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e 0
7 a
nos
Primeira Classe (1ordm ao 4ordm ano)
1ordm ano - 2ordm ano -
3ordm ano
Geografia e Histoacuteria Moderna
4ordm ano Geografia e Histoacuteria Moderna Corografia e Histoacuteria do Brasil
Segunda Classe (5ordm ao 7ordm ano)
5ordm ano Geografia e Histoacuteria Antiga
6ordm ano Geografia e Histoacuteria da Idade Meacutedia
7ordm ano -
Fonte Brasil (1855) Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
O que se observa inicialmente nessa estrutura eacute a proximidade entre
Geografia e Histoacuteria O comportamento da Geografia nessa plataforma eacute
basicamente o que os historiadores do ensino de Geografia denominam como
ldquopalcordquo do desenrolar da Histoacuteria Ateacute entatildeo e muito depois ou o ensino de
Geografia precedia o de Histoacuteria ou ocorriam simultaneamente por este motivo
Esse modelo foi influenciado pela reforma educacional promovida na Franccedila
pelo conde Narcisse Archille Salvandy (1795-1856) em 1847 e tambeacutem pela
reforma proposta por outro ministro Fouroul em 1852 (VECHIA LORENZ 2002)
Em ambas as reformas destacaram-se a estrutura de quatro mais trecircs anos para
oferta do secundaacuterio tradicional e do ensino teacutecnico relevando o ensino de ciecircncias
tendo em vista o ensino teacutecnico sobretudo Couto Ferraz quanto agraves reformas
francesas foi atraiacutedo pela possibilidade de atendimento a classes sociais diferentes
e pelo acesso agrave ciecircncia como formaccedilatildeo teacutecnica
Todavia jaacute na vigecircncia do Impeacuterio se constituiacutea uma praacutetica permanente na
poliacutetica educacional brasileira a descontinuidade de projetos em razatildeo das
mudanccedilas dos cenaacuterios poliacuteticos A reforma de Couto Ferraz foi tolhida pela queda
do Ministeacuterio da Conciliaccedilatildeo (como ficou conhecida a tentativa do imperador Pedro II
para promover uma gestatildeo comum a liberais e conservadores) em 1856 quando
morreu o Marquecircs do Paranaacute sendo substituiacutedo pelo Marquecircs de Olinda que atuou
como Presidente do Conselho de Ministros e Ministro e Secretaacuterio de Estado dos
Negoacutecios do Impeacuterio a partir de 1857
Os vacilos legislativos ndash proposiccedilatildeo natildeo cumprimento novas proposiccedilotildees
em um espiralar constante ndash no plano praacutetico significavam uma desorientaccedilatildeo por
exemplo na docecircncia e na produccedilatildeo de materiais para o ensino o que eacute sentido nas
poucas alteraccedilotildees possiacuteveis de observar nos exemplares da bibliografia desse
tempo Por esse motivo o curriacuteculo dos manuais natildeo respondia necessariamente agrave
urgecircncia das proposiccedilotildees legais como se veria posteriormente na bibliografia do
ensino da Geografia em que os autores procuravam permanentemente enquadrar-
se aos curriacuteculos e programas propostos ateacute como forma de sobrevivecircncia da obra
Possivelmente isso levava as obras a ficarem disponiacuteveis havendo ou natildeo um
trabalho seletivo do professor ou dos colegiados responsaacuteveis pelo ensino Em
geral as obras dispunham os conteuacutedos como requeridos frequentemente ndash uma
Geografia poliacutetica uma Geografia fiacutesica (geral e corograacutefica) e uma Cosmografia ndash e
daiacute seriam encorpadas em tal ou qual seacuterieano em que fossem requeridos mais
tarde se veria o contraacuterio as obras sendo escritas especificamente para uma seacuterie
de ensino atendendo plenamente o curriacuteculo sugerido
Com o novo ministeacuterio entrou em vigor o Decreto n 2006 de 24 de outubro
de 1857 alterando o Regulamento relativo aos estudos de Instruccedilatildeo Secundaacuteria do
Municiacutepio da Corte A partir desse ato o Coleacutegio Pedro II deixou a estrutura de
quatro e trecircs anos em sete anos o estudante graduava-se bacharel em Letras
podendo ingressar automaticamente no ensino superior em paralelo instituiu um
curso de cinco anos que preparava para o ingresso em outros cursos teacutecnicos
sendo os primeiros quatro anos obrigatoacuterios a qualquer uma das frequecircncias A
justificativa para essa mudanccedila seria uma readequaccedilatildeo das disciplinas para
distribuiacute-las sem peso excessivo para umas e pouco aproveitamento para outras
(DORIA 1937) Assim a Geografia ficou presente nos trecircs primeiros anos e no
quarto e quinto se emparelhou a Corografia e a Histoacuteria do Brasil (Quadro 08)
QUADRO 08 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1857
1857
Decreto n 2006 de 24101857 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
daacuteri
o d
e 0
7
anos
Curso Especial
Anos
com
uns 1ordm ano Geografia
2ordm ano Geografia
3ordm ano Geografia
4ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil
5ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil
6ordm ano -
7ordm ano -
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
O ato legal de 1857 permaneceu ateacute primeiro de janeiro de 1862 quando
Joseacute Ildefonso de Souza Ramos ministro e secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do
Impeacuterio assinou o Decreto n 2883 alterando o regulamento do Coleacutegio Pedro II As
Humanidades foram repostas como em vigor ateacute 1841 Esse modelo que sofreu
poucas alteraccedilotildees ateacute o findar do Impeacuterio periacuteodo no qual
[] houve um interesse geral no sentido de diagnosticar e solucionar os problemas de ensino puacuteblico Em consequumlecircncia surgiram vaacuterios debates Atos Legislativos reformas e propostas de reformas visando reestruturar o ensino brasileiro e em particular o ensino secundaacuterio As reformas efetuadas tais como as de 1870 1876 1878 e 1881 alteraram aspectos diversos do sistema de ensino secundaacuterio em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo administrativa do Collegio ao sistema de avaliaccedilatildeo e exames e aos planos de estudos (VECHIA LORENS 2006 p 6007)
Observa-se entatildeo a Geografia nos quatro primeiros anos do ensino
secundaacuterio o retorno da Cosmografia no quarto ano e o descolocamento da
Corografia para o uacuteltimo (Quadro 09)
QUADRO 09 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1862
1862
Decreto n 2883 de 01021862 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
daacuteri
o d
e
07 a
nos
1ordm ano Geografia
2ordm ano Geografia
3ordm ano Geografia
4ordm ano Geografia e Cosmografia
5ordm ano -
6ordm ano -
7ordm ano Corografia
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
O proacuteximo ministro Paulino de Souza fez vigorar o Decreto n 4468 2 de
fevereiro de 1870 no qual foram introduzidos exames de admissatildeo agrave matriacutecula no
secundaacuterio e exames finais para todas as disciplinas do seriado Jaacute por uma
visualizaccedilatildeo da forma de organizaccedilatildeo da grade de Geografia a partir desse decreto
se nota que a Geografia entatildeo adentrava em outro patamar dividindo-se em
elementar e geral A Corografia do Brasil permanece como uma das uacuteltimas
disciplinas (Quadro 10) A denominaccedilatildeo de Geografia passou por alteraccedilotildees em sua
denominaccedilatildeo de Geografia para ldquoGeografia elementar e descritiva geralrdquo e
ldquoGeografia Antigardquo
Em 1876 a 1ordm de marccedilo o Senador e Ministro do Impeacuterio Joseacute Bento da
Cunha Figueiredo consignou o Decreto n 6130 tambeacutem para o Coleacutegio Pedro II
com alguma alteraccedilatildeo na distribuiccedilatildeo das disciplinas e permanecircncia no estabelecido
anteriormente quanto aos exames de admissatildeo e aos exames finais Destacou
neste decreto a revogaccedilatildeo do disposto no decreto de 1857 ou seja abolindo
definitivamente as matriacuteculas avulsas no Coleacutegio Pedro II medida que
evidentemente visava frear a aceleraccedilatildeo do teacutermino dos preparatoacuterios ao ingresso
no ensino superior estendida depois para todos os estabelecimentos secundaacuterios o
que ainda natildeo foi verificado na praacutetica
QUADRO 10 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1870
1870
Decreto 4468 de 1870 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
daacuteri
o d
e 0
7
anos
1ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral
2ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral Europa e Ameacuterica
3ordm ano Geografia elementar e descritiva em geral e Geografia Antiga
4ordm ano -
5ordm ano -
6ordm ano -
7ordm ano Corografia do Brasil
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Todavia permanecia o problema da extensatildeo do curriacuteculo problema
impliacutecito aos programas do Coleacutegio Pedro II desde sua fundaccedilatildeo e que de certa
forma impacientava o alunado A organizaccedilatildeo da plataforma curricular desse
estabelecimento legal visava de alguma forma flexibilizar essa estrutura como
explica Vechia Lorens (2006 p 6008)
Os estudos da maioria das disciplinas foram concentrados em menor nuacutemero de seacuteries do que em 1870 Tal organizaccedilatildeo permitia que os alunos vencessem as etapas do curso de uma forma mais raacutepida pois cada disciplina era ensinada no maacuteximo em trecircs anos ao final do uacuteltimo poderia prestar os exames finais por disciplina O aluno portanto natildeo precisava esperar ateacute o termino do seacutetimo ano para prestar os exames preparatoacuterios visto que ao final do 5ordm ano jaacute teria prestado todos os exames necessaacuterios para o ingresso nos cursos superiores A decisatildeo de localizar as disciplinas da aacuterea de Ciecircncias nas duas uacuteltimas seacuteries juntamente com Grego Alematildeo Literatura nacional Histoacuteria e Corografia do Brasil consagrou o fato de que os alunos poderiam terminar seus estudos antes de ingressar no 6ordm ano pois o exame final nestas disciplinas natildeo eram exigidos para ingresso na maioria das instituiccedilotildees de ensino superior
Dessa forma para concentrarem-se em trecircs anos os conhecimentos
geograacuteficos passaram a ser vistos no primeiro terceiro e sexto ano obedecendo
sempre agrave estrutura organizada na segunda metade do seacuteculo XIX Geografia
elementar Geografia geral Corografia do Brasil e Cosmografia (Quadro 11)
QUADRO 11 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1876
1876
Decreto n 6130 de 01031876 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
daacuteri
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e 0
7
anos
1ordm ano Elementos de Geografia
2ordm ano -
3ordm ano Geografia
4ordm ano -
5ordm ano -
6ordm ano Cosmografia Corografia do Brasil
7ordm ano -
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Dois anos mais tarde contudo houve mudanccedilas no veacutertice de influecircncia
externa na pedagogia do Coleacutegio Pedro II quando da posse de Carlos Leocircncio de
Carvalho professor da Faculdade de Direito de Satildeo Paulo na Pasta do Ministeacuterio do
Impeacuterio O eixo deslocava-se da Franccedila para as ideias estadunidenses calcadas na
noccedilatildeo de liberdade no ensino e no influxo da consciecircncia individual Isso implicou no
Decreto n 6884 de 20 de abril de 1878 talvez a reforma mais radical do Impeacuterio
que calcou como livre a frequecircncia no Externato e tornou facultativo o ensino
religioso aos natildeo-catoacutelicos Como em todas as reformas anteriores houve
alteraccedilotildees na plataforma curricular mas natildeo soacute as matriacuteculas avulsas foram
reestabelecidas no curso do externato do Pedro II possibilitando acesso aos
exames finais agravequeles que natildeo tinham frequentado as aulas regulares A Geografia
fica nos dois primeiros anos no quinto e sexto ano satildeo aplicadas as disciplinas de
Cosmografia e Corografia do Brasil (Quadro 12)
QUADRO 12 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1878
1878
Decreto n 6884 de 20041878 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
daacuteri
o d
e
07 a
nos
1ordm ano Geografia
2ordm ano Geografia
3ordm ano -
4ordm ano -
5ordm ano Cosmografia
6ordm ano Histoacuteria e Corografia do Brasil
7ordm ano -
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
As alteraccedilotildees seguintes no plano de estudo vieram com o Decreto n 8051
de 24 de marccedilo de 1881 que alterou os Regulamentos do Imperial Collegio de
Pedro II modificou o plano de estudos mantendo significativamente as propostas de
1878 de Leocircncio de Carvalho Particularmente no que diz respeito agrave Geografia
percebe-se mudanccedilas sutis ainda sobretudo com a separaccedilatildeo de uma Geografia
Fiacutesica independente das demais (Quadro 13)
QUADRO 13 ndash Constituiccedilatildeo da Grade Curricular de Geografia do Ensino Secundaacuterio na vigecircncia do Impeacuterio ndash 1881
1881
Decreto n 8051 de 25031881 (Coleacutegio Pedro II)
Secun
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e
07 a
nos
1ordm ano Noccedilotildees de Geografia
2ordm ano -
3ordm ano Geografia Fiacutesica
4ordm ano Geografia e Cosmografia
5ordm ano -
6ordm ano -
7ordm ano Corografia e Histoacuteria do Brasil
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
A trajetoacuteria dessa legislaccedilatildeo e normatizaccedilotildees demonstram o
estabelecimento da Geografia como disciplina Presente desde o curriacuteculo inicial
esteve permanentemente nas grades escolares com maior ou menor carga horaacuteria
em todas ou em apenas algumas seacuteries Natildeo tem um nome comum natildeo eacute apenas
ainda ldquoGeografiardquo seus saberes respondem por Cosmografia por Corografia eacute
qualificada e dividida em Antiga Matemaacutetica Geral Elementar Descritiva Sua
sucessatildeo de nomes demonstra pensamentos diferentes e em construccedilatildeo sobre esse
saber didaacutetico
A Geografia surgente no ensino elementar do Impeacuterio era irmanada com o
ensino de Histoacuteria Natildeo havia separaccedilatildeo clara nos programas e nas regecircncias
Mesmo a literatura didaacutetica e de referecircncia ateacute a deacutecada de 1850 evidenciam essa
conjugaccedilatildeo materializando ambas sem limites claros frequentemente Conforme
Moacyr (1937 v 2 p 27 e 28) eacute da deacutecada de 1850 a separaccedilatildeo da Geografia e da
Histoacuteria por meio da criaccedilatildeo de cadeiras individuais para ambas as disciplinas no
acircmbito da organizaccedilatildeo do ensino secundaacuterio do Coleacutegio Pedro II embora desde a
fundaccedilatildeo deste operassem tambeacutem programas independentes a cada conteuacutedo
mas com a mesma regecircncia A existecircncia dessa lei natildeo foi garantia de divisatildeo das
regecircncias na praacutetica pois ainda em 1881 no Coleacutegio Pedro II se ensinava
Corografia e Histoacuteria do Brasil conjuntamente
Diversos historiadores do ensino de Geografia delimitam a criaccedilatildeo do
Coleacutegio Pedro II como iniacutecio da trajetoacuteria dessa disciplina Sem duacutevida foi um marco
importante todavia deve-se ponderar que esta instituiccedilatildeo consolidou um processo
anunciado desde a deacutecada de 1810 periacuteodo lacunar na histoacuteria da Geografia
escolar e que procurei expor alguns esclarecimentos ateacute o momento conforme
demonstrado em capiacutetulo anterior Quando o Ato de 1834 surgiu o ensino puacuteblico do
Rio de Janeiro para exemplo ofertava cursos de Filosofia Retoacuterica Grego
Francecircs Inglecircs Comeacutercio (um dos mais frequentados) Geometria Aritmeacutetica e
Aacutelgebra (HAIDAR 1972) Basicamente estas eram as disciplinas tambeacutem ofertadas
nas proviacutencias Com menor regularidade eram ofertadas aulas avulsas de Geografia
e Histoacuteria desde os anos 1810 E o Coleacutegio Pedro II nesse contexto foi o cenaacuterio
de fortalecimento desse saber como disciplina escolar em niacutevel da educaccedilatildeo
elementar
No contexto do Coleacutegio Pedro II viu-se os cursos independentes ndash as aulas
avulsas ndash converterem-se (natildeo sem resistecircncia) em programas seriados e anuais os
quais respondiam a visotildees pedagoacutegicas institucionalizadas por meio de decretos
estabelecendo modelos ldquoforccediladosrdquo a serem seguidos nas proviacutencias sobretudo
quanto aos curriacuteculos impostos haja vista sua presenccedila nos exames admissionais
dos cursos superiores ndash todos em matildeos da vontade imperial
A marca dos estudos secundaacuterios continuava e continuaria portanto a
mesma desde os tempos dos jesuiacutetas preparar os discentes para o ingresso no
ensino superior cujos cursos tinham suas exigecircncias curriculares revelados nos
exames requeridos para o ingresso O aluno nesses termos frequentava aulas de
acordo com seu interesse ndash as chamadas aulas avulsas apesar do modelo e
orientaccedilatildeo que o Coleacutegio Pedro II assinalaria anos antes a partir de fins da deacutecada
de 1830 e apesar de sempre retornarem em alguma condiccedilatildeo (permitida ao
externato por exemplo)
A presenccedila da Geografia no ensino secundaacuterio ao mesmo tempo em que
respondia a uma necessidade de formaccedilatildeo do ensino superior respondia agraves
necessidades formativas do Estado ndash tanto para constituiccedilatildeo dos cidadatildeos
sobretudo as elites quanto para a constituiccedilatildeo de uma maacutequina administrativa Por
outro lado uma vez que a admissatildeo no ensino secundaacuterio se dava por meio de
exames os quais incluiacuteam os conhecimentos da Geografia haacute sua inserccedilatildeo no
curriacuteculo das escolas primaacuterias
42 O curriacuteculo e a constituiccedilatildeo da bibliografia didaacutetica de Geografia no periacuteodo imperial
Conforme analisado no Graacutefico 01 apresentado no capiacutetulo 02 no periacuteodo
imperial se teve uma produccedilatildeo superior a 150 tiacutetulos distintos de manuais didaacuteticos
de Geografia em um movimento quantitativo ascendente marcado por uma
verdadeira explosatildeo na deacutecada de 1880 quando soacute nela vieram a puacuteblico 43
tiacutetulos Eacute interessante notar como uma produccedilatildeo relativamente alta pouco atendeu
agraves demandas educacionais do ensino da Geografia Os poliacuteticos os intelectuais
envolvidos na questatildeo educacional os historiadores do ensino da Geografia satildeo
unacircnimes quanto a esse parecer indicando ademais a desatualizaccedilatildeo das obras
existentes e sua inadequaccedilatildeo pedagoacutegica
Para esse fato talvez haja uma explicaccedilatildeo na organizaccedilatildeo do mercado
editorial satildeo baixas as tiragens o preccedilo dos volumes eacute caro pois se trata de um
material com produccedilatildeo externa natildeo haacute um sistema eficiente de distribuiccedilatildeo a maior
parte dos tiacutetulos eacute de produccedilotildees regionais com circulaccedilatildeo regional e aleacutem disso
pelo menos a parte inicial dessa produccedilatildeo destina-se mais aos professores e
instrutores do que propriamente aos alunos os livros didaacuteticos foram em largas
deacutecadas do princiacutepio dessa histoacuteria a uacutenica forma de instruccedilatildeo e formaccedilatildeo docente
as quais estiveram impliacutecitas tambeacutem em outras formaccedilotildees como a militar a
juriacutedica as engenharias
Essa bibliografia em si contudo natildeo deixa de ser um reflexo do poder
disciplinador exercido pelo Estado brasileiro na construccedilatildeo de uma nacionalidade
brasileira e no estabelecimento de uma cultura escolar (VLACH 1988 ROCHA
1996) De acordo com Foucault (2004) dentre todas as praacuteticas disciplinadoras a
escola foi um dos espaccedilos para organizaccedilatildeo (disposiccedilatildeo de ordem e hierarquia
disposiccedilatildeo do tempo) exame (verificaccedilatildeo de desempenho) e elaboraccedilatildeo de certos
saberes Para Vlach (1988 p 19) esta ldquo[] regulamentaccedilatildeo eacute uma variaccedilatildeo do
poder disciplinar que reforccedila a sua tendecircncia agrave homogeneidade socialrdquo pois havia
necessidade de controlar o corpo (e o saber) ldquo[] individual e coletivamente ndash no
sentido de adestraacute-lo enquanto forccedila de trabalho para uma sociedade que estava
irrompendo sob a lsquocaparsquo da igualdade (formal) dos homensrdquo O curriacuteculo em si foi o
espaccedilo do saber requisitado e autorizado para disciplinar certa visatildeo do mundo e
de suas regiotildees inclusive e sobretudo a nacional
Do Rio de Janeiro da Bahia e de Pernambuco na deacutecada de 1820 vieram
as primeiras presenccedilas da bibliografia didaacutetica de Geografia Eacute o iniacutecio de uma
tradiccedilatildeo didaacutetico-geograacutefica orientada pela Cosmografia pela Geografia Fiacutesica e
pela Geografia Poliacutetica em acepccedilatildeo diferente da que teriam no desenvolvimento
posterior da Geografia e do seu ensino
421 A tradiccedilatildeo da Cosmografia da Geografia Fiacutesica e da Geografia Poliacutetica
Por todo o Impeacuterio a produccedilatildeo dos manuais de Geografia se daraacute pelo
ldquoparadigmardquo da Geografia moderna claacutessica aquela que fez a transiccedilatildeo da forma de
conceber o conhecimento na Idade Meacutedia para o periacuteodo que com seus
rompimentos epistecircmicos direcionou a compreensatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento
para um fazer cientiacutefico Enquanto a Geografia moderna claacutessica conta com essas
trecircs compartimentaccedilotildees a Geografia moderna cientiacutefica ou institucionalizada
sobretudo a partir da Alemanha de Humboldt e Ritter se enveredaria em duas
perspectivas a Geografia Humana e a Geografia Fiacutesica quando da emergecircncia da
dualidade no discurso geograacutefico desta ciecircncia fato este demonstrado por Gomes
(2000) e outros historiadores do pensamento geograacutefico
A esse propoacutesito os termos Cosmografia Geografia Fiacutesica e Geografia
Poliacutetica foram terminologias em uso desde o seacuteculo XVII (CAPEL 1989) Varenius
quando publica sua Geografia Geral em 1650 divide-a em uma Geografia Geral
que considera a Terra em seu conjunto e em uma Geografia Especial que objetiva
as regiotildees subdividindo esse conhecimento em corografia ndash para regiotildees de maior
extensatildeo e topografia ndash para regiotildees de menor extensatildeo (BAUAB 2005) O objeto
colocado em tela a partir de Varenius e assumido por geoacutegrafos que o sucederam
ateacute o seacuteculo XVIII eacute a superfiacutecie terrestre e suas partes Os Descobrimentos dos
europeus ofertam ao mundo uma quantidade imensa de informaccedilotildees geograacuteficas
tanto da natureza quanto da organizaccedilatildeo dos gecircneros de vida o que amplia e
renova esse saber A esse tempo emerge uma racionalidade cientiacutefica que procura
separar o conhecimento em categorias encaminhando para um lado a metafiacutesica o
saber baseado nas crenccedilas nos mitos etc procurando focar o conhecimento em
uma objetividade e descriccedilatildeo precisas
Os discursos geograacuteficos de grande parte do seacuteculo XIX sobretudo o
didaacutetico inscrevem-se direta ou indiretamente na Geografia moderna em sua
vertente claacutessica aquela emergente no seacuteculo XVIII com viacutenculos nos movimentos
que formataram as bases do pensamento cientiacutefico Daiacute surgiram os modelos e as
vertentes de gecircnero que acomodam os discursos do conhecimento dessa eacutepoca
Gomes (2000) procurou compreender o surgimento da Geografia cientiacutefica
na formaccedilatildeo epistemoloacutegica da modernidade situando o projeto de ciecircncia
emergente no Seacuteculo das Luzes por um lado em que o racionalismo fez a criacutetica
necessaacuteria para romper as formas de estabelecimento do conhecimento O meacutetodo
loacutegico racional perseguiu sistemas explicativos para entrever ldquo[] o resultado de
uma anaacutelise dos aspectos regulares de um dado fenocircmeno [] uma ordem formal
instrumentalizada por uma loacutegica coerente e geral e de uma ordem material que
relaciona o modelo abstrato agrave realidaderdquo (GOMES 2000 p 31) De outro lado a
modernidade estabeleceu-se tambeacutem a partir de posiccedilotildees anti-racionalistas para as
quais a ldquo[] razatildeo humana natildeo eacute universal ou pelo menos ela natildeo possui sempre a
mesma natureza as mesmas manifestaccedilotildees e a mesma formardquo (GOMES 2000 p
32)
Com a Renascenccedila houve a proposiccedilatildeo de um novo modelo cosmoloacutegico
em substituiccedilatildeo ao modelo geocecircntrico aceito pela Igreja Catoacutelica revistado a partir
da Antiguidade Claacutessica que para a Geografia centrou-se sobretudo na
redescoberta de Ptolomeu e Estrabatildeo No modelo totalizador a concepccedilatildeo
ptolomeica deu as condiccedilotildees para o estabelecimento de uma cosmografia
Ateacute o seacuteculo XVIII vaacuterios autores trabalharam de acordo com os princiacutepios das cosmografias como por exemplo Buache Muumlnster e Enciso Vaacuterios problemas de base da cartografia o caacutelculo das latitudes e sobretudo o das longitudes bem como os sistemas de projeccedilatildeo foram amplamente tratados nestes estudos Ao mesmo tempo os fenomenos naturais e
sobretudo climaacuteticos ao fazer parte desta geografia escapavam agraves interpretaccedilotildees livres religiosas ou maacutegicas da tradiccedilatildeo medieval As cosmografias estatildeo pois na origem da tradiccedilatildeo que define simultaneamente a escolha temaacutetica e confere uma metodologia geral agrave geograacutefica Estas duas preocupaccedilotildees faziam parte do pIano fundamental das cosmografias e sobreviveram na geografia cientiacutefica Foi atraveacutes delas que a geografia considerou que era sua a tarefa de produzir imagens do mundo de compreender sua organizaccedilatildeo e de decifrar sua ordem em suma de veicular uma cosmovisatildeo (GOMES 2000 p 129)
Considerando Estrabatildeo como origem outra perspectiva se desenvolveu no
sentido de se criar uma visatildeo das regiotildees ndash a corografia ldquoo modelo de Estrabatildeo eacute
considerado como histoacuterico-descritivo em oposiccedilatildeo agravequele de Ptolomeu tido como
matemaacutetico-cartograacutefico Estes dois autores fundaram entatildeo duas escolas de
Geografia que conviveram lado a lado ateacute a revoluccedilatildeo cientiacuteficardquo de modo que
ldquocertos geoacutegrafos procuraram reunir ao mesmo tempo os princiacutepios gerais
cosmograacuteficos e as descriccedilotildees regionais corograacuteficas integrando assim em uma
mesma obra essas duas abordagens ateacute aiacute distintasrdquo sendo justamente a
construccedilatildeo dessa imagem do mundo que vai figurar nos tratados de Geografia do
seacuteculo XVIII ao seacuteculo XIX adentro ldquoesta concepccedilatildeo eacute talvez a origem da
aproximaccedilatildeo retida pelos manuais tradicionais de geografia moderna que fazem
figurar em geral uma cosmografia seguida de descriccedilotildees regionaisrdquo (GOMES 2000
p 130) o que sem duacutevida foi o modelo dos manuais didaacuteticos de Geografia
No sentido corograacutefico no Brasil a obra de Ayres de Casal foi o expoente e
a perspectiva dominante no seacuteculo XIX serviu de modelo ao ter amplamente
utilizada sua estrutura de regionalizaccedilatildeo do territoacuterio por proviacutencias das quais se
indicava por vezes com certo contexto histoacuterico as principais descriccedilotildees poliacuteticas e
fiacutesicas sofrendo apenas atualizaccedilotildees Anterior ainda a Ayres e tambeacutem influente
haacute os saberes produzidos pela empresa colonial portuguesa (ISSLER 1973)
embora tenham sido amplamente sintetizadas por Casal E por quase um seacuteculo a
obra de Casal referenciou direta ou indiretamente a concepccedilatildeo geograacutefica escolar e
tambeacutem a produccedilatildeo geograacutefica como um todo haja vista que seu modelo foi
impregnado nas produccedilotildees do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Rio de Janeiro
fundado em 1838 e reproduzido nos institutos da mesma estirpe fundados nas
proviacutencias (ISSLER 1973 VLACH 1988)
A Geografia escolar descritiva foi rigorosamente criticada em 1882 por Rui
Barbosa no Parecer e projecto de reforma do ensino primario
Para mostrar quatildeo infinitamente longe estamos desses modelos bastaraacute folhear alguns dos nossos manuais elementares de geografia Tomemos por exemplo a Pequena Geografia da Infacircncia composta para uso das escolas primaacuterias Depois de algumas definiccedilotildees geomeacutetricas que ocupam as duas primeiras paacuteginas do texto outras definiccedilotildees constituem o introacuteito definiccedilatildeo da geografia das linhas e ciacuterculos do globo dos poacutelos de horizonte clima latitude longitude e estaccedilotildees do ano continente regiatildeo paiacutes ilha peniacutensula cabo istmo monte montanha serra vulcatildeo mar oceano golfo estreito mancha passo lago e rio Enfiando este rosaacuterio de abstraccedilotildees ininteligiacuteveis ao espiacuterito despreparado da crianccedila segue-selhe imediatamente a tarefa de decorar o nuacutemero total de quilocircmetros e habitantes em cada continente a lista das religiotildees e raccedilas humanas com a sua distribuiccedilatildeo pelas vaacuterias partes e Estados que se pressupotildeem assim conhecidos antes de aprendidos as fases da civilizaccedilatildeo e as formas de governo rematando tudo pelo questionaacuterio de costume Entatildeo em vez de principiar pelo municiacutepio pela proviacutencia ou pelo paiacutes o curso consagra as suas primeiras liccedilotildees agrave Europa agrave Aacutesia agrave Aacutefrica agrave Ameacuterica (onde o disciacutepulo repete simplesmente o nome da paacutetria confundindo sem uma palavra de distinccedilatildeo entre os demais Estados) e agrave Oceania para depois recomeccedilando estudar a geografia particular de todos os paiacuteses das cinco partes do mundo e soacute no fim receber notiacutecias do seu O ensino por nomenclatura domina exclusivamente salvo algumas observaccedilotildees frias e sem cor acerca do aspecto fiacutesico e indicaccedilatildeo dos sistemas de governo tudo o mais reduz-se agrave reparticcedilatildeo monoacutetona dos cultos e das famiacutelias humanas por entre as diversas naccedilotildees cabendo poreacutem quasi todo o espaccedilo agrave enumeraccedilatildeo das terras e aacuteguas Na geografia geral a grande questatildeo o empenho quasi absoluto do curso estaacute em gravar na memoacuteria os nomes de todos os paiacuteses mares golfos estreitos lagos rios montes ilhas peniacutensulas cabos cerca de mil Na geografia particular recrudesce a impertinecircncia e a preocupaccedilatildeo fixa invariaacutevel de decorar e soacute decorar [] Praticado assim pelo bordatildeo da rotina o ensino da geografia eacute inuacutetil embrutecedor Nulo como meio de cultura incapaz mesmo de atuar duradoramente na memoacuteria natildeo faz senatildeo oprimir canccedilar e estupidificar a infacircncia em vez de eclarececirc-la e educaacute-la (BARBOSA 1946 p 306-307)
Em termos gerais essa situaccedilatildeo do ensino se estendia para o ensino
secundaacuterio e caracteriza os livros em geral do periacutedo imperial Todavia eacute no final
desse periacutedo que novas ideias pedagoacutegicas comeccedilam a surgir influenciando a
praacutetica da educaccedilatildeo Para a Geografia comeccedilou-se a introduzir a cartografia como
auxiliar do ensino o que se fez a partir dos chamados processos intuitivos ldquo[] o
ensino pelo aspecto como iniciaccedilatildeordquo (PROENCcedilA 1928 p 31) embora de modo
muito esparso e na iniciativa privada Houve inclusive certo exagero a ponto de se
imaginar que ensinar Geografia seria ensinar cartografia Extensivo ateacute as primeiras
deacutecadas do seacuteculo XX fundamentada na Geografia descritiva assim seraacute o ensino
de Geografia
Os nossos professores ainda vivem um tanto escravizados pelos compendios natildeo haacute trabalho systematizado de intuiccedilatildeo directa ou indirecta a cartographia ou se desenvelve independentemente da geographia ou
usurpa-lhe a lugar deixando em segundo plana aquillo que deve constituir propriamente o saber geographico Eis approximadamente o nossa estado actual quanta ao ensino de geagraphia (PROENCcedilA 1928 p 32)
A Geografia descritiva engendrada nessa tradiccedilatildeo apenas declinou na
passagem para o seacuteculo XX quando houve importantes movimentaccedilotildees na
concepccedilatildeo e conhecimento geograacutefico em circulaccedilatildeo nos meios intelectuais e
quando particularmente no contexto escolar houve mudanccedilas pedagoacutegicas nos
meacutetodos e objetivos do ensino Desse periacuteodo ficou uma praacutetica escolar da
Geografia organizada na nomenclatura na enumeraccedilatildeo dos fatos geograacuteficos na
descriccedilatildeo formal e informativa do espaccedilo (PRADO Jr 1945) que apesar disso
construiu uma tradiccedilatildeo lanccedilou bases soacutelidas que extrapolaram os limites da escola
e permitiu reaccedilotildees para ampliar as fronteiras da Geografia escolar como veremos
adiante
422 A bibliografia didaacutetica de Geografia no Impeacuterio
No ano seguinte agrave Independecircncia poliacutetica do Brasil haacute iniacutecio de fato da
publicaccedilatildeo de obras que principiam a construccedilatildeo do gecircnero discursivo da Geografia
escolar Entatildeo comeccedilava de certa forma a haver um afrouxamento no controle
sobre a publicaccedilatildeo de obras imposto pela colonizaccedilatildeo portuguesa de modo que em
oficinas proacuteprias ou mandados imprimir na Europa comeccedilavam a surgir tiacutetulos que
interessavam ao puacuteblico e agraves causas nacionais Havendo jaacute instituiccedilotildees de ensino
superior e muitas outras surgiriam os cursos preparatoacuterios esboccedilavam uma
demanda escolar
Nesses termos a primeira obra escolar de Geografia a vir a lume foi a Breve
introducccedilatildeo ao estudo de Geographia adaptado ao uso dos mappas francezes e
inglezes Offerecida a S M o Senhor D Pedro I de 1823 escrita pelo padre
Guilherme Paulo Tilbury82 radicado no Brasil que atuava como professor dessa
82
Guilherme Paulo Tilbury [Tillbury] ndash Nascido William Paul Tilbury na Inglaterra Guilherme Paulo Tilbury (1784-1863) converteu-se ao catolicismo e se formou padre seguindo como missionaacuterio para o Rio de Janeiro onde faleceu Aleacutem da Breve introducccedilatildeo foi autor de Breve explicaccedilatildeo sobre a grammatica tambeacutem de 1823 Foi professor do Seminaacuterio Satildeo Joseacute professor puacuteblico de Liacutengua
mateacuteria inclusive como preceptor da famiacutelia real Talvez por esta ligaccedilatildeo a obra foi
editada na Tipografia Nacional antiga Impressatildeo Reacutegia e provavelmente circulou no
acircmbito da atuaccedilatildeo docente do autor na Corte
No ano seguinte outro professor dessa mateacuteria Bazilio Quaresma
Torreatildeo83 editou em Londres o Compendio de Geographia universal Rezumido de
diversos authores e offerecido aacute mocidade brazileira Ainda em 1824 tem-se a
primeira traduccedilatildeo de uma obra escolar de Geografia por autor natildeo identificado as
Noccedilotildees elementares de Geographia por hum antigo professor da Universidade de
Paris impressas no anno de 1820 e tradusidas em 1823 por hum brasilianno para
instrucccedilatildeo da mocidade do Brasil
Essas obras iniciais instrumentalizavam notadamente o professor e o
ensino avulso da mateacuteria tendo uma circulaccedilatildeo local
Uma questatildeo importante que percebo eacute a preocupaccedilatildeo com uma abordagem
regional da Geografia A Bahia foi a primeira das proviacutencias a apresentar uma
preocupaccedilatildeo com o ensino de sua territorialidade como atestam as primeiras obras
regionais publicadas para esse fim A primeira delas foi uma reproduccedilatildeo da
Corografia de Ayres de Casal da qual se recortou por inteiro um de seus capiacutetulos
sobre a Bahia publicado como volume independente para o ensino em
estabelecimentos da proviacutencia em 1826 Muito da obra de Casal eacute facilmente
perceptiacutevel na outra produccedilatildeo regional em Corografia ou abreviada historia
geographica do imperio do Brasil coordenada acrescentada e dedicada aacute casa pia
e collegio dos orfatildeos de S Joaquim desta cidade Para uso de seos alumnos a fim
de adquirirem conhecimentos geographicos preliminares drsquoAmerica em geral e seo
descobrimento e com particular individuaccedilatildeo do Brasil especialmente da provincia
e Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos publicada por Domingos Jose
Antonio Rebello84 em 1829
Francesa e Geografia e capelatildeo da Divisatildeo Militar da Guarda Imperial da Poliacutecia Aleacutem dos livros didaacuteticos eacute lembrado ter lecionado liacutengua inglesa a D Pedro I e ter sido preceptor das princesas D Maria Teresa D Maria Isabel D Maria Francisca D Isabel Maria D Maria da Assumpccedilatildeo e D Ana de Jesus irmatildes de D Pedro (SILVA 1870 SOUSA 1972 ACCIOLI TAUNAY 1973)
83 Confira informaccedilotildees sobre este autor no Capiacutetulo 6 desta tese
84 Domingos Joseacute Antonio Rebello ndash natildeo haacute precisatildeo sobre seu nascimento e falecimento apenas
se sabe que nasceu em fins do seacuteculo XVIII Foi comerciante atuando na Bahia como diretor da Companhia de Seguros Commercio Mariacutetimo a Corografia eacute sua uacutenica obra (BLAKE 1893)
Uma caracteriacutestica comum a muitas obras do periacuteodo era ser escrita para
um consumo local ou para um puacuteblico restrito como acontece com a obra de
Rebello dedicada aacute casa pia e collegio dos orfatildeos de S Joaquim da cidade de
Salvador os Elementos de Geographia de Santa Gertudres (1840) escrito para as
escolas primaacuterias do Rio de Janeiro o Dialogo geographico de Brandatildeo (1850)
escrito para as alunas do Coleacutegio de Satildeo Joatildeo situado na cidade de Satildeo Cristovatildeo
(RJ) ou as Noccedilotildees e depois Compendio de Geographia de Albuquerque (1856
1880) para uso na Proviacutencia de Pernambuco Talvez por essa razatildeo por ser uma
produccedilatildeo de consumo local portanto fora de uma estrateacutegia comercial integrada se
tenha reclamado tanto da insuficiecircncia de materiais geograacuteficos para o ensino
Entre as deacutecadas de 1830 e 1850 os autores que mais se destacaram pelo
menos quanto agrave aceitaccedilatildeo adoccedilatildeo e reediccedilotildees foram Thomaz Pompeu de Souza
Brasil (pai) Abbade Gaultier Joatildeo Henrique Freese e Luis Antonio Burgain Destes
possivelmente o mais influente tenha sido Pompeu Brasil seguido de Gaultier
Nesses anos se teraacute um aumento progressivo do conjunto de obras e um lento
amadurecimento dessa produccedilatildeo Uma visatildeo panoracircmica do periacuteodo curiosamente
revela um predomiacutenio de Geografias gerais contra compecircndios corograacuteficos eacute o
caso de Lima (1830) Lisboa (1830) Beaurepaire (1835) Um Official General do
Exercito (1835) Oliveira (1836) Poelitz (1839) Resumo de Histoacuteria Universal para
uso da aula drsquoHistoacuteria e Geographia (1839) Souza (1845) Brasil (1851) Abbade
Gaultier (1855) dentre outros opondo-se aos trabalhos corograacuteficos de Brandatildeo
(184-) Bellegarde (1840) Freese (1842) e outros embora as Geografias gerais
evidentemente destaquem bem o Brasil Isso porque as primeiras produccedilotildees de
manuais de Geografia destinam-se precipuamente para o ensino secundaacuterio que
tem com o ensino superior alguma atenccedilatildeo do Estado Portanto eacute maior a
produccedilatildeo para o ensino secundaacuterio se comparada agrave produccedilatildeo para o ensino
primaacuterio
Apenas em 1836 surgiram os primeiros livros produzidos diretamente para o
ensino primaacuterio com o Compendio de Geographia elementar Para uso das escolas
brazileiras de Pereira no Rio de Janeiro e em Recife o Compendio de Geographia
para uso das aulas de primeiras letras de autor natildeo identificado Na deacutecada
seguinte vieram outros como o de Santa Gertrudes (1840) e Cavalcanti (1846) Eacute a
esse tempo que o ensino primaacuterio comeccedila a desprender-se da alfabetizaccedilatildeo e
primeiras instruccedilotildees gerais e passa a ser organizado como um preparatoacuterio para o
ensino secundaacuterio e para uma formaccedilatildeo elementar85 Na bibliografia ainda eacute
perceptiacutevel a forte influecircncia das aulas avulsas (que poderiam ser ministradas nas
instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas sob regecircncia bem como por estudos individuais)
nessas circunstacircncias identifica-se uma obra como a de Souza (1845) Nocccedilotildees
elementares de Geographia astronomica physica e politica redigidas segundo um
novo plano methodico theorico e pratico e adaptadas para servir de compendio nas
academias lyceos etc como para ministrar os rudimentos de Geographia
propriamente dita sem auxilio e dependecircncia de professor cujo tiacutetulo por si soacute eacute
esclarecedor quanto agrave forma de aprendizado geograacutefico Afinal o que importava
eram os exames de admissatildeo seja no secundaacuterio seja no ensino superior
Na deacutecada de 1830 situaccedilatildeo permanente por muitos dececircnios ainda livros
configuram a irmandade entre Geografia e Histoacuteria ndash uma caracteriacutestica geral dessas
disciplinas a princiacutepio Traduzida e adaptada por Julio Frank86 em 1839 publicou-se
o Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula de Historia e Geographia de H L
Poelitz87 e sem autoria declarada Resumo da Histoacuteria Universal para uso da aula
de hrsquoHistoria e Geographia
A histoacuteria do livro de Julio Frank eacute esclarecedora do processo de emergecircncia
e produccedilatildeo de muitos manuais nessas deacutecadas iniciais A obra nasceu das
anotaccedilotildees feitas para as aulas que ministrava nos preparatoacuterios do Curso Anexo agrave
Faculdade de Direito de Satildeo Paulo Essas anotaccedilotildees eram feitas a partir da leitura e
estudo de um original alematildeo de autoria de H L Poelitz Com as devidas licenccedilas
governamentais publicou o volume em 1839 mas agrave exceccedilatildeo de outros autores
contemporacircneos natildeo assumiu a autoria do livro apenas situando-se nele como
adaptador
85
O livro Noccedilotildees elementares de Geographia compiladas para uso das escolas primarias de Zaluar a esse propoacutesito ldquoeacute escripto de accocircrdo com os pontos de Geographia que satildeo hoje preparatoacuterio para a matricula do primeiro anno do Collegio de Pedro IIrdquo (ZALUAR 1880)
86 Julio Frank ndash nasceu na Alemanha em Gotha em 08 de dezembro de 1808 e faleceu em Satildeo
Paulo em 19 de junho de 1841 Foi professor de Histoacuteria e Geografia nos preparatoacuterios do Curso Anexo da Academia de Direito de 1834 ateacute o ano do seu falecimento Apoacutes chegar ao Brasil fugindo de problemas financeiros em seu paiacutes trabalha no comeacutercio e ministra aulas particulares para estudantes que prestariam exames na Academia de Direito de satildeo Paulo (SCHMIDT sd MUumlLLER 1978 SERQUEIRA 1841)
87 H L Poelitz ndash historiador e geoacutegrafo alematildeo
Quando natildeo fazia visitas aos amigos das outras ldquorepuacuteblicasrdquo nem estendia o passeio ao Chico Ilheacuteu passava as horas sem sono a escrever liccedilotildees de Histoacuteria que no dia seguinte durante as aulas repetia aos alunos Assim dentro de pouco quase sem dar por isso jaacute havia acumulado mateacuteria para um compecircndio Entatildeo lembrando-se talvez do tempo do Goettingue teve ideacuteia de publicaacute-lo Com esse intuito dirigiu-se em 1837 ao governo explicando na peticcedilatildeo que o fazia para remediar a carecircncia de livros sobre a mateacuteria com que lutavam os estudantes O primeiro volume do compecircndio foi enfim publicado e trazia na capa os seguintes dizeres ldquoResumo de Histoacuteria Universal mdash Para uso da Aula de Histoacuteria e Geografia da Academia de Ciecircncias Juriacutedicas e Sociais desta Cidade de S Paulo mdash Vol I mdash Contendo a Histoacuteria Antiga e da Idade Meacutedia mdash Impresso na Tipografia de M F Costa Silveira mdash Rua S Gonccedilalo n 14 mdash S Paulo mdash 1839rdquo As liccedilotildees contidas nesse volume eram adaptadas do historiador alematildeo H L Poelitz por isso nele natildeo figurava o nome de Juacutelio Frank que era de inacreditaacutevel modeacutestia (SCHMIDT sd p 40)
Na eacutepoca eram comuns livros de conhecimentos destinados ao puacuteblico em
geral sem visar propriamente a uma clientela escolar poreacutem sem necessariamente
excluiacute-la os quais eram denominados ldquocatecismosrdquo como estes identifiquei dois
para a Geografia ndash Novo Cathecismo geograacutefico brasileiro Offerecido aos senhores
pais de famiacutelia e professores de ambos os sexos de Gouvecirca (1832) e Cathecismo
de Geographia de Muller (1835) Surgem em um momento em que a Geografia de
certa forma potildee-se socialmente em evidecircncia
Nos anos 1840 surgiram algumas obras que mereceram reediccedilotildees
posteriores embora estas fossem com espaccedilamento agraves vezes superior a uma
deacutecada Eacute o caso de Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo88 (184- 1852) e
Joatildeo Henrique Freese89 (1842 1868 e 187190)
Na deacutecada seguinte nos anos 1850 surge um autor emblemaacutetico desse
periacuteodo Thomaz Pompeu de Souza Brasil que publicou Elementos de Geographia
Offerecidos agrave mocidade cearense em 1851 Surgiu como uma obra regional mas
que a partir da segunda ediccedilatildeo de 1856 passou a ser adotado no Coleacutegio Pedro II
e em outros liceus do paiacutes Sua uacuteltima ediccedilatildeo foi de 1869 O Compendio Elementar
de Geographia Geral e Especial do Brasil primeiro tiacutetulo da obra foi escrito no
contexto das atividades docentes do autor que era lente de Geografia no Liceu do
88
Antonio Pinto da Costa de Souza Brandatildeo ndash autor desconhecido
89 Joatildeo Henrique Freese ndash cidadatildeo inglecircs estabelecido no Brasil foi negociante e educador sendo
proprietaacuterio de um Instituto Colegial em Nova Friburgo (RJ) Eacute lembrado por ter obtido do Impeacuterio concessotildees para abrir uma estrada de ligaccedilatildeo entre Nova Friburgo Cantagalo e Macaeacute (MORAIS 2010)
90 Haacute ainda outra ediccedilatildeo cujo ano natildeo consegui identificar
Cearaacute Esse comportamento foi tiacutepico entre os sujeitos autores da bibliografia que
organizavam e editavam livros a partir de suas anotaccedilotildees e planejamento de aula
As duas primeiras ediccedilotildees do Compendio de Brasil foram organizados pelo
meacutetodo dialogiacutestico tambeacutem conhecido como meacutetodo Gaultier O Abbade Gaultier
traduzido por portugueses foi muito influente em ambos os lados do oceano No
Brasil chegou em 1838 e permaneceu reeditado ateacute a deacutecada de 1870 A obra de
Estaacutecio de Saacute Menezes tambeacutem foi organizada por esse meacutetodo e muitas outras
De acordo com esse meacutetodo as obras estruturavam-se em liccedilotildees natildeo capiacutetulos os
quais eram sequenciados por perguntas e respostas ndash um diaacutelogo automaacutetico entre
mestres e alunos
Intelectualmente Thomaz Pompeu de Souza Brasil situava-se em um
ecletismo cuja ldquo[] alquimia de ideacuteias ateacute certo ponto antagocircnicas ocorria pela
hibridaccedilatildeo da teologia catoacutelica com elementos de uma educaccedilatildeo esteacutetica fundada no
romantismo e conhecimentos voltados para uma accedilatildeo eminentemente pragmaacutetica
tiacutepica do liberalismordquo (SOUZA NETO 1997 p 24) Talvez por isso alguns aspectos
da obra tenham escandalizado Issler (1973) quando fazendo a primeira revisatildeo
criacutetica desse livro deparou-se a partir de um olhar da Geografia cientiacutefica com
fragmentos tais como esse
A Aacutesia eacute o paiz das faacutebulas dos sonhos e das imaginaccedilotildees phantaacutesticas se o judaiacutesmo e o cristianismo nasceratildeo alli em compensaccedilatildeo que cousas extravagantes e absurdas natildeo foram inventadas como religiatildeo por todos os povos asiaacuteticos As crenccedilas mais espalhadas satildeo o Boudhismo o Brahmanismo o Islamismo o Christianismo o Judaismo a dos Espiritos de Confucio dos Magos de Sintoacute etc (BRASIL 1864 p 196)
Como exemplo da descontextualizaccedilatildeo com que a maior parte da bibliografia
didaacutetica antiga de Geografia tem sido tratada e que vale a pena abordar aqui pois
haacute certa unidade na forma expressional e na organizaccedilatildeo dos conteuacutedos desse
periacuteodo Issler (1973 p 43) apoacutes elencar algumas distorccedilotildees de conteuacutedos e
sequecircncias discursivas assim conclui sobre os Elementos de Pompeu
Eacute o retorno agrave literatura fantaacutestica medieval com o sabor das aventuras de Marco polo O autor de imaginaccedilatildeo feacutertil e desinibida estava oferecendo como Geografia um produto que jaacute em sua eacutepoca era inacreditaacutevel os exageros e disparetes apresentados na obra natildeo satildeo encontrados nem mesmo nos mais exagerados cronistas de alguns seacuteculos antes
Se compreendido a partir da perspectiva da Geografia moderna cientiacutefica eacute
isso mesmo Todavia se recolocado em seu contexto a anaacutelise enriquece e
aproxima-se uma compreensatildeo mais adequada Pois se deve considerar o sujeito
dessa enunciaccedilatildeo religioso padre enunciando de um contexto no qual o
catolicismo era religiatildeo de Estado e a uacutenica aceita E a grande forccedila intelectual ativa
no Brasil desse periacuteodo eacute o Romantismo aacutegil em idealizar lugares e situaccedilotildees Eacute o
encontro da ldquoteologia catoacutelicardquo com a ldquoeducaccedilatildeo esteacuteticardquo como lembra Souza Neto
(1997)
Em seu juiacutezo criacutetico Issler prossegue identificando a utilizaccedilatildeo de Ayres de
Casal como modelo na parte referente ao Brasil e o meacutetodo de produccedilatildeo
transcriccedilotildees com algumas alteraccedilotildees Corrigido alterado pelas contigecircncias pouco
criticado seraacute Ayres de Casal a grande referecircncia para a contruccedilatildeo de uma imagem
do paiacutes na maioria das abordagens sobre o Brasil
Nos anos 1860 editado duas vezes nessa deacutecada e em outros anos ateacute
1902 temos em destaque as Liccedilotildees elementares de Geographia segundo o
methode Gaultier de Estaacutecio de Saacute Menezes (pseudocircnimo de Joaquim Caetano
Fernandes Pinheiro) e aleacutem dele Pedro Joseacute de Abreu adotado no Coleacutegio Pedro
II e regionalmente Eudoro Brazileiro Berlink cujo compecircndio versando sobre o Rio
Grande do Sul teraacute uma boa aceitaccedilatildeo naquela proviacutencia Em 1863 o Baratildeo de
Macahubas (Abiacutelio Cezar Borges) um dos mais destacados educares dos
oitocentos publicou um volume de Geografia tratou-se de uma publicaccedilatildeo restrita a
uma instituiccedilatildeo baiana e com um recorte temaacutetico a Geografia Fiacutesica pelo que natildeo
teve a repercussatildeo de outros para outras disciplinas que escreveu amplamente
aceitas
Nos anos 1870 jaacute no fim de sua vida surgem os livros de Joaquim Maria de
Lacerda sem duacutevida o maior fenocircmeno da bibliografia didaacutetica de Geografia no
seacuteculo XIX cujas obras somente foram depostas no seacuteculo seguinte Jaacute eacute notaacutevel
nessa deacutecada a presenccedila de editoras comerciais sendo a maioria editada no Rio
de Janeiro
Os anos 1880 marcam o auge da produccedilatildeo bibliograacutefica da Geografia
escolar no seacuteculo XIX 44 tiacutetulos satildeo publicados Destacam-se Frere Ignace Chaput
(FIC) traduzido do francecircs Alfredo Moreira Pinto e Raul Villa-Lobos
423 A formaccedilatildeo do curriacuteculo escolar de Geografia no Impeacuterio
Nos anos iniciais da bibliografia natildeo havia proposiccedilatildeo curricular como se
teria apoacutes o estabelecimento do Coleacutegio Pedro II em fins da deacutecada de 1830 como
se teve na fundaccedilatildeo da Real Academia Militar em 1810 Da histoacuteria dos curriacuteculos
tem-se a institucionalizaccedilatildeo frequentemente como regra normatizadora dos
conteuacutedos No entanto pode-se tomar a obra de Bazilio Quaresma Torreatildeo91
Compendio de Geographia Universal se natildeo como a primeira proposta curricular
realizada como uma das mais completas desse tempo para o ensino de base Veja-
se no Quadro 14 a plataforma descritiva do curriacuteculo executado por este autor
Em uma versatildeo mais enxuta essa eacute a estrutura e forma de abordagem do
universo geograacutefico presente em Pinkerton (1804a 1804b) Tomando para exemplo
a abordagem sobre o clima em Portugal desconsiderando-se as descriccedilotildees
teacutecnicas vemos a seguinte enunciaccedilatildeo neste autor (1804a p 432) ldquoClimate and
seasons The climate of Portugal is familiarly known to be most excellent and
salutary []rdquo na versatildeo francesa ldquoClimat et saisons Tout le monde sait que le climat
du Portugal est singuliegraverement salubrerdquo (PINKERTON 1806 p 274) em Torreatildeo
(1824 p 62) ldquoPortugal que antigamente se chamava Luzitacircnia92 he hum dos
Paizes da Europa o mais execellente e o mais proprio para satisfazer as precisotildees e
comodidades da vida pela temperatura e salubridade do seu ar []rdquo
Em uma formaccedilatildeo discursiva mais ampla a dos tratados geograacuteficos e
tambeacutem no discurso didaacutetico de ampla aceitaccedilatildeo na eacutepoca como o francecircs
desenvolve-se sobre o clima de Portugal a ideia da salubridade (pois dessa forma o
clima de acordo com suas caracteriacutesticas era descrito e avaliado) como fato
ldquofamiliary known to be mostrdquoldquotout le mond saitrdquo que na enunciaccedilatildeo de Torreatildeo
91
Bazilio Quaresma Torreatildeo ndash nasceu na proviacutencia de Pernambuco em Olinda em fins do seacuteculo XVIII e faleceu em 1867 no Rio de Janeiro Foi poliacutetico brasileiro presidente da Proviacutencia da Paraiacuteba Tambeacutem atuou como professor de Geografia e Histoacuteria sendo relatado possuir grande erudiccedilatildeo nessas mateacuterias Integrou os rebeldes de 1817 que queriam a independecircncia da proviacutencia de Pernambuco Enquanto preso na Bahia em companhia do Frei Caneca lecionou trecircs cursos de Geografia e escreveu seu compendio o segundo no Brasil bem recebido pela criacutetica da eacutepoca e editado em Londres para onde se exilou por participar de outra rebeliatildeo em 1824 No exiacutelio residiu em outros paiacuteses europeus aleacutem da Inglaterra Quando retornou na deacutecada seguinte presidiu a proviacutencia do Rio Grande do Norte (1833-1836) e a da Paraiacuteba (1836-1838) Enquanto presidente do Rio Grande do Norte fundou o Atheneu Norte-Riograndense em 1834 Apoacutes 1838 atuou como deputado do Impeacuterio no Rio de Janeiro ndash (BLAKE 1883 BOLIGIAN 2010)
92 Em Pinkerton igualmente haacute consideraccedilotildees sobre os nomes antigos de Portugal
assume uma forma direta (verbo conjugado sem nenhuma condicional modal e
dispensando o reconhecimento do senso comum) sobrepondo a qualquer outro
europeu como ldquoo mais excellente e o mais proacutepriordquo concretizando um forte efeito de
sentido sobre sua salubridade sobretudo porque a ldquosingularidaderdquo como efeito no
discurso francecircs e a determinaccedilatildeo ldquoto be mostrdquo no discurso didaacutetico brasileiro se
diferencia pela determinaccedilatildeo do artigo ldquoardquo que atribui agrave sequecircncia discursiva uma
exclusividade que natildeo tem nas outras enunciaccedilotildees Eacute um momento o da produccedilatildeo
dessa obra em que os viacutenculos entre Brasil e Portugal satildeo sem duacutevida ainda muito
importantes Sobretudo trata-se de um diferencial que alccedila Portugal ndash origem
etnograacutefica importante para o povo brasileiro ndash por sobre todos os outros paiacuteses de
clima temperado quanto a esse criteacuterio
QUADRO 14 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Compendio de Geographia Universal rezumido de diversos authores e offerecido a mocidade brazileira de Bazilio Quaresma Torreatildeo 1824
Conteuacutedos GEOGRAFIA ASTRONOcircMICA Dos ceacuteos dos Astros e do Systema de Copernico Das differentes posiccedilotildees da Esfeacutera Das dimensotildees do Glocircbo Terrestre Do uso do Glocircbo Achar a Latitude dos Lugares Achar a Longitude dos Lugares Achar a distancia de dois lugares no Glocircbo Achar que horas satildeo em hum lugar quando he Meio dia em outro Achar a hora em que o Soacutel nasce e se potildeem em qualquer lugar da Terra Achar os Pericioanos Achar os Antecianos Achar os Antipodas GEOGRAFIA FIZICA E POLIacuteTICA Definiccedilotildees de differentes porccedilotildees de Terra e de Mar Religiatildeo Governo EUROPA - Golpe de vista Situaccedilatildeo Limites Extensatildeo e Populaccedilatildeo Mares e Gocirclfos Rios e Canaes Montanhas e Volcotildees Cabos e Estreitos Lagos Ilhas Peninsulas e Isthmos Divisatildeo Geral da Europa Portugal ndash situaccedilatildeo e limites Clima e Caracter dos Habitantes Governo Religiatildeo e Populaccedilatildeo Divisatildeo Geral Topographia Hespanha - Franccedila - Alemanha Confederaccedilatildeo Germanica - Imperio DrsquoAustria - Italia - Suiccedila - Paizes Baixos - Ilhas Britanicas - Denamarca - Suecia - Russia - Prussia - Imperio Turco - Ilhas da Europa - AZIA - Russia drsquoAzia - Imperio da China - Imperio do Japam - India - Persia - Arabia - Turquia Aziatica - Ilhas drsquoAzia - AFRICA - Africa do Norte - Aacutefrica a Leacuteste - Africa ao Sul - Africa ao Oeste Africa ao Centro - Ilhas drsquoAfrica - AMERICA SEPTENTRIONAL - Groelanda - Nova Bretanha - Canada - Nova Escossia - Costa do Noroeste - Estados Unidos - (acresce uma ldquoidea histoacutericardquo e descriccedilatildeo de todos os estados) Florida - Mexico - Campo do Asilo - Ilhas da America Septentrional - America Meridional - Novo Reino de Granada - Peru - La Plata - Antigo Chile - Patagotildees - Guyena - Paiz da Amazonas - Brazil ndash para cada proviacutencia descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e subdivisatildeo Ilhas da America Meridional -
Fonte Torreatildeo (1824) Org Jeane Medeiros Silva 2012
Jaacute entatildeo se tinha o pensamento que seria acentuado quando do
determinismo geograacutefico em fins do seacuteculo XIX sobre as vantagens e desvantagens
do clima como fator geograacutefico formador da iacutendole de um povo (MACHADO 2000)
O que faz muito sentido quando Torreatildeo enquadra na mesma entrada o clima e o
Caracte r dos Habitantes exposto o clima afirma ldquoos Portuguezes em geral
satildeo polidos Generosos soacutebrios e melancoacutelicos e ainda que amatildeo a ostentaccedilatildeo
satildeo bravos e dados aacutes Artesrdquo (1824 p 63)
Essa construccedilatildeo se prolonga por outras obras em muitas das deacutecadas
seguintes ou simplesmente desaparece Na obra de Brasil (1864 p 158) o autor
considera que sobre Portugal ldquo[] o clima eacute benigno temperado e saudavel na
seacutetima ediccedilatildeo do Curso Methodico de Geogaphia Lacerda (1898 p 171) afirma ldquoO
clima de Portugal eacute temperado e saudaacutevel excepto em alguns siacutetios pantanososrdquo
Novaes (1929 p 322) apoacutes caracterizar o clima portuguecircs conclui ldquoem geral o
clima eacute satildeordquo ao passo que nenhuma consideraccedilatildeo sobre o clima de Portugal pode
ser encontrada em Scrosoppi (1915) e Lobo (1927) Estaacute em Torreatildeo uma aceitaccedilatildeo
teoacuterico-ideoloacutegica que se reproduz ateacute as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX a
despeito dos avanccedilos sobre a questatildeo do clima que descartaram essa noccedilatildeo
valorativa Um sentido que desentranhado de suas origens se reproduz se altera
se preserva e desaparece mas somente apoacutes uma longa permanecircncia e apoacutes o
surgimento de outros contextos histoacutericos
Essas permanecircncias satildeo constantes e algumas inclusive atuais Eacute notaacutevel
a esse propoacutesito que jaacute na fundaccedilatildeo de um discurso didaacutetico brasileiro de Geografia
operavam certos indicadores de valores que passados diversos movimentos e
feiccedilotildees geograacuteficas e do ensino geograacutefico constatei na anaacutelise desse discurso na
contemporaneidade em minha dissertaccedilatildeo de mestrado Naquela ocasiatildeo analisei
dois capiacutetulos de um corpus didaacutetico um denominado ldquoAacutefricardquo e outro ldquoEstados
Unidos a superpotecircncia mundialrdquo percebi neles sobre o estabelecimento do espaccedilo
discursivo um capiacutetulo dado a um continente em sua totalidade e um outro para um
uacutenico paiacutes A distinccedilatildeo natildeo se limitava a esse aspecto formal pois jaacute nos tiacutetulos se
percebia um silenciamento no capiacutetulo africano (um uacutenico lexema ldquoAacutefricardquo) e uma
projeccedilatildeo qualitativa no tiacutetulo do capiacutetulo americano seguindo no fio do discurso
efeitos de sentidos contraditoacuterios e mesmo preconceituosos negativando a Aacutefrica e
positivando os Estados Unidos (SILVA 2006) De qualquer forma ali o valor poliacutetico
da contemporaneidade definia a forma de construir estas regionalidades
notadamente o espaccedilo discursivo a elas delimitado Na organizaccedilatildeo discursiva de
Torreatildeo nota-se jaacute o mesmo padratildeo de abordagem regional com destaque para os
paiacuteses considerados importantes e aglutinaccedilatildeo de outros natildeo tatildeo considerados em
blocos regionais Em especiacutefico sobre o Brasil Torreatildeo de fato fez uma siacutentese
bastante acentuada da uacutenica fonte que declara a obra de Ayres de Casal
Publicando sua obra em 1817 Casal aborda 21 proviacutencias ao passo que Torreatildeo
discorre sobre 15 Para cada uma delas como demonstrado no Quadro 14
descreve situaccedilatildeo extensatildeo limites uma ideacuteia histoacuterica clima terreno producccedilatildeo
e commeacutercio habitantes governo religiatildeo populaccedilatildeo divisatildeo geral topographia
aspecto do paiz [sic] rios ilhas lagocircas producccedilotildees e commeacutercio governo e
subdivisatildeo Resume praticamente os principais fatos histoacutericos a onomaacutestica e as
principais caracteriacutesticas fiacutesicas naturais e poliacuteticas dessas regiotildees
A estrutura da obra de Ayres de Casal (1817a 1817b) lanccedilou as bases do
curriacuteculo corograacutefico sobre o Brasil assim como Pinkerton e de La Croix
introduzidos no ensino de Geografia da Real Academia Militar e possivelmente
outros autores como os geoacutegrafos italiano Adrien Balbi (1782-1848) e o geoacutegrafo
alematildeo Conrad Malte-Brun (1755-1826) geoacutegrafos muito populares na Europa e no
Brasil (presentes nas principais bibliotecas do paiacutes) estabelecerem as bases de uma
Geografia geral para o ensino dessa disciplina
O modelo de Casal eacute levado ainda mais a termo na obra de Rabello (1829)
conforme se pode ver no Quadro 15 Esta obra pode ser considerada como a
primeira produccedilatildeo didaacutetica de Geografia de fato com enfoque regional seguindo-se
outras nas deacutecadas seguintes Apesar de o tiacutetulo propor uma descriccedilatildeo corograacutefica
do Brasil a obra restringe-se agrave proviacutencia da Bahia ficando o Brasil como um leve
contexto da forma como os trabalhos corograacuteficos abordavam as proviacutencias
Rebello abordou as comarcas da Bahia Muito proacutexima agrave forma de abordagem
casaliana daacute notiacutecias histoacutericas sobre a formaccedilatildeo territorial evidencia localizaccedilotildees e
com detalhes aborda as plantas e animais de cada territoacuterio ndash um conteuacutedo que teraacute
consideraacutevel decliacutenio nos manuais de Geografia agrave medida que as ciecircncias
consolidam um lugar na escola como disciplina escolar apenas sendo retomado
mais tarde por influecircncia da Geografia moderna cientiacutefica
QUADRO 15 ndash Organizaccedilatildeo curricular da obra Corografia ou abreviada historia geographica do imperio do Brasil de Domingos Jose Antonio Rebello 1829
Conteuacutedos
Descobrimento da America em Outubro de 1842 por Christovam Colombo Piloto Genovez derivando-se o nome ndash America ndash de Americo Vespucio Piloto Florentino tambeacutem celebre nesta descoberta
Descobrimento do Brasil
Ideacutea geral dos Indigenas habitantes do Brasil
Notiacutecia dos Indigenas habitantes da Bahia de Todos os Santos antes do seo descobrimento
Naufragio de Diogo Alves Correia na Bahia em 1510 e o mais notaacutevel ateacute a chegada em 1547 de Francisco Pereira Coutinho aacute mesma
Situaccedilatildeo Extensatildeo e Limites do Brasil Serraniacuteas Cabos Bahias ou Portos principaes Ilhas Rio Clima Terreno Producccedilatildeo Commercio Lagocircas mais notaveis em diversas Provincias Mineralogia Fythologia Zoologia Reptis Anphibios Aves Insectos Arvores Resinas uteis Fructas Plantas medicinaacutees Raizes Hortaliccedilas e legumes Balsamos alguns medicinaes Especiarias Flores e plantas de cheiros
Historia em resumo e Epochas mais notaacuteveis do Brasil desde o seo descobrimento ateacute o presente e especialmente as desta Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos
Habitantes Governo religiatildeo e Populaccedilatildeo conforme o Estado actual do Impeacuterio do Brasil suas capitaes Cidades e Comarcas respectivas com as suas Villas
Provincia da Bahia em geral Aspecto do paiz Rios e Lagos Montanhas Mineralogia Fithologia Zoologia Estaccedilatildeo Commercio Governo e subdivisatildeo da Proviacutencia nas sus quatro Comarcas Comarca da bahia com 17 Villas Comarca da Bahia Portos Peixes Mariscos Ilhas Rios Rios nos Suburbos da Cidade Eacutepoca da Fundaccedilatildeo da Cidade de S Salvador Bahia de Todos os Santos em 1549 primeira Cidade do Brasil Capital e primeira Comarca desta proviacutencia seos Estabelecimentos Governos assim Civil como Eclesiastico seo estado actual
Freguezias do lado Occidental da Costa da Enseada da Bahia Freguezias na contra-costa da parte do Norte Villas Julgados Arraiaacutees e Freguezias pertencentes aacute Cidade Villas e Freguezias do Recocircncavo da Cidade Comarca de Porto Seguro conhecida tambeacutem por Vera Cruz por ser o primeiro nome que teve dado pelo Navegante Pedro Aacutelvares Cabral em allusatildeo ao dia 3 de Maio invenccedilatildeo da Santa Cruz e por isso o Brasil todo tomou o nome de Terra de Santa Cruz Montes Rios Lagos e Portos Mineralogtia Zoologia Fythologia Comarca de Porto Seguro com 9 Villas Comarca de Satildeo Jorge dos Ilheacuteos Montes Rios e Lagos Portos e Ilhas Mineralogia Fithologia Zoologia Comarca de S Jorge dos Ilheacuteos com 10 Villas Comarca de Jacobina Montes Rios Mineralogia Fythologia Zoologia Comarca de Jacobina com seis Villas Comarca da Cidade Comarca de Porto Seguro Comarca de Ilheacuteos Resumo das particularidades da Proviacutencia da Bahia
Fonte Rebello (1829) Org Jeane Medeiros Silva 2011
O manual eacute emblemaacutetico de um momento em que o discurso didaacutetico de
Geografia tateia no escuro sua organizaccedilatildeo natildeo tem referecircncias ou orientaccedilotildees
claras Assim os conteuacutedos sofrem diversas ordens de instabilidade tais como
repeticcedilatildeo de temas ausecircncia de um sequenciamento loacutegico e outras Em um sentido
mais restrito proacuteprio ao zelo e cuidados expressivos de um autor o que demonstra
muito do improviso e do amadorismo dessas produccedilotildees a obra de Rabello que era
comerciante aponta incoerecircncias tais como intitular uma seccedilatildeo por Montes Rios
Lagos (os subtiacutetulos internos da bibliografia didaacutetica satildeo praticamente idecircnticos ndash
quase constituindo uma foacutermula) mesmo que na localidade abordada natildeo se faccedila
menccedilatildeo a nenhum lago por natildeo tecirc-los
Na deacutecada de 1850 o Coleacutegio Pedro II apresentava o curriacuteculo descrito no
Quadro 16 que se orienta metodologicamente do sentido geral para o particular dos
continentes para o Brasil direcionado agraves seacuteries da sua estrutura de ensino No
uacuteltimo ano encerra os estudos geograacuteficos com uma abordagem cosmograacutefica e
geograacutefica antiga De acordo com Issler (1973 p 41) essa cadeira ldquo[] cumpria um
programa de geografia histoacuterica com evidentes intenccedilotildees de erudiccedilatildeo retornando ao
mundo mediterracircneo que certamente atenderia aos interesses dos estudos
claacutessicos de filosofia e religiatildeo nas outras mateacuteriasrdquo
QUADRO 16 ndash Plataforma curricular do Coleacutegio Pedro II em 1850 ndash ensino secundaacuterio Ano Disciplina Conteuacutedos
2ordm ano Geografia
Os cinco continentes estudados nos seus aspectos fiacutesico-descritivos tais como limites paiacuteses mares golfos estreitos rios etc
3ordm ano Geografia Aacutefrica e Oceania destacando aleacutem dos aspectos fiacutesicos paiacuteses populaccedilotildees raccedilas religiotildees governos etc
4ordm ano Geografia Aacutesia ndash o mesmo tratamento
5ordm ano Geografia Europa ndash o mesmo tratamento mas com destaque agraves cidades principais dos vaacuterios paiacuteses
6ordm ano Geografia Ameacuterica e Brasil ndash Ameacuterica em geral aspectos fiacutesicos descoberta e Brasil em geral e estudo de cada proviacutencia
7ordm ano Cosmografia Geografia Antiga
Duas cadeiras uma de Cosmografia e Cronologia mistura de elementos de astronomia geografia fiacutesica climas e astrologia e outra de Geografia Antiga um estudo geograacutefico da divisatildeo do mundo antigo Aacutesia Menor e mundo Mediterracircneo
Fonte Isller (1973 p 39-40) Org Jeane Medeiros Silva 2011
No aspecto geral haacute poucas alteraccedilotildees significativas no curriacuteculo
estabelecido ao longo das primeiras deacutecadas do Coleacutegio Pedro II Os conteuacutedos
obedecem agrave divisatildeo quantitativa por seacuteries e agrave distribuiccedilatildeo destas pelos anos
escolares permanecendo sempre uma abordagem da Geografia Poliacutetica da
Geografia Fiacutesica e da Cosmografia
Na praacutetica desse curriacuteculo que considera a concepccedilatildeo de uma descriccedilatildeo do
mundo tem-se objetivamente a elaboraccedilatildeo de uma espeacutecie de mapa mental a ser
construiacutedo de fatos dados e descriccedilotildees de superfiacutecie por sua vez a serem somados
pelo estudante por meio da memorizaccedilatildeo
Trata-se assim em primeiro lugar de delinear os contornos fiacutesicos para
neles pontilhar ou dar a saber sem localizaccedilatildeo precisa (pois nos manuais
oitocentistas os mapas satildeo pouco frequentes e quando os haacute satildeo bem gerais em
escala muito reduzidas) os principais acidentes os mais importantes como as
terras os oceanos os mares e rios as montanhas e o que mais aprouver para para
uma descriccedilatildeo fiacutesica O objetivo eacute que o estudante estime em sua mente uma
organizaccedilatildeo das formas do planeta sua diferenciaccedilatildeo e suas unidades constitutivas
Em segundo plano vem o mesmo trabalho e expressatildeo agora condizente
agraves obras humanas as cidades mais importantes com descriccedilotildees ligeiras tais como
anotaccedilatildeo dos edifiacutecios mais importantes ou instituiccedilotildees representativas nelas
situadas das principais atividades rurais e industriais das entidades poliacuteticas
assentadas nesses territoacuterios
Isto posto em niacutevel global o proacuteximo passo era fazecirc-lo por continentes
adentrando os principais paiacuteses com a mesma abordagem O mesmo se faria com o
territoacuterio nacional apresentando um contexto histoacuterico desenhando os contornos
poliacuteticos e fiacutesicos para entatildeo entalhar as proviacutencias ndash uacutenica regionalizaccedilatildeo praticada
em todo o oitocentos e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX
Em terceiro plano em ordem variaacutevel (pois agraves vezes precedia ou sucedia a
descriccedilatildeo geral) vinha a Cosmografia para descrever os astros os planetas e
cometas apresentar o sistema solar os movimentos do planeta Terra e o
estabeleciemento das estaccedilotildees as dimensotildees da terra as longitudes e latitudes as
zonas climaacuteticas e outras ordens nesse sentido Para atender aos estudos claacutessicos
a disciplina Geografia e seu curriacuteculo estabelecia uma abordagem do mundo Antigo
circunscrito agrave Aacutesia menor e aos paiacuteses mediterracircneos com o mesmo movimento
descritivo
Este era o conjunto de conteuacutedos e sua expressatildeo presente nos manuais de
Geografia em todo o periacuteodo imperial com pouca variaccedilatildeo Compare-se o curriacuteculo
exercido em duas ediccedilotildees da obra de Pompeu Brasil (Quadro 17)
O manual de Pompeu tem o mesmo comportamento das demais produccedilotildees
da segunda metade do seacuteclo XIX Divide-se em Cosmografia Geografia Fiacutesica e
Geografia Poliacutetica para as quais descreve os elementos e fatos essenciais Essa
essencialidade evidentemente eacute imbricada pela visatildeo do sujeito autor ou das
instacircncias sociais que representa e que justamente o constitui como sujeito isto eacute
eurocecircntrica burguesa catoacutelica Natildeo se trata de uma enumeraccedilatildeo isenta e neutra
A variaccedilatildeo de uma ediccedilatildeo para outra implica uma atualizaccedilatildeo geograacutefica e a
ampliaccedilatildeo da descriccedilatildeo Na quarta ediccedilatildeo por exemplo Brasil inclui a Oceania natildeo
presente nas ediccedilotildees anteriores e paiacuteses tambeacutem natildeo abordados anteriormente
O mesmo se verifica da ediccedilatildeo de um autor para a produccedilatildeo de um novo
autor Procede-se nesse sentido ao que observou Chervel (1990 p 209) citado
anteriormente
Todos os manuais ou quase todos dizem entatildeo a mesma coisa ou quase isso Os conceitos ensinados a terminologia adotada a coleccedilatildeo de rubricas e capiacutetulos a organizaccedilatildeo do corpus de conhecimentos mesmo os exemplos utilizados ou os tipos de exerciacutecios praticados satildeo idecircnticos com variaccedilotildees aproximadas Satildeo apenas essas variaccedilotildees aliaacutes que podem justificar a publicaccedilatildeo de novos manuais e de qualquer modo natildeo apresentam mais do que desvios miacutenimos o problema do plaacutegio eacute uma das constantes da ediccedilatildeo escolar
A Geografia escolar descritiva parece estruturar-se em um traccedilo cartograacutefico
como objetivo do seu modo de ser a fazer uma imagem seletiva clivada
ideologicamente dada por fatos e nomenclatura Seu ponto de partida foi a
Geografia claacutessica que antecedeu agrave fase cientiacutefica sendo tal qual ela de natureza
quantitativa e onomaacutestica
QUADRO 17 ndash Plataforma curricular executada na segunda e quarta ediccedilotildees de Pompeu Brasil
Div
isatildeo
Conteuacutedos (2 ed)
Div
isatildeo
Conteuacutedos (4 ed)
Co
sm
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rafi
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Dos Astros em geral Dos Planetas Da Esphera Do Zodiaco e Estaccedilotildees Da Terra Das longitude e latitudes Das Zonas sombras climas Da lua e fases
Co
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rap
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defi
niccedil
otildees
gera
es
Principios geraes de geographia astronocircmica Astros errantes Planetas e Cometas Systema solar movimento diurno e annual da terra e das estaccedilotildees Da esphera circulo linhas e pontos Zodiaco precessatildeo do equinocios e posiccedilatildeo da esphera Da terra sua figura e dimensotildees Das longitudes e latitudes Dos habitantes da terra em relaccedilatildeo aacutes suas zonas e sombras aos seus climas e a longitude e latitude Da lua suas phases e eclipses
Geo
gra
ph
ia
Ph
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a Physica - parte liquida Atmosphera e Meteorologia
Geographia applicada Europa Physica Azia Physica Africa Physica America Physica Oceania Physica
Pri
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ccedilatildeo
Ph
ysic
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Descripccedilatildeo physica da terra Parte liquida do globo Atmosphera e meteorologia O grande continente divisatildeo do mundo e os oceanos Da sociedade civil foacutermas de governo leis e industria Da religiatildeo e dos diversos cultos do mundo Das raccedilas linguas e populaccedilatildeo do mundo
Geo
gra
ph
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oliti
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Europa Politica Suecia e Norwega Dinamarca Russia Inglaterra Pruacutessia Hollanda e Beacutelgica Allemanha Aacuteustria Suissa Franccedila Portugal e Hespanha Turquia Grecia e Ilhas Jocircnicas Itaacutelia
Geo
gra
ph
ia d
esc
rip
tiva
Europa ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da Europa Septentrional e oriental ndash Ruacutessia Da Europa Septentrional ndash Reino Noruego-Sueco Da Europa Septentrional - Da Dinamarca Da Europa Septentrional ndash Inglaterra Da Europa Central ndash Pruacutessia Da Europa Central ndash Holanda Da Europa Central ndash Beacutelgica Da Europa Central ndash Allemanha ou Confederaccedilatildeo Germacircnica Europa Central ndash Aacuteustria Europa Central ndash Suissa ou Confederaccedilatildeo Helvetica Europa Central ndash Franccedila Europa Meridional ndash Hespanha Europa Meridional ndash Portugal Europa Meridional ndash Itaacutelia Europa Meridional ndash Estados Italianos Europa Oriental ndash Grecia e Ilhas Jocircnicas Europa Oriental ndash Turquia e Principados Danubianos
Azia e sua divisatildeo Siberia e Caacuteucaso China e Japatildeo Indostaatilde Turquia e Araacutebia Persia e Tartaria Belutchistan Kabul
Asia ndash Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da Asia Septentrional e Meridional ndash Ruacutessia Asiatica (Siberia e Caucaso) Da Asia Occidental ndash Turquia Asiaacutetica Da Asia Ocidental ndash Araacutebia Da Asia Meridional ndash Persia Kaboul Belout-chiston e Herat Da Asia Meridional ndash Indostao e Indo-China Da Asia Oriental ndash Divisatildeo Politica das Iacutendias India independente India Colonial ou Estado Europecircos India-China ou aleacutem do Ganges Da Asia Oriental ndash China e paizes sujeitos Da Asia Oriental ndash Japatildeo Da Asia Central ndash Tartaria ou Turquestam independente
Africa e sua divisatildeo Egypto e Berberia Outros Estados da Aacutefrica
Africa - Geographia Geral Descripccedilatildeo Physica Descripccedilatildeo Poliacutetica Geographia Particular Da regiatildeo do Nilo - I Abyxinia (Ethiopia dos Anyigos) II Paiz do Bahr-el-Abiad III Nubia IV Egypto Da regiatildeo de Magheb Marrocos Argel Tripoli e Tunis Da regiatildeo austral e oriental Regiatildeo da Negricia e Africa Colonial
Ameacuterica America Russa Dinamarquesa e Inglesa Estados Unidos Meacutexico Antilhas Nova Granada Venesuela Equador Peru e Boliacutevia Chile Paraguay e Uruguay Confederaccedilatildeo Argentina Guayna e Patagocircnia
America - Geographia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica Geographia Particular Da America Septentrional ndash America Russa dinamarqueza e inglesa Da America Septentrional ndash Estados Unidos Da America Septentrional ndash Meacutexico Da America Septentrional ndash America Central ou as cinco Republicas Das Antilhas e Guyanas ndash Hayti Cuba Porto Rico Jamaica e Martinica Da America Meridional ndash Columbia ou as Republicas de Nova Granada Equador Venezuela e Panamaacute Da America Meridional ndash Peru e Boliacutevia Da America Meridional ndash Paraguay La Plata e Uruguay Da America Meridional ndash Chile e America Indiacutegena
Brasil - Descoberta limites e extensatildeo Serras Cabos e Portos Ilhas lagos e rios Affluentes clima Producccedilotildees naturaes Populaccedilatildeo e Industria Forccedila Publica Religiatildeo Governo e sua divisatildeo eclesiaacutestica Divisatildeo Civil judiciaria e administrativa do Impeacuterio do Brasil Provincia do Amasonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahiba Provincia de Pernambuco Provincia de Allagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Corte do Rio Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Paranaacute Provincia de Santa Catharina Provincia do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goiaz Provincia de Mato Grosso
Oceania ndash Geografia Geral Descripccedilatildeo physica Descripccedilatildeo poliacutetica
Imperio do Brasil America Meridional Fundaccedilatildeo posiccedilatildeo dimensotildees limites clima e salubridade Serras cabos ilhas portos e lagos Rios e affluentes Producccedilotildees naturaes mineralogia phictologia e zoologia Industria agricola manufatora e commercial Governo organizaccedilatildeo politica populaccedilatildeo e religiatildeo Organisaccedilatildeo administrativa financcedilas forccedilas correio e instrucccedilatildeo publica Divisatildeo eclesiatica judiciaria e civil Quadro das Provincias com sua superficie e populaccedilatildeo Provincia do Amazonas Provincia do Para Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Ceara Provincia do Rio Grande do Norte Provincia Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia de Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Provincia do Rio de Janeiro Municipio da Corte Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Matto-Grosso
Oceania Estado Social da Oceania
FONTE Sousa Neto (1997 p 34-37) Brasil (1864) Org e Adapt Jeane Medeiros Silva 2011
A divulgaccedilatildeo dessas informaccedilotildees e a concretizaccedilatildeo maacutexima desse modo de entender a geografia aconteceu [sic] nos fins do seacuteculo passado e primeiros anos do seacuteculo XX com a publicaccedilatildeo de dicionaacuterios histoacutericos e geograacuteficos fartamente descritivos e encontrados em quase todas as bibliotecas puacuteblicas brasileiras Publicados tanto no Impeacuterio como na Repuacuteblica na sua maioria formam um arrolamento do quadro natural e histoacuterico disposto em ordem alfabeacutetica e quase sempre mateacuteria prima para o conteuacutedo dos muitos livros didaacuteticos [] (ISSLER 1972 p 17)
Organizou-se pela palavra em razatildeo dos meios disponiacuteveis das teacutecnicas
entatildeo alcanccedilaacuteveis E tendo essa Geografia por base limitou-se a ela mesmo
quando alternativas jaacute fizessem contexto para alterar o mundo estaacutetico tatildeo pleno de
informaccedilotildees excessivas Por quecirc
Talvez por faltar um debate sobre ensino por faltar uma classe de
profissionais de formaccedilatildeo especiacutefica que cuidasse do desenvolvimento desse saber
escolar
Talvez pelos objetivos da educaccedilatildeo natildeo exigirem nada aleacutem do que estava
ofertado
No Quadro 18 tem-se o curriacuteculo proposto no acircmbito do Coleacutegio Pedro II
em princiacutepios da deacutecada de 1880 cujos anos foram significativos para a bibliografia
escolar brasileira em razatildeo de certa explosatildeo no niacutevel e na quantidade de tiacutetulos
entatildeo publicados Em siacutentese regimenta-se pelo mesmo padratildeo curricular vigente
ateacute entatildeo embora com maior organizaccedilatildeo dos conteuacutedos O que o diferencia dos
demais eacute certa preocupaccedilatildeo metoloacutegica quanto ao ensino
Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis
[]
Uso de espheras problemas
O Brasil passava por transformaccedilotildees significativas no acircmbito econocircmico e
poliacutetico que resultariam no advento da Repuacuteblica
QUADRO 18 ndash Ensino Secundaacuterio Programa de Geografia no Coleacutegio Pedro II na vigecircncia do Decreto n 8051 de 25 de marccedilo de 1881
Disciplina AnoSeacuterie Conteuacutedos Geografia 1ordm ano Noccedilotildees de Geografia ndash sem especificaccedilotildees
Geografia 3ordm ano
GEOGRAPHIA Terra sua superficie seus movimentos principais circulos que nella se traccedilam para localizar as terras e determinar as zonas thermaes Divisatildeo das terras e do oceano Clima e sua influecircncia sobre a distribuiccedilatildeo dos vegetaes e animaes pela superficie da terra Das cinco grandes divisotildees das terras Mares golfos estreitos seus accidentes physicos Ilhas seus accidentes physicos Lagos rios lagunas seus limites suas dimensotildees e posiccedilotildees Populaccedilatildeo absoluta e relativa Governo e suas principaes formas Confederaccedilatildeo Estados soberanos e meio soberanos Divisatildeo dos povos segundo seu desenvolvimento moral e suas raccedilas Dos principaes paiacutezes do globo Posiccedilatildeo limites superfiacutecie Populaccedilatildeo governo religiatildeo Divisatildeo aspecto e clima Producccedilatildeo commercio e industria importancia politica Cidades principaes Dar-se-ha mais desenvolvimento ao que disser respeito a Ameacuterica e principalmente a Meridional Exame intuitivo de mappas muraes desenho no quadro preto dos pormenores geographicos que abranger cada ponto viagens simuladas para diferentes partes em que os examinandos indiquem os acidentes physicos que podem encontrar e as curiosidades naturaes ou artisticas notaacuteveis
Geografia e Cosmografia
4ordm ano
Universo Astros sua divisatildeo e aglomeraccedilatildeo em grandes grupos ou nebulosas Estrellas planetas cometas estrellas cadentes bolidos e aerolithos Systema de Ptolomeu e de Copernico Leis de Kepler Attraccedilatildeo e repulsatildeo Figura rotaccedilatildeo e revoluccedilatildeo da terra Ciacuterculos da esphera Estaccedilotildees Posiccedilotildees da esphera e dias Lua Eclipses Uso de espheras problemas
Corografia do Brasil
7ordm ano
Limites do Brazil e sua posiccedilatildeo astronocircmica Ethnographia e clima do Brazil Ilhas estreitos e cabos principaes do Brazil Bahias e portos do Brazil Systema orographico brazileiro Systema hidrographico brazileiro Produccedilotildees naturaes do Brazil Industria agricultura commercio e progresso material do paiz Systema de governo e administraccedilatildeo do Estado (militar judiciario e eclesiastico) Instituiccedilotildees e estatistica Synopse da Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Imperio e Coacutedigo Criminal Colonizaccedilatildeo e catechese Provincia do Amazonas Provincia do Gratildeo Paraacute Provincia do Maranhatildeo Provincia do Piauhy Provincia do Cearaacute Provincia do Rio Grande do Norte Provincia da Parahyba Provincia de Pernambuco Provincia das Alagoas Provincia de Sergipe Provincia da Bahia Provincia do Espirito Santo Municipio Neutro Provincia de Satildeo Paulo Provincia do Parana Provincia de Santa Catharina Provincia de Satildeo Pedro do Rio Grande do Sul Provincia de Minas Geraes Provincia de Goyaz Provincia de Mato Grosso
Fonte Haidar (1972) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Se antes se fazia uma abordagem geral do mundo recortando-se em
imediato uma corografia nacional o ato legislador nesse momento pede maior
atenccedilatildeo a um entreposto agrave Ameacuterica das nossas vizinhanccedilas as relaccedilotildees comerciais
entrelaccedilavam-se havia problemas geopoliacuteticos quanto agrave demarcaccedilatildeo de fronteiras
entatildeo recentemente encerrara-se talvez o mais importante conflito beacutelico da histoacuteria
nacional (a Guerra com o Paraguai)
Haacute ainda a tentativa de fazer certo movimento certa dinacircmica na Geografia
estaacutetica que caracterizara o ensino ateacute esse momento o que se pretendia natildeo pela
alteraccedilatildeo do discurso mas da praacutetica desse discurso ou seja na metodologia de
ensino Por isso mesmo no contexto de uma plataforma curricular reforccedila o
emprego de exame de mapas desenhos simulaccedilatildeo de viagens o uso de esfera e a
formulaccedilatildeo de problemas geograacuteficos tenta-se entatildeo um meio de se tirar da
inaniccedilatildeo as informaccedilotildees por vezes caudalosas por vezes sem sentido que habitam
as superfiacutecies discursivas do livro didaacutetico de Geografia
Esse modelo curricular seraacute encontrado nas obras da bibliografia do final do
Impeacuterio e nos anos iniciais da Repuacuteblica Nos Quadros 19 e 20 tem-se a plataforma
curricular de uma corografia e de uma Geografia geral publicadas na deacutecada de
1880 e reeditada ateacute no princiacutepio do seacuteculo XX
Assim em Lacerda (1898) tem-se a abordagem do Brasil no mesmo
contexto de abordagem das Ameacutericas com as proviacutencias jaacute renomeadas como
Estados em vigecircncia da Repuacuteblica atualizaccedilatildeo feita por Luiz Leopoldo Fernandes
Pinheiro responsaacutevel pelo prolongamento da vida uacutetil das obras do autor entatildeo jaacute
falecido
Se por um lado comeccedilava-se a ter uma preocupaccedilatildeo com a metodologia do
ensino por outro a referenciaccedilatildeo discursiva ainda se caracterizava pela
fragmentaccedilatildeo do saber com a qual se esperava compor quadros isolados fiacutesicos e
poliacuteticos a serem sobrepostos pelos alunos presumidamente na tentativa de
compor uma imagem geograacutefica do mundo ou de suas partes
Essas obras exemplares do periacuteodo indicam os tracircmites transitivos do
Impeacuterio para a Repuacuteblica Essencialmente os conteuacutedos e seu meacutetodo ou a
concepccedilatildeo geograacutefica permanecem o mesmo a despeito das diversas tentativas de
reformas educacionais implementadas pela Repuacuteblica Atualizam-se as proviacutencias
para estados mas permanece a ecircnfase numa divisatildeo territorial eclesiaacutestica como
ainda recomendado no programa de 1881 o Impeacuterio e a Igreja Catoacutelica tinham um
consoacutercio que a Repuacuteblica aboliria
QUADRO 19 ndash Plataforma curricular executada no Curso methodico de Geographia de Joaquim Maria de Lacerda deacutecada de 1880
Geographia Geral Noccedilotildees preliminares Definiccedilotildees geometricas Noccedilotildees de Cosmographia Definiccedilotildees geographicas Producccedilotildees do globo Classificacao dos homens Europa descripccedilatildeo physica descripccedilatildeo politica Aacutesia Aacutefrica Ameacuterica Oceania Quadro comparativos dos principaes lagos rios e montes
Geographia Particular
Paizes da Europa Ilhas Britannicas Dinamarca Suecia e Noruega Russia Europecirca Franccedila Beacutelgica Hollanda Allemanha Austria-Hungria Suissa Portugal Hespanha ltalia Turquia Europecirca Grecia Rumania Servia Bulgaacuteria Montenegro Paizes da Aacutesia Russia da Aacutesia Turquia da Aacutesia Araacutebia Peacutersia Afghanistan Belutchistan Turkestan independente India ou Hindostatildeo lndo-China Imperio Chinecircs Corea Japatildeo Paizes da Aacutefrica Egypto Abyssinia Barbaria Sahara Senegambia Guineacute Superior Guineacute Inferior Hotentotia Colonia do Cabo Cafraria Moccedilambique Zanguebar Somal Sudan Nigricia Meridional Ilhas da Aacutefrica Paizes da Ameacuterica Groenlacircndia America Septent Ingleza Estados-Unidos Meacutexico America Central Antilhas Guyanas Venezuela Colombia ou Nova Granada Republica do Equador Peruacute Boliacutevia Chile Republica Argentina Republica do Uruguay Republica do Paraguay Republica Patagocircnia Estados-Unidos do Brazil Estado do Amazonas Estado do Paraacute Estado do Maranhatildeo Estado do Piauhy Estado do Cearaacute Estado do Rio Grande do Norte Estado da Parahyba do N Estado de Pernambuco Estado das Alagoas Estado de Sergipe Estado da Bahia Estado do Espirito-Santo Estado do Rio de Janeiro Districto federal Estado de S Paulo Estado do Paranaacute Estado de S Catharina Estado do Rio Grande do Sul Estado de Minas Geraes Estado de Goyaz Estado do Matto-Grosso Estatistica do Brazil Oceania Possessotildees Inglezas Possessotildees Hollandezas Possessotildees das outras naccedilotildees Esiados independentes
Cosmografia
Definiccedilotildees geomeacutetricas Do Universo em geral Atraccedilatildeo e forccedila centrifuga Parallaxe O sol Manchas do Sol Densidade do Sol A terra Antipodas Redondeza da Terra Atmosphera Ventos Chuvas Refracccedilatildeo astronomica Aurora e crepusculo Climas Linhas pontos e circulos da esphera Medida da longitude Medida da latitude Movimento diurno da Terra Movimento annual da Terra Estaccedilotildees Dia sideral e solar Tempo verdadeiro e meacutedio Equa-ccedilatildeo do tempo Anno sideral e solar Precessatildeo dos equinoxios A Lua Caracteres geraes Mo-vimentos Orbita Retrogradaccedilatildeo dos noacutes Phases da Lua Influencia da Lua sobre as mares Revoluccedilatildeo sideral e synodica da Lua Libraccedilatildeo Eclipses Systema solar ou planetario Cometas Estrellas cadentes etc Estrellas fixas Nebulosas Posiccedilotildees da esphera Globos cartas geographicas Projeccedilotildees Calendario Cyclo lunario e Aureo numero Epacta Cyclo solar Indicccedilatildeo Romana Lettra dominical Festas do anno Problemas de Cosmographia Fonte Lacerda (1898) Org Jeane Medeiros Silva 2011
QUADRO 20 ndash Plataforma curricular executada nos Elementos de Chorographia do Brazil de Henrique Martins deacutecada de 1880
Descripccedilatildeo Physica Bahias Ilhas Cabos Pontas Montanhas Chapadotildees Lagos e lagoas Bacias fluviaes Bacia do Amazonas Bacia Oriental Bacia do Prata
Descripccedilatildeo Politica
Posiccedilatildeo astronomica Extensatildeo Superficie Limites Populaccedilatildeo Grupos ethnographicos Descripccedilatildeo do littoral Estructura physica Aspecto physico Clima Producccedilatildeo Flora Fauna Agricultura Industria Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gado Estradas de ferro Telegrapho Navegaccedilatildeo Governo Divisatildeo administrativa Divisao judiciaria Financcedilas Religiatildeo Divisao ecclesiastica Industria
Descripccedilatildeo dos Estados
Amazonas Paraacute Maranhatildeo Piauhy Cearaacute Rio Grande do Norte Parahyba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Espirito Santo Rio de Janeiro Districto Federal S Paulo Paranaacute Santa Catharina Rio Grande do Sul Minas Geraes Goyaz Matto Grosso Fonte Martins (1896) Org Jeane Medeiros Silva 2011
Por outro lado esses curriacuteculos aleacutem dos movimentos poliacuteticos indicam as
transformaccedilotildees econocircmicas pelas quais o Brasil passava O curriacuteculo de 1881
orienta a abordagem da ldquoIndustria agricultura commercio e progresso material do
paizrdquo no curriacuteculo das obras as inovaccedilotildees vatildeo sendo colocadas paulatinamento
Em Martins (1896 ndash 5ordf ediccedilatildeo) por exemplo uma parcela desse progresso material
eacute colocado ao lado das tradicionais abordagens da ldquoAgricultura Industria
Mineraccedilatildeo Commercio Creaccedilatildeo de gadordquo eacute o caso das ldquoEstradas de ferrordquo e do
ldquoTelegraphordquo
No proacuteximo capiacutetulo considerando constituida e institucionalizada a
disciplina Geografia com uma bibligorafia didaacutetica consolidada e jaacute enquadrada em
uma tradiccedilatildeo passo a abordar os movimentos de sua conformaccedilatildeo e
desenvolvimento discursivo considerando o contexto histoacuterico do debate que
promove transformaccedilatildeo em seu fazer e modo de ser durante a vigecircncia da Primeira
Repuacuteblica em fins do seacuteculo XIX ateacute a deacutecada de 1930
CAPIacuteTULO 5
DELINEAMENTOS CONSTITUTIVOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR NA PRIMEIRA REPUacuteBLICA (1889-1930) permanecircncias e
transformaccedilotildees na disciplina e em sua bibliografia didaacutetica
Ordinariamente se faz o estudo do paiz pelos compendios Ainda que o livro natildeo vaacute aacutes matildeos do alumno eacute pelo livro que o professor ensina e portanto eacute pelo livro que o alumno aprende
Antonio Firmino Proenccedila 1928
A transiccedilatildeo do periacuteodo imperial para o periacuteodo republicano sinalizou
evidentemente transformaccedilotildees que atingiram toda a dinacircmica social do paiacutes
inclusive a educaccedilatildeo O Brasil propriamente enfrentava uma reestruturaccedilatildeo social a
partir da nova organizaccedilatildeo da sociedade com aboliccedilatildeo da escravatura a chegada
de imigrantes em massa e a presenccedila da matildeo de obra livre Economicamente havia
o surgimento do esboccedilo de uma produccedilatildeo industrial Jaacute entatildeo havia uma plataforma
cultural efervescente sinalizando para a consolidaccedilatildeo de uma classe intelectual
constituiacuteda por profissionais liberais militares funcionaacuterios puacuteblicos e outros
interessados pela direccedilatildeo do destino da naccedilatildeo e dos proacuteprios negoacutecios O paiacutes
passava por um periacuteodo de modernizaccedilatildeo estrutural com impacto significativo nas
relaccedilotildees sociais que incluiacutea
[] o encurtamento das distacircncias com a construccedilatildeo de vias feacuterreas e a expansatildeo das jaacute existentes a agilizaccedilatildeo dos transportes mariacutetimos atraveacutes dos barcos a vapor a modernizaccedilatildeo dos processos de fabrico do accediluacutecar e a construccedilatildeo de engenhos sem contar o importante avanccedilo nos processos de beneficiamento do cafeacute que aumentaram a sua produtividade Todas essas alteraccedilotildees foram decisivas no surgimento de novas relaccedilotildees e novos interesses na sociedade Da mesma forma que estas mudanccedilas o incremento das induacutestrias a urbanizaccedilatildeo e a modernizaccedilatildeo das capitais e das cidades portuaacuterias bem como a imigraccedilatildeo contribuiacuteram de algum modo para a Repuacuteblica e para a federalizaccedilatildeo do paiacutes Aleacutem eacute claro de