A aventura peruana - Mauricio Matos · No dia seguinte fiz uma viagem de 9 horas de Puno até...

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24 | zOOm Maurício Matos, um dos nossos fotógrafos de viagens favoritos, regressa à zOOm para contar a sua mais recente aventura por terras do Peru. Machu Picchu, Lago Titicaca e Cusco foram alguns dos locais emblemáticos que não escaparam à sua objectiva. Venha daí descobrir este fascinante mundo visto pelo olhar – e pela câmara – de um viajante incansável. f oto-aventura TEXTO E FOTOS: MAURÍCIO MATOS A aventura peruana Canon 1D MK IV . 24mm . f/5.6 . 1/3200” . ISO 400 Latitude: 13,9.9272 S Longitude: 72,32.6967 W Altitude: 2511 metros

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Maurício Matos, um dos nossos fotógrafos de viagens favoritos,regressa à zOOm para contar a sua mais recente aventura por terrasdo Peru. Machu Picchu, Lago Titicaca e Cusco foram alguns doslocais emblemáticos que não escaparam à sua objectiva. Venha daídescobrir este fascinante mundo visto pelo olhar – e pela câmara –de um viajante incansável.

foto-aventuraTEXTO E FOTOS : MAURÍCIO MATOS

A aventura peruana

Canon 1D MK IV . 24mm . f/5.6 . 1/3200” . ISO 400Latitude: 13,9.9272 SLongitude: 72,32.6967 WAltitude: 2511 metros

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foto-aventuraTEXTO E FOTOS : MAURÍCIO MATOS

“Sempre fui um apaixonado pelaAmérica do Sul, pelas paisagens,pelas pessoas. Depois de visitas ao

Brasil, Argentina e Chile, desta vez optei peloPeru, um país cheio de história e cultura. Se oque me levou até lá foi principalmente aoportunidade de visitar as impressionantesruínas de Machu Picchu, agora posso dizerque o país tem muito mais para oferecer.A minha viagem começou pela capital,

Lima. Eu não sou um amante de grandescidades, de metrópoles, por isso saí dali omais rapidamente possível. Fiquei apenasum dia, o suficiente para poder ter uma ideiasuperficial: trânsito caótico, urbanisticamen-te confusa e desorganizada. Enfim, uma cida-de de 8 milhões de habitantes, igual a tantasoutras cidades desta dimensão naquele con-tinente.A segunda etapa foi a viagem para Puno,

cidade situada nas margens do Lago Titicacae a principal atracção daquela região. Foitambém aqui que tive a primeira experiên-cia, nada agradável por sinal, dos efeitos quea altitude tem no nosso organismo. A passa-

gem repentina do nível do mar para os 4 milmetros de altitude fez com que eu andasseum dia inteiro mal disposto. Já o equipamento, portou-se lindamente.

Pela primeira vez fotografei no que pode serconsiderado altitude – entre os 2500 e os4400 metros (com excepção de Lima). É sabi-do que, por vezes, à semelhança do que acon-tece com as pessoas, a altitude provoca pro-blemas ao equipamento também. No entan-to, em relação ao material que usei não noteinada de anormal, sendo que tudo funcionoucomo era suposto. O calor também não foiproblema uma vez que apesar de ter viajadonuma região próxima do equador – suposta-mente muito quente e húmida – andei sem-pre em altitudes elevadas e por isso apanheiuma temperatura amena, entre os 10 e os 20graus.Ultrapassado este problema, o segundo dia

em Puno foi totalmente passado no Lago. Demanhã a visitar as Urus, ilhas flutuantesconstruídas por este povo com recurso a umaplanta chamada totora, que além de servirpara construir as ilhas, serve para construir

Na mala de viagem...O equipamento fotográficoque levei nesta viagem foi,naquilo que é mais importan-te, o mesmo que tenho levadonas últimas viagens. Dois cor-

pos Canon 1D Mark IV e as lentes que me acompa-nharam foram a Canon 17-40mm f/4 L, a Canon 24-70 f/2.8 L, a Canon 70-200 f/2.8 L e a Canon 15mmFisheye. Levei também comigo a pequena CanonS95 para fazer alguns vídeos. Como principais acessórios levei alguns filtros, tripé(que nem usei nesta viagem), um GPS para fazer ogeotagging das fotos, o computador portátil e maisalgumas pequenas coisas que vão sempre comigo.Tudo isto transportado numa mochila ThinkTankShape Shifter, que usei pela primeira vez. No final,95% das fotos foram tiradas com a 24-70, lente queachei a ideal para esta viagem.Site www.mauriciomatos.com

Canon 1D MK IV . 24mm . f/10 . 1/800” . ISO 400Latitude: 13,17.1705 S

Longitude: 72,9.2487 WAltitude: 2841 metros

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as casas, para fazer artesanato e até paracomer. Seguiu-se uma viagem de quase 3 horas de

barco até à ilha Taquile, talvez a maior desi-lusão desta aventura. Além da longuíssimaviagem, é necessário subir 580 degraus paraalcançar o topo da ilha, local onde tudo seconcentra. O esforço valeria a pena se o localtivesse algo de espectacular para oferecer.Mas infelizmente não é o caso, com excepçãoda vista lá do alto. E depois é preciso contarcom quase mais 3 horas para regressar. No dia seguinte fiz uma viagem de 9 horas

de Puno até Cusco. Optei por uma viagemlonga e cansativa de autocarro, mas foi aforma de conhecer um pouco do verdadeiroPeru de regiões não turísticas e ver como aspessoas vivem naquela região montanhosa.A chegada a Cusco foi já de noite e como namanhã seguinte parti para o Vale Sagradodos Incas, só iria conhecer a cidade quando lávoltasse dois dias depois. E foi no Vale Sagrado que encontrei algu-

mas das paisagens mais belas do Peru.Cidades como Pisac ou Ollantaytambo sãolindíssimas e oferecem não só uma boa ideiade como eram as cidades na época colonialespanhola, como também têm ruínas Incas

impressionantes e paisagens de cortar a res-piração. E finalmente chegava o dia mais esperado,

por mim e por todos os que visitam o Peru. Odia de conhecer o cenário fantástico que é acidade Inca de Machu Picchu, uma das mara-vilhas do mundo. E a ida a Machu Picchu nãose resume a conhecer o local, é também todaa experiência de lá chegar. Existem essen-cialmente duas formas de atingir o objectivo:a mais aventureira (uma caminhada pela tri-lha Inca, que pode durar 1, 2, 3 ou 4 dias,dependendo da percentagem da trilha queresolvam percorrer); e a mais “preguiçosa” (aviagem de comboio). Optei por esta e possodizer que é uma viagem única. Parti de Ollantaytambo, fazendo um per-

curso com pouco mais de 40 km mas que,devido ao terreno sinuoso, demora cerca deuma hora e quarenta minutos a percorrer. Alinha férrea acompanha quase sempre o rioUrubamba, por entre montanhas com picosaltíssimos, passando por pequenas aldeiasperdidas no meio do nada até chegar à cida-de de Aguas Calientes, a base para quem visi-ta Machu Picchu. Chegados aqui, há que fazeruma subida de autocarro de cerca de meiahora para alcançar as ruínas. Eu fui no >

Canon 1D MK IV . 42mm . f/11 . 1/500” . ISO 400Latitude: 15,48.7348 SLongitude: 69,58.4656 WAltitude: 3827 metros

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foto-aventuraTEXTO E FOTOS : MIGUEL CLARO

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primeiro comboio do dia (o que implicouacordar às 4h30 da manhã!) para tentar serdos primeiros a chegar e assim evitar as mul-tidões que todos os dias visitam o local.Objectivo parcialmente conseguido: durantea primeira hora consegui visitar as ruínasnuma relativa tranquilidade. Em vez deandarem lá milhares de pessoas, se calhar sóandavam… centenas. Longe de ter o sítio sópara mim, mas isso é praticamente impossí-vel num local tão famoso e tão visitado. Porvolta das 10h30 da manhã, quando a maiorparte das pessoas começava a chegar, estava

eu a sair. E com que ideia fiquei? Bem, é umdaqueles locais que, num mundo perfeito esem turistas, seria um paraíso. As ruínasencontram-se no meio de um cenário fantás-tico, difícil de descrever ou de transmitiratravés de fotos. É um dia para não esquecerfacilmente. E de volta a Cusco, agora simpara poder conhecer e desfrutar da cidade.Na época em que os espanhóis colonizaramaquela região, destruíram grande parte dasconstruções Incas que existiam e o que se vêhoje na parte antiga é uma mistura de arqui-tectura colonial espanhola com algumas ruí-

nas Incas que sobreviveram naquela época.Culturalmente é muito importante e, naparte mais antiga e turística, está muito bemcuidada.Fotograficamente falando, foi uma viagem

um pouco diferente para mim. Na maioriadas vezes, opto por viajar para locais de pai-sagens exuberantes, com o menor númerode seres humanos possível. Gosto de nature-za virgem, gosto de espaços abertos, gosto deter os locais só para mim. O Peru não é assim.As cidades são enormes e os locais maisimportantes são invadidos por turistas.

Canon 1D MK IV . 70mm . f/9 . 1/2656” . ISO 400Latitude: 13,15.4375 SLongitude: 72,16.0267 WAltitude: 2924 metros

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Uma das maiores dificuldades nas viagens fotográfi-cas é como transportar todo o nosso equipamentode forma segura. Nos últimos anos tem-se tornadoainda mais complicado, com o aumento de restri-ções ao nível da bagagem de mão e também com oslimites ridículos de peso impostos pela maioria dascompanhias aéreas. Em especial as europeias.Como é que contorno isso? Em primeiro lugar souselectivo naquilo que levo. Já lá vai o tempo em queme obrigava a mim mesmo a levar tudo o que tinha.Actualmente estudo bem os locais que vou visitar, otipo de fotografia que pretendo fazer e escolho oequipamento necessário com algum critério. Depois tento colocar tudo o que seleccionei numamala ou mochila o mais pequena e leve possível,para que a própria mochila ou mala não contribuamquase tanto como o material para esse limite depeso. É de referir que muitas vezes – a grande maio-ria delas, no meu caso – a bagagem de mão não épesada. Mas há casos em que é... e normalmentesão irredutíveis em relação a isso. E por falar em bagagem de mão, é imperativo levarsempre o equipamento connosco no avião, não sópor possível roubo mas também pela possibilidadede extravio da bagagem, que apesar de nunca meter acontecido até hoje, é mais comum do que sepensa. A única coisa que normalmente coloco noporão do avião é o tripé, isso porque algumas com-panhias aéreas não deixam levar o tripé como baga-gem de mão. Aquilo que é ou não permitido também varia muitoconsoante a pessoa com quem lidamos, mesmodentro da mesma empresa. No caso de ser absoluta-mente indispensável despachar parte do equipa-mento, o ideal é colocar a mala fotográfica dentro deoutra mala comum, de preferência bem usada, deforma a não chamar a atenção dos “amigos doalheio”.Uma vez chegado ao país de destino, os cuidadosdependem muito do país em causa, dos locais quese visitam nesse país, dos sítios onde ficamos aloja-dos, etc. Mas há coisas óbvias e que são cuidadosque devemos ter em qualquer lugar, mesmo emPortugal. Ser discreto, especialmente quando estamos emlocais com muita gente. Não é preciso que todos sai-

bam que somos fotógrafos e que temos connoscomilhares de euros em equipamento. Não deixar omaterial sozinho em nenhum momento. Mesmo nohotel, e se for necessário deixa-lo lá, usar o cofre(caso exista) ou então esconde-lo o máximo possívelentre roupa ou outras coisas. Às vezes basta escon-der as coisas do olhar de quem possa querer levar oque é nosso, para que a tentação não aconteça. Uma coisa que recomendo sempre é que se levedois corpos (isto é, duas máquinas), talvez por já tertido um problema sério numa das minhas viagens.Quando investimos tanto tempo e dinheiro num pro-jecto destes, tudo o que não queremos é que anossa máquina tenha alguma avaria e que nos deixependurados. O segundo corpo pode ser barato… umqualquer. Mas tenha sempre um corpo de backup,para qualquer eventualidade.Outro assunto importante é como lidar com a ques-tão alfandegária sempre que viajamos para fora daUnião Europeia, especialmente no regresso aPortugal. É indispensável levar connosco comprova-tivos de que o equipamento foi comprado emPortugal, ou então podemos ter muitos problemasno regresso. Isto pode ser feito de duas formas.Caso tenhamos os comprovativos de compra /garantias do material, então é levarmos esses docu-mentos para os apresentar quando voltarmos, casonos sejam solicitados. Outra opção é fazermos uma visita ao balcão daalfândega no aeroporto em causa e pedir o formulá-rio para declarar os aparelhos que vamos levar parafora. Esse formulário permite descrever todo omaterial, colocar os respectivos números de série eé depois validado pela polícia. No regresso apresen-ta-se esse documento e está o problema resolvido. Eo que pode acontecer caso não exista qualquercomprovativo? É simples (e já me aconteceu):apreendem o equipamento e só é libertado median-te a apresentação de provas em como foi compradoem Portugal ou mediante o pagamento do IVA eoutras taxas que possam ser exigidas, visto que elesassumem que é um equipamento novo e conse-quentemente, uma importação. É um assunto no qual tenho bastante experiênciaporque 80 por cento das vezes sou “vítima” de ins-pecção, especialmente no aeroporto de Lisboa.Claro que me refiro aos trajectos feitos

pela maioria das pessoas que visitam o país.Sendo o Peru constituído maioritariamentepor floresta e montanhas, quem quiser arris-car uma viagem mais alternativa, vai encon-trar muito território para estar sozinho.Acabei por me ver obrigado a mudar a

minha forma de fotografar, concentrando-me um pouco mais do que é habitual naspessoas. Foi uma viagem que me surpreen-deu pela positiva, não tanto pelas fotos quetrouxe mas pela experiência que foi conhe-cer o país. nZ

Cuidados a ter com o equipamento em viagem