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A atuação da biblioteca pública na formação de leitores
Talita Luana Schweig
(Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE)
Orientador(a): Profª. Drª. Clarice Lottermann
Resumo: O ato de ler está presente no cotidiano das sociedades letradas nas mais variadas
formas, o que torna indispensável o seu contínuo incentivo por meio de medidas políticas e
sociais. É pensando nisso que se ressalta a importância das Bibliotecas Públicas no processo
emancipatório do sujeito-leitor, seja pelo acesso ao livro, como pelos incentivos promovidos
por projetos culturais desenvolvidos com escolas e com a comunidade. Desta forma, pretende-
se apresentar o andamento da presente pesquisa sobre a interação entre a população leitora do
município de Marechal Cândido Rondon – PR e a Biblioteca Pública do município, apontando
os dados recolhidos a respeito da movimentação de empréstimos, dos projetos de incentivo à
leitura já desenvolvidos e do questionário aplicado aos frequentadores da mesma. Busca-se,
assim, demonstrar como o investimento em políticas públicas de incentivo à leitura, tais como
atividades promovidas entre bibliotecas públicas e escolas, assim como a aquisição e renovação
do acervo, influenciam diretamente na movimentação da biblioteca pública municipal e na
ampliação do público leitor. Considerar-se-á, ainda, a fundamentação teórica sobre a relação
apresentada e as práticas de leitura que podem contribuir para uma comunidade leitora.
Palavras-chave: Biblioteca Pública; leitura; mediação.
Abstract: The act of reading is present in the daily life of literate societies in the most varied
forms, which makes its continuous incentive indispensable through political and social
policies. According to the importance of Public Libraries in the emancipatory process of the
reader as subject is emphasized, either by the access to the book, or by incentives promoted by
cultural projects developed with schools and with the community. In this way, it is intended to
present the progress of the present research on the interaction between the reading population
of Marechal Cândido Rondon-PR and the Public Library of the city, pointing the data collected
regarding the movement of books loan, the projects of incentive to the already developed and
the questionnaire applied to attendees of the Library. It’s intended to demonstrate how the
investment in public policies to encourage reading, such as activities promoted between public
libraries and schools, as well as the acquisition and renovation of the collection, directly
influence the movement of the municipal public library and the expansion of the readership. It
will also be considered the theoretical basis on the relationship presented and the reading
practices that can contribute to a reading community.
Key-words: Public Library; reading; mediation.
Introdução
Para a construção de uma comunidade leitora e para a formação de novos leitores, é
importante que haja promoção de medidas públicas que visem a melhoria dos acervos literários
e do próprio espaço das Bibliotecas Públicas, bem como de projetos que primem pelo incentivo
à leitura. Portanto, é necessário que, tanto os gestores públicos quanto a população em geral,
tenham ciência da importância de tais medidas e da situação do cidadão leitor dentro da
comunidade atual. É pautando-se nesta perspectiva que a pesquisa em andamento se
fundamenta, tendo como objetivos compreender como ocorre a interação entre a população
leitora da cidade de Marechal Cândido Rondon – PR e a Biblioteca Pública do município, a
partir da coleta de dados a respeito da movimentação de empréstimos e pesquisas na Biblioteca,
bem como de informações sobre projetos de incentivo à leitura desenvolvidos pela mesma,
conforme dados da Secretaria de Cultura local.
Quanto à metodologia, a pesquisa de campo teve uma perspectiva diagnóstica, isto é,
“com base no registro de dados do objeto observado, como o acervo de uma biblioteca ou os
hábitos de leitura dos jovens.” (AGUIAR, 2016, p.18). Após delimitar o universo de
investigação, conforme o exposto nos objetivos citados no projeto, a etapa seguinte envolveu
a elaboração de um questionário individual voltado aos usuários da biblioteca, que está sendo
aplicado com o objetivo de coletar dados e opiniões do público.
É a partir desses dados que se pretende provar a existência e permanência de um público
leitor, frequentador da biblioteca e usuário do acervo, cujos interesses, muitas vezes, são
negligenciados devido ao descaso e à falta de iniciativas que promovam a leitura. Busca-se
com a pesquisa, portanto, apresentar às instituições responsáveis e aos gestores o levantamento,
a análise e as considerações desenvolvidas a partir desta, com o propósito de se divulgar tais
informações em âmbito municipal para que tais dados sejam de conhecimento público,
incentivando, assim, o reconhecimento da Biblioteca Pública Municipal enquanto instituição
viva e atuante junto à comunidade leitora de Marechal Cândido Rondon.
Pretende-se, por fim, apresentar o perfil do leitor rondonense que frequenta a Biblioteca
Pública para que, a partir disso, seja possível analisar suas preferências literárias com base na
procura de livros, bem como a frequência com que lê literatura e com que busca diferentes
gêneros literários. A análise tem como proposta final propor, junto à Biblioteca Pública do
município, atividades que envolvam o leitor e, ainda, sugerir obras para serem adquiridas ao
acervo.
A partir disso, foram estabelecidas as seguintes etapas da pesquisa:
1. Pesquisa e leitura teórica;
2. Coleta dos dados de movimentação da Biblioteca Pública Municipal Martinho
Lutero;
3. Coleta de informações sobre os usuários da Biblioteca, por meio de um
questionário respondido por estes;
4. Análise dos dados obtidos, com base na fundamentação teórica;
5. Elaboração de relatório da pesquisa;
6. Comunicação dos resultados obtidos.
A pesquisa teórica sobre o tema foi a etapa inicial, buscando-se a ambientação e o
direcionamento da pesquisa. No entanto, considera-se essa etapa presente durante toda a
pesquisa, visto que é a partir da leitura que se pretende buscar a fundamentação teórica e a
construção dos argumentos que envolvem a análise.
Como base teórica inicial, foram lidas as obras de Horellou-Lafarge (2010) e Petit
(2008). As obras desses autores abrangem um panorama sobre a leitura, cada qual sob sua
perspectiva histórica, geográfica e social. Mas, é a partir da temática da leitura que se
direcionam as questões referentes aos espaços destinados ao ato de ler, tais como as bibliotecas
públicas, e às atividades que envolvem a leitura e o leitor.
Com isso, pretende-se promover e dar visibilidade à Biblioteca Pública do município
de Marechal Cândido Rondon e reafirmar a importância em se desenvolver atividades voltadas
à leitura e formação de leitores.
Da base teórica norteadora da pesquisa
A formação de leitores é uma das metas que se busca promover com a presente
pesquisa, pois são os leitores que movimentam e mantém viva a palavra escrita e, por
consequência, os espaços que a circundam. É a leitura um dos meios pelos quais se exercita o
pensar, o ato reflexivo, capaz de expandir horizontes de perspectivas.
A leitura tem o poder de despertar em nós regiões que estavam até então
adormecidas. Tal como o belo príncipe do conto de fadas, o autor inclina-se
sobre nós, toca-nos de leve com suas palavras e, de quando em quando, uma
lembrança escondida se manifesta, uma sensação ou um sentimento que não
saberíamos expressar revela-se com uma nitidez surpreendente. (PETIT,
2008, p.7).
As estratégias de incentivo à leitura, em suas diversas formas, podem contemplar os
mais variados círculos sociais. Ainda assim, não há garantia que esse incentivo seja capaz de
estimular a todos – esta, aliás, é uma questão da qual não se pode ter garantia. No entanto, é
preciso que se ampliem as oportunidades de acesso, tanto da criança quanto do adulto, no que
diz respeito aos espaços propícios para que estes possam buscar e manter os vínculos
estimulados entre leitor e livro.
O que se vê nos dias atuais é uma constante transformação dos espaços das bibliotecas
públicas municipais, antes consideradas como um local em que prevalece o silêncio total, de
resguardo e manutenção de livros e que muito raramente se desenvolvia projetos de leitura para
o público e – menos ainda – para o público infantil.
Para Horellou-Lafarge “as bibliotecas municipais são permeadas por contradições
oriundas, em parte, de sua dupla herança, que faz delas a um tempo um lugar de conservação,
arrumação, classificação e proteção do livro (‘santuário’) e lugar de acesso e estímulo à leitura,
à difusão do livro.”. (HORELLOU-LAFARGE, 2010, p.133)
Atualmente, muitas bibliotecas ampliaram seu horizonte de atuação, desenvolvendo
trabalhos e ofertando atividades e eventos, seja para dar suporte e incentivo ao público que já
se constitui como leitor e frequentador da biblioteca, seja para incentivar novos leitores e
ampliar o público, promovendo, além das atividades, o próprio espaço e acervo.
Como bem afirma Seibel (apud HORELLOU-LAFARGE, 2010, p.133) “[...] tenta-se,
pois, tornar a biblioteca um lugar acolhedor, aberto a numerosas atividades culturais, entre elas
a leitura, e destinado a todos. Essa abertura se concretiza por atividades, exposições, narrativas
contadas por contadores de histórias.”
Apesar da mudança de perfil, é muito comum as bibliotecas públicas sofrerem pela falta
de recursos, principalmente destinadas ao acervo à acessibilidade do mesmo. Hoje, é possível
encontrar em grandes centros bibliotecas muito bem equipadas, com materiais para portadores
de necessidades especiais audiovisual ou de mobilidade. No entanto, essa realidade é difícil de
ser constatada em bibliotecas do interior do país.
Mesmo reconhecendo a importância de se manter um acervo de acesso público, muitos
governos, na prática, não destinam verbas suficientes para manutenção, tanto dos livros como
dos materiais em geral, assim como não investem em cursos de especialização de seus
funcionários. Essa situação revela o descaso e falta de compromisso que muitos gestores têm
com setores voltados à cultura, letramento e educação, pois uma Biblioteca Pública Municipal
que oferte um serviço público de qualidade deve, antes de tudo, sempre contar com uma equipe
qualificada e disposta para tal, bem como materiais adequados para sua efetiva armazenagem.
Concordando com o que postula Ribeiro (2003):
A biblioteca pública teve e continuará a ter, por muito tempo, um papel
fundamental no desenvolvimento da Humanidade, por ser a memória da
coletividade. Num País como o Brasil, onde a maioria das pessoas ainda não
valoriza a informação, seu papel é ainda mais importante, pois há informações
a que a comunidade só terá acesso por intermédio dessa instituição.
(RIBEIRO, 2003, p.68).
Se faz necessário, portanto, investir em medidas que contribuam para a ampliação da
atuação da biblioteca, não mais apenas como local de armazenamento do acervo literário de
um município, mas como um espaço de incentivo à leitura, que deve ter por meta conquistar
cada vez mais leitores, bem como garantir a estes a manutenção do espaço, do acervo e dos
materiais disponíveis.
O papel do bibliotecário também se faz relevante quando considerado mediador entre
o público usuário da biblioteca e o acervo literário. Mas sua atuação enquanto mediador pode
ir muito mais além da relação de atendimento ao público. O bibliotecário (ou auxiliar de
biblioteca), quando bem qualificado e formado para exercer essa função, é capaz de ampliar o
seu papel, tornando-se um mediador de práticas de leitura, seja infantil, jovem ou adulta.
Concordando com Petit (2008):
Isso é muito bom: evidentemente não se trata de questionar esse aspecto, essa
liberdade do usuário. Mas, em determinados momentos, é preciso ajudar
certos usuários, certos leitores, uma vez mais, a superar algo. Na realidade,
cada novo umbral pode reativar uma relação ambivalente com a novidade. E
esses umbrais são numerosos: passar da seção juvenil à de adultos, a outras
formas de utilização, a outros registros de leitura, a outras estantes, a outros
tipos de leitura, a uma outra biblioteca etc. (PETIT, 2008, p.168).
Tal incentivo pode ainda se estender para uma relação que vai além da iniciação ao
hábito da leitura, pois “não é apenas para iniciar à leitura, para legitimar ou revelar um desejo
de ler, que o papel de um iniciador aos livros se revela primordial. É também, mais tarde, no
acompanhamento do trajeto do leitor” (PETIT, 2008, p.166).
Em muitas bibliotecas públicas, é o bibliotecário que desempenha a atividade de indicar
livros ou recepcionar a leitura adequada para cada faixa etária, gostos e objetivos de leitura. O
bibliotecário não tem a obrigação de conhecer todo o acervo, de ler livro por livro, mas deve
reconhecer que seu trabalho enquanto mediador assume-se também como incentivador em
relação à leitura, possibilitando a ampliação do horizonte literário de muitos leitores.
A Biblioteca Pública Municipal de Marechal Cândido Rondon
Fundada em 08 de junho de 1972 pela Lei Municipal nº819, pelo então prefeito Dealmo
Selmiro Poerch, a Biblioteca Pública de Marechal Cândido Rondon, Paraná, foi denominada
Biblioteca Pública Municipal Martinho Lutero com base na Lei Municipal nº1.455 de 1983,
durante o mandato de Verno Scherer. Possui cerca de 15.000 obras físicas em seu acervo,
cadastradas em sistema, que englobam desde Literatura em geral, como livros técnicos
referentes a vários gêneros e áreas científicas, sendo classificada, portanto, como uma
biblioteca mista.
O acervo da Biblioteca é organizado com base no CDD (Código Decimal de Dewey) e
ordem alfabética, tendo por indicador os campos científicos correspondentes (por exemplo:
filosofia, psicologia, saúde mental etc.). As obras de ficção, isto é, os romances constituem um
acervo distinto, seguindo a ordem alfabética de acordo com o sobrenome do autor da obra. Já
o acervo Infanto-juvenil encontra-se em sala específica, ordenado de acordo com a catalogação,
conforme a ordem de aquisição. As coleções, tanto adultas quanto infantil, são dispostas de
maneira unitária, enquanto o acervo de obras em alemão encontra-se em espaço específico,
ordenado conforme aquisição e catalogação.
A média diária de obras emprestadas varia, geralmente, entre 12 a 18 empréstimos, mas
essa quantidade pode se distinguir muito de um dia para o outro, podendo ocorrer somente 4
empréstimos em um dia e cerca de 24 em outro. A quantidade de empréstimos é calculada
sobre o número de obras emprestadas, não de usuários, sendo permitido o empréstimo de até
duas obras por cadastro, que deverão ser devolvidas ou renovadas em até 15 dias.
Outros atendimentos diários ofertados são: acesso público aos computadores (com
acesso à internet e rede Wi-Fi), pesquisas escolares em livros, reunião de grupos de estudo,
exposições de obras em geral (principalmente escolares), aulas de arte e artesanato e visitação
das escolas que realizam atividades de leitura no local.
As atividades desenvolvidas atualmente com agendamento prévio envolvem: contação
de histórias, recreação (dinâmicas, pinturas, caderno de atividades e brincadeiras), atividades
de leitura, (como o “Tapete da Leitura” desenvolvido com as escolas municipais) e a “Tenda
Literária” (equipe que se direciona às escolas para contar histórias, levando uma tenda
contendo livros que os alunos podem manusear).
Nos últimos anos, em especial 2016 e o ano corrente de 2017, a Biblioteca Pública passa
por várias mudanças, tais como a troca do repertório de funcionários e a mudança de local. Pela
aquisição de novos funcionários, o atendimento conquista uma nova roupagem, estando a cargo
de pessoas com conhecimento técnico a respeito da administração do acervo, bem como sobre
Literatura de modo geral.
É de grande importância que uma biblioteca receba profissionais qualificados e
experientes, motivados a promover práticas de incentivo à leitura, como bem postula Ribeiro
(2003):
Bibliotecas administradas por pessoas com ensino fundamental podem ser
muito mais atuantes e criativas do que outras gerenciadas por bibliotecários.
Mas, no geral, o bibliotecário está mais preparado para fazer a gestão e
contribuir para o desenvolvimento de serviços de extensão, por exemplo. Ele
tem qualificação profissional, pois na faculdade aprendeu sobre ação cultural,
planejamento, administração de recursos humanos etc. (RIBEIRO, 2003,
p.65)
Quanto à mudança de localização, a Biblioteca Pública de Marechal situa-se,
atualmente, na Rua Sergipe, nº625, no centro do município, o que lhe confere maior
visibilidade. Em contraste com o local anterior, que era um prédio de madeira antigo e nas
instalações interiores do polo do Instituto Federal do Paraná, o novo endereço conta com um
prédio reformado, amplo, com iluminação e refrigeração adequadas. Tais mudanças conferem
ao acervo melhor armazenamento e cuidado com os livros, bem como maior destaque em
relação ao público, que a partir da mudança consegue localizar a biblioteca mais facilmente.
Diante das mudanças ocorridas, a que mais se destaca é a referente a criação de novos
projetos de incentivo à leitura. Nos últimos dois anos, houve um significante aumento referente
às atividades promovidas pela biblioteca, principalmente as que envolvem a contação de
histórias e a participação das escolas do município.
Se anteriormente os projetos de contação de histórias eram desenvolvidos
esporadicamente, sob requerimento das escolas. Depois, passou a ocorrer regularmente com
base em datas especiais, tais como o Dia Nacional do Livro Infantil (18 de abril), o dia do
Folclore (24 de agosto) e do Dia das Crianças (12 de outubro). Atualmente, as atividades de
contação de histórias acontecem de modo regular, semanalmente, entre os meses de abril a
novembro, mediante agendamento das escolas ou entidades educacionais (como as escolas
municipais ou a APAE, por exemplo).
Da movimentação do acervo e usuários
Quanto à movimentação de empréstimos, foi observado, com base no relatório anual,
que no ano de 2014 houve um total de 3.726 obras emprestadas classificadas como “Literatura
adulta e técnica” e 1.909 classificadas como “Literatura infanto-juvenil”. No mesmo ano,
somaram-se 500 alunos que contemplaram todas as atividades de leitura promovidas (contação
e leitura de histórias), bem como 390 pesquisas escolares assinadas em livro de registro.
Já no ano de 2015 houve uma ligeira queda em todos os itens observados. Foram 3.103
empréstimos de obras “adultas e técnicas”, 1.156 de obras “infanto-juvenis”, apenas 320 alunos
presentes em atividades de leitura e 252 pesquisas escolares assinadas. Nota-se aqui que a
diminuição do movimento da Biblioteca é conjunta, envolvendo todos os setores
simultaneamente, o que pode estar ligado à quantidade de atividades promovidas e à
visibilidade dada ao espaço naquele ano.
Em 2016, porém, ocorreram algumas mudanças em relação a quantidade de atividade
promovidas, bem como uma maior divulgação destas na mídia local, seja por meio das redes
sociais (com a criação da página e reativação do perfil da biblioteca), seja pela publicação dos
trabalhos e notícias sobre o acervo nos jornais e rádios do município. Tais mudanças
englobaram precisamente o público infantil, que era menos frequentador do espaço, mas sem,
no entanto, envolver o público adulto.
Com isso, pode-se observar nos dados de movimentação uma grande diferença ocorrida
no último ano (2016) em relação aos empréstimos e frequentação, para ambos os públicos, que
pode estar relacionada aos novos trabalhos desenvolvidos na Biblioteca, bem como no foco
direcionado por eles. O número de empréstimos de obras “adultas e técnicas” continuou caindo
drasticamente, resultando em 2.603, no entanto, o número de empréstimos de obras “infanto-
juvenis” aumentou significativamente para 2.258, bem como as atividades para esse mesmo
público, que chegou a contemplar 1.221 crianças e adolescentes, envolvendo desde escolas
como famílias que passaram a levar suas crianças ao local.
Além dos dados citados acima, o número de novos cadastros de usuários no sistema
também aumentou consideravelmente, passando de 178 em 2014 e 189 em 2015 para 301 em
2016. É visível, com estes dados, que a mudança de postura diante da importância do espaço
da Biblioteca e da promoção da leitura influencia diretamente no movimento desta e ajuda a
promover a consciência da importância em se valorizar esses espaços.
A relação que se pode fazer entre as mudanças ocorridas na biblioteca e no quadro de
projetos e o resultante aumento no número de empréstimos do acervo e de cadastros de novos
usuários é possível por conta das contribuições em termos de visibilidade que tais atividades
conferem à biblioteca. Todos os projetos desenvolvidos são devidamente publicados nas redes
sociais da biblioteca, bem como no jornal do município, conferindo a divulgação dos mesmos.
Nota-se, portanto, que conforme as melhorias são implantadas e mais projetos são
realizados, mais aumentam os números referente à empréstimos de livros e de usuários
cadastrados. O aumento não diz respeito apenas aos números, mas à circulação no ambiente da
biblioteca que, por consequência, encontra-se mais movimentado e bem frequentado.
O primeiro projeto de incentivo à leitura desenvolvido foi o “Tapete da Leitura”, que
vem sendo realizado desde 2016. O projeto consiste em levar a leitura para diferentes eventos
promovidos no município, em que são levados livros e um grande tapete que é estendido no
chão e que crianças e adultos podem sentar-se para ler. É acompanhado por funcionários da
biblioteca, que se caracterizam como contadores ou personagens de histórias infantis e se
disponibilizam para contar histórias ou ler para as crianças.
Desde o momento em que o projeto foi implantado, vem participando em vários eventos
como, por exemplo, a festa de comemoração ao aniversário do município, eventos de
ecoturismo e pesca, eventos realizados pelo SESC em parceria com a Prefeitura Municipal, tais
como apresentações artísticas no lago municipal e o evento em homenagem ao Dia das
Crianças.
Outro projeto que vem sendo realizado desde 2016 é o “Aprendendo com Lendas”, a
partir do qual são apresentadas diversas lendas do folclore nacional e paranaense aos alunos
das escolas e colégios do município. O projeto é realizado no correr do mês de agosto, por ser
o mês em que se comemora o Dia do Folclore Nacional (20 de agosto). A cada ano, diferentes
lendas são contadas como, por exemplo, a lenda do “Boitatá”, da “Mula sem cabeça” e a lenda
da “Araucária e a Gralha Azul”, que foram contadas pelas funcionárias da biblioteca para as
turmas que agendadas pela coordenação das escolas, na própria biblioteca.
Novos projetos foram desenvolvidos a partir do início de 2017, tais como a “Tenda
Literária”, que tem por objetivo levar a contação de histórias e livros para as escolas do interior
do município de Marechal Cândido Rondon. A tenda montável é levada, repleta de livros, até
as escolas, onde são realizadas as contações de histórias pela personagem Emília, em
homenagem ao Dia Nacional do Livro Infantil, data esta que coincide com o aniversário de
Monteiro Lobato. Após a contação, os alunos podem explorar a tenda e os livros.
Além desses projetos, que acontecem regularmente, a biblioteca pública também
promove outros conforme datas comemorativas, tais como o Dia das Crianças e o Dia das
Bruxas no mês de outubro. No entanto, todas as escolas podem agendar, a qualquer momento,
uma visitação à biblioteca com contação de histórias. A partir disso, a biblioteca passou a
atender as escolas semanalmente, entre os meses de abril a novembro.
Há outros projetos com previsão para serem lançados, tais como a visitação regular ao
Lar de Idosos do município, para levar livros e contar histórias aos idosos, que poderão
emprestar os livros levados e solicitar outros. Outro projeto, similar, contempla também os
Clubes de Mães do município, aos quais também serão realizados recitais e sarais de poesia.
Tais projetos ainda estão em fase de desenvolvimento, os quais pretende-se iniciar a prática a
partir do ano de 2018.
Esses projetos têm por objetivo principal levar a leitura até àqueles que não possuem
acesso facilitado à biblioteca, bem como promover momentos de lazer e fruição por meio da
contação de histórias, independe da idade do público, buscando atrair novos leitores. Até o
momento, tem-se observado uma significativa mudança que contrasta diante dos dados de
empréstimos de anos anteriores, relegando-se, assim, esse resultado aos projetos
desenvolvidos.
Do questionário e da coleta de dados
No correr do mês de julho/2017, foi elaborado o questionário referente à etapa três da
pesquisa, voltado ao público que frequenta a biblioteca. As perguntas foram desenvolvidas a
partir dos critérios de idade, sexo, frequência e tempo de empréstimos, opiniões sobre o acervo
e atividades e sugestões de livros. Dentre 10 questões formuladas, foram selecionadas ou
alteradas cinco para a versão final do questionário, que passou pela etapa de teste, sendo
respondido por cinco pessoas para, finalmente, ser levado a público na recepção da Biblioteca
Pública, onde esteve em fase de coleta durante os meses de agosto, setembro e outubro.
Após esse período, os questionários foram recolhidos, analisados e processados, a fim
de se comparar as informações obtidas com os dados da movimentação previamente coletados.
As perguntas contemplavam:
1. Identificação do usuário: sexo, idade e cidade;
2. Há quanto tempo frequenta a biblioteca, aproximadamente?
3. Você participaria de atividades como contação de histórias, clube do livro, exposições,
roda de debates (entre outros), caso a Biblioteca Pública as ofertasse rotineiramente?
4. Em sua opinião, o que poderia ser mudado, acrescentado ou renovado na Biblioteca?
5. Espaço para sugestão de livros, nomes de autores e outros materiais que possam ser
adquiridos.
Foram coletados um total de 153 questionários, cujo método de análise foi elaborado
de acordo com o cálculo da porcentagem afirmativa ou negativa de cada questão. Por exemplo:
a respeito da pergunta “Há quanto tempo você frequenta a biblioteca, aproximadamente?”,
foram 72% de 153 pessoas que responderam frequentar a biblioteca há mais de dois anos,
havendo, por consequência, 28% que à frequenta a menos de dois anos. É possível observar,
assim, pela porcentagem de novos usuários da biblioteca, o aumento de cadastro que ocorreu
nos últimos dois anos. No entanto, deve-se levar em conta a permanência de muitos usuários
anteriores que continuam a frequentar e emprestar livros.
Quanto ao resultando das demais perguntas, na questão “Você participaria de atividades
como contação de histórias, clube do livro, exposições, roda de debates (entre outros), caso a
Biblioteca Pública as ofertasse rotineiramente?”, 91% dos usuários que responderam o
questionário disseram participariam de atividades e eventos desenvolvidos pela Biblioteca.
Foram 5% que responderam que não haveria tempo para participar, sendo que os outros 4%
deixaram a questão em branco.
Em relação à pergunta “Em sua opinião, o que poderia ser mudado, acrescentado ou
renovado na Biblioteca?”, das 153 pessoas que responderam o questionário, foram 55% que
opinaram sobre a aquisição ou renovação do acervo, sendo que os outros 38% opinaram sobre
a renovação do acervo e a aquisição de mais funcionários. Os 7% restantes opinaram,
exclusivamente, sobre a aquisição de mais funcionários para o atendimento ao público.
A biblioteca pública conta, atualmente, com três funcionárias, sendo uma professora
dos cursos de artes e artesanatos, uma estagiária e uma contadora de histórias. Por conta das
atividades ofertadas, como curso de artesanato que acontece duas vezes por semana e a
contação de histórias que ocorre regularmente, muitas vezes se faz necessário mais
funcionários para que o atendimento ocorra plenamente.
Quanto ao espaço para sugestão de livros, nomes de autores e outros materiais que
possam ser adquiridos, 87% sugeriram novos livros: no geral, best-selles e renovação de
“clássicos” da Literatura Brasileira. As sugestões presentes nos questionários também servirão
para nortear o processo de aquisição de novas obras para o acervo, a partir da divulgação dessa
análise junto à gestão municipal, bem como para a realização de novas estratégias para
incentivar o público.
Considerações finais
Durante o processo de pesquisa e leitura teórica, optou-se por ampliar o foco do objetivo
final da pesquisa, adequando-se o corpus. Inicialmente, se tinha como objetivo analisar as
informações coletadas sobre movimentação, acervo e usuário (pelo questionário),
relacionando-as entre si. Posteriormente, observou-se que essas informações, bem como a
análise final são capazes de propor mudanças em relação ao acervo, à visibilidade e ao ambiente
da Biblioteca Pública Municipal Martinho Lutero.
A partir da análise do formulário, pode-se considerar a preferência dos usuários tanto
por best-sellers como pelos cânones da literatura brasileira, o que pode sugerir a aquisição e
renovação do acervo da biblioteca a partir dessas preferências literárias. Além disso, o número
de novos usuários cadastrados vem crescendo consideravelmente, o que deve ser levado em
conta para a aquisição de mais exemplares e edições atualizadas.
Portanto, além de levantar e analisar dados, tais informações servirão também para
contribuir com a divulgação e promoção da própria Biblioteca, por meio da publicação da
análise e da aquisição de mais obras para o acervo. Pretende-se, ainda, divulgar a presente
pesquisa junto à Secretaria Municipal de Cultura, para que se possa, com isso, mostrar a
situação em que se encontra a biblioteca municipal e sugerir as devidas adequações para que
esta continue oferecendo um serviço ativo e de qualidade.
Espera-se que, a partir disso, possa-se oferecer maior visibilidade à Biblioteca Pública
do município de Marechal Cândido Rondon, assim como reafirmar a importância em se
desenvolver atividades voltadas à leitura e formação de leitores.
Referências
HORELLOU-LAFARGE. Chantal. Sociologia da Leitura. Cotia, SP: Ateliê Editorial. 2010.
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São Paulo: Ed.34, 2008.
MIRANDA, Antonio. A missão da Biblioteca Pública no Brasil. Revista de Biblioteconomia
de Brasília, v. 6, n. 1, jan./jun. 1978.
RIBEIRO, A. B. Bibliotecas Públicas no Brasil: um novo olhar. Biblios: Revista do Instituto
de Ciências Humanas e da Informação, v.27, n.1, p.55-69, jan.-jun. 2003. Disponível em:
https://www.seer.furg.br/biblos/article/download/3544/2380 Acesso em: 28 nov. 2017.
SILVA, E. T. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura.
São Paulo: Cortez, 1987. p.31-45.