A Atlântida de Cristovão Colombo - Pierre Carnac

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PIERRE CARNAC A ATLNTIDA DE CRISTOVO COLOMBO

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Aba do livro:

Pierre Carnac o pseudnimo de um escritor cientfico de origem romena. Simultaneamente, historiador e engenheiro, universitrio, enamorado de velhos manuscritos e de livros antigos, ele j publicou, em 1966 e em 1969, duas obras sobre as relaes entre o Antigo e o Novo Mundo antes de Cristvo Colombo. Hoje, fixado na Frana, Pierre Carnac trabalha no domnio da pesquisa cientfica. Capa do livro: "A histria comea em Sumer..." Foi dito e repetido. A afirmao adquiriu o valor de um dogma. Afortunadamente, acontece serem os dogmas bombardeados por pesquisadores que se obstinam em ir sempre mais longe, em recolocar em discusso as construes universitrias, em propor perguntas. Pierre Carnac um desses. Durante inmeros anos, ele estudou o problema dos contactos entre o Antigo e o Novo Mundo antes de Colombo. Quando foi descoberta e explorada a regio de Bimini pequena ilha das Baamas ao largo da Flrida com suas extraordinrias estruturas submersas, ele decidiu partir em busca dos construtores. Foi essa aventura no tempo e no espao, em que vemos ressurgirem os mitos mais antigos o Paraso terrestre, a Fonte da Juventude que ele nos conta hoje numa obra de singular riqueza... A histria, ter ela comeado em Bimini? possvel. Pelo menos, uma coisa certa: ela no comeou em Sumer. Traduo de HELOYSA DE LIMA DANTAS DIFEL Ttulo do original: L'histoire commence Bimini (L'Atlantide de Christophe Colomb) 1973, Paris 1978 Direitos reservados para o Brasil: Em homenagem s duas Helenas, minha me, minha filha, que jamais terei amado demasiadamente. SUMRIO PRLOGO O FIM DE UM MITO A HISTRIA COMEA EM BIMINI? No comeo era a Fonte da Juventude ... Depois, houve o Jordo. CABALA, COLOMBO E BIMINI Quem deu nome s Baamas? No mapa de Colombo Estranhas coincidncias. QUANDO O AVIO VOA POR ENTRE AS GUAS Tem incio a verdadeira explorao Descobertas nas Baamas Harrison vai guerra. A HABITAO INVADIDA PELAS GUAS Arrastados pelo Gulf Stream e pela corrente das Carabas O homem fssil da Flrida. O MITO DE OSRIS E O "LIVRO DOS MORTOS" Um mito que atravessa os tempos O Paraso do "Livro dos Mortos" A viagem dos mestres divinos Cronologia e Shemsu-Hor. PLATO NA HORA DA VERDADE Reler Plato Repensar a catstrofe. OS CRUZADOS DAS ESTACAS DE PEDRA Sobre o mapa dos megalitos Os homens do polvo A procura do tempo perdido O crculo de Monte Crow Megalitos e Eldorado. A ESCADA DO PARASO Esse incmodo Marcahuassi Quando e como? Quem e por qu? UMA CERTA ESCRITURA

Os "clics" dos primeiros astrnomos A prova pelos Blcs Sinais antigos no Novo Mundo Est feita a justia. O REFLUXO DA MAR UM POVO CRIADO PELA IMAGINAO: OS PELASGOS Gargntua, o Pelasgo Da Caria s Antilhas. OS FENCIOS EM BUSCA DO PARASO Nas pegadas de Hrcules Os cananeus pem mos obra. O VERDADEIRO SEGREDO DO REI SALOMO Bblia + imaginao = Amrica Tipologia e Histria. ACOMPANHANDO OS VESTGIOS DO INTERMINVEL REL Os cartagineses desembarcam na Amrica Mistrios estruscos desvendados O segredo da frota perdida Os celtas na terra do grande sonho De Roma ao Mxico. BRENDAN, O SANTO DOS HORIZONTES PERDIDOS A fuga do den O Evangelho das brisas martimas Monges, mitenes e icebergs A Flrida, antes da Flrida Um Ulisses irlands. RELS ANTIGOS, NOVA SRIE Os drakkars atravessam a bruma A incurso da Griante Madoc em busca da paz Alugam-se almirantes. Perseguindo o herenque A expedio mista O homem que fugiu do paraso. OS NEGROS DO NOVO MUNDO Seguindo a trilha das migraes Musa procura o Gulf Stream. A PROVA S AVESSAS Os nufragos de Cornelius Nepos Huronianos ocasionais e incas voluntrios. A REALIDADE VEM DO SONHO COLOMBO, 23. GRANDE PROFETA DE ISRAEL O carto de identidade de um desconhecido As viagens "Aquele que carrega o Cristo" entre Jakin e Boaz Shadai, Shadai, Adonai O Templo e o Paraso. CONCLUSO EPLOGO PRLOGO O esprito sonha espontaneamente com a unidade. Aspira a ser ele prprio o arteso triunfante dessa unidade onde quer que encontre as variedades da existncia, as aparentes discordncias das coisas e, finalmente, toda a gama dos conflitos humanos. A cincia nasceu do entusiasmo intelectual desse sonho. R. P. DOMINIQUE DUBARLE Science et Synthse Baseia-se este livro numa hiptese que nos foi sugerida pela descoberta de estruturas submersas com caractersticas, segundo tudo leva a crer, artificiais, nas proximidades da ilha de Bimini, nas Baamas. Partindo da, ele prope uma explicao. Para chegar a ela, lana mo de coincidncias, estabelece ligaes entre fatos aparentemente independentes uns dos outros, alimentando-se com todas as interpretaes e hipteses susceptveis de reforar a sua. Fique, entretanto, bem claro que s pretendemos alcanar uma verdade parcial, relativa, como acontece, na maioria das vezes, com toda verdade histrica. Este livro, afinal de contas, s se prope a constituir um momento de interrogao quanto aos primeiros movimentos da humanidade. Nosso objetivo estaria plenamente alcanado se ele pudesse, por sua vez, se tornar objeto de anlises ponderadas, e incitar a levar adiante a pesquisa no sentido aqui adotado.

1 - O FIM DE UM MITO Nesse espelho que a histria, ns vemos para alm da estreiteza do presente e discernimos a medida das coisas. Sem ela, perdemos o flego de nosso esprito. Se cobrirmos de vus nossa histria, ela nos vem surpreender nossa revelia... KARL JASPERS Initiation la mthode philosophique Em todos os tempos debruou-se o homem sobre o seu prprio passado com fervor idntico ao da vidente que procura ler o futuro em sua bola de cristal. Durante muito tempo, antes de ser uma cincia, a histria foi tradio e ainda hoje nove dcimos dessa histria pertencem integralmente ao domnio do mito, ficando assim explicado porque a cincia s se interessou pelo perodo a respeito do qual possumos "documentos vlidos". De modo que s conhecemos verdadeiramente 100.000 anos de histria das tcnicas, 50.000 anos de histria da arte e apenas 6.000 anos de histria poltica. Alm disso, cada disciplina constitui o campo de alguns especialistas que nem tm tempo, nem cuidam realmente de voltar-se para os domnios vizinhos do conhecimento. Antes de se transformar numa cincia susceptvel de sntese, a histria recebeu de incio a marca do racionalismo mais restritivo, em cujo altar foram sacrificados a mitologia e todo o conjunto das tradies e das lendas. Nesse movimento, descartava-se imediatamente toda fonte que no pudesse ser desde logo autenticada. Ao mesmo tempo, elevava-se categoria de dogmas um certo nmero de apriorismos, ou pelo menos de concluses apressadas. Dentre esses dogmas, um dos mais persistentes e dos mais perniciosos evidentemente o que est contido na clebre frmula Ex Oriente Lux, e concretizado na afirmao de que a histria teria comeado em Sumer, o que significa que a civilizao toda produto nica e exclusivamente do Oriente Mdio. Outras prolas da mesma gua, os exageros da teoria da fertilidade do Crescente, em nome da qual lanou-se um interdito sobre tudo que pudesse contrariar essas construes tericas. Contudo, os fatos se vo acumulando, e falam. No foi possvel deixar de registrar a descoberta de escrituras pr-sumerianas, como as de Tartria na Romnia, de Karanovo na Bulgria, ou a "civilizao urbana" de Lepenskivir, na Iugoslvia, que remonta a mais de 7.000 anos. Entre essas descobertas, insere-se hoje a do stio de Bimini, que no foi a menos espantosa, segundo demonstram cabalmente as controvrsias por ela provocadas. Quanto a ns, depois de termos estudado durante muitos anos o problema dos contatos entre o Velho Mundo e o Novo, antes de Colombo, publicado o resultado de nossos trabalhos em livro editado em Bucarest em 1966, e trocado idias com inmeros especialistas, acabamos por formular uma hiptese. Em nossa opinio, a descoberta do stio de Bimini, uma vez comprovado que se trata de uma construo artificial, de molde a derrubar definitivamente aquilo que, em sntese, designamos como o "mito de Sumer". Ns hoje o sabemos, a histria no comea em Sumer. Ter ela nascido em Bimini? Eis a pergunta que propomos. A HISTRIA COMEA EM BIMINI? ...Nassau (Baamas). U.P. Estranhas estruturas arqueolgicas foram recentemente identificadas nas proximidades da ilha de Bimini. De acordo com as primeiras informaes recebidas, tratar-se-ia de uma gigantesca muralha submersa, cujos construtores e cuja idade os especialistas consultados ainda no podem indicar. As investigaes submarinas esto prosseguindo. Dos jornais, primavera 1970.

Muitos velhos ndios falavam na muito poderosa ilha de Bimini, habitada por vrios povos, e nas grandes virtudes de sua fonte cuja gua tinha o poder de transformar os velhos em adolescente... JUAN DE CASTELLANOS Elegia de varones illustres de ndia NO COMEO ERA A FONTE DA JUVENTUDE... Bimini uma pequena ilha do arquiplago das Baamas, situada a cerca de cento e cinqenta quilmetros ao largo da Flrida. Pormenor importante: a ilha desse arquiplago que fica mais prxima do continente americano. Descoberta em 1512 por Ponce de Len, ao que se supe lugar-tenente de Colombo, no decorrer de uma das viagens deste ltimo, ela lhe valeu o ttulo de "administrador colonial de Bimini e da Flrida". A importncia do ttulo, a ordem em que so enumerados os dois territrios, assim como o qualificativo prepotente muito poderosa conferido ilha pelo seu primeiro poeta, Castellanos, do a medida do que foi o seu renome desde os seus primeiros momentos de existncia oficial. Autores consagrados, como os ingleses E. Washburn-Hopkins, E. B. Taylor, Gould ou o francs Eugne Beauvois empreenderam estudos profundos sobre a lenda relativa fonte, e narrada por Castellanos. O interesse por ela suscitado deve-se, antes de tudo, ao fato de localizar na Amrica, ou nas vizinhanas imediatas de seu litoral, uma das mais importantes sedes do mito antigo e medieval. A tradio da Fonte da Juventude, sob a sua forma mais pura de "fonte de vida", era, com efeito, conhecida em toda a Europa medieval. Os especialistas de h muito se puseram de acordo para apontar sua origem semita. Tratava-se, ao que parece, de uma gua que conferia imortalidade, gua que s poderia jorrar de uma fonte localizada no paraso, ou que deveria ser colhida num rio que o atravessasse. Fontaine de Jouvence (Fontane de Jovants), Jung-brunnen entre os germanos, gua eterna que fazia reviver os heris dos antigos contos eslavos orientais, aqua vitae clssica dos Latinos, apa vie (gua viva e vivificadora) dos contos e lendas romenos... esta gua tem sua verdadeira fonte nas tradies dos povos semitas da Antigidade remota. Sua tradio estendeu-se depois para Leste, em direo ao Ir e ndia, atravessando a Mesopotmia, assim como em direo s terras povoadas pelos antepassados das futuras tribos da Arbia Ptrea que a transmitiram ao Isl. Mais tarde, durante o primeiro milnio do cristianismo, os nestorianos a introduziram na China, de onde passou para a Indochina, Indonsia e Malsia. Da mesma forma, as invases e migraes dos antigos povos da bacia oriental do Mediterrneo dirigindo-se para Oeste, levaram-na para a Itlia, para o Atlas magrebino, para as costas ibricas e, transpondo as colunas de Hrcules, at as ilhas Britnicas, Irlanda e Escandinvia. Observemos finalmente que o mito indiano associa-se ao simbolismo egeu das primeiras eras para fazer jorrar uma ou vrias fontes milagrosas no paraso terrestre da idade de ouro, tal como o descreve Hesodo, quando o homem, imortal, ainda no estava sujeito enfermidade e dor. A presena no Oriente e a origem aparentemente asitica desse mito da Fonte da Juventude so to facilmente demonstrveis que no pode deixar de causar espanto o espetculo dos espanhis desembarcando em Bimini, sob a bandeira de Juan Ponce de Len, para ali descobrir uma fonte de tradio local j existente. A partir de ento, houve um longo esforo visando a encontrar a chave deste duplo mistrio.

Examinemos em primeiro lugar o que diz respeito expedio espanhola. Juan Ponce de Len, futuro explorador do mar das Carabas e do litoral norte-americano, firma com o reino da Espanha dois contratos de descoberta. O primeiro tratado foi assinado em Burgos no dia 23 de fevereiro de 1512; o segundo, em Valladolid, a 26 de setembro do mesmo ano. E embora em nenhum desses dois textos se faa meno a qualquer Fonte de Juventude, os historiadores esto hoje convencidos de que Bimini era na realidade um dos objetivos secretos da operao. O historiador da poca, Hernando d'Escalante Fontaneda que, vtima de um naufrgio, permaneceu durante dezessete anos prisioneiro dos indgenas da Flrida (15511568), narra uma coisa primeira vista bastante estranha. Escreve ele, em 1574, que "Juan Ponce de Len, fiando-se nos relatos dos ndios de Cuba e em outros de So Domingos, foi procurar o rio Jordo na Flrida, quer para fornecer informes a esse respeito, para se fazer valer ou para ali perder a vida, como realmente aconteceu, quer para rejuvenescer banhando-se em suas guas, o que est de acordo com as prticas piedosas dos ndios de Cuba, e de todas aquelas paragens, os quais cumpriam um dever religioso ao se encaminharem para a Flrida... Acrescente-se, alis, que ao alcanar terra firme Ponce de Len j estava decepcionado pelos meses de navegao infrutfera, em busca no do rio, que se nos afigura quase que um sucedneo, mas sim da fonte, tal como narra com grande abundncia de pormenores um outro cronista da conquista, Francesco Lopes de Gomara. De acordo com este ltimo, Ponce "armou duas caravelas e partiu em busca da ilha de Boyuca, onde os ndios situavam a fonte que transformava os velhos em adolescentes; vagou durante seis meses, esfomeado e perdido por entre uma infinidade de ilhas, sem encontrar o menor vestgio da tal fonte. Entrou em Bimini e descobriu a Flrida em 1512, no dia das Pscoas Floridas. Foi por isto que lhe deu esse nome". De modo que as coisas seriam bem simples: os espanhis tentavam localizar a fonte fabulosa baseando-se nos relatos dos indgenas que tambm haviam-na procurado... com idnticos resultados. Os franceses, cartesianos antes de Descartes, zombaram desses "resultados" desde o sculo da conquista, numa quadra que se tornou clebre: Uma anlise ponderada permite afirmar, sem perigo de erros, que, ao procurar aquelas ilhas, Ponce de Len obedecia a uma inspirao europia e que, por outro lado, a "informao" dos indgenas de Cuba, das Antilhas ou da costa de Honduras a respeito da fonte e do rio tambm era, por sua vez, de origem pr-colombiana e no americana. Essa inspirao europia chegara ao navegador vinda de Colombo, ou atravs de Colombo. Ela reunia um conjunto de tradies e de dados histricos, e tambm certos pormenores geogrficos precisos, entre os quais o fato de que se tratava de guas pouco profundas, muito claras, e de terras mais ou menos submersas. Prova-o o relato feito por Antonio Herrera da navegao de Ponce: No se pde saber no comeo o nome da Flrida segundo o sentimento dos que faziam as descobertas; porque vendo que essa ponta de terra saa tanto ao mar, eles a tinham como Ilha, e os ndios como terra firme, e diziam os nomes de cada provncia. Mas os Castelhanos imaginavam que eles os enganavam. Finalmente, depois de muitas contestaes a este respeito, os ndios disseram que ela se chamava Cantio, que um nome que os ndios Lucayos deram a essa terra porque os povos que a habitavam cobriam suas partes pudendas com folhas de palmeira tecidas como a esteira de juncos. Eles saram no dia 25 de julho dessas ilhotas PARA IREM BIMINI navegando entre duas ilhas que pareciam submersas, e estando como que atolados, eles no sabiam mais por onde passar

com os navios. Jean Ponce ENVIOU O BARCO PARA RECONHECER UMA ILHA QUE ELE ACREDITAVA SUBMERSA e aconteceu que era a de Baama. Quanto tradio local, ela trplice. Em primeiro lugar, uma lenda corrente entre os indgenas do Haiti e de Cuba fala numa fonte milagrosa localizada na ilha de Bimini. Uma outra tradio afirma a existncia no continente portanto na Flrida de um rio de guas rejuvenescedoras, o... Jordo, assim denominado antes da chegada dos espanhis. So, finalmente, vrias lendas obscuras a afirmarem a presena, numa ilha, de um stio milagroso, cheio de aves maravilhosas e de fontes mgicas, um autntico paraso terrestre. Antes de levarmos adiante as interrogaes quanto origem desses trs aspectos da tradio, preciso dizer que, indiscutivelmente, sua causa fundamental a existncia ali das guas termais de Warm Mineral Springs, na Flrida, assim como a de fontes de gua doce, brotando geralmente l mesmo, em Bimini. Isto, aparentemente, poderia bastar para reduzir o maravilhoso ao natural; examinemos, porm, os aspectos peculiares dessas tradies. Como vimos, Ponce de Len tenta chegar a Bimini e a seu Jordo antes que mais algum os descobrisse. Fontaneda, Gomara e os outros cronistas so categricos a este respeito. Mas a Fonte de Juventude, o rio de guas rejuvenescedoras e o paraso terrestre, que aqui se confundem, constituem na realidade etapas distintas num conjunto de tradies forjadas em pocas diferentes, em conseqncia das relaes geopolticas diretas entre o Velho e o Novo Mundo. Dessas tradies, a primeira a se desenvolver foi indiscutivelmente a do paraso terrestre. DEPOIS HOUVE O JORDO Os irlandeses, que haviam chegado ao continente norte-americano muito antes dos vikings, e ali haviam fundado a sua Ireland it Mikla a Grande Irlanda alm-Oceano foram os primeiros a ali difundir o cristianismo. Como batizavam os indgenas nos rios, eles deram a estes o nome de Jordo, a fim de comemorar a tradio bblica. Alis, logo nos primeiros tempos, fugindo aos vikings, e sempre por eles acossados, os irlandeses se dirigiram para Noroeste. Foi assim que chegaram s ilhas Orkney. Perseguidos pelos vikings, tiveram de passar para as ilhas Shetland, que foram igualmente obrigados a abandonar para se refugiar na ilha de Ou, onde sua presena pode ser identificada sem sombra de dvida por volta do ano 725. Em 795, desembarcaram na Islndia. Eram esses irlandeses monges pertencentes seita crist dos Ceil D que exercera uma influncia acentuada, na Irlanda, muito antes da evangelizao oficial de So Patrick. Os Ceil D, padres seculares que viviam em comunidades, celibatrios e praticando a penitncia, defendiam quanto virtude e moral idias que, muito estranhamente, podem ser encontradas na filosofia moral inculcada aos Toltecas de Tollan (Mxico) por seu clebre rei-sacerdote, o deus Quetzalcoatl. Alguns especialistas chegam mesmo a ver na pessoa histrica deste ltimo um antigo monge irlands que chegara at l. A doutrina dos Ceil D continha inmeros elementos pagos de origem cltica, que levaram o papado a conden-la. Sua destruio foi pregada em toda a Irlanda pelos missionrios catlicos; e foi para fugir s perseguies que os monges se puseram ao mar em busca de horizontes mais acolhedores, segundo esperavam as terras insulares do Norte e do Noroeste. Ora, o abade Adamman, superior do monastrio irlands de Saint-Jonas de 679 at 704, relata que um certo Cormac (521-597) j fizera mais de trs vezes a viagem entre a Irlanda e a Islndia. Em suas descries do mar do Norte, o monge irlands Dicuil conta que

religiosos irlandeses j haviam permanecido durante mais de seis meses na "grande terra de Thul", no longnquo Norte. Os vikings ali chegaram em 874. Depois de uma intil tentativa de resistncia, os monges fugiram para Oeste e atingiram a Groenlndia. Ali os iriam encontrar, cento e oito anos mais tarde, os drakkars noruegueses. Novamente expulsos pelos vikings, os irlandeses seguem ao longo da costa vizinha do continente americano, em direo Sul, antes de se voltarem para Sudoeste, deixando-se levar pelas correntes costeiras. O Libellus Islandorum, redigido por Ari, o Sbio (1067-1148), relata que: "Os fundadores dos estabelecimentos escandinavos na Groenlndia encontraram naquela regio habitaes humanas tanto a Leste como a Oeste, assim como utenslios de pedra quebrados, e restos de embarcaes, o que demonstra ter ali vivido um povo qualquer..." Como naquela poca os esquims ainda no haviam atingido o Sul da Groenlndia, e a presena de utenslios e de casas em runas no coaduna nem com os costumes nem com o nvel de vida esquims, realmente dos irlandeses que se trata. Tendo seguido ao longo das costas da Terra Nova, os irlandeses se fixaram na regio que hoje a Nova Inglaterra, onde estabeleceram sua colnia da Grande Irlanda, cuja localizao exata os historiadores e gegrafos ainda no conseguiram determinar. Em seguida, avanaram ainda muito mais para o Sul. Entre os vestgios indiscutveis de sua passagem, contam-se particularmente as grutas de North Salem (New Hampshire), cujos subterrneos apresentam um plano anlogo ao das primeiras construes religiosas irlandesas da Idade Mdia. Foram igualmente identificados vestgios de stios irlandeses nas proximidades das localidades de Kingston e Raymond, no New-Hampshire, perto do rio Thames, assim como em Lowell, Watterford, Leominster, Harward, North Andover, Worcester, Hopkinton, Upton, Millis, Medway, Mendon, Hopedale, Webster, Martha's Wineyard etc. Perto de South Windham (Maine), foram descobertas escadarias sem comeo nem fim, talhadas na rocha. A maioria dos especialistas atribuiu esses vestgios aos irlandeses, assim como o de South Berwick (Maine), West Shawshenn (Massachusetts) e Woodstock (Connecticut). Em Upton, encontrou-se at mesmo uma construo tpica, feita de pedra de abelhas, tendo entrada um trio lajeado, que lembra a Irlanda. Em 1960, as guas do oceano, revolucionadas pelo furaco Donna, atiraram a uma praia de New Jersey os restos de uma antiqssima embarcao de madeira. Os mtodos radiativos de datao calcularam em mil anos a idade desse barco, de tipo irlands arcaico. Talvez tenha pertencido aos monges irlandeses da regio de North Salem. Passado o furaco, tendo Albert e Salvatore Marasinti, de Marascuan (New Jersey) iado o barco para o alto da falsia, os especialistas que para ali afluram verificaram que ele apresentava vestgios de cobre no revestimento do costado, cuja espessura era de vinte centmetros. O revestimento de cobre, constitudo de finas lminas fixadas por meio de pregos, representava uma proteo contra os parasitas marinhos. Teoricamente, pelo menos, a embarcao poderia muito bem enfrentar o mar. Todavia, quando se trata de determinar a localizao da Grande Irlanda num mapa da Amrica, confrontando os vestgios com os dados das tradies irlandesas e americanas pr-colombianas, os especialistas ainda hesitam entre os territrios das Carolinas e da Gergia, e o da Flrida atual. Em 1819, o gegrafo americano J. Johnstons relatava uma lenda por ele ouvida entre os indgenas da Flrida e da Carolina do Sul. Afirmavam estes por volta de meados do sculo XVIII que sculos antes seu pas fora habitado por brancos que usavam armas e utenslios de ferro. Seja como for, a explicao irlandesa para o personagem histrico que se encontra

nas razes da lenda de Quetzalcoatl, parece comprovada pelos fatos. A tradio e as fontes autenticadas da histria dos Toltecas afirmam que o "Estrela da Manh", tambm chamado "Serpente de plumas", foi realmente seu chefe no sculo X. Era um homem de pele clara, formalmente descrito como branco e barbado. Reinou em Tula entre 967 e 987, mas tambm encontramos as datas 997-999 e 1010. Vindo do Leste, o "deus" desembarcara em companhia de seus nonoalcas homens "mudos e surdos", pois no falavam nem compreendiam a lngua dos indgenas. Ele "organizou" os Toltecas, impondo-lhes suas prprias concepes religiosas, as quais comportam inmeras tradies de colorido nitidamente cristo, includas desde ento nas tradies amerndias. Ao deixar Tula, o deus feito homem empreendeu a conquista do imprio maia e se estabeleceu em Chichen-Itza, que recebeu assim um acentuado cunho tolteca. Os maias, por sua vez, o divinizaram sob o nome de Kukulkan. Aps vinte anos de reinado pacfico, os homens "brancos e barbados" tornaram a partir. As tradies amerndias fazem-nos ento viajar atravs do istmo de Darien-Panam, at as costas do Peru... A maioria das fontes indica que o "chefe-deus" pregara a existncia de um deus nico e universal, constituindo de fato uma trindade. Quetzalcoatl se referia tambm a um lugar de lazer, onde os justos so recompensados aps sua morte um paraso celestial e a um lugar de expiao transitria um purgatrio apresentado maneira catlica que, neste ponto, no diferia da dos Ceil D. Os sacerdotes de Quetzalcoatl ensinavam alm disso que o homem perdera a graa divina em conseqncia do pecado de uma mulher-serpente. Quetzalcoatl recomendava a piedade e as oferendas gratuitas. Chegava a afirmar, coisa estranha para um tolteca, que se pode pecar por simples inteno. Assim que, para o homem-deus de Tula, olhar insistentemente para uma mulher j era com ela fornicar, idia tipicamente catlica dos sculos VI a X. A paz, o amor ao prximo tambm faziam parte dos ensinamentos de Kukulkan, que pregava alm disso um mistrio religioso bastante prximo do da Encarnao no Novo Testamento, e praticava a comunho destinada a reconciliar o homem com Deus, graas a pedaos de po abenoado. Entre as outras tradies deixadas por Quetzalcoatl, encontrase a do dilvio segundo a variante de tipo cristo, colocando em ao um No local denominado Cox-Cox. Finalmente, a idia da ressurreio do ser divino e a lenda da virgem-me esto presentes em toda parte. O mais significativo, entretanto, sem falar na utilizao da cruz como objeto de culto aqui designada como "rvore da vida" sobre a qual teria morrido um homem "mais adorvel que o sol" ainda o fato de ter Quetzalcoatl institudo em Tula, e depois em Chichen-Itza, a cerimnia do batismo. Assemelha-se esta, sem tirar nem pr, ao batismo cristo. O oficiante a encerra com as seguintes palavras: "Recebe esta gua abenoada, pois sobre a terra que habitars, onde nascers e desabrochars, ela que oferece os princpios necessrios vida. Recebe portanto esta gua". E, pronunciando-as, o sacerdote asperge com a gua benta a cabea da criana. O mesmo acontecia por ocasio das cerimnias coletivas quando os batizados entravam num riacho. Nessas circunstncias, no nos deve causar espanto a cruz de mrmore coroada de flores e venerada pelos indgenas de Vera Cruz, que deu nome ao lugar por ocasio da conquista espanhola. Assim como no nos deve espantar a existncia, na costa leste da Amrica, de um Jordo pr-colombiano, designado, de fato, com esse nome. W. Krikeberg, o clebre historiador alemo do mundo pr-colombiano, escreve num

estudo dedicado aos contos e lendas dos astecas, incas, maias e muiskas: "Acontece com freqncia que o zelo religioso ou falsas interpretaes tentam descobrir vestgios da doutrina crist na histria antiga dos ndios, e que se procura atribuir arbitrariamente s tradies indgenas significados cristos. Contudo, no se deve rejeitar inteiramente essa idia, dando como invenes espanholas por se apresentarem sob roupagens crists lendas que associam os heris das velhas civilizaes ndias, como Quetzalcoatl, Bochica ou Viracocha, a certos aspectos dos apstolos cristos... "Os impressionantes paralelismos existentes entre as tradies primitivas americanas e o cristianismo antigo, correspondem em grande proporo s coincidncias existentes em outros campos entre as civilizaes do Velho Mundo e do Novo, e que futuras pesquisas talvez venham um dia a explicar." A est, portanto, o que temos com relao gua de imortalidade e ao rio sagrado, conhecidos dos ndios das ilhas e por eles procurados no solo da Flrida. Da mesma forma, decepcionados por no haverem encontrado nenhuma fonte, Ponce de Len e os outros continuaram a procurar o Jordo... Seu erro, entretanto, se explica, quando se reflete que a nascente ou fonte se confundia com o rio. E deve-se esta confuso ao fato de terem as duas lendas um fundo comum, referindo-se uma regenerao do corpo (a nascente) e a outra regenerao da alma (batismo no rio). Embora o mito da renovao corporal j fosse conhecido na remota antigidade babilnia, egpcia e grega, a tradio crist da gua que purifica no passou de um complemento que contribuiu para que se criasse a tradio comum. Prende-se esta, ao mesmo tempo, lenda dos frutos de ouro e dos pltanos de Leth, que poderiam ser encontrados na fabulosa Merpida transatlntica dos Fencios, e dos pomos do jardim das Hesprides, assim como s lendas celto-irlandesas das plancies de delcias, o Mag Mell, dos antigos galicos. Os especialistas em histria pr-colombiana e etnografia moderna ainda discutem as inmeras tradies entrelaadas s lendas indgenas que, todas elas, localizam a fonte milagrosa na ilha de Bimini. O que no impede que a Fonte de Juventude continue a representar o ponto de partida para uma pesquisa que, muito provavelmente, h de colocla um dia na origem daquilo a que habitualmente se d o nome de histria.

CABALA, COLOMBO E BIMINI Esses nomes que designam as ditas ilhas e litorais, deu-os Colombo para que sejam conhecidos sob esses nomes... PIRI-REIS PAX, 1513. QUEM DEU NOME S BAAMAS? No decorrer de suas quatro viagens, aconteceu com freqncia dar Colombo um nome aos lugares que ia descobrindo. Por esse motivo, consideram muitos autores que foi ele quem deu nome s Baamas, que se chamaram de incio Lucaias, segundo sua designao indgena. Isto indiscutivelmente verdadeiro quanto ilha de Guanahani, rebatizada San Salvador, mais inadmissvel no caso de Bimini, da qual o almirante nem sequer se aproximou. O primeiro mapa que representa as Baamas, embora de maneira muito vaga, foi traado por Juan de La Cosa. Nele aparecem, ao norte de Cuba e do Haiti, algumas terras que trazem os nomes conferidos por Colombo. Trata-se das ilhas Habacoa (Abaco), Yumey (Exuma), Guanahani (San Salvador), Manana (Rum-kay), Samana (Long Island), Someto (Crooked Island) e Yucayo (Caicos). Nenhum vestgio de Bimini. Em compensao, ali se vem ilhas "batizadas" por Colombo e que ele jamais abordou. O mapa acrescentado em 1511 (antes, portanto, da descoberta de Bimini por Ponce de Len) ao trabalho de Pierre

Martyr, De Orbe Novo, j no atribui nomes especficos a essas ilhas. Em contraposio, uma ilha grande como Cuba e designada sob o nome de Isl de Buemeini substitui ali a Flrida atual. Tal como no caso do "Jordo" pr-espanhol, aqui estamos, portanto, em presena da existncia do nome Bimini antes da descoberta propriamente dita daquela ilha. Se levarmos em conta o fato de que Ponce que se jactava da amizade de Colombo havia acompanhado o almirante por ocasio da segunda viagem, tendo desembarcado no Haiti, pode-se admitir que ele j ouvira pronunciar o nome da ilha da Fonte de Juventude em suas conversas com Colombo ou com os que o cercavam. O que, indiretamente, tenderia a provar que foi, afinal de contas, Colombo quem deu quela ilha o nome destinado a to prodigiosa carreira. Alm disso, a existncia das Antilhas j era tida como provvel na Idade Mdia. Embora geograficamente mal localizadas, elas aparecem com efeito em numerosos portulanos a partir do sculo XIII, designadas indiferentemente com os nomes de Antilha, Antilla, Antillas ou Anticha. Designavam-nas tambm com o de Isl de Siete Ciudades ilha das Sete Cidades na qual, segundo se dizia, sete bispos portugueses se haviam refugiado em 711 para fugir invaso rabe comandada por Taril el Mocsa. Admitindo-se que este ltimo episdio no passe de uma lenda, e que Antilla derive de Anti-ilha, e portanto da necessidade lgica de contrapor s da regio leste do oceano uma terra situada a oeste, o pressentimento da existncia dessas ilhas no fica por isto invalidado. NO MAPA DE COLOMBO O sbio russo D. Tzukernik demonstrou recentemente a existncia de um mapa redigido antes de 1492 e que dera a Colombo a possibilidade de controlar seu itinerrio. Sabe-se que imediatamente aps a sua partida das Canrias, Colombo ordenara aos irmos Pinzon, seus subordinados diretos, que navegassem dia e noite 700 lguas em direo oeste. O que significa que a navegao noturna deveria ser interrompida uma vez percorridas aquelas 700 lguas. Para prever desta maneira a presena de uma terra quela distncia, o almirante devia possuir um mapa. Quando, nos dias 23 e 24 de setembro de 1492, aterrorizadas pela imensido do oceano, as tripulaes quase que chegaram a se amotinar, o almirante acalmou os espritos mostrando aos comandantes dos dois outros barcos no somente as suas prprias anotaes e seus clculos como tambm um mapa. Este fato relatado por Don Ferdinando Colombo, filho e bigrafo do almirante, e confirmado pelo historiador Bartholom de Las Casas, o qual chega a acrescentar que naquela ocasio o almirante teria dado a Pinzon um mapa no qual se viam ilhas. Naquele momento, uma discusso contrape Martin Alonzo Pinzon a Colombo. Quando se reconciliam, os dois homens se entendem de modo a calcular e determinar de comum acordo a posio real dos navios. Verificam ento que se haviam afastado da rota das ilhas representadas no mapa. No fim de setembro, Colombo ordena que as caravelas se desviem para sudoeste, isto , em direo s ilhas. Era a direo certa. E levava a ilhas que realmente existiam e que os historiadores modernos da geografia negam que pudessem ter sido conhecidas a priori por Colombo. De modo que este devia conhecer de antemo o seu itinerrio e o ter traado num mapa fidedigno. Por outro lado, no trigsimo terceiro dia aps a partida da ilha de Gomere, nas Canrias, calculou-se que a terra no caso, uma das Baamas estaria, ou deveria estar,

suficientemente prxima para tornar perigosa a navegao noite. Esta observao foi feita por Pedro Nino, timoneiro da Santa Maria, valendo-se do mapa que o almirante lhe havia confiado. O timoneiro pediu ento a Colombo autorizao para no mais navegar noite. Esta lhe foi concedida, pedindo-lhe o almirante que ela fosse transmitida ao pessoal da Pinta, embarcao que estava mais prxima da nau almirante. E isto, apenas algumas horas antes que o tripulante Rodrigo de Triana finalmente avistasse a terra do alto do mastro da Capitnea... Todos os cronistas dos sculos XVI e XVII que escreveram sobre a descoberta da Amrica se referem fbula do "piloto annimo". De acordo com esta lenda, Colombo teria acolhido em sua casa, em Porto Santo, um piloto que, impelido por uma tempestade, teria realizado uma viagem involuntria at as Antilhas, de onde teria voltado exausto, para morrer nos braos de seu anfitrio. Ele quem teria legado o mapa, ou itinerrio, a Colombo. Falava-se mesmo em dois marinheiros de Palos, que teriam estado acidentalmente nas Antilhas e delas teriam falado com o almirante. Teriam abordado aquela terra que figurava de maneira bastante vaga no mapa de Toscanelli, entregue pelo rei Afonso V de Portugal a Ferno Teles de Meneses em 1475. A isto tudo, acrescente-se ainda um pormenor, o mais curioso de todos. Na viagem de volta, enquanto todos se preocupavam com a ausncia de ventos nas zonas equatoriais, o almirante comportou-se como se conhecesse igualmente de antemo esse novo itinerrio. Essa volta se processa como uma corrida louca, de dia e de noite, a fim de percorrer o trajeto dentro do prazo mais curto e valendo-se dos ventos oeste, que os impeliriam para a Europa. Outra faanha impossvel sem um bom mapa. De resto, isto tudo serve apenas para reforar a tese clssica, apresentada por M. Beuchat, segundo a qual o almirante dispunha, j em 1483, de um plano sistemtico para a explorao da parte ocidental do oceano Atlntico. Ora, se Colombo estava de posse de um mapa e se, nesse mapa, as ilhas apareciam em seu lugar exato, era perfeitamente possvel que ele conhecesse os seus nomes antes de as abordar, e nada o impediria de "batiz-las" por sua vez. Que esse mapa existiu, forneceu-nos uma prova cabal a descoberta feita na biblioteca do palcio Topkapu, em Constantinopla, em 1929. Trata-se do famoso Mapa do Mundo na verdade, de sua metade esquerda redigido em 1513, em Gelibolu (Galipoli) pelo Capito-Pax Piri Reis, almirante e cartgrafo turco de nomeada, para o sulto Selim. Nas notas s margens desse mapa, que indiscutivelmente a melhor representao da Amrica na primeira metade do sculo XVI, encontra-se uma inscrio rabe, referente a Colombo e s ilhas por ele descobertas. Observemos desde logo que o almirante turco declara sem rebuos haver utilizado um mapa de Colombo para redigir o seu. Mas aqui est a nota V do mapa de Piri Reis: "O presente mapa descreve essas costas, assim como as ilhas que nelas se encontram. Essas costas se chamam o litoral das Antillya. Foram descobertas no ano de 890 da era rabe. Conta-se porm que um infiel de Gnova, de nome Colombo, descobriu essas paragens. Caiu assim nas mos de Colombo um livro onde ele aprendeu que nos confins do mar Ocidental, isto , a oeste, existiam costas e ilhas, minas de toda espcie e tambm pedras preciosas. Tendo lido do princpio ao fim o dito trabalho, ele enumerou esses fatos, um aps outro, aos Grandes de Gnova e lhes disse: "Dai-me dois navios para que eu v em busca desses lugares..." Eles responderam: " tolo, o mar Ocidental tem um limite ou um fim? Ele est envolto em vapores das trevas." O dito Colombo viu que nada poderia esperar dos genoveses e foi contar a coisa ao rei da Espanha. Tambm ele deu resposta

igual dos genoveses. Mas Colombo mostrou-se to insistente que o rei da Espanha lhe deu dois navios, cuidou para que fossem bem aparelhados e armados e disse: " Colombo, sendo como dizes, fao-te capito desses stios" ... e enviou-o para o mar Ocidental.* * O historiador e gegrafo americano G. F. Nun comenta nos seguintes termos a faanha do almirante: "Na realidade, Colombo no fez uma descoberta e sim trs. A descoberta das duas rotas ocenicas passou despercebida por ter sido eclipsada pela descoberta da terra." Seja como for e como faz notar o seu grande bigrafo moderno Salvador de Madariaga, Colombo "inventou num estalar de dedos o que os marinheiros espanhis do Pacfico levaram quarenta anos para descobrir desde 1520-1521, data da expedio de Magalhes, at 1565, quando Urdanea descobriu o caminho de oeste para leste" (Salvador de Madariaga: Christophe Colomb, Paris, Calmann-Lvy, 1952, p. 296). O falecido Gasi Kemal possua um escravo espanhol, o tal escravo costumava contar a Kemal Reis que estivera trs vezes naquele pas com Colombo, e dizia: "Ns chegamos primeiro ao estreito de Ceuta, depois tendo percorrido quatro mil milhas seguindo justamente pelo meio..." Agora, esses pases esto abertos a todos e conhecidos. Os nomes que designam as ditas ilhas e litorais, deu-os Colombo para que eles sejam conhecidos com esses nomes. Colombo era tambm um grande astrnomo. Os litorais e ilhas que aparecem neste mapa foram tirados do mapa de Colombo. Todavia, desdenhando o mapa e a nota, outros historiadores da geografia sustentaram que, mesmo que Colombo tivesse dado realmente nome s ilhas que acabara de descobrir, sua inspirao devia ser puramente local. Os indgenas de ento eram Arawacs e Tainos. Destes ltimos j no existe nenhum remanescente. Felizmente, seus costumes e sua lngua foram estudados antes que a felicidade trazida pelos espanhis a seus sditos das ilhas os houvesse a todos exterminado. Os tainos ocupavam, sobretudo, a parte central da ilha de Haiti. O padre Raymond Breton, missionrio nas Antilhas, redigiu em 1656 um dicionrio corrente da lngua dos carabas do Haiti, o qual na realidade apenas um dicionrio taino-francs bastante razovel. Um outro francs, o padre de Charlevoix, autor de uma bela Histria da Ilha de So Domingos, chega mesmo a considerar a lngua dos tainos como lngua sagrada que s teria sido falada permanentemente pelos habitantes do centro da ilha, e apenas nas grandes ocasies utilizada pelos demais. Para Onfroy de Thoron, autor do sculo XIX, ela teria sido transmitida pelas mulheres. Seja como for, os nomes das diversas ilhas das Baamas apresentam indiscutivelmente relaes com a lngua dos tainos, e cada um deles tem um sentido em taino. Assim: Habacoa, a ilha Abaco. Em taino, Haba-cani significa aldeia e Habacoa, lugar elevado. Habacoa seria por conseguinte a ilha da aldeia elevada, protegida. Ainda em taino, Buemen Buemiv = coroa, pico. Mas tambm Bina, Binah, = muro velho, runa; Bim = intervalo entre as pedras de um muro, e Bein, Beine, Ebein = pedra de construo, marco. Bem traduzida, Bimini seria, portanto, a ilha (coroa) do velho muro ou a Ilha da Coroa. ESTRANHAS COINCIDNCIAS Se tivermos presente em nosso esprito que Colombo no era apenas um navegador profissional, mas tambm, um excelente conhecedor das Escrituras, um cabalista de mo cheia e estudioso do hebraico por vocao, no podemos deixar de nos impressionar com a espcie de ressonncia hebraica de todos esses nomes. Ele prprio a deve ter sentido no

momento em que os consagrava perante a histria. Vamos deixar bem claro. Trata-se evidentemente do velho hebreu dos textos bblicos, o qual no fica assim to distante de duas lnguas irms, mortas h muito tempo: em primeiro lugar, o cananeu, mais prximo, e depois o fencio. Todas trs provinham, alis, de uma mesma cepa semtica. Colombo deve ter-se lembrado dos textos antigos. Por exemplo, que em cananeu e em hebreu arcaico pode-se encontrar: para Habacoa: habak = lugar cercado; kani moradia, habitat; oba = pedra, mesa, mesa de pedra, laje; abakani = habitat. Da mesma forma para Bimini: B'Mn' lugar elevado, altar; Boum Hein = lugar (ou objeto) precioso; Ban, Bina = construo, edifcio dominante. Ou seja, mais uma vez, a aldeia cercada para Habacoa, e a construo que domina ou altar para Bimini. Intil continuarmos a nos estender sobre as aproximaes possveis. Sua verdadeira explicao infinitamente mais simples que as que poderiam ser imaginadas. Talvez seja at mesmo preciso encarar duas explicaes, uma das quais seria evidentemente a coincidncia pura e simples; a no ser que se admita uma presena semita muito remota, ou mesmo fencio-canania, em algumas das orlas americanas. Admitindo-se porm, que Colombo poderia ter conhecido os nomes das ilhas antes de descobri-las, a surpresa que lhe teriam causado esses nomes no poderia deixar de nele reforar o propsito de "descobrir" essas terras estranhas. Especialista nas Escrituras, e mais ainda na Cabala, da qual ele foi com toda a certeza um grande conhecedor, sem dvida considerava-se ele destinado a ser o primeiro a tirar partido de todas essas informaes, assim como, das lendas sobre a gua de Juventude. Entre os livros que pertenceram a Colombo e que revelam suas preocupaes, est o clebre Ymago Mundi do cardeal d'Ailly. A certa altura, d'Ailly escreve sobre o Eufrates: "Rio da Mesopotmia, cuja nascente est no paraso; muito rico em pedras preciosas". margem, Colombo anotou simplesmente: "Eufrates". Em contraposio, nas pginas consagradas s ilhas Afortunadas (as Canrias), ele observa: "O Paraso terrestre certamente o lugar a que os autores do o nome de ilhas Afortunadas". Confessa seu erro em outra nota. Mais adiante, numa pgina do captulo IV onde d'Ailly se refere aos quatro rios do Paraso bblico, escrevendo que existe no Paraso "uma fonte que banha o jardim das delcias", Colombo comenta: "Uma fonte no Paraso." Talvez fosse esse o incio de um captulo de sua vida que ele no chegou a viver. Captulo que teria podido intitular-se Cabala, Colombo e Bimini... QUANDO O AVIO VOA POR ENTRE AS GUAS ... preciso considerar que h cerca de 10.000 anos, as Baamas formavam um imenso plat acima das guas, podendo perfeitamente abrigar milhes de homens... Os inmeros vestgios descobertos tornam evidente esta hiptese... Acontece porm que no sabemos absolutamente nada sobre essa civilizao. O problema portanto arqueolgico e no mais geolgico. preciso levar adiante os trabalhos e as escavaes para descobrir finalmente as chaves desse formidvel enigma. Em 1970, quatrocentos e cinqenta e oito anos aps o seu ingresso na histria dos homens, Bimini irrompe pela segunda vez na atualidade. Propriedade da poderosa companhia financeira Rockwell e desfraldando a bandeira inglesa, a ilha extraiu benefcios da celebridade de dois indivduos fora do comum. Um profeta e um poeta, um tit da viso e um gigante da criao literria elegeram-na, cada um por sua vez. O primeiro foi o estranho Edgar Cayce; o segundo, Ernest Hemingway.

Cayce, o visionrio mimado pelos milionrios americanos cata de sensaes, associou o seu nome ao da ilha quando predisse a ressurreio da Atlntida do seio das guas lmpidas das Baamas. Ele tambm afirmava que, ao largo de Bimini, devia haver um templo atlante, construdo no cume de um dos grandes montes da Atlntida, submerso sob as ondas... Ao que parece, mesmo quando se profeta, um pouco de geologia no pode fazer mal algum. Com efeito, Cayce deveria saber que o plat das Baamas, uma simples plataforma, no comporta montanhas submersas, nem vulces que deixam de funcionar debaixo de alguns metros de gua. Mas Cayce foi ainda mais longe, tendo chegado a garantir que, nesses templos, os sacerdotes atlantes procediam a fabulosas experincias utilizando a energia dos raios de luz, geradores de imprevisto. Uma espcie de laser atlante, antes do verdadeiro. Mais realista, Hemingway nos deixou O Velho e o Mar, algumas pginas do qual foram escritas num caf da ilha. Mas Bimini aspirava a uma glria muito diferente, a que sobre ela haviam lanado as lendas dos tainos, os sonhos de Colombo e as ambies secretas de Juan Ponce de Len. Uma glria de final de ciclo, capaz de se emparelhar, at certo ponto, com as "histrias" de 1492 e de 1512. TEM INCIO A VERDADEIRA EXPLORAO O que a navegao a vela iniciou no tempo de Isabel, a Sbia, e de Joana, a Louca, deveria ser completado pela explorao submarina na poca em que so novamente discutidas certas "verdades" estabelecidas. Robert Marx, Dimitri Rebikoff e Manson Valentine acrescentaram seus nomes lista dos que esto associados ilha de Bimini. Manson Valentine do Museu de Cincias de Miami, na Flrida, ex-professor da Universidade de Yale e especialista em civilizaes pr-colombianas, na realidade o verdadeiro "descobridor" do stio de Bimini. Dimitri Rebikoff, explorador, engenheiro especializado no campo da fotografia submarina e inventor do "flash" eletrnico, fundou um instituto de tecnologia submarina que funciona em Cannes e Nova Iorque. Robert Marx clebre mergulhador submarino, apaixonado por pesquisas em torno das navegaes antigas e da arqueologia submarina o explorador dos stios da ilha de Andros. As descobertas de Bimini foram possibilitadas, a partir do ms de setembro de 1968, graas ao engenho Remorra M-114-E, construdo por Rebikoff, verdadeiro avio submarino provido de cmeras automticas que permitem tomadas com ngulo muito grande (em diagonal, sob a gua). Uma vez equipados, os pesquisadores concentraram seus esforos numa estrutura submersa, cuja existncia havia sido assinalada nas proximidades da costa setentrional da ilha, precisamente a noroeste de North Bimini. Cada um por sua vez, o doutor Robert Thompson, da Universidade York de Toronto (Canad); os professores John Gifford e Cesare Emiliani, da Universidade de Miami; o doutor F. G. Walton Smith, tambm de Miami; e Tim Tealey, diretor do Instituto tecnolgico P. I. T. do Hidrospao de Cocoa Beach; Sir Robert Marx, diretor do departamento de pesquisas da Real Eight Co.; e o aviador baamiano Paul Aranha, tomaram parte nas pesquisas. Ao cabo do primeiro ano, eles deram com uma estrutura de 70 metros de comprimento e 10 de largura, construda aparentemente com grandes blocos de pedras regulares, ligadas por uma espcie de cimento. Medindo os blocos com o auxlio de um meio-decmetro de agrimensor e de um estreo-comparador geralmente utilizado para traar mapas areos em curvas de nvel, Rebikoff sentiu-se bem depressa capacitado a especificar que alguns deles chegavam a ter mais de 5 metros de lado, e que sua espessura

oscilava entre os 50 e os 150 centmetros. Seu peso chegava, portanto, a atingir por vezes cinco toneladas, para uma densidade mdia do material rochoso superior a 2. Concludas em abril de 1971, as trincheiras de explorao escavadas na face leste do muro oriental revelaram a existncia de pelo menos uma segunda camada de pedras similares, por baixo da primeira. Todas aquelas pedras so ajuntadas por uma mesma camada de cimento de 5 a 6 centmetros de espessura. Verificou-se, alm disso, que a face externa do muro se alteia, reta e bem alinhada. Os cantos inferiores, protegidos contra a eroso das ondas, podem ser verificados a esquadro em todos os seus trs eixos. Aqui e ali, julgou-se identificar na face interior dos blocos, marcas que poderiam ter sido feitas por instrumentos. Pesquisas ulteriores podero determinar se aquilo constitui um muro nico ou um simples elemento de uma construo infinitamente mais vasta. J alguns fatos novos, sobrevindos em maio de 1971, parecem indicar que se trata de um antiqssimo porto submerso, comportando cais e um quebra-mar duplo que se alarga em alguns pontos simtricos. Observe-se ainda que a horizontal da parte de cima do muro est perfeitamente "nivelada" com a linha de superfcie da gua e em toda a sua extenso a uma profundidade uniforme de cerca de 6 metros. O aspecto geral revela uma construo perfeitamente assentada num embasamento preparado de acordo com regras tcnicas devidamente respeitadas. Finalmente, todas essas estruturas artificiais permanecem virgens de vida marinha fixa; esponjas, briozorios, corais madrepricos, e at as algas esto inteiramente ausentes. Esta situao talvez se explique pela circunstncia de ter o edifcio permanecido oculto na areia durante milnios. Foram, com efeito, os violentos furaces destes ltimos anos que revelaram os contornos das estruturas por entre as guas lmpidas e azuladas das Baamas. Diga-se de passagem que, por ter resistido a tufes e furaces tropicais capazes de altear ondas de 11 metros e de fazer soprar ventos de 210 ns, fica comprovada a solidez da construo. Ainda faltava um pronunciamento a respeito da idade das estruturas. A possvel data da construo, correspondente ao estgio de imerso propriamente dita, de um certo nvel do terreno no de maneira alguma idntica em toda parte e varia em funo dos mtodos utilizados para determin-la. Assim, o mtodo de determinao da curva geral da subida das guas acusa cerca de 6.000 anos de antigidade. Procedendo-se mesma medida com o auxlio do radiocarbono 14 aplicado aos vestgios de turfeiras submersas nas vizinhanas, d-se a estas ltimas uma idade de 4.700 anos (+ 10%) para uma profundidade de 3 metros, e de 6.000 anos para 4 metros. A estimativa, calculada por extrapolao, d 10.000 anos para uma profundidade de 6 metros. Este valor corresponde ao nvel atual das partes superiores do muro, mas no ao de suas bases. Pode-se razoavelmente admitir uma antigidade variando entre os 8.000 e os 10.000 anos para as construes cuja base se encontra atualmente entre 8 e 10 metros de profundidade. Em todo caso, preciso considerar que em poca bastante recuada, a superfcie do plat das Baamas era suficientemente vasta para proporcionar uma regio interior indispensvel ao desenvolvimento de uma civilizao e ao desabrochar de uma vida social fundamentada na pesca, na caa, possuindo at mesmo alguns rudimentos de agricultura e permitindo o progresso de uma sociedade humana capaz de edificar construes megalticas. Alis, a estrutura de Bimini no a nica do arquiplago das Baamas.

DESCOBERTAS NAS BAAMAS Apaixonado pela arqueologia, o professor Manson Valentine foi tambm, com Ernest Williamson, um dos pioneiros da fotografia submarina, com a qual esteve lidando desde 1926. A partir de ento, ele esteve sempre procura de estruturas submersas por toda parte no vasto plat das Baamas, concentrando suas tentativas sobretudo entre Nassau e Bimini. Seu primeiro colaborador foi o piloto comercial Robert Brush, que sobrevoava diariamente a regio que se estende entre Bimini e a ilha de Andros. Foi naquelas paragens que Brush descobriu e fotografou em 1968, ao norte da ilha de Andros, uma estrutura aparentemente retangular. Comunicou-o imediatamente ao professor Manson Valentine e foram ambos visitar aquele stio, em companhia de Rebikoff; foram obrigados a faz-lo num hidroavio em virtude da pouca profundidade das guas. Tratava-se de um muro com mais de 30 centmetros de espessura, inteiramente recoberto pela areia. Esse muro, que dava a impresso de ser a base de um edifcio retangular de cerca de 30 metros por 20, era feito de pedras cuidadosamente alinhadas a cordel. Somente a sua parte inferior, revelada por uma pequena trincheira cavada faca, havia sido preservada. Estava assentada sobre um substrato horizontal de rocha calitrtica baamiana. A construo ainda no foi explorada. Sabe-se, entretanto, que ela apresenta algumas divises e at mesmo duas cmaras de canto, o que a aproxima, do ponto de vista do plano, da clebre casa das tartarugas de Uxmal, entre os maias. Nas cercanias de Bimini, encontra-se ainda um outro recinto de forma retangular, uma estrutura poligonal mais ou menos pentagonal e finalmente uma outra, com vrias dezenas de metros de comprimento e denominada, devido ao seu contorno geral, sabre de abordagem. A lista, provavelmente, ainda no est completa. Recentemente, durante uma breve explorao de uma gruta submersa nas proximidades da ilha de Andros, Robert Marx descobriu outros vestgios. Tratava-se de uma escavao bastante profunda, cujo interior continha resto de cermicas. Uma dessas peas feitas a mo representava um rosto humano. Os objetos revelavam um aspecto geral extra-americano. Os peritos que tiveram oportunidade de examinar as fotografias, batidas naquele lugar pelo pesquisador, atriburam s peas nelas representadas uma origem nitidamente no amerndia e as associaram ao tipo mediterrneo. Quanto idade de sua fabricao, consideraram-na anterior poca colombiana. No muito longe desse mesmo local, o doutor J. Manson Valentine deu, por sua vez, com algumas pedras discoidais, com um orifcio no centro e dimetro de cinco a seis ps. Essas pedras, tambm identificadas por Robert Marx no decorrer de uma de suas exploraes, apresentam uma semelhana bastante estranha com alguns objetos descobertos nas ilhas Yap, no Pacfico. Assinalou-se igualmente, nas proximidades do stio de Bimini, a existncia de pedaos de antigas colunas recobertas pela areia. De incio, as descobertas de Valentine e seu grupo no despertaram nenhum entusiasmo. A explicao talvez esteja na prpria celebridade de Bimini, assim como nas previses desse "Nostradamus adormecido"* que foi, aos olhos dos jornalistas, Edgar Cayce, o qual havia anunciado para 1968-1969, a ressurreio da Atlntida em Bimini. De modo que o professor Sears, do departamento de Arqueologia das Baamas, grande pesquisador dos magros stios dos antigos Arawacs, desprovidos de construes de pedra, qualificou o "templo" situado ao norte da ilha de Andros de "viveiro de tartarugas". Entretanto, um estudo mais aprofundado dos contornos dessa construo deveria levar

finalmente a salientar a semelhana entre o seu plano e o de muitas construes religiosas da Antigidade mediterrnea oriental. *[Nascido no dia 18 de maro de 1877, Edgar Cayce adquiriu grande fama na Amrica graas extravagncia e ousadia de suas predies, pronunciadas em estado de sono hipntico. Profeta em sua prpria terra, ele previu as duas guerras mundiais. Bimini no escapou sua incessante atividade. Em junho de 1940, Cayce teve uma viso segundo a qual uma das ilhas da Atlntida de Plato iria voltar tona. Tratava-se da ilha de Poseidon, lugar sagrado dos antigos atlantes, situado na vizinhana imediata da ilha de Bimini, que emergir em virtude de um movimento muito lento e progressivo. Talvez se trate do Caiful de exegetas imaginosos de uma Atlntida por demais prodigiosa para ser levada a srio at mesmo por atlantlogos convictos. De resto, sempre de acordo com Cayce informaes extraordinrias sobre essa Atlntida atlntica poderiam ser encontradas num templo secreto situado no Egito, soterrado pela areia, em baixo de uma das patas da Esfinge...] Antes de concluir esta sucinta descrio das estruturas j conhecidas, devemos acrescentar ainda um pormenor quanto natureza petrogrfica das enormes pedras que constituem o quebra-mar do porto de Bimini. De acordo com os especialistas, e segundo proclama o relatrio dos gelogos da Universidade de Miami do dia 25 de fevereiro de 1971, o "muro" constitudo de blocos de micrite que no apresentam a menor semelhana com as formaes rochosas naturais por eles recobertas. Estas formaes, constitudas de calcarenitos (gro de material calcrio, cimentado por cristais aciculares de aragonita) so caractersticas das costas do norte de Bimini. Esses blocos, com pronunciado contedo de micrita, tm baixa porosidade (30 a 50%) e sua massa contm inmeras conchas e moluscos fossilizados, aproximando-se assim das formaes do facies lagunar da costa de South Bimini. De modo que o relatrio formal. Os blocos que constituem a estrutura artificial prxima s costas setentrionais da ilha de North Bimini no tm o menor lao natural com as formaes naturais sobre as quais se encontram. Ainda mais: eles pertencem, do ponto de vista geolgico, a camadas encontradas apenas a uma distncia de pelo menos 22 milhas, do outro lado de uma outra ilha. E o relatrio chega concluso de que se est diante de um "enigma geolgico". Mas para que uma "estrutura", emersa ou submersa, seca ou mida, num lugar qualquer do mundo, tenha o direito de ser includa no imenso catlogo do artificial, preciso que se possa determinar a sua origem. Ora, o grande defeito das construes de Bimini que elas nada nos dizem a respeito de seus construtores. Nada daquilo que sabemos da histria do homem americano ou da pr-histria europia de h 10.000 ou 12.000 anos nos autoriza a fazer qualquer atribuio. Quanto aos manuais consagrados, a histria propriamente dita das civilizaes amerndias pr-colombianas, susceptveis de realizar edifcios daquela natureza, remonta quando muito a 2.000 anos antes de Cristo, com a cultura olmeca de San Lorenzo, do perodo antigo do pr-clssico da Amrica Central. Quanto Europa, muito embora o perodo transcorrido a 12.000 ou 15.000 anos j tivesse presenciado o nascimento da arte de Lascaux e de Altamira, admite-se que os aborgenes teriam sido incapazes de construir um muro ou um monumento qualquer. Teria sido, entretanto, possvel proceder a certas aproximaes, como as apresentadas no quadro a seguir. Chegou-se mesmo a perguntar, de incio, se os espanhis no haviam construdo fortificaes e cais em Bimini, Andros e outras ilhas das Baamas. Ou, na pior das hipteses, os indgenas pr-hispnicos. Porm, no que diz respeito aos espanhis, a histria o teria

registrado. Quanto aos indgenas Arawacs e Tainos imigrados essas construes lhes teriam sido inteiramente inteis e eles s fabricavam cabanas de madeira. De modo que os construtores de Bimini teriam de ser forosamente desconhecidos, fora de todos os esquemas histricos admitidos. Desconhecidos que seria melhor sufocar ainda dentro da casca do ovo. Foi assim que teve incio, em maro de 1971, uma das ltimas guerrinhas da arqueologia: a guerra das estruturas rochosas das Baamas. Localizao Observaes sobre a idade das estruturas Ilhas Baamas Muros ciclpicos. Desconhecidos O plat foi invadido pelas guas (Sobretudo North Construes a seco h pelo menos 5.000 a 8.000 anos. Bimini) sobre um plat Idade da construo, isto , das depois invadido estruturas construdas seco": pelas guas 8.000 a 12.000 anos. ocenicas em mar crescente. Marcas presumveis de instrumentos no interior das estruturas. Muros livres de vida marinha. Construes utilizando pedras de ngulos retos e juntas de cimento. Cuilcuilco Pirmide de Desconhecidos. Idade discutvel mas a lgica exige (Mxico). Pedregal recoberta Antepassados aproximadamente 7.000-8.000 de lava de uma dos Nahuas anos. erupo vulcnica. (pouco Idade da pirmide: provvel) ou 3 000 a 4 000 anos, dos pr"no mximo". olmecas* Idade da erupo: (possvel). de 8.000 a 12.000 anos, pelo menos... Pedras (Rio Curiosas inscries Desconhecidos. 10.000-12.000 anos. Utama). parietais. Pedra Pintada Inscries, dlmen, Desconhecidos. 6 000-12 000 anos. (Guiana corredores, infra- Homens brasileira). estruturas de pedra. parecendo do tipo "CroMagnon" Malta (Halsafieni). Construo do Desconhecidos. 6.000 anos ou mais. hipogeu. Homens de tipo mediterrneo. Caractersticas Construtores

*[Recentemente, graas a uma datao feita por meio do rdiocarbono, P. R. Romero chegou concluso de que esses vestgios, que ele considera olmecas, tinham 10.000 anos de idade.] HARRISSON VAI GUERRA Foi uma verdadeira "decepo para os amantes do maravilhoso" o artigo publicado a 9 de abril de 1971 por um jornal francs, reputado pela sua seriedade, e que afirmava: "Os muros submarinos das Baamas so obra da natureza". Ficava ali demonstrado, com referncia no menos sria revista inglesa Nature e a um "estudo" de um certo senhor Harrisson, que os exames feitos in loco e as anlises de laboratrio estabeleciam de maneira irrefutvel o carter realmente natural daquelas formaes. Citemos: "Os blocos so todos constitudos de calcrio grosseiro, assentados sobre uma camada de calcrio mais denso e mais fino... De uma para outra, em todo caso, tudo combina: a disposio dos estratos e a morfologia superficial..." Explicam-nos at "como se formaram aqueles blocos". O cascalho proveniente da triturao grosseira das conchas de moluscos que se teria depositado nas guas ento muito baixas. Mais tarde, por ocasio do pleistoceno, o recuo do mar teria deixado aquelas formaes entregues s guas doces do solo, e o material grosseiro teria sido apanhado "num cimento" submetido a consecutivas fissuras (diaclases) perpendiculares... Rebaixamento lento das costas, ressaca marinha, vagas impetuosas e animais marinhos perfuradores aumentando as fraturas (sic)... e l esto os blocos que parecem realmente modelados e ali depositados pela mo do homem! Como derradeira descarga desta barragem de artilharia pesada, um sinal de comiserao para com os partidrios da artificialidade. "Quanto ao engano, escreve Harrisson, tanto mais compreensvel por serem submarinas as formaes, fica ele explicado pelo fato de terem sido feitas as primeiras observaes por indivduos indiscutivelmente de boa f, mas que no so gelogos." Infelizmente para ele, ao pretender defender a cronologia histrica que no poderia localizar Bimini em parte alguma sem se trair, Harrisson se descuidou de maneira por demais manifesta da cronologia da descoberta. Examinemos portanto as datas, em seu lugar. Concebido durante o vero de 1970, "Atlantis Undiscovered Bimini, Baamas" o artigo de W. Harrisson, do Environmental Research Associates Inc., de Ashley Drive (Virgnia), chegou redao da revista Nature a 22 de outubro de 1970. De modo que Harrisson, ele prprio especialista em questes do ambiente, enuncia julgamentos definitivos seis meses antes da publicao do estudo de gelogos, perfeitamente qualificados, que vem na estrutura de Bimini um "enigma geolgico"... Longe de representar o Waterloo do muro das Baamas, o artigo de Nature contribuiu para um incio de esclarecimento das coisas, impondo novas investigaes. Foi ento que se comprovou que o muro inicial de 1970 fazia parte de uma gigantesca estrutura retangular, uma espcie de construo porturia cujo molhe, recurvado e enfrentando o Gulf Stream, tinha mais de 600 metros de comprimento. Ainda mais: o exame desse molhe confirmou no somente os pormenores de localizao dos blocos, das pedras angulares dispostas em esquadria e seu alinhamento perfeito, como tambm o fato de que a disposio das fileiras de blocos simples inclui-se num modo de construo que a natureza de maneira alguma pode imitar, a construo sobre pilastras. As exploraes empreendidas em maio de 1971 e levadas adiante a partir de ento, mostraram a posio exata das lajes gigantescas sustentadas pelas pilastras, e cuja superfcie

inferior rigorosamente paralela superfcie superior... Esse modo de construo sobre pilastras lembra at certo ponto o dos molhes dos antigos portos mediterrneos, construdos pelos fencios. Acrescentemos tambm, sem nenhuma inteno de tocar num ponto sensvel, que se examinarmos a bibliografia do artigo de W. Harrisson, verificaremos que, alm das duas citaes de artigos a respeito da geologia e da paleontologia datados de quatorze e quinze anos atrs, e de duas referncias aos autores da descoberta (Valentine e Rebikoff), ela nos remete a obras sobre a Atlntida de Ferro, Berlitz, etc. O espao vazio entre as pilastras servia de quebra-mar. O molhe do porto de Biblos desse tipo. O exame cuidadoso da disposio geral da estrutura de Bimini onde possvel que a passagem coberta chegue at o muro propriamente dito, espcie de molhe, e ao terrao construdo maneira megaltica permite identificar a diferena muito marcada entre o natural e o artificial. O ridculo daqueles que atribuem a forma de certos pormenores atividade incessante dos animais marinhos torna-se, com isto, ainda mais manifesto. Em dezembro de 1971, Pierre de Latil escreveu aps uma viagem queles locais: "Ns ali compreendemos o que vramos claramente no filme apresentado em Paris, isto , que os blocos no assentam diretamente no fundo e sim sobre quatro pedras formando pilares... E isto, com efeito, o mais importante: o fundo arenoso continua por baixo dos blocos, inclusive com suas ripple marks. Sob o teto de rocha plana, v-se a luz do outro lado. Os "pilares" por vezes se apresentam recobertos de uma crosta, mas so sempre quatro... Essa crosta, cuja espessura de dois a trs centmetros, devida a um depsito de esponjas calcrias, dissimula, indiscutivelmente, at certo ponto, a forma puramente geomtrica dos blocos, que sem ela surgiria de maneira muito mais evidente. E conclui Pierre Latil: "Afinal de contas, quando se esteve in loco, torna-se difcil dar crdito aos argumentos do gelogo Harrisson, de acordo com o qual se veriam, dos lados dos blocos, camadas sedimentares que se reproduziriam em todos os blocos. Essas estratificaes, se existissem, estariam totalmente recobertas. Da mesma forma, John Gifford, ex-aluno da School of Marine and Atmospheric Sciences da Universidade de Miami, e que dedicou sua tese s formaes de Bimini, observou nos materiais colhidos nos blocos vizinhos uma ntida diferenciao entre as camadas, que no correspondiam umas s outras de um bloco para outro.

O carter artificial das estruturas , portanto, por demais manifesto para ser contestado e, embora seja ainda muito cedo para se reconstituir o porqu e o como das coisas, sempre possvel tentar, mediante um jogo de esprito, sair em busca dos construtores. Para isto, convm em primeiro lugar interrogar-se a respeito da maneira segundo a qual essas terras puderam se ver submersas. Nesse ponto, somente a geologia nos pode ajudar. A HABITAO INVADIDA PELAS GUAS Apparent rari nantes in gurgite vasto. VIRGLIO, Eneida, I, 118. A regio de Bimini pertence ao plat pr-continental das Baarnas. Esta plataforma antiqssima fazia outrora parte de um estreito no man's land, cuja largura era de apenas algumas centenas de quilmetros, separando a terra americana que se tornar a Flrida, do corpo propriamente dito da frica. Isto, muito antes que o lento bal dos continentes conferisse ao globo a sua fisionomia atual. Desde ento, transcorreram longas pocas geolgicas, calculveis em centenas de milhes de anos. H 25 000 ou 30 000 anos, num mundo que no diferia acentuadamente daquele que hoje conhecemos, as Baamas se encontravam encravadas num grande plat continental de vrias centenas de quilmetros. De Bimini, podia-se ir ento sem molhar os ps at Exuma Island, e o litoral oriental da ilha de Andros cercava um vasto golfo interior que se abria para o Norte, verdadeiro paraso de guas clidas onde imperava a mais fantstica vegetao tropical. Os gelos polares, ao se derreterem, modificaram progressivamente o aspecto desse plat submerso milmetro por milmetro. As curvas de nvel, a vegetao soterrada, as formaes geolgicas das guas doces tornam possvel reconstituir o que foi cada uma das etapas dessa lenta imerso. Sabemos assim que o nvel atual de - 20 metros estava ao nvel da gua h 9.000 a 15.000

anos; que o de - 8 a - 15 metros correspondia ao da gua h 6.000 ou 7.000 anos, e o de - 5 a - 8 metros, h 5.000 anos. preciso admitir que o plat tenha sido habitado 10.000 a 15.000 anos antes de Cristo. O povoamento da vizinha Amrica, data de pelo menos 80.000 anos atrs, como ficou indiretamente demonstrado pelas descobertas feitas na Califrnia por Leakey em 1970 e 1971. Aquele ltimo clculo torna perfeitamente aceitvel o primeiro. Por conseguinte, o afundamento das Baamas teria sido testemunhado, pelo menos no incio, pelos homens que viviam naquela terra frtil, onde abundavam as plantas teis e os animais, e em cujas guas pululavam os peixes. Seja como for, h pelo menos 8.000 anos, a submerso das terras deve ter sido claramente percebida pelos seus habitantes. A eles se deve ter ento proposto o problema da evacuao tambm ela progressiva das "terras baixas", mais diretamente ameaadas. A retirada deve ter-se efetuado a princpio em direo s terras interiores, mais altas, intervindo mais tarde a evacuao definitiva. De acordo com essa hiptese, possvel imaginar que h cerca de 3.000 ou 5.000 anos ainda podiam ser vistas naqueles lugares runas em processo de submerso. No perodo final o que vai do ano 1.000 at nossos dias encontram-se entre as terras que foram poupadas, zonas de guas baixas, no navegveis, que valeram ao arquiplago o seu nome espanhol de Baha Mar, transformado em Baamas. a esta situao que se devem igualmente certas tradies locais sobre runas submersas. preciso entretanto propor duas perguntas. A primeira refere-se a quem foram os construtores dessas estranhas estruturas, contemporneas das pinturas de Lascaux e de Altamira, na Europa? Ou seja, de uma poca em que a Amrica ainda no havia sido inteiramente povoada pelos asiticos que para l foram atravessando o estreito de Behring e pelos polinsios levados pelas correntes do Pacfico. A segunda pergunta diz respeito ao destino que eles tomaram depois de abandonar seus lugares de origem? Parece-nos que um simples exame crtico do mapa do oceano Atlntico ser suficiente para nos fornecer respostas corretas. ARRASTADOS PELO GULP STREAM E PELA CORRENTE DAS CARABAS Logicamente falando, os construtores de Bimini e das outras estruturas arquitetnicas espalhadas nos recncavos das Baamas no podem deixar de pertencer a um antiqssimo povo de marinheiros que viviam do mar e possuam uma cultura pr-megaltica. Justifica-se a idia de que esses homens, ao abandonarem suas "habitaes" que eram efetivamente "paradisacas", devem ter-se deixado levar pelas guas tpidas do Gulf Stream a fim de atravessar o Atlntico de oeste para leste. Pode-se imaginar que eles depois se estabeleceram onde terminava o percurso da corrente, isto , nas ilhas atlnticas situadas a Leste do oceano, as Canrias e os Aores, nas costas da Irlanda, da Inglaterra, da Bretanha, assim como, a Noroeste da Pennsula Ibrica. Mas tambm nas oradas, nas ilhas Shetland, nas costas orientais do mar do Norte depois de atravessar a Mancha, naquele tempo muito mais estreita, ou descendo entre a Esccia e a Noruega. Do outro lado das Baamas, em direo ao Sul e a Oeste, esperavam-nos as costas da Flrida, as grandes ilhas das Antilhas, as costas do Yucatan e de Honduras, as do istmo do Panam e do Norte da Amrica do Sul, at a foz do Amazonas... Chegando, em pequenos grupos, a paragens desconhecidas, esses homens para l levaram necessariamente a sua concepo do mundo, suas idias mestras, seus conhecimentos e suas tcnicas.

O HOMEM FSSIL DA FLRIDA Nesta altura, somos obrigados a nos desviar e lembrar que, de acordo com os ltimos dados das pesquisas antropolgicas, a Flrida e suas costas j eram habitadas naquela poca. Dispomos atualmente de informaes seguras e, sob muitos aspectos, sensacionais, a respeito do homem que l vivia. Foram encontrados no apenas os seus ossos, seu crnio (vrios exemplares) ligeiramente alongado e acusando um prognatismo bastante pronunciado, de ndice ceflico superior a 74, mas tambm o seu crebro intacto. Esse homem da Flrida viveu provavelmente h cerca de 10.000 anos, nas paragens de Warm Mineral Springs. Um afortunado processo de conservao, devido s mineralizaes das camadas de sedimentos que o protegiam, permitiu que se descobrisse o crebro no interior de sua caixa craniana. A seu lado, havia utenslios de pedra. Quanto a ele, o que estaria procurando em companhia de alguns de seus semelhantes no ponto em que foi encontrado? Os benefcios das guas milagrosas da Flrida? Acrescentemos que alm das habituais facas de slex e das agulhas de osso semelhantes aos artefatos descobertos em 1959 por Lewis e Kenberg em Eva (Tennessee), o homem de Warm Mineral Springs tambm possua utenslios cortantes feitos de dentes de tubaro fsseis. Este ltimo fato um argumento bastante poderoso em favor de suas atividades de pescador e marinheiro. Observe-se ainda que a descoberta da Flrida no foi a primeira desta natureza. Em 1857, 1902 e 1911, Rivero no Peru, e Smith no Egito descobriram mmias em cujos crnios ainda existiam fragmentos de crebro. Idntica descoberta, de um crebro romano, deve-se ao americano Oakley, em 1960. A presena daquele marinheiro-pescador na Flrida, os restos dos homens que habitaram as grutas de pedra calcria da regio demonstram pelo menos que na poca em que foram construdas as estruturas hoje encontradas, aquelas paragens eram de h muito habitadas. Quanto natureza dos homens que povoavam o plat das Baamas, lcito perguntar se entre eles no se contavam alguns agrupamentos de Homo Sapiens, do tipo do homem de Cro-Magnon. Neste caso, esse plat depois submerso pelas guas que teria presenciado sua infncia, os seus primeiros desenvolvimentos. A partir dali que se teriam irradiado esses antepassados, implantando em toda parte, pelo mundo afora, a cultura dos megalitos, sendo mais que provvel a sua ligao com os cromagnonides. Examinemos, entretanto, mais de perto os argumentos susceptveis de fortalecer nossa hiptese. a) Para admitir que o Gulf Stream pde servir de veculo entre a Amrica e o Velho Mundo, mister que nas costas americanas estejam as construes mais antigas e que os seus habitantes tenham sabido navegar. Antes de terem sido encontradas essas construes, no teria sido possvel deixar nada disso estabelecido. Ora, ns sabemos que, desde o dcimo milnio antes de nossa era, as condies climticas e a situao geogrfica (nvel mais baixo dos mares) eram suficientes para tornar possvel uma navegao desta natureza. Quanto aos meios de transporte, eles j eram bem conhecidos. O Homo Sapiens do aurinhacense e do solutreano ( 40.000 a 18.000 e 18.000 a 15.000) j se valia habitualmente da jangada. O do magdaleniano ( 15.000 a 10.000) conhecia a piroga monxila, escavada num tronco de rvore. Vamos ouvir portanto o historiador alemo Paul Hermann: "...Os indcios que permitem concluir pela existncia de relaes antigas entre os dois mundos constituem um conjunto compacto de caracteres muito variados. At mesmo essa diversidade, o fato de serem inteiramente independentes uns dos outros, e de se prenderem a regies e atividades

humanas muito diferentes, tornam verossmil que exista neles um fundo de verdade. Foi este o ponto de vista adotado, em conjunto, pelos sbios especializados. Com algumas poucas excees,- esto eles convencidos de terem existido essas relaes, e de que elas so inteiramente provveis." Alis, a prpria histria nos fornece um ensinamento do mais alto valor sobre a poca extremamente recuada das primeiras navegaes que enfrentaram mar alto com o auxlio das estrelas, das correntes e dos ventos de estaes. Trata-se da espantosa aventura do Cauri, concha utilizada como moeda at recentemente na ndia e no Senegal. Conheceram-no inmeras civilizaes antigas, visto ser ele encontrado na China, na frica negra e berbere, na Amrica, em quase toda a Oceania e at na Frana, onde foi descoberto ao lado de restos humanos com cerca de 30.000 anos de idade, na gruta de Grimaldi. Utilizavam-no de diversas maneiras. Importante pea de adorno das esttuas, mscaras e trajes, tambm smbolo da feminilidade em mosaicos e bronzes hindus e chineses, assim como na Oceania e na frica. At a, tudo normal, podero dizer. Acontece porm que o Cauri originrio de uma regio perfeitamente determinada do oceano ndico e apenas dessa regio: as ilhas Maldivas. b) A existncia , ainda mais, a disperso pelo mundo dos homens que foram obrigados a abandonar o plat das Baamas que estavam submergindo, podem ser relacionadas com o destino final do homem de Cro-Magnon e com seu relacionamento com os primeiros construtores de megalitos. Representante na Europa, ao lado do grimaldiano negride de porte mediano e do chanceladiano semelhante a um esquim, do homem de tipo Homo Sapiens que apareceu no decorrer da ltima glaciao, o homem de Cro-Magnon, idealizado por alguns exegetas sob os traos de um grande ancio branco (de 1,80 m a 1,94 m), inteligente e forte, tambm conserva alguns de seus enigmas, entre os quais, o menos importante no o de seu lugar de origem. "Clarim a tocar a ria da Arte com A maisculo", como o designa num momento qualquer Jacques Brosse, esse ancio do incio dos tempos do homem, gro-mestre do ritual da tinta vermelha com a qual besuntava seu corpo, nos deixou indcios de uma rea de difuso susceptvel de ser identificada graas a vestgios tpicos, mas deixou tambm as marcas de seu foco central, original. Os seus vestgios podem ser encontrados na Europa Central e do Sudoeste at os Aores e as Canrias (constituindo estas ltimas uma etapa importante nas migraes daqueles homens), e da, passando pelo norte da frica, at os tmulos egpcios prdinsticos e Oriente Mdio. A seu respeito, especifica Raymond Lantier: "Remanescentes dos Cro-Magnon na Espanha, no Sul da Frana, na frica do Norte, nas Canrias, comprovam a importncia desses grupos no povoamento dessas regies, at os nossos dias." Encontram-se assim restos de homens de tipo idntico ao do Homo Sapiens desde a ilha de Heligoland at Hoggar, da Grande Canria ao Nilo e mesmo em alguns lugares da Amrica Central e da Amrica do Sul. Por volta de 1950, o explorador Homet descobriu ao norte do Amazonas, sepulturas com urnas duplas contendo esqueletos banhados em ocre vermelho entre os quais crnios revelando uma acentuada dolicocefalia, um ndice ceflico superior a 75-76 e estatura correspondente a um porte de 1,85 a 1,95 m. Aponta-se ainda presena desses homens no antigo jazigo humano de Lagoa Santa, no Brasil. Prximos do homem de Eyzies, espcime extremamente arcaico enterrado numa massa de ocre vermelho, eles pertencem a uma raa que no veio luz em solo europeu. As teorias referentes origem do homem de Cro-Magnon so inferiores, em nmero e em qualidade, s que tratam de seu aspecto em particular. H alguns anos, Madeleine Rousseau resumiu estas ltimas nos seguintes termos: "Diante de tantas contradies e

incertezas, o leigo tem o direito de propor aos especialistas uma pergunta. O Cro-Magnon, apresentado por vezes como primeiro espcime da magnfica raa branca com grande capacidade craniana, seria branco, negro, como admitia Negri em 1895, ou apenas um negro claro de tipo Hotentote-bochimano? Ter ele sido o autor das estatuetas da deusa me, ou foram estas a primeira manifestao do aurignaciano que viveu cerca de 25.000 anos antes?" (Le Muse vivant, 1953, pp. 135-136). Mas por que esse homem seria negride ou quantas proposies estranhas somos por vezes levados a elaborar para defender nossas idias! um "branco com pele negra"? Admitindo-se, com efeito, que era branco, continua-se sem saber de onde faz-lo vir sem correr o risco de cometer erros. por isto que por vezes o do como vindo da sia onde teria embranquecido num meio favorvel (frio gelos, etc.)... As pesquisas dos sbios, particularmente as do professor R. Verneau, chamam a ateno para a presena macia de homens do tipo Cro-Magnon purssimo na ilha da Grande Canria, do arquiplago das Afortunadas. Seria preciso situar o seu primeiro bero num lugar qualquer, nas proximidades dessas ilhas. Alis, o seu aparente isolamento fornece um incio de explicao dirigida para a Europa. Esses homens que foram necessariamente os primeiros ocupantes dessas terras e por conseguinte os primeiros ancestrais dos Guanches das Canrias talvez sejam originrios da Dordogne. Os da Dordogne ter-seiam ento desenvolvido a partir de agrupamentos humanos vindos das regies dos gelos setentrionais. Eles mesmos... Pode-se continuar. Mas, como estabelecer essa migrao da Dordogne para a frica passando pela Espanha e de l para as ilhas Afortunadas? Ausncia de vestgios nas terras "atravessadas", povoamento cromagnonide dos Aores regio excntrica relativamente suposta rota simples lgica enfim, tudo acaba invalidando essa teoria que no nos fornece, alis, nenhum esclarecimento quanto ao primeiro bero desses gigantes da pr-histria. Talvez esse ponto de partida possa situar-se espontaneamente desde que se pense no papel de placa giratria desempenhado pelo plat das Baamas quando era ainda suficientemente grande para alimentar e fazer com que uma raa desabrochasse. c) A origem daquilo a que mais tarde se deu o nome de "civilizao dos megalitos" tambm continua obscura. No se lhe conhece nem ponto de irradiao, nem origem definida. Em parte alguma da Europa Ocidental ou Setentrional, nem nas regies mediterrneas onde existem megalitos, foi possvel descobrir o seu centro inicial ou sua "capital". No obstante, a especificidade do sistema de construo empregado impede que se atribua aos dlmens, cromlechs e menires disseminados numa rea geogrfica muito importante, origens puramente locais, fruto da inveno regional ou simples jogo de coincidncias histricas. Alm disso, esta civilizao parece ter-se desenvolvido em toda parte a partir do mar em direo ao interior das terras, conservando-se no obstante martima e at mesmo estritamente litornea. Fica com isto confirmada a origem exterior da concepo megaltica a irradiar-se a partir de um centro ainda desconhecido. Desconhecido, salvo se se admitir a existncia de uma populao nas Baamas na poca pr-megaltica. d) Argumento final, a existncia no local nas Antilhas e na Amrica de lendas prcolombianas relacionadas com o paraso terrestre ou, mais freqentemente, com uma Fonte de Juventude. Essas lendas foram amplamente comunicadas pelos indgenas aos primeiros navegadores espanhis. Ora, a regio a que dizem respeito essas tradies abrange precisamente a Flrida e as Baamas. Finalmente, as regies em que no Velho Mundo essas

lendas so encontradas sob suas formas mais puras so igualmente notveis pela abundncia de megalitos. o que acontece particularmente com o Oriente mediterrneo sobretudo Canaan o Imen, o litoral ocidental da ndia, Ceilo, o Senegal, o monte Atlas, etc. Alm disso, quase todos os povos que surgiram aps a construo dos megalitos e viveram naquelas paragens, incluram entre as suas tradies lendas que afirmavam a existncia de ilhas ou de uma ilha dos bem-aventurados, ou da felicidade, situada a Oeste do grande oceano.

Finalmente, uma das maiores lendas da mitologia o mito de Osris se refere da maneira mais explcita possvel, se no a este enxamear de essncia civilizadora, pelo menos quela primeira ptria abandonada da qual se lembravam como de um verdadeiro paraso terrestre. O MITO DE OSRIS E O "LIVRO DOS MORTOS Salve, estrelas da Anca Vs que brilhais no cu boreal Em meio ao grande lago... Livro dos Mortos (cap. XCVIII). UM MITO QUE ATRAVESSA OS TEMPOS a Plutarco que devemos o conhecimento do nico grande mito da antiga cultura do vale do Nilo que chegou a ntegra at ns. Na ocasio em que foi transcrito por Plutarco, esse mito j havia atravessado com xito vrias daquelas revolues religiosas peculiares histria do Egito antigo. Foi provavelmente o esprito democrtico desse dogma, que "garantia" a todos os fiis a sua imortalidade futura independentemente de sua categoria social, que tornou possvel a sua sobrevivncia. V-se geralmente no mito de Osris ou, melhor dizendo, na aventura terrestre e celeste da famlia do deus sua mulher, sis, e seu filho, Hrus uma tradio relacionada com dados religiosos. Os exegetas e comentadores sempre ali encontraram tudo que quiseram, desde a noo do deus iniciador at a luta das foras da natureza, do culto

dos mortos ao da fecundidade, e da concepo do crime a clamar por vingana do mais generoso dos perdes. Embora a religio egpcia tenha sido menos a expresso de um dogma que um conjunto de prticas rituais, o contedo filosfico do mito de Osris prestase melhor anlise que a srie de acontecimentos de ordem humana que acompanham a sua trajetria. Lembremos, entretanto, rapidamente, o que est em pauta. Conta o mito o conflito que contrape Osris filho de Geb (a Terra), rei do universo e esposo de sua prpria irm, sis a seu irmo, Set, que os invejava. Sem de nada desconfiar, Osris aceita participar de um banquete oferecido por Set e seguido de um estranho concurso que no passar de uma armadilha. Set oferece quele dentre os seus convivas que conseguir preench-lo, nele se introduzindo, um cofre magnfico. Chega a vez de Osris. Assim que o deus se introduz no cofre, seu irmo lana mo dele, fecha-lhe a tampa e atira tudo na gua. sis, em prantos, encontra o cofre na Fencia. Ela o traz de volta para o Egito e o oculta num pntano. Mas Set torna a encontr-lo e para acabar com Osris de uma vez por todas, retira o cadver e o corta em pedaos. Com a ajuda do deus Chacal, sis reconstitui o puzzle macabro e mumifica o seu esposo. No segundo ato, Hrus vinga seu pai atacando Set, ferindo-o e aprisionando-o, e depois levando-o presena de sua me. sis perdoa e Osris chega ao reino dos mortos para oferecer a coroa a seu filho. Mas nesta histria no existe apenas amor e inveja, vingana e perdo: h tambm geografia. Os autores modernos s vem na Fencia onde se encontrava o cofre, e no pntano egpcio onde o oculta sis, dois stios andinos, indispensveis economia espacial e temporal da narrativa. Quanto a ns, vamos dar nfase posio geogrfica do reino dos mortos. Para os antigos egpcios, habitantes do vale do Nilo, esse reino dos mortos localizava-se num ponto qualquer a Oeste. Imaginrio ou no, para todos os povos da Antigidade clssica, o Oeste a terra mais distante. O PARASO DO "LIVRO DOS MORTOS Esse Oeste lendrio est sempre ligado idia de um perdido paraso terrestre que se procura recuperar no alm. As alegrias prometidas por esse alm so as que deviam ser oferecidas por aquela terra abandonada. Essa idia reflete ao mesmo tempo a convico dos egpcios de terem uma origem alheia ao seu prprio pas. assim que no captulo XXXII do Livro dos Mortos, Osris se exprime nos seguintes termos: O antigo Deus, o grande.../ Colocou em meu poder o pas dos Mortos, / A bela Amenti / Mais adiante (cap. LXII), na invocao que todo candidato ao paraso deve pronunciar, Osris torna a especificar: Pois meu nome o que penetra vitorioso; Que o domnio das guas me seja confiado Pois eu j possuo o dos membros de Set! Eis que atravesso o cu, Sou o deus com cabea de leo e sou R; Sou o deus Smam; dentro de mim Resplandece a constelao de Khpesh Agora percorrendo os lados e caminhos Dos campos dos bem-aventurados Tomo posse de minha herana celeste!

No cu ou na terra distino difcil de ser estabelecida em virtude do importante papel do sobrenatural na interpretao do cotidiano e dos indecisos limites entre o real e o fantstico no pensamento dos antigos egpcios a "bela Amenti" era uma regio situada a oeste, cheia de lagos e veredas, correspondendo no somente aos Campos dos bem-aventurados como tambm a outras divises bastante particulares, e que a tradio transmitia como uma herana s geraes futuras. Domnio do alm, a Amenti compreende com efeito duas regies: Sekht-Hotep os Campos da paz divina e Sekht-Ianru os Campos de juncos. Posteriormente, elas foram tambm denominadas Campos da paz e Campos dos bem-aventurados. Amenti conta, alm disso, com uma capital, a cidade de Sekhem, onde se encontra um santurio o altar divino de Osris. No mito, Osris aparece sob o aspecto do homem csmico decado, paralisado, aprisionado, cujo corpo material entregue s foras do mal. Corresponde assim, estranhamente, ao primeiro homem dos gnsticos, confundindo-se aproximadamente com o Ado Kadmon da Cabala, considerado como protagonista da tragdia csmica inicial. Prefigurao de Cristo, sua aventura, semidivina e semi-humana, como que um mito cristo s avessas, visto ser aqui o pai quem se sacrifica e o filho quem "restabelece" as coisas em sua condio primitiva. Sempre de acordo com a lenda, a cidade de Sekhem teve um destino trgico. Aps ter servido de palco para as lutas travadas por Hrus para vingar seu pai, ela foi destruda ... "durante a terrvel noite das tempestades e das inundaes (Livro dos Mortos, cap. LVIII). Consideremos porm essas duas regies os Campos da paz e os Campos dos bem-aventurados vistas do Egito. O mundo do "alm" portanto assolado por uma tempestade e por inundaes. A tempestade que de acordo com alguns textos tambm pode ter sido de fogo fere sobretudo os Campos da paz, enquanto os Campos dos bemaventurados so, por sua vez, vtimas de inundaes, operao mais lenta. A Amenti antes de tudo a "morada" de Osris ("Em verdade, eu sou Osris e moro na Amenti" cap. VIII), mas tambm a regio dos canais e das correntes pois o prprio deus "o senhor das guas, do ar, dos canais, dos rios" (cap. LXVIII). l finalmente que o sol se pe. Quanto aos Campos dos bem-aventurados, sua descrio ainda mais rica de pormenores naturais. Os textos se referem aos caminhos que ali se encontram, mas tambm abundncia de vias aquticas e de circulao: vs que navegais entre os Campos dos bem-aventurados Sabei que as oferendas que me so destinadas Me devem ser trazidas ao longo deste canal... (Cap. CVI.) Uma invocao chega at a pedir: Que sua morada seja no meio dos Campos dos bem-aventurados Que ela possa usufruir das guas correntes dos Campos da paz (Cap. CLXXXVIII.) Por outro lado, o texto reconhece na Amenti o "portal do cu setentrional", chegando at a iniciar uma descrio puramente geogrfica: Eu te conheo, Tua parte meridional se encontra na terra de Kharu, Tua parte setentrional formada pelo canal Ersa Na verdade, eu os conheo, os Campos dos bem-aventurados Esse patrimnio de