A Arte Do Engano Barbara Dunlop

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    A Arte do EnganoSeduction And The CeoBarbara Dunlop

     Os Ryder 1/3

    Alto, charmoso e determinado!Ganhar dinheiro era fácil para o milionário Jared Ryder. Apesar de ter um estilo devida caótico, ele ia para seu rancho em Montana sempre que possível. Lá, uma nova ajudante o fez pensar em unir negócios e prazer. Melissa Warner certamente não tinha muitas habilidades para trabalhar em um rancho. Mas sua beleza era cativante demais para ser ignorada, e Jared estava pronto para respeitar os direitos dela. No entanto, mesmo no calor da paixão, ele suspeitava de que Melissa tinha um segredo. E que os céus a ajudassem se ele descobrisse que ela estava mentindo, pois não havianada mais perigoso do que a vingança de um Ryder!

     

    Querida leitora,O jogo favorito de Jared Ryder era aquele em que pu¬desse sempre sair vencedor. Por isso, decidiu que Melissa Warner, a nova funcionária de seu rancho, estava destina-da a ser sua amante. Ela, porém, guardava um segredo. Era uma repórter em busca de um furo jornalístico. Agora, embora estivesse apaixonada por Jared, o faro delenão o enganava: ela tinha um mistério, e ele ira desvendá-lo a qualquer custo!Equipe Editorial Harlequin Books

    Tradução Wilma FernandesHARLEQUINB O O K S

    2011

    PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.Título original: SEDUCTION AND THE CEOCopyright @ 2010 by Barbara DunlopOriginalmente publicado em 2010 por Silhouette DesireArte-fmal de capa: núcleo i designers associados

    Editoração Eletrônica:ABREITS SYSTEMTel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037Impressão:RR DONNELLEYTel.: (55 XX 11) 2148-3500www.rrdonnelley.com.brDistribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil:Fernando Chinaglia Distribuidora S/ARua Teodoro da Silva, 907Grajaú, Rio de Janeiro, RJ Ð 20563-900Para solicitar edições antigas, entre em contato com oDISK BANCAS: (55 XX 11)2195-3186/2195-3185/2195-3182

    Editora HR Ltda.Rua Argentina, 171,4° andarSão Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ Ð 20921-380

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    Correspondência para:Caixa Postal 8516Rio de Janeiro, RJ Ð 20220-971Aos cuidados de Virgínia [email protected] 

    CAPÍTULO UM

    O jornalista Brandon Langard, favorito para receber a promoção para colunista oficial da Windy City Buzz, ha¬via falhado na tentativa de conseguir uma entrevista comJared Ryder.Melissa Warner, assim como o restante dos funcioná¬rios que trabalhavam no sexto andar do prédio onde fun¬cionava a famosa revista, assistiam com mórbido fascínio à explosãonervos do editor-geral.A sala dele estava com a porta trancada, mas através da janela envidraçada era possível perceber que Seth Strickland estava gritando, a se deduzir pelas faces coradas

     de raiva e pelos olhos faiscando com fúria.Brandon permanecia cabisbaixo e os ombros encolhidos.Ð Nós até já havíamos diagramado a capa da revis¬ta Ð revelou num sussurro a diretora do dtamento fotográfico, Susan Alaric, através da divisória baixa que separava a mesa dela da de Melissa.Ð Isso porque Brandon jurou que a entrevista seria uma barbada Ð falou Melissa recordando a arrogância com que ele anunciara, na semana anterior, a facilidade que seria conseguir o cargo de colunista oficial com aque¬la entrevista.Ð A arrogância de Brandon não é surpresa para nin¬guém Ð opinou Susan. Ð Mas eu tinha cert que ele conseguiria o cargo.Melissa concordou com um gesto de cabeça. Tinha de admitir que, apesar de Brandonter um comportamento ar¬rogante e atrevido, também era um dos melhores e mais dedicados jornalistas da Buzz. E todos acreditavam que ele seria o mais apto a consegu

    ir a promoção para colu¬nista oficial após escrever um artigo com o esquivo e mais famoso empresário de Chicago, que havia feito fortuna no mercado imobiliário. O público feminino aguardava ansioso pela publicação da revista que revelaria aspectos da vida de Jared Ryder, o milionário solteirão mais cobiçado do momento.Seth gesticulava com os braços no ar e, por um instante, o som de algumas palavras ditas em voz alta conseguiram ultrapassar os limites da porta do gabinete do editor-geral.Ð Você não passa de um presunçoso incompetente...Ð Uau! Ð Susan exclamou. Ð Eu não queria estar na pele de Brandon!Melissa quase chegou a sentir pena de Brandon, po¬rém não conseguia perdoá-lo por tê-la espionado na con¬versa que tivera com a líder do grupo Women in Business Organization, no mês anterior, e depois ter apresentado um artigo que retratava a conversa dela, na qual se intitulou o autor da reportagem. Ele se aproveitara da idéia dela e quem sabe agora não fosse o momento de Melissa fazer o mesmo com ele? Seria benfeito para Brandon se ela conseguisse fazer a reportagem em que ele falhou. E por que não? Seth precisava da entrevista com Jared Ryder, e Melissa daria um braço para conseguir aquela promoção.Naquele instante, Brandon abriu a porta do gabinete do editor-geral e Melissa decidiu aproveitar a chance. Ergueu-se da poltrona giratória que ocupava em frente da sua escrivaninha e alisou a saia com as mãos.Susan a olhou intrigada, mas logo deduziu qual seria a intenção da colega.Ð Isso mesmo! Tente assumir o lugar dele! Ð Susan a incentivou com um sorriso.Melissa sentiu o coração perder o compasso e engoliu a saliva para tomar coragem e não pensar nas conseqüên¬cias de um possível fracasso. Se ela assumisse a tarefa de entrevistar o empresário e não conseguisse sucesso, fica¬ria em situação pior do que a de Brandon

    .Determinada a vencer o medo, ela começou a cami¬nhar na direção da sala do editor, de onde Brandon saía com a cabeça baixa para evitar os olhares curiosos dos colegas, que

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    provavelmente também a estavam obser¬vando naquele exato momento e admirados por ela ter a coragem de enfrentar Seth antes que ele estivesse mais calmo.Após uma rápida batida na porta ainda entreaberta, Melissa chamou:Ð Seth?Ð O que foi? Ð ele berrou sem nem mesmo tirar os olhos da papelada espalhada sobre a superfície da mesa de trabalho.Melissa entrou e trancou a porta. Depois avançou al¬guns passos na direção do editor, qu

    e ainda mantinha as faces coradas e gotas de suor escorrendo das sobrancelhas grossas e escuras. A camisa branca amarrotada e as man¬gas dobradas na altura dos cotovelos. A gravata desatada agora representava duas tiras de seda divididas naslate¬rais do colarinho aberto que terminavam repousadas no abdômen protuberante.Ð Eu posso conseguir a entrevista Ð ela declarou de maneira direta e o olhar direcionado para um ponto qual¬quer da mesa, já que Seth nem mesmo erguia a cabeça.Ð Que entrevista?Ð Com Jared Ryder.Ð Não. Você não pode.Ð Eu posso Ð ela insistiu com a voz firme e confiante. Da mesma maneira como havia aprendido quando pre¬cisava encarar qualquer um dos seus cinco irmãos mais velhos. Ð Econseguirei. Qual é o prazo final para apre¬sentar a matéria?

    Ð Ryder saiu de Chicago hoje de manhã.Ð Não tem problema. Para onde ele foi? Seth ergueu os olhos, mas não respondeu.Ð Eu lhe garanto que conseguirei entrevistar Ryder.Ð Ele não recebeu Langard.Ð Eu não sou Langard.Ð Não, não é Ð Seth respondeu em um tom de quem a considerava bem menos competente do queBrandon Langard. Em seguida apanhou o telefone e digitou um número.Ð Pelo menos me dê uma chance! Ð ela tornou a in¬sistir. Ð O que você tem a perder?Ð O prazo Ð Seth respondeu de maneira sucinta.Ð Uma semana Ð Melissa suplicou. Ð Apenas uma semana e eu lhe dou minha palavra de que conseguirei a entrevista.Ð Everett está disponível? Ð Seth perguntou ao telefo¬ne. Ð Everett era o editor-executivoa pessoa que aprova¬va as manchetes e as capas.

    Ð Será que poderíamos ao menos discutir sobre o as¬sunto? Ð Melissa pressionou.Ð Não há nada a ser discutido. Ryder foi para o inte¬rior de Montana.Aquela informação surpreendeu Melissa.Ð O que Jared Ryder foi fazer lá? Com certeza não pre¬tende construir um arranha-céu no meio das montanhas...Ð Ele costuma se esconder em seu rancho em muitas ocasiões.Melissa não sabia que Ryder tinha um rancho em Monta¬na. Ela havia ouvido rumores de que ele já fora um caubói, mas também de que já havia sido um espião. A verdade era que tratava-se apenas de rumores, porque ninguém tinha acesso à vida particular do excêntrico milionário.Seth captou o olhar surpreso de Melissa e franziu as espessas sobrancelhas.Ð De que maneira pretende se aproximar de Ryder se nem mesmo sabia que ele tinha um rancho no interior de Montana?Ð Eu voarei para Montana.Ð Ele odeia a mídia. Principalmente a Buzz. Ele a ex¬pulsaria antes mesmo de... Ð A atençãde Seth foi des¬viada para o telefone. Ð Everett?Ð Eu tenho certeza de que posso conseguir a entrevis¬ta Ð Melissa garantiu, sentindo que sua grande chance estava a ponto de escapulir. Ð Eu posso ir até o rancho e entrar disfarçada.Seth prosseguia falando com Everett:Ð Aconteceu um problema com a entrevista de Jared Ryder. Teremos de substituir a matéria.Ð Por favor Ð suplicou Melissa, inclinando o corpo sobre a mesa. Ð Eu mesma posso pagar pela minha pas¬sagem no avião.Seth a olhou com censura, e ela tentou a última cartada:

    Ð Eu fui criada com cavalos e posso conseguir um trabalho no rancho.O editor cobriu o fone com a palma de uma das mãos e desabafou:Ð Você pensa que isso será fácil?

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    Ela assentiu com a cabeça e ele decidiu encerrar o as¬sunto:Ð Dê o fora daqui. Ð E tornando a falar com Everett determinou: Ð A entrevista com Cooper substituirá a de Ryder.Melissa comprimiu os lábios e decidiu desistir de argu¬mentar. Insistência era uma coisa, mas estupidez era algo muito diferente.Da mesma maneira como Brandon havia saído da sala minutos antes, Melissa também caminhou até sua mesa de cabeça baixa e evitando o olhar dos colegas.

    Ð Susan! Ð Seth abriu a porta do seu gabinete e cha¬mou com uma das mãos acenando no ar. Ð Venha até a mi¬nha sala. Preciso que providencie novas fotos para a capa da revista.Com um olhar desolado para Melissa, que acabava de se acomodar à sua mesa de trabalho, Susan se ergueu e caminhou na direção do gabinete do editor-geral.Melissa suspirou desanimada e perdeu o olhar nas bo¬linhas coloridas que se moviam de um lado para outro na proteção de tela do computador.Ela sabia que poderia conseguir aquela entrevista se Seth lhe tivesse dado a oportunidade.Ð Lorne Cooper é quem sairá na próxima edição Ð Susan falou assim que retornou.Ð Eu já sabia Ð Melissa declarou com a voz pesarosa. Ð O rei do patrocínio de corridas esportivas.

    Ð O artigo já está redigido Ð revelou Susan. Ð Só é preciso atualizar a data e realizar malgumas fotos. Foi escrito por R. J. Holmes, um dos mais novos jornalistas da Buzz. Acho que Seth foi injusto com Brandon.Ð Ou comigo Ð lamentou Melissa. Ð Se fosse para colocar outro qualquer, eu também tenhoartigos prontos sobre outras celebridades.Ð Quais são os que você já finalizou?Ð O do presidente da Myers Corporation e o da Briggs. Susan não respondeu. Então Melissa prosseguiu:Ð Eu sei que esses nomes são menos atraentes do que Cooper. Ð Mas a verdade é que nenhuma dessas entrevistas seria capaz de alavancar uma chance para a promoção.Enquanto falava, Melissa digitou o nome de Jared Ry¬der no Google. Em segundos surgiu na tela uma lista de opções que incluíam a homepage da Ryder International, o último discurso feito por Jared da Câmara de Comér¬cio e inclusive um link para o Ryder Ranc

    h. Ela clicou no link do rancho e logo apareceu a imagem bucólica de montanhas e campos verdejantes. O céu de um azul páli¬do evidenciava uma construção majestosa de dois andares rodeada por currais e pequenas casas de colonos."Então esse é o rancho de Ryder", ela concluía com amargura, enquanto examinava outras fotos exibidas no site e que eram tão deslumbrantes quanto a primeira.Ð Bem, é melhor que eu comece logo Ð decidiu Susan enquanto apanhava suas câmeras fotográficas e se er¬guia da cadeira.Ð Divirta-se Ð Melissa desejou enquanto se entretinha nas paisagens exibidas na tela do computador.Ð Obrigada. Eu vou aproveitar para tirar as fotos na festa que Cooper irá oferecer na abertura da competição de motocross no domingo Ð revelou Susan enquanto se aproximava para despedir-se com um beijo na face de Melissa. Ð Onde é isso? Ð perguntou apontando um dedo para as bonitas paisagens na tela do computador.Ð O rancho de Ryder em Montana. Para onde eu deve¬ria estar partindo se Seth tivesse um coração.Ð E por que não faz isso?Ð Fazer o quê?Ð Vá para o rancho de Jared e tente conseguir a en¬trevista.Ð Acontece que Seth se recusou a me dar uma chance.Ð Não precisa contar para ele. Diga que irá prosseguir com as pesquisas da City Hall em sua casa e no seu pró¬prio computador. Então aproveite para voar até o rancho.Ð Ah, que idéia brilhante. Devo mentir para o meu chefe e ignorar as suas ordens?Ð Ele a perdoará se você conseguir a entrevista Ð Susan afirmou e curvou os lábios num sorriso conspiratório. Ð Pode acreditar.Melissa estudou o rosto da amiga com cuidado. Aquele conselho era absurdo.

    Susan inclinou a cabeça e sussurrou no ouvido de Melissa:Ð Se você não conseguir essa entrevista, outra pessoa conseguirá.Ð Pelo menos não será Brandon.

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    Ð Mas o resultado é o mesmo.Ð Eu sei. Mas viajar para Montana poderá custar o meu emprego Ð Melissa salientou.Ð Ou poderá representar uma promoção Ð Susan ponderou ao mesmo tempo que endireitava os ombros.Ð Para você é fácil dizer isso, Susan. Não é o seu em¬prego que está em risco.Ð Se não houver risco também não haverá recompen¬sa. Eu consegui minha promoção no dia emueles vândalos deixaram alguns leões à solta no Lincoln Park.

    Ð Eu me lembro dessa ocasião. Foi uma insanidade da sua parte Ð ponderou Melissa.Susan havia subido no tronco de uma árvore para fil¬mar um leão que passeava pela calçada, antes que o pes¬soal responsável capturasse o animal.Ð Por acaso você está sugerindo que se eu não me colocar em perigo significa que não estou me esforçando o suficiente?Ð O que estou sugerindo é que se você não conseguir torpedear Brandon e lutar pela promoçãnão estará se esforçando o suficiente Ð Susan afirmou com um toque gentil num ombro de Melissa.Depois de dizer o que pensava, Susan deu uma pisca¬dela significativa e se afastou.Melissa tamborilou os dedos sobre a superfície da mesa enquanto analisava as fotos do rancho exibidas na tela do computador e depois desviava o olhar para o gabi¬ne

    te reservado para o futuro colunista oficial que ocuparia aquela sala.Imaginava como seria a expressão de Seth quando ela apresentasse a entrevista feita com Jared Ryder é a ex¬pressão de inveja de Brandon.E tudo o que Melissa precisaria fazer para conquistar isso seria arriscar uma viagem para Montana.

    Jared Ryder conduzia seu cavalo Tango através da ponte estreita de madeira que levava aos campos onde os ani¬mais do rancho pastavam. Tango ergueu as orelhas ao ob¬servar os mais de cem cavalos agrupados que se alimenta¬vam e se refrescavam nas águas do rio.A paisagem familiar e o cheiro do campo sempre tra¬ziam para Jared uma sensação de paz e tranqüilidade que nem sempre ele conseguia no trabalho. Contudo, ele não pretendia estar no rancho naquela semana, mas a irmã, Stephanie, lhe ligara dizendo que pr

    ecisava de sua ajuda.Jared ainda tinha algumas questões para terminar de re¬solver em Chicago. A Ryder International havia acabado de assinar um contrato de arrendamento com a prefeitura para poder construir um prédio que servisse de base para mais uma filial da empresa. Por alguma razão, o prefeito insistira em que Ryder o acompanhasse na inauguração de uma galeria de arte no centro da cidade. Ele já estava tão habituado a evitar aparições em público que os tabloides já disputavam entre si o desafio de conseguir uma foto dele e enfiar um microfone debaixo do seu nariz. Jared consi¬derava aquilo muito frustrante. Afinal, ele era um empre¬sário, e não um político que precisasse fazer média com o povo. E sua vida pessoal não era da conta de ninguém. Um repórter da Windy City Buzz até mesmo tivera a audácia de montar guarda na porta do hotel em que Jared estava hospedado para tentar entrevistá-lo quando chegasse. Será que ele precisaria andar disfarçado para poder se esquivar dos jornalistas inconvenientes? Essa era umaidéia a ser considerada quando ele precisasse voltar para Chicago.No momento, o melhor que Jared faria seria tentar rela¬xar e esquecer as atribulaçõesda cidade.Após um passeio rápido, ele conduziu Tango para a área onde ficavam as estrebarias. Assim que se aproximou do celeiro principal, a figura de uma jovem montada em uma égua disparou ao encontro dele.Ð Ah, o filho pródigo retornou! Ð exclamou Stephanie, a irmã caçula, que estava com 22 anos de idade. Tra¬jando roupas de equitação e os cabelos compridos de tom avermelhado presos em um rabo de cavalo, ela exibia um sorriso satisfeito.Ð Acho que você está me confundindo com Royce Ð falou Jared em tom de provocação ao mesmompo que puxava as rédeas de Tango, obrigando-o a estacar.Stephanie empinou o nariz.

    Ð Pelo menos ele sempre me apoiou nas competições e estava aqui na semana passada para assistir a minha vi¬tória em Spruce Meadows.Ð Acontece que ele praticamente vive dentro de um jato Ð Jared se defendeu.

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    Royce, irmão deles, viajava freqüentemente de Nova York para Londres ou Roma. Como também para todos os lugares onde pudesse encontrar prováveis empresas para adicionar ao império da Ryder International.Ð E eu permaneço ocupado com as intermináveis reu¬niões de negócios.Ð Pobrezinho... Ð Stephanie gracejou.Apesar do sorriso que Stephanie mantinha nos lábios, Jared podia perceber uma névoade tristeza nos olhos azul-acinzentados da irmã. Stephanie tinha apenas 2 anos de

    idade quando os pais faleceram. E a perda do avô, me¬nos de seis meses atrás, a abalara demais.Ð Parabéns pela vitória Ð Jared falou com um sorriso, embora estivesse magoado por não ter podido comparecer ao evento.Ele contava 15 anos quando eles perderam os pais, e prometera a si mesmo que faria de tudo para ajudar a com¬pensar a pequena irmã da perda irreparável. E estava muito orgulhoso por Stephanie ter se tornado uma excelente trei¬nadora de cavalos.Ð Obrigada Ð ela respondeu enquanto acariciava a crina de Rosie-Jo, a égua com quem vencera o campeona¬to. Ð Você quer ver nosso troféu?Ð Claro Ð respondeu Jared.Ð Ainda temos algumas horas antes que a reunião co¬mece Ð Stephanie afirmou e emparelhou Rosie-Jo com Tango.

    Lado a lado, eles começaram a conduzir seus cavalos na direção do rancho.A reunião que aconteceria logo mais se tratava do en¬contro anual do Genevieve Memorial Fund, um projeto social criado para arrecadar fundos e destinar o dinheiro doado para a caridade, e realizado em homenagem à me¬mória da mãe deles. A data era sempre de acordo com o aniversário de falecimento dos seus pais.Ð Eu vi a sua foto num jornal de Chicago Ð Stephanie declarou.Ð Você viu a foto do prefeito Ð Jared corrigiu.Ele havia feito o possível para se esconder atrás de Nadine, quando percebeu os flashes das câmeras dos fotó¬grafos, no instante em que acabavam de sair da galeria de arte e ele a ajudava a entrar na limusine.Ð Na manchete era o seu nome que constava Ð Ste¬phanie insistiu. Ð E quem era aquela moça?Ð Qual moça? Ð ele fingiu não ter entendido exata¬mente o ponto a que sua irmãzinha queriahegar.

    Criada em um lar onde só existiam homens como com¬panhia, Stephanie era louca para que os irmãos se casassem.Ð Não se faça de inocente, Jared. A mulher bonita que você estava ajudando a entrar na limusine.Ð Ah, sim. Aquela era minha acompanhante Ð ele fa¬lou e não deu maiores explicações.Ð E...? Ð Stephanie perguntou com um olhar de im¬paciência.Jared sorriu, divertido.Ð Sinto muito desapontá-la, querida. Ela não é minha namorada. Nadine Romsey é uma advogada muito compe¬tente e somos bons amigos. Aconteceu que o prefeito me convidou para assistir à inauguração de uma Galeria de Artes, e Nadine se interessou em me acompanhar porque havia convidados que a interessavam profissionalmente.Ð Hum... Bonita e inteligente? Por isso você estava sendo tão gentil?Ð Estava apenas sendo cavalheiro.Ð Mas ela é tão bonita...Ð E você uma romântica irremediável Ð ele caçoou.Ð Pretende se encontrar com ela outra vez?Ð Só se Nadine precisar que eu a apresente para clien¬tes em potencial. Ð Jared admirava Nadine, mas apenas como profissional.Stephanie suspirou com frustração.Ð Será que você nunca vai se interessar por uma mu¬lher e decidir se casar com ela?Ð Eu trabalho 18 horas por dia, irmãzinha. Não tenho tempo para me dedicar para uma mulher Ð ele respondeu com sarcasmo. E gesticulando com os braços salientou: Ð É como eu consigo pagar por tudo isso!Ela empinou o nariz.Ð O Ryder Equestrian Center angariou um milhão de dólares no ano passado.

    Ele deu uma gargalhada.Ð Pois é. E você gastou quatro milhões.Ð Mas nós também fizemos propaganda da empresa, e isso não tem preço Ð ela devolveu.

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    Ð Você ensaiou essa resposta, não foi?Ð Você está ficando irritante, Jared. Acho que já pas¬sou da hora de conhecer uma boa mulher e se casar.Ð Não está crescida demais para desejar ter a figura de uma mãe em casa?Ð Eu agora estou querendo uma irmã. Você poderia encontrar alguém jovem e divertida. E que gostasse de cavalos Ð ela acrescentou e, roçando as esporas em Rosie-Jo, incentivou-a a andar mais rápido.

    Jared sorriu e balançou a cabeça.Entre a revelação que seu avô havia lhe feito no leito de morte, o prefeito e a mídia, a preocupação do contador da Ryder International revelando que a empresa estava se ex¬pandindo rápido demais, Jared não tinha o mínimo tempo para se preocupar com seu lado sentimental.Enquanto ele seguia Stephanie e passavam na frente de um estábulo, a figura de uma jovem loira e esbelta lhe chamou a atenção. Ela vestia jeans e uma camiseta branca. Nas mãos segurava uma forquilha para remexer o feno. Porém, o que mais o impressionou foi o tom verde-esmeralda dos olhos grandes emoldurados por cílios longos e espessos.Ela desviou o olhar assim que o viu. Mas Jared per¬sistiu, estudando-a por mais algum tempo. Apesar de ela estar usando uma maquilagem leve, ainda assim ele podia

     apostar que havia alguma produção no rosto de linhas perfeitas. E as luzes douradas do cabelo pareciam mais terem sido produzidas em um salão de beleza do que pelosraios do sol. As mãos delicadas e unhas manicuradas segura¬vam a forquilha sem o uso de luvas de proteção.Ð Quem é essa moça? Ð Jared perguntou para a irmã. Stephanie fez Rosie-Jo parar e aguardou que Jared a alcançasse.Ð Por quê? Você acha que ela é bonita?Qualquer um poderia notar que a jovem era bonita, pen¬sou Jared. Mas aquela não eraa questão que o intrigava.Ð O que eu acho é que ela não tem nenhuma experiên¬cia no tipo de serviço que está fazendoÐ O nome dela é Melissa... Acho que Webster. Melissa Webster. Você quer que eu a apresente? Ð Stephanie ofe¬receu com um sorriso malicioso.Ð Não. O que eu quero é que você tenha mais cuidado com as pessoas que emprega Ð Jared adv

    ertiu com paci¬ência e olhou mais uma vez na direção da moça, que agora empilhava uma porçe feno de maneira desajeitada.Ð Ela veio de Indiana e estava precisando de trabalho.Ð Ah... E se ela estivesse precisando de um milhão de dólares você lhe daria?Stephanie franziu o cenho.Ð Ela não estava pedindo por um milhão de dólares! Apenas disse que se encontrava a caminho de Seattle e precisava de dinheiro para a passagem do ônibus.Ð Quer dizer que agora está aceitando andarilhos para trabalhar no rancho?Ð Ela está cuidando de um dos estábulos, e não assi¬nando cheques da empresa. Para que a preocupação?Jared olhou para a irmã e não respondeu. Havia algo que o incomodava. Por que razão uma mulher com aquela aparência estaria aceitando um trabalho rude apenas para poder comprar uma passagem de ônibus? Com certeza ela estaria fugindo de algo ou alguém.Talvez um namorado ciumento e agressivo? Tomara que não fosse da polícia ou do FBI.Jared tentou traçar um perfil da figura delicada da moça e decidiu que ela não parecia uma criminosa. E, no instante em que ela garfou um punhado de feno, a forquilha escorregou das mãos macias e sedosas.Ð Ela vai acabar com bolhas nas mãos! Ð Jared ex¬clamou em voz alta.Ð Você quer oferecer luvas para ela? Ð Stephanie per¬guntou.Ð É melhor que você mesma faça isso Ð ele sugeriu. Quer a moça fosse uma andarilha ou fugiva da justiça, já que a irmã a havia contratado, o mínimo que deveria ser feito seria evitar que ela se ferisse.Ð Ei, Melissa! Ð Stephanie chamou. Ð Apanhe um par de luvas no depósito que fica nos fundos do estábulo.A moça olhou desconsolada para as palmas das mãos.

    Ð Ela não tem a mínima idéia do que está fazendo Ð Jared comentou com inesperada piedade nvoz.Talvez ela estivesse mesmo fugindo de um ex-namorado furioso. Mas isso não era pro

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    blema dele.Ð Você tem certeza de que não deseja que eu a apre¬sente? Ð Stephanie insistiu com a voz melodiosa.Jared moveu as rédeas de Tango para prosseguir na di¬reção da casa.Ð Você vai ou não me mostrar o troféu que ganhou?Ð Tudo bem. Mas não pode me culpar por tentar.Ð Sim, eu posso Ð ele afirmou enquanto lançava um último olhar para a forasteira antes d

    e perseguir Stephanie, que saíra em disparada.Quando freou Tango na frente da casa, Jared ainda mantinha na mente a lembrança daqueles incríveis olhos verdes.

    CAPITULO DOIS

    No final do dia, Melissa sentia o corpo totalmente dolo¬rido por conta do esforço físico ao qual não estava acos¬tumada.

    Ao terminar de varrer os resíduos do feno espalhados pelo chão do estábulo, ela observou que um Bentley últi¬mo modelo acabava de estacionar na frente da casa princi-paldo rancho. Apesar de a lataria estar coberta de poeira, a imponência do veículo eraimpressionante. O motorista que acabava de saltar do carro usava um uniforme elegan¬te, e com um gesto polido abriu a porta traseira para que o passageiro saísse. Melissa estacou no vão da porta do estábulo e apoiou as mãos no cabo da vassoura. Estava curiosa de ver quem sairia de dentro do automóvel.Tratava-se de um homem de meia-idade, alto, cabelos grisalhos, e estava muito bem-vestido.Ele fez um ligeiro aceno com a cabeça para agradecer pela gentileza do motorista e se encaminhou para o terraço de entrada da casa, onde Stephanie e Jared surgirampara recepcioná-lo e convidá-lo a entrar.O motorista fechou a porta do veículo e olhou com curiosidade para o pátio de treina

    mento dos cavalos antes de abrir o porta-malas do carro.Melissa espiou para uma das janelas da casa, mas não havia jeito de saber o que estava acontecendo lá dentro. O homem que acabava de entrar poderia ser um amigo dafa¬mília, ou talvez se tratasse de um sócio de Jared. Contudo, o rancho não parecia um lugar adequado para se cuidar de negócios, a menos que se tratasse de uma reunião secreta.Poderia estar acontecendo algo clandestino no alto es¬calão da Ryder International?A possibilidade de descobrir algo inusitado a encorajou. Ela espiou para o pátio,da mesma maneira como o motoris¬ta havia feito pouco tempo antes dela, e observouos jovens caubóis que treinavam os cavalos a saltar sobre os obstácu¬los enquanto os cavalariços e treinadores os assistiam.Ninguém parecia estar prestando a mínima atenção ao Bentley estacionado na porta do rancho.Então surgiu outro veículo. Dessa vez tratava-se de um SUV. Era um pouco maior do que o Bentley, mas não me¬nos luxuoso. Um homem aparentando uns 30 e poucos anos de idade e usando óculos escuros saiu do carro pela porta dianteira. E, a julgar pelasroupas que ele vestia, com certeza não se tratava de um motorista profissional. Logo depois, ele subia os poucos degraus que conduziam à entrada da casa.O instinto nato de jornalista fez com que Melissa deci¬disse investigar o que estava acontecendo. Ela pousou a vassoura num canto da parede do estábulo e começou a caminhar na direção da casa.Ela já havia trabalhado cerca de oito horas, e o horário do jantar estava próximo. Como o refeitório dos peões fi¬cava próximo da casa, ela já teria uma boa desculpa para oferecer se acaso alguém a questionasse.De certa maneira, ela havia ficado frustrada por não ter conseguido um trabalho de

    ntro da casa principal, como arrumadeira ou outra coisa qualquer. O capataz do rancho se recusara a oferecer-lhe qualquer trabalho e a dispensara as¬sim que ela lhe contou a história sobre precisar de dinheiro para comprar uma passagem de ônibus

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    para Seattle. Feliz¬mente Stephanie Ryder estava por perto e ouvira a conver¬sa. A jovem ficou com pena de Melissa e lhe ofereceu um serviço temporário para cuidar de um dos estábulos.Agora, ela precisava arranjar um jeito de se aproximar da casa sem levantar suspeitas.Ao se aproximar do motorista do Bentley, ela abriu um sorriso largo e limpou aspalmas das mãos no próprio jeans que usava.

    Ð Esse carro é muito bonito Ð Melissa comentou em tom amigável.O motorista trancou o porta-malas e lançou um olhar desolado para o veiculo.Ð É uma pena que esteja tão empoeirado.Melissa deduziu que ele deveria ter a mesma idade dela. Talvez 25 ou 26 anos. Tratava-se de um moço atra¬ente. Cabelos claros e aparados. As feições harmoniosas do rosto exibiam um nariz afilado e o queixo estreito. A barba benfeita e o uniforme impecável.Ela baixou o olhar para a placa do carro e notou que a licença era de Montana, e memorizou o número.Ð Você fez uma longa viagem? Ð ela arriscou para conseguir maiores informações.Ð Não muito. Apenas umas duas horas de Helena até aqui.Helena... Ótimo. Pelo menos era um começo.

    Ð Quer dizer que você trabalha em Helena?Ð Sim. Já faz três anos.Ela permaneceu em silêncio por algum tempo aguar¬dando que ele dissesse mais algumacoisa sobre o seu tra¬balho ou a empresa. Enquanto isso, vistoriava com o olhar ouniforme dele e o carro em busca de um logotipo.Ð É a primeira vez que você vem ao Ryder Ranch? Ð ela fez outra tentativa.Ele assentiu.Ð Mas é claro que eu já tinha ouvido falar do rancho. Aliás, em Montana os Ryder são muito conhecidos.Ð Eu sou de Indiana Ð Melissa declarou para prosse¬guir no assunto, enquanto percebiaque ele olhava desani¬mado para a poeira que cobria o carro.Ð Será que eu consigo arranjar uma mangueira em al¬gum lugar?Ela não tinha a mínima idéia de onde ele poderia con¬seguir uma mangueira.

    Ð Imagino que você conheça muitas pessoas importan¬tes no seu trabalho Ð Melissa desconversou para tentar concentrar a atenção dele no assunto que lhe interessava.Ð Alguns Ð ele respondeu de forma lacônica e desviou a atenção para os cavalos que prosseguiam no treinamento.Melissa ficou frustrada por não estar conseguindo ar¬rancar maiores informações do motorista. O que estava acontecendo? Será que ela havia perdido seu poder de persuasão?Não. Ela não iria desistir tão fácil!Melissa se moveu para mais perto dele e, remexendo nos cabelos, tentou improvisar uma postura sensual. De¬pois falou com a voz rouca:Ð Eu estou muito embaraçada por não reconhecer o homem que acabou de sair do Bentley.Será que você po¬deria me dizer quem é ele?O motorista nada respondeu. Apenas ficou olhando na direção dela, e estava corado atéo pescoço.Ð Eu só estou perguntando isso... Ð ela insistiu in¬clinando a cabeça para um lado a fim de incrementar o charme. Ð ...porque não quero...Ele engoliu a saliva e permaneceu em silêncio.De repente, Melissa se deu conta de que não era para ela que ele olhava, e sim para um ponto ao lado de seu ombro esquerdo. Um mau pressentimento a invadiu e elagirou a cabeça devagar para descobrir do que se tratava.Jared Ryder... E era evidente que ele parecia aborrecido.Melissa notou que ele era mais alto do que ela ima¬ginava. Ombros largos e peito inflado. As mangas da camisa dobradas na altura dos cotovelos revelavam o bronzeado da pele. Os olhos azuis faiscavam de maneira intimidadora.Ð Você não quer o quê? Ð ele perguntou em tom ameaçador.Melissa não conseguiu encontrar uma resposta rápida, e por isso preferiu se manter c

    alada.Jared olhou para o motorista, que permanecia imóvel e assustado, e declarou, gesticulando com a cabeça na dire¬ção do refeitório:

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    Ð Por que não aproveita para tomar um café?O moço entendeu o recado e se afastou na direção que Jared lhe indicara.Jared tornou a olhar para Melissa e com um tom irrita¬do na voz avisou:Ð Seria mais conveniente se você não flertasse em seu ambiente de trabalho.Ð Eu... Ð O que ela poderia dizer? Que não estava flertando? Ou que estava tentando espionar o que se pas¬sava na casa? Melhor se decidir pelo flerte. Ð Eu sinto muito.Ele balançou a cabeça devagar e prosseguiu observando-a com o olhar severo. Melissa

    deu graças a Deus por ela estar apenas fingindo ser funcionária dele.Ð Eu não entendo a razão de Stephanie ter empregado você Ð ele finalmente declarou.Ela não sabia o que dizer e nem se ele esperava por uma resposta. Sua única certezaera a de que deveria tirar proveito do fato de estar a sós com Jared.Ð Você é o irmão da Stephanie, não é? Ð ela pergun¬tou, fingindo que não sabia quem ele erÐ Ela me disse que você lhe contou que foi criada com cavalos Ð ele afirmou em vez deresponder a pergunta que ela lhe havia feito.Ð É verdade Ð Melissa confirmou.O que não era totalmente uma mentira. No outro lado da rua onde ficava a casa em que ela crescera, havia uma chácara onde ela costumava brincar com o cavalo que o dono utilizava para vender as verduras. Ela o chama¬va de Meia-Noite, por causa dopelo escuro do animal. Depois gesticulou na direção do pasto para distrair-lhe a ate

    nção.Ð Mas não tanto quanto você. Obviamente você está acostumado a uma centena deles.Ð Minhas qualificações não estão em discussão Ð ele respondeu de maneira seca.Ð Stephanie pareceu satisfeita com a minha declara¬ção Ð disse Melissa no mesmo tom.Ð Bem, se é assim, e já que você parece não estar ocupada, eu preciso que leve o meu cavalo de volta para o estábulo, aquele que tem o portão vermelho e fica pró¬ximo do lago. Ð E, apontando um dedo na direção do robusto cavalo que pastava próximo de um cercado, avi¬sou: Ð O nome de meu cavalo é Tango. Ele não está selado, mas acho que isso não será proble para você, não é mesmo?O cavalo não estava selado? Melissa engoliu em seco. Não que a sela fosse fazer alguma diferença. O problema era que ela nunca havia cavalgado antes.Percebendo que ela ficara em silêncio, ele insistiu:Ð Algum problema?

    Ð Não. Apenas que... Ð Ela hesitou enquanto tentava improvisar uma desculpa. Ð Eu acabei de me lembrar de que terminei o meu turno de hoje.Jared arqueou as sobrancelhas, demonstrando surpresa.Ð Turno? Agora existem turnos no rancho?Ð Eu quis dizer que... Ð Ela piscou por duas vezes. O que diabos ela teria para dizer? Ð Acontece que estou com as costas doloridas.Ð Doloridas demais para apenas montar no lombo de um cavalo e levá-lo até o estábulo?Estava claro que ele considerava aquela desculpa ab¬surda.Ð É que também eu estou um pouco destreinada. Faz muito tempo que não monto em um cavalo.Ð Montar um cavalo é o mesmo que andar de bicicle¬ta. Nunca se esquece Ð ele argumentou, intensificando o olhar.Ð Eu sei, mas é que não posso...Ð Nós costumamos despedir as pessoas que não con¬seguem executar suas tarefas Ð ele ameaçoMelissa sentiu o sangue congelar nas veias. Se ele a despedisse, ela poderia dar adeus à entrevista e à possível promoção. E, se Seth descobrisse que ela estivera no ran-cho sem a permissão dele, também poderia se despedir do seu emprego na Buzz.Ð Oh, não! Por favor, não faça isso!Jared estudou-lhe as feições por alguns instantes e, aproximando o rosto do dela, falou em voz baixa:Ð Dê-me apenas uma razão para que eu não a demita neste exato instante.Ð Eu sou dedicada ao trabalho.Ð Não no momento.Ð Mas são seis da tarde!Ð Não temos horário determinado no Ryder Ranch.

    Ð Eu prometo que me acostumarei Ð Melissa falou em tom de súplica, ao mesmo tempo queprocurava ig¬norar o perfume inebriante da loção após a barba que ele usava.Ð Se você começar a se insinuar para os caubóis...

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    Ð Eu não tenho nenhuma intenção de me insinuar para os seus caubóis Ð Melissa antecipou.O rosto dele estava tão próximo do dela que Melissa imaginou por um momento como seria o gosto do beijo daqueles lábios másculos e bem contornados.Ð É melhor que esteja falando a verdade Ð finalmen¬te Jared murmurou. Ð E leve a droga docavalo para o estábulo!Ð Tudo bem Ð ela murmurou, afastando a estúpida reação hormonal. Levaria o cavalo para o estábulo ou morreria tentando.

    Um pouco mais tarde, naquela mesma noite, enquanto es¬tava à mesa de jantar com Stephanie, Jared tentava afas¬tar Melissa da mente. A irmã a havia empregado por ter secondoído da situação dela, e Jared a mantivera pelo mesmo motivo. Agora ele não estava certo se ambos não haviam cometido um grande erro.Ð Nós estamos com 35 novos pedidos de ajuda este ano Ð revelou Otto Durand, apanhandoa ficha de Manila do topo da pilha de documentos que havia posto sobre a mesa.Otto fazia parte da comissão da Genevieve Memorial Fund há mais de 15 anos. Ele também era diretor-executivo da Rutledge Agricultural Equipment e um grande amigo da família desde os tempos em que os pais de Jared e Stephanie eram vivos.Ð Nós já temos o dinheiro Ð Anthony Salvatore co¬municou e abriu um relatório para que osmais anali¬sassem. Ð As doações cresceram quase vinte por cento este ano.

    Anthony era filho de um primo da mãe de Jared. Por¬tanto, um parente distante. Quando o primo conheceu Carmine Salvatore em uma excursão para Nápoles, ele se apaixonoue se casou com ela. O filho único que tiveram tinha um lugar especial no coração de Genevieve.Stephanie substituiu a garrafa de vinho Bordeaux vazia por outra da mesma qualidade enquanto a governanta reti¬rava os últimos pratos, que foram usados no jantar.Embora Royce estivesse ocupado em Londres até o fi¬nal da semana, os quatro membrosrestantes do Genevie¬ve Fund estavam autorizados a tomar as decisões desse ano com relação à aprovação dos projetos que lhes pare¬cessem mais necessários.Ð Eu gostaria de aprovar o projeto para a fundação de uma escola no oeste da África Ð sugeriu Stephanie. Ð A maioria das crianças daquela região provém de famílias de agricultores.Ð Nossa mãe gostaria disso Ð concordou Jared.Ele notou que a irmã deu um suspiro magoado. Ela sen¬tia muita falta de ter a mãe ao s

    eu lado. Apesar de o avô e seus irmãos fazerem o possível para que ela superasse o vazio dentro do peito, Stephanie demonstrava uma soli¬dão interior que parecia incapazde ser preenchida. E essa fraqueza era demonstrada pela constante necessidade de conseguir sucesso. Bastava dar uma espiada na quantida¬de de troféus que ela haviaganhado em campeonatos de salto eqüestre para se deduzir o quanto ela se esforçava para manter-se ocupada.Ð Eu também concordo Ð Otto declarou e marcou o valor do cheque a ser destinado para aquele projeto no espaço apropriado do relatório. Ð E acho que todos nós já concordamos emaumentar a contribuição para o abrigo de animais. Ð E marcou mais um valor no relatório. Ð Agora, o que iremos decidir quanto ao projeto para insta¬lação de uma clínica na Américdo Sul?Ð Eu continuo achando que é muito perigoso Ð opi¬nou Jared.Ele sabia que seu irmão Royce defendia aquele projeto depois de ter conhecido umauniversitária britânica que havia trabalhado na região montanhosa de Sierra Benito.Ð A atividade rebelde naquela região já está calma há mais de seis meses Ð: Anthony intervo. Ð E nós pode¬ríamos contratar um empreiteiro com experiência naquela área.Ð E quanto à segurança? Ð Jared salientou.Não seria a primeira vez que o Genevieve Fund finan¬ciaria obras em lugares de instabilidade política, contudo, Jared preferia que fossem aprovados projetos que já con-tassem com a segurança fornecida pelo Estado.Ð Nós poderíamos pagar por uma equipe de segurança Ð Anthony sugeriu.Ð Acontece que com a despesa que teríamos para for¬mar um grupo de segurança poderíamos bancar dois ou¬tros projetos Ð ponderou Jared.Ð Mas nenhum deles é tão importante quanto esse Ð rebateu Anthony, esquentando a discussão.

    Os dois prosseguiram debatendo e tentando convencer Stephanie e Otto de suas opiniões. Enquanto Anthony de¬fendia que criar um grupo de segurança não deveria ser um empecilho para o projeto, Jared insistia que a situação na região ainda era muito perigos

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    a.Por fim, Anthony ergueu as mãos e declarou com frus¬tração:Ð Vou tomar um pouco de ar na varanda.Jared achou ótimo. Isso lhe daria a chance de ficar a sós com Stephanie e Otto por alguns minutos e reforçar seu ponto de vista.Stephanie se ergueu para relaxar um pouco, e Otto pou¬sou a caneta sobre a mesa. E, antes que Jared tivesse a oportunidade de falar, Otto revelou:

    Ð Acho que dessa vez deveríamos concordar com Royce e Anthony.Ð E se acontecer de alguém ser seqüestrado ou morto? Ð perguntou Jared.Ð Os guerrilheiros assinaram um acordo de cessar-fo¬go Ð Otto argumentou.Ð Pelo amor de Deus, Otto! Estamos falando de Sierra Benito! A situação política pode ser revertida de um ins¬tante para outro! Ð Jared esbravejou enquanto seu olhar captava a silhueta de Anthony através das cortinas trans¬parentes da janela da sala.Ð Quantos seqüestros ocorreram no ano passado? Ð Stephanie quis saber.Ð Muitos Ð respondeu Jared.Ð Depois de dezembro não aconteceu mais nenhum Ð afirmou Otto. Ð Eu não quero contrariá-lomas...Ð Por que devemos correr um risco desnecessário? Ð Jared insistiu.Nem Otto nem Stephanie conseguiram dar uma respos¬ta para aquela questão.

    Enquanto reinava um súbito silêncio na sala, Jared notou a silhueta de outra pessoaao lado da de Anthony. E que parecia ser a de...Ð Desculpem-me por um momento Ð Jared falou e.se ergueu da cadeira. Ignorou os olhares surpresos da irmã e de Otto enquanto se dirigia para a varanda.

    Ð Nós ainda mantemos uma casa em Nápoles Ð An¬thony revelava para Melissa no instante em que Jared abriu a porta. Ð E a visitamos sempre que é possível.Anthony estava recostado no alambrado da varanda, os braços abertos e as mãos apoiadas no corrimão. E Melissa permanecia estacada na frente dele.Ð Eu sempre sonhei em conhecer a Itália Ð ela afir¬mou com um suspiro. Ð O Coliseu, a cidade do Vaticano e a Capela Sistina.Jared zombou em pensamento. Parecia um sonho gran¬dioso demais para alguém que não estava conseguindo sequer comprar uma passagem de ônibus para Seattle.

    Ð Eu adoraria levar você para conhecer Veneza Ð An¬thony disse, com um tom de voz que prometia mais do que um tour no Grand Canal.Jared não tinha certeza de quem ele deveria preve¬nir: Melissa, porque Anthony era um galanteador; ou Anthony, porque a única qualidade que Melissa parecia possuir era a de flertar com o primeiro que aparecesse na sua frente.Ð Presumo que você tenha levado meu cavalo para o estábulo Ð Jared falou em voz alta, oque fez com que Melissa girasse a cabeça.Mais uma vez, ela pareceu surpresa ao ver Jared. E mais uma vez um arrepio indesejado percorreu-lhe a espinha.Ð Eu e Melissa estávamos falando sobre as riquezas da Itália Ð Anthony comentou com casualidade, mas a maneira como olhava para Jared revelava que não havia gostado da interrupção.Ð Pensei que estivesse aproveitando para analisar o projeto em Sierra Benito Ð Jared o provocou.Ð Os negócios podem esperar um pouco Ð Anthony retrucou.Jared consultou o relógio de pulso que usava e declarou:Ð Eu acho que a reunião já está demorando demais.Ð Está bem. Dê-me apenas mais cinco minutos. Porém, Jared não tinha a mínima intenção de sli.Ð Já que Melissa está aqui Ð Jared provocou Ð, tal¬vez ela tenha uma opinião para contribuom nossa cau¬sa. Ð E, colocando-se na frente dela, perguntou: Ð O que você acha? SierraBenito é um lugar perigoso para se instalar um projeto humanitário?Anthony se antecipou:Ð Tenho certeza de que Melissa não deseja discutir sobre esse assunto.Ela ignorou a interferência de Anthony e perguntou para Jared:

    Ð Você está se referindo à cidade de Suri ou à região das montanhas?A questão dela surpreendeu Jared. A maioria das pes¬soas nunca ouvira falar em Sierra Benito, quanto mais na capital.

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    Ð Estou me referindo a um vilarejo chamado Tappee Ð Jared esclareceu.Ð As condições de vida nesse lugar são terríveis Ð afirmou Melissa. Ð Os habitantes vivemais extrema pobreza.Anthony abriu um sorriso e estendeu um braço ao redor dos ombros dela dizendo:Ð Bem-vinda ao debate, senorita Melissa.Jared precisou se esforçar para conter a vontade de afastar o braço que Anthony mantinha nos ombros dela. E acontecia que aquela seria uma reação ridícula. Tratava-se ape

    nas de um gesto amável e nada mais.Ð Você tem idéia do que os garimpeiros fazem para os habitantes da vila? Ð ela perguntou para Jared.Ð E você tem idéia do que os rebeldes fazem para os garimpeiros? Ð Jared retaliou enquanto ficava incomoda¬do com o fato de que ela não reagia à atitude de Anthony em permanecer com o braço enlaçado em seus ombros.Que diabos estava acontecendo com ele? O que lhe im¬portava se Anthony permaneciaabraçado com ela? Melissa balançou a cabeça, demonstrando desgosto.Ð Não posso acreditar que você esteja pensando em explorar os coitados!Ð Explorar quem? Ð Jared perguntou, com espanto.Ð O povo do vilarejo.Ð Eu não estou pensando em explorar ninguém! Ð Jared exclamou, quase gritando.

    E, sem querer, pousou o olhar na mão que Anthony mantinha sobre um ombro dela. O tecido fino da blusa quase não oferecia barreira para os dedos masculinos. Por queela não reagia?Melissa comentou em tom de zombaria:Ð E que outro interesse você teria em Tappee?Ð Nós pretendemos construir lá uma clínica médica Ð revelou Anthony.Ð Isso ainda não está decidido Ð Jared revidou com um olhar de censura.Melissa olhou de um homem para o outro com surpresa e curiosidade.Ð Como você sabe tanta coisa a respeito de Tappee? Ð Jared indagou para ela.Ð Eu leio jornais. Inclusive me lembro de uma repor¬tagem no ano passado revelando que um engenheiro havia sido seqüestrado pelos rebeldes.Ð A empresa em que ele trabalhava pagou um resgate de um milhão de dólares, e mesmo assim eles assassina¬ram o homem Ð Jared completou.

    Ð Já faz quase um ano que isso aconteceu Ð interveio Anthony. Ð Além do mais, nós não vamoara explo¬rar minérios.Ð E você acha que isso faz diferença para eles? Ð Jared questionou. Ð Acredita realmente que os rebeldes não se interessariam em seqüestrar estrangeiros?Ð Eu também não acredito que eles fossem se preocu¬par com isso Ð Melissa opinou.Ð É mesmo? Ð Jared reagiu furioso por se sentir de¬safiado. Ð E a sua conclusão é baseadaua vasta ex¬periência em viagens de ônibus interestaduais?Ð Não precisa ser rude, Jared Ð Anthony interferiu, irritado.Bem, Jared também estava irritado. Ele já estava can¬sado de argumentar, como também estava farto de ver Anthony assediando Melissa. Apanhou o chapéu que se achava no suporte da parede e o socou sobre a cabeça.Ð Vou levar Melissa de volta para o alojamento dela Ð ele anunciou e aproveitou para puxá-la pela mão, o que fez com que o braço de Anthony ficasse suspenso no ar.Ð Mas que diabos...Ð Você precisa voltar para a reunião Ð Jared avisou por cima de um ombro enquanto impulsionava Melissa na direção das escadas.Ela levou alguns segundos para conseguir organizar os passos, mas Jared tomou ocuidado de enlaçá-la pela cin¬tura para que Melissa não perdesse o equilíbrio.Ele podia sentir o olhar de Anthony observando-os en¬quanto eles cruzavam o pátio na direção das cabanas que serviam como abrigo para os trabalhadores temporários.Jared sabia que teria de ouvir as reclamações quando retornasse para casa. Mas issonão importava. Ele tinha argumentos para se defender.Ele a conduziu de maneira ligeira sem saber ao certo qual a cabana que Stephanie havia destinado para Melis¬sa. Porém, como as mulheres desacompanhadas sempre ficavam na mesma ala, não havia como errar.

    Ð Por que será que estou tendo o estranho pressenti¬mento de que sua intenção não era a depenas me acompa¬nhar de volta para a minha cabana? Ð Melissa perguntou.Jared mantinha os dentes cerrados e se esforçava para conter o temperamento explos

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    ivo.Ð E por que eu tenho o pressentimento de que você não está aqui apenas para conseguir odinheiro da passa¬gem de ônibus para Seattle?

    CAPÍTULO TRÊS

    Melissa tentou não entrar em pânico. Não havia razão para assumir que Jared estivesse desconfiado da verdade. Mesmo assim, ela não conseguia evitar que os cabelos da nuca ficassem arrepiados.Ele andava com passos largos e a mão agora repousava em um cotovelo dela, incitando-a a acompanhar-lhe o rit¬mo da caminhada.Ð Primeiro, o motorista Ð a voz zangada dele come¬çou a soar no silêncio da noite. Ð Depoi Anthony. E até posso imaginar o que aconteceu com a droga do cavalo.O último comentário surpreendeu Melissa. O que o ca¬valo tinha a ver com tudo isso?Ð Você conseguiu levar o cavalo para o estábulo... Ð ele prosseguiu com um olhar insinua

    nte. Ð ...ou precisou de ajuda para isso?Melissa nem se arriscara a montar no cavalo, mas por que isso era tão relevante?Ð Eu consegui que um dos caubóis me ajudasse. Rich ou Rand... Qualquer nome parecido. Não me lembro.Ð Ah, eu sabia...Ð O que isso tem de mais? Ð ela perguntou, aborrecida. Na verdade, fora o caubói quemlhe oferecera ajuda. E ele não levou mais do que 15 minutos para conduzir o cavalo até a baia no estábulo.Ð Acha que não tem nada de mais? Ð Ele estacou e forçou-a a parar também. Depois a espioupor baixo da aba do chapéu, fulminando-a com o olhar.Melissa segurou o fôlego ao observar as feições rígidas do rosto dele. Por que Jared estava tão zangado? O que im¬portava quem tivesse recolhido o cavalo? Será que ele não deveria estar mais preocupado com a maneira como Melis¬sa estava sondando Anthony para

     conseguir informações?A menos que...Ð Existe alguma proibição com relação aos caubóis em ajudar a conduzir os cavalos para o eulo? Ð ela arriscou.Ð Não. Mas estou pensando em criar uma proibição em relação a apelos sensuais durante o tralho.Ela se sentiu ofendida com a insinuação.Ð Por acaso está imaginando que eu me ofereci para o caubói apenas para que levasse ocavalo para o estábulo?Ð Eu não estou imaginando. Eu sei que sua maior qua¬lidade é flertar.Ð Não. Não é Ð Melissa protestou e empinou o nariz.Para começar, Melissa possuía um diploma universitá¬rio, casa própria e um bom emprego, que poderia se tornar ainda melhor se ela conseguisse a entrevista com ele.Ð Então me convença do contrário Ð Jared a desafiou.Ð Eu sou inteligente, eloqüente e organizada.Ð E com todas essas qualidades não conseguiu arran¬jar dinheiro para uma passagem de ônibus para Seattle?Ð A passagem de ônibus não vem ao caso.Ð E o que vem ao caso?Ð A minha experiência.Ð Experiência em quê? Flertar e rebolar os quadris? Ela ergueu as mãos no ar e desabafou:Ð Talvez por varrer o estábulo por oito horas seguidas. Ele agarrou os pulsos dela e examinou-lhe as palmas das mãos.Ð Por falar nisso, você já cuidou de colocar um antisséptico nesses ferimentos?

    Ð Eu usei as luvas que Stephanie recomendou Ð ela declarou e desejou ter feito issoantes de haver provocado algumas bolhas nas palmas das mãos.Ð Estou falando sério Ð ele insistiu. Melissa se soltou dele.

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    Ð Isso não é nada. Eu estou bem.Jared a vistoriou com o olhar e assegurou:Ð Eu não acho que você tenha um físico apropriado para trabalhos pesados.Ela escondeu as mãos às costas.Ð Eu já lhe disse que estou bem.Ð Você conseguiria trabalhar com um computador? Pelo menos digitar?Oh, não! Melissa não tinha intenção de desistir de seu trabalho no rancho.

    Ð Eu nunca trabalhei em um escritório Ð ela mentiu. Ð Além do mais, só preciso do dinheiroara a passa¬gem do ônibus. Estarei fora de suas vistas em uma se¬mana no máximo. Ð Pelo menos essa última afirmação era verdadeira.Ð Duvido que você consiga permanecer nesse traba¬lho por uma semana inteira.Ð Bem, eu já consegui suportar o primeiro dia.Ð Talvez. Ð Ele deu uma pausa. Ð Mas você sabe que aqueles homens com quem flertou irão importuná-la.Ð Não. Não irão. Ð Melissa não acreditava que os havia encorajado de verdade.De repente teve uma idéia. Em vez de discutir com Jared por que não aproveitava para provocá-lo? Ela avan¬çou alguns passos movendo os quadris de maneira sen¬sual. Depois espiou-o por cima de um ombro e falou em tom meloso:Ð Será que não poderíamos dar um passeio antes de me deixar na cabana?

    Ele ergueu as sobrancelhas.Ð Está flertando comigo?Ð Está funcionando? Ð ela perguntou com um sorriso.Ð Depende do que vai querer em troca.O que Melissa desejava de verdade era a história da vida dele. E estava disposta a prosseguir com o flerte des¬de que conseguisse seu intento.Ð Talvez a dispensa de precisar cuidar do seu cavalo. Ele é assustador! Onde o conseguiu?Ð Ele é descendente dos cavalos do deserto que foram trazidos para o rancho pelo meu tataravô.Melissa arregalou os olhos e aguardou em silêncio que ele prosseguisse.Ð Isso aconteceu em 1883 Ð Jared completou.Ð Eu notei que a arquitetura da casa principal é muito antiga.

    Ð É verdade. Mas a casa original onde meus tataravós moravam fica a duas milhas daquiseguindo rio abaixo. Ela está abandonada há décadas.Ð Quer dizer que você faz parte da quinta geração dos Ryder na posse do rancho?Melissa não pretendia mencionar a família dele no arti¬go, mas achou a história fascinante. Jared assentiu.Ð E você mantém álbuns e registros da história da família?Ð Claro que sim.Eles prosseguiram caminhando até a margem do rio Windy, e Melissa aproveitou paraperguntar:Ð Quantos cavalos existem agora no rancho?Ð Algumas centenas. E também milhares de cabeças de gado.Ð O rancho ainda é lucrativo?Jared hesitou, e Melissa podia sentir que ele a estava observando.Ð Por que está me perguntando isso?Ð Porque você se decidiu pelo ramo imobiliário.Ð Como sabe disso? Ð ele perguntou em tom de sus¬peita.Ð Eu ouvi algumas conversas.Ð Quer dizer "fofocas"?Ð Não Ð ela se apressou em negar. Ð Apenas comen¬tários casuais na hora do almoço. Como oue você tinha acabado de chegar de Chicago. Coisas desse tipo. ÐA verdade era que Melissa tinha forçado o assunto com os trabalhadores do rancho, mas não havia necessidade de revelar isso para Jared.Ð Parece que você descobriu muita coisa a meu res¬peito, não é?Ela ergueu a cabeça e fitou os olhos azuis de Jared.Ð Você é o patrão, e o pessoal se interessa pelas coisas que faz.

    Ð Mas não deveria.Ð Talvez não. Mas essa é a maneira normal de os em¬pregados reagirem.Ð Isso é fofoca pura e simples Ð ele declarou, irritado.

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    Ð É apenas curiosidade Ð ela o corrigiu. Ð Você não pode ganhar milhões de dólares por anotender que ninguém note.Ð Como você sabe que eu ganho milhões de dólares por ano?Ð Quantos acres tem o rancho?Ð Cinco mil.Ð Aí está a resposta. Os criadores de gado estão ten¬do prejuízo ultimamente, e a despesaande. Ao mesmo tempo, as empresas de construção estão faturando fortunas.

    Jared não respondeu. Em silêncio começou a condu¬zi-la na direção da ala das cabanas destidas para as mu¬lheres desacompanhadas.Ð Qual é a sua? Ð ele quis saber.Ð A de número seis.Ð Eu vou acompanhá-la até a porta.Mas que droga! Justo agora que ele estava começando a falar sobre o assunto que mais lhe interessava.Ð É muito gentil da sua parte Ð ela respondeu, procu¬rando manter o passo o mais devagar possível.Ð Não quero que um animal selvagem a ataque de sur¬presa Ð ele brincou.Ð Eu creio que um animal selvagem não se aproxima¬ria das cabanas por causa das luzes, mas não acho difícil surgir um touro perdido Ð ela argumentou.

    Ð Não se preocupe Ð ele afirmou com um sorriso. Ð O gado está bem guardado na ala do rancho que fica nas montanhas.Ð É bom saber disso Ð Melissa respondeu com alívio. Ð Desde quando você está em Montana?Ð Acho que chegamos aqui no mesmo dia.Ð É mesmo? E para onde pretende ir depois?Ð Por que está me perguntando isso?Ð Por nada. Apenas para manter a conversa. Acho que você gosta muito do rancho. Ð Elafingiu tropeçar em um galho apenas para ganhar tempo.Jared se apressou em segurá-la para impedir que ela ca¬ísse. Melissa aproveitou a oportunidade para permanecer segurando em um braço dele e caminhar de maneira ainda mais lenta. Não queria chegar à cabana enquanto ele ainda estivesse respondendo às suasperguntas.Ð Eu sempre gostei do rancho Ð ele lembrou-se de responder, mas a voz parecia escond

    er alguma mágoa.Ð Então por que foi embora? Ð ela arriscou.Ð Para ganhar mais dinheiro.Ð Os caubóis precisam de milhões de dólares para viver?Ð Manter um lugar como este custa rios de dinheiro. E as últimas décadas foram difíceispara os rancheiros de Montana. Talvez a situação mude no futuro, e é o que eu espero.Mas por enquanto...Ele se interrompeu no instante em que alcançaram a porta da cabana dela. Não havia mais jeito de tentar pro¬longar a caminhada, e talvez ela não tivesse outra chance como essa pelo restante da semana. Por isso, tentou ex¬plorar o momento ao máximo.Ð Quer dizer que por enquanto vai prosseguir no ramo de construções imobiliárias e por isso está edificando um prédio para sediar a empresa em Chicago?Ð Como soube disso? Ð ele perguntou, espantado. Jared era desconfiado demais para ogosto dela. Ð Alguém mencionou esse fato no jantar Ð ela blefou. Ele estudou o rosto dela por alguns minutos e depois lhe ergueu o queixo com a ponta de um dedo.Ð Há algo de misterioso em você que eu ainda não consegui decifrar.Ð O quê? A minha habilidade para flertar? Ð Era pre¬ferível alimentar o conceito errado que ele fazia dela do que permitir que Jared começasse a desconfiar de outras possibilidades.Ð Talvez seja isso Ð ele concordou, e as feições do seu rosto se tornaram intimidadoras. Ð Agora resolveu aceitar essa condição?A voz dele era suave, e o olhar, sensual. Ela fitou os lá¬bios bem contornados de Jared, e por um instante desejou que ele a beijasse.Ð Tenho de admitir que é muito boa nisso Ð ele decla¬rou e, recolhendo a mão, recuou um passo. Ð Agora eu en¬tendo por que os homens ficam tão hipnotizados por você.

    Ð Eu não...Ð Tenha cuidado, Melissa. Nem todos conseguem manter os escrúpulos, e algum dia você poderá se dar mal.

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    uzia para o interior da cabana.O chão gemia sob as pisadas da sola do tênis de corrida que ela usava à medida que Melissa avançava na direção dos quartos.Os movimentos faziam com que a poeira do chão se espalhasse. Ela cobriu o nariz ea boca com a palma de uma das mãos para poder respirar com mais facilidade.Descobriu dois aposentos. Um deles estava repleto de tábuas empilhadas junto da parede que parecia ser o que restara das camas e de um possível armário de roupas. Ent

    retanto, o outro quarto foi uma surpresa. A cortina da janela estava intacta, ea cama parecia bem mais nova do que o restante da mobília. Uma colcha colorida revestia o colchão, e havia dois travesseiros junto da cabeceira da cama.Ð Posso ajudá-la?Uma voz grave e potente ecoou no silêncio, e Melissa quase morreu de susto. Com amão direita no peito ela se revirou e viu Jared estacado no vão da porta.Ð Deus! Você quase me matou de susto! Ð ela ex¬clamou.Ð Você não deveria estar trabalhando?Ð Estamos no horário de almoço Ð ela justificou. Ð Pensei que você fosse um fantasma! Ð to a excla¬mar, sentindo o coração disparado e a pele arrepiada.Ð Ainda estou muito vivo Ð ele falou devagar e com uma acusação no olhar. Ð O que você estzendo aqui?

    Ð Eu estava curiosa.Jared ficou em silencio e aguardou que ela prosseguisse.Ð Na noite passada você mencionou a cabana que per¬tencera aos seus tataravós, e eu decidi conhecê-la. Adoro construções antigas.Ð E caminhou por três quilômetros apenas para visitar uma velha cabana?Ð Isso mesmo.Ð Na hora do almoço?Ð Eu queria aproveitar a luz do dia.Ele deu um suspiro contrariado e depois meneou a cabeça.Ð Você tem atitudes muito estranhas, sabia? Em vez de se alimentar preferiu dar umalonga caminhada apenas para ver uma velha cabana. Como vai conseguir trabalhar à tarde sem ter almoçado?Ela poderia improvisar uma desculpa, mas estava mais interessada em lhe fazer al

    gumas perguntas.Ð O que acontece com este quarto? Ele parece em per¬feitas condições.Ð Talvez algum dos peões tenha resolvido dormir aqui.Ð Será mesmo?Ð Talvez possa descobrir por si mesma. Ele deve fazer as refeições junto com os demais no refeitório dos em¬pregados Ð Jared sugeriu com sarcasmo. Depois esten¬deu-lhe a mão. Ðenha. Eu lhe darei uma carona para casa.Ð Você está com o carro? Como eu não ouvi o barulho do motor?Ð Não. Estou com o Tango.Ela recuou um passo instintivamente.Ð Não me diga que está com medo de montar na ga¬rupa da sela.Ð Cla... Claro que não.Ð Então, vamos. Você precisa comer alguma coisa.Ð Eu prefiro...Ð Nada disso Ð ele protestou. Ð Perder o almoço foi uma atitude estúpida. Sinceramente, eu não sei como você conseguiu ficar viva até hoje. Ð Apanhou a mão dela e a forçou a acompalo para fora da cabana.Ð Seu avô tinha irmãos? Ð ela perguntou enquanto tentava acompanhar as longas passadas de Jared.Ð Apenas uma irmã Ð ele respondeu no instante em que se aproximavam de Tango.Jared o montou e depois estendeu a mão para ajudá-la. Melissa deu um longo suspiro para tomar coragem e em seguida agarrou o braço dele e gingou o corpo no ar até conseguir se acomodar de maneira desajeitada na sela, atrás de Jared.O cavalo grunhiu e moveu o corpo de um lado para outro.Jared repreendeu o animal em voz alta, e ele se acal¬mou. Melissa agarrou-se na ci

    ntura masculina com força.Ð Desculpe-me Ð ela sussurrou.Ð Você é mesmo atrapalhada Ð ele comentou. Ð Além de tudo, é atrapalhada!

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    Melissa apanhou as rédeas que ele lhe entregava e seus olhos verdes o fitaram comespanto. Era exatamente o que ele esperava. Com um suspiro, apanhou novamente as ré¬deas e avisou:Ð Está bem. Eu vou ajudá-la e depois você deverá co¬mer alguma coisa.Jared notou que Stephanie o observava com curiosida¬de, antes de se afastar. Bem,se ela desejava que ele não tivesse perdido o treino, então não deveria ter empregadouma principiante como Melissa.

    Ele enrolou as rédeas na cabeça da sela e amarrou uma corda ao redor do pescoço de Tango. Então começou a con¬duzir o cavalo na direção do estábulo. Melissa o seguia.Assim que entraram no estábulo com o portão verme¬lho, Jared introduziu Tango em sua baia. Então ordenou para Melissa:Ð Pronto. Agora você pode livrá-lo da sela.Ela arregalou os imensos olhos verdes. Mas não conse¬guiu sair do lugar.Ð Primeiro precisa desafivelar os cintos que prendem a sela no lombo do cavalo Ð ele falou com sarcasmo.Ela deu um passo à frente e secou o suor das mãos no jeans que usava. Mas, quando se aproximou do cavalo, Tango moveu o corpo de um lado para o outro e ela deu um salto para trás.Ð Calma, ele não vai mordê-la.

    Ð E se ele me der um coice?Ð Basta não fazer nenhum movimento súbito Ð ele aconselhou.Ð Ah, que ótimo! Isso me deixa bem mais tranqüila!Ð Sabe o que eu acho? Ð ele perguntou em tom de zombaria. Ð Que está na hora de pensar em outra coisa para fazer.Ð Eu estava perfeitamente feliz cuidando apenas de varrer o estábulo.Ð Ninguém fica perfeitamente feliz em varrer estábulos.Ð Eu estava.Ð Varrer estábulos serve para quem está em final de carreira Ð ele afirmou enquanto se aproximava dela e capturava-lhe uma das mãos para forçá-la a se aproximar do cavalo outra vez.Melissa tentou se libertar, mas ele avisou:Ð O segredo é que o animal perceba o que você está fazendo, assim não ficará assustado Ð e

    eclarou e conduziu a mão dela até a crina do animal, induzindo-a a afagá-lo.Tango girou o longo pescoço para ver o que estava acontecendo.Melissa tentou recuar, mas Jared não permitiu.Ð E agora? Quem está assustando quem? Ð ela berrou.Ð Você não pode demonstrar medo, e seu toque tem de ser firme Ð Jared anunciou e, com amão que estava livre, acariciou a crina de Tango para acalmá-lo. Depois condu¬ziu a mãode Melissa até o topo da sela. Ð Está vendo? Assim ele percebe a sua autoconfiança.Ð Mas eu não tenho autoconfiança!Ð É claro que tem! Ð ele exclamou e libertou a mão dela para que ela prosseguisse no trabalho.Entretanto, Melissa aproveitou a chance para recolher a mão e dar um passo para trás. Jared suspirou com frustração.Ð Eu já vi crianças de 5 anos de idade com mais cora¬gem do que você!Melissa ficou em silêncio por alguns segundos. Depois endireitou os ombros e, empinando o nariz, se aproximou de Tango.Ð Primeiro as fivelas Ð ele a orientou, e ela obedeceu. Ð Isso. Agora jogue as tiras de couro por cima da sela e depois a retire. Comece pela frente da sela e a ergajunto com a manta. Não a deslize pelo lombo do cavalo. Assim que conseguir retirá-la deverá levá-la para os fundos do estábulo. Eu lhe ensinarei onde deverá guardá-la.Com o coração na boca, Melissa seguiu as instruções e por fim conseguiu erguer a sela esegurá-la nos braços. O peso fez com que seu corpo miúdo e delicado cambale-asse, e ela teria caído para trás se Jared não se apressasse em ampará-la e evitar a queda. Não eratoa que Melissa se atrapalhasse tanto no que se referia a trabalhos que ne¬cessitassem de força física.Ð Você está bem?

    Ð Sim. Obrigada Ð: ela agradeceu e foi com a pesada sela até os fundos do estábulo.Ele a seguiu de perto para socorrê-la, caso fosse ne¬cessário.Ð Pode colocá-la no terceiro compartimento contan¬do do lado direito da parede. Depois

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     que almoçar poderá limpá-la.Ela concordou com um gesto de cabeça e depois lançou um olhar furioso para ele.Ð O que foi? Ð Jared questionou. Ð Está me critican¬do por tentar ajudá-la?Ð Não. O que me incomoda é o seu tom de voz auto¬ritário.Ð Sempre poderá desistir, se quiser.Ð Eu não vou desistir! Ð ela exclamou com o olhar desafiante. Ð Vamos embora. Ð E caminhou para a saída do estábulo.

    No instante em que eles desciam a colina na direção do rancho, Melissa aproveitou para perguntar:Ð Vocês chegaram a um acordo sobre a instalação de uma clínica em Tappee?Jared balançou a cabeça em gesto negativo.Ð Stephanie votou a meu favor, mas Otto concordou com Anthony.Ð Otto?Ð Sim. Otto Durand.Ð Eu não entendo. Ð Ela o olhou com curiosidade.Ð Não entende o quê?Melissa prendeu atrás de uma orelha a mecha de ca¬belos que a brisa insistia em soprar e lhe cobria rosto, ao mesmo tempo que respondia à pergunta de Jared:Ð Eu não entendo a razão de você precisar votar. Afi¬nal, você não é o presidente da Ryder

    national?Ð Sou, mas acontece que esse não é um projeto da Ryder International.Ð Não? Mas eu pensei que... Ele a interrompeu:Ð Os serviços de ajuda humanitária são concedidos pelo Genevieve Ryder Memorial Fund.O ponto de interrogação evidente no cenho franzido de Melissa fez com que Jared se explicasse melhor:Ð O Genevieve Ryder Memorial Fund é um programa de caridade que a família decidiu fundar, e foi batizado com o nome de nossa mãe.Ð Está me dizendo que sua mãe é falecida? Ele assentiu.Ð Sinto muito. Ð Ela lhe lançou um olhar terno. Jared encolheu os ombros.Ð Obrigado. Mas isso já faz vinte anos.Ð Mesmo assim, eu sei que a lembrança ainda deve ser muito dolorosa.Os olhares se cruzaram, e Jared ficou impressionado mais uma vez com a inteligênci

    a que podia detectar nos olhos grandes e verdes de Melissa. O olhar dela parecia es¬conder um segredo que ele se sentia incapaz de desvendar.Ð O Genevieve Fund é administrado por cinco mem¬bros Ð ele prosseguiu na explanação enquan procurava afastar as suspeitas da mente.Ð Só havia quatro pessoas na casa. Quem é o quinto membro? Ð ela perguntou de maneira casual, tornando a afastar os fios teimosos que insistiam em ocultar-lhe parte dorosto.Ð Meu irmão, Royce.Ð Isso quer dizer que a decisão final dependerá do voto dele?Ð Isso mesmo Ð Jared concordou balançando a cabe¬ça. Ð Ele deverá chegar ao rancho no próxdo.Ð Ah, sei. E ele trabalha no rancho ou para a empresa que cuida das construções?Ð Eu diria que Royce faz um trabalho de certa manei¬ra independente. Ele trabalha para a Ryder International, mas seu papel é apenas o de descobrir possíveis aquisi¬ções para a empresa. E não algo que requeira sua presença no dia a dia.Ð Isso quer dizer que foi ele quem descobriu a Saxena Electronics?Aquela pergunta o surpreendeu outra vez.Ð Como você sabe sobre Saxena?Ela passou a mão sobre os cabelos revoltos tentando alinhá-los e respondeu:Ð Eu já lhe disse, Jared. Estou acostumada a ler jornais.Ð E memoriza fatos tão irrelevantes como esse? Ela deu de ombros.Ð Eu tenho essa mania de memorizar coisas sem im¬portância.Ð Você já ouviu falar em Bosoniga?Ð Bosoniga? Ð ela repetiu com um sorriso amplo que revelou a maior parte dos dentesalvos e perfeitos. Ð Não se trata de um pequeno país no Oeste da África?

    Ele assentiu, demonstrando surpresa com aquela res¬posta.Ð Por que me fez essa pergunta, Jared? Por acaso está testando os meus conhecimentos?

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    Ð Não. Acontece que aprovamos um projeto para a construção de uma escola nesse lugar.Ð Ah... É uma excelente escolha! A monarquia é está¬vel. A pobreza e a falta de infraestrutura serão seus únicos problemas.Jared ficou pensativo por alguns minutos. Então deci¬diu indagar:Ð Por que você não tem um emprego de verdade?Ð O que você considera como emprego de verdade?Ð Um escritório onde você possa aproveitar todo o co¬nhecimento e inteligência que possui.

    Ð Ocorre que, se eu tivesse um emprego desses, não poderia estar vagando pelo país.Ð Há quanto tempo você está vagando pelo país? Ð ele quis saber, com um brilho de desconfi no olhar.Melissa estreitou os lábios ao perceber a suspeita. Será que ele estava pensando que ela poderia estar fugindo da justiça ou coisa parecida?Ð Não muito Ð ela respondeu de maneira evasiva e procurou mudar de assunto: Ð Você acredita que Royce vai votar a favor da família ou concordará com Otto e Anthony?Ð Anthony faz parte da família. Ele é nosso primo.Ð Verdade?Jared assentiu e completou:Ð Royce gosta de atitudes arriscadas. Ele mesmo se ofereceu a voar para Tappee.Ð Ele é piloto? Jared sorriu.

    Ð Sim. E pode ter certeza de que ele nasceu para ser um piloto. Viver dentro de um jato, voando para todos os cantos do planeta, é o que ele mais gosta de fazer navida.Ð Será que eu poderei conhecê-lo quando ele chegar ao rancho?Jared enrijeceu as feições.Ð Por quê? Está planejando flertar com ele?Ð Oh, não! O que acontece é que ele gosta de viajar, e eu também Ð ela respondeu e pensouem uma justi¬ficativa rápida. Ð Eu estava pensando que talvez você tenha razão. Eu deveria conseguir um emprego de verda¬de e economizar algum dinheiro. Quero dizer, viajar pela América é divertido, mas seria melhor se pudesse conhe¬cer outras partes do mundo.Ð Está se referindo a poder viajar no jato do meu irmão?Ð Não... Não é isso. Ð Ela ajeitou os cabelos outra vez. Ð Eu não estou querendo flertar c

    eu irmão. Apenas penso que...Jared ficou em silêncio e aguardou que ela prosseguis¬se. Ele realmente gostaria desaber o que é que ela estava pensando.Ð Eu penso que ele deve ser uma pessoa inteligente e divertida Ð Melissa continuou. ÐE, quem sabe, ele pos¬sa me dar algumas idéias de como eu poderia conseguir um emprego no qual pudesse viver viajando.Jared estacou no caminho e a fitou com espanto.Ð Não acredito que você esteja fazendo isso! Está pre¬tendendo usar minha influência parader se aproveitar de Royce!Ela ergueu os fantásticos olhos verdes e respondeu em tom suave:Ð Você está me entendendo de maneira errada, Jared. Eu não tenho nenhum interesse em Royce. Nem mes¬mo o conheço. E se estivesse interessada em conquistar homens ricos, acha que eu estaria limpando estábulos em Montana? Sem querer ofender, mas Manhattan épróxima de Gary, e está lotada de homens bilionários e famosos.Jared observava os lábios polpudos de Melissa enquan¬to ela articulava as palavras e afastava as mechas de ca¬belo que a brisa do campo insistia em desalinhar. Os raios do sol faziam com que os olhos dela exibissem um brilho intenso e parecessemcomo se fossem duas pedras precio¬sas de esmeralda.Ð E então? O quanto estúpida você acha que eu sou?Ð Eu não acho que você seja estúpida. E esse é o pro¬blema Ð ele afirmou, desgostoso, e coa caminhar outra vez.

    Melissa o seguiu em silêncio.Quando terminaram de descer a colina, Jared seguiu para a casa e Melissa foi para o restaurante dos emprega¬dos a fim de comer alguma coisa.

    Sobre a mesa longa de madeira rústica ainda restavam alguns recipientes que continham alimentos dispostos para que os empregados se servissem. Ela apanhou um prato fundo e colocou algumas colheradas de sopa de le¬gumes e depois se dirigiu a uma

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     mesa nos fundos do salão.Ela sabia que havia provocado a desconfiança de Jared. Jamais deveria ter pedido para conhecer Royce. Devia ter se contentado com o fato de que havia convencido Jared de que ela não passava de uma sem-teto. Mas, não. O en¬tusiasmo em saber que estava conseguindo fazê-lo falar sobre a vida dele, o que sem dúvida faria com que acabas¬se obtendo a entrevista que poderia lhe abrir as portas para uma eventual promoção,inflaram-lhe o ego de tal maneira que Melissa decidira exibir sua esperteza e re

    velar seu conhecimento sobre Bosoniga e Tappee. Exatamente como faria uma estudante adolescente que estivesse a fim de impressionar o professor.Bosoniga tem uma monarquia estável... Ela zombou de si mesma em pensamento.Não seria melhor se ela tivesse esfregado seu diploma universitário no nariz dele eo desafiado para adivinhar a razão de ela estar ali limpando estábulos?Inconformada com sua própria estupidez, Melissa abandonou o garfo no prato. Fincou o cotovelo direito so¬bre a mesa e apoiou a cabeça na palma da mão.Por qual motivo ela mesma estava sabotando sua pró¬pria história?Ð Melissa?Uma voz feminina lhe chamou a atenção e ela notou que alguém se acomodava na cadeira ao lado da que ela ocupava. Melissa ergueu a cabeça e viu que se tratava de Stephanie, que acabava de se sentar e pousava sobre a mesa um copo com suco de laranja.

    Já eram duas da tarde e o salão estava praticamente va¬zio. Apenas as vozes do pessoal que trabalhava na cozinha podiam ser ouvidas ao longe. Na mesa posta à disposi¬ção dosempregados ainda havia suco de frutas, biscoito e café, para o caso de alguém desejar um pequeno lanche.Uma das auxiliares do serviço estava limpando algu¬mas mesas e deixando-as preparadas para o jantar.Ð Olá! Ð Melissa cumprimentou Stephanie em um tom de voz educado.A jovem removeu o capacete de equitação da cabeça e o depositou sobre o assento vazioda cadeira que estava mais próxima.Ð Eu vi que Jared a ajudou com Tango Ð Stephanie comentou com um sorriso amigável.Ð Foi muito gentil da parte dele Ð Melissa respon¬deu com um frio na barriga. Sentia-se incomodada por ter mentido para a jovem, e ao mesmo tempo, estava receosa de que ela desconfiasse da farsa. Após uma breve pausa, ela escolheu cuidadosamente as

     palavras e prosseguiu: Ð Quanto a minha habilidade com cavalos... Bem, acho que exagerei um pouco quando falei com você na pri¬meira vez.Melissa encolheu os ombros e aguardou pela reação. Porém, para sua surpresa, Stephanie abanou uma das mãos no ar e comentou:Ð Isso não tem importância. Afinal, não é preciso ser um gênio para poder varrer um estábuÐ Não está zangada comigo?Ð Claro que não. Ð Stephanie ergueu a xícara até os lábios e provou um gole do café. Ð Eue as pessoas exageram em suas habilidades quando querem conseguir um emprego.Ð Acho que tem razão Ð Melissa concordou, aliviada. Ainda bem que Stephanie pensava dessa maneira e não iria despedi-la por causa disso.Ð E então? O que achou dele?Ð De Tango? Ð Será que Stephanie pretendia ensi¬ná-la como cavalgar?Ð Não. Estou me referindo a Jared.Melissa captou a insinuação contida nos olhos da jo¬vem e ficou preocupada. Por isso,procurou ter cuidado com a resposta que lhe daria.Ð Ele parece ser uma pessoa muito educada Ð ela afirmou, mas na verdade consideravaJared arrogante e sarcástico. Talvez, sexy de alguma maneira.Stephanie balançou cabeça e declarou com entusiasmo:Ð Jared é fantástico! Ele é mais do que educado, eu posso lhe garantir. Muitas mulheresestão loucas para conquistá-lo. É difícil para uma irmã dizer isso, mas ima¬gino que ele sa bastante sexy.Melissa desviou o olhar para o prato com a sopa e falou em tom contido:Ð Ele é de fato um homem atraente.Ð Você deveria ter visto a mulher com quem ele estava acompanhado no final de semana passado. A foto deles saiu em um jornal de Chicago. Ela é muito bonita, e é advogad

    a.Melissa tomou uma colherada da sopa enquanto pen¬sava. Por que ela teria ciúme de alguma advogada bonita que o estivesse acompanhando em Chicago? Não era da sua conta

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     com quem Jared saía ou não.Ð Eu perguntei se ele estava tendo um caso com ela Ð continuou Stephanie. Ð Mas Jaredme disse que não estava interessado na moça. Ð Com uma sacudida de ombros, concluiu: Ð Então, ele não está comprometido com ninguém.Melissa conteve um riso. Stephanie deveria ser apenas uns quatro ou cinco anos mais nova do que Melissa, po¬rém sua pureza e inocência eram evidentes. Talvez isso sedevesse à vida pacata que ela levava no rancho.

    Ð Sinceramente, Stephanie Ð Melissa assegurou. Ð Eu não acredito que seu irmão esteja interessado em mim.A última coisa que ela precisava seria Stephanie provo¬car um motivo para que Jareda despedisse. E seria exata¬mente o que aconteceria se ele desconfiasse das intençõesda irmã.Ð Ele acha que você é bonita.Melissa a olhou com espanto, e Stephanie seguiu adiante:Ð Foi o que ele me disse no primeiro dia em que a viu.Ð Essa não é uma boa idéia, Stephanie. Eu e Jared pertencemos a mundos diferentes Ð Melissa argumentou imaginou como seria a reação dela se soubesse que estava ali para espioná-lo. Sem contar o fato de que Jared a desprezaria dali a três semanas quando visse o artigo no jornal.

    Ð E o que importa? Meu pai também era rancheiro e minha mãe foi criada em Boston.Melissa sabia que aquele era um ponto excelente que eIa poderia aproveitar paraconseguir maiores informações sobre a família. Mas, por alguma razão, não teve co¬ragem deressionar Stephanie.Ð Minha mãe era muito bonita Ð a jovem prosseguiu. E também era loira como você. Ð E com ususpiro, eIa concluiu: Ð Eu gostaria muito de ser parecida com a minha mãe.Ð Mas você é linda! Ð Melissa exclamou. Stephanie franziu o nariz.Ð Não sou não. Eu tenho sardas, e os meus cabelos tão vermelhos. Além disso, faz três anosue não compro um vestido.Ð Bem, isso é fácil de se resolver.Ð Aposto que você tem muitos vestidos bonitos.Ð Não muitos Ð Melissa respondeu e depois fixou olhar nos olhos de Stephanie, dizendo: Ð Prometa-me que não tentará bancar o cupido.

    Ð Eu prometo ser discreta.Ð Não, Stephanie. Não faça isso. Eu já lhe disse que Jared não está interessado em mim. Voembaraçar nós dois se tentar essa aproximação.Stephanie tomou mais um gole do café e depois afirmou com uma expressão de quem havia entendido o recado:Ð Eu prometo que não farei nada que a deixe emba¬raçada.

    CAPITULO CINCO

    Melissa havia esperado por toda a manhã para ver se conseguia uma chance de falarcom Jared a sós. Ela queria preveni-lo das maquinações de Stephanie e lhe garantir que não tinha nada a ver com isso.Contudo, ela não tinha coragem de bater à porta da casa e perguntar por ele.Do estábulo onde ela trabalhava, Melissa podia avistar a casa e tinha certeza de que Jared ainda não havia saído.Melissa sentia as palmas das mãos arderem por conta de polir as selas de couro. Pelo menos, ela estava conse¬guindo prosseguir no emprego.Quando chegou o horário do almoço e ela não vira si¬nal de Jared, começou a ficar preocupada. Se Stephanie já havia comentado algo com ele, talvez Jared a estivesse evitando de propósito. E, se ela não agisse rápido, poderia acontecer de ele partir do rancho sem que ela tivesse a possibilidade de conseguir mais informações para o seu artigo

    . Melissa tinha de arranjar uma maneira de encon¬trá-lo. Ela pensou em várias possibilidades e por fim se decidiu por um plano. Se conseguisse descobrir qual era o número do celular de Jared, ela poderia falar com ele sem que Stephanie soubesse.

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    Decidida, Melissa entrou para os fundos do estábulo e apanhou o celular da bolsa,que havia guardado em um dos armários. Não foi difícil descobrir o número do escri¬tório ctral da Ryder International. A recepcionista pas¬sou a ligação para a secretária de Jared.Ð Escritório do sr. Jared Ryder Ð uma voz feminina atendeu.Ð Eu preciso falar com o sr. Jared Ryder, por favor Ð Melissa solicitou, na esperançade que a assistente lhe oferecesse o número do celular dele.

    Ð O sr. Ryder não se encontra no momento Ð a voz soou polida e profissional. Ð Será que eu posso ajudá-la em alguma coisa?Ð Obrigada, mas meu assunto com ele é particular. Será que poderia me dizer qual é o número do celular do sr. Ryder? Ð Melissa cruzou os dedos mentalmente, de-sejando que a mulher lhe ditasse o número.Ð Sinto muito, mas eu não estou autorizada a fornecer essa informação. Há alguém mais comem...Melissa a interrompeu:Ð Você teria condições de enviar uma mensagem para ele?A secretária respondeu em tom de voz impaciente:Ð Eu poderia saber com quem estou falando?Ð Se eu lhe disser meu nome, você enviará a mensagem?

    Ð O sr. Ryder retornará ao escritório apenas na próxi¬ma semana.Ð Mas eu preciso falar com ele o mais rápido possível. O assunto é urgente.Ð Bem, se me fornecer seu nome eu verei o que posso fazer.Ð Meu nome é Melissa. Melissa Webster.Ð E qual seria o assunto que eu devo relatar na men¬sagem?Aquela era uma boa pergunta.Melissa raciocinou por um momento. Com certeza não poderia dizer que ela era uma repórter, mas se o assun¬to não parecesse importante, a secretária não mandaria a mensagemcom urgência.Ð Diga que se refere à Saxena Electronics Ð ela falou num impulso.Ð Você faz parte da Saxena? Ð O ceticismo na voz da assistente era evidente.Melissa só podia deduzir que os funcionários da Saxe¬na falariam com sotaque do Oesteda Índia. Era por isso que a assistente estava em dúvida.

    Ð Eu faço parte de uma empresa filiada à Saxena Ð ela mentiu. Ð E na mensagem você poderár que Me¬lissa Webster precisa falar com ele sobre assuntos relacio¬nados à Saxena. Em particular e com urgência Ð Melissa enfatizou e informou o número do seu celular para que ele entrasse em contato.Ð Tudo bem. Mas eu não tenho certeza se...Ð Por favor. O assunto é muito importante.Ð Eu verei o que posso fazer.Ð Talvez uma mensagem de texto ou um e-mail?Ð Eu verei o que posso fazer Ð a mulher repetiu em tom ríspido.Melissa entendeu que era o momento de parar com a pressão e agradeceu:Ð Obrigada pela ajuda. Em tom profissional e formal a secretária recitou o chavão:Ð Obrigada por ligar para a Ryder International.Ð Eu é que agradeço Ð Melissa falou antes de desligar. Em seguida ela tornou a guardar o celular na bolsa.Ajeitou as tiras num ombro e decidiu sair para o almoço. Melissa detestava precisar ir para o restaurante da ma¬neira como estava vestida, mas tratava-se de uma longa caminhada para chegar até a sua cabana e ela não queria perder o horário do almoço.Ela mal dera alguns passos para fora do estábulo quan¬do Jared bloqueou-lhe o caminho com o próprio corpo.Ð O que diabos você andou dizendo para a minha se¬cretária? Ð ele questionou, irritado.Ela espiou ao redor e perguntou em voz baixa:Ð Stephanie está com você?Ð Que história é essa de querer falar em particular co¬migo? Ð ele insistiu sem se importar com a pergunta que ela lhe fizera.Ð Eu já lhe explico Ð Melissa declarou enquanto se assegurava de que Stephanie não estav

    a por perto. Ð Existe algum lugar onde possamos conversar com mais tranqüilidade?Jared hesitou. Então gesticulou na direção do estábulo.Ð Há uma escada nos fundos que conduz a um escri¬tório.

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    Ð Ótimo! Ð ela exclamou e, girando o corpo, retor¬nou para o estábulo.Jared a seguiu.Eles subiram a escada estreita que acabava em um hall, onde havia três portas.Ð É a última porta Ð Jared murmurou. Ð Espero que tenha uma boa explicação para tudo isso.ha assisten¬te alertou os dirigentes da Saxena para se prevenirem de uma possível sabotagem no controle. Ela achou que você estava tentando me avisar de algum golpe para se apossa¬rem da empresa.

    Melissa encolheu os ombros.Ð Sinto muito. Você já os contatou para tranquilizá-los?Ð Claro que sim Ð ele respondeu.Melissa ouvia o barulho produzido pelas pisadas fortes das botas dele no assoalho de madeira enquanto a seguia.Ð É melhor que não se trate de assunto sobre algum novo flerte.Ð Não é nada sobre flerte Ð ela garantiu no momento em que estacava em frente da p