A Aglomeracao Urbana Da Soja_dissertacao Cleverson

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  • CLEVERSON ALEXSANDER REOLON

    A AGLOMERAO URBANA DA SOJA: CASCAVEL E TOLEDO NO CONTEXTO DA METROPOLIZAO

    NA MESORREGIO OESTE PARANAENSE

    TOLEDO 2007

  • CLEVERSON ALEXSANDER REOLON

    A AGLOMERAO URBANA DA SOJA: CASCAVEL E TOLEDO NO CONTEXTO DA METROPOLIZAO

    NA MESORREGIO OESTE PARANAENSE

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Agronegcio da Universidade Estadual do Oeste do Paran, como requisito parcial obteno do Ttulo de Mestre, sob a orientao do Prof. Dr. Edson Belo Clemente de Souza.

    TOLEDO 2007

  • Catalogao na Publicao elaborada pela Biblioteca Universitria UNIOESTE/Campus de Toledo Bibliotecria: Marilene de Ftima Donadel CRB 9/924

    Reolon, Cleverson Alexsander R424a A aglomerao urbana da soja: Cascavel e Toledo no

    contexto da metropolizao na mesorregio oeste paranaense / Cleverson Alexsander Reolon Toledo, PR: [s. n.], 2007.

    244 f.

    Orientador: Dr. Edson Belo Clemente de Souza Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento Regional e

    Agronegcio) Universidade Estadual do Oeste do Paran. Campus de Toledo. Centro de Cincias Sociais Aplicadas

    1. Geografia regional 2. Geografia urbana 3. Poltica urbana

    Paran Mesorregio Oeste 4. Desenvolvimento regional 5. reas metropolitanas 6. Aglomerao urbana 7. Planejamento territorial urbano 8. Metropolizao 9. Cidades mdias 10. Aglomerao urbana da soja I.T

    CDD 20. ed. 918.162 711.4098162 307.763

  • CLEVERSON ALEXSANDER REOLON

    A AGLOMERAO URBANA DA SOJA: CASCAVEL E TOLEDO NO CONTEXTO DA METROPOLIZAO NA MESORREGIO OESTE PARANAENSE

    Dissertao aprovada, como requisito parcial para obteno do Grau de Mestre no Curso de Desenvolvimento Regional e Agronegcio, do Centro de Cincias Sociais Aplicadas, da Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), campus de Toledo, pela seguinte banca examinadora:

    (Orientador) Prof. Dr. Edson Belo Clemente de Souza UNIOESTE, campus de Toledo

    Prof. Dr. Maria Encarnao Beltro Sposito Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Cincias e Tecnologia, campus de

    Presidente Prudente

    Prof. Dr. Jefferson Andronio Ramundo Staduto UNIOESTE, campus de Toledo

    Toledo, 07 de maro de 2007

  • Aos meus pais, Lucila e Nadir, e minha namorada, Marcia, que,

    com apoio, incentivo, carinho e compreenso me inspiraram e

    contriburam para a realizao deste projeto.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela plena capacidade fsica e mental para a realizao

    deste projeto.

    Ao professor Dr. Edson Belo Clemente de Souza, pela ateno,

    apoio e incentivo durante o processo de orientao.

    Aos meus familiares, em especial, meus pais, Nadir Egidio Reolon e

    Lucila Brustolin Reolon, no apenas pelo apoio moral, como tambm financeiro.

    minha namorada, Marcia Cristina Hickmann com quem pude

    compartilhar muitas angstias , pela pacincia em relao aos atrasos em

    compromissos e tambm pela reviso prvia dos textos.

    Aos meus colegas, pela amizade e contribuio aos debates e

    definio dos compromissos com o programa de mestrado.

    Enfim, a todos aqueles que, de alguma forma, contriburam e

    tornaram possvel a realizao desta pesquisa. Dentre estas pessoas, gostaria de

    citar algumas: Rosa Moura, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico

    e Social (IPARDES), pelo incentivo e auxlio no incio e decorrer da pesquisa; Olga

    Lcia Castreghini de Freitas Firkowski, da Universidade Federal do Paran (UFPR),

    pelas sugestes de pesquisa; Srgio Bonatto Cardoso e Newton Merlin, em nome do

    Departamento de Estradas de Rodagem do Paran (DER/PR); Vanessa Alberge, do

    DER/PR, pela pacincia que teve em atender vrias solicitaes; Jlio A. Bozza,

    pela considerao e boa vontade com que nos recebeu e auxiliou nos momentos de

    dvida, em nome da Princesa dos Campos; Assis Gurgacz e demais funcionrios da

    Empresa Unio Cascavel de Transporte e Turismo (EUCATUR) e tambm da

  • Empresa de Transportes Coletivos Toledo (TRANSTOL); Marley Vanice Deschamps,

    em nome do Ipardes; Luis Carlos Garcia e demais servidores da agncia do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) de Toledo; Lus Alceu Paganotto e Yara

    Arajo Siqueira Ceccatto, da agncia do IBGE de Curitiba, pela presteza; Maria Elisa

    Battisti, assessora do deputado estadual Elton Welter, pela solicitude; Flaviana

    Gasparotti Nunes, professora adjunta da Universidade Federal da Grande Dourados

    (UFGD); Joo Edmlson Fabrini, professor efetivo da Universidade Estadual do

    Oeste do Paran (UNIOESTE), campus de Marechal Cndido Rondon; Gerte Ceclia

    Filipetto, Luiz Renato Zeni da Rocha, Expedito Piranha e Enio Brustolin, da

    Prefeitura de Toledo; Nilceu Jacob Deitos, professor titular da Unioeste; Clarice,

    secretria da coordenadoria do Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento

    Regional e Agronegcio da Unioeste, campus de Toledo; Marilene de Ftima, em

    nome de todos os servidores da biblioteca da Unioeste, campus de Toledo.

  • Mohammed Ashraf no vai escola.

    Desde que o sol sai at que a lua aparea, ele corta, recorta,

    perfura, arma e costura bolas de futebol, que saem rodando da

    aldeia paquistanesa de Umar Kot para os estdios do mundo.

    Mohammed tem onze anos. Faz isso desde os cinco.

    Se soubesse ler, e ler em ingls, poderia entender a inscrio

    que ele prega em cada uma de suas obras: Esta bola no foi

    fabricada por crianas.

    Eduardo Galeano, em De pernas

    pro ar: a escola do mundo ao avesso, de 1999

  • REOLON, Cleverson Alexsander. A aglomerao urbana da soja: Cascavel e Toledo no contexto da metropolizao na Mesorregio Oeste Paranaense. 2007. Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegcio) Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE), campus de Toledo.

    RESUMO

    O objetivo desta dissertao analisar a relao entre o processo de metropolizao e a criao de unidades regionais no Brasil. Os elementos que motivaram a pesquisa foram os resultados do estudo Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil, que determinou a existncia e a espacialidade de uma aglomerao urbana composta, basicamente, por Cascavel, Toledo e Santa Tereza do Oeste, na Mesorregio Oeste Paranaense, e a apresentao, Assemblia Legislativa do Paran, dos projetos de lei complementar n. 110 de 2003 e 235 de 2003, que visavam a instituio de unidades regionais polarizadas, respectivamente, por Cascavel e Toledo, duas cidades mdias contguas. Em virtude da generalizao de Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil, decidiu-se aprofundar tal pesquisa, utilizando-se novos elementos para caracterizar a existncia e mapear a espacialidade de aglomeraes urbanas, como dados e informaes referentes ao transporte coletivo intermunicipal e dados do Censo Demogrfico de 2000, mensurando-se os movimentos pendulares exercidos pela populao. Dessa forma, apontou-se a existncia de pelo menos uma aglomerao urbana na Mesorregio Oeste Paranaense, a aglomerao urbana da soja, composta por dois ncleos, ou seja, bipolarizada por Cascavel e Toledo, agregando, ainda, em se tratando dos distritos, Corblia, Ouro Verde do Oeste, Santa Tereza do Oeste e Sede Alvorada, com reas de expanso configuradas por Cafelndia, Ibema, Marechal Cndido Rondon, Quatro Pontes, Rio do Salto, So Jos das Palmeiras, So Pedro do Iguau e Vera Cruz do Oeste. Tendo em vista as caractersticas da reestruturao socioespacial no Brasil, pode-se dizer que as problemticas metropolitanas da aglomerao urbana da soja tendem a se aprofundar, ampliando-se, assim, os nveis de complementaridade entre os distritos que a compem e, em corolrio, a complexidade da rede urbana regional. Portanto, existe um processo de metropolizao entre Cascavel, Toledo e cidades adjacentes. Como resultado, pode-se assegurar que o processo de metropolizao se encontra bastante afastado da arena parlamentar. Paralelamente, tambm se pode afirmar que a institucionalizao de unidades regionais est repleta de interesses corporativos e poltico-partidrios.

    Palavras-chave: metropolizao; instituio de unidades regionais; aglomerao urbana; aglomerao urbana da soja; cidades mdias metropolitanas.

  • REOLON, Cleverson Alexsander. The urban agglomeration of soy bean: Cascavel and Toledo in the context of the metropolization in the West Region of Paran. 2007. Dissertation (Masters degree in Regional Development and Agribusiness) State University of the West of Paran (UNIOESTE), campus of Toledo.

    ABSTRACT

    The objective of this dissertation is to analyze the relationship between the metropolization process and the institution of metropolitan areas in Brazil. The elements that motivated the research were the results of Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil study, that determinated the existence and the spatiality of an urban agglomeration formed, basically, by Cascavel, Toledo and Santa Tereza do Oeste, situated in the West Region of Paran State, and the presentation to the Legislative Assembly of Paran of the complementary law projects n. 110 of 2003 and 235 of 2003, that aimed to institute the metropolitan regions of Cascavel and Toledo, respectively. Its important to say that Cascavel and Toledo are two contiguous intermediate-sized cities. Because of the generalization of Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil study we decided to turn the researches deeper using new elements to mark the existence and the spatiality of the urban agglomerations, like statistics and information that refers to the inter-districtal public transportation service and the Census of 2000, to measure the commuting. This way, we indicated the existence at least of one urban agglomeration in the West Region of Paran, the urban agglomeration of soy bean, which has two central cities, Cascavel and Toledo, and it is also consisting by Corblia, Ouro Verde do Oeste, Santa Tereza do Oeste and Sede Alvorada, with expansion areas configuring by Cafelndia, Ibema, Marechal Cndido Rondon, Quatro Pontes, Rio do Salto, So Jos das Palmeiras, So Pedro do Iguau and Vera Cruz do Oeste municipal districts. Bearing in mind the characteristics of the social and spatial restructuring in Brazil, we can say that the metropolitan problems of the urban agglomeration of soy bean tend to get deeper, enlarging the integration levels of social and economic aspects among its districts and, consequently, the complexity of the regional urban network. Therefore, exists a metropolization process among Cascavel, Toledo and the adjacent cities. As a conclusion, we can assure that the metropolization process is quite away from the political scene. In parallel, we also can say that the institution of metropolitan areas is full of corporatism and political-party interests.

    Key-words: metropolization; the institution of metropolitan areas; urban agglomeration; urban agglomeration of soy bean; metropolitan intermediate-sized cities.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Localizao da rea de estudo .......................................................23

    Figura 2 Unidades regionais institudas no Brasil, conforme o ano de

    criao (2006) .................................................................................53

    Figura 3 Aglomerao urbana de Cascavel, na Mesorregio Oeste

    Paranaense, segundo Caracterizao e Tendncias da Rede

    Urbana do Brasil (2001) ..................................................................60

    Figura 4 Regies metropolitanas de Cascavel e Toledo, na Mesorregio

    Oeste Paranaense, conforme os projetos de lei complementar n.

    110 e 235 de 2003 ..........................................................................61

    Figura 5 Regio Metropolitana de Cascavel, na Mesorregio Oeste

    Paranaense, conforme o projeto de lei complementar n. 03 de

    2007................................................................................................66

    Figura 6 Regio Integrada de Desenvolvimento do Extremo Oeste do

    Paran, na Mesorregio Oeste Paranaense, conforme a emenda

    substitutiva geral apresentada ao projeto de lei complementar n.

    03 de 2007 ......................................................................................70

    Figura 7 Urbanizao dos municpios da Mesorregio Oeste Paranaense

    (1960-2000) ....................................................................................101

    Figura 8 Composio do Valor Adicionado Fiscal (VAF) dos municpios da

    Mesorregio Oeste Paranaense (2002) ..........................................106

    Figura 9 Rendimento mensal mdio e mediano dos municpios da

    Mesorregio Oeste Paranaense (2000) ..........................................117

  • Figura 10 Taxas geomtricas de crescimento da populao urbana e total

    dos municpios da Mesorregio Oeste Paranaense (1991-2000) ...125

    Figura 11 Densidade demogrfica dos distritos da Mesorregio Oeste

    Paranaense (2000) .........................................................................128

    Figura 12 reas perimetrais, representando anis constitudos a cada 15

    quilmetros em torno das reas urbanas de Cascavel e Toledo

    (2000)..............................................................................................130

    Figura 13 Anis de densidade populacional configurados pelos distritos e

    municpios da Mesorregio Oeste Paranaense (2000) ...................132

    Figura 14 Populao Economicamente Ativa (PEA) urbana dos distritos da

    Mesorregio Oeste Paranaense (2000) ..........................................134

    Figura 15 Fragmento do questionrio do Censo Demogrfico de 2000,

    equacionado pelo IBGE ..................................................................136

    Figura 16 Deslocamento para trabalho e/ou estudo, segundo a origem dos

    fluxos, conforme os municpios da Mesorregio Oeste

    Paranaense (2000) .........................................................................140

    Figura 17 Deslocamento para trabalho e/ou estudo, segundo a origem e

    destino dos fluxos, conforme os municpios da Mesorregio Oeste

    Paranaense (2000) .........................................................................141

    Figura 18 Itinerrio dos nibus intermunicipais na Mesorregio Oeste

    Paranaense (2006) .........................................................................145

    Figura 19 Origem das pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal, conforme a mdia diria, segundo os distritos da

    Mesorregio Oeste Paranaense (2006) ..........................................148

  • Figura 20 Destino das pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal, conforme a mdia diria, segundo os distritos da

    Mesorregio Oeste Paranaense (2006) ..........................................149

    Figura 21 Origem das pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal, segundo os distritos da Mesorregio Oeste

    Paranaense, considerando-se a relao entre a mdia diria dos

    dias teis (DU) e dos finais de semana e feriados (FSF) (2006) ....151

    Figura 22 Destino das pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal, segundo os distritos da Mesorregio Oeste

    Paranaense, considerando-se a relao entre a mdia diria dos

    dias teis (DU) e dos finais de semana e feriados (FSF) (2006) ....152

    Figura 23 Pares de distritos da Mesorregio Oeste Paranaense com fluxo

    dirio de pessoas, no mbito do transporte coletivo

    intermunicipal, acima da mdia registrada em todos os dias

    analisados (51) e tambm nos dias teis (53) (2006) .....................154

    Figura 24 Maiores fluxos de pessoas entre distritos da Mesorregio Oeste

    Paranaense, no mbito do transporte coletivo intermunicipal,

    conforme a mdia diria dos dias teis (DU) e finais de semana e

    feriados (FSF) (2006)......................................................................155

    Figura 25 A aglomerao urbana da soja e reas de expanso, conforme

    os distritos e municpios da Mesorregio Oeste Paranaense

    (2006)..............................................................................................164

    Figura 26 Estabelecimentos da indstria de transformao participao

    municipal sobre o total do Paran (1995 e 2004) e diferena

    porcentual de participao entre 1995 e 2004 ................................178

  • Figura 27 Estabelecimentos de sedes de empresas e unidades

    administrativas locais mais as holdings participao municipal

    sobre o total do Paran (1995 e 2004) e diferena porcentual de

    participao entre 1995 e 2004.......................................................181

    Figura 28 Aspectos da infra-estrutura de transporte da aglomerao urbana

    da soja, com destaque BR-467 e reas projetadas

    implantao do aeroporto regional..................................................192

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Fluxo mdio de pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal nos dias teis, entre os distritos da Mesorregio

    Oeste Paranaense selecionados, conforme a origem e destino

    dos fluxos e horrios de sada dos nibus (2006)...........................157

    Grfico 2 Fluxo mdio de pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal nos dias teis, entre os distritos da Mesorregio

    Oeste Paranaense selecionados, conforme a origem e destino

    dos fluxos e horrios de sada dos nibus (2006)...........................159

    Grfico 3 Fluxo mdio de pessoas que utilizam o transporte coletivo

    intermunicipal nos dias teis, entre os distritos da Mesorregio

    Oeste Paranaense selecionados, conforme a origem e destino

    dos fluxos e horrios de sada dos nibus (2006)...........................160

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Aspectos socioeconmicos, demogrficos e territoriais da

    aglomerao urbana da soja e de sua rea de expanso em

    relao a outros nveis territoriais (2000) ........................................166

    Tabela 2 Aspectos econmicos da aglomerao urbana da soja e de sua

    rea de expanso em relao a outros nveis territoriais (2002) ....167

  • LISTA DE APNDICES

    Apndice A Municpios da Mesorregio Oeste Paranaense (2000) ...................211

    Apndice B Distritos da Mesorregio Oeste Paranaense (2001) .......................212

    Apndice C Principais plos mesorregionais do Paran (2007).........................213

  • LISTA DE ANEXOS

    Anexo A Projeto de Lei Complementar n. 110 de 2003.................................215

    Anexo B Projeto de Lei Complementar n. 235 de 2003.................................219

    Anexo C Projeto de Lei Complementar n. 231 de 2003.................................223

    Anexo D Proposio de Veto ao Projeto de Lei Complementar n. 110 de

    2003................................................................................................227

    Anexo E Mensagem n. 002 de 2007 .............................................................233

    Anexo F Projeto de Lei Complementar n. 03 de 2007...................................236

    Anexo G Substitutivo geral ao Projeto de Lei Complementar n. 03 de 2007 .239

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AMOP Associao dos Municpios do Oeste do Paran

    APL Arranjo Produtivo Local

    BNH Banco Nacional de Habitao

    CCJ Comisso de Constituio e Justia

    CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica do Paran

    CNAE Classificao Nacional de Atividades Econmicas

    CNPU Comisso Nacional de Regies Metropolitanas e Poltica Urbana

    CONCLA Comisso Nacional de Classificao

    CT&I Cincia, tecnologia e inovao

    DER Departamento de Estradas de Rodagem

    DER/PR Departamento de Estradas de Rodagem do Paran

    DU Dias teis

    FERROESTE Estrada de Ferro Paran Oeste S.A.

    FSF Finais de semana e feriados

    FUNDEMARC Fundao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico de

    Marechal Cndido Rondon

    FUNDETEC Parque Tecnolgico Industrial do Oeste e a Fundao para o

    Desenvolvimento Tecnolgico

    FUNTEC Fundao para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico de

    Toledo

    GAM Grupo de reas Metropolitanas

    GEGRAM Grupo Executivo da Grande So Paulo

    GERM Grupo Executivo da Regio Metropolitana de Porto Alegre

  • IAPAR Instituto Agronmico do Paran

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social

    Km2 Quilmetros quadrados

    MARIP Madeireira Colonizadora Rio Paran

    MASTRO Movimento dos Agricultores Sem Terra do Oeste do Paran

    MERCOSUL Mercado Comum do Sul

    MST Movimento dos Sem Terra

    PCPM Programa para as Cidades de Porte Mdio

    PCPM/BIRD Programa para as Cidades de Porte Mdio Mundial

    PDU Poltica de Desenvolvimento Urbano e Regional para o Estado do

    Paran

    PEA Populao Economicamente Ativa

    PIB Produto Interno Bruto

    PND Plano Nacional de Desenvolvimento

    PRDE Plano Regional de Desenvolvimento Estratgico

    RAIS Relao Anual de Informaes Sociais

    REGIC Regio de Influncia das Cidades

    SEFHAU Sistema Federal de Habitao

    SIG Sistema de Informaes Geogrficas

    UFPR Universidade Federal do Paran

    UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran

    URBE-2 Macrozona de Urbanizao Especfica

    UTFPR Universidade Tecnolgica Federal do Paran

    VAF Valor Adicionado Fiscal

  • SUMRIO

    INTRODUO.........................................................................................................21

    1. AGLOMERAES URBANAS E UNIDADES REGIONAIS: TEORIA E

    PRTICA METROPOLITANA.............................................................................32

    1.1 METROPOLIZAO E AGLOMERAES URBANAS: DEFININDO CONCEITOS ..................35

    1.2 A INSTITUCIONALIZAO DE UNIDADES REGIONAIS NO BRASIL..................................45

    1.2.1 A INSTITUCIONALIZAO DE UNIDADES REGIONAIS NA MESORREGIO OESTE

    PARANAENSE.....................................................................................................57

    2. MESORREGIO OESTE PARANAENSE: DO SERTO PARANAENSE

    INTEGRAO REGIONAL E NACIONAL ATRAVS DO SISTEMA DE

    CIDADES ............................................................................................................73

    2.1 A MARCHA PARA O OESTE E O PAPEL DAS COMPANHIAS COLONIZADORAS NA

    OCUPAO DA MESORREGIO OESTE PARANAENSE...............................................74

    2.2 O MEIO RURAL E O DESENVOLVIMENTO URBANO: INTEGRAO E ESTRUTURAO

    ESPACIAL DA MESORREGIO OESTE PARANAENSE (1960-2000).............................85

    3. A AGLOMERAO URBANA DA SOJA: LIMIARES E LIMITES.......................119

    3.1 CARACTERSTICAS DEMOGRFICAS E DE ESTRUTURA OCUPACIONAL DOS MUNICPIOS

    E/OU DISTRITOS DA MESORREGIO OESTE PARANAENSE ........................................123

    3.1.1 A TAXA DE CRESCIMENTO POPULACIONAL.............................................................124

    3.1.2 A DENSIDADE DEMOGRFICA...............................................................................127

    3.1.3 A POPULAO ECONOMICAMENTE ATIVA URBANA..................................................133

    3.2 CARACTERSTICAS DE INTEGRAO DOS MUNICPIOS E DISTRITOS DA MESORREGIO

    OESTE PARANAENSE ...........................................................................................134

  • 3.2.1 O DESLOCAMENTO PARA TRABALHO E/OU ESTUDO, SEGUNDO OS DADOS DO CENSO

    DEMOGRFICO DE 2000 .....................................................................................139

    3.2.2 AS INFORMAES E ESTATSTICAS INERENTES AO TRANSPORTE COLETIVO

    INTERMUNICIPAL ................................................................................................144

    3.3 O FENMENO METROPOLITANO NA MESORREGIO OESTE PARANAENSE..................162

    4. A REESTRUTURAO PRODUTIVA E SEUS REFLEXOS SOBRE A

    METROPOLIZAO NO ESTADO DO PARAN...............................................169

    4.1 A REESTRUTURAO PRODUTIVA ..........................................................................170

    4.2 A DINMICA DAS ESTRATGIAS ESPACIAIS DE AO IMPLEMENTADAS NO PARAN......177

    4.3 A REESTRUTURAO PRODUTIVA E O ARRANJO TERRITORIAL PARANAENSE...............183

    CONSIDERAES FINAIS .....................................................................................188

    REFERNCIAS........................................................................................................194

    APNDICES ............................................................................................................210

    ANEXOS ..................................................................................................................214

  • INTRODUO

    O objetivo deste trabalho analisar a relao entre o processo de

    metropolizao e a criao de unidades regionais no Brasil, especialmente no caso

    da Mesorregio Oeste Paranaense, partindo-se do pressuposto de que a instituio

    de uma unidade regional deveria ser motivada pelo processo de metropolizao1.

    Os agentes polticos, ora legislando em causa prpria, ora tomando

    decises sem conhecimento de causa, nem sempre sugerem as melhores solues

    s problemticas urbano-regionais da sociedade. E isso tem sido particularmente

    verdadeiro para o Brasil, onde os estudos sobre os processos de urbanizao e

    metropolizao tm privilegiado os grandes centros populacionais, pouco abordando

    as aglomeraes de porte mdio, especialmente aquelas localizadas no interior do

    pas. A possvel soluo do conjunto de problemas mencionado s pode advir com o

    conhecimento e entendimento dos fatores peculiares que os engendram.

    Nesse sentido, a srie Caracterizao e Tendncias da Rede

    Urbana do Brasil se tornou obra de leitura obrigatria para os planejadores e para

    aqueles que estudam os fenmenos urbano-regionais. Nela esto bem definidos os

    sistemas de cidades, dispostos de acordo com a hierarquia dos centros. Tambm

    foram determinadas as espacialidades das aglomeraes urbanas do pas,

    mostrando-se serem presididas, via de regra, por centros que compem os ns da

    rede urbana nacional. Porm, trata-se de um estudo bastante geral, que pouco se

    atm a aspectos particulares de cada regio como normalmente ocorre em tais

    casos. 1 O termo unidade regional em questo faz referncia s regies administrativas cujas instituies

    esto previstas na Constituio Federal de 1988 e que possuem como objetivo o equacionamento das funes pblicas de interesse comum; seriam elas: as regies integradas de desenvolvimento, as regies metropolitanas, as aglomeraes urbanas e as microrregies.

  • 22

    A equipe tcnica responsvel pela reviso do estudo Regio de

    Influncia das Cidades (REGIC) que corresponde fundamentao bsica ao

    equacionamento de Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil j

    alertava que a nova pesquisa atualizaria os dados de 1987, apontando as novas

    relaes e hierarquia dos centros urbanos brasileiros e suas reas de influncia,

    todavia, para se entender a complexa realidade dos sistemas urbanos, tambm

    informava a necessidade de realizao de pesquisas complementares de

    aprofundamento a serem desenvolvidas em menores escalas geogrficas (IBGE,

    1993, p. 179).

    Alm da generalizao, Caracterizao e Tendncias da Rede

    Urbana do Brasil tambm est baseado em dados da contagem da populao,

    realizada em 1996, cujos valores apresentam indcios de distoro em diversos

    casos. Dessa maneira, o referido estudo aguarda as contribuies cabveis, mas,

    mesmo assim, merece muitos mritos, dentre eles o fato de suscitar diversas

    questes aos planejadores e pesquisadores de diversos ramos da cincia.

    Foi justamente Caracterizao (2001), levando-se em considerao

    a existncia dos projetos de lei complementar n. 110 e 235 de 2003, que motivou a

    realizao desta pesquisa.

    Os respectivos projetos versam sobre a instituio das regies

    metropolitanas de Cascavel e Toledo, dois municpios de porte mdio quanto ao

    tamanho populacional, com, respectivamente, 284.083 e 107.033 habitantes,

    segundo as estimativas do IBGE (2006e). Cascavel e Toledo esto situados na

    Mesorregio Oeste Paranaense, cuja rea representa a parte que cabe ao territrio

    brasileiro na trplice fronteira: Brasil Argentina Paraguai (Figura 1).

  • 23

    Figura 1 Localizao da rea de estudo

    BASE CARTOGRFICA: IBGE (2003a); ELABORAO: REOLON, Cleverson A.

    Caracterizao (2001) aponta o municpio de Cascavel como um

    plo regional de desenvolvimento, com centralidade de nvel forte, e Toledo como

    centro regional secundrio, com nvel de centralidade mdio. Estes municpios, em

    contigidade com Santa Tereza do Oeste, so identificados como uma aglomerao

    urbana. O estudo tambm aponta anis de intenso crescimento populacional

    configurados por Cafelndia, Corblia e Ibema, alm de vetores de expanso

    definidos na direo de Marechal Cndido Rondon. Portanto, haveria um processo

    de desenvolvimento convergente entre os municpios citados.

    Suscita, dessa forma, a seguinte questo: por que instituir as regies

    metropolitanas de Cascavel e Toledo se as relaes intermunicipais, estabelecidas

  • 24

    entre ambos, parecem, a cada dia, assumir maiores nveis de articulao e, em

    corolrio, complexidade?

    Estudos preliminares, baseados em Reolon (2004), revelaram que,

    no ms de agosto de 2004, 20.357 passageiros com origem em Cascavel e destino

    a Toledo utilizaram o servio de transporte coletivo intermunicipal2, ao passo que, no

    trajeto contrrio, ou seja, com origem em Toledo e destino a Cascavel, foram 20.763

    pessoas. Douglas de Oliveira Selis3, em entrevista concedida a Reolon (2004),

    afirmou que tanto o consumo de bens ou servios prestados quanto a prtica de

    lazer ou, ainda, o exerccio de trabalho ou estudo aparenta configurar as causas dos

    movimentos pendulares existentes entre tais municpios, sugerindo que no apenas

    os fatores de ordem socioeconmica contribuem para a dinamizao do fluxo

    regional de passageiros, mas tambm os fatores de ordem cultural. Sendo assim, o

    entendimento da dinmica populacional da Mesorregio Oeste Paranaense

    demanda sua contextualizao histrica.

    Convm ressaltar, conforme o Ipardes (2003a, p. 107), que a

    duplicao da rodovia BR-467, que liga Cascavel a Toledo, representar um fator

    reestruturante nas relaes intermunicipais e na economia regional. O trmino total

    das obras, previsto para o final de 2007, certamente ir favorecer a fluidez entre

    Cascavel e Toledo, elevando os nveis de complementaridade em seus 2 Transporte coletivo intermunicipal a expresso utilizada neste trabalho para designar o que o

    Departamento de Estradas de Rodagem (DER) chama de transporte metropolitano. De acordo com Vercezi (2001), o DER cunhou a expresso transporte metropolitano para diferenciar esta modalidade de servio do transporte regional de passageiros, portanto, a princpio, nada tem em haver com uma representao poltico-social. No obstante, a necessidade de se substituir a denominao transporte metropolitano por transporte coletivo intermunicipal advm da confuso terica e at mesmo prtica que o primeiro termo poderia causar, j que, como se ver mais adiante, aglomerao urbana conceito-chave deste estudo e rea metropolitana so tidos como sinnimos; o fato que a espacialidade de uma rea metropolitana possivelmente existente na Mesorregio Oeste Paranaense, composta por Cascavel, Toledo e outros municpios, dificilmente coincidir com os limites de abrangncia do servio de transporte coletivo intermunicipal.

    3 Na ocasio, cobrador de nibus da Princesa dos Campos empresa que detm a concesso de realizao do servio de transporte coletivo intermunicipal entre Cascavel e Toledo.

  • 25

    desenvolvimentos4. E isso ilustrado pelas expectativas da empresa que detm a

    concesso de realizao do transporte coletivo entre tais municpios, j que avalia a

    possibilidade de substituir os veculos atualmente em uso por nibus articulados.

    Respaldando-se em Santos (2004a, p. 86), ao se considerar esta

    rodovia como um objeto geogrfico5, pode-se dizer que objetos no agem, mas,

    sobretudo no perodo histrico atual, podem nascer predestinados h um certo tipo

    de aes, a cuja plena eficcia se tornam indispensveis. Mas alm rodovia BR-

    467, no mbito de sua duplicao, esta assertiva tambm se aplica aos projetos de

    lei complementar anteriormente citados.

    Nesse contexto, importante ressaltar o fato de que divergncias

    polticas ocorridas entre representantes de Cascavel e Toledo durante a dcada de

    1950, relativas construo do aeroporto regional (SPERANA, 1992), parecem

    resistir ao tempo, dificultando a formalizao de um ato que se destine a uma maior

    integrao entre os mesmos.

    Baseando-se em Moura e Kleinke (2000), Firkowiski e Moura (2001),

    ao tecerem comentrios sobre a fragmentao legal da aglomerao urbana de

    Londrina, asseveram que a incoerncia entre a institucionalidade e a espacialidade

    do fenmeno metropolitano oficializa uma ruptura da possibilidade de integrao

    entre municpios, podendo dificultar a soluo de problemas comuns de mbito

    4 A pista que acompanha o leito antigo da rodovia BR-467, no trecho que liga as sedes municipais de

    Cascavel e Toledo, foi inaugurada no incio de fevereiro de 2006. Para que a duplicao esteja totalmente concluda, restam o recapeamento e sinalizao da pista antiga, a reestruturao do trecho situado no permetro urbano de Cascavel e a construo dos oito viadutos previstos (MANFRIN, 2007).

    5 Santos (2004a, p. 72) afirma que os objetos que servem Geografia no so apenas objetos mveis, mas tambm imveis, tal uma cidade, uma barragem, uma estrada de rodagem, um porto, uma floresta, uma plantao, um lago, uma montanha. [...] Para os gegrafos, os objetos so tudo o que existe na superfcie da Terra, toda herana da histria natural e do resultado da ao humana que se objetivou. Os objetos so esse extenso, essa objetividade, isso que se cria fora do homem e se torna instrumento material de sua vida, em ambos os casos uma exterioridade.

  • 26

    regional, mencionando tambm que fatos desta natureza podem resultar na

    elevao dos padres de competitividade regional, prejudicando a insero dos

    municpios envolvidos nos ramos modernos da atividade econmica, representando,

    em certos casos, o desperdcio de um potencial existente.

    No seria um exagero considerar que o mesmo pode ocorrer na

    Mesorregio Oeste Paranaense. No ano de 2003, Cascavel e Toledo estavam entre

    os dez municpios do estado que apresentavam maior Valor Adicionado Fiscal (VAF)

    pela agroindstria, cujos montantes condiziam com, respectivamente, 2,8 e 5,3% do

    total paranaense (IPARDES, 2003b). Outro segmento que dinamiza a economia e

    vida social destes municpios o de educao superior, tendo em vista o grande

    nmero de universidades a instaladas e cursos ofertados populao.

    Em 2005, Cascavel contava com sete instituies de ensino superior

    e Toledo abrigava outras quatro (PARAN, 2006), com um campus da Universidade

    Tecnolgica Federal do Paran (UTFPR) antigo Centro Federal de Educao

    Tecnolgica do Paran (CEFET) em implantao (JORNAL DO OESTE, 2005b).

    Sem contar a UTFPR, somam-se cerca de quarenta cursos disponveis, variando

    entre diversas reas do conhecimento. Os mais ofertados so Administrao,

    Pedagogia, Direito e Cincias Contbeis, comuns tambm s instituies de ensino

    localizadas em outros municpios da Mesorregio Oeste Paranaense. Mas existem

    cursos como os de Cincias Sociais, Engenharia Agrcola, Engenharia de Pesca,

    Engenharia de Produo Agroindustrial, Engenharia Eltrica, Engenharia Qumica,

    Farmcia, Filosofia, Informtica, Medicina, Moda, Nutrio, Odontologia,

    Processamento de Dados, Psicologia, Qumica, Secretariado Executivo, Turismo e

    Turismo e Hotelaria, dentre outros, que, pela exclusividade (ou quase exclusividade)

    quanto oferta, podem gerar uma demanda de nvel regional, ou alm.

  • 27

    Dados de 2002 indicam que Cascavel e Toledo atendiam cerca de

    61,03% dos estudantes matriculados nas instituies de ensino superior presentes

    na Mesorregio Oeste (IPARDES, 2004a). Considerando-se a concentrao de tais

    instituies nestes municpios, pode-se dizer que existe a um campo oportuno para

    o desenvolvimento de atividades ligadas pesquisa e inovao tecnolgica, caso

    esse potencial seja convenientemente explorado.

    Portanto, Cascavel e Toledo parecem conformar um espao de

    desenvolvimento contguo, efetivamente, onde as inter-relaes sociais e

    econmicas possuem uma dinmica intensa para os padres regionais, sendo

    motivadas pelo segmento agroindustrial e pelas universidades ou faculdades que a

    se localizam, alm do comrcio e prestao de servios diversos.

    Sendo assim, mesmo ponderando-se os pormenores do estudo

    Caracterizao e Tendncias da Rede Urbana do Brasil ou levando-se em

    considerao o fato de as contribuies at aqui levantadas serem insuficientes para

    se colocar em cheque a legitimidade, do ponto de vista espacial, dos projetos de lei

    complementar n. 110 e 235 de 2003, levanta-se a seguinte hiptese: a proposta de

    instituio de unidades regionais distintas para Cascavel e Toledo equivocada,

    haja vista a existncia de um processo de metropolizao entre estes municpios.

    No intuito de se testar tal hiptese, fizeram-se necessrias leituras

    minuciosas das Constituies Federal e Estadual do Paran, de projetos de lei

    complementar que tratam da institucionalizao de unidades regionais,

    especialmente aqueles que tratam da criao das regies metropolitanas de

    Cascavel e Toledo, e reviso bibliogrfica de obras de diversos autores que versam,

    especificamente, sobre os temas metropolizao, aglomerao urbana e instituio

    de unidades regionais.

  • 28

    Ainda se incluiu como objetivo especfico desta pesquisa a avaliao

    da espacialidade das unidades regionais propostas para Cascavel e Toledo. Dessa

    maneira, realizaram-se atividades de coleta e avaliao de informaes e dados do

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) que evidenciam as

    caractersticas demogrficas e socioeconmicas dos municpios da Mesorregio

    Oeste Paranaense, como: princpios da ocupao territorial, quantidade de

    populao total, urbana e rural; densidade demogrfica; taxa geomtrica de

    crescimento populacional nos perodos de 1970/80, 1980/91 e 1991/2000;

    quantidade de Populao Economicamente Ativa (PEA) total, urbana e rural;

    contribuio total ao VAF e Produto Interno Bruto (PIB), etc. Tambm foram

    coletados dados e informaes referentes s empresas e demais instituies

    instaladas na Mesorregio Oeste Paranaense.

    Procedeu-se, tambm, coleta de dados e informaes que

    evidenciam as caractersticas de integrao dos municpios da Mesorregio Oeste

    Paranaense, como nmero de pessoas que se deslocam para trabalhar e/ou

    estudar, de acordo com o municpio de residncia e local de trabalho e/ou estudo,

    conforme informaes do Censo Demogrfico de 2000, e nmero de pessoas que

    utilizaram o transporte coletivo intermunicipal nos meses de maro e abril de 2006,

    conforme os horrios e pontos de origem e destino dos fluxos. Esses dados e

    informaes subsidiaram a realizao de estimativas referentes aos movimentos

    pendulares6 exercidos pela populao, procurando-se revelar tanto o nmero de

    pessoas que os promovem quanto as causas desses deslocamentos.

    6 Na literatura brasileira, o termo movimento pendular tem sido freqentemente relacionado ao que,

    nos Estados Unidos e outros pases de lngua inglesa, chama-se commute. Para Horner (2004), assim como define o dicionrio da lngua inglesa Oxford (2005), commuting corresponderia ao ato de se deslocar diariamente, de nibus, trem, automvel particular, etc., entre o local de residncia e o local de trabalho, exclusivamente. Todavia, para efeitos desta pesquisa, movimento pendular

  • 29

    Portanto, o IBGE, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento

    Econmico e Social (IPARDES), o Ministrio do Trabalho, o Departamento de

    Estradas de Rodagem do Paran (DER/PR), dentre outros rgos e secretarias dos

    governos federal, estadual e municipal, empresas privadas e bibliotecas de diversas

    instituies de ensino superior do pas, deram suporte a esta pesquisa, composta

    por quatro captulos.

    No Captulo 1 so revistos conceitos como metropolizao, rea

    metropolitana, regio metropolitana, aglomerao urbana e questes metropolitanas,

    todos correspondentes, na realidade, a um universo acadmico, ou seja, teoria

    metropolitana. Depois de revistos, estes conceitos so contrapostos prtica

    metropolitana, relacionando-os, dessa forma, ao universo poltico. Procura-se,

    assim, revelar os meandros que permeiam a institucionalizao de unidades

    regionais no Brasil, utilizando-se desde exemplos clssicos, como a criao das

    regies metropolitanas federais, aos particulares, como os processos de instituio

    de unidades regionais na Mesorregio Oeste Paranaense.

    Em seguida, no Captulo 2, visando-se caracterizar e assimilar

    algumas caractersticas da rea de estudo, so abordados os processos de

    ocupao e urbanizao da Mesorregio Oeste Paranaense, atentando-se s

    peculiaridades da constituio da infra-estrutura regional e seus reflexos sobre a

    dinmica populacional dos municpios a presentes. Particularmente, procura-se

    manter o foco sobre o processo de integrao regional e nacional dos municpios da

    Mesorregio Oeste aos sistemas regional e nacional de cidades.

    refere-se a um fenmeno que diz respeito ao ato de ir e vir dirio das pessoas, deslocando-se entre o local de residncia e um ponto qualquer do territrio, seja qual for o propsito do deslocamento: trabalhar, estudar, fazer compras, procurar por atendimento mdico-hospitalar ou odontolgico, recrear, etc.

  • 30

    Baseando-se em grande nmero de dados demogrficos e

    territoriais, entre outros referentes dinmica socioeconmica dos municpios e

    distritos da Mesorregio Oeste Paranaense, procura-se, no Captulo 3, rever a

    espacialidade da aglomerao urbana de Cascavel, identificada por Caracterizao

    (2001). Os resultados desta reviso so utilizados para se avaliar a espacialidade

    das unidades regionais propostas com localizao na Mesorregio Oeste

    Paranaense, dirigindo-se especial ateno espacialidade das regies

    metropolitanas de Cascavel e Toledo, indicadas nos projetos de lei complementar n.

    110 e 235 de 2003. Tambm se faz um esforo no sentido de revelar as causas de

    integrao das unidades poltico-administrativas pesquisadas.

    No Captulo 4, tendo em vista as profundas transformaes da

    configurao da distribuio territorial das empresas e sua implicao sobre a

    organizao do espao geogrfico, notadamente potencializando o surgimento ou

    manuteno de espaos de concentrao e espaos de esvaziamento populacional,

    realiza-se um ensaio sobre o processo de reestruturao produtiva que vem

    ocorrendo no estado do Paran.

    oportuno mencionar que os projetos de lei complementar n. 110 e

    235 de 2003 estavam arquivados na Assemblia Legislativa do Paran, apesar de

    lideranas locais, ocasionalmente, continuarem se referindo instituio destas

    regies metropolitanas, especialmente se tratando da Regio Metropolitana de

    Cascavel. No obstante, tendo em vista as eleies de outubro de 2006 para os

    cargos de presidente da Repblica Federativa do Brasil, governadores estaduais,

    senadores e deputados estaduais e federais, o lobby regional em prol da criao das

    referidas unidades regionais foi to grande que levou o ento candidato ao cargo de

    governador do Paran Roberto Requio a prometer a implantao de pelo

  • 31

    menos uma unidade regional na Mesorregio Oeste. Requio venceu as eleies e

    deu o primeiro passo ao cumprimento de sua promessa de campanha enviando

    Assemblia Legislativa do estado, no dia 11 de janeiro de 2007, uma proposta de

    criao de uma unidade regional intitulada Regio Metropolitana de Cascavel, cuja

    espacialidade difere daquela apresentada no projeto de lei complementar n. 110 de

    2003. Contudo, o projeto para a criao desta regio metropolitana, relacionado na

    pauta de votaes da Assemblia do dia 16 de janeiro de 2007, gerou grande

    polmica entre os parlamentares, resultando no surgimento de vrias propostas de

    emendas substitutivas ao projeto do governador nos dias subseqentes.

    O que se pretende demonstrar, com esta prvia e breve explanao,

    a dinmica sob a qual esteve sujeita esta pesquisa, notadamente acelerada em

    seu processo de finalizao. Por isso, a proposta inicial do trabalho, que analisar a

    relao entre o processo de metropolizao e a criao de unidades regionais, tendo

    em vista os projetos de lei complementar n. 110 e 235 de 2003, acabou ganhando

    novos e inesperados contornos, o que, de certa forma, mais contribuiu do que

    prejudicou a pesquisa, a despeito do exguo tempo que se teve para refletir e

    analisar certos acontecimentos e proposies, todas forjadas na esfera poltica.

  • 1 AGLOMERAES URBANAS E UNIDADES REGIONAIS: TEORIA E PRTICA

    METROPOLITANA

    Contrapor a teoria pratica metropolitana equivale, sob certos

    aspectos, comparao entre a realidade e o fetiche, o fato e a crena. A

    metropolizao um fenmeno que impulsionou a concentrao espacial tanto da

    riqueza quanto da pobreza, ou ainda, da ordem e do conflito, em seus limites. Pelo

    fato de as unidades regionais estarem, de certa forma, relacionadas a este processo,

    j que representam um mecanismo para se fazer frente s questes metropolitanas7,

    elas prprias passaram a ser fetichizadas medida que as regies metropolitanas

    institucionalizadas foram associadas ao peso simblico que as relaciona ao

    progresso e modernidade, ao status, portanto (FIRKOWSKI & MOURA, 2001).

    No obstante, no mbito da gesto das unidades regionais, as questes

    metropolitanas ainda representam um grande desafio, denotando as dificuldades de

    equacionamento dos problemas que extrapolam os limites municipais e se

    acumulam em escala regional8.

    Eis, ento, que se chocam questes cientficas, imanentes ao estudo

    da realidade, s vontades polticas, que dizem respeito ao ato de instituir regies

    administrativas. De um lado, tm-se conceitos (metropolizao, rea metropolitana,

    regio metropolitana, aglomerao urbana, questes metropolitanas) e, de outro,

    apenas termos constitucionais (unidade regional, regio metropolitana, aglomerao

    7 Para Silva (2005, p. 400), do ponto de vista da vida metropolitana, que envolve o cotidiano da vida

    coletiva, a questo metropolitana abrange problemas de saneamento, violncia, habitao, educao, sade e transporte [...]

    8 Embora a gesto das unidades regionais eventualmente se torne alvo de comentrios, sua abordagem especfica foge ao objetivo principal do trabalho, que, em suma, seria questionar a interpretao e aplicao das leis que regem a instituio de unidades regionais, que, ignorando o processo de metropolizao, fornecem fortes indcios de se alinhar a interesses polticos, sejam eleitoreiros, propriamente ditos, ou corporativos.

  • 33

    urbana, microrregio, regio integrada de desenvolvimento, funes pblicas de

    interesse comum). por isso que Lencioni (2006, p. 55-56) afirma:

    [...] perguntar se tal ou qual regio metropolitana instituda apresenta as caractersticas de espaos metropolitanos no compreender a diferena entre o processo de metropolizao que desconhece vontades polticas e a institucionalizao de regies metropolitanas como expediente para o planejamento territorial.

    Entretanto, como mencionado, necessrio se admitir que o

    processo de metropolizao , em essncia, o elemento motivador da instituio de

    unidades regionais (FIRKOWSKI & MOURA, 2001); viso compartilhada por Silva

    (2006), ao afirmar que as questes metropolitanas somente podem ser resolvidas

    diante de uma gesto metropolitana. claro que o equacionamento de problemas

    metropolitanos no depende, exclusivamente, da criao de uma unidade regional,

    veja-se o caso das experincias embrionrias de administraes metropolitanas

    implementadas antes da existncia de uma base jurdica para a criao das regies

    metropolitanas federais, como o Grupo Executivo da Grande So Paulo (GEGRAM)

    ou o Grupo Executivo da Regio Metropolitana de Porto Alegre (GERM), dentre

    outros (GUIMARES, 2004; ROLNIK & SOMEKH, 2004), mas este um artifcio

    legal que, atualmente, os estados federados dispe para tanto. Pretende-se chamar

    ateno ao fato de que, dessa forma, seria sim pertinente questionar se os limites de

    uma unidade regional so ou no condizentes com a espacialidade da

    metropolizao.

    Ainda que a criao de unidades regionais tivesse como objetivo o

    planejamento territorial, os processos de integrao regional pretendidos pela lei, ou

    mesmo de fragmentao legal de espaos em metropolizao, no devem ser

    negligenciados, a exemplo de casos em que os limites da rea metropolitana no

    condizem com os limites da regio administrativa instituda. Neste caso especfico,

  • 34

    as questes sociais metropolitanas so, claramente, preteridas em relao aos

    interesses corporativos ou polticos, seja por propsito ou equvoco. Outra questo

    que deriva da instituio de unidades administrativas para atender interesses alheios

    ao equacionamento dos servios comuns a possibilidade de criao de uma

    superestrutura poltica-administrativa diga-se de passagem, especificamente

    destinada a suprir as demandas metropolitanas inadequada para tratar do

    planejamento territorial.

    A criao indiscriminada de unidades regionais, no obedecendo

    aos seus princpios, seria mais um agravante em meio uniformidade no trato do

    tema metropolitano por parte das constituies dos vrios estados brasileiros,

    apontada por Moura et al. (2003).

    Conforme Azevedo e Guia (2004) e Davidovich (2004), a instituio

    de regies metropolitanas no est prevista nas constituies do Acre, Roraima,

    Tocantins, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Dos estados

    restantes, Azevedo e Guia (2004) asseveram que apenas em quatro se estabelecem

    critrios para institu-las, correspondendo ao Amazonas, Gois, So Paulo e Santa

    Catarina. No que diz respeito s aglomeraes urbanas, Braga (2005) certifica que a

    situao semelhante: seis estados no mencionam a possibilidade de sua

    instituio (Acre, Amap, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Roraima e Tocantins) e

    apenas dois definem critrios para sua delimitao (So Paulo e Esprito Santo). O

    resultado dessa falta de critrios so mosaicos regionais legais que pouco se

    ajustam realidade urbano-regional do pas.

    No entanto, teoria tambm cabe uma parcela de desencontros. Um

    fato que parece polmico o reconhecimento da metropolizao enquanto

    fenmeno contemporneo tambm ao interior do territrio nacional. Sob esta

  • 35

    perspectiva, questes metropolitanas no seriam mais exclusivas das aglomeraes

    urbanas milionrias9, situadas sobretudo na faixa litornea, cuja economia est

    assentada, predominantemente, na produo industrial.

    Vrios estudos tm contribudo para reforar esta tese, dentre eles,

    Caracterizao (2001), fazendo, aos poucos, com que se reflita sobre a necessidade

    de se resgatar velhos conceitos forjados a partir do estudo do fenmeno

    metropolitano, em especial com relao metropolizao e rea metropolitana, que

    ganharam novos e marcantes contornos a partir da instituio do primeiro conjunto

    de unidades regionais do Brasil, na dcada de 1970: as regies metropolitanas

    federais.

    Esta interferncia legislativa sobre o pensamento acadmico garante

    a premissa de que desnudar a trajetria das unidades regionais tambm significa, no

    Brasil, desvendar os conceitos atualmente utilizados pelas cincias que tratam do

    fenmeno metropolitano.

    1.1 METROPOLIZAO E AGLOMERAES URBANAS: DEFININDO CONCEITOS

    Tal como afirmam Lencioni (2006) e Teles e Amora (2006), o

    conceito de metropolizao polissmico. Basicamente, podem ser interpretadas

    duas vertentes conceituais em sua abordagem: uma delas guarda uma dimenso

    socioespacial do processo de metropolizao, outra conferida a dimenso

    territorial. Esta parece ser a razo pela qual este conceito possui certa dificuldade de

    delimitao. Contudo, no h meios de se optar em tratar a metropolizao,

    exclusivamente, sob uma ou outra perspectiva, medida que elas so 9 Se refere ao nmero de habitantes.

  • 36

    complementares; o que parece ocorrer a variao dos conceitos conforme os

    objetivos de cada autor, assumindo, de forma mais marcante, uma ou outra

    caracterstica.

    Algo comum parece ser o fato de o processo de metropolizao ser

    assumido como um fenmeno que transcende a urbanizao, ou seja, mais

    complexo (LENCIONI, 2006; FIRKOWSKI & MOURA, 2001). Pergunta-se, ento, at

    que ponto a metropolizao um fenmeno que pode ser mensurado a partir do

    processo de urbanizao? Nesse sentido, qual a relao entre a metropolizao e

    a metrpole?

    A resposta no simples. Lencioni (2006) lana um questionamento

    semelhante ao se indagar se a metropolizao representaria uma fase do

    desenvolvimento urbano; para ela, e no . porque a metropolizao no deixa

    de ser continuidade da urbanizao, e no porque tem uma natureza diferente.

    Mais adiante, Lencioni (2006, p. 48) explica:

    No se trata mais de criar cidades, de desenvolver a rede urbana ou a urbanizao em sentido restrito; trata-se de desenvolver condies metropolitanas que so imprescindveis para a reproduo do capital, subvertendo toda a lgica urbana herdada e negando a cidade.

    A metropolizao um fenmeno que se situa, portanto, na esteira

    da urbanizao e da reestruturao socioespacial10. Sob esta perspectiva a autora

    prossegue em sua abordagem:

    O processo de metropolizao dos espaos implica, portanto, um territrio no qual os fluxos de pessoas, de mercadorias ou de informaes so mltiplos, intensos e permanentes. A comum a presena de cidades conurbadas bem como a concentrao das

    10 Lencioni (1999) definiu como reestruturao socioespacial as transformaes industriais e urbanas

    por que se vem passando nos ltimos anos, o que, pode-se dizer, implica a reorganizao do espao num sentido amplo, abrangendo os objetos geogrficos em geral, a populao e os fluxos de toda ordem.

  • 37

    condies gerais necessrias s particulares condies da reproduo do capital nos dias atuais (LENCIONI, 2006, p. 48).

    Lencioni (2006) sintetiza suas proposies ao afirmar que a

    metropolizao um processo socioespacial. Complementarmente, Limonad (2004,

    p. 57) dispe a possibilidade de apreenso da dinmica de tal processo, ao citar:

    No presente, a produo do espao social e concomitante estruturao e ordenamento territorial teria por base a urbanizao do territrio (LEFEBVRE, 1991; SANTOS, 1996) e a distribuio espacial das atividades produtivas, em que interviriam diversos agentes em mltiplas escalas articuladas e que teria por corolrio a conformao de novas territorialidades, novas regies e novas formas de regionalizao (SANTOS, 1996; SANTOS & SILVEIRA, 2001) (Grifo nosso).

    por esta razo que Firkowski e Moura (2001) argumentam que a

    metropolizao se situa alm da morfologia da cidade, referindo-se tambm cultura

    urbana, isto , aos modos de vida e de produo da sociedade.

    Carlos (2003, p. 83) possui uma percepo bastante original a

    respeito do processo de metropolizao, definindo-o como sendo a "hierarquizao

    do espao a partir da dominao de centros que exerce sua funo administrativa,

    jurdica, fiscal, policial e de gesto". Dessa maneira, pode-se dizer que, dependendo

    da maturidade e intensidade deste processo, a metropolizao poderia se manifestar

    em escala regional, nacional ou global. Com efeito, a metropolizao se constituiria

    em um fenmeno cuja dinmica proporcional complexidade socioeconmica do

    ncleo urbano que o anima, sendo a escala regional a primeira a se manifestar,

    denotando sua gnese.

    O processo de metropolizao emerge, portanto, das relaes entre

    a cidade e a regio, encerrando-se em fluxos cotidianos de pessoas, mercadorias e

  • 38

    informaes, tornando a dinmica socioeconmica regional progressivamente mais

    densa e complexa.

    Analisando-se os trabalhos que se referem ao tema metropolitano,

    percebe-se, conforme indica Abreu (1994), que um dos primeiros a tratar do

    processo de metropolizao, no Brasil, foi a tese Nova Iguau, Absoro de Uma

    Clula Urbana pelo Grande Rio de Janeiro, de Maria Therezinha de Segadas

    Soares, publicada em 1962. Neste trabalho clssico da geografia urbana brasileira,

    apesar de o termo metropolizao no ser mencionado, fica claro que este processo

    diz respeito formao de um espao regional, representado pelos municpios do

    Rio de Janeiro e Nova Iguau, dentre outros, dotado de intensas relaes

    econmicas e sociais, caracterizando a chamada rea metropolitana do Rio de

    Janeiro. Este espao, parafraseando-se Soares (1962), era fundamentalmente

    marcado pelos movimentos alternantes, ou movimentos pendulares, no sentido

    subrbio-centro, evidenciando, dentre as mltiplas funes assumidas por Nova

    Iguau no contexto da rea metropolitana a que pertencia (e ainda pertence), sua

    funo de subrbio-dormitrio.

    Abreu (1994) destaca que foi tambm de Maria Therezinha de

    Segadas Soares o primeiro trabalho a tratar, explicitamente, da questo das reas

    metropolitanas no Brasil e, a propsito do que se possa entender por este conceito,

    a autora enumera que a noo de rea metropolitana resultou da necessidade de

    reconhecimento dos limites das aglomeraes de certo vulto, dotadas de um ncleo

    urbano principal, que projetam sua populao e suas atividades sobre as reas

    vizinhas, com as quais passam a formar um todo integrado econmica e

    socialmente (SOARES, 1968, p. 92).

  • 39

    Paralelamente, Rybczynski (1996 apud TELES & AMORA, 2006, p.

    427) tambm sustenta que o termo rea metropolitana foi adotado formalmente pelo

    Departamento do Censo dos Estados Unidos em 1949 para reconhecer a

    urbanizao que ultrapassava os limites tradicionais da cidade.

    Em definio mais recente, o United States Census Bureau declara

    que rea metropolitana se refere a um espao composto por um ou mais ncleos

    populacionais com mais 50.000 habitantes e que possuem um alto nvel de

    integrao econmica e social com as localidades adjacentes11.

    Em sntese, nota-se que a noo de rea metropolitana deriva do

    processo de metropolizao, ou seja, do ato de metropolizar, ou de intensificar-se as

    relaes espaciais entre cidades. Tem-se, portanto, o fato metropolitano, algo que,

    conforme Lopes (1995 apud LOPES, 2006, p. 139), se expressa

    pelo derramamento da espacialidade dos elementos do meio ecolgico, das infra-estruturas, dos sistemas urbanos e dos prprios sujeitos sociais para alm das fronteiras municipais, em um contexto geogrfico de progressiva conurbao [...] e interdependncia sistmica de funcionamento do conjunto.

    Assegurando a adequao da expresso "rea metropolitana"

    realidade brasileira, Soares (1968) argumenta sobre a possibilidade de sua

    aplicao a qualquer cidade do pas, independente do gigantismo da mesma,

    levando-se em considerao os laos que a prendem s reas circundantes. A

    palavra metropolitana, segundo a autora, teria assim, o seu significado original

    cidade-me , correspondendo quilo que est filiado, que depende ou que est

    estreitamente relacionado com a cidade-me.

    11 Informao disponvel em: . Acesso em:

    08 fev. 2007.

  • 40

    Portanto, segundo o conceito de rea metropolitana incorporado

    literatura brasileira por Soares (1968) e conforme as proposies da prpria autora,

    no existe correlao entre tais espaos regionais e as metrpoles, ao contrrio do

    que sustentam Galvo et al. (1969, p. 55) num estudo desenvolvido pelo Grupo de

    reas Metropolitanas (GAM) do IBGE:

    [...] uma rea metropolitana seria um conjunto de municpios integrados econmica e socialmente a uma metrpole, principalmente por dividirem com ela uma estrutura ocupacional e uma forma de organizao do espao caracterstica e por representarem, no desenvolvimento do processo, a sua rea de expanso prxima ou remota.

    Em relao ao processo-gnese de uma rea metropolitana, a

    metropolizao, Galvo et al. (1969) tambm asseveram que esteja vinculado

    existncia de uma metrpole.

    Porm, segundo Lencioni (2006, p. 47), quando a referncia a

    metropolizao, est-se falando tanto de um processo que transforma as cidades

    em metrpoles como de um processo socioespacial que impregna o espao de

    caractersticas metropolitanas. Em primeiro lugar, torna-se importante chamar

    ateno distino implcita entre a metrpole e aquilo que a autora denomina de

    espao com caractersticas metropolitanas. Em segundo lugar, cabe ressaltar que

    apesar do fato de a metropolizao resultar na formao de uma metrpole, isto no

    quer dizer que exista uma correlao positiva entre estes termos. esta, tambm, a

    interpretao que se deve fazer da afirmao de Carlos (2003), quando atesta que a

    metropolizao desvela a constituio da metrpole. Porm, mais complexa a

    proposio de Firkowski e Moura (2001), pois assinalam que a metropolizao

    resulta da metrpole ao mesmo tempo em que a pressupe. Isto , alm de

    alegarem que a metropolizao se constitui como um processo de formao da

  • 41

    metrpole, as autoras tambm defendem que a metrpole engendra um processo de

    metropolizao; ainda assim, possvel sustentar a tese de que a metropolizao

    prescinde a metrpole para se realizar. Em outras palavras, a metropolizao no

    um processo condicionado apenas a espaos regionais presididos por uma

    metrpole.

    Aluses a teses contrrias a esta, como a de Galvo et al. (1969),

    no se caracterizam como fruto da complexidade literria. Os prprios autores

    admitem a parcialidade poltica que permeia seu estudo:

    Todo o processo de metropolizao at aqui descrito nada mais do que o prprio processo de urbanizao que, a partir de certo ponto, atinge um estgio de maior complexidade, gerando graves problemas de integrao entre o ncleo central da rea e os municpios vizinhos. Pesquisas de campo indicam que em torno de cidades no-metrpoles tais problemas tambm existem, porm em escala menor. o caso das demais capitais estaduais, e mesmo outras cidades brasileiras no-capitais, que apresentam o fenmeno de integrao com municpios vizinhos, gerando os mesmos problemas de transporte, habitao, favelizao, etc.

    Todavia, como no estabelecimento do anteprojeto de projeto de lei complementar [para a definio do estatuto legal das regies metropolitanas a serem criadas] um dos critrios se refere importncia macro-regional do ncleo central, nesta primeira etapa o GAM restringiu suas pesquisas as 9 metrpoles consideradas no Plano Estratgico do Governo, alm de Braslia, deixando para uma fase posterior o estudo das aglomeraes urbanas em torno de cidades no-metrpoles, aglomeraes estas que podero ser denominadas de A Grande Vitria, etc. e no rea metropolitana propriamente dita (Grifo dos autores) (p. 59).

    Com efeito, conforme alerta Souza (2006), muito difcil colocar na

    berlinda autores que atuaram e, conseqentemente, se expuseram durante o regime

    militar brasileiro, ainda mais ao se considerar que atuavam para o IBGE, que se

    constitua em eixo importante de sustentao do sistema brasileiro de planejamento

    territorial, conforme indica Abreu (1994, p. 40).

  • 42

    No obstante, levando-se em considerao os trabalhos de cunho

    estritamente cientfico12, o conceito de rea metropolitana se identificaria com o que,

    atualmente, se compreende por aglomerao urbana, indiferentemente aos seus

    desdobramentos: aglomerao urbana de carter metropolitano (quando

    polarizada por uma metrpole, constituindo-se, assim, como sinnimo de regio

    metropolitana) e aglomerao urbana de carter no-metropolitano (quando

    polarizada por um centro qualquer que no caracterize uma metrpole).

    A propsito do conceito de aglomerao urbana, no entendimento de

    Souza (2005), corresponderia a uma espacialidade composta por uma ou mais

    cidades cujos vnculos passaram a ser muito fortes, engendrando fluxos de diversas

    naturezas, sendo, o mais significativo, o de trabalhadores assalariados que, por

    residirem em uma cidade e exercerem sua profisso em outra, acabam promovendo

    o que se denomina de movimentos pendulares.

    Para Moura e Ultramari (1994, p. 125), uma aglomerao urbana

    representa o espao de comutao diria entre cidades, isto , o desenvolvimento

    de relaes interdependentes entre duas ou mais reas urbanas, compondo um

    fenmeno nico.

    Dessa maneira, se torna ainda mais eloqente o apontamento de

    Cunha (2005, p. 191), quando defende que a integrao metropolitana se d como

    uma via de mo dupla. Devido a isso, o autor tambm alerta para a necessidade de

    no se confundir rea metropolizada que, segundo Firkowski (1999), seria uma

    12 No se est, aqui, assumindo a tese da imparcialidade cientfica, at porque se considera que ela

    seja utpica. O fato que, em certos momentos, a despeito de sua qualidade, o trabalho de Galvo et al. (1969) esteve totalmente despido de rigor cientfico para assumir uma posio explicitamente conveniente aos interesses polticos-governamentais dos militares, ao contrrio dos demais trabalhos analisados.

  • 43

    rea dinamizada pelo processo de metropolizao , com rea de influncia de uma

    cidade o que tambm pode ser interpretado como rea polarizada.

    Porm, Moura e Ultramari (1994) sustentam que h relao entre a

    espacialidade de uma aglomerao urbana e a rea polarizada pelo ncleo desta

    aglomerao. Comentando os resultados do estudo Regio de Influncia das

    Cidades (REGIC), eles asseveram que o espao polarizado por um ncleo pode ser

    muito grande, no entanto, relatam que a definio dos limites de uma aglomerao

    urbana no deve refletir apenas o alcance de uma extensa polarizao, mas, antes,

    a forma complexa que tal polarizao configura (MOURA & ULTRMARI, 1994, p.

    126).

    Posto dessa forma, percebe-se que h uma grande semelhana

    entre o que se entende por metropolizao e por polarizao complexa.

    Ponderando-se as afirmaes de Cunha (2005) e Moura e Ultramari (1994), pode-se

    concluir que a rea metropolitana, cuja espacialidade reflete a rea metropolizada,

    por via de regra, se sobreporia rea polarizada, contudo, os limites da rea

    metropolizada se definiriam aqum dos limites da rea polarizada, restringindo-se ao

    espao polarizado em extrema complexidade. Dedutivamente, jamais se constataria

    um fato contrrio, isto , a rea metropolizada de forma alguma seria maior do que a

    rea polarizada.

    H quem assegure que uma aglomerao urbana reflita apenas um

    fenmeno fsico-territorial, expresso pela continuidade de manchas urbanas, ou seja,

    pela conurbao (MOURA & ULTRAMARI, 1994). Tanto Moura e Ultramari (1994)

    quanto Souza (2005) e Soares (1968) concordam que no necessrio que haja

    conurbao para se estar diante de uma aglomerao urbana.

  • 44

    Realizados tais apontamentos, pode-se inferir que o processo de

    metropolizao diga respeito a um fenmeno vinculado dinmica das relaes

    econmicas e sociais estabelecidas entre municpios, ou cidades, geralmente

    caracterizando uma relao hierrquica. Esta concepo, porm, pode ser pouco

    esclarecedora tendo em vista os objetivos de seu uso, de modo que se torna mais

    interessante considerar que o processo de metropolizao se refira formao de

    uma aglomerao urbana, presidida por um ou mais ncleos dinmicos, sejam

    metrpoles ou no, que projetam sua populao e atividades sobre sua hinterlndia.

    Por aglomerao urbana, portanto, entende-se tratar de um espao

    regional dotado de intensas e recprocas relaes sociais e econmicas entre as

    unidades poltico-administrativas que a compem. Considera-se, como elemento

    concreto que caracteriza uma aglomerao urbana, os movimentos pendulares, pois

    sua natureza contempla o transbordamento ou projeo da populao,

    especialmente, e atividades de uma cidade ou municpio sobre outros.

    Todavia, se as aglomeraes urbanas comportam um conjunto de

    problemas de interesse comum aos municpios que a compem, mormente

    relacionados infra-estrutura econmica e social, no Brasil, o equacionamento

    destas questes no tem sido priorizado no ato de instituio de unidades regionais.

    Segundo Firkowski & Moura (2001), as divergncias entre a teoria e a prtica

    metropolitana refletem quatro situaes caractersticas: 1) onde a espacialidade da

    metropolizao supera os limites da unidade regional; 2) onde a espacialidade da

    metropolizao inferior aos limites da unidade regional; 3) onde unidade regional

    foi estabelecida na ausncia do processo de metropolizao; 4) onde o processo de

    metropolizao carece da criao de uma unidade regional.

  • 45

    1.2 A INSTITUCIONALIZAO DE UNIDADES REGIONAIS NO BRASIL

    Conforme expe Guimares (2004), a primeira constituio do Brasil

    a tratar da instituio de unidades regionais foi a de 1967. Em seu art. 157,

    pargrafo 10, esta constituio previa:

    A Unio, mediante lei complementar, poder estabelecer regies metropolitanas, constitudas por municpios que, independentemente de sua vinculao administrativa, integrem a mesma comunidade scio-econmica, visando realizao de servios de interesse comum (BRASIL, 1967)

    No art. 164 da emenda constitucional n. 1 de 1969, Guimares

    (2004) comenta que a questo metropolitana manteve-se praticamente inalterada:

    A Unio, mediante lei complementar, poder, para realizao de servios comuns, estabelecer regies metropolitanas constitudas por municpios que, independentemente de sua vinculao administrativa, faam parte de uma mesma comunidade scio-econmica (BRASIL, 1969).

    Na dcada de 1970 a Unio fez uso de suas atribuies e instituiu o

    primeiro conjunto de unidades regionais. Por intermdio da lei complementar n. 14

    de 1973 foram criadas oito regies metropolitanas, cujos respectivos plos eram:

    So Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belm e

    Fortaleza. A Regio Metropolitana do Rio de Janeiro foi instituda atravs da lei

    complementar federal n. 20 de 1974. Este foi o nico conjunto de regies

    metropolitanas criadas pelo governo federal.

    Com efeito, Moura et al. (2003) asseguram que, embora definidas

    mediante critrios tcnicos, foram verificados sinais de fragilidade na seleo das

    reas metropolitanas, ou aglomeraes urbanas, do pas. Corroborando esta tese,

    Guimares (2004) argumenta que existiam outras reas metropolitanas, como as

  • 46

    regies de Campinas-Valinhos, Goinia, Santos, Londrina e at mesmo Maring,

    mas elas foram ignoradas pelo governo militar.

    Por esta razo, o preterimento das questes metropolitanas, quando

    da criao das regies metropolitanas federais, sugerido por vrios autores, como

    Guimares (2004), ao enfatizar que a criao dessas nove regies metropolitanas

    brasileiras foi orientada sobretudo pelo objetivo de se desenvolver um sistema

    urbano no pas, conforme as necessidades da estratgia de desenvolvimento

    econmico assumido. Simultaneamente, Francisconi e Souza (1976 apud

    FIRKOWSKI & MOURA, 2001, p. 29) salientam:

    [...] deu-se maior importncia s funes poltico-regionais do que aos aspectos qualitativos intrametropolitanos, do que tambm resultou que, por coincidirem com as capitais estaduais, as regies metropolitanas brasileiras prejudicaram as regies metropolitanas de fato [reas metropolitanas], que renem cidades que no tm tais funes [...].

    Sob uma tica diferenciada, Cunha (2005, p. 19) sustenta que a

    criao das unidades regionais federais deriva da representao, ou seja, o autor

    afirma que a pretenso era associar a imagem do Brasil de um pas grande e que

    se desenvolvia rapidamente na direo dos pases ditos desenvolvidos, onde o

    fenmeno metropolitano se apresentava desde o incio do sculo XIX. Portanto,

    tambm neste caso as questes metropolitanas no se colocavam como tema

    principal na agenda da criao das unidades regionais.

    necessrio se observar, entretanto, que a criao das regies

    metropolitanas federais foi alvo concomitante de dois planos de governo, conforme

    assinala Guimares (2004): um dos planos era articular os centros urbanos de um

    mesmo espao socioeconmico, isto , a inteno era mitigar os problemas

    imanentes a extrema concentrao populacional; o outro plano tinha os prprios

  • 47

    ncleos urbanos como unidades bsicas de planejamento por isso que Firkowski

    e Moura (2001) e Moura et al. (2003, p. 35) sustentam que a instituio das regies

    metropolitanas federais esteve relacionada expanso da produo industrial e

    consolidao das metrpoles como locus desse processo.

    De fato, Galvo et al. (1969, p. 56) apontavam que as metrpoles e

    as reas metropolitanas precisavam ser observadas, do ponto de vista de suas

    relaes sociais, econmicas e funcionais com as demais unidades territoriais, sob

    dois ngulos distintos, explicando-os:

    1 O das relaes da cidade com a sua vida nacional ou regional, basicamente do ponto de vista funcional e econmico. So as relaes externas da comunidade. Este processo dinmico, reflete a capacidade de crescimento da metrpole e envolve a compreenso do sistema de foras que nela opera, identificando seus fatores de crescimento e de sua projeo atravs do tempo e no espao.

    2 O das relaes internas dentro do quadro metropolitano, da organizao de seu espao interno e de sua estrutura institucional e ocupacional. Em termos espaciais esta anlise precisa refletir os problemas dos locais onde obtida a renda e onde realizada a despesa de uma aprecivel massa de habitantes, assim considerados metropolitanos.

    O que parece ser contraditrio inverso de recursos pblicos

    destinados s metrpoles tanto para faz-las crescer em termos econmicos e

    demogrficos quanto para equacionar os problemas sociais imanentes a estes

    crescimentos no passa de um fruto da teoria da modernizao capitalista, posta

    em prtica pelos urbanfilos do Regime de 64 (SOUZA, 1994).

    Conforme Berry (1978 apud SOUZA, 1994, p. 262), os adeptos

    desta teoria acreditam que as deficincias sociais do Terceiro Mundo seriam

    superadas mediante incrementos do ndice de urbanizao, perseguidos atravs do

    fomento ao crescimento econmico das grandes cidades:

  • 48

    [...] [os modernistas] alegam que necessria a concentrao contnua do crescimento econmico nas grandes cidades para obter economias de escala e aumentar externalidades sob forma de custos indiretos e infra-estrutura social e econmica porque estes, por sua vez, so os pr-requisitos do crescimento subseqente necessrio para proporcionar os recursos exigidos para superar as deficincias sociais.

    Destarte, Souza (1994, p. 263) comenta que, para os modernistas,

    aquilo que Haesbaert (2004) define como excluso social no se trata de algo

    inevitvel e essencial ao modo de produo capitalista, mas corresponde ao que os

    neoclssicos chamam de imperfeies de mercado, perfeitamente passveis de

    correo mediante a implementao de um instrumental poltico genericamente

    denominado planejamento: urbano, regional, econmico, ambiental, familiar, etc.

    Sob esta perspectiva, os militares pensaram num plano de

    urbanizao para o Brasil, que acabou se fundamentando na teoria dos plos de

    desenvolvimento (LOPES, 2006).

    De fato, comenta Bernardes (1968) que, para fins de regionalizao

    do plano do governo, o Escritrio de Pesquisa Econmica Aplicada do Ministrio do

    Planejamento solicitou ao Conselho Nacional de Geografia um estudo geral das

    caractersticas do sistema urbano do Brasil, exortando a classificao dos centros de

    polarizao que comandavam a sua vida de relaes13. Os objetivos do estudo,

    conforme a autora, consistiam basicamente: 1) em uma anlise do potencial de

    polarizao de cada centro urbano, de acordo com as funes exercidas por eles; 2)

    na classificao da hierarquia dos centros de polarizao; 3) na delimitao da zona

    de influncia de cada centro que exercesse uma atuao regional expressiva.

    13 A metodologia de classificao dos centros urbanos do pas, conforme comenta Bernardes (1968),

    esteve, apesar de sucessivas adaptaes, fundamentalmente baseada no mtodo aplicado por J. Hautreux e M. Rochefort na Frana. Fora considerado, portanto, o equipamento tercirio disponvel em cada cidade como o melhor elemento para a classificao hierrquica das mesmas.

  • 49

    Conforme Silva e Ferreira (2005), os plos urbanos foram

    classificados em trs nveis: plos de desenvolvimento de interesse nacional,

    compreendendo as grandes metrpoles; plos de desenvolvimento micro-regional,

    abrangendo centros que possuam entre 100 e 500 mil habitantes; e plos de

    equilbrio, dizendo respeito a outras cidades de interesse prioritrio dentro de cada

    estado federado.

    Assim se consolidou a primeira poltica urbana do pas (LOEB, 1975

    apud SILVA & FERREIRA, 2005), tendo como objetivo fazer o bolo crescer

    rapidamente (MONTE-MR, 2004) por intermdio do fortalecimento das metrpoles

    regionais e das cidades de porte mdio, baseando-se, para tanto, nas principais

    diretrizes do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) (1975-1979):

    estruturao do sistema urbano e ocupao do espao interior (AMORIM FILHO,

    1984, p. 13)14.

    Dessa maneira, segundo Guimares (2004), embora o primeiro

    conjunto de regies metropolitanas federais tenha sido criado em 1973, seu

    financiamento foi regulamentado apenas um ano depois, atravs do decreto federal

    n. 73.600 de 197415, e a implementao das mesmas, segundo Souza (1994),

    aconteceu somente com o advento do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND),

    quando foram submetidas coordenao da Comisso Nacional de Regies

    Metropolitanas e Poltica Urbana (CNPU).

    14 Conforme Gomes, Silva e Silva (2003) e Lopes (2006), o Banco Nacional de Habitao (BNH) e o

    Sistema Federal de Habitao (SEFHAU), criados em 1964, constituram dois dos principais programas do governo destinados execuo da poltica urbana em desenvolvimento. A princpio privilegiavam o atendimento das mdias e grandes cidades brasileiras, mas a partir do incio da dcada de 1970 eles foram especialmente alinhados ao atendimento das demandas das regies metropolitanas.

    15 Em seu art. 4, este decreto determinava s unidades da federao a destinao de, no mnimo, 5% dos recursos do Fundo de Participao dos Estados execuo do planejamento integrado e dos servios comuns das suas respectivas regies metropolitanas (GUIMARES, 2004).

  • 50

    Convm salientar que a participao de cada municpio nas regies

    metropolitanas institudas pelo governo federal era compulsria e, quanto aos

    servios comuns, no eram levadas em considerao as peculiaridades regionais.

    Deste modo, citam Azevedo e Guia (2004, p. 99), "estabelecidos de maneira

    unvoca, servios importantes em vrias regies deixam de ser considerados,

    enquanto includo, por exemplo, o gs canalizado, existente apenas no Rio de

    Janeiro e em So Paulo"16.

    O equacionamento dos servios comuns de interesse metropolitano

    estava submetido aos conselhos deliberativos de cada regio metropolitana. A

    propsito, para cada unidade regional instituda, o governo federal determinou a

    criao de um conselho deliberativo e de um conselho consultivo, que deveriam ser

    mantidos s expensas prprias de cada estado. Cabia a cada conselho deliberativo

    promover a elaborao do plano de desenvolvimento integrado, bem como

    coordenar a execuo de programas e projetos de interesse de sua respectiva

    regio metropolitana. Aos conselhos consultivos competiam opinar, por solicitao

    dos conselhos deliberativos, sobre questes de interesse da regio metropolitana e

    tambm sugerir aos conselhos deliberativos a elaborao de planos regionais e a

    adoo de providncias relativas execuo dos servios comuns (BRASIL, 1973).

    Rolnik e Somekh (2004) comentam que estas estruturas de gesto

    eram muito hierrquicas, criticando o fato de todo o poder decisrio ser delegado

    aos conselhos deliberativos, cujos membros eram nomeados pelos Executivos

    16 Embora apenas por uma questo de esclarecimento, considera-se importante destacar o rol de

    servios comuns de interesse metropolitano estabelecidos no bojo da lei complementar federal n. 14 de 1973: I) planejamento integrado do desenvolvimento econmico e social; II) saneamento bsico, notadamente abastecimento de gua e rede de esgotos e servios de limpeza pblica; III) uso do solo metropolitano; IV) transportes e sistema virio; V) produo e distribuio do gs combustvel canalizado; VI) aproveitamento dos recursos hdricos e controle da poluio ambiental, na forma do que dispusesse a lei federal; VII) outros servios includos na rea de competncia do conselho deliberativo por lei federal.

  • 51

    estaduais. Contrapem-se tambm ao fato de que, aos municpios membros de cada

    regio metropolitana, cabia apenas a representao nos conselhos consultivos.

    As questes levantadas por Rolnik e Somekh (2004) ilustram bem a

    centralizao promovida por um estado ditatorial e extremamente autoritrio, como

    foi o brasileiro durante o regime militar.

    Um passo importante rumo descentralizao poltica, quanto ao

    aspecto metropolitano, foi dado com a promulgao da Constituio Federal de

    1988. Nela, a possibilidade de criao de unidades regionais, com exceo das

    regies integradas de desenvolvimento17, foi facultada s unidades da federao. O

    tema foi abordado no pargrafo 3 do art. 25, onde se previa que, mediante lei

    complementar, os estados poderiam "instituir regies metropolitanas, aglomeraes

    urbanas e microrregies, constitudas por agrupamentos de municpios limtrofes,

    para integrar a organizao, o planejamento e a execuo de funes pblicas de

    interesse comum" (BRASIL, 1988).

    Nota-se que as figuras regionais foram ampliadas. Moura e Ultramari

    (1994) enumeram este fato e asseveram que, da forma como foram dispostas na

    Constituio, as trs categorias de unidades regionais citadas sugerem, alm da

    interdependncia, um certo grau de hierarquia: com o que no parecem discordar.

    Entretanto, eles objetam quanto utilizao do termo aglomerao urbana para

    representao de uma regio administrativa, tendo em vista se tratar de um

    conceito.

    17 As regies integradas de desenvolvimento so unidades regionais cuja institucionalizao compete

    Unio pelo fato de sua espacialidade abranger municpios de mais de uma unidade federativa. Sua criao est prevista "nos artigos 21 (inciso IX), 43 e 48 (inciso IV) da Constituio Federal" (MOURA et al., 2003, p. 36).

  • 52

    Moura e Ultramari (1994) sustentam que a oficializao do termo

    aglomerao urbana representao de uma unidade regional fragiliza a sua

    aplicabilidade, explicando que os termos regio metropolitana e microrregio

    bastariam: o primeiro poderia ser empregado para qualificar as aglomeraes

    urbanas presididas por metrpoles; enquanto o segundo deveria representar as

    aglomeraes urbanas no polarizadas por metrpoles.

    Seja como for, desde 1988, alm de trs regies integradas de

    desenvolvimento, foram criadas apenas trs aglomeraes urbanas e outras

    dezessete regies metropolitanas, que agora totalizam vinte e seis. At o momento,

    nenhuma microrregio foi instituda no pas (Figura 2).

  • 53

    Figura 2 Unidades regionais institudas no Brasil, conforme o ano de criao (2006)

    FONTE: IBGE (2006b), Legislaes especficas; BASE CARTOGRFICA: IBGE (2006b); ELABORAO: REOLON, Cleverson A.

    Por intermdio da Figura 2, pode-se facilmente constatar que a

    maior parte das instituies de unidades regionais efetuadas no perodo ps-1988

    ocorreu na regio Sul do Brasil, que passou a concentrar quase a metade do total de

    unidades regionais do pas. Santa Catarina se sobressai entre os demais estados, j

  • 54

    que, entre 1998 e 2002, seus legisladores criaram seis unidades regionais, todas

    regies metropolitanas.

    Entretanto, parafraseando-se Firkowski e Moura (2001),

    necessrio se ponderar que vrias unidades regionais s quais os legisladores

    estaduais outorgaram o termo regio metropolitana no passam de aglomeraes

    urbanas conceitualmente se falando polarizadas por centros de porte mdio. As

    autoras comentam que apenas no Rio Grande do Sul se vem mantendo maior

    acuidade em relao hierarquia implcita nas diversas categorias de unidades

    regionais sugeridas na Constituio Federal de 1988, respeitando-se Porto Alegre

    como a nica metrpole regional presente no estado.

    Resulta que a diversidade das regies metropolitanas

    institucionalizadas enorme, conforme salienta Ribeiro (2004, p. 9): de um lado, por

    exemplo, esto So Paulo e Rio de Janeiro, com densidades demogrficas de

    2.220 e 1.899 habita