90 - UFRGS
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Uvas fecundas do conceito fisiopatologicoda molestia; o conceito allatomico, permitindo a verificação da lesã,o constituida e,quiçá, ÍlTemediavel; o conceito fisiopato~
logico, deixando antevêr na manifestaçãoda doença, a possibilidade de restauração in~
tegral ou parcial da saude e da vida; porum caminho chegava~se ao conhecimentoda morte do tecido, pelo outro &urpreendiase o estado periclitante da saude.
Hoje compreendo porque eu avancei tan·to no conhecimento da patologia clinica,seguindo as vossas aulas, que eram disputadas com assiduidade pelos vossos disci·pulos, sinceros admiradores do talento eda cultura do Mestre.
Encontrando-me hoje, ao vosso lado, nainvestidura da Catedra, eu reverencio, navossa personalidade, o espirito de sabedoria e de justiça do Magisterio médico destaFaculdade.
E que seja o meu primeiro pensamentouma homenagem comovida á memoria dosMestres de outrora, que a morte afastoudo nosso convivio, deixando-nos deles, imoperecivel e venerada, a efígie de suas espiritualidades.
A vós, senhores Professores, as minhassaudações fraternas e a expressão do meurespeito e admiração.
ES'te acontecimento solene, que assinálaa etapa culminante e a mais significativade minha vida profissional, sugiere-me áconciencia motivos de graves meditações.
Comparecendo a este douto e egregio cenaculo da Ciencia hipocrática, no lugar proeminente que me coube e de onde, pela vêzprimeira, se alteia e se difunde a vóz daminha palavra, tenho atingido o sagradopórtico do Magisterio, para assumir a in·vestidura de uma Catedra. de Cliniea Médica.
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Estas palavras, cujos conceitos transparecem em toda sua expressão o sentido e amedida das responsabilidades contraídas,justifieam plenamente a conturbação e a perplexidade que experimento no ato de assumir temerariocompromisso de empreendimento, por todos motivos, S'up~Tior ásminhas possibilidades.
Encanecido precocemente no outono antecipado de minha vida, empós quatro lustros de porfiadas lutas no exercicio da profissão e no estudo ininterrupto da cienciamédica, sinto-me na plenitude daquele estado de espirito que se faz mister pa.racompreender, em seu justo sentido, a realidade dos acontecimentos, mesmo os que,por sua excepcional transcendencia e pelagrande projeção de suas finalidades, oferecem condições de mais difícil julgamento.
Analisando preliminarmente o estado contemporaneo da formação intelectual e moral do nosso meio médico, impressionou-me,desde a primeira hora, a circul1stancia dainexistencia de valores integrais, capazesde, em determinado momento, poderem pre·encher devidamente os hiatus abertos pelodeterminismo do destino nos lugares demaior responsabilidade elo ensino médico.
E a razão de ser dessa condição de notoria incapacidade para solução imediata ecabal de situações semelhantes, provem naturalmente do estado incipiente e imaturoda nossa cultura médica, indice consequente das deficiencias materiais e intelectuaisque, até aqui, haviam entorpecido os anseios ele progresso e de perfeição do estudoe do ensino da Medicina, em noss'o meio.
Na falencia de ponderaveis capacidadesde reserva, que nos grandes centros medicos constituem a corporação de professores substitutos, naturalmente indicados pela prevalencia de sua·s' mentalidades cientificas á sucessão legitima e inconteste deseus antecessores na Catedra, predomina,ainda entre nós, como testemunho de nossoretardamento educacional, o criterio fala·cioso dos concursoS' de próvas, em que aseleção de valores, excepcionalmente orien·
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tada pelo espírito da justiça e da razão,não raro se desvirtua sob o arbitrio temerario da imparcialidade e da incompetencia, consorciadas no proposIto funesto dosacrificio da verdade.
Em ambientes de civilização ainda rudimentar, como o em que vivemos, não houvetempo, nem tão pouco serias cogitações dese plasmarem elites de solida cultura científica, para, na hora oportuna, se afirmarem, por direito e por merecimento, os verdadeiros eleitos para os encargos supremosdo magisterio universitario; não houve siquer o tempo necessario para s'e crear e seimpôr de modo definitivo uma mentalidadesuperior, çapaz de exercer influencias salutares e decisivas na formação e na orientação da personalidade científica e cultural das gerações porvindouras; não houve,mesmo, esforço honesto e vigoroso no sentido de derrocar-se, em toda linha, vetustospreconceitos de rotina, á sombra de cujasprerrogativas escolasticas subsistem e preponderam tendencias e concepções em chocante antagonismo com as solicitações edirectrizes desta epoca de renovação tumultuaria e irresistivel da Medicina contemporanea.
O que se verifica, por isso, corno naturalcorolario das nossas insuficienCÍaS' é o arbitrario determinismo de um criterio deabsoluta relatividade na capacidade de julgamento e na revelação das condições decultura científica e de personalidade professoral dos competidores.
Em face, portanto, deS'se estado deficitario, em nosso meio medico, de elementosautorizados e de condições essenciais paraefectivação de concurso destinado ao suprimento de uma disciplina de ensino queenvolve em seu programa talvez a maiorsorna de condições de cultura e de personalidade, não surpreende que sua realização se consumasse em circunstancias queatestam de modo evidente o grau ainda elementar da nossa evoluçã,o no dominio dadencia e da civilização.
Enquanto prevalecer o sistema vigente de
concursos para preenchimentos de Catedrase até que tenhamos atingido maior nivel deeducação e de sabedoria, meditem profundamente sobre esses aspectos da evoluçãopsicologica da historia humana todos aqueles que têm a zelar a responsabilidade deum passado e de um nome, forjados com osrecursos honestos da integridade moral econquistados com sacrificio e com tenacidade nos domínios' elevados da verdadeiracultura cientifica.
Senhor,es Professol'es da Il'aculdade deMedicina de Porto Alegre!
Candidatei-me ao concurso de Clínica Médica porque a isso me julguei com direitopelo meu passado, decorrido nos bancos academicos e no tirocinio da atividade da profissão em lapso de t!3mpo que já orça pelolimiar de um quarto de s-eculo. A minhapasS'agem pelos bancos da Academia nadateve de invulgar ou de notorio, mas lá firmei minha reputação de estudioso e de integridade, que me valeram, do que muitome ufano ainda hoje, o conceito e o estimulo dos Mestres de então, muitos delessentados entre vós, outros afastados nestemomento e outros partidos para sempre,mas redivivos na nossa saudade e veneração.
Os primeiros anos do curso médico consagrei-os ao estudo metodico e perseverantedas disciplinas basicas, sob a sábia orientação de Mestres insignes, cujos exemplose ensinamentos guardo-os ainda hoje cristalizados no substrato fundamental da minha educação médica, e de onde reflectemsobre mim s'empre renovadas as cintilaçõesluminosas da sua espiritualidade, que, neste momento, se concretiza, para minha fortuna, no milagre da vossa personificaçãoreal.
Como interno da 5." Enfermaria, do V8
nerantlo Professor Sarmento Leite, inicieia minha vida hospitalar. Devo ser grato áProvidencia por ter me colocado, nos pri-
mordios da minha iniciação na prática daclinica, sob a guarida e ao influxo deS'seplecaro Mestre, cuja vida professoral foiuma religião de estoicismo e de renuncias,para melhor difundir ,entre os discipulos asluzes da sua sabedoria e o exemplo da suapersonalidade. Um só detalhe €u desejo recordar, nesta hora: no S€rviço de Cirurgiado Professor Sarmento aprendia-se clinica.
Depois seguiu-se o meu internato na 9.a
Enfermaria do Professor Octavio; 'essa en~
fermaria era e sempre foi, em vida do preclaro Chefe, uma verdadeira Escola de Clínica; ser interno da 9.a Enfermaria erauma aspiração disputada; ter sido internodo Professor Octavio era uma honrosa credencial para o futuro; e eu tive essa ven·tura, com a honra maior de ter merecido,como interno dilecto, a sua confiança integral.
Octavio de Souza era a argucia clinicainspirada em prodigiosa intuição da verdade; professando tinha a concisão didatica da claresa e a percepção objectiva darealidade clínica; ensinava convencendo e,convencendo, creava, á sua imagem, a personalidade de seus discipulos que, em gerações sucessivas, prolongam e perpetuam,no tempo e no espaço, o cerebro e o coração do saudoso Mestre.
E:m 1914, quando terminei o curso academico, o Professor Octavio, então Directorda Faculdade, distinguiu-me com um votode sua confiança, que conservo como umdos maiores titulos da minha vida profissional: interessado pelo destino que 'eu iriatomar, ingressando na vida prática, aconselhou-me, nes'Sa epoca, a um estagio deaperfeiçoamento que me permitisse tentarconcurso na Faculdade; não ousei seguirlhe o conselho, mas guardei a emoção dosentido; e hoje, 21 anos depois, venho che·gando da longa jornada, mas, não quiz Deusque eu tivesse a ventura e o orgulho de encontrá-lo presente, embóra eu sinta nesteinstante de comoção e de jubilo a vóz espiritual da sua memoria e o calor generosoda sua imortalidade.
RemenlOralldo nominalmente tão só aqueles que de forma mais directa ou, por maistempo, exerceram influencias decisivas naminha educação clínica, apraz-me sobremodo encarecer e reverenciar a egregia personalidade do Professor Olinto de Oliveira, osabio Mestre, de quem nunca se fala demais, porque jamais se terá dito tudo quanto deveria ser conhecido da sua nobre vidade homem superior.
o nome de Olinto de Oliveira marca umaepoca na historia da Medicina sulriograndense, que ele, creando-a, fê-la tão grandee prestigiosa, que do Brasil repercutiu pelos centros médicos ,europeus e americanos'.
Tendo emprestado á pediatria contemporanea todo o vigor de sua fecunda colaboração, no estudo e na solução dos seus maisempolgantes problemas de diagnose de assistencia médico-social, o Professor Olintofoi, posteriormente, solicitado pela clinicamédica de adultos em cujo terreno atuoucomo o vulto maior e o mais acatado dasuaepoca. Senhor de uma invulgar culturamédica e científica, cabe ao Prof. Olínto,em sua verdadeira acepção, o epiteto desábio. A sua sabedoria 'era tão grande comoos proprios confins vastissimos da Medicina, que ele conhecia a fundo em todas assuas disciplinas: além da pediatria e da clínica, de que era Mestre, não o era menosem fisiologia, em microbiologia, em anatomia patologica; foi ele o precursor, em nosso meio, do Laboratorio como metodo dediagnostico e de pesquisas; ele foi o fundador e o grande animador do Instituto Oswaldo Cruz de Porto Alegre, que, sob suadireção venceu uma epoca de prodigiosaatividade, de que resultou a formação de umapleiade brilhante de discípulos amados seus'.
A mesma influencia salutar ele exerceuna direção da Sociedade de Medicina e, porexcelencia, na Catedra e no Serviço de Pediatria da Santa Casa, por onde se sucederam gerações de médicos, no afall religiosode aprender a experiencia e de penetrar a
sabedoria do Mestre. Sem receio de errar,pode-se afirmar que com Olint,o de Oliveirasurgiu o advento da Medicina científica eexperimental no Rio Grande; ele se fez,naquele periodo aureo de sua atividade clillica um repos'Ítorio permanente e renovadode todas as atualidades da Medicina. Osseus discipulos encontravam na pessoa doMestre o melhor e o mais perfeito exemploa seguir; todos os atributos e faculdadespeculiares ao clinico renomado ele os poc·suia aprimorados: espirito de obs~rvação,
meticulosidade, perquirição, sagacidade, erudição, humanidade.
Realmente, ele foi um erudito; profundoconhecedor do vernaculoe dos principaisidiomas estrangeiros; estilista escorreU;), teve lampejos memoraveis nas pugnas, jornalisticas, com vultos da eminencia de Castilhos; longo tempo atuou no "Correio do Povo" como seu critico teatral; cultor fervoroso do classicismo artístico, foi o fundadore director do nosso Instituto de Belas Artes.
Si grandes foram os talentos do seu (~e
rebro, menor não foi a inteireza do seu caracter e o primor da sua educação.
Olinto de Oliveira aparece como o Escula·pio enciclopédico que Marafíon descreve ecomenta na personalidade cientifica de Nóvoa Santos: "E' inata a tendencia, nos homens inteligentes que vivem sujeitos' ao exercicio de uma profissão, a compensar a suamonotonia com a prática ostensiva ou o secreto cultivo de outras atividades; essa coincidencia de duas atividades diversas observa-s'C nos homens de ciencia, com respeitoá literatura e á arte em geral; as novelas eos contos de Cajal são desenhos de Pasteur,fermatas de violino em Einstein; o instintoda imortalidade, que alenta o fundo de todoo ser humano de superior categoria, volta-secom ansia de naufrago para a creação artistica que, sendo excelsa, perdura para s'emprena memoria dos homens".
Referindo-se ao conceito letamendiano deque o medico que só sabe Medicina, não sabenem siquer Medicina, declara Marafion:"Mas uma ultima razão, entre as que me
ocorrem como abonatorias do caracter artistico dos homens de ciencia, é a vantagem douso literario do idioma para lograr uma exata expressão cientifica; é evidente que umbom eS'critor, que é alem disso tambem umsábio, possue o instrumento de expressãode sua sabedoria em maior medida que aquele que escreve obscuramente; pois, em ciencia, a forma com que se reveste a verdade,forma parte da propria verdade; não é poisqualidade accessoria, mas sim ,eS'sencial, dobom cientista; a verdade é clara, por defini·ção; a arte da clareza é elemento cientificode primeira categoria; descrição alguma dasmolestias feita pelos medicas mais insignespóde-se comparar, em tema tão banal comoa peste dos cobaios, com a de Virgílio nosversos insuperaveis das Georgicas."
:F'ui obscuro mas fervoroso discipulo deOlinto de Oliveira; nos primeiros anos daminha juventude médica eu o admirava eprocurava seguir-lhe a sombra dos seus passos, vendo nele aexcelencia da perfectibilidade humana e o paradigma da sabedoria;hoje, no planalto da minha vida profissionalcontinuo com a mesma veneração pela suapersonalidade, que para mim avulta aindamais nos tempos presentes de frivolidadese deliquescencias, de audacia e (le presunção.
Senhores Professores da Faculdade de M,edicina!
Nesta hora de magna solenidade e de conturbadora emoção em que sou investido dasinsignias titulares do Professorado, em quetransponho este sagrado Templ,o de tradições milenarias, cujas luzes de sabedoria me conferem o halo incorruptivel eeterno da Ciencia e da Verdade, sinto queum mistico sopro de espiritualidade opél'aestranha transmutação em minha personalídade, conferindo-me a conciencia de llóvasprerrogátivas e responsabilidades, que mecumprirá manter integras e sobranceiras atodas as vicis'situdes.
Ser empossado em uma Catedra de Clínicaneste secuIa de intensa agitação renovadora
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da Medicina, constitue sem duvida o passomais grave que se possa cometer na vida profissional.
Estar, porem, escalado para assumir a direção precisamente da In Cadeira de Clínica Médica desta Faculdade, subentend,e motivos ponderaveis de maiores responsabilidades.
Designado o Professor Annes Dias paraocupar na Universidade do Rio d'e Janeirosituação mais condigna de seu excepcionalvalor, a Catedra que lhe pertencera nestaFaculdade permanecerá insubstituida,embora preenchida em sua direção, porque insubstituivel será por tempo indefinido quem tãoalto se elevou no pr'estigio da Medicina.
A IH Catedra de Clínica Médica, creadae regida pela cerebração genial de AnnesDias, fez-se, á sua imagem 'e semelhança, aviva expressão do esplendor da Medicina contemporanea.
Na extenção e magnitude da obra científica de Annes Dias surpreende o quanto póde a força creadora do talento humano, emseu mais alto gráu de perfeição.
Analizar a produção cientifica de AnnesDias é estudar a sua personalidade professoral; ambas se confundem e se integram,para melhor reflectirem os destinos e asgrandezas da Medicina coetanea.
A contribuição de estudo e de observaçõesdo ProL Annes Dias no terreno escabrosoda hematologia clinica é deveras valiosa;em quatro lições magistrais, esgota exaustivamente o estudo clinico e discussão doutrinaria da anemia perniciosa; no estudo dahemofilia propugna, desde 1921, pelo conceitoendocrino da suaetiopatogenia, no que, maistarde, é acompanhado por diversos pesquizadores; a sindrome de Bantie a tromboflebite esplenica mereceram-lhe acuradas investigações, quer no diagnostico diferencial dasesplenomegalias, quer nas indicações terapeuticas da esplenectomia; a proposito d'eum interessante caso de angina necrotica, focaliza os problemas doutrinarios, hematologicos e clinicos das leucemias agudas, da angina monocitica, das monocitos'es; ao capi-
tulo sugestivo das eritremias, Annes Diasfornece importante contingente de observação clinica e sobretudo de erudição cientifica, pondo em dia as varias correntes! patogenicas chefiadas por Vaquez, por Pappenheime Ferrata, por Mariano Castex que sugere apatogenia diencefalica da policitemia d·eGeisbock; refere o papel importante do baço no metabolismo eritrocitíco e a intervenção fisiopatologica do sistema reticuloendotelial atravez da interferencia de um factorde localização diencefalica, conferindo ássindromes eritrocitemicas uma concepção deinsuficiencia reticulo-endotelial; em tornodas sindromes hemodigestivas, das sindromes entero-anemicas, do sprue, chama atenção para o misterioso parentesco entre anemia perniciosa, sprue e pelagra, embora todos de etiopatogenia obscura e discutivel.
Em notavel observação clinica sobre umcaso de hemocromatose, põe em relevo a participação da suprarenal na cirrose pigmentarou diabete bronzeado, hoje mais propriamente designado por hemocromatose; faz um estudo aprofundado da siderose visceral, investiga as origens dos pigmentos normais epatologicos, indaga sobre a hipotese de sera hemocromatose uma reticuloendoteliose,pondo em paralelo a similitude da doençade Gaucher; lembra o conceito de Brugschsobre disturbios de m€tabolismo marcial.
Em duas memoraveis lições sobre amiloidose, a proposito de um caso clinico ilustrado com completissima documentação de laboratorio, de anatomia patologica e de necropsia, Aunes Dias tem magnificos ,ensejosde revelar variados aspectos de sua imensacultura médica; põz em pratica, para elucidação diagnostica, a prova de Bennhold ouprova de vermelho Congo e faz completo 'estudo da sindrome humoral; considera a amiloidose como um estado catabolico das albuminas organicas por um disturbio do sis~
tema reticulo-endotelial. No decurso de suaslições originais, oferece Aunes Dias a primeira contrilmiçào em nosso meio sobre oproblema empolgante das hipoglicemias egpontaneas e da infancia, chamando atenção,
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Com o amparo de copiosa estatística, paraas sindromes nervosas, psiquicas, vago-simpaticas, motoras, digestivas, respíratorías,GanHo-vascular, 611cefalícas, extrapiramidais,comatosa, e na criança para as' convulsõese vomitos ciclicos; "toda vez que convulsõessobrevêm no descurso de um estado de desnutrição, ter em vista a possibilidade de umahipoglicemia;" na etiopatogenia das hipoglicemias espontaneas a insuficiencia suprarenal e os centros diencefalicos têm papeldestacado.
Assume proporções extraordinarias a colaboração de Annes Dias na patologia renal;no estudo do metabolismo clinico da creatinina, suas ideias sobre o valor prognosticoda hipercreatininemia, paralela ou dissociada da hiperazotemia, sobre o papel da hipercreatininemia na uremia convulsiva, são dominantes no conceito da. clinica.
No estudo das nefropatias cronicas, segundo a orientação das escolas alemã e francesa,detem-se profundamente nas pesquizas metabolicas dos protides, lipides e dos sais, e nasindrome aciclosica.
Na nefrite azotemica encarece a importancia da hiperazotemia, da hipercreatininemia, da calcipenia e da acidose.
A sindrome de acidose das nefrites cronicas constitue materia debatida com proficiencia e até mesmo com oontribuiçõespessoais de Annes Dias, que considera ossapinhos, o soluço, a paresia vesical e aparalisia intestinal como manifestações daacidose. Com relação ao prognostioo dasnefrites cronicas, admite o conceito de doença do organismo e não afecção do ,orgão,mostrando as dificuldades em fixar comsegurança o prognostico exato em cada caso.
E' das mais notaveis a contribuição original de Annes Dias no estudo clinico da acidose,em que foi o primeiro a chamar atenção do mundo médico para a significação dosapinho, do soluço, da sindrome peritonealna febre tifoid'e e na disenteria; faz a classificação' das formas clinicas em digestivas,respiratorias, nervosas, siderantes" cardiacase peritoniais.
Sobre a controvertida questão da azotemia cloropenica, Annes Dias faz a criticada teoria de Blum, que contesta, propondoa sua concepção, que condiciona a cloropeniaao catabolismo azotado: o organismo fazpassar aos tecidos o cloreto de sodio neces~
sario á proteção das albuminas, histicas;estuda as qualidades citofilaticas do cloretode sodioe considera a perturbação azotadacomo predominante na azotemia cloropenica.
Estudando as trocas c1oroazotadas napneumonia, afirma que a retenção salínatraduz um profundo desequilíbrio metabo.lico, como meio de defeza contra a desintegração azotada, propondo a injeção intravenosa de soro hipertonico na terapeuticada pneumonia.
Annes Dias foi, em nosso meio, o precursor e o vulgarizador do estudo clinicodas sindromes vago-simpaticas com particular atenção ás perturbações cardio"vas~
culares de origem lleUro-Vegetativas, ás)
reações neuro-glandulares da infancia, aoestudo clinico da vagotonia e reações vagosimpaticas.
Aendocrinopatologia foi igualmente ohjecto de numerosos estudos, como sejam,por exemplo, as desordens digestivas deorigemendocrinica, estudo da facies emendocrinologia, gigantismo acromegalico.
Avulta ainda mais a colaboração do Pro'fe8'sor Annes Dias na patologia gastroduodenal, de que ele deve ser considerado oseu inspirador, por vezes com notav,eis concepções originais. Ele esgotou o estudo clinico do duodeno, cujos trabalhos se contam pelos seguintes titulos: alguns aspectos da patologia duodenal, dilatação duodenal cronica, estase duodenal e periduodenite, auto-intoxicação de origem duodenal, as manifestações dolorosas nas afecções duodenais, enxaqueca duodenal, sobrecertas repercussões renais e metabolicas daestase duodenal, colica duodenal.
Ninguem como Annes Dias estudou entrenós a patologia gastrica; são notaveis ossens trabalhos sobre patogenia da ulcerapeptica, papel do sistema nervoso na pato-
genia e na evolução da ulcera gasüo-duodonal, sobre gastl'ite peptica e sua relaçãoeom a uleerae o cancer, sobre cancer doestomago e ulcera-cancer.
Estas rapidas referencias, mais de titulasque de substancia, servem apenas para lemobrar o volume e a amplitude da materiaprincipal contida nas cinco series de Liçõesde Clinica Médica, de Annes Dias; servemapenas para permitir uma impressão geralsobre os grandes e variados dominios daMedicina penetrados, desbravados e ilumi·nados pelo genio vigoroso e fecundo doMestre incomparavel; servem tambem parademonstrar com evidencia o relevo cientificoque ele imprimiu ao destino da Catedraque tão alto dignificou, honrando os seuscompromissos e enaltecendo, com invulgarsignificação, o prestigio da Medicina patria.
Annes Dias, homem de ciencia, chefe deE'scola, Mestre da Clinica, é, dentro do Paiz,um nome nacional, e nos cultos centrosmédicos americanos e europeus seu vultose destaca como um dos simbolos proeminentes da Medicina contemporanea.
A Providencia, sendo absolutamente justa, foi-lhe prodiga na equanime distribuição de talentos e de virtudes; fêz-Ihe tãogrande e magnanimo o coração quanto prodigioso e fertil o cerebro privilegiado, dando-lhe o dom do equilíbrio de forças e degraças, que tornam o homem superior ásua condição terrena.
Em Annes Dias se ajustam com perfeiçãoos conceitos filosoficos de Pytagoras, inscritos pelo genial precursor da Matematicaem seus memoraveis versos d'e ouro:
Que jamais o sono cerre tuas palpebras,Sem teres perguntado: o que omiti, o que
[fiz?Desde o teu despertar, examina com calmaO que te resta por fazer, o que ainda tens
[que cumprir:
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Si fôr para o mal, te abstem; si para o bem[persevera.
Poucos sabem ser felizes: joguetes das pai·[xões,
A mercê das ondas adversas,Sobre um mar sem praias se debatem ce·
[gamente,Sem poder resistir nem ceder á tempestade.Deus, tu os salvarás decerrando-Ihes os
[olhos,Mas não, eles são humanos, de divina raça,Que o erro discernem e vêm a verdad'e.A natureza os serve e tu que a tens pene·
[trado,Homem sábio, homem feliz, respira no por
[to,Deixando que sobre o corllO reine a inteli
[gencia,Afim de que, elevando-te pelo eter radiosoAo seio dos imortais, sejas um Deus tu
[mesmo.
Parafraseando o conceito de Maurice deFleury, que afirmou ter tido a Medicinatresepocas: a de Hipocrates, a de Pastem'e a de "Vidal, poderiamos dizer que a Medi·cina no Brasil marcará o aureo periodo desua evolução com a época de Annes Dias.
Estudar a vida e a obra cientifica deAnues Dias é elevar-se á culminancia daatualidade para penetrar profundamentenos problemas mais momentosos e transcendentes da Medicina hodierna; é passaraos olhos, em panorama calidoscopico, asucessão tumultuosa desse constante renovar de conhecimentos e dessa incessanterevelação de id'eias e concepções originais,que realizam o progresso da ciencia e a
evolução da humanidade.
Fazer um juizo relativo do estado contemporaneo da Medicina não é tarefa facilpara alguns d'Ccenios de estudo.
Vislumbrar as perspectivas empolgantesda Medicina porvindoura que se esboça edelinea no ambito esfumado das hipotes'esde trabalho, com revolucionarias consequeneias para o progresso da Ciencia, já cons-
titue objecto de exaustivas cogitações doespirito moderno da Medicina.
Ser Professor de Clinica Medica é ensinarMedicina.
Para ensinar Medicina, correspondendo:1S precipuas finalidades do magisterio, énecessario levantar os olhos do passado ·edetê-los no presente, com incidencias deseus raios penetrantes sobre os horizontesdo porvir.
Quem não proceder assim, quedará submerso na estagnação da inercia invencivel,soterrado pela avalanche do progresso quese avoluma sem cessar, em continuo movimento de renovação e de reintegrações.
René Leriche, que é incontestavelmenteuma das' figuras mais empolgantes e prestigiosas da ciencia médica de nossos dias,proferindo na Sociedade Real de Medicinade Gand notavel conferencia sobre "Asorientações proximas da Cirurgia", iniciouo exordio de sua magistral oração com aexposição de conceitos sobre as atuais tendencias da Medicina que sancionam comeloquencia e excepcional autoridade o nossopensamento com respeito á necessidade dese propugnar por uma n{)va mentalidadeno ensino da cienci?c médica.
Assim discorre o eminente cientista fran·cês:
"Pensei que a melhor· maneira de celebrar um centenario como este fosse voltando nossos olhos para frente e não paratraz de nós; pareceu·me que o melhor meiode permanecer fiel á ideia dos fundadores desta Sociedade fosse a de um esforçoem pensar no futuro. Cem anos de Medicina! Que inaudita subversão na concepçãoda Medicina neste seculo; tão grandes têmsido as suas renovações' que mal compreendemos que o destino da Medicina não sehaja fixado para sempre. Embora habituados a vêr tudo mudar no mundo, nós, oshomens de 1934, supunhamos que só sepoderia marchar pelo sulco tão rectamentedelineado e tão longe conduzido pelo geniopaeteuriano. Entretanto, eu me pergunto sinão seria melhor ensaiar uma modificação
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na concepção dos fatos e sugerir de outrafórma que a atual a solução de alguns problemas. Crêde, em verdade, verosimeisemtodo o imenso dominio da patologia a leide PasteUl'e a disciplina morgagniana '? Alei pasteuriana nos ensina que o mundodos infinitamente pequenos domina o numdo doS' homens e rege os incidentes de suavida. Com ela admitimos que a maior parte das molestias provêm do exterior. Nãoposso aceitar esta resignação apatica.
E' possivelque outras concepções sirvamcomo hipoteses de partida. Penso que asmolestias possam ter suas causas em espontaneos desregramentos fisicos ou quimicosda nossa natureza".
Reportando-se ás tendencias modernas deMedicina no sentido do conceito electronico da vida, Nicolas Capizzanoescreveu hapouco tempo os seguintes conceitos: A medicina sofreu a metamorfose que lhe impuzeram os descobrimentos da Quimica, dasMatematicas e da Fisica; a Medicina semodifica á medida que evoluciona o conceito da materia.
O secuIo XX viu morrer a teoria atomica:os fisicos contemporaneos concebem a materia como um conjunto electronico on como uma manifestação da energia radiante.A Medicina não poderia escapar ao influxo des'sas ideias. A Medicina deste seculotem que ser essencialmente diversa da qnetemos praticado até hoje. Já não satisfaza explicação dos procesos vitais e patologicos como alterações anatomicas ou quimicas. A moderna mentalidade cientificaexige uma interpretação electronicae ene1'getica dos processos biologicos.
Para seguir a Medicina moderna de acordo com as novas ideias da Fisica é n8cessario que cada Medico adquira uma bagagem de conhecimentos que as Escolas Medicas ainda não puzeram em circulação. Oorganismo é um microcosmo dentro do cosmo universal; o equilibrio de forças e eleação entre ambos dá a sande; seu desequi·líbrio a doença; seu rompimento integrale definitivo é a morte.
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Vêde que a física contemporanea e acirurgia moderna acompanham pari pas8'Uo espirito reformador da Medicina clinica,consorciando-se em sinergico anseio de nóvos horizontes, mais claros e mais pos-itivos, na solução da patologia humana.
Esta tem sido a orientação e o criteriode estudo e de ensino do Professor AnnesDias; esta foi a directriz brilhante da lUCadeira de Clinica Médica, sob a direçãodaquele Mestre.
Assim como Leriche apregoava ao centromedico de Gand que o melhor processo decomemorar, hoje em dia um centenario de·corrido na historia da Medicina, é o delevantar os olhos para o futuro e não parao passado, eu vos diria que as produçõescientificas sábias'e numerosas do Professor Annes Dias são um caminho abertoe luminoso para os dominios vastissimosda Medicina coetanea.
Não se vislumbre, todavia, nesta orientação de encarar de preferencia o futuro,como proposito iconoclastico de faz'er tabuaraza da tradição de ensinamentos e de verdades, em grande parte indefectíveis' e pe·renes na sustentação do progresso que secontroe e se eleva sobre o seu fundamentoimlerrocavel. E' meditando sobre as luzesdo presente e sobre as perspectivas do futuro que melhor se compreende o es'piritode genial intuição da Escola hipocrática;á luz das nóvas concepções de tantos problemas de atualidades médicas tem-se a5urpreza de reconhecer que essas verdadese interpretações já haviam sido vislumbradas e descritas pelos genios da primeiraidade da historia da Medicina.
Ainda recentemente, ocerebro maravilhoso de Marafíon anunciava ao mundo, emnóta previa, a sua concepção hormo-sexualda patogenia da gota, demonstrando experimentalmente e pelo argumento terapeutico a eficiencia da opoterapia ovariana nacura das crises agudas de hiperuricemia,que por assim dizer são apanagio quasi exclusivos do homem viril. Pois bem, essasideias, por certo surpreendentes e ineditas,
nada mais são, segundo Marafion, do quea significação experimental dos sabioa aforismas de Hipocrates.
Entretanto, é mister não se deixar arrastar para o outro extremo, quedando-seentorpecido e chumbado nas amarras darotina obstinada.
Mesmo em ciencia, ainda a melhor atitude é aquela que se deve guardar no caminho do dever: cabeça erecta, os olhospara cima e para frente; essa é, por certo,a unica posição compativel com a marchaascencional na vida, seja do espirito oudo corpo.
Parece-nos que um Professor de ClínicaMédica, mais que qualquer outro, tem odever de estar em dia com a evolução e oprogreso da Medicina.
Si ele não adquiriu os elementos de preparação e de cultura cientifica para se integrar na plenitude dessa solicitação, cêdoou tarde terá que renunciar aos misteresdo ensino, por não corres'ponder ao desempenho da sua missão de orientador de mentalidades.
A finalidade de um Professor de ClínicaMédica não se deve cingir á tarefa, porcerto basica, de educação do jovem estudante na arte de examinar o doente e na ciellcia de interpretação do caso morbido. Compete ao titular da Catedra a obrigação formal de plasmar a mentalidade do educandonas directrizes supremas da ciencia atualizada, sempre nóva e plena de aquisiçõesrecentes e complexas.
Meditando sobre os mais recentes trabalhos nos diversos capitulos da Medicina,observa-se que ha uma tendencia ou mesmofranca afirmação no sentido de reformar oespirito até agora dominante na concepçãoda molestia e da propria vida. Urg,e derrocal', por insubsistentes e nocivos, preconceitos e dogmas que já não satisfazem á anali·se e á perquirição dos fatos, examinadossob o prisma da ciencia atual. Fi uma necessidade corrigIr i€ amplii~icar conceitosrestrictos e retrogrados que ainda prevalecem em torno de questões elementares da
Medicina. E' forçoso um movimento salutar e vigoroso de saneamento intelectual,por uma educaçfw científica mais seria emais honesta, capaz de formar personalidades á altura do seculo de civilizaçftO quea humanidade atravessa. E' preciso, entretanto, não escurecer ou negar que paraexig"ir, necessario se faz propiciar os elementos frutíficac1ores, do ~',azonamento (Ü1
bôa semente.
No meu estudo de preparação para o recente concurso ele Clinica Médica, tive sempre, cada dia e a proposito de qualquer assunto, a preocupação angustiosa de aprofundar o conhecimento de cada questão emdebate, e, assim, passei a compreender e ajulgar de acordo com um criterio mais amplo e mais exato a essencia dos fenomenosmorbidos.
A medida que avançava, cada dia, em terreno novo e mais transcendente, eu sentiaa necess-idade de alargar sempre mais oslimites da. investigação, procurando interpretar os sintomas e as molestias sob umponto de vista mais elevado, mais amplo.mais profundo e mais cientifico.
Desta sorte, fui sendo naturalmente conduzido a s,ubstituir noções restritas ou elementares por fenomenos gerais e mais profundos; a não me satisfazer com o esqu8matismo chamadtl didactico com que oscompendios de patologia interna descrevemem capitulos isolados e autonomos, comosi dentro de suaS' paginas se contivessemos limites do assunto, questão da mais absoluta complexidade eextenção.
Assim, abandonei por absurda e erroneaa preocupação de investigar na lesão oualteração funcional de um orgão a causa ouexplicação de um sintoma ou de uma molestia; é inadmissivel que s'e procure di1'ecta ou exclusivamente no rim a razãode ser de uma albuminuria, de um estadoedematoso, de um proceso de hiperazotemia, de uma erise de eelampsia, de um
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quadro de uremia, de um desfecho de coma; quando se sabe que a albuminuriapode ser uma manifestação pura e exclusiva de uma alteração do metabolismo lí
poidico; que o edema, superficial ou profundo, lacunar ou viseeral, circunscrito ou
, generalizado, pode ser um indice de catabolismo proteico ou expressão de uma 811n
pies insuficiencia hepatica, ou ainda üeuma disfunção endocrina; que uma crise deeclampsia é, muitas vêzes, consequencia deestados angioespastieos por hipertonia vascular, que se deve investigar ou surpreender com oesfigmomanometro e não como albuminimetro; que as hiperazotemiasextrarrenais são frequentes e atestam antesuma disfunçào hepaticaü:u, aexistenciade um fóco de proteolise anormal do quemesmo um estado de insuficiencia de con·centração renal; que os quadros uremicos['; os estados comatosos podem decorrer deuma grave claudicação do figado, sem maiorresponsabilidade do rim.
Deve-se substituir o conceito de org·ã.opelo conceito de sistemas de orgãos ou deaparelhos.
O diabete sacarinico não é uma molestiado orgão pancreatico, mas de um imer180 ecomplexo sistema, de que o pancreas' in·
sular constitue uma parte importante; odiabete sacarinico é uma reticulo-enc1ote-
I líose.Assim como as glicosurias, si não se
acompanharem de catabolismo glucidio, nada têm que vêr com o pancreas.
As glomerulonefrites agudas s,ão molostias gerais do sistema capilar com localizaçãoelectiya sobre o parenquima renal.
Por isso mesmo, é um erro pretender-seexigir de uma prova funcional informaçã.oisolada da função de um orgão, quando ofuncionamento normal ou patologico desseorgão depende de causas gerais ou s'e fazem estado sinergico COlll outros muitos.
Assim se compreende que sempre sejamfalhas e discutiveis as claf?sificações, quese ensaiam das doenças de um orgão, comosejam, por exemplo, todos 08 ensaios de
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classificação de nefropatias, de icterícias',de purpuras, de estados anemicos, etc.
Já não satisfaz ao clinico moderno, quecogita de diagnostico precoce, o conceitoanatomopatologico da molestia; esta deveser surpreendida antes que a lesão se tenha processado.
No estadio de maturidade em que se encontra a inteligencia médica, pode-se semperigo admitir que ha casos em que a perturbaçito funcional crea por si só a lesão,e que esta, em certas circunstancias, é apenas um testemunho contingente. A sintomatologia clinica é mais de ordem fis,iologica que anatomica. A lesão é muitas vezeso fruto da molestia e não a causa primeirados sintomas. Inicialmente, as molestiassão molestias de tecidos ou de sistemas enão molestias de orgãos. Antes de exis,tirclinicamente, no sentido habitual da palavra, uma molestia tem uma longa fase silenciosa, que corresponde ás primeiras etapas da molestia do tecido, que precede amolestia do orgão.
Na historia natural das molestias, a faseclínica é apenas a fase terminal.
Rematando esses conceitos da maior atua·lidade na concepção de molestia, Lericheafirma que "isso nos exorta a fazer umexame de conciencia a respeito do dogmamorgagniano" .
Outros conceitos revolucionarios ameaçam derruir as colunas mestras da doutrinaclassica.
Longe a epoca do conceito anatomico damolestia; já passou tambem em desuso o dogma de que as molestias devam tem sempreuma causa estranha, microbiana ou outra. Hoje prevalece o conceito humoral, emtorno de disfunções nas secreções endocrinas. "Só os vicios humorais são capazes dedesregular assim á distancia a harmoniada vida dos, tecidos e dos orgãos."
Simples distonias neurovegetativas, deordem reflexa, sem intervenção de factorinfeccioso ou inflamatorio, e sem o minimosubstrato anatomico, são suficientes pararealizar sintomas ou sindromes funcionais.
São bem conhecidas as sindromes coledocianas por hipertollia do esfíncter deOddi; processos morbidos por estase vesicular, em cOl1sequellcia ele distonias vagosimpaticas, dando as disquinesias angiocolecistopaticas; recentemente, em interessante trabalho, o Professor Escudero descreve o segundo caso, verificado em sua clínica, de uma sindrome de ictericia que elecatalogou de ictericia funCÍonal, por não seenquadrar em nenhuma concepção de afecção organica.
A escola alemã, com Westphal, paz porterra o conceito classico da etiopatogeniadas hemorragias cerebrais; não é necessaria a intervenção de uma ruptura arterial, nem siquer um estado de esclerosedo vaso sanguineo; basta que se instale nosistema capilar um process'o de angioespasmo, para que posteriormente se realize umadiapedese €ritrocitica que culminará nascondições anatomicas determinantes dassindromes clinicas de hemorragia cerebral.
Um simples estado de hipersecreção demuco vesicular, sem causa infecciosa nemlesão organica, pode ocasionar o grandt~
quadro da colica hepatica, típica dos processos de colelitiase.
A fisiologia nos ensina a interrelação sinergetica de orgãose sistemas na consumação dos fenomenos naturais da vida eno desencadeamento dos sintomas morbidos.
" Tal orgão, em sua função motora, sófunciona si lhe é favoravel seu clima hUmoral, o qual, por sua vêz, depende do orgãovizinho".
O complexo mecanismo de interdependencia funcional de orgãos reunidos em sistemas póde ser perturbado pela intercorren·cia de reflexos condicionais, que ocasionamá distancia disturbios ou desregramentos.
"Porque haveremos de não reconhecerno campo da patologia este plano geral deorganização da vida?"
Este conceito de interrelação organicaautoriza a suspeitar que numerosas moles-
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tias têm suas origens de secreção de glalltIulas, anatomicamente normais.
Como comprovações experimentais e cli·llicas dessa nova concepção da molestia,Leriche refere as taquicardias com palpitações, extrasistoles e até mesmo estado defibrilação, com ou sem crises anginüsas,que apenas traduzem estados frustosouatenuados de hipertireoidismo; as perturbações vasomotoras de origem simpaticareflexas de uma emoção, de uma sensaçãode frio; a hipertensão solitaria cedendo asuprarenalectomia de uma glandula histologicamente normal; os estados de caleipenia grave ocasionando hipertrofia adenomatosa das paratireoides; um simples graude hipersecreção da prehipofise creando asindr.ome do adenomacortico-suprarrenal,com formação de adenoma desta glandula;Cusching injetando diariamente extrato dolobo anterior da hipofise em um cão creouum enorme especimen acromegalico; é provavel que os adenomas e tumores benignosprovenham de desequilibrios humorais, ainda desconhecidos; a simples excitação dociatico determinando crises de epileps'ia; aulcera gastrica não é uma molestia do estomago, pois pode ser a um tempo gastricae duodenal, primitivamente ela não é umal110lestia de orgão, mas de uma região compropriedades especiais e, provavelmente, deum tecido ou de glandulas de muco; a cirurgia do tecido conjuntivo permite hojea cura de atrofias cutaneas, de esclerodernlias."
Em memoravel dis'Curso sobre as orientações da Medicina, Widal já havia dito quea celula não é mais para nós essa unidadeatraz da qual deveria se deter para Virchowa analise dos atos patologicos. Ela temcomo um organismo verdadeiro funções deprodigiosa complexidade, que a fisiologianos revela e que a histologia mais fina éincapaz de desvendar. A anatomia patologica resolve um problema de topografia e
de estatica, mas permanece muda em face do problema dillamico (Wida!).
Em 1930, Mariano Castex proclamava ni'toser mais possivel suS'tentar a especificidadee a fixidez das bacterias, achando-se francamente periclitante o conceito dogmaticoda especificidade microbiana.
Aliás, só em aparencia a doutrina microbiana conseguiu derrocar 20 seculos da concepção de Hipocrates sobre o humorismoe constituição epidemica.
A par dos estados de avitamilloses, surge hoje o conceito moderno das hipervitaminoses: a injeção em doses excess'ivas deVogan (vitamina A) produz deformaçõestoracicas, rarefação e fragilidade ossea, descalcificação e hipercolesterinemia, sindrome similar ás osteites fibrosas secundariasao adenoma das paratireoides.
MararlOll afirma ser provavel que a cortical suprarrenal tenha sobre o metabolismodo sodio e do potassio uma ação reguladorasemelhante á da tireoide sobre o metabolismo do iodo e á das' paratireoides sobreo metabolismo do calcio; de acordo comesse conceito Marafíon conclue que nos estados de insuficiencia suprarrenal se justifica o tratamento pelo sal, pois o sodioé um poderoso fixador da opoterapia cortical. O desequilíbrio natrio-potassico é umfator de deshidratação na sindrome deAddison que terminará em acidose; graçasá injeção de sodio se restabelece o equilibrio e se suprime a acidose.
Tende-se hoje a modificar o conceito deinsuficiencia hepatica; nem todas as per·turbações desa glandula ou aquelas de ordem metabolica que dela dependem significam estados cle insuficiencia, mas pelocontrario podem atestar situação antitetica,ou seja de hiperhepatia.
Impõe-se cada vêz na gellese de certasmolestias o conceito de disfunção, que nemé insuficiencia nem hiperfunção, mas tãosómente desvio ou perversão funcional.
Como uma reação libertadora do primitivo conceito da fisiologia classica, que assentava sobre uma orientação anatomica ou
organiea, defende-se, hoje a autonomia doscomplexos endocl'inos com fundamento napluralidade de hormonios isorganicos. Estanotavel concepção da moderna fisiopatologia vem fazer luz sobre o complexo mecanismo de regulação das constantes fisiológicas, tais como glicemia, azotemia, cloretemia, equilíbrio tencional, equilibrio acido-basico, etc. que outrora se levavam á
conta da intervenção dos chamados limiares organicos, que hoje não resistem aoconceito de sistemas ou complexos funcionais.
Em notavel lição inaugural da Cadeirade Metabologia, na Universidade do Rio deJaneiro, o Professor Annes Dias traçou monumental panorama do conceito metabolicona patologiaclinica. Atravessamos' nestemomento - declara Allnes Dias o periodo fisiologico da 1'1)1edicina e uma coisaimporta, sobretudo, 6 a analise funcional elodoente; essa verdade avulta nos dominiosdo metabolismo; novas' perspectivas se descortinam, todos os dias, atravez das revela(;ões surpreendentes da físico-quimIca ,e dabioenergetica, dando impressão de que a lVledicina entrou numa fase altamente cientifica. E' mister que o capitulo da patologiametabolica se alce á altura dos progressos dabioquimica e da energetica humanaBJe quetenham um fundamento humoral. A metabologia abrange o estudo do sistema vegetativo, do aparelho reticulo-endotelial e todasas questões da fisico-quimica do organismo.O diabete é uma molestia metabolica, emque pancreas, diencefalo, figado, suprarrenal, e talvez baço e sistema retículo-eudotelial se acham em jogo. Os hormonics têmnotavel influencia metab,)1íea. O mixedemaé um disturbio metabolico; é o tipo clinico:mais acabado da nutríçào retardada. A prehipofíse segrega hormonio regulador dometabolismo dos lípides e dos' glucides.Mais adiante, Annes Dias se refere ás vagas sensações primarias, expressivas rIo desequilíbrio funcional; aos reflexos visceraise ás correlações hormonicas como base docapitulo da patologia inter-organica, em que
se destacam as 8i11d1'o111es hepato-panc1'ea·ticas, entero-renais, gastro-colícas, d.uodeno-renais, espleno-hepaticas, hepato-lentlculares, hipofíso-genítais, gastro-cardiacas, etc.Cita como disturbios metabolícos as 11ipoglícemias, a colinemia e provavelmente asavitaminoses e hipervitaminoses.
No capitulo das reticuloendotelíoses An·nes Dias inclut; a nefrose lípoidica, as doen(;as de Gaucher. de Niemann-Pick, deChristian-Schüller e a amiloidose.
Na contribuição brasileira ao estudo dasreticuloendotelioses sobreleva-se a notave1conferencia do jovem e brilhante cientistaHelion Povoa sobre a Linfogranulomatosemalígna ou morbus Hodgkin-Paltauf-Sternberg, que ousamos recomendar aos estudiosos como uma soberba sintese de atualização desse dificil capitulo da Clínica Médica.
Annes Dias avança mais esse notave1conceito de que a electrollica celular é hojecapitulo que avulta na fisiologia organica;a fisico-química está destinada a exercermarcada influencia no avanço da Medicina.Neste momento em que porfiadamente sebusca o diagnostico precoce das doenças, édessa analise dos processos metabolicos quepódem resultar novas e decisivas aquisições. Estuda ainda ü grande Mestre a in~
tervenção da metabologia não só nas molestias cronicas da nutrição mas ainda nasmolestías infecciosas e parasitarias: febretifoide, malaria, pneumonia, deduzindo con·clusões importantes para o diagnostico epara a terapeutica. Encerra sua magistralconferencia com estas palavras: "Mil hipoteses de trabalho encontrareis ao percorrerdes o terreno da metabologia".
A portentosa contribuição científica deAllnes Dias não seria completa si ele nãohouvesse, como fez, penetrado no misteriosomundo das forças cosmicas para de lá extrair interessantissimo capitulo de patologia, com fundamento no conceito elec!ronico da materia. E'm 1933, proferia AnnesDias curiosa conferencia sobre os ritmos nanatureza e no organismo, em que afirma
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que ondas electricas penetrantes sulcam emtodos os sentidos a terra, produzindo constante vibração na grandiosidade do universo; que a carencia da luz solar, que é oestimulante maximo da vida, produz as doenças da sombra; que a lei do ritmo domina o universo; que as doenças da som·bra, por carencia de luz, realizam o ritmodiario, correspondente á rotação da terra, eo ritmo anual, em que se evidencia a influencia das quatro estações ; rememora asquestões palpitantes da meteriologia clinica, alude á patologia da madrugada, descreve o ritmo nictemeral da electricidadeatmosferica, chama atenção para o caracterritmico das grandes' funções organicas, sobretudo de ordem endocrina, destaca a influencia das esbções em patologia, relataa influencia dos fatores mesologicos sobreo biotropismo, compara o vento norte doRio Grande ao siroco da Italia e ao ventodo Mydi na França; abre um interessantecapítulo para as relações cõsmo-organicas',em que estuda a curva de temperatura.
No recente livro de Du Bois sobre Fisiologia e Fisio-patologia do Sistema RetículoEndotelial, ha um capitulo sobre as provasfundonais baseadas na propriedade de fixação vital em que Saxl, Donath, AdIeI' e Reimann investigam a fisiopatologia do sistema reticulo-elldotelial; destaca-se desse importante compendio de Du Bois o interessante capitulo sobre o sistema retículo-endotelial no metabolismo dos pigmentos fisiologicos, em que a escola japonesa comSakaldbara apresenta a mais notavel contribuição cientifica, de caracter experimental, sobre o controvertido problema do metabolismo da bilirrubina, comprovando de
maneira irretorquivel, á luz da experhnentação, que a degradação catabolica da hemoglobina se processa fundamentalmenteno territorio do sistema reticulo-endoteliaL
No decurso de outros capitulos é estudado o papel decisivo do sistema reticulo-endotelial no metabolismo dos lipides, dos Mdrocarbonados, no metabolismo da agua edas albuminas.
Oonstituem assuntos de palpitante atualidade as relações' do sistema reticulo-endote·lial com os problemas da imunidade e alergia.
Longe seria ainda conduzido neste simples ensaio de traçar as fronteiras amplíssimas dos novos dominios da Olínica Médica, si, com censuravel menoscabo da tolerancia por certo ultrapassada da vossacomplacencia, pretendesse eu invadir outros departamentos e outras diretriZies,tambem de momentosa atualidade.
Tive tão s'ómente a superior cogitaçã,ode apresentar-vos, em linhas gerais e malconcertadas, um aspecto da monumentalcontribuição de estudo e de trabalhos cientificos que assinalou a passagem grandiosado Professor Annes Dias pela lU Oatedrade Olinica Médica.
Ao ser eu investido em sua posse, tomopor compromisso, perante a minha conciencia e sob o vosso testemunho, que tudo farei por ser digno da tradição deixada porAllnes Dias no ensino de Olinica Médicada lU Oadeira.