9 mm 15,5 cm x 23,5 cm 8 cm V ERA RAMOS COMO LIDARzação cruciais para o desenvolvimento saudável...
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guia para professores,
VERA RAMOS
educadores e pais
VERA RAMOSPossui o grau de Mestre emPsicologia Clínica e da Saúde,é Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Especialista em Psicologia Clínicae da Saúde e Especialista emPsicologia da Educação reconhecida pelo Colégio de Especialidadesda OPP, e Formadora Certificada,com diversos cursos de formaçãona área de Psicologia.Autora de vários artigos publicados em revistas de Psicologia, dedica-se sobretudo ao acompanhamentopsicológico de criançase adolescentes, mas também de adultos e idosos.
VERA RAMOS
w w w. p a c t o r. p t
www.
pact
or.ptISBN 978‐989‐693‐104‐9
9 789896 931049
UM GUIA REPLETO DE DICAS E ESTRATÉGIAS PARA PROFESSORES E PAIS UM GUIA REPLETO DE DICAS E ESTRATÉGIAS PARA PROFESSORES E PAIS Birras
Práticas e estilos parentais Indisciplina em contexto escolar
Educação inclusiva Regras: o que fazer e o que não fazer
Técnicas para modelar comportamentosParentalidade positiva
COMO LIDARCOM OS PROBLEMAS
DE COMPORTAMENTODAS CRIANCAS,
Vivemos hoje numa sociedade demasiado preocupada e ocupadacom as responsabilidades que nos exige, com stress e sem tempo para relaxar e,
muitas vezes, sem paciência para as crianças. Ser professor(a), educador(a), mãe ou pai, é uma tarefa de muita responsabilidade e,às vezes, bem difícil de gerir. Importa lembrar que a função dos pais não é só educar, mas também dar um bom exemplo. O afeto e a imposição de limites são ingredientes
imprescindíveis na educação das crianças. Lidar com a indisciplina é sempre um desafio para quem convive de perto
com crianças e adolescentes que, por vezes, adotam comportamentosdiferentes apenas com o intuito de chamar a atenção, de dizer
o que lhes é importante e o que está em causa. Esta obra, orientada para um público diversificado – professores, educadores e pais,
como também psicólogos - aborda o desenvolvimento comportamentalda criança, facilitando a compreensão do comportamento humano que tem influências
internas, de personalidade e temperamento, assim como influências externas, comoo grupo de pares e os contextos escolares e familiares, enquanto agentes de sociali-zação cruciais para o desenvolvimento saudável das crianças e dos adolescentes.
Trata-se de um livro fundamental, baseado na experiência da sua autora como psicóloga, com dicas e estratégias práticas para reduzir comportamentos
indisciplinados, contribuindo assim para o desenvolvimento de competências sociais mais assertivas das crianças, enquanto alunos, filhos e cidadãos.
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Copyright © 2020, PACTOR – Edições de Ciências Sociais, Forenses e da Educação ® Marca registada da FCA – Editora de Informática, Lda.ISBN edição impressa: 978-989-693-104-91.ª edição impressa: junho de 2020
Paginação: Carlos MendesImpressão e acabamento: Tipografia Lousanense, Lda. – LousãDepósito Legal n.ºCapa: José Manuel ReisIlustração: Concebida pela Autora do livro, Vera Ramos.
Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.pactor.pt) para fazer o download de eventuais correções.
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Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada.
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Índice
A Autora ......................................................................................................... IX
Introdução ..................................................................................................... XI
1 A Psicologia e o Comportamento Humano ........................................ 1
Introdução ................................................................................................. 1
O ambiente e a sua influência no comportamento ................................... 3
Psicólogo vs. psiquiatra ............................................................................ 4
2 O Desenvolvimento da Criança ............................................................ 7
O desenvolvimento infantil ........................................................................ 7
Estádios do raciocínio moral de Kohlberg .......................................... 8
Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erickson .................... 11
Estágios do desenvolvimento cognitivo de Piaget.............................. 14
Fases do desenvolvimento de Gallahue ............................................. 16
A importância de brincar ..................................................................... 17
Adolescência ....................................................................................... 20
Fase inicial da adolescência (dos 10 aos 14 anos)....................... 21
Fase final da adolescência (dos 15 aos 19 anos) ......................... 22
A adolescência e o consumo de substâncias psicoativas ................. 25
3 A Socialização da Criança e a Importância dos Agentes de
Socialização ............................................................................................ 29
A socialização ............................................................................................ 29
Os agentes de socialização ...................................................................... 31
Família .................................................................................................. 31
Os grupos sociais ................................................................................ 32
A escola ............................................................................................... 33
O grupo de pares ................................................................................ 33
As dimensões comportamentais dos agentes educativos ....................... 34
IV
COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS
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Como deverão atuar os professores ........................................................ 35
4 As Perturbações do Comportamento .................................................. 39
Comportamentos disruptivos .................................................................... 39
Comportamento normal vs. comportamento patológico.......................... 40
De que forma a família influencia o nosso comportamento? ................... 41
Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) ............. 42
Características e subtipos ................................................................... 43
Estratégias para professores ............................................................... 47
Estratégias para pais ........................................................................... 50
Exemplo de caso ................................................................................. 51
Tratamento psicológico........................................................................ 51
Perturbação de Oposição ......................................................................... 53
Características ..................................................................................... 54
Estratégias para os pais ...................................................................... 55
Exemplo de caso ................................................................................. 57
Tratamento psicológico........................................................................ 58
Perturbação de Conduta ........................................................................... 59
Características ..................................................................................... 60
Exemplo de caso ................................................................................. 62
Tratamento psicológico........................................................................ 62
A educação inclusiva ........................................................................... 63
5 As Birras................................................................................................... 65
O que são as birras ................................................................................... 65
Então, o que desencadeia a birra? ........................................................... 66
Como proceder perante a birra? ............................................................... 66
Dicas para ajudar os pais e as crianças ................................................... 69
Caso de birra em contexto real ................................................................. 70
6 Os Estilos Parentais ............................................................................... 73
As práticas educativas dos pais ............................................................... 73
Características da comunicação agressiva .............................................. 74
Características da comunicação assertiva ............................................... 75
Características da comunicação passiva ................................................. 75
Características da comunicação manipulativa ......................................... 76
Tipos de estilos parentais .......................................................................... 77
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Estilo autoritário ................................................................................... 77
Estilo permissivo .................................................................................. 79
Subestilo indulgente ....................................................................... 80
Subestilo negligente ....................................................................... 80
Estilo participativo ................................................................................ 81
Comunicação assertiva: a atitude mais correta! ...................................... 82
7 A Indisciplina no Contexto Escolar ..................................................... 85
A indisciplina na sala de aula .................................................................... 85
A origem dos comportamentos de indisciplina na sala de aula .............. 87
O papel do professor ................................................................................ 88
O papel da família ..................................................................................... 90
As estratégias dos encarregados de educação ....................................... 91
As estratégias da escola ........................................................................... 92
8 A Importância das Regras e as Técnicas Comportamentais .......... 95
Os limites da educação............................................................................. 95
O que os pais não deverão fazer: atitudes que reforçam os problemas de comportamento .................................................................................... 96
O que os pais deverão fazer: atitudes que reduzem os problemas de comportamento ......................................................................................... 98
Estratégias e técnicas comportamentais .................................................. 102
Treino das competências sociais e resolução dos problemas/conflitos ............................................................................. 102
Treino da assertividade ........................................................................ 103
Treino do autocontrolo/autorregulação ............................................... 104
Relaxamento ........................................................................................ 104
Punição ................................................................................................ 105
Reforço ................................................................................................. 106
Modelação (imitação) .......................................................................... 106
Contratos comportamentais ................................................................ 107
Sistema de créditos ............................................................................. 107
9 Parentalidade Positiva ........................................................................... 109
A construção de relações positivas .......................................................... 109
Formação aos pais: a educação positiva ................................................. 110
Dicas para os pais ..................................................................................... 112
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Sinais não verbais de aprovação ........................................................ 112
Sinais verbais de aprovação................................................................ 112
Considerações Finais .................................................................................. 115
Bibliografia .................................................................................................... 117
Índice Remissivo .......................................................................................... 121
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A Autora
Desde tenra idade sempre gostou de ajudar os outros. Uma eterna apaixo-nada pelo comportamento humano e pelas emoções, tem uma vasta experiên-cia profissional no mundo da Psicologia.
Possui o grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde, é Membro Efe-tivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Especialista em Psicologia da Educação, reconhecida pelo Colégio de Especialidades da OPP. Também é formadora certificada, com vários cursos de formação na área da Psicologia, e autora de diversos artigos publica-dos em revistas de Psicologia em formato digital e físico. Por diversas vezes, é convidada por jornais para dar o seu parecer relativamente a algumas temáticas relacionadas com situações específicas da atualidade.
Ao longo da sua experiência profissional, tem-se dedicado ao acompanha-mento psicológico de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Defende que a autonomia e independência da criança só serão atingidas se houver disciplina, autoridade e afeto no ambiente familiar para que, mais tarde, a criança se torne num adolescente e, posteriormente, num adulto mais responsável, organizado e bem-sucedido.
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Introdução
A perturbação do comportamento é caracterizada pela ocorrência de um
padrão de comportamento persistente e repetitivo, no qual são violados direitos
básicos de terceiros ou importantes regras e normas sociais próprias para a
idade do sujeito (APA, 2002).
Os problemas de comportamento constituem um dilema que se tem vindo
a desenvolver e a preocupar cada vez mais a sociedade atual. São muitas as
vezes em que os pais se questionam a si mesmos onde falharam na educação
dos seus filhos.
Quando educamos uma criança, geralmente, fazemo-lo através do modelo
adotado pelos nossos pais, isto é, recorremos aos valores transmitidos pelos
nossos pais, ao longo da nossa educação, e também aos valores morais e
sociais que a sociedade nos foi transmitindo, ao longo do nosso crescimento.
A maioria dos pais procura controlar o comportamento dos filhos através de
castigos e recompensas, embora os pais mais pessimistas desconsiderem que
esses fatores possam facilitar a modificação dos comportamentos inadequa-
dos.
Assistimos, muitas vezes, aos professores a reclamarem sobre os seus pro-
blemas em gerir o comportamento dos alunos em contexto da sala de aula e
sobre os obstáculos às crianças para terem limites e respeitarem as ordens,
o que acarreta inúmeros prejuízos no processo de aprendizagem. Por outro
lado, verificamos diariamente, nos meios de comunicação social, relatos sobre
atos de delinquência juvenil, que são associados de imediato à ausência de
limites ao comportamento de crianças e adolescentes, que deveriam ser esta-
belecidos desde cedo pelos agentes de socialização.
Os estilos educativos adotados pelos pais interferem diretamente no com-
portamento das crianças, sendo a disciplina e a autoridade dois aspetos que
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devem estar sempre presentes no processo educativo, embora muitos pais tenham dificuldade em dizer “NÃO”, o que dá ênfase ao estilo parental per-missivo. Os pais não precisam de recorrer a agressões físicas para educar a criança, pois essa atitude só irá reforçar ainda mais os problemas de comporta-mento. Impor limites com atitudes positivas, seguras, consistentes e, ao mesmo tempo, transmitir afeto e empatia, facilitará o processo de aprendizagem de regras e normas sociais à criança, de uma forma mais positiva e saudável. Os limites ajudam as crianças no controlo dos seus impulsos e é importante que as crianças compreendam que são importantes nas nossas vidas e que, se lhes dedicamos tempo para o afeto e lhes damos atenção, também necessitamos de estabelecer regras. A isso chamamos amor.
Esta obra tem como objetivo orientar os professores, educadores, pais e psicólogos no processo educativo das crianças, permitindo-lhes distinguir o comportamento normal do patológico, conhecer as características de cada perturbação do comportamento, identificando as suas sintomatologias e im-plementar as estratégias de intervenção mais adequadas às necessidades de cada criança, para que estas cresçam num ambiente harmonioso, equilibrado e, ao mesmo tempo, com os limites presentes na sua vida. Só assim serão crianças saudáveis e felizes!
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A Psicologia e o Comportamento Humano
Introdução
A psicologia é a ciência responsável por estudar e analisar o comportamento
humano e os processos mentais, tendo como objetivo desenvolver estratégias e
técnicas que propiciem o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, possi-
bilitando que ele se possa autoconhecer e interagir com o ambiente ou com os
demais membros da sociedade de uma forma saudável.
Falando agora um pouco do nosso cérebro, este está dividido em duas par-
tes, através de uma fissura longitudinal no que designamos por hemisférios: o
hemisfério esquerdo e o hemisfério direito. O hemisfério esquerdo diz-se domi-
nante, visto ser o responsável pelo pensamento lógico e pelas competências
de comunicação. Possui então duas áreas importantes: a área da motricidade
da fala (área de Broca) e a área responsável pela compreensão verbal (área
de Wernicke). Este hemisfério está relacionado com a organização, trata uma
coisa de cada vez, lida com tudo o que é racional, com a noção de tempo, fo-
cando-se no pormenor e na persistência. O hemisfério direito é o que lida com
a confusão e a desordem, é o lado mais flexível e consegue mudar facilmente
de plano quando procura resolver determinado problema. Está relacionado com
tudo aquilo que é não verbal, é o lado imaginativo, lida com imagens e símbolos
e é o responsável por se ser sentimental, filosófico, religioso, por se pensar no
hoje, no aqui e no agora.
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Os dois hemisférios cooperam um com o outro e, se um dos hemisférios não funcionar, o outro tem muita dificuldade em apoiar-se.
É importante que os pais tenham a noção de como funcionam os hemis-férios cerebrais, por exemplo, as mães que são muito organizadas, significa que estão a utilizar o lado esquerdo do cérebro. Mas é essencial que haja um equilíbrio! Necessitamos de colocar em prática os dois lados do cérebro, logo, será pertinente que se consiga ajudar as crianças a usar cada um dos hemis-férios, para que tenham uma maior facilidade de adaptação a novas situações ou mudanças de vida.
O comportamento está sempre presente no nosso quotidiano e quando nos comportamos, alteramos os objetos e influenciamos as pessoas, assim como também somos influenciados pelos comportamentos dos outros. Considera-mos o comportamento como todas as nossas ações, atitudes, verbalizações, emoções, sentimentos, pensamentos e crenças, isto é, todas as atividades que executamos através da interação com o meio. Grande parte das investigações em psicologia são realizadas através do método da observação, sendo a ob-servação sistemática, delimitada pelas condições do que se pretende observar, a mais utilizada. Em alguns casos, a observação é ocasional, isto é, não segue um plano preestabelecido. Existem comportamentos observáveis e não obser-váveis publicamente. Os comportamentos observáveis são aqueles que podem ser diretamente visualizados pelas pessoas que estão ao redor de quem pratica determinada ação ou comportamento, por exemplo, saltar, chorar, correr, são comportamentos facilmente observáveis pelos outros.
Relativamente aos comportamentos não observáveis, estes apenas são diretamente percebidos pela própria pessoa que está a realizar a ação e os outros só saberão da ação se a pessoa falar sobre o que está a fazer ou se, efetivamente, a pessoa demonstrar sinais visíveis do seu comportamento. Por exemplo, se a pessoa estiver ansiosa ou preocupada com alguma situação, as outras pessoas só saberão disso se o sujeito conversar sobre o assunto. Muitas vezes, estamos magoados, desiludidos e tristes e não o demonstramos, embora possamos ir dando dicas acerca do nosso sentimento.
Considerando que os sentimentos são comportamentos não observáveis, será importante que os pais estejam constantemente atentos aos comporta-mentos dos seus filhos, pois as emoções nem sempre são expressadas da mesma forma. E como é que pode fazer isso? É importante estar atento aos
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O Desenvolvimento da Criança
O desenvolvimento infantil
O processo de desenvolvimento infantil passa pelas mudanças do corpo, do
pensamento e do próprio comportamento. Ao longo desta mudança, podemos
observar várias condutas disruptivas, entre elas, a mentira. A mentira é uma
atitude que é adquirida através da aprendizagem social e, por vezes, utiliza-se
a mentira de forma a proteger alguém e não no sentido prejudicial, no entanto,
não é uma atitude vista de forma positiva, causando preocupação aos pais das
crianças. Aqui, o mais relevante é o ambiente familiar que deve ser harmonioso,
transmitindo segurança e afeto, incentivando assim a criança a dizer a verdade,
sem provocações nem ameaças. Assim, a relação entre pais e filhos será mais
saudável e a criança não tenderá a voltar a mentir. As divergências culturais
transmitem regras e normas sociais importantes para o desenvolvimento da
criança e a forma como são conduzidas representa outro fator que intervém no
comportamento da criança.
A escola é um elemento muito importante para o desenvolvimento da criança,
uma vez que é um lugar propício ao seu desenvolvimento moral, paralelamente
ao desenvolvimento cognitivo, emocional, motor e social. A escola possibilita a
interação com diferentes valores e perspetivas e a educação pré-escolar consti-
tui um contexto favorável para que a criança vá aprendendo a tomar consciência
de si e do outro (Orientações Curriculares, 1997).
O desenvolvimento moral é um processo de construção que ocorre no inte-
rior do indivíduo e também através da interiorização de valores e regras sociais
exteriores ao indivíduo.
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A autonomia e a heteronomia da criança expressam a passagem de uma
moral apoiada no respeito unilateral das normas impostas pelos adultos a uma
moral de autonomia e cooperação. Esta distinção por fases pretende esclarecer
que é possível encontrar elementos da autonomia moral numa criança predomi-
nantemente heterónoma e vice-versa. Esta moralidade, sendo vista como uma
fase onde predomina o dever exterior e a obediência aos adultos, de modo a
evitar o castigo, acontece durante os 8 aos 9 anos e caracteriza-se pelo cons-
trangimento, pela obediência e pelo respeito unilateral da criança para com o
adulto, sendo também marcada pelo egocentrismo, uma diferenciação entre o
“eu” e o meio social (Piaget, 1973).
A essência da moralidade reside mais no sentido de justiça do que, propria-
mente, no respeito pelas normas sociais. A moralidade tem mais a ver com con-
siderações de igualdade, de equidade, de contrato social e de reciprocidade
nas relações humanas e menos com o cumprimento ou violação de normas
sociais ou regras.
Estádios do raciocínio moral de Kohlberg
Kohlberg defende que o desenvolvimento moral pode ser subdividido por
estádios, sendo que, na sua conceção, estes estádios estão organizados em
três níveis (Tabela 2.1), nomeadamente, nível pré-convencional, nível convencio-
nal e nível pós-convencional (Kohlberg, 1984).
O nível pré-convencional é considerado o nível mais inferior da morali-
dade, em que o valor moral se estabelece acerca das consequências dos atos.
Num estádio de desenvolvimento moral, orienta-se pela relação de obediência/
/castigo, no outro estádio predomina uma orientação egoísta que inclui a reci-
procidade. No nível convencional, o valor moral corresponde ao cumprimento
de ações e papéis sociais considerados corretos, no sentido de corresponder
às expectativas dos outros. O primeiro estádio é caracterizado pela aprovação e
por ajudar a agradar aos outros e, no segundo estádio, prevalece o dever de si
próprio e as expectativas dos outros. O nível pós-convencional corresponde
aos direitos e deveres compartidos, cujos estádios são: dever de contrato e
ação moral.
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A Socialização da Criança e a Importância dos Agentes de Socialização
A socialização
A socialização é um processo de aprendizagem e crescimento em que a criança, ainda indefesa, vai interiorizando normas e valores sociais com o intuito de se integrar na sociedade. A socialização é a forma como os pais e outros cuidadores (e.g.: professores, avós, etc.) transmitem à criança valores como a aceitação dos outros, o respeito, a cultura, o incentivo à verdade, a amizade, a igualdade, a humildade, etc.
Ao longo deste processo, a criança vai estabelecendo relações sociais, tor-nando-se num ser cultural. Através da interação com os outros indivíduos do grupo a que pertence, o ser humano é capaz de adaptar o seu comportamento às regras e aos valores implícitos no respetivo contexto social. Assim, à medida que a criança se vai envolvendo na sociedade, vai desenvolvendo hábitos e competências que irão torná-la responsável, sendo capaz de se autorregular1 e, ao mesmo tempo, permitir a descoberta de si própria. O ser humano trans-forma-se num ser social após um longo e gradual processo, articulado com o próprio desenvolvimento biológico e intelectual. Os juízos e os comportamentos
1 Capacidade de controlar o seu próprio comportamento, de acordo com as exigências diárias.
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que têm lugar no seio da família não devem criar diferenças significativas, nem
demarcar-se excessivamente, em relação aos parâmetros sociais vigentes. Por
isso, é possível afirmar que o comportamento do ser humano tem pouco de
instintivo, uma vez que resulta de um processo de aprendizagem. Este processo
resulta da interação, da modelagem (aprendizagem por observação e imitação)
e da comunicação com os outros na sociedade, transmitido de geração para
geração.
No processo de modelagem, a criança observa e imita aquilo que vê, ade-
quando o seu comportamento à transigência do adulto, no entanto, quando a
criança imita, por exemplo, um personagem dos desenhos animados agressivo,
em que o personagem agride o pai, por exemplo, os pais não deverão permitir
esse comportamento, devendo antes ajudar a criança a perceber a gravidade
dos seus próprios atos e a considerar os sentimentos dos outros, evitando que
volte a magoá-los.
Berns tentou identificar as finalidades do processo de socialização, de forma
mais específica, através de cinco níveis (Berns, 1997):
1 Autoconceito – Vai-se desenvolvendo, à medida que as atitudes e ex-
pectativas das pessoas que interagem com a criança vão sendo incor-
poradas na sua personalidade, permitindo que ela controle o seu próprio
comportamento, de forma adequada.
2 Autodisciplina – Capacidade que a criança tem para controlar as suas
emoções e o seu comportamento.
3 Ambição ou motivação – Ao longo da socialização, vão sendo defini-
das metas que a criança deve procurar atingir para se tornar adulta, pois
a socialização é um processo que decorre da infância à idade adulta.
4 Papéis sociais – Cada indivíduo desempenha um papel na sociedade,
podendo desempenhar simultaneamente diferentes papéis sociais, em
diferentes situações, por exemplo, ser mãe, irmã, colega de trabalho,
amiga, presidente da associação de pais, etc.
5 Competências desenvolvimentais – A socialização tem também por fi-
nalidade desenvolver as competências sociais, emocionais, e cognitivas
da criança para que ela consiga viver com sucesso em sociedade.
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As Perturbações do Comportamento
Comportamentos disruptivos
Os comportamentos disruptivos que os sujeitos com perturbação do com-
portamento apresentam integram-se em quatro grupos principais, designa-
damente, o comportamento agressivo, que ameaça ou causa sofrimento a
pessoas ou a animais; o comportamento não agressivo, que causa prejuízo ou
destruição de propriedade; a falsificação ou o roubo; e a violação grave das nor-
mas. Estes comportamentos disruptivos poderão conduzir à suspensão ou, até
mesmo, à expulsão das crianças e dos adolescentes da escola, a problemas
de adaptação ao trabalho, a conflitos legais, e, no campo pessoal, a contrair
doenças sexualmente transmissíveis, à gravidez não desejada e a danos físicos
por acidentes ou lutas (APA, 2002). Esta perturbação está associada a com-
portamentos de risco, como, por exemplo, o início precoce da atividade sexual,
o consumo de álcool, de tabaco e de substâncias ilícitas. Os fatores como a
negligência parental, o abandono, as práticas educativas demasiadamente rígi-
das, a violência sexual ou física, o historial tabágico materno durante a gravidez,
a associação a grupos de pares delinquentes, a vivência em bairros violentos
ou em instituições acolhedoras e o temperamento difícil da criança, poderão
predispor a criança ao desenvolvimento da perturbação do comportamento,
tornando-se delinquente, uma vez que foi crescendo num ambiente desestru-
turado.
A agressividade é um facto com o qual nos deparamos diariamente, na rua,
na escola, nos transportes públicos, no trabalho, na comunicação social e, até
mesmo, nos jogos de computador, que traduzem muitas vezes essa realidade,
contendo armas e incentivando à violência física. Geralmente, os sentimentos
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agressivos que as crianças apresentam, entre os 2 e os 3 anos, são uma cha-mada de atenção para o que estão a sentir, pelo simples facto de que, nessa idade, as crianças têm dificuldade em expressar verbalmente os seus sentimen-tos e as suas emoções, pois não sabem expressar por palavras o que desejam. Aconselha-se que os adultos estejam atentos a estes sinais, quer no contexto escolar quer no contexto familiar, para que aprendam a lidar com esta situação, tentando sempre encaminhar a agressividade da(s) criança(s) para algo mais construtivo.
Comportamento normal vs. comportamento patológico
Então, o que distingue um comportamento normativo de um comportamento patológico?
Durante o desenvolvimento das crianças e adolescentes, podem ser ob-servados vários comportamentos disruptivos, como mentir ou faltar às aulas. Contudo, para diferenciar um comportamento normativo de um comportamento patológico, importa verificar se esse comportamento ocorre esporadicamente e de modo isolado ou se constitui um padrão, representando um desvio à norma de comportamentos esperados para indivíduos da mesma idade e género numa determinada cultura.
Na perturbação do comportamento está presente a propensão, de uma criança ou de um adolescente, para exibir comportamentos perturbadores e in-comodativos, podendo mesmo haver o seu envolvimento em atividades ilegais e em gangues, na prática de atos imprudentes e arriscados, em criminalidade e, até mesmo, em tentativas de suicídio. Quando têm este tipo de comportamen-tos, as crianças e os adolescentes não aparentam sofrimento psicológico ou constrangimento pelos seus atos e não estão minimamente preocupados por poderem magoar os sentimentos das pessoas ou por as desrespeitarem, uma vez que são seres que possuem pouca empatia, um desinteresse pelos senti-mentos e pelo conforto dos outros. As crianças e os adolescentes com estes comportamentos disruptivos, tendem a ter características como a insensibili-dade, uma baixa autoestima, a agressividade, um comportamento insultuoso,
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As Birras
O que são as birras
Vamos agora passar ao tema das birras. Afinal, o que são as birras? É ine-
vitável que as crianças tentem, algumas vezes, ultrapassar os limites que lhes
foram previamente estabelecidos. No entanto, muitas crianças, ao serem con-
frontadas com exigências, regras e limites, reagem com o que designamos por
birras, mostrando agressividade ou choro. As birras fazem parte do crescimento
da criança e de uma tentativa de construir a sua identidade pessoal. São rea-
ções ríspidas e inoportunas que as crianças costumam exteriorizar depois de
uma contrariedade e frustração. Estas manifestações apresentam-se de forma
diferente, conforme a idade: uma criança pequena pode chorar, atirar-se ao
chão, gritar, berrar, etc., enquanto uma criança mais velha pode atirar coisas
para o chão, bater com a porta, empurrar, etc. As birras são um fenómeno natu-
ral num determinado estádio evolutivo da criança (com cerca de 2/3 anos) e vão
desaparecendo, à medida que a criança cresce (por volta dos 5/6 anos), a não
ser que a criança tenha aprendido a servir-se das birras para conseguir alcançar
os seus objetivos e isto apenas acontecerá se os pais, ao longo do tempo, tive-
rem cedido às chantagens dos filhos, revelando-se inconsistentes.
As birras surgem sobretudo na faixa etária próxima dos 2 anos e poderão
prolongar-se até aos 5 anos. Nestas idades, ao longo do desenvolvimento da
criança, o seu cérebro desenvolve-se a um ritmo impressionante. Ficamos, mui-
tas vezes, deslumbrados com a aquisição cognitiva das crianças nestas idades,
com o modo como elas se expressam e aplicam as palavras corretamente de
forma inesperada.
Porém, por que razão as crianças não fazem todas as mesmas birras?
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Nós sabemos que as crianças não são todas iguais, têm personalidades
diferentes, tal como nós, adultos. Há crianças que têm um temperamento com
que é mais fácil lidar, que são naturalmente mais obedientes, mais calmas ou
animadas e há aquelas crianças com temperamento mais difícil, que são mais
reativas, mais impulsivas e mais respondonas. Estas diferenças fazem parte
do ser humano, são características de personalidade, já nascem connosco.
É o que sucede, por exemplo, com o facto de não termos todos a mesma cor
de olhos, a mesma cor de cabelo, a mesma altura e o mesmo peso. Por terem
temperamentos diferentes, algumas crianças também irão fazer birras de dife-
rente intensidade em relação a outras crianças.
Então, o que desencadeia a birra?
Geralmente, a criança inicia uma birra quando quer conseguir algo, quando
procura atenção, está cansada, tem fome ou, até, quando se sente desconfor-
tável ou frustrada. Esta frustração faz parte de um processo de aprendizagem e
descoberta da criança, sobre si própria, sobre os outros e sobre o mundo que
está ao seu redor. A criança necessita de regras claras em relação ao que pode
ou não fazer, ao que é e não é normal fazer. A criança faz birra porque, nessa
fase de desenvolvimento, ainda não possui os mecanismos para lidar com a
frustração.
Como proceder perante a birra?
Muitas vezes, nos momentos de birra, os pais reagem de forma impulsiva,
fazendo exatamente o oposto do que deveriam fazer e fazem-no na tentativa de
aliviar as suas próprias frustrações, o que acaba por ser pouco saudável, visto
essas atitudes influenciarem negativamente a relação de confiança e segurança
entre pais e filhos. Assistimos a pais que deixam a criança gritar e chorar e ou-
tros que acabam por ceder às suas exigências com o intuito de que a criança
se cale. Este último tipo de reação, por parte dos pais, tem consequências
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Os Estilos Parentais
As práticas educativas dos pais
O desenvolvimento emocional, afetivo e social de uma criança é fortemente
dependente da educação parental, mas outras variáveis têm influência, como já
abordámos anteriormente (e.g.: o meio escolar, os amigos, a sociedade, etc.).
Desta forma, as práticas educativas adotadas pelos pais determinam a forma
como as crianças se comportam e influenciam significativamente a formação da
sua personalidade e o estabelecimento de futuros padrões relacionais enquanto
adultos. A disciplina é considerada um meio de socialização que inclui a apren-
dizagem de comportamentos, que irão ajudar a criança a crescer em harmonia.
É comum os pais recorrerem à educação que receberam da sua família, durante
a infância, definindo assim o seu estilo parental. Muitas vezes, os conflitos no
seio das famílias surge devido ao estilo de comunicação que utilizam.
Podemos classificar a linguagem como assertiva, agressiva, passiva ou ma-
nipulativa. Vamos agora descrever cada uma delas:
Comunicação agressiva – Este tipo de linguagem pode fazer falhar a
comunicação, impedindo que os problemas possam ser discutidos até
ao fim e se encontre uma solução ou se tomem decisões em conjunto.
A pessoa tem uma grande convicção nas suas ideias, desvalorizando o
seu interlocutor1 e podendo mesmo ser agressiva ao fazê-lo;
1 Aquele que fala ou participa numa conversa, num diálogo onde há interação realizada através da lingua-gem.
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Comunicação assertiva – É a forma mais correta de se expressar, onde se revela um bom controlo das emoções e se é capaz de exprimir as opi-niões e os sentimentos sem magoar os outros e, ao mesmo tempo, se é capaz de ouvir e considerar os argumentos dos outros;
Comunicação passiva – A pessoa evita dar as suas opiniões e pode deixar-se dominar pelas opiniões das outras pessoas;
Comunicação manipulativa – A pessoa tenta argumentar e fazer valer o seu ponto de vista, mas não o faz de forma direta e nem sempre apre-senta as verdadeiras razões.
Características da comunicação agressiva
Neste tipo de comunicação, a pessoa:
Domina os outros;
Valoriza-se à custa dos outros;
Ignora e desvaloriza o que os outros fazem ou dizem;
Quando hierarquicamente superior, revela-se autoritária, fria, intolerante e, quando hierarquicamente inferior, é contestatária e hostil;
Fala alto;
Interrompe com frequência;
Faz barulho para evitar que os membros do grupo se pronunciem;
Comunica de forma descontrolada;
Olha de revés o seu interlocutor;
Usa a ironia e o sorriso sarcástico;
Manifesta, através da mímica, o seu desprezo pelos outros.
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A Indisciplina no Contexto Escolar
A indisciplina na sala de aula
A indisciplina na sala de aula é um problema que tem vindo a assumir novas
dimensões nas escolas portuguesas, comprometendo o processo de apren-
dizagem dos alunos, fator este que contribui para o insucesso escolar e, ao
mesmo tempo, fomenta grandes níveis de instabilidade emocional nos docen-
tes, levando-os a sentimentos de impotência, de ansiedade, frustração e exaus-
tão.
Lidar com um aluno indisciplinado torna-se um grande desafio para toda a
comunidade escolar, quer para professores, quer para os assistentes operacio-
nais ou para a direção da escola e os pais.
Note-se que, muitas vezes, as alterações comportamentais dos alunos na
escola são resultado da inexistência de envolvimento dos pais no processo pe-
dagógico dos seus filhos.
Estas condutas perturbadoras poderão incluir a agressão física, a violação
de regras, a desobediência, a intimidação da criança a outros colegas e profes-
sores, os atos impulsivos, as provocações, os gritos, as discussões, etc.
“A indisciplina é um fenómeno intrínseco à sociedade e
ao seu sistema de ensino e, dada a sua inevitabilidade,
tão antigo como a própria escola.” (Aires, 2010, p. 13)
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Gerir os conflitos no contexto de sala da aula não é tarefa fácil. Os profes-
sores têm de cumprir os conteúdos programáticos e, muitas vezes, acabam
por não conseguir concretizar o objetivo planeado para aquele dia, devido às
interrupções constantes provocadas pelos comportamentos perturbadores que
os alunos criam na sala de aula. Nestas circunstâncias, os docentes veem-se
obrigados a intervir, acabando por desenvolver, muitas vezes, um desgaste fí-
sico e psicológico.
Todos nós temos personalidades diferentes e, por isso, adotamos diferen-
tes formas de agir perante determinada situação. Por exemplo, enquanto para
alguns professores, determinado comportamento poderá ser considerado ina-
dequado e desrespeitoso, para outros, poderá ser apenas uma manifestação
de revolta, por alguma situação isolada ou própria da fase da adolescência.
Nesse sentido, os docentes parecem adotar atitudes divergentes perante os
comportamentos que consideram indisciplinados, o que poderá dificultar aos
alunos a perceção de quais são os comportamentos realmente considerados
desajustados e perturbadores.
Vejamos o seguinte exemplo:
Numa turma, um professor de uma disciplina pune o seguinte comportamento:
o aluno levantou-se sem autorização para pegar na caneta que caiu ao chão.
Outro professor de outra disciplina, em que o aluno teve o mesmo comporta-
mento, não pune essa ação. Estas posturas divergentes por parte dos professores
fazem com que o aluno fique confuso, não percebendo se realmente aquele com-
portamento foi ou não incorreto.
Exemplo 7.1
Torna-se necessário agir de forma cautelosa em relação ao que se consi-
dera comportamentos indisciplinados, uma vez que se abrem precedentes
na atribuição de rótulos aos alunos, de que são indisciplinados, contribuindo
assim, para a criação de estigmas sociais.
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A Importância das Regras e as Técnicas Comportamentais
Os limites da educação
A educação é, sem sombra de dúvidas, a base para o sucesso futuro das nossas crianças. Os limites são cruciais para a educação! As exigências da so-ciedade atual obrigam os pais a trabalhar cada vez mais para garantir o bem-es-tar dos seus filhos, mas esta esta ausência provoca muitas vezes o sentimento de culpa em que muitos pais tentam compensar os seus filhos através da per-missão, cedendo-lhes tudo o que querem. Como resultado disso, há a perda de autoridade dos pais e a falta de limites dos filhos. Os limites são fundamentais na vida de uma criança, pois eles funcionam como uma rede de segurança e proteção. Uma criança que não tem uma disciplina regular em casa, além de provocar o dessossego e nervosismo nos pais, também terá dificuldades em cumprir regras noutros contextos, como, por exemplo, no contexto escolar.
Dizer “NÃO” é uma forma de educação fundamental, pois permite que as crianças aprendam a combater as suas inseguranças e a tolerar as suas frustra-ções, compreendendo, de forma saudável, que nem sempre se pode ter aquilo que se deseja. Sabemos que não é de todo fácil dizer “não” a uma criança, mas é imprescindível, ao longo do processo educativo. No momento em que está a colocar limites, é essencial construir um diálogo, explicando o motivo pelo qual está a dizer “não”, pois é importante que a criança entenda que há uma razão lógica para essa negação. Mantenha as regras e não ceda, independentemente
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das reações da criança. Lembre-se, só desta forma é que a criança irá criar
limites e lidar com a frustração de forma saudável. Ao aprender a lidar com a
frustração desde cedo, aprende a ultrapassar as dificuldades de forma eficaz,
será capaz de resolver problemas de forma autónoma, com maior capacidade
de resiliência1, tornando-se posteriormente num adulto bem-sucedido.
Sempre que os pais quiserem dar uma ordem aos seus filhos, deverão po-
sicionar-se perto da criança, com voz firme, sem deixarem de ser afetuosos,
usando o verbo na forma imperativa (e.g.: “Anda para a mesa! A comida está
servida!”). Será importante manter o contacto ocular e, se houver resistência,
socorrer-se de uma discreta pressão física (segurar-lhe no braço, por exemplo).
Evite retardar ou desistir de uma ordem quando esta já foi enunciada. O conhe-
cimento de certas estratégias comportamentais poderá ajudar muitos pais a
corrigirem hábitos que, de uma maneira ou de outra, acabam por contribuir para
o aumento do stress familiar. Vamos referir alguns itens que devem ser evitados
porque acabam por estimular ainda mais a desobediência.
O que os pais não deverão fazer: atitudes que
reforçam os problemas de comportamento
Ceder à birra – Os pais não devem ceder à birra e, muitas vezes, caem
nesse erro por vergonha do comportamento do filho, pensando que ao
cederem ele vai parar com aquele comportamento embaraçoso. Se a
birra acontecer em casa, deixe a criança chorar num lugar seguro até
se acalmar. Quando perceber que a criança está mais calma, poderá
perguntar-lhe se a birra já terminou e continuar a atividade que estava a
fazer, sem sermões. Quando a situação o exigir, ou seja, quando a birra
apresentar contornos de agressão, poderá aplicar uma punição. Caso
a birra ocorra num local público, a criança deverá ser retirada do centro
do palco, pois a assistência das outras pessoas é tudo aquilo de que a
birra precisa para ficar mais forte. Recorrer a ameaças e tentar assustar a
criança não ajuda e contribui para aumentar a tensão;
1 Capacidade que o indivíduo tem de lidar com os problemas, superar obstáculos, adaptando-se positivamente às adversidades do dia a dia.
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Parentalidade Positiva
A construção de relações positivas
Podemos designar como parentalidade positiva um conjunto de comporta-mentos ou competências parentais com o intuito do melhor interesse da criança que garanta a satisfação das suas principais necessidades e a sua capacitação, sem violência, proporcionando-lhe o reconhecimento e a orientação necessá-rios para possibilitar o seu desenvolvimento saudável.
Os pais devem estar cientes de que as atitudes positivas proporcionam am-bientes e comportamentos positivos e saudáveis, os quais são importantes na interação com os seus filhos.
Então, como se constrói uma relação positiva? Para que se cultive uma rela-ção positiva entre os pais e os filhos deve haver:
Respeito mútuo – Respeite o seu filho. Assim como gosta que o seu filho o respeite, respeite-o também, de igual para igual. As exigências devem localizar-se ao mesmo nível;
Tempo para a diversão – Gaste parte do seu tempo a envolver-se em atividades com o seu filho, o que é fundamental. Poderá participar nas atividades da criança, nos jogos, etc.;
Transmissão de amor – Forneça ao seu filho o amor que ele merece, através de um sorriso, toque no rosto, um abraço e diga que o ama. Com esta atitude, irá transmitir segurança ao seu filho e união entre a família;
Encorajamento – Dê incentivos constantes a comportamentos adequa-dos, elevando a concretização deste comportamento no futuro, assim
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como promova a autoconfiança no seu filho. O encorajamento aumenta os sentimentos de confiança e autoestima da criança.
Seguem-se algumas atitudes de encorajamento:
Valorize e aceite o seu filho como ele é e não apenas como ele poderia ser;
Aponte os aspetos positivos do seu comportamento;
Acredite na criança para que ela também aumente a sua autoconfiança;
Seja positivo e otimista;
Centre-se nos pontos fortes;
Reconheça os esforços e as melhorias, tal como os resultados obtidos.
Formação aos pais: a educação positiva
A educação positiva consiste numa relação de respeito mútuo entre pais e fi-lhos, sendo uma educação que estabelece segurança, firmeza, mas, ao mesmo tempo, a empatia, a harmonia e o afeto. Com esta atitude educacional, a criança será saudável, responsável, autónoma, capaz de resolver os seus conflitos por si própria e feliz! A educação positiva possibilita que a criança desenvolva uma inteligência emocional e uma autoestima equilibradas e permitirá ainda que a criança entenda a importância das regras e dos limites e que os integre na sua vida.
É de extrema importância que os pais tenham a capacidade de controlar a sua raiva e esta é uma das competências que os pais devem desenvolver por si mesmos, tornando-se mais assertivos na forma de lidar com os seus filhos. Para que consiga obter esse controlo, deverá estar atento às suas emoções e tensões, sabendo assim quando terá de manter o equilíbrio (autocontrolo). Por exemplo, se verificar que a discussão já se está a desenvolver demasiada-mente, afaste-se um pouco, vá ouvir um pouco de música ou mesmo dar um passeio até acalmar. Lembre-se que, controlar o seu estado de raiva e zanga, é um dever dos adultos e que esse seu autocontrolo irá servir de modelo de
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Considerações Finais
Sabemos que o desenvolvimento moral se inicia através da interação da criança com a sociedade que é, de uma forma geral, restringida à família. No entanto, não podemos esquecer o contexto escolar, que é um meio com grande relevância onde a criança estabelece novas interações, novas amizades e novas aprendizagens.
Ao mesmo tempo que se desenvolve o mundo social da criança, o conjunto de ordens e limites a que deve obedecer também se vai desenvolvendo. É ver-dade que as primeiras regras são transmitidas de forma direta pelos pais, mas é igualmente verdade que, mais tarde, as condutas das crianças são também influenciadas pelas regras da sociedade.
Diversos estudos relacionam a perturbação do comportamento com o de-senvolvimento e a manutenção de comportamentos socialmente desajusta-dos, em termos de dificuldades de integração social, legais e de criminalidade. Assim, torna-se essencial a clarificação das variáveis antecipadoras da pertur-bação, para o desenvolvimento de estratégias de prevenção eficazes e para a sensibilização de pais e professores, com vista ao diagnóstico precoce e res-petivo encaminhamento da criança e da família para programas de intervenção que possam evitar ou minimizar as consequências nocivas desta perturbação nas suas vidas.
Será de salientar a importância de uma educação otimista e positiva em que os pais deverão sempre procurar dar o melhor de si aos seus filhos, respeitando as suas individualidades e promovendo atividades para que as crianças pos-sam desenvolver competências sociais e emocionais, que são essenciais ao seu crescimento saudável.
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Toda a comunidade educativa (pais/encarregados de educação, alunos, pessoal docente e não docente) tem uma grande responsabilidade na salva-guarda efetiva do direito à educação. Ser professor, ser pai e ser mãe não são tarefas fáceis! Há que implementar as técnicas e estratégias comportamentais com persistência e paciência para que as crianças tenham um autocontrolo, para que se incutam os limites de uma forma positiva.