89 20 Análise de Acidentes Printed

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XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004 ENEGEP 2004 ABEPRO 2604 Análise de acidentes do trabalho típicos envolvendo eletricistas Lia Buarque de Macedo Guimarães (UFRGS) [email protected] Daniela Fischer (UFRGS) [email protected] Roselaine Batista (UFRGS) [email protected] Resumo Este artigo apresenta uma análise quantitativa de acidentes do trabalho típico envolvendo eletricistas que atuam junto a redes aéreas integrantes de sistema elétrico de potência da distribuição de alta e de baixa tensão desenergizada. A análise estatística descritiva dos dados dos relatórios de acidentes do trabalho emitidos por uma concessionária de energia elétrica do estado do Rio Grande do Sul, permitiu identificar os riscos de acidentes, a natureza das lesões e as características do contexto situacional do acidente e dos acidentados. Os resultados mostraram correlação entre a hora do acidente com o turno e tipo de serviço, ratificando a importância de se rever a organização do trabalho dos eletricistas. Palavras chave: acidente do trabalho típico, eletricista, organização do trabalho. 1. Introdução De acordo com a Fundação COGE (2003), o setor elétrico brasileiro apresenta um índice elevado de acidentes com conseqüências graves e fatais. Apesar de a série histórica das taxas de acidentes (projetada) compreendidas entre 1977 e 2005, indicarem uma tendência de redução nas taxas de freqüência e gravidade, os índices ratificam a importância de estudos, ações estratégicas e investimento na prevenção de acidentes. No período compreendido entre 1999 e 2001, o número total de acidentes do trabalho registrados, ocorridos em empresas foi de 6.800, sendo 3.022 acidentes sem afastamento, 3.720 acidentes com afastamento e 58 fatais. Neste mesmo período, as empreiteiras totalizaram 158 fatais. Este trabalho apresenta uma análise quantitativa de acidentes do trabalho típico realizada sobre relatórios de acidentes ocorridos com eletricistas que atuam junto a sistemas elétrico de potência de baixa e alta tensão desenergizada. O conceito de acidente do trabalho utilizado seguiu o da Previdência Social, que se refere ao estabelecido na Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 2004): “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária”. Para efeitos desta Lei, equiparam-se ao acidente do trabalho a doença profissional (função do exercício do trabalho), a doença do trabalho (função das condições em que o trabalho é realizado), o acidente típico (aquele que ocorre no local de trabalho) e o acidente de trajeto (aquele que ocorre no percurso entre a residência e o trabalho e vice-versa). O objetivo da análise é identificar as questões envolvidas nos acidentes ocorridos como base para intervenções preventivas no sistema. Em ergonomia, o levantamento de acidentes é utilizado como aprendizagem para a melhoria de condições de trabalho e, não, para identificar culpados. Assume-se que os erros geralmente são do sistema e procura-se aprender com eles (REASON, 1997). Neste sentido, o levantamento de acidentes deve ser entendido como uma

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Relata um estudo de caso sobre acidentes no trabalho voltados ao setor elétrico

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  • XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produo - Florianpolis, SC, Brasil, 03 a 05 de nov de 2004

    ENEGEP 2004 ABEPRO 2604

    Anlise de acidentes do trabalho tpicos envolvendo eletricistas

    Lia Buarque de Macedo Guimares (UFRGS) [email protected] Daniela Fischer (UFRGS) [email protected]

    Roselaine Batista (UFRGS) [email protected]

    Resumo Este artigo apresenta uma anlise quantitativa de acidentes do trabalho tpico envolvendo eletricistas que atuam junto a redes areas integrantes de sistema eltrico de potncia da distribuio de alta e de baixa tenso desenergizada. A anlise estatstica descritiva dos dados dos relatrios de acidentes do trabalho emitidos por uma concessionria de energia eltrica do estado do Rio Grande do Sul, permitiu identificar os riscos de acidentes, a natureza das leses e as caractersticas do contexto situacional do acidente e dos acidentados. Os resultados mostraram correlao entre a hora do acidente com o turno e tipo de servio, ratificando a importncia de se rever a organizao do trabalho dos eletricistas. Palavras chave: acidente do trabalho tpico, eletricista, organizao do trabalho.

    1. Introduo De acordo com a Fundao COGE (2003), o setor eltrico brasileiro apresenta um ndice elevado de acidentes com conseqncias graves e fatais. Apesar de a srie histrica das taxas de acidentes (projetada) compreendidas entre 1977 e 2005, indicarem uma tendncia de reduo nas taxas de freqncia e gravidade, os ndices ratificam a importncia de estudos, aes estratgicas e investimento na preveno de acidentes. No perodo compreendido entre 1999 e 2001, o nmero total de acidentes do trabalho registrados, ocorridos em empresas foi de 6.800, sendo 3.022 acidentes sem afastamento, 3.720 acidentes com afastamento e 58 fatais. Neste mesmo perodo, as empreiteiras totalizaram 158 fatais.

    Este trabalho apresenta uma anlise quantitativa de acidentes do trabalho tpico realizada sobre relatrios de acidentes ocorridos com eletricistas que atuam junto a sistemas eltrico de potncia de baixa e alta tenso desenergizada. O conceito de acidente do trabalho utilizado seguiu o da Previdncia Social, que se refere ao estabelecido na Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 (BRASIL, 2004): Acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, ou ainda pelo exerccio do trabalho dos segurados especiais, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte, a perda ou reduo da capacidade para o trabalho permanente ou temporria. Para efeitos desta Lei, equiparam-se ao acidente do trabalho a doena profissional (funo do exerccio do trabalho), a doena do trabalho (funo das condies em que o trabalho realizado), o acidente tpico (aquele que ocorre no local de trabalho) e o acidente de trajeto (aquele que ocorre no percurso entre a residncia e o trabalho e vice-versa).

    O objetivo da anlise identificar as questes envolvidas nos acidentes ocorridos como base para intervenes preventivas no sistema. Em ergonomia, o levantamento de acidentes utilizado como aprendizagem para a melhoria de condies de trabalho e, no, para identificar culpados. Assume-se que os erros geralmente so do sistema e procura-se aprender com eles (REASON, 1997). Neste sentido, o levantamento de acidentes deve ser entendido como uma

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    fonte valiosa de informaes para projeto de solues de melhoria do trabalho e capacitao dos trabalhadores.

    A seguir, apresentam-se a descrio do sistema-alvo, os materiais e mtodo da anlise de acidentes, os resultados e as consideraes finais.

    2. Descrio do sistema-alvo Os servios operacionais junto ao sistema de distribuio de energia eltrica so realizados por duplas de eletricistas de linha viva (LV), duplas de eletricistas de linha padro (LP) e por equipes pesadas compostas por 6 a 7 indivduos: 1 supervisor ou coordenador, 1 motorista e operador de guindauto, 2 eletricistas e 2 auxiliares ou assistentes de eletricistas. Os eletricistas de LV e de LP so da prpria concessionria e as equipes pesadas so de empresas terceirizadas (um total de 4) que atuam mediante critrios e remunerao ajustada em contrato de prestao de servios.

    O principal diferencial entre o trabalho realizado pelos eletricistas de LP e de LV a classe de tenso. Os eletricistas de LV atuam, exclusivamente, junto a redes energizadas, isolando-as para os servios de manuteno e de emergncia realizados pelos eletricistas da concessionria ou terceirizados e reparos leves. O descolamento at o local dos servios feito utilizando caminho e o acesso s instalaes areas por cestos isolados. Os eletricistas de LP realizam atividades de inspeo e reparos leves de manuteno e de emergncia junto a redes de distribuio de baixa tenso desenergizadas (90% das situaes). Se a normalizao depender de reparos que exigem ferramentas e equipamentos pesados, as equipes das empreiteiras so acionadas. O deslocamento at o local dos servios feito utilizando veculos de mdio porte (camionetes) e o escalonamento e descida dos postes por meio de esporas e escada.

    Os eletricistas das equipes pesadas realizam diferentes servios de construo, de manuteno, de emergncia e operacionais. Quase todos compreendem atividades de transporte de materiais, deslocamento usando veculo, preparao do local e do trabalho no nvel do solo, trabalho em altura (em cima do poste) e cuidados com a eletricidade e influncia do meio ambiente. Os equipamentos, ferramentas e recursos geralmente utilizados so: EPIs, EPCs, guindauto, perfuratriz ou p, alicates, basto pega tudo, corda de iamento de componentes. O deslocamento at o local dos servios feito utilizando caminho, mas o escalonamento e descida dos postes por meio de esporas e escada.

    Os eletricistas das empreiteiras dificilmente recebem treinamento (a aprendizagem do tipo mestre-aprendiz), ao contrrio dos eletricistas da concessionria que recebem treinamento especfico composto por 8 mdulos, mais reciclagem peridica.

    O turno de trabalho prescrito de ambos de aproximadamente 8 horas distribudas entre os perodos da manh e da tarde, mas o turno real considera o cumprimento de horas-extras no final do expediente, at que o trabalho seja concludo. Alm disso, os eletricistas tm uma escala de sobre-aviso para o caso de emergncias fora do horrio normal de trabalho.

    3. Anlise dos acidentes: materiais e mtodo O estudo dos acidentes de trabalho tpicos foi realizado com base nos Relatrios de Acidente de Trabalho emitidos no perodo de 2000-2002 pelo departamento de Engenharia de Segurana da empresa. O relatrio de acidente do trabalho utilizado um dos elementos de avaliao do organismo de certificao Det Norske Veritas Ltda (DNV) e contm a descrio do acidente, depoimentos, posicionamentos, anlises e avaliaes de diferentes intervenientes (acidentado, colega de trabalho, testemunha, tcnico de segurana, CIPA, supervisores e gerentes), no necessariamente todos.

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    Dos setenta e seis (76) relatrios de acidentes do trabalho disponibilizados, foram considerados no estudo somente vinte e quatro (24): dezoito (75%) relativos a acidentes de trabalho tpico envolvendo eletricistas da distribuio de LP que atuam em dupla da prpria concessionria e seis (25%) acidentes de trabalho tpico envolvendo eletricistas da distribuio que atuam nas equipes pesadas das empresas terceirizadas. No foram considerados no estudo os acidentes de trabalho que no eram diretamente relacionados com o trabalho realizado pelos eletricistas da distribuio de LP, ou seja, no foram considerados os acidentes envolvendo eletricistas de linha viva (02) e leituristas (09), os acidentes de trajeto envolvendo veculo (38) e acidentes ocorridos com terceiros (03).

    Os dados foram analisados por meio de estatstica descritiva e Teste Exato de Fischer por simulao de Monte Carlo, para verificar a existncia de associao entre as varveis. Este teste alternativa quando no se pode utilizar o teste de Qui-Quadrado porque algum valor esperado menor do que cinco ou o nmero total de indivduos menor que vinte e cinco. chamado de Teste Exato de Fisher porque calcula a probabilidade exata de se obter, ao acaso, os resultados observados nas caselas da tabela. As hiptese consideradas so: Ho = no existe associao entre as variveis em estudo e H1 = associao entre as variveis em estudo. A hiptese nula ser rejeitada se o nvel de significncia da anlise estatstica for maior que 5%, ou seja, o valor de p for maior que 0.05 (p>0.05) (CALLEGARI-JACQUES, 2003). Os dados foram analisados no programa SPSS 10.0. As variveis independentes, ou explicativas dos acidentes, analisadas no estudo, foram agrupadas em quatro categorias: i) variveis individuais: gnero, idade, tempo na funo (na empresa), reincidente; ii) variveis temporais: ano, ms, dia da semana, hora do acidente; iii) variveis situacionais: turno de trabalho, fatores ambientais, local do acidente, servio/tarefa/atividade; iv) variveis do acidente: tipo de acidente, natureza da leso, parte do corpo atingida, dias perdidos e fatores causais.

    4. Resultados A seguir, apresentam-se os resultados da anlise estatstica descritiva segundo quatro categorias e os resultados da aplicao do Teste Exato de Fisher por simulao de Monte Carlo.

    4.1 Variveis individuais Todos os sujeitos eram do sexo masculino. As funes desempenhadas variavam segundo trs categorias: dezenove (79.2%) eletricistas padro e cinco (20.8%) auxiliares de eletricista. A idade variava de 21 a 41 anos e o tempo na funo (na empresa) variava de 1 ms a 6 anos e 7 meses. Com relao reincidncia, dezesseis (66.70%) eram no reincidente, trs (12.5%) reincidente e cinco (20.8%) no informado.

    4.2 Variveis temporais Ocorreram treze (54.2%) acidentes no ano de 2000, seis (25%) em 2001 e cinco (20.8%) em 2002, sugerindo uma ao pr-ativa da empresa na reduo de acidentes. A distribuio em relao ao dia da semana, ms e hora do acidente est apresentada nas Figuras 1, 5 e 6 respectivamente.

    Conforme mostra a Figura 1, segunda-feira o dia com maior nmero de acidentes, corroborando o estudo de Costella (1999) em Figura 2. A explicao para a incidncia maior de acidentes na segunda-feira pode estar relacionada descontinuidade do trabalho em funo da pausa do fim de semana. Os eletricistas trabalham aos sbados e domingo somente quando h situao de emergncia ou no caso de obras programadas com desligamento.

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    Figura 1: Distribuio dos acidentes em relao ao dia da semana.

    Figura 2: Dia da semana dos acidentes na construo civil no RS (Costella, 1999).

    Parker & Oglesby (1972) tambm mostraram haver uma diferena marcante entre os dias no que tange ao nvel de produtividade semanal (Figura 3): a segunda-feira apresenta um nvel de produtividade menor em relao tera-feira, apesar de possuir um nmero de acidentes maior. Isto provavelmente ocorre porque h uma descontinuidade do trabalho pela pausa de descanso semanal no fim-de-semana e, desse modo, o trabalhador tem de se adaptar ao trabalho novamente, na segunda-feira, at que na tera-feira pela manh atinge o pico mximo de produtividade. Este fator de aprendizagem remete a uma produtividade menor e a uma ocorrncia de acidentes do trabalho maior. Nos outros dias da semana, a tendncia de produtividade e de ocorrncia de acidentes descendente, principalmente por fatores relacionados fadiga e conseqente diminuio do ritmo de trabalho, que j foram discutidos anteriormente.

    Ta xa de produtividade semanal

    40

    60

    80

    100

    Seg Ter Qua Qui Sex SabProd

    utiv

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    100

    %

    Md ia semanal

    Produt. m anh

    Produt. tarde

    Figura 3: Taxa de produtividade semanal (PARKER e

    OGLESBY, 1972).

    Curva tpica de produo diria

    Horas

    Tax

    a de

    pro

    du

    Manh Almoo Tarde

    Figura 4: Curva tpica de produtividade diria para trabalho pesado (PARKER e OGLESBY, 1972).

    A distribuio da hora do acidente (Figura 6) assemelha-se s encontradas por Hinze (1997) (em Figura 7) e Costella (1999) (em Figura 8). A distribuio dos acidentes ao longo do dia (Figura 6) pode ser explicada por diversos fatores. Dentre eles, so relevantes o nvel de atividade diria e a fadiga. No estudo de Hinze (1997), os picos de acidentes observados (Figura 7) so iguais s taxas de produo dirias (Figura 3) o que leva relao entre o acidente e o nvel da atividade diria: j que o trabalhador produz mais pela parte da manh, existe uma incidncia maior de acidentes pela parte da manh. Esta relao encontrada por Hinze tambm pode explicar a curva do estudo de Costella (1999) e dos acidentes analisados neste trabalho. Os eletricistas iniciam o trabalho de campo no meio da manh e, algumas vezes, somente no incio da tarde, dado a distncia at o local onde o servio ser executado. As primeiras horas da manh so gastas com a separao do material e dos equipamentos de acordo com a folha de servio emitida no dia, preparao do caminho e deslocamento at o local onde o servio dever ser executado.

    Dia da se m a na (Coste lla e t a l. , 1998)

    0 ,0%

    5,0%

    10,0%

    15,0%

    20,0%

    25,0%

    Se g Ter Qua Qu i Sex Sab eD om

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    A fadiga tambm influencia a incidncia de acidentes no final da tarde, quando o ritmo de atividade diria diminui (Figura 4) e aumenta a incidncia de acidentes. A maior ou menor incidncia deste fenmeno depende de outros fatores, como as condies ambientais e do posto, a durao da jornada de trabalho semanal e a alimentao dos trabalhadores (GRANDJEAN, 1998).

    Figura 5: Distribuio dos acidentes em relao ao ms. Figura 6: Distribuio dos acidentes em relao hora do acidente.

    Figura 7: Hora do acidente na construo civil em Washington, EUA (Hinze, 1997).

    Figura 8: Hora do acidente na atividade de construo civil no RS (Costella., 1999).

    4.3 Variveis situacionais A distribuio em relao ao turno de trabalho, zona (rural e urbana), regio e servio executado quando da ocorrncia dos acidentes esto apresentadas na Tabela 1, 2, 3 e 4. Nota-se que ocorreram mais acidentes durante o turno normal de trabalho executando servio normal, sendo que no houve diferena entre a zona rural e urbana. Considerando-se que os eletricistas trabalham mais tempo no horrio normal do que em horas extras, coerente que ocorram mais acidentes neste perodo do que em outros, apesar da sobrecarga geralmente imposta pelas horas extras.

    Turno Freqncia % Normal 13 54.2 Hora-extra 3 12.5 Sobre aviso 5 20.8 No informado 3 12.5

    Tabela 1: Distribuio dos acidentes em relao ao turno.

    Zona Freqncia % Rural 10 41.7 Urbana 10 41.7 No informado 4 16.6 Tabela 2: Distribuio dos acidentes em relao zona

    rural e urbana.

    Hora do acidente (Hinze, 1997)

    0,0%

    2,0%

    4,0%

    6,0%

    8,0%

    10,0%

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    16,0%

    07:

    00

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    0

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    0

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    00

    Hora do acidente (Coste l la e t a l. , 1998)

    0,0%

    2,0%

    4,0%

    6,0%

    8,0%

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    Regio Freqncia % Metropolitana 4 16.7 Serra 3 12.5 Noroeste 3 12.5 Planalto 8 33.33 Misses 3 12.5 No informado 3 12.5

    Tabela 3: Distribuio dos acidentes em relao regio.

    Servio Freqncia % Normal 16 66.70 Construo 2 8.3 Emergncia 5 20.8 Treinamento 1 4.2

    Tabela 4: Distribuio dos acidentes em relao ao tipo de servio executado quando da ocorrncia do acidente.

    4.4 Variveis do acidente A distribuio em relao ao tipo de acidente, natureza da leso, parte do corpo atingida e dias perdidos est apresentada nas Tabelas 5, 6, 7 e 8.

    Conforme mostra a Tabela 5, a maior parte dos acidentes envolve queda com diferena de nvel (62.3%), seguida de acidentes por exposio energia eltrica (29.1%). Estes dados indicam a importncia de se atuar na questo do trabalho em altura, revendo-se os equipamentos e procedimentos de trabalho.

    Na Tabela 2, queimadura apresenta a maior freqncia entre os tipos de natureza da leso (19.23%), o que no conflita com o tipo de acidente mais freqente (Tabela 1), haja visto a multiplicidade de leses decorrentes de um acidente por queda com diferena de nvel (fratura, toro, escoriao, corte, entre outros). Os dados da Tabela 3 sugerem que os acidentes podem atingir quaisquer ou todas as partes do corpo, mas que os dias perdidos tendem a ser poucos (Tabela 8).

    A distribuio em relao aos fatores causais latentes (isto , ltimo fator da seqncia do acidente) foi avaliada de duas maneiras: i) sob a tica da empresa (com base nas descries dos documentos de registro) e ii) sob a tica da ergonomia (relendo-se os mesmos registros considerando sete possibilidades de falhas no sistema: falha de comunicao, de equipamento, de material, falha humana, falha no treinamento, na falta de EPIs, na sobrecarga de trabalho). Os resultados da avaliao das causas de acidentes, conforme julgado pela empresa e conforme julgado pelo ergonomista, esto apresentados nas Figuras 9 e 10, respectivamente. Com base nos dados apresentados na Figura 9, verifica-se uma tendncia por parte da empresa em atribuir a causa do acidente ao acidentado: a prtica subpadro foi atribuda a 88.46% dos casos. Por outro lado, a Figura 10 mostra que os acidentes tm origem em fatores externos ao ser humano, e diretamente ligadas ao sistema de trabalho tais como a confiabilidade (humana e de sistemas: equipamentos e materiais) e forma de organizao do trabalho (sobrecarga e treinamento).

    Tipo de acidente % Exposio energia eltrica 20.8 Queda com diferena de nvel 54.2 Exposio energia eltrica e queda com diferena de nvel 8.3 Impacto sofrido por pessoa contra objeto em outras formas de movimento 8.3 Impacto sofrido por pessoa de objeto que cai 4.2 Impacto sofrido por pessoa de objeto projetado 4.2

    Tabela 5: Distribuio dos acidentes em relao ao tipo de acidente.

    Dias perdidos % De 1 a 3 dias 14.7 De 4 a 7 dias 11.8 De 8 a 10 dias 8.8 45 dias 2.9 No houve perda 26.5 No informado 35.3

    Tabela 6: Distribuio em relao aos dias perdidos ps-acidentes.

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    Parte do corpo atingida % Corpo todo 15.38 Cabea 11.54 Cabea e mo 7.69 Brao 7.69 Mo 3.85 Punho 3.85 Perna 3.5 P 3.85 Punho e maxilar 3.85 Tornozelo e coluna 3.85 P, joelho, brao, coluna 3.85 Cabea e coluna 3.85 Mo e perna 3.85 Perna e coluna 3.85 No informado 19.23 Tabela 7: Distribuio das partes do corpo atingidas nos

    acidentes.

    Natureza da leso % Corte 11.54 Queimadura 19.23 Fratura 15.38 Ferimento corto-contuso 3.85 Luxao 3.85 Escoriao 3.85 Dor no corpo 3.85 Ferimento corto-contuso e escoriao 3.85 Corte, escoriao e toro 3.85 Fratura e toro 3.85 Fratura e luxao 3.85 Luxao e escoriao 3.85 No informado 19.23 Tabela 8: Distribuio dos acidentes por natureza da leso.

    Figura 9: Distribuio em relao aos fatores causais latentes conforme julgado pela empresa.

    Figura 10: Distribuio em relao aos fatores causais latentes conforme julgado pelo ergonomista.

    4.5 Resultado da aplicao do Teste Exato de Fisher por simulao de Monte Carlo As variveis que apresentaram associao de acordo com o Teste Exato de Fisher por simulao de Monte Carlo foram:

    Hora do acidente e Tipo do servio (p=0.001): de um total de quatorze acidentes ocorridos quando da execuo de servios do tipo normal, oito ocorreram no perodo da tarde (entre 12h:00min-17h:00min). Os cinco acidentes ocorridos durante servios de emergncia ocorreram entre 17h:00min e 00h:45 min;

    Hora do acidente e Turno (p=0.0210): dos treze acidentes ocorridos no turno normal, nove ocorreram no perodo da tarde (entre 12h:00min-17h:00min). Dos cinco acidentes que ocorreram quando os trabalhadores estavam de sobre-aviso, trs ocorreram aps o turno normal (entre 17h:00min e 00h:45 min). A maioria dos acidentes ocorridos sob hora-extra tambm ocorreram neste perodo (entre 17h:00min e 00h:45 min): dois de um total de trs;

    Reincidncia e Regio (p=0.0450): na regio noroeste ocorreram somente dois acidentes, cujos sujeitos eram reincidentes. Na regio planalto, dos oitos acidentes, somente um envolveu reincidente. Nas regies metropolitano, serra e misses no houve acidente envolvendo reincidentes.

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    ENEGEP 2004 ABEPRO 2611

    4 Consideraes finais A anlise estatstica permitiu identificar os riscos de acidentes e a natureza das leses mais provveis e as caractersticas do contexto situacional do acidente e dos acidentados. Com base nos resultados, possvel afirmar que alm da periculosidade do produto que se lida, as condies de trabalho so inseguras. Os acidentes ocorreram nas mais diversas situaes: em servios programados e emergenciais, em zona rural e urbana, em diferentes horrios e dias da semana, entre outros. Ficou claro, tambm, que h uma tendncia a culpar o eletricista: o ato inseguro ou a prtica subpadro preponderam s condies de trabalho inseguras como justificativa ao acidente do trabalho. De um total de 26 relatrios de acidentes, 23 atriburam a causa do acidente a uma prtica subpadro (ato inseguro) e apenas 03 a uma condio insegura, o que no corresponde ao que foi encontrado pelo ergonomista, ou seja, que outros fatores do sistema de trabalho (fatores organizacionais e de confiabilidade), que no o eletricista em si, eram decisivos para a ocorrncia de acidentes.

    Este estudo reforou a idia de que necessria uma interveno imediata enfocando o trabalho em altura. Alm do desgaste fsico que a subida no poste parece exigir, acidentes envolvendo queda com diferena de nvel representam 62.3% dos acidentes registrados pela empresa. Tendo em vista a gravidade da questo, a ascenso e trabalho no poste deve ser objeto de um estudo mais detalhado, que incorpora propostas de procedimento para trabalho em altura e validao do mesmo. Outro fator diz respeito para a importncia de se avaliar o nvel de estresse dos eletricistas e o horrio de jornada com vistas reduo da fadiga e conseqente minimizao de riscos de acidentes. O estresse fsico pode ser reduzido por meio de equipamentos de auxlio execuo de fora (ou seja, adotando-se um sistema de trabalho em altura por rappel, sistemas mais fceis de montagem de postes, melhores ferramentas etc., conforme descrito em GUIMARES et al., 1994)). A fadiga pelo horrio de trabalho pode ser reduzida evitando-se trabalho sob temperaturas altas e pelo aumento do nmero e tempo de pausas, que so resolvidas revendo-se a organizao de trabalho. Os resultados do Teste Exato de Fisher que indicaram associao entre a hora do acidente com outras duas variveis: turno e tipo de servio, ratificam a importncia de se rever a organizao do trabalho dos eletricistas.

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