69167062 Residuos de Tiro PF

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1 Resíduos de Tiro (GSR - Gunshot residue, FDR - Firearms discharge residue) Paulo Ricardo Ost Frank Perito Criminal, RS Com revisão de: Fernando Ipar, Perito Criminal, RS. Vera Bittencourt, Perita Criminalística, RS.

Transcript of 69167062 Residuos de Tiro PF

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Resíduos de Tiro

(GSR - Gunshot residue,

FDR - Firearms discharge

residue)

Paulo Ricardo Ost Frank

Perito Criminal, RS

Com revisão de:

Fernando Ipar, Perito Criminal, RS.

Vera Bittencourt, Perita Criminalística, RS.

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ÍNDICE.

1. Armas ...................................................................................................................... 4

1.1. Armas de Fogo ........................................................................................................ 7

1.1.1. Raias ............................................................................................................... 8

1.1.2. Calibre............................................................................................................. 9

1.1.3. Munição......................................................................................................... 10

1.1.4. Estojo ............................................................................................................ 14

1.1.5. Espoletas e Carga iniciadoras ...................................................................... 15

1.1.6. Descarga (Disparo e Tiro)............................................................................. 23

1.1.7. Pólvora .......................................................................................................... 24

1.1.7.1. Pólvora Negra ............................................................................................... 25

1.1.7.2. Pólvoras Modernas ....................................................................................... 26

1.1.8. Projéteis ........................................................................................................ 33

1.1.8.1. Balins ou bagos ............................................................................................ 38

1.1.8.2. Munição de recarga ou artesanal ................................................................. 44

2. Principais Tipos de Armas de Interesse Forense.................................................. 45

2.1. Pistolas de Tiro Unitário ........................................................................................ 45

2.2. Pistolas de Múltiplos Canos (Garruchas ou Derringers) ....................................... 45

2.3. Revólveres............................................................................................................. 45

2.4. Pistola Semi-Automática ou Parabellum ............................................................... 50

2.5. Rifles, Fuzis, Fuzis de Assalto, Carabinas ............................................................ 51

2.6. Espingardas........................................................................................................... 52

3. Resíduos do Tiro ................................................................................................... 53

3.1. Diferentes Testes e seus Históricos ...................................................................... 60

3.1.1. Teste da Parafina.......................................................................................... 60

3.1.2. Harrison e Gilroy ........................................................................................... 62

3.1.3. Rodizonato de Sódio..................................................................................... 63

3.1.4. Radiação de Neutrons (Neutron Activation Analysis, Análise de Ativação). 64

3.1.5. Flameless Atomic Absorption Spectrometry (FAAS) .................................... 65

3.1.6. Década de 1980............................................................................................ 72

3.1.7. Década de 1990............................................................................................ 72

3.1.8. SEM/EDS - MEV........................................................................................... 73

3.2. Resíduos Orgânicos no GSR ................................................................................ 76

3.3. Natureza dos Resíduos de Tiro e a sua Formação............................................... 78

3.4. Composição do GSR............................................................................................. 83

3.5. Áreas Prováveis de Resíduos (GSR) .................................................................... 84

3.5.1. Resíduos de tiro na mão do atirador ............................................................ 85

3.5.2. Tempo de permanência de resíduos no ar................................................... 88

3.5.3. Coleta de GSR.............................................................................................. 89

4. Distância de Tiro.................................................................................................... 91

3

4.1. Queima .................................................................................................................. 93

4.2. Esfumaçamento..................................................................................................... 94

4.3. Partículas de Propelente não Queimadas ou Parcialmente Queimadas .............. 95

4.4. Corpos Mortos ....................................................................................................... 96

4.5. Cargas Iniciadoras sem Chumbo .......................................................................... 96

5. Retenção de GSR.................................................................................................. 98

5.1. Pessoas Vivas ....................................................................................................... 98

5.2. Rosto, Cabelo, Cabeça e Roupas ....................................................................... 100

5.3. Mortos.................................................................................................................. 100

5.4. Armas de Cano Longo......................................................................................... 101

6. Conclusão............................................................................................................ 102

7. Índices de Figuras ............................................................................................... 103

8. Bibliografia ........................................................................................................... 104

4

1. Armas

O homem faz armas desde a aurora da humanidade. Um dos primeiros

povos que colonizaram o que hoje nós chamamos de América, a cultura Clóvis,

tem este nome pelas lanças que fabricavam: lascas de pedra amarradas com

tiras de couro na ponta de paus. Por algum tempo se pensou que eram

destinadas apenas para a caça e para a defesa contra animais maiores, mas

alguns encontros de esqueletos com lesões nos ossos semelhantes as que

seriam produzidas por estas pontas, sugerem que as mesmas também eram

utilizadas contra o semelhante. Em termos técnicos de balística, a lança do

povo Clóvis era uma arma de arremesso, ou seja, matava a distância. Com

uma arma deste tipo o mais fraco fisicamente poderia derrotar o mais forte.

Para o fraco homo sapiens esta possibilidade foi um grande impulso para a

sobrevivência da espécie.

Figura 1 Pontas Clóvis1. Para Wallace2, as armas de arremesso foram concebidas para matar ou

incapacitar a distância. Essas armas incluem qualquer coisa leve o suficiente

para ser arremessada e suficientemente pesada, ou aguda, para produzir

ferimentos. Nesta categoria estão incluidos, bastões, varas pontiagudas com

pontas endurecidas pelo fogo ou não, lanças feitas de pedra, facas, punhais,

machadinhas e espadas feitas de madeira ou pedra. O desejo de impulsionar

algum tipo de projétil para matar ou ferir deve ter se originado da necessidade

de caçar. Por razões óbvias matar a distância é mais prático e mais seguro.

1 Wikimedia Commons.

2 Wallace, P. 3.

5

Primeiramente os projéteis eram lançados com a mão e mais tarde foram

inventados as fundas, arcos, catapultas, onagros e outros. Os projéteis

ganharam maior peso, velocidade, maior alcance e maior precisão,

consequentemente maior poder de matar ou ferir3.

Um dos principais desenvolvimentos no armamento humano foi a

descoberta do metal e a capacidade trabalhar com o mesmo. Não é por acaso

que historiadores antigos dividiam a pré-história em “Idade da Pedra” e “Idade

do Bronze”. Facas, espadas, pontas de flechas e de lanças, couraças e outros

deram grande vantagem sobre as armas de pedras e paus. Povos, como os

espanhóis, armados de adagas, lanças, elmos e couraças, tiveram enorme

facilidade em derrotar povos armados de porretes, como os astecas e os incas.

Estas armas foram utilizadas por muitos séculos até serem rapidamente

substituídas por armas de fogo, as quais mudaram radicalmente a história da

humanidade4. Com armas deste tipo, qualquer povoado poderia se defender de

tribos nômades montadas, desde que possuíssem armas de fogo e de uma

cerca para disparar protegido.

Balística é a ciência que estuda o movimento dos projéteis. É um ramo

da Física, mas de grande interesse para a Criminalística e para a área militar,

onde são estudados o desempenho dos projéteis, sua trajetória, sua energia,

velocidade, alcance, penetração e outros aspectos. Para efeitos de

criminalística este conhecimento é dividido em três grandes partes: Balística

Exterior que está preocupada com o projétil desde que ele sai da boca do cano

até alcançar o alvo. Balística Interior, que estuda os fenômenos que ocorrem

no interior da arma e Balística Terminal, que estuda a interação do projétil com

o alvo5.

A Balística é o ramo da física que estuda o movimento dos projéteis6.

Teve e tem destacada importância para as armas de artilharia em particular e

3 Wallace. P. 3.

4 Wallace. P. 4

5 Wallace P. 4

6 NA. Para a Física, projétil é qualquer corpo que se desloca no espaço sofrendo a ação de um

impulso inicial e de um campo gravitacional.

6

para as demais armas7 em geral. Por extensão o estudo das armas de

arremesso, das munições e de seus efeitos, tornou-se parte da Balística.

As armas de arremesso podem ser simples, quando o impulso inicial é

dado pelo ser humano sem auxilio de qualquer apetrecho, por exemplo, o

dardo, ou complexas, quando um apetrecho auxilia no lançamento, por

exemplo, a zarabatana, o arco, a besta, o onagro, a catapulta, o trabuco e as

armas de fogo.

Armas de fogo são máquinas térmicas onde o projétil é expelido pela

súbita expansão dos gases resultantes da queima de pólvora, ou seja, quando

ocorre o disparo8, a arma produz tiro9 se houver munição eficaz

adequadamente alojada em seu interior.

Modernamente a Balística se ocupa apenas das armas de fogo.

A Criminalística buscou na Balística o apoio necessário para a elucidação

dos crimes feitos por armas de arremesso, criando assim a Balística Forense,

que, segundo Rabello, “é aquela parte do conhecimento criminalístico e médico

legal que tem por objeto especial, o estudo das armas de fogo, da munição e

dos fenômenos e efeitos próprios dos tiros destas armas, no que tiverem de útil

ao esclarecimento e à prova de questões de fato, no interesse da justiça tanto

penal como civil.”

A Balística Forense pode ser dividida em:

Balística Interna, que trata das armas de fogo, das munições, do

mecanismo do disparo e do movimento do projétil dentro do cano;

Balística Externa, que trata do movimento do projétil no ar10, sofrendo a

ação da força da gravidade.

Balística Terminal, que trata dos efeitos do projétil a partir do momento

que ele impacta conta uma estrutura material

7 Para Eraldo Rabello, Balística Forense, 3ª Edição, Sagra-Luzatto, Porto Alegre, 27, “arma é

todo objeto concebido e executado com a finalidade específica ou predominante de ser utilizada

pelo homem para o ataque ou a defesa.” 8 NA. A Criminalística, como qualquer outra disciplina, usa termos específicos e restritos,

assim, disparo é a ação eficaz dos mecanismos da arma no sentido de acionar a munição para

que a pólvora se expanda, tiro é a efetiva saída de projétil pelo cano. 9 Ver nota anterior.

10 Um projétil também por se deslocar em outro fluído como água, ou mesmo no vácuo, mas isto não será

tratado neste texto.

7

1.1. Armas de Fogo

É provável que o nome “arma de fogo” venha da chama produzida na

boca do cano por ocasião do disparo11.

Armas de fogo são máquinas térmicas que utilizam a força expansiva, dos

gases resultantes da combustão de algum tipo de pólvora, para expelir

projéteis. São desenhadas para ejetar projéteis potencialmente letais, a partir

de um cano, contra alvos selcionados. Para isto é preciso apontar, disparar,

produzir tiro e dar estabilidade a trajetória do projétil, usando para isto um

propelente que produz expansão súbita de gases por queima. Existem outros

meios de fornecer energia para um projétil sair do cano, por exemplo, por ar

comprimido, gás ou por molas. Estas armas não são armas de fogo no sentido

estrito do termo. Não são normalmente utilizadas para a prática de crime,

sendo mais utilizadas para esporte ou caça leve, mas podem ser objeto de

atenção da ciências forenses em situações especiais.

O meio quase universal para propelir o projétil é a pólvora. Ora, pólvora

não é uma substância pura, mas sim um nome genérico para centenas de

misturas diferentes utilizadas como propelente para projétil12.

Armas de fogo podem ter características diferentes, tais como a

capacidade de carregar mais de um cartucho, melhor capacidade de recarga,

carregamento e ejeção automática ou mais de um tiro no mesmo pressionar do

gatilho. Isto tudo são apenas refinamentos do projeto básico. Na sua forma

mais simples, uma arma de fogo pode ser um tubo de metal com uma

extremidade fechada, com algum propelente que, com a queima, produz

pressão de gás o suficiente para expelir um projétil, ou projéteis, para fora do

cano, devendo este ter energia suficiente para ferir, incapacitar ou mesmo

matar um ser humano, ou o animal ao qual se destina, no caso de armas de

caça. Após sete séculos de aperfeiçoamento, hoje, existem armas capazes de

produzir até 1.500 tiros por minuto ou capazes de, com o auxilio de um mira

telescópica, matar um vítima selecionada a uma distância 1.000 m ou mais13.

Armas de fogo são relativamente baratas, confiáveis, mortais e possuem

muitos usos: esporte, guerra, defesa pessoal, caça, policiamento e também

11 Wallace. P. 3.

12 Wallace P. 4.

13 Wallace P.5.

8

para crimes, no caso de uso disvirtuado da arma. Além disto são encontradas

em adundância na maior parte do mundo. Em alguns países o armamento

chega a ser geral e compulsório, pela necessidade das políticas vigentes de

defesa nacional, como, por exemplo, Israel e Suiça. Entretanto, em qualquer

parte do mundo, a maioria, mas não todas, das armas utilizadas para a prática

de crime, são, ou estão, em situação ilegal14.

1.1.1. Raias

O cano de uma arma de fogo é um tubo geralmente construído em aço ou

em ligas com aço. A superfície interna do cano de revólveres, pistolas,

carabinas, fuzis, rifles e metralhadores possuem um número de sulcos em

espiral, conhecidos como raias15.

As áreas entre duas raias são chamadas de cheio e a finalidade destes é

produzir sulcos helicoidais no projétil, os cavados, que fazem com o que o

projétil gire em torno do seu eixo longitudinal, este movimento mantém a

direção do projétil16.

As armas que apresentam sulcos na superfície interna do cano são

denominadas armas de cano de alma raiada. As armas que não possuem

estas raias são as ditas de cano de alma lisa, usadas para expelir projéteis

esféricos, ou, no caso de alguns balotes, o projétil tem seus cavados

produzidos por usinagem.

As raias do cano imprimem ressaltos nos projéteis e os cheios

produzem cavados nos projéteis.

O projétil, ao transpor o cano da arma, deixa marcado em sua superfície

características (micro-elementos) da superfície interna desse cano, o que

permite a identificação indireta da arma.

Espingardas não têm raias e são conhecidas como armas de alma lisa.

14

Wallace P. 5. 15

Wallace P. 8. 16

Wallace P. 8

9

Figura 2 Calibre real em canos raiados.

1.1.2. Calibre

O calibre real de uma arma de fogo é baseado no diâmetro interno do

cano, medido entre dois cheios opostos. Esta é apenas uma definição

simplificada e dá apenas uma aproximação do diâmetro do projétil. Este

normalmente é um pouco maior que o diâmetro interno do cano. O calibre da

munição, quando a mesma é de origem norte-americana, é dado em

polegadas, quando é de origem alemã, ou russa ou , mais recentemente da

OTAN, é dado em milimetros. Os calibres usuais para revólveres (uma

invenção norte-americana) são 0,22", 0,32", .38", 0,357", 0,44’ e 0,45"17. Para

pistolas temos calibres tanto em polegadas - .22’’. .32’’, .38’’, .380’’, .40’’ e .45’’

– como em milimetros: 6.35 mm, 7.64 mm, 9 mm. Apenas para citar os mais

usuais.

Há muitos outros calibres existentes. Na verdade, calibre é um termo

confuso, com os diversos calibre representando mais tradição histórica do que

17 NA. Na maior parte da literatura temos simplesmente: 22, 32, 38, 357 magnum, 44 e 45.

10

propriamente uma metodologia rigorosa. Não vamos aqui tratar deste assunto,

mas o eventual leitor pode consultar a bibliografia citada, sem esquecer de

visitar o monumento de Rabelo.

Exceções são as espingardas e os pistolões, onde calibre ou gauge se

refere ao número de esferas de chumbo, de diâmetro igual a diâmetro interno

do cano, que podem ser feitas com uma libra de chumbo. Os calibres mais

populares são 12, 16 e 20. Desta forma, quanto menor o calibre, maior é

diâmetro interno do cano. Por outro lado, algumas espingardas, de diâmetro de

cano menor, têm calibre assinalado pelo diâmetro interno do cano, como, por

exemplo, a 0,410’’18.

Para complicar ainda mais o quadro já confuso, a Taurus fabrica um

revólver, calibre 32 gauge, com opções de cano liso ou cano raiado, podendo

diparar, tanto munição de bagos, quanto convencional19.

Há muitos outros calibres existentes. Na verdade, calibre é um termo

confuso, com os diversos calibre representando mais tradição histórica do que

propriamente uma metodologia rigorosa. Não vamos aqui tratar deste assunto,

mas o eventual leitor pode consultar a bibliografia citada, sem esquecer de

visitar o monumento de Rabelo.

1.1.3. Munição

Em praticamente 100% dos casos, a munição das armas de fogo

modernas são cartuchos, com a única exceção para um tipo especial de

munição experimental alemã sem estojo. Cartucho é um estojo que contém

carga iniciadora, propelente e projétil. O termo “bala” é, às vezes, utilizado

como sinônimo de cartucho. Exemplo disto é a expressão pueril “Eu tenho bala

na agulha”, onde agulha se refere ao percutor. Bala também pode se referir,

popularmente, ao projétil, sendo assim um termo ambíguo. De qualquer forma

a linguagem técnica deve ser precisa e, assim, o termo bala deve ser evitado

em documentos de natureza criminal, salvo em oitivas ou citados destas20.

18 Major Sir Gerald Burrard, The Modern Shotgun, vol. 1, The Gun (Southampton, UK: Ashford Press,

1985), 17. Apud. Wallace. P. 8 . 19 www.taurus.com.br.

20 Wallace. P.9.

11

Os cartuchos para espingardas são normalmente feitas de plástico ou

papelão, com uma base de metal, entretanto ainda são encontrados os com

estojo totalmente metálico, próprios para recargas21.

Figura 3 Munições típicas22

Apesar de a arma de fogo já existir há uns 700 anos, o cartucho é

relativamente recente, tendo apenas uns 160 de história em seus tipos

primitivos. O cartucho metálico atual somente foi aperfeiçoado há cerca de 120

anos e as munições de alta velocidade, com pólvora sem fumaça são do

começo do século XX23.

Antes da invenção do cartucho, as armas eram carregadas pela boca

(antecarga), com cada um dos componentes da munição e suas respectivas

buchas, carregadas separadamente, com a evidente demanda de precioso

tempo e posicionamento do atirador em pé, para realizar esta operação. Outro

aspecto a considerar era que o carregamento era influenciado pela ocorrência

de chuvas24.

O primeiro cartucho (Guerra dos Trinta Anos) era uma espécie de “refil”

com um pacote de papel, já com a medida certa de pólvora, atado ao projétil. O

atirador rasgava o papel com os dentes e municiava a arma de maneira

21 Wallace. P.9.

22 Wallace. P. 9.

23 Frank C. Barnes, Cartridges of the World, 3rd ed. (Digest Books). Apud Wallace. P. 23.

24 Wallace. P. 24.

12

habitual. Logo o papel comum foi substituído por papel tratado com nitratos

para queima completa e contra absorção de umidade. Também foram

utilizados intestinos de animais (tripa) e outros materiais. Entretanto o primeiro

“cartucho completo” somente surgirá com a invenção de Pauly, em 180825.

Este foi um dos desenvolvimentos mais importantes da história de arma de

fogo. No entanto, o sistema, talvez por necessitar de armas específicas para o

seu uso (retrocarga), talvez pelo fato de o exército prussiano desenvolver

outra opção, não teve aceitação generalizada de imediato26.

Figura 4 Cartucho de Pauly, conforme Wallace.

O próximo cartucho inventado foi o de Dreyse, em 1831, de papel, onde a

carga iniciadora era colocada no “meio” do cartucho e não em sua extremidade

posterior. Para acionar o fulminante era necessário um longo percutor em

forma de agulha. Daí o nome “fuzil de agulha” para as armas do exército

prussiano que utilizavam esta munição27.

25

Wallace. P. 24. 26

Wallace P. 24. 27

Wallace. P.26.

13

Figura 5 Cartucho de Dreyse, conforme Wallace. Até 1846, todos os cartuchos apresentavam o problema de retorno de

uma quantidade grande demais de gases pela culatra. Este problema foi

resolvido com a substituição dos estojos de papel por estojos de metal (cobre,

latão ou bronze) que se expandem rapidamente no momento da explosão e

vedam as paredes laterais da câmara28.

Outro passo foram os cartuchos com carga iniciadora radial, ainda hoje

utilizada em munição .22’’, desenvolvidos a partir de Houllier, em 1846, os

quais se tornaram populares a partir de 1854, com a produção em massa de

variedades destes calibres, pela Smith & Wesson. Entretanto, o uso de pólvora

cada vez mais potente passou a inviabilizar este tipo de munição para calibres

maiores que 22, pois a parede posterior do cartucho tinha que ser,

necessariamente fina, para permitir a percussão, e assim, não resistia às altas

pressões das novas pólvoras. A partir de 1854, a mesma Smith & Wesson,

ressuscitou o velho projeto de Pauly e passou a fabricar sua própria versão de

cartuchos com carga iniciadora central, dando seqüência aos cartuchos

atuais29.

28

Wallace. P.25. 29

Wallace. P.25.

14

1.1.4. Estojo

O estojo é projetado para acondicionar de forma segura, o projétil, o

propelente e a carga iniciadora. O design no estojo é afetado por vários fatores,

sendo os mais importantes o papel que se espera da munição, o tipo de arma,

o tipo de ignição (Boxer ou Berdan). A grande maioria dos estojos é feitos de

alguma liga de cobre, 70% (com variação encontrada de 65% a 74%) de cobre

e 30% de zinco (latão), 90% de cobre e 10% de zinco, 80% de cobre e 20% de

níquel, mas também são encontrados aços revestidos com latão, cobre ou laca,

alumínio, alumínio revestido de teflon e também estojos de papelão e plástico.

Estes últimos muito comuns em armas de caça.

Quando um tiro é produzido, a pressão interna e também o aumento da

temperatura fazem a expansão do estojo contra a câmara. Esta função

(obturação) é extremamente importante, pois impede a perda de pressão e,

portanto, perda de energia do projétil. No caso de armas automáticas, o latão

utilizado deve ser elástico o suficiente para voltar ao tamanho original

rapidamente, facilitando assim a retirada do estojo da câmara.

Em segundo lugar em popularidade, atrás do latão vem o aço. Uma

especificação típica de aço para estojo é 0,08% a 0,12% de carbono, 0,25% de

cobre, 0,6% de manganês, 0,035% de fósforo, 0,03% de enxofre e 0,39% a

0,12% de silício30.

Outro aspecto de grande interesse são as marcas do fabricante

estampadas na base do estojo. Entretanto, elas não têm valor absoluto, pois

munição sem estampa é encontrada quando um governo, por razões políticas

ou econômicas, está apoiando a causa de rebeldes em outro país e fornecendo

munições. Por razões óbvias, a fonte de abastecimento é dissimulada, com

ausência de estampas, ou usando estampas falsas para colocar a culpa em

outro31.

30

Private communication, 1974. Wallace. P. 35. 31

P. Labbett, “Clandestine Headstamps,” Guns Review Magazine (February 1987): 128.Apud Wallace. P.

38.

15

1.1.5. Espoletas e Carga iniciadoras

De uma maneira geral, as cargas iniciadoras necessitam da ação de três

componentes:

• O iniciador - estifinato de chumbo, que detona quando é percutido pelo

percutor;

• O oxidante - nitrato de bário, que fornece o oxigênio necessário para a

queima do combustível;

• O combustível - sulfeto de antimônio, que queima (se oxida) a uma taxa

muito elevada, fornecendo energia para inflamar a pólvora, um componente

bem mais estável, que vai fornecer gases em expansão súbita para impulsionar

o projétil.

As cargas iniciadoras são misturas que, quando submetidas à percussão,

detonam, fornecendo uma súbita explosão de chama que serve para inflamar o

propelente do cartucho (pólvora). A carga iniciadora deve produzir um volume

grande de gases quentes e partículas sólidas quentes32.

A carga iniciadora ideal deve ser barato, fácil de obter, relativamente

seguro de usar, granulação uniforme e deve desencadear uma reação

altamente exotérmica quando sob o choque de um percutor. A sustância mais

parecida com isto é o dinitroresorcinato de chumbo, mas este é muito sensível.

Na prática não há substância pura que possa preencher os requisitos de uma

carga iniciadora e, desta forma, os armeiros necessitaram experimentar

misturas e granulações adequadas33.

A taxa de queima, o volume dos gases gerados e o peso das partículas

produzidas e a duração da chama são os fatores mais importantes. Em uma

composição típica, com 0,15 g de carga iniciadora, teríamos 1,5 cm3 de gases

e o volume de partículas incandescentes transportadas por este gás quente

chega ser até 70% da carga iniciadora. A função destas partículas é ir

promovendo a ignição do propelente que encontrar pelo caminho. As cargas

iniciadoras típicos têm um tempo de rajada efetiva na ordem de 400 a 750

microssegundos e com duração total de 650 a 1500 microssegundos34.

32

Wallace. P. 39. 33

Wallace. P.41. 34

Kirk-Othmer Encyclopedia of Chemical Technology, 2nd ed., 8 (New York: Wiley–Interscience), 654.

Apud Wallace. P.56.

16

De um modo geral, cargas iniciadoras de armas pequenas consistem na

mistura equilibrada de um iniciador, um oxidante pra fornecer oxigênio, um

combustível, um atritante para melhorar as qualidades mecânicas da mistura,

um catalisador e um aglomerante.

Iniciadores utilizados incluem azidas, fulminatos, compostos nitrosos,

azida de prata, azida de chumbo, fulminato de mercúrio, estifinato de chumbo,

TNT e PETN (que também funcionam como catalisadores). Todo o iniciador

deve ter a característica de se desestabilizar quando impactado (detonar).

Oxidantes, com a função de fornecer oxigênio para a reação, incluem o

nitrato de bário, o cloreto de potássio, o dióxido de chumbo, e nitrato de bário.

Os combustíveis utilizados incluem o sulfeto de antimônio (que também

atua como um atritante), goma arábica (que também atua como aglomerante),

siliceto de cálcio (que também atua como um atritante), nitrocelulose, tiocianato

de carbono, metais em pó, tais como alumínio, magnésio, zircônio, ou as suas

ligas.

Atritantes incluem o vidro em pó, o alumínio em pó (que também atua

como combustível).

Catalisadores, como o TNT e o PETN, este último também funcionando

como iniciador.

Aglomerantes, como a goma arábica e outras gomas, colas, alginato de

sódio, cimento e borracha35.

Em 1805, o reverendo Alexander Forsyth criou a primeira carga iniciadora,

baseado em fulminato de mercúrio. Desde lá tem havido uma evolução que

continua em andamento, mas os fabricantes de munição em qualquer parte do

mundo são muito relutantes em revelar suas formulações ou mesmo quaisquer

aspectos dos seus negócios, conseqüentemente, as informações sobre o

assunto e, portanto, sobre os resíduos de tiro, são escassas e fragmentadas na

literatura36.

Até 1806 todas as armas de fogo eram descarregadas com a ação de

uma chama diretamente na pólvora, ou usavam pederneira, que nada mais é

que uma pedra de sílex, o sílex pirômaco, que produz uma faísca ao ser batida

35

Wallace. P. 40. 36

Wallace. P. 41.

17

com uma peça de ferro37. Em 1806 apareceram as primitivas espoletas feitas

de fulminato de mercúrio, introduzidas por Forsythe, onde o fulminato de

mercúrio era acondicionado em frascos pequenos de vidro. O sistema não teve

grande aceitação por ser muito instável. Em 1807, Forsythe introduziu uma

fórmula de “espoleta” que consistia de 70,6 partes de clorato de potássio, 17,6

partes de enxofre e 11,8 partes de carvão vegetal, havendo, inclusive autores

que duvidam do uso de fulminato de mercúrio por este inventor. Embora fosse

mais estável que a anterior, se mostrou muito corrosiva38 39.

A primeira espoleta, um corpo com a carga iniciadora dentro, instalado na

região posterior do cartucho, foi produzido por Joshua Shaw em 1814,

utilizando fulminato de mercúrio e, em 1818, substituído por uma mistura de

fulminato de mercúrio, cloreto de potássio, enxofre e carvão. A novidade

agradou, mas, por ser muito corrosiva, exigia a limpeza da arma logo após o

tiro40.

Em 1828, von Dreyse patenteou o “fuzil de agulha”, uma arma eficaz de

retrocarga, onde a munição tinha a seguinte ordem de montagem: papel,

pólvora, espoleta e projétil. Um longo percutor, na forma de uma agulha,

perfurava o papel e a pólvora para então atingir a espoleta, que era uma

mistura de clorato de potássio e sulfeto de antimônio. A arma fez sucesso no

exército prussiano, pois, apesar de complicada e sensível, podia ser municiada

com o atirador agachado ou deitado, ao contrário das armas de antecarga de

então, que exigiam que o soldado ficasse em pé, ou pelo menos ajoelhado,

para carregar a arma de tiro unitário41.

Com a melhoria na purificação do fulminato de mercúrio, em 1873, o

exército americano passou a utilizar uma carga iniciadora que envolvia uma

mistura de fulminato de mercúrio, cloreto de potássio, pó de vidro e goma

arábica. Esta mistura sofria dois grandes inconvenientes:

i) o mercúrio tende a fragilizar o latão dos estojos, o que produzia os tais

tiros “que saiam pela culatra” (na verdade, fragmentos do estojo);

37 NA. Antes da invenção do fósforo está era a forma mais prática de se obter fogo e a peça de ferro ou

aço que batia na pedra era chamada de fuzil, em português, daí o nome consagrado, no português da

América do Sul, para certas armas de cano longo. 38

Heard. P. 87 39

G. R. Styers, “The History of Black Powder,” AFTE Journal 19 (4) (October 1987): 443. Dr. T. L.

Davis, Chemistry of Powder and Explosives (New York: John Wiley & Sons), 42. Apud Wallace. P.43. 40

Heard. P. 87. 41

Heard. P. 87.

18

ii) o clorato de potássio deixava resíduos extremamente corrosivos no

cano da arma após o tiro;

iii) o mercúrio fazia uma amalgama com o zinco do latão, destruindo o

estojo, o que invabilizava a recarga, essencial, na época, por razões

econômicas

Devido a estes dois problemas iniciou-se a busca de uma carga iniciadora

sem mercúrio e não corrosivo. Numa primeira tentativa usou-se clorato de

potássio como ingrediente principal, mas como este é bastante instável e

absorve água da atmosfera, gerando também corrosão, o mesmo foi

abandonado42. Outra tentativa foi o uso de estojos de cobre e outra foi o

envernizamento interno do estojo, a partir de 1869, com o trabalho de Hobbs43.

Na época da pólvora negra, uma grande quantidade de residuos era

depositada no interior do cano, pois na combustão resultava 44% do peso

original em gases quentes e 56% em resíduos sólidos, provocando uma densa

nuvem de fumaça branca em qualquer lugar de tiroteio44 Quando as pólvoras

sem fumaça foram introduzidas entre 1870 e 1890, outro grande problema foi

encontrado, pois estas pólvoras são bem mais dificeis de inflamar que a

tradicional pólvora negra, então, conseqüentemente, maiores cargas de priming

se fizeram necessárias. Entretanto, mesmo com limpeza mecânica do cano,

este “enferrujava”, pelas razões já expostas45.

Em 1891, a Rheinische-Westfälische Sprengstoff-AG foi a primeira a dar

uma solução razoável para o problema, com a substituição do clorato de

potássio pelo nitrato de bário, formulando uma carga iniciadora com a seguinte

composição: 39% de fulminato de mercúrio de 39%, 41% de nitrato de bário;

9% de sulfeto de antimônio, 5% de ácido pícrico e 6% de pós de vidro46.

Outras mudanças ocorreram e a partir de 1928, o estifinato de chumbo

passou a ser utilizado como o principal componente explosivo da carga

iniciadora, estando consolidada a era do “tiro sem ferrugem”, eliminando tanto

a corrosão dos estojos, quanto a corrosão do cano 47, com a patente, pela

42

Heard. P. 87 43

Wallace. P.43. 44

Dr. T. L. Davis, Chemistry of Powder and Explosives (New York: John Wiley & Sons), 42.. Apud

Wallace. P.43. 45

Wallace. P.43. 46

Wallace. P.46. 47

Heard. P. 88.

19

mesma RWS, em 1928, do "Sinoxyd" (Sinoxide / Sinoxid), com a seguinte

composição:

Estifinato de Chumbo - 25% a 55%;

Nitrato de bário - 24% a 25%;

Sulfeto de antimônio - 0% a 10%;

Dióxido de chumbo - 5% a 10%;

Tetraceno - 0,5% a 5%;

Siliceto de Cálcio - 3% a 15%;

Vidro em pó - 0% a 5%48.

Nos Estados Unidos, as primeiras cargas iniciadoras não corrosivas e sem

mercúrio foram comercializados a partir de 1935, entretanto não foram

aprovados pelas especificações militares acerca de segurança, de eficácia e de

prazos de validade para munição estocada; Assim as corrosivas misturas de

clorato continuaram a ser utilizadas durante a II Guerra Mundial49. No Reino

Unido, a mudança para estifinato de chumbo somente se deu na década de

1960. Estes tipos mais antigos de carga iniciadora talvez seja a origem do

costume de nossos pais e avós de fazerem periódicas e metódicas limpezas

nas armas50 51.

Atualmente existem centenas de patentes para composições de carga

iniciadoras, o que ilustra a quantidade de pesquisas nesta área, entretanto, nos

Estados Unidos e no Reino Unido, a grande maioria das munições

modernas ainda mantém o padrão Sinoxyd, com estifinato de chumbo e nitrato

de bário perfazendo de 60% a 80% do peso total da carga iniciadora52.

Também ocorre que algumas nações do antigo bloco soviético ainda

fabricam cargas iniciadoras baseados em fulminato de mercúrio e cloreto de

potássio53, podendo as mesmas chegar a nosso país através de contrabando.

No início da década de 2000, a composição de carga iniciadoras mais

comumente encontrada é uma composição de estifinato de chumbo, de

nitrato de bário, de sulfeto de antimônio e de tetrazina. Nesta composição,

estifinato de chumbo e a tetrazina são detonantes, isto é, explodem quando

48

Wallace. P. 46. 49

Wallace. P.47. 50

Heard,. P. 88. 51

Wallace. P.57. 52

Wallace. P. 53. 53

Wallace. P. 53.

20

lhes é aplicada pressão, o nitrato de bário fornece oxigênio adicional para a

queima e o sulfeto de antimônio age como um combustível para prolongar a

mesma. Alumínio e, ocasionalmente, o magnésio, metais com grande afinidade

com o oxigênio, também podem ser encontrados, principalmente em munições

do tipo magnum ou para fuzis. Vidro em pó também pode ser adicionado por

existirem fabricantes que acreditam que isto pode ajudar na detonação.

Modernas munições de calibre .22’’ (carga iniciadora radial) têm composição

ligeiramente diferente das demais, sendo, normalmente, compostas de

estifinato de chumbo, nitrato de bário, tetrazina e pó de vidro54. São as

chamadas cargas iniciadoras de dois componentes (chumbo e bário), mas

cargas iniciadoras com três componentes (chumbo, bário e antimônio) também

são encontradas para este tipo de munição55.

Cargas iniciadoras sem chumbo começaram a se tornar necessários a

partir da década de 1970, com relatos de saturnismo56 em pessoal ligado a

instalações de treinamento. Embora uma grande proporção do chumbo

contaminante deva vir dos projéteis, uma parte, com certeza, era proveniente

da carga iniciadoras que continham estifinato de chumbo57·.

O US National Bureau of Standards, após estudos, concluiu que, no caso

de uso de carga iniciadoras com chumbo, 80% de chumbo no ar, em locais de

treinamento, era proveniente do projétil não jaquetado, e apenas 20% seriam

54

Heard. P. 88. 55

Wallace. P. 56. 56 Saturnismo é a intoxicação por chumbo. Os sintomas iniciais são freqüentemente sutis e inespecíficos

envolvendo o sistema nervoso (fadiga, irritabilidade, distúrbios do sono, cefaléia, dificuldades de

concentração, redução da libido), gastrointestinais (cólicas abdominais inespecíficas de fraca intensidade,

anorexia, náusea, constipação intestinal, diarréia) e dor em membros inferiores. As manifestações clínicas

evoluem de forma insidiosa e muitas vezes trabalhadores com evidências laboratoriais inequívocas de

exposição apresentam-se assintomáticos. Quadros crônicos de maior gravidade manifestam-se por meio

de nefropatia com gota (redução da eliminação de uratos) e insuficiência renal crônica, encefalopatia

crônica com alterações cognitivas e de humor, e neuropatia periférica. Intoxicações agudas decorrentes de

exposições intensas por períodos curtos são excepcionais. Habitualmente, os quadros agudos surgem no

curso de intoxicações crônicas e se caracterizam por encefalopatia aguda (confusão mental, cefaléia,

vertigens e tremores aos quais se seguem convulsões, delírio e coma), neuropatia periférica grave com

paralisia de músculos cuja inervação foi fortemente atingida (geralmente o nervo radial). Os quadros

agudos podem cursar ainda com cólicas abdominais difusas de forte intensidade (muitas vezes

acompanhadas de constipação intestinal, hipertensão arterial, ausência de leucocitose ou alterações no

exame do abdome e excepcionalmente febre). Este último quadro, também chamado de cólica saturnina

constitui uma importante forma de manifestação da intoxicação. São relatados ainda quadros de

nefropatia aguda com tubulopatia proximal com aminoaciduria, fosfatúria e glicosuria (síndrome de

Fanconi). Silveira, Andréa Maria. Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos ao Chumbo Metálico.

Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.

Brasília, 2006. P.14. 57

Heard, P. 88.

21

provenientes dos carga iniciadoras. A abrasão do projétil, provocada pelos

ressaltos, foi apontada como a grande produtora de chumbo atmosférico.

Entretanto é necessário dizer que o ar não é a única forma de entrada de

chumbo no organismo e a deposição de GSR com chumbo nas mãos pode

também ser contaminante. A mudança para um projétil com jaqueta de cobre

ou zinco foi fácil para reduzir o chumbo atmosférico, mas encontrar uma carga

iniciadora sem chumbo, sem mercúrio e não corrosiva foi mais difícil 58.

O problema da carga iniciadora começou a ser resolvido no início da

década de 1980, quando a Geco (Gustav Genschow & Co) e a Dynamit Nobel

AG lançaram carga iniciadoras com composição de zinco e titânio, o chamado

Sintox59 (marca registrada da Nobel). A partir daí, houve uma série de cargas

iniciadoras isentas de chumbo, fornecidos pelas empresas CCI, Blazer, Fiocchi,

Speer, Federal e Winchester.60 A composição exata destas cargas iniciadoras

não é conhecida, pois se trata de propriedade industrial, mas estudos com

MEV indicam a presença de estrôncio na munição Speer e Blazer, potássio na

munição Winchester e cálcio e silício nos cartuchos Federal. A maioria das

formulações mais recentes de carga iniciadora contém um iniciador (detonante)

composto de um explosivo chamado Dinol, nome comercial do DDNP

(diazodinitrofenol) 61.

Na atualidade as cargas iniciadoras sem chumbo são tão eficientes

quanto os tradicionais e é provável que venham a substituir esses no futuro62.

No momento (2008) temos como iniciadores, além dos já citados

dinitrodihydroxydiazobenzeno (diazinate), dinitrobenzofuroxan, potássio

dinitrobenzofuroxan, diversos compostos diazo, triazos e tetrazaole,

percloratos, nitratos, ou hidrazina. Os fornecedores de oxigênio incluem: óxido

de zinco, nitrato de potássio, nitrato de estrôncio, peróxido de zinco. Os

combustíveis incluem boro amorfo, pós metálicos, como alumínio, zircônio,

titânio, níquel e zinco, carbono, silício, sulfetos metálicos como sulfeto de

58

Heard. P. 88. 59

A mistura Sintox contém tetracene, peróxido de zinco, diazole, titânio em pó e nitrocelulose, conforme

R. Hagel, and K. Redecker, “Sintox—A New, Non-Toxic Carga iniciadora Composition by Dynamit

Nobel AG,” Propellants, Explosives, Pyrotechnics 11 (1986): 184. Apud Wallace. P.56. 60

Haag , L. ( 1995 ) American Lead Free 9 mm - P Cartridges . AFTE Journal , 27 , 2 . Apud Heard.

P.88. 61

Heard, P. 88. 62

Wallace. P.55.

22

antimônio, sulfeto de bismuto, sulfeto de ferro e sulfeto de zinco, composto de

silício e cálcio e silício e cobre.63.

Uma das razões para a variação na composição da carga iniciadora é a

diversidade nas especificações acerca da sensibilidade, ou seja, o quanto de

pressão é necessário aplicar para detonar o cartucho, havendo, inclusive,

diferenças entre os padrões militares e comerciais Por exemplo, no Reino

Unido, o padrão comercial para a 9 mm Parabellum define que a carga

iniciadora deve detonar quando é impactado por uma esfera de 57 g de aço,

em queda livre de uma altura de 330 mm a 203 mm, ou seja, se detonar com

altura superior a 330 mm, então é considerado de pouca sensibilidade e sujeito

a falhas, por outro lado, se detonar com uma altura menor que 203 mm, será

considerado muito sensível e, portanto, sujeito a acidentes. Já o padrão militar

da OTAN, organização da qual o Reino Unido faz parte, para munição de

mesmo calibre, diz que as cargas iniciadoras devem ser acionadas quando um

pino de disparo é impactado por uma esfera de aço de 1,94 onças (55 gramas)

em queda livre de uma altura entre 12 e 3 polegadas (30,48 e 7.62 cm). Deve-

se notar que a sensibilidade da carga iniciadora militar será sempre menor do

que a da carga iniciadora para defesa pessoal, dadas as condições mais

severas de utilização da arma por militares64.

Nas munições de fogo radial a carga iniciadora está acondicionada

dentro do estojo nas bordas da base. Porém, nas munições de fogo central, a

carga iniciadora está posto dentro de um pequeno estojo encaixado. Este

“estojo” é chamado de espoleta em português e, por extensão, é também

chamado de espoleta o seu conteúdo, embora isto esteja em desacordo com o

rigor da técnica.

O corpo da espoleta é geralmente feito em latão, como os estojos. Não

obstante, são também encontrados cobre, cuproniquel (70% Cu, 30% Ni),

outras ligas de cobre e aço revestido com zinco, com a ressalva que o uso de

propelentes com pressão cada vez maior tornam o cobre macio adequado

apenas para munição de baixa pressão65.

63

Heard. P. 88. 64

Heard. P. 89. 65

Wallace. P.39.

23

Quanto ao aspecto construtivo, existem dois tipos principais de

espoletas: o Berdan e o Boxer. O Berdan é mais utilizado nos países europeus

e o Boxer é mais utilizado nos Estados Unidos e no Brasil. A única diferença é

a bigorna. No Berdan a bigorna faz parte do estojo e no Boxer a bigorna é parte

integral da espoleta. O Boxer apresenta a vantagem de ser passível de

substituição, o que pode ser útil no caso de munição militar66.

De um modo geral as espoletas para munição destinadas às armas de

cano curto e as para de cano longo, diferem no tamanho, na estrutura, na

quantidade e na composição da carga iniciadora. Espoletas para munições de

revolveres e pistolas variam entre 0.175’’ a 0.210’’ (4,44 mm a 5,33 mm) e as

destinadas a munições para cano longo variam entre 0,240’’ a 0,245’’ (6,1 mm

a 6, 22 mm) de diâmetro. Nada, entretanto, impede a exceção67.

Embora as espoletas para as munições de pistolas e revólveres possam

ter o mesmo diâmetro que as para armas de cano longo, estas têm maior

espessura da parede para resistir à maior pressão do percutor destas armas e

também possuem maior quantidade de carga iniciadora. A massa de carga

iniciadora pode variar de desde 0,013 g até 0,352 g, mas o corriqueiro é na

faixa de 0,05 g até 0,12 g68.

Então, de um modo bastante geral, se diz que a carga iniciadora deixa

resíduos de chumbo, bário e antimônio nas mãos do atirador. A razão disto se

dá pela presença típica, mas não obrigatória, destes componentes nos

iniciadores. Entretanto, qualquer conclusão acerca de resíduos de tiro (GSR

Gunshot residue), para fins judiciais, deve ir muito além destas breves

colocações.

1.1.6. Descarga (Disparo e Tiro69)

O mecanismo de disparo de arma de fogo consiste de um dispositivo

mecânico que libera um golpe do martelo (também chamado cão) para frente e

66

Wallace. P.39. 67

Wallace. P. 40. 68

Wallace P. 40. 69 NA. Na literatura técnica produzida pelos peritos sulriograndenses, disparo é o acionamento completo

do mecanismos necessário para detonar a espoleta. Tiro é a efetiva saída do projétil pelo cano da arma.

24

contra um pino que percute a carga iniciadora. Em algumas armas de fogo, o

martelo e o percutor formam uma única peça70.

Na base do cartucho temos uma mistura de substâncias químicas, a carga

iniciadora, que tem a propriedade de entrar em rápida queima, quando é

impactado. A queima de carga iniciadora produz um grande número de

partículas quentes, ou em chama, que entram em contato com o propelente

que queima e produz um grande volume de gases que, no espaço confinado do

estojo, resulta em enorme pressão sobre a base do projétil que é então

expelido para fora do cano. A alta temperatura e a pressão também dilatam o

diâmetro do estojo, que é pressionado contra as paredes da câmara, selando a

mesma e evitando fuga dos gases da queima, e perda de velocidade do

projétil71.

Uma arma de fogo deve ser de construção robusta, pois o tempo entre o

percutor atingir a carga iniciadora e o projétil sair pela boca do cano na ordem

de 0,01-0,03 segundos72. Na boca do cano, a velocidade do projétil varia desde

180 m/s (650 km/h) para revolveres com munição de baixa energia, até 1000

m/s (3800 km/h) para algumas armas de cano longo mais poderosas. As

temperaturas envolvidas estão na ordem de 3.000 ºC73 e as pressões internas

no cano são da ordem de 2,4 MegaPascal74. Os estojos devem estar também

aptos a trabalharem nestas condições75.

Outro aspecto de grande interesse são as marcas do fabricante

estampadas na base do estojo.

1.1.7. Pólvora A não ser para os estudiosos mais puristas da Balística pólvora e

propelente são palavras intercambiáveis, pois propelente é a mistura química

que, ao queimar, produz gases o suficiente para produzir o tiro. Existe e

existiram muitos tipos de propelente, mas todos acabam sendo referidos como

pólvora.

70

Wallace P. 10. 71

Wllace. P. 10. 72

Textbook of Small Arms (London: HMSO, 1929), 267. Apud Wallace P. 10. 73

C. L. Farrar, and D. W. Leeming, Military Ballistics—A Basic Manual (London: Brassey’s Publishers),

18. Apud Wallace. P. 10. 74

Major General J. S. Hatcher, Hatcher’s Notebook, 3rd ed. (Stackpole Books),198. Wallace. P. 10. 75

S. Basu, “Formation of Gunshot Residues,” Journal of Forensic Sciences 27, no 1 (1982): 72. P. 38.

25

1.1.7.1. Pólvora Negra

Uma mistura conhecida como pólvora virou de cima para baixo a arte da

guerra. Até então o guerreiro de contato, armado com espada, lança, martelo,

clava, com elmo, escudo e couraça, montado em um cavalo ou não, era o

elemento que efetivamente decidia as batalhas e ocupava o terreno. Os que

atiravam projéteis com arcos, fundas ou mãos, ou seja pedras, setas e lanças

de arremesso eram importantes, mas meros auxiliares, devendo fugir sempre

que atacados pelos primeiros. A partir da pólvora negra e da arma de fogo, o

guerreiro de contato passou perder importância, e o guerreiro capaz de matar à

ditância tornou-se cada vez mais importante da batalha. As tristes cargas de

baioneta da Primeira Guerra Mundial mostraram de forma bem cruel esta

realidade.

A pólvora negra é uma mistura de nitrato de potássio (salitre), carvão e

enxofre em proporções variáveis, sendo variáves também a sua granulação e a

a sua pureza. Uma composição atual típica76 é 75% de salitre 15% do carvão

vegetal e 10% de enxofre77. Misturas de salibre, carvão e enxofre já eram

usadas na China de na Índia desde a Antiguidade, para fins incendiários e

pirotécnicos muito antes de a pólvora ter sido utilizado no Ocidente, mas os

orientais nfizeram o desenvolvimento da arma de fogo propriamente dita.

No ocidente, o primeiro a relatar experiências com pólvoras foi o monge

Roger Bacon, que, entretanto, não associou pólvora com armamento. Este uso

da pólvora para arma de arremesso é geralmente creditado a outro monge,

Berthold Schwartz, no início do século XIV78. Com a pólvora negra nasceu a

artilharia moderna e os castelos e muralhas medievais perderam grande parte

da sua utilidade.

No século XIX a pólvora negra começou a ser gradativamente

substituída por outros propelentes, mas ainda pode ser encontrada em casos

de produção artesanal de munição.

76 NA. A pólvora negra é ainda utilizada por desportistas, por colecionadores, garimpeiros e outros.

77 T. L. Davis, Chemistry of Powder and Explosives, 3rd ed. (London: Chapman & Hall), 39. Apud Wallace. P. 13. 78

William Chipchase Dowell, The Webley Story (Leeds, UK: Skyrac Press), 179. Apud Wallace. P.13

26

1.1.7.2. Pólvoras Modernas

Propelentes para armas de uso individual podem ser definidos como um

“material explosivo que é formulado, projetado, fabricado, e comburido de tal

forma a permitir a geração de grandes volumes de gases quentes às taxas

controladas e pré-determinadas79”.

O propelente deveria ser, idealmente, uma substância pura, sólida, não

tóxica, estável, fácil de armazenar, de fácil ignição, de massa compacta,

barata, fácil de preparar a partir de materiais facilmente disponíveis, sem

produção de fumaça ou resíduos, completamente convertido em gases. Deve

conter seu próprio suprimento de oxigênio para poder queimar confinado na

câmara, deve queimar muito rapidamente, mas não detonar e deve ter uma

boa relação energia liberada por massa80.

Desta forma não é de se estranhar que nenhuma substância química

preencha todas estas especificações. Na prática os propelentes são o que

sempre foram: uma mistura de várias substâncias81.

Em qualquer lugar do mundo, os militares têm enorme peso nas

decisões das fábricas de munições e armas. Isto quando o exército não

mantém suas próprias fábricas. Assim as especificações de propelentes

seguem, em muitos aspectos, necessidades militares82.

De um modo geral o propelente real deve cumprir as especificações

abaixo83:

- Deve ser capaz de ser fabricado de forma simples, rápida, com relativa

segurança, a um custo razoável e com ingredientes que são facilmente obtidos

em tempo de guerra;

79

“explosive materials which are formulated, designed, manufactured, and initiated in such a manner as

to permit the generation of large volumes of hot gases at highly controlled, predetermined rates”,

conforme Kirk-Othmer Encyclopedia of Chemical Technology, 2nd ed., vol. 8 (New York: Wiley-

Interscience), 659. Apud Wallace. P. 57. 80

Wallace. P. 57. 81

Wallace. P.57. 82

Wallace. P.58. 83

Wallace. P.58.

27

- Deve ser fácil e seguro de transportar, não higroscópico, sem

possibilidade de autocombustão, sem produtos de queima que sejam difíceis

de remover ou prejudiciais à arma de fogo ou ao cartucho;

- Deve ter um desempenho apropriado em diferentes condições de

armazenagem e clima e deve ter um prazo de validade longo para ser estocado

para tempo de guerra;

- Também não deve entrar em combustão quando colocado em uma

arma já bastante quente pelos tiros anteriores (o que se aplica também às

cargas iniciadoras).

A relação energia liberado por peso / volume e taxa de produção desta

energia devem ser compatíveis com o sistema da arma (espaço disponível,

tamanho do cano) e da munição (tamanho do projétil e velocidade na saída do

cano). Consequentemente, existe uma vasta gama de propulsores para os

diferentes tipos de munições existentes84.

A taxa de queima é extremamente importante porque, se o propelente

liberar gases com muita velocidade, ele irá explodir a câmara ou o cano da

arma. Se a queima for muito lenta, será ineficiente, e o projétil irá sair do cano

com pouca energia. A velocidade de combustão é controlada pelo tamanho e

pela geometria dos grânulos individuais. Desta forma, o propelente raramente é

um pó, sendo fornecido, normalmente, em grânulos (grãos85). Em alguns

propelentes, os grãos são revestidos com moderadores, para diminuir a taxa de

queima86.

Propelentes modernos, para armas individuais, normalmente contém

nitrato de celulose plastificado (Nitrocelulose) como principal oxidante e vários

outros produtos químicos são adicionados para fins específicos, como a

Nitroglicerina e estabilizantes para a mesma. Os propelentes que contém

apenas nitrocelulose como oxidante são chamados “de base única”, os que

contêm nitrocelulose e nitroglicerina (ou algum outro explosivo plastificante)

são chamados “de base dupla”. “De base tripla” são aqueles que têm adição de

grandes quantidades de nitroguanidina, ou outra substância, aos dois

84

Wallace. P.58. 85

NA. Neste ponto é quase impossível não fazer confusão entre grão físico de pólvora com grãos,

unidade de medida usada para medir pólvora e que corresponde a 1/7000 libras. Também é possível

confundir grãos, símbolo gr, com grama, símbolo g, também usada para medir pólvora. 86

Wallace. P. 58.

28

anteriores. Este tipo de propelente, porém, não é normalmente encontrado em

armas pequenas87.

A percentagem de nitroglicerina, em propelentes de base dupla, pode

variar de 5% até 44%88.

Estabilizadores, ou conservantes, são necessários, pois a nitrocelulose

se decompõe com o tempo. Um produto usado para este fim é a difenilamina

ou seus derivados em propelentes de base simples Para propelentes de base

dupla ou tripla é comum utilizar a nitrodifenilamina, pois aquela é suspeita de

hidrolisar a nitroglicerina89.

Os propelentes modernos produzem relativamente poucos resíduos

sólidos e pouca fumaça na combustão. Os gases resultantes desta são,

principalmente, nitrogênio, monóxido de carbono, dióxido de carbono,

hidrogênio e vapor de água. A quantidade de pólvora "sem fumaça” varia de

acordo com o calibre, o peso do projétil, a pressão necessária para produzir

tiro, o espaço disponível no cartucho e assim por diante.90.

Abaixo temos a tabela de pólvoras do fabricante CBC, que é a munição

mais encontrada em cenas de crime no Rio Grande do Sul, onde se vê, na

prática, diferentes tipos de propelente de um mesmo fabricante.

Todas as pólvoras fabricadas pela CBC são de base simples (nitrocelulósicas) e produzidas com

87

Wallace. P. 61. 88

Wallace. P.66. 89

T. Urbanski, Chemistry and Technology of Explosives, vol. 3 (Oxford: Pergamon Press, 1967), 554.

Apud Wallace. P. 61. 90

Wallace. P.63.

29

tecnologia própria e equipamentos de ponta. Isso garante a qualidade e a uniformidade de suas características técnicas para os diferentes lotes de fabricação. O moderno laboratório da Fábrica de Pólvora da CBC realiza análises físicas e químicas dos componentes utilizados e do produto final. Por meio dessas avaliações, é possível determinar características como densidade gravimétrica, potencial energético, tempo de combustão e temperatura de iniciação. As pólvoras da série 100 são do tipo tubular monoperfuradas e destinam-se a armas longas raiadas. As da série 200 são do tipo disco ou disco compacto e destinam-se a armas longas não raiadas e armas curtas. Em função do desempenho das pólvoras CBC, são fixadas as cargas de projeção a serem utilizadas no carregamento das munições produzidas pela CBC. Esse esquema garante que essas munições fiquem dentro das especificações balísticas estabelecidas pela SAAMI e pela CIP, colocando as munições CBC nos padrões de qualidade entre as das melhores fábricas do mundo.

Grão

Pólvora Formato Diâmetro

Espessura mm

Comprimento

Densidade Gravimétrica Nominal - g/l

Tempo de Combustão

milissegundo

1 102 Tubular

Monoperfurado 0,70 - 1,30 900 ± 30 1,75

1 124 Tubular

Monoperfurado 1,20 - 2,30 930 ± 30 2,40

1 126 Tubular

Monoperfurado 0,70 - 1,30 900 ± 30 2,20

1 128 Tubular

Monoperfurado 1,00 - 1,60 900 ± 30 2,30

2 207 Disco Compacto 0,70 0,15 - 670 ± 30 0,75

2 210 Disco Compacto 0,70 0,15 - 670 ± 30 0,85

3 216 Disco 0,90 0,45 - 550 ± 30 0,35

3 219 Disco 0,95 0,45 - 570 ± 30 0,40

2 220 Disco Compacto 0,70 0,15 - 670 ± 30 0,95

2 221 Disco Compacto 0,70 0,15 - 670 ± 30 0,74

Pólvora Utilização

102 Munições para rifles e fuzis em calibres tais como o .223 Remington, e .308 Winchester.

124 Munição 7 mm Remington Magnum.

126 Munições de calibres como os .22-250 Remington, .30 Winchester, .243 Winchester, 7 mm Mauser, .30-06 e .300 Winchester Magnum.

128 Munição 6,5 x 55 mm Mauser.

207 Munições para armas curtas com características balísticas elevadas, tais como o 9 mm Luger, .38 Super Auto e .38 SPL +P.

210 Munições nos calibres .40 S&W, .380 Auto +P e 9 mm Luger.

216 Munições nos calibres convencionais de armas curtas, tais como o .25 Auto até o .38 SPL. Pode ser utilizado em cartuchos de caça calibre 12, 16 e 28.

219 Cartuchos de caça em todos os calibres. Pode ser utilizada também nas munições de calibres

30

.38 SPL, .45 Auto, .32-20, .38-40, e .44-40.

220 Munição .357 Magnum com projétil de 158 “grains” ou mais pesados e .44 Magnum.

221 Munição 9 mm Luger com projéteis leves (95/115 grains) e .40 S&W também com projéteis leves (155/160 grains).

Tabela de Carga

Pólvora Projétil Velocidade Provete

Tipo g grains Munição

Tipo Descrição g grains m/s pés/s cm pol.

1,580 24,4 .223 Rem ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 3,6 55 980 3.215 61 24

1,580 24,4 .223 Rem EXPT Expansivo Pontiagudo

3,6 55 980 3.215 61 24

2,830 43,7 .308 Win ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 9,7 150 854 2.802 61 24

2,830 43,7 .308 Win EXPT Expansivo Pontiagudo

9,7 150 854 2.802 61 24

2,650 40,9 .308 Win ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 10,5 162 750 2.460 61 24

2,640 40,7 .308 Win ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 11,7 180 792 2.598 61 24

102

2,640 40,7 .308 Win EXPT Encamisado Total

Pontiagudo 11,7 180 792 2.598 61 24

124 3,900 60,2 7 mm Rem Magnum

ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 11,3 175 845 2.772 61 24

2,350 36,3 .22-250 Rem EXPT Expansivo Pontiagudo

3,6 55 1.113 3.651 61 24

2,450 37,8 .243 Win EXPT Expansivo Pontiagudo

6,5 100 899 2.920 61 24

3,300 50,9 .270 Win EXPT Expansivo Pontiagudo

8,4 130 900 2.953 61 24

2,620 40,4 7 mm Mauser ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 10,4 160 762 2.500 61 24

2,230 34,4 .30 Win ETOG Encamisado Total

Ogival 9,7 150 655 2.194 61 24

3,450 53,2 .30-06 SPRG ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 9,7 150 884 2.900 61 24

3,450 53,2 .30-06 SPRG EXPT Expansivo Pontiagudo

9,7 150 884 2.900 61 24

3,250 50,1 .30-06 SPRG ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 11,7 180 792 2.598 61 24

3,250 50,1 .30-06 SPRG EXPT Expansivo Pontiagudo

11,7 180 792 2.598 61 24

126

4,500 69,4 .300 Win Magnum

ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 9,7 150 970 3.182 61 24

128 2,850 44,0 6,5 x 55 mm ETPT Encamisado Total

Pontiagudo 9,1 140 800 2.625 61 24

0,455 7,0 .38 SPL + P EXPP Expansivo Ponta

Plana 8,1 125 288 945

10,2-V

4-V

0,455 7,0 .38 SPL + P EXPO Expansivo Ponta Oca 8,1 125 288 945 10,2-

V 4-V

0,410 6,3 .38 SPL + P EXPP Expansivo Ponta

Plana 10,2 158 270 885

10,2-V

4-V

0,410 6,3 .38 SPL + P EXPO Expansivo Ponta Oca 10,2 158 270 885 10,2-

V 4-V

207

0,410 6,3 9 mm Luger ETOG Encamisado Total 8,0 124 335 1.099 10,2 4

31

Ogival

0,405 6,2 9 mm Luger CHOG Chumbo Ogival 8,0 124 335 1.099 10,2 4

0,345 5,3 .380 Auto+P ETOG Encamisado Total

Ogival 6,2 95 310 1.017 9,5 3,75

0,345 5,3 .380 Auto+P EXPO Expansivo Ponta Oca 6,2 95 310 1.017 9,5 3,75

0,375 5,8 9 mm Luger ETPP Encamisado Total

Plana 9,5 147 302 991 10,2 4

0,470 7,3 .40 S&W EXPO Expansivo Ponta Oca 11,7 180 302 990 10,2 4

210

0,470 7,3 .40 S&W ETPP Encamisado Total

Ponta Plana 11,7 180 302 990 10,2 4

0,075 1,2 .25 Auto ETOG Encamisado Total

Ogival 3,2 50 232 760 5,1 2

0,145 2,2 .32 Auto ETOG Encamisado Total

Ogival 4,6 71 276 905 10,2 4

0,145 2,2 .32 Auto EXPO Expansivo Ponta Oca 4,6 71 276 905 10,2 4

0,095 1,5 .32 S&W CHOG Chumbo Ogival 5,5 85 207 679 7,6 3

0,135 2,1 .32 S&W CHOG Chumbo Ogival 6,4 98 215 705 10,2-

V 4-V

0,100 1,5 .32 S&W CHCV Chumbo Canto Vivo 6,4 98 226 741 16,2 5,3

0,170 2,6 .32 S&W EXPO Expansivo Ponta Oca 6,4 98 236 774 10,2-

V 4-V

0,200 3,1 .380 Auto ETOG Encamisado Total

Ogival 6,2 95 290 951 9,5 3,75

0,200 3,1 .380 Auto EXPO Expansivo Ponta Oca 6,2 95 290 951 9,5 3,75

0,150 2,3 .38 SPL CURTO

CHOG Chumbo Ogival 8,1 125 209 685 10,2-

V 4-V

0,175 2,7 .38 SPL CHCV Chumbo Canto Vivo 9,6 148 246 806 10,2-

V 4-V

0,250 3,9 .38 SPL CHOG Chumbo Ogival 10,2 158 230 754 10,2-

V 4-V

0,240 3,7 .38 SPL CSCV Chumbo Semicanto

Vivo 10,2 158 235 771

10,2-V

4-V

0,750 11,6 28/63,5 VELOX Todos 15,5 239 360 1.181 66 26

1,200 18,5 16/70 VELOX Todos 27,0 417 360 1.181 71,1 28

1,610 24,8 12/70 F-150 7 1/2 24,0 370 415 1.361 76,2 30

1,470 22,7 12/70 F-150 L 7 1/2 24,0 370 395 1.296 76,2 30

1,610 24,8 12/70 S-150 9 24,0 370 410 1.345 76,2 30

1,480 22,9 12/70 D-150 8 1/2 24,0 370 415 1.361 76,2 30

1,430 22,1 12/70 D-150 L 8 1/2 24,0 370 395 1.296 76,2 30

1,420 21,9 12/70 T-200 L 7 1/2 e 8 32,0 494 370 1.214 76,2 30

1,450 22,4 12/70 C-25 5, 6 e 8 28,0 432 405 1.328 76,2 30

1,400 21,6 12/70 VELOX Todos 32,0 494 360 1.181 76,2 30

1,900 29,3 12/70 HI-

IMPACT Balote 28,4 438 450 1.476 76,2 30

1,560 24,1 12/70 HI-

IMPACT 3T 32,0 494 400 1.312 76,2 30

216

1,600 24,7 12/70 HI-

IMPACT SG 32,0 494 400 1.312 76,2 30

0,300 4,6 .38 SPL EXPP Expansivo Ponta

Plana 10,2 158 245 804

10,2-V

4-V

0,300 4,6 .38 SPL EXPO Expansivo Ponta Oca 10,2 158 245 804 10,2-

V 4-V

0,500 7,7 .44-40 WIN CHPP Chumbo Ponta Plana 13,0 200 363 1.190 61 24

219

0,420 6,5 .45 Auto EXPO Expansivo Ponta Oca 12,0 185 290 951 12,7 5

32

0,400 6,2 .45 Auto CSCV Chumbo Semicanto

Vivo 13,0 200 293 961 12,7 5

0,330 5,1 .45 Auto ESCV Encamisado Total Semicanto Vivo

14,9 230 236 774 12,7 5

0,370 5,7 .45 Auto ETOG Encamisado Total

Ogival 14,9 230 255 836 12,7 5

0,430 6,6 36/63,5 VELOX Todos 9,0 139 350 1.148 66 26

0,630 9,7 32/63,5 VELOX Todos 12,5 193 350 1.148 66 26

0,860 13,3 24/63,5 VELOX Todos 17,0 262 360 1.181 66 26

1,230 19,0 20/70 VELOX Todos 22,5 347 360 1.181 66 26

1,350 20,8 20/70 F-150 7 1/2 24,0 370 405 1.328 66 26

1,350 20,8 20/70 S-150 9 24,0 370 405 1.328 66 26

1,800 27,8 12/70 T 200 7 1/2 32,0 494 400 1.312 76,2 30

1,800 27,8 12/70 C-25 5, 6 e 8 34,0 525 405 1.328 76,2 30

1,850 28,5 12/70 C-25 5, 6 e 8 36,0 556 405 1.328 76,2 30

1,850 28,5 12/70 P-25 5, 6 e 7 1/2 36,0 556 405 1.328 76,2 30

0,780 12,0 .357 Magnum EXPP Expansivo Ponta

Plana 10,2 158 376 1.233

10,2-V

4-V

0,780 12,0 .357 Magnum EXPO Expansivo Ponta Oca 10,2 158 376 1.233 10,2-

V 4-V

0,700 10,8 .357 Magnum CSCV Chumbo Semicanto

Vivo 10,2 158 376 1.233

10,2-V

4-V

220

1,100 17,0 .44 Rem Magnum

EXPP Expansivo Ponta

Plana 15,6 240 359 1.177

10,2-V

4-V

0,450 6,9 9 mm Luger EXPP Expansivo Ponta

Plana 6,2 95 410 1.344 10,2 4

0,410 6,3 9 mm Luger ETOG Encamisado Total

Ogival 7,5 115 346 1.135 10,2 4

0,410 6,3 9 mm Luger EXPO Expansivo Ponta Oca 7,5 115 352 1.154 10,2 4

0,500 7,7 .40 S&W EXPO Expansivo Ponta Oca 10,0 155 367 1.203 10,2 4

221

0,430 6,6 .40 S&W CSCV Chumbo Semicanto

Vivo 10,4 160 335 1.099 10,2 4

Velocidade das munições medidas na boca. Provete (comprimento do cano)

• Os valores de carga apresentados nas tabelas deste catálogo para obter a velocidade média foram fixados utilizando-se na montagem das munições e cartuchos, componentes (estojo, espoleta, projétil, bucha e bagos de chumbo) empregados pela CBC no carregamento de munições e cartuchos originais.

• Em alguns casos, podem ser empregadas no carregamento outras pólvoras CBC além das especificamente recomendadas. Todavia, aquelas sugeridas são as que não ultrapassam os limites máximos de pressão determinados pelas normas internacionais SAAMI E CIP.

• Na fixação das cargas dos cartuchos de caça, somente foram utilizadas buchas plásticas pneumáticas (petecas).

• Para o carregamento dos cartuchos Presidente, recomendamos a utilização da pólvora 216. • A utilização de componentes - estojos espoletas e projéteis - não originais CBC, de lotes de

pólvora diferentes daqueles empregados na confecção das tabelas, de variações nas cargas de chumbo e na pressão com a qual as buchas plásticas são inseridas nos estojos de cartuchos de caça, nos tipos, peso e profundidade de colocação dos projéteis nos estojos de munições carregadas com projéteis e até mesmo da técnica de carregamento, poderão resultar em desempenhos balísticos diferente dos indicados. Por medida de segurança, sugerimos ao praticante da recarga que iniciem seus carregamentos utilizando carga 10% menor do que as apresentadas nas tabelas e só aumentá-las até esses valores, caso não seja observado nenhum indício de sobrepressão.

33

No momento do tiro, geralmente, cerca de 700 a 1.100 cm3 de gases por

grama de propelente são produzidos. A temperatura no interior o cartucho varia

de 1700 ºC para propulsores “frios” até 3700 ºC para propelentes muito

“quentes” Uma composição típica da descarga para propulsores de dupla base

é 28% de dióxido de carbono, 23% de monóxido de carbono, 8% de hidrogênio,

15% de nitrogênio e 26% de vapor d’água91. Estas altas temperaturas têm

como conseqüência muito importante para a criminalística o fato de fundirem e

vaporizarem parte da superfície da base do projétil, ejetando vapores de

chumbo ou de cobre pela boca do cano.

1.1.8. Projéteis

As armas de fogo portáteis foram criadas depois dos canhões e, no

começo, eram adaptações mais leves destes. Os primeiros projéteis usados

em armas de fogo foram pedras, flechas de ferro e esferas de ferro. Os

primeiros calibres variavam de 3 cm a 5 cm e todas as armas eram de cano

liso, o que pedia projéteis de forma esférica. De lá para cá, houve um constante

processo para diminuir o peso e também o calibre. O chumbo passou a ser

usado já a partir de 1340 devido a sua maior densidade e maleabilidade que o

ferro, resultando projéteis com maior energia e que causam menor desgaste no

cano92.

O uso de movimento rotatório para melhorar a precisão de flechas já era

conhecido deste a Antiguidade. Em 1520, Augustin Kutler, conseguiu o mesmo

efeito em projéteis através da introdução de raias internas nos canos das

armas de fogo. Estava aberto o campo para o desenvolvimento de novas

formas de projéteis que não a esférica. A experimentação de diversos tipos

logo demonstrou que os de forma alongada eram bem melhores que os de

forma esférica93.

Em 1863, William Ellis Metford, entendendo que o chumbo era mais

maleável que o necessário, criando deposições de chumbo por todo o cano,

91 Wallace. P.

92 Wallace. P.13.

93 Dowell, The Webley Story, 198. Apud Wallace. P. 19.

34

criou o projétil de chumbo endurecido com antimônio, tal como é utilizado até

hoje. O uso de chumbo endurecido diminui, mas não eliminou o problema, e

data desta época a utilização de lubrificantes com sebos animais, depositados

em ranhuras anulares na base do projétil, com o objetivo de diminuir a

deposição de chumbo gerado pela fusão do mesmo devido ao calor gerado

pelo atrito do projétil com o cano94.

Os problemas de incrustação de chumbo somente foram resolvidos em

1883, por Rubin, que introduziu o jaquetamento95 do projétil com cobre sobre

um núcleo de chumbo macio, o que tornou também viável a fabricação de

pistolas e de outras armas de mecanismos mais complexos96.

Desde esta época é usual a procura por cobre ou chumbo em orifícios

suspeitos de passagem de projétil.

As jaquetas ditas de cobre são, na verdade, ligas, onde este entra em

proporções majoritárias, como o cuproníquel (80% cobre, 20% de níquel em

peso) ou uma composição de 90% a 95% de cobre e 10% a 5% de zinco.

Também é possível a adição de 1% a 2% de estanho para melhorar a

capacidade lubrificante da liga97.

Modernamente o uso de munição não jaquetada está restrita, de um modo

geral, a revólveres e armas de calibre .22’’. Entretanto, a CBC, fabricante

nacional fornece munição sem jaqueta para pistolas com finalidade de

treinamento, por serem mais baratas e por desgastarem menos o cano.

Existe uma vasta gama de armas de fogo e uma variedade também

bastante grande de munição disponível. A razão de tal variedade é de ordem

ampla, desde o porte da arma até o efeito que se deseja no ferimento. Cada

tipo de projétil é concebido para uma finalidade específica e a gama de

projéteis disponíveis para uma mesma arma pode ser bastante grande.

De um modo geral os projéteis são: não jaquetados, jaquetados ou semi-

jaquetados. Os não jaquetados podem ter uma fina película de cobre, de latão

ou outro material colorido, os quais têm funções cosméticas, identificativas e

lubrificantes. Este material não é uma jaqueta propriamente dita, pois é

removido pelo atrito com os cheios do cano raiado. Os projéteis não jaquetados

94

Wallace. P. 13. 95 NA. Também se usa o termo encamisamento.

96 Wallace. P.14.

97 P. J. F. Mead , Notes on Ballistics, 6. Apud Wallace. P.21.

35

também, são freqüentemente, lubrificados com alguma cera ou graxa, para

impedir a incrustação de chumbo98.

Projéteis destinados para altas velocidades devem ser jaquetados ou

semi-jaquetados, pois o chumbo se deforma dentro do cano, o que prejudica a

pontaria, além do citado enchumbamento, o qual irá prejudicar os disparos

subseqüentes. Os não jaquetados também são suscetíveis de prejudicar o

mecanismo de recarga das armas automáticas e semi-automáticas99.

Os projéteis de chumbo têm sua base exposta às altas temperaturas de

queima do propelente, isto inclui as não jaquetadas e as jaquetadas, excluindo

apenas as totalmente jaquetadas (Full metal jacketed bullets - FMJ), o que

causa erosão na base, podendo provocar assimetria no projétil, prejudicando a

precisão do tiro. Para minimizar tal problema a base pode ser preenchida com

lubrificantes especiais para a tarefa. Outro método é colocar uma camisa de

cobre na base do mesmo. Também é utilizado o jaquetamento por

eletrodeposição (galvanoplastia) 100.

Os projéteis de arma de fogo são comumente chamados de “bala”. Este

palavra tem origem no alemão, onde Ball significa bola, lembrando os antigos

projéteis de forma esférica. Não há nada de errado em se falar bala no

português coloquial, entretanto no falar técnico se usa o termo projétil ou, mais

modernamente, projetil. De bala nós ainda temos os termos: balim, balote, o

verbo balear (baleado) e, estranhamente, balística, a ciência que estuda os

projéteis.

O material do revestimento do projétil é sempre mais duro que o seu

núcleo, com exceção dos projéteis antiblindados. O jaquetamento é feito

através de galvanoplastia, feito separadamente e depois prensado ou com o

derramamento de chumbo dentro da jaqueta, que, no caso, é usada como

molde101.

Sempre que um projétil jaquetado atinge o alvo, é possível que a jaqueta

se separe do núcleo, reduzindo o poder de penetração102. Para evitar tal

ocorrência, uma variedade de dobras, pregas e geometrias distintas são

98

Wallace. P. 68. 99

Wallace. P.68. 100

Wallace. P.69. 101

Wallace. P.69. 102

Tal regra não vale para munições anti-blindados.

36

empregadas tanto na jaqueta quanto no núcleo Outros métodos incluem colas

e soldas, para melhor fixar a jaqueta ao núcleo de chumbo103.

O cobre e suas ligas, por exemplo, o latão, são, de longe, os materiais

mais utilizados para a confecção de jaquetas, mas alumínio, náilon, teflon e aço

são também utilizados104.

A espessura e a dureza da jaqueta podem variar desde a base até a

ponta do projétil. Se a ponta for mais fina e mole, se deseja maior impacto, ao

contrário, se deseja maior penetração, além de variar a forma com que a

jaqueta é presa no núcleo105.

O núcleo do projétil é geralmente feito de chumbo, pois o mesmo tem alta

densidade, é barato, é facilmente obtido e fácil de moldar. Mas, cobre, latão,

bronze, aço, alumínio, urânio empobrecido, zinco, plásticos, tungstênio e

borrachas também podem ser encontrados. O urânio empobrecido é

subproduto do processamento de urânio físsil e é 67% mais denso que o

chumbo, o que o torna mais adequado para perfurar blindagens. Apesar destas

alternativas para usos específicos, o tradicional projétil de chumbo, ou chumbo

jaquetado com cobre, é, de longe, o mais encontrado em cenas de crime106.

Às vezes, um núcleo composto por mais de um material é utilizado para

dar uma diferença de dureza entre base e ponta (núcleo duplo), por exemplo

chumbo endurecido na base e chumbo mole no ponta, ou então, aço na base

e chumbo no ponta, ou o contrário, dependendo do efeito que o fabricante

deseja dar a sua munição107.

Os projeteis de chumbo são normalmente endurecidos, mas nada impede

que chumbo macio seja utilizado. Para o endurecimento, antigamente usou-se

mercúrio, mas hoje, as ligas usadas são o antimônio e o estanho. A liga pode

variar consideravelmete, no caso do antimônio se pode ir de 0,5% até 12%,

entretanto o usual é na faixa de 2% a 5%. No caso de estanho, se utiliza desde

0,5% até 10%, mas o normal é na faixa de 3% a 5%. Uma maior quantidade de

estanho é necessária para se obter a mesma dureza que a produzida por uma

103 Finn Aagaard, “Trophy Bonded Bullets,” American Rifleman Magazine (May 1987): 34.Apud

Wallace. P.69. 104

Wallace. P.69. 105

Wallace. P.70 106

Wallace. P.70. 107

Wallace P.70.

37

menor de antimômio. Desta forma, sempre que há antimômio barato disponível,

este é utilizado108.

Alguns projéteis jaquetados têm uma pequena cavidade na ponta que

pode ser vazia, mas geralmente é preenchida com material mais leve que o

núcleo, por exemplo, plástico, alumínio, fibra, carbonato de sódio,

policarbonato, nylon, papel, aço carbono. Em outros projéteis existe um

revestimento por sobre a ponta, geralmente, cobre, aço, alumínio ou plástico. O

objetivo é variável, por exemplo, proteger a ponta de dano, aumentar o poder

de penetração ou melhorar o carregamento nas automáticas ou semi-

automáticas109.

Abaixo, folder com projéteis fabricados pela CBC110.

Os projéteis destinados às munições carregadas na CBC e aqueles destinados à venda avulsa, são fabricados dentro de rigorosos controles tanto dimensionais quanto de peso. Alguns destaques dentro dessa linha de produtos são os projéteis encamisados ou semi-encamisados em tomback, nos quais a camisa feita de uma liga com 90% a 95% de cobre, proporciona baixo atrito nas raias do cano. Essa característica do projétil reduz o desgaste do cano. Os projéteis de chumbo são lubrificados com graxa especial que, além de não permitir o chumbamento dos canos, atua como elemento vedante, impedindo o escape dos gases e garantindo um melhor desempenho balístico. Além do projétil convencional de chumbo, a CBC desenvolveu também sua versão com acabamento composto de resina especial, grafite e teflon, que reduz o atrito nas raias da arma, elimina o chumbamento dos canos e contribui com a precisão, além de proporcionar melhor alimentação nas máquinas de recarga.

.25 Auto .32 Auto .32 Auto .32 S&W .32 S&WL .32 S&WL .380 Auto .380 Auto

9 mm Luger

ETOG ETOG EXPO CHOG CHCV EXPO ETOG EXPO ETOG

.251" 50 gr

.311" 71 gr

.311" 71 gr

.314" 98gr

.314" 98gr

.314" 98gr

.355" 95gr

.355" 95gr

.355" 115gr

9 mm Luger

9 mm Luger 9 mm Luger

9 mm Luger

.38 SPL .38 SPL .38 SPL .38 SPL .38 SPL

ETOG EXPO EXPP "Flat"

CHOG CHOG CHOG CHOG-TP CHCV CSCV

108

Wallace. P.71. 109

Wallace. P.71. 110

www.cbc.com.br, acessado em 18/06/2011.

38

.355" 124gr

.355" 115gr

.355" 95gr

.356" 124gr

.358" 158gr

.358" 158gr

.358" 158gr

.358" 148gr

.358" 158gr

.38 SPL .38 SPL .357

Magnun .357

Magnun .38 Super

Auto .38 Super

Auto .40 S&W

.40 S&W

.40 S&W

EXPO EXPO EXPP EXPO CHOG ETOG EXPO ETPP CSCV

.357" 125gr

.357" 158gr

.357" 158gr

.357" 158gr

.356" 160gr

.356" 125gr

.400" 155gr

.400" 155gr

.400" 160gr

.45 Auto .45 Auto .45 Auto .45 Auto .223 .223 .264

(6,5mm) .308

ETOG CSCV ESCV EXPO ETPT EXPT ETPT "Boat Tail"

ETOG

.451" 230gr

.452" 200gr

.451" 230gr

.451" 185gr

.224" 55gr

.224" 55gr

.264" 143gr

.308" 110gr

.308 .308 .308 .308 .44-40 .44

Magnun .454

Casull 12 (balote)

ETPT ETPT "Boat

Tail"

ETPT "Boat Tail"

EXPT CHPP EXPP EXPP Chumbo

.308" 150gr

.308" 150gr

.308" 162gr

.308" 150gr

.427" 200gr

.451" 240gr

.451" 260gr

.691" 390gr

1.1.8.1. Balins ou bagos

Balins, ou bagos, são projéteis pequenos e esféricos, disponíveis em

vários tamanhos, graus de dureza e materiais, em função da sua utilização e

são destinados, geralmente, para espingardas. Existindo, porém exemplos até

de revólveres que utilizam balins como projéteis. Os calibres (gauges) usuais

são 12, 16 e 20. Em geral os balins de um mesmo cartucho têm o mesmo

39

tamanho e composição, entretanto, existem os chamados “duplex”, que contém

dois tipos de balins no mesmo cartucho111.

Os balins podem ser de chumbo macio (menos de 0,5% de antimônio ou

estanho), endurecidos (de 0,5% a 2,0% de liga) ou extraduros (mais de 2% de

liga). Por problemas ambientais e de saúde, pois comer marreco com balins de

chumbo pode causar saturnismo, foram introduzidas munições com balins de

granalha de aço, mas com desempenho abaixo do esperado. Atualmente

alternativas não tóxicas, como o bismuto estão sendo pesquisadas Para

endurecer o chumbo usa-se antimônio, geralmente de 0% até 6%, mas até

12% de antimônio é possível. Além do chumbo, do aço e do bismuto existem

também os balins feitos com tungstênio embutido em algum tipo de polímero

plástico112.

Em certos casos, um material amortecedor, geralmente polietileno

granulado na coloração branca, é misturado com os balins par evitar distorções

durante a descarga. Este material pode ser encontrado nos ferimentos, quando

o tiro é de curta distância. Outros fabricantes usam uma bucha em forma de

taça como receptáculo dos balins. Após sair do cano, este receptáculo, de

plástico, com baixa densidade, logo se separa dos balins, que seguem então,

livres, a sua trajetória113.

Até quatro ou cinco buchas podem estar presentes em um cartucho de

espingarda, embora duas ou três sejam mais comuns. As buchas são utilizadas

para fornecer uma vedação estanque, para os projéteis não “caírem” no cano,

para separar o propelente do balins fechar a boca do cartucho. As buchas são

normalmente feitas de papel ou papelão, plástico em diversas cores, de feltro,

(o qual pode ser encerrado ou untado com óleo) e também tecidos. Alguns

fabricantes colocam uma etiqueta de papel aderida à bucha, com informações

sobre a munição114.

Após o tiro, as buchas são lançadas pela boca do cano, mas, devido a

sua forma e a sua baixa densidade, são logo paradas pela resistência do ar. À

distância percorrida pela bucha, após as saída do cano, é, normalmente,

111

Wallace. P. 37. 112

Wallace. P. 76. 113

Wallace. P. 76. 114

Wallace. P.76.

40

inferior a 2 metros. Em alguns casos, a mesma pode penetrar no corpo atrás

dos bagos e ser encontrada dentro do ferimento115.

Buchas encontradas em cena de crime podem fornecer informações

valiosas sobre a carga iniciadora e sobre o tipo de propelente, se analisadas

quimicamente. O exame físico pode dar informações sobre o calibre e sobre o

fabricante116.

Às vezes, as espingardas são municiadas com um único projétil, que pode

ser esférico ou alongado. Quando for alongado, raias devem ser

providenciadas no seu molde para garantir um bom desempenho. Este tipo de

munição tem um bom poder de parada e de penetração para tiro curto, mas

são ineficazes para tiro longo. São normalmente utilizadas por forças policiais

e, conforme a quantidade e qualidade do propelente e o tamanho do balote ou

baletão, podem ser utilizadas para ataque a veículo em fuga, rompimento de

portas, quebra de dobradiças e atividades assemelhadas. Projéteis de borracha

e para carregamento de dispositivos especiais e agentes químicos também são

encontrados117.

Abaixo temos os cartuchos deste tipo fabricados pela CBC118.

Os cartuchos de caça CBC são fabricados com a mais avançada tecnologia e com matéria-prima de alta qualidade, garantindo segurança, bom agrupamento, confiabilidade e alto desempenho. Normalmente, são carregados com esferas múltiplas de chumbo cujos tamanhos (diâmetros) variam de acordo com a finalidade a que se destina o cartucho

115

Wallace. P.76. 116

Wallace. P.76. 117

Wallace. P.77. 118

www.cbc.com.br, acessado em 18/06/2011.

41

A CBC fornece a Linha Presidente, que é composta de estojos metálicos vazios, disponíveis nos calibres 12, 16, 20, 24, 28, 36 Longo e 9,1 mm. Esses estojos são fabricados com latão de alta qualidade, o que garante um grande número de recargas. Para garantir maior vida útil aos estojos Presidente, estes devem ser carregados com espoletas Tupan n.º 56, fabricadas pela CBC com mistura iniciadora Antioxid®, não mercúrica e não corrosiva, que assegura um maior número de recargas

O novo cartucho CBC Knock Down Slug é um cartucho de alta performance. Seu projétil possui linhas progressivas em formato espiral e é integrado à bucha plástica pneumática, proporcionando maior estabilidade, velocidade e potência em tiros de longa distância. O cartucho Knock Down Slug, disponível nos calibres 12, 16 e 20, é uma ótima opção para caça de animais de grande porte com carapaças resistentes, como o Javali, e para todos os atiradores que buscam cartuchos com desempenho “premium”.

Número do Chumbo 12 11 9 8 71/2 7 6 5 3 1 T TTT SG Knock Down Balote

Diâmetro em milímetros 1,25 1,50 2,00 2,25 2,38 2,50 2,75 3,00 3,50 4,00 5,00 5,50 8,40 18,65 17,6

Quantidade aproximada de bagos em 10 gramas

870 457 216 151 130 110 83 64 40 27 14 10 2,80 32,0*

gramas a unidade

28,35* gramas a unidade

Caça Chumbos

Narceja / Pomba / Codorna 7, 7 1/2", 8 e 9

Perdiz / Inhambu-Açu 6, 7, 7 1/2" e 8

Faisão 5, 6, 7 e 7

Marreca / Mutum 3 e 5

Pato / Marrecão T, 3, 5 e 6

Lebre 3, 5 e 6

Paca / Quati T, 3 e 5

Queixada / Caititu / Veado 3T, SG e Projétil Singular (Balote)

Capivara ou outros animais de maior porte a maiores distâncias SG e Projétil Singular (Balote)

Javali Projétil Singular (Balote)

A tabela de chumbos recomendados para caça de diferentes animais considera uma distância normal de tiro de 30 metros. Quando a distância de tiro for superior a essa, recomenda-se utilizar chumbos com diâmetro maior.

Câmara Chumbo Balística Calibre

mm Polegadas Tipo Peso gramas V m/s E joules Provete cm

Série Vírus

36 63,5 2 1/2" T, 3, 5, 7 9 350 551 66

32 63,5 2 1/2" T, 3, 5, 7 12,5 350 765 66

24 65 2 1/2" 3, 5, 6, 7 19 360 1.231 66

42

20 70 2 3/4" 3T, 3, 5, 6, 7 22,5 360 1.458 66

16 70 2 3/4" 3T, 3, 5, 7 27 360 1.750 17,1

12 70 2 3/4" 3, 5, 7, 11 32 360 2.074 76,2

28 63,5 2 1/2" T, 5 15,5 360 1.004 66

Série Super Velox

12 70 2 3/4" 3 36 420 3.175 76,2 (NEW)

V (Velocidade) e E (Energia) medidas na boca. Provete (comprimento do cano).

Câmara Chumbo Balística Calibre

mm Polegadas Tipo Peso gramas V m/s E joules Provete cm

Série Hi-Impact

12 70 2 3/4" 3T 32 430 2.957 76,2

12 70 2 3/4" SG 32 430 2.957 76,2

12 70 2 3/4" Balote 28,4 450 2.870 76,2

12 70 2 3/4" Balote Knock Down 32 420 2.822 76,2 (NEW)

16 70 2 3/4" Balote Knock Down 28,5 420 2.513 71,1 (NEW)

20 70 2 3/4" Balote Knock Down 25,5 420 2.248 66 (NEW)

V (Velocidade) e E (Energia) medidas na boca. Provete (comprimento do cano).

Os cartuchos originais de fábrica são fornecidos com espoletas niqueladas sem nenhuma gravação. Essa

diferenciação protege os consumidores de falsificações e fraudes, evitando que eles sejam expostos aos

riscos da utilização de munição recarregada por pessoas não habilitadas para a prestação desse serviço.

A CBC fornece, para venda avulsa, as espoletas 209, que são utilizadas para a recarga de cartuchos,

marcadas com a letra "R" (Recarga). Isso visa facilitar a identificação dos cartuchos originais de fábrica

quando comparados com os cartuchos recarregados.

Esses cartuchos são normalmente usados pela força policial em situações nas quais um poder de defesa maior se faz necessário. Por isso os cartuchos de uso policial são carregados com projéteis de maior diâmetro como os chumbos 3T e SG, ou até com o projétil Singular, todos produzidos para desenvolver alta velocidade e energia de impacto, para aumentar o seu poder de incapacitação. Como os bagos de

43

chumbo possuem alcance bem inferior ao dos projéteis convencionais, o perigo de o policial atingir pessoas presentes, mas não participantes da ação policial, é minimizado.

Câmara Chumbo Balística Calibre

mm Polegadas Tipo Peso

gramas V

m/s E

joules Provete

mm

Utilização / Características

Série Hi-Impact

3T 32 430 2.957 76,2

SG 32 430 2.957 76,2 12 70 2 3/4"

Balote 28,4 450 2.870 76,2

Uso policial em situações em que se faz necessário maior poder de defesa. O alcance útil dos cartuchos carregados com chumbo 3T é de 30 a 50m, os com SG de 50 a 100m e aqueles carregados com balote até 150m.

Série Magnum

SG 42,5 380 3.068 76,2

12 76,2 3" 3T 42,5 380 3.068 76,2

Uso policial. Estes cartuchos superam aqueles de calibre 12 convencionais em quantidade de chumbo e, portanto, em letalidade. Não utilizar em armas com câmara menor do que 3".

V (Velocidade) e E (Energia) medidas na boca. Provete (comprimento do cano). Obs.: Disparos a distâncias inferiores às recomendadas podem ser letais.

Os cartuchos antidistúrbio com bagos de polietileno de alta densidade ou de borracha possuem menor alcance efetivo e efeitos reduzidos sobre o alvo, quando comparados com cartuchos carregados com projéteis de chumbo. Eles são usados em situações nas quais é necessário demonstrar força e, ao mesmo tempo, manter um risco mínimo para a vida e a integridade física dos indivíduos a serem controlados. A categoria de cartuchos antidistúrbio é fundamental na dissuasão de invasores de áreas públicas ou privadas, em desordens em vias públicas, e motins em penitenciárias ou cadeias. Eles demonstram aos desordeiros, amotinados ou assaltantes que o policial está armado e disposto a atirar. Nos casos em que os amotinados não se dispersam e à medida que eles se aproximam, os disparos com cartuchos antidistúrbio começam a provocar ferimentos, protegendo o policial e ampliando o efeito psicológico sobre o grupo de atacantes. A gravidade dos ferimentos provocados pelos cartuchos antidistúrbio é tanto maior quanto menor for à distância. A distância mínima para o uso adequado desses cartuchos deve ser mantida, pois, do contrário, eles podem ser letais. Os cartuchos antidistúrbio podem ser facilmente identificados por serem mais leves e por terem o tubo de plástico transparente e incolor, o que torna possível visualizar os projéteis de plástico ou de borracha.

Câmara Bagos Balística Calibre

mm Polegadas Tipo Peso

gramas V

m/s E

joules Provete

cm

Utilização / Características

Série Antidistúrbio "Less Lethal"

Plástico 6,6 480 760 76,2 Controle de distúrbios a curta distância (até 5m).

20 bagos de borracha de

8mm 7,7 230 204 48,3

Controle de distúrbios a média distância (de 10 a 20m).

12 70 2 3/4"

3 bagos de borracha de 18

mm 12 162 157 48,3

Controle de distúrbios a longa distância (de 20 a 50m).

V (Velocidade) e E (Energia) medidas na boca. Provete (comprimento do cano). Obs.: Disparos a distâncias inferiores às recomendadas podem ser letais.

44

Nada impede que revólveres ou pistolas usem munição de bagos de

chumbo, existindo, oferta de munição deste tipo para uso nestas armas, com a

finalidade de caça, extermínio de pragas ou mesmo defesa pessoal119. A

Taurus, inclusive fabrica um modelo de revólver específico para uso de

munição de bagos de chumbo, que usa munição calibre 36 GA120.

1.1.8.2. Munição de recarga ou artesanal

Nem toda a munição artesanal é de recarga, pois algumas pessoas

gostam de fazer sua própria munição para fins esportivos, de caça, de defesa

pessoal ou para a prática criminosa. No nosso caso, a companhia CBC, vende

os componentes a granel, desde espoletas até projéteis. Para quem quiser

fugir do controle oficial, basta usar os préstimos dos nossos estimados

vizinhos, como o Uruguai, a Argentina, o Paraguai e a Bolívia, onde os

produtos da CBC, ou de outros fabricantes, são internados e depois

introduzidos de volta no nosso país121.

O mais comum, no caso de remanufatura, é o reaproveitamento do estojo

e também a fabricação artesanal de projéteis de chumbo. Nestas duas

hipóteses a munição pode ser bastante barateada e ainda abre a possibilidade

para o fabrico de munição para armas de fogo incomuns ou obsoletas. De um

modo geral os fabricantes de munição alertam contra o uso deste tipo de

processo, mas, por outro lado, não se negam a vender os componentes

avulsos122.

119

Dean A. Grennell, “Reload Clinic,” Gun World Magazine (July 1987): 12. Apud Wallace. P.86. 120

www.taurus.com.br, acessado em 21/06/2011. 121

Wallace. P.77. 122

Wallace. P.77.

45

2. Principais Tipos de Armas de Interesse Forense

Classificações mais sistemáticas da arma de fogo podem ser encontradas

em literatura específica sobre Balística Forense, como, por exemplo, na obra

de Eraldo Rabello123. Para efeitos deste trabalho, nós as classificaremos,

entretanto, segundo os tipos mais comumente encontrados na prática policial.

2.1. Pistolas de Tiro Unitário Uma pistola de tiro único possui a câmara integralizada com o cano e

deve ser carregada novamente a cada tiro produzido. Trata-se do tipo mais

primitivo de pistola, já não fabricado em escala industrial, mas ainda

confeccionado por armeiros amadores e no interior dos presídios. São os

chamados “trabucos”

2.2. Pistolas de Múltiplos Canos (Garruchas ou Derringers)

As garruchas são uma variante de pistolas de um único tiro. Elas têm

vários canos cada um com o seu mecanismo de disparo. As garruchas típicas

possuem dois canos justapostos. No Brasil, elas ainda têm forte interesse

criminalístico devido ao sucesso da Garrucha calibre 22, produzida pelo antigo

fabricante Amadeo Rossi em São Leopoldo, RS.

2.3. Revólveres

Um revólver é um tipo de pistola, mas para maior clareza, é usual

descrevê-lo como um tipo à parte de arma. É uma arma de cano único, com um

cilindro rotativo com múltiplas câmaras, o chamado tambor, que carrega

diversos cartuchos, normalmente cinco ou seis). Cada vez que se produz um

disparo, o tambor gira fazendo alimentação semi-automática da arma. Os

123

Rabello.

46

cartuchos gastos não são ejetados automaticamente, devendo ser retirados de

maneira manual124.

O revólver é o tipo mais comum de arma de fogo no Rio Grande do Sul.

Assim são chamadas todas as armas de cano curto, na qual a câmara foi

separada do cano e substituída por um cilindro (o tambor) com várias câmaras,

cada uma das quais é municiada e descarregada separadamente e

sucessivamente, O tambor é girado mecanicamente, alinhando cada câmara

com o cano. O primeiro Revólver moderno foi produzido por Samuel Colt125 em

1835-1836, nos Estados Unidos.

124

Wallace. P. 7 125

47

Figura 6 Cópia da carta-patente da invenção de Samuel Colt de 1836126.

126

Conforme página www.taletyano.com, acessada em 01/08/2010

48

Existem três tipos de montagem de tambores em revólveres, o mais

comum dos quais é o tambor reversível, onde ao se pressionar a trava do

tambor, normalmente encontrada no lado esquerdo do corpo, e empurrar o

tambor para a esquerda, este se move, expondo as câmaras. Cada câmara

pode então ser carregada com um cartucho e após retornar o tambor para a

posição inicial o revólver está pronto para ser utilizado.

Figura 7 Um revolver com tambor reversível.

Nos revólveres de cano basculante, o conjunto do cano e do tambor é

articulado e, pressionando-se a ponta do cano para baixo, a parte traseira do

tambor é exposta, podendo-se assim municiar a arma. A ação de abertura

também serve para se ejetar os estojos resultantes dos cartuchos já

disparados. Este tipo de revólver é raro no Brasil, mas alguns fabricantes da

Inglaterra ainda os produzem.

Figura 8 Revólver Basculante

49

O revólver de tambor fixo é a mais antiga forma de revólver. Nesta arma, o

tambor é preso no quadro por um pino central, em torno do qual gira. A parte

de trás de uma das câmaras, à direita ou à esquerda, pode ser exposta,

municiando-se desta forma o revólver, uma câmara de cada vez. No Brasil,

ainda são encontrados alguns modelos fabricados pela Ítalo GRA, na

Argentina, com estas características.

Os revólveres podem ser classificados em ação simples ou dupla ação, de

acordo com o seu mecanismo de disparo. Em ação simples, o cão deve ser

armado manualmente cada vez que a arma for produzir disparo. Ao armar o

cão, o tambor gira, fazendo o alinhamento da câmara com o cano e o percutor.

A pressão aplicada ao gatilho libera o cão, produzindo disparo. Já nos

revólveres de dupla ação contínua, a pressão sobre o gatilho gira o tambor,

alinhando uma câmara com o cano, move o cão para trás e o libera,

disparando a arma. A maioria dos revólveres de dupla ação pode ser acionada

em ação simples, com exceção dos modelos “hammerless”, onde o cão

(martelo, na terminologia inglesa) é oculto no corpo da arma, impossibilitando a

ação simples.

Figura 9 Um Taurus, calibre 38, “Hammerless”

Os revólveres primitivos eram todos de ação simples, atualmente apenas

alguns modelos deste tipo são ainda fabricados, normalmente para finalidade

de tiro esportivo ou caça.

50

O montante da pressão no gatilho necessária para disparar um bom

revólver de dupla ação varia de 12 a 15 £. Se estas armas são engatilhadas

(ação simples) a pressão necessária é de 2 a 4 £, o que explicaria a melhor

precisão do tiro produzido em ação simples.

Na grande maioria dos revólveres fabricados no mundo o tambor é

sinistrogiro, ou seja, gira para a esquerda, no sentido contrário aos ponteiros de

um relógio (Taurus, Smith & Wesson e outros). Entretanto, existem armas,

como as do fabricante Colt, em que a rotação é para a direita. São os tambores

destrogiros. Esta informação é vital, ou melhor, dizendo, mortal, para os que

praticam roleta russa com revólver emprestado.

2.4. Pistola Semi-Automática ou Parabellum

Pistolas Semi-automáticas são aquelas em que se usa parte da pressão

dos gases provenientes da queima do propelente do cartucho deflagrado para

remuniciar e engatilhar novamente a arma, assim após a produção de um tiro,

o sistema se encarrega de ejetar o estojo deflagrado, posicionar um novo

cartucho na câmara e recuar o cão. Basta então, pressionar o gatilho para a

produção de um novo tiro. Estas armas são, às vezes, chamadas

impropriamente de “automáticas”. Outro termo encontrado na literatura é

“Parabellum”, nome de marca de um modelo muito popular do fabricante Luger.

Usualmente, entretanto este tipo de pistola é chamado simplesmente “Pistola”.

A primeira pistola produzida comercialmente, a C-3, foi idealizada por

Hugo Borchardt, em 1893, e fabricada por Ludwig Löewe Cie, em Karlsruhe em

1893 (Figura 10). Esta arma foi antecessora direta da Mauser e da Luger.

Figura 10 C-3 de 1893

51

Os cartuchos são quase sempre armazenados em um compartimento

removível, o carregador, na empunhadura da arma, com exceção da pistola

Mauser M1896, onde o carregador ficava na frente do guarda-mato.

Os carregadores podem ser monofilares ou bifilares, de acordo com a

disposição dos cartuchos em seu interior.

Existem pistolas para munição de calibre .22'' até .45''.

No Brasil a grande maioria das pistolas de interesse criminalístico são as

fabricadas pela Taurus, derivadas da Beretta italiana, por serem as armas

padrões das forças policiais (calibre .40”), do Exército e da Polícia Federal (9

mm) e encontradas no mercado para defesa pessoal (calibre .380”).

Figura 11 Moderna Pistola Taurus.

2.5. Rifles, Fuzis, Fuzis de Assalto, Carabinas Rifle é apenas o nome inglês para arma de cano longo raiado (rifled em

inglês). Fuzil é o nome português para este tipo de arma, quando de uso

militar. Fuzil de assalto é o nome que se dá para fuzis, semi-automáticos ou

automáticos que funcionam com rajadas, ou seja, quando o acionamento do

gatilho produz um número pré-determinado de disparos, por exemplo, três.

Carabina é um nome brasileiro para uma arma de cano raiado, tanto para uso

militar quanto para uso civil, porém com comprimento de cano menor que o

fuzil.

52

Este tipo de arma é comumente utilizado por assaltantes de carros de

transporte de valores.

2.6. Espingardas Uma espingarda é uma arma que é projetada para ser utilizada apoiando-

a no ombro, tem cano internamente liso (alma lisa), e é própria para disparar

vários projéteis esféricos ao mesmo tempo, os chamados balins ou bagos, ou

um único projétil previamente raiado, o chamado balote. O comprimento do

cano é variável, não havendo a rigor, um tamanho mínimo ou máximo.

Existem espingardas de dois canos, ou ao lado do outro (mais comum no

Brasil), ou um sobre o outro. Deve-se salientar que esta nomenclatura é

confusa e não completamente padronizada, por exemplo, a literatura

portuguesa chama também de espingarda as armas de cano longo raiado,

tanto para uso militar como civil.

53

3. Resíduos do Tiro

Segundo Schwoeble127, os exames residuográficos são um dos tipos de

evidência mais subutilizada nos Estados Unidos da América128. Em relatório do

FBI, temos que a arma de fogo está presente em mais de 30% dos 1,7 milhões

de crimes que envolveram violência129, registrados em 1997 nos EUA.

Os resíduos de tiro - Gunshot Residue (GSR) são produzidos em todo o

crime que tenha tido pelos menos um disparo de arma de fogo, ou seja, pode

até não existir sangue, como nos casos de muitas tentativas, mas o GSR irá

existir. Talvez, a maior dificuldade com o GSR é que ele, normalmente, não

pode ser observado a olho nu, necessitando alguma técnica de laboratório para

revelar a sua presença,

Outra característica deste tipo de vestígios é que os resíduos são

coletados por diversos tipos de profissionais da perícia e em situação diversas,

desde o exame recente na cena do crime até uma possível autópsia, sendo

utilizadas as diversas técnicas de processamento, desde a tradicional coleta

úmida com papel filtro, ainda usada no ano de 2010 no IGP-RS, até técnicas

sofisticadas de microscopia eletrônica de varredura.

Os responsáveis pelo inquérito normalmente desejam saber quem

produziu tiro com a arma de fogo, se a vítima se autoferiu, ou não. Apesar

destas respostas nem sempre serem taxativas, o exame sempre produz

elementos importantes para o convencimento das autoridades envolvidas.

Os resíduos de tiro – GSR – podem durar por tempo indeterminado em

vários substratos, por se tratarem de partículas inorgânicas, mas no caso das

mãos, eles são bastante lábeis.

Entretanto, se é verdade que a detecção de GSR nas mãos é evidência

crucial para se determinar se uma pessoa efetuou um disparo recente, também

é verdade que, para se utilizar plenamente o resultado de laboratório, é

necessária uma compreensão básica da história, da composição e da

fabricação das espoletas130.

127

Schwoeble. 128

NA. Infelizmente, temos razões para acreditar que o mesmo se dá no Estado do Rio Grande do Sul. 129

Department of Justice, Federal Bureau of Investigation, Uniform Crime Report, Crime in the United

States 1997, U.S. Government Printing Office, Washington, D.C., 1997, apud Schwoeble. 130 Heard. 2008. P. 87

54

Quando uma arma de fogo é descarregada, são expelidos resíduos na

forma de vapor e de partículas. Quando uma pessoa é suspeita de ter

participado de um tiroteio, estes resíduos podem permanecer por algum tempo

na mão da mesma e, normalmente, são coletados por alguma das técnicas em

voga na criminalística. O principal objetivo disto é determinar se a pessoa

esteve em contato, num período de tempo limitado antes da coleta, com este

tipo de resíduo131.

Os gases, os vapores e o material particulado formado pela descarga da

munição são conhecidos coletivamente como firearm discharge residue (FDR)

ou gunshot residue (GSR). Qualquer material ou substância presente na arma

e na munição pode contribuir para formar estes resíduos. Assim os GSR são

uma complexa mistura de compostos orgânicos e inorgânicos132

Figura 12 Nuvem de GSR133.

Constituintes inorgânicos podem ter origem a partir da carga iniciadora,

da parede da espoleta, da sua vedação, do disco, da bigorna, do estojo, dos

aditivos inorgânicos do propelente, do núcleo do projétil, da jaqueta, dos

pigmentos e corantes, lacas, ceras, lubrificantes e impurezas de qualquer um

destes componentes, além da câmara, do interior do cano, do carregador.

Também podem existir detritos já presentes no interior do cano, ali deixados,

131

FBI, 2003. P. 60 – 61. 132

Wallace. P. 104. 133

Wallace. P. 104.

55

inclusive, por tiros anteriores. Entretanto, a pesquisa tem mostrado que os

principais fornecedores de resíduos inorgânicos são a carga iniciadora e o

projétil134.

Constituintes orgânicos podem se originar a partir da carga iniciadora, do

propelente, de seladores, de vernizes e lubrificantes da munição e também de

lubrificantes e resíduos orgânicos já presentes no interior da arma de fogo

antes da descarga. A principal fonte de resíduos orgânicos é, entretanto, o

propelente135.

No momento da produção do tiro, cerca de 30% da energia química do

propelente é transformada em energia cinética, sendo o restante transformado

em calor. O tiro envolve a produção de altas temperaturas e pressões num

período muito curto de tempo. O período entre o projétil sair da boca do cano e

o percutor atingir a espoleta é de, aproximadamente, 0.03 segundos. Devido à

natureza do processo e do seu pouco tempo, a queima do propelente ocorre de

maneira incompleta, resultando em resíduos heterogêneos. Os resíduos são

emitidos pela boca do cano, mas também pela lacuna entre o tambor e o cano,

pela culatra da câmara, no caso de revólveres, pelo sistema de ejeção, no caso

de automáticas ou semi-automáticas, ou por qualquer outra abertura da arma.

Uma parte deste resíduo pode ser depositada sobre a pele, ou cabelos, ou

roupas do atirador136.

Nas imediações da boca do cano, os gases incandescentes e a

inflamação do material particulado emitem luz em contato com o ar

circundante. Este efeito é chamado flash, o qual não é o único fenômeno

luminoso envolvido, pois o projétil também pode causar uma “faísca” sempre

que atinge um alvo de natureza abrasiva137.

Os gases resultantes da combustão do propelente saem da boca do

cano causando uma turbulência138 considerável no ar a sua volta.

Os resíduos da turbulência na boca do cano podem ser depositados em

até uma distância de 3 pés (90 cm) desta. Com a presença destes resíduos

134 Wallace. P. 104.

135 Wallace. P.104.

136 C. G. Wilber, Ballistic Science for the Law Enforcement Officer (Springfield, IL: Charles C Thomas,

1977), 50. Apud Wallace. P.105. 137

J. S. Wallace, “Bullet Strike Flash,” AFTE Journal 20, no. 3 (July 1988). 108. J. S. Wallace, and K. J.

Arnold, “Investigation of a Fire in an Indoor Firing Range, AFTE Journal 19, no. 3 (July 1987). Apud

Wallace. P. 105. 138

Escoamento turbulento e não laminar.

56

temos o tiro às vezes chamado de “à queima roupa”. Termo impróprio, oriundo

dos tempos da pólvora negra139. O mesmo termo, também pode se referir à

distância que o projétil percorre sem necessitar ajuste de mira para compensar

o efeito da força da gravidade.140

Pela própria natureza dos fenômenos envolvidos na queima do

propelente é quase impossível que não sejam expelidos grânulos não

combustos ou parcialmente combustos de pólvora e fuligem. Se o tiro for

perpendicular, o padrão dos resíduos será, aproximadamente um círculo ao

redor do orifício de entrada. O diâmetro deste círculo e a sua densidade de

resíduos dependem da distância entre a boca do cano e o alvo. Assim se pode

ter um indicativo da distância de tiro e da direção.

A análise química da munição e sua comparação com a munição de um

suspeito também pode estabelecer correlações úteis. Porém, se deve ter

sempre em mente que a alta temperatura da queima do propelente pode mudar

a composição química, a cor e o aspecto do grânulo do propelente até mesmo

porque o revestimento da superfície do grânulo pode queimar parcialmente e

também não é sempre verdade que os grânulos originais tenham composição

uniforme141.

Técnicas de fotografia de alta velocidade têm mostrado que durante a

descarga de uma arma de fogo, um pouco de fumaça sai da boca do cano à

frente do projétil e este é cercado por uma nuvem de fumaça por curta

distância142.

As causas apontadas para este tipo de resíduo seriam:

(a) O escape de uma fração de gases na frente do projétil,

pela expansão súbita do pescoço do estojo, antes da saída

do projétil do mesmo. O que origina uma “brecha” entre o

estojo e projétil.

(b) Escape de gases entre o projétil e a câmra, ou entre o

projétil e a fração anterior ao raiamento.

139

I. C. Stone, and C. S. Petty, “Examination of Gunshot Residues,” Journal of Forensic Sciences 19

(1974): 784.110. R. Saferstein, Criminalistics—An Introduction to Forensic Science, 2nd ed.(Englewood

Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1981), 350.Apud Wallace. P. 105. 140

Wallace. P.105. 141

Wallace. P.105. 142

C. L. Farrar, and D. W. Leeming, Military Ballistics—A Basic Manual (London: Brassey’s Defence

Publishers, 1983), 59. Apud Wallace. P.105.

57

(c) Raiamento sem vedação absoluta143.

Na boca do cano, os gases propulsores se expandem rapidamente com

acelerações, muitas vezes, superiores às do projétil, desta forma, o mesmo é

envolto e precedido de uma nuvem de fumaça144.

Como resultado desses efeitos, GSR é depositado sobre a superfície do

projétil. Sempre que o mesmo penetra no alvo, ocorre a “limpeza” do mesmo

pelo material do alvo e alguma fração de GSR é transferida para o perímetro do

orifício de entrada. Este fenômeno ocorre de maneira independente da

distância de tiro. Ao atravessar um corpo os resíduos são removidos e por

conseqüência não estarão presentes, ou estarão presentes em uma

quantidade muito menor no orifício de saída. O mesmo ocorre com orifícios de

reentrada, os quais obviamente, não conterão resíduos. Este conhecimento

pode ser útil na elucidação entre os diversos tipos de ferimentos e da dinâmica

do evento, com ângulos de tiro e posições relativas do atirador e da vítima,

ajudando na interpretação da dinâmica do evento145.

Uma análise química detalhada do resíduo no perímetro do ferimento

pode dar, muitas vezes, informações úteis, por exemplo, se o projétil é ou não

jaquetado, a natureza da jaqueta e, talvez, a natureza da carga iniciadora146.

O Doutor James Smyth Wallace trabalhou 25 anos com armas de fogo

no Northern Ireland Forensic Science Laboratory, durante este período ele

trabalhou em muitos casos, a grande maioria relacionada com a campanha de

terror que o IRA desencadeou contra a presença inglesa naquela parte da Ilha

da Irlanda. Sua área de maior interesse foram os resíduos de tiro. Após o fim

da campanha do IRA ele publicou suas conclusões acerca deste tipo de prova,

as quais iremos enumerar abaixo147:

O GSR é constituído principalmente de partículas sólidas, ou que se

solidificam a temperatura ambiente. Este particulado é o que normalmente se

procura no suspeito. Entretanto material vaporizado absorvido pela pele ou

pelas roupas também pode existir148.

143

Wallace. P.106. 144

Wallace. P.106. 145

Wallace. P.106. 146

Wallace. P.106. 147

Wallace. P.271 – 274. 148

G. M. Wolten, and R. S. Nesbitt, “On the Mechanism of Gunshot Residue Particle Formation,”

Journal of Forensic Sciences 25, no. 3 (July 1980): 533. Apud Wallace. P.104.

58

(a) Confiabilidade de Deposição

Na descarga de uma arma de fogo os resíduos podem ou não ser

depositados sobre o atirador e, quando depositado, varia muito na sua

concentração. Isso ocorre mesmo, com tiros produzidos em “condições

idênticas”, onde as únicas variáveis óbvias foram a data e a hora. Os testes

realizados no NIFSL, envolvendo tiros internos e externos, mesmo em

“idênticas” condições revelaram graus diferentes de sucesso. Alguns tiros nada

deixaram de resíduo significante, outros deixaram grande número de partículas

e a maioria um número moderado delas.

(b) Retenção

Além da natureza aleatória da deposição de GSR, o tempo de retenção

é muito baixo, desaparecendo rapidamente das mãos, do rosto e dos cabelos,

mas permanecendo mais tempo no vestuário. Os resíduos são quimicamente

estáveis e a sua persistência, obviamente, depende inteiramente do que foi

feito com a roupa após o incidente. Se a roupa é deixada intacta, o GSR

permanecerá indefinidamente. Se a roupa continua vestindo o atirador, haverá

uma perda como conseqüência da atividade normal, ou seja, o movimento, o

contato, o vento, a chuva, e assim por diante. (Isso é menos aplicável a parte

interna dos bolsos, uma das áreas mais frutíferas para pesquisa).

(c) Distribuição.

Excluindo os suicídios e os suspeitos mortos, a distribuição (onde o GSR

é encontrado e a sua concentração naquela área) é uma informação de

limitado valor prático e é necessária cautela na sua interpretação, pois estes

resíduos podem ser transferidos, durante a execução de atividade normal, para

outras áreas como rosto, cabelo, cabeça e vestuário (incluindo interiores de

bolsos). Entretanto, em certo casos, a distribuição do resíduo de tiro pode ser

um fator importante de análise.

(d) Interpretação.

Um resíduo de tiro na roupa poderia já estar na mesma antes do tiroteio,

ou ser depositada na mesma no período entre o tiroteio e o exame (apreensão

de vestuário), assim o resultado positivo pode não ser diretamente ligado ao

evento investigado.

Por outro lado, um resultado positivo nas mãos, na face, ou no

cabelo é um forte indicativo de deposição recente destes resíduos.

59

Um resultado negativo não pode excluir um suspeito e um

resultado positivo não quer dizer necessariamente que o suspeito tenha

descarregado uma arma149.

No caso de um resultado positivo, o suspeito poderia estar ao lado de

um atirador, ter pego uma arma de fogo recentemente descarregada, pode ter

limpado uma arma de fogo, pode ter manuseado estojos deflagrados e assim

por diante. Podendo também ter manuseado outras fontes de Chumbo, Bário

ou Antimônio que não as produzidas por tiro de arma de fogo.

Nunca há certeza absoluta que uma partícula seja de GSR, pois existem

outras fontes e outros produtos que usam cargas iniciadoras, além das armas

de fogo. Os critérios de determinação destas partículas tem sido objeto de

crítica de vários autores150 e o Dr. Wallace sugere que se usem os termos

“indicativo” e “altamente indicativo” ao invés da afirmação positiva. Por outro

lado, se deve trabalhar em pesquisas para se efetuar testes com as cargas

iniciadoras sem chumbo (Sintox), bem como catalogar as fontes ocupacionais

ou ambientais de titânio e estrôncio.

(e) Composição das Partículas

A deposição de GSR é um processo muito aleatório e a composição

elementar das partículas de descarga é muito heterogêneo, assim, tentativas

de identificar o tipo de carga iniciadora utilizado, a partir da análise da

descarga, devem ser (ainda) vistas com cautela. Por exemplo, o chumbo pode

ser originado tanto da carga iniciadora como do projétil, o antimônio pode ser

149

“The absence of FDR cannot exclude a suspect and the presence of FDR on a suspect does not

necessarily mean that the suspect discharged a firearm”. Wallace. P. 272. 150

J. S. Wallace, and J. McQuillan, “Discharge Residues from Cartridge-Operated Industrial Tools,”

Journal of the Forensic Science Society 24 (1984): 495.. F. S. Romolo, “Identification of Gunshot

Residue: A Critical Revue,” Forensic Science International 119, no. 2 (2001): 195–211.. B. Cardinetti, C.

Ciampini, C. D’Onofrio, G. Orlando, L. Gravina, F. Ferrari, T. D. Di, and L. Torresi, “X-ray Mapping

Technique: A Preliminary Study in Discriminating Gunshot Residue Particles from Aggregates of

Environmental Occupational Origin,” Forensic Science International 143, no. 1 (2004): 1–19. P.

Bergman, E. Springer, and N. Levin, “Hand Grenades and Carga iniciadora Discharge Residues,” Journal

of Forensic Sciences (JFSCA) 36, no. 4 (1991): 1044–52.. A. Zeichner, and N. Levin, “More on the

Uniqueness of Gunshot Residue (GSR) Particles,” Journal of Forensic Sciences 42, no. 6 (1997): 1027–

8.. L. Garofano, M. Capra, F. Ferrari, G. P. Bizzaro, D. Di Tullio, M. Dell’Olio, and A. Ghitti, “Gunshot

Residue: Further Studies on Particles of Environmental and Occupational Origin,” Forensic Science

International 103, no. 1 (1999): 1–21. C. Torre, G. Mattutino, V. Vasino, and C. Robino, “Brake Linings:

A Source of Non-GSR Particles Containing Lead, Barium, and Antimony,” Journal of Forensic Sciences

47, no. 3 (2002): 494–504. P. V. Mosher, M. J. McVicar, E. D. Randall, and E. H. Sild, “Gunshot

Residue— Similar Particles Produced by Fireworks,” Canadian Society of Forensic Science Journal 31,

no. 2 (1998): 157–168. J. R. Giacalone, “Continuing the Quest for Non-Firearm Sources of Gunshot

Residue,” Scanning 25, no. 2 (2003): 69.. G. Price, “Firearms Discharge Residues on Hands,” Journal

Forensic Science Society 5 (1965): 199. Apud Wallace. P. 272.

60

originar da carga iniciadora ou do projétil, o bário pode se originar da carga

iniciadora ou do propelente, o estanho pode se originar da carga iniciadora, do

propelente ou do projétil.

(f) Risco de Contaminação

Um dos problemas com evidências de GSR é o risco inerente de

contaminação. Além de se recolher o material se deve também assegurar que

não houve contaminação.

3.1. Diferentes Testes e seus Históricos

A necessidade de determinar se um indivíduo disparou uma arma de

fogo sempre foi crucial para crime cometido por arma desta natureza. Assim,

ao longo dos anos vários testes foram propostos e aplicados na tentativa de

responder se uma determinada mão teria produzido tiro151.

Um teste satisfatório para a identificação de GSR em um suspeito seria

um que fosse simples, confiável, rápido, barato e conclusivo. Até recentemente,

os esforços têm se concentrado na procura de componentes inorgânicos do

GSR e englobam métodos qualitativos e quantitativos, culminando na análise

de partículas, que é o método mais informativo atualmente disponível152.

Embora existam varias técnicas, para a análise destas coletas,

entidades como o FBI americano, utilizam somente o microscópico eletrônico

de varredura. Sendo uma tendência mundial o abandono de outras técnicas153.

Um breve resumo dos acontecimentos mais importantes nesta área vem

a seguir.

3.1.1. Teste da Parafina

Teste de nitrato por via cutânea, nitrato dérmico, teste de difenilamina ou

teste de Gonzáles

O primeiro destes testes foi o "teste de parafina”.

151

Di Maio. 342. 152

Wallace. P.106. 153

FBI, 2003. P. 60- 61.

61

A detecção de nitratos e nitritos presentes no GSR com uma reação com

difenilamina em ácido sulfúrico foi aplicada pela primeira vez em 1911. Em

1914, Iturrioz utilizou parafina como meio para remoção do resíduo na roupa

antes do tratamento com difenilamina154.

Em 1922, Benitez, no México, utilizou esta técnica como um método

para revelar a presença de resíduos nas mãos de um atirador155.

O teste, na sua forma final, era realizado através da aplicação de

parafina derretida através de pincel, com a solidificação resta um molde do

dorso da mão. A superfície que esteve em contato com a mão é pulverizada

com o reagente e produz uma cor azul após a reação com nitratos e nitritos, o

que era considerado indicativo da presença de GSR156.

Foi muito popular a partir de 1933, quando foi introduzido nos Estados

Unidos, por influência de Teodoro Gonzalez, da polícia da Cidade do México.

Neste teste, as mãos dos suspeito eram revestidas por uma camada de

parafina. Após o resfriamento, os moldes eram removidos e tratados em uma

solução ácida de difenilamina, um reagente usado para detectar os nitratos e

nitritos originários da combustão da pólvora e que estariam depositados sobre

a pele após um tiro de arma de fogo. Um teste positivo produzia manchas azuis

na parafina. Infelizmente o teste também dá resultado positivo para outras

pessoas, devido a ampla distribuição de nitratos e nitritos produzida pela

poluição industrial e pela urbana. Outro aspecto negativo era o fato de resultar

positivo também para os individuos que participaram de forma passiva na cena,

pela contaminação do ar157.

Apesar da popularidade, já em 1935, o FBI apontou que o teste não era

específico e apresentou reservas sobre o seu uso. Em avaliações

subseqüentes, substâncias comuns como tabaco, cinzas de tabaco,

fertilizantes, certos produtos farmacêuticos, tinta e até mesmo urina davam

resultados positivos, além de material mais incomum como cloratos, bromatos,

154

Wallace. P. 107. 155

I. Castellanos, “Dermo-Nitrate Test in Cuba,” Journal of Criminal Law and Criminology 33, no. 6

(March/April 1953): 482. F. Benitez, “Agunas consideraciones sobre las manchas producidas por los

disparos de armas de fuege,” Revisión de Médico Legal de Cuba 1 (1922): 30. J. T. Walker, “Bullet Holes

and Chemical Residues in Shooting Cases,” Journal of Criminal Law and Criminology 31 (1940): 497.

Apud Wallace. P. 156

F. Feigl, Spot Tests in Inorganic Analysis, 5th ed. (New York: Elsevier, 1958), 327. P. 107. 157

Cowman, M. E. and Purdon, P. L. A study of the “paraffin test.” J. Forensic Sci. 12(1): 19–35, 1967.

Apud Di Maio P. 342

62

iodatos, permaganatos, cromatos, vanadatos, molibnatos, antimônio. A

Conferência da Interpol de 1968 em Paris concluiu oficialmente pelo abandono

deste teste158.

Na verdade, já havia se tornado consenso que este teste não tinha

qualquer utilidade para a criminalística, dele restando a gíria policial que ainda

se refere ao teste para verificar se há pólvora nas mãos.159

3.1.2. Harrison e Gilroy Em 1959, Harrison e Gilroy introduziram um teste alternativo para

detectar a presença de antimônio, bário e chumbo, originários da carga

iniciadora (chumbo, bário e aintimônio) e do projétil (chumbo e antimônio) nas

mãos dos suspeitos160. Estes metais, que se originam da maioria dos carga

iniciadoras, são expelidos pelas aberturas das armas. A técnica desenvolvida

era bastante simples e barata, com um retângulo de tecido de algodão branco

umidecido com ácido clorídrico sendo colocado em contato com a mão. O

tecido era então tratado com iodeto de trifenilmetilarsonio para a detecção de

antimônio e rodizonato de sódio para a detecção de bário e chumbo. Entretanto

a limitada sensibilidade deste teste impediu a sua adoção generalizada161.

O método é consiste em colocar as mãos do suspeito em contato com

tecido de algodão umedecido com uma solução de ácido clorídrico, que depois

de seca é testada com uma ou duas gotas de uma solução alcoólica de iodeto

de triphenylmethylarsonium. O aparecimento de manchas de coloração laranja

indica a presença de antimônio162.

O tecido é então seco novamente e é tratado com uma solução a 5%

solução de rodizonato de sódio, onde o desenvolvimento de uma cor

158

118. “The Diphenylamine Test for Gunpowder,” FBI Law Enforcement Bulletin 4, no. 10 (1935): 5.

H. W. Turkel, and J. Lipman, “Unreliability of Dermal Nitrate Test for Gunpowder, Journal Criminal

Law Criminology and Police Science 46 (1955): 281. M. E. Cowan, and P. L. Purdon, “A Study of the

‘Paraffin Test,” Journal of Forensic Sciences 12, no. 1 (1967): 19. F. Feigl, Spot Tests in Inorganic

Analysis, 5th ed. (New York: Elsevier, 1958), 327. A. I. Vogel, Marco and Semimicro Qualitative

Inorganic Analysis, 4th ed. (London: Longman, 1954), 365. 107. A. Maehly, and L. Stromberg, Chemical

Criminalistics (New York: Springer-Verlag, 1981), 189. Apud Wallace. P.106.- 159

Di Maio. P. 342. 160

H. C. Harrison, and R. Gilroy, “Firearms Discharge Residues,” Journal Forensic Sciences 4, no. 2

(1959): 184. Apud Wallace. P. 108. 161

Harrison, H. C. and Gilroy, R. Firearms discharge residues. J. Forensic Sci. 4(2): 184–199, 1959.

Apud Di Maio P. 343. 162

Wallace. P.108.

63

avermelhada na área laranja indicaria a presença de chumbo ou de bário. O

tecido é seco uma terceira vez e, na ausência de luz forte, era tratado com

ácido clorídrico. Se aparecia a cor azul na área vermelha teríamos a

confirmação de chumbo. Estes testes, entretanto, foram considerados

inconclusivos, e a baixa sensibilidade dos reagentes colorimétricos utilizados

não se adaptavam a as baixas concentrações de GSR emitidas pelas armas

modernas163.

3.1.3. Rodizonato de Sódio

Este teste é uma variação do teste anterior e é muito utilizado para testar

a presença de chumbo em orifícios em se que quer saber se foram produzidos

pela passagem de projétil.164 Em uma modificação proposta por Bashinski et al.

o material a ser testado pode ser pré-tratada com uma solução de 10% de

ácido acético com o objetivo de melhorar a sensibilidade do teste165. Em

seguida, o material é borrificado com uma solução tampão de ácido tartárico

com pH de 2,8 e para finalizar é pulverizado com rodizonato de sódio. Manchas

de coloração rosa brilhante vão apontar as partículas de chumbo e manchas de

coloração laranja vão acusar as partículas de bário. O teste é rápido e barato,

mas diz apenas da presença destes metais, pouco falando sobre a sua

quantidade166.

Por se tratar de um teste de baixa sensibilidade, o fato de o resultado ser

negativo não significa ausência de GSR.

163

G. Price, “Firearms Discharge Residues on Hands,” Journal Forensic Science ociety 5 (1965): 199. C.

R. Midkiff, “Detection of Gunshot Residues: Modern Solution for an Old roblem,” Journal Police

Science and Administration 3, no. 1 (1975): 77. R. R. Ruch, V. P. Guinn, and R. H. Pinker, “Detection of

Gunpowder Residues by Neutron Activation Analysis,” Nuclear Science and Engineering 20 (1964):381..

M. E. Cowan, P. L. Purdon, C. M. Hoffman, R. Brunelle, S. R. Gerber, and M. Pro, “Barium and

Antimony Levels on Hands—Significance as Indicator of Gunfire Residue.” Paper presented at the

Second International Conference on Forensic Activation Analysis, Glasgow, 1972, Paper 21.. M. D. Cole,

N. Ross, and J. W. Thorpe, “Gunshot Residue and Bullet Wipe Detection Using a Single Lift Technique,”

AFTE Journal 24, no. 3 (July 1992): 254. Apud Wallace. P.108. 164

Harrison, H. C. and Gilroy, R. Firearms discharge residues. J. Forensic Sci. 4(2): 184–199, 1959.

Dillon, J. H. The Sodium Rhodizonate Test: A chemically specific chromophoric test for lead in gunshot

residue. AFTE Journal. 22(3):251–256, 1990. Apud Di Maio. P. 346. 165

Bashinski, J. S., David, J. E., and Young, C. Detection of lead in gunshot residues on targets using the

sodium rhodizonate test. AFTE J. 6(4): 5–6, 1974. Apud Di Maio. P. 349. 166

Di Maio. P. 356.

64

Este teste caiu em desuso, nos Estados Unidos, pois os automóveis a

gasolina ejetavam partículas de chumbo pela descarga, devido ao amplo uso

de chumbo tetraetila como antidetonante167.

3.1.4. Radiação de Nêutrons (Neutron Activation Analysis, Análise de Ativação)

Neutron Activation Analysis (NAA) é uma das técnicas analíticas mais

sensíveis para a detecção de muitos elementos. Um grande avanço se deu em

1964, quando a NAA foi aplicada para a detecção quantitativa de antimônio e

bário em GSR (Antimônio é o indicador elementar mais valioso para GSR, pois

fontes de chumbo e bário são muito comuns no meio ambiente humano) 168

O método é baseado no fato de que, quando um material é submetido à

radiação por algum período de tempo, os átomos de alguns elementos

absorvem um nêutron extra. Estes núcleos ficam, geralmente, instáveis e

tendem a perder este nêutron e emitir raios gama. Este tipo de núcleo é

chamado de radionuclídeo. Com um contador de radiação é possível saber a

quantidade de radiação, sua freqüência e meia-vida e, assim, determinar os

elementos da amostra169.

NAA tem sido usado com sucesso para a detecção de Bário, Antimônio,

Cobre e Mercúrio em amostras de mãos e orifícios com uma variedade de

alvos e distâncias170, mas sofre uma série de desvantagens para seu uso

rotineiro em laboratórios forenses. Entre as quais:

1. Dificuldade de acesso ao uma fonte de nêutrons.

2. Alto custo dos equipamentos e grande especialização do pessoal

envolvido;

3. Processamento lento das amostras (baixa produtividade).

4. Risco de exposição à radiação e insalubridade.

167

Wallace. P.274 168

R. R. Ruch, V. P. Guinn, and R. H. Pinker, “Detection of Gunpowder Residue by Neutron Activation

Analysis,” Nuclear Science and Engineering 20 (1964): 381. Apud Wallace. P. 108 169

H. L. Schlesinger, H. R. Lukens, V. P. Guinn, R. P. Hackleman, and R. F. Korts, Gulf General Atomic

Report No GA-9829 (1970). 132. C. R. Midkiff, “Detection of Gunshot Residues: Modern Solution for an

Old Problem,” Journal Police Science and Administration 3, no. 1 (1975): 77.Apud Wallace. P.108. 170

M. Jauhari, T. Sing, and S. M. Chatterji, “Carga iniciadora Residue Analysis of Ammunition of Indian

Origin by Neutron Activation Analysis,” Forensic Science International 19 (1982): 253. Apud Wallace.

P.109.

65

5. Limitações para o uso na prospecção de chumbo, o qual é,

justamente, um elemento muito importante para determinação de GSR171.

Muita pesquisa foi feita sobre NAA, mas as dificuldades apresentadas

foram grandes, o que levou a pesquisa de outras técnicas. Entretanto os

trabalhos com NAA geraram um grande cabedal de conhecimento sobre a

natureza, a formação e a deposição das partículas de GSR172.

A partir da década de 1990 o NAA foi virtualmente substituído pela

espectrometria de absorção atômica sem chama (FAAS) 173.

3.1.5. Flameless Atomic Absorption Spectrometry (FAAS) A espectrometria de absorção atômica é, segundo Di Maio, muito

popular em laboratórios de criminalística nos Estados Unidos devido a uma

combinação de simplicidade, a sensibilidade adequada e baixo custo. É

utilizado para a detecção de bário, antimônio e chumbo, oriundos da carga

iniciadora, como de cobre oriundo do encamisamento do projétil ou do

cartucho. Para coleta, são geralmente utilizados quatro suabes umedecidos

com ou ácido nítrico ou clorídrico são usados, um para a palma da mão direita,

outro para a palma da mão esquerda, um para o dorso da mão direita, um para

o dorso da mão esquerda e um quinto é utilizado como controle. Com base na

quantidade de bário, antimônio e chumbo detectados nas quatro faces das

mãos, são estabelecidas correlações que indicam se os depósitos são

compatíveis ou não com a hipótese de produção de tiro174.

Segundo Wallace, a espectrofotometria de absorção atômica sem

chama (FAAS) oferece limites de detecção semelhante ao NAA e é adequado

para a determinação de baixos níveis de chumbo. O custo do equipamento

está dentro do limite do razoável e é muito comum em laboratórios de diversos

171

Wallace. P. 109. 172

Wallace P.109. 173

Krishnan, S. S. Detection of gunshot residue on the hands by neutron activation and atomic absorption

analysis. J. Forensic Sci. 19(4): 789–797, 1974. Stone, I. C. and Petty, C. S. Examination of gunshot

residues. J. Forensic Sci 19(4): 784–788, 1974.. Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L.,

and Jones, P. F. Particles analysis for the detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2):409–

422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869, 1979. Germani, M. S. Evaluation of instrumental parameters for

automated scanning electron microscopy/gunshot residue particle analysis. J. Forensic Sci. 36(2):331–

342, 1991. Apud Di Maio. P.343 174

Di Maio. P. 344.

66

tipos. Uma grande gama de elementos metálicos pode ser detectada, tornando

a técnica versátil e útil para as aplicações forenses. A maior desvantagem é a

impossibilidade de detectar se os elementos presentes estão na mesma

partícula175.

Com esta técnica, a amostra é aquecida eletricamente até uma

temperatura elevada o suficiente para quebrar as ligações das moléculas,

restando átomos individuais em seu estado elementar. Esses átomos são

capazes de absorver radiação ultravioleta ou visível. As bandas de

comprimento de onda que cada elemento absorve são muito específicas e

diferentes para cada elemento. Assim é possível identificar que na amostra

existe, por exemplo, Bário, Chumbo e Antimônio, mas não possível se saber se

estão na mesma partícula176.

Normalmente, quando uma arma de cano curto é descarregada, são

esperados GSR no dorso. GSR na palma da mão tendem a ser compatíveis

com gesto de defesa, manuseiro de objeto com GSR, ou com o apoio do cano

da arma, no caso de suidídio. Entretanto, como veremos mais tarde, isto não

passa de generalização177.

No laboratório da fonte (Southwestern Institute of Forensic Sciences in

Dallas), para exame com FAAS e com a técnica acima descrita, os índices

eram considerados estatisticamente significativos somente quando estavam

acima de 35 ng de Antimônio, 150 ng de Bário e 800 ng para o Chumbo, com

a obsrvação de que Bário elevado podia ser explicado pela contaminação com

solo rico em Bário178.

No caso do método usado em Dallas, a fonte informe que para se

interpretar corretamente o significado, se houver, de um resultado positivo, se

deve levar em conta qual a superfície positiva (palma ou dorso) e qual a

negativa, a quantidade de metais depositados nas diferentes áreas e a

natureza da arma. E, no caso de ferimentos auto-infligidos, a natureza e a

localização da ferida também devem ser considerados. Como imagem clássica

teríamos, para o caso de um atirador, é um positivo no dorso da mão e

negativo na palma. Se um indivíduo, em vez de disparar a arma, colocou sua

175

Wallace. P.109. 176

Wallace. P.109. 177

Di Maio P.344. 178

Di Maio. P.344.

67

mão em um gesto defensivo, com a sua palma em direção a arma no momento

da descarga, níveis elevados de GSR estarão presentes na palma da mão e,

às vezes, no dorso da mão179.

A fonte mencionada coloca alguns casos reais exemplares sobre a

interpretação de resultados deste tipo de exame.

Caso 1.

No caso temos um indivíduo jovem morto em decorrência de diabetes

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 2.0 86 8

Dorso da esquerda 1.2 4 25

Palma da Direita 0.4 0 16

Palma da Esquerda 1.6 33 50

Tiro > que 35.0 150 800

Como não poderia deixar de acontecer o teste resultou negativo.

Caso 2

Este caso temos um individuo morto com facadas e havia a suspeita de

o mesmo ter, antes de morrer, efetuado tiros. Entretanto o resultado foi

considerado negativo.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 2.4 390 58

Dorso da esquerda 0.8 1387 159

Palma da Direita 0 826 168

Palma da Esquerda 0 1409 478

Tiro > que 35.0 150 800

Os níveis acentuadamente elevados de bário foram interpretados como

contaminação pelo solo, que é rico em Bário em alguma áreas dos Estados

179

Di Maio P. 344.

68

Unidos. Os níveis de chumbo e antimônio não foram típicos de produção de

tiro.

Caso 3

Suicídio com revólver calibre .38 SPL, com acionamento do gatilho com

a mão direita.

Os resultados para o dorso da mão direita são fortemente indicativos de

produção de tiro.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 78 212 1.537

Dorso da esquerda 12 75 345

Palma da Direita 5 90 210

Palma da Esquerda 21 79 320

Tiro > que 35 150 800

Caso 4

Suicídio com revólver calibre .38 SPL, com a mão esquerda ao redor do

cano e muito provável acionamento do gatilho com a mão direita.

Os resultados para o dorso da mão direita são fortemente indicativos de

produção de tiro.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 81 232 975

Dorso da esquerda 250 635 67.292

Palma da Direita 5 21 190

Palma da Esquerda 193 804 45.360

Tiro > que 35 150 800

Caso 5

69

Suicídio com um tiro na têmpora direita, usando um espingarda de

calibre 0,410’’. O falecido usou a mão esquerda para segurar o cano da

a arma contra sua cabeça e a mão direita para acionar o gatilho.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 1,6 202 210

Dorso da esquerda 98.8 233 3.738

Palma da Direita 6.8 112 840

Palma da Esquerda 12.0 152 344

Tiro > que 35 150 800

Caso 6

Este é um exemplo de um indivíduo tentando se defender. Havia níveis

significativos de bário, antimônio e chumbo na palma da mão direita.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 10.4 102 344

Dorso da esquerda 22.8 92 705

Palma da Direita 54.8 301 1.999

Palma da Esquerda 12.4 58 722

Tiro > que 35.0 150 800

Caso 7

Este é um outro caso em se considerou que o indivíduo tentava defesa.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 81.2 30 3.166

Dorso da esquerda 18.2 5 1.646

Palma da Direita 262.8 416 9.273

Palma da Esquerda 148.0 349 2.931

Tiro > que 35.0 150 800

70

Caso 8

Este é um caso totalmente atípico, onde um indivíduo foi morto por

projetil de alta velocidade que atravessou a porta do carro onde ele estava.

Desta maneira é de se esperar que tenha tido pouco contato com GSR, mas o

projétil, de chumbo endurecido com antimônio, porvavelmene produziu uma

nuvem deste tipo de partículas devido a abrasão sofrida ao passar pela porta.

Área da mão Antimônio (ng) Bário (ng) Chumbo (ng)

Dorso da direita 149.2 92 10.054

Dorso da esquerda 57.2 0 2.646

Palma da Direita 52.4 0 3.561

Palma da Esquerda 75.2 52 4.880

Tiro > que 35.0 150 800

Segundo Di Maio, a dificuldade com a análise FAAS é que nunca se

pode ter certeza absoluta de que se trata de resíduos de armas de fogo, pois o

sistema mede apenas uma quantidade total de resíduos metálicos removidos

pelo suabe, não se podendo distinguir com certeza a origem dos mesmos.

Além disso, esta técnica tem uma uma alta porcentagem de falsos negativos.

Stone mostrou que, numa série de indivíduos que se suicidaram com

revolveres com munição com espoleta, apenas 50% dos deram resultados

positivos com a aplicação desta técnica.180 Quando pistolas foram utilizadas, o

número caiu para 32%. E, no caso de munição 0,22’’ o valor encontrado foi de

apenas 23%, o que mostra que não tem sentido falar em resultado negativo

para este tipo de exame, ou seja, o resultado negativo não prova que o

indivíduo não disparou uma arma181.

Um resultado positivo para este teste também pode ser obtido em

pessoas que manipulam armas recentemente descarregadas. Neste caso, os

180

Stone, I. C. Characteristics of firearms and gunshot wounds as markers of suicide. Amer. J. Forensic

Med. and Path. 13(4):275–280, 1992. Apud Di Maio. P. 348 181

Di Maio. P. 349

71

resíduos estarão depositados nas palmas das mãos. Em um estudo limitado

(66 testes), Stone reportou 43% de positivos para revolveres nesta situação e

29% para pistolas, ou seja, números semelhantes aos encontrados em

atiradores182.

A FAAS é a técnica mais popular para a determinação quantitativa de

elementos associados com FDR ( chumbo, bário, antimónio, cobre e mercúrio).

Outros elementos relevantes também podem ser determinados e existe

abundante literatura técnica sobre o assunto183. Entretanto, todos os métodos

de análise elementar em massa, como NAA e FAAS, tem o grave defeito da

falta de especificidade, pois os elementos detectados são exclusivos de GSR,

mas podem ter origem na atividade laboral do suspeito ou do próprio meio-

ambiente. Muitas pesquisas foram realizadas para determinar os níveis para

chumbo, antimônio, bário nas mãos de pessoas não envolvidas com armas de

fogo. Algumas pesquisas também incluiram o cobre e mercúrio. Dados

ocupacionais foram coletados e os níveis de limite estabelecido para cada um

dos os elementos. O nível limite pode ser definido como o nível acima do qual o

resultados podem ser significativos e são consistentes com descarga de uma

arma de fogo, mas, de qualquer forma, não poderia ser tomado como prova

100% conclusiva para a presença de GSR. E, ademais, presença de GSR não

siginifica necessariamente que a pessoa deu um tiro. Há a necessidade de se

analisar o resultado do exame em um conjunto de provas184.

Em função de todas estas incertezas, um método mais definitivo foi

procurado com a análise de partículas. Este método é reivindicado como capaz

de identificar conclusivamente partículas de GSR185.139-144

182

Stone, I. C. Characteristics of firearms and gunshot wounds as markers of suicide. Amer. J. Forensic

Med. and Path. 13(4):275–280, 1992. Apud. Di Maio. P. 249. 183

A. L. Green, and J. P. Sauve, “The Analysis of Gunshot Residue by Atomic Absorption

Spectrophotometry,” Atomic Absorption Newsletter 11 (September–October 1972): 93.. G. D. Renshaw,

“The Estimation of Lead, Antimony and Barium in Gunshot Residues by Flameless Atomic Absorption

Spectrophotometry,” CRE report no. 103, Aldermaston, England. Home Office Central Research

Establishment (1973).. S. S. Krishnan, K. A. Gillespie, and E. J. Anderson, “Rapid Detection of Firearm

Discharge Residues by Atomic Absorption and Neutron Activation Analysis,” Journal of Forensic

Sciences 16 (1971): 144.. J. S. Wallace, “Firearms Discharge Residue Detection Using Flameless Atomic

Absorption Spectrophotometry,” AFTE Journal 19, no. 3 (July 1987). Apud Wallace. P. 110. 184

Wallace. P. 110. 185 J. E. Wessel, P. F. Jones, Q. Y. Kwan, R. S. Nesbitt, and E. J. Rattin, “Gunshot Residue Detection,”

The Aerospace Corporation, El Segundo, CA. Aerospace report no. ATR-75 (7915)-1 (September 1974).

G. M. Wolten, R. S. Nesbitt, A. R. Calloway, G. L. Lopel, and P. F. Jones, “Final Report on Particle

Analysis for Gunshot Residue Detection,” The Aerospace Corporation, El Segundo, CA. Aerospace

report no. ATR-77 (7915)-3 (September 1977). E. Boehm, “Application of the SEM in Forensic

72

3.1.6. Década de 1980

Na década de 1980, foram difundidos três métodos para analisar de

resíduos de tiro: a ativação de nêutrons (abandonado na década de 1990),

espectrometria de absorção atômica sem chama (FAAS) e microscopia

eletrônica de varredura por de raios-x (MEV-EDX)186 Todos os três métodos

eram baseados na detecção de elementos metálicos (principalmente de bário,

antimônio e chumbo) originários de carga iniciadoras e expelidos pelas

aberturas das armas. Na época todos os três compostos eram encontrados nas

espoletas de praticamente todos os cartuchos vendidos nos Estados Unidos,

mas não era, necessariamente verdade para as munições com carga

iniciadoras radiais (por exemplo, calibres .22’’), pois, desde meados dos

meados dos anos 1980, os cartuchos Remington rimfire continham apenas

chumbo em seus iniciadores e mais tarde a composição mudou para chumbo

e bário; os da CCI contém chumbo e bário e os da Federal, estes sim, contém

chumbo, bário e antimônio.

3.1.7. Década de 1990

A partir de meados da décda de 1980, na Europa, e meados da década

de 1990, nos Estados Unidos, começaram a ser introduzidos carga iniciadoras

livres de chumbo, os quais também poderiam não conter antimômio ou bário.

Análises de laboratório mostraram estrôncio nos carga iniciadoras da CCI,

Medicine,” Proceedings of the Fourth Annual Scanning Electron Microscopy Symposium (1977), 553. R.

Diedericks, M. J. Camp, A. E. Wilimovsky, M. A. Haas, and R. F. Dragen, “Investigations into the

Adaptability of Scanning Electron Microscopy and X-ray Fluorescence Spectroscopy to Firearms Related

Examinations,” AFTE Journal 6 (1974). R. H. Keeley, “Some Applications of Electron Probe Instruments

in Forensic Science,” Proceedings of Analytical Division Chemical Society 13 (1976): 178. J. Andrasko,

and A. C. Maehly, “Detection of Gunshot Residues on Hands by Scanning Electron Microscopy,”

Journal Forensic Sciences 22 (1977): 279. Apud Wallace. P.110. 186

Krishnan, S. S. Detection of gunshot residue on the hands by neutron activation and atomic absorption

analysis. J. Forensic Sci. 19(4): 789–797, 1974. Stone, I. C. and Petty, C. S. Examination of gunshot

residues. J. Forensic Sci 19(4): 784–788, 1974.. Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L.,

and Jones, P. F. Particles analysis for the detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2):409–

422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869, 1979. Germani, M. S. Evaluation of instrumental parameters for

automated scanning electron microscopy/gunshot residue particle analysis. J. Forensic Sci. 36(2):331–

342, 1991. Apud Di Maio. P.343

73

potássio nos fabricados pela Winchester, cálcio e silício nos da Federal e titânio

e zinco nos europeus Sintox.7-8. Também houve modificação nas técnicas de

manufatura dos projéteis, tendendo a evitar a vaporização da base do projétil

no momento da queima do propelente.

3.1.8. SEM/EDS - MEV

O “Scanning Electron Microscope/Energy Dispersive Spectroscopy”

(SEM/EDS), ou Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) em Português é um

aparelho que produz imagens em alta ampliação (até 300.000 x) e resolução.

As imagens fornecidas são virtuais, pois o que é exibido no monitor do

aparelho é a transcodificação de ondas energéticas emitidas e não as

radiações luminosas que formam o nosso dia a dia.

O princípio de funcionamento do MEV é baseado na emissão de elétrons

por um filamento capilar de tungstênio (eletrodo negativo), produzidos pela

aplicação de uma diferença de potencial que pode variar de 0,5 a 30 kV. Esta

faixa de voltagem permite a variação da aceleração dos elétrons. A relação

positiva para o filamento do microscópio (eletrodo positivo) atrai fortemente os

elétrons gerados, resultando numa aceleração em direção ao eletrodo positivo.

A correção da trajetória dos feixes é realizada pelas lentes condensadoras que

alinham os feixes em direção à abertura. A lente ajusta o foco de feixes de

elétrons antes de atingir a amostra. Ao atingir a superfície examinada este feixe

de elétrons provoca a emissão de elétrons secundários e outras ondas, os

quais são processados e formam a imagem observada.

O EDS (Energy Dispersive x-ray detector, EDX ou EDS) é um acessório

essencial no estudo de caracterização microscópica de materiais. Quando o

feixe de elétrons incide sobre um mineral, os elétrons mais externos dos

átomos e os íons constituintes são excitados, mudando de níveis energéticos.

Ao retornarem para sua posição inicial, liberam a energia adquirida a qual é

emitida em comprimento de onda no espectro de raios-x. Um detector instalado

na câmara de vácuo do MEV mede a energia associada a esse elétron. Como

os elétrons de um determinado átomo possuem energias distintas, é possível,

no ponto de incidência do feixe, determinar quais os elementos químicos estão

presentes naquele local e assim identificar em instantes que mineral está

74

sendo observado. O diâmetro reduzido do feixe permite a determinação da

composição mineral em amostras de tamanhos muito reduzidos (< 5 µm),

permitindo uma análise quase que pontual.

A utilização de um microscópio eletrônico de varredura equipado com

capacidade de análise (SEM / EDX) fornece resultados que combinam detalhes

da morfologia e da composição elementar de partículas individuais de GSR.

Um sistema de classificação foi desenvolvido e combina morfologia com

composição e as partículas podem ser classificadas em:

(a) de origem diversa de que arma de fogo;

(b) consistente com GSR;

(c) certamente originária de GSR187.

O uso em conjunto do EDX com o MEV é de grande importância na

caracterização de GSR. Enquanto o MEV proporciona nítidas imagens (ainda

que virtuais, pois o que se vê no monitor do computador é a transcodificação

da energia emitida pelas partículas, ao invés da radiação emitida pela luz, ao

qual estamos habitualmente acostumados), o EDX permite sua imediata

identificação. Além da identificação mineral, o equipamento ainda permite o

mapeamento da distribuição de elementos químicos por partícula, gerando

mapas composicionais de elementos desejados.

A análise química de uma evidência pode detectar vestígios de chumbo

(Pb), bário (Ba) e antimônio (Sb), dentro de um intervalo de nanogramas.

Entretanto a detecção desses elementos sugere que a evidência pode ser

oriunda de GSR. No entanto, isto somente prova que Pb, Ba e Sb estão

presentes, mas sem correlacioná-los a uma única fonte. Em princípio cada

elemento da amostra pode ter sido gerado de maneira independente. Estes

resultados, por natureza, são inespecíficos. Com o MEV, entretanto, é possível

fazer uma análise partícula por partícula, determinando a presença de Pb, Ba e

Sb na mesma partícula, registro quase definitivo da presença de GSR. Isto faz

com que o MEV seja a técnica preferida do ponto de vista da especificidade.188

No MEV um feixe de elétrons é acelerado a partir de um filamento de

tungstênio quente contra a amostra, o que causa a emissão de eletrons

187

Wallace. P.111. 188

DeGaetano, D. and Siegel, J. A., Survey of gunshot residue analysis in forensic science laboratory, J.

Forensic Sci., 35, 1087–1095, 1990, apud Schwoeble.

75

secundários, eletrons retroespelhados e raios X, a partir dai se pode montar a

imagem da partícula189.

Esses três efeitos são utilizados no método de análise de partículas, pois

os elétrons secundários são utilizados para visualizar a amostra, os elétrons

retroespelhados são usados para identificar prováveis partículas de GSR, e os

raios-X são usados para fornecer detalhes da composição composição

elementar das partículas190.

As partículas de GSR contêm elementos com número atômico elevado (

Chumbo, 82, Antimônio, 51, Bário, 56). Este fato é utilizado para auxiliar a

busca de partículas de GSR, pois todas as partículas que contém metais

pesados tem forte emissão, podendo assim serem selecionadas. Desta forma,

apenas estas são selecionadas para análise191.

O uso do microscópio eletrônico de varredura (MEV) apresenta tantas

vantagens que Heard diz que o mesmo é, o mais importante avanço no campo

da análise forense de armas de fogo desde a invenção do microscópio

comparador192.

Como o MEV-EDX, partículas de GSR são retiradas da mão utilizando-

se adesivos. O material removido pode ser “varrido” a procura de partículas pré

identificadas como GSR. Estes resíduos são formados por partículas de

tamanho micrométrico, muitas vezes de uma forma característica, envolvendo

a análise automatizada das partículas que possuem determinadas

características físicas, por exemplo, o tamanho e a composição, onde

partículas com Pb-Ba-Sb ou Ba-Sb, que são indicativas de GSR193.

Com base em testes (não casos reais de crime), verificou-se que, em

indivíduos que dispararam armas de fogo curtas, 90% de resultado positivo e

de para armas de cano longo, 50%194.

189

Wallace. P.111. 190

Wallace. P. 111. 191

Wallace. P.111. 192

Heard. P. 241. 193

Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L., and Jones, P. F. Particles analysis for the

detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2): 409–422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869,

1979.. Germani, M. S. Evaluation of instrumental parameters for automated scanning electron

microscopy/gunshot residue particle analysis. J. Forensic Sci. 36(2):331–342, 1991.Apud Di Maio. P.

349 194

Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L., and Jones, P. F. Particles analysis for the

detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2): 409–422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869,

1979. Apud Di Maio. P. 349.

76

Como, usando o MEV, as partículas podem ser identificadas

individualmente como GSR, a análise não é tão dependente do tempo como no

FAAS. O estudo de Stone informa achados positivos até 12 após o tiro.195

Outro estudo colocou o MEV como ferramenta bem mais eficaz em busca de

GSR, com séries de tiro real, encontrando 3,9% de resultados positivos com

FAAS e 31,6% com MEV196.

Por outro lado, apesar do sucesso da técnica, uma dose de cautela

sempre, pois conforme Wallace, já foram observadas partículas “únicas de tiro”

produzidas pelo acionamento de freios de automóveis197.

3.2. Resíduos Orgânicos no GSR

A análise de partículas é o método mais informativo para a identificação

de GSR, entretanto tem algumas desvantagens, como por exemplo: o custo

elevado dos equipamentos envolvidos, procedimentos demorados e tediosos

que exigem pessoal especializado. Para resolver este último problema foi

desnvolvida a automação da pesquisa de partículas e a manipulação da

amostra para concentrar os resíduos antes do exame198, mas apesar de

melhorias consideráveis, o método de análise de partículas continua a ser um

processo demorado e caro. Esta desvantagem têm renovado o interesse na

possibilidade de detectar os componentes orgânicos do GSR, seja como um

método primário ou como uma técnica de triagem199.

195

Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L., and Jones, P. F. Particles analysis for the

detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2): 409–422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869,

1979. Apud Di Maio. P. 349. 196

Garcia, James. Documento Privado. Apud Di Maio. P. 350. 197

Wallace. P.274. 198

T. G. Kee, C. Beck, K. P. Doolan, and J. S. Wallace, “Computer Controlled SEM Micro Analysis and

Particle Detection in the Northern Ireland Forensic Science Laboratory—A Preliminary Report,” Home

Office Internal Publication, Technical note no. Y 85 506. T. G. Kee, and C. Beck, “Casework Assessment

of an Automated Scanning Electron Microscope/Microanalysis System for the Detection of Firearms

Discharge Particles,” Journal of the Forensic Science Society 27 (1987): 321. W. L. Tillman, “Automated

Gunshot Residue Particle Search and Characterisation,” Journal of Forensic Sciences 32, no. 1 (January

1987): 62.. R. S. White, and A. D. Owens, “Automation of Gunshot Residue Detection and Analysis by

Scanning Electron Microscopy/Energy Dispersive X-Ray Analysis (SEM/EDX),” Journal of Forensic

Sciences 32, no. 6 (November 1987): 1595. J. S. Wallace, and R. H. Keeley, “A Method for Preparing

Firearms Residue Samples for Scanning Electron Microscopy,” Scanning Electron Microscopy 2 (1979).

D. C. Ward, “Gunshot Residue Collection for Scanning Electron Microscopy,” Scanning Electron

Microscopy 3 (1982): 1031. A. Zeichner, H. A. Foner, M. Dvorachek, P. Bergman, and N. Levin,

“Concentration Techniques for the Detection of Gunshot Residues by Scanning Electron

Microscopy/Energy Dispersive X-Ray Analysis (SEM/EDX),” Journal of Forensic Sciences 34, no. 2

(March 1989): 312. Apud Wallace. P.114. 199

Wallace. P.114.

77

Técnicas de cromatografia são os principais métodos que têm sido usados

para separar, detectar e identificar compostos orgânicos de GSR.200 Outros

métodos também considerados são a luminescência molecular, a

espectroscopia de infravermelho.201 Raman espectroscopia202, 165 spin elétron

espectrometria203, testes microquímicos de cristal204, espectroscopia de

ultravioleta, resônancia nuclear magnética e polarografia205.

Muitos dos constituintes orgânicos do GSR são explosivos e grande parte

do trabalho já realizado sobre a detecção de resíduso de explosivos pode ser

200 I. Jane, P. G. Brookes, J. M. F. Douse, K. A. O’Callaghan, “Detection of Gunshot Residue via

Analysis of Their Organic Constituents,” Proceedings of the International Symposium on the Analysis

and Detection of Explosives, FBI Academy, Quantico (1983), 475. K. Bratin, P. T. Kissinger, R. C.

Briner, and C. S. Bruntlett, “Determination of Nitro Aromatic, Nitramine and Nitrate Ester Explosive

Compounds in Explosive Mixtures and Gunshot Residue by Liquid Chromatography and Reductive

Electrochemical Detection,” Analytica Chimica Acta 130, no. 2 (1981): 295. J. M. F. Douse, “Trace

Analysis of Explosives in Handswab Extracts Using Amberlite XAD-7 Porous Polymer Beads, Silica

Capillary Column Gas Chromatography with Electron Capture Detection and Thin Layer

Chromatography,”Journal of Chromatography 234 (1982): 415.. D. H. Fine, W. C. Yu, E. U. Goff, E. C.

Bender, and D. J. Reutter, “Picogram Analyses of Explosive Residues Using the Thermal Energy

Analyzer (TEA),”Journal of Forensic Sciences 29, no. 3 (July 1984): 732. 156. L. S. Leggett, and P. F.

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(1989): 76. M. H. Mach, A. Pallos, and P. F. Jones, “Feasibility of Gunshot Residue Detection via Its

Organic Constituents. Part 1. Analysis of Smokeless Powders by Combined Gas Chromatography–

Chemical Ionisation Mass Spectrometry,” Journal of Forensic Sciences 23, no. 3 (1978): 433. 158. M. H.

Mach, A. Pallos, and P. F. Jones, “Feasibility of Gunshot Residue Detection via Its Organic Constituents.

Part 2. A Gas Chromatography–Mass Spectrometry Method,” Journal of Forensic Sciences 23, no. 3

(1978): 446.. J. B. F. Lloyd, “High-Performance Liquid Chromatography of Organic Explosives

Components with Electrochemical Detection at a Pendant Mercury Drop Electrode,” Journal of

Chromatography 257 (1983): 227. J. B. F. Lloyd, “Clean-up Procedures for the Examination of Swabs for

Explosives Traces by High-Performance Liquid Chromatography with Electrochemical Detection at a

Pendant Mercury Drop Electrode,” Journal of Chromatography 261 (1983): 391. J. M. F. Douse,

“Dynamic Headspace Method for the Improved Clean-up of Gunshot Residues prior to the Detection of

Nitroglycerine by Capillary Column Gas Chromatography with Thermal Energy Analysis Detection,”

Journal of Chromatography 464 (1989): 178.162. H. R. Dales, “An Assessment of the Use of High

Performance Liquid Chromatography with an Electrochemical Detector for the Analysis of Explosive

Residues” (M.Sc. thesis, University of Strathclyde, August 1989). Apud Wallace. P. 114. 201

J. E. Wessel, P. F. Jones, Q. Y. Kwan, R. S. Nesbitt, and E. J. Rattin, “Gunshot Residue Detection,”

The Aerospace Corporation, El Segundo, CA. Aerospace report no. ATR-75 (7915)-1 (September 1974),

6. 164. D. Chasan, and G. Norwitz, “Qualitative Analysis of Carga iniciadoras, Tracers, Igniters,

Incendiaries, Boosters, and Delay Compositions on a Microscale by Use of Infrared Spectroscopy,”

Microchemical Journal 17 (1972): 31. Apud Wallace. P.114. 202

J. E. Wessel, P. F. Jones, Q. Y. Kwan, R. S. Nesbitt, and E. J. Rattin, “Gunshot Residue Detection,”

The Aerospace Corporation, El Segundo, CA. Aerospace report no. ATR-75 (7915)-1 (September 1974),

6. Apud Wallace. P.114 203

L. A. Franks, and R. K. Mullen, “Time Dependent Electron Paramagnetic Resonance Characteristics

of Detonated Carga iniciadora Residues,” U.S. Dept. of Justice, Law Enforcement Assistance

Administration, National Institute of Law Enforcement and Criminal Justice (November 1972). Apud

Wallace. P.114. 204

C. R. Newhouser, “Explosives Handling Detection Kit,” Technical Bulletin 33- 72 (Washington, DC:

International Association of Chiefs of Police, 1972). F. T. Sweeney, and P. W. D. Mitchell, “Aerosol

Explosive Indicator Kit,” Final Report F-C 377G02, LWL Task No. 24-C-74 (Philadelphia, PA: Franklin

Institute Research Labs, June 1974). Apud Wallace. P. 114 205

CRC Critical Reviews in Analytical Chemistry, vol. 7 (Boca Raton, FL: CRC Press, 1977). Apud

Wallace. P. 114.

78

estendido para incluir GSR. Explosivos e seus resíduos geralmente são

analisados com técnicas de cromatografia206.

De todos os métodos estudados para resíduos orgânicos de tiro, os que

parecem mais promissores são a cromatografia líquida (HPLC) e cromatografia

gasosa com um detector espectrômetro de massa (GC / MS)207.

3.3. Natureza dos Resíduos de Tiro e a sua Formação

Quando a espoleta é detonada, seus resíduos escapam da arma sob a

forma de uma nuvem de vapor, através de aberturas disponíveis na arma. Em

seguida, a temperatura ambiente resfria estes vapores e eles se solidificam na

forma de partículas finas (de 1 a 10 micra, com possibilidade de ir até 100

micra) nos substratos próximos.

Os resíduos produzidos saem da arma na forma gasosa, com temperatura

de cerca de 2000º C. Este material gasoso é composto principalmente de

produtos da combustão do propelente e consiste de dióxido de carbono,

monóxido de carbono, água na forma de vapor e óxidos de nitrogênio. Junto

com esta nuvem são lançadas partículas parcialmente queimadas e não

queimadas do propelente e produtos da combustão da carga iniciadora. Estas

partículas, depois de solidificadas são chamadas genericamente de GSR,

sendo encontrados autores que se referem a elas como firearms discharge

residues (FDR) 208.

Como cada tipo arma possui seu próprio padrão de aberturas, a

descarga de GSR irá possuir nuances diferenciadas no seu padrão de

depósito.

Observe-se que condições externas, como o vento, por exemplo, podem

influir na morfologia da distribuição do GSR.

Tipicamente, mas não necessariamente, esta nuvem de vapores é

composta normalmente de partículas de chumbo (PB), bário (Ba) e antimônio

(Sb), havendo outros elementos dependendo do fabricante da espoleta.

206

Wallace P.114. 207

Wallace P.114. 208

Heard.. P. 241.

79

A presença destes componentes se deve a constituição da maioria das

espoletas que necessitam da ação de três componentes:

Se existe a pretensão ou a possibilidade de uso de MEV para investigar a

presença de GSR, um pré-requisito para isto é o entendimento dos

mecanismos de formação destas partículas209.

No momento em que o percutor atinge a carga iniciadora, este irá explodir

violentamente e elevar a temperatura da espoleta para cerca de 2500 ºC.

Nesta temperatura os seus componentes metálicos são volatilizados, formando

uma nuvem que condensará rapidamente, formando partículas esféricas

bastante pequenas, na faixa de 0,1-5 µ. Estas partículas poderão conter várias

combinações dos elementos presentes. Algumas, obviamente, podem conter

apenas um elemento e outras todos os elementos presentes na carga

iniciadora. O fato de existirem partículas que contenham, ao mesmo tempo,

Chumbo, Bário e Antimônio conjuntamente, com uma forma específica, dão

certeza de terem sido produzidos por descarga de arma de fogo210.

O desenvolvimento do método de análise de partículas para GSR, sua

identificação e detecção, envolve considerações de como as partículas são

produzidas e sua natureza física e química211.

Um estudo extenso e muito valioso da natureza das partículas de GSR foi

realizado pela Aerospace Corporation, na Califórnia, em meados dos anos

1970. Boa parte do conhecimento sobre o assunto é baseado neste trabalho,

no qual foram recolhido GSR de uma ampla gama de armas e munições, com

estatísticas sobre o tamanho, a forma e a composição destes resíduos. Com

base nestas observações, várias hipóteses têm sido sugeridas sobre a

formação das partículas212.

Em se tratando de partículas inorgânicas o chumbo ocupa um lugar

privilegiado, pois em projeteis de chumbo não jaquetados, este metal é

responsável por 70% das partículas. Em projéteis com revestimentos a

proporção é a mesma, com a ressalva de que uma proporção substancial de

209 Heard. P. 242.

210 Heard,. P. 242.

211 G. M. Wolten, R. S. Nesbitt, A. R. Calloway, G. L. Lopel, and P. F. Jones, “Final Report on Particle

Analysis for Gunshot Residue Detection,” The Aerospace Corporation, El Segundo, CA. Aerospace

report no. ATR-77 (7915)-3 (September 1977), 13. G. M. Wolten, and R. S. Nesbitt, “On the Mechanism

of Gunshot Residue Particle.. Formation,” Journal of Forensic Sciences 25, no. 3 (July 1980): 533. Apud

Wallace. P.123 212

Wallace. P. 123.

80

partículas de chumbo tem o material da jaqueta aderido. Em projéteis

jaquetados ou semi-jaquetados a proporção de partículas de chumbo diminui

grandemente, então conclui-se que a maioria do chumbo vem do projétil e não

da carga iniciadora. Estas considerações foram também confirmadas com

experimentos envolvendo o uso de substâncias radioativas como traçadores213.

A grande maioria dos GSR formada durante o tiro é composta de

partículas de propelente não queimado ou parcialmente queimados e são de

natureza orgânica. O resto consiste em compostos metálicos provenientes da

carga iniciadora, além de partículas de chumbo puro, que se volatizaram na

base do projétil, o mesmo ocorrendo com cobre e zinco oriundos da jaqueta do

projétil214.

Dentre as partículas de chumbo, a maioria das partículas é formada por

chumbo metálico e não por óxidos de chumbo É de se supor que as partículas

de chumbo metálico sejam oriundas do projétil e as não metálicas da carga

iniciadora, mas está é uma classificação bastante pobre, pois, pelos fenômenos

químicos que ocorrem, é bastante improvável que as partículas da carga

iniciadora sejam reduzidas a chumbo metálico.215

Wallace entende que a formação de resíduos de tiro se dá da seguinte

forma216:

- as altas temperaturas da queima do propelente atuam sobre a base do

projétil, vaporizando uma fração de chumbo do projétil nesta região;

- o forte atrito entre o projétil e o raiamento do cano provoca aquecimento

e vaporização do chumbo e do revestimento dos projéteis, bem como a

formação de partículas sólidas;

- os vapores oriundos do projétil são misturados com os resíduos

inorgânicos decorrentes da queima da carga iniciadora e expelidos através da

boca e de outras aberturas.

Em contato com a temperatura ambiente estes resíduos rapidamente se

condensam e algumas partículas podem restar depositadas na pele ou na

roupa do atirador217.

213

M. A. Purcell, “Radiotracer Studies of Test-Fired Bullets” (master’s thesis, University of California,

Irvine, 1976). Apud Wallace. P. 123; 214

Heard. P. 242. 215

Wallace. P.123. 216

Wallace. P.123.

81

Experimentos na área observaram que a presença de resíduos de tiro na

mão do atirador diminue acentuadamente quando aumenta a velocidade do

projétil. Uma explicação para isto seria que a maior velocidade produziria uma

maior diferença de pressão na esteira do projétil. Sugando assim, para longe

da mão do atirador, os resíduos do tiro, ocorrendo menor saída dos mesmos

pelos orificios das armas218.

Conforme Basu,219 o rápido esfriamento dos vapores de GSR faz as

partículas deste resíduo assumirem formas características:

1. Esferóides, espalhadas de maneira regular, que variam em tamanho de

1-10 µm;

2. Partículas de forma irregulares, que são formadas pela fusão entre

duas partículas maiores, com tamanhos geralmente superiores a 10 µm;

3. Partículas maiores, ou aglomerados, que formam, por exemplo, com

uma camada de chumbo ao redor de um núcleo de bário e antimônio.

Além destas, Wallace acrescenta um quarto tipo de partícula, formado por

fragmentos de grânulos de pólvora220.

Como regra geral, mas de 70% das partículas são esféricas, sua

superfície pode ser lisa, rugosa ou escamada. De um modo geral elas têm

diâmetros inferior a 5 micra, embora a variação da esféricas possa ser de 0,5 a

32 micra. Entretanto é necessário dizer que há dificuldades para a detecção de

partículas menores que 0,5 micra221.

As partículas irregulares podem constituir até cerca de 30% das partículas

expelidas. Seu tamanho varia de uma ampla faixa de menos de 1 micron até

mais de 100 micra. Sua composição é semelhante a das partículas esféricas222.

Os aglomerados são constituídos pela junção de cinco até de mais de

uma centena de partículas esféricas, em forma semelhante a um cacho de

217

Wallace. P.123. 218

Wallace. P.125. 219

Basu, S., Formation of Gunshot Residues, J. Forensic Sci., 27, 72–91, 1982, apud

Schwoeble. 220

Wallace. P.125. 221

Wallace. P.125. 222

Wallace. P.125.

82

uvas, mas ocorrem com pouca freqüência e parecem estar associados à alta

potência ou alta velocidade do projétil223.

Flocos de pólvora solta têm tamanho de cerca de 50 a 1000 micra e,

devido ao seu maior tamanho, são perdidas rapidamente pelas mãos e pelas

roupas224.

Segundo Wallace, as partículas esféricas são resultado da rápida

condensação dos vapores, enquanto que as partículas irregulares podem ser

produzidas pela solidificação de gotas de material fundido, arremessadas pela

boca da arma225.

As partículas formadas no interior do cano, ou no interior do próprio

cartucho, têm formatos diferentes daquelas formadas pelo vapor da espoleta.

Como as diversas armas de fogo possuem padrões diferentes de formação de

partículas, esta pode ser uma informação importante para estabelecer

considerações sobre o tipo de arma utilizado. Como em revolveres a formação

de vapores da espoleta é mais livre que em pistolas semi-automáticas, estudos

de Schwoeble sugerem que:

1. Para os revólveres, 74% das partículas tinham estrutura esférica e 26%

eram irregulares;

2. Para as armas semi-automáticas, 59% das partículas tinham o formato

esférico e 41% eram irregulares;

3. No aspecto do tamanho, no caso de revólveres, 65% das partículas

eram inferiores a 3 µm, 28% estavam na faixa de 3-6 µm, 5% na de 6-10

micrômetros e apenas 2% eram maiores que 10 µm;

4. Para as armas semi-automáticas, 48% das partículas foram inferiores a

3 µm, 29% estavam na faixa de 3-6 µm, 9% na de 6-10 micrômetros, além de

14% maiores de 10 µm.

Estes estudos indicam que há um padrão claro para auxiliar na formação

de convicção sobre o tipo da arma utilizada, em apoio, ou mesmo suprindo a

falta de componentes de munição na cena do crime.

Abaixo temos exemplos de alguns dos principais usos comerciais ou

industriais de Pb, Sb e Ba:

223

Wallace. P.125. 224

Wallace. P.125. 225

Wallace. P. 126.

83

Chumbo (Pb), ponto de fusão, 621 ºC, encontrado em baterias de

veículos, solda rápidas, ligas de aço para rolamentos, gasolinas

contrabandeadas ou falsificadas, projéteis, balins, tintas, revestimentos de

cabos, vidros, fósforos e material pirotécnico.

Antimônio (Sb), ponto de fusão 440 °C, é utilizado em endurecimento de

ligas metálicas, projéteis, óleos lubrificantes, baterias de veículos, balins,

pigmentos, aços de rolamentos, utensílios de estanho, pastilhas de freio e

material pirotécnico.

Bário (Ba), ponto de fusão 850 °C, é encontrado em ligas metálicas,

filmes de radiografia, em banhos de tratamento térmico para têmpera de aços,

em cristais usados em dispositivos laser diversos, aí incluindo até brinquedos,

corantes, tintas prontas, em preparados para curtimento de couro e no

resultado final, produtos químicos para fotografia analógica, inseticidas,

produtos pirotécnicos e papel.

Os produtos acima listados contêm ou Chumbo, ou Antimônio, ou Bário,

ou qualquer combinação dos três, assim a simples presença não afirma, com

certeza, que se trata de GSR, pois os fatores decisivos na identificação de

GSR são a composição específica, morfologia e química da partícula, bem

como a caracterização da população total de partículas detectadas na mesma

amostra.

3.4. Composição do GSR

A identificação de uma partícula de GSR é baseada numa combinação

forma com composição elementar e também na associação com outras

partículas na amostra. Tendo tamanho e foram adequadas, as seguintes

composições de partículas são consideradas como provenientes unicamente

de GSR226:

1. Chumbo, Antimônio e Bário;

2. Bário, Cálcio, Silício, com traços de Enxofre;

3. Bário e antimônio,

226

Wallace. P. 126.

84

Por outro lado as seguintes partículas são indicativas de tiro de arma de

fogo, mas não são exclusivas, podendo advir de outras fontes227.

1. Antimônio e Chumbo;

2. Bário e Chumbo;

3. Chumbo;

4. Bário, se o enxofre é ausente ou apenas um traço;

5. Antimônio.

As partículas de chumbo, de antimônio e chumbo e as de Bário, embora

não sejam unicamente de GSR, são encontradas em algumas poucas outras

atividades, então são bastante característicos de GSR228.

3.5. Áreas Prováveis de Resíduos (GSR) A formação do resíduo de tiro dá, normalmente, de duas maneiras. A

primeira é quando o percutor atinge a espoleta e provoca a sua detonação,

espalhando os componentes desta no meio ambiente. A segunda se dá pelas

partículas que saem junto com o projétil pelo cano.

As áreas onde há maior probabilidade de se encontrar resíduos são:

Mãos - as mãos são os lugares mais comuns onde GSR é recolhido de

suspeitos. Cada tipo de arma de fogo, como revólveres ou pistolas, possui seu

próprio padrão de deposição de resíduos, os quais normalmente se

concentram na parte posterior do dorso, na prega entre o polegar e o indicador

e na palma da mão.

Face - O rosto do atirador pode ser contaminado nas ocasiões em que

armas de fogo, como espingardas ou outras armas de cano longo, são usadas

no tiroteio. Testes de emissões229 têm mostrado que grandes quantidades de

GSR podem ser depositadas nestas áreas.

Vestuário - Roupas freqüentemente preservam evidências GSR por mais

tempo que as mãos de um atirador. A descarga de uma arma de fogo à curta

distância deixa grande quantidade de resíduos como pólvora incombusta nas

227

Wallace. P.126. 228

Wallace. P.126. 229

Conforme Schwoeble.

85

vestes da vítima. Também pode ocorrer de o atirador passar resíduos da sua

mão para bolsos e outras partes da vestimenta.

Objetos no ambiente de tiro – Este é um dos exames mais

negligenciados pela Perícia, mas outros objetos e mesmo mobília da cena de

crime podem fornecer vestígios valiosos sobre a dinâmica dos disparos de

arma de fogo ocorridos em uma cena de crime. Exame de quadros, cadeiras,

paredes, cortinas, pisos, camas, colchões, artigos de móveis e outros itens

podem ajudar a determinar como um tiro ocorreu.

Carros – Os tiroteios com algum dos participantes no interior de um

veículo são comuns e, portanto, se deve fazer uma pesquisa apurada na

forração, nos bancos, na face interna das portas, no painel e outros pontos no

interior do veículo questionado.

3.5.1. Resíduos de tiro na mão do atirador

Ao ser produzido um tiro com revólver, os resíduos projetados para fora

da arma saem pela boca do cano, juntamente com o projétil; pela parte anterior

das câmaras, entre o tambor e o cano; e pela parte posterior das câmaras. Os

resíduos que saem das câmaras podem atingir a mão do atirador, em especial

a região dorsal dos dedos polegar e indicador.

Figura 13 Localização provável de resíduos em mão de atirador em armas de cano curto.

Em 1994, a empresa de consultoria RJ Lee Group, Inc. organizou um

estudo sobre a distribuição da nuvem de vapores oriunda de uma descarga

completa de diversas armas de fogo, os resultados permitiram traçar um perfil

86

para algumas das armas mais comumente utilizadas nos Estados Unidos230.

Evidentemente os estudos sobre as armas Taurus e Rossi, mais comumente

utilizadas no país ainda estão à espera de um pesquisador, mas a pesquisa

com as armas americanas pode dar uma idéia geral sobre a distribuição dos

resíduos de tiro (GSR) na mão de um atirador destro. O estudo examinou a

concentração da descarga das armas mais utilizadas nos EUA. A amostra

também é representativa dos vários tipos de armas de fogo e abrangia as

características gerais da maioria das armas em circulação nos EUA naquela

data.

Abaixo faremos um extrato do resultado para algumas armas de fogo de

cano curto mais representativas:

Pistola Colt (.45 ACP), modelo 1911, Arma padrão do exército norte-

americano até 1985, copiada exaustivamente em todo o mundo, cano de 5”,

porta de ejeção de 90° para a direita. Apresenta como área de maior

concentração de resíduos desde a segunda articulação do dedo indicador,

passando pela prega interdigital até a área do pulso. No Rio de Janeiro,

pistolas deste tipo são fabricadas pela Imbel, uma fábrica militar.

Pistola Walther P-38, 9 mm, cano de 5”, foi a primeira pistola de dupla

ação fabricada, adotada pelo exército alemão em 1938, foi arma padrão deste

até a derrota. É arma, também bastante copiada. Apresenta ejeção de 180

graus e maior concentração de resíduos desde a região frontal anterior dos

dedos até a região posterior à prega interdigital (Figura 14).

230

Conforme Schwoeble.

87

Figura 14 Pistola Walther P-38, 9 mm, conformação dos resíduos.

Pistola Browning Hi Power (9 mm Luger), foi a última pistola projetada

por Browning, cano de 4 5/8”, ejeção 90 graus para a direita, com concentração

de resíduos a partir da terceira articulação do dedo indicador, pela região da

prega interdigital até a base do polegar.

Pistola Smith & Wesson 39 (9 mm Luger), paradigma de muitos

modelos Smith & Wesson, como as 59, 439, 459, 639, 659, cano de 4”, foi a

primeira pistola de ação dupla fabricada nos Estados Unidos, ejeção a 90 graus

para a direita, apresenta uma distribuição uniforme de resíduos desde o dedo

indicador até a prega interdigital.

Pistola Colt 1903 (.32 ACP), Típica pistola de bolso, cano de 3¾“, ejeção

a 90 graus para a direita, com concentração de resíduos desde a segunda

articulação do dedo indicador até a área posterior da prega interdigital.

Pistola Victoria 1911 (.25 ACP), pistola semi-automática fabricada na

Espanha a partir de modelo da Colt / Browning, com muitas variações pelo

mundo, cano de 2”, ejeção à 90 graus para a direita, com concentração de

resíduos do dorso dos dedos até a prega inter-digital.

Pistola Duo 25 (.25 ACP), pistola de origem tcheca, similar a Colt /

Browning 1908, cano de 2“, ejeção 90 graus e para à direita, com uma

concentração leve de resíduos a partir da segunda articulação do dedo

indicador, tornando-se mais forte a medida que avança pelos dedos em direção

ao dorso da mão.

88

Pistola Ruger Mark II Automatic (.22 Long Rifle), cano de 4¾“, com

ejeção à 90 graus para a direita, e concentração de resíduos entre a segunda e

a terceira articulações do dedo indicador e uma menor concentração entre a

terceira articulação e a prega inter digital.

Revólver Colt Trooper (.357 Magnum), arma paradigma dos atuais

revólveres Colt, percussão indireta, seis tiros, cano de 4”, com resíduos por

todo o dorso da mão, mas com uma tendência a uma maior concentração na

prega interdigital.

Revólver Smith & Wesson Model 36 (.38 Special), tipo comum de arma

discreta, cano curto de 2”, cinco tiros, percussão direta, distribuição de resíduos

por todo o dorso da mão e dos dedos, com aumento de concentração na prega

interdigital e no punho (Figura 15).

Figura 15 Revólver Smith & Wesson Model 36 (.38 Special), conformação dos resíduos.

Revólver Smith & Wesson Model 34 (.22 Long Rifle), cano curto de 2”,

seis tiros, percussão indireta, com resíduos concentrados da prega interdigital

para o punho, no dedo indicador e no dorso dos demais dedos.

3.5.2. Tempo de permanência de resíduos no ar

Quanto tempo uma partícula GSR irá permanecer em um ambiente

fechado, ou aberto sem vento, é uma questão que pode ser importante, pois a

89

suspensão de resíduos de tiro no ambiente pode contaminar ou não uma

pessoa que penetre na cena após o seu desfecho, gerando a dúvida se esta foi

um participante ou apenas a primeira testemunha.

Conforme demonstração de Schwoeble, entretanto, partículas de chumbo

de tamanho na ordem de 1 mícron, atingiriam o solo em menos de 10s. Nota-

se que o chumbo é um material bastante denso, sendo menos impactado pela

resistência do ar que outras frações de partículas, assim não é provável que

uma pessoa se contamine por GSR, apenas por ter se dirigido até uma cena de

crime.

3.5.3. Coleta de GSR

Nos Estados Unidos, as formas mais comuns de coleta de GSR são

”stubs” adesivos para uso em Scanning Electron Microscope (SEM), ou

Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV). A coleta com papel filtro e solução

tampão de chumbo está em desuso deste a década de 1980.

Segundo Heard, Durante a descarga de uma arma de fogo, a grande

maioria dos GSR sai em grande velocidade, pela boca do cano e se projeta

para longe do atirador. Nas pistolas, ocorre alguma fuga de GSR, durante a

ejeção do estojo, contaminando a mão, ou as mãos, que segurava a arma. Em

revólveres, a situação é diferente, pois muitas partículas escapam pelas

aberturas situadas atrás e a frente do tambor e com uma pressão

substancialmente maior que no caso das pistolas. Em armas de cano longo a

situação é um pouco diferente, pois em espingardas clássicas (com ferrolho

aberto), o GSR escapara por entre o ferrolho e o cano. Se a arma for de

repetição automática, o mesmo escapará junto com o estojo, à semelhança das

pistolas. Se a arma for do tipo de ferrolho fechado, com abertura manual do

mesmo, então o atirador somente irá contaminar a mão, se abrir o ferrolho

imediatamente após o disparo231.

231

Heard. P. 242.

90

Outro aspecto a considerar é que nem todos os GSR escapam da arma,

pois parte dos resíduos irá ficar incrustada no cano, nas câmaras ou no tambor

da arma232.

Segundo o FBI, a coleta deve ser feita em até 5 horas após o tiro ser

efetuado233.

Em geral os GSR permanecem um bom tempo nas superfícies secas,

uma exceção importantíssima é, porém, os tecidos vivos, onde a literatura tem

sugerido que a coleta se faça num prazo de 3 a 6 horas após o tiroteio234.

No momento da coleta é muito importante usar luvas, mas no caso do

GSR, as luvas não servem apenas para proteger quem está coletando. Elas

servem também para não contaminar a amostra com eventuais resíduos pré-

existentes na mão do coletor. É também necessário, e isto é muito

negligenciado, trocar de luvas a cada ponto de coleta, para eliminar o risco de

“levar” GSR de um ponto para o outro da cena do crime.

Como os resíduos de tiro têm tamanho pequeno, variando geralmente,

entre 1 - 10 micra, podendo, em alguns casos atingir até 100 micra, nem são

formadas aglomerações visíveis a olho nu. Por outro lado, sujidades negras na

pele ou em outro substrato também podem ter origem em uma série de outros

elementos e não necessariamente resíduos de tiro. Nunca é demais lembrar

que os colegas do Laboratório trabalham com o que foi coletado na cena do

crime, ou posteriormente, do corpo de delito e para que a evidência de GSR

seja realmente eficaz é necessário que fique bem documentado a exata

localização da coleta e outros aspectos triviais, mas importantes, como data e

horário e a seqüência na coleta.

Recentes pesquisas trouxeram a possibilidade de extrair resíduos de tiro

(GSR) do conteúdo intestinal de larvas que se alimentam de um cadáver235.

232

Heard. P. 242. 233

FBI, 2003. 234

Idem. 235

Roeterdink, E. M., I. R. Dadour, and R. J. Watling. 2004. Extraction of gunshot residues from the

larvae of the forensically important blowfly Calliphora dubia (Macquart) (Diptera: Calliphoridae). Int. J.

Leg. Med. 118:63–70.Apud Byrd. P. 14.

91

4. Distância de Tiro Na descarga de uma arma de fogo, uma grande quantidade de "fumaça"

ou, mais corretamente, resíduos de tiro (GSR), são expelidos pelo cano. Para

diferenciar dos resíduos que saem pela culatra, devido ao “espoletamento” da

carga iniciadora, alguns autores se referem aos resíduos do cano, como

firearms discharge residue (FDR), o que nos parece apropriado, pois são

resíduos de natureza diferente dos GSR. O FDR consiste de uma mistura de

pólvora não comburida ou parcialmente comburida, fuligem, uma mistura de

gases incandescentes, resíduos da carga iniciadora e, dependendo do tipo de

munição utilizada, chumbo volatizado da base do projétil236.

Quando um projétil atravessa um corpo qualquer (corpo humano, vidro,

parede, etc) irá necessariamente, ocorrer atrito entre o projétil e as paredes

deste corpo e chumbo, ou material da jaqueta, será retirado do projétil

impregando-se nesta parede. Também o FDR será limpo pela abrasão. Desta

forma é esperado que o orifício de entrada contenha bem mais resíduo que o

orifício de saída, desta forma um exame com MEV poderá ser útil para

esclarecer qual orifício é o de entrada e qual é o de saída, sempre que houver

dúvida neste tipo de caso237.

Faixa das estimativas de queima para pistolas e fuzis.

No caso de uma arma de cano curto, é possível estimar a distância de

tiro, através dos FDR, desde que o tiro tenha sido dado com uma distância

menor que 60 cm. Já numa arma raiada de cano longo, este trabalho pode ser

efetuado com distâncias de até 2 m. No entanto, quando o cano da arma é

encostado com aperto na pele, estes resíduos podem estas completamente

ausentes. Nestes casos é até comum restarem dúvidas se o orifício é mesmo

de entrada238.

Nos tiros encostados e com pressão, os FDR seguem junto com o

projétil, entrando no tecido, não deixando muitas vezes, qualquer vestígio nas

236

Heard. P. 212. 237

Heard. P. 212. 238

Heard. P. 219.

92

bordas do ferimento de entrada Nas áreas do corpo onde pele e tecido

subcutâneo recobrem diretamente o osso, como por exemplo, o crânio, a

escápula ou o esterno, os gases da expansão ficam presos entre o tecido

subcutâneo e osso. Deve-se notar que, quando sai do cano, parte da pólvora

ainda está se comburindo, desta forma os gases se expandem com grande

rapidez e violência entre o osso e a pele, não tendo por onde sair senão pelo

orifício de entrada, evertendo as suas bordas. Isto resulta em um ferimento

com bordas estreladas e evertidas, com alguma semelhança como ferimentos

provocados por instrumento contundente. Nesta situação é de se esperar que

sangue, pele e tecido ósseo sejam devolvidos na direção do atirador239. Este

fenômeno, Segundo Heard, também pode se produzir se a área atingida

possuir uma razoável camada de gordura subcutânea240.

Neste tipo de disparo, o grau de dilaceração do tecido vai depender do

calibre da munição, do tipo de pólvora e do comprimento do cano. É de se

esperar que uma munição .38 SPL+P+ produza mais rasgos que um de calibre

.38 SPL. Também esperado que um revólver com cano de 2’’ e munição +P+

produza mais rasgos que a mesma munição utilizada num revólver de cano de

5’’, pois na primeira situação teremos mais pólvora ainda em combustão saindo

pelo cano e, portanto, maior expansão de gases dentro da pele. Um exame

cuidadoso é necessário no sentido de se encontrar partículas de resíduos de

tiro dentro da ferida, especialmente grãos de pólvora não comburidos, sob

pena de termos um erro de classificação da ferida241.

Nos tiros que não o de contato com pressão, os FDR, presentes ao

redor do orifício de entrada, poderão ser utilizados para estimar a distância da

arma em relação ao alvo242.

O método geralmente utilizado para a detecção destes componentes é

um simples exame visual, com ou sem uma lupa, às vezes, se usando

microscópio. A distribuição observada pode ser comparada com amostras

padrões produzidas em estandes de tiro.

239

NA. Este tipo de ferimento de entrada é usualmente chamado de “boca-de-mina” nos meios policiais. 240

Heard. P. 219. 241

Heard. P. 219. 242

Heard. P. 219.

93

Figura 16 Padrões de FDR, de uma mesma arma, para 1’’(A), 2’’(B), 4’’(C) e 6’’(D)243.

Ressalte-se que este tipo de teste, para ter alguma validade, no caso de

arma e munição conhecida, deve ser feito com arma e munição similar a que

teria sido utilizada, pois canos mais longos tendem a produzir menos resíduos

que canos mais curtos, devido à queima mais completa do propelente.

Também seria adequado que os disparos fossem feitos contra superfícies

semelhantes às questionadas. No caso de disparo contra um corpo humano, o

recomendado seria o disparo contra pele suína. No caso de roupas, os testes

devem ser feitos com tecido semelhante ao vestido pela vítima244.

Os efeitos observados podem ser didaticamente divididos em três

grupos principais245:

4.1. Queima

A queima é causada pelos gases incandescentes que saem pela boca

do cano. Embora, a temperatura destes gases, ao deixar o cano, seja da ordem

243

Heard. P. 220. 244

Heard. P. 220. 245

Heard. P. 220.

94

de cerca de 2000 ºC, eles arrefecem rapidamente e não produzem qualquer

efeito a uma distância maior de 2,5 cm. A área afetada também é muito

reduzida sendo localizada a menos de 0.7 cm da borda do ferimento de

entrada. Os efeitos destes gases geralmente não são visíveis na pele, devido

ao elevado grau de umidade da mesma e, mesmo quando está presente, é

encoberto por uma camada de fuligem. Os cabelos podem apresentar os

efeitos da queima, assumindo do aspecto característico de cabelo exposto à

chama. O mesmo ocorrendo com as fibras mais finas das roupas feitas de lã

natural que, pela ação do calor, se encolhem até uma fração do seu tamanho

original e assumem uma cor enegrecida. Nas roupas de fibras sintéticas o

efeito do calor é bem mais perceptível 246.

O grau da queima é também dependente de:

• do estado da superfície do alvo, por exemplo, se for uma superfície

molhada, o grau da queima será muito reduzida

• do tipo da pólvora, o que é evidente, pois diferentes composições de

pólvora irão liberar diferentes quantidades de calor pela boca do cano;

• da pressão produzida, neste caso temos que um cartucho do tipo

magnum irá produzir uma queima significativamente maior que a produzida por

um cartucho comum;

• da quantidade de proplente (pólvora), pois é esperado que um cartucho

para arma de cano longo produza uma queima bem maior que a produzida por

um cartucho de calibre semelhante, mas para arma de cano curto247.

4.2. Esfumaçamento O esfumaçamento é causado por material carbonáceo proveniente de

resíduos da queima imcompleta do propelente, tendo como contruibuição

auxiliar os lubrificantes do projétil e o selante colocado entre o projétil e o

propelente. O componente principal é o carbono amorfo com adição de

partículas finas de propelente parcialmente queimadas248.

246

Heard. P. 220. 247

Heard. P. 222. 248

Heard. P. 222.

95

O esfumaçamento pode ser produzido em tiros efetuados com distâncias

menores que 25 cm, para armas de cano longo, e menores que 12,5 cm, para

pistolas e revóveres249.

A quantidade de propelente, obviamente, afeta o grau de enegrecimento

da superficie alvo produzindo enegrecimento de forma diretamente

proporcional ao aumento de peso. Por outro lado, os cartuchos do tipo +P ou

+P+ ou magnum tem efeito inverso, pois quanto maior é a eficácia do

propelente, menor será a zona de esfumaçamento250.

O esfumaçemento é, fisicamente, uma pequena camada de resíduos,

que pode ser facilmente removido por gaze de socorristas ou pela água da

chuva, por exemplo, assim a ausência de zona de esfumaçamento não deve

ser tomada como indicador conclusivo para distância de tiro251.

4.3. Partículas de Propelente não Queimadas ou Parcialmente Queimadas

Como as partículas de propelente são bem mais densas que o material

que produz a zona de esfumaçamento, elas são arremessadas a uma maior

distâncias que aquelas, a partir da boca do cano. Com auxílio de uma lupa é

possível observar estas partículas, e os efeitos delas, no alvo, em distâncias de

tiro menores que 75 cm, para o caso de armas de cano curto. Para armas de

cano longo, esta distância é de cerca de 120 cm252.

Os fatores que influenciam a quantidade destas partículas são muito

semelhantes aos que influenciam o tamanho das zonas de esfumaçamento

são, basicamente, os mesmos que influenciam o esfumaçamento, assim, para

uma mesma munição, quanto maior for o tamanho do cano e maior a eficácia

do propelente, menor será a presença destes resíduos. Ao contrário dos

resíduos que produzem a zona de esfumaçamento, as partículas incombustas,

não são removíveis de maneira fácil. Na pele humana viva elas irão entrar na

epiderme e formar estigmas semelhantes aos produzidos pelas técnicas de

249

Heard. P. 222. 250

Heard. P. 222. 251

Heard. P. 222. 252

Heard. P. 223

96

tatuagem. Daí, muitos autores se referirem à zona onde este tipo de resíduos é

encontrado como zona de tatuagem253.

Uso de MEV.

Pesquisas mais recente tratam da possibilidade de estimar distância de

tiro em até 5 m, mas baseados em resíduos da carga iniciadora e não do

propelente, com análise destes resíduos através de MEV254.

4.4. Corpos Mortos

Estimar a distância de tiro em um corpo decomposto, salvo tiros de

espingarda, é algo que pode se tornar bastante difícil, pois os resíduos de tiro

são removidos junto com as camadas externas da pele.

4.5. Cargas Iniciadoras sem Chumbo

De uma maneira geral se admite que a análise de distância de tiro

produzido por munição sem chumbo é diferente dos tiros obtidos com carga

iniciadoras convencionais255. As causas prováveis são a menor quantidade de

materiais com combustão incompleta, maior teor de matéria orgânica e fato de

se utilizar materiais com densidade menor que a do chumbo. Em termos muito

gerais, a propagação e a descarga de resíduos de cargas iniciadoras sem

chumbo será menor que nos de carga iniciadoras com chumbo256.

Como existem muitos tipos diferentes de carga iniciadoras e

propelentes, com ou sem chumbo, no mercado, esta é mais uma observação

no sentido de reforçar a idéia de que as estimativas de distância de tiro

somente podem ser efetuadas com arma e munição idênticas as utilizadas, o

253

Heard.P. 223. 254

Heard. P. 223. 255 Gundry , R. and Rockoff , I. Comparison of Gunshot Residue Patterns from Lead – Based and Lead -

Free Carga iniciadora Ammunition , http://www.gwu.edu/ . Apud Heard. P. 230. 256

Heard. P. 230.

97

que torna o problema frustrante, pois, normalmente é justamente isto um dos

aspectos que se quer saber257.

257

Heard. P. 230.

98

5. Retenção de GSR

5.1. Pessoas Vivas

Segundo Heard, as partículas de GSR depositadas nas mãos não são

“cola mágica” e tampouco penetram na pele. Estão apenas aderidas a

superfície e as dobras da pele como qualquer outra sujidade. Desta forma elas

são facilmente removidas pelas atividades diárias normais de um ser humano.

Se existe algo a favor da permanência destas partículas é o seu tamanho ser

extremamente pequeno, situado na faixa de 0,1-5 µ, que os deixa presos nas

dobras microscópicas da pele ou aderidos aos folículos pilosos (observação

importante: palma da mão não tem pêlos), mas apesar disto, para todos os

efeitos práticos, todas as partículas de GSR serão retiradas das mãos dentro

de um prazo de 3 às 4h, após o tiro258.

O ato de lavar as mãos irá remover praticamente todos dos GSR e muito

cuidado se deve tomar com o conduzido que pedir para ir ao banheiro, pois

lavar as mãos com urina também irá remover os resíduos da mesma forma que

a lavagem com água259.

Igualmente é de pouca valia o exame residuográfico em internos em

hospital, após os enfermeiros terem providenciado a higiene do paciente260.

Se estiver chovendo, e a cena for na rua, evidentemente, ou se o

suspeito for acometido de sudorese, o resultado dos exames, mais uma vez

será negativo261.

Para Wallace, a persistência dos GSR nas mãos foi estudada por

muitos, mas existem grandes variações na literatura (desde 1h até 24h).

Entretanto, a maioria é da opinião que estes resíduos persistem por 1 - 3h262,

258

Heard. P. 251. 259

Heard. P. 251. 260

Heard. P. 251. 261

Heard. P. 251. 262J. W. Kilty, “Activity after Shooting and Its Effect on the Retention of Carga iniciadora Residue,”

Journal of Forensic Sciences 20, no. 2 (1975): 219. Properties of Firearm Discharge Residue 133.. R. S.

Nesbitt, J. E. Wessel, G. M. Wolten, and P. F. Jones, “Evaluation of a Photoluminescence Technique for

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for the Credibility of the Test, Medicine, Science, and the Law 14, no. 2 (April 1974): 98. Apud

Wallace.P. 131.

99

além deste prazo é muito pouco provável que estes resíduos sejam detectados

nas mãos.263

Para Fisher, as partículas podem ser removidas pó lavagem ou mesmo

por colocação da mão nos bolsos. Algemar um suspeito pelas costas

contribuiria para a perda de resíduos, pois este tipo de contenção possibilita

que as mãos sejam esfregadas nas costas. O mesmo autor fixa um tempo de

no máximo 6 horas para a retenção dos resíduos de chumbo nas mãos dos

suspeitos e recomenda que as amostras sejam recolhidas o mais rapidamente

possível. Fisher também observa que, devido à ambigüidade dos resultados da

coleta de GSR, muitos órgãos de segurança optaram, no passado, pela

descontinuidade deste serviço264.

Schwoeble considera que o fator tempo é a primeira e a mais importante

questão para se lidar com vestígios do tipo GSR, sendo muito importante

coletar as amostras o mais rapidamente possível após o tiroteio. Para este

autor, o prazo padrão sugerido na literatura é de 3 a 6 h após o incidente265.

Por outro lado, quando se usa MEV, as partículas podem ser

identificadas individualmente como GSR, a análise não é tão dependente do

tempo como nos outros métidos. Um estudo de Stone informa achados

positivos até 12 horas após o disparo.266

263

Wallace. P. 131. 264

Fisher. P. 281. 265

Schwoeble P. 19. 266

Wolten, G. M., Nesbitt, Calloway, A. R., Loper, G. L., and Jones, P. F. Particles analysis for the

detection of gunshot residue (I–III). J. Forensic Sci. 24(2): 409–422, 423–430, 1979; 24(4): 864–869,

1979. Apud Di Maio. P. 349.

100

Figura 17 Conservação de partículas de GSR em vivos267

5.2. Rosto, Cabelo, Cabeça e Roupas A persistência de GSR no rosto, no cabelo, na cabeça e nas roupas não

foi estudada, mas é altamente provável que os resíduos irão permanecer

nestas áreas por períodos bem maiores do que nas mãos268. Entretanto a

mesma fonte relata resultados positivos para o rosto e a cabeça até 5 horas

depois o incidente e de 7h para cabelos269.

Para Schwoeble, a preservação das roupas obtidas na cena do crime é

algo de grande importância, sendo adequado não lavar ou agitar de maneira

excessiva as mesmas270.

5.3. Mortos

No caso de a coleta ser feita em um cadáver, o problema da remoção do

GSR é bem menos relevante, pois se assumindo que as mãos não serão

lavadas, os resíduos irão ficar presentes até o começo da decomposição. Se

for assumido que, no morto, as partículas de GSR não serão removidas por

meio externo, então elas devem permanecer nas mãos dos indivíduos por

tempo indeterminado. Entretanto se o morto for colocado em refrigeração no

267

Wallace P. 252. 268

Wallace P. 131. 269

Wallace. P. 179. 270

Schwoeble P. 19

101

necrotério a pele irá se tornar úmida quando trazido para temperatura

ambiente, o que dificultará a coleta, segundo Heard. O mesmo autor também

recomenda que a coleta seja feita na própria cena do crime271.

5.4. Armas de Cano Longo

Em armas de cano longo, é muito dificil encontra-se GSR nas mãos do

atirador, utilizando-se do FAAS. E quando é encontrado, está tanto na palma,

quanto no dorso ds mãos. No caso de suicídas, temos um alto nível de chumbo

na mão que ajusta o cano contra o corpo, o que pode ser explicado pela

precipitação das partículas de bário e antimônio, menos densos que o chumbo,

dentro do cano272.

271

Heard. P. 251 272

Di Maio. P. 344.

102

6. Conclusão

Como cunclusão deste estudo podemos afirmar que exames períciais

sobre resísduos de tiro são tarefas complexas que necessitam de bom

conhecimento acerca dos complexos fenômenos envolvidos para se obter

alguma conclusão correta e útil para atividade de criminalística.

Também é necessário afirmar que o uso do MEV é a técnica de maior

potencial para avanços nesta área, o que não invalida a colorimetria e a

absorção atômica como exames válidos.

103

7. Índices de Figuras Figura 1 Pontas Clóvis. 4 Figura 2 Calibre real em canos raiados. 9 Figura 3 Munições típicas 11 Figura 4 Cartucho de Pauly, conforme Wallace. 12 Figura 5 Cartucho de Dreyse, conforme Wallace. 13 Figura 14 Cópia da carta-patente da invenção de Samuel Colt de 1836. 47 Figura 15 Um revolver com tambor reversível. 48 Figura 16 Revólver Basculante 48 Figura 17 Um Taurus, calibre 38, “Hammerless” 49 Figura 18 C-3 de 1893 50 Figura 19 Moderna Pistola Taurus. 51 Figura 20 Nuvem de GSR. 54 Figura 21 Localização provável de resíduos em mão de atirador em armas de cano

curto. 85 Figura 22 Pistola Walther P-38, 9 mm, conformação dos resíduos. 87 Figura 23 Revólver Smith & Wesson Model 36 (.38 Special), conformação dos

resíduos. 88 Figura 25 Padrões de FDR, de uma mesma arma, para 1’’(A), 2’’(B), 4’’(C) e 6’’(D). 93 Figura 26 Conservação de partículas de GSR em vivos 100

104

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