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    TAIPA DE MO

    MATERIAIS EMPREGADOSNa construo em taipa de mo, o processo bsico comumente empregado

    consiste em levantar toda a estrutura das paredes, colocar o madeiramentodo telhado e a cobertura e efetuar o enchimento dos vos, sob proteo dachuva e do sol.A versatilidade da taipa de mo pode ser comprovada atravs de sua grandeadaptabilidade s condies locais, pois em sua execuo so utilizadosmateriais naturais da regio, aproveitando-se aquilo que se tem s mos.As paredes de taipa de mo, geralmente, esto inseridas numa estruturaautnoma, em que vrios materiais podem ser usados na sua execuo.Lopes (1998) constata, em construes de taipa no Brasil, o uso de pilares debambu, de carnaoeba (Copernicia cerifera) de alvenaria de tijolo cermico, demadeira serrada ou rolia e de estrutura metlica, alm do uso de painisautoportantes, que dispensam o uso de pilares.

    O entramado ou malha interna funciona como suporte para sustentao dobarro, e, geralmente, produzido no prprio local. O tipo mais comumconsiste no uso de paus rolios, no sentido vertical, e de varas flexveishorizontais, fixadas dos dois lados e amarradas atravs de fibras vegetais,como cip-imb (Phillodendrum imb), buriti (Mauritia flexuosa), tucum(Bactris glaucescens), sisal (Agave sisalana), tiras de couro, arame, ou aindapresas por pregos, formando um xadrez (Figura 01). Contudo,pode apresentar variaes quanto forma, quanto aos materiais utilizados eainda, quanto ao modo de produo.No municpio de Santa Tereza, Estado do Esprito Santo, foi observado que otranado tradicional em xadrez foi substitudo por um, em sentido diagonal,nas construes em taipa de imigrantes italianos (Muniz, 1994). Este

    tranado foi usado em Linhares, Esprito Santo, em construo da arquitetaKarla Caser(Figura 2).

    fig. 1Entramado executado em paus rolios, em Itapaj, CearFoto : WilzaLopes. 1997

    Entramado

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    fig. 2Traado em diagonal em Linhares,Esprito Santo.Foto : Akemi Ino, 1992

    Outro material tambm encontrado foi o arame, utilizado pelo arquiteto Paulo

    Frota em substituio s peas horizontais de madeira em construo detaipa na cidade de Teresina, Piau (Lopes, 2000).J na Fazenda Santa Eudxia, no municpio de So Carlos no Estado de SoPaulo, constatou-se o uso de tela de galinheiro correspondendo malhainterna em paredes de taipa (Figura 03). Neste procedimento foram usadasduas telas de galinheiro, que envolvem peas verticais de madeira e servempara sustentao do barro. No nordeste brasileiro, em construes rsticasde taipa, comum empregar-se talos de palmeiras de vrias espcies, comoda carnaba e de buriti, posicionados horizontalmente, na confeco doentramado. Na figura 04, v-se o emprego de talos de carnaba emhabitao encontrada na cidade de Barras, Estado do Piau. Na mesma foto,observa-se ainda o uso de pedras, colocadas medida em que se executa o

    barreamento, visando proporcionar uma maior solidez, cujo procedimento comum em algumas localidades da regio.

    fig. 3Tela de galinheiro, So Carlos, So Paulo.Foto: Osny Ferreira, 1986

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    fig. 4Trama interna de talos de carnaba, em Barras, Piau.Foto: Regina Lima, 1997

    EntramadoO bambu, espcie vegetal resistente e de crescimento rpido, outromaterial bastante indicado para a ossatura interna da taipa. Pode ser usadona forma tradicional em xadrez, como encontrado em Tiradentes, MinasGerais, em construo do arquiteto Marcos Borges dos Santos (Figura 05), oubaseado na tcnica construtiva denominada quincha, utilizada no Peru. Emconstruo realizada em Maracanaoe, Estado do Cear, foram utilizados

    painis pr-fabricados, constitudos por uma moldura de madeira serrada emalha tranada de bambu, fixada ao quadro por simples tenso, semencaixes e sem pregos (Figura 06).

    fig. 5Entramado executado em bambu, Tiradentes, Minas Gerais.Foto: Marcos Borges dos Santos

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    fig. 6Entramado executado em bambu tranado, Maracana, CearFonte: HAYS e MATUK (1993).

    fig. 7Uso de madeira serrada, em So Gonalo, Rio de JaneiroFoto: SILVA, 1991A madeira serrada apresentase como outra opo para o entramado.Produzindo diretamente no local da obra, Zanine Caldas (Figura 07)aproveitou sobras de madeira de pequenas serrarias da regio para aconfeco do entramado de uma residnciaconstruda em taipa, em So Gonalo, Rio de Janeiro (Silva, 1991); j osarquitetos Cydno da Silveira e Paulo Frota utilizaram ripas cortadas ao meio,na posio horizontal, para execuo do entramado em construes de taipa,respectivamente, nos Estados do Rio de Janeiro (Figura 08) e do Piau.

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    fig. 8Uso de eucalipto e ripas, em Terespolis, Rio de Janeiro,Fonte: CSA ARQUITETURA, 1995

    fig. 9Execuo dos pains em oficina e colocados na obra, em So Carlos, So Paulo,Foto: Wilza Lopes, 1997

    O uso de painis modulados prfabricados em madeira serrada, executadosem oficina e levados prontos para a obra possibilita o melhor aproveitamentodas peas de madeira e permite maior agilidade do processo de construo.O arquiteto Accio Gil Borsoi, nos anos 60, utilizou esta maneira de produoem Cajueiro Seco, Estado de Pernambuco, numa tentativa de industrializaoda taipa.

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    A Fundao Centro de Desenvolvimento das Aplicaes de Madeiras no Brasil Fundao DAM tambm fez uso desse sistema, tendo construdo escolas,habitaes e postos de sade nas regies Norte e Nordeste do pas,utilizando painis autoportantes.Distintas espcies de madeira so adequadas, devendo ser usadas aquelasnormalmente encontradas na regio. As espcies de reflorestamento

    apresentam-se como excelente opo, na medida em que as reas dedicadasa este fim encontram-se, atualmente, em constante expanso, o que facilitao uso da madeira como material renovvel.O Grupo de Habitao - GHab, localizado na Escola de Engenharia de SoCarlos da Universidade de So Paulo, desenvolve pesquisas na rea dehabitao social utilizando materiais alternativos. Em projeto dedesenvolvimento de unidades experimentais para habitao empregandomadeira de reflorestamento, foram construdos dois modelos de habitaocom estrutura principal em eucalipto rolio e serrado. Para o sistema devedao, utilizaram-se as tcnicas de terra palha e de taipa de mo, compainis pr-fabricados em pinus. (Figura 09).

    BARREAMENTONa preparao da mistura para o barreado utiliza-se, em algumas regies,apenas a terra com gua, enquanto que, em outras, so acrescidos algunsmateriais como fibras vegetais, palha, esterco de gado, cal ou cimento, entreoutros, que funcionam como estabilizantes da terra, contribuindo paradiminuir a retrao ou aumentar a resistncia. A terra do prprio local podeser empregada sem muita restrio quanto ao seu tipo. Frota e Le Roy (1978)indicam o uso de solo argiloso, enquanto Miditieri et al (1987) indicam o soloarenoso, contendo em torno de 60% de areia, como sendo ideal, salientandoque, caso a terra local no atenda este requisito, pode-se facilmente corrigi-locom o acrscimo de solo arenoso ou outro material estabilizante.

    Costa e Mesquita (1978) ressaltam que foi observado, no interior de MinasGerais, uma casa de fazenda construda no tempo do Imprio com paredesde pau-a-pique e de barro sem apresentar qualquer tipo de fissura. Asparedes foram feitas com terra, areia e estrume de gado. Este ltimomaterial possibilita maior firmeza ao reboco. De acordo ainda com os autores,foi a observao do fato do pssaro joo-de-barro utilizar o estrume de gadona construo de seu ninho que acarretou o uso deste material nas casas detaipa para aumentar sua durabilidade e evitar fissuras.Milanez (1958) constata que a terra usada na casa do joo-de-barro possuiaproximadamente de 30% de areia, porm estabilizada com grandequantidade de palha.A escolha do solo feita em amostras retiradas em escavaes, a uma

    profundidade em torno de 40 cm (Mitidieri et al., 1987; Milanez, 1958;). Umteste rpido para a escolha do solo consiste em retirar quatro amostras dediferentes pontos no mesmo terreno, umedec-las com gua e fazer bolascom as mos. Ao secar, a bola que apresentar menor nmero de fissurasindicar, de modo prtico, o solo mais adequado para a taipa. (Mitidieri et al.,1987).Gieth et al. (1994) recomendam o teste da presso dos dedos para seleodo solo. Consiste em colocar um pouco da amostra na palma da mo,

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    adicionar gua at obter uma mistura coesa sem que se prenda mo eformar uma bola. Ao se aplicar uma leve presso com os dedos, verifica-se ocomportamento da amostra: a) caso a bola se esfarele, o teor de areia muito elevado; b) caso no se rompa aps uma forte presso dos dedos, hpredominncia de argila em sua composio; c) se ocorrer rompimento apsuma forte presso, o solo apresenta-se com teores de areia e argila

    convenientes ao emprego na taipa.Milanez (1958), referindo-se ao preparo da mistura para o barreamento,afirma que se deve acrescentar gua em quantidade adequada pois, emexcesso, aumenta-se a possibilidade de ocorrerem trincas por secagem. Aadio de palha picada na mistura permite a evaporao de gua na massatoda por igual, inclusive de dentro para fora. Na aplicao, o autor chamaateno para que, durante o barreamento, o barro seja calcado com as mosentre as varas do entramado, e no simplesmente lanado, a sopapo, comonormalmente feito. Este cuidado um dos segredos para se obter uma obrabem elaborada pois, segundo Mello (1985), a parede, ao secar, ter boaresistncia, ficando as cargas concentradas na estrutura autnoma demadeira.

    No preparo da mistura para barreamento, normalmente, costuma-se amassara terra com os ps descalos (Figuras 10 e 11). E, segundo Gieth et al.(1994), conveniente deixar esta mistura em repouso, por um perodo de 12horas, de preferncia durante a noite, para garantir ao barro um estadoplstico ideal para aplicao.

    fig. 10Em Maracana, CearFoto: Arquivo GRET Urbano Brasil, 1993

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    fig. 11Em So Carlos, So Paulo.Foto: Wilza Lopes, 1997Segundo a Fundao DAM (1988), a aplicao do barro segue trs fases. Aprimeira consiste em aplicar uma camada com as mos, sem cobrir as ripas.

    Espera-se ento secar (de 15 a 30 dias) e aplicase a segunda camada, quedeve preencher todas as trincas e cobrir as ripas. Depois de seca, aplica-se oreboco, uma argamassa fina de cimento ou cal, areia e saibro (1:3:5, emvolume) alisada com colher de pedreiro (Figura 12).

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    fig. 12

    Etapas do barreamento e acabamento deconstrues em taipa de mo.Fonte: DAM (1988)

    RECOMENDAESPinto (1993) e Souza (1996) citam que os inimigos da vedao de barro soas infiltraes de gua, seja por capilaridade do solo, seja por falta deproteo adequada com rebocos mal executados; recomendam proteger aedificao de terra do contato com a umidade do solo, elevando-a do cho ouutilizando um alicerce, de pedras ou tijolos com a devida impermeabilizao.Ferraz (1992), ao mostrar vrias construes em pau-a-pique do sul de MinasGerais, regio da Mantiqueira, afirma que elas foram construdas separadasdo terreno natural com distncia entre alguns centmetros at um metro,

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    para evitar contato com a umidade do solo. Destaca tambm que a pinturamelhora a salubridade e conservao da habitao, alm de torn-laagradvel visualmente.Mitidieri et al. (1987) e PROAFA(1979) apresentam a sugesto do uso de cintade concreto magro para evitar umidade nas paredes (Figura 13) e a FundaoDAM (1988) e Gieth et al. (1994) recomendam, para a fundao de

    construes em taipa, o uso de sapata corrida de pedra e de tijoloscermicos, protegida com camada impermeabilizante (Figura 14). No projetoCasa do Nilo (Figura 15), segundo Silva (1991), Zanine Caldas usou aconstruo suspensa atravs de pilaretes de tijolo cermico e Caser eSilveira, citados em Lopes (1998), construram casas de taipa suspensas emesteios de madeira (Figura 16).

    fig. 13Detalhe de construo de parede em taipa, com proteo de concreto.Fonte: MITIDIERI et al. (1987)

    fig. 14Detalhe de baldrame de tijolo cermico para paredes de taipa.Fonte: FUNDAO DAM (1988)

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    fig. 15Detalhe de parede de taipa, elevada do cho por pilaretes de tijolo cermico, projeto ZanineCaldas.Fonte:. SILVA (1991)

    fig. 16Detalhe de construo em taipa, elevada do cho por baldrames de eucalipto rolio, projeto daarq. Karla Caser.Fonte: MONCORVO et al.(1992)

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    Para proteo contra os danos causados pela incidncia da gua das peasverticais de madeira, pilares e forquilhas que ficam em contato com o solo,Lopes (1998) cita que, nas construes recentes, so usados geralmentemateriais impermeabilizantes, como pintura asfltica, betume, resina, sacosplsticos e base de concreto, de acordo com a disponibilidade local, como nodetalhe construtivo usado nas obras em taipa pelo arquiteto Cydno Silveira(Figura 17).Alvarenga (1984) afirma que um dos maiores problemas das habitaes depau-a-pique deve-se falta de revestimento; ele imprescindvel para quehaja proteo das paredes contra ao da gua, bem como para evitar o

    alojamento de insetos nas gretas, que surgem quando seca o barro. Areferida autora cita ainda que, na zona rural de Minas Gerais o reboco ,geralmente, feito com o prprio barro misturado com maior quantidade deareia e aplicado em duas camadas.A primeira, mais spera, usa o cascalho, misturado com o solo, estrume egua, enquanto a segunda camada tem como diferena apenas no tipo deareia, que mais fina.

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    De acordo com o Gieth et al. (1994), para se atingir uma qualidadecompatvel com a proteo desejada, a mistura do reboco deve ter uma partede cal para oito de saibro e ser aplicada sobre as paredes, levementeumedecidas, em forma de bolas, usando-se as mos. Aps cobrir todasuperfcie, deve pressionar levemente a mistura para uma perfeita aderncia.A regularizao feita por presso com a colher de pedreiro, para agregar os

    componentes e aflorar a gua da mistura; passa, ento, a desempenadeira eem seguida a esponja de camura, criando uma superfcie adequada parareceber a pintura, que pode ser base de cal.Mitidieri et al. (1987) mencionam que o reboco ou segunda barreada indispensvel. As paredes devem ser recobertas e alisadas com a mo,eliminando-se, desta forma, o alojamento de insetos nas gretas. A fim de darmaior impermeabilidade s paredes, comum fazer uma terceira barreada,em que se mistura cimento ou cal ao barro. Como ltima etapa, a casa caiada ou pintada. No prottipo do PROAFA (1979), em Fortaleza, Cear, foifeito um chapisco de impermeabilizao, nas paredes internas e externas ata altura de 50 cm, para evitar infiltraes de gua em ambos os lados. necessrio destacar que, independente do tipo de material, o conjunto

    estrutural deve apresentar solidez e estabilidade, para evitar que ocorramdesaprumos, desnivelamentos e trincas nas paredes. Na prtica, algunsprincpios elementares em construo, como marcao e nivelamento daobra com uso de equipamentos simples, tipo esquadro, prumo e nvel, sorelegados pelos construtores quando se trata de construes de taipa, talvezpor considerarem dispensveis neste tipo de obra, mas que contribuem paraprejudicar a aparncia e a rigidez da construo, tornando a estruturadesequilibrada e as paredes desalinhadas.

    fig. 17Detalhe da proteo e fixao dos paus-a-pique, projeto arq.Cydno SilveiraFonte: CSA ARQUITETURA (1995)

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    EXEMPLOS DECONSTRUES COM TAIPANos dias atuais, a construo em taipa de mo est associada, geralmente, aprocessos sociais transitrios, ao rural, pobreza, ao status de favela ebarraco. Percebe-se que, mesmo aquele que faz uso dessa tcnicanaturalmente no campo, a rejeita quando migra para a cidade e passaalmejar, assim que possvel, ter sua moradia reconstruda com paredes dealvenaria, para caracterizar ascenso social, progresso material eestabilidade econmica.

    Contudo, diversas construes contemporneas em taipa, localizadas emvrias partes do pas, nas quais foram seguidos os procedimentosconstrutivos adequados, atestam a versatilidade e o excelente desempenhodesta milenar tcnica construtiva. Algumas dessas construes somostradas a seguir, juntamente com um breve resumo descritivo de cadauma delas.

    Casa EstdioProjeto: Jos AlbanoAno de construo: 1980Tanto para os esteios principais como para o entramado interno, utilizou-se amadeira rolia da espcie sabi (Mimosa caesalpiniifolia), encontrada nolocal. A amarrao do entramado foi feito com barbante de sisal. Para obarreamento, a terra do local foi acrescida de pedaos de telhas e de tijolos,colocados na medida em que se executava o barreamento.

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    Residncia e estdio fotogrfico, em Fortaleza, Cear, BrasilFoto: Jos Albano

    Casa da PiarraProjeto: Arquiteto Paulo FrotaAno de construo: 1984Para os pilares, vigas e montantes dos painis, utilizou-se a palmeiracarnaba, proveniente de rea desmatada. Nas paredes de taipa, arames naposio horizontal substituram a trama tradicional para estruturar a terra. Namistura de terra, foi acrescentado cal e um pouco de cimento. No momentoda aplicao do barro com as mos, foram colocadas pedras pequenas.

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    fig. 19Construo em taipa, em Teresina, Piau, Brasil.Foto: Wilza Lopes, 1997.

    Casas da CEFProjeto: Arqs. Jos Guadncio Torquato Marcio MachadoAno de construo: 1990Projeto de residncias de baixo custo, financiado pela Caixa EconmicaFederal, para construes de moradias em locais que sofreram abalos

    ssmicos no Estado do Rio Grande do Norte. Os painis foram pr-fabricadosem madeira serrada da espcie maaranduba (Manikara. ssp), em oficina, eentregues prontos na obra para sua colocao e execuo das paredes.

    fig. 20Construes em Joo Cmara, Rio Grande do Norte, BrasilFoto: Guadcio Torquato

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    Centro de Educao AmbientalProjeto: Arquiteta Karla CaserAno de construo: 1992A construo foi suspensa do cho por pilaretes de concreto. Para os pilares,

    usaram-se alvenaria e eucalipto rolio. O entramado interno foi construdocom brotos de eucalipto, amarrados com arame. As peas de madeira,excetuando o entramado, foram tratadas em autoclave. Para o barreado,utilizou-se a terra do prprio local sem o acrscimo de qualquer material.

    fig. 21Centro de Educao Ambiental, em Vila Velha, Esprito Santo, Brasil.Foto: Karla Caser, 1993

    Residncia em TiradentesProjeto: Arquiteto Marcos Borges dos SantosAno de construo: 1990Reforma e ampliao, em que se construiu o pavimento superior com taipade mo. Foi realizada uma estrutura independente utilizando-se pilaresrolios de eucalipto e pilares de madeira serrada provenientes de demolio.A malha interna foi produzida no local, atravs da utilizao de madeira roliadenominada cambuat (Tapirira guianenses) nativa da regio. Na misturapara o enchimento, utilizou-se a terra do prprio local, gua e capim docampo, encontrado na regio.

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    fig. 22Ampliao de residncia, em Tiradentes, Minas Gerais, BrasilFoto: Marcos Borges dos Santos

    Residncia TerespolisProjeto: Cydno Silveira e Mnica VertisAno de construo: 1997Esta construo foi totalmente elevada do cho, para protege-la da umidade,muito intensa na regio. Utilizaram-se estacas de madeira rolia, da espcieeucalipto, cravadas no solo, em cavas preenchidas com concreto. A ossaturainterna foi executada em eucalipto (Eucalyptus) na vertical e ripas de

    madeira serrada na horizontal. A terra utilizada foi a do prprio local semacrscimo de outro material.

    fig. 23Residncia em Teresoplis, Rio de Janeiro, Brasil.Fonte: CSA Arquitetura (1995)

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    Casa do NiloProjeto: Zanine Caldas

    Para o entramado, utilizaram-se sobras de madeira serrada, provenientes depequenas serrarias. O uso na construo destes resduos de madeira, queseriam queimados para fazer carvo, possibilitou o barateamento da obra. Aedificao foi suspensa do cho, atravs de vigas de madeira serrada,assentadas em pilares de alvenaria, para proporcionar melhor ventilao eevitar umidade, isolando a madeira do contato com o solo. A cobertura foiem telha cermica sobre estrutura de madeira serrada.

    fig. 24Construo de residncia, em So Gonalo, Rio de Janeiro, Brasil.Fonte: SILVA (1991)

    CONSIDERAES FINAISO Brasil, pas em desenvolvimento, tem procurado investir e importar, cadavez mais, tecnologias avanadas, na expectativa de maior crescimento, svezes desconsiderando, a realidade local. Deve-se lembrar que nem semprea tecnologia, aprovada em outros pases, condizente com as nossascaractersticas. No resta dvida que as inovaes tecnolgicas soimportantes e bem vindas, porm deve-se levar em considerao a realidadecultural e socio-econmica dos usurios, como tambm os materiaisdisponveis e o clima da regio.

    O profissional da rea de construo est voltado para o futuro, conectadocom os avanos da tecnologia, mas deve tambm ter o conhecimento do queocorreu no passado e aproveitar as prticas comprovadas pelo uso e sensocomum da populao. Neste sentido, proveitoso resgatar as tcnicasconstrutivas de tradio secular, como as de terra crua, usadasempiricamente, e melhor-las, modernizando-as atravs da injeo de novastecnologias, adquiridas pelo conhecimento cientfico.A importncia da preservao da taipa de mo no se vincula apenas aaspectos histricos e culturais mas, fundamentalmente, potencialidade que

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    apresenta como exemplo de arquitetura de terra crua. Sabe-se que umatcnica de fcil assimilaoe de simples execuo, harmonicamente equilibrada com o meio ambiente,que apresenta excelente desempenho trmico, utiliza materiais locais erenovveis, alm de apresentar baixo consumo de energia e resultadostcnicos excelentes, desde que seguidos os procedimentos de execuo.

    A taipa de mo, aps um perodo de grande uso no Brasil, foi abandonadacomo tcnica construtiva devido ao aparecimento de novos materiais, dasmudanas tecnolgicas surgidas e das novas exigncias do mercadoconsumidor. Contudo, ainda hoje continua-se a construir com taipa de mo,principalmente no Nordeste do pas. Porm, na maioria dos casos, estatcnica est quase que restrita camada da populao de poucos recursos,tratando-se de construes que deixam a desejar no que se refere aacabamento, durabilidade e aparncia, contribuindo, assim, para ofortalecimento da imagem da casa de taipa associada pobreza e sconstrues provisrias Alm disso, alguns estudos e construes pontuaistm sido desenvolvidos em vrias partes do pas. Os exemplos apresentadosneste trabalho mostram a viabilidade do uso desta tcnica, em termos

    estticos e de durabilidade, e contribuem para desassociar a imagem dataipa de mo com a pobreza e a misria.A construo em taipa de mo, trata-se, portanto, de uma tecnologiaalternativa, capaz de contribuir na soluo dos graves problemas de carnciahabitacional, se devidamente apoiada pelos rgos financiadores egovernamentais e estudada pelos setores competentes.